Representações do Conjunto da Praça da estação no acervo do APCBH

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Representações do Conjunto da

Praça da Estação no acervo do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte A Série O Arquivo e a Cidade foi lançada durante as comemorações dos 25 anos do APCBH, em 2016. Ela tem o objetivo de difundir a instituição, seu acervo e suas metodologias para o tratamento e o acesso aos documentos. As publicações são voltadas para públicos de diferentes perfis e abordam temas relacionados aos projetos, às atividades e ao acervo do APCBH.

REALIZAÇÃO:


APCBH/BELOTUR


Representações do Conjunto da

Praça da Estação no acervo do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte


Prefeitura Municipal de Belo Horizonte Secretaria Municipal de Cultura João Luiz Silva Ferreira Secretaria Municipal Adjunta de Cultura Gabriel Portela Fundação Municipal de Cultura Fabíola Moulin Mendonça Coordenação da Série O Arquivo e a Cidade Helena Guimarães Campos Equipe técnica Helena Guimarães Campos Joanna Guimarães Fernandes Michelle Márcia Cobra Torre Digitalização de documentos Thaís Marcolino dos Santos Tiago Henrique Martins Lopes (estagiário) Colaboração Antônio Augusto Moreira de Faria Carlos Henrique Bicalho Mônica Cecília Costa Maria Cruz Ferraz Joel Júnio Ferreira Santos (estagiário) Revisão Michelle Márcia Cobra Torre Ana Paula Silva Projeto gráfico e diagramação José Augusto Barros Serviços gráficos Gráfica Municipal Capa Fotografia da Praça da Estação, de Gladyston Rodrigues, inscrita no concurso Descobrir BH, de 1995. APCBH/BELOTUR.

A772r Representações do Conjunto da Praça da Estação no acervo do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte./ Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte. Belo Horizonte. Fundação Municipal de Cultura. Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v.6, 2019 56 p.: il, color, 21 cm. - (O arquivo e a Cidade, 6) Produzido pelo Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte. ISBN: 978-85-64559-15-8 1. Arquivologia. 2. Belo Horizonte. 3. Arquivos Públicos Municipais I. Fundação Municipal de Cultura. II. Patrimônio Cultural. III. Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte. CDD 981.511 Catalogação na fonte: Ana Paula Silva CRB 6.3360


Representações do Conjunto da

Praça da Estação no acervo do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte

Secretaria Municipal de Cultura Fundação Municipal de Cultura Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte 2019


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Apresentação

As cidades são experiências humanas. As características das edificações, o traçado das vias, a categorização dos espaços e a definição dos lugares de “centralidade” expressam os valores, concepções de mundo, modos de vida, necessidades e anseios de uma dada sociedade. Revelam também seus conflitos, hierarquias e projetos em disputa. Nesse sentido, as cidades se constituem em espaços educativos, já que as memórias das experiências materializam-se, ainda que fragmentadas e temporalmente sobrepostas, naquilo que denominamos de patrimônio cultural. A preservação desse patrimônio, ao conjugar presente e passado, nos permite operar a construção das memórias individuais e coletivas, tornando o mundo mais afável e inteligível. Também contribui para que compreendamos melhor como chegamos até aqui, o quanto há do passado em nosso presente e em nossas projeções de futuro. Portanto, é com grande prazer que apresentamos o resultado de mais uma importante pesquisa desenvolvida pelo Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH). Esse trabalho reflete o entendimento de que a memória das experiências humanas, preservada em suportes documentais variados (edificações, documentos textuais, iconográficos etc.) é instrumento para a construção de uma consciência histórica capaz de nos orientar no tempo e no espaço, na construção da nossa identidade e na nossa relação com o outro. Nesse sentido, o sexto volume da Série “O Arquivo e a Cidade”, ao apresentar as representações do Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação por meio do acervo do APCBH, vem revelar


muito sobre nós, belo-horizontinos, e sobre nossa relação com o território onde habitamos. Afinal, estamos tratando de um espaço que sempre figurou como lugar de centralidade, aglutinando pessoas, veículos, mercadorias, movimentos sociais e uma multiplicidade de produções culturais. Antes mesmo da inauguração de Belo Horizonte em 1897, a Praça da Estação já ocupava um lugar de destaque por ser passagem obrigatória para os que entravam e saíam da cidade em construção. Nas décadas de 1920 e 1930, a região se afirmou também como um lugar de lazer, com a reforma paisagística da praça e substituição do antigo edifício da Estação pelo atual. Não por acaso, foi nas proximidades da Praça da Estação que surgiram os primeiros fotógrafos de rua de Belo Horizonte, popularmente conhecidos como Lambe-lambes e cujo ofício foi reconhecido e registrado como primeiro patrimônio imaterial do Município, em 2011. Lugar de sociabilidade, lazer e de fluxo de pedestres, a Praça da Estação foi, por muitas décadas, um lugar propício ao ofício de retratar pessoas, tendo a cidade como cenário. Com a decadência do transporte ferroviário, na segunda metade do século XX, a Praça passou por um período de estagnação. Embora não tenha deixado de ser um espaço apropriado pela população, sobretudo aquela usuária de transporte coletivo, a praça perdeu sua centralidade econômica. Já nas décadas de 1970 e 1980, a região tornou-se palco de manifestações artísticas, de mobilizações políticas e da luta pela redemocratização do país. Tornou-se também objeto de discussão das propostas de requalificação da região central de Belo Horizonte, lançando as bases


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para a construção da política municipal de proteção do patrimônio cultural. No século XXI, a região da Praça reafirma-se como zona cultural de Belo Horizonte e assume ares de “praia”, tornando-se símbolo da luta pelo direito à cidade. Ao contemplar a rica e variada documentação do APCBH sobre a Praça da Estação somos provocados a estabelecer novas e mais íntimas relações com a nossa cidade, olhando para ela de forma mais crítica, atenta e sensível. Ao tomarmos conhecimento das diversas temporalidades presentes em um mesmo território e das diferentes funções, usos e sentidos a ele atribuídos ao longo do tempo, somos inevitavelmente levados a vivenciar novas experiências no espaço urbano. Somos, por fim, provocados a refletir sobre as relações estabelecidas entre tempo, espaço e coletividade e sobre os caminhos a se seguir para melhor qualificar a vida em sociedade. A presente publicação, por fim, vem reforçar o papel do APCBH como equipamento cultural que há 28 anos é referência no tratamento, guarda, acesso e divulgação do patrimônio documental de Belo Horizonte. Que esse trabalho possa dar fôlego a outras iniciativas de valorização e promoção de acervos documentais voltados para a história das nossas cidades e para o fortalecimento das nossas instituições de memória. Françoise Jean de Oliveira Souza Diretora de Patrimônio Cultural e Arquivo Público


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Sumário

Introdução ........................................................................................ 8 TRILHAS HISTÓRICAS A PARTIR DA CARTOGRAFIA ....................10 Representação do pátio ferroviário em 1928 ................................. 12 Breve histórico da Praça da Estação ..............................................16 TRANSFORMAÇÕES E PERMANÊNCIAS NO AMBIENTE EM MOVIMENTO...................................................18 O espaço da Praça na cidade ......................................................... 20 O espaço da Praça na metrópole ...................................................25 O LUGAR DA ECONOMIA NA PRAÇA DA ESTAÇÃO..................... 30 Um passado industrial ...................................................................32 Tempos de comércio e serviços ......................................................36 A PRAÇA, SEUS SÍMBOLOS, USOS E APROPRIAÇÕES ..................40 Cultura, lazer e participação popular............................................ 42 Políticas de patrimônio.................................................................. 46 Considerações finais .......................................................................52 Referências bibliográficas ............................................................. 54


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Introdução Multidão, povo, movimento, agitação, centro, beleza, tradição, patrimônio, arte, cultura, lazer, identidade, turismo, carnaval, eventos, museu, miséria, insegurança, violência, manifestação, luta, transporte, trem, metrô... Essas são palavras recorrentes que ouvimos das diversas pessoas que nos responderam à seguinte solicitação: Cite três palavras que lhe vêm à cabeça quando você pensa na Praça da Estação. De fato, o imaginário popular, alimentado pelas vivências individuais e coletivas, associa a Praça da Estação – oficialmente, Rui Barbosa – com os seus múltiplos papéis e funções que, ao longo do tempo, estiveram relacionados com, praticamente, todos os setores da vida social. Buscando vestígios dessa história, decidimos produzir uma publicação que tivesse esse espaço como tema. Todavia, não apenas a praça, mas toda a área que evidencia e caracteriza a sua influência, organicidade e integração, devidamente reconhecida pelo tombamento que buscou proteger o Conjunto da Praça Rui Barbosa. Este sexto volume da série O Arquivo e a Cidade traz representações do Conjunto da Praça da Estação colhidas no acervo do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH). A partir de uma representação cartográfica do Conjunto - uma planta datada de 1928, produzida pelo engenheiro ferroviário Victor Figueira de Freitas - fizemos uma seleção contextualizada de documentos que abarcam os séculos XIX, XX e XXI e contemplam diferentes gêneros – cartográfico, iconográfico, textual e bibliográfico – e formatos documentais – projeto arquitetônico, planta, fotografia, negativo, cartão postal, cartaz, fatura, flyer, revista e legislação, além de texto jornalístico e propaganda. Em conformidade com os objetivos definidos para o perfil das publicações da série O Arquivo e a Cidade, esta publicação prioriza a divulgação do acervo institucional, formado por meio de recolhimentos da documentação governamental – poderes executivo e legislativo municipais – e oriundo de doações. Todos os documentos apresentados nesta obra pertencem ao acervo do APCBH e estão disponíveis para consulta. E muitos desses documentos são inéditos, isto é, nunca foram objeto de exposição ou publicação; aliás, muitos sequer foram pesquisados. Cabe lembrar que esse é o primeiro volume da série dedicado exclusivamente à divulgação do acervo, visto que os demais, além de atenderem a tal requisito, também trataram da instituição, de seus projetos ou das metodologias de tratamento arquivístico adotadas.


