Poemas
Antรณnio Fernandes
FOTOGRAFIAS
Isabel Costa Pinto
NOTA INTRODUTÓRIA
Pegadas são “marca” de vida. No próprio e no semelhante. São a “marca”, - “linha d’agua” - indelével, do carater.
São a “marca” incontornável que dá a forma à forma de ser e de estar de cada um. Nas “pegadas” que deixamos, damos mostra da memória que transportamos em resultado de “pegadas” que fomos acumulando seletivamente e de que não abdicamos dando-lhes seguimento. As boas e as más. São as “pegadas” que identificam o individuo no seio da comunidade em que se insere. São, no amago, as Historias de vida e da vida individual e coletiva de cada um, a juntar a todas as outras vidas, de cujo somatório resulta a Historia dos Homens! São as “pegadas” que fazem as marcas que hoje são os marcos da Historia da evolução dos Homens e da sua organização em sociedades ao longo dos séculos. No fundo, a mensagem que vos quero transmitir nestas breves “pegadas” em forma de letra e de imagem - é a de que este pequeno apanhado de textos em verso, pretende ser, tanto quanto me é possível, de forma sucinta, um olhar individual com pretensão a ser comum, sobre o individuo e o meio em jeito de “PEDRAS DA ARCADA”. “PEDRAS DA ARCADA” a que junto “BANCOS DE JARDIM e “FREGUESIAS
As suas sensibilidades, sociabilidade e de trajetos. O seu Ser!
PEDRAS DA ARCADA I
Por cada noite que cai No limiar do entardecer Hรก um horizonte de esperanรงa Que sobre as nuvens balanรงa O seu manso desvanecer... E desnovelando, se vai.
Como se desnovelando o novelo A nuvem se decompusesse Em matinal dia seguinte Silenciosamente ouvinte
A tudo o que se dissesse Sobre o negro manto em degelo
De onde o frio se levanta Para tudo envolver Como se uma neblina fosse E ao ouvido segredasse O que ficou por dizer No nรณ que ata a garganta
E se liberta ao vento Por todos os vales e veredas E os corredores serranos A trote dos garranos Por terras secas e pedras Resistente como o tempo!
PEDRAS ARCADA II
No sopro da liberdade Voa poesia a rodos
Coisa ao alcance de todos Desde que haja vontade
Mesmo daqueles que não sabem, Ou nem sequer querem saber, Que a liberdade de dizer É coisa que todos têm
O que podem é não ter A coragem suficiente Para dizer a toda a gente: - Sou livre, porque o quero ser!
Pagando pela liberdade De não vergar à servidão
A mesa vazia de pão E de migalhas, a saudade.
PEDRAS DA ARCADA III
Uma sobre outra Segredam entre si: Nunca me dês por conselho O reflexo do espelho Da água do chafariz Que turva, transborda.
Nem me apontes campanário Em fim do empedrado Com largo sem praça Que para nossa desgraça
Já me chega o soldado Que o bronze fez solitário.
E, já agora, arruma a igreja Enquanto o Papa distraído E de braços abertos Tem os pombos despertos Ao rigor do trajo vestido Mesmo que ninguém veja.
Porque nós, as pedras da Arcada, Tudo ouvimos. Tudo vemos. Do que em redor acontece. E do que não acontece também, porque há-de acontecer. Perdure a vetusta sapiência em conseguir perceber Que o que daqui se avista nem sempre é o que parece E o que parece, não raramente, é um cântaro cheio, de nada!
PEDRAS DA ARCADA IV
em cálice invertido me encaixo No vértice, em cunha, Em abraço do desejo De uma forma estranha.
Segurando dessa forma A força declarada do amor, Em arco de arcada com norma, De que se desconhece a dor.
Das pedras, não das pessoas, Que essas juram o eterno Onde só há coisas boas.
Muito para além do inferno. No colo de ninfas e de estrelas. Onde tudo é moderno!
PEDRAS DA ARCADA V
Em perfeita união A tudo vamos resistindo Independentemente da razão Dos outros que são desistindo.
Uns da vida. Outros dos sonhos. E outros da esperança até. Encostados aos escolhos Vão emborcando o café
Ao sabor do tempo que passa E do vento deambulando Em arcada da devassa
Em que as pedras sussurrando Dizem ao tempo que passa: A cidade está desesperando!
