5 minute read

Que tal um pouco mais de individualismo? - João Paulo Feijoo

Next Article
Legislação

Legislação

Que tal um pouco mais de individualismo?

João Paulo Feijoo Professor, consultor, investigador e conferencista nas áreas de Capital Humano, Liderança e Qualidade

Advertisement

Habituámo-nos a ver nos países da Europa do Norte e em certos países anglófonos (como por exemplo o Canadá e a Nova Zelândia) modelos de sociedade a seguir. Admiramos-lhes o desenvolvimento económico e social, o sentido de responsabilidade coletiva sem pôr em causa o respeito pela liberdade individual, o foco na coesão e a repulsa pela desigualdade – todos eles atributos que costumamos associar ao primado dos valores coletivistas sobre o interesse individual, ao contrário dos comportamentos egoístas que presenciamos entre nós. Porém, paradoxalmente, aquilo que distingue aquelas sociedades é exatamente o marcado individualismo que carateriza a sua cultura, em contraste com as nossas preferências, essas sim, de orientação coletivista. Ao contrariar o sentido que habitualmente damos aos conceitos de “individualismo” e “coletivismo”, esta afirmação é seguramente fonte de perplexidade, pelo que se impõe uma clarificação semântica. No contexto em apreço, “individualismo” significa que o indivíduo, enquanto agente social, se sobrepõe ao coletivo e não deve depender deste para as suas decisões vitais. Ora, isto só é possível se os indivíduos se virem a si mesmos como entes autónomos, capazes de tomar boa conta de si e dos seus sem necessitarem da proteção de um qualquer coletivo; ou, por outras palavras, que não põem os direitos antes dos deveres. É esta visão do indivíduo como “sujeito primário de agência” que o leva a assumir a responsabilidade por ajudar os outros – os seus iguais – no infortúnio, em vez de atirar essa responsabilidade para cima de um coletivo “protetor”, seja ele a família alargada, o clã, o cacique local ou o Estado. Não devemos, por isso, surpreender-nos com o facto de as sociedades individualistas serem aquelas em que o associativismo espontâneo e o mutualismo tendem a adquirir a sua máxima expressão, assentes numa solidariedade baseada na reciprocidade entre iguais. O “coletivismo”, pelo contrário, significa que a identidade do indivíduo só se completa no grupo em que ele se integra, e sem o qual aquela identidade deixa de ter sentido. Quem sou eu, se não tiver a minha família (ou a minha aldeia, ou a empresa onde trabalho, ou o meu clube) como referência? Esta identificação, aparentemente positiva como fonte de coesão, tem dois efeitos negativos. Ao fazer-se com um grupo específico, é particularista e excludente, pois os interesses do meu grupo raramente coincidem com os da sociedade em geral; e esses interesses conflituam com os de outros grupos que, consequentemente, são vistos como rivais. Além disso, como todos os grupos possuem uma hierarquia, adotá-los como referentes identitários gera dependência e, com ela, desigualdade: em contraste com as culturas individualistas, que recorrem à entreajuda perante as adversidades, as culturas coletivistas reagem com súplicas de ajuda – à família, ao patrão ou ao Estado. Assim, enquanto o individualismo exalta a independência, a agência e a responsabilidade, o coletivismo incentiva a subordinação, a passividade e a desresponsabilização – e em última análise o egoísmo, que não é mais do que uma expectativa de acesso privilegiado às benesses distribuídas pelo coletivo “protetor” (ou melhor, pela autoridade que as controla). O que é que isto tem a ver com a vida das empresas? Tudo. No plano conceptual, todos estamos de acordo: as empresas vencedoras apostam no empowerment da sua força de trabalho; precisam de trabalhadores dotados de iniciativa, autónomos, capazes de pensar pela sua cabeça e de tomar decisões;

Uma aposta na Intermodalidade e na Logística

...renunciemos de vez às atitudes paternalistas que infantilizam os trabalhadores e os condenam à dependência e à inação.

C precisam de equipas interdisciplinares onde cada membro seja M capaz de fazer ouvir a sua voz sem se deixar abafar pelos coY legas. Ai daquelas que perpetuam ideias ultrapassadas (e falsas) CM de obediência e disciplina, onde os trabalhadores preferem não correr riscos e reportam superiormente todos os problemas MY que poderiam ter resolvido eles mesmos, onde a culpa morre CY sempre solteira e onde os departamentos se guerreiam por recursos e influência. CMY Na prática, porém, continuamos atolados no “velho normal”. K Pior: não nos damos conta de que uma parte considerável das dificuldades advém das caraterísticas fortemente coletivistas da nossa sociedade. Para comparação, numa escala que mede o individualismo de 0 a 100 pontos, Portugal fica-se pelos 27, enquanto os países referidos no início alcançam entre 69 e 80 pontos. Partimos, pois, de uma posição de forte desvantagem. Será ela uma fatalidade? Um argumento para desistirmos e acharmos que nunca seremos capazes de incutir aqueles comportamentos nas nossas organizações? Não. Uma sociedade, uma cultura, nunca são homogéneas. Até mesmo na nossa, é possível encontrar indivíduos capazes de assumir responsabilidades e com gosto em fazê-lo, e que não ficam à espera que os seus problemas sejam resolvidos por outrem. Façamos deles os líderes da mudança, os porta-estandartes. Exaltemos o seu exemplo. E, acima de tudo, renunciemos de vez às atitudes paternalistas que infantilizam os trabalhadores e os condenam à dependência e à inação. Nenhum médico consegue escolher uma terapia e curar o doente sem diagnosticar primeiro a extensão da doença. Essa já a conhecemos. Só precisamos de começar o tratamento – cada dia, cada um de nós, de cada vez. O Porto de Setúbal tem uma localização privilegiada com excelentes acessos marítimos e boas ligações rodo-ferroviárias ao seu hinterland. Integra uma das mais importantes zonas industriais e logísticas do país e oferece ligações diretas à Rede Ferroviária Nacional e à Rede Rodoviária Principal, inserindo-se na Rede Transeuropeia de Transportes (RTE-T) o que o torna um dos portos mais competitivos da Costa Atlântica da Europa. Dispõe de terminais portuários especializados em todos os tipos de carga, com grande capacidade disponivel, localizados fora dos limites da cidade, com ligações diretas e sem constrangimento de tráfego. É líder nacional no segmento Roll-On Roll-o na movimentação de veiculos novos com linhas regulares que servem os mais diversos portos da Europa, Mediterrâneo e Extremo Oriente.

É um porto chave no apoio à eficiência da indústria na região onde, se localizam as principais indústrias exportadoras do país, bem como no abastecimento de bens de consumo ao seu hinterland, o qual integra a região da Grande Lisboa.

This article is from: