Revista "O Hospital" | Nº 23

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ANO V, Nº23 // JULHO/SETEMBRO 2019

GRANDE ENTREVISTA “Nunca teríamos os resultados que temos sem o SNS” Maria do Céu Machado


Advancing Therapeutics, Improving Lives. Há 30 anos que a Gilead investiga e desenvolve medicamentos inovadores em áreas de importante necessidade médica como a infeção pelo VIH/SIDA, Hepatites Virais Crónicas, Infeções Fúngicas Sistémicas, Doenças Respiratórias e Cardiovasculares e na área da Hemato-Oncologia. Trabalhamos diariamente para melhorar a esperança e a qualidade de vida dos doentes afetados por estas patologias. Em todas as nossas atividades, privilegiamos a responsabilidade social, desenvolvemos e apoiamos projetos de investigação, programas educativos e fóruns de discussão centrados na prevenção, na educação para a saúde, no diagnóstico, no tratamento e nas políticas de saúde. Na Gilead, acreditamos que os medicamentos que desenvolvemos devem estar ao alcance de todas as pessoas que deles necessitam.

Gilead Sciences, Lda. Atrium Saldanha, Praça Duque de Saldanha, n.º 1 - 8.º A e B, 1050-094 Lisboa - Portugal | Tel.: 21 792 87 90 - Fax: 21 792 87 99 N.º de contribuinte: 503 604 704. Informação médica através de N.º verde 800 207 489 ou departamento.medico@gilead.com Data de preparação: março 2018 | 000/PT/18-03/IN/1396


Índice 04 EDITORIAL

3 REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA O DESENVOLVIMENTO HOSPITALAR DIRETORA ANA ESCOVAL

O mundo da Saúde.

COORDENADORA MARINA CALDAS

06 ANÁLISE

REDAÇÃO EDITE ESPADINHA, MARINA CALDAS, MARINA TOVAR REI, ANTÓNIO SANTOS E ANA TITO LÍVIO

Insuficiência Cardíaca “Mata mais do que o Cancro”. O preço da inovação: “As instituições não vêm refletidas verbas que acomodem essas despesas”.

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Com o apoio dos trabalhadores “Fui a face visível da luta pela manutenção do Infarmed em Lisboa”, revela Maria do Céu Machado.

28 REPORTAGEM

Bolsa de investigação em Neoplasias Linfoproliferativas atribuída a investigadora do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

30 INOVAÇÃO

Eliminação da Hepatite C - Trabalho feito e a fazer. Investigação em Neoplasias das Células B Maduras. Acesso efetivo, sustentável e equitativo à saúde: compromisso do presente com o futuro. A importância dos biossimilares hoje e no futuro.

38 APDH

O papel dos antissépticos na infeção do local cirúrgico. Mais um ano de sucesso do Programa de Intercâmbio HOPE. APDH - Nova identidade visual.

EDITORA DE ARTE E PAGINAÇÃO MARINA TOVAR REI FOTOGRAFIA PEDRO MENSURADO E APDH REVISÃO ANA ESCOVAL, ANA TITO LÍVIO, ANTÓNIO SANTOS, MARISA CRISTINO, RITA SANTOS, SARA ROZMAN IMPRESSÃO UE TIRAGEM 4.000 EXEMPLARES DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PERIODICIDADE TRIMESTRAL PROJETO Rua Gomes Freire no9 A r/c 1150-175 Lisboa Tel: 213 530 719 geral@fdc.com.pt

PROPRIEDADE ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA O DESENVOLVIMENTO HOSPITALAR (APDH) Gabinete HOPE&IHF Portugal Alameda das Linhas de Torres, 117 1769-001 Lisboa Tel. 217548278/79 Telm. 963668745 Email: geral@apdh.pt HOPE: hopemail@hope.min-saude.pt IHF: ihf@ihf.min-saude.pt website: www.apdh.pt


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EDITORIAL

O mundo da Saúde (Homenagem a Ricardo Reis)

III Ausentes são os deuses mas presidem. Nós habitamos nessa Transparência ambígua. Seu pensamento emerge quando tudo De súbito se torna Solenemente exacto. O seu olhar ensina o nosso olhar: Nossa atenção ao mundo É o culto que pedem. Sophia de Mello Breyner Andresen (1972) In Dual, 5ª edição revista, Obra Poética, Editorial Caminho – 2011, p. 29.

Estamos muito habituados a refletir o mundo da saúde em Portugal como serviço público – o serviço nacional de saúde, como conjunto de serviços combinados – o sistema de saúde ou como universo de recursos da saúde interdependentes – os modelos de saúde, aos quais importa garantir o acesso dos cidadãos, das famílias e das comunidades, respeitando sempre as possíveis escolhas quaisquer que elas sejam. Tempos houve, até meados da década de 1970, em que nas várias vias de existentes (misericórdias, serviços médico-sociais, hospitais, serviços de saúde pública, serviços privados) ficavam sempre de fora consideráveis estratos populacionais. Sucederam-se tempos da consagração constitucional de que todos têm direito à proteção da saúde e o dever de a defender e promover, através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, bem assim, de um desenvolvimento económico, humano e social. A sociedade portuguesa chega à década de 1990 com o desenho fundamental do serviço nacional de saúde implementado, superando em resultados a permanente debilidade estrutural associada às

contradições entre concepções políticas e à cobertura das despesas maioritariamente dependente do orçamento do estado. Na evolução posterior, o estatuto do serviço nacional de saúde assume a natureza de “um conjunto ordenado e hierarquizado de instituições e de serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde” e promove assim a abertura à subvenção pelo Estado através de convenções estabelecidas entre as administrações regionais de saúde e estabelecimentos prestadores privados, com encaminhamento natural da totalidade dos serviços de saúde abrigada na perspetiva mais vasta de sistema de saúde. Mas as sucessivas reconfigurações dos serviços de saúde mantém, ainda que almejando a centralidade do cidadão e a equidade no acesso à saúde, a organização baseada na sociotecnia em modo corpus profissional e o tributo à saúde do padrão de bem-estar progressivamente alcançado pelos portugueses. Chegamos assim ao ponto em que o desenvolvimento dos sistemas sociais dos países desenvolvidos repensa o papel do mundo da Saúde, quiçá dispensando a medicalização desnecessária, para facilitar o empoderamento dos cidadãos na sua decisão, a autonomia da pessoa e da família na sua vida própria, e até da comunidade e da sociedade no espaço social mais capacitado.

A Direção


A INOVAÇÃO GUIA A NOSSA CIÊNCIA. A HUMANIDADE GUIA A NOSSA EXISTÊNCIA. Para enfrentar os desafios dos cuidados de saúde em todo o mundo, unimos o espírito da biotecnologia à força de uma empresa farmacêutica de sucesso. O resultado é uma empresa biofarmacêutica que combina ciência, paixão e experiência para melhorar de forma inovadora a saúde e os cuidados de saúde. Assegurar um impacto notável na vida das pessoas é mais que a nossa promessa. É a nossa existência.

abbvie.pt


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ANÁLISE

CÂNDIDA FONSECA SOBRE A INSUFICIÊNCIA CARDÍACA:

“Mata mais do que o cancro” Cardiologista e Internista, Cândida Fonseca não tem dúvidas que a insuficiência cardíaca mata mais do que o cancro, mas a síndrome é muitas vezes desvalorizada quer pelos doentes quer até pelos clínicos, que revelam pouca perceção do mau prognóstico da mesma. Nesta entrevista a O Hospital, a especialista que tem como especialidade a área de diferenciação da insuficiência cardíaca, reafirma que estamos perante um problema de saúde pública que implica elevada morbimortalidade e gastos excessivos para as administrações hospitalares, ao contribuir anualmente para mais de 2,5% dos gastos com a saúde. A insuficiência cardíaca custou mais de 400 milhões de euros em 2014 De acordo com a coordenadora da Clínica de Insuficiência cardíaca do Hospital de S. Francisco Xavier/CHLO, Portugal, neste domínio, está ao mesmo nível que os países ditos industrializados. Em todo o caso, que não se pense que isso é um bom sinal: “posso dizer-lhe que no ano 2000, no nosso país, a prevalência de doentes com esta síndrome era de 4,3% e, atualmente, estima-se que já tenha ultrapassado os 5%, o que corresponde a cerca de 400 mil doentes”. Para a cardiologista esta situação “é complicada, tendo em atenção que, apesar de termos terapêuticas novas e eficazes, não podemos ignorar que se trata de um problema grave que consome muitos recursos económicos, quer com idas ao serviço de urgência quer com internamentos. Só para ter uma ideia desta realidade, posso dizer-lhe que em 2014 os gastos da Saúde com a insuficiência cardíaca somaram cerca de

400 milhões de euros, o que é sem qualquer dúvida, excessivo”, acrescenta. Quisemos saber se, perante este cenário nada foi equacionado para minimizar o problema, quer ao nível do problema das pessoas quer de gastos. Ficámos a saber que “a situação foi já motivo de um despacho ministerial que deu origem à criação de um grupo de trabalho para avaliar a situação e propostas para melhoria”. Cândida Fonseca, que integra esse grupo, revelou-nos que se realizaram várias reuniões de peritos tendo sido produzido um documento que “a ser apresentado aos decisores”. Numa entrevista em 2016, a Professora já adiantava que para muitas das 400 mil pessoas afetadas pelo problema ,este estava relacionado com os habituais fatores de risco para a doença cardiovascular, como hábitos pouco saudáveis de vida (ou seja, tabagismo, colesterol elevado, obesidade ou consumo excessivo de álcool), muitas vezes hipertensão arterial pouco controlada, doença das artérias coronárias, nomeadamente na sequência de um enfarte do miocárdio, entre outras etiologias menos habituais. São necessárias sensibilização

e

urgentes

campanhas

de

Quisemos saber se o quadro se tinha alterado: “pelo contrário, o quadro piorou. Ou seja, cada vez há mais obesos, mais diabéticos, a tensão arterial continua pouco controlada; a sobrevida em doentes após enfarte do miocárdio é maior e isso leva também a que haja mais insuficiência cardíaca. Digamos que há muitos fatores


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de risco e a consciência relativamente à gravidade da doença não é grande. Ninguém tem em atenção, por exemplo, que a insuficiência cardíaca mata mais do que o cancro e que, por isso, é urgente que o diagnóstico nestes doentes seja precoce para que possam ser tratados em tempo útil”. Neste sentido, a clínica e investigadora Cândida Fonseca, considera que é urgente e necessário que sejam realizadas campanhas específicas “que alertem para os sintomas e sinais desta síndrome – porque se trata de uma síndrome e não de uma doença – todos eles pouco específicos e pouco sensíveis, para que sejam mais frequentemente valorizados pelos doentes bem como pelos clínicos, como possíveis sintomas de insuficiência cardíaca. “O cansaço excessivo, a fadiga, a falta de ar nomeadamente quando deitados, o edema dos membros inferiores, são os sintomas mais frequentes, entre outros ainda menos específicos, que podem existir, mas estes não devem nunca ser desvalorizados, principalmente para quem já sofreu um enfarte”. De acordo com a cardiologista “cerca de 90% das pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca, descompensam devido à retenção de líquidos e daí a importância do diagnóstico precoce, porque se tal for feito atempadamente, conseguimos tratar a agudização em ambulatório e diminuímos, assim, os gastos com os internamentos. Como vê a importância do diagnóstico precoce quer da síndrome quer da descompensação é enorme e pode ser uma mais-valia para o doente, bem como para o sistema nacional de saúde”.

A importância dos CSP no controlo da síndrome Era importante perceber a realidade do Hospital de S. Francisco Xavier, onde Cândida Fonseca é responsável pelo manejo integrado da síndrome, numa clínica de insuficiência cardíaca que inclui uma unidade de insuficiência cardíaca aguda, tratamento em regime de hospital de dia e uma consulta de insuficiência cardíaca avançada. “Digamos que no nosso caso temos um programa muito consistente, porque temos uma unidade para internamento de agudos com mais de dez anos de vida, que depois de estudados e compensados, são referenciados ao nosso programa multidisciplinar de IC, quer no hospital de dia quer na consulta para seguimento diferenciado e personalizado”. Esta situação inovadora no todo nacional relativamente aos cuidados prestados aos doentes com insuficiência cardíaca, articula-se com os CPS, na sequência de um “protocolo estabelecido com o ACES de Oeiras e que permite trabalhar em conjunto”, refere Cândida Fonseca. Explicando que, devido a este trabalho em parceria, “há uma linha direta entre nós, o especialista de MGF e o doente. Repare que estas pessoas necessitam muito de uma equipa multidisciplinar e necessitam igualmente de ter acesso garantido e facilitado a essa equipa, quando reconhecem os sintomas/sinais de alarme da descompensação. É obrigatório! E com este tipo de organização isso está garantido”. Está também garantido a estes doentes o tratamento diferenciado de acordo com as Recomendações Internacionais, bem como o acesso aos tratamentos mais diferenciados para a insuficiência cardíaca, sendo que técnicas e tratamentos invasivos estão garantidos pela parceria existente com as


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ANÁLISE

várias áreas implicadas – hemodinâmica, cardiologia de intervenção, eletrofisiologia e pacing e cirurgia cardíaca/ transplante - no Hospital de Santa Cruz/CHLO. Neste sentido, a cardiologista explicou-nos ainda que, devido ao trabalho feito, houve necessidade de avaliar resultados desta forma de gerir os cuidados. Assim, foi feita “há dois anos uma avaliação dos benefícios desta unidade funcional, que evidenciou uma diminuição significativa dos internamentos e, consequentemente, diminuímos também os gastos com a síndrome”. A juntar à atividade assistencial, há algo que a Professora Cândida Fonseca valoriza sempre, como pedras de toque do trabalho, que é realizado pela equipa de insuficiência cardíaca no Hospital de S. Francisco Xavier, a saber: a investigação e o ensino. “É algo que fazemos com muito entusiasmo e que é muito gratificante. Fazemos investigação própria, participamos nos grandes estudos internacionais nesta área. Recebemos alunos de medicina da NOVA Medical School da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e de Enfermagem e internos de cardiologia e de medicina interna vindos de todo o país. Em resumo, posso dizer-lhe que somos um serviço de referência e que se esforça para contribuir para a formação de equipas multidisciplinares de trabalho nesta área da insuficiência cardíaca”. Apesar do trabalho realizado há ainda muitos sonhos que Cândida Fonseca pretende levar a cabo. Revelou-nos alguns. “Gostaria muito de estender os protocolos com os Cuidados de Saúde Primários (CSP), para que fosse possível que nos Centros de Saúde fossem realizados mais diagnósticos relacionados com a insuficiência cardíaca. Gostaria também de poder oferecer cuidados paliativos de forma mais estruturada e internamento domiciliário aos doentes com dificuldade de movimentação e que houvesse mais apoio social para estes casos mais frágeis. Seria da maior importância que os apoios sociais trabalhassem em mais estreita colaboração com o meio hospitalar. Garanto-lhe que se isso acontecesse ficávamos todos a ganhar. É urgente que se perceba, que estamos a gastar recursos que não temos e que grande parte dos doentes ficam em internamento, quando não é necessário”. Como referimos anteriormente, Cândida Fonseca é também coordenadora do hospital de dia de especialidades médicas onde está sediada a clínica de

anticoagulação. A cardiologista explicou-nos porque nasceu esta clínica e como funciona. “A clínica de anticoagulação foi a nossa primeira iniciativa a envolver, em estreita colaboração, os CSP. Percebemos que os doentes passavam demasiado tempo no hospital, ficavam muito tempo à espera da análise (na altura, em 2006, o INR) e do médico assistente para ajustar a dose do anticoagulante e tinham que regressar muitas vezes ao hospital para este ajuste de terapêutica. Montamos a clínica de anticoagulação na qual os doentes após uma consulta de enfermagem onde fazem ensino para a doença, fazem uma analise rápida, em poucos minutos (INR por Point-of-Care), é-lhes ajustada a dose do anticoagulante e vão para casa pós 20 a 30 minutos de permanência. De seguida, descentralizámos o procedimento para os CSP de onde, com apoio informático e após formação, médicos e enfermeiros repetem o procedimento com a mesma qualidade, privilegiando os cuidados de proximidade e “descongestionando” a consulta hospitalar. As eventuais dúvidas são solucionadas online com a nossa clínica de anticoagulação sediada no hospital de dia. Mais recentemente estendemos os cuidados aos doentes anticoagulados com os chamados “novos anticoagulantes” ou anticoagulantes diretos. Mais uma vez o trabalho conjunto dá frutos. Permite racionalizar os cuidados e promover a qualidade dos mesmos com resultados excelentes”. Recentemente, a nossa entrevistada tinha referido que a insuficiência cardíaca é um grave problema de Saúde Pública, porque representa uma elevada taxa de mortalidade e de morbilidade. Nesse sentido, era obrigatório saber que medidas considerava importantes serem implementadas, em Portugal, para contrariar esta tendência. A resposta apareceu rápida e direta: “é preciso diagnosticar mais precocemente e mais frequentemente nos CSP que deverão ter acesso fácil aos métodos complementares de diagnóstico. Tanto os doentes como os clínicos devem ser consciencializados para este problema que é, de facto, grave. Por outro lado, a assistência aos doentes com insuficiência cardíaca implica ter estruturas adequadas, com equipas especializadas, multidisciplinares enfermeiros, cardiologistas, internistas, nefrologistas, assistente social, entre outras espacialidades - devem ser envolvidas. Se caminharmos nesse sentido, evitamos repetidas idas aos serviços de urgência, bem como muitos internamentos e poupamos nos custos indevidos com a síndrome”.