PEDRAS DA ARCADA VI
Num dos arcos da arcada, Onde tudo se comenta, Ficou-me a "beiça birada", Conta a pia de água benta.
Mesmo a meio da arcaria Se a memória me não escapa, Ontem. Hoje. Quem diria? Dentro da igreja da Lapa!
Foi um "vê se te avias!" Momentâneo! Repentino! No tempo em que as "Marias" Amamentavam o menino.
E os negociantes de gado Vindos da feira para o Viana, De peito aberto, desgarrado, Terça-feira! É dia de semana!
Café onde os aparadores Existentes na entrada Recebiam dos lavradores A "bisca" de enfiada!
E os senhores doutores
O Astória frequentavam A meio, os pensadores, No Peninsular conspiravam.
PEDRAS DA ARCADA VII
Ah! Se a Arcada contasse As histórias a que assistiu Ou se alguém imaginasse
As dores que em cada pedra sentiu
E as lágrimas que levou Pela Rua da Água abaixo Até ao Este onde poisou Mágoas e outros que deixo.
Não tinha pedras que chegasse Para tanta história de vida Mesmo que lhe acrescentasse A medieval muralha, desaparecida..
E assim, em silencio. A conselho do saber, Diz tudo aquilo que penso E que me escuso, de dizer!
PEDRAS DA ARCADA VIII
A explanada é ampla Quão amplo é o vislumbre Sendo que não difunde Tudo aquilo que contempla
A cor garrida da saia
A alvura da blusa Onde escorreita confusa Sulco de visibilidade rara
O momento oportuno De postura corporal Propositado ou acidental Ou... Algo de algo, em abono...
PEDRAS DA ARCADA IX
E as mesas alinhadas Deixam ao Sol ver
Tudo aquilo que quiser Entreabertas ou alรงadas
De uma a outra ponta De um a outro lado Hรก sempre um bocado De cobiรงa que desponta
De vontade que desperta E sentir que nรฃo conhece Sabendo que se entendesse A esplanada seria aberta!
A um pedido formal Com toda a informalidade
De quem tendo vontade Pensa que levas a mal
Um simples piscar de olho De ingenuidade enlevada Mesmo que envergonhada A esplanada, e o pimpolho!
PEDRAS DA ARCADA X
E as cadeiras E as mesas E as tristezas Das solteiras
E os que o Sol guardam Mesmo em sombra franca Já cansados da cor branca Ouvem, riem e calam...
As histórias de encantar E as tenebrosas também Coisas que toda a gente tem E de que gostam de falar
Pensando ficar por ali O que pediram segredo Esquecendo que o enredo Gira em torno de si
Restando á esplanada Essa coisa de encantar Com tempo para descansar Dizendo tudo! Dizendo nada!
BRAGA AO ESPELHO
Espelha imagem d’ alma, Reflexo de brilho vago,
Aroma difuso, sem travo Ilusão tardia de calma
Esta calma silenciosa Que espelha sentires imensos Navegante de tormentos Em espinhos de purpura rosa
Gota a gota refletida Por orvalho matinal Suspiro de imagem final Em espelho, reflexo de vida.
E em caule se aconchega Ou em verde folha suspira
Pela pétala a que aspira Ou a imagem que almeja?
BRAGA CIDADE I
Braga é cidade de gentes, De património também, E serrania circundante. Êxtase de viandante Que projeta para além Os sonhos que traz em mente!
Braga é cidade de terra, De pedra e água corrente.
De História milenar. Com presente para contar Que o passado é da gente Encarregue em no legar!
Cidade por desnudar De vontade. Tão tenaz. Que para se reinventar Se constrói e se desfaz! E ergue, como miragem,
Ousada nos desafios, Aos que fazem viagem, Sem pressas. Sem desalinhos!
BRAGA TRADIÇÕES II
Braga, capital do Minho, Terra do vira e do malhão. Única do verde vinho, Berço do São João.
Terra de espigueiros. Do milho e da broa. Onde os marmeleiros Dão marmelada, da boa!
