Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

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KÉRAMICA

revista da indústria cerâmica portuguesa

ECOCERÂMICA E CRISTALARIA DE PORTUGAL

A transformação está em curso, e o futuro das indústrias de cerâmica e cristalaria em Portugal nunca pareceu tão promissor.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

Editorial . 1

Sustentabilidade Energética . 2

Sustentabilidade Energética . 2

Cerâmica e Cristalaria Portuguesas, levantamento de perfil energético industrial por subsetor . 6

Economia Circular e Simbioses Industriais . 10

Economia Circular e Simbioses Industriais . 10

Simbioses industriais e circularidade, contributo do projeto Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal . 15

Desenvolvimento de eco-produtos de grés porcelânico com incorporação de resíduos: Testes preliminares . 19

FICHA TÉCNICA

Propriedade e Edição APICER [Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria]

Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício Lufapo Hub A - nº40, 1º Piso 3025-307 Coimbra

[t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt

Tiragem 1200 exemplares

Diretor

Marco Mussini

Editor e Coordenação Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt

Conselho Editorial Albertina Sequeira, António Oliveira, Cristiana Costa Claro, Marco Mussini e Martim Chichorro

Paginação e Capa Teresa Ribeiro Bento

Publicação Especial nº 391 . Dezembro . 2024

Financiamento

Transição Digital . 24

Transição Digital . 24

A virtualização da gestão de ativos: Armazéns digitais na indústria cerâmica . 28

Passaporte Digital de Produto . 31

Capacitação . 36

Capacitação . 36

Inovação na formação industrial: AR@CERAMIC AND GLASS ACADEMY . 38

Colaboração

Anabela Amado, Bruno Pereira, C. Moniz, Carla Lobo, Daniel Silva, Eduardo Santos, Helena Monteiro, Inês Rondão, Inês Vilarinho, J.A. Labrincha, João Mateus, José Silva, M.P. Seabra, Manuel Monteiro, Marinélia Capela, Marisa Almeida, Nelson Martins, Nuno Sousa, Sílvia Vara, Sofia Baptista, Sofia Bezerra, Teresa Ribeiro Bento e Victor Francisco.

Impressão Grafica Almondina- progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas, Apartado 29 2350-909 Torres Novas

[t] +351 249 830 130 [f] +351 249 830 139 [e-mail] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com

Distribuição

Distribuição gratuita.

Versão On-line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal

Notas Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte.

Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores.

Depósito legal nº 21079/88 . Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X

EDITORIAL

A Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP), uma Agenda Verde para a Inovação Empresarial, financiada pelo PRR - Plano de Recuperação e Resiliência, no âmbito do Next Generation EU da União Europeia, reúne um consórcio de 30 entidades, liderado pela Vista Alegre Atlantis, SA, incluindo empresas, associações e instituições do sistema científico e tecnológico. Com um investimento global de cerca de 100 milhões de euros, a Agenda ECP teve início em janeiro de 2022 e estende-se até dezembro de 2025.

O objetivo é claro: promover a competitividade, sustentabilidade e inovação nos setores da cerâmica e da cristalaria, que tradicionalmente enfrentam desafios significativos em termos de consumo energético e emissões de carbono. Historicamente, estas indústrias apresentam uma elevada dependência energética, traduzida em elevados custos de produção. Em paralelo, as exigentes metas de descarbonização e neutralidade carbónica impostas pela União Europeia requerem uma adaptação urgente e inovadora.

Quatro Pilares Estratégicos

Para enfrentar estes desafios, a Agenda ECP estrutura-se em quatro pilares estratégicos:

1. Sustentabilidade Energética – Reduzindo a dependência de combustíveis fósseis através da adoção de energias renováveis, como o hidrogénio verde, e da otimização energética.

2. Economia Circular e Simbioses Industriais – Promovendo a utilização de matérias-primas secundárias e soluções de economia circular. 3. Transição Digital – Modernizando os processos produtivos e integrando tecnologias avançadas.

4. Capacitação – Preparando os trabalhadores para os desafios futuros e novas profissões.

Missão e Objetivos

A Agenda ECP pretende reforçar a competitividade das indústrias de cerâmica e cristalaria a nível nacional, baseando-se em fatores de inovação,

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

diferenciação e uma sólida dinâmica colaborativa. Com investimentos direcionados a todas as etapas da cadeia de valor do setor e sustentados na melhoria das qualificações dos seus ativos, a agenda almeja uma transformação que beneficie não só o setor como o meio ambiente.

A descarbonização surge como uma estratégia crítica para responder às exigências da sociedade por maior responsabilidade ambiental e preparar um futuro de baixo carbono, promovendo simultaneamente o sucesso económico das empresas e a proteção ambiental. A missão do consórcio é fortalecer o posicionamento global dos clusters industriais portugueses da cerâmica e da cristalaria.

Organização e Metas

Para alcançar a neutralidade carbónica e abordar temas como sustentabilidade energética, economia circular, simbioses industriais, transição digital e capacitação, a Agenda ECP organiza-se em 8 WP temáticos (Work Packages). Estes resultarão em 33 novos produtos, processos ou serviços (PPS), meta a atingir até 2025.

Inspiração e Impacto

Esta Agenda é um modelo exemplar de inovação, colaboração e sustentabilidade, congregando empresas, associações e instituições de conhecimento. Posiciona a indústria portuguesa como referência global na produção inteligente e ambientalmente responsável.

Com objetivos ambiciosos e resultados tangíveis, constitui uma fonte de inspiração para outras indústrias que procuram equilibrar tradição com inovação, competitividade com sustentabilidade, e eficiência com responsabilidade ambiental.

A transformação está em curso, e o futuro das indústrias de cerâmica e cristalaria em Portugal nunca pareceu tão promissor.

Sustentabilidade Energética SUSTENTABILIDADE ENERGÉTICA

Os setores da cerâmica e da cristalaria caracterizam-se por serem consumidores intensivos de energia. Aproximadamente 80% dos seus gastos energéticos estão centrados nos processos de cozedura (cerâmica) e de fusão (cristalaria). Muitos esforços de melhoria de eficiência energética e da aplicação das melhores tecnologias disponíveis estão já a ser implementados, com níveis de emissão de gases de efeito de estufa e consumos energéticos específicos cada vez menores. No entanto, a ambição de descarbonizar e atingir a neutralidade carbónica continua a apresentar um grande e exigente desafio.

É nesse sentido que se apresenta como necessária uma transição energética disruptiva, que seja capaz de atingir reduções ainda mais significativas do que as medidas já implementadas. A substituição dos combustíveis fósseis atuais por combustíveis provenientes de fontes de energia renovável e de baixo carbono, como são a eletricidade, o Hidrogénio Verde ou o Biometano, acarretam grandes incógnitas e alterações de processo que necessitam ser investigadas. É crucial uma avaliação profunda destas alternativas, tendo em conta aspetos como a segurança e gestão de riscos na sua utilização, a adaptação das infraestruturas e equipamentos atuais, a existência de um plano que garanta a disponibilidade e acessibilidade destes combustíveis verdes, a preços competitivos, bem como a realização de estudos de investigação que verifiquem a influência destas novas atmosferas no processo produtivo e nas propriedades finais dos produtos. A sustentabilidade destas indústrias não pode ser comprometida se não forem esclarecidas todas estas incertezas.

O contributo da Agenda

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP)

Os trabalhos a desenvolver pelo consórcio visam validar tecnicamente a transição para combustíveis renováveis, nomeadamente para a eletrificação de processos ou o consumo de Hidrogénio Verde. Os ensaios serão realizados em escala laboratorial, semi-industrial e industrial. Também será realizado o estudo de alterações dos equipamentos e Infraestruturas para os preparar para operar com mistura de Hidrogénio com Gás Natural.

Work Package 1 (WP1). Serão ainda desenvolvidas soluções tecnológicas avançadas que permitam definir as melhores estratégias de recuperação de calor residual, de implementação de medidas de eficiência energética e de monitorização do estado de conservação das chaminés e outros equipamentos, sem necessidade de intervenção humana direta, utilizando tecnologias de Inteligência Artificial e de Machine-Learning (WP2).

WP1 – Fornos de Cerâmica e Cristalaria e outras soluções de queima

O WP1, como mencionado anteriormente, tem como objetivo demonstrar a viabilidade técnica das tecnologias de queima para a cerâmica e de fusão para a cristalaria. Os resultados deste projeto irão permitir a estes setores tomar decisões de investimentos com maior confiança, considerando as implicações e os alcances esperados e minimizando os riscos associados à alteração de equipamentos e infraestruturas.

Imagem 1. Forno piloto híbrido do CTCV, reconvertido pela Induzir, para ensaios de cozeduras com diferentes regimes energéticos (misturas GN/H2 e Elétrico).

Sustentabilidade Energética

No esquema seguinte são apresentados os principais desafios que a alteração para a combustão com Hidrogénio apresenta. As etapas de estudo, análise e demonstração que o projeto tem planeado realizar são:

Queimadores de Hidrogénio

Novos equipamentos híbridos de queima

Avaliação da velocidade de combustão de H2

Análise da morfologia, visibilidade e cor da chama de H2.

Quantificação de emissões em misturas H2/GN.

Modelação para simulação e desenho de queimadores industriais.

Adaptação do forno piloto intermitente do CTCV, de escala laboratorial.

Construção de forno de rolos contínuo híbrido, de escala semi-industrial.

Rede de produção e consumo de Hidrogénio

Definição das especificações dos eletrolisadores adequados.

Definição de especificações de equipamento de armazenagem de H2.

Desenho de infraestrutura para mistura de Gás Natural e Hidrogénio.

Avaliação das redes de abastecimento e infraestruturas.

Ensaios de cozedura

Reequipamento das infraestruturas industriais

Ensaios laboratoriais de cozedura com vários produtos cerâmicos (porcelana, grés, faiança).

Ensaios de diferentes subsectores (louça, pavimento, sanitários)

Ensaios com diferentes mix energéticos (GN, H2, eletricidade).

Avaliação dos impactos das diferentes atmosferas de cozedura.

Estudo de reconversão das instalações existentes.

Adaptação de forno industrial.

Análise do impacto da alteração do mix energético.

Demonstradores à escala industrial

Desenho, construção e instalação de forno industrial híbrido.

Ajuste e otimização de ciclos para as novas condições de queima.

Análise da atmosfera dentro do forno e das emissões resultantes.

Análise das características dos produtos obtidos.

Avaliação do impacto no equipamento e infraestrutura.

WP2

Energia e descarbonização

na Cerâmica e

Cristalaria

Com vista à descarbonização e à melhoria de eficiência energética das indústrias da cerâmica e do vidro, o projeto pretende identificar possíveis estratégias de recuperação de calor residual. Uma vez que estas indústrias são consumidoras intensivas de energia, ao reduzir as perdas de energia térmica e aproveitando o calor residual, obtêm-se ganhos elevados, com o retorno do investimento a ser rapidamente alcançado. Existem, atualmente nestas indústrias, já implementadas algumas ações de recuperação energética (por exemplo o pré-aquecimento do ar de combustão para os fornos). No entanto, é necessário fazer uma avaliação das necessidades térmicas com uma perspetiva global das unidades fabris, determinando todas as potenciais tecnologias que permitam otimizar os fluxos de energia e minimizar os desperdícios. Essas tecnologias passam por recuperação direta de calor por sistemas de condutas de ar, múltiplos permutadores de calor, geração termodinâmica de eletricidade pelo ciclo orgânico de Rankine e armazenagem de energia. A análise integrada das possíveis soluções, permite otimizar os recursos, reduzir investimentos e aumentar os ganhos potenciais.

A solução que se pretende implementar passa pelo desenvolvimento de modelos e algoritmos, enquadrados em plataforma digital, para simular diferentes possibilidades de otimização das operações, com vista ao menor custo energético possível. Essa ferramenta digital a desenvolver, fundamentará a decisão pelas medidas com maior eficiência e benefício energético para cada processo específico.

Em paralelo, serão desenvolvidas tecnologias de reconversão dos secadores industriais de matérias-primas, através da adaptação dos queimadores para combustíveis de baixo carbono e implementando sistemas integrados de recuperação de calor e de armazenamento e acumulação da energia latente. Será também avaliado o potencial de eletrificação dos processos térmicos instalados.

A utilização das técnicas emergentes de Machine Learning e Computer Vision irão ajudar a identificar princípios de corrosão, degradação e possíveis

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

fugas em chaminés industriais, sem necessidade de inspeção humana direta, através do uso de drones para captação de imagens aéreas. Utilizando estas técnicas será criada uma plataforma de onde as imagens captadas em 2D são transformadas em 3D. Com uma base de dados e historial das imagens captadas, a plataforma irá identificar evoluções no estado dos equipamentos e criar perspetivas do interior das chaminés, prevendo a necessidade de aplicar medidas de proteção e de manutenção preventiva.

Investimento Produtivo

Os fabricantes de cerâmica e cristalaria que participam na Agenda ECP têm planeado também investimentos significativos nos seus processos, de forma que as soluções identificadas no projeto permitam rumar à descarbonização do setor. Os principais investimentos passam por:

. Aumentar a capacidade e eficiência produtiva;

. Conversão de fornos para combustão com misturas GN/H2;

Adaptação do mobiliário do forno para atmosfera de cozedura com H2;

. Requalificação do processo de secagem de matérias-primas;

. Produção e armazenamento local de energia renovável;

. Implementação de sistemas de eficiência energética e de recuperação de calor;

Instalação de forno oxi-híbrido na indústria de cristalaria.

Imagem 2. Forno piloto híbrido instalado no CTCV com amostras dos ensaios realizados em diferentes regimes energéticos (misturas GN/H2 e Elétrico).

Sustentabilidade Energética

CERÂMICA E CRISTALARIA PORTUGUESAS

LEVANTAMENTO DE PERFIL ENERGÉTICO INDUSTRIAL

POR SUBSETOR

Por: Manuel Monteiro, Bruno Pereira, Sofia Bezerra e Helena Monteiro, Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ).

Os setores da cerâmica e vidro/cristalaria apresentam elevados consumos energéticos. Isto deve-se à sua necessidade de recorrer a processos termicamente intensivos para o tratamento e transformação das suas matérias-primas. São setores de elevada preponderância e volume no mercado português e internacional, sendo que Portugal é líder na exportação de produtos de cerâmica de mesa, e o segundo maior exportador a nível mundial. Nas Figuras 1 e 2 apresenta-se a distribuição do número de empresas e respetivo volume de negócios nestas indústrias, por subsetor.

