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Paulo Paiva
Ex.mas Autoridades, Senhores Congressistas, Ex.mos Convidados e Oradores, Caros Associados, Minhas Senhoras e meus Senhores,
O 18.º CONGRESSO NACIONAL DE TRANSITÁRIOS sob o título “Disrupção do Sistema Logístico” está a chegar ao seu final. Os Ilustres convidados que nos honraram nas três sessões mantiveram elevado nível e interesse, contribuindo para uma reflexão que é sempre importante fazer. Quero aproveitar para deixar o nosso agradecimento e reconhecimento aos oradores pelo tempo dedicado e empenho demonstrado. Dirijo também uma palavra de agradecimento aos patrocinadores pelo suporte e incentivo. Agradeço também aos colaboradores da APAT pelo esforço, disponibilidade e ajuda dispensada para que tudo estivesse no patamar de qualidade a que já nos habituaram. Finalmente, agradeço a todos os colegas e amigos que nos acompanharam nestes dois dias, digníssimos congressistas, que connosco partilham o ADN de transitário e que mais uma vez afirmaram a vitalidade da nossa Associação e da atividade que representamos. Em 2019, um relatório semestral da Comissão Europeia poderia ter sido “encomendado” pela APAT, porque as conclusões e os conselhos passados ao Governo Português pareciam plasmados das posições públicas assumidas por mim e pela nossa Associação. Dizia, então, na altura: que Portugal padece de insuficientes ligações marítimas e ferroviárias, sendo aconselhado que o país deve, e passo a citar: “focar-se numa política económica de investimento em pesquisa e inovação, transporte ferroviário e infraestrutura portuária”. Prossegue ainda o relatório que a Comissão considera que “as insuficientes ligações marítimas e ferroviárias criam barreiras às empresas exportadoras”. Para concluir que Portugal é um ponto de entrada marítimo natural para as rotas transatlânticas, mas que o nível de investimento público continua muito baixo quando comparado aos padrões da União Europeia. Fico esperançado que o Governo continue a investir seguindo também as recomendações da Comissão Europeia, não porque partam daquele organismo máximo europeu, mas porque são os passos certos a dar nos próximos anos. Na altura, em 2019, Portugal ocupava a 31.ª posição do Índice de Conectividade Marítima da UNCTAD. Olhando para os nossos vizinhos do lado, a Espanha estava no top 10 deste ranking, acompanhada pelo Reino Unido, Países Baixos e Bélgica. No 3.º Trimestre de 2021, a Espanha ocupa o 8.º lugar, imediatamente atrás dos Países Baixos, que é o primeiro país europeu no ranking, e Portugal ganhou 3 posições para 28.º, ainda que atrás de países como Malta, Omã, Grécia, Turquia, Egito e Marrocos. Temos de querer muito mais! Tenho de insistir neste tema da conectividade, pois a nossa economia dela precisa como nós precisamos do ar para respirar. Mas só podemos aspirar a mais se houver uma reorganização do Estado, criando uma Secretaria de Estado, ou mesmo uma Direção Geral para a Logística e Transportes, tendo a responsabilidade e competências que lhe permitam ter a sob a sua alçada as decisões estratégicas sobre todo o setor, envolvendo a totalidade dos meios de transporte. Acabando com a repartição de responsabilidades entre os vários Ministérios, como acontece atualmente. A Janela Única Logística, por exemplo, terá muito a ganhar, se estiver integrada numa futura estrutura que faça a ligação com todo o setor, e que permita integração com todos os modos de transporte. Se assim não for, e apesar dos esforços notáveis da DGRM para o sucesso da JUL, corremos o risco de canibalização por outras plataformas tecnológicas de índole privada, conduzindo a um estado letárgico desta excelente iniciativa. Não esquecer que entre as virtudes da JUL temos a sua neutralidade, confidencialidade e imparcialidade relativamente aos seus utilizadores, o que é uma vantagem evidente. Estamos a assistir a uma catadupa de “coincidências”, todas de sinal negativo. Começando com a indisponibilidade de contentores e de navios, implicando o incremento para níveis insustentáveis do preço dos fretes, concorrência desleal com o surgimento de integrators promovendo a integração vertical nos serviços logísticos, a falta de confiança e de confiabilidade nos prazos, as plataformas tecnológicas e os chamados “transitários” digitais, o fecho de fábricas e portos na China, congestionamentos brutais nos vários portos americanos e chineses, a falta de motoristas, os elevados preços da energia e dos combustíveis e ainda, que agora até parece menos importante, o Brexit.
