Poema só

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PO E M A E G AQUI D AGORA S ร ! Antรณnio Fernandes 1


Um minuto de poesia que seja sabe sempre a pouco. Onde quer que se esteja, em sacro local de igreja, ou no sopé de um cabouco de um sobreiro, ou uma esteira, ao sabor do cair de uma cereja. Neste que não será canção

Mas que é monte, da Nossa Senhora da Consolação onde não há fonte. Mas há imensos carreiros percorridos por livreiros e muito outros cancioneiros todos os que se julgam primeiros. Mas, por favor, não me falem em canteiros nem nos contentores apeadeiros espalhados na central que vai da arcada ao telhal, se perde na serra que ninguém vê lá prás bandas do Carvalho. A serra que Deus a dê! 2


Porque o dos instrumentos ao entrar junto aos jumentos se calou. E montou todos os seus elementos. Para lá do Carvalho, o Homem e a serra, Há um complemento... o do ... alho também. Porque nesta terra se fala bem. A todos vós, peço paciência São só …

uns minutos de perseverança Porque a poesia é musica! É canção! É dança! Um, ou dois minutos de poesia? Não sei. O que sei, é que são uns minutos de poesia ! 3


Que valem, o que valem. Muito, pouco ou mesmo nada. Valem a noite, ou valem o dia! Valem as carvalhas com mais de mil anos. O BomJesus. O Sameiro. A Santa Marta. E tudo o mais que se avista. Valem o trote dos garranos, dos campónios, dos rapazes, mas também dos ciganos, das juntas de bois,

dos arados, e demais ferramentas que faziam a lista, dos caseiros e dos filhos em rebanhos, e o "Serabade" que usava batina, que dava a catequese e tocava concertina, e que dizia a missa às seis da matina ali mais em baixo, na igreja da Paróquia, de olho atento, 4


no terço das cinco, nas mãos da velhota se saltava as contas fazendo batota. São só... Uns minutos de poesia. Com e sem rima, consoante a vida dos Brácaros, da Galécia e de todos os caboucos. Desta gente, os inteligentes e os loucos! Porque a rejeitada por não ser querida, É a tua dor e a tua alegria! São só...

Uns minutos de poesia. Valem a festa. e tudo o que fica. Mas, meus amigos, de tempo ido, tempos antigos. De quando ainda havia centeio, e campos com carreiros ao meio, 5


e os putos em busca de abrigo quando a chuva caia a potes e o capuz de zarapilheira com remendos aos montes, abrigava, e de que maneira! São só... Uns minutos de poesia... Feita prós putos, Pitos e galinhas, porcos e vacas. A erva no campo, no monte a carrasca. O eirado, a monda, a vindima e a desfolhada,

Os cantares ao desfio (!), a sachola no ar por um pedaço de trilho. E o namorado sempre desconfiado. O pai e a mãe, o campo de milho. O sol abrasador. A noite de luar. As batatas tiradas ao calor. 6


O centeio por mondar. O milho por regar. E o feijão na eira a secar. São só, uns minutos de poesia. Aquela que canta faça noite ou faça dia, se ri dos que zombam, e dos que ao seu redor dançam. São só, uns simples minutos de poesia escrita a correr enquanto um qualquer desgraçado sobe o monte em busca de água que aqui não há porque não há fonte

e lhe saciará a sede, a falta d’ar, a fome. A força de viver! São só, uns minutos de poesia, o adro, a capela e o monte. Não importa a que tempo remonte. 7


Tu e o outro, o que vai a passar, porque tudo o mais é paisagem, nesta nossa pequeña viagem feita a correr, de passagem! E o que vale à ignorancia Que a poesia encanta, É tudo o que a não promove Por ser coisa que estorve... Mesmo quando dança, em passos de valsa, ou de distância! Foi assim este momento

de poesía sem poesía que convença o raiar do dia da perseverança do nosso tempo!

- António Fernandes

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