Fabricação de produtos cerâmicos refratários

Fabricação de azulejos, ladrilhos, mosaicos e placas de cerâmica

Fabricação de tijolos, telhas e de outros produtos cerâmicos para a construção

Fabricação de artigos cerâmicos de uso doméstico e ornamental

Fabricação de artigos cerâmicos para usos sanitários

Outros produtos cerâmicos

Fabricação de vidro plano

Moldagem e transformação de vidro plano

Fabricação de vidro de embalagem e cristalaria (vidro oco)

Fabricação de fibras de vidro

Fabricação e transformação de outro vidro (inclui vidro técnico)

Figura 1. Distribuição do número de empresas (a) e volume de negócios (b) no setor da cerâmica em Portugal por tipo de produto em 2022.
Figura 2. Distribuição do número de empresas (a) e volume de negócios (b) no

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

Atendendo a estas características, é expectável que surjam preocupações relativas às fontes, qualidade, e quantidade de energia consumida, e que estas se acentuem tendo em conta as alterações à escala global do mercado energético, sendo natural que se preste cada vez mais atenção a fatores como a utilização, o custo, a eficiência e a sustentabilidade. Para este fim, a indústria da cerâmica, no contexto da agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal, integra o workpackage 2 (WP2) focado no desenvolvimento de soluções que aumentem a eficiência dos processos térmicos.

A tarefa intitulada “Ferramenta de apoio à decisão para implementação de projetos de recuperação de calor”, liderada pelo ISQ, tem como objetivo

principal o desenvolvimento e criação de um software que permita agilizar a implementação de soluções para o aproveitamento de calor residual do processo produtivo, que diminuirão os consumos de energia/gases provenientes de combustíveis fósseis e emissões de carbono das instalações fabris do setor.

Neste contexto surgiu a necessidade de elaborar um levantamento e caracterização do perfil energético industrial por subsector. Esta necessidade advém do interesse em “medir o pulso” da realidade setorial, clarificando o panorama térmico das indústrias, o que permitirá um afunilamento das soluções a estudar. É também importante perceber os aspetos comuns ou característicos de diferentes subsetores desta indústria, para que seja possível compreender quais as soluções de recuperação de calor transversais de maior interesse.

Este estudo de caracterização conta com a participação de 23 empresas, pertencentes a diferentes subsetores das indústrias da cerâmica, vidro e cristalaria. Inicialmente, realizou-se uma agregação das informações primárias destas empresas no que toca ao consumo energético, tendo-se concluído que o gás natural é a forma de energia mais preponderante, responsável por 83% do consumo de energia final. Esta agregação permitiu também concluir que, o tipo de combustível mais utilizado é transversal entre subsetores e não depende da escala de produção.

Consumo energético por forma de Energia Consumos energéticos por equipamento

Figura 3. Fabrico de vidro de embalagem e cristalaria (vidro oco) representou mais de 66% do volume de negócios do subsetor do vidro em Portugal, em 2022.
Figura 4. Consumo energético por subsector e equipamento
Fornos Secadores Atomizadores Caldeiras Arcas de recozimento Outros
Energia elétrica Gás natural Outros

Sustentabilidade Energética

Foi também relevante realizar uma análise aos consumos por equipamento em cada um dos respetivos subsetores, com o intuito de averiguar quais os pontos-chave com potencial para recuperação de calor. Para este fim, foi executado um levantamento de informações sobre a utilização de energia térmica nas empresas integrantes do estudo desagregadas por tipo de energia, e por equipamento.

Quando se comparam os consumos específicos de gás natural por equipamento, chega-se à conclusão de que os fornos são responsáveis por entre 56 a 77% do consumo total. Outros equipamentos com necessidades térmicas relevantes, dependem do subsector mas são os atomizadores, secadores e arcas de recozimento.

No

âmbito da descarbonização, torna-se interessante e necessário estudar e implementar alternativas de recuperação de calor, que permitam diminuir consumos, reduzindo emissões de CO2 e a dependência de fontes de energia poluentes.

No caso da indústria cerâmica, algumas destas alternativas são passíveis de ser aplicadas em múltiplas indústrias do setor. Um exemplo é a recuperação de ar de arrefecimento dos fornos, após este ter sido aquecido, para que seja usado como ar de combustão, quer seja no próprio equipamento ou em equipamentos adjacentes.

Muitas vezes o calor residual existente pode ser aproveitado para suprir diferentes necessidades térmicas, pelo que estas soluções carecem de ser estudadas de forma aprofundada para cada instalação fabril, uma vez que os potenciais benefícios da sua implementação dependem das características das fontes de calor residual disponível e das limitações existentes (i.e: como as relacionadas com o layout da unidade, com questões de segurança ou qualidade, ou até especificidades operacionais relativas à flexibilidade de cada processo produtivo).

Para permitir avaliar preliminarmente o potencial de recuperação de calor nas empresas presentes no estudo, efetuou-se o levantamento das correntes em que existiria calor residual passível de ser recuperado, assim como das medidas que já estariam implementadas nas mesmas. Nos casos em que já existem medidas de recuperação, estas prendem-se maioritariamente com o reaproveitamento do ar de arrefecimento do forno para o pré-forno, ou para pré-aquecimento do ar de combustão. Esta recolha inicial de dados constitui um importante primeiro passo para a criação da ferramenta de apoio à decisão para implementação de projetos de recuperação de calor, uma vez que se pretende que a ferramenta seja capaz de simular diferentes cenários com base em informação que as indústrias possam ter disponível (por exemplo de auditorias energéticas) ou que sejam passíveis de medição.

Pretende-se que a ferramenta em desenvolvimento, agilize a modernização na indústria, auxiliando na escolha de soluções de recuperação de calor que diminuam os consumos de energia, em particular, o gás natural e as emissões de carbono. Pretende-se que, com esta tarefa, se consiga potenciar ainda mais a evolução da indústria e se continue a promover a cooperação e desenvolvimento mútuo.

Figura 5. Os fornos contribuem para 77% do consumo de gás natural, no subsetor da cerâmica utilitária e decorativa.
Figura 6. Medidas de eficiência energética implementadas na Sanindusa, com recuperação do ar da zona de arrefecimento dos fornos para as olarias e secagem das peças.

Economia Circular e Simbioses Industriais

ECONOMIA CIRCULAR E SIMBIOSES INDUSTRIAIS

A humanidade enfrenta atualmente várias ameaças, incluindo as mudanças climáticas, a escassez de recursos naturais essenciais, assentes em padrões de consumo insustentáveis, que precisam ser revertidas com urgência. É imperativo reformular o modelo de produção e consumo para permitir um crescimento económico sustentável, potenciando as práticas da Economia Circular.

O modelo linear de produção, que se baseia na extração contínua de recursos e na baixa produtividade dos materiais, combinado com ciclos de vida curtos dos produtos e falta de recuperação adequada no fim de vida, provoca um desequilíbrio crescente entre os recursos disponíveis e as necessidades para as gerações atuais e futuras.

No conceito de economia circular, preservar o valor dos produtos pelo maior tempo possível é fundamental. A economia circular permite aliviar a pressão sobre o consumo de recursos naturais e reduz uma parte significativa das emissões de gases de efeito estufa resultantes da extração e processamento de recursos minerais. Neste novo paradigma de gestão de recursos, pretende-se atribuir elevada importância ao momento da conceção e do ecodesign dos produtos, onde passa a ser fundamental ter em consideração todo o ciclo de vida, tornar os produtos mais duráveis e reparáveis, ou que possam ser recuperáveis no fim de vida, minimizando o seu desperdício. Por outro lado, os resíduos gerados serão cada vez mais potenciados como subprodutos e aproveitados como matérias-primas secundárias por outras indústrias, criando aproximações e simbioses entre diferentes setores.

Imagem 1. Alimentação de matérias-primas ao Moinho, na Sanindusa

DESCLASSIFICAÇÃO RESÍDUOS RECUSAR

SUBPRODUTOS OU MATÉRIAS-PRIMAS SECUNDÁRIAS

RESÍDUOS EXÓGENOS

AQUISIÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

DESTINO FINAL COM DESPERDÍCIO MÍNIMO

ECONOMIA CIRCULAR

PRODUÇÃO E RE-TRANSFORMAÇÃO

TRANSPORTE DISTRIBUIÇÃO

CONSUMO UTILIZAÇÃO REUTILIZAÇÃO E REPARAÇÃO

AZILITUER

Devido ao tipo e volume de matérias-primas utilizadas, a indústria cerâmica e de cristalaria possui uma grande capacidade de reutilizar os seus próprios resíduos, assim como o de incorporar os resíduos de outros setores. Esses recursos exógenos necessitam ser submetidos a pré-processamentos, como moagem e tratamento térmico, para além de ser necessário um processo de investigação e desenvolvimento que possa definir formulações que preservem as propriedades cerâmicas e não causem impactos ambientais adicionais. Resíduos como lamas de corte de pedra, lamas de tratamento de águas, areias de fundição, casco de vidro, resíduos da indústria de celulose ou de metalúrgicas, resíduos de construção e demolição (RCD), entre outros, podem ser utilizados como matérias-primas secundárias, promovendo as simbioses industriais.

O uso de matérias-primas secundárias oferece diversas vantagens, incluindo a redução do consumo de materiais e energia, menores impactos ambientais e climáticos, além da diminuição dos custos de fabricação. No entanto, implementar estratégias de economia circular e criar soluções eco-inovadoras no nível industrial apresenta grandes desafios. Essas ações requerem uma profunda investigação e desenvolvimento para adquirir o conhecimento necessário que abranja todos os aspetos envolvidos, a fim de projetar soluções adequadas.

Imagem 2. Adaptada de “Circular Economy Increasing Efficiency in Organizations”, APCER
RECOLHA
DESIGN

Economia Circular e Simbioses Industriais

Economia circular e simbioses industriais na Agenda

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP)

Dentro da Agenda ECP, a promoção da economia circular nos setores de cerâmica e vidraria tem uma elevada importância, sendo um dos pilares do projeto. Várias entidades dos diferentes subsetores da cerâmica e da cristalaria colaboram intensamente em atividades de investigação e desenvolvimento, suportadas pelo elevado conhecimento científico das universidades e institutos presentes no consórcio. Tendo assumido o compromisso de concretizar um total de 17 PPS (Processos, Produtos e Serviços), o objetivo passa por desenvolver pastas cerâmicas e produtos inovadores utilizando resíduos

PPS 7 – Serviço Logístico Centralizado de recolha e valorização de resíduos

PPS8 – ECOBLEND GP

Nova pasta cerâmica eco sustentável, com incorporação de subprodutos, para Pavimentos

PPS9 – REVVER

Nova pasta cerâmica eco sustentável, com incorporação de subprodutos, para Revestimentos

PPS10 – GRESVER

Nova pasta cerâmica eco sustentável, com incorporação de subprodutos, para Louça de Mesa em Grés

PPS11 – VIDRO

Novo vidro, com maior taxa de incorporação de casco e outros subprodutos

PPS33 – ECOSAN

Nova pasta cerâmica eco-sustentável, com incorporação de subprodutos, para Louça Sanitária

ou subprodutos de várias atividades industriais, para reduzir o uso de matérias-primas virgens e aumentar a circularidade da economia, seguindo duas regras fundamentais:

. Incorporar o conceito de economia circular usando resíduos cerâmicos e não cerâmicos em formulações de produtos;

. Reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, diminuindo a temperatura de queima e a energia total utilizada.

Novos Produtos Cerâmicos com Sinterização a baixas temperaturas

PPS16

PPS12

Nova Pasta para Louça de Mesa em Porcelana Mole

PPS13

Nova Pasta para Louça de Mesa em Grés

PPS14

Nova Pasta para Pavimentos em Grés Porcelânico

PPS15

Nova Pasta para Louça Sanitária em Vitreous China

Novo Processo de Produção para sinterização a baixa temperatura

PPS17

Louça de Mesa em Porcelana Mole com pasta LOFT Porcelain

PPS18

Louça de Mesa em Grés com pasta LOFT Stoneware

PPS21

Novo Vidrado

Brilhante para Louça Sanitária adaptado a temperatura reduzida

PPS22

Novo Vidrado

Opaco para Louça Sanitária adaptado a temperatura reduzida

PPS19

Pavimentos em Grés Porcelânico com pasta LOFT Tile

PPS20

Louça Sanitária com pasta Eco Sustentável

O projeto inclui o desenvolvimento de um Centro Logístico Centralizado, para a recolha, tratamento e valorização de resíduos cerâmicos ou subprodutos de outras indústrias. O centro a ser desenvolvido e gerido pela empresa MCS, será localizado estrategicamente na zona de Aveiro, próximo ao cluster cerâmico da zona centro, de forma a minimizar a pegada ambiental no transporte. A unidade irá processar e valorizar cerca de 60.000 Ton/ano de resíduos e subprodutos através de tecnologias e equipamentos eficientes e sustentáveis, com reduzidos impactos ambientais.

A metodologia de investigação que o consórcio pretende realizar passa pelo levantamento de boas práticas e benchmarking de matérias-primas e pela pesquisa e caracterização de resíduos e subprodutos com potencial de substituição das matérias-primas atualmente utilizadas para o fabrico de pastas cerâmicas. Após a definição das especificações técnicas para os produtos a obter, a investigação centra-se no estudo de incorporação de subprodutos, com validação das formulações obtidas em ensaios à escala laboratorial, piloto e semi-industrial. Após validação técnica dos ensaios em diferentes escalas e junto dos copromotores industriais, será realizada a avaliação do ciclo de vida (ACV) do novo produto e pedido de certificação com etiqueta Eco-label.

Novos produtos cerâmicos com sinterização a baixas temperaturas

A Agenda ECP tem como objetivo criar uma gama de produtos que possam ser sinterizados a temperaturas de cozedura mais baixas. Desta forma, pretende-se reduzir os consumos energéticos durante o processo de cozedura e, consequentemente, a emissão de Gases com Efeito de Estufa. Sabendo que os processos de cozedura são tipicamente longos e com temperaturas máximas acima dos 1100ºC, dependendo do tipo de material, todas as reduções energéticas terão um impacto significativo, quer a nível de pegada ambiental, como de poupança económica. As metas de redução serão entre 4% a 7% da temperatura de cozedura.