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A mostra de documentos relacionados com o Conjunto da Praça da Estação está organizada por assuntos que contemplam diferentes áreas da vida da sociedade belo-horizontina. O primeiro capítulo apresenta o documento gerador da proposta de pesquisa que resultou nesta publicação. Nele, fazemos a apresentação da planta do pátio ferroviário da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB), em 1928, esclarecendo o significado de elementos que compõe o documento cartográfico. A produção do documento é contextualizada e, a partir dele, identificamos bens que compõem o Conjunto da Praça da Estação na atualidade. Cabe esclarecer que, durante a produção deste trabalho, algumas edificações do Conjunto estavam fechadas ao público, passando por reformas, e, por isso, sua apresentação, nesta obra, evocou antigos usos. É também nesse capítulo que apresentamos uma sintética história da Praça, recorrendo a um encarte para elencar, pontualmente, muitos acontecimentos relacionados com os bens que integram esse espaço. O segundo capítulo é voltado para assuntos relacionados com transporte, mobilidade e meio ambiente. Explicitamente associado ao transporte ferroviário, o espaço da Praça da Estação e seu entorno registraram também a presença de outras modalidades de transporte e foram palco de conflitos decorrentes das contínuas (e descontínuas) políticas públicas voltadas para o setor que afetaram, de maneira drástica, o meio ambiente. O terceiro capítulo trata do espaço em seus aspectos econômicos, lançando luz ao passado industrial da Praça da Estação, com seus estabelecimentos como as serrarias e as oficinas, dedicadas a materiais para construção, e fábricas, voltadas para o abastecimento do mercado interno da capital. Desde os primeiros anos, a região também pode ser caracterizada como um polo comercial, oferecendo uma variedade de serviços e produtos aos belo-horizontinos. O último capítulo aborda os aspectos socioculturais da Praça da Estação, reafirmando sua vocação de espaço público destinado à realização de grandes eventos - shows, feiras e festas – e de lugar de manifestações artísticas e políticas. Ele também traz considerações sobre o patrimônio cultural - reconhecido e salvaguardado - e seus usos e apropriações. Cientes das limitações desta obra, temos consciência de que não estamos propriamente escrevendo uma história. Antes, e por meio de uma pequena amostra, estamos a dar publicidade ao imenso, variado e rico acervo do APCBH, que é patrimônio da sociedade belo-horizontina e, mais do que meramente preservado, merece ser pesquisado e interpretado.


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Trilhas históricas a partir da cartografi a O Conjunto Paisagístico e Arquitetônico da Praça Rui Barbosa (Praça da Estação) foi tombado, em âmbito estadual, em 1988, e municipal, em 1998. Ele é composto pela praça - com seus jardins e esculturas -, pelos antigos equipamentos ferroviários, pela balaustrada e pelos postes da R. Sapucaí, e por diversas edificações, além dos viadutos Santa Tereza e da Floresta. O acervo do APCBH conta com diversos documentos cartográficos, iconográficos, textuais e de outros gêneros relativos ao Conjunto da Praça da Estação. Dentre tais documentos, destacamos a planta produzida pelo engenheiro ferroviário Victor Figueira de Freitas, de 1928, que retrata quase toda a área delimitada pelo perímetro do tombamento do Conjunto. Esta planta foi o ponto de partida para a pesquisa que foi realizada com o objetivo de levantar uma mostra de documentos sobre o Conjunto da Praça da Estação. O contexto histórico da produção do referido documento cartográfico foi marcado pela construção do Viaduto Santa Tereza, concebido para acabar com o duplo problema da transposição das linhas férreas do pátio ferroviário e do Ribeirão Arrudas, na Avenida Tocantins (atual Assis Chateaubriand). O pátio ferroviário abrigava, nesse trecho, várias linhas para triagem das composições ferroviárias. Na época, havia trens de


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passageiros de várias categorias e trens de carga diversos, inclusive transportando animais e plantas. Com todo esse movimento, havia normas estabelecendo a prioridade de tráfego dos diferentes tipos de trens. O pátio contava com várias linhas para formação das composições, manobras, estacionamento, além de desvios de cruzamento, onde os trens aguardavam a passagem dos trens prioritários, esperando a sua vez de seguir viagem. Além da área de triagem, havia as linhas do antigo Ramal Férreo Belo Horizonte, construído pela Comissão Construtora da Nova Capital, que, em 1899, fora integrado à EFCB. Desde a inauguração, em 1919, do Ramal de Paraopeba, ligando a capital mineira a Conselheiro Lafaiete, o tráfego ferroviário aumentara bastante no pátio, que ainda contava com as linhas da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM). Todo esse movimento trazia riscos para a segurança dos pedestres e veículos que transitavam na Avenida Tocantins. Em 1926, a EFCB havia rejeitado o projeto do viaduto, que transpunha suas linhas, apresentado pela Prefeitura de Belo Horizonte. No ano seguinte, a Central apresentou o seu próprio projeto e assumiu o compromisso de dividir os custos de sua construção, igualmente, com a Prefeitura. Acordada a proposta da EFCB, o viaduto foi construído e inaugurado em 1929. Em 1928, data da produção da planta que traz representado o viaduto em construção, o engenheiro residente da EFCB, responsável pelo pátio ferroviário, era Victor Figueira de Freitas, que anos mais tarde, também participaria ativamente da vida cultural da cidade e do Estado, sobretudo, como produtor de conhecimentos históricos e defensor do patrimônio cultural. Este capítulo, além de apresentar a Planta do Pátio Ferroviário e de identificar nesse documento os bens que integram o Conjunto da Praça da Estação, traz uma sintética cronologia da história da Praça, que é detalhada no encarte que integra esta obra.


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Representação do pátio ferroviário em 1928 A planta do Pátio Ferroviário de Belo Horizonte retrata o espaço ocupado pela EFCB em 1928. O documento também inclui equipamentos ferroviários da EFOM, uma vez que, desde 1911, nesse pátio se dava o entroncamento dessas duas ferrovias. Contudo, a planta traz outras representações do espaço urbano que não estão relacionadas com a ferrovia e que compõem o que atualmente entendemos como Conjunto da Praça da Estação.

Inaugurada em 1858, a Estrada de Ferro Central do Brasil servia a três estados: Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Apesar de ser considerada a ferrovia mais importante do país, a EFCB era dividida em duas partes, com bitolas diferentes, isto é, com as distâncias entre os trilhos diferentes: uma parte com bitola de um metro e, outra, com bitola de 1,60 m. No pátio de Belo Horizonte havia linhas das duas bitolas. A residência ferroviária abrangia uma grande quilometragem de linhas. O engenheiro residente era responsável pela manutenção de linhas, estações, armazéns, pontes e diversos equipamentos sob a jurisdição de sua residência. O Ramal do Paraopeba, de BH a Conselheiro Lafaiete, foi construído e inaugurado no período 1916-1919, com o objetivo de unir a capital mineira à do país, o Rio de Janeiro, em bitola de 1,60 m (bitola larga). Antes do Ramal, a viagem BH-RJ exigia uma baldeação porque o trecho RJ-Conselheiro Lafaiete era de bitola de 1,60 m, enquanto o trecho Conselheiro Lafaiete-BH era de bitola de um metro. O pátio ferroviário da Estação Belo Horizonte da EFCB ficava sob a jurisdição da residência do Ramal do Paraopeba, que abrangia uma grande quilometragem.

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A seguir, são apresentados alguns esclarecimentos sobre os elementos do documento cartográfico. Nas próximas páginas, o documento aparece reproduzido em formato maior, com a indicação das principais edificações e lugares, conforme são popularmente denominados em 2019.

A linha de bitola larga penetrava em BH pelo Barreiro, passava pelo bairro Calafate e alcançava a Estação de Horto Florestal, inaugurada em 30/01/1925, junto à qual, pouco tempo depois, seria criada uma oficina de locomotivas dessa bitola.

A avenida Tocantins só passou a se chamar Assis Chateaubriand em 1968. Antes, outro logradouro mostrado na planta já havia tido seu nome alterado: a rua da Estação se tornara Aarão Reis (1924). Já a avenida do Canal receberia o nome de avenida dos Andradas (1929), enquanto a avenida do Comércio seria renomeada Santos Dumont somente em 1932.

Nascido em Lorena, em 1888, o engenheiro civil Victor Figueira de Freitas participou da construção do Ramal de Paraopeba e trabalhou em diversas cidades servidas pela EFCB. Ele também atuou na EFOM e gerenciou uma fábrica de tecidos no interior de Minas Gerais. Escritor e autor de obras históricas, nas décadas de 1950 a 1970 publicou diversos livros, além da Revista de História e Arte (1963). Victor também esteve ligado à Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, ao Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e ao Instituto de História, Letras e Arte.


