Templários - Volume 1

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Colecção

Mandala

VOLUME 1

Dos Antecedentes Históricos à Fundação e Expansão


Título Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta Vol. 1: Dos Antecedentes Históricos à Fundação e Expansão Autor Eduardo Amarante Coordenação e revisão Dulce Leal Abalada Revisão Isabel Nunes Grafismo, Paginação e Arte final Div'Almeida Atelier Gráfico www.divalmeida.com Ilustração e Técnica da capa Gabriela Marques da Costa Arte Digital / Assemblage Digital Bernardo de Claraval - o impulsionador da Ordem do Templo, 2010 gabriela.marques.costa@gmail.com www.gabrielamarquescosta.wordpress.com www.facebook.com/home.php?#!/pages/Gabriela-Marques-da-Costa/134735599901538 +351 915960299 Impressão e Acabamento Espaço Gráfico, Lda. www.espacografico.pt Distribuição CESODILIVROS Grupo Coimbra Editora, SA comercial@coimbraeditora.pt 1ª edição – Fevereiro 2011 ISBN 978-989-8447-06-7 Depósito Legal nº 321688/11 ©Apeiron Edições Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico sem a prévia autorização do editor. Projecto Apeiron, Lda. www.projectoapeiron.blogspot.com apeiron.edicoes@gmail.com Portimão - Algarve


Eduardo Amarante

VOLUME 1

Dos Antecedentes Históricos à Fundação e Expansão

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NOTA DO EDITOR Templários – de Milíca cristã a Sociedade Secreta foi editada em 8 volumes pela primeira vez, pelas Publicações Quipu, entre os anos 2000 e 2003. Pelo sucesso que a obra alcançou na época (mais de 20.000 exemplares vendidos) surge agora a público esta nova edição, revista e aumentada, em 4 volumes, sendo o último volume totalmente inédito.



Dedico esta obra à minha esposa, Dulce, que, com o seu empenho e entusiasmo, a sua ajuda incansável na investigação e os seus preciosos conselhos, me deu o ânimo e a força necessários para a realização da mesma. Que todo este esforço, vivido e partilhado por ambos possa, de alguma maneira, contribuir para a melhor compreensão de um fenómeno histórico tão importante como foram os Templários e o papel que desempenharam no mundo e, particularmente, em Portugal. Parede, 16 de Agosto de 2000

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SIMBOLISMO DA ILUSTRAÇÃO IMAGEM TEMPLÁRIOS, 1 Gabriela Marques da Costa (a pintora) Os Templários e as Cruzadas são um tema que alegram o coração daqueles que continuam a ter bravura no seu ideal patriótico/místico e, ao mesmo tempo, é desdenhado por outra facção que os renegam, considerando-os homens de massacre e salteadores… Ao realizar esta capa de livro, a única coisa que me ocorre é prestar-lhes uma homenagem! Por isso coloquei a imagem dos Templários, tanto na capa como na contracapa, com as nuances de luz expandida, como que se um foco divino os iluminasse. Pintura de Gabriela Marques da Costa Capa e Contracapa O fundo da capa apresenta uma cor entre o bordeaux e o castanho. Esta combinação não foi por acaso, pois representa o sólido das ideias vincadas, a segurança relativamente à sua Fé e, ao mesmo tempo, a calma dos seus princípios; é a cor do rústico, que exprime como eles eram genuínos. Em contrapartida, esta cor representa também a densidade do peso e a aspereza relacionada com as suas batalhas. As estrelas encontram-se deformadas, pois a ideia era dar movimento e sensação ao observador; que o tempo é uma constante e que voa por mais parados ou atarefados que estejamos! As estrelas são como que uma bússola guiando-os, assim, nas suas viagens nocturnas. Estas simbolizam a luz que brilha na escuridão, simboliza a verdade, o espírito e a esperança. Quanto à espiral, esta representa acima de tudo o tempo – passado, presente, futuro. Mas como esta espiral é uma espiral dupla, traduz o todo, a união dos contrários, o nascimento e a morte.

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No meu entender, este tipo de espiral encaixa-se perfeitamente na Ordem Templária, pois eles eram detentores de muitos segredos; tanto eram queridos como odiados, falavam de Deus e do Salvador do mundo, querendo proteger e guardar as suas relíquias, mas a morte estava sempre presente nesses seus combates. Mas, para além de ter esta carga simbólica, não poderia deixar de representar a espiral através da imagem da nossa Estrada de Santiago, onde o nosso Mundo lá se encontra num pequenino ponto, como que em homenagem ao nosso Sistema Solar. À sua frente encontra-se um rosto pacífico e amoroso de Bernardo de Claraval, grande impulsionador para o aparecimento da Ordem Templária. Entre Bernardo de Claraval e o cavaleiro templário encontra-se o selo templário, apenas com a sua borda circular. A borda apresenta cinco ícones com cor sanguínea. Esta cor representa as influências para a existência desta Ordem; representa o sangue, tanto do Homem como de Cristo, mas também o optimismo e confiança no futuro. Referindo agora o significado dos símbolos inseridos no redondo do selo, subindo pela esquerda até à direita, encontramos: · Em primeiro lugar um símbolo que representa o Islamismo – uma espécie de Mandala com o nome escrito de “Alá”; · Prosseguindo, temos o símbolo do Maniqueísmo, o qual está representado pelo seu fundador – Mani; · O terceiro ícone é a cruz Cátara, do movimento Cátaro que existiu então; · O quarto ícone representa a Gnose. Esta mão era um dos símbolos desta filosofia do conhecimento com espiritualidade; · Por fim, o quinto ícone representa o Marcionismo, o qual está representado pelo seu fundador – Marcião. O Templo de Salomão também aqui está representado, pois é um dos pilares da busca dos Templários. Por último, em primeiro plano temos a personagem principal – O Templário em cima de um Cavalo Turcomano. Tanto o Templário como o Cavalo encontram-se em tons brancos, como que a irradiar luz. Os brancos neste caso representam a pureza do cavaleiro, a inocência movida pela fé, a reverência pela causa e pela pátria, a paz de Deus, a simplicidade que faziam por ter, apesar de serem detentores de muitas riquezas. O branco representa também a rendição, neste caso a Deus e à sua crença cristã. Em relação à contracapa, o “pobre soldado de Cristo do Templo de Salomão” aí representado encontra-se em pose serena, mas com a mesma

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carga simbólica do templário da capa. O selo templário aí patente é o ícone que os identifica. A frase românica que aparece muito tenuemente no fundo da contracapa é alusiva a uma legenda de uma iluminura dos templários a combater pela Santa Fé em Jerusalém. A ténue gravura mais à esquerda em cima do selo templário simboliza o apoio prestado por estes guerreiros abnegados no auxílio dos peregrinos a Jerusalém. A gravura mais à direita representa a opulência das cortes Bizantinas recebendo os “pobres soldados de Cristo do Templo de Salomão”.

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ÍNDICE

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INTRODUÇÃO 1ª Parte – ANTECEDENTES HISTÓRICOS CAPÍTULO I OS PRIMEIROS CENTROS DE CULTO E RITUAL 1. Os monumentos megalíticos e os templos 2. Templos, catalisadores de energia

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CAPÍTULO II A ORDEM DE CAVALARIA E O CÓDIGO DE HONRA 1. Origem e desenvolvimento da Ordem 1.1. Os deveres do cavaleiro 1.2. As regras de admissão 1.3. A investidura A cerimónia de investidura 1.4. As sete virtudes do cavaleiro 1.5. Os sete vícios que o cavaleiro deve evitar 1.6. O significado simbólico das armas do cavaleiro 1.7. As regras da Ordem e a sua semelhança com a Iniciação 2. As novelas de Cavalaria

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CAPÍTULO III AS TRÊS GRANDES RELIGIÕES MONOTEÍSTAS – JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO 1. Breve resumo histórico-religioso do judaísmo 1.1. Os essénios 2. Breve resumo histórico-religioso do cristianismo primitivo 2.1. O culto do Espírito Santo: sua origem e reinado 2.2. S. Paulo e a estrutura ideológica do cristianismo versus judaísmo

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2.3. Duas Igrejas em confronto: a de Pedro e a de João 2.4. As heresias cristãs primitivas 2.4.1. A gnose 2.4.2. A Escola de Alexandria e os neoplatónicos 2.4.3. O marcionismo 2.4.4. O maniqueísmo 2.4.5. Os cátaros e a sua doutrina (a influência druida) A hierarquia cátara A iniciação cátara Os mistérios cátaros 3. Breve resumo histórico-religioso do islamismo A Ordem dos Assassinos CAPÍTULO IV HERESIAS VERSUS IGREJA CAPÍTULO V PEREGRINAÇÕES AOS LUGARES SANTOS E A PRIMEIRA CRUZADA 1. A conquista da Terra Santa 2. Os Estados Latinos do Oriente 3. Formação das Ordens monástico-militares 4. Hugo de Payns, fundador da Ordem do Templo

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2ª Parte – FUNDAÇÃO E EXPANSÃO CAPÍTULO I BERNARDO DE CLARAVAL E O SÉCULO XII 1. O rosto empreendedor da Ordem de Cister 2. São Bernardo e o ideal de Cavalaria 3. Da formação religiosa aos fundamentos de uma nova política europeia 3.1. A doutrina como produto da experiência diária

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CAPÍTULO II A FUNDAÇÃO DA "MILÍCIA DOS POBRES CAVALEIROS DE CRISTO" 1. Jerusalém: cidade islâmica / cidade cristã 2. São Bernardo e o conceito de guerra no âmbito da Nova Cavalaria 3. A apresentação dos cavaleiros a Balduíno II e a fundação da Milícia 4. A influência do Oriente na consolidação da Ordem do Templo na Europa

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CAPÍTULO III A FORMALIZAÇÃO DA ORDEM DO TEMPLO 1. Os primeiros passos para o reconhecimento estatutário 2. Descrição de alguns preceitos de vida em comunidade 3. “De Laude Novæ Militæ” – “O Louvor à Nova Milícia” 4. A Regra secreta e o Manuscrito de Hamburgo 5. O “segredo” da Milícia: seu enquadramento no plano de execução da missão

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CAPÍTULO IV A ESTRUTURA HIERÁRQUICA TEMPLÁRIA 1. O aspecto interno do sistema piramidal a) A eleição do novo mestre

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2. Similitudes entre a hierarquia templária e a Ordem dos Assassinos 3. A admissão na Ordem do Templo 3.1. A cerimónia de recepção 4. O poder temporal da Ordem

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CAPÍTULO V O SISTEMA FINANCEIRO DA ORDEM DO TEMPLO 1. As receitas: as rendas e o dízimo 1.1. As doações e o património 1.2. As disputas e os conflitos 2. As comendas, os castelos e as fortalezas templárias

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CAPÍTULO VI AS CRUZADAS E A EXPANSÃO TERRITORIAL DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS 1. O segundo Mestre da Ordem do Templo: Roberto de Craon 2. A tradução francesa da Regra e a autonomia religiosa 3. Da unidade do exército muçulmano às novas cruzadas 3.1. A função templária em terras do Oriente 3.2. A segunda cruzada e a disciplina militar da Ordem do Templo 3.3. Breves apontamentos sobre a forma de combate do exército cruzado e a técnica usadas pelos muçulmanos 3.4. A nova política geoestratégica dos Estados latinos do Oriente: os primeiros desentendimentos entre a Ordem do Templo e o rei de Jerusalém 3.5. A seita dos assassinos, o rei de Jerusalém e a Ordem do Templo: erros estratégicos e novos desentendimentos 3.6. O reforço territorial do Islão e o enfraquecimento dos Estados cristãos 4. O desvirtuamento do espírito da cruzada e os “interesses” político-económicos

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4.1. As últimas cruzadas e os Estados latinos 5. Os aspectos positivos e negativos do movimento das cruzadas a) Os aspectos positivos b) Os aspectos negativos

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CAPÍTULO VII A LINGUAGEM UNIVERSAL DOS SÍMBOLOS (breves apontamentos introdutórios ao simbolismo templário) 1. O símbolo como veículo de transmissão da antiga sabedoria 2. A ciência dos símbolos: a simbologia 2.1. Os símbolos primordiais 2.1.1. O círculo e a cruz 2.1.2. A evolução do círculo para a cruz 2.1.3. A árvore e a serpente 3. A ciência dos números: a numerologia 4. Antigas tradições sobre o Rei do Mundo (breves noções básicas) 4.1. O Reino do Preste João e o Imperador Universal: a relação destas tradições com a Ordem do Templo 4.2. O Graal e a sua relação com a Milícia de Cristo

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CAPÍTULO VIII OS SÍMBOLOS DA ORDEM DO TEMPLO 1. Da cruz pátea à cruz templária: sua construção geométrica 1.1. A cruz de cor vermelha 1.2. A cruz de cor branca 2. O quinto elemento, o quincôncio 3. O estandarte e o gonfalão-estandarte 4. O bastão e a vara 5. Os selos templários: seu conteúdo simbólico 5.1. A dupla função do selo 5.1.1. O selo Abraxas e o seu significado simbólico

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5.1.2. O selo do Templo e o selo dos cavaleiros gémeos a) O significado simbólico do selo dos cavaleiros gémeos 5.1.3. O selo Agnus Dei 6. O baphomet 6.1. Baphomet como “cabeça-ídolo” 6.2. Baphomet como figura enigmática 7. O octógono 8. A escrita criptográfica (o alfabeto secreto)

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CAPÍTULO FINAL 1.º VOLUME

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INTRODUÇÃO A aquisição do conhecimento, seja ele qual for, traz sempre consigo a grande responsabilidade de o utilizar para o bem e não para o mal; para construir e não para destruir. N. Pennick

Muito se tem falado sobre os templários. No entanto, falta de facto saber quais os fundamentos que nortearam a sua existência, suas motivações, suas acções e objectivos; enfim, falta compreender no fundo a sua razão de ser como Ordem no contexto europeu da época. Para tanto, é necessário fazer um esforço de recuar no tempo e procurar trazer à luz do dia as suas raízes ramificadas no solo, não só das culturas ancestrais, das tradições antigas e filosofias, como também do cristianismo primitivo. Este novo e reformulado volume, que vem agora a público, é composto de duas partes: • A primeira, sob o nome “Os antecedentes históricos”, pretende dar ao leitor uma perspectiva generalizada e concisa, tanto quanto possível, do “caldo de ideias” que levou à criação da Ordem Templária. Essencialmente, esta primeira parte visa focar a herança resgatada de um conhecimento perdido, ou proibido, alicerçado em cultos “pagãos” e “heresias cristãs”. Com isto lanço um repto ao leitor: viajar no tempo do mundo “mítico” das origens. Quero crer que esse desafio espiritual ajudará na compreensão daqueles homens que fundaram, combateram e morreram pela causa da Ordem do Templo; • A segunda, sob o nome “Fundação e Expansão”, trata da criação da milícia cristã e a sua formalização futura como Ordem do Templo. Acredito que esta nova abordagem do tema trará novos elementos ao estudo desta temática, a fim de desvelar as causas e consequências que determinaram a sua origem e implantação dentro do mosaico histórico-religioso daquele período medieval, marcadamente conturbado, que se seguiu ao ano mil.

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Na 1ª parte explano de forma breve as fontes de ideias que inspiraram e marcaram a acção dos templários; sabemos, hoje, que elas foram muitas, a ponto de ser possível detectar a grande variedade e riqueza das tradições assimiladas (não esquecendo as três grandes religiões monoteístas) e, por isso, não ser possível estudá-las exaustivamente. Ao longo deste volume referirei aquelas tradições que me pareceram, de facto, as mais marcantes e principais na construção e desenvolvimento do pensamento ideológico templário. Desde o conhecimento das forças energéticas da Terra e do Céu, dos lugares mágicos, da arquitectura sagrada, do ideal da Cavalaria, das religiões “mistéricas”, quer do Oriente quer do Ocidente, passando pelo sistema fortemente hierarquizado, das alegorias, dos símbolos e dos mitos cosmogónicos (em tudo muito idênticos aos cultos ditos pagãos), são muitos e diversificados os temas abordados. No seu todo dão uma panorâmica geral da complexidade e riqueza do “sistema filosófico”, se assim o podemos designar, que definiu a Ordem como uma “potência ameaçadora” na época e a fez sonhar na possibilidade de alargar a sua esfera de acção a um plano global. Encontrar o fio de Ariadne no meio deste labirinto de ideias e, sobretudo, compreender o seu significado é tarefa difícil para o comum dos homens: sendo inteligível a poucos – aos “puros de coração”, que herdaram e preservaram a chave original do conhecimento na interpretação da Sabedoria – é, porém, inacessível a muitos. Contornando um pouco esta dificuldade apoiei-me, como método e ferramenta de trabalho, nas fontes documentais e nos estudos comparados para conhecer a verdadeira dimensão da missão dos primeiros soldados de Cristo, futuros cavaleiros do Templo. Para abordar uma temática tão complexa e delicada como esta (dos cavaleiros templários) é mister evitar, o que hoje é prática corrente, cair em erros grosseiros. Nos tempos que correm é imprescindível observar muito, e com o espírito aberto (ser-se ecléctico à maneira clássica), comparar os dados (sejam eles testemunhos, documentos, etc.) analisando-os criteriosamente e em rigor com o propósito de aceitá-los ou refutá-los. Por vezes – sem nos darmos conta – é uma vida inteira que passa por nós ao tentarmos compreeender e intuir a dimensão histórica de um acontecimento em uma determinada épo-

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ca. A tentação actual, que é ter tudo à mão e obter respostas no imediato, é quando se descobre alguns vestígios ou sinais, interpretá-los de acordo com a nossa presente forma de pensar, e chegar assim a conclusões apressadas e pouco credíveis, não raras vezes imprudentes. Com isto pretendo dizer que é perigoso chegar a uma afirmação irredutível – geralmente baseada mais na vaidade do que no conhecimento – quando não está fundamentada em factos inequívocos; quando recorremos a especulações subjectivas, para além de se cometer o erro de prestarmos um mau serviço à História, poderemos estar também a desvirtualizar a verdade histórica de um acontecimento, cujas consequências serão imprevisíveis. Tudo isto vem a propósito da quantidade de vezes que ouço falar das dimensões esotéricas disto ou daquilo. Actualmente prolifera o “esoterismo” e, muitas vezes, este termo é abusivamente utilizado como expressão de especulações fantasiosas, que tocam as raias do engano e engendram a confusão nas mentes, que as tomam por verdadeiras. Diga-se que o verdadeiro esoterismo não é subjectivo e tão pouco é produto de maquinações e de grandes produções intelectuais; bem pelo contrário, na sua essência, o esoterismo é simples e claro na mensagem que transmite: é profundamente prático, sobretudo na experiência que retira do dia a dia, fonte do conhecimento do homem e, por isso, verdadeiramente social e político. Ele é o motor, o móbil que age dentro do homem e que incute nele a energia e o “sonho” que o faz agir e construir a obra ao serviço de uma causa nobre. Era esse o clima em que os templários se enquadravam, que não é, por certo, aquele em que vivemos na actualidade, onde não existem causas eficazes em prol do bem comum, de um ideal social e político (no sentido clássico da palavra polis) e de uma fé. Daí que eu defenda: abordar os templários apenas no seu aspecto doutrinário, religioso e/ou espiritual, por muito esotérico que seja, é tomar uma parte – não tão visível assim e, além do mais, de difícil comprovação – pelo seu todo. Aliás, refira-se que a missão templária não era do foro esotérico, mas fundamentalmente política, com intervenção social, sustentada, isso sim, em valores religiosos e espirituais (que nortearam as suas vidas), de cariz tradicional. É só neste contexto que se pode falar de esotérico: no sentido de uma prática existencial advinda do “contacto”

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com a Sabedoria, que poucos conseguem alcançar. De alguma forma, a Ordem do Templo a Ela conseguiu ter acesso. Pelos documentos, fontes e vestígios encontrados não se pode negar – e tudo aponta para isso – que a linha de acção dos templários tinha duas vertentes: uma, de milícia cristã, mais prática; e a outra, de sociedade secreta, entendida como uma comunidade de poucos, com uma doutrina e rituais específicos. Isto é, uma milícia cristã, externa e militar; e outra, sociedade secreta, interna e monástica. Contudo, estes matizes – interno e externo – estavam englobados num projecto político mais amplo que, na realidade, pretendiam incrementar, primeiro na sociedade, depois no mundo. E foi este o principal motivo da perseguição política, movida pela realeza francesa, contra a Ordem do Templo, protagonizada, sobretudo, contra os seus altos dignitários. Em sintonia com alguns historiadores sérios, especializados no tema, também aceito que a Ordem do Templo vivia sob determinados preceitos “secretos”. Mas – e neste ponto é que discordo de alguns – vejamos, é por serem secretos que nos são vedados, de forma a que nenhum homem incauto ou de má fé possa manipulá-los, distorcê-los e, assim, deturpá-los, prejudicando o seu sentido original e perdendo irremediavelmente a compreensão do seu conteúdo. Reconheçamos, simplesmente, que nos são estranhos e que não somos capazes de interpretá-los. Inclusive, é bem possível que tenhamos perdido para sempre (?) a chave da sua descodificação, tal como também ocorreu com muitas ciências da antiguidade. Na 2ª parte abordo a fundação da Milícia de Cristo e a sua formalização posterior como Ordem do Templo. Neste contexto, Bernardo de Claraval é a figura incontornável; grande visionário do século XII, soube orientar e solucionar, enquanto pôde, os problemas de que o seu século padecia. Neste pano de fundo, a Ordem do Templo foi uma espécie de braço armado, não só militar como cultural e profundamente religioso, que se estendeu desde o extremo da Europa Ocidental até ao Próximo Oriente, enquanto a Ordem Teutónica, a quem cabia a defesa da Europa Oriental, correspondia ao outro braço armado do projecto político bernardino. Quando se fala da Ordem do Templo é fundamental não só aprofundar a sua Regra e Estatutos, como também a sua estrutura hie-

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rárquica de funcionamento, sem esquecer a sua invejável nomenclatura comercial e financeira, tão vanguardista para o tempo. Em primeira análise, focarei o aspecto orgânico e visível da Ordem dentro do panorama político, comercial e religioso da época, sem deixar de analisar, por outro lado, o domínio mais interno e menos visível (e tão dado a fabulações engenhosas), referente aos seus símbolos e ritos. Analisando a temática templária no seu todo, arrisco-me a dizer o seguinte: • A Milícia de Cristo pouco trouxe de novo para a época que já não tivesse existido anteriormente num outro período histórico da humanidade. Ressalta que os templários foram, de facto, se bem que de modo discreto, os herdeiros legítimos e fiéis depositários das antigas tradições e de antigos cultos pagãos, já perdidos na memória dos homens; • Não há como nos cingir à simples e linear forma como a História oficial aborda o tema templários, sem ter em conta o seu enquadramento no plano da existência humana: o facto de a Ordem tomar para si arquétipos e vivenciá-los na vida diária (sob a forma de um ideal), ao mesmo tempo em que, intelectualmente, actualizava os conteúdos desse conhecimento tradicional, transpondo-o para o seu período histórico, era revolucionário, pois determinou o pensamento da época, constituindo um factor inovador no seu tempo; • Os cavaleiros de Cristo não só praticaram estes preceitos morais, através de uma forte e estrita disciplina, como também os expandiram por todos os cantos do mundo, entre aqueles povos com quem já mantinham contactos estreitos, e entre aqueles com quem iniciaram os primeiros intercâmbios culturais. Esse, sim, foi, sem sombra de dúvidas, o maior contributo que a Ordem podia ter dado ao status quo de um período histórico tão carente de cultura: defender e agir em conformidade com as suas convicções e as regras aceites em prol de uma causa comum. De facto, era uma concepção profundamente revolucionária, mas também necessária para a época; • É importante realçar a vocação universalista da Ordem Templária que, por um lado, com arte e engenho expandiu pelo mundo a mensagem de fraternidade e tolerância, alargada aos mais diversos povos, e, por outro lado, colocou à disposição de uns poucos homens “os conhecimentos secretos” de que era portadora, sempre que esses

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possuíssem aptidões morais e capacidades intelectuais próprias para os compreender e assimilar. Assim, os templários, ao tomarem conhecimento dos antigos ensinamentos, atemporais e universais, resgataram-nos para um novo plano de existência, fundando a mais poderosa e temível organização “secreta” (no sentido em que não apreendemos o Saber desses ensinamentos), de cariz europeu de que há memória (do que da História oficial se conhece). Esta fraternidade secreta universal, se assim a posso classificar – em que os seus adeptos, espalhados pelos vários países da Terra, eram considerados “Irmãos” [entenda-se que, em sentido lato do termo, significava uma comunhão de todos os homens de boa vontade, que comungavam da mesma causa e praticavam-na diariamente em respeito pela lei que juraram cumprir; dependendo da sua acção e capacidade espiritual, pertenceriam a um maior ou menor grau de “irmão” dentro dessa estrutura hierárquica], deixou vestígios em outras partes do globo, para além da Europa e do Próximo Oriente – se bem que, aparentemente, menores por serem menos visíveis –, que nos indiciam a existência de um presumível plano mundial. Sobre este ponto, é exemplo o caso de Portugal que, englobado no grande projecto templário, embora inacabado (oportunamente falaremos mais exaustivamente sobre este aspecto), serviu inicialmente os propósitos da Ordem do Templo, sem que esta deixasse de manter alguns intercâmbios culturais e religiosos com os detentores dos ensinamentos mistéricos do Oriente. Podemos, pois, concluir, que os cavaleiros templários fomentaram e serviram-se, no bom sentido do termo, da formação e defesa do Reino de Portugal para alicerçar o seu projecto mundial com base na fraternidade e na tolerância entre os povos. Nestes termos, podemos dizer que Portugal constituiu, assim, uma plataforma marítima e terrestre privilegiada para o Império Novo do Espírito, baseado no verdadeiro ensinamento de Cristo, que viria a surgir, apesar de tudo, num futuro não muito distante, não sob a bandeira da Ordem Templária, mas da de Cristo.

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1.ª Parte OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS



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CAPÍTULO I OS PRIMEIROS CENTROS DE CULTO E RITUAL

1. Os Monumentos Megalíticos e os Templos Vem de tempos imemoriais a concentração de cerimónias de culto em determinados lugares, recintos ou edificações. Para isso, a Natureza bafejou os “primitivos” com locais propícios para os seus cerimoniais e rituais. Árvores, bosques, montanhas, pedras e rios eram ambientes inspiradores para o homem poder entrar em comunhão com a divindade. Inclusive, a Natureza era tida como sagrada: a Mãe Natureza. Para além das construções sepulcrais de que hoje temos vestígios, o homem também ergueu, através dos tempos, monumentos e edifícios cada vez mais complexos, onde se realizavam as cerimónias dos variados cultos religiosos. A exemplo disso temos os cromeleques, os menires, as antas… Vulgarmente situavam-se longe das aglomerações humanas. Pelos vestígios neles encontrados considera-se que estes monumentos sagrados foram erigidos em locais revestidos de um profundo simbolismo religioso1. Eram centros de culto a uma divindade específica e bastas vezes objecto de peregrinações periódicas mais ou menos importantes. Foram os primeiros templos construídos em sinal de reverência para com uma entidade divina que o homem

1 Muitas vezes se especulou sobre a realização nesses lugares de sacrifícios humanos. Na Europa, temos o exemplo de um dos muitos aspectos discutíveis a respeito do povo celta. Há razões para pensar que, de facto, em determinadas épocas e lugares este tipo de rituais se realizaram. No entanto, bastas vezes eram sacrificadas pessoas que, por algum motivo, eram culpadas de algum crime, ou prisioneiros de guerra. Porém, também havia, entre o povo celta, quem se oferecesse para o bem da comunidade, geralmente pessoas que sofriam de graves doenças, ou feridas em combate, ou então vítimas de uma doença que os levaria irremediavelmente à morte. No caso de acontecer não haver mais ninguém com estas características procedia-se, então, entre o povo, à sorte do sorteio, sem possibilidade de recorrer da sua sentença.

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