Como referido, os resíduos e subprodutos que se irão analisar podem ser endógenos (da própria indústria cerâmica ou de cristalaria) ou exógenos (criando simbioses industriais com setores externos à cerâmica). Abaixo listamos alguns exemplos de potenciais resíduos a explorar no projeto: Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

Resíduos Endógenos

. Lamas ETAR

. Caco Cozido Vidrado

. Caco Cozido Não Vidrado

. Lamas de Retificação

. Pó de retificação a seco

. Pó de Despoeiramento

. Casco de Vidro

Resíduos Exógenos

. Lamas de Anodização de Alumínio

. Lamas de Galvanização

. Cinzas de queima de biomassa (celulose)

. Areias de queima de biomassa (celulose)

. Areias de Fundição

. Lamas de corte de rochas

. Lamas de tratamento de água

Serão criadas formulações de corpos cerâmicos para vários subsectores, incluindo o desenvolvimento de vidrados brilhantes e opacos adaptados à sinterização a baixas temperaturas:

Louça de Mesa em Porcelana;

. Louça de Mesa em Grés;

. Pavimentos em Grés Porcelânico;

. Louça Sanitária em Pasta Vitreous China.

Estratégias de Ecodesign

O conceito de ecodesign tem ganhado destaque nas últimas décadas como uma abordagem fundamental para a sustentabilidade ambiental, especialmente no contexto de indústrias intensivas em recursos e energia, como a cerâmica. Ecodesign refere-se à integração de considerações ambientais no processo de design de produtos, visando minimizar os impactos ambientais ao longo de todo o ciclo de vida, desde a extração de matérias-primas até o descarte final.

Aplicar os princípios do ecodesign aos produtos cerâmicos envolve várias estratégias destinadas a reduzir o impacto ambiental e promover a sustentabilidade. Alguns exemplos dessas estratégias incluem:

. Design para Durabilidade e Reutilização: Criar produtos cerâmicos que tenham uma vida útil prolongada e que possam ser reutilizados ou reciclados ao final do seu ciclo de vida. Produtos duráveis e recicláveis contribuem para a redução da geração de resíduos e da procura por novas matérias-primas.

. Menor pegada ambiental durante utilização: Repensar produtos para que na sua fase de utilização possam reduzir a sua pegada ambiental, quer através da redução de consumos de água durante o uso, manutenção e lavagem, ou que façam o seu reaproveitamento de água. Por outro lado, aumentar a eficiência energética da sua aplicação (por exemplo aumentar a capacidade de isolamento térmico em revestimentos e pavimentos cerâmicos a aplicar em construções e edifícios).

. Redução da espessura dos produtos: esta estratégia permite reduzir o consumo de matérias-primas por produto, menor consumo de energia durante o fabrico e consequente redução de emissões de gases. Permite também otimizar a quantidade de peças por carga de transporte, reduzindo a pegada na etapa de distribuição.

. Minimização de Resíduos: evitar formas complexas e formatos com alterações bruscas de espessura nas paredes da peça, permite reduzir quebras durante conformação e cozedura, aumentando a quantidade de peças de primeira escolha, tornando todo o processo produtivo mais eficiente.

Imagem 1. Conjunto de peças, após sinterização, impressas a partir de pasta de porcelana com carga de vidro em diferentes percentagens, no Laboratório de Investigação em Artes e Design (LIDA), ESAD.CR.

SIMBIOSES INDUSTRIAIS E CIRCULARIDADE CONTRIBUTO DO PROJETO ECOCERÂMICA E

CRISTALARIA DE PORTUGAL

Por: Marisa Almeida, Inês Rondão, Anabela Amado e Victor Francisco, CTCV; Marinélia Capela, Inês Vilarinho, M.P. Seabra e J.A. Labrincha, Universidade de Aveiro; João Mateus e Carla Lobo, Laboratório de Investigação em Design e Artes, Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha, Instituto Politécnico de Leiria; Helena Monteiro e Daniel Silva, ISQ.

Resumo

A Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP) tem como objetivo reforçar a competitividade das indústrias de cerâmica e cristalaria a nível nacional, assente em fatores de inovação, de diferenciação e uma sólida dinâmica colaborativa, com destaque para o desenvolvimento de estratégias de economia circular e simbioses industriais.

Esta agenda em apreço envolve 30 parceiros representativos da cadeia de valor daqueles setores, incluindo três associações empresarias, 17 entidades empresariais e oito entidades do sistema científico e tecnológico nacional. Neste artigo presentam-se de uma forma geral os objetivos desse projeto e algumas ferramentas e estratégias de Economia Circular a desenvolver no âmbito da agenda.

Introdução

A crescente preocupação e regulamentação ambiental, aliadas à crescente importância e pressão da opinião pública, colocam progressivamente em análise a questão do desempenho ambiental dos materiais/produtos. Para tentar alcançar a sustentabilidade dos produtos é necessário reduzir os potenciais impactes adversos que eles podem causar no ambiente durante o seu ciclo de vida.

Tendo em conta que o atual modelo da sociedade está a atingir os seus limites físicos face à escassez de recursos para satisfazer as necessidades, a transição de um modelo económico linear (“extrair, transformar, utilizar, descartar”) (figura 1) para um modelo circular (figura 2), focado na ligação dos dois extremos, transformando o que hoje se desperdiça em novos recursos para a economia, é uma alternativa cada vez mais premente que as empresas tendem a seguir, contribuindo para mecanismos de criação de valor dissociados do consumo de recursos finitos.

Figura 1. Economia linear

MATÉRIAS PRIMAS

DESIGN

RESÍDUOS

RECICLAGEM ECONOMIA CIRCULAR

PRODUÇÃO

DISTRIBUIÇÃO

CONSUMO REUTILIZAÇÃO REPARAÇÃO

A transição para uma economia circular redireciona o foco para a reutilização, reparação, renovação e reciclagem dos materiais e produtos existentes, ou seja, o que era visto como um “resíduo” pode ser transformado num recurso ou matéria-prima secundária de um novo ciclo de fabrico, com uma série de benefícios, conforme se ilustra na figura 3.

Oportunidades de crescimento económico e inovação

Oportunidades de emprego

Redução dos impactes ambientais

ECONOMIA CIRCULAR

SOCIALRECURSOS

Diminuição da dependência em importações

O conceito de economia circular tem em conta estratégias ao nível de toda a sociedade, destacando-se como principais as seguintes:

O ciclo de vida prolongado dos produtos e dos materiais, através da sua reutilização, reparação e refabricação;

. A produção inteligente, através do desenho de produtos e serviços que eliminam os resíduos e a poluição, e reduzem o consumo de recursos e que possam ser continuamente reutilizados para novos produtos;

. O consumo consciente e a sensibilização da sociedade, para escolhas sustentáveis redução do desperdício;

A restauração e renovação de recursos e dos serviços ambientais.

Na União Europeia, em 2015, foi adotado o Plano de Ação para a Economia Circular, no qual se propõe o crescimento sustentável da União Europeia e se estimula a transição da Europa para uma economia circular. Este plano estabeleceu 54 medidas para “fechar” o ciclo de vida dos produtos, do fabrico e consumo à gestão dos resíduos e ao mercado das matérias-primas secundárias, e identificou cinco setores prioritários para acelerar a transição ao longo das respetivas cadeias de valor (plásticos, resíduos alimentares, matérias-primas essenciais, construção e demolição, biomassa e materiais de base biológica).

Já em março de 2020, a Comissão Europeia adotou um novo Plano de Ação para a Economia Circular, que constitui o novo roteiro da Europa para o crescimento sustentável, na medida em que estabelece uma estratégia orientada para o futuro, visando criar uma Europa mais limpa e mais competitiva, tendo por base as ações desenvolvidas no domínio da economia circular desde 2015. Neste contexto, é proposto um conjunto de medidas dentro das quais um dos objetivos é a redução da produção de resíduos. A transição para a economia circular é vista pela Comissão Europeia como uma oportunidade para modernizar e transformar a Europa no seu caminho para uma competitividade sustentável, permitindo reduzir a pressão sobre os recursos naturais e constitui, assim, uma condição prévia para alcançar o objetivo de neutralidade climática até 2050.

Figura 2. Economia Circular
RECOLHA
Figura 3. Benefícios da transição para uma Economia Circular (Fonte: Própria)

De mencionar que, a nível mundial, a economia é apenas 8,6% circular, com a produção de 32,6 mil milhões de toneladas de resíduos, sendo apenas 8,65 mil milhões reciclados em novos processos, enquanto o resto é depositado em aterro, incinerado, etc. (PACE, 2020). A extração de recursos do planeta é de cerca de 92 mil milhões de toneladas por ano.

A indústria portuguesa, em particular a indústria cerâmica, tem vindo a investir em inovações no âmbito da economia circular. Os vários setores da cerâmica têm capacidade para inovar e valorizar resíduos/subprodutos da própria e de outras indústrias, promovendo estratégias de economia circular e simbioses industriais. Estas práticas têm tido uma boa recetividade por parte das empresas, sendo uma prática crescente a nível nacional, conforme demonstrado em diversos exemplos reais já instalados nas empresas e a realização de variados estudos efetuados neste contexto.

As simbioses industriais promovem redes com empresas distintas que partilham recursos de forma eficiente, onde o consumo de energia e materiais, é otimizado e os efluentes e resíduos de um processo servem de matéria-prima secundária (minimizando a extração) ou energia para os processos de outras empresas.

Valorização de resíduos e simbioses industriais na agenda ECP

No âmbito da agenda ECP, pretende-se promover e estimular a economia circular nos sectores da cerâmica e do vidro, recolhendo várias informações sobre o sector, como: tipologia de resíduos e boas práticas implementadas de economia circular. Assim como desenvolver pastas cerâmicas e produtos inovadores numa perspetiva de ciclo de vida, utilizando matérias-primas secundárias, como resíduos ou subprodutos gerados pela atividade do setor ou de outros sectores.

Desta forma, o referido projeto tem como principal objetivo dotar o setor da cerâmica e do vidro de estratégias que permitam valorizar os seus resíduos, nomeadamente caco cerâmico, casco de vidro, partículas de despoeiramento e lamas de ETARI (estação de tratamento de águas residuais) e calor

residual. Promovendo o seu uso como um recurso para o fabrico de materiais de cerâmica, vidro ou mesmo outros de construção, através de simbioses industriais, minimizando deste modo a extração de recursos naturais e potenciando a economia circular.

Foi executada uma pesquisa bibliográfica e criada uma base de dados, com uma série de estudos e trabalhos científicos e técnicos nacionais e internacionais, pelas várias entidades do sistema científico e tecnológico nacional envolvidas nesta tarefa do projeto (CTCV, UA, ISQ, IPL, ESAC), englobando a valorização de resíduos e subprodutos gerados na própria indústria e outros gerados por outros sectores e valorizados em matrizes cerâmicas.

Nesta base de dados, consta uma série de ensaios de incorporação de resíduos em materiais cerâmicos, principalmente no subsector da cerâmica estrutural, pavimento e agregados leves, bem como no sector do vidro. Resíduos estes tão diversificados como lamas de ETAR, lamas de ETA, resíduos de celulose, resíduos florestais, pó de cortiça, resíduos da indústria metalúrgica, resíduos da fundição, cinzas volantes, lamas de curtumes, lamas de corte de pedra natural, resíduos de lâmpadas fluorescentes, etc..

Apesar da reduzida percentagem de resíduos incorporados, a sua valorização sem comprometer as propriedades e qualidade do produto final é possível, sendo necessário um contínuo investimento no desenvolvimento de técnicas para otimizar o processo de valorização, não prejudicando as caraterísticas técnicas nem ambientais, numa perspetiva de ciclo de vida.

Para além de se desenvolver uma via sustentável para estes resíduos, introduzem-se num novo ciclo produtivo passando de resíduo a recurso, e paralelamente desenvolvem-se produtos inovadores, com melhoramento de características térmicas e/ou acústicas.

Assim, este levantamento do estado da arte nos setores de cerâmica e do vidro, apresenta os tipos de estratégias de economia circular existentes atualmente, os casos de simbioses industriais e tipo de sinergia entre a origem do resíduo/subproduto e o setor onde aquele material é incorporado, destacando-se as vantagens e desvantagens da substituição das matérias-primas naturais por resíduos/subprodutos.

Economia Circular e Simbioses Industriais

Nos diversos laboratórios dos parceiros científicos e tecnológicos, efetuaram-se ensaios de caraterização química, granulométrica e mineralógica de várias amostras de resíduos de diversos setores cerâmicos e proveniências, como caco cozido, lamas de ETARI, pó de despoeiramento, entre outros, tendo em vista a sua reincorporação em novos materiais.

Foram desenvolvidos testes com tecnologias de fabricação aditiva, com uma impressora 3D WASP 40100 LDM no Laboratório de Investigação em Artes e Design (LIDA). Foram produzidas peças com pastas incorporadas com resíduos de vidro pulverizados em diferentes graus.

A homogeneidade na distribuição das partículas dos resíduos incorporados às pastas é crucial para garantir a qualidade e a durabilidade dos produtos finais, evitando variações que possam comprometer as suas propriedades. Até ao momento os resultados obtidos foram bastante positivos e confirmam a possibilidade de se desenvolverem novas oportunidades de mercado para as empresas.

No final do projeto pretende-se dar a conhecer novos produtos cerâmicos ou de vidro que envolvam a recuperação de materiais, a possibilidade de refabricação ou soluções que promovam maior vida útil dos produtos na fase de utilização do design de serviço, permitindo fatores de potencial distinção, inovação e valor acrescentado com a generalidade dos produtos atualmente produzidos e comercializados por empresas destes setores.

Em termos concretos, estão em curso os seguintes desenvolvimentos:

. ECOBLEND GP - Nova Matéria-prima para pasta Cerâmica eco sustentável para Pavimentos;

REVVER - Nova Matéria-prima para pasta Cerâmica eco sustentável para Revestimentos;

. GRESVER - Nova Pasta Cerâmica para Louça de mesa em grés eco-sustentável;

ECOSAN - Nova Pasta Cerâmica para Louça Sanitária em grés eco sustentável;

. Vidro com maior taxa de incorporação de casco e outros subprodutos para produção de vidro.

De forma a avaliar as questões técnicas e ambientais está a decorrer uma avaliação técnica e de requisitos

legais com recursos à avaliação de ciclo de vida (ACV) destes materiais e simbioses industriais, com vista a garantir a sustentabilidade e adequação destas estratégias de economia circular.

Conclusão

O aumento de circularidade requer uma “nova” visão sobre os fatores-chave de sucesso em toda a cadeia de valor do produto, desde a sua conceção até ao seu fim de vida, numa abordagem de ciclo de vida (ACV), de forma a percecionar os pontos críticos e áreas de melhoria de desempenho.