9 Cândida Fonseca

Membro da ESC - Heart Failure Association (HFA) Membro do ESC - Working Group on Cardiovascular Therapy Coordenadora nacional do Heart Failure Long-Term Registry da ESC Membro da Task Force for the 2012 ESC Guidelines on acute and chronic heart failure e Revisora das 2016 ESC Guidelines on acute and chronic heart failure Sócia Efetiva da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna Atividade Científica Desde 1984 - Investigação nas seguintes áreas: Insuficiência cardíaca: Epidemiologia, diagnóstico e tratamento.

Formação Académica 2008 - Doutorada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa 2001 - Cardiologista Europeu 1994 - Especialista em Cardiologia 1992 - Especialista em Medicina Interna Atividade Clínica Assistente Graduada Sénior de Medicina Interna especialista em Cardiologia, Hospital de S. Francisco Xavier, CHLO, Lisboa. Coordenadora da Clínica de IC do HSFX/CHLO- Unidade de Insuficiência Cardíaca, Serviço de medicina III, Hospital S. Francisco Xavier, consulta de IC avançada, e Hospital de Dia de Especialidades Médicas– Hospital de S. Francisco Xavier, CHLO.

Investigadora Principal ou co-investigadora de múltiplos estudos multicentricos nacionais e internacionais na área da insuficiência cardíaca e das Síndromes coronárias agudas: PRIME II, ATLAS, ELITE II, CIBIS II, EPHESUS, COMET, CHARM, PORTLAND, I-Preserve, DILIPO, EMPHASIS, REDHF, SHIFT, TIMI 25, PLATO. ATMOSPHERE, CORONA, RELAX 2, PARAGIGM-HF, TRANSITION, EMPERIAL Reduced and Preserved, GALACTIC, SOLOIST, VITALITY, HOT-PE, ARIADNE, QUALIFY, EPICA e EPICA-RAM (Epidemiologia da insuficiência cardíaca em Portugal continental e na Madeira), SINCRONE. Membro do Steering Committee dos estudos CORONA, EPICA, EPICA-RAM, ATMOSPHERE, QUALIFY, GALACTIC, SOLOIST, VITALITY, HOT-PE, ARIADNE, TRANSITION. Peptideos natriureticos Cardiomiopatias (Familial Amyloidotic Polyneuropathy) Anemia: Vice-Presidente do Anaemia Working Group- Portugal desde 2011. Membro do Executive/Steering Committee do EMPIRE study. Farmacocinetica Clínica

Cardiologista na Clínica CUF Belém (consulta e exames não invasivos de diagnóstico em Cardiologia).

Anticoagulação Oral: tromboembolismo venoso.

Sociedades Científicas / Bolsas / Prémios

Co-investigatora dos estudos internacionais multicentricos RICOVER e REMEDY (novos anticoagulantes orais vs varfarina).

Sócia Efetiva da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC): 2009-2011 - Vice-Presidente da SPC 2010 - Presidente do XXI Congresso Português de Cardiologia 2007-2009 – Tesoureira da SPC 2005-2007 - Membro da Direção - Secretária regional da Zona Sul da SPC Sócia da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC):

Fibrilhação

auricular,

Autora ou co-autora de mais de 100 artigos científicos em revistas indexadas da especialidade, nacionais e internacionais, e de mais de 400 comunicações científicas em congressos e ou reuniões médicas, nas várias áreas de investigação a que se dedica.


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ANÁLISE

PAULO HORTA CARINHA Ex-Diretor da Farmácia Hospitalar do Centro Hospitalar Universitário de São João Assessor do Presidente do Conselho de Administração para a área do Medicamento

Paulo Horta Carinha sobre o preço da inovação:

“As instituições não vêm refletidas verbas que acomodem essas despesas” “No Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), por dia, prescrevem-se, distribuem-se, preparam-se e administram-se mais de 52.000 doses de medicamentos aos nossos doentes. Isto supõe que, por ano, se manipulem mais de 19.000.000 de doses de medicamentos, dos quais aproximadamente 30 % são injectáveis”. Quem o diz é o farmacêutico hospitalar Paulo Horta Carinha, que durante 13 anos esteve à frente da Farmácia Hospitalar do Centro Hospitalar Universitário São João e que, atualmente, é assessor do presidente do CA do Hospital de S. João para a área do medicamento. Paulo Horta Carinha reconhece que as farmácias hospitalares, e os serviços de suporte transversais, “foram sempre esquecidos pelas administrações” e que “além das instalações não serem adequadas às novas exigências regulamentares e de trabalho”, há ainda a salientar que a falha estrutural em recursos humanos é o problema maior. Na entrevista que concedeu a O Hospital, o farmacêutico Paulo Horta Carinha foi muito direto e objetivo e deixou bem vincadas as suas preocupações relativamente ao preço da inovação na área do medicamento e nas alterações que têm de ser feitas. Afirmou ainda que, no caso do Hospital de S. João, “o segredo do sucesso na vida profissional, está no trabalho de uma grande equipa”.

Se lhe pedisse para fazer uma análise sobre a realidade nacional das farmácias hospitalares, quais os principais pontos que apresentava? Não só a Farmácia Hospitalar, mas os serviços de suporte transversais a todas as unidades de saúde, em geral, foram sempre esquecidos pelas administrações, por falta de exposição e de não ter visibilidade para o marketing político. A Farmácia Hospitalar com o desenvolvimento das tecnologias de saúde e da evolução dos cuidados de saúde, absorveu muitas atividades, com vista à melhoria da sua eficiência e da qualidade dos seus serviços, tendo como objetivo final o utente e o sistema de saúde. Os Serviços Farmacêuticos ensinam os hospitais e utentes a utilizarem melhor os medicamentos, garantindo uma boa utilização e vigilância, bem como uma maior racionalização dos gastos.

Para além da não adequação das instalações às novas exigências regulamentares e de trabalho, o deficit estrutural em recursos humanos, é aquele que se faz mais sentir. A situação agravou-se, com a entrada das 35 horas, pelo absentismo, horários fixos para proteção de menores e, nas áreas de manipulação de medicamentos, por lesões músculo-esqueléticas, que impedem os elementos de trabalhar nestas áreas. Há dificuldades na elaboração de escalas, não se consegue ter um plano de recurso. Há atividades farmacêuticas comprometidas, com consequências nos custos, insatisfação dos serviços e doentes. Há uma necessidade de reforçar a dotação em recursos humanos de modo a assegurar o cumprimento da sua missão e atribuições, para garantir a prestação ininterrupta de funções essenciais às instituições. No entanto, na minha perspetiva, há um caminho a fazer de organização e gestão interna, com planeamento e visão, de melhoria de procedimentos e eficiência dos recursos, antes da entrada de novos recursos.


Better Health, Brighter Future Podemos sempre fazer mais para melhorar a vida das pessoas. Impulsionados pela paixão de realizar este objetivo, a Takeda proporciona medicamentos inovadores à sociedade desde a sua fundação em 1781. Hoje combatemos diversos problemas de saúde em todo o Mundo desde a sua prevenção à cura. Mas a nossa ambição mantém-se: encontrar novas soluções que façam a diferença e disponibilizar melhores fármacos que ajudem o maior número de pessoas possível, o mais rápido que conseguirmos.

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Com a ampla experiência, sabedoria e perseverança da nossa equipa, a Takeda terá sempre o compromisso de melhorar o amanhã.

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Avenida da Torre de Belém, nº 19 R/C Esq. 1400-342 Lisboa Sociedade por quotas. NIF: 502 801 204 Conservatória do Registo Comercial de Cascais n.º 502 801 204 Tel: +351 21 120 1457 | Fax: +351 21 120 1456

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12 Os Serviços Farmacêuticos, não são só de farmacêuticos… Só depois então, adequar o número de pessoal afeto aos Serviços Farmacêuticos, tendo por base uma análise de risco, os indicadores de produtividade e as atividades alocadas aos SF, e não tendo por base o número de camas, como é referido. Independentemente destas limitações e constrangimentos, os Serviços Farmacêuticos são equipas resilientes, e tentamos fazer o nosso trabalho com afinco, competência e rigor, perseverantes que os resultados vão aparecer, dado que a vida e a qualidade de vida passam pelas nossas mãos. A farmácia que dirige, no Hospital de S. João, insere-se no contexto que apresentou ou tem particularidades especiais? Por dia, no Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ), prescrevem-se, distribuem-se, preparamse e administram-se mais de 52.000 doses de medicamentos aos nossos doentes. Isto supõe que por ano, se manipulem mais de 19.000.000 de doses de medicamentos, dos quais aproximadamente 30 % são injetáveis. Dadas as dimensões e características do nosso hospital central e universitário (fim de linha), com funcionamento 24/24 horas, é óbvio que o grau de exigência é mais elevado, e a necessidade de intervenção, inovação e resposta é permanente, tendo que ser imediata, para poder corresponder às expectativas, tem que ser igualmente credível, para não as defraudar. Desde 2006, que foram tomadas medidas para a reorganização do serviço, tornando mais eficiente e respondendo, pelo que estamos muito à frente de outros serviços que ainda possuem margem de manobra para se reorganizarem. Pelo que as limitações e constrangimentos têm outra escala e dimensão. Como tenta organizar a farmácia hospitalar do seu hospital? As nossa linhas estratégicas/objetivos estão alinhadas com o plano estratégico do Conselho de Administração do CHUSJ. Os cuidados farmacêuticos, num serviço de saúde moderno, têm de garantir como uma das suas principais centralidades, o serviço ao utente e o compromisso com os resultados da terapêutica farmacológica individualizada. Partilho de uma visão e estratégia que o futuro da farmácia hospitalar está no “Be There, To Care”. Temos como Valores os Cuidados ao Doente como o foco da

nossa atividade, a Credibilidade, a Consideração, a Inovação, a Proatividade e a Identidade Corporativa de “Ser São João”. Depois como motivação e desafio, no contexto de um hospital central e universitário, queremos ser uma farmácia hospitalar universitária referência nacional da farmácia hospitalar, reconhecida pela inovação, pelas boas práticas e pelos resultados obtidos, conseguindo cumprir com a nossa Missão, de GARANTIR AO DOENTE uma farmacoterapia individualizada. E o hospital um sistema de utilização dos medicamentos SEGURO, com QUALIDADE e EFICIENTE. O segredo do sucesso na vida profissional, está no trabalho de uma grande equipa. Antes de mais, a qualidade dos nossos profissionais, uma equipa jovem (média 37 anos), dinâmica, empreendedora, determinada e orientada para resultados. Acho que nos podemos também sentir orgulhosos, na nossa contribuição para os prémios do melhor hospital a nível nacional e, em particular, o Prémio de Excelência em Boas Práticas na Área do Medicamento Hospitalar 2008 – Centralização da Preparação de Citotóxicos, atribuído pelo Ministério da Saúde, reconhecido como uma referência dos Serviços Farmacêuticos do CHSJ EPE a nível nacional. Estes resultados advêm do facto de termos um modelo de organização e gestão de excelência (conforme a arquitetura organizacional representada abaixo pelo nosso organograma. (Fig. 1)), baseado em processos/ projetos, com delegação de competências, uma política e estratégia sólidas, com uma gestão eficiente dos recursos disponíveis. Processos/projetos que visam a satisfação do nosso utente, satisfação da equipa e que tenham impacto na instituição, traduzida por indicadores de acompanhamento, quebrando assim, também o paradigma nesta área. A farmácia do CHUSJ é um pouco o reflexo de tudo isto. É constituída por uma equipa de diferentes profissionais (farmacêuticos, técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, assistentes técnicos, assistentes operacionais e gestora), jovens, motivados, empreendedores, competentes e experientes, mas que cada vez mais têm consciência da constante necessidade de aprofundar os seus conhecimentos e de abarcar outras áreas do saber, no ambiente multidisciplinar em que se exerce a prática farmacêutica. Este caminho, permitiu-nos obter a Certificação ISO9001/2015, já renovada em Março deste ano, sendo o primeiro hospital central e universitário a alcançála. Esta certificação, permite-nos também responder de forma cabal e ser uma garantia de qualidade, aos requisitos dos Centros de Referência do CHUSJ.


13 apela aos sentimentos e à humanização no suporte na arte de tratar. Como serviço certificado, recorremos aos inquéritos de satisfação, para sabermos a opinião e sugestões que nos fazem. E quando as sugestões dependem diretamente de nós, implementamos assim que nos sejam possíveis. Por sentir que me faltavam competências e perspetiva de análise e novas soluções e abordagens na área de gestão, solicitei em Julho de 2018, a colocação de uma Gestora, para trabalhar diretamente comigo na organização e gestão do serviço. Os resultados são surpreendentes, quer internamente no serviço quer para a instituição. Mas como qualquer mudança, a resistência e ameaça foi sentida no serviço, sem razão de ser. Os farmacêuticos hospitalares, como se sabe, são essenciais na vida diária de um hospital. Considera que essa verdade já é reconhecida por todos os parceiros?

A Inteligência Artificial já faz parte do dia a dia de muitas áreas da Saúde e vai mudar muito do trabalho que era feito até há pouco tempo. Na Farmácia Hospitalar essa realidade também já é vivida? Temos de saber utilizar a IA para motivar/ensinar os utentes a gerir a sua doença e compromisso com os seus tratamentos e resultados. Como já referi, fruto da alteração da sociedade em que vivemos, o farmacêutico e o medicamento têm que – “Be There, To Care”, pelo que o uso e recurso às diferentes tecnologias e meios de chegar ao utente, devem ser usadas. É um caminho que em Portugal se tem que caminhar, com sistema integrado de cuidados, com modelos de apoio aos doentes ou cuidadores; com App de adesão à terapêutica e apoio aos Serviços ao domicílio, por exemplo. Consegue fazer o trabalho que deseja e pensa que é melhor para as pessoas com doença? Colocarmo-nos no lugar do utente/doente e nossos clientes e responder como nós gostaríamos de ser tratados, é uma das nossas preocupações. Uma abordagem diferente da Farmácia Hospitalar que

Na generalidade, acho que sim dentro das instituições, com maior ou menor reconhecimento. No entanto, a única vez que houve programas direcionados para a reorganização da Farmácia Hospitalar, foi com a Resolução do Conselho de Ministros nº 105/2000 e a sua reformulação na Resolução do Conselho de Ministros nº 128/2002. Depois com o Despacho n.º 25811/2006 do SES de 24 de Novembro de 2006 (publicado no D.R., 2ª série - n.º 243 de 20 de Dezembro) veio criar um Grupo de Trabalho (GT) com o objetivo prioritário de elaborar o Programa do Medicamento Hospitalar (PMH). Daí para cá nada houve. O que se conseguiu, foi a candidatura de alguns hospitais, como o São João, a conseguirem equipamentos robotizados para o circuito do medicamento e a implementação da monitorização sistemática do consumo de medicamentos em meio hospitalar a nível nacional. Estes relatórios do Infarmed, nesta fase aportam pouco valor, pois só nos dá conta de quem gasta mais e quem gasta menos. E devíamos já estar na fase de sabermos, como se gasta e que resultados obtemos. E pelas pessoas com doença? Também aqui depende, não só dos diagnósticos como da literacia em saúde. Somos mais requeridos e reconhecidos pelos doentes em regime de ambulatório, em que o contacto direto faz criar relação. Então, em relação aos doentes e familiares que necessitam de medicamentos manipulados para os seus tratamentos, o reconhecimento e relação é de total dependência. Outros há, como os oncológicos em que os tratamentos são mais complexos e com um novo perfil de efeitos adversos, que aproveitam a vir à


14 farmácia levantar a sua medicação e aproveitam para tirar as suas dúvidas e conversarem como também os farmacêuticos, aproveitam esta ocasião para reforçar a informação de adesão. A questão do preço dos medicamentos inovadores é um problema que o preocupa? Se sim, porquê? Sem dúvida, e as consequências serão o acesso e a falta de equidade, devido ao incremental impacto orçamental. Até à data, os medicamentos genéricos e os biossimilares conseguiam compensar este aumento. No entanto, o tempo de vida destes produtos (nova dinâmica do mercado), são rapidamente ultrapassados por novos medicamentos inovadores e com menos efeitos secundários e em áreas que não existiam opções terapêuticas. É “assustador” ver os pipelines de novos medicamentos na área da biotecnologia personalizada que estão aí a surgir. Como pensa que se poderia equacionar e solucionar o futuro a este nível? Os modelos de avaliação económica usados neste momento, não mimetizam a atual realidade, pelo que terão de ser reajustados. Para além disso, o Infarmed como entidade reguladora avalia e aprova os medicamentos, mas as instituições não vêm refletidos em termos de orçamento, verbas que consigam acomodar estas novas despesas. A ACSS devia definir um quadro orçamental de decisão plurianual que fizesse a ponte entre a inovação e a sustentabilidade do financiamento. Por forma a garantir o acesso e equidade a nível nacional, a Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica, em vez de apenas emitir recomendações, que podem ter decisões opostas, pela assimetria marcada nas diferentes instituições, deveria ter competência à semelhança do NICE, e deliberar sobre o uso no SNS e, assim, haver uma verdadeira política nacional de utilização dos medicamentos. Portugal tem centros de investigação de topo, no entanto, por falta de organização e estratégia, não conseguimos ir mais além. A sua profissionalização, permitiu antecipar os ciclos de inovação e planear o financiamento. O desenvolvimento de ensaios clínicos tem, inquestionavelmente, um relevante impacto a nível social e económico no país. Além do impacto económico, direto e indireto, o desenvolvimento desta atividade contribui para o aprofundamento de conhecimentos fundamentais para a melhoria dos cuidados de saúde, facilitando o acesso precoce a medicamentos inovadores a custo zero. Temos países como a Bélgica, Holanda e a própria vizinha Espanha, que a maioria dos medicamentos

inovadores estão disponíveis através dos Ensaios Clínicos, Portugal devia seguir o exemplo, para diminuir o impacto orçamental da inovação. Seguir o modelo utilizado na hepatite C, do pagamento por resultado poder ser um desafio a seguir. A Holanda está já com um modelo piloto: “No Cure, No Pay` Pilot for Expensive Cancer Drugs”. Prescrição dos medicamentos inovadores em Centros de Referência, é outras das opções, a seguir o exemplo dos medicamentos para as doenças lisossomais de sobrecarga. A realidade que hoje é vivida por um jovem farmacêutico hospitalar, num hospital do SNS, é muito diferente da que encontrou quando começou a sua carreira no hospital? Se sim, porquê? Entrei no São João em 1995, depois de 2 anos na Indústria Farmacêutica, estando na direção nos últimos 13. A realidade não tem comparação e hoje, para além de ser mais exigente, temos acesso a novas ferramentas de gestão (sistemas de informação e Business Inteligence), que nos garantem fiabilidade no funcionamento e da informação, controlo interno e externo e informação clínica e encargos económicos com detalhe, à distância de uma query, que não tínhamos há 20 anos. Hoje há Planeamento e organização, garantindo altos níveis de segurança através da estruturação adequada das instalações e da planificação baseada em processos/procedimentos. Temos interiorizada uma nova mentalidade de melhoria em equilíbrio, de redução de custos sem comprometer a qualidade e da pesquisa de melhoria de processos, somos mais eficientes no consumo dos recursos e eficazes na solução dos problemas. Para além da Certificação ISO9001/2015, que nos garante a estandardização de procedimentos, temos implementado sistemas de controlo, que nos ajudam a gerir melhor, avaliando resultados e estudando alternativas. Garantir a transparência dos atos e decisões e permitir o controlo interno e externo (auditorias/inspeções). Por último, a multidisciplinaridade e o foco do farmacêutico hospitalar. Antigamente o foco era o medicamento, hoje é o doente. Recorrendo à arte farmacêutica, deixo a mensagem de que, quem não faz parte da solução; faz parte do precipitado. Se o nosso foco é o Doente, então não fazemos parte do precipitado, somos Solução. Não há resultados individuais, mas de equipa.


15 Quais os grandes desafios que Portugal deve repensar, ao nível da Farmácia Hospitalar? Segundo o Prof. João Lobo Antunes: “O maior desafio que é lançado aos sistemas de saúde no futuro é simplesmente este: como compatibilizar os custos de saúde com o direito dos cidadãos aos melhores cuidados”. No atual contexto que estamos a viver, e fruto da experiência que tenho vivido no CHUSJ, visto e lido noutras instituições e grupos de discussão internacionais, tenho refletido sobre as soluções e alternativas para a necessidade de sermos eficientes no consumo de recursos e eficazes na solução destes problemas. À Farmácia Hospitalar, cuja importância se afigura inegável neste contexto, não se deixará de pedir um contributo fundamental, sendo necessário que o farmacêutico hospitalar sinta a necessidade de se estabelecer como um elemento dinamizador de processos de otimização e criador de desempenhos de excelência no âmbito da sua atividade, quer do ponto de vista técnico (preocupação que sempre existiu), como do ponto de vista económico e financeiro (desafio crescente), e porventura social também.

Como exemplo, neste momento, as Hospitalares, como não têm Câmaras Laminar Verticais de classe I, não podemos medicamentos em que o vetor são vírus. E Clínicos já nos estão a cair nas mãos.

Farmácias de Fluxo manipular os Ensaios

Muitas das pequenas unidades farmacêuticas de produção e manipulação de medicamentos nos hospitais, não serão compatíveis com o cumprimento das normas de qualidade e segurança, pelo que, segundo modernos paradigmas de gestão, em torno de estruturas de serviços partilhados entre as farmácias hospitalares e terceiras entidades altamente diferenciadas – Centros de Manipulação de Medicamentos – “Compounding Centre” (uma realidade na europa), deverão garantir as condições mínimas de segurança/qualidade e partilharem os custos associados, com ganhos para o sistema de saúde e doentes. Isto claro, numa óptica de “make or buy”. A produção de medicamentos aproximar-se-á cada vez mais dos requisitos industriais, de acordo com as GMP, validando todos os processos de produção e de controlo de qualidade dos mesmos.

Partilho da visão que a Farmácia Hospitalar vai ser, ou tem que ser: • Altamente automatizada, com uso mínimo de mão de obra intensiva; • Focada em melhorar os resultados dos doentes; • Focada na Segurança do Doente e prevenção de erros de medicação; • Farmacêuticos como agentes e garantia de segurança dos medicamentos; • Eficiente e adequada às mudanças e, • Focada na gestão eficiente dos recursos da instituição e sustentabilidade do SNS. As Unidades de Manipulação de Medicamentos Estéreis (Citotóxicos e Não Citotóxicos), não foram especificamente construídos para o efeito, cumprindo integralmente os padrões “Good Manufacturing Practices” (GMP), exigem custos elevadíssimos de manutenção, para além de profissionais qualificados, devidamente treinados e integralmente dedicados a esta atividade, e com a chegada dos medicamentos personalizados, com base na biologia molecular e na genómica, é necessário instalações e equipamentos robotizados, que deem resposta cabal às exigências regulamentares e técnicas aplicáveis à manipulação clínica de medicamentos, à segurança para os operadores, às preocupações com a contaminação em ambiente hospitalar e garantir ainda a qualidade do produto final, pela dupla validação sistemática e continua de procedimentos e sua traceabilidade.

Que Realidade ... • Falta de Centros de Preparação de Medicamentos especificamente construídos para o efeito, cumprindo integralmente os padrões GMP; • Falta de recursos humanos qualificados, devidamente treinados e integralmente dedicados a esta atividade; • Falta de especialização e de foco nesta atividade e, • Falta de massa crítica na maioria das unidades do SNS que justifique o investimento e alocação de recursos para esta atividade, ou em alternativa, elevados custos e riscos acrescidos na produção.


16 Que Consequências… • Risco elevado para profissionais e doentes; • Não conformidade com as GMP’s; • Custos elevados; • Desperdício de medicamentos; • Falta de adequação terapêutica e, • Transferências de doentes entre unidades do SNS. Exemplo paradigmático destas limitações e constrangimentos, é o Anúncio do Procedimento Internacional – Aquisição de Preparações Extemporâneas Para Nutrição Parentérica Personalizada – do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, a 2 de Julho passado, por incapacidade de resposta in-house e nos hospitais do pais. Assim, a nutrição parentérica para os doentes de ambulatório do CHULC virá de países europeus, com “Centros de Manipulação”. Temos também cada vez mais, ruturas de medicamentos maduros essenciais aos tratamentos dos doentes e sem interesse económico para a Indústria Farmacêutica. Antes do advento da IF, os Serviços Farmacêuticos dos hospitais de São João, da Universidade de Coimbra e de São José (Lisboa), para além do Laboratório Militar (LM), foram unidades de produção de medicamentos à escala semi-industrial, capazes de cobrir as necessidades terapêuticas daquelas instituições, assim como, as dos hospitais das suas áreas de influência. Daí que, um dos cenários para minimizar estas ruturas e poder satisfazer as necessidades medicamentosas dos doentes, é o regresso à origem, com os hospitais que no passado tinham linhas de produção, voltarem a produzir ou, melhor ainda, a reestruturação e investimento no Laboratório Militar, numa parceria entre o MDN e o MS. O Laboratório Militar numa ótica de Serviço Público e Interesse Estratégico Nacional, produzir estes medicamentos para o mercado nacional. Após o “Caso Matilde” temos que adequar expectativas, estímulos e financiamento ao papel relativo dos medicamentos e outras tecnologias nos cuidados de saúde, pelo que se deverá empreender campanhas de opinião e formativas sobre o papel dos medicamentos e dispositivos médicos nos cuidados de saúde. As dificuldades sentidas no São João e noutras instituições, relativamente à garantia do serviço farmacêutico noturno, à semelhança do que já acontece com as urgências metropolitanas no Porto, não vejo outra alternativa senão uma “Urgência Farmacêutica Metropolitana”. Reconhecer a importância da adesão como fator crítico na obtenção de resultados em saúde, é fundamental.

“Drugs don’t work in patients who don’t take them”. C. Everett Koop, MD, US Surgeon General, 1981-1989 Osterberg L (2005) Adherence to medication. N Engl J Med 353: 487-497 “An effective intervention to enhance compliance would be as important as the development of a new drug” Haynes RB, et al The Cochrane Database od Systemic Reviews 2008, Issue 2 Em Portugal, estão a decorrer neste momento projetos de integração de cuidados, todos focados nas vantagens da proximidade na disponibilização dos medicamentos aos doentes em regime de ambulatório hospitalar, com diferentes características. Medicamentos de uso exclusivo hospitalar, no mercado nacional, com dispensa de medicação nas farmácias comunitárias, são uma realidade em alguns países europeus, pelo que prevejo, garantido que esteja a negociação a nível central dos custos dos fármacos e o pagamento do ato farmacêutico, que alguns destes medicamentos poderão alterar de estatuto e os doentes poderão levantar esta medicação na sua farmácia comunitária, sem perda da qualidade e segurança do circuito do medicamento. Assim, permite-se aumentar a proximidade dos cuidados e a adesão dos doentes, reduzir os custos com as deslocações e a ausência ao trabalho dos doentes e familiares, bem como aumentar a satisfação de todos os utilizadores, humanizando os cuidados. A otimização da logística por forma a ter o medicamento/dispositivo certo na altura certa para o paciente certo, garantindo a qualidade, segurança e eficácia dos mesmos. Neste campo da logística sanitária, teremos que analisar o impacto “make or buy”, nomeadamente quanto ao armazenamento e processo(s) de distribuição, focalizando naquilo que é o seu “core business”. Em virtude do Sistema de Distribuição Individual Diária em Dose Unitária, obrigar à alocação de grande esforço de recursos humanos na farmácia e, nem sempre, os benefícios e esforço requerido, ser utilizado pela enfermagem, teremos que equacionar alternativas a este modelo, com a criação de armazéns avançados, reposição por consumo ou por duplo lote. Para além da necessidade, sinto que é uma exigência dar visibilidade científica à atuação da Farmácia Hospitalar, não só devido pelos dados clínicos gerados, bem como pelos recursos económicos que consome, gerando, cada vez mais a necessidade de avaliação, monitorização e otimização.



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GRANDE ENTREVISTA

Com o apoio dos trabalhadores

“Fui a face visível da luta pela manutenção do Infarmed em Lisboa” revela Maria do Céu Machado ENTREVISTA: Marina Caldas Maria do Céu Machado reformou-se e, a partir de Outubro, vai ser voluntária no Hospital de Santa Maria, através da Associação dos Amigos do Hospital de Santa Maria, de que é presidente. Esta é só a primeira novidade que trazemos a público nesta entrevista a O Hospital da ex-presidente do Infarmed que, como todos recordam, afrontou as instituições ao dizer que constituía um risco para a saúde dos portugueses a mudança do Infarmed para o Porto. Maria do Céu Machado explica-nos as razões que motivaram a sua tomada de posição sobre este tema e dá a conhecer uma parte de si que o público, em geral, não conhece, entre as quais as suas convicções humanistas. Maria do Céu Machado é pediatra e, talvez por isso, sorri imenso. E gosta de sorrir! Percebemos que há nesse seu sorriso, aberto e franco, muito conhecimento adquirido pela experiência, clínica e de vida. Conta-nos que gosta de desafios (por isso aceitou o cargo no Infarmed) e que vive ainda com um vazio grande, devido à perda do marido a quem, às vezes, pensa ver na rua. Abriu-nos o livro sobre as ideias que tem para a Saúde em Portugal e, por isso, falou-nos de medicamentos inovadores e de preços e explicou porque há muito trabalho a fazer neste domínio, entre países. Ri, com gargalhada mesmo, quando afirma que a Lei de Bases da Saúde, agora aprovada, está “mais fatiada do que um salame” e que não percebe” para que foi tudo isto”. Sobre os hospitais públicos e os clínicos, afirma que os médicos estão esgotados, cansados e sem capacidade para irem mais longe, mas afirma, categoricamente, que não é a favor da exclusividade. Nisso, diz a sorrir, está de acordo com o ministro Centeno!

Como foram aqueles primeiros dias depois de sair do Infarmed, após a sua última aula? Estava um bocado ansiosa e nas duas semanas anteriores pensei nisso e cheguei a ter a ideia de que iria ser um bocadinho deprimente, mas não foi (risos). Primeiro porque, hoje, posso levantar-me mais tarde, sem despertador e, realmente, acordar sem despertador, fazer ginástica e tomar o meu pequeno almoço com calma é qualidade de vida. E sentir isso foi muito bom. Por outro lado, tenho tido uns dias e umas semanas muito cheias, no bom sentido, com reuniões em organizações e comissões e, portanto, estou a fazer o que gosto e como gosto. Eu tinha dito à minha empregada que, agora, finalmente, iríamos arrumar a casa - o que a deixou preocupada – e ainda nem isso aconteceu.

Não a queriam lá… Pois não (risos). Portanto não senti aquele vazio que pensei que iria sentir, porque tenho estado ocupada e a sentir-me útil. E a vida tem coisas muito engraçadas. Sabe que uma das coisas onde me senti bastante útil e feliz foi ter assumido a presidência da Associação dos Amigos do Hospital de Santa Maria, onde nós estamos agora. Na verdade, já sou presidente há quatro anos, mas no fundo o contributo que eu dava era principalmente na parte de organização e de liderança. Agora, decidi que ia contribuir, também, como voluntária e isso está a deixarme muito feliz. Mas deve ser muito difícil para a Professora…. Não é nada! Vou ser voluntária na urgência pediátrica e vai ser fantástico! Quero ensinar aos pais onde é o gabinete de


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“HOUVE SEMPRE TRANSPARÊNCIA TOTAL ENTRE O CONSELHO DIRETIVO E OS TRABALHADORES, A FAVOR DO INFARMED”


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GRANDE ENTREVISTA

otorrino, onde é o Rx, etc. Sabe que eu penso que se todos os médicos, quando se reformassem, fizessem todas as semanas uma manhã ou uma tarde de voluntariado nos hospitais as coisas funcionariam melhor.

E por acaso até já veio porque há um projeto chamado “A Nuvem Vitória” que conta histórias aos mais pequenos que estão internados e ele já veio. Na altura eu era Diretora Clínica do Departamento de Pediatria. Ele veio e as crianças adoraram.

Esta manhã, por exemplo, cheguei aqui e fui para a central das consultas, que está localizada no piso por onde entram todas as pessoas que vão para as consultas e para os exames.

Portanto, está a sentir-se realizada com tudo isto, ou há um vazio?

Bem, é extraordinário o que se passa porque as pessoas chegam com um papel na mão e o papel só diz “exame de (qualquer coisa), elevador 12” e ninguém sabe onde fica e qual é o elevador 12! Aliás, nem eu sabia qual era o elevador 12.