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Sempre que penso no nosso setor, e revejo as crises que ciclicamente surgem e se desvanecem ao longo dos anos, há sempre um fator comum na nossa ação. Usamos de uma mestria inigualável para apresentar soluções adequadas a cada problema que nos é apresentado, ajustadas no tempo e no espaço, procurando equilíbrio entre o valor que se acrescenta a determinado produto e o preço apresentado pela solução. A logistica mundial é o nosso ambiente natural, onde nos sentimos à vontade, seja para um envio do Porto para Ponta Delgada, do Funchal para São Paulo, de Shanghai para Sines ou mesmo de Klaipeda para Luanda, com operações de cross-docking, armazenagem, serviços aduaneiros ou de qualquer outra natureza, por terra, mar e ar. Em toda a cadeia logística estamos numa posição confortável, suportada por competência, capacidade de gestão, controlo e execução. Podendo padecer de alguma imodéstia da minha parte, considero que por tal mestria o Transitário merece uma designação internacional de “Supply Chain Master”. Eis o que nos define, porque não é imposto a ninguém, mas apenas porque descreve o que fazemos bem melhor do que qualquer outro interveniente na cadeia logistica. Outra mensagem que tenho tentado passar nestes anos assenta na ideia de que Portugal não é viável sem vender para o exterior. E isso continua a ser verdade, mesmo que a ideia nos últimos tempos seja alavancar a economia dando prioridade a consumir o que é produzido no nosso país. Rapidamente temos de adaptar a nossa cadeia logística, colocando-a ao serviço da produção nacional, para ajudar a viabilizar as empresas instaladas em Portugal, nacionais e multinacionais, permitindo que mais empresas consigam fazer chegar os seus produtos aos mercados fora do país. Não tendo dimensão por si só, a estratégia deverá passar por termos Portugal como um hub logístico internacional. Para prosseguir esta ideia, precisaremos de competência em todo os modos de transporte. Isso exige vontade política em estabelecer e, sobretudo, cumprir objetivos ambiciosos para investimento criterioso em áreas críticas. Que conduzam ao fomento de bases de conhecimento, inteligência, capacidade tecnológica e governação. Sobretudo que criem as infraestruturas necessários para prosseguir esta estratégia. Do ponto de vista da carga, é minha convicção que o transporte aéreo tem um papel fundamental para potenciar a competitividade das nossas exportações. Não podemos abdicar, por isso, da existência de uma companhia aérea portuguesa. Estrategicamente Portugal precisa de ter uma companhia aérea sedeada no nosso país, pois o vazio a ser ocupado pelos concorrentes traria companhias de outros países, que transformariam o país num destino e não numa origem, deitando por terra o projeto de hub, mas sobretudo limitando e condenando o índice de conectividade de Portugal. Não quero deixar de salientar a importância das tecnologias de informação. Sobretudo para a nossa atividade, porque estamos sujeitos a uma pressão constante em providenciar informação rigorosa que permita decisões de forma rápida e segura, sejam elas de natureza operacional ou comercial. Temos por isso o que passou a ser uma constante no nosso negócio, investir nas tecnologias de informação, permitindo uma comunicação fluida e uma interação em tempo real com as cadeias de abastecimento. Saliento que existem hoje soluções fiáveis e acessíveis, e adequadas às necessidades e capacidade de investimento para os transitários, qualquer que seja a sua dimensão. Muitas vezes a questão a ultrapassar reside nas barreiras que a própria empresa possa colocar à mudança para o digital. É preciso estar recetivo a mudar e, sobretudo, que haja motivação dos recursos humanos. Não esquecendo que a inovação está a passar das novas tecnologias para o talento das pessoas, no sentido em que cada vez mais recorremos a ferramentas para tornar a nossa vida um pouco mais fácil, adaptando as novas tecnologias a esse fim, e não o contrário. As pessoas são o nosso principal recurso! É, por isso, muito importante o reconhecimento que passámos a ter uma gestão de equipas que envolve um mix entre o local de trabalho presencial e o virtual. Pois queremos que as pessoas que trabalham nas nossas empresas tenham à sua disposição ferramentas que as capacitem, permitindo que estejam motivadas para ultrapassar os desafios. O Setor tem carência de quadros com conhecimentos especializados sobre áreas tão diversas como as operações nos vários modos de transporte, operações aduaneiras e especialistas em logística internacional. A APAT tem desenvolvido várias parcerias com entidades formadoras e contribuído para a dinamização de cursos de nível superior para fazer face a essas mesmas necessidades. Temos o exemplo do Pós-Graduação em Direito dos Transportes de Mercadorias, resultante de uma parceria entre a Universidade Portucalense e a APAT. E uma nova iniciativa em conjunto com o Instituto Politécnico da Guarda, a iniciar em novembro deste ano, com uma Pós-Graduação em Logística para profissionais e executivos. Um dos objetivos principais da APAT ao longo da sua existência passa por possibilitar o acesso a conhecimento aos nossos associados e a todas as empresas que chegam até nós. Obviamente que damos enfase aos gestores nos nossos Transitários, porque consideramos fundamental que tenham o apoio e o suporte para a tomada de decisões na condução das suas empresas. Esse é o papel fundamental do Congresso da APAT. Esta é uma das principais razões para ser imprescindível a vossa participação. Termino agradecendo a todos os que nos honraram com a vossa presença fazendo votos para que tenham dado o vosso precioso tempo por bem empregue. Muito obrigado.