Brasil Presbiteriano - 768 - Novembro 2018

Page 1

Brasil Presbiteriano O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 58 nº 768 – Novembro de 2018

1ª Comissão Executiva da Confederação Nacional de Mocidades Reunião da 1ª Comissão Executiva da Confederação de Mocidades aconteceu entre os dia 21 e 23 de setembro, em Salvador (BA), e reuniu 51 sinodais, 66 delegados e 32 visitantes durante as mais de 20 horas de plenário. Página 14

Sínodo de Dort

Vocação

Pastores em condição de risco

Em 2018 celebramos os 400 anos do Sínodo de Dort. Realizado na cidade de Dordrecht (Holanda), de 13 de novembro de 1618 a 9 de maio de 1619, o sínodo reuniu 102 pensadores e líderes e produziu um documento importante intitulado Cânones de Dort. Página 9

Nos últimos tempos, nos deparamos com inúmeras notícias sobre os riscos, como a síndrome de burnout, esgotamento e depressão. Identificar e entender esses riscos é uma maneira de cuidar melhor da vida de nossos pastores.

Conhecido como Dr. Milagres, Denis Mukwege entendeu o significado de vocação, e é o médico responsável pelo tratamento de vítimas de estupros na região do Congo. Mukwege é o único ginecologista em uma província de 65.000 Km². Página 15

Páginas 10 e 11

Editorial – Povo que habita só, sim. Alienado, não. O diferencial? Obediência ao Deus de Amor.

Página 2


Brasil Presbiteriano

2

Novembro de 2018

EDITORIAL

Brasil Presbiteriano

Só, sim. Alienado, não. “Balaque me fez vir de Arã (...); vem, amaldiçoa-me a Jacó (...). Como posso amaldiçoar a quem Deus não amaldiçoou? (...) Pois do cimo das penhas vejo Israel e dos outeiros o contemplo: eis que é povo que habita só e não será reputado entre as nações (...) Que eu morra a morte dos justos, e o meu fim seja como o dele”. (Nm 23.7-10)

B

alaão disse as palavras acima na sua primeira tentativa de amaldiçoar Israel. Balaque se enfureceu, claro. Balaão estava em cima do muro. De um lado a garantia divina da bênção aos hebreus. Do outro lado uma propina capaz de abalar qualquer teologia liberal. E a cobiça falou mais alto. Não

podendo transformar maldição em bênção, e com o risco de perder uma fortuna, Balaão desenvolveu uma startup chamada festas-pagãs-para-corromper-Israel, conseguiu o like de muitos israelitas, mas o tropeço de BaalPeor saiu caro e o próprio Balaão foi executado na represália (Nm 31.8). Seu desejo “Que (...) meu fim seja como o dele” não foi atendido. Balaão definiu Israel como “povo que habita só e não será reputado entre as nações”, mas o que isso significa? Após a conquista, a Terra Prometida virou um condomínio, com cidades e vilas israelitas ao lado de povoados pagãos. O Senhor, porém, foi claro quanto à necessidade de distinção entre seu povo

Abraham Kuyper (1837— 1920), e muitos em nossos dias. Não é o que praticam pais e mães crentes que zelosamente participam de reuniões de pais e mestres, ou das reuniões de seus condomínios, além dos trabalhadores cristãos que comparecem às assembleias de sindicatos da sua categoria. Tudo isso é envolvimento em política e o povo que habita só não pode se omitir. Esteja quem estiver em Brasília, nosso envolvimento político continua, mesmo enquanto somos o povo que habita só, enquanto estiver valendo que somos sal da terra e luz do mundo. Povo que habita só, sim. Alienado, não. O diferencial? Obediência ao Deus de Amor, o fiel Senhor da Aliança.

e todos os povos (Dt 7.15). O motivo era o fato de Israel ser “povo santo ao Senhor” (v.6). O diferencial seria a observância da lei de Deus, que o Senhor havia dado como prova de amor por seu povo e de fidelidade à aliança (v.8). Ou seja, Israel pode cruzar Moabe, mas não pode cair na farra de Baal-Peor. Lição a ser lembrada por Israel hoje, uma vez que vivemos em uma sociedade não cristã. Alguns crentes pensam que o cristão não deve se envolver em política. Querem isolamento total. Isso não foi, porém, o que praticaram nossos irmãos na fé, José do Egito, Daniel da Babilônia, Ester de Susã, Mordecai seu tio e, mais recentemente, William Wilberforce (1759—1833),

JORNAL BRASIL PRESBITERIANO

Assinatura Anual – Envio mensal

Faça sua assinatura e/ou presenteie seus familiares e amigos.

• Individual (até 9 assinaturas): R$ 27,00 cada assinatura.

Nome CPF Igreja de que é membro Endereço Bairro Cidade Email Mês inicial da assinatura

Somente com depósito antecipado ou cartão VISA.

RG

• Coletiva (10 ou mais assinaturas): R$ 24,00 cada assinatura. CEP

Bra Pressbilit e

UF Telefone Quantidade de assinaturas

39ª Reuniã

o Ordinária

Formas de pagamento:

Grátis! Depósito bancário (anexar ao cupom o comprovante de depósito) Uma assinatura para Banco do Brasil Banco Bradesco Banco Itaú pacotes de 10 ou mais C/C 2093-1 C/C 80850-4 C/C 51880-3 assinaturas. Ag. 5853-X Ag. 0119-8 Ag. 0174 Cartão VISA Nº do cartão Nome do titular

Validade Código de segurança

Após efetuar o depósito, informá-lo pelo telefone (11) 3207-7099 ou email assinatura@cep.org.br

IP INDÍGE

NA NO

LIBERDADE DE

CONSCIÊN CIA – Qual

O Jornal

Págin a6

o papel

riano o Concílio A 39ª RO aconte -SC ceu ent os dias re 22 e 29 de julh o em Ág de 2018 uas de Lindoi a veram (SP), estipre cerca de sentes 170 0 pessoa s. Mesa do A nova mo Con SupreIPB (20 cílio da 18 - 202 foi ele 2) ita te a reu durannião.

OS PAL

Páginas 10

IATIVOS MÃOS E

A Asso ciação de dirigida pela Cap Capelania na Vassão, Saúde elã Hosp elab (ACS), para prep ora e ofere italar da IPB, ce que sofre aração de igrej cursos espe Eleny ciais m. as para o cuidado dos

fundament al dos funci onários seculares : julgar

Págin a 12

crenças ou

Brasil Pres biteriano da Igreja é Presbiter órgão oficial Ano 58 nº 765 – iana do Brasil Agosto de 2018

do Suprem

NAS CUIDAD

e 11

CORAÇÃ

O

Treiname trabalho nto voltado para capacitaç em Cuia com crianças ão ao acontece bá 300 parti - MT, e cont u em junh ou o Matogroscipantes de igrej com mais sense. as do Síno de do

proteger a liberdade religiosa e seu

Rua Miguel Teles Júnior, 394 Cambuci, São Paulo – SP CEP: 01540-040 Telefone: (11) 3207-7099 E-mail: bp@ipb.org.br assinatura@cep.org.br

Órgão Oficial da

www.ipb.org.br Uma publicação do Conselho de Educação Cristã e Publicações Conselho de Educação Cristã e Publicações (CECEP) Clodoaldo Waldemar Furlan (Presidente) Domingos da Silva Dias (Vice-presidente) José Romeu da Silva (Secretário) Alexandre Henrique Moraes de Almeida Anízio Alves Borges Hermisten Maia Pereira da Costa Misael Batista do Nascimento Walcyr Gonçalves Conselho Editorial do BP Março 2018 a março 2020 Cláudio Marra (Presidente) Anízio Alves Borges Ciro Aimbiré Moraes Santos Clodoaldo Waldemar Furlan Hermisten Maia Pereira da Costa Jailto Lima do Nascimento Natsan Pinheiro Matias

EDITORA CULTURA CRISTÃ

Rua Miguel Teles Júnior, 394 – Cambuci 01540-040 – São Paulo – SP – Brasil Fone (11) 3207-7099 Fax (11) 3209-1255 www.editoraculturacrista.com.br cep@cep.org.br 0800-0141963 Superintendente Haveraldo Ferreira Vargas

AMAZO

Líderes de igrejas indígenas participa de curs m o plantado para igrejas res de ministrad em Man o aus pelos Revs . Alcedir Sentalin e Rona ldo Lidório, autor do livro Plan Igrejas tando da Edit ora Cultura Cristã.

Ano 58, nº 768 Novembro de 2018

livre exerc ício?

Editor Cláudio Antônio Batista Marra Editores Assistentes Eduardo Assis Gonçalves Márcia Barbutti de Lima Produtora Mariana P. Anjos Edição e textos Gabriela Cesário E-mail: bp@ipb.org.br Diagramação Aristides Neto

Págin a 17 Págin a 18

Impressão


Brasil Presbiteriano

Novembro de 2018

3

TEOLOGIA E VIDA

A Glória de Cristo na pregação expositiva Hermisten Costa

A

pregação expositiva reconhece a glória de Deus, exalta a Cristo e a sua Palavra. Assim, a pregação que não exalta a Cristo está distante de seu alvo. Somente a pregação expositiva da Escritura faz jus ao seu tema central que é Cristo para quem tudo converge. Enquanto não resgatarmos essa compreensão e a sua prática ardorosa e sistemática, a igreja estará fadada a viver em uma profundidade epidérmica do que nos foi dado conhecer e vivenciar. Os momentos de maior fortalecimento da igreja sempre estiveram associados à compreensão da natureza gloriosa de Jesus. Por outro lado, a igreja entra em decadência espiritual, a sua pregação se desvia das Escrituras, quando ela perde a dimensão da glória, grandeza e singularidade de Cristo. Fica claro que a pregação expositiva é um dos indicadores do lugar que Cristo ocupa na igreja. Um historiador da pregação, afirma que: “O declínio da vida e da atividade espiritual nas igrejas é geralmente acompanhado por um tipo de pregação formal, sem vida e infrutífera, e isso parcialmente como causa e parcialmente como efeito. Por outro lado, os grandes reavivamentos da história cristã usual-

mente remontam à obra do púlpito, e, no decurso do seu progresso, têm desenvolvido e tornado possível um alto nível de pregação” (Edwin C. Dargan). Por isso, como declara Stott, é que “o segredo essencial não é dominar certas técnicas, mas ser dominados por determinadas convicções. A teologia é mais importante do que a metodologia”. Na mesma linha escreveu MacArthur: “Não é a engenhosidade de nossos métodos, nem as técnicas de nosso ministério, nem a perspicácia de nossos sermões que trazem poder ao nosso testemunho. É a obediência a um Deus santo e a fidelidade ao seu justo padrão em nosso viver diário”. Estamos convencidos de que a pregação, juntamente com a adoração congregacional se constituem em termômetro espiritual da igreja. Insistimos: a igreja nunca estará acima de seu púlpito, do que lhe é ensinada continuamente. A Reforma espiritual da igreja começa pelo púlpito, por aquilo que é pregado e ensinado, acompanhado de oração, suplicando a misericórdia de Deus que ilumine as nossas mentes e aqueça os nossos corações nos conduzindo ao arrependimento e à obediência. Essa transformação se estende à vida e família dos fiéis, e faz diferença em todos os

seus relacionamentos. Vale lembrar que o estudo e o ensino da doutrina não visam mostrar o quanto conhecemos a Palavra e, ao mesmo tempo, o quão distante estão os outros de conhecerem como conhecemos. Esse tipo de farisaísmo religioso, arrogante e satisfeito consigo mesmo,