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1 Superintendência do Instituto Histórico

e Artístico Nacional em Minas Gerais

2 Fundação Nacional das Artes – Minas Gerais 3 Viaduto da Floresta

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4 Casa do antigo agente da Estação da EFCB 5 Casa do antigo guarda-chaves da EFCB

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6 Museu de Artes e Ofícios 7 Estação da Estrada de Ferro Vitória a Minas

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8 Estação Central do Metrô 9 Antiga sede da Rede Ferroviária Federal S. A. 10 Instituto Cultural Flávio Gutierrez 11 CentoeQuatro 12 Centro de Referência da Juventude 13 Antiga Escola de Engenharia da

Universidade Federal de Minas Gerais

14 Antigo Instituto de Química 15 Antigo Pavilhão Mário Werneck 16 Centro Cultural da UFMG 17 Edifício Itatiaia 18 Edifício Aurélio Lobo 19 Monumento à Civilização Mineira 20 Edifício Central 21 Viaduto Santa Tereza 22 Serraria Souza Pinto 23 Antiga Companhia de Desenvolvimento

Econômico de Minas Gerais

24 Edifício Chagas Dória 25 Balaustrada da R. Sapucaí


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Breve histórico da Praça da Estação Na planta da capital, concebida por Aarão Reis e aprovada pelo governo de Minas Gerais em 15 de abril de 1895, constava a Praça da Estação, cortada pelo ribeirão Arrudas. Oficialmente, a praça teve sua denominação alterada em 4 de setembro de 1914, passando a se chamar Christiano Otoni, nome do engenheiro e político mineiro que havia sido o primeiro dirigente da EFCB, ainda no Império, quando a ferrovia se chamava Estrada de Ferro D. Pedro II. Nova mudança viria em 27 de setembro de 1923, com a alteração para praça Rui Barbosa, para homenagear o jurista e político que morrera em março daquele ano. Contudo, apesar dessas denominações oficiais, o local sempre foi conhecido pela população como Praça da Estação. Ao longo do tempo, o espaço da praça passou por grandes modificações que afetaram, principalmente, os jardins e seus ornamentos, as vias públicas do entorno e o curso d’água. Todas essas transformações refletiram as diferentes concepções de cidade, de cidadania e de uso e apropriação do espaço urbano. Contudo, permanências também marcaram esse espaço que se caracterizou pela multiplicidade de papéis e funções relacionados com o transporte, o trabalho, o lazer, a cultura e o cotidiano dos belo-horizontinos e dos mineiros. O encarte que integra esta obra apresenta, em ordem cronológica, muitos acontecimentos relacionados com a história da Praça da Estação e de seu entorno.

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O Jornal do Ônibus, de março de 1995, convidava a população belo-horizontina a eleger um símbolo para a cidade. A cédula de votação trazia oito opções e dentre elas estavam a Praça da Estação e o Viaduto Santa Tereza.

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Nomes ofi ciais da Praça da Estação 1914 1923

Praça Cristhiano Otoni Praça Rui Barbosa

A fotografia de 1912, publicada na revista Silhueta, de março de 1932, retrata parcialmente o pátio ferroviário e a Praça da Estação.

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A fotografia publicada na revista A Vida de Minas, de setembro de 1916, retrata a chegada do poeta Olavo Bilac à Praça Christiano Otoni, em agosto daquele ano.

O cartão postal produzido na época da Copa das Confederações (2013) representa a Praça da Estação por meio da imagem da antiga Estação da EFCB e das fontes instaladas em 2004, como parte da requalificação do espaço para o Boulevard Arrudas.

A propaganda da loja de acessórios, publicada na revista Yára, de dezembro de 1927, traz como endereço a Praça Ruy Barbosa.

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Praça da Estação


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Transformações e permanências no ambiente em movimento A Praça da Estação foi concebida como “porta de entrada” para os passageiros que chegavam à capital mineira utilizando o meio de transporte que, até a década de 1960, predominou no atendimento às necessidades de deslocamentos em todo o país: o trem. Ao longo do tempo, as linhas férreas do pátio estiveram sob diferentes administrações públicas: Ramal Férreo Belo Horizonte, do governo de Minas Gerais (1895-1899); EFCB (1900-1969); EFOM (1911-1931) que virou Rede Mineira de Viação (RMV – “Ruim Mas Vai” – 1931-1969); e, de 1957 a 1996, Rede Ferroviária Federal S. A. (RFFSA), que, depois de 1996, ficou sob administração privada. Na década de 1980, o pátio acolheu as linhas metroviárias da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) que, muito timidamente, assumiu o transporte de massas sob trilhos, enquanto as linhas ferroviárias ignoravam os passageiros, servindo, exclusivamente, à carga. Dessa forma, a Praça da Estação deixava de destinar as antigas estações da EFCB e EFOM ao embarque e desembarque de passageiros, reservando-lhes novos espaços: a partir de 1987, a Estação Central do metrô e, desde 1992, a Estação Belo Horizonte da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Todas essas estações são hoje símbolos de uma política nacional de transportes equivocada, que desconsidera as largas vantagens dos modais de transporte sobre trilhos para o atendimento às necessidades de deslocamentos dos cidadãos.


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No começo do século XX, a industrialização e o desenvolvimento do comércio nas proximidades da praça - assim como em toda a cidade - e, mais tarde, a intensificação dos processos de urbanização e de aumento populacional contribuíram para tornar esse espaço cada vez mais movimentado e dinâmico. À medida que se buscavam soluções para o atendimento às necessidades do transporte urbano e, depois, metropolitano, o trânsito na região refletiu conflitos de diferentes naturezas decorrentes de escolhas, equívocos, obsolescências e outros aspectos ligados ao planejamento urbano. Dentre eles, podem ser citados: a prevalência do transporte individual sobre o público no uso do sistema viário; a supremacia do transporte rodoviário sobre outros modais de transporte; a ausência ou ineficácia de políticas de transporte descentralizadoras; a perda de espaço do pedestre para os veículos; a crescente incompatibilidade da sociedade com o ribeirão Arrudas, que exigia obras de transposição, e impunha à população as consequências do seu histórico descaso com os cursos d’água - o mau-cheiro, os focos de doenças e as constantes enchentes. No novo milênio, esse ambiente marcado por uma atividade frenética - assim percebida em todas as épocas! - valoriza tradições e busca modernizar-se, ainda que sacrificando o Arrudas, sepultado para dar espaço aos veículos. Cada vez mais nobre - seja pela centralidade, pela presença no cotidiano urbano, pela imponência na paisagem ou muitos outros motivos - esse espaço popular ainda tem no movimento sua principal característica. Espaço onde indivíduos e multidões se movem em múltiplas direções, todas convergindo na luta pela conquista de sua cidadania.


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O espaço da Praça na cidade

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Ao longo do tempo, diversos meios de transporte transitaram nas imediações da praça levando passageiros, mercadorias e encomendas. Além dos trens de carga e de passageiros, de diferentes categorias – noturno, expresso, direto, rápido, subúrbio, e misto – que chegavam e partiam para outras cidades e estados, carroças, carruagens, bondes, trólebus, ônibus, caminhões, automóveis, táxis, motocicletas, bicicletas participaram de décadas dessa história.

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A A fotografia publicada na revista Vita, em setembro de 1913, trazia a Estação da Cidade de Minas e o comentário de que o uso de propagandas comerciais nos postes de luz e bondes deixava as ruas com um ar chique e agradável. B Inaugurada em 1922, a Estação da EFCB, mostrada na fotografia (s/d), era maior e mais equipada que a antiga Estação da Cidade de Minas, que, após a construção do Ramal do Paraopeba, mostrou-se inadequada para o crescente movimento.

C Inaugurada em 1920, a Estação da EFOM sofreu alterações posteriormente. O projeto arquitetônico de 1928 refere-se a um aumento de dois cômodos no segundo pavimento. A fachada do documento não é exatamente igual à existente.

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D A EFOM adquiriu a antiga residência do empresário Augusto Souza Pinto e a ampliou para instalar a sua sede, antes situada em São João del Rei. O projeto residencial é de 1915 e o da ampliação, de 1920. Depois, a edificação abrigou a RFFSA, criada em 1957. E No entorno da Praça da Estação, as empresas ferroviárias construíram moradias para seus funcionários, como mostra o projeto arquitetônico de 1934, para a R. do Ramal, que começava na Av. do Contorno e margeava as linhas férreas em direção à Lagoinha.

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F As propagandas das revistas Vita (07/1913) e Econômica (07/1935) evidenciam a forte presença das ferrovias no cotidiano da cidade. A EFOM nomeava a empresa que vendia lenha, enquanto a empresa de transportes tinha sua sede em equipamento da EFCB. G Os usuários de bondes não contaram com um abrigo na Praça. O projeto arquitetônico de 1950 procurava resolver o problema dos passageiros dos bondes dos bairros Floresta, Renascença e Horto, mas o abrigo previsto nunca chegou a ser construído. H O negativo de 1962 traz a imagem de um trólebus no Viaduto Santa Tereza. A linha de ônibus elétricos para o bairro Santa Tereza fora inaugurada em 15 de abril de 1961. Antes, o trólebus para o bairro Santo Antônio tinha o ponto final na Praça da Estação.


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I A fotografia de 19/03/1928 retrata a Av. Tocantins, no local onde seria construído o Viaduto Santa Tereza para resolver o problema da travessia do ribeirão Arrudas e da passagem de nível no movimentado pátio ferroviário.

K O aumento da frota de automóveis exigiu uma maior oferta de combustíveis. O projeto arquitetônico aprovado em 1938 mostra um posto de gasolina na R. Sapucaí, junto ao Viaduto da Floresta.

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J O projeto arquitetônico de 1949 para o espaço sob o Viaduto Santa Tereza era destinado a um posto de gasolina. O acervo do APCBH também conta com projetos de um centro turístico (2000), de uma cozinha (s.d.) e de um circuito de esportes radicais (2008) para esse espaço.

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O espaço da Praça na metrópole

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Em gestação desde a década de 1950, a Região Metropolitana de Belo Horizonte se tornou realidade em 1973. No contexto da metrópole, a Praça da Estação e todo o seu entorno passariam por intensas e drásticas transformações, na década de 1980, para dar lugar ao metrô de superfície. Essa conjuntura esteve relacionada com o reconhecimento oficial do Conjunto da Praça como patrimônio cultural. Os crescentes problemas do trânsito na região levaram a mudanças ainda mais radicais no século XXI para a instalação do Boulevard Arrudas, integrado à Linha Verde, com o objetivo de fazer a ligação do centro da capital com o Aeroporto Inter-

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nacional de Confins. Essa última intervenção eliminou da paisagem o curso d’água que, ao longo da história da capital, foi objeto de crescentes conflitos com a sociedade, a qual chegou a considerá-lo “indesejável”. Impactante nas proximidades da praça foi a implantação, em 2014, do sistema de transporte rápido por ônibus (MOVE), que utilizou completamente a avenida Santos Dumont, para nela estabelecer estações e corredores exclusivos.