Não, não há vazio. Aliás, eu quando pedi a contagem do tempo de trabalho cheguei à conclusão que tinha 48 anos de Função Pública! E como? Porque eu ainda estava no 5º ano da Faculdade quando entrei para Função Pública, como monitora de Anatomia. Havia essa possibilidade nesse tempo, digamos que eu era uma espécie de assistente (mais barato).

Era uma realidade que desconhecia, enquanto médica daquele hospital?

Pois…

É verdade, não sabia!!! Fazia sempre os mesmos percursos e não sabia! Esta pequena lição fez com que eu tenha já estruturado a ideia e foram feitos mapas dos elevadores do hospital para entregar aos voluntários, de forma a passar indicações corretas sobre os elevadores a quem precisa. É que as pessoas entram no hospital, algumas muito idosas, e ficam completamente perdidas. Portanto, hoje tive uma manhã muito útil. Senti-me muito útil.

Portanto estive 48 anos a tratar da saúde dos portugueses.

A sério?

Pois, mas...

A sério. Depois aconteceram outras coisas engraçadas. É que de algumas das pessoas que entraram e saíram do hospital eu já tinha sido pediatra dos filhos. Fizeram uma festa quando me viram, do tipo “O que é que está a fazer à entrada do hospital?” e eu expliquei... (risos) e todo este trabalho representa também um bocadinho de vida social.

Mas ao mesmo tempo já tinha uma necessidade de viajar, descansar, fazer algumas coisas de que gosto muito. E no Infarmed, especificamente, há dezenas de decisões diárias e é um trabalho pesado, porque o conselho diretivo - que era de cinco pessoas mas que a Troika exigiu que passasse a três – tem agora metade da composição que deveria ter, o que é manifestamente pouco para a atividade da instituição

Ok, mas era uma coisa que queria fazer? Era! E o João (Lobo Antunes) tinha-me dito - antes de se reformar e antes de ficar muito doente- que quando chegasse o período da aposentação iria inscrever-se como voluntário aqui na associação de que eu já era presidente. Ele queria fazer voluntariado na neurocirurgia. Infelizmente, adoeceu um ano depois da reforma e não teve tempo de fazer o que queria. Interessante. Então ficou a vontade de... Ficou! Há três anos realizamos aqui, em Maio, uma sessão sobre o Dia do Voluntário. Normalmente convido uma ou duas personalidades para virem falar na Aula Magna e, nesse ano, convidei o nosso Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que tinha acabado de ser eleito presidente. Depois, em público, quando fiz o discurso lancei-lhe o repto de ele, quando se reformasse, ser também voluntário. E ele aceitou.

É muito tempo... E já estava cansada! A sério! Deixe-me explicar melhor: havia uma certa ambivalência em mim; se me tivessem proposto continuar no Infarmed mais três anos eu penso que não tinha coragem de dizer que não.

Repare que, o Infarmed tem responsabilidade sobre medicamentos, dispositivos médicos e cosméticos. Depois não são apenas as empresas farmacêuticas, são também as farmácias, os distribuidores, e, ainda, a área internacional. E os ensaios clínicos e a farmacovigilância. Ou seja, é um mundo que requer todo o empenho e disponibilidade. Já que toca no Infarmed, eu vou para a pergunta que, obrigatoriamente, se exige. Sente que se hoje o Infarmed está em Lisboa, o deve a si? (risos) Deve-me a mim e a todos os que trabalham lá. Mas sabe que foi, digamos assim, a pessoa que... Fui a face visível! Sim! E fui levemente penalizada por isso (levemente!). Vamos por partes: sou pediatra e, como tal, sou sempre otimista.


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“SE SE FIZEREM OS CONTRATOS COM PARTILHA DE RISCO, AS EMPRESAS PENSAM SERIAMENTE ANTES DE AVANÇAREM COM A COMERCIALIZAÇAO DE MEDICAMENTOS INOVADORES”

Eu fiz o que a minha consciência me ditou pela saúde dos portugueses e para o bem de todos os que trabalhavam (e trabalham) naquela casa. Pessoalmente, para a minha vida, era indiferente a mudança, porque se isso acontecesse eu tinha quarenta e seis anos de serviço e, portanto, podia reformar-me no dia seguinte (caso o Infarmed fosse para o Porto).

muito e bem. As pessoas adquirem ali uma experiência e um know-how fantásticos. Somos reconhecidos mesmo a nível internacional. Conto-lhe até um episódio: eu tinha ido de Inglaterra para a Holanda e o presidente da Agência um dia, numa reunião internacional, disse muito contente: “houve 32 pessoas do Infarmed que concorreram à Agência. São todos ótimos, se calhar ficamos com todos”.

Já tinha tido uma série de cargos, e uma carreira que não ficava afetada se me reformasse. Portanto, a minha decisão não teve nada de pessoal. Nada! E, se calhar, foi isso mesmo que me deu alguma independência e autonomia para a tomar.

Então e perante todos estes cenários que analisámos, resolvemos fazer um inquérito aos trabalhadores, logo no primeiro ou segundo dia em que se soube da vontade de transferir o Infarmed. E eu percebi logo que se isto fosse para a frente perdíamos mais de metade das pessoas.

Por outro lado, percebi rapidamente que a mudança, de Lisboa para o Porto, acarretaria imensos gastos associados; repare que só o laboratório do Infarmed custou muitos milhões de euros e as empresas responsáveis pela manutenção do equipamento disseram-nos que esse equipamento era de tal forma sensível que se tivesse de ser levado para outro local ficaria tudo descalibrado. Ora, para calibrar todo aquele equipamento, que é pesado, explicaram-me que iria custar quase tanto como o que foi gasto na sua aquisição.

Mas havia ainda mais aspetos que mostravam que não se podia ir por aquele caminho. Estávamos em pleno Brexit - que nós ainda não sabemos como vai ser resolvido e eu tinha ido a Londres, a uma reunião na EMA, e assumido que Portugal poderia receber mais avaliações centralizadas do que as sete que costumávamos, anualmente. Para que entenda esta parte, repare que cada uma destas avaliações leva um ano a fazer, e nesse ano, eu tinha assumido 20, o que significava que mais de 20 milhões iriam entrar no nosso país.

Mas havia ainda um terceiro aspeto com que me confrontei. Repare, mais de metade dos funcionários são do sexo feminino e têm menos de 44 anos, portanto têm os seus maridos, os seus filhos, e a casa para pagar. E tudo isto é a vida das pessoas! E não podemos dispor da vida das pessoas desta forma!

Ora, como facilmente se imagina, eu não podia perder pessoas, porque isso iria levar a que não cumpríssemos prazos e nunca mais nos dariam oportunidade igual.

Depois temos a questão da qualidade dos funcionários do Infarmed. Todas as empresas farmacêuticas nacionais vão ao Infarmed buscar mão de obra nova, porque se trabalha

Por último, eu disse uma vez na Assembleia da República que, caso a mudança se concretizasse, quem iria sair prejudicado não era só o País, mas também a Europa e até o Mundo – isto depois foi descontextualizado e até tive uma seta para baixo no Expresso (a única da minha vida profissional!), mas enfim. O que eu queria dizer é que, quando qualquer Agência, de qualquer país, faz uma avaliação de um medicamento, - quer seja centralizada,


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“ESTIVE 48 ANOS A TRATAR DA SAÚDE DOS PORTUGUESES”

quer seja descentralizada - fica responsável por aquele medicamento até ao fim da vida do fármaco e, portanto, se passados 10 ou 15 anos se percebe que há algum efeito adverso com o tal medicamento é o país responsável que tem que ir ver o que se está a passar e retirá-lo do mercado. O que significa que, se nós perdêssemos pessoas e perdêssemos know-how, relativamente a medicamentos que estão em todo o mundo e cuja responsabilidade era do Infarmed, poderia ser muito problemático. Tivemos, em 2018, aquela situação do medicamento cardiovascular, que se percebeu que estava contaminado com produtos tóxicos para a saúde. Neste caso a Espanha foi o país responsável e, como tal, foi a Espanha é que teve que tratar de tudo.

em todo o país, seja em farmácias, distribuidores, etc., e vão para Bragança, por exemplo. Porque é que não pode haver, no Norte, instalações do Infarmed para esse fim como tem, por exemplo, a autoridade dos transplantes e sangue ou o INSA?

Teve que ser responsabilizada (não percebo!)

Mas a professora indicou esse caminho e não foi ouvida?

Isto para dizer que a forma como temos e devemos lidar com o Infarmed não pode ser feito de ânimo leve. Tem de ser com bases sólidas.

O ruído mediático foi de tal maneira intenso e excessivo; extremaram-se de tal maneira as posições - com o Norte a ficar muito ofendido - que não se conseguiu ter uma discussão pública objetiva, como deveria ter sido.

Este processo, como certamente se lembra, passou-se em novembro, e logo em janeiro criámos um documento interno no Infarmed que acabou por não ser divulgado, com quatro ou cinco áreas específicas que que fazia todo o sentido serem deslocalizadas para o Porto. E continua a manter essa ideia? Sim, por exemplo a inspeção. Nós temos inspetores que saem de Lisboa, do Infarmed, para fazerem inspeções

Uma delegação... Se houver inspetores localizados no norte, que percorrem toda a região – Douro, Trás os Montes e Minho - eles vão fazer o trabalho a partir do Porto e não de Lisboa! Fica mais fácil! Faz sentido! O mesmo se passa com a área da farmacovigilância. Era preferível existir também um grupo a norte que avaliasse as situações locais

Mas acha que quem pensou em levar o Infarmed para o Porto analisou todo o processo ou não, de todo? Para mudar teriam de existir vantagens - quer para a região quer para a instituição. Além disso, quando se decide mudar uma instituição, as pessoas que trabalham na instituição devem ser envolvidas. E isso não foi feito. Voltando à sua pergunta inicial, se dependeu muito da minha atitude, da minha atuação. É engraçado que


23 houve uma grande coesão entre o conselho diretivo e os trabalhadores do Infarmed. A comissão de trabalhadores portou-se muito bem. Houve várias situações complicadas, em que os trabalhadores do Infarmed começaram a ficar stressados, pensando em greves ou em levar o assunto diretamente “para a comunicação social, mas houve sempre uma colaboração estreita e uma transparência total entre o conselho diretivo, os trabalhadores e a própria comissão de trabalhadores a favor do Infarmed! E repare (isto é engraçado): apesar desta enorme insegurança, chegámos ao fim de 2017 e depois também no ano de 2018 e aumentámos a nossa produção. A atividade, em qualquer área, não diminuiu, e a missão foi cumprida e sem atrasos. E disso eu sinto orgulho. A senhora não deixou nada por fazer na sua vida profissional. Mas como sabe o setor da saúde é um sector que pode “matar” as pessoas. Lembro-me que quando foi nomeada para a presidência do Infarmed várias pessoas se questionarem da decisão porque não percebia muito de medicamentos… Isso de perceber ou não é muito relativo! Gostava de saber se a maior parte das pessoas que são nomeadas para certos cargos ou para ministros [risos]… não estou a pensar em ninguém em especial… percebe realmente do pelouro que vai ocupar. Ou para presidentes de bancos. Ou de outras instituições... Obviamente que em relação ao “negócio” do Infarmed, eu não percebia, e a primeira coisa que fiz quando lá cheguei foi pedir para me fazerem um dossier com todas as direções do Infarmed e com a atividade de cada direção. Quando me enviaram o documento final, pesava cerca de 10 kg, assustei-me. Estudei largamente tudo o que recebi durante cerca de um mês e meio - porque o convite foi feito em final março e eu entrei no princípio de maio. É importante referir que a organização do Infarmed tem muito a ver com gestão e eu já tinha feito gestão hospitalar, ou seja: a organização e a gestão não me assustavam. Mas digo-lhe, sinceramente, que quando o ministro me fez o convite, numa primeira reação, eu coloquei a mim própria uma série de perguntas: “mas porque é que me está a convidar a mim? Tem gente que conhece melhor o Infarmed e conhece melhor o negócio do que eu!”. Além disso, eu estava convencida que ficaria no Hospital Santa Maria até me reformar. Nessa altura já estava com 67 anos e foi logo depois do meu marido morrer. Mas depois pensei “O Infarmed tem um prestígio fantástico” – todos sabemos que tem – e acabei por aceitar por duas razões. A primeira porque estava “sem graça” no Hospital de Santa Maria. Ou seja, a viuvez era muito recente e eu já não estava com o élan nem com a frescura que se deve ter para se dirigir um departamento.

Foi um desafio? Foi um desafio e foi excelente. Por outro lado, o Infarmed tinha um prestigio fantástico e eu queria fazer parte daquele novo rumo. Digamos que foi uma direção engraçada, uma presidência engraçada. Fiquei completamente apaixonada pelo ambiente e pelo Infarmed. A sério? Mais do que as outras coisas que tinha feito? As outras coisas que já tinha feito eram muito semelhantes, no Infarmed foi diferente! Os colaboradores do Infarmed são muito bons. Têm um entusiasmo que já não vejo nos hospitais, por exemplo. Nos hospitais as pessoas estão em burnout, muito desiludidas, pouco motivadas! Ali, pedimos um parecer e o parecer está na secretaria no dia seguinte; e faz-se bem e com total competência. Gostei também muito do processo negocial com as empresas, onde as negociações eram feitas medicamento a medicamento. Logo no início pedi para que fosse criado o “dossier de empresa”, onde para cada medicamento que iriamos negociar havia diferentes indicações relativas à empresa: o respetivo portfólio; o que é que a empresa tinha em pipeline; que ensaios clínicos estavam a decorrer em Portugal. No seu período deu muitas concessões a medicamentos inovadores? Dei. Em 2017 foi o record, em 2018 desacelerámos. E foi muito aproveitado politicamente para dizer que o Infarmed tinha feito isso. Como é que a professora olha para este processo e para o futuro? Temos de pensar, de fato, em tudo o que está ligado à análise do preço. Eu meditei e refleti bastante sobre o assunto. Tenho 48 anos de conhecimento sobre medicamentos (quer seja a prescrever, a comprar ou a aconselhar) e foi nos últimos 10, 15 anos que começou esta escalada de preços a que temos assistido e às dúvidas sobre o futuro dos medicamentos inovadores. Mas pela minha reflexão, in my opinion, o que aconteceu tem de ser explicado com base nas legislações que foram criadas, a nível europeu e americano – portanto pela EMA e pelo FDA. Quem deu o primeiro passo foi a agência europeia ao criar as novas regras relativamente à investigação em doenças raras e medicamentos órfãos. E porquê? Porque praticamente não havia investigação em doenças raras e as agências centrais, numa tentativa de fomentar o aparecimento de medicamentos e de investigação concederam benefícios - entre as quais o tempo de patente aumentada, em vez de 10 anos são 14, alguma liberalização dos preços, etc. Tudo começou pelos medicamentos órfãos, o que é ótimo, -porque havia muitas doenças raras que não tinham qualquer medicamento.