"Os momentos de maior fortalecimento da igreja sempre estiveram associados à compreensão da natureza gloriosa de Jesus." identificador prazeroso dos erros dos demais, colocando-se num patamar acima, deve estar distante de nós. Esse tipo de pensamento e comportamento é o que há de mais estranho ao verdadeiro conhecimento pessoal de Deus por meio de sua Palavra e à nossa vivência com ele. O conhecimento de Deus nunca é estéril, antes, é frutífero em obediência e piedade. Portanto, não esperemos agradar a Deus sendolhe desobediente, desonrando o seu Filho. Um dos pontos cruciais

da Reforma, herdado dos pré-reformadores, foi a supremacia de Cristo sobre a Igreja. A Igreja não pertence a homens. Ela deve ser governada por Cristo que o faz por meio de sua Palavra. A igreja como Corpo de Cristo deve ser seu agente na História, evidenciando a supremacia dele em sua fé, ensinamentos e atitudes. O pré-reformador João Huss (c. 13691415) morreu por essa verdade, sendo queimado vivo em 1415. A igreja como Corpo de Cristo tem sido fortalecida na força de seu poder e, é por isso que ela ultrapassa em muito a nossa capacidade de compreensão e explicação. Ela é o povo de Deus, os ramos da videira, o edifício fundamentado em Cristo, as ovelhas, sob a direção e cuidado do Sumo Pastor. Somos o povo de Deus, propriedade exclusiva dele (1Pe 2.9-10). Ninguém poderá nos destruir. O Senhor reina sobre todas as coisas e a Igreja é o seu corpo presente na História que está sendo formado e aperfeiçoado até a consumação vitoriosa de sua obra. Em Efésios 1.16-23 o apóstolo ora para que a igreja, mesmo nos momentos de abatimento e fraqueza tenha os seus olhos iluminados para saber essa verdade revelada, compreendendo-a pelo Espírito de sabedoria que nos foi concedido.

A cosmovisão cristã não se aplica apenas a esta vida, antes, tem um sentido escatológico, aponta para o fim, quando Cristo será plenamente glorificado, consumando a sua obra na criação. A escatologia é a consumação natural do plano de Deus na sua historificação temporal. A escatologia é precedida de uma história realizada – vivemos a agimos em correspondência à nossa fé e vocação. A História aponta para uma escatologia decisiva. Desse modo, olhando pelo prisma da escatologia, podemos dizer que a História é escatológica, visto que para lá ela caminha de forma progressiva e realizante. A escatologia confere sentido à História. A fé cristã respalda-se em um fato histórico, e nutre-se da esperança que emana da promessa de Deus. Jesus também anela pela conclusão de sua obra quando ele estará completo como cabeça, tendo o seu corpo completado e perfeito, totalmente enchido por ele (Ef 1.23). Já nesse estado de existência, a Igreja pode declarar com fé em alto e bom som: ninguém poderá nos separar do amor de Deus (Rm 8.31-39). O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa integra a equipe de pastores da 1ª IP São Bernardo do Campo, São Paulo, SP, ensina teologia no JMC, é membro do CECEP e do Conselho Editorial do Brasil Presbiteriano


Brasil Presbiteriano

4

Novembro de 2018

PROFESSOR QUE É PROFESSOR

Métodos didáticos (3) Nesta edição, a décima terceira da série, apresentamos ao professor uma terceira e última lista de métodos diversos coletados em diversas fontes. Cláudio Marra

Uma lista final (por enquanto) de métodos. Ajuda mútua – Alunos ajudam uns aos outros a realizar diversas tarefas propostas. O objetivo é ensinar aos alunos o conteúdo bíblico e, ao mesmo tempo, desenvolver o serviço cristão. Apresentação baseada em perguntas – Vários pequenos grupos elaboram perguntas para que, em seguida, um especialista faça uma apresentação com base nessas questões. Apresentação musical – Alunos ouvem uma gravação ou apresentação musical ao vivo e a discutem com o objetivo de entender melhor o tema que está sendo estudado pela classe. Avaliação – Professores usam vários meios para identificar o nível de compreensão dos alunos do conteúdo apresentado e para esclarecer temas que anuncio_BP_MW_anuncio_MW_BP

TERÇA

12h

estão sendo estudados. Cartazes com palavras – Alunos recortam palavras ou frases descritivas de uma revista ou de um jornal e colam-nas em um cartaz para representar sua compreensão do tema que está sendo estudado. Compartilhar – Alunos interagem uns com os outros a respeito de algo que extraíram de um estudo bíblico. Discussão em grupo – Em pequenos grupos, alunos discutem suas impressões de um filme, uma apresentação, uma aula expositiva, etc. Discussão em painel – Várias pessoas qualificadas discutem determinado assunto enquanto a classe observa e ouve. Encontre o erro – Faça uma afirmação que revise o conteúdo, mas que traga um erro. O objetivo é que os alunos identifiquem que parte da afirmação está incorreta. 10/18/18 11:18 PM Page 1

Entrevistas – Alunos fazem perguntas a alguém para obter informação acerca da Bíblia ou de situações de vida. As entrevistas podem ser feitas em aula ou em outro momento. Estudo bíblico indutivo – Estudo bíblico por meio de perguntas como “O que esta passagem diz?”, “O que isso significa?”, “Que diferença faz?”. Flanelógrafo – Professores usam figuras, palavras, etc., em um quadro revestido de flanela para representar o que desejam comunicar. Fórum – Depois de um debate, uma entrevista, uma palestra, um painel, um sermão ou outro modo formal de apresentação, segue-se uma discussão aberta, ou fórum. Grafite – Em forma de grafite, alunos escrevem resumidamente sua reação ao tema em questão sobre um pedaço de papel kraft fixado à parede.

Missão Mundo. Um panorama do que acontece na Igreja Presbiteriana do Brasil e no mundo presbiteriano. Apresentação, rev. Gilberto Barbosa. Um programa APECOM. Toda terça, 12h, ao vivo na IPB3, a rádio com imagem no Youtube, Facebook, Portal IPB e “on demand” também no Podomatic, iTunes, Spotify e no seu agregador de RSS preferido. Não deixe de ver, ouvir e compartilhar.

História paralela – Alunos escrevem uma história contemporânea paralela a uma narrativa bíblica. Linha do tempo – Alunos trabalham em grupo para apresentar uma cronologia de acontecimentos bíblicos. A linha do tempo pode ser desenhada em papel kraft fixado à parede da sala de aula. Manchete – Alunos criam manchetes para resumir o tema que está sendo estudado pela classe. Oração – Alunos oram em resposta a uma reflexão sobre o conteúdo bíblico. Pesquisa – Estudos individuais ou em grupo que usem comentários, concordâncias, dicionários, enciclopédias, etc. Pode-se fazer esse trabalho dentro ou fora de sala de aula. Ele permite que o aluno desenvolva uma série de aptidões e também obtenha conhecimento do conteúdo bíblico. Projetos – Alunos reali-

zam uma ação prática em preparo ou como resultado de um estudo bíblico (por exemplo, enviar cartões para enfermos ou idosos no Natal). Reportagem – Alunos escrevem reportagens imaginárias para resumir o assunto da lição. Resolução de problemas – Alunos elaboram maneiras de resolver problemas apresentados pelo professor ou resultantes de seu estudo da Bíblia. Tanto o meio como o conteúdo da solução proposta são relevantes. Existem outras sugestões de métodos didáticos. Você poderá pesquisá-los e, além deles, criar os seus próprios. Na próxima edição, “Professor que é professor assiste aulas de outros professores e anota ideias” O Rev. Cláudio Marra é autor do livro A Igreja Discipuladora, professor de Homilética e Pregação no JMC e o Editor da Cultura Cristã

rádioipb

A rádio com imagem

ipb.org.br/ipb3 • radioipb.com.br/ipb3 • youtube.com/ipbtv • facebook.com/ipb.org.br


Brasil Presbiteriano

Novembro de 2018

5

GOTAS DE ESPERANÇA

Eu sou o meu maior problema “Desventurado homem que sou!” (Rm 7.24). Hernandes Dias Lopes

N

ão é uma questão de retórica não; de fato, eu sou o meu maior problema. Sou uma pessoa mais complicada do que aquelas que estão ao meu redor podem perceber. Sou a fonte dos meus maiores dissabores e poucas vezes de minhas mais saborosas alegrias. Elencarei aqui algumas razões por que eu sou o meu maior problema. Em primeiro lugar, porque embora salvo da condenação do pecado, ainda cometo terríveis transgressões. Não obstante ter sido regenerado, ainda tenho um coração inclinado ao mal. Meu coração cogita o que não é santo, meus olhos veem o que não é puro e minhas mãos fazem o que não é reto. Minha língua, às vezes, murmura em vez de adorar a Deus. Meus lábios se abrem para falar mal daqueles que foram criados à imagem e semelhança de Deus, em vez de abençoá-los com palavras de sabedoria. Meus pés, são inclinados a se desviarem em vez de andarem em retas veredas. Ah, desventurado homem que sou! Em segundo lugar, porque tenho a tendência de enxergar um cisco nos olhos do meu irmão e não

ver uma tábua encravada nos meus próprios olhos. Sou complacente com os meus erros e implacável com as falhas do meu próximo. Vejo as mínimas deficiências nos outros e não consigo diagnosticar pecados gritantes em mim mesmo. Sou exigente com os outros e muito tolerante comigo. Sou inflexível quando se trata de cobrar dos outros, mas extremamente complacente comigo mesmo. Condeno nos outros o que não tenho coragem de confrontar no meu próprio coração. Muitas vezes, afivelo no rosto uma grossa máscara de piedade, quando o que desfila garbosamente na feira das vaidades é uma deslavada hipocrisia. Ah, desventurado homem que sou! Em terceiro lugar, por-

que faço promessas a Deus e ao próximo acerca daquilo que não tenho a disposição de cumprir. Como sou pródigo em minhas promessas a Deus! Digo a ele que o amo, mas entristeço-o com meus pecados. Prometolhe sincera amizade, mas não faço o que ele manda. Alardeio minha inegociável fidelidade, mas troco-o, com frequência, por um prato raso de prazeres efêmeros. Faço estudos profundos sobre oração, mas meus joelhos não se dobram em deleitosa adoração. Ergo minha voz e digo para todos que sou um embaixador, mas me calo covardemente tantas vezes, deixando de anunciar as boas novas do evangelho aos que perecem em seus pecados. Reconheço que sou apenas

mordomo e não o dono do que está em minhas mãos, mas nem sequer entrego a ele, com fidelidade, os dízimos e as ofertas. Ah, desventurado homem que sou! Em quarto lugar, porque minha vida nem sempre é avalista de minhas palavras. Minhas palavras são mais bonitas do que minhas obras. Sou como a figueira cheia de folhas, mas desprovida de frutos. Toco trombeta quando dou um esmola, mas faço-o para que as pessoas vejam quão generoso eu sou. Gosto de ser reconhecido pelos homens e deles receber aplausos mais do que agradar a Deus, que tudo vê em secreto. Escoam dos meus lábios torrentes de palavras bonitas, para impressionar as pessoas que só veem minha apa-

rência, mas escondo no coração cogitações perversas que fariam afastar de mim os meus mais achegados amigos. Ah, desventurado homem que sou! Em quinto lugar, porque sou um ser contraditório que acabo fazendo o que detesto e deixando de fazer o que aprovo. Meu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. É um laboratório que produz, em larga escala, o que traz desonra para Deus e ofensa para o próximo. Sou um ser a tal ponto paradoxal, que o bem que eu quero fazer, não faço e o mal que não quero, esse pratico. Meus lábios na mesma medida que adoram a Deus com cânticos espirituais no templo, ferem os irmãos como palavras grosseiras no pátio da igreja. Alteio minha voz para dizer que sou um pacificador, mas muitas vezes, acabo semeando contendas entre os irmãos, o pecado que Deus mais abomina. Ah, desventurado homem que sou! Minha esperança não está em quem sou nem no que faço, mas na graça daquele que tudo fez por mim, morrendo na cruz em meu lugar, para me dar a vida eterna! O Rev. Hernandes Dias Lopes é o Diretor Executivo de Luz para o Caminho e colunista regular do Brasil Presbiteriano.