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A Medida bem econômica foi a implantação das linhas metroviárias junto às ferroviárias de forma a possibilitar a transposição de ambas por meio de uma só passarela ou viaduto, conforme se percebe nas fotografias da década de 1980. Essa medida também barateou o custo do metrô, já que reduziu a necessidade de desapropriações.

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Representações do Conjunto da Praça da Estação... • 27 B A fotografia de 1997, ano do centenário da capital, mostra intervenções que valorizaram a segurança dos pedestres: o alargamento das calçadas do Viaduto Santa Tereza e a instalação de faixas de pedestres na Av. Assis Chateaubriand e na R. Sapucaí. C As alterações realizadas no Conjunto da Praça da Estação com vistas à implantação do metrô não levaram em conta a acessibilidade para deficientes físicos, conforme se vê na fotografia de 1995, tirada junto à balaustrada da R. Sapucaí.

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D A imagem do negativo de 1998 retrata formas de uso do espaço público na R. Aarão Reis: estacionamento rotativo para veículos particulares e ocupação irregular com finalidade de moradia.

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E A demanda por transporte público de qualidade na cidade sempre foi grande. O detalhe do Jornal do Ônibus, de fevereiro de 2008, informa sobre melhoramentos nos serviços de ônibus na região da Praça da Estação. F O detalhe do Jornal do Ônibus, de dezembro de 2005, trata de uma importante medida para usuários do transporte público da capital: a ampliação da integração ônibus/metrô, que passava a valer também na Estação Central.

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G Ao longo do tempo, o ribeirão Arrudas sofreu várias intervenções na Praça da Estação. Canalização e alargamento do canal foram realizados em diferentes épocas para se evitar enchentes como a que deixou marcas na ponte da Av. Santos Dumont, retratada na fotografia de 1980.

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H A temporada de chuvas de dezembro de 1980 provocou enchentes na R. Januária, onde ficavam os escritórios ferroviários. Comumente, a administração ferroviária tinha seus documentos afetados pelos alagamentos. I Ainda de 1980 é a fotografia das consequências do transbordamento do Arrudas nas imediações do Viaduto Santa Tereza.

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O lugar da economia na Praça da Estação A Praça da Estação foi, por bastante tempo, o principal local de chegada do visitante à cidade de Belo Horizonte. A região, desde o início, oferecia serviços diversificados, como retirada e transporte de mercadorias, que chegavam nos trens, e guarda móveis. Para quem aguardava a partida ou a chegada do trem, existia uma loja especializada em jornais e revistas na praça. Nos primeiros anos do século XX, vários hotéis foram construídos no entorno da estação, para acolher os viajantes que chegavam à nova capital, tal como o Hotel Avenida, que possuía diversos estabelecimentos comerciais no térreo, como barbearia e oficina de restauro de móveis. Para suprir as demandas do mercado interno, surgiram diversos estabelecimentos próximos à praça, onde se fabricava e se vendia produtos, como secos e molhados, em um mesmo local. De frente para a Estação da EFCB abria-se a antiga avenida do Comércio, oferecendo produtos e serviços. Outra atividade importante para o início da cidade também ocupava os arredores da Praça da Estação: a indústria. Até a década de 1930, o local funcionou como um complexo industrial, abrigando diversas oficinas, serrarias e fábricas de produtos diversos, que produziam desde tecidos e pregos a biscoitos, massas e licores. Algumas fábricas e serrarias contavam com linhas férreas próprias para o escoamento de seus produtos. O Empório Industrial de Antônio Teixeira Rodrigues, o Conde de Santa Marinha, foi o primeiro estabelecimento do gênero na cidade.


Desde os primeiros anos da nova capital, a Prefeitura ofereceu vários incentivos para a instalação dos novos empreendimentos, como a concessão de terrenos para a construção de fábricas. A Companhia Industrial Bello Horizonte, do ramo têxtil, foi uma das empresas beneficiadas, nessa época, com a isenção de impostos por cinco anos e o fornecimento de energia elétrica por dez anos, além de terreno para a instalação de suas dependências. Em 1936, foi criado, pelo poder público, a Zona Industrial de Belo Horizonte, no Barro Preto, o que fez com que o polo de indústrias se deslocasse para aquela região. Se nos primeiros anos da nova capital essa região possuía hotéis de luxo com salões para banquetes, com o passar do tempo, o entorno da praça tornou-se uma região de comércio mais popular. Na década de 1990, a economia popular tomou conta da praça com a realização periódica de uma feira de artesanato. Cabe também lembrar dos numerosos ambulantes que ofereciam seus produtos aos viajantes dos trens, principalmente, dos trens de subúrbio que ligavam a capital às cidades vizinhas e contavam com vários horários. No ano de 2019, os edifícios do entorno da praça são de uso comercial, cultural e alguns de caráter residencial e comercial, como o Edifício Itatiaia, inaugurado como hotel na década de 1950. Na metade do século passado, antigas oficinas e armazéns deram lugar ao Edifício Central, que passa a abrigar uma diversidade de serviços como consultórios odontológicos, escritórios de advocacia, lojas, lanchonetes, agência dos Correios, além da Escola Livre de Artes da Fundação Municipal de Cultura.


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Um passado industrial

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O primeiro polo de indústrias de Belo Horizonte instalou-se no entorno da Praça da Estação. No início do século XX, a Companhia Industrial Bello Horizonte era a maior indústria instalada na cidade. Existiam também várias oficinas e fábricas dedicadas a produtos para o mercado interno.

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A O detalhe do projeto arquitetônico, de 1907, mostra a fachada da Companhia Industrial Bello Horizonte, que era dedicada à indústria têxtil e possuía grande maquinário para fiação e tecelagem.


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Representações do Conjunto da Praça da Estação... • 33 B O detalhe do projeto, de 1897, traz a fachada do Empório Industrial de Antônio Teixeira Rodrigues, o Conde de Santa Marinha. No estabelecimento havia serraria a vapor, fundição, ferraria e carpintaria. C A fatura de 1897 trata da compra de materiais de construção do estabelecimento de Teixeira Rodrigues pela Comissão Construtora da Nova Capital. D O detalhe do projeto, de 1906, mostra a fachada da fábrica de massas alimentícias e de destilação, de Paulo Simoni.

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E A propaganda da revista Comercial, de outubro de 1915, divulga o Estabelecimento Industrial Mineiro, de Paulo Simoni.

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F O detalhe do projeto, de 1909, traz a fachada do estabelecimento industrial de Silverio Silva. Além de uma área destinada à serraria, havia um local para a fabricação de fumo. A fachada da edificação estava voltada para a Av. Tocantins. G A propaganda da revista Novo Horizonte, de outubro de 1910, divulga o estabelecimento de Silverio Silva & Cia, que além de serraria e depósito de lenha, fabricava cigarros e artigos para fumantes. H A propaganda da revista Novella Mineira, de janeiro de 1922, traz a Grande Refinaria de Assucar, movida a eletricidade. O local funcionava como fábrica, armazém e depósito.

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I O detalhe do projeto arquitetônico, de 1911, mostra a fachada da Serraria de Garcia de Paiva & Pinto. O estabelecimento se chamava A Industrial e localizava-se na R. da Estação. Na década de 1910, a serraria foi transferida para a Av. Tocantins.

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J A fatura de 1911 trata da compra de materiais de construção no estabelecimento de Garcia de Paiva & Pinto pela Prefeitura de Belo Horizonte. O documento integra o livro Caixa Geral, que contém as despesas da administração pública. K O detalhe do projeto, de 1925, traz a fachada do estabelecimento Officinas Faria e Assumpção, dedicado à carpintaria e à marcenaria.


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Tempos de comércio e serviços

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Se no início da construção da capital destacavam-se, nessa região, as serrarias e os depósitos de madeira, logo surgiram no entorno estabelecimentos que ofereciam serviços à população. O comércio se expandiu e vários negócios se estabeleceram. Também existiam grandes hotéis nas imediações.

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A A fatura de 1912 trata da compra de materiais no Grande Armazém de Ferragens pela Prefeitura de Belo Horizonte. O documento faz parte do livro Caixa Geral, que trata das despesas da administração pública da cidade. B A propaganda da revista Tank, de 1919, divulga o Hotel Avenida, que oferecia salões para banquetes e se localizava próximo à estação, com bondes para diversas localidades à sua porta. C A propaganda, publicada na revista Novidades, em fevereiro de 1944, divulga o estabelecimento de Vilela & Lima, que oferecia serviços de guarda e reforma de móveis, além de despacho de mudanças. O local funcionava no térreo do Hotel Avenida.

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D O detalhe do projeto arquitetônico, de 1925, mostra a fachada do Hotel Avenida, de Felício Rocho. O edifício possuía vários estabelecimentos comerciais no andar térreo.


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E A propaganda publicada na revista Silhueta, em março de 1932, mostra o Hotel Sul Americano, que possuía 120 quartos mobiliados para seus hóspedes. F A propaganda da revista A Vida de Minas, de maio de 1916, é da Casa Giacomo que, além de vender jornais e revistas nacionais e estrangeiras, também oferecia loterias e fumos. G O negativo de 1974 mostra, ao fundo, o Edifício Itatiaia, construído na década de 1950. Por muitos anos, o edifício funcionou como Hotel Itatiaia e, atualmente, se caracteriza pelo uso misto, com lojas e residências. G


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H O negativo de 1968 mostra a União Brasileira Distribuidora de tecidos S/A, localizada à Praça Rui Barbosa nº104, mesmo prédio que sediou a fábrica da Companhia Industrial Bello Horizonte até a década de 1930. I O negativo mostra o Edifício Central visto da R. Aarão Reis, em 2006. O centro comercial possui lanchonetes, consultórios e lojas. No ano desse registro iconográfico, havia um sacolão localizado no térreo do edifício. J A fotografia traz a Feira de Arte e Artesanato, em 1997, na Praça da Estação. Na década de 1990, a feira acontecia periodicamente nesse local.

