Pegadas avulso

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Antรณnio Fernandes 1


As pedras Dos silêncios São as mestras Dos alentos. Não são pedras São memorias De todas as quedas De todas as vitorias!

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PEGADAS I.3

I Ficou-me na curva da hesitação toda a certeza de uma incerteza constante em traço fino de um olhar risonho ansioso de tudo o que não tenho ao entardecer, fugaz, macio, penetrante

rasgando melodia com acordes de ilusão. II Ficou-me o traço doce do botão a despontar de uma rosa púrpura pedida no rosal plantado na curva da hesitação entre um simples aperto de mão uma frase solta sobre o dia,tão banal, e o calor do gesto no afeto a levitar. III Ficou-me um imenso vazio por preencher como se fora noite esperando o dia madrugada adentro ao raiar da aurora Sol com palavras, luz na silva com amora, os cantares do rouxinol e da cotovia em ramo de árvore sobre rio a correr. IV Ficou-me, somente, tempo para tudo

aquilo que sei já não haver tempo de tentar sequer espreitar a janela porque tudo aquilo que se avista dela é o resto do início de um momento a percorrer com pés de veludo...

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PEGADAS II.3 I Talvez um dia te encontre Num virar de esquina, Num entrecruzar de um passeio, Numa qualquer esplanada, Ou num relance de um olhar. II Talvez um dia te encontre Num banco de um jardim Na Primavera, Ou numa praia qualquer No VerĂŁo. III

Talvez um dia te encontre No cair de uma folha No Outono, Ou num pingo de chuva No Inverno. IV E, se tal acontecer, Quando acontecer, Dir-te-ei quanto doeu Esperar por este momento, De felicidade

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PEGADAS III.3 I Há um marco Que marca o limite Deixando marca imperfeita Que se inclinado permite Acolher limite que rejeita Mesmo em caminho parco… II Há um marco Que sendo invisível Define contorno como tal Naquilo que sendo previsível, Não o é, afinal! III

Há um marco Que marcando marca. O sitio. O ponto. O ser capaz. E que por muito que se esbata Não apaga a marca d’agua, No homem e no rapaz!

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PEGADAS IV.3 I Há em ti Uma colina amaciada E socalcos pintados Pelo vento suão Que aquece a mente E leva a tristeza. II Há em ti Um emaranhado De rios e ribeiros De agua cristalina, Deslizando montanhas E vales floridos. Regam os prados Abrem trilhos sinuosos De caminhar seguro

Por leiras e veredas Até ao adro. III Há em ti O aconchego O leito e o colo O afago permanente O saber O sabor A realidade O sonho IV Há em ti A transparência A robustez A Mulher!

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PEGADAS V.3

I Há sempre um dia que se inicia em cada dia que passa Mesmo não sendo o dia esperado. Não importa se é de sol de chuva ou de nevoeiro De tristeza de alegria ou de felicidade.

Porque um dia mais é sempre mais um dia Em que o calor aquece ou arrefece consoante a lenha que tenha Em que a velocidade com que passa é a velocidade do sonho Se de sonhos for preenchido. Ou do pesadelo se de pesadelos estiver recheado. II Não importa se é um dia a mais ou a menos Quando a mágoa o povoa e lhe toca indelével Apertando o peito de onde extrai a dor E com ela tinge a água do ribeiro em desespero Entorpece a razão e esvazia o sentimento Deixando o âmago retorcido no sentir e na vontade Embrenhando-se em noite de provação escura Onde se perde em busca de nada... Sempre á espera que uma nesga de vida se aproxime Envolta em um aroma a manhã clara transparente Despida das impurezas de que só o Homem é capaz.

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PEGADAS VI.3

Aligeirada por vento de maresia ou de neblina Que levanta a areia ondula o prado e a seara Afaga a copa do pinhal macia como algodão E refresca a refrega mental em que se anda perdido... E de que sei um dia vir a acordar

Com força redobrada mesmo que enraivecida Em um mundo novo ou de novo vestido Consoante a imaginação for capaz Se entretanto de valores não tiver sido exangue Esses que te incutiram e soubeste respeitar Renovar e engrandecer para geração seguinte Que não importa se familiar ou outra Em amanhã vindouro por ti semeado Em veigas planas por anteriores aradas E de cujo fruto teus filhos se alimentarão! Esse dia virá amanhã ou depois Se das correntes com que te agrilhoaram Fores capaz de te libertar Queiram ou não os que a vida dominam Esse dia virá quando acordares para a liberdade Te sentires liberto de libertinagem Ou de supremacia nem que seja ilusória E conseguires ver o outro lado da vida Vivida por outros em consonância com a tua

Com outras cores falas e sorrisos Porque a vida no mundo é coletiva!

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PEGADAS VII.3 I Por entre o pó que levanta Cada passo que dás Precisos quando é preciso Imprecisos se cambaleias Polvilhado por ideias Da liberdade do riso Na gargalhada mordaz Assente no pó da esperança II Ou não fosse o dia feito De caminho sempre novo Mesmo o de velha traça Em que o piso foi mudado E na meada o fio remendado Para reforço da carapaça Da indiferença e do estorvo Cosida na forma do jeito. III Sobre nuvens da perfeição Em que os anjos se sentam

Deixando os homens em paz Consigo e os outros também Aonde não haja ninguém Com pedra escondida atrás Por medo daqueles que vençam Só porque são quem são!

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PEGADAS VIII.3

I Por não me ensinarem a morrer Sinto que não estou preparado Nem sequer para envelhecer

Fui alguma vez ensinado II A preocupação dos meus Foi a vida e como a viver E com erteza a dos teus Para quem a dor é não ter III

O momento que se quer A ambição que se sonha Em que a morte quando vier Venha breve não medonha!

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PEGADAS IX.3

i Hoje sabes-me a sal E cheiras a rosmaninho Em tarde que no seu final Pintou perfil de mansinho

II E do cabelo encaracolado Fez conjugação de beleza Em recorte torneado

Imagem de cor acesa

III Que calca areia macia e afaga o céu enublado Como se por magia Alcancemos o outro lado

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PEGADAS X.3

lado a lado fizemos caminho

lado a lado Ultrapassamos obstรกculos

lado a lado encaramos a vida. lado a lado

vencemos barreiras Inspiramos fundo Expiramos soltos Aparamos ventos semeamos sonhos colhemos resultados O fruto rasgou a terra e ganhou asas

Lado a lado Valeu a pena!

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