Terra de romarias A Santos Padroeiros
Onde se juntam Marias Os maridos e os herdeiros
E dançam o vira minhoto Ou o malhão popular Ao som do bombo afoito E da concertina a tocar
Onde se ouve o cavaquinho Os ferrinhos e o acordeão A voz esganiçada do toninho Mais a da Maria da Conceição
E rodopiam, no adro da igreja Em voltas de estontear Na eira da quinta, ou largo que seja O que importa mesmo, é dançar!
BRAGA A CANTAR III
O Minho tem tradições
Romarias e dançares Concertinas e canções Espigueiros e lagares.
Da vindima à desfolhada Com picantes desafios Que a espiga encarnada Deixa a moça em sarilhos.
Na eira ou no varandão Em noite de lua cheia Entrega o seu coração E tudo o que lhe vai na ideia.
Enquanto na mesa da micas
Com toalha a preceito O bacalhau e as pataniscas Se comem num ai! A eito!
BRAGA A CANTAR IV
Mas... Se é de vinho que falam Do verde! Do bom beber!
Então é bom que saibam Que quantidade sorver!
Que é o mesmo que dizer Aos que de nada, muito falam. O quanto devem beber Até que para o lado caiam!
Aos que pensam que o vinho Já se colhe engarrafado É bom que saibam que o Minho Nunca foi terra do fado!
Do que cantam em Lisboa E que dizem Nacional
A esse? O Minho apregoa, Braga também é Portugal!
BRAGA A CANTAR V
Porque Braga é tudo isto! Entre o malhão e o vira O desafio? Só visto! E tudo o resto é mentira!
Terra de vinho verde Onde a casta é genuína E gente que só se perde, Ao som d'uma concertina!
Braga é um rodopio Em folclore que é dança A banda. A gaita. O assobio. Em par que nunca se cansa!
E dança! E dança! Ele com as mãos no colete. Ela com as mãos na anca. E vira! E vira! Em gesto que assim se repete!
BANCOS DE JARDIM I
Um banco, no silêncio...
Há um banco, algures,
No centro do imaginário, Onde sentas o pensamento, E descansas os sentidos. Onde arrumas os vestidos, Que em determinado momento, Usaste em local vário, Sito em sítio nenhures...
Há um medronho maduro Em medronheiro sitiado Entre pedras de socalco Caídas pela ação do tempo Sem que lhe importe o momento Em que o trepes a pé descalço E te sentes. Leve e bela. Sem enfado.
No seu tronco, corcovado, mas seguro!
BANCOS DE JARDIM II
Há um banco que navega Por ondas de mar, sem mar. Como se foram dote d'arte Pincelando o teu rosto Em banco onde o encosto Dos teu sentir é parte, E o lastro, o Luar Onde o sonho escorrega. E assim, a áurea fica cheia. De cores, de sons, e de luz. De alegria incontida!
Que balança, balanceando. Esfinge de musa dançando, Balé! Valsa! Em passo de corrida. Onde ninguém te conduz E te sentes menina. Sereia. No arco do arco íris Penduras a corda do baloiço E a nuvem passageira Te empurra devagar Sem pressas. Sem magoar. Só o vento e a esteira Te sentem o corpo, o bulício. Paleta das cores onde ris! E serpenteias o olhar E a traquinice também. O afago. O vazio a vazar. O sentir sentido. Alguém!
BANCOS DE JARDIM - III De quando em vez, Percorro com o olhar O tabuado do banco corrido Localizado na avenida. Em lugar meio escondido, Que se encontra, de seguida, Mesmo sem procurar, No topo de tudo o que se fez.
Percorro também, Aquele de pedra cinzenta Que no Bom Jesus se encontra Em descanso permanente. E onde cai a sombra. Protegendo do Sol quente, A memória que acalenta O sonho que ainda tem!
Para pousar no horizonte O descanso do olhar E a ânsia de sentir. Do que ficou por encontrar Por entre aquilo que não digo, Incapaz de decidir, E também de entregar A água, em bica de fonte!
BANCOS DE JARDIM IV
Em Santa Bárbara, Na Praça do Município, Senhora a Branca, Ou no Campo das Hortas. Algures em qualquer sítio. Haja ou não arcos sem porta.