Brasil Presbiteriano

6

Novembro de 2018

RESENHA

A missão discipuladora da Igreja “(…) ide, fazei discípulos de todas as nações (...)” (Mt 28.19). Gabriela Cesário

J

esus nos confiou uma única missão, fazer discípulos. Nossa essência deve ser discipuladora, devemos cumprir a missão enquanto pessoas, líderes e Igreja. Muitas vezes, porém, desviamos o foco e deixamos de lado a tarefa de que Cristo nos incumbiu. O livro A Igreja Discipuladora traz reflexões e sugestões de como desempenhar nossa missão de modo excelente para a glória de Deus. Escrito por Cláudio Marra, editor desde 1992 da Cultura Cristã, pastor, professor e jornalista, A Igreja Discipuladora é dividido em 5 capítulos que buscam ajudar na revitalização da igreja e conscientizar os líderes, começando pelo ministro, sobre a importân-

cia do discipulado. Para isso, Cláudio Marra discorre sobre o ensino da Palavra desde os tempos dos Profetas até os dias atuais; sobre os princípios bíblicos do discipulado; nos apresenta o ministério discipulador de Richard Baxter (1615–1691), pastor piedoso que viveu na Inglaterra e revitalizou o trabalho cristão na paróquia de Kidderminster; elenca as barreiras para o discipulado e apresenta orientações para sermos uma igreja que vive a missão de Cristo. Com dados e fatos históricos (vários poucos conhecidos), passagens bíblicas e fundamento teológico, a obra publicada pela Editora Cultura Cristã é recomendada para pastores e líderes, tanto membros do Conselho quanto professores da EBD, que estejam

buscando restaurar o ensino na prática e em todas as camadas da igreja, começando por eles mesmos: trabalhando as convicções pessoais e a dedicação do ministério.

Diferente de muitos números sobre vida cristã e discipulado, A Igreja Discipuladora é um livro de leitura profunda, que nos incentiva a estudar o que nos está sendo apresentado, consultar as notas e rodapés e buscar maiores reflexões

na Palavra para alcançarmos um aprendizado mais completo e harmonioso. O Presbítero Francisco Solano Portela Neto, na apresentação do livro, define A Igreja Discipuladora como “um trabalho destinado a provocar a reflexão almejando o arrependimento e a correção de rumos de líderes que tenham relegado a um segundo plano a tarefa da Igreja na área do ensino. É, também, um livro prático que não somente critica, mas traz soluções respaldadas e extraídas da Escrituras, que podem e devem ser aplicadas em nossas igrejas”. Em tempos de fluidez em que tudo é líquido, incluindo a espiritualidade de muitos, A Igreja Discipuladora vem como uma ferramenta eficaz para que a Igreja retome sua essência de uma fé sólida, firmada em Cristo, baseado no ensino da Verdade e focada na missão deixada por Jesus.

MEMÓRIA

BP ano II Órgão oficial da IPB, o jornal Brasil Presbiteriano sempre buscou trazer material pertinente à sociedade e a igreja Reformada, seja sobre eventos, história ou alguma devocional. Matérias, vídeos e postagens em redes sociais, como Facebook, Instagram e What-

sApp, sobre perseguição cristã nos tempos atuais são muito comuns. Infelizmente, muitos cristãos não podem professar e nem praticar de maneira pública sua fé, pois correm risco de vida. Na edição de outubro/18 do BP publicamos uma matéria com dados de pesquisas

da Portas Abertas. Segundo a organização, cerca de 200 milhões de cristãos são perseguidos nos mundo atualmente. Acontece que muitas vezes nós esquecemos que a perseguição à fé é algo que vem nos acompanhando desde antes da época contemporânea. Prova

disso é a matéria publicada pelo BP em 1959 sobre a Perseguição à minoria cristã na Colômbia. Algo que vem dos tempos dos apóstolos. Igreja Perseguida é uma realidade. Esteja em oração por todos os irmãos de fé que vivem em países que não aceitam sua fé e o cristianismo.

A segunda edição do livro foi lançada durante o 5º Congresso Nacional de Educação Cristã, que aconteceu em setembro no campus da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A Igreja Discipuladora de Cláudio Marra está disponível para compras no site da Editora Cultura Cristã através do link w w w. e d i t o r a c u l t u r a crista.com.br/loja/livro/ igreja-discipuladora-a-807. A jornalista Gabriela Cesário é responsável pela edição do Brasil Presbiteriano.


Brasil Presbiteriano

Novembro de 2018

7

MISSÕES TRANSCULTURAIS

Família Fogaça realiza tradução da Bíblia em Timor-Leste J

essé, Helem e Rebeca Fogaça são missionários da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT) e da Australian Society for Indigenous Languages (AuSIL). Atualmente, a família Fogaça trabalha com a tradução da Bíblia no Timor-Leste, uma pequena ilha localizada no Sudeste da Ásia. Na ilha há mais de 20 grupos etnolinguístico distintos, e apenas uma dessas línguas possui significativa porção do Novo Testamento. A família Fogaça já finalizou a tradução do Evangelho de João, e está em andamento com a tradução do Antigo Testamento – já foi finalizada a do livro de Daniel, e alguns salmos foram preparados para o processo final de aprovação da tradução. No entanto, o foco da equipe de tradução para o

Tétum Dili (língua nacional e co-oficial de Timor-Leste) será terminar a revisão do Novo Testamento para a sua impressão completa. Recentemente, a família de missionários está recebendo auxílio de Ray e Glenda Leach, missionários australianos aposentados, residentes na cidade de Melbourne. Eles, com seus quatro filhos foram missionários por quase 40 anos na Papua Nova Guiné. Aos 70 anos de idade, Ray e Glenda se voluntariaram a dedicar quatro semanas de trabalho em Timor-Leste. Ray, muito habilidoso, construiu uma cozinha e uma pequena sala de gravação, na casa que os Fogaças estão usando para trabalhar na tradução. Timor-Leste é um país de tradição oral, com um baixo índice de alfabetização, por isso, é de grande importân-

cia a construção da sala de gravação, para os missionários produzirem em áudio tudo o que traduzirem. A presença de Glenda foi um refrigério para toda a equipe. Ela foi responsável por ministrar cursos de costura e gastronomia. Os Leachs planejam voltar em 2019, para ajudar os Fogaça a pintar a casa e no que for possível. Além do auxílio do casal australiano, a Igreja de Timor-Leste recebeu auxílio de uma igreja que se comprometeu a abençoar o povo timorense por meio do custeio da impressão do Breve Catecismo. Foram impressas três mil cópias do material para o curso e em julho foi realizada uma semana de treinamento para a liderança nacional das igrejas timorenses. A família Fogaça está no

Brasil para uma temporada de visitas à família, check-up médico, fechamento de novas parcerias, revisão do Novo Testamento para a língua Tetum Dili e, é claro, descanso. Durante o período revesam hospedagem entre São Paulo e Brasília e visitam igrejas e parceiros para contar sobre a obra do

Senhor em Timor-Leste. Caso tenha interesse de receber notícias sobre o trabalho missionário da família e/ou apoiar com o custeio de impressão e tradução da Bíblia no Timor-Leste, entre em contato através do e-mail jessefogaca@ apmt.org.br ou helem_fogaca@sil.org.

NO BRASIL E NO MUNDO

Profissionais de MSF avaliam a situação na Indonésia após terremoto e tsunami A equipe é composta por médicos, logísticos e especialistas em água e saneamento Uma equipe da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) chegou no dia 02 de outubro, à cidade de Palu, na Indonésia. O objetivo era avaliar a situação no local após o terremoto e o tsunami que atingiram a região central de Sulawesi,

no dia 28 de setembro. O último relatório da Agência Nacional de Gestão de Desastres (NDMA) afirma que 1.234 pessoas morreram, mais de 799 ficaram gravemente feridas e 99 ainda estão desaparecidas. Esse número deve aumentar à medida que mais áreas se tornarem acessíveis e o governo realizar mais avaliações. Estima-se que 66 mil casas foram danificadas e quase 62 mil

pessoas foram deslocadas e se abrigam agora em mais de 100 locais. Muitos deslocados não têm abrigos e outros estão abrigados em tendas. Edifícios, incluindo casas, lojas, mesquitas e hotéis, desmoronaram, foram destruídos ou sofreram grandes danos. Isso inclui o hospital Undata, na cidade de Palu, que foi visitado pela equipe de MSF. No entanto, ele continua operacional, com os

pacientes sendo atendidos fora do prédio. O governo da Indonésia, responsável pela NDMA, indicou que os recursos nacionais de busca e resgate são suficientes para a atual resposta ao terremoto/tsunami. Portanto, todas as equipes internacionais de busca e resgate que estão em estado de prontidão foram solicitadas a se retirar. Fonte: Médicos sem Fronteiras


Brasil Presbiteriano

8

Novembro de 2018

EDUCAÇÃO MISSIONAL

Nasce na Espanha o Instituto Presbiteriano de Teologia Carlos del Pino

S

abemos por Mateus 28.19-20 que o “ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei”, devidamente associado ao “batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, compõe a ação missionária fundamental da igreja que é o “fazer discípulos de todas as nações”. Não há, portanto, trabalho missionário destituído do ensino integral da palavra de Deus que tem como objetivo levarnos, como cristãos, à obediência a Cristo em todos os níveis da nossa vida. Nesse sentido, uma faceta essencial do trabalho missionário é, sem dúvida,

a formação do caráter de Cristo na vida dos novos e dos antigos crentes. Essa é uma prática permanente que deve ocorrer por meio de todas as suas possíveis dimensões: pelo discipulado básico e prático, pelo aconselhamento, pelo catecumenato, pelo exercício dos dons, talentos e ministérios na vida da igreja, bem como por meio de uma formação bíblico-teológica-missionária mais ampla e formal. Entre outras definições podemos dizer que uma igreja missionária é também uma igreja ensinadora e formadora de Cristo na vida das pessoas; trata-se de uma igreja que, ao esmerar-se no ensino,

busca “preparar/aperfeiçoar os santos para a obra do ministério e para que o corpo de Cristo seja edificado” (Ef 4.12). Esse é um trabalho lento e sólido, que deve ser tratado com dedicação e com seriedade; é parte da nossa missão como igreja no mundo. Após 30 anos de trabalho missionário na Espanha, a nossa Iglesia Evangélica Presbiteriana de España começa a dar passos concretos para o estabelecimento de um centro de reflexão e formação cristã: o Instituto Presbiteriano de Teologia. Inicialmente começaremos oferecendo um curso de formação para a liderança das nossas igrejas (presbíteros, diáco-

nos, pregadores, professores de Escola Dominical, evangelistas, etc.) com dois anos de duração. Futuramente, com a graça de Deus, pretendemos oferecer também formação teológico-pastoral e teológico-missionária, bem como publicações de obras que sejam relevantes para a formação cristã, teológica, pastoral e missionária das nossas igrejas. Nosso objetivo e desejo é a formação de líderes que exerçam seus dons, ofícios e ministérios com dedicação e consagração ao Senhor, com humildade e sincero desejo de servir, com integridade e credibilidade, com respeito e integração, com coopera-

ção e desejo de contribuir, com espiritualidade e solidez bíblica, com boa teologia e acentuada prática pastoral e missionária. Por fim, é muito importante contar com as orações e o apoio da nossa querida IPB, ajudando-nos na formação e no estabelecimento de mais esse trabalho missionário pioneiro que o Senhor tem posto em nossas mãos aqui na Espanha. Juntos pela evangelização e pela formação da liderança presbiteriana espanhola! O Rev. Carlos del Pino é pastor e missionário da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT), atualmente coordena o projeto Base Europa e trabalha com a Iglesia Evangélica Presbiteriana de España.

INCLUSÃO SOCIAL

SBB promove o 12o Encontro de Pessoas com Deficiência Visual N

o dia 6 de outubro, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) promoveu a 12ª edição do Encontro de Pessoas com Deficiência Visual no município de Barueri (SP). Realizado tradicionalmente no Centro de Eventos – Museu da Bíblia (MuBi), o encontro teve como tema “Bíblia Sagrada: o livro da esperança", alusivo ao Ano da Bíblia,

celebrado em 2018. O destaque da programação desse encontro – voltado para pessoas com deficiência visual, seus familiares e organizações que trabalham com inclusão social e fortalecimento de vínculos familiares – foi a palestra “Bíblia Sagrada: o livro da esperança”, proferida por Mário Rost, gerente de Desenvolvimento

Institucional da SBB. O evento também contou com apresentação do Coral Projeto Emancipar e recreação infantil, entre outras atrações. A SBB ofereceu transporte gratuito para quem se interessou em participar do encontro. Os participantes contaram ainda com serviço de audiodescrição, a cargo de Lívia Motta, especia-

lista na ‎área e parceira da SBB nesses eventos. A iniciativa da SBB integra o programa Acolher Pessoas com Deficiência Visual, que busca tornar a Bíblia Sagrada acessível a todas as pessoas e, por meio dela, promover a inclusão social, o desenvolvimento cultural e o amparo espiritual a esse público.


Brasil Presbiteriano

Novembro de 2018

9

400 ANOS DE DORT E A REPÚBLICA

O Sínodo de Dort Misael Nascimento

O

sínodo realizado na cidade de Dordrecht (Holanda), de 13 de novembro de 1618 a 9 de maio de 1619, reuniu 102 pensadores e líderes e produziu um documento importante intitulado Cânones de Dort.* Se em 2017 os protestantes celebraram os 500 anos da Reforma, agora agradecem ao Senhor pelos 400 anos do Sínodo de Dort. Ao organizar a doutrina bíblica da salvação, os Cânones fornecem ensino digno de atenção para o momento presente da política em nosso país. O primeiro artigo explica o ensino sobre depravação total e afirma, com base em Romanos 3.19, 23; 6.23, que “toda a humanidade é condenável perante Deus”. Um desdobramento disso é que, por causa da queda, mesmo as pessoas mais louváveis são pecadoras que podem ser corrompidas. Notemos que esta doutrina veda qualquer ilusão de justiça própria ou perfeição política. O único homem incorruptível que pisou nesta terra foi Jesus Cristo. Os que abraçam esse artigo de fé assumem que não é a política que corrompe as pessoas e sim o pecado em cada pessoa que corrompe a política. Mesmo o “melhor candi-

dato” abriga desonestidade ou, na melhor das hipóteses, fragilidade. A própria reunião de Dort nos ensina sobre política. Uma questão bíblica foi estudada por quase seis meses, por mais de uma centena de cristãos. Não foi o “maioral dos sabichões” que bateu o martelo, afirmando conhecer infalivelmente a verdade absoluta. Os pontos foram discutidos e votados. A ideia por detrás de um sistema conciliar é que nenhum ser humano se basta. Porque somos inclinados ao engano, precisamos aprender tanto a falar, quanto a ouvir o outro. Na “multidão de conselheiros” há maior probabilidade de encontrar “sabedoria” (Pv 11.14). Consideremos que a segunda geração de reformados optou por um sistema de governo da igreja representativo. Se todo ser humano é pecador, politicamente, estamos diante de duas opções: (1) convi-

ver com uma pluralidade de pecadores, com estruturas e instrumentos adequados para que um deles seja eleito e monitorado pelos demais (governo de estado de direito e diálogo), ou (2) ser conduzidos por um único pecador com superpoderes, sob risco de tirania (governo de imposição). Para os irmãos de Dort, o primeiro ponto da doutrina da salvação esclarecia as coisas para o discipulado e outras áreas da vida, inclusive a política. Puritanos alentaram ideais democráticos, defenderam sistemas representativos, liberdade de consciência e o princípio da Lex Rex, “a Lei é o Rei”, ou seja, todo governo (monárquico ou republicano) deve funcionar sob uma Lei Geral, Carta Magna ou Constituição. Desde o século 18, atos de tomada de poder foram articulados por radicais de esquerda e de direita. E o discurso é sempre o mesmo: “É preciso

moralizar o que está aí”. Creio que todos concordamos com isso. “Temos de renovar, de modo absoluto, as instâncias de poder.” O problema aqui está no adjetivo “absoluto”. Daí a fala piora: “Nós somos a única esperança; tomemos o poder sem hesitação”. O poder vigente, corrompido, é substituído por outro, que se promove como incorruptível, mas depois se revela tão ou mais corrupto do que o anterior. E o que conduz a isso? A depravação total, meu caro, diriam os teólogos de Dort. Sou presbiteriano porque sei que não passo de pó e maldade. Se eu não caminhar regulado por meus irmãos; se eu for livre para implementar tudo o que consta em meu coração, mesmo aquelas coisas aparentemente bíblicas e boas, sem prestar contas a ninguém, correrei risco de me orgulhar, de me considerar centro do universo e de pecar horrivelmente

contra Deus e o próximo. O coração humano — mesmo de um cristão regenerado — ainda é fonte de engano. Eu sou lapidado pelo Senhor funcionando em diálogo às vezes difícil com os outros; lidando com diferenças e discordâncias, tendo de esperar anos para ver uma ideia implementada. O convívio plural é melhor do que a solidão despótica.Se isso é assim, em uma eleição, qual o melhor candidato? Tem de ser alguém comprometido em governar sobre todos os grupos, dialogando e respeitando a Constituição e o Estado Democrático de Direito. Menos do que isso não faz jus ao legado abençoador do Sínodo de Dort. *Pode-se encontrar o texto integral dos Cânones nas Bíblias de Estudo Genebra e Herança Reformada, bem como no livro Crise nas Igrejas Reformadas, da Cultura Cristã.

O Rev. Misael Batista do Nascimento, pastor da IP de São José do Rio Preto, SP, é membro do Conselho Editorial da CEP e do CECEP.


Brasil Presbiteriano

10

Novembro de 2018

VIDA DE PASTOR

Pastores em co Valdeci Santos

O

pastorado não é uma profissão convencional, mas uma atividade vocacional que contém seus próprios riscos. Nos últimos dias nos tornamos mais conscientes desses perigos ao ler sobre pastores que sofreram burnout, esgotamentos e até cometeram suicídio. Outros ainda foram afastados do ministério e despojados por conduta contrária ao padrão do evangelho. Há ainda casos de pastores que, mesmo ativos no ministério, perderam a alegria e a vitalidade, deixando claro que, se tivessem alternativa, deixariam o pastorado. O problema é que essas notícias, muitas vezes, vêm a público quando já é tarde demais! Certamente os riscos do pastorado são muitos, mas alguns pastores se encontram em condições mais perigosas que outros. Ao identificar alguns desses riscos, poderemos cuidar melhor, avaliar e, talvez, evitar maiores desastres a esses irmãos. Portanto, relaciono abaixo alguns pastores e condições inseguras em que exercem o ministério pastoral. O pastor solitário Solidão é diferente de solitude. A primeira diz

respeito ao isolamento, enquanto a segunda é uma disciplina espiritual mediante a qual a pessoa cultiva privacidade para um relacionamento mais profundo com o Senhor Deus (cf. Lc 5.16). O problema é que há pastores que preferem a solidão e se isolam no ministério. O pastor solitário se coloca em condição de risco ao se posicionar em uma esfera na qual poucos têm acesso a ele. Com isso, quase ninguém consegue ajudá-lo ou admoestá-lo e, em momentos de crise, ele não consegue identificar outros para ajudá-lo. Para piorar, é preciso lembrar que o pecado floresce mais rapidamente no isolamento (cf. 2Sm 11–12).

O superpastor Esse é aquele pastor que possui um enorme zelo pela causa do Senhor e se sente responsável por fazer todas as tarefas possíveis no ministério pastoral. Geralmente, ele não expressa nenhuma fraqueza, não admite nenhuma limitação, não respeita folgas nem férias e se mostra incansável no trabalho do Senhor. Em seu íntimo, o superpastor se sente indispensável! O problema com essa atitude é que, além de impedir que outras pessoas ao redor exerçam seus dons espirituais na causa de Cristo, esse irmão ignora o ritmo de seu corpo, suas limitações físicas e emocionais. Esse

Ao final, a solidão acaba sendo preenchida pela vitimização ou pela amargura. Logo, solidão ministerial é muito arriscada!

ministro pode ter um breakdown de um momento para o outro e, quando isso acontece, ainda terá de enfrentar a culpa por

ter adoecido e se abatido. O pastor celebridade Nenhum pastor gostaria de ser impopular. Todavia, alguns parecem não medir esforços para se tornar celebridades no mundo evangélico. Acontece que a celebridade nem sempre se faz acessível e acaba se recolhendo na esfera do isolamento. Além do mais, mesmo quando a celebridade faz algo errado, há uma “tolerância maior” com ela, pois geralmente essa pessoa é tão querida e faz tantas outras coisas úteis. Essa é exatamente a razão por que o pastor celebridade se coloca em condição perigosa. O problema é que “pecados escandalosos” geralmente começam como “pequenos erros”. Além do mais, um ministério influente e popularidade crescente podem não ser indicadores da bênção de Deus, pois muitos pastores caíram no passado em momentos que experimentavam a “glória” da aprovação popular. Finalmente, popularidade foi uma das últimas tentações apresentadas ao Redentor (cf. Mt 27.42). O pastor politiqueiro O ser humano é uma criatura política, pois é um

ser social, criado à imagem do Deus relacional. O convívio social implica organização e governo e tudo isso demanda o exercício político. Há, porém, diferenças práticas entre ser político e ser politiqueiro. Além de preocupar-se demasiadamente com as manobras políticas, o politiqueiro pode, em várias ocasiões, usar meios não louváveis em sua maneira de agir politicamente. Infelizmente, essa não é uma característica apenas da política secular, mas acaba se revelando também na política denominacional e na prática local de alguns pastores. O pastor politiqueiro acaba depositando sua confiança e segurança nas manobras, acordos e conchavos feitos com outros líderes eclesiásticos. Essa atitude indica que o maior


Brasil Presbiteriano

Novembro de 2018

11

ondição de risco

temor desse indivíduo é em relação ao poder dos homens, das instituições e das ordens humanas e não de Deus. Por isso, sua segurança se encontra nos seus acordos e planos e não em Deus. O sábio de Provérbios afirma que “quem teme ao homem arma ciladas” (Pv 29.25) e talvez isso explique algumas manobras do politiqueiro. Nem precisa afirmar quão arriscada é essa condição!

Senhor não viva a contender” (2Tm 2.24). Mas alguns pastores preferem o caminho da belicosidade! O problema do belicoso é que nem sempre ele distingue pelo que, de fato, deve lutar. Alguns confundem preferências pessoais com convicções doutrinárias e desperdiçam tempo e esforços em questões que não trazem edificação. Pior ainda, o belicoso geralmente procura justificar sua ira e seu zelo teologicamente e, consequentemente, se torna cego para com os seus exageros e caprichos. Isso aconteceu com o profeta Jonas que não teve como justificar sua atitude diante de Deus (cf. Jn 4.9). O perigo dessa condição tem a ver com a autojustiça do pastor belicoso e com o estrago que o seu procedimento pode causar na vida das ovelhas de Cristo.

O pastor belicoso É verdade que a “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” precisa ser defendida e essa defesa pode exigir uma “batalha” (Jd 3). Todavia, nem tudo no ministério precisa ser motivo para uma “boa briga”. Além do mais, as Escrituras também afirmam que “é necessário que o servo do

O pastor insatisfeito Contentamento é uma virtude a ser cultivada, pois a tentação em prol do descontentamento está em todo lugar. O puritano Jeremias Burroughs (1599-1646) escreveu sobre “a joia rara do contentamento cristão”[1] um tesouro inestimável e preservado por todo cristão, pois “grande fonte de lucro

é a piedade com o contentamento” (1Tm 6.6). Todavia, o descontentamento acaba roubando não apenas a alegria, mas a energia da alma e o crente passa a fazer o trabalho do Senhor gemendo. Além do mais, a insatisfação alimenta a murmuração e a amargura, que por sua vez, contamina os que se encontram ao redor. O apóstolo Paulo exortou o crente a “fazer tudo sem murmurações nem contentas” (Fp 2.14). No caso do pastor insatisfeito, sua alma cansada afetará seu relacionamento

não conseguirá ver beleza nem bênçãos no que Deus tem realizado em sua vida.

com Deus, com a família e com suas ovelhas. O risco de tudo isso é esse pastor entrar em um “jogo de comparações” e ressentimentos que não beneficia ninguém. Dificilmente esse pastor será um “portador de boas novas”, pois chegará um ponto em que ele

Infelizmente, há pastores cujo relacionamento conjugal só é mantido por um fio. Esse “fio” pode ser o medo do despojamento, o receio de perder os filhos, a angústia de cair em descrédito, etc... Porém, é sempre muito perigoso viver dependente de um “fio”.

O pastor com o “casamento por um fio” O casamento tanto pode ser fonte de alegria, como de sofrimento. Quando o relacionamento no qual deveríamos gozar a mais profunda intimidade aqui na terra se torna nossa fonte de angústia, há sempre o perigo de buscarmos alívio e realização fora desse contexto. No caso do ministro, isso é receita certa para o desastre e ruína.

Nos casos dos pastores que lutam com problemas no casamento, o mais sábio seria buscar ajuda, tratar a ferida e procurar recobrar o amor que um dia uniu o casal. Nesse sentido, é sempre bom notar que geralmente quando falamos que falta amor no relacionamento, a maior ausência na verdade é a do próprio Deus, pois Deus é amor (1Jo 4.8). De qualquer maneira, não apenas o casamento, mas é sempre arriscado manter a própria vida “pendurada por um fio”. Certamente, esses tipos de ministros mencionados acima são apenas uma pequena amostragem de como o universo pastoral pode ser arriscado. Há muitas outras dificuldades que não foram contempladas aqui, mas cada pastor pode refletir melhor sobre sua condição e humildemente buscar graça diante do Senhor e ajuda com outros membros do Corpo de Cristo. Em tese, permanece a norma de que a melhor maneira de se proteger dos desastres é saber que somos vulneráveis a eles! [1] BURROUGHS, Jeremiah. Aprendendo a estar contente. São Paulo: PES, 19902003.

O Rev. Dr. Valdeci da Silva Santos é pastor da IP Campo Belo, São Paulo, e Secretário Nacional de Apoio Pastoral.


Brasil Presbiteriano

12

Novembro de 2018

IGREJA PERSEGUIDA

O cristianismo no Norte da África Igrejas em países fechados ao evangelho no Norte da África rompem barreiras para treinar líderes de comunidades ainda engatinhando, com cristãos recém-convertidos do islamismo.

A

rgélia, Líbia e Tunísia são exemplos de países no norte da África em que seguir a Cristo pode custar a vida. Países muçulmanos viram o renascimento da igreja cristã a partir da segunda metade do século 20. Renascimento, pois até a invasão árabe, no ano 700 d.C., o cristianismo crescia na região, apesar da perseguição. Hoje, a Argélia é um dos países com a igreja mais forte e ativa, há cerca de 37 mil cristãos em 40 igrejas. É a maior e mais organizada comunidade cristã do Norte da África. Na Líbia, a invisível igreja cristã é formada por estrangeiros, que entram no país para trabalhar. Cerca de 150 cristãos líbios nativos raramente se encontram e são perseguidos. A igreja cristã na Tunísia teve melhor situação a partir do século 21, com a conversão de muitos muçulmanos ao cristianismo, devido ao trabalho em rádios e TVs via satélite, transmitidos a partir de países vizinhos. A igreja começou em reuniões nos lares e hoje já se reúne em prédios com um número maior de participantes em cultos. Há cerca de 1.500 cristãos nativos no país. O desafio da liderança

dessa jovem igreja é agora estabelecer um firme fundamento e deixar um legado para a próxima geração. Essa é a preocupação de Mustafá, um dos líderes da igreja na Tunísia. Formado em engenharia civil, Mustafá tem 29 anos, é casado e pai de dois filhos. Hoje, ele se dedica ao reino em tempo integral e atua na área de logística. É responsável por organizar todos os ministérios da igreja e também prega e ensina. Ele participou de um treinamento de líderes realizado pela Portas Abertas no ano passado. Mustafá conta que sua igreja começou do zero, como uma igreja doméstica, mas em 2006 obteve permissão para usar o prédio de uma igreja de estrangeiros. “Para nós era algo novo. Éramos de seis a oito pessoas no começo, mas o Senhor trabalhou muito em nossa igreja. Agora temos 90 membros, com várias famílias com filhos de todas as idades; temos todas as gerações na igreja”, alegra-se. O próprio conceito de igreja é novo para ex-muçulmanos. Acostumados a ir à mesquita para orar e ouvir os sermões, eles veem a igreja apenas como um lugar onde cumprem suas obrigações religio-

sas. “Alguns vão a três ou quatro igrejas, pois não entendem que a igreja são as pessoas, os membros, e que tem a ver com dar, não apenas receber”, compartilha Mustafá. O passado islâmico também influencia o modo como veem a Bíblia, que para eles é um livro religioso ao qual devem ouvir, mas não um livro com o qual devam se relacionar, conhecer e assim descobrir como Deus quer que vivam no dia a dia. Em uma cultura oral, os árabes não estão acostumados a ler. Baseado em sua própria experiência, Mustafá explica que um novo convertido tem de aprender a ler a Bíblia. “Foi um desafio para mim aprender e ter prazer em ler a Bíblia”, confessa. Além dos desafios internos, a jovem igreja enfrenta o desafio de ser relevante em seu contexto, marcado por perseguição e rejeição da sociedade. Para isso, não querem seguir modelos prontos. Mustafá diz que é importante para a igreja da Tunísia construir sua própria identidade. “Estamos lançando os fundamentos, criando nosso sistema, a administração, teologia, treinamento, cursos, discipulado, pregação. Temos que definir tudo isso”, diz. Mesmo com a suposta li-

berdade de culto, o cristão tunisiano enfrenta a perseguição severa. A Tunísia está ocupa a 30ª colocação na Lista Mundial da Perseguição, que classifica os 50 países que mais perseguem cristãos no mundo Treinamento de pastores e líderes Uma equipe da Portas Abertas é deslocada uma vez por ano para a Tunísia para ensinar os pastores. Centenas de novos convertidos já participaram

do curso de discipulado no Norte da África nos últimos nove anos. Em 2017, 400 cristãos foram treinados. Ajude a formar um líder A jovem igreja do Norte da África, composta em sua maioria por jovens ex-muçulmanos, precisa continuar investindo na capacitação de novos líderes, que ajudarão a discipular os novos convertidos. Para mais informações, acesse: www.portasabertas. org.br/doe/lideres


Brasil Presbiteriano

Novembro de 2018

13

FÉ E CONTEMPORANEIDADE

Tolerância religiosa não é sincretismo religioso Ildemar Berbert

É

sabido que a formação religiosa do povo brasileiro é inclinada ao misticismo e o sincretismo. Também é sabido que é norma de lei, da Constituição Federal, que o nosso povo goza de liberdade religiosa. É fato também que, desde 1888, a Igreja e o Estado estão oficialmente separados. Também é fato que o Estado brasileiro é laico. Sendo assim, é fácil falar de liberdade religiosa em nosso país e é necessário falar de tolerância religiosa em nosso tempo. Não há espaço em nossa democracia para interferência do Estado nos negócios da igreja e nem da igreja nos negócios do Estado. E ainda, no que diz respeito ao convívio das religiões entre si, a legislação brasileira proíbe qualquer tipo de intolerância e discriminação religiosa, sendo livre a sua prática em solo brasileiro. Sem perseguição do Estado com a igreja e sem violência entre os diversos seguimentos religiosos, tendo como norma o convívio respeitoso e a tolerância. Tem sido discutido em diversas instâncias de nossa pátria, tanto nos meios universitários, como na imprensa livre, nas redes sociais, nas câmaras municipais (inclusive na nossa cidade), o assunto da “to-

lerância religiosa”. Muitas vezes sem envolver as igrejas no diálogo. Creio ser necessária a discussão a partir do momento em que a sociedade esteja se inclinando para a intolerância. Quero considerar alguns pontos que devem ser refletidos nesse diálogo: Primeiramente devemos entender que as raízes históricas da religião em nosso país são compostas de misticismo e sincretismo. Isso significa uma mistura, sem uma identidade própria. O sincretismo diz respeito a junção de vários conceitos e várias práticas. No campo religioso quer dizer estar tudo misturado e confuso. “Um pouquinho de cada”. Isso deixa qualquer grupo religioso sem uma identidade própria. E o misticismo torna o sentido religioso algo fora da razão. Essa é uma tendência inclusive do ecumenismo

religioso. Isso não é tolerância religiosa, é mistura religiosa. Tolerância significa que cada um pode preservar a sua identidade religiosa sem perder o diálogo e o respeito, que revela maturidade de uma sociedade em desenvolvimento. Em segundo lugar, devemos levar em consideração a liberdade religiosa prevista na Constituição Federal. Liberdade religiosa dá o direito de o cidadão brasileiro ter a sua religião sem nenhum constrangimento. Claro que toda religião está sujeita às normas da lei e daquilo que é lícito. Espera-se que a religião ajude o homem a ser respeitoso e pacífico. A liberdade religiosa dá também o direito de cada grupo religioso ter a sua identidade própria, inclusive discordar respeitosamente uns dos outros. Quando se fala em tolerância religiosa em nosso