A economia circular oferece uma visão transformadora para o futuro, onde o crescimento económico e a sustentabilidade ambiental devem convergir. Ao adotar princípios circulares, estes setores industriais podem reduzir o impacte ambiental, criar oportunidades económicas e melhorar a qualidade de vida da sociedade, contribuindo para a sustentabilidade.

A legislação atualmente em vigor permite de diferentes formas a desclassificação de resíduos, o que facilita o processo de utilização de resíduos como matérias-primas, desempenhando as ferramentas de ACV um papel importante para demonstrar a circularidade das estratégias de economia circular.

Deste modo, as atividades económicas têm um papel fundamental na transição para a economia circular, podendo redefinir as suas cadeias de produção, visando a eficiência e circularidade dos recursos naturais. Isto pode resultar na criação de novos mercados que respondam às mudanças nos padrões de consumo, evoluindo no sentido da utilização, reutilização e partilha de produtos, e contribuindo para a criação de mais e melhores empregos.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

DESENVOLVIMENTO DE

ECO-PRODUTOS

DE GRÉS

PORCELÂNICO COM INCORPORAÇÃO DE RESÍDUOS:

TESTES PRELIMINARES

I.S. Vilarinho1 , M.N. Capela1, C. Moniz1, C. Moniz2 , S. Baptista2 , J.A. Labrincha1 e M.P. Seabra1

1CICECO – Instituto de Materiais de Aveiro/DEMaC - Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica, Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, Portugal.

2Mota Ceramic Solutions, Zona Industrial de Oiã, Lote 34, 3770-908 Oiã, Portugal.

Introdução

Os recursos naturais devem ser utilizados de forma eficiente e sustentável, de acordo com as políticas da União Europeia (UE) e nacionais. Uma economia circular é essencial para reduzir a pressão sobre os recursos naturais e atingir a neutralidade climática até 2050, uma vez que uma parte das emissões de gases com efeito estufa provém da extração e processamento de minerais.

Em 2020, foram gerados na UE mais de 226 milhões de toneladas de resíduos industriais, dos quais apenas cerca de 13% foram reciclados [1,2].

Em Portugal, a taxa de circularidade é de apenas 2,6% [2].

A indústria cerâmica tem adotado, cada vez mais, práticas de economia circular, procurando incorporar resíduos/subprodutos, tanto endógenos como exógenos, nos seus processos produtivos, visando reduzir a utilização de matérias-primas virgens, o consumo de energia, os impactos ambientais e os custos de produção. Em linha com o Objectivo 12 da Agenda 2030 [3], este trabalho tem como objetivo estudar a incorporação de resíduos endógenos e exógenos em pasta de grés porcelânico. Para tal procedeu-se à caraterização dos resíduos e foram testados vários níveis de incorporação.

Materiais e métodos

O grés porcelânico, sob a forma de pó atomizado, e os resíduos foram fornecidos pela Mota Ceramic Solutions (MCS). Os resíduos utilizados foram cinzas volantes (CV) provenientes de uma central termoelétrica a biomassa, areia de abate (AA) e finos de fundição (FF) gerados na produção de ferro fundido e pó resultantes do processo de retificação, por via seca, de peças de grés porcelânico (PR).

Os resíduos foram secos numa estufa a 110 ºC e, posteriormente, moídos e peneirados a 63 µm, de modo a uniformizar a sua granulometria máxima.

A sua composição química foi avaliada por fluorescência de raios X (FRX) e a composição mineralógica por difração de raios X (DRX). Foi ainda avaliada a perda ao rubro a 1000 ºC e o seu comportamento com a temperatura recorrendo a análises termodiferenciais e termogravimétricas (ATD/TG) as quais foram realizadas em atmosfera de ar desde a temperatura ambiente até 1000 °C.

Foram testados dois teores de incorporação (2 e 5% em massa) dos resíduos em estudo. A mistura foi homogeneizada (em seco) e pulverizada com ≈6% de água para facilitar a conformação. Provetes com 5x10 cm2 foram prensados uniaxialmente em 2 etapas: 100 e 220 bar durante 10 seg, alíviou-se a pressão entre etapas de modo a facilitar a libertação do ar. As amostras foram secas a 110 ºC e cozidas numa mufla a uma temperatura máxima (anel de Buller) de 1150 ºC na qual permaneceu durante 15

min. Em seguida foi avaliada a resistência à flexão (ISO 10545-4), a retração linear, a absorção de água (ISO 10545-3) e a densidade aparente das amostras cozidas.

Resultados e discussão

A composição química dos resíduos obtida por FRX e perda ao rubro (PR) estão apresentados na Figura 1. Tal como expectável, a areia de abate é, essencialmente, constituída por SiO2 (95,5%) e apresenta uma PR de 0,9%. As cinzas volantes são constituídas por SiO2 (38,14%), CaO (26,97%) e Al2O3 (11,86%) e a sua PR é de 6,1%. Os finos de

fundição são os que apresentam a maior PR, 20,4%, e são, maioritariamente, constituídos por SiO2 (65,41%) e Al2O3 (17,38%). O pó de retificação é constituído por SiO2 (71,46%) e Al2O3 (20,38%) e tem uma PR de 0,8%.

Areia de AbateCinzas Volantes Finos de Fundição Pó de rectificação

1. Composição química dos resíduos obtida por FRX e PR a 1000 ºC.

Figura

A composição mineralógica dos resíduos foi avaliada por DRX, Figura 2. As cinzas volantes são constituídas por microclina, quartzo, calcite e moscovite, a areia de abate por quartzo, os finos de fundição por quartzo, anortite e calcite e os pós de retificação por quartzo e mulite.

5 15 253545556575

5 15 253545556575

5 15 253545556575 20(º)

Quartz Mullite

5 15 253545556575 20(º)

2. Difratogramas dos resíduos: A) cinzas volantes, B) areia de abate, C) finos de fundição e D) pós de retificação.

A Figura 3 apresenta as análises térmicas efetuadas aos resíduos. Em todas as amostras, verifica-se uma perda de peso inicial (linha TG) que é causada pela desidratação e decomposição de hidróxidos, e que é acompanhada por um pico endotérmico no ATD (≈180 °C). Entre os 400 e 600 ºC, existe também uma perda de massa que está associada à queima de compostos orgânicos.

Em relação às cinzas, até 1000 ºC, a amostra apresenta uma perda de massa de ≈6,6%, valor semelhante ao determinado na PR (6,1%). Aos 700ºC, existe um pico endotérmico, acompanhado

com uma perda de massa, correspondente à desidroxilação e aos 800 ºC o pico endotérmico correspondente à decomposição do carbonato de cálcio. A areia de abate, até aos 1000 ºC, apresenta uma perda de massa de ≈ 0,8%, valor idêntico ao determinado na PR (0,9%). Os finos de fundição apresentam uma perda de massa de ≈ 22,0%, valor ligeiramente superior ao determinado na PR (20,4%). O pó de retificação apresenta uma perda de massa de ≈ 0,6%, valor semelhante ao da PR (0,8%) e aos ≈ 573 ºC, ocorre a transição do quartzo-a para quartzo-b, pico endotérmico.

Figura
Quartzo

Economia

Perda massa (%)

Perda de massa (%)

Intensidade (Cts)

0200400600 8001000

Temperatura(ºC)

Intensidade (Cts)

0200400600 8001000

0200400600 8001000

Temperatura (Cº)

0200400600 8001000

Temperatura (Cº)

3. Análises termogravimétricas dos resíduos: A) cinzas volantes, B) areia de abate, C) finos de fundição e D) pós de retificação.

Os resultados da resistência à flexão e da retração linear dos provetes cozidos estão apresentados na Figura 4. Todos os provetes apresentam uma resistência à flexão semelhante à do padrão, com exceção das amostras com 2% (em massa) de PR. Em relação à retração linear é possível observar que a formulação com 5% (em massa) de FF é a

que apresenta uma menor retração. Neste caso, para se implementar esta solução a nível industrial, possivelmente, será necessário um ajuste das condições de processamento enquanto que, com as outras formulações, esse ajuste poderá não ser necessário devido à proximidade dos resultados com a amostra-padrão.

Figura

2AA5AA2CV5CV2FF 2PR5PR Padrão2AA5AA2CV5CV2FF 2PR5PR

Os resultados da absorção de água e densidade aparente dos provetes desenvolvidos estão patentes na Tabela 1. Todos os provetes apresentam uma absorção de água semelhante ou inferior à do padrão. Em relação à densidade aparente, as amostras que apresentam maior redução são as com 5% (em massa) de finos de fundição, cerca de 10%.

Amostra

Padrão 2AA

Absorção de água (%)

0,22 ± 0,1

0,07 ± 0,03

0,07 ± 0,04

0,11 ± 0,01

0,15 ± 0,02

0,14 ± 0,07

0,20 ± 0,03

0,15 ± 0,09

0,19 ± 0,01

Densidade aparente (g/cm³)

2,35 ± 0,2

2,41 ± 0,09

2,23 ± 0,04

2,5 ± 0,2

2,32 ± 0,04

2,36 ± 0,08

2,12 ± 0,2

2,19 ± 0,06

2,25 ± 0,07

Conclusões

Os resultados mostram que todos os provetes preparados, exceto os que contêm 5% (em massa) de finos de fundição, apresentam propriedades semelhantes ao padrão e cumprem os requisitos industriais testados. Para os finos de fundição, a incorporação máxima não deve exceder 2% (em massa) para manter as propriedades exigidas para esta tipologia de produto. Este estudo destaca o potencial de incorporação de resíduos industriais endógenos e exógenos em pastas de grés porcelânico, contribuindo para o aumento da taxa de circularidade e para uma indústria cerâmica mais sustentável. Como trabalho futuro realizar-se-ão ensaios industriais e os produtos serão caracterizados de acordo com os procedimentos industriais.

Financiamento: Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto CICECO-Instituto de Materiais de Aveiro, UIDB/50011/2020, UIDP/50011/2020 and LA/P/0006/2020. Esta investigação foi financiada pelo PRR - Plano de Recuperação e Resiliência e pelos

Referências: [1] Eurostat. (2024). https://ec.europa.eu/ eurostat/databrowser/product/page/TEN00108 (acedido em 14/08/2024).

[2] Eurostat EU (2021) https://ec.europa.eu/eurostat/en/web/

Fundos Europeus NextGenerationEU, na Universidade de Aveiro, através da Agenda para a Inovação Empresarial “Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal” (Projeto n.º 76, candidatura C64491639100000029).

products-eurostat-news/w/ddn-20231114-2, EU’s circular material use rate slightly up in 2022 (acedido em 05/07/2024).

[3] Nações Unidas. (2024). https://unric.org/pt/objetivos-dedesenvolvimento-sustentavel (acedido em 14/08/2024).

Tabela 1. Influência da incorporação dos resíduos na absorção de água e na densidade aparente dos provetes.
Figura 4. Influência da incorporação dos resíduos na resistência à flexão e na retração linear dos provetes.

TRANSIÇÃO DIGITAL

Existe uma forte aposta por parte da Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP) na transição digital do setor cerâmico e de cristalaria.

Para tal, estão a ser desenvolvidas Plataformas Digitais que permitam o controlo e gestão de dados dentro das indústrias, de maneira a responder às novas exigências regulamentares e do mercado global, promovendo a transparência de informações de sustentabilidade com todos os stakeholders através, por exemplo, da criação de uma biblioteca pública BIM e do Passaporte Digital de Produto.

As plataformas a desenvolver no ECP irão comunicar entre si, de forma a abrangerem todo o processo e poderem partilhar dados com todos os stakeholders.

Para gestão dentro da fábrica está em desenvolvimento um sistema integrado que irá ser transversal a todos os serviços, desde a introdução de encomendas, gestão de stocks, indicadores de produção e recolha de dados do processo até à finalização do produto e sua venda. A plataforma DigiCer permitirá fazer a gestão da modelação, incluindo desenhos técnicos em 3D dos modelos desenvolvidos, mas também a gestão das Madres e Moldes, identificando a sua localização em armazém e a verificação de stocks

Estão também a ser desenvolvidos métodos de codificação das peças logo no momento da sua conformação, permitindo ao sistema integrado

fazer a rastreabilidade ao longo de todo o processo, gerando um gémeo digital que recolhe os principais dados e indicadores produtivos e de sustentabilidade.

A plataforma de interoperabilidade procura contribuir para que os diferentes agentes, serviços e aplicações possam trocar informações e dados de uma forma efetiva e segura. Fará a ligação com sistemas operativos já existentes e com as plataformas que estarão abertas ao público e disponíveis online, suportando os serviços transversais à cadeia de valor, como será o Passaporte Digital do Produto. O Passaporte Digital do Produto é uma compilação das informações mais relevantes sobre o produto, acessível via eletrónica através da leitura de um código do tipo QR Code, que permite a transparência dos impactos ambientais ao longo do ciclo de vida, incluindo a sua pegada ecológica. Irá possibilitar ao consumidor final realizar compras conscientes, facilitar auditorias que evitem alegações ambientais não comprovadas e promover a economia circular.

No caso dos produtos cerâmicos de construção, os dados serão também fornecidos para a biblioteca pública do sistema BIM (Building Information Modeling). O objetivo do projeto é desenvolver uma nova plataforma, que permita criar e harmonizar uma série de regras que obedeçam aos modelos de produtos de construção, utilizando como base a tecnologia já existente dos sistemas BIM. Desta forma, serão disponibilizados os modelos de produtos de construção cerâmicos em formato objeto BIM 3D, perfeitamente compatíveis com as tecnologias BIM e apresentando todos os dados relacionados com o ciclo de vida do produto. Esta plataforma representa não só uma importante

ferramenta de marketing por dar visibilidade aos produtos, mas vai de encontro também às necessidades atuais de criação de projetos de construção, contribuindo para a redução significativa de custos e de recursos.

Ecocerâmica

e Cristalaria de Portugal

Finalmente, de forma a promover a circularidade do processo, todos os resíduos gerados e não consumidos internamente pelos fabricantes, serão disponibilizados numa plataforma de gestão de resíduos, a Resourcenet, que irá também criar um marketplace para potenciar as simbioses industriais que valorizem os resíduos e subprodutos.