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A Praça, seus símbolos , usos e apropriações A Praça da Estação se caracteriza, entre outros aspectos, como um espaço destinado às mais variadas manifestações. Cultura, política e lazer estão sempre presentes entre os temas mais recorrentes em trabalhos de pesquisa e notícias divulgadas pela imprensa, bem como nos usos percebidos do lugar amplamente partilhado por cidadãos da capital e de sua região metropolitana e, também, por turistas. Concebida no projeto original da Cidade de Minas, planejada por Aarão Reis, em 1895, a praça teve sua pedra fundamental lançada no mesmo ano e começou a ser construída em 1904. Seus jardins, inicialmente sinuosos, de estilo paisagístico inglês, foram entregues à população em 1906. Tombada e reconhecida por seu valor histórico, a Praça da Estação preserva importante patrimônio cultural. O prédio da Estação da EFCB, projetado por Luís Olivieri, sob a orientação de Caetano Lopes Júnior, em estilo eclético, é o principal do conjunto. Em 1981, foi realizado o I Encontro pela Revitalização da Praça da Estação, que envolveu o poder público e membros do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) na elaboração de um projeto de ressignificação da praça e de seu entorno. Essa e outras iniciativas refletem o reconhecimento da praça como herança cultural e trabalham na perspectiva de que a atribuição de um novo sentido para o patrimônio cultural depende, para além do tombamento, da aceitação ou da rejeição que a comunidade confere ao projeto apresentado. Palco de inúmeras manifestações artísticas e culturais, bem como cenário para grandes eventos públicos, principalmente pro-


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movidos pela Prefeitura de Belo Horizonte - a exemplo do Arraial de Belo Horizonte, do carnaval e de diversos espetáculos do Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte (FIT-BH) - a praça é uma referência importante para os cidadãos, que também a transformam em espaço de manifestações políticas. Foi assim no Movimento Diretas Já, na luta pela volta à democracia, em 1984, e, recentemente, no movimento conhecido como Praia da Estação. Esse último, teve início em 2010, após a publicação de uma lei que restringiu a utilização do espaço da praça. Um bloco carnavalesco promoveu festas para transformar a praça em praia, o que acabou levando a Prefeitura a cortar a água das fontes. Em protesto, a Praia continuou a ser realizada, porque os carnavalescos, voluntariamente, se encarregavam de providenciar um caminhão-pipa. Os eventos eram sempre em torno de temas sobre a ocupação do espaço público, mostrando que a praça é do povo e que seu uso público é sua verdadeira vocação. Se no passado, a praça era marcada por uma identidade industrial, com o passar do tempo, essa identidade deu lugar a uma nova configuração. A praça, atualmente, abriga o Centro de Referência da Juventude (CRJ), onde funciona a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, importantes equipamentos municipais, que reforçam a identidade cultural do espaço, que conta ainda com museus, teatros e centros culturais.


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Cultura, l�er e participação popular

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A Praça da Estação é um grande corredor cultural. Um palco utilizado por coletivos artísticos, movimentos sociais, rodas de samba, blocos carnavalescos e muitos outros grupos. Seu entorno abriga, atualmente, outros dois reconhecidos corredores culturais que já estão cristalizados no imaginário da população: a R. Sapucaí e o baixio do Viaduto Santa Tereza. Vários espaços culturais, com as mais diversas atividades, também ocupam a praça e seu entorno, a exemplo do Museu de Artes e Ofícios, o Centro de Referência da Juventude que acolhe a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil da Prefeitura de Belo Horizonte, o Centro Cultural da UFMG e o CentoeQuatro.


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A O projeto mostra a estrutura a ser montada para o Arraiá de Belô, de 1995, na Praça da Estação, que recebe o evento desde a sua primeira edição, em 1979. O evento já teve diversos nomes: Forró de Belô, Arraial do Povão, Arraiá de BH, Forró de BH, e Festa Junina de Belo Horizonte. Atualmente, chama-se Arraial de Belo Horizonte.

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B O detalhe do documento textual é da capa da ementa do decreto nº 13.798, de 09/12/2009, que proibia a realização de eventos na Praça da Estação. A proibição vigorou de 01/01 a 04/05/2010.


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C Em 10/04/1994, a população pode ter acesso à música erudita com a apresentação da Orquestra Filarmônica de St. Petersburg na Praça da Estação, mostrada na imagem do negativo.

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D A imagem do negativo de 17/08/1993 mostra uma exposição de artes visuais do artista Ronaldo Macedo realizada na passagem subterrânea localizada abaixo do pátio ferroviário. E Os negativos de 1993 mostram imagens de eventos realizados no âmbito do projeto Quadra Aberta que contou com a participação de jovens atletas.


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F A preservação do patrimônio cultural e o direito dos cidadãos de usufruir do espaço público com fins culturais e de lazer protagonizaram episódios que receberam as atenções da mídia. Essas reportagens integram o acervo de Clippings da Sala de Consultas do APCBH. 1 Hoje em Dia, 11/12/2009; 2 Hoje em Dia, 06/05/2010; 3 O Tempo, 06/05/2010; 4 Hoje em Dia, 08/05/2010.

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G O panfleto divulga o Minas ao Luar, tradicional evento musical produzido pelo Serviço Social do Comércio que, em 2014, foi realizado na Praça da Estação.

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H O cartaz refere-se ao evento cultural Arte BH 100 que marcou as comemorações do centenário de Belo Horizonte, em 1997.


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Políticas de patrimônio

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O reconhecimento da relevância do Conjunto da Praça da Estação para a memória, a identidade e a história da cidade levou ao seu tombamento, acolhido com satisfação pela sociedade. Todo o conjunto revela diferentes temporalidades do urbanismo em Belo Horizonte e já foi objeto de várias mudanças e de projetos e intervenções com fins de revitalização. A praça, por exemplo, teve na década de 1920 e em 2004 dois marcos importantes de sua trajetória, dadas as mudanças significativas pelas quais passou. Mas, houve outras.

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De maneira geral, o Conjunto da Praça da Estação evidencia um modelo exitoso de política de patrimônio, ainda que registre conflitos diversos. Afinal, conciliar os diferentes interesses do uso desse espaço público com o trânsito, a mobilidade urbana e a segurança pública não é tarefa fácil. E, claro, há os direitos de cidadania daqueles que residem nas proximidades – direito ao meio ambiente equilibrado e direito à moradia digna, livre de fontes de poluição (sonora).

A A reportagem do jornal Estado de Minas, de 21/06/2001, traz denúncia de descaso e degradação na praça que, em diversos momentos, foi negligenciada pelo poder público e sofreu depredação provocada pela população.

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B A Casa do Conde de Santa Marinha data de 1896, antes mesmo da inauguração da cidade. Depois de 1900, com a morte do Conde, a casa passou por muitas transformações e usos. Desde 1957, ela e outros antigos bens ferroviários próximos abrigam equipamentos federais de uso cultural. A fotografia é de 1995.


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C A escultura Monumento à Terra Mineira - que ao lado do prédio da antiga Estação da EFCB, é a figura mais icônica da praça foi esculpida em bronze pelo italiano Julio Starace. Inaugurada em 1930, homenageando personagens históricos, ela é sustentada por uma base em granito com painéis que estão retratados nas fotografias de 1982. 1. Capa do Guia Turístico, de novembro de 1993 2. Representação do desbravador Bruzza Spinosa 3. Representação do bandeirante Fernão Dias Paes 4. Martírio de Felipe dos Santos 5. Martírio de Tiradentes


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D O ofício de lambe-lambe, mostrado na fotografia de 1995, não está mais presente na praça cotidianamente. Esse foi o primeiro bem cultural imaterial a receber proteção oficial em nível municipal.

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E A fotografia mostra a Ninfa com Jarro, de 1925, esculpida pelo artista Folini, que foi praticamente destruída em 1996. Em 2007, essa e outras nove esculturas foram substituídas por réplicas, enquanto as obras originais foram levadas para outros locais, em diferentes momentos.


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F O cartão-postal da primeira década do século XXI retrata a estação que hoje abriga o Museu de Artes e Ofícios, cujo acervo evidencia a ausência daquele que ali labutou: o ferroviário. Em todo o Brasil, muitos imóveis de estradas de ferro arrendados às concessionárias que operam somente o transporte de cargas ganharam novo uso como equipamento cultural. G A fotografia de 1995, de José Vianey Anízio, inscrita no concurso Descobrir BH – A cidade e seu povo, mostra detalhes da fachada da Estação da EFCB, onde se destaca o relógio. O antiga Estação da Cidade de Minas recebera, em 21/08/1898, o primeiro relógio público da cidade, construído no Rio de Janeiro, em 1884. H O cartaz, de 1981, dá publicidade ao primeiro encontro para se debater a situação e o destino de bens situados na Praça da Estação e no seu entorno, ameaçados pelas obras para a implantação do trem metropolitano.

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APCBH/SARSES-CS

Representações do Conjunto da Praça da Estação... • 51 I De 2001, o cartaz divulga o Fórum realizado no âmbito do Projeto 4 Estações – Recuperação cultural, histórica e ambiental da área da Praça da Estação, que mobilizou a sociedade e diferentes órgãos governamentais que atuavam na defesa desse patrimônio cultural. J O convite de 2007 é relativo ao Projeto Novos Registros do APCBH que teve a Praça da Estação como tema de palestra e debate, abordando questões ligadas à reabilitação do local.