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GRANDE ENTREVISTA

Por outro lado, temos ainda os genéricos e os biossimilares. Ou seja, a ideia de fazer cópias dos medicamentos de marca é uma ideia boa, mas a empresa há trinta anos sabia que quando tinha um medicamento inovador que ia ter lucro até ao fim da vida do medicamento. Hoje, a empresa sabe que ao fim de 10 anos vai haver um genérico daquele medicamento que custa metade e vai querer realizar o investimento - seja em investigação, seja em produção nos anos de patente. E tem de rentabilizar. Outra razão para todo este processo é relativamente recente e tem a ver com as empresas farmacêuticas terem acionistas e estarem cotadas em bolsa e, a partir daí, a indústria farmacêutica passou a competir com a indústria automóvel, com os equipamentos informáticos, com as telecomunicações. As empresas dizem sempre que a investigação sai caríssima, porque em cada 10 moléculas só uma que é comercializável, etc., etc. Eu tenho dúvidas que seja assim tão caro. Porquê? Porque hoje em dia já há muita investigação com financiamento pelos governos, pela comissão europeia, pelo Bill Gates, pelo Clinton e outros e eu gostava que as empresas farmacêuticas fossem transparentes e que mostrassem quanto é que gastaram realmente. Agora, nós temos case studies. Por exemplo, este medicamento de que se falou tanto para a atrofia espinal, o preço foi colocado assim: havia só um medicamento anterior que tem de ser dado durante toda a vida da criança e cujo preço está entre os 200 a 250 mil euros por ano. O novo medicamento só se toma uma vez e, portanto, a empresa fez as contas assim: se a vida média são 10 anos e o fármaco para toda a vida custa custam 200 mil por ano, este vai custar dois milhões. Ora, a análise não pode nem deve ser feita assim! Isto não há sistema que aguente! E não é Portugal que está preocupado, é a Holanda… e até a Alemanha apesar de ter um sistema seguradoras na saúde. Temos de encontrar estratégias externas e internas para ultrapassar o problema. As externas têm sido a tentativa de juntar grupos de países para negociação comum como La Valetta ou Benelux a EMA aprova através dos ensaios clínicos, relativamente à eficácia e segurança, a partir daí são os países que têm a responsabilidade de negociar a comercialização. A Comissão Europeia tentou organizar-se de forma a que houvesse um grupo de trabalho que avaliasse os preços. Alguns países não aceitaram e outros não chegaram a acordo. Internamente há várias estratégias que podem ser implementadas. Em Portugal contamos com o baskett dos países de referência. Todos os anos, até 15 de novembro, escolhemos 3 ou 4 países de referência (este ano são 4) e,

portanto, a empresa já sabe que o preço proposto deve ser a média daqueles países. A nossa legislação (SINATS) funciona bem. As comissões de avaliação são autónomas e independentes, principalmente a comissão de avaliação de tecnologias de saúde. E, depois, a última palavra é do Infarmed e das reuniões de negociação, o que fazemos para todos os medicamentos inovadores. A empresas estão a submeter alguns dossiers para comercializar cedo demais com base nos ensaios clínicos que foram interrompidos precocemente porque os resultados são bons. O que acontece, no entanto, é que com esta pressa toda estão a submeter-se dossiers e a pedir avaliação sobre medicamentos dos quais ainda não se conhecem bem a eficácia e a segurança. Mas esse é sempre o medo. Se o contrato entre o SNS e as empresas for com partilha de risco, automaticamente as empresas vão pensar duas vezes antes avançarem para a comercialização do medicamento inovador. Dou-lhe um exemplo: relativamente uma terapia inovadora para a leucemia e linfoma. Os ensaios mostraram um aumento médio da esperança de vida de 20 meses. Então pagamos uma percentagem inicial e depois tranches aos 3, 6, 12 meses conforme os resultados Serviço Nacional de Saúde (SNS): fala-se que está em queda livre, que cada vez está pior, que as pessoas não têm acesso a consultas, cirurgias nem ao tratamento adequado … qual é a opinião da professora? Os portugueses são muito exagerados. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Eu fui Alta Comissária da saúde e fui responsável pelo plano nacional de saúde e respetiva monitorização e nunca teríamos conseguido os indicadores de saúde que temos hoje sem o SNS. E mais: se não continuarmos a ter SNS não vamos manter esses resultados. Por outro lado, o SNS, funciona! É verdade que funciona à custa de profissionais - como eu disse há bocado, desiludidos, cansados, pouco satisfeitos - mas funciona! E porque é que chegámos a um ponto em que as pessoas estão desiludidas? Porque durante o período da troika houve uma política de recursos humanos que não deu possibilidade aos hospitais de manter os profissionais de saúde necessários. Aliás, os hospitais perderam autonomia, como certamente se lembra! Como é que é possível que, para contratar alguém, seja um médico ou um enfermeiro - até para substituir uma grávida –, se tivesse de fazer uma proposta às finanças e são eles que decidem. Isto é impensável. Se for para continuar assim é melhor demitirem os Conselhos de Administração que não têm qualquer papel. E qual foi o resultado disto? Os que ficam estão esgotados. Imagine que tem 100 pessoas a trabalhar num hospital e saem 50. Ao fim de 2 ou 3 anos dão a possibilidade de contratar 50 novos profissionais, novos na experiência (internos, por exemplo) têm de ser


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“O FINANCIAMENTO DO SNS ESTÁ AO NÍVEL DE 2004? NÃO CHEGA!”

ensinados e os que lá estão já não têm paciência, nem força anímica para ensinar. Isto é real! Quando alguns ministros, nomeadamente o ministro das finanças, diz que no SNS o financiamento nunca foi tão grande, está a esquecer-se que o problema é que o SNS nunca precisou de tanto. E porquê? Porque a população envelheceu e vive mais e tem mais doença crónica. Fiz um estudo, que publiquei com o título “Entre a Morte e a Vida em Portugal”, o que nós vemos é a mortalidade a baixar. As pessoas morrem menos em todas as idades, o que significa que, nesses anos os cuidados de saúde foram bons. Ora, recentemente, o ministro das finanças disse que, a nível de financiamento, o SNS está atualmente ao nível de 2004. Ao nível de 2004? Não chega! E porquê? Porque os portugueses estão mais velhos; morrem menos; têm mais doença crónica e, portanto, as necessidades são diferentes. Além disso, os medicamentos estão mais caros e as tecnologias também, e, portanto, as necessidades dos portugueses, a nível de cuidados de saúde, aumentaram. Eu ia pegar agora em algo que se cruza com isto: na exclusividade e nos recursos humanos. O ministro das finanças é contra e eu também sou…embora não entenda porque é que os jornalistas questionam o

ministro das finanças sobre a exclusividade dos médicos. Ele não tem de falar sobre isso. Quanto muito pode pedir opiniões a outros profissionais de saúde; pode dizer ao primeiro ministro ou à ministra da saúde que não está convencido, mas não tem de dar opinião sobre esta matéria. Acha que tem um poder excessivo? Se calhar tinha de ser desta maneira, para Portugal conseguir “entrar nos eixos”, o problema é que o poder embriaga. Há uma expressão muito engraçada do Fidel de Castro que é “ninguém deixa o poder, o poder é que nos deixa”. A pessoa quando tem poder tem dificuldade em largá-lo (risos). Mas voltando à questão da exclusividade médica, não penso que é por haver exclusividade que os médicos trabalham mais nem melhor. Era isso que eu ia perguntar. Eu nunca tive exclusividade na minha vida, sempre trabalhei no público e fazia consulta privada. A exclusividade apareceu após o 25 de Abril de 1974 e nessa altura qual era a minha experiência? No 25 de Abril já era médica, já estava a trabalhar no hospital e qual era a realidade? Entrava-se 9h00 ou 9h30 ou 10h00 e saia-se às 13H00. Ia-se almoçar a casa e à tarde as pessoas iam para os consultórios ou iam operar para fora.


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GRANDE ENTREVISTA

Ora, isto hoje não se passa. Naquele tempo, as pessoas faltavam quando lhes apetecia, hoje não podem: há registo eletrónico e horários a cumprir; há consultas a tarde inteira nos hospitais. Portanto, os profissionais dos hospitais público hoje, cumprem, tal e qual como acontece nos privados, porque não têm como fugir a isso. Mas se calhar os ordenados continuam a ser muito baixos para todo o trabalho de um médico. E então o que se fazia? Com os Recursos Humanos e com os ordenados? Eu não me importo que fiquem nos hospitais a 20 horas, 35, 42 horas … as horas que quiserem, desde que cumpram, que tenham horários e tarefas distribuídas. E depois, fora desse horário, e com o horário cumprido, podem ir para o privado e fazer o que quiserem. Sempre fiz consultório, nunca deixei de cumprir e só interrompi atividade quando era presidente do Infarmed, comissária de saúde e diretora do Hospital de Santa Maria. É bom para os médicos estarem nas duas vertentes?

Não. Estou perfeitamente pronta para a colaborar com vários grupos de áreas diferentes, desde que tal não vá nunca contra as minhas convicções. Na área da saúde gostava que se estabelecesse uma espécie de pacto de regime com todos os partidos se neste momento todos os hospitais privados fechassem, o SNS não conseguiria assumir todas as pessoas/utentes que têm ADSE, que têm subsistema de saúde e que estão a ser tratados no privado. Não vale a pena ter ilusões. Portanto, eu estou disponível para trabalhar com grupos de trabalho, mas não para enveredar por uma carreira política. Olhe, neste momento estou a acabar um livro, que será o sétimo. Tem nome já? Chama-se “Nasceu o Nosso Primeiro Filho”, é para os pais pela primeira vez. A pediatria está lá, sempre na sua vida.

Acho que sim, porque a visão hospitalar pública é atualmente de patologia complexa e de situações graves e, portanto, é mais stressante e causa mais burnout. Num consultório são situações mais leves e a ligação entre os médicos e os doentes é estabelecida de outra forma.

Está lá. E é sobre o primeiro ano de vida da criança e acho que está muito engraçado, com a criança a dizer coisas e os pais a fazerem perguntas, o que é normal, pois os pais hoje, coitados, ouvem tanta coisa que já não sabem o que é, ou não, normal ,Estou agora a terminá-lo, prometi entregar até dia 10 de agosto.

Corremos o risco de todos os médicos bons irem para o privado porque paga melhor?

(Voltando à questão da política). E se fosse uma coisa que fosse muito importante?

O privado também não é o paraíso! Exige muito e há quem proteste muito (em alguns grupos privados mais do que noutros) e há profissionais que estão muito descontentes, porque há exigências excessivas. Mas pagam bem, é verdade. Considero que seria bom arranjar um equilíbrio, nos dois setores, porque os médicos gostam de patologias complicadas, de tecnologias complicadas e até gostam de trabalhar no hospital público - embora existam hoje hospitais e grupos privados que têm tecnologia tão sofisticada como o público.

Quero ter a liberdade de poder ir aceitando.

Mas toda a parte relacionada com o ensinar, com a carreira académica, tem de ser no público. E há médicos que gostam da carreira académica, de fazer o seu doutoramento, de investigar. E, portanto, se derem um mínimo de condições é possível estabelecer um meio termo muito interessante. Olhando para o meu tempo, eu gostava de ensinar, de investigar e, portanto, o hospital público é que me dava o que não tinha no privado. Agora, o que é que não tinha no publico? Tempo alocado para investigação; tempo para ensaios clínicos; tempo para o ensino, entre outras coisas. Professora, a senhora fez de tudo na vertente clínica Politicamente, sabemos que tem uma linha, não pensa ir por aí?

Lei de bases. Como é que vê este percurso todo? Estava tão contente com a lei de bases anterior [risos]. Mas também estava contente com o projeto da Dr.ª Maria de Belém. Portanto, quando começou a ser (como é que eu hei de dizer isto?) a ser cortado às fatias, tipo um salame, fiquei muito inquieta. Triste? Não foi triste, foi mesmo inquieta. Qual foi a grande vantagem de ter sido esquartejado o que havia e porquê? Para quê este fogo todo? Para quê esta pressa? Mais uma vez a vontade política. Mais uma vez a vontade política porque, se formos ver bem, a anterior até era uma boa Lei de Bases. Serviu bem estes anos todos.


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“Estivemos casados 15 anos e foi um casamento fantástico” Como foi o período após o falecimento do seu marido? Como viveu esse tempo?

Bem, a fase final da vida dele foi dura. Ele quis morrer em casa e, portanto, tive que fazer quase um hospital em casa durante várias semanas, com o apoio de enfermeiros e médicos. É terrível vermos alguém sofrer e para ele também foi terrível, sendo ele a pessoa que era. Depois foram aqueles dois meses a seguir… Foi mau…

Eu até considero que tenho uma boa saúde mental, mas tinha perdido completamente o padrão de sono, por exemplo. Depois não conseguia dormir mais e era terrível. E mais estranho: não me conseguia lembrar dele, da pessoa que era quando não estava assim. Só me lembrava dele muito doente. Depois desses dois meses após a sua morte, fui ultrapassando muito devagar, mas continua a fazer-me muita falta O que é que ficou destes anos todos?

Estivemos casados 15 anos e foi um casamento fantástico. Era um homem cultíssimo, amigo, muito conversador. Ao jantar, muitas vezes tardio, às 9 da noite, sempre na sala de jantar, conversávamos horas. histórias de doentes, a história do dia, da clínica, dos colaboradores, etc. Do bom, do mau, de tudo! E disso eu sinto muita falta. Sinto tanta falta que quando janto sozinha, o faço em pé na cozinha com o pratinho na mão.

Há ali um vazio.

Também viajávamos imenso. E o João faz falta ao país, aos políticos, porque era uma voz ouvida, quer pela esquerda quer pela direita. Era uma voz que qualquer ministro ouvia. Presidentes da República pediam-lhe opiniões. E era muito sensato. Pensava bem e lia muito. O que é que quer fazer aqui na associação. Já vimos que quer dar mais.

Nós já tivemos aqui 300 voluntários, agora temos cerca de 200. E eu já tinha estado no Hospital de John Hopkins que é um hospital mais ou menos igual ao de Santa Maria e tem 600 voluntários. E é preciso mais. A partir de outubro, vamos fazer uma campanha - seja dentro do hospital, seja fora em empresas, escritórios de advogados, etc. e, tentar sensibilizar o cidadão para o voluntariado. No fundo exigimos 4 horas de trabalho por semana, pode ser ao fim de semana, pode ser à noite…. Temos connosco, atualmente, muitos jovens universitários só que chega a altura dos exames e vão estudar! E quero fazer, eu própria, voluntariado na urgência pediátrica. Não acha que vai confundir-se entre a pediatra e…?

Não. Consegue distinguir as coisas?

Não. Coexistem comigo. [risos] Então boa sorte, Professora.


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REPORTAGEM

Bolsa de Investigação em Neoplasias Linfoproliferativas atribuída a investigadora do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Sara Duarte, do Serviço de Hematologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra é a vencedora da Bolsa de Investigação em Mieloma Múltiplo, uma iniciativa da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL) e da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH), com o apoio da biofarmacêutica Gilead Sciences. A investigadora, que conta com a orientação de Artur Paiva, da Unidade de Citometria de Fluxo do CHUC, recebeu 15 mil euros para levar adiante o projeto intitulado, “Estudo da relação entre as transformações genéticas e celulares na célula maligna, assim como alterações no compartimento dos linfócitos B normais, relacionadas com o tumor em doentes com Linfoma Linfoplasmocitico/Macroglobulinémia de Waldenstrom: abrindo novos horizontes no prognóstico da doença e estratégias de tratamento”. A cerimónia oficial realizou-se no dia 9 de julho, na sede da APCL, em Lisboa. “O Linfoma Linfoplasmocitico/ Macroglobulinémia de Waldenstrom é uma doença rara e por isso um pouco negligenciado”, disse Sara Duarte. Frequentemente assintomático, nas fases ativas, “quando é sintomático, este linfoma está associado a uma elevada morbilidade. Achamos que é necessário encontrar mais armas terapêuticas. Espero, daqui a um ano trazer resultados entusiasmantes”, afirmou a investigadora. A “Bolsa Neoplasias B Células Maduras” faz parte de uma já longa tradição da APCL no apoio à investigação científica. Desde 2003 que a associação atribui bolsas de investigação no âmbito das doenças hematooncológicas malignas. No total, já entregou mais de 450 mil euros. Mais visibilidade para as instituições e investigadores nacionais Para a Biofarmacêutica Gilead Sciences, trata-se da primeira participação. “Para nós, é um grande orgulho

O que é o Linfoma Linfoplasmocitico/ Macroglobulinémia de Waldenstrom?orma É uma neoplasia rara de células B. De causa desconhecida, do ponto de vista clínico, assemelha-se mais à doença linfomatosa do que ao mieloma e outros distúrbios dos plasmócitos. Atinge sobretudo os homens e indivíduos na faixa etária dos 65 anos. Apesar de ser frequentemente assintomática, muitos doentes apresentam anemia ou manifestações da síndrome de hiperviscosidade: fadiga, fraqueza, sangramento cutâneo e na mucosa, vertigem, cefaleia, sintomas de neuropatia periférica e outras manifestações de alterações neurológicas. Com uma evolução variável, a sobrevida média é de sete a dez anos.

e um enorme privilégio colaborar com SPH e a APCL na atribuição desta bolsa. É a primeira vez que o fazemos, porque também na área da Hemato-oncologia somos uma companhia relativamente recente”, afirmou Cláudia Delgado, Diretora Médica da Gilead Sciences e coordenadora do programa Gilead Génese. “É muito bom assinalarmos esta parceria. A nossa atuação no âmbito do apoio à investigação assenta em três pilares: o programa Gilead Génese; o programa de grants, orientado para as associações de doentes; e as parcerias com as sociedades científicas. Neste caso, abrangemos as três áreas”. Para Cláudia Delgado, esta colaboração é uma forma de marcar presença numa área onde, reconhece, “existir muita necessidade médica e na qual a Gilead está já a trabalhar”. “Construir legado com parceiros como estes


29 é muito bom. Sabemos que temos boa capacidade a nível local e, às vezes, por falta de organização ou de viabilização não temos tanta geração de dados de natureza local quanto poderíamos ter”. Segundo Cláudia Delgado, esta é uma forma de ultrapassar a pouca visibilidade nas instituições nacionais alémfronteiras. “Se ajudarmos a capacitar e viabilizar mais projetos, estaremos a dar mais palco às nossas instituições e aos nossos investigadores. Ganhamos todos e, acima de tudo, ganham os doentes”, disse. Aposta na investigação clínica “É um concurso que a Sociedade Portuguesa de Hematologia considera ter regras muito claras e muito bem definidas, um aspeto essencial em parcerias com a indústria, referiu Aida Botelho de Sousa, presidente da Sociedade Portuguesa de Hematologia. “Os hematologistas precisam da indústria e a indústria precisa dos hematologistas e isso é positivo, desde que as regras estejam extremamente bem definidas e claras”. Na perspetiva de Aida Botelho de Sousa, “em projetos conjuntos como estes, a SPH tem a obrigação de patrocinar bolsas que promovam a investigação na especialidade”. “Estamos particularmente satisfeitos pela bolsa ter sido entregue a uma interna de hematologia, alguém que está a dar os primeiros passos na investigação”. Mas existem outros motivos, apontados pela presidente da SPH. “Por vezes, apoiamos projetos que são relevantes para a clínica, apenas a longo prazo. São estudos que aprofundam questões muito básicas do conhecimento e que presumimos virão a ter repercussão na prática, mas estão ainda na bancada do laboratório. Aqui, pelo contrário, temos um projeto que tem muito boa probabilidade de gerar conclusões que podem apoiar diretamente a gestão destes doentes. Neste caso particular, são doentes difíceis de gerir e de orientar, porque quando estão sintomáticos têm uma qualidade de vida péssima e não temos grande facilidade em selecionar tratamentos. Portanto, é mais uma razão que nos entusiasma neste projeto”. Manuel Abecasis, presidente da APCL, referiu que a atribuição desta Bolsa tem como objetivo, acima de tudo, incentivar a investigação nacional. “Neste caso, a Gilead propôs que fosse na área das neoplasias das células B maduras, e percebe-se porquê. É uma área em que a Gilead tem medicamentos inovadores e em que está empenhada em estimular projetos”. Para o presidente da APCL, “esta parceria vai permitir que os investigadores portugueses tenham acesso a algum financiamento para projetos de média dimensão, cuja execução é de cerca de um ano”.