Mesmo que seja franca, Ou então banco de cátedra!
Assim passo todos os bancos, Cada um com seus segredos, Em espaço e horizonte definido. Fica o tempo recordado Conjuntamente vivido.
O campo que foi semeado, As veredas e os vinhedos, As capelas e os Santos...
FREGUESIAS DE BRAGA - I (Maximinos) Pergunto ao vento que passa Notícias de Maximinos O vento? Ri. Com graça. Graça própria dos meninos!
Dos meninos envelhecidos A quem o cabelo branco Recorda os anos vividos De cu ao léu e o pé descalço
Que corriam na Rua Direita
Ou no Peão de Meia Laranja No Penedo que resiste E do Caíres tem a franja!
Que no alto da colina De onde a Naia se avistava Onde coruja peregrina Em fazer o seu ninho, teimava!
Se via também o carroceiro Que azeite e petróleo vendia E o povo dizia:- Vem aí o azeiteiro! E trás também mercearia!
Pergunto ao vento que passa Notícias de Maximinos O vento? Diz-me:- Descansa! É tudo gente de princípios!
FREGUESIAS DE BRAGA II I-Este S. Mamede, terras do "baurd'Este"
Aqui. Na Serra dos Picos. Parceira da do Carvalho Onde nasce o Rio Este, Em terras do "baurd'Este" Onde se dilui o orvalho E se acumulam registos!
Se inicia o Vale do Este
Em vértice de aconchego Por casario a Poente Seiva de vida da gente Que na terra tem apego E rio abaixo se despe.
Engrossando o caudal Com lágrimas de dor dilacerante Sem um grito. Sem um som. Sem uma voz.
Esgueirando-se por matagal Da mágoa de se ser emigrante Mundo afora. Mundo adentro. Sempre sós!
FREGUESIAS DE BRAGA II II-Este S. Mamede, terra do "baurd'Este"
Daqui. "baur d'Este" de outrora. Terra de leiras e quintais, Do terreiro e das galinhas, Do porco, das vacas e das vinhas, E dos bandos de pardais Onde a coruja também mora.
Dos carreiros e cangostas Que nos levavam à escola, E à igreja também, Aos sonhos que as gentes tem, Por todos eles dá a esmola, E às trindades fecham as portas.
Porque quando a noite cai
E a lua se levanta Há uma estranha dança...
Em fogueira que se esvai Na cruz de quatro caminhos Por maleitas dos meninos!
FREGUESIAS DE BRAGA III S. Miguel de Gualtar. Há! Se Gualtar dissesse Que seu nome é S. Miguel E São Braz o Santo venerado Teríamos o "caurdo" entornado Uma vez que o "Se Manel" É de gema! Não de veste! Gualtarense dos costados Da alpergata e da sandália Da sulipa e do truz- truz Diariamente vê o Bom Jesus E lembra a benfeitora, Dª Amália. Que aos pobres doou seus legados. Amália, da família Lima, Tem nesta freguesia enorme Condição especial Admiração e estima De toda a gente com nome E caráter vertical! Gualtar teve muitos lugares: Lugar da Lage; da Estrada Velha; Da Bela Vista; do Bairro Novo; No de Barros o forno do povo, O do Piolho junto à Igreja E o do Monte de bons ares!
O da Poça ficava a meio Muito próximo do da Escola; O da Reta; e o da Mourisca; "Vendas" onde o vinho e a patanisca O jogo do fito com "patela" E a sueca, sem muito "paleio" ! Lugares, entretenimentos, vidas. Gentes de trabalho honrado No campo. Na oficina. Na construção.
Gentes com memórias vivas Dos regos sulcados por arado Em campo fértil. Milho. Pão!
ASSIM, ME DESPEÇO
Na brisa que passa Na folha que plana Na água corrente do rio
No passo certo e incerto De passada ligeira ou suave Que segue caminho íngreme ou plano
Em tudo o que não se repete Para alem do movimento Em um único momento Que passa, ao de leve...
...Eu vou!
Em cada bater de asas Cadencia do movimento De remo movendo balsas Que exige; estar atento!
A POESIA É A ALMA DAS PESSOAS.
O PROBLEMA É HAVEREM TANTAS PESSOAS SEM ALMA!