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Considerações finais A Praça da Estação foi e ainda é a “porta de entrada” (e de saída) da cidade para os viajantes usuários de trem. Mas ela também é o “centro” da cidade para as milhares de pessoas que cotidianamente frequentam esse espaço para utilizar o transporte urbano ou metropolitano, trabalhar, fazer compras, divertir-se, informar-se, etc. Assim, inserida na dinâmica da cidade e da metrópole, a praça é origem, destino, espaço de passagem, de negócios, de ócio, de contemplação, de diversão e, infelizmente, de violência. Certo é que ela desperta emoções, atrai olhares, evoca lembranças, suscita questionamentos e críticas. É motivo de orgulho, vergonha, lástima, esperança... É viva, repleta de atividades, refletindo o legado de momentos – verdadeiras eras – em que foi objeto de atenção, valorização, esquecimento, negligência e absoluto descaso, seja da sociedade, seja dos poderes públicos. Ao longo do tempo, essa praça foi continuamente ressignificada pela população belo-horizontina e da região metropolitana, de múltiplas formas e sentidos. A praça não é a mesma para o artesão, que ali ganha sua sobrevivência; para o comerciante, que empunhando um microfone, quer atrair o consumidor; para o passageiro, que espera o ônibus, enquanto segura sua bolsa, temendo que a arranquem a qualquer momento; assim como não é a mesma para os trabalhadores que se reúnem para discutir suas pautas reivindicatórias; nem para os que ali se encontram porque, mais tarde, assistirão à apresentação de uma cantora famosa. A praça é múltipla. Ela, que um dia mal passava de um estacionamento, hoje é muito e tem um sentido para cada um. Esse espaço é, essencialmente, o espaço do frenesi, dos múltiplos fluxos de pessoas, veículos e ideias que tecem uma rede de significados simbólicos que permeiam as práticas cotidianas de quem transita por ali com frequência ou esporadicamente, e mesmo daquele que, no isolamento de sua solidão urbana, vê a praça somente por meio de uma representação numa revista, na televisão ou pela internet. Todavia, a Praça da Estação, quando ainda não existia nem estação e nem praça, já assumia o protagonismo da história da cidade, sendo sua “porta de entrada”. Afinal, mal aprovada a planta da Nova Capital, era aquele o destino do Ramal Férreo que haveria de trazer todo o necessário para a construção da cidade. Era ali que se dava o primeiro passo da epopeia para se concretizar o sonho republicano de erguer a Cidade de Minas, de tão belo horizonte. Mas, esse protagonismo não foi aleatório. Hoje o Conjunto da Praça da Estação se destaca na paisagem da capital de relevo acidentado pela horizontalidade dos terrenos que ocupa,


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característica que é reforçada pelas suas edificações pouco verticalizadas, se comparadas às do hipercentro que integra. Essa característica, entretanto, encontra em um elemento natural a sua explicação. “Trem não deve subir morro”, já sabia qualquer construtor de ferrovia do século XIX, ainda mais Aarão Reis, que havia sido diretor da Central do Brasil, antes de assumir o cargo de Chefe da Comissão Construtora da Nova Capital. Por isso, as estradas de ferro buscavam os vales de rios; por isso, as estações postadas ali, de frente para os cursos d’água (e, por isso, enchentes históricas destruindo o patrimônio ferroviário). Oh, pobre Arrudas! Não poderá mais testemunhar essa história. Mas é bom sabermos que o Conjunto da Praça da Estação protegido por meio de tombamento é consideravelmente menor do que o almejado por todos aqueles que participaram das lutas preservacionistas que marcaram o processo de implantação do metrô de superfície, na década de 1980. Os imperativos técnicos sacrificaram vários equipamentos ferroviários para tornar realidade o moderno meio de transporte de massas sobre trilhos – necessário e ainda inexpressivo diante da abrangência dos antigos trens de subúrbio, esses sim, verdadeiramente metropolitanos. Porém, não desapareceram somente edificações públicas, pois interesses diversos promoveram a demolição de várias edificações particulares que se pretendiam agregadas ao Conjunto. Enfim, o Conjunto da Praça da Estação sobrevive às mudanças, assegura permanências, registra continuidades e, também, rupturas, como de resto, toda a cidade. Transporte, comércio, lazer e cultura são as principais áreas da vida social que, no século XXI, têm nesse espaço uma importante referência. No passado, ficou a época em que a indústria e a educação superior também a tinham como reduto. Hoje, acima de tudo, esse é o espaço onde participar, lutar, fruir e preservar explicitam maneiras de se vivenciar a cidadania. Para encerrar essas reflexões sobre o espaço que é tema desta obra, lembramos que a ampla pesquisa documental que realizamos exigiu escolhas, visto que seria impossível incluir todos os documentos levantados na pesquisa para esta publicação. Os documentos selecionados procuraram diversificar gêneros e formatos documentais, períodos históricos e temáticas. Esperamos que essa seleção cumpra o objetivo de estimular o interesse dos leitores, incentivando consultas ao acervo do APCBH. Os documentos aqui apresentados, e uma infinidade de outros mais, podem contribuir para a construção de uma história crítica sobre a nossa cidade, desde que pesquisados. Bem-vindos, consulentes e pesquisadores!


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Referências BARRETO, Abílio. Belo Horizonte: memória histórica e descritiva: história antiga. Atual., rev. e anotada. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995. 446 p. (Mineiriana Clássicos 1). BELO HORIZONTE. Deliberação nº 18/98, de 1º de dezembro de 1998, do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município. Aprova o tombamento do Conjunto Urbano Praça Rui Barbosa e Adjacências. Diário Oficial do Município, 17 dez. 1998. ________. Lei nº 1.490, de 10 de maio de 1968. Dá a denominação de Assis Chateaubriand à atual Av. Tocantins. Secretaria Municipal de Administração, Belo Horizonte, 11 de maio. 1968. ________. Lei nº 7.620, de 12 de dezembro de 1998. Institui o Eixo Cultural Rua da Bahia Viva e dá outras providências. Diário Oficial, Belo Horizonte, 15 dez. 1998. CARSALADE, Flávio de Lemos. Estação em movimento: a história da Praça da Estação em Belo Horizonte. Belo Horizonte, MG: Elos Produção Criativa, 2016. 176 p. DIRETORIA DE PATRIMÔNIO CULTURAL. Dossiê de Tombamento do Conjunto da Praça da Estação. Belo Horizonte, 199_. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS. 100 Anos da indústria em Belo Horizonte. Belo Horizonte: FIEMG/SESI, c1998. 95 p. FERREIRA, Camila Kézia Ribeiro. A polêmica como patrimônio: Augusto de Lima Júnior e a Revista de História e Arte nos embates sobre as políticas patrimoniais (1930-1966). Mariana: UFOP, 2014. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da UFOP. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO; Centro de Estudos Históricos e Culturais; BELO HORIZONTE (MG) Prefeitura. Omnibus: uma história dos transportes coletivos em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1996. 380 p. (Coleção Centenário). FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO; Centro de Estudos Históricos e Culturais. Belo Horizonte & o comércio: 100 anos de história. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1997. 334 p. (Coleção Centenário). GOMES, Leonardo Jose Magalhães; AUN, Miguel. Memória de ruas: dicionário toponímico de Belo Horizonte. 2. ed., rev. Belo Horizonte: Crisálida, 2008. 302 p. GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Conjunto Urbano Praça da Estação de Belo Horizonte - acervo histórico cultural. Belo Horizonte: Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral; Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana (PLAMBEL), 1981. NEVES, Magda de Almeida; DULCI, Otavio Soares (Coord.). Belo Horizonte: poder, política e movimentos sociais. Belo Horizonte: C/ Arte, 1996. 123 p. PENNA, Octavio. Notas cronológicas de Belo Horizonte: 1711-1930. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1997. 274 p. (Centenário). PERDIGÃO, João. Viaduto Santa Tereza. Belo Horizonte: Conceito, 2016. 121 p. (BH. A cidade de cada um; 28).


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As publicações desta linha editorial referem-se a temáticas relativas ao Patrimônio Cultural, ou seja, ao conjunto das diversas manifestações e práticas produzidas ao longo do tempo, seja no campo das artes, dos saberes, das celebrações, das formas de expressão e dos modos de viver ou na paisagem da própria cidade, com seus atributos naturais, intangíveis e edificados bem como do patrimônio documental e museal. O objetivo é potencializar a salvaguarda do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, garantindo o direito à memória, contribuindo para o seu conhecimento e disseminação, bem como provocando a reflexão sobre a diversidade cultural e identitária presente na cidade.


56 • Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte

Rua Itambé, 227 - Floresta. Belo Horizonte, MG CEP 30150-150 Atendimento de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h30 e das 13h30 às 17h Para acesso aos documentos, faça contato com a Sala de Consultas pelo telefone 3277-4603 ou pelo e-mail apcbh@pbh.gov.br. Encontre-nos no Facebook: facebook.com/apcbh

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Acontecimentos relacionados com o Conjunto

Praça da Estação

27/10/1894 – A Comissão Construtora da Nova Capital contrata a construção da ponte David Campista, a primeira obra de arte definitiva no perímetro da cidade. 03/11/1894 – Lançamento da pedra fundamental do prédio da Estação de Minas. 07/09/1895 – Inauguração do Ramal Férreo. 21/09/1895 – Primeira escritura de compra de lote e primeiro registro. O imóvel, de propriedade de Américo Diamantino Lopes, situava-se na Praça da Estação. 13/08/1896 – Início da construção da primeira edificação da zona suburbana: as oficinas do Conde de Santa Marinha. 1896 – Construção da casa de Antônio Teixeira Rodrigues, Conde de Santa Marinha. 10/06/1897 – Conclusão da primeira pavimentação de logradouro: um trecho de seis metros de largura por duzentos de comprimento, em macadame, na Praça da Estação. 13/11/1897 – Conclusão da ponte metálica sobre o Arrudas, na Avenida Tocantins. 04/08/1898 – Publicação de edital de concessão, pela Prefeitura, de quatro quiosques na praça. 12/08/1898 – Instalação provisória da Prefeitura na Estação de Minas. 21/08/1898 – Início do funcionamento do primeiro relógio público da cidade, colocado na torre da Estação da Cidade de Minas. 27/11/1898 – A imprensa noticia obras da Prefeitura: o calçamento com paralelepípedos de área junto à estação - onde estacionam carros - e, em macadame, uma faixa na várzea que daria lugar à futura Praça da Estação. 25/05/1899 – Aprovação, pela Prefeitura, da planta de um quiosque a ser montado na praça, onde já existia outro, sem planta aprovada. 21/08/1899 – Doação à Prefeitura, pelo Conde de Santa Marinha, de terreno para alargamento da Rua Januária. 13/12/1899 – O Ramal Férreo é vendido à União para ser incorporado à EFCB. 14/03/1900 – A Prefeitura anuncia a canalização do Arrudas em frente à praça. 02/05/1902 – O Decreto nº 1516 concedia facilidades para a instalação de indústrias na cidade.