Unir esforços pela investigaçãoorma

Três entidades diferentes partilham objetivos comuns, entre eles fomentar o progresso científico em Portugal e apoiar os investigadores nacionais. A Sociedade Portuguesa de Hematologia é uma associação sem fins lucrativos, constituída por médicos e outros profissionais ligados à saúde empenhados na prática e (ou) investigação no campo da Hematologia. Tem como objetivo promover e contribuir para o desenvolvimento da hematologia, nas suas diversas expressões – clínica, laboratório, transfusão, imunoterapia e ciências afins – e nos seus diferentes aspetos – social, técnico-científico, pedagógico, de investigação e profissional. A Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), fundada em janeiro de 2002, nasceu iniciativa de um grupo de doentes que sobreviveram a patologias do foro HematoOncológico (Leucemias e Linfomas) e de um grupo de médicos do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil (IPOFG) de Lisboa que os trataram. A APCL tem como missão contribuir, a nível nacional, para aumentar a eficácia do tratamento das Leucemias e outras neoplasias hematológicas afins, investindo para isso em investigação científica com um programa de atribuição de Bolsas e investindo na Formação para profissionais de saúde. A APCL assume ainda como sua missão o aumento da literacia do doente, promovendo e organizando workshops sobre patologias do sangue e temas relacionados, com envolvimento de profissionais de saúde. A Gilead Sciences é uma empresa biofarmacêutica que investiga, desenvolve e comercializa terapêuticas inovadoras em áreas de necessidade médica não preenchida. A missão da empresa é melhorar os cuidados a doentes que sofrem de doenças potencialmente fatais. A Gilead desenvolve a sua atividade em mais de 35 países em todo o mundo, e tem sede em Foster City, Califórnia.


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INOVAÇÃO

RUI TATO MARINHO Diretor do Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria (CHULN)

ELIMINAÇÃO DA HEPATITE C - Trabalho feito e a fazer A eliminação da Hepatite C, tal como tem sido preconizada pelos organismos internacionais, é um sonho ou uma possibilidade. Porquê? Eu entendo que sim, mas não entendo eliminação como erradicação absoluta. A OMS tem proposto a eliminação da hepatite C até 2030. Entende-se como eliminação a redução do impacto da hepatite C como problema de saúde pública até 2030. Poderemos ver a questão de vários modos, a microeliminação entendida como tendo lugar em determinadas populações. É o caso dos hemofílicos, hemodialisados, pessoas em regime prisional, consumidores de drogas, etc. Penso que é uma questão de tempo. Em termos de macroeliminação, considerando os vários continentes, ainda há muitos países, dos cerca de 200, que ainda não têm acesso à moderna medicação. É importante notar que a OMS já fala em números de prevalência mundial inferior à de uns anos atrás: de 180 milhões para 71 milhões. Mesmo em Portugal, chegouse a falar em 1,5% de prevalência (há 30 anos), agora talvez ronde os 0,5%.

Qual a situação de Portugal, comparativamente com os restantes países europeus no processo de eliminação da patologia? Nalguns países (Espanha, França, Eslovénia) o processo está mais facilitado, o acesso à medicação é mais rápido e menos burocrático. Noutros é pior. Mas quem faz e quem prescreve e quem faz a medicação quer benchmarking. Do ponto de vista global o país tem feito um bom trabalho, por exemplo relativamente aos presos e aos consumidores de drogas, já vejo muita gente no terreno, muitas instituições a desenvolverem trabalho como seja o Ares-do-Pinhal, o GAT, a Abraço, Liga Portuguesa contra a SIDA, Crescer, AJPAS, etc. Quais os poblemas associados ao não tratamento da Hepatite C em tempo adequado? Os benefícios de tratar são muitos, cerca de 25, físicos, mentais e sociais!! Até económicos, individualmente e para a sociedade. Há retorno do investimento em vários aspetos como se tem demonstrado. Aproximadamente 1/3 dos doentes em lista de transplante saem da lista, reduz-se a curto prazo (1-2 anos) o risco de evolução para carcinoma hepatocelular. Outro aspecto referido muito frequentemente é


31 a melhoria da qualidade de vida, ainda durante o tratamento: muitos sentem-se com mais força, com melhoria da função neurocognitiva, com vontade de ter uma vida mais ativa, voltando a trabalhar. Tenho visto pessoas com vidas com um passado difícil, muito agradecidos aos médicos e profissionais de saúde e mesmo ao seu País pelo que investiu neles. Tratar em termos latos implica redução de cancro, redução da mortalidade, aumento da esperança média de vida. Eu diria que é uma excelente oportunidade para praticarmos uma Medicina restaurativa, para além de se eliminar a hepatite C, é uma excelente oportunidade para dar outros conselhos de saúde i.e. redução do consumo de álcool, alimentação saudável, exercício físico, realização de alguns rastreios, colonoscopia, etc. Portugal foi pioneiro no estabelecimento de regras para tratar as pessoas com Hepatite C. É possível fazer um balanço de como tem decorrido o processo? É uma história de sucesso, em que muitos fizeram e têm feito muito. Mas queremos sempre mais e melhor, temos que agilizar alguns processos no que diz respeito ao circuito prescrição médica>início da medicação. Temos que entender que não existe paralelo na Medicina moderna. A eficácia na eliminação do vírus é de cerca de 999/1000. O primeiro esquema terapêutico tem eficácia na eliminação do vírus de cerca 97%. O segundo curso terapêutico nestes 3% que não respondem é também de 97%. É só fazer contas. Quem dera que se conseguisse fármacos para tratar deste modo doenças crónicas, ainda por cima de cariz oncogénico. Se se descobrisse algo idêntico para a diabetes, Parkinson, Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica, obesidade? O serviço que o Professor lidera, no Hospital de Santa Maria, percebeu que nem todos os doentes chegam aos serviços de saúde no período de tempo que é desejado nem pelo seu pé. O que decidiu fazer? Decidimos criar um grupo, chamado C-free liderado pela Dra. Paula Ferreira e coordenado pela Assistente Administrativa, ajudada por enfermeiros Isabel Tavares, Elza Alpalhão, entre outros. Temos ido nós ao terreno, já tratámos aproximadamente 300 indivíduos, incluindo reclusos do Estabelecimento Prisional de Lisboa. O network tem sido fantástico, a experiência humana e social não tem igual, saímos mais ricos. Entendo que o Médico moderno tem que sair do Hospital, tem que se ligar à sociedade onde está inserido, tem que ajudar a comunidade onde pratica a sua profissão. É

o velho espírito do “João Semana”, mas aproveitando as modernas tecnologias, as novas formas terapêuticas. Saúde, como define há muitos anos é não só a ausência de doença, mas o bem-estar físico, mental e social. Tratar a hepatite C do ponto de vista global é também intervir nestes vários aspetos físico, mental e social. Outro dos aspetos positivos é o facto de alguns utentes irem ao hospital, conhecerem os profissionais. Ajuda a tirar o estigma de parte a parte. Por outro lado, muitos têm outras comorbilidades que precisam da ajuda hospitalar. Agora ou mais tarde. O doente per se não é só um fígado, ou um vírus com a letra “C”. É um todo. Pensa que desta forma se conseguem diminuir as limitações existentes, ou o que estão a fazer corresponde a uma atitude de “boa vontade” e de resolução dos problemas? Tudo na Vida se faz com pessoas, que têm boa vontade, independentemente das suas obrigações profissionais e legais. Sempre foi assim. O mundo avança com boa vontade, voluntariado, trabalhar forade-horas, espírito de resolução de problemas, espírito de missão, de servir a comunidade. Por outro lado, sentimos que estamos a ajudar a sociedade, pessoas individuais, famílias. Para nós também é uma riqueza. A grande maioria dos médicos e enfermeiros escolheu a profissão com espírito humanista. Também estamos muito agradecidos ao Hospital, autoridades de saúde, instituições que estão no terreno e aos doentes que nos acarinham e agradecem. Não tem preço o abraço final depois de se saber o resultado da carga vírica negativa. Faltam campanhas de sensibilização para alertar para os riscos da poblemática da Hepatite C, em Portugal ? Quem é que deve liderar esse processo? Pode-se fazer sempre mais. Não nos podemos esquecer que naqueles que têm cirrose, se mantém o risco de carcinoma hepatocelular, ainda que numa percentagem reduzida, 1% por ano. O processo de informação tem que ser contínuo, envolvendo todos, médicos, outros profissionais de saúde, Ministério da Saúde, DGS, a área da Saúde Pública, sociedades científicas, profissionais da comunicação social, associações de doentes, etc. Até as Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, como se tem feito na zona de Lisboa com a participação da Câmara Municipal de Lisboa, Juntas de Freguesia do Lumiar, de Alcântara. As cidades saudáveis fazem-se com cidadãos com saúde e de forma inclusiva. Todos queremos isso seja na hepatite C, diabetes, excesso de peso, atividade física, saúde mental.


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INOVAÇÃO

AIDA BOTELHO DE SOUSA

Presidente da Sociedade Portuguesa de Hematologia

Investigação em Neoplasias de Células B Maduras Qual a importância desta Bolsa de Investigação em Neoplasias de Células B Maduras?

representa apenas 1-2% dos linfomas. É importante o estudo destes tipos menos comuns?

A estimulação da investigação, clínica e básica, em Hematologia constitui um dos objetivos da SPH, que atribui desde 2018 bolsas destinadas a proporcionar aos internos de Hematologia, jovens especialistas, e outros profissionais das áreas afins à nossa, a possibilidade de se iniciarem à investigação.

É necessário estudar as doenças mais raras, em particular quando são mal conhecidas. Este linfoma, de curso clínico habitualmente indolente, quando se torna sintomático condiciona quadros clínicos graves, com grande impacto na qualidade de vida do doente, e de difícil tratamento. Por ser menos bem conhecido, as recomendações terapêuticas são menos sólidas: há muito para descobrir sobre este linfoma.

Pela mesma razão, consideramos esta Bolsa para investigação em NCBM, patrocinada pela SPH e APCL e financiada pela Gilead, um estímulo muito positivo. O número de candidaturas recebidas vem confirmar o entusiasmo pelo tema. O projeto vencedor foca-se num linfoma não Hodgkin (Linfoma Linfoplasmocítico/ Macroglobulinémia de Waldenström) que

Para o investigador português, é importante o financiamento deste tipo de projetos a 1 ano? Para qualquer investigador, dado que se o estudo der frutos a um ano, pode ser continuado com financiamento de projetos derivados dos resultados obtidos


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Qual o caminho da Investigação em Portugal?

várias patologias, desde linfomas a mielomas e a leucemias crónicas e agudas. O aumento da taxa A investigação científica portuguesa tem vindo a de cura e o prolongamento da sobrevivência são já ter cada vez melhor qualidade. Em Hematologia uma realidade nalgumas destas neoplasias necessita crescer muito mais, para o que são instrumentais o desenvolvimento de parcerias Tem um percurso dedicado a este campo. Há dentro e fora do país, a criação de tempos 10 anos pensaria que seria possível estar onde dedicados à investigação, hoje inexistentes em estamos hoje? equipas demasiado pequenas e sobrecarregadas por rotinas clínicas pesadas, e os estímulos e apoios Há 10 anos os avanços atuais adivinhavam-se, mas, à investigação, caso desta bolsa. mesmo para os otimistas, o caminho parecia dever ser muito mais longo. A inovação terapêutica tem feito a diferença nesta área? E o que espera encontrar daqui a 10 anos? É muito provável que dentro de 5 a 10 anos tenhamos A Hemato-oncologia é uma das áreas médicas tratamentos realmente personalizados, com onde a descoberta de moléculas inovadoras tem estratégias dirigidas a alvos moleculares específicos sido mais entusiasmante, dado traduzir-se já de cada subtipo de uma doença. em significativos benefícios para os doentes em


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INOVAÇÃO

HELENA COUTINHO

Head of Patient Value & Access and Communications, Takeda Portugal

Acesso efetivo, sustentável e equitativo à saúde: compromisso do presente com o futuro A agenda para promover o acesso sustentável a uma melhor saúde é vasta e desafiante. O conceito de sustentabilidade foi pela primeira vez definido em 1987, no chamado Relatório Brundtland1,2, da Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento. Sob o título “Our Common Future”, este relatório define sustentabilidade como “o desenvolvimento que responda às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras responderem às suas próprias necessidades”. Percebe-se assim que sustentabilidade não é um conceito isolado, reunindo antes um grande número de variáveis, na procura pelo equilíbrio entre as dimensões económica, ambiental e social. Em contexto corporativo, este equilíbrio consegue-se, entre outras formas, através do diálogo entre as várias partes

interessadas, no sentido de criar valor para a sociedade. No âmbito do acesso à saúde, e em particular no que concerne ao papel da Indústria Farmacêutica, o desafio da sustentabilidade não é novo, sendo esta uma das indústrias pioneiras na aplicação de políticas de crescimento sustentável, nomeadamente no que toca ao acesso e direito à saúde. De facto, somos o setor que mais respostas concretas dá às metas de desenvolvimento sustentável para a saúde e bemestar das populações, estabelecidas por organismos como a Organização das Nações Unidas (ONU). Vejase a Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável3, constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e aprovada por 193 estados-membros, onde consta, em terceiro lugar, o objetivo de “garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades”. Entre os indicadores, está o desafio de “atingir


35 a cobertura universal de saúde, incluindo a proteção do risco financeiro, o acesso a serviços de saúde essenciais de qualidade e o acesso a medicamentos e vacinas essenciais para todos de forma segura, eficaz, de qualidade e a preços acessíveis”. Este tem sido o trabalho da Indústria Farmacêutica, de desenvolver e promover o acesso e o direito à saúde das populações, enfrentando os desafios que neste contexto se colocam em termos regulamentares, sociais e tecnológicos. A filosofia empresarial da Takeda – o Takedaísmo – caminha justamente nesse sentido. No seu relatório empresarial de 2018 sobre valor sustentável4 – com base no Pacto Global da ONU5 – inclui-se uma mensagem de abertura do Presidente & CEO da Takeda, Christophe Weber, salientando que “a sustentabilidade e a integridade andam de mãos dadas e são primordiais em tudo o que fazemos”. Entre os instrumentos que nos permitem cumprir este compromisso estão as atividades de Responsabilidade Social e programas de apoio aos doentes que promovemos, muitos deles focados no apoio personalizado a doentes em países com sistemas de saúde em desenvolvimento, como a Argentina, o Brasil, o Equador ou o Perú. Estimamos que, entre 2016 e 2025, os nossos Programas de Responsabilidade Social a nível global beneficiem 16,96 milhões de pessoas4. A nível nacional, queremos que o nosso contributo para a sociedade continue a desenvolver-se, concretizandose na promoção de mais parcerias transversais com instituições académicas e de I&D, mas também com as associações de pessoas e familiares com doença, que permitam chegarmos a soluções e consensos que promovam a saúde e apoiem cada vez mais e melhor a sociedade. O facto de desenvolvermos soluções terapêuticas inovadoras que se diferenciam no mercado, pelos benefícios significativos que aportam, traz-nos o compromisso acrescido de fazer chegar essa inovação a quem dela precisa, nomeadamente através de programas de acesso precoce para os doentes sem alternativa terapêutica. Tudo isto só é possível através da parceria e colaboração contínua com a entidade reguladora do medicamento e dos produtos de saúde, as entidades governamentais, as instituições de saúde e os profissionais que nelas trabalham, as associações de pessoas com doença e as sociedades científicas. Desde sempre trabalhámos com o doente no centro dos nossos esforços, ajudando a advogar os interesses dos grupos com menor representação, para que ninguém fique sem tratamento, mesmo no contexto de patologias raras ou com pouca projeção mediática. As campanhas de sensibilização nacionais para doenças

– como a doença inflamatória intestinal, a doença de Fabry, a doença de Gaucher, a hemofilia ou o cancro do pulmão – são essenciais para consciencializar e aumentar o conhecimento dos profissionais de saúde e do público em geral acerca da existência destas patologias extremamente incapacitantes, reconhecendo as dificuldades dos doentes, cuidadores, profissionais de saúde, gestores e decisores na saúde que vivem e lidam com elas. Neste contexto, podemos questionar-nos: como é que estas iniciativas e o Takedaísmo se traduzem no acesso sustentável à saúde? A nossa missão vai além da investigação, fabrico e comercialização de medicamentos inovadores. Estamos focados na melhoria da disponibilidade e acessibilidade das nossas terapêuticas especializadas, procurando garantir a eficiência na introdução destes medicamentos no mercado, para que cheguem a todos os que precisam, no momento em que precisam. Simultaneamente, ambicionamos promover a consciencialização sobre as várias patologias nas quais nos focamos, apoiar a prática de medicina personalizada, a formação de profissionais de saúde, a melhoria do diagnóstico e da qualidade de vida dos doentes. É uma visão holística, que projeta um futuro em comum, com saúde, focada em quem precisa, mas também no melhor acesso ao diagnóstico, na resposta humanitária e na investigação científica de qualidade, procurando a harmonização de todos estes fatores com as dinâmicas de desenvolvimento de inovação, e privilegiando sempre soluções a longo prazo com resultados nos indicadores de saúde. A nossa presença na sociedade foca-se na disponibilização de soluções terapêuticas integradas e inclusivas, imprimindo integridade, justiça, honestidade e perseverança em toda a nossa cadeia de valor. Os desafios mudam, mas o objetivo final mantém-se: melhor saúde e um futuro mais brilhante para as pessoas com doenças e as suas famílias em todo o mundo4. 1 BRUNDTLAND, G. H. et al. (1987). Our Common Future, World Commission on Environment and Development, Oxford, Oxford University Press, Reino Unido. 2 VIEIRA, J. (2015). Análise da Sustentabilidade nas Cadeias de Abastecimento Farmacêuticas. (Tese de Mestrado). Instituto Superior Técnico, Lisboa, Portugal. 3 UNITED NATIONS (2015). Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. Nova Iorque, EUA. Acedido a 16/07/2019. 4 TAKEDA PHARMACEUTICAL COMPANY LIMITED (2018). Sustainable value report 2018 - Creating value for patients around the world. Tóquio, Japão. Acedido a 16/07/2019. 5 UNITED NATIONS GLOBAL COMPACT. Advanced Level Criteria (Versão de agosto de 2016).


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INOVAÇÃO

A Importância dos biossimilares hoje e no futuro

Recentemente realizou-se, em Lisboa, um encontro que reuniu dezenas de associações de doentes, promovido pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e a Amgen, no qual a questão dos biossimilares esteve na ordem do dia. Dúvidas sobre estes medicamentos existem, de facto, e o responsável que esclareceu muitos dos mitos que vieram a público foi João Gonçalves, professor associado da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. A ENSP foi representada por Ana Rita Pedro, do Grupo de Investigação em Políticas e Administração de Saúde da ENSP, que abordou o tema sobre a Literacia em Biossimilares. No final houve ainda tempo para O Hospital analisar com João Gonçalves a importãncia dos biossimilares em Portugal e no mundo e saber que peso podem ter as associações de doentes na passagem de informaçao e conhecimento. medicamentos biossimilares incentiva a concorrência no mercado e reduz os preços. Isso torna esses medicamentos mais acessíveis ao SNS e garante que seja sustentável no futuro. O crescimento no mercado dos medicamentos biossimilares significa que muitos portugueses com doenças crónicas terão melhor acesso a estas terapias a custos acessíveis. A introdução de medicamentos biossimilares no mercado também reduz o potencial de escassez destes produtos, através da disponibilização de mais marcas.

João Gonçalves

No contexto atual da Saúde, em Portugal, que importância têm os medicamentos biossimilares para o Estado e para os doentes? O aumento dos custos maioritariamente associados ao envelhecimento da população e ao aumento da esperança de vida, ao aumento da prevalência das doenças novas, à gestão das instituições de saúde e às novas tecnologias pressiona atualmente a sustentabilidade do nosso sistema nacional de saúde Espera-se que os medicamentos biossimilares no SNS proporcionem economias significativas, que podem ser reinvestidas em outras áreas do sistema de saúde em Portugal e melhorem o acesso a medicamentos biológicos, expandindo as opções de tratamento quando os medicamentos se tornarem mais acessíveis. Estará o Estado a obter toda a mais-valia económica potencial, que a introdução de biossimilares poderia trazer para o SNS? Porquê? A maioria dos medicamentos biológicos é comparticipada pelo Estado. A introdução de

A introdução de medicamentos biossimilares já teve um impacto significativo nos custos com saúde e assistência ao doentes em muitos países europeus, nomeadamente do norte da Europa e Ásia. A poupança futura com estes medicamentos serão substanciais, especialmente à medida que mais medicamentos biossimilares estiverem disponíveis em todo o mundo. Na próxima década, à medida que as patentes dos medicamentos biológicos de referência expirarem, muitos outros medicamentos biossimilares estarão disponíveis para os pacientes em todo o mundo, nomeadamente aqueles que são importantes para salvar vidas, como os imuno-oncológicos. Infelizmente, em Portugal, tal como em outros países do sul da Europa, este cenário não é tão otimista. As causas são várias, desde uma mensagem desadequada dos biossimilares que tem sido transmitida, muito por causa dos medicamentos genéricos, até uma desacreditação do potencial pouco inovador destes produtos Será que os portugueses estão conscientes da realidade sobre os biossimilares e das vantagens que estes fármacos podem representar no tratamento das respetivas doenças? Os portugueses precisam de saber que o dinheiro economizado com o uso de medicamentos biossimilares também pode ser usado para tornar estes medicamentos biológicos mais acessíveis a mais doentes ou para melhorar outras áreas de cuidados de saúde. Por exemplo, o crescimento do mercado dos medicamentos biossimilares significa que muitos portugueses com doenças oncológicas e com necessidade de tratamento precoce para salvar vidas poderão ter um melhor acesso a estes medicamentos imuno-oncológicos.


Por outro lado, os portugueses também precisam estar conscientes, que os standards de qualidade destes medicamentos são muitíssimo exigentes. São tecnologias atuais muito inovadoras que são dominadas pelas empresas que colocam estes produtos no mercado. Repare que nos medicamentos mais antigos estamos a falar de produtos que entraram no mercado há 15 ou mais anos. A tecnologia, que foi empregue nessa altura para começar a produzir esses medicamentos originadores, não se compara com a tecnologia que temos hoje para produzir os biossimilares e os medicamentos mais atuais. Portanto, essa reinvenção está a melhorar a qualidade do medicamento a custos mais baixos. Os profissionais de saúde conhecem hoje, realmente, a importância da opção pelos biossimilares, ou ainda há muito que têm dúvidas? Os médicos, farmacêuticos ou enfermeiros sabem que os biossimilares não são medicamentos novos, são os mesmos medicamentos, feitos por outro processo. No entanto, penso que existem ainda lacunas, que devem ser cada vez mais abordadas de uma forma honesta. A informação deve ser imparcial e dar cada vez mais informação credível e situar os profissionais de saúde neste “universo” dos biossimilares. Desde a produção ao controlo de qualidade e aos aspetos clínicos. Infelizmente, a qualidade do medicamento biossimilar continua a ser transmitida de uma forma negativa. Depois a forma como a mensagem é transmitida, aos doentes, também, não é a melhor. A inovação gerada pelos medicamentos biossimilares, não só no preço, mas na forma de abordar a terapêutica biológica e a sua monitorização, é algo que não tínhamos assistido nos últimos 20 anos com tanta intensidade. Que papel podem ter, neste domínio, as associaçoes de doentes? As associações de doentes, com conhecimento adequado dos biossimilares, podem desempenhar um papel fundamental para garantir que se desenvolva uma atenção especial sobre todos os medicamentos biológicos, de modo a que sejam utilizados da forma mais científica e monitorizável. Uma vez que estes medicamentos são muito mais complexos e caros que outros fármacos, é um exercício de cidadania que o dinheiro gasto nestes medicamentos seja feito da melhor forma possível. A gestão do desperdício e racionalização é muito importante que seja feito, mas sem nunca descurar o melhor tratamento possível. As associações de doentes devem lutar para um melhor e maior acesso às terapêuticas biológicas, e muitas vezes isto não significa utilizar o medicamento mais caro. E os profissionais de saúde? Os profissionais de saúde são essenciais neste processo de transição dos medicamentos biológicos originais para os biossimilares. A transição para biossimilares deve ser conduzida por médicos especialistas com experiência na gestão da terapêutica biológica. A informação ao doente deve ser enquadrada de uma forma concisa, positiva e sem ambiguidades. De facto, e uma vez que o biossimilar não é um medicamento novo, o processo regulatório para a aprovação de biossimilares é mais fácil e rápido do que o necessário para o medicamento de referência. As evidências

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disponíveis até o momento não mostraram nenhumas preocupações de qualidade, farmacológicas ou clínicas.

A ENSP e a Amgen organizaram um encontro para debater este tema, em conjunto com associações de doentes. Quais foram as grandes questões e as grandes respostas? As questões abordadas neste encontro foram todos os aspetos referidos anteriormente. Não queremos transmitir que estes medicamentos similares a outros mais caros não têm qualidade, só porque são mais baratos. Queremos dar informação que as pessoas entendam e depois pensem sobre elas. Foi isso que fizemos, no entanto, foi apenas um encontro de informação e é necessário mais ações deste tipo. Uma das preocupações mais importantes ouvidas durante esse evento relacionou-se com a forma como o Estado, através da SPMS, seleciona, negoceia e compra os medicamentos biossimilares para os hospitais. O que se passa e existe algum motivo de reocupação? A minha opinião é muito humilde neste caso. Não tenho respostas seguras para estas perguntas. O meu contributo é para desmistificação dos biossimilares. Em primeiro lugar considero que tem de existir concorrência entre vários medicamentos biossimilares da mesma molécula. Está provado que a presença de um único medicamento biossimilar no mercado, a longo prazo vai ter um impacto reduzido na despesa hospitalar. Existem casos em que isto não ocorre, como na Noruega, mas acho que em Portugal este sistema não funciona. Em segundo lugar, tem de haver um ganho partilhado da utilização dos biossimilares nos hospitais. Os doentes e os clínicos necessitam de sentir, que os esforço logístico de mudança da terapêutica para os biossimilares é sentido na prática, com melhores condições nos serviços, mais hipóteses de tratamento, etc. Em terceiro lugar, os critérios de negociação da entrada dos biossimilares num hospital não deve ser apenas o preço mais baixo. Deve ter em conta outros fatores como o serviço associado ao medicamento, a forma de administração, a inovação associada ao produto (ex. formulação), etc. O mercado dos medicamentos biossimilares tem um futuro promissor em Portugal? O que podem esperar os doentes no futuro? A utilização de biossimilares está destinada a aumentar significativamente no futuro próximo, não apenas para os anticorpos utilizados nas doenças inflamatórias/ autoimunes e oncológicas, mas também para outras terapias biológicas. As lições que estamos a ter neste momento, com os biossimilares, serão extremamente importantes para que a médio prazo os doentes possam ter acesso mais rápido a terapêuticas mais inovadoras e com capacidade curativa como os anticorpos imunooncológicos. As lições sobre a qualidade, eficácia e segurança clínicas destes produtos vão fazer com que os profissionais de saúde possam concentrar-se em fatores críticos do medicamento, que são essenciais à sua atividade e não ficarem reduzidos a dados acessórios sem implicações práticas. É uma necessidade de saúde pública preparar o mercado terapêutico para as novas vagas de biossimilares, que irão acontecer em todo o mundo. Portugal não deve ficar fora deste movimento.


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APDH

ELAINE PINA

Médica Microbiologista

O PAPEL DOS ANTISSÉPTICOS NA INFEÇÃO DO LOCAL CIRÚRGICO A infeção do local cirúrgico (ILC) é uma das infeções associadas aos cuidados de saúde mais frequentes tendo como consequência um aumento de morbilidade, mortalidade e tempo de internamento(1). Nos Estudos de Prevalência europeus realizados pelo ECDC (European Centre for Disease Control) a ILC representou 19,6% (2013) e 18,3% (2017) das infeções adquiridas no hospital tendo sido a segunda (2013) e terceira (2017) infeção mais observada com uma incidência estimada de até 131,803 infeções anuais em 2017(2). No que se refere a custos, é aquela que representa custos mais elevados. Numa avaliação realizada em Portugal em 2012, no âmbito do programa HELICS, os custos adicionais do internamento foram superiores a cinco mil euros na prótese da anca, cirurgia do colon e vesícula(3). Têm sido verificadas reduções significativas das ILC nos países em que se estabeleceram programas de vigilância e prevenção eficazes levando a conclusão de que a ILC é evitável.

Tabela 1. Tendências temporais de ILC nas principais redes nacionais na Europa(4)

Epidemiologia e fatores de risco A probabilidade de surgir uma ILC depende do número, tipo e virulência dos microrganismos presentes no local. O número necessário para provocar infeção é muito menor na presença de corpos estranhos p.ex. implantes (incluindo suturas) ou drenos. Os agentes causais podem ser endógenos (originando do próprio doente) ou exógenos (introduzidos pela equipa, materiais e equipamentos utilizados etc.). Os microrganismos endógenos são geralmente os do microbioma cutâneo ou dos orgãos intervencionados mas podem originar de focos infeciosos de outros locais. O Center for Disease Control

(CDC) dos EUA indica como agentes mais frequentes Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, E. coli, Entoerococcus faecalis e Pseudomonas aeruginosa. Mais raramente podem estar envolvidos fungos(5). Igualmente importantes são fatores relacionados com o doente nomeadamente a idade, estado imunitário e nutricional, outras patologias presentes (diabetes, neoplasia), hábitos como tabagismo ou alcoolismo, que vão determinar a capacidade de montar uma resposta imunitária adequada à agressão cirúrgica. Nem todos estes fatores são modificáveis e alguns só o são a médio prazo. Finalmente, as medidas estruturais (controlo do ar, temperatura e humidade) e organizacionais podem também afetar o processo de forma indireta. Têm sido propostas muitas medidas (mais de oitenta) de prevenção, podendo as mesmas ser agrupadas em medidas pré-, intra- e pós-operatórias havendo também medidas negativas i.é que não devem / não vale a pena serem adotadas dado serem ineficazes. Todas elas têm como objetivo maximizar as defesas do doente e minimizar/eliminar a contaminação impedindo que os microrganismos cheguem aos locais, se fixem nos tecidos intervencionados, e que aí se multipliquem até atingir níveis que possam causar infeção. Entre as medidas pré-operatórias dirigidas ao doente salientam-se aquelas que têm como objetivo tratar qualquer infeção presente (eliminar focos existentes de infeção), controlar a colonização (p.ex.MRSA nasal) ou o banho pré-operatório (reduzir o microbioma cutâneo). Inclui-se aqui a profilaxia antimicrobiana quando indicado (cirurgias com implante, cirurgia limpa-contaminada). Deve-se referir ainda a preparação pré-operatória da equipa cirúrgica (mãos, equipamento de proteção individual). Medidas intra-operatórias incluem controlo do ambiente na sala de operações (ar, temperatura, humidade), controlo de circulação e movimentação de pessoas. No que respeita ao doente, controlo de glicémia, normotermia e boa oxigenação dos tecidos são fatores importantes. Sendo numerosas, torna-se por vezes difícil determinar a importância de cada medida mas em termos gerais


39 pode dizer-se que as medidas com mais impacto serão aquelas que atuam diretamente ou o mais proximamente do campo operatório. Têm sido propostos “feixes de intervenção” de 3 a 6 medidas de eficácia comprovada e que, quando realizadas em conjunto, resultam numa eficácia maior do que a obtida isoladamente. O feixe proposto pelo PPCIRA inclui as seguintes medidas: banho pré-operatório com clorohexidina, administração da profilaxia antibiótica (quando indicada) dentro dos 60 minutos antes da incisão, evitar a tricotomia, manter a normotermia e manter a glicémia em valores ≤180 mg/dl(6). Qual é o papel dos antissépticos na prevenção de ILC? Como já referimos, todas as medidas preconizadas têm como objetivo impedir a proliferação microbiana nos tecidos. Nesse sentido, é lógico que os antimicrobianos tenham um papel preponderante em todas as fases tanto no que se refere ao doente como à equipa cirúrgica e tudo o que vai entrar em contacto com o campo operatório. Vamos referir apenas o seu uso no doente. Embora o banho pré-operatório com antisséptico não seja consensual ele é recomendado nos doentes mais vulneráveis, quando existe colonização com microrganismos multiresistentes p.ex. e está incluido no feixe proposto pelo PPCIRA. Para reduzir ao mínimo a presença de microrganismos na pele do campo operatório é indiscutível a sua antissépsia sendo hoje consensual a superioridade de soluções alcoólicas. No período intra-operatório embora não seja consensual, a OMS sugere a irrigação com iodopovidona diluída nas feridas limpa e limpa-contaminadas. No encerramento são hoje recomendadas as suturas revestidas de triclosan (SRT). Estas suturas foram introduzidas em 2002 com o objetivo de eliminar um foco infecioso no local cirúrgico. Fundamentação para uso de suturas revestidas com triclosan 1. A sutura corresponde a um corpo estranho que está em contacto com a ferida cirúrgica e, como tal, origina a formação de biofilme com aderêcia de microrganismos. 2. A presença de triclosan elimina as bactérias e impede a formação de biofilme. O triclosan é um antisséptico de largo espectro usado em cosmética há mais de 40 anos e que apresenta um perfil farmocinético favorável para uso clínico porque não se acumula no organismo. É libertado em parte para a circulação de forma passiva a partir da sutura e é eliminado (99%) em cerca de 3,8 dias(7).