país nos parece que vem travestida de imposições e conceitos que visam massificar a crença e suprimir a identidade de grupos religiosos e a obrigatoriedade de rezar numa mesma cartilha. Mas não, a liberdade religiosa é também a liberdade de pregação do evangelho e divulgação de suas doutrinas. Foi em nome da liberdade religiosa que a Suprema Corte Norte-Americana deu sentença favorável ao confeiteiro que se negou a fazer um bolo temático para a união de duas pessoas do mesmo sexo, por ser uma prática contrária as suas convicções bíblicas. Liberdade nos dá o direito de concordar ou discordar de certas práticas e comportamentos sociais e morais sem sermos “pichados” de intolerantes ou preconceituosos. Uma terceira consideração é sobre o Estado ser

laico. Desde 1888 que o Estado brasileiro é laico, ou seja, que Igreja e Estado se separaram oficialmente, mesmo mantendo privilégios extraoficiais. O conceito de “Estado laico” significa que o estado não pode interferir nos negócios internos da igreja e nem a igreja interferir nos negócios do estado, a menos que seja por este chamado para opinar. Como instituição, um tem deveres com o outro. A igreja de honrar o Estado e o Estado de proteger a igreja e garantir a sua liberdade. Parece, porém, que estamos criando um conceito de que estado laico é estado ateu, ou antirreligioso. Como se os cidadãos desse estado não fosse pessoas religiosas com costumes, crenças e moral. Ignorar isso é desrespeito ao cidadão e não apenas uma intolerância religiosa do Estado com o seu povo, como se o povo não fosse o Estado. Assim sendo, tolerância religiosa não é sincretismo religioso e nem ecumenismo religioso, mas um convívio socialmente respeitoso, em que cada seguimento religioso tenha liberdade de ação e expressão, e o direito de cumprir a sua missão e preservar a sua identidade. O Rev. Ildemar de Oliveira Berbert é pastor da IP Central de Dourados e Presidente do Presbitério de Dourados.


Brasil Presbiteriano

14

Novembro de 2018

FORÇAS DE INTEGRAÇÃO

1ª Comissão Executiva da Confederação Nacional de Mocidades Matheus Souza

A

cidade de Salvador teve a oportunidade de sediar a primeira reunião da Comissão Executiva da Confederação Nacional de Mocidades no quadriênio de 2018 a 2022, e nós, Mocidade Presbiteriana do Brasil, tivemos o privilégio de receber os calorosos abraços e especial hospitalidade de nossos irmãos baianos. A reunião da Comissão Executiva aconteceu entre os dias 21 e 23 de setembro na Centenária IP da Bahia. Contamos com 51 sinodais representadas, na presença de 66 delegados e 32 visitantes contabilizando mais de 20 horas de plenário. Esses jovens se mantiveram empenhados, mostraram o que é ser “Unidos no Trabalho” e, dedicados no amor, em dar continuidade e apoio ao trabalho já existente nos cinco cantos do nosso Brasil. Com o tema do quadriênio “Porque nele vivemos”, baseado no discurso de Paulo em Atenas, no qual responde aos filósofos de sua época, a razão de nossa existência: “Pois nele vivemos, nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração” (At 17.28). O objetivo da CNM tem sido apoiar e incentivar que os mais de 70 mil jovens, espalhados pelo Brasil, membros de

Jovens presentes na 1ª Comissão Executiva da Confederação Nacional de Mocidades

UMPs participem e façam diferença não só em suas igrejas locais, mas também em suas comunidades, e que compreendam a razão pela qual fazemos tudo isso – tão somente por ele e para glória dele. Aplicando o nosso tema e devido aos bons frutos o PMF (Projeto Missionário de Férias) terá continuidade através da nossa Secretaria de Missões, assim como foi criado o projeto DJE (Dia do Jovem Evangelista), mantido os projetos “Salvos pelo Sangue”, “Até o último fio” entre outros. O despertar para Missões, sejam elas urbanas, na rotina diária ou através de viagens e doação de seus tempos de férias e habilidades,

tem sido um grande chamado em que os jovens de nossas igrejas tem se empenhado e no qual estamos trabalhando. Nessa CE foi apresentada à Mocidade Presbiteriana uma nova Secretaria, com o objetivo de compartilhar material de qualidade relacionado à nossa identidade e fé cristã, e focando no crescimento e aprimoramento espiritual de nossos jovens. Ciente das diversas oportunidades de absorção de conteúdo nos dias de hoje, essa secretaria trabalha em parceria com a casa Editora Cultura Cristã e aos diversos pastores e educadores que temos em nossa igreja. Diante disso, a Secretaria de Educação

Cristã, apresentou o projeto “Nossa História”, que através de imagens gráficas e vídeos curtos abordarão às áreas Símbolos de Fé, História da IPB e da UMP, Identidade Presbiteriana, Cultura Cristã e Sabedoria Bíblica. Nos momentos de discussão, foi possível compartilhar entre os delegados e visitantes os documentos de Planejamento Estratégicos, os projetos da secretaria de Educação Cristã, Missões e Responsabilidade Social; foram apresentadas as propostas da Secretaria de Comunicação e Secretaria de Produtos e o novo projeto de apoio aos seminaristas presbiterianos, que con-

siste em visitar os seminários presbiterianos entre os anos de 2018 e 2019, presenteando os seminaristas como kit acadêmicos personalizados, confeccionados pela CNM e patrocinados por todas as Mocidades do Brasil. Foram maravilhosos momentos de edificação, crescimento espiritual, descontração, interação, dedicação, empenho e sem dúvida, muitas risadas e novas amizades... e na certeza de que porque nele vivemos, seguiremos, alegres na esperança, fortes na fé, dedicados no amor, unidos no trabalho. Matheus Souza é presidente da diretoria da Confederação Nacional de Mocidades.


Brasil Presbiteriano

Novembro de 2018

15

REFLEXÃO

Vocação “Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado (...)” (1Co 7.17). Antônio Cabrera

U

ma das grandes heranças da Reforma Protestante é a doutrina da vocação. A vocação não é uma questão do que nós fazemos, mas sim do que Deus faz em nós e por nosso intermédio. É como se você tivesse várias portas, mas Deus mostra apenas uma aberta. Lembrei-me disso quando visitei a região do Congo e de Ruanda, principalmente Kigali. Ali você ainda descobre os resultados da barbárie humana, principalmente praticada pelos Interahamwe, um grupo rebelde que ataca e saqueia inú-

meras vilas, pratica o estupro em massa e depois foge para as selvas do Congo. É uma imensa contradição em paisagens encantadoras que você fotografa. Foi neste ambiente que Denis Mukwege, o terceiro dos nove filhos de um gentil pastor pentecostal, viajava com seu pai em uma visita aos doentes da região. Um dia ele perguntou: “Pai, você ora pelos doentes, mas por que não lhes dar remédio? Seu pai respondeu: “Eu não sou médico.” Sua vocação nasceu naquele dia e hoje ele trabalha no Hospital Panzi, uma organização administrada pelas Igrejas Pente-

Dr. Denis Mukwege

costais na África Central. Conhecido por Dr. Milagre, dedicou o seu chamado a cuidar de vítimas de estupro no Congo e é o único

ginecologista em uma província de 65.000 Km2. Ele é um curador decididamente otimista, já tratou de mais de 30 mil vítimas

de estupro e é um homem que passa o dia enfrentando o pior do que os humanos fazem. Sua mensagem é simples: “Se os cristãos não viverem as implicações práticas de sua fé entre suas comunidades e vizinhos, eles não poderão cumprir a missão que nos foi confiada por Cristo”. É através da fé e da sua vocação que você poderá impactar o mundo. O Dr. Mukwege descobriu a sua vocação e está fazendo diferença. Ele acaba de ser agraciado com o Premio Nobel da Paz. O Dr. Antônio Cabrera Mano Filho é presbítero da IP de São José do Rio Preto (SP).

DEVOCIONAL

Deus, meu baluarte Sérgio Bispo

B

aluarte é uma fortaleza, um lugar seguro, utilizado para apoio, como auxílio que não pode ser tomado pela força. O salmista diz: “(...) o Senhor é o meu baluarte e o meu Deus, o rochedo em que me abrigo” (Sl 94.22). Por que o salmista faz de Deus o seu baluarte, e proclama essa verdade para que todos ouçam, inclusive seus adversários? • O salmista faz de Deus o seu

baluarte porque Deus ouve a voz do seu povo. Pergunta o salmista em tom de ironia, no versículo 9: “O que fez o ouvido acaso não ouvirá?” • O salmista faz de Deus o seu baluarte porque sabe que Deus o vê, sabe que os olhos de Deus estão sobre ele. “O que formou os olhos será que não enxerga?”, pergunta ele no versículo 9. • O salmista faz de Deus o seu baluarte porque sabe que Deus é sábio para conduzir sua vida e

abençoar seus caminhos. “Aquele que ao homem dá conhecimento, não tem sabedoria?” pergunta novamente, no versículo 10. • O salmista faz de Deus o seu baluarte porque confia na justiça de Deus. “Porventura, quem repreende as nações, não há de punir?”, ou seja, não há de trazer julgamento e de fazer justiça? Pergunta o salmista (v.10). Nossa resposta seria um solene sim... Sim, claro que ouve o que fez o ouvido. Sim, claro que enxerga o

que formou os olhos. Sim, claro que tem sabedoria aquele que ao homem dá conhecimento. Sim, claro que há de julgar, e punir com justiça, aquele que repreende, que traz juízo às nações. Quem é o seu baluarte? Se ele não ouve, se ele não vê, se ele não é sábio, se ele não é capaz de julgar e fazer justiça, fuja dele, você corre perigo! O Rev. Sérgio Bispo dos Santos é pastor da IP de Ourinhos, SP.


Brasil Presbiteriano

16

Novembro de 2018

PROJETO SARA

Casados para a glória de Deus "Vendo Raquel que não dava filhos, disse a Jacó: Dá-me filhos, senão morrerei. Ela concebeu, deu à luz um filho. E lhe chamou José, dizendo: Dá-me o Senhor ainda outro filho. Partindo de Betel, deu à luz Raquel um filho, cujo nascimento lhe foi a ela penoso. Seu pai lhe chamou Benjamim. Assim, morreu Raquel”. (Gn 30.1, 23; 35.16-19) Raquel de Paula

R

aquel, a filha mais nova de Labão, era muito bonita. Foi conquistada por Jacó, que trabalhou muitos anos para tê-la como sua esposa. Mas esse casamento incitou conflito e rivalidade entre ela e sua irmã

Lia. Elas competiam pela preferência dos sentimentos do seu marido dandolhe filhos. Os nomes que escolhiam para seus filhos era reflexo dessa luta e do reconhecimento do auxílio de Deus quando desprezadas e inférteis. O fato é que Raquel tinha o amor de Jacó mas não

estava satisfeita. Era uma esposa querida, que tinha experimentando a prova desse amor de ser recebida como esposa após anos de trabalho. O ciúmes de sua irmã a fez mudar o foco do seu casamento de ser grata a Deus por tudo, mas preferiu olhar para si mesma, desejar o que era de sua irmã e não dar valor ao que lhe fora dado. Dá-me filhos, senão morrerei é uma expressão exagerada para sua tristeza, que evidencia um coração longe de Deus e sem o propósito de viver para sua glória, em gratidão por tudo o que ele já havia feito. Raquel conhecia a história de Abraão e de Isaque. Era

o mesmo Deus que lhes concedera filhos, em situações especiais. Poderia ter orado em submissão à vontade de Deus e aguardar a boa, agradável e perfeita vontade divina. Mesmo quando Deus lhe concede um filho, não consegue ser grata. Logo que concebeu, sua oração foi: Dá-me o Senhor ainda outro filho. E Deus a atendeu. Sua vontade foi feita: ela concebeu outro filho, mas morreu durante o parto. Nosso casamento é uma aliança que Deus instituiu para sua glória, para que possamos viver unidos de alma, com mesmo pensamento, com o mesmo

amor, com o mesmo sentimento, com humildade, considerando cada um o outro superior a si mesmo, não tendo cada um em vista o que é propriamente seu, senão cada qual o que é do outro, tendo o mesmo sentimento que houve também em Jesus (Fp 2.1-5). Que possamos edificar nosso lar em Cristo, andando em seus caminhos, confirmando nossa fé, crescendo em ações de graças por tudo que Deus fez por nós e ainda há de fazer. Que o nosso casamento seja para a glória de Deus. Raquel de Paula é membro da IP Praia Grande, SP, e colaboradora do Brasil Presbiteriano.

JUBILAÇÃO

IP de Cabo Frio realiza culto de gratidão Luiz Carlos Correa

O

Presbitério de Cabo Frio realizou Culto de Ações de Graça pela jubilação do Rev. Filadelfo do Nascimento de Jesus Filho. A celebração aconteceu na IP de Cabo Frio, no dia 24 de agosto, com a presença das igrejas do Presbitério com seus pastores e presbíteros, assim como de igrejas e pastores da região dos Lagos e do Rio de Janeiro. O programa litúrgico, di-

rigido pela Comissão Executiva, teve a participação do Coral Ecos de Louvor e Ministério de Louvor da IP de Cabo Frio, do grupo musical Filadélfia, da Igreja Congregacional do Guriri, do cantor e pastor Gerson Santos, e do trio musical Ruth, Leiliane e Érika. O pregador foi o Rev. Josué Barbosa Cordeiro, Corregedor do Departamento de Atividade Ministerial da Igreja Evangélica

Entrega de placa comemorativa ao Rev. Filadelfo pelo Secretário Executivo do PRCF José Alfredo

Congregacional, que falou sobre a fidelidade e a integridade pastoral, com base em Josué 13.1. O Presidente do Sínodo Costa do Sol e Vice-presidente do Presbitério, Rev. Arivelton Peisini, explicou a jubilação na IPB, e o Pb. José Alfredo Marques de Almeida, Secretário Executivo do Presbitério e Tesoureiro do Supremo Concílio da IPB, entregou uma placa comemorativa dos 35 anos de serviço

prestado à obra pelo Rev. Filadelfo Filho. A IP de Cabo Frio homenageou também sua esposa Marli Menezes. O Rev. Filadelfo Filho, nos 35 anos de ministério pastoral, exerceu o ministério na Igreja Evangélica Congregacional e na IPB. Ele é casado com Marli Menezes de Jesus, tendo dois filhos, Eduardo e Erika, e uma neta, Valentina. O Rev. Luiz Carlos Correa é Presidente do Presbitério de Cabo Frio.


Brasil Presbiteriano

Novembro de 2018

17

MEDITAÇÕES

Confissão apostólica Frans Leonard Schalkwijk

“Sei em quem tenho crido...” (2Tm 1.12) Com toda a sua igreja, Senhor, confesso que, pela Tua graça, 1. Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra. Ele, por amor ao Seu Filho, quer ser também o meu Pai, que me sustenta e faz cooperar todas as coisas para meu bem. 2. Creio em Jesus Cristo, Seu único Filho, nosso Senhor; Ele é o nosso Salvador, prometido através dos séculos, nosso supremo Profeta, nosso único SumoSacerdote e nosso eterno Rei. 3. o qual foi concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria; Ele, verdadeiro Deus, se tornou verdadeiro homem também, e por isso Ele nos chama de irmãos,

semelhante a nós, mas sem pecado. 4. padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao lugar dos mortos; Pela graça de Deus, eu também coloquei as minhas mãos sobre esse Cordeiro de Deus, morto em meu lugar. 5. ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; Por isso sei que meu Redentor vive; já me faz andar numa vida nova e um dia me ressuscitará! 6. subiu ao céu; está assentado à mão direita de Deus Pai Todo-poderoso, Lá Ele intercede por nós e pela sua igreja perseguida para que nossa fé nunca desfaleça. 7. de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Oh, Senhor, venha logo para estabelecer Teu Reino de justiça e paz neste mundo atribulado! Maranata! Amém! 8. Creio no Espírito Santo; Muito obrigado, Senhor, que mandaste Teu

Espírito Santo para morar em nossos corações para nos guiar, advertir e consolar! 9. numa santa igreja universal, na comunhão dos santos; Enche o meu coração com Teu amor para com meus irmãos, também os que andam longe de Ti, para poder ajudá-los em amor! 10. na remissão dos pecados; Louvado seja Deus, também pelo perdão dos pecados despercebidos! 11. na ressurreição do corpo; Sim, Senhor, ainda que percebo que a minha tenda terrestre esteja decaindo, sei que Tu me guias com Teu conselho, e, depois, glória, Tu me recebes! 12. e na vida eterna. Amém. Percebendo um princípio desta vida no meu coração, Te agradeço que estarei contigo na eternidade para louvar e servir-Te conforme a Tua vontade. Amém. De Meditações de um Peregrino, de Frans Leonard Schalkwijk, Cultura Cristã, 2014.

PREGAÇÃO

A importância da aplicação do sermão Jubal Gonçalves

A

aplicação de sermão é um dos aspectos mais urgentes da pregação bíblica. A oração “Que Deus aplique sua Palavra em nosso coração” não pode eliminar o cuidado do pregador em elaborar a aplicação do sermão. A pregação expositiva consiste na explanação, comprovação e aplicação do conceito encontrado em

uma passagem da Escritura. Sem explicação e comprovação do conceito da passagem, a pregação não será expositiva; sem aplicação não é pregação. A mensagem estará incompleta se o pregador não tiver o cuidado de elaborar cuidadosamente uma aplicação específica para os seus ouvintes, a partir do texto bíblico. A relevância da mensagem bíblica é evidenciada através de uma boa aplica-

ção. Podemos afirmar que a pregação não é meramente a proclamação da verdade, e sim a verdade aplicada. Com o mesmo esmero com que o pregador o conceito genuíno do texto bíblico, deve, também, mostrar de que modo a mensagem é aplicável a sua congregação, sem, contudo, adulterar o sentido original do texto. A iluminação do Espírito Santo pode ser demonstra-

da na habilidade do pregador em aplicar as lições bíblicas às necessidades da sua congregação. O pregador necessita do Espírito tanto para interpretar o texto quanto para aplicá-lo. Muitas pessoas desassociam a pregação bíblica da praticidade. No entanto, é incoerente falarmos de pregação bíblica sem fidelidade e praticidade. A pregação fiel das Escrituras consiste em não desassociar a

mensagem original do autor da aplicação pertinente ao mundo contemporâneo. Portanto é importante que o pregador conheça o texto sagrado, assim como a sua congregação, e se esmere espiritual e academicamente para ser instrumento de Deus na alimentação do rebanho, sendo preciso e claro na aplicação do sermão. O Rev. Jubal Gonçalves é mestre em Pregação pelo Andrew Jumper e pastor da 4ª IP de Carapicuíba.


Brasil Presbiteriano

18

Novembro de 2018

CELEBRAÇÃO

Organização da IP Águas Vivas “Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” (At 2. 47)

N

ão existem palavras que possam expressar nossa gratidão e alegria. O sentimento é imensurável ao ver a IP Águas Vivas sendo organizada para louvor, honra e glória do Altíssimo. Tudo começou com o desejo de um Grupo Familiar (GF). Em uma conversa com sua esposa, Márcia Regina, Deus colocou no coração do Rev. Arlei o desejo de iniciar um Grupo Familiar em fevereiro de 2012. O grupo iria se reunir em sua casa todas as semanas com o objetivo de alcançar desigrejados e enfermos de alma e corpo. Tínhamos um desejo forte, uma esperança indizível e uma vontade enorme de ver o amor de Deus manifestado através do evangelho de Cristo. No início eram apenas cinco pessoas. Irmãos que já vinham de uma caminhada cristã em Grupos Familiares: Rev. Arlei e sua esposa Márcia Regina; os irmãos: Cristina de Saboia, Joana Leal e Ademilson Stutz. Começaram o grupo com uma alegria imensa, a vontade de pastoreio mútuo

e de evangelizar nossos amigos, vizinhos e parentes ardia em nossos corações. Em pouco tempo, apenas sete meses, Deus enviou os trabalhadores para a seara e os que “iam sendo salvos”. Findo esse tempo já eram vinte e nove pessoas (29), que se reuniam nos lares, que naturalmente iam se abrindo para receber os GF. Tal crescimento os levou a desejar uma congregação. Um local mais amplo onde prestariam culto público a Deus. E assim foi... Isso aconteceu como fruto do esforço dos irmãos que se dedicaram a esse trabalho, e ainda de todos que direta e indiretamente contribuem para a expansão do reino. Certamente isso já estava nos planos e no coração de Deus e os frutos vieram pelo trabalho desses irmãos e irmãs. Alguns que já passaram por aqui e deixaram sua marca, todos contribuíram e oraram para que isso acontecesse; outros que são pioneiros deste trabalho ainda estão aqui conosco na caminhada da fé. A cada dia que passava

Deus enviava mais servos, a palavra era pregada e assim alcançavam os que iam e certamente serão salvos. Agora o desejo do coração é que a igreja cresça mais e mais, em número sim, porém, mais ainda na graça e no conhecimento do nosso Deus, por meio das Escrituras. O propósito é pregar a palavra com fidelidade, viver na comunhão do Senhor e entre os irmãos de forma verdadeira. Isso para que a cidade de Águas Claras conheça a mensagem da Cruz de Cristo e veja, entre nós, uma igreja comprometida com Deus e com a comunidade ao seu redor. A nova comunidade, a IP Águas Vivas, foi organizada no dia 30 de setembro, e está localizada na cidade satélite de Águas Claras, em Brasília-DF; e faz parte do PRBN – Presbitério Brasília Norte. Seu primeiro e atual pastor é o Rev. Arlei Chaves Gonçalves, cujo lema de vida que foi adotado pela IPAV é “Tudo começa com oração”. Edilson Martins é seminarista na IP Águas Claras.

Aconteceu em Novembro 1483 – Nasce Martinho Lutero, uma das figuras centrais da Reforma Protestante. 1748 – Nasce Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, um dos defensores da independência do Brasil. 1807 – A corte portuguesa decide transferir-se para o Brasil fugindo da invasão francesa. 1825 – É lançado em Recife o Diário de Pernambuco, o primeiro jornal da América Latina. 1864 – Circula pela primeira vez, no dia 05 de novembro, o Imprensa Evangélica, primeiro jornal religioso do país. 1884 – O Dia Nacional da SAF é celebrado no dia 11 de novembro, pois a primeira Sociedade Feminina (SAF) de que se tem notícia e documentos comprobatórios foi criada na mesma data em Recife, com o nome de “Associação Evangélica de Senhoras”. 1889 – Em 15 de novembro, o Brasil mudou sua história com a proclamação da República pelo marechal Deodoro da Fonseca no Rio de Janeiro. A data marcou o fim da monarquia brasileira. 1895 – Em 08 de novembro desse ano Wilhelm Conrad Röntgen, físico alemão, produziu o que hoje chamamos de Raios X. 1919 – Pela primeira vez na França, as mulheres votam em eleições legislativas. 1979 – O presidente João Figueiredo regulamenta a Lei de Anistia. 1982 – Em 14 de novembro, ocorre a primeira eleição legislativa brasileira após 20 anos de regime militar. 1985 – O cometa Halley cruza os céus da Terra pela segunda vez no século 20. 1986 – Na América do Sul, o primeiro transplante cardíaco feito em uma criança é realizado no Brasil: Karina Dal Rovere é operada aos sete anos. 1986 – No Brasil, um terremoto de 5.1 graus na Escala Richter atinge o município de João Câmara, no Rio Grande do Norte. 1994 – Acontece o último eclipse total do Sol no hemisfério sul do século 20. O Sol fica encoberto pela Lua por 4 minutos e 25 segundos.


Brasil Presbiteriano

Novembro de 2018

19

PRESBITERIANISMO EM FOCO

Livros que atravessam gerações Marcone Carvalho

A

queles que, nas últimas décadas, passaram pelos bancos dos seminários e institutos bíblicos em nosso país tiveram de consultar livros que, por sua vendagem ou popularidade, podem ser considerados “clássicos evangélicos”. No que concerne à área história da igreja, existem autores que têm seu lugar reservado na biblioteca de pastores e seminaristas. Três deles tiveram a primeira edição de suas obras publicada no Brasil entre 1954 e 1984. A História da Igreja Cristã, de Robert Hastings Nichols (1873-1955), apareceu em 1954 pela Casa Editora Presbiteriana. Nichols era estadunidense e realizou seus estudos na Universidade de Yale (PhD 1896) e no Seminário Teológico de Auburn (1901), sendo ordenado ministro

Historia da Igreja Cristã, de Nichols. Primeira edição em português, 1954.

da Presbyterian Church of the USA (PCUSA), em 1901. Pastoreou em Unadilla, NY (1901-1902) e em South Orange, NJ (1902-1910). Ensinou história da igreja no Auburn Seminary (1901-1944) e no Union Seminary (19391944). Foi membro de várias associações e comitês e teve ativa participação no Sínodo de Nova York. Um dos líderes da “ala liberal”, Nichols foi o principal responsável pela “Auburn Affirmation”, documento que culminou, em 1924, na controvérsia fundamentalista/modernista no seio da PCUSA. Escreveu algumas obras, sendo uma delas O crescimento da Igreja Cristã (1914), traduzida e adaptada ao português por José Maurício Vanderlei. A 14a edição foi lançada em 2013 e reimpressa em 2017 pela Cultura Cristã. Outro manual importan-

Historia da Igreja Cristã, de Nichols. 14ª edição em português.

Robert Hastings Nichols

te é o História da Igreja Cristã, do pastor congregacional estadunidense Williston Walker (18601922). Walker graduou-se em filosofia e letras no Amherst College (1883), em teologia no Theological Seminary de Hartford (1886) e obteve seu doutorado em filosofia pela Universidade de Leipzig, Alemanha (1888). Ensinou história eclesiástica no Bryn Mawr College (1888-89), no Hartford Seminary (1889-1901) e na Yale University (19011922). Foi um dos grandes nomes do congregacionalismo norte-americano, havendo escrito obras que marcaram época, tais como Os credos e plataformas do congregacionalismo (1893), Uma história das Igrejas Congregacionais nos Estados Unidos (1894), A Reforma (1900), João Calvino (1906) e Uma história da igreja cristã (1918). A últi-

ma foi lançada em nosso país pela Aste em 1967, e reeditada em 1983 e 2006. O terceiro manual é o do pastor presbiteriano Earle Edwin Cairns (1910-2008): O cristianismo através dos séculos. Canadense, ele mudou-se em 1936 para os EUA. Na cidade de Omaha (NE), em 1938, bacharelou-se tanto pela universidade local como pelo seminário presbiteriano. Entre 1939 e 1942, obteve os títulos de mestre e doutor em história, pela Nebraska University. Durante esses anos, Cairns pastoreou nos fins de semana e também lecionou no Omaha Presbyterian Seminary. Em

"Cairns publicou vários livros e editou obras de referência." 1943, mudou-se para Chicago (IL) e ensinou história da igreja no Wheaton College durante três décadas (1943-1973). Como professor, impressionava por sua organização, clareza e capacidade de integrar teologia e história. Ministro da Igreja Presbiteriana Unida dos EUA, publicou vários livros e editou obras de referência. O cristianis-

mo através dos séculos, sua obra mais conhecida, apareceu em 1954 e foi traduzida para mais de dez idiomas. No Brasil, tem sido publicada desde 1984 por Edições Vida Nova e já foi impressa várias vezes. Desde 2008, uma nova edição, revista e ampliada – baseada na última edição em inglês – está à disposição dos leitores.

"Walker foi um dos grandes nomes do congregacionalismo norte-americano." Os livros de Nichols, Walker e Cairns têm formado gerações na disciplina história eclesiástica, assim como a coleção Uma história ilustrada do cristianismo, do metodista Justo Luis González. São obras que ainda podem ser úteis no século 21. Contudo, paradoxalmente, o sucesso editorial dessas obras pode esconder a necessidade de novos títulos, mais recentes e atualizados. Que isso não aconteça. O Rev. Marcone Bezerra Carvalho é pastor da 1ª IP de Santiago, Chile, e colunista do Brasil Presbiteriano.


Brasil Presbiteriano

20

Boa Leitura Como Jesus Governa a Igreja – Guy Prentiss Waters

Como Jesus Governa a Igreja nos apresenta as bases da eclesiologia de modo abrangente, mas breve; erudito, mas acessível, com linguagem clara e simples. Escrito por Guy P. Waters, esse livro fornece aos pastores, presbíteros e outros líderes uma maior compreensão de como dirigir a igreja segundo a Bíblia. Segundo John Muether, Professor de Church History no Reformed Theological Seminary em Orlando, Como Jesus Governa a Igreja é um lembrete convincente de que a saúde da igreja está inescapavelmente ligada à sua política, e que a submissão ao governo da igreja bíblica é essencial para a vida cristã corretamente ordenada. A obra recomendada por inúmeros teólogos e pesquisadores, é um guia acessível que vem para fortalecer a compreensão e a prática do governo bíblico da igreja contemporânea reformada. Um Mundo com Significado – Jonathan Witt e Benjamin Wiker

Vivemos tempos em que questiona-

mos diariamente nossos propósitos e significados de vida. Por isso, a leitura de Um Mundo com Significado é tão necessária, afinal, a obra de Jonathan Witt e Benjamin Wiker nos leva a compreensão de como a arte e as ciências revelam o gênio da natureza. Um Mundo com Significado é ilustrado por fascinantes exemplos que nos mostram como a literatura e a ciência, juntas, nos ensinam que vivemos em um mundo repleto de significado, e não no mundo espiritualmente morto no qual os materialistas querem nos confinar. Além disso, Benjamin Wiker e Jonathan Witt retratam, com uma prosa brilhante, a profundidade, elegância, clareza e a absoluta inteligência de um universo designado para nutrir a vida inteligente que um dia irá descobrir o design com propósito. E recupera o propósito perdido não somente para a ciência, mas para todas as disciplinas acadêmicas. Ensinando através do Caráter – Eurípedes da Conceição

Escrito por Eurípedes da Conceição, pastor formado em Teologia e Administração de Empresas e Mestre em Educação Cristã, Ensinando através do Caráter busca conduzir os líderes ao entendimento de que foram chamados para servir e não para serem servidos, para amar sem exigirem ser amados e a liderarem por amor sem deixar que fale mais alto o amor por liderar. A obra é o livro-resposta ao ceticismo de inúmeros líderes eclesiais, mas também é o livro-pergunta que os desafia cada vez mais à realização de uma liderança que busca conformidade de um caráter à imagem e semelhança de Jesus Cristo. O livro está disponível para compras no site de Editora Cultura Cristã (www. editoraculturacrista.com.br).

Sobre esses e outros títulos acesse www.editoraculturacrista.com.br ou www.facebook.com/editoraculturacrista ou ligue 0800-0141963

Novembro de 2018

Entretenimento e reflexão O Brasil Presbiteriano não necessariamente endossa as mensagens dos filmes aqui apresentados, mas os sugere para discussão e avaliação à luz da Escritura.

Um Golpe do Destino (1991)

Felicidade por um Fio (2018)

The True Cost (2015)

Um Golpe do Destino nos conta a história do Dr. Jack, um excelente cirurgião, que passa de médico a paciente ao descobrir em seu próprio corpo um câncer nas cordas vocais. A descoberta traz inúmeras mudanças na personalidade, vida pessoal e na profissão de Jack. Apesar de ser um excelente médico, Jack é uma pessoa fria, distante emocionalmente de seus pacientes e com atitudes semelhantes com às de profissionais do sistema de saúde de nosso país. Ao tornar-se um paciente, ele percebe como tratar de um doente vai além de entender termos técnicos e tratamentos. É preciso atenção plena. Trabalhar com pessoas hospitalizadas exige prepara físico, emocional e espiritual. Na IPB nós temos cursos de Capelania Hospitalar ministrados pela Eleny Vassão, capelã hospitalar e missionária. O debate sobre esse filme poderá incluir informações obtidas com nossa Capelania Hospitalar.

Produção original do Netflix, Felicidade por um Fio conta a história de Violet Jones, uma publicitária bem sucedida que desde pequena precisou lidar com problemas de autoestima e aceitação por conta da cor de sua pele e de seu cabelo afro. Com doses de comédia, o longa trata de forma delicada sobre relações familiares, falta de comunicação, diferenças sociais e a busca pela perfeição. Temas comuns e pertinentes na contemporaneidade. Vale ressaltar que a mensagem do filme é positiva, afinal, vale sobre como a felicidade não está em bens materiais ou na aparência. Como cristãos, sabemos que em Cristo temos felicidade plena, mas entender como a sociedade vem desconstruindo o conceito de sucesso é sempre importante, e esse filme pode ser um pontapé para tal reflexão. Recomendado para jovens e adolescente, o filme poderá servir como base para preparo de aulas sobre questões atuais e como devemos lidar com elas em nosso dia a dia.

A indústria da moda pode até ser considerada fútil por muitos, mas é fato que ela é uma das que mais emprega pessoas ao redor do globo e movimenta a economia mundial. Mas você já parou para pensar em como o processo dessa indústria e o nosso consumo dos produtos afetam a vida de milhares de pessoas? O filme-documentário The True Cost (sem tradução oficial) nos apresenta a realidade obscura da indústria têxtil. Com relatos de funcionários, membros de ONGs como o Fashion Revolution e pesquisadores, o filme nos leva a refletir sobre a importância de questionar a origem de nossas roupas, sobre trabalho análogo à escravidão e consumo desenfreado – uma realidade do mundo atual. O documentário apresenta também informações sobre o desabamento do Edifício Rana Plaza em Bangladesh. O acidente resultou na morte e ferimentos de milhares de costureiros da indústria de fast fashion. O documentário está disponível em serviços de streaming como o Netflix.

Curta nossa página no facebook e receba notícias do que está sendo realizado pela IPB.

www.facebook.com/jornal.brasilpresbiteriano


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.