21/11/1902 – A Prefeitura contrata o ajardinamento das praças da Estação e da Liberdade – as duas primeiras da cidade a receberem tal melhoramento. 31/12/1903 – A Estação de Minas é a de maior movimento de passageiros do Estado. 1904 – Criação dos primeiros jardins da Praça da Estação. 07/07/1904 - Os trabalhos de ajardinamento da Praça da Estação foram iniciados. 1906 – Construção do edifício que abrigaria a Companhia Industrial Bello Horizonte. 23/08/1906 – Construção de um coreto para apresentação da banda de música do 2º Batalhão, que antes se apresentava em frente ao quartel. 04/09/1906 – Inauguração dos jardins na Praça da Estação, à margem direita do Arrudas. 29/01/1907 – Conclusão do assentamento das linhas de bondes da Av. Amazonas, entre Av. Afonso Pena e R. da Bahia, na Praça da Estação. 04/04/1909 – Início da construção da linha que se ligaria, futuramente, à da EFOM, próximo à casa do Conde de Santa Marinha. 20/02/1910 – O senador Rui Barbosa vem a Belo Horizonte, em campanha presidencial. 24/05/1910 – Conclusão dos estudos do Ramal do Paraopeba (Lafaiete-BH, com 120 km). 25/06/1910 – A EFCB avisa que fará a instalação de gradis na Estação para permitir acesso somente a quem tiver bilhete. 24/09/1910 – A Prefeitura distribui carros de aluguel para alguns pontos, sendo um deles a Praça da Estação. Em 16/12/1910, sete deles deveriam ficar na praça. 04/10/1910 – A Prefeitura pede à EFCB o fechamento da Estação para evitar que ali se instalassem desocupados. 01/07/1911 – Inauguração da linha da EFOM que serve à capital mineira. 27/04/1912 – A Prefeitura anuncia obras de saneamento: escoamento de águas e aterro de área alagadiça junto à Estação da EFCB. 14/07/1912 – A EFOM faz correrem trens diários para todas as suas linhas, partindo de Belo Horizonte. 21/02/1913 – Inauguração do primeiro desvio ligando a EFCB a um estabelecimento industrial, a Serraria de Garcia de Paiva & Pinto, em construção na Av. Tocantins. 11/04/1913 – A Diretoria da EFOM agradece à Prefeitura a doação, feita em março daquele ano, de terreno para a sua estação. 21/09/1913 – Inauguração, na Praça da Estação, do busto de Anita Garibaldi. 04/09/1914 – A praça recebe o nome de Cristiano Otoni. 12/12/1916 – Conclusão do assentamento do gradil na Estação da EFCB. A partir desse dia, só entraria no local quem tivesse ingresso e na hora de chegada ou partida de trens. 17/06/1917 – Inauguração de restaurante na Estação da EFCB, totalmente reformada, com novas salas para telegrafia e para uso das senhoras. 03/01/1918 – Transferência, para a Estação da EFCB, de agência dos Correios que funcionava na Av. Oiapoque. A inauguração aconteceu no dia 10/08/1918. 2


02/05/1919 – Aceleração dos trabalhos da bitola larga e de construção das passagens subterrâneas sob o pátio ferroviário, para ligar as estações da EFCB e EFOM. 22/06/1919 – Chegada do primeiro trem de serviço da EFOM a Belo Horizonte. 09/07/1919 – Aquisição, pela EFOM, de área entre as ruas Januária e Varginha, para a construção de armazéns de depósito de carros e locomotivas. 16/07/1919 – Inauguração da bitola larga (Lafaiete-BH). O tráfego regular teve início no dia seguinte. 01/03/1920 – Início das atividades dos escritórios da EFOM, transferidos de São João del Rei para Belo Horizonte e instalados no edifício da Equitativa, localizado na praça que, em 1922, receberia o nome Sete de Setembro. 12/05/1920 – Início da demolição da estação da EFCB. Seus serviços foram transferidos para o armazém de encomendas, ao lado. 07/08/1920 – Lançamento da pedra fundamental da nova estação da EFCB. 02/10/1920 – Os reis da Bélgica chegam em um trem da EFCB, vindos do Rio de Janeiro. 03/10/1920 – Inauguração da Estação da EFOM. 21/05/1922 – A Associação Comercial resolve oferecer, em nome do comércio, uma placa comemorativa da inauguração da estação da EFCB, a ser colada à entrada do edifício. 11/11/1922 – Inauguração da nova Estação da EFCB. 10/01/1923 – Acidente envolvendo trem e bonde na travessia das linhas da EFCB, junto aos armazéns da Av. do Contorno. 04/04/1923 – A Prefeitura propõe ao Conselho Deliberativo dar à praça o nome de Rui Barbosa, em homenagem ao político falecido em 02/03/1923. 27/09/1923 – Por meio da Lei nº 251, a Praça Cristiano Otoni passa a se chamar Rui Barbosa. 11/06/1924 – Inauguração da estação radiotelegráfica da EFOM, na Rua Sapucaí. 07/09/1924 – Inauguração da linha de bondes ligando a Praça da Estação à Praça Rio Branco, passando pela R. dos Guaicurus. 03/10/1924 – A Lei nº 281 dá o nome de Aarão Reis à rua conhecida como R. da Estação. 20/12/1924 – As pontes sobre o Arrudas, na Av. do Comércio e na R. da Bahia, passaram a se chamar Raul Soares e Sabino Barroso, respectivamente. 1924 – A Praça ganhou novo ajardinamento, projetado por Magno de Carvalho. 1924 a 1925 – A Praça recebeu revestimento de macadame e de mosaicos portugueses nos passeios. 05/04/1926 – Acidente envolvendo trem e bonde perto dos armazéns da EFCB. 05/08/1926 – Lançamento da pedra fundamental do Viaduto Artur Bernardes (Santa Tereza), com 275 m. 02/09/1926 – A Prefeitura avisa o governo do Estado que a EFCB autoriza a construção do viaduto, contudo a empresa apresentaria um novo projeto e assumiria a responsabilidade pela sua execução. 3


04/09/1926 - A ponte localizada na Praça, no prolongamento da R. dos Caetés, recebe o nome de Ponte Francisco Sá. 06/09/1926 - Inauguração de jardins da Praça. 15/09/1927 - Inauguração de edifício da EFCB na R. Aarão Reis, destinado a armazéns, encomendas, bagagens e arquivo. 15/09/1927 – O diretor da EFCB entrega ao governo do Estado o novo projeto do viaduto da Av. Tocantins, de autoria de Emílio Henrique Baumgart, sob orientação da Central. Com cerca de 400 m, ele teria seus custos divididos entre a EFCB e a Prefeitura. 1928 – Construção do Sul-América Hotel, atual Edifício Aurélio Lobo. 15/11/1928 – Inauguração de iluminação ornamental na Praça da Estação e em outras praças, ruas e avenidas da cidade. 05/09/1929 - Inauguração da iluminação do Viaduto da Av. Tocantins (Santa Tereza). 07/09/1929 - O logradouro à beira do canal ganha o nome de Av. dos Andradas. 09/12/1929 – Proibição do tráfego de veículos de carga pela Av. do Contorno, entre as ruas do Ramal e Aarão Reis. Exceção era feita somente aos veículos destinados aos armazéns da EFCB e aos bondes para Floresta e Santa Tereza. 15/07/1930 – Inauguração do Monumento à Terra Mineira. 10/08/1932 – Por meio do Decreto nº 146, a Av. do Comércio passa a se chamar Santos Dumont. 1934 – Construção do Edifício Chagas Dória por ferroviários para abrigar o Instituto de Auxílios Mútuos dos Empregados da EFOM. 25/07/1936 – Criação da Zona Industrial de Belo Horizonte por meio do Decreto nº 104, que teria, como consequência, o deslocamento de indústrias das imediações da Praça da Estação para a região do Barro Preto. 03/09/1936 – Inauguração da fonte luminosa Independência na Praça da Estação, com funcionamento regular aos domingos. 1938 – Inauguração do Viaduto da Floresta. 1950 – Construção do Hotel Itatiaia. 1958 – Derrubada de árvores e mudanças no desenho da Praça. 1959 – Construção do Edifício Arthur Guimarães, para abrigar a Escola de Engenharia da UFMG. 1963 – A Avenida dos Andradas é duplicada entre as ruas dos Caetés e dos Guaicurus, com abertura de nova pista junto ao Ribeirão Arrudas, levando à perda de área ajardinada da praça. 1963-1969 – A praça perde caramanchões, um dos lagos e algumas esculturas, transferidas para outros locais. 10/05/1968 – A Av. Tocantins passa a se chamar Assis Chateaubriand. 1979 - Definição do projeto do trem metropolitano que isolaria as linhas férreas com a construção de muro e faria o fechamento das passagens de nível, além de levar à demolição de várias edificações antigas. 4