Tabela 2. Meta-análises prospetivas de ECRs realizados com Suturas revestidas com Triclosan evidenciam redução da incidência de ILC(8-16)

Várias recomendações internacionais e das sociedades científicas, baseadas nas revisões sistematizadas e metaanálises realizadas (Tabela 2) recomendam o uso de suturas revestidas com triclosan (SRT). O seu uso é recomendado tanto nas camadas superficiais como profundas, para todas as cirurgias (OMS), ou mais especificamente na para cirurgias contaminadas e cirurgia abdominal(17) sujas(5) incluindo a pediatria (NICE). Alguns autores sugerem mesmo que o seu uso seja integrado no feixe de intervenções para prevenção da ILC(18) e afirmam ainda que os custos são largamente compensados pelos benefícios das ILC evitadas. Referências Biográficas SW de Jonge, JJ Atema et al. Systematic Review. Meta-analysis and trial sequential analysis of triclosan-coated sutures for the prevention of surgical-site infection. 2017 British Journal of Surgery wwwbjs.co.uk DOI 10.1002/bjs.10445 2. Carl Suetens, Katrien Latour et al. European point prevalence surveys, 2016 to 2017. Euro Surveill. 2018;23(46):pii=1800516. https://doi.org/10.2807/1560-7917.ES.2018.23.46.1800516 3. Elaine Pina, M. José Maia e L. Gabriel Pereira. Programa de VE das ILC – HELICS Cirurgia. PNCI, Junho 2012 4. P. Astagneau e F. L´Heriteau. Surveillance of surgicalsite infections: impact on quality of care and reporting dilemmas. 2010. Curr Opin Infexct Dis 23:306-310 5.Prevention of postoperative wound infections. Recommendation of the Committee for Hospital Hygiene and Infection Prevention (KRINKO) at the Robert Koch Institute. Federal Health Gazette-Health RESEARCH-Health Protection 4 – 2018 6.Norma 020/2015 Feixe de Intervenções de prevenção da ILC. PPCIRA/DGS 15/12/2015 7.X. Wu, NZ. Kubilay et al. Antimicrobial-coated sutures to decrease surgical site infections: a systematic review and meta-analysis. 2016. European Journal of Clinical Microbiology and Infectious Diseases DOI 10.1007/s 10096-016-2765-y 8. Apisarnthanarak A, Singh N, Bandong AN, et al. Triclosan-Coated Sutures Reduce the Risk of Surgical Site Infections: A Systematic Review and Meta-Analysis. Infection Control & Hospital Epidemiology 2015;36:169179. 9.Daoud FC, Edmiston CE Jr, Leaper D. Meta-analysis of prevention of surgical site infections following incision closure with triclosan-coated sutures: Robustness to new evidence. Surg Infect (Larchmt) 2014;15:857858. 10. Daoud FC. Systematic Literature Review Update of the PROUD Trial: Potential Usefulness of a Collaborative Database. Letter to Surf Infect (Larchmt) 2014;15:857858. 11. Edmiston CE, Daoud FC, Leaper D. Is there an evidence-based argument for embracing an antimicrobial (triclosan)-coated suture technology to reduce the risk for surgicalsite infections?: A meta-analysis. Surgery 2013;154:89100. 12. Guo J, Pan LH, Li YX, et al. Efficacy of triclosan-coated sutures for reducing risk of surgical site infection in adults: a meta-analysis of randomized clinical trials. J Surg Res 2016; 201:105117. 13. Sajid MS, Craciunas L, Sains P, et al. Use of antibacterial sutures for skin closure in controlling surgical site infections: a systematic review of published randomized, controlled trials. Gastroenterol Rep 2013;1:4250. 14. Wang ZX, Jiang CP, Cao Y, et al. Systematic review and meta-analysis of triclosan-coated sutures for the prevention of surgical-site infection. Brit J Surg 2013;100:465473. 15. Wu X, Kubilay NZ, Ren J, et al. Antimicrobial-coated sutures to decrease surgical site infections: a systematic review and meta-analysis. Eur J Clin Microbiol Infects Dis. 2016. DOI: 10.1007/s10096-016-2765-y. 16. de Jonge SW, Atema JJ, Solomkin JS, Boersmeester MA. Meta-analysis and trial sequential analysis of triclosan-coated sutures for the prevention of surgical site infection. Brit J Surg. 2017;ePub-DOI: 10.1002/bjs.10445. 17. KA. Ban, JP. Minei et al. American College of Surgeons and Surgical Infection Society: Surgical Site Infection Guidelines, 2016 Update 18. DJ. Leaper, CE Edmiston Jr. e CE. Holy. Systematic Review. Meta-analysis of the potential economic impact following introduction of absorbable antimicrobial sutures. 2017 British Journal of Surgery www.bjs.co.uk DOI 10.1002/bjs.10443. Patrocinado pela Johnson & Johnson. 1.


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APDH

Mais um ano de sucesso do Programa de Intercâmbio HOPE

A Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), enquanto membro da Federação Europeia dos Hospitais (HOPE), fez, mais um ano, parte do Programa de Intercâmbio HOPE sob a direção do Coordenador nacional, Francisco Matoso. Este ano o Programa decorreu entre 6 de maio e 4 de junho de 2019, subordinado ao tema “Gestão em Saúde: Decisão baseada na Evidência”. A Reunião Europeia de Avaliação e Conferência Final tiveram lugar em Liubliana, Eslovénia. Portugal recebeu sete participantes europeus no Programa e enviou sete para o estrangeiro. Programa HOPE em Portugal Com o envolvimento de oito hospitais, de outras instituições de saúde e – mais uma vez – muito graças à grande dedicação dos coordenadores locais, a APDH organizou, através do Gabinete HOPE Portugal, um Programa frutuoso com quatro reuniões nacionais e muitas visitas técnicas. Os participantes europeus vieram a Portugal de sete países distintos e foram acolhidos em oito hospitais diferentes: Sarah Schraml da Áustria e Mette Jensen da Dinamarca, ambas Administradoras hospitalares, ficaram no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte com a coordenadora Cátia Gaspar. Laureano Folgar, Médico de Espanha, fez o estágio no Centro Hospitalar Universitário de São João com a coordenadora Ana Amorim. Linda Fridenberga, Enfermeira chefe da Letónia e Calina Lungu, Gestora de qualidade da Moldávia foram acolhidas no Instituto Português de Oncologia de Coimbra Francisco Gentil e no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra com os coordenadores Rosário Reis e Alexandre Lourenço. Robert Zacniewski, Fisioterapeuta da Polónia fez a maioria do Programa no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca com a coordenadora Sofia Oliveira e uma pequena parte na José de Mello Saúde com a coordenadora Paula Prates. Rebecca Mason, Administradora hospitalar do Reino Unido ficou no Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil e na Unidade Local de Saúde de Matosinhos com os coordenadores Renato Magalhães e Albertina Canastra.

Mette Jensen: “It was a serious programme with great education, but also lots of space for human being and laughs.” Agora em Liubliana A Conferência Final, em Liubliana, reuniu mais de 300 pessoas, entre os quais 123 participantes de 23 países europeus. A Conferência focou-se no tema deste ano, tendo os participantes do Programa discutido sobre o papel dos diferentes tipos e fontes de evidência, tendo em conta o ponto de vista de pesquisadores, decisores, gestores e outros stakeholders. Os participantes colocados em Portugal apresentaram igualmente exemplos das melhores práticas e dos melhores projetos que se praticam no país. No final da Conferência as três melhores apresentações foram: a equipa do Reino Unido em 3º lugar, a equipa da Suíça em 2º e a equipa de Espanha em 1º lugar.

Equipa de Portugal na Agora

Participantes portugueses com o Coordenador nacional na Agora


Participantes portugueses no Programa HOPE

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Sete participantes portugueses fizeram o Programa em seis países diferentes. Todos expressaram que o Programa é uma oportunidade de partilha e de troca de informações com base nas melhores práticas. O Programa também permite o desenvolvimento pessoal, profissional e cultural. André Monteiro, Coordenador da Manutenção da José de Mello Saúde, fez o estágio na Finlândia, onde conheceu novos conceitos na arte de conceção, construção e comissionamento de edifícios hospitalares. Realçou que a importância e foco em temas como formação dos operacionais e otimização de circuitos e tarefas permite um acréscimo interessante na eficiência, monitorização e controlo dos sistemas. Ândrea Figueiredo, Enfermeira no INEM, ficou no Reino Unido e trouxe para Portugal e para a sua instituição dois projetos que são exemplos de mais-valias: o “Scan4Safety” (https://www.scan4safety.nhs.uk/) e o “Fragilidade”, destinado às pessoas idosas ou doentes com pluripatologia, no pré e intra-hospitalar. Carla Fernandes, Professora Auxiliar no Hospital-Escola da Universidade Fernando Pessoa reconheceu o Programa como uma janela para a gestão da saúde na Europa, que alarga horizontes e oferece novas perspetivas. Em França, onde ficou, teve um contacto com áreas diversas, que foram desde a gestão baseada em evidência no planeamento de um novo edifício até ao desenvolvimento de “MHealth” para monitorizar a saúde do utilizador à distância. Elisabete Durão, Administradora hospitalar no Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil fez o estágio em Espanha. Germano Couto, Enfermeiro chefe no Hospital-Escola da Universidade Fernando Pessoa, fez o Programa na Irlanda. Indicou que este lhe permitiu reconhecer as mais-valias e as fragilidades da realidade portuguesa, por comparação, e obter instrumentos para importar e tentar adequar ao local onde exerce. Destacou o projeto “End PJ Paralysis”, um movimento global para vestir as pessoas internadas nas suas roupas diurnas enquanto estão no hospital, em vez de pijamas. Odete Simões, Enfermeira no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central ficou na Finlândia. Apontou como mais valias: a formação contínua dos profissionais (simulações), o desenvolvimento tecnológico na saúde, nomeadamente o conceito de hospital virtual (desenvolvimento de serviços de saúde digitais orientados para o utente), e a arquitetura dos edifícios de saúde. Rita Mayor Rego, Gestora do Programa de Segurança do Doente na José de Mello Saúde fez o Programa num hospital na Holanda onde encontrou um projeto de vigilância da época sazonal da gripe, com o desenvolvimento de um modelo de previsão de fluxos que determina decisões de recursos humanos e materiais.

Rita Mayor Rego: “Ser participante no Programa exige, não só, deixar a zona de conforto para trás, mas também assumir o compromisso de compreender outras culturas, descobrir novas pessoas e aprender de uma forma integrada que extravasa qualquer livro, disciplina académica ou contexto profissional.” Os testemunhos completos podem ser lidos no Site da APDH: http://www.apdh.pt Os participantes usaram as seguintes palavras para descrever o Programa:

Participe no 39º Programa de Intercâmbio HOPE “Boas práticas em gestão da saúde baseada na evidência” 11 de maio a 7 de junho 2020 Conferência Final: 5-7 de junho 2020, Bruxelas, Bélgica Mais informações: http://www.apdh.pt


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APDH

APDH – NOVA IDENTIDADE VISUAL

No âmbito de uma estratégia de renovação interna, a APDH mudou a sua imagem gráfica e apresentou um novo Website. A nova imagem da APDH representa uma vontade de evolução da estratégia da Associação, tanto nas plataformas físicas, quanto digitais, e de maior modernidade na promoção e desenvolvimento da inovação no âmbito da gestão hospitalar a todos os seus associados. “Esta mudança foi por nós considerada fundamental para nos movermos, enquanto Associação, num mundo moderno, indubitavelmente global e digital e tendo por base uma preocupação de maior proximidade com os nossos sócios e parceiros institucionais – tanto presentes quanto futuros” - referiu o Prof. Carlos Pereira Alves, Presidente da Direção da APDH. A nova imagem mantém a essência do logótipo, facilitando o reconhecimento por parte do público – nos seus típicos tons de azul – inspirando valores como ordem, tranquilidade e harmonia mas criando, ainda assim, uma nova sensação de estimulação da criatividade e dinâmica que visa preparar esta APDH, enquanto marca digital, para o futuro. O logótipo, enquanto representação gráfica da identidade da APDH, engloba ainda as três vertentes: atividade assistencial, investigação e formação em saúde que caracterizam a sua atividade principal.

A DIFFERENT VIEW AT THE HOSPITAL Debate Dinner “Value based healthcare. The future of interventional medicine and patient outcomes”

International Keynote Speaker Prof. Dr. Fred van Eenennaam

Lisbon, 18 October 2019

Confirmed Speakers

Chairman of the Value-Based Health Care Center Europe (VBHCE) Has broad experience as strategy consultant, in-company trainer and investor/nonexecutive board member across different industry sectors in Europe and the USA.

Prof. Dr. João Marques Gomes

Director of Nova Institute for Value Improvement in Health and Care

Mrs. Eva M. WeinreichJensen

President of European Hospital and Healthcare Federation (HOPE)

Is founder of the VBHCE, which is based on the value-based healthcare concept by Prof. Michael E. Porter, Ph.D. (Harvard Business School). Each year, under the auspices of various international universities and with Prof. Porter as honorary chairman, the VBHCE organizes the Value-Based Health Care Prize. The Prize’s philosophy is to recognize, embrace and cherish endeavors that redefine health care and honors those doctors, hospitals, institutions and projects that have adopted a new and innovative solution to improve Patient Value. Learn more about the Value-Based Health Care Center Europe in https://www.vbhc.nl/


SAVE THE DATE CONFERÊNCIA

ORGANIZAÇÃO

PARCEIRO INSTITUCIONAL

MEDIA PARTNER

22 nov 2019

Vemo-nos em

2020

Auditório do Edifício-sede da Polícia Judiciária, lisboa

8

º

CONGRESSO

Internacional dos Hospitais

25-27 nov


L I L L Y

A

I N O V A R

P E L A

CIÊNCIA Vivemos numa era fantástica para a medicina. Na Lilly, utilizamos a inovação na ciência para satisfazer as necessidades médicas nas áreas da diabetes, oncologia, imunologia, doenças neurodegenerativas e da dor. Estamos empenhados em utilizar os avanços mais recentes da ciência para melhorar a vida das pessoas em todo o mundo.

PP-LILLY-PT-0014/MAR2019

Ouça as histórias de cientistas da Lilly que estão a transformar o mundo com descobertas inovadoras, em lilly.pt

Lilly Portugal - Produtos Farmacêuticos, Lda. Torre Ocidente, Rua Galileu Galilei, n.º 2, Piso 7, Fração A/D, 1500-392 Lisboa. Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Cascais, sob o número único de matrícula e de pessoa coletiva 500165602. Sociedade por quotas com o capital social de €1.650.000,00.


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