STAKEHOLDERS

PRODUÇÃO

SISTEMA DE RASTREABILIDADE

SISTEMA INTEGRADO DE APOIO À PRODUÇÃO

PLATAFORMA DE INTEROPERABILIDADE

PASSAPORTE DIGITAL DE PRODUTO

PLATAFORMA ARMAZÉNS DIGITAIS MOLDES E MADRES

PLATAFORMA BIBLIOTECA BIM

PLATAFORMA DE GESTÃO DE RESÍDUOS

SIMBIOSES INDUSTRIAIS

Transição Digital

Apresentamos de seguida os principais objetivos de cada plataforma:

Sistema Integrado de Apoio à Produção (SIAP)

. Acelerar a transição digital das unidades fabris

. Centralização de dados fabris

. Recolha e visualização de indicadores ao longo de todo o processo produtivo

Gestão de Sistemas: Compras, Stocks, Processo Produtivo, Vendas

. Integração com a Plataforma de Interoperabilidade

Plataforma Armazém Digital de Madres e Moldes de Produtos Cerâmicos

Sistema integrado de identificação e rastreabilidade do produto cerâmico

. Estabelecer metodologia de marcação e codificação de peças, desde o início da linha de produção (conformação)

Estabelecer metodologia de leitura da marcação da peça

Plataforma de Interoperabilidade (PI) para suporte do Passaporte

Digital de Produto (PDP)

Interface entre as fases de conceção e desenvolvimento de novos produtos e as várias etapas de produção (criação e armazenamento de madres e moldes)

. Criação de modelos digitais utilizando digitalização 3D, para transpor diferentes formatos de ficheiros em padrões BIM

Disponibilizar para clientes/fornecedores, visualização de modelos em 2D e 3D.

. Serve de suporte a serviços transversais, abrangendo toda a cadeia de valor

Recolha de informação uniformizada, assegurando rastreabilidade desde a matéria-prima até reciclagem

. Recebe dados do SIAP para Cálculo de Indicadores de Sustentabilidade

Desenhar e desenvolver o Passaporte Digital de Produto

. Armazenamento de dados dos PDP criados

Plataforma Biblioteca BIM

Plataforma Pública e Aberta para Modelos Digitais de Produtos Cerâmicos

. Disponibilizar ao Público uma biblioteca aberta de produtos cerâmicos, usando o modelo de informação padronizado BIM

. Disponibilizar informação de pegada de carbono

Ferramenta de marketing

. Permitir a rastreabilidade de informação e dados de produção de todos os produtos

. Interagir com o sistema de informação e gestão de produção

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

Plataforma de Gestão de Resíduos

. Promoção de estratégias de Economia Circular: valorização de resíduos para substituição de matérias-primas

. Apresentação de disponibilidades de matérias-primas secundárias e resíduos

. Caracterização de resíduos e matérias-primas secundárias

. Manifestação de interesse em aquisição de matérias-primas secundárias

. Pesquisa e localização de matérias-primas secundárias

Market-place para negociação de matérias-primas secundárias e resíduos

Transição Digital

A VIRTUALIZAÇÃO DA GESTÃO DE ATIVOS: ARMAZÉNS DIGITAIS NA INDÚSTRIA CERÂMICA

Por: Sílvia Vara, Gestão de Projetos na Visabeira

Investigação & Desenvolvimento

O contexto industrial

O setor da cerâmica e cristalaria em Portugal encontra-se em crescimento impulsionado quer pela procura gradual de produtos cerâmicos pelo setor da construção (revestimentos, sanitários, cerâmica estrutural), quer pela procura de louça utilitária, louça decorativa e cristal, segmentos que já conquistaram e se afirmam em vários mercados internacionais. Em paralelo com este crescimento decorre um período de verdadeira transformação para este Setor: A indústria da cerâmica e cristalaria enfrenta grandes desafios associados à Indústria 4.0, aos custos de energia e ao advento regulamentar da sustentabilidade (Passaporte Digital de Produto, Reporte ESG, Ecodesign, Economia Circular), que impulsiona a adoção de processos mais eficientes e sustentáveis. Em ciclo de crescimento e sob forte pressão exercida pelas vertentes ambiental e digital, as empresas do setor têm também de se manter competitivas num mercado cada vez mais globalizado.

Com a necessidade de incrementar a eficiência, a sustentabilidade, a qualidade dos produtos cerâmicos e com o ambiente altamente concorrencial instalado no mercado, as empresas procuram, e devem procurar, soluções para aumentar a sua competitividade num ambiente cada vez mais digitalizado. A área do armazenamento de madres e moldes apresenta grande potencial para melhorar a eficiência na gestão de ativos já que, os métodos tradicionais de armazenamento têm ainda uma grande componente manual, são propensos a erros, dão origem a atrasos, ineficiências operacionais e requerem a utilização de grandes espaços físicos.

Novas ferramentas e processos mais eficazes na área de armazenamento de madres e moldes, podem contribuir significativamente para suprir estas falhas, oferendo uma oportunidade para as empresas se destacarem ao otimizarem o processo produtivo, através de uma melhor gestão e controlo dos seus ativos.

Plataforma DigiCer

A Plataforma DigiCer – Plataforma Armazém Digital de Madres e Moldes de Produtos Cerâmicos, é promovida no âmbito das atividades do Work Package 5 (WP5) da Agenda para a Inovação Empresarial “ECP – Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal”, cofinanciada pelo Plano de Recuperação e Resiliência, e liderada pela Vista Alegre Atlantis. O WP5 à semelhança do WP6, compreendem um conjunto de atividades e resultados que visam suportar a estratégia de transição digital do setor da cerâmica e da cristalaria.

A solução em desenvolvimento para a plataforma DigiCer enquadra-se no contexto de transformação atual da indústria cerâmica e pode ser a resposta a vários desafios e oportunidades.

Esta nova ferramenta tecnológica impulsiona a implementação de novos processos para a gestão de ativos, abrindo também espaço para a introdução de novas tecnologias. Disponibilizará

funcionalidades inovadoras que vão desde a digitalização e virtualização das madres, moldes, até à otimização da gestão de dados e de documentos ao mesmo tempo que facilita a colaboração entre as equipas intervenientes no processo. Além disto, a DigiCer tem potencial para desempenhar um papel crucial no apoio à formação e reconversão de recursos humanos, capacitando os profissionais da indústria na adaptação às novas tecnologias e processos.

A motivação da Agenda ECP para o desenvolvimento da Plataforma DigiCer

A motivação do consórcio da Agenda ECP para o desenvolvimento da plataforma DigiCer, foi determinada por vários aspetos:

A oportunidade de promover a digitalização e virtualização de ativos

A virtualização de ativos implica a conversão dos ativos físicos em ativos digitais, promovendo a introdução de tecnologias avançadas de digitalização 3D e manufatura aditiva nos processos produtivos, eliminando a dependência de armazenamento físico e oferecendo uma maior flexibilidade e acessibilidade aos utilizadores. Adicionalmente, a motivação assenta no desenvolvimento de recursos que facilitem e promovam o intercâmbio de informação e a colaboração das equipas nas várias fases do processo.

A promoção da eficiência na gestão de ativos

A digitalização das madres e moldes permite uma gestão mais eficiente, eliminando processos manuais associados ao armazenamento físico e uma catalogação automática de itens. A motivação foi assim determinada pela oportunidade de desenvolvimento de recursos que permitam à indústria cerâmica introduzir automatização no processo de conceção de madres e moldes e obter relatórios de utilização e dados de histórico de cada ativo.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

Explorar técnicas de análise de dados

A plataforma fornecerá oportunidades para a implementação de uma análise de dados e otimização de processos relacionados com a produção. Serão exploradas técnicas de análise de dados para identificar padrões, tendências e oportunidades de melhoria na utilização dos ativos digitais.

Desenvolver recursos que proporcionem um ambiente colaborativo e de partilha de recursos

A digitalização dos ativos facilita a colaboração e a partilha de recursos entre diferentes equipas e departamentos da empresa. Será amplamente promovida uma forte componente colaborativa, bem como um ambiente de interface entre as várias etapas da fase de conceção do produto e as várias etapas da fase de produção que facilite uma colaboração mais eficaz e o acesso controlado aos ativos digitais.

Os objetivos

O desenvolvimento da plataforma DigiCer está a traduzir-se num trabalho sistemático para produzir conhecimentos adicionais, orientados para o desenvolvimento de uma solução adaptada aos atuais desafios da indústria da cerâmica e cristalaria. Com esta ferramenta a Agenda ECP quer atingir os seguintes objetivos:

Contribuir para uma melhor ligação e aproximação entre as áreas de conceção do produto e o processo produtivo

A DigiCer proporcionará um ambiente de interface entre as várias etapas da fase de conceção do produto e as várias etapas da fase de produção, fornecendo um ambiente que realiza de forma automática a transposição de diversas tipologias de ficheiros, com diversos formatos, incluindo os baseados em padrões BIM, permitindo que estes possam ser utilizados em qualquer uma das várias etapas dos processos de conceção e produtivo.

Facilitar a implementação de novos processos de criação de madres e moldes digitais com recurso a ferramentas digitais de transposição, desde o design artístico até ao fabrico aditivo e polimerização

As tecnologias digitais de transposição (digitalização 3D), utilizam softwares específicos que frequentemente não são compatíveis com os softwares utilizados ao longo das várias etapas da conceção da madre/molde. Ao fornecer uma interface de “uniformização” para arquivos, a DigiCer facilitará e amplificará a criação de modelos digitais de produtos/madres/moldes com base na digitalização 3D, promovendo também a introdução no processo de tecnologias associadas à impressão 3D (manufatura aditiva e polimerização).

Promover a “construção” de armazéns de modelos digitais de moldes e madres com ciclo de utilização alargado em sistemas de pasta cerâmica líquida

Os arquivos resultantes da digitalização 3D serão armazenados na DigiCer, que disponibiliza espaço potencialmente ilimitado, permitindo concentrar no mesmo local todos os ficheiros e documentos utilizados na conceção e produção do produto. Estes arquivos poderão ser consultados/usados pelos fabricantes, a qualquer momento, com a garantia de confidencialidade, disponibilidade e usabilidade. Promovem-se desta forma ciclos mais alargados de utilização das madres e moldes.

Reduzir significativamente os ciclos de desenvolvimento e reduzir ou eliminar a necessidade de armazenamento, contribuindo para um processo mais sustentável

A DigiCer proporciona um ambiente digital para armazenamento de madres e moldes de produtos cerâmicos, minimizando a necessidade de espaço para armazenamento físico e todos os recursos inerentes à sua gestão.

Promover a reutilização de madres e moldes e contribuir para um processo mais sustentável

O armazenamento físico de madres e moldes de produtos cerâmicos não garante muitas vezes a integridade da madre ou molde devido à exposição a diversos fatores que podem promover a sua degradação ao longo do tempo, o que por vezes

inviabiliza a sua reutilização. A manutenção de um armazém digital garante esta integridade através do rigor associado ao modelo digital, enquanto facilita o processo de reutilização adicionando um plus de sustentabilidade ao processo produtivo.

Os desafios e as incertezas

Tradicionalmente, os métodos de armazenamento de madres e moldes têm sido predominantemente manuais, propensos a erros e ineficiências operacionais e exigem grandes espaços físicos, associados ao armazenamento, que acarretam custos de operação e consumo de recursos. A digitalização e virtualização deste tipo de ativos apresenta-se como uma solução com grande potencial para ajudar a resolver estes problemas, mas a implementação bem-sucedida da DigiCer, naturalmente que envolve o confronto com algumas incertezas e implica adereçar vários desafios, tais como: a complexidade tecnológica, a integração de várias tecnologias, a segurança da informação. As principais incertezas que a DigiCer terá de enfrentar estão relacionadas com a viabilidade e eficácia da digitalização e virtualização de madres e moldes, bem como a incerteza em torno da adoção e aceitação de várias tecnologias por parte das empresas do setor, que como é do conhecimento geral, caminham a diferentes velocidades em matéria de digitalização.

O futuro

Para além de impulsionar a introdução de novas tecnologias no processo, com todas as vantagens desde já amplamente documentadas, a DigiCer permitirá também abrir espaço para a reconversão dos modeladores tradicionais, que atualmente escasseiam no mercado, para uma geração de modeladores mais familiarizados com novas tecnologias, e ser ainda um instrumento para facilitar o reskilling/upskilling dos modeladores atuais.

A plataforma DigiCer pretende alterar a forma como a indústria cerâmica cria, gere e acede aos seus ativos. Tem o potencial de se constituir como uma verdadeira ferramenta de PLM (Product Lifecycle Management) para o setor.

PASSAPORTE DIGITAL DE PRODUTO

A Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP) tem como uma das suas missões, promover a transição digital dos setores cerâmicos e de cristalaria. Estão em desenvolvimento plataformas digitais para a recolha e consolidação de dados e informações relevantes dos processos e dos produtos e serão criadas as bases necessárias para implementar ferramentas obrigatórias, de acordo com os recentes regulamentos da União Europeia. Entre eles, aparece o Regulamento para o Ecodesign de Produtos Sustentáveis (ESPR), integrado no Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal) e no Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC).

comercializados na Europa mais sustentáveis, com maior durabilidade, com facilidade de reutilização, de reparação ou de reciclagem, assegurando a redução da pegada ambiental, redução de consumos energéticos, de água e de recursos e redução da geração de desperdícios. Ao mesmo tempo, ao tornar mais transparente toda a cadeia de valor e com a informação acessível aos consumidores, as decisões de compra serão mais conscientes e informadas.

É dentro do regulamento ESPR que a União Europeia introduz o conceito de Passaporte Digital de Produto (DPP na sigla em inglês).

CALENDÁRIO DE IMPLEMENTAÇÃO ESPR

25/04/2024

Votação pelo Parlamento Europeu

22/03/2024

Proposta de adoção do ESPR pela CE

28/06/2024

Publicação no Jornal Oficial da UE

13/06/2024

Acordo Final do Conselho Europeu

Este novo regulamento, recentemente publicado no Jornal Oficial da União Europeia e que entrou em vigor em julho de 2024, pretende tornar os produtos

18/07/2024 Entrada em vigor do ESPR

Final de 2024 1ª Reunião do Fórum Ecodesign

Março 2025 (9 meses após a entrada em vigor) 1º Plano de Trabalho do Regulamento

2026 2027

DPP obrigatório para produtos prioritários

Todos os produtos introduzidos e comercializados no mercado europeu, terão de ter o seu próprio passaporte digital.

Passaporte Digital de Produto

O Passaporte Digital de Produto é uma compilação digital estruturada dos dados relevantes sobre o produto ao longo de todo o seu ciclo de vida. Esta ferramenta irá oferecer acesso gratuito aos dados para todos os atores da cadeia de valor, incluindo autoridades e consumidores. Irá potenciar a transparência, a rastreabilidade e a partilha de informações, incluindo os aspetos ambientais, de sustentabilidade e de promoção da circularidade, tornando os produtos mais duráveis, aumentando

de suporte ao DPP deverão ser descentralizados e serão da responsabilidade dos diferentes atores económicos.