1980 – Retorno das manifestações políticas – comícios e passeatas – à Praça da Estação. 1981 – Início das obras do trem metropolitano, sob responsabilidade da RFFSA. 1981 – Reforma do Edifício Chagas Dória para abrigar o Serviço de Assistência Médico-odontológica dos funcionários da RFFSA. 03/02/1981 – Carlos Drummond de Andrade publica a crônica “A Praça, a Baleia e os Leitores”. 11/08/1981 – Inauguração da Exposição de Memória da Praça da Estação, no quarteirão fechado da R. Rio de Janeiro - entre R. dos Tamoios e Av. Afonso Pena - marcando a abertura do Encontro pela Revitalização do Conjunto da Praça da Estação, que aconteceria nos dias seguintes. 12 a 14/08/1981 – Realização de reuniões promovidas pelo Grupo de Defesa do Patrimônio Natural e Cultural do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-MG) com órgãos governamentais, para discutir as obras do metrô e as intervenções na Praça da Estação e seu entorno. 1982 – Publicação do poema “A Praça da Estação de Belo Horizonte”, de Carlos Drummond de Andrade, no jornal Estado de Minas. 1983 – A Praça da Estação é considerada área de urbanização restrita. 1984 – Criação da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) que assume a construção do metrô. 1985 – A Lei de Uso e Ocupação do Solo de Belo Horizonte estabelece um perímetro de proteção à Praça da Estação. 04/1987 – Inauguração da Estação Central do Metrô. 15/03/1988 – O Decreto estadual nº 27.927 tombou o Conjunto Arquitetônico Praça Rui Barbosa e Adjacências. 1989 – Inauguração do Centro Cultural da UFMG. 1990 – Criação do Núcleo Histórico da Rede Ferroviária Federal (Museu Ferroviário), na Casa do Conde de Santa Marinha. 1990 – Realização do Concurso Nacional de Anteprojetos para o Museu de Arte de Belo Horizonte que deveria ser construído no local atualmente ocupado pelo Centro de Referência da Juventude. 1994 – Contratação, pela Prefeitura, de projeto para a restauração arquitetônica, paisagística e funcional da Praça da Estação, como parte da proposta de revitalização urbanística e cultural do projeto “Rua da Bahia Viva”. 1994 – Roubo e depredação de esculturas da praça. 1995 – A Prefeitura realiza licitação para a elaboração de projeto urbanístico de recuperação da área da Praça Rui Barbosa. 16/02/1995 – O Decreto nº 8.215 cria a Feira de Arte, Artesanato e Variedades da Praça da Estação e estabelece que seu funcionamento será às quintas-feiras, no horário de 18:00 às 22:00 horas. 1996 – Depredação das estátuas das ninfas das fontes do lago da Praça da Estação. 5


1996 – Início da Feira de Arte, Artesanato e Variedades na Praça da Estação. 1996 – Por solicitação do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte, tem início um processo administrativo pelo Departamento de Memória e Patrimônio Cultural para a realização de estudos para subsidiar a proteção municipal do Conjunto Urbano Praça Rui Barbosa e Adjacências. O estudo seria concluído no ano seguinte. 31/08/1996 – Último dia de circulação do trem de subúrbio remanescente, que fazia a ligação da Estação Belo Horizonte com a Estação de Rio Acima e era o único trem de passageiros da RFFSA ainda em atividade que atendia à estação belo-horizontina. 01/09/1996 – Início da administração privada da malha ferroviária de bitola métrica que incluiu trechos do pátio ferroviário de Belo Horizonte. O Museu Ferroviário, que funcionava na Casa do Conde, e a Unidade de Documentação da Superintendência Belo Horizonte da RRFSA, sediada no Casarão da R. Sapucaí, foram fechados. 01/12/1998 - A Deliberação nº 18/98, do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município, aprovou o tombamento do Conjunto Urbano Praça Rui Barbosa e Adjacências. 03/12/1998 – A Prefeitura anuncia projeto para a construção de estacionamento subterrâneo para 900 veículos e dois banheiros na Praça da Estação, além da cobertura do ribeirão Arrudas entre os dois viadutos e o uso dessa área para espelhos d’água. 03/12/1998 – Último dia de funcionamento da Feira de Arte, Artesanato e Variedades na Praça da Estação, antes de sua transferência para a Avenida Afonso Pena. 2000 – A Secretaria Municipal de Cultura se instala no Edifício Chagas Dória. 17 a 31/10/2001 – Realização do Fórum Permanente 4 Estações – 4 Experiências de Requalificação Urbana, no Centro Cultural da UFMG. 23/10/2001 – A Lei n.8.240 institui operação urbana na área ocupada pela Casa do Conde de Santa Marinha e adjacências, com a finalidade de requalificar esse espaço, buscando conjugar o incremento da sua atratividade econômica com a preservação e a valorização do patrimônio histórico-arquitetônico. 2002 - Instalação do Museu de Artes e Ofícios. 2003 – A Praça é reformada e adquire o perfil atual, incluindo a instalação de piso em concreto avermelhado. O prédio principal é pintado em tons ocre e cinza, ressaltando as esculturas brancas. 12/08/2004 – Inauguração da Praça da Estação requalificada com implantação de novo piso, torres de iluminação e fontes na parte próxima à estação. 2006 – A Fundação Municipal de Cultura ocupa o Edifício Chagas Dória. 2006 – Inauguração do Museu de Artes e Ofícios. 2006 – Em todo o ano, a Polícia Militar registrou 29 ocorrências de furto, roubo e assalto, e 57 crimes contra o patrimônio. 10/2006 – Duas esculturas de tigres da Praça da Estação foram substituídas por estátuas de leões. 6


23/01/2007 – Réplicas das quatro esculturas que representam as quatro estações do ano são instaladas na Praça e as originais são levadas para o Museu de Artes e Ofícios. 07/03/2007 – Inauguração do Boulevard Arrudas – Linha Verde – intervenção de requalificação do espaço pela Prefeitura Municipal e pelo governo do Estado de Minas Gerais com vistas à ligação do centro da cidade com o Aeroporto Internacional de Confins. 09/12/2009 - Decreto nº 13.798, de 09 de dezembro de 2009, proíbe a realização de grandes eventos na Praça da Estação. 2010 – Surge o Movimento Praia da Estação, contra as restrições de uso da Praça. 2010 – Em todo o ano, a Guarda Municipal registrou 107 ocorrências, sendo dez por danos, nove por ameaça, oito por brigas, seis por porte ou uso de drogas, seis por furto e cinco por tráfico de entorpecentes. 29/01/2010 – O Decreto nº 13.863 institui a Comissão Especial de Regulamentação de Eventos na Praça da Estação. 05/05/2010 – Revogação da proibição de realização de grandes eventos na Praça da Estação. 2013 – A Fundação Municipal de Cultura transfere a sua sede do Edifício Chagas Dória para a R. da Bahia, 888. 09/06/2014 – O Decreto nº 15.587 institui a Zona Cultural Praça da Estação. 03/10/2014 – O Instituto Histórico e Artístico Nacional inscreve na Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário a Casa do Conde de Santa Marinha e antigos equipamentos ferroviários: Escritório da Oficina RCV, Alojamento da Tração, Oficina Eletrotécnica, Oficina, Depósito de Material e Posto de Abastecimento. 2016 - A Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo horizonte passa a fazer parte do Centro de Referência da Juventude. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A DROGA que desafia a Estação. Estado de Minas. Belo Horizonte, 1º maio 2011, Cad. Gerais, p. 27. A PRAÇA da Estação. Estado de Minas. Belo Horizonte, 11 ago. 1981. ARAGÃO, Guilherme. Região é estratégica para o futuro de BH. Estado de Minas. 23 ago. 2001, Cad. Gerais, p. 27. ARQUITETA defende praça da Estação do metrô. Estado de Minas. Belo Horizonte, 15 ago. 1981, p. 7. BELO HORIZONTE. Decreto nº 1516, de 2 de maio de 1902. Concede facilidades para a instalação de indústrias na cidade. ________. Decreto nº 146, de 10 de agosto de 1932. Altera ao nome da Av. do Comércio para Santos Dumont. ________. Decreto nº 104, de 25 de julho de 1936. Cria a Zona Industrial de Belo Horizonte. ________. Decreto nº 13.798, de 9 de dezembro de 2009. Proíbe a realização de eventos na Praça da Estação. ________. Lei n° 1.490, de 10 de maio de 1968. Dá a denominação de Assis Chateaubriand à atual Av. Tocantins. BRANT, Ana Clara. A vida pulsa na Praça da Estação. Estado de Minas. Belo Horizonte, 19 fev. 2013, Cad. Gerais, p. 20. BRUMANO, Amilcar. A Praça da Estação é do povo. Hoje em Dia. Belo Horizonte, 8 jun. 2007, Cad. Minas, p. 9. CAMPOS, Helena Guimarães. Da inclusão à exclusão social: a trajetória dos trens de subúrbio da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte: PUC-MG, 2002. Dissertação apresentada no curso de mestrado em Ciências Sociais.

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CARSALADE, Flávio de Lemos. Estação em movimento: a história da Praça da Estação em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Elos Produção Criativa, 2016. DESCOBRINDO a Cidade. Rui Barbosa ganhou novo traçado em 1958. Estado de Minas. Belo Horizonte, 11 nov. 1992, Editoria da Cidade. FERREIRA, Pedro. Estação terá estacionamento subterrâneo. O Tempo. Belo Horizonte, 3 dez. 1998, p. 14. GOULART, Amália. Praça Rui Barbosa recebe estátuas. O Tempo. Belo Horizonte, 24 jan. 20017, Cad. Cidades, p. 3. GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Conjunto Urbano Praça da Estação de Belo Horizonte - acervo histórico cultural. Belo Horizonte; Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral; Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana (PLAMBEL), 1981. INSTITUTO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Bens do Patrimônio Cultural Ferroviário. Disponível em: http:// portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/503. Acesso em: 9 abr. 2019. JANUZZI, Déa. Agora é o IEPHA que ameaça o conjunto da Praça da Estação. Estado de Minas. Belo Horizonte, 23 ago. 1981. PENNA, Octavio. Notas Cronológicas de Belo Horizonte. BH: Fundação João Pinheiro, 1997 (Centenário). PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Praça da Estação: A Porta de Entrada da Cidade. Calendário Cultural Janeiro. Belo Horizonte, 1996 (folder). REIS, Sérgio Rodrigo. Construção da história. Estado de Minas. Belo Horizonte, 20 set. 2000.

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