Templários - Volume 3

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Colecção

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VOLUME 3

A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal A Missão Marítima


Título Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta Vol. 3: A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal: A Missão Marítima Autor Eduardo Amarante Coordenação e revisão Dulce Leal Abalada Revisão Isabel Nunes Grafismo, Paginação e Arte final Div'Almeida Atelier Gráfico www.divalmeida.com Ilustração e Técnica da capa Gabriela Marques da Costa Arte Digital / Assemblage Digital Portugal e a nova Ordem de Cristo - 2011 gabriela.marques.costa@gmail.com www.gabrielamarquescosta.wordpress.com www.facebook.com/home.php?#!/pages/Gabriela-Marques-da-Costa/134735599901538

+351 915960299 Impressão e Acabamento Espaço Gráfico, Lda. www.espacografico.pt Distribuição CESODILIVROS Grupo Coimbra Editora, SA comercial.cbr@cesodilivros.pt 1ª edição – Fevereiro 2011 ISBN 978-989-8447-08-1 Depósito Legal nº 321688/11 ©Apeiron Edições Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico sem a prévia autorização do editor. Projecto Apeiron, Lda. www.projectoapeiron.blogspot.com apeiron.edicoes@gmail.com Portimão - Algarve


Eduardo Amarante

VOLUME 3

A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal A Missão Marítima

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Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 3

SIMBOLISMO DA ILUSTRAÇÃO IMAGEM TEMPLÁRIOS, 3 Gabriela Marques da Costa (a pintora) Esta criação artística só por si tem uma carga simbólica muito grande, principalmente pelo tema que retrata, mas há que notar que esta obra não pode ser vista apenas como obra individual, pois é a continuação de mais duas obras sobre o mesmo tema e que retratam a evolução dos Templários na História. Contudo, esta capa marca algo muito importante e determinante para a sobrevivência desta Ordem do Templo: a sua transformação em Ordem de Cristo. Começando no plano de fundo da capa, observamos pela terceira vez que as capas Pintura de Gabriela Marques da Costa Capa e Contracapa desta trilogia continuam com a mesma vibração de cor dando, desta forma, uma sequência visual ao leitor da história destes “pobres cavaleiros do Templo de Salomão”. O bordeaux acastanhado é a cor que predomina no plano de fundo, simbolizando assim a segurança relativamente à sua Fé, a convicção das suas ideias, e ao mesmo tempo a calma dos seus princípios místicos. As nuances de luz expandida representam o céu estrelado, simbolizando assim o avanço do tempo e a transformação desta Ordem Templária na Ordem de Cristo. Quis também que o fundo continuasse com as mesmas nuances de cor, pois representa a consistência das ideias, a verdade, o espírito e a esperança, bem como os sentimentos nobres que a Ordem Templária tinha e que foram passados para os seus seguidores, agora com o novo nome – Ordem de Cristo.

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O selo templário aparece logo em seguida ao fundo bordeaux, simbolizando que a Ordem do Templo continua implícita mesmo depois da criação da Ordem de Cristo. O selo acaba também por nos remeter para a imagem de um vórtice do tempo, como que a trazer para o presente toda a história do nosso passado referente a esta temática. Logo de seguida aparece o Cavaleiro de Cristo representado de uma forma soberana, sobre tudo e todos. Aos seus pés temos as naus em marca de água, pois foram estas que ajudaram os navegadores portugueses nas suas descobertas continentais; daí todas as caravelas terem nas suas velas vibrantes ao vento a cruz da Ordem de Cristo. Aos seus pés encontram-se também Dom Dinis, Dom Manuel, Infante Dom Henrique e Dom João II. Ao colocar o Cavaleiro de Cristo, o meu objectivo não era dizer que a Ordem era mais importante do que os Nobres, mas sim que estes não teriam tido os seus anseios de estado tão bem sucedidos se não tivessem esta Ordem por trás a suportar e orientar as suas batalhas, conquistas, descobertas e rotas marítimas. Dom Dinis aparece-nos no canto inferior esquerdo com dois pinheiros sobre a sua mão representando o seu cognome – o Lavrador. Em seguida apresenta-se Dom Manuel, não cronologicamente mas simbolicamente, sendo cognominado de - O Afortunado - e sobre a sua mão, a caravela dos descobrimentos. Conta a História que as madeiras das caravelas vinham dos pinhais de Portugal que Dom Dinis mandou plantar outrora. Seguidamente aparece o Infante Dom Henrique, o grande navegador Português. Sobre as suas vestes aparece um lírio simbolizando a castidade e a santidade. Coloquei o Infante Dom Henrique no topo dos 3 reis, pois este foi governador da Ordem de Cristo. Por último temos Dom João II no canto inferior direito. Este tem junto ao peito o ceptro, não que os outros reis não o pudessem ter também, pois foram tão reis quanto ele, mas porque o ceptro simboliza o poder absoluto, soberano, a autoridade suprema bem como a proeminência; e este foi o símbolo que melhor se encaixou com D. João II, pois o seu cognome é - o Príncipe Perfeito. Em primeiro plano temos o Convento de Cristo, bem como a porta de entrada do Castelo de Castro Marim, tudo num só plano parecendo aos olhos do observador um só Castelo. O meu intuito foi mostrar que na passagem da sede da Ordem, primeiramente em Castro Marim e depois pa-

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ra Tomar, apenas houve uma mudança a nível geográfico, pois os fundamentos para a Ordem de Cristo continuavam os mesmos. Falando agora do elemento primordial da capa e o primeiro plano, vislumbramos logo uma cruz a vermelho. Esta representa a cruz Templária a transformar-se na cruz de Cristo. O apontamento da cruz Templária que se encontra inclinada denota o declínio, e por trás desta encontra-se a renascer em vermelho vibrante a nova cruz da Ordem de Cristo. O pequeno apontamento dentro da cruz que está a cair é o fogo, mas não o fogo que queima, que devasta e que destrói o conhecimento, mas sim o fogo do conhecimento, o fogo do renascer, tal como uma Fénix. Passando à contracapa, continua com muitas semelhanças em relação aos volumes 1 e 2. Contudo, os elementos novos dão novos contextos e informações a esta contracapa. Do lado esquerdo do Cavaleiro que detém a nova cruz da Ordem de Cristo no seu peito, denotamos que Filipe - O Belo - se encontra paralelo ao Templário e a olhar para este. Esta carga simbólica representa todo o pensamento e vontade em terminar com a Ordem Templária. Do outro lado do selo encontramos o Papa Clemente V, que seguiu as ideias e orientações de Filipe de França, terminando assim, de vez com a Ordem do Templo da forma mais desumana, cruel e traidora. Contudo, estas duas personagens contrastam com as vitórias da Ordem do Templo, agora reformada em Ordem de Cristo. Tudo isto está patente na imagem em marca de água do mapa de Piri Reis sobre o símbolo do Selo Templário e as naus Portuguesas a ganharem velocidade com as invisíveis sílfides e zéfiros a soprar as velas em nosso favor. Pensa-se que estes cavaleiros detentores de muitos segredos e rituais tinham em seu poder os mapas de Piri Reis, ajudando assim o nosso Portugal a descobrir nomeadamente o Brasil e outras paragens continentais. Quando criei esta capa, um dos meus objectivos foi mostrar ao observador que Portugal ficará ligado a esta Ordem de Cristo para todo o sempre. A sua simbologia, nomeadamente a cruz transformada aparecerá ao longo da história da nossa pátria, pois ainda nos dias de hoje se faz alusão a essa cruz. A cruz da Ordem de Cristo pode passar imperceptível a muitos olhos do nosso quotidiano devido à rotina das nossas vidas ou até mesmo, muitas vezes, por ignorarmos o seu significado e a sua importância… Mas a verdade é que continua lá com a sua carga simbólica e sempre lembrando ao nosso povo que Portugal já foi o centro do Mundo.

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ÍNDICE

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INTRODUÇÃO 1ª Parte – O PROCESSO PERSECUTÓRIO PARA A CONDENAÇÃO DA ORDEM DO TEMPLO E SUA DISSOLUÇÃO CAPÍTULO I A ORDEM MONÁSTICO-MILITAR DO TEMPLO NO CONTEXTO MEDIEVAL EUROPEU 1. O papel do homem e da mulher na Idade Média 2. A Ordem Templária como braço secular dos cistercienses 3. O fortalecimento visível e externo da Milícia 4. O desenvolvimento invisível e interno da estrutura 4.1. S. João Baptista e S. João Evangelista 4.2. O culto joanino e as duas Igrejas de Cristo 4.3. Outros símbolos herméticos 4.4. A Ordem do Templo e os iniciados muçulmanos 4.4.1. As escolas de iniciação

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CAPÍTULO II O MÓBIL DA PERSECUÇÃO AOS TEMPLÁRIOS 1. A decadência da Milícia cristã 1.1. O cerco aperta-se 2. O “acordo” secreto para a eleição de Clemente V 3. O princípio do fim: a trama da acção persecutória e a política do facto consumado 4. 13 de Outubro, a sexta-feira negra do ano 1307

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CAPÍTULO III O PROCESSO DE ACUSAÇÃO E A CONDENAÇÃO 1. Os delatores e os autos de acusação 2. As falsas confissões

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3. Os jogos de poder e os prisioneiros de Chinon: os falsos depoimentos 4. O enquadramento do Pergaminho de Chinon 4.1. Apontamentos breves sobre o Pergaminho 4.2. A problemática do perdão e da absolvição 5. As fases do processo de condenação 6. O processo de defesa dos templários e o veredicto final 7. O processo jurídico da dissolução da Ordem do Templo 8. A reabertura do processo Jacques de Molay 9. A “profecia” cumpre-se 10. O processo de condenação fora de França: o reconhecimento da inocência e a falácia do processo 11. Notas conclusivas

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2ª Parte – O ARDIL VISIONÁRIO DE D. DINIS – A “NOVA VERSÃO” DA ORDEM DO TEMPLO CAPÍTULO PRELIMINAR A ACÇÃO TEMPLÁRIA FORA DE FRANÇA 1. A relação política entre os monarcas e os cavaleiros templários nos séculos XIII e XIV 1.1. Traços gerais sobre a acção política do rei D. Dinis 2. A falácia do processo e os seus reflexos em Portugal e nos reinos peninsulares 3. A restauração da Ordem do Templo em Portugal: a Ordem de Cristo e o seu primeiro Mestre 4. O projecto templário de D. Dinis e o culto do Espírito Santo CAPÍTULO I A NOVA VERSÃO DA ORDEM DO TEMPLO – A ORDEM DE CRISTO 1. A nova missão dos cavaleiros de Cristo 1.1. A nova sede da Ordem: O convento de Cristo 2. O perfil do Infante e a planificação do projecto marítimo 2.1. Tomar, a mentora das viagens oceânicas

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2.2. As lendas da América e da Atlântida 2.3. Sagres, a escola da cruzada marítima “Quem quer passar além do Bojador...” Em demanda do reino do Preste João O enigma Cristóvão Colombo A política de sigilo da Ordem de Cristo 6.1. O tratado de Tordesilhas 6.2. A (re)descoberta do Brasil O mito do 5º Império na epopeia marítima O papel do conhecimento antigo na gesta dos descobrimentos Notas finais

CAPÍTULO II O FIM DA ORDEM DE CRISTO E O DECLÍNIO DE PORTUGAL 1. D. João III e o estabelecimento da Inquisição 1.1. A perseguição aos judeus na Península no século XVI 2. A perda da independência e o jugo espanhol 2.1. A morte de uma nação

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CAPÍTULO III REFLEXÕES GERAIS SOBRE AS RAÍZES DO GENE PORTUGUÊS 1. Traços breves das fontes portuguesas 2. Sebastianismo e 5º Império 3. O gene luso sob o olhar da ciência

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3ª Parte – RESQUÍCIOS DA SOBREVIVÊNCIA DA ORDEM DO TEMPLO COMO SOCIEDADE SECRETA CAPÍTULO I A MENSAGEM ATEMPORAL DOS TEMPLÁRIOS 1. Os mistérios na Antiguidade 2. A concepção do Homem/Templo 3. A simbologia do número 5 4. A simbologia do castelo de Tomar

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CAPÍTULO II O PLANEAMENTO GLOBAL TEMPLÁRIO A SINARQUIA COMO FÓRMULA SECRETA PARA A SOCIEDADE 1. A missão iniciática templária. O Pactio Secreta 2. O projecto sinárquico dos templários 3. Definição de sociedade secreta. A ciência oculta 3.1. A organização secreta templária 4. Notas conclusivas

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CAPÍTULO III O PROFÉTICO DESÍGNIO TEMPLÁRIO NO FUTURO

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ADENDA AOS POBRES CAVALEIROS DE CRISTO E DO TEMPLO DE SALOMÃO Uma singela homenagem

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BIBLIOGRAFIA

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Quando as bandeiras com a Cruz de Cristo flutuavam ao vento sobre mares estranhos e jamais sulcados por lenhos do Ocidente, o cavaleiro da Ordem sorria aos perigos, porque lá na Pátria, por entre as arcarias do Convento de Tomar, onde discorria o espírito do Infante D. Henrique, cem companheiros o aplaudiam, e com preces fervorosas, chamavam sobre ele as bênçãos do Céu. Brito Rebelo

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INTRODUÇÃO Quando se aborda a temática templária vem sempre à ideia a forma trágica do seu fim e, naturalmente, desejamos saber qual o crime grave que cometeram para lhes ter sido imputada tão pesada pena. Este volume dos Templários permite ao leitor conhecer os meandros dos interesses políticos, económicos e mesmo religiosos que se moviam nos bastidores. Esses jogos de conveniência, que tinham como palavra mágica a sede de poder dos seus protagonistas, engendraram o plano macabro de desmantelar uma Ordem monástico-militar indefesa e, provavelmente, ingénua quanto ao modus operandi da época. Se a prioridade de Filipe o Belo era o desejo de concentração da autoridade política (uma vez que a Ordem do Templo constituía-se como um “Estado dentro do Estado”), por outro lado a fraqueza de carácter do Papa Clemente V, aliada à dúvida e à incapacidade de responder aos jogos políticos do monarca francês, ditava a lei de dissolver uma Ordem que também era uma ameaça para o próprio poder papal, pois havia-se tornado uma “Igreja dentro da Igreja”. Posto isto, temos que o maior crime da Ordem do Templo foi ter-se tornado, aos olhos do povo (de que granjeava grandes simpatias), uma opção eficaz, capaz e viável contra os poderes institucionalizados da altura. Daí os templários terem sido tão infamemente caluniados, com falsas acusações de práticas de diabolismo e de acções inumanas, esses mesmos cavaleiros que tinham apenas como objectivo unir o mundo e os homens num universo de fraternidade e concórdia, entregando assim as suas vidas a esse fim. Este volume, intitulado A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal – a Missão Marítima”, é constituído por três partes: Na primeira parte desta obra, sob o título O processo persecutório para a condenação da Ordem do Templo e sua dissolução, pretende-se explanar a trama que se gerou nos corredores do poder, e que a Ordem desconhecia de todo: por um lado, tomando os seus verdadeiros inimigos por aliados, e, por outro lado, o modo como foram capturados e julgados pelos seus presumíveis “amigos”. Em sequência, apresentam-se não só alguns poucos documentos das actas do processo de acusação, como também o processo de defesa que os templários intenta-

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ram como resposta às confissões forçadas, revelando terem sido sujeitos a tortura. Em relação aos meios de tortura utilizados, o leitor é poupado às descrições mais violentas sem, no entanto, deixarmos de apontar as mais frequentes como forma de, por si, tomar consciência não só do modo bárbaro como eram feitas, mas também da razão por que muitos dos cavaleiros templários se viram obrigados a prestar falsas confissões, ao gosto dos seus carrascos, a fim de se libertarem desse sofrimento. Apesar deste desfecho dramático que, com toda a certeza, nem os seus fundadores nem S. Bernardo contariam, o facto é que, depois de dissolvida e passados tantos anos, a Ordem do Templo pertence indelevelmente ao imaginário colectivo da Europa, como uma marca profunda dos séculos XIl a XlV. Na segunda parte, sob o título O ardil visionário de D. Dinis: a ‘nova versão’ da Ordem do Templo, analisa-se a atitude e as acções tomadas pelo monarca português face às acusações e aos processos persecutórios a que a Ordem foi sujeita. É manifesto que, em Portugal, a sua presença perdurou por mais dois séculos. A perseguição e a dissolução da Ordem, no século XIV, em alguns países da Europa, fez com que o nosso país beneficiasse da vinda de mais cavaleiros templários para o seu território, a fim de continuarem a missão civilizadora que antes haviam encetado. Anos mais tarde, através da Ordem de Cristo, sua herdeira na missão, operaram nas caravelas portuguesas sob o pavilhão da Cruz de Cristo, (re)descobrindo terras, sendo que à maior de todas elas deram o nome paradigmático de “VERA CRUZ”, ou seja, a Terra da Verdadeira Cruz, conhecida nos dias de hoje por Brasil. Somente em meados do século XVI é que vemos dissipar-se do panorama político-social e religioso do país esta Ordem sem que, no entanto, não tivesse deixado de marcar profundamente o modus vivendi das suas gentes. Por fim, na terceira parte que tem por título Resquícios da sobrevivência da Ordem do Templo como sociedade secreta, faz-se uma análise do modo como a Ordem, desde o momento da sua dissolução oficial, foi particularmente mantida em território português, fruto da acção do monarca D. Dinis, permitindo a continuidade da sua missão sob, então, a bandeira da Ordem de Cristo. Só após o desaparecimento desta

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última, os seus membros tiveram de tomar a difícil decisão de seguir um dos dois caminhos: 1. emigrar (utilizando a terminologia actual), ou melhor dito, explorar e fixar-se nas terras já descobertas (distantes da influência perniciosa do poder papal e do seu braço inquisitorial), nomeadamente em Vera Cruz ou mesmo em terras do Oriente (travessia facilitada depois da viagem de Vasco da Gama), ou quiçá, África, em demanda do lendário reino cristão; 2. ficar em terras do continente europeu, onde exerceriam a sua actividade de forma clandestina no seio das sociedades. É uma evidência encontrarmos testemunhos da presença templária, particularmente do seu símbolo mais emblemático, a cruz, nos quatro cantos do mundo. Contudo, resulta complexo inferir, por falta de provas documentais, a sua presença efectiva e o contributo que possam ter dado no desenvolvimento de algumas culturas mais atrasadas. Parece que, neste aspecto, sumiram ou assim quiseram que acontecesse. Em relação ao segundo aspecto, parece ser mais fácil encontrar os seus vestígios em datas mais recentes. No entanto, é complexo saber ao certo se existe alguma organização ou irmandade, de cariz secreto, das muitas que hoje proliferam e subjazem nas nossas sociedades actuais, que seja herdeira directa da então Ordem do Templo. É este um campo bastante movediço e perigoso para qualquer estudioso da matéria, pois apesar da existência de vestígios templários em algumas destas sociedades, ditas secretas, não é certo que alguma delas tenha sido, de facto, depositária dos antigos conhecimentos tradicionais então na posse da Ordem do Templo. Pode mesmo ter acontecido que o plano projectado, e o ideal nele subjacente, para erigir um novo mundo tenham ficado, desde o século XVI, irremediavelmente perdidos para a actual humanidade. O que se guarda desses monges-guerreiros, que seguiam o lema “Nada para nós, Senhor, mas para glória do Teu nome”, reflecte bem o ideal por que lutavam. O que deles resta é a memória dos seus feitos… e o segredo que levaram com eles.

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1.ª Parte O PROCESSO PERSECUTÓRIO PARA A CONDENAÇÃO DA ORDEM DO TEMPLO E SUA DISSOLUÇÃO



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CAPÍTULO I A ORDEM MONÁSTICO-MILITAR DO TEMPLO NO CONTEXTO MEDIEVAL EUROPEU

Ao longo desta obra, composta por quatro volumes, dissemos que o conceito de uma Ordem ao mesmo tempo monástica e militar modificou o espírito das Ordens cristãs e introduziu o imperativo de uma eficácia terrestre imediata. A Regra de S. Bento caminhava nesse sentido, pois exigia dos monges um trabalho que lhes permitisse equilibrar a mente e o corpo de modo harmonioso (mente sã em corpo são). No entanto, vimos que a Ordem do Templo foi mais longe, visto exigir não só um trabalho associado à oração, como ainda uma função militar. A religião professada pelos cavaleiros templários não se reduzia a alcançar uma vida melhor no Além mediante a renúncia e o sacrifício pelos outros, no sofrimento e na pobreza. Era, acima de tudo, uma religião do aqui e agora, uma religião activa que actuava para suprimir a pobreza e a ignorância, e combater a opressão dos maus chefes: “Proteger os pobres, viúvas, órfãos e igrejas.” Jacques de Vitry, bispo de Acre em 1216 e grande amigo dos templários, dizia-lhes na altura: “Sois cavaleiros em batalha e como monges nas vossas casas.” Esta dualidade reflecte-se na Regra templária que, na época, se distinguia de qualquer outra. De facto, ela comporta “práticas religiosas combinadas com hábitos guerreiros, uma prescrição minuciosa, uma disciplina estrita mas não excessiva, e sobretudo a preocupação de que tudo seja feito com graça e de um modo digno da Casa do Templo.”

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