Os principais benefícios do Passaporte Digital de Produto serão:

Garantir a transparência e rastreabilidade dos produtos e partilhar informações que promovam a circularidade e a sustentabilidade por toda a cadeia de valor;

Granularidade: Item, Lote ou Modelo?

Armazenamento: Gerido por empresa, associações ou EU? Centralizado ou descentralizado? Nuvem ou Blockchain?

Data Carrier: QR Code, Código de Barras, RFID... ?

Acessibilidade: diferenciado por agente. Garantir equilíbrio entre transparência, segurança e confidencialidade.

Conteúdo: identificação de categorias de informação (ex: informação técnica para o utilizador, instruções de reciclagem, pegada de carbono/ecológica,…)

Governança: o agente que coloca o produto no mercado europeu será responsável pela recolha, fornecimento e veracidade da informação.

a sua reparação e reciclagem. O DPP pode ser definido por modelo, lote ou item, dependendo da complexidade e impactos dos produtos considerados. Cada produto terá um identificador único, com um data carrier (QR Code ou idêntico), de preferência marcado no próprio produto para permanecer acessível ao longo de todo o ciclo de vida. O acesso à informação deve ser rápido e simples, usando um equipamento eletrónico como um telemóvel.

O sistema DPP deverá garantir interoperabilidade e cumprir normas e standards comuns a todas as categorias de produto, para serem compatíveis com outros sistemas externos e que permita a leitura por equipamentos de scanner. A comissão europeia irá manter um registo centralizado de todos os identificadores únicos linkados aos produtos colocados no mercado. Porém, os sistemas de dados

. Incentivar a economia circular, criando oportunidades de negócio (atividades de reparação, manutenção, remanufactura e reciclagem ou criação de novos produtos);

Capacitar os consumidores a fazerem escolhas de produtos sustentáveis, com base em dados reais, confiáveis e comparáveis;

. Permitir às autoridades verificar o cumprimento dos requisitos legais e combater o Greenwashing; Assegurar aos consumidores o direito de reparação do produto;

. Possibilitar a verificação da propriedade e o histórico do produto.

Dados a incluir no Passaporte Digital de Produto

Os dados que serão apresentados no DPP devem seguir o princípio da “necessidade de saber”, isto é, alguns dados serão de acesso público, enquanto outros serão restritos e permitidos apenas a algumas entidades. A informação inserida no DPP pode

. Dados gerais do Produto: nome e imagem do produto, identificador único do produto, local de produção, características e especificações, durabilidade e finalidade de utilização. Manuais de utilização, instruções, avisos e informações de segurança;

. Composição e Origem dos Materiais: informação dos materiais utilizados, as suas origens e os

REQUISITOS ECODESIGN

Conteúdo Reciclado

Uso de água e eficiência

Uso de recursos e eficiência

Capacidade de atualização

Possibilidade de reciclagem

Produção prevista de resíduos Pegada Ecológica

Uso de energia e eficiência Reutilização

Fiabilidade

Presença de substâncias de preocupação

DurabilidadeReparabilidade

ser complementada pelos agentes envolvidos durante o ciclo de vida do produto, garantindo a rastreabilidade dos dados e a interoperabilidade com outros sistemas de informação existentes.

O Regulamento ESPR, no seu artigo nº5 e no anexo I, define os requisitos de informação a incluir no DPP.

A informação a ser apresentada no Passaporte Digital de Produto ainda não está definida, devendo ser harmonizado para cada setor em futuros atos delegados que serão criados pela Comissão Europeia. Nestes serão definidas as informações específicas para cada grupo de produtos ou setor. No entanto, é esperado que a informação apresentada passe pelos seguintes campos principais:

Manutenção e remodelação

Possibilidade de recuperação de materiais

Possibilidade de remanufatura

impactos ambientais, especificando percentagem de material reciclado e se existe presença de substâncias de preocupação;

Sustentabilidade: pegada ecológica, pegada de carbono, eficiência no uso de energia, de água e de recursos, presença de substâncias de preocupação;

. Certificações e Standards: Certificados, etiquetas ecológicas, Declarações Ambientais de Produto;

Fim do ciclo de vida: instruções para a correta remoção do produto, promovendo a sua circularidade (reutilização, reparação, remodelação, reincorporação, reciclagem).

Implementação pelas empresas

A implementação do Passaporte Digital de Produto será faseada, estando previsto que a partir de 2026 ou 2027, os grupos de produtos considerados prioritários (têxtil, equipamentos eletrónicos e baterias) tenham de apresentar DPP. Os produtos de construção, abrangidos pelo CPR (Construction Products Regulation), terão também de apresentar em breve o DPP, uma vez que a revisão deste regulamento remete para o ESPR.

A implementação atempada do DPP trará benefícios significativos para as empresas, especialmente por terem oportunidade para inovar e liderar o caminho para um futuro mais sustentável, melhorando o seu posicionamento no mercado, aumentando a confiança dos seus clientes e restantes stakeholders e promoverem as boas práticas de eficiência e de sustentabilidade.

As empresas deverão assegurar a existência do passaporte digital de produto e a sua conformidade com os requisitos, assegurando que a informação do DPP está completa, que é autêntica, confiável e verificada.

Os primeiros passos para implementar o Passaporte Digital de Produto devem passar por:

1. Organização da Empresa: Envolver e alinhar todos os departamentos, assegurando que todas as equipas relevantes estão informadas e preparadas para as mudanças trazidas pelo DPP (ver alinhamento da organização na imagem abaixo);

2. Dados: Verificar os dados exigidos para o DPP, identificar a origem e que dados estarão em falta, de modo a implementar ações para preencher as lacunas;

3. Maturidade Tecnológica: promover a completa digitalização de processos, como garantir a interoperabilidade e alinhamento com os requisitos tecnológicos do DPP, assegurando a transmissão de dados para alimentar e criar o DPP;

4. Desenvolvimento: Iniciar projetos piloto para testar a implementação do DPP em pequena escala, permitindo ajustes antes da implementação total;

5. Cadeia de Valor: Estabelecer parcerias com fornecedores e stakeholders para garantir alinhamento e que a cadeia de fornecimento esteja preparada para os novos requisitos.

ALINHAMENTO DA ORGANIZAÇÃO COM O PDP

GESTÃO

Articular a implementação do PDP e potenciar colaboração entre departamentos. Designar um responsável interno para a implementação do PDP.

AMBIENTE

Assegurar o cumprimento dos requisitos na formação do PDP.

Alinhar o PDP com a visão e objetivos de circularidade e sustentabilidade da empresa.

Incorporar o PDP nos relatórios ambientais e coordenar com as entidades competentes.

FINANCEIRO

Alinhar os investimentos para implementar o PDP com os investimentos atuais para redução de custos.

COMPRAS

Recolher dados necessários junto aos fornecedores, renegociando contratos.

Otimizar critérios de seleção de fornecedores, enquadrando com os requisitos do PDP.

PRODUÇÃO/MANUTENÇÃO

Disponibilizar os dados para o PDP ao nível adequado (item, lote ou modelo).

Planear alterações de tecnologia necessárias para implementar o PDP. Introduzir melhorias no progresso.

MARKETING

Promover a sustentabilidade e performance do produto através do PDP. Potencial lealdade e procura dos clientes, pela associação da marca ao Ecodesign de produtos sustentáveis.

VENDAS/APOIO A CLIENTES

Utilizar ativamente o PDP para influenciar a decisão de compra dos clientes. Oferecer serviços suplementares de pós-venda baseados no PDP (manutenção e reparação, reutilização).

INVESTIGAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

Avaliar os dados do PDP para potenciar o Ecodesign do produto. Determinar novos pontos de informação a aplicar ao PDP.

INFORMÁTICA E TECNOLOGIAS

Planear a implementação do PDP com as tecnologias existentes ou introduzir meios de suporte necessários.

Alinhar os desenvolvimentos em andamento com os futuros requisitos do PDP.

Capacitação

CAPACITAÇÃO

As indústrias da cerâmica e da cristalaria em Portugal enfrentam um momento de transformação significativo para cumprirem com as metas de descarbonização. Estas mudanças baseiam-se na transição energética, na transição digital e na economia circular. Para além de serem disruptivas e alterarem muitos paradigmas de processos e de produtos, irão ter impactos profundos nas necessidades de recursos humanos, criando oportunidades de emprego e exigindo novas competências.

Perspetivas de Novas Profissões e Competências

Alguns estudos têm sido apresentados com as perspetivas de emprego futuro. A OCDE apresentou um relatório onde identifica novas profissões e competências emergentes, resultantes das transformações económicas, tecnológicas e ambientais.

Transição Energética: A produção de energias renováveis aumentará significativamente, tal como as tecnologias de baixo carbono e que promovam uma maior eficiência energética. Isso cria a necessidade de novos empregos em áreas como a manutenção de equipamentos de energia renovável, gestão de recursos energéticos, desenvolvimento de tecnologias de captura e armazenamento de carbono e sustentabilidade ambiental. Profissões como técnicos em energia solar, especialistas em eficiência energética e engenheiros de sustentabilidade estarão em alta.

Transição Digital: A digitalização da produção cerâmica e de cristalaria é essencial para alavancar

a eficiência e sustentabilidade dos processos. A implementação de tecnologias como automação, inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT) está a redefinir os processos de produção, aumentando a eficiência e reduzindo o desperdício. Profissionais das áreas de análise de dados, automação e robótica e programadores para indústria 4.0, inteligência artificial, machine learning e cibersegurança serão cada vez mais procurados. Engenheiros de processo e técnicos de controlo de processos serão também essenciais para reduzirem e eliminarem desperdícios e otimizarem as linhas de fabrico, conciliando as novas tecnologias emergentes com a digitalização e a análise de dados.

Transição para a Economia Circular: A economia circular foca na reutilização, reciclagem e redução de resíduos, princípios nucleares para a gestão eficiente dos recursos limitados do planeta. Porém exige novas competências em gestão dos resíduos industriais, química de materiais, investigação e desenvolvimento e engenharia ambiental, garantindo conformidade com regulamentos ambientais.

Capacitação na Agenda

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP)

Um novo paradigma de evolução dos recursos humanos deverá ser cada vez mais evidente, com a adaptação contínua e a aprendizagem ao longo da vida a serem fundamentais. Os profissionais precisam atualizar constantemente as suas competências através de formação contínua e novas certificações para se manterem relevantes no

mercado de trabalho. Um plano estratégico para o desenvolvimento de competências é decisivo para a competitividade e até mesmo para a sobrevivência das empresas nos setores de cerâmica e vidro.

Apoiado nos eixos fundamentais da Agenda ECP, o Work Package 7 (WP7) irá se concentrar na formação contínua de ativos e formação avançada especializada. É ponto fundamental para o sucesso de aprendizagem que os modelos de formação se aproximem dos ambientes reais de fábrica.

Formação Contínua

No decorrer do projeto irão ser desenvolvidas ações de formação profissional contínua para os trabalhadores das empresas do consórcio, em áreas temáticas específicas e estratégicas para a sua competitividade, como: descarbonização e economia circular, digitalização, reengenharia de processos, novas tecnologias de produção e matérias-primas, juntamente com a formação transversal para a melhoria das habilidades comportamentais dos funcionários.

Formação Avançada

Irão ser criados cursos de especialização nas áreas tecnológicas da digitalização, descarbonização, economia circular e de gestão, ministrados por especialistas e professores de ensino superior, consistindo em unidades curriculares cientificamente reconhecidas pelas Instituições do Ensino Superior do consórcio, com a atribuição de ECTS (European Credit Transfer System), que permitam a valorização da aprendizagem obtida.

Academia de Formação Digital

A Agenda ECP propõe ainda a criação de uma Academia de Formação Digital utilizando tecnologias de Realidade Aumentada (RA), formações MOOC e Gaming. A academia de formação será acessível a todo o setor, através de métodos de aprendizagem virtuais e imersivos, que recriam o ambiente de fabrico, laboratório e armazém, simulando situações que permitam desenvolver capacidades de resolução de problemas, geração de novas ideias, análise e processamento de dados para suporte à tomada de decisões.

Os novos modelos pedagógicos baseados em tecnologias digitais incluem modelos de formação imersivos, com estímulos visuais, auditivos e sensoriais, usando simuladores da realidade industrial para reduzir o tempo de

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

formação e promover maior segurança. Estes recursos permitem, entre outros benefícios: captar maior atenção dos formandos e motivação para a aprendizagem, reter e assimilar conteúdos, reduzindo a distância entre conceitos e realidade, com transferência imediata de conhecimento para o ambiente de trabalho.

Realidade Aumentada (RA): Ferramentas de RA serão usadas para simulações práticas em ambientes controlados, permitindo que os trabalhadores pratiquem operações complexas e aprendam novas técnicas sem risco.

Formações MOOC: Cursos online gratuitos e em grande escala (MOOC, Master Open Online Courses, em inglês) permitirão o acesso a uma ampla gama de tópicos, desde novas tecnologias de produção até gestão de sustentabilidade e eficiência energética, democratizando o acesso ao conhecimento e permitindo a gestão da aprendizagem individualmente.

Gaming: Jogos educativos serão utilizados para tornar a formação interativa e envolvente, simulando cenários reais de produção e gestão que os trabalhadores podem encontrar no seu dia-a-dia.

Conclusão

A transição para uma economia verde, circular e digital representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para a indústria cerâmica e de cristalaria em Portugal. Com a implementação de uma Academia de Formação Digital, promovida pela Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal, com foco nas novas competências exigidas, a indústria pode não só se adaptar, mas também liderar este novo paradigma económico e ambiental.

Capacitação

INOVAÇÃO NA FORMAÇÃO INDUSTRIAL: AR@CERAMIC AND GLASS ACADEMY

Por: Eduardo Santos, Junior Researcher in Computer Vision, Interaction and Graphics at CCG/ZGDV - ICT Innovation Institute e Nuno Sousa, Senior Researcher in XR at CCG/ZGDV - ICT Innovation Institute

No atual cenário industrial, muitos setores enfrentam desafios significativos na formação das suas equipas devido à rápida evolução tecnológica e à necessidade de qualificação contínua. A formação presencial tradicional, frequentemente, não acompanha a velocidade e a flexibilidade exigidas pelos processos produtivos modernos. Este problema é especialmente notório nos setores da cerâmica e cristalaria, que requerem competências técnicas específicas e uma compreensão aprofundada dos processos fabris e laboratoriais.

Para enfrentar este desafio, no âmbito do workpackage sete, intitulado CER_CAPACITATES, da

agenda ECP, está a ser desenvolvida uma academia de formação digital. Denominada AR@Ceramic and Glass Academy, esta academia será acessível a todo o setor da cerâmica e cristalaria, com potencial de expansão para outros setores industriais. Utilizando métodos de aprendizagem virtual e imersiva, a academia recria ambientes fabris, laboratoriais e de armazenamento, permitindo a simulação de cenários reais. Desta forma, facilita-se a resolução de problemas, a geração de novas ideias, bem como a análise e interpretação de dados, contribuindo significativamente para a tomada de decisões mais informadas e eficazes.

A AR@Ceramic and Glass Academy, representa uma nova abordagem de formação baseada num modelo de Realidade Aumentada de Processos Produtivos Cerâmicos, que recriam o ambiente de fábrica (processos de fabrico), laboratório, armazém, simulação de situações para a resolução de problemas. Além disso, fomenta a inovação e o pensamento crítico através da geração de novas ideias e da análise detalhada de dados, apoiando de forma decisiva a tomada de decisões no contexto industrial.

Com este sistema é possível construir cenários com modelos 3D, definir marcadores de realidade

aumentada (QR Codes, fotografias, logotipos, etc.) de referência em espaços específicos, definir interações entre o utilizador e os respetivos modelos e outputs, e registar comportamentos e a prestação do utilizador.

O primeiro protótipo desenvolvido corresponde a uma demonstração virtual de processos da área da cerâmica no sentido de preservação de conhecimento e utilização para contextos de formação (Figura 1).

Este mesmo protótipo também inclui uma componente holográfica para inspeção de determinados processos (Figura 2).

Figura 1. Protótipo de demonstração virtual de processos da área da cristalaria.

O sistema que está a ser desenvolvido complementará os atuais meios de formação para operadores a partir de experiências de realidade estendida (XR), especificamente realidade aumentada (AR), imergindo o formando num meio imersivo, que lhe permita simular ações e interações do ambiente fabril.

A arquitetura deste sistema (Figura 3) estende-se em duas aplicações (TCA e ARTA) e um serviço (TSIS).

Training Configuration Application (TCA)

A Platform for creating XR trainings

Training Session Information System (TSIS)

AR Training Application (ARTA)

An app for reproducing the XR trainings

Figura 3. Arquitetura das aplicações e serviços do sistema.
Figura 2. Protótipo com inspeção holográfica.

TCA – Training Configuration Application

A aplicação TCA será um configurador de experiências a ser desenvolvido no motor de jogos Unity com foco em plataformas desktop. Estas experiências correspondem a tarefas de formação compostas por um conjunto de passos, que o formando terá de percorrer para terminar a tarefa correspondente com sucesso. O formador pode

dependendo do tipo de objeto, podem também ter definidas propriedades como rotação, escala/tamanho, visibilidade, cor, texto/tooltips, realce, e atributos de física como influência pela gravidade, solidez na interação com o utilizador e na colisão com outros objetos e capacidade de ser agarrado pelo formando.

preencher um cenário (Figura 4) com diversos objetos virtuais, incluindo sólidos básicos (cubos, esferas, etc), modelos 3D e conteúdo multimédia (caixas de texto, imagens, vídeos, etc.), para criar experiências imersivas de realidade aumentada. Os modelos 3D podem ser representações digitais de objetos reais, digitalizados, enquanto o conteúdo multimédia pode servir de auxílio para apresentar informação útil para acompanhar e ensinar o formando a executar os respetivos passos.

Os objetos virtuais, para além de serem colocados no cenário numa posição no espaço pelo formador,

Os trabalhos futuros incluem a configuração de outputs acionados por interações ou colisões com objetos e carregamento de dados de mapeamento de um local, de modo a permitir construir experiências com contexto espacial, tirando partido de cenários e/ou objetos reais.

Depois de criados, os cenários de formação são serializados de modo a serem carregados pela aplicação ARTA.

Figura 4. Aplicação TCA com propriedades de objetos.

ARTA – AR Training Application

A aplicação ARTA trata-se da aplicação de realidade aumentada a ser usada por técnicos em formação.

Foi desenvolvido um protótipo desta aplicação para dispositivos HMD (Head-mounted Display), mais especificamente Meta Quest 2, que apresenta um cenário imersivo composto pelo feed da câmara correspondente ao mundo real, aumentado por objetos virtuais configurados na aplicação TCA, demonstrando as capacidades de apresentação e interação com objetos virtuais (Figura 5).

A aplicação TCA irá tirar proveito deste serviço para todas as operações CRUD aos registos de formação, isto é, submissão de novas tarefas de formação, e carregamento para visualização, edição ou remoção das mesmas.

Quanto à aplicação ARTA, esta apenas será capaz de carregar tarefas de formação existentes, de modo a serem reproduzidas em realidade aumentada.

Neste momento está em curso o desenvolvimento de uma versão desta aplicação direcionada para dispositivos móveis, de modo a ser acessível por um público mais geral, dado que atualmente os dispositivos móveis (telemóvel ou tablet) já fazem parte do dia-a-dia das pessoas. Dadas as características deste tipo de dispositivos, as interações serão simuladas à base de gestos táteis no ecrã.

TSIS – Training Session Information System

O serviço TSIS será responsável por armazenar toda a informação relativa às aplicações do sistema e permitir o acesso e operações CRUD (create, read, update, delete) à mesma.

Perspetivas Futuras na Formação Industrial

A AR@Ceramic and Glass Academy representa um avanço significativo na formação industrial, especialmente nos setores da cerâmica e cristalaria. Através da realidade aumentada, a academia cria ambientes de treino imersivos que preservam o conhecimento técnico e capacitam os operadores com competências mais qualificadas, adaptadas às exigências da indústria moderna.

Figura 5. Interação em HMD no protótipo ARTA.

KÉRAMICA

revista da indústria cerâmica portuguesa

ECOCERÂMICA E CRISTALARIA DE PORTUGAL

A APICER foi para o terreno perceber com as empresas o que já mudou com a Agenda ECP e qual a perceção sobre o papel colaborativo entre diferentes setores, nomeadamente o científico e o industrial.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

INDEX

Editorial . 1

Projeto piloto do CTCV oferece oportunidade de testar produtos num ambiente controlado. Em visita realizada ao CTCV com a PRF - Gas Solutions e a Induzir . 2

Crisal está a construir o Forno oxI-híbrido no âmbito da Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal. Em visita realizada à Crisal . 10

Primus Ceramics executou mais de 90% do projeto. Em visita realizada à Primus Ceramics . 14

Ria Stone entende inovação como parte do seu ADN. Em visita realizada à Ria Stone com o ISQ . 20

FICHA TÉCNICA

Propriedade e Edição

APICER [Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria]

Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício Lufapo

Hub A - nº40, 1º Piso 3025-307 Coimbra [t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt

Tiragem 1200 exemplares

Diretor Marco Mussini

Editor e Coordenação Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt

Conselho Editorial Albertina Sequeira, António Oliveira, Cristiana Costa Claro, Marco Mussini e Martim Chichorro

Paginação e Capa Teresa Ribeiro Bento

Publicação Especial nº 391 . Dezembro . 2024

Financiamento

Sanindusa já ensaia produtos inovadores no âmbito da Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal. Em visita realizada à Sanindusa com a Universidade de Aveiro e o Instituto Politécnico de Leiria . 24

Transição digital do setor cerâmico. Em visita realizada à Revigrés com a Visabeira I&D e a Sanindusa . 30

Matcerâmica e INOV desenvolvem um sistema de rastreabilidade e de apoio à produção. Em visita realizada à Matcerâmica com o INOV . 34

Capacitar para a transição verde e digital é urgente. Em visita realizada a formação da AIP e CTCV . 39

Colaboração

Ana Almeida, Carla Lobo, Carlos Calças, Carlos Viegas, Fernando Carradas, Fernando Piedade, Helena Monteiro, Inês Rondão, Inês Vilarinho,Joana Rosa,João Menício, Luc Hennetier, Luís Almeida, Luís Ferreira, Marcelo Amaral, Marcelo Sousa, Miguel Figueiredo, Mónica Nascimento, Monique Dias, Nilza Paraíba, Nuno Monteiro, Nuno Vitorino, Paula Carvalho, Paulo Almeida, Paulo Pires, Rafael Assunção, Rui Carreira, Sandra Carvalho, Sílvia Vara e Teresa Ribeiro Bento.

Impressão

Grafica Almondina- progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas,Apartado 29 2350-909 Torres Novas [t] +351 249 830 130 [f] +351 249 830 139 [e-mail] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com

Distribuição Distribuição gratuita.

Versão On-line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal

Notas

Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte. Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores.

Depósito legal nº 21079/88 . Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal | Agenda Verde para a Inovação Empresarial, financiada pelo PRR - Plano de Recuperação e Resiliência, no âmbito do Next Generation EU da União Europeia | Projeto nº 76.

EDITORIAL

A Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP) está a transformar os setores da cerâmica e da cristalaria, a Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria (APICER) tem desempenhado um papel relevante neste propósito, com um compromisso notável: promover e divulgar os resultados de investigação e desenvolvimento e as soluções inovadoras geradas no âmbito da Agenda.

Este objetivo visa expandir o conhecimento e a tecnologia desenvolvidos, assegurando que beneficiem não apenas as empresas destes setores em território nacional, mas também na esfera internacional.

A APICER, no âmbito do Work Package 8, é responsável por coordenar as ações destinadas a assegurar que os avanços e soluções do projeto sejam amplamente disseminados. Este compromisso estende-se aos meios académicos, industriais, ao público em geral e aos consumidores, promovendo um impacto transversal e duradouro.

Uma Ponte entre Investigação, os investimentos e a Comunicação

Com o objetivo de monitorizar e valorizar os trabalhos em curso, a APICER foi para o terreno perceber com as empresas o que já mudou com a Agenda ECP e qual a perceção sobre opapel colaborativo entre diferentes setores, nomeadamente o científico e o industrial. Estas visitas assumiram um caráter fundamental para documentar os progressos alcançados e recolher informações relevantes sobre os investimentos produtivos em equipamentos financiados pelo projeto.

Esta estratégia assegura não só a transparência do projeto como também promove a transferência de conhecimento para as indústrias, academia e sociedade em geral.

Mobilização e Colaboração

Além de garantir uma comunicação clara e acessível, estas visitas tiveram outro objetivo estratégico: mobilizar os membros do consórcio para um envolvimento ativo e contínuo no projeto. Ao evidenciar os resultados e os avanços obtidos, pretendeu-se reforçar o espírito de colaboração entre todas as partes envolvidas, assegurando que a Agenda ECP continua a ser uma referência em inovação e sustentabilidade.

As entidades visitadas nesta fase foram selecionadas com base nas suas atividades no projeto e no montante de investimento produtivo a que se comprometeram. Desta forma, assegura-se uma cobertura abrangente das diferentes áreas de atuação do consórcio, com particular destaque para as iniciativas de I&D e de investimento produtivo. Durante estas visitas, foram recolhidas evidências demonstrativas das atividades desenvolvidas, assegurando que cada progresso fosse documentado com rigor e detalhe. Esta abordagem sistemática garante que a Agenda ECP permanece não apenas fiel aos seus objetivos, mas também transparente e acessível a todos os stakeholders

Um Projeto Transformador

Com esta iniciativa, a Agenda ECP reafirma o seu compromisso de liderar a transformação sustentável dos setores da cerâmica e da cristalaria. O impacto destas ações reflete-se não apenas na modernização tecnológica e na redução da pegada carbónica, mas também na criação de uma cultura de inovação colaborativa que inspira outros setores industriais a seguirem o mesmo caminho. Através destas visitas técnicas e da partilha de resultados, a Agenda ECP continua a demonstrar que o futuro das indústrias portuguesas reside na conjugação de inovação, sustentabilidade e colaboração, com um olhar atento às necessidades do mercado global e às exigências ambientais do presente.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

PROJETO PILOTO DO CTCV OFERECE OPORTUNIDADE DE TESTAR PRODUTOS

NUM AMBIENTE CONTROLADO

Por: Mónica Nascimento, licenciatura em jornalismo.

O papel colaborativo entre setores como o científico e industrial no atual estádio de desenvolvimento da Agenda

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP) juntou o Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro (CTCV), a Induzir e a PRF, numa discussão em que o denominador comum foi o caráter inovador desta partilha de conhecimento e a oportunidade que este método colaborativo representa para o setor da cristalaria e cerâmica desenvolver mais Investigação e Desenvolvimento (I&D).

Inês Rondão, do CTCV, lembra que há sempre diferenças entre os timings necessários para a investigação e os timings que a indústria necessita para responder aos problemas imediatos, e este é dos desafios do Centro Tecnológico no que diz respeito aos testes do hidrogénio, “temos de aumentar a cadência dos ensaios no forno de hidrogénio para conseguir acelerar os resultados porque as empresas precisam de respostas”.

Nuno Vitorino, diretor comercial da Induzir, defende que a falta de departamentos de I&D nas empresas

portuguesas também atrasa o contacto entre os sectores científico e industrial, ou seja, “por um lado exigem das entidades do sistema científico, mas depois, não têm estrutura que se adeque às suas próprias necessidades”. Pela experiência do CTCV, esta situação está a mudar Inês Rondão assegura que algumas empresas já investiram em I&D e este PRR foi um apoio, “pudemos mostrar a algumas empresas que têm a sua própria investigação o que fazíamos e a mais-valia de terem uma unidade de I&D ou terem a nossa ajuda”. Marcelo Amaral, da PRF, assegura que a agenda não só abriu portas para o I&D como também demonstra a necessidade do perfil de pesquisa de todos os envolvidos, “principalmente nas tecnologias emergentes como na área do hidrogénio verde, e no biogás e bio metano”.

Inês Rondão e Luc Hennetier garantem que entre as várias entidades da Agenda ECP está criado o alinhamento estratégico, com uma forte colaboração entre o CTCV e as indústrias da cerâmica e do vidro envolvidas no projeto. O feedback do setor industrial permite orientar o trabalho de desenvolvimento, de forma a responder aos requisitos da implementação industrial. Esta prática permitiu a integração de esforços para promover a inovação, aumentar a competitividade e responder a desafios globais, como sustentabilidade e redução de emissões carbónicas. Os responsáveis do CTCV asseguram que a Agenda ECP abre caminho para futuras colaborações, e as parcerias estabelecidas em diferentes níveis formam uma rede de contactos que transcende este projeto. Essa rede de contactos oferece um espaço contínuo para a troca de conhecimento, inovação e apoio mútuo.

Apesar de enaltecer as vantagens da agenda, Inês Rondão também aponta algumas dificuldades,

Imagem 1. Forno piloto híbrido instalado no CTCV.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

“podemos começar pelo tempo de resposta. Como sabemos o tempo do desenvolvimento científico, nem sempre coincide com as necessidades da indústria e a transposição de desenvolvimentos científicos em aplicações práticas pode ser complexa e demorada, exigindo alguma flexibilidade de ambas as partes”.

A investigadora do CTCV sublinha também algumas questões quanto aos requisitos regulatórios, e no caso específico da Agenda ECP, das garantias de origem dos gases verdes utilizados na implementação do projeto. As empresas deparam-se com dificuldades em conseguir cumprir este objetivo, alinhados com as necessidades de garantia das emissões carbónicas impostas até 2027.

“Não obstante estes desafios, não temos dúvida quanto à mais-valia deste projeto na aceleração da transformação tecnológica e energética, para uma indústria cerâmica e do vidro mais sustentável e livre de emissão de carbono. Transformação que se apresenta como fundamental para garantia da sustentabilidade e competitividade destas empresas”, adianta.

Sobre o novo forno piloto híbrido instalado no CTCV, Inês Rondão adianta que o projeto piloto, é único a nível nacional, e oferece às empresas dos setores da cerâmica e do vidro a oportunidade de testar os seus produtos num ambiente controlado e numa escala pré-industrial, utilizando diversos vetores energéticos, como gás natural, eletricidade e misturas de gás natural com hidrogénio. Além disso, irá proporcionar dados relevantes sobre o consumo relativo de energia e emissões, que servirão de base para decisões estratégicas futuras.

Neste momento, o CTCV está já a planear novos estudos, complementares aos previstos na fase de candidatura do projeto, com realização de ciclos híbridos, com segmentos alternados elétrico-gás para também validar esta alternativa tecnológica. “Temos estado a realizar testes de eficiência energética e de cozedura de materiais cerâmicos das diversas empresas envolvidas no projeto. Tendo já testado os vetores energéticos Gás Natural e eletricidade, e neste momento estamos a testar misturas de Gás Natural e hidrogénio, até 50% em volume, com monitorização de consumos e emissões gasosas. Os resultados obtidos estão em linha com o que inicialmente tínhamos previsto, e coerentes com estudos idênticos que têm sido feitos a nível internacional. Até ver não se regista um impacto significativo nas propriedades técnicas

dos materiais e no que toca às cores, as variações observadas não são relevantes para vidrados não reativos”, adianta a investigadora.

A aplicação dos resultados nestas indústrias tem como objetivo replicar as condições que apresentem os melhores desempenhos em termos de propriedades dos materiais, consumos energéticos e emissões associadas. “Numa ótica de otimização do tempo do projeto, algumas empresas do consórcio já estão a adaptar os seus fornos para os preparar para a utilização de hidrogénio verde, aguardando os nossos resultados para iniciar os testes industriais nas suas instalações”, explica.

Quanto aos benefícios da eletrificação, Luc Hennetier assegura que a solução pode ser uma alternativa apelativa do ponto de vista energético, na medida em que um forno elétrico é mais eficiente, pois não temos perdas de energia através da chaminé, por não haver gases resultantes da combustão.

Contudo, a inexistência de gases a circular dentro da câmara também significa menor turbulência, que facilita a transferência de calor por convecção e por isso o equilíbrio térmico do forno é mais difícil. “Existem ainda questões técnicas relativas à cozedura de porcelana, pela inviabilidade de realizar o ciclo de redução, que garante a brancura destes materiais. E por fim as questões financeiras e operacionais. Neste momento a eletricidade ainda é mais cara que o gás natural e a eletrificação de todos os fornos podem ter impacto na rede de distribuição das empresas e implicar investimentos adicionais, para além do investimento já feito no forno”.

Relativamente à alteração para Hidrogénio, “é uma alteração tecnológica mais simples, bastando adaptar as linhas de gás e queimadores. O forno em si mantém o seu modo de funcionamento face ao que existe para o gás natural. Os desafios aqui são alvo de estudo neste projeto, conhecer o impacto nos materiais, seja nos produtos cerâmicos, seja no tempo de vida dos refratários e mobília de forno. Neste momento, a maior dificuldade à sua utilização à escala industrial é a indisponibilidade de fornecimento de Hidrogénio Verde e a falta de regulamentação técnica para o seu fornecimento”, adianta.

Imagem 2. Forno piloto híbrido instalado no CTCV com amostras dos ensaios realizados em diferentes regimes energéticos (misturas GN/H2 e Elétrico)

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

Imagem 3. Misturador de gases instalado no CTCV pela PRF - Gas Solutions.

PRF garante aplicação de misturador de gases ao contexto industrial

Marcelo Amaral, da PRF, explica que a empresa que representa criou o seu departamento de Hidrogénio há cinco anos, e que neste momento “conta com 12 engenheiros dedicados exclusivamente a este vetor energético”. Os próximos passos na PRF são passar para a área do biogás e bio metano. “Também no contexto da agenda, desenvolvemos a nossa estação de mistura de injeção de Hidrogénio chamada Mixeo que, em parceria com as várias empresas que estão na agenda, e os seus contributos de pormenores operacionais, nos permitiu conseguir a melhor solução possível para ajudar neste caminho da descarbonização da indústria”.

O misturador de gases que está instalado no CTCV foi pensado para trabalhar de maneira autónoma, com a menor intervenção possível por parte de um operador. Desta maneira ela conta com dois caudalímetros e uma válvula proporcional de controlo de caudal do Hidrogénio. Quando é percebido um consumo por meio de um forno

ou algum ponto de consumo, a automação da estação envia sinais para essa válvula de controle para que somente o volume exato de Hidrogénio faça parte da mistura, para atingir o percentual que foi escolhido pelo cliente. Marcelo Amaral afirma que a maior dificuldade para levar a cabo este projeto foi encontrar as matérias compatíveis com oHidrogénio. “Há um ano, quando começámos a desenhar a solução, o cenário era muito diferente do que temos hoje, muitos dos principais fornecedores de equipamentos de gás não tinham ainda os seus produtos certificados para o Hidrogénio.

Então, foi uma tarefa árdua de conversas, reuniões e boas discussões técnicas e também de visita a feiras e eventos para conhecer e encontrar os itens adequados para trabalhar na nossa estação”. O responsável garante que esta experiência acabou por ser vantajosa para replicar o projeto na indústria. “Será mais fácil aplicar esta solução ao contexto industrial, com caudais mais elevados do que odo CTCV, e com processos operacionais mais complexos”.

Imagem 4. Misturador de gases instalado no CTCV pela PRF - Gas Solutions.

Construção do forno contínuo já teve início

O diretor comercial da empresa Induzir, Nuno Vitorino, tem atuado junto dos seus parceiros e clientes ao nível das funções de descarbonização, principalmente em soluções de aproveitamento de calor, regulação ar-gás e eficiência de queima. “Mais recentemente, no decorrer do projeto, também iniciou algumas ações relativamente à conversão e armazenamento de energia”, revela.

Relativamente ao protótipo que está disponível no CTCV “foi feito a partir de um equipamento existente, e neste contexto, as principais dificuldades foram encontrar dentro dos atravancamentos

existentes, o espaço para colocar as fontes energéticas que estavam na ambição da agenda, nomeadamente a potência elétrica que era preciso para a execução dos testes, para além de todos os dispositivos de queima e controle para a queima de mistura de gás natural e Hidrogénio”, explica.

Nuno Vitorino adianta ainda que no enquadramento da agenda, foi decidido que os protótipos fossem híbridos, por uma questão de rentabilização de recursos e de espaço. “O feedback que tem havido é que efetivamente a existência de um protótipo em que se possa testar as diferentes tecnologias

é uma abordagem bastante inteligente e válida. Contudo, a sua aplicabilidade aos dias de hoje, está previsto que seja feita sobre a solução elétrica, que em boa verdade é uma solução que já existe desde os anos 80 e 90, e que na altura estava muito mais implementada do que está hoje, ou por outra via, a solução 100% de queima de gases. Ainda que haja algumas indefinições ao nível daquilo que são os resultados de impacto da queima deste novo combustível no produto, as pessoas já têm suportado o acréscimo de valor para que oequipamento já vá dotado dos dispositivos de queima, segurança e controlo para queima de misturas de gases”.

Nuno Vitorino revela que o forno contínuo já está a ser preparado para que possa ser usado à escala piloto, para posterior replicação à escala industrial. Todo o projeto de engenharia, todo o processo da seleção de dispositivos de materiais e de mecanismos de movimentação de material de interior do forno já estão selecionados e dimensionados. “Posso dizer, em primeira mão, que a sua construção já teve início”, revela.

Imagem 5. Projeto do forno de rolos híbrido a instalar no CTCV pela INDUZIR.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

CRISAL ESTÁ A CONSTRUIR O FORNO OXI-HÍBRIDO NO ÂMBITO DA AGENDA

ECOCERÂMICA E CRISTALARIA DE PORTUGAL

Por: Mónica Nascimento, licenciatura em jornalismo.

Com apoio da Agenda do PRR - ECP, a Crisal está a implementar projetos estruturantes que visam aumentar a resiliência, a competitividade e o cumprimento das metas de descarbonização.

A Crisal é o maior representante do setor da cristalaria no consórcio.

Os projetos aprovados no âmbito do PRR – Agenda ECP, incluem testes de H2 e preparação das infraestruturas e redes (Work Package 1);

A preparação das infraestruturas elétricas e civis, os estudos e o desmantelamento do atual forno regenerativo, permitem a transição para uma nova tecnologia de forno oxi-híbrido, a autoprodução de energia elétrica por via fotovoltaica, a diferenciação dos produtos através de investimentos em máquinas servo-elétricas (mais flexíveis, eficientes e versáteis), projetos de melhoria de eficiência energética na produção de ar comprimido e na recuperação de calor (Work Package 2);

As medidas de economia circular preveem uma melhoria do circuito de recuperação e tratamento de casco, permitindo o aumento da taxa de incorporação e assim reduzindo os consumos de matérias-primas e energia, e ainda reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa (Work Package 3);

A produção de novos artigos prensados através do conceito de moldes de 3 e 4 partes irá permitir reduzir as emissões de CO2 por redução de consumo de GN (Work Package 4);

Na componente da digitalização a Crisal está a implementar um sistema MES (manufacturing execution system) que irá permitir monitorizar e gerir toda a cadeia de produção e a preparar a certificação energética ISO 50001 visando uma melhor gestão da energia (Work Package 5).

Carlos Viegas adianta que os testes de Hidrogénio visam obter conhecimento e dados dos processos, dos impactos no produto, dos custos e das emissões, permitindo à empresa preparar a infraestrutura e planear investimentos futuros. Em 2027, se tudo correr como está previsto, e contratualizado com a Regaenergy teremos condições de injetar hidrogénio nos nossos processos de combustão.

Todos os trabalhos de preparação para a instalação de um forno oxi-Híbrido, são um investimento produtivo relevante incluído na Agenda, mas é óbvio que além deste há outros investimentos relevantes, alinhados com os pilares do programa, como:

- A produção de energia elétrica por via fotovoltaica, que nos vai ajudar a reduzir os custos associados à maior eletrificação dos processos/equipamentos.

- A instalação de equipamentos que nos irão permitir a diferenciação dos produtos, com um nível de qualidade superior.

- Projetos na área da eficiência energética, onde foi necessário substituir alguns equipamentos e melhorar a gestão de consumos (reduzindo o consumo de energia).

-Reforço da infraestrutura elétrica, permitindo suportar os aumentos de consumo de eletricidade e reduzindo assim o consumo de GN.

Imagem 1. Construção das bases para novo forno oxi-híbrido na Crisal.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

-Melhoria da resiliência da infraestrutura elétrica através de instalação de geradores de backup, preparados para suportar maior dependência da rede elétrica

O responsável adianta que no Work Package 3, com foco na economia circular e visando aumentar a taxa de reciclagem de casco, estão a ser realizadas alterações que irão permitir melhorar a qualidade do casco. Estamos assim a criar condições no sentido de possibilitar uma maior incorporação de casco, bem como de outros resíduos de matérias-primas

Em relação ao WP4, “já materializámos novos produtos, cuja exequibilidade não teria sido possível sem recurso ao conceito de moldes e processo desenvolvido". Por fim, nos WP5, estamos a integrar nos processos de gestão e produção ferramentas e soluções digitais, que têm por objetivo uma maior eficiência e controlo dos processos, através de sonorização dos equipamentos, comunicação de dados, gestão em tempo real e suporte à decisão.

Carlos Viegas lembra que esta indústria abrangida pelos mecanismos ETS, está obrigada ao cumprimento das metas de descarbonização, pelo que “temos como objetivos impostos a redução de 62% das nossas emissões de CO2, face a 2005, e conseguir chegar a 90% da redução até 2040.

Se analisarmos este objetivo com base no conhecimento atual e face às soluções existentes, estaremos perante enorme desafio. Porquê?

Porque só cerca de 12% das emissões provém das matérias-primas e os 88% complementares resultam do consumo de GN que até ao momento foi a única fonte viável e disponível. Temos de encontrar no futuro soluções para mitigar as emissões que resultam das matérias-primas, mas também reduzir ou mitigar as emissões decorrentes do GN. O nosso roadmap está estabelecido de modo a caminharmos de forma sustentável para estas reduções. Vão ter de ser encontradas soluções viáveis e executados investimentos pesados baseados no maior nível de eletrificação, na introdução de gases renováveis, no incremento de eficiência e na utilização do mix energético disponível"

Por outro lado, face ao investimento intensivo da nossa atividade e ao tempo de vida longo dos equipamentos, todas as alternativas à descarbonização implicam um elevado grau de

maturidade e conformidade. É um desafio muito grande que a indústria de vidro, não só vidro de mesa, está a enfrentar.

Apesar da Crisal estar no bom caminho para o cumprimento da Agenda, Carlos Viegas reconhece alguns desafios que foram enfrentados, como “os prazos da entrega, visto que alguns materiais vieram de proveniências bastante distantes, pelo que tivemos de tomar algumas medidas com consequente aumento de custos. Também a complexidade dos projetos, que implicam coordenar em simultaneidade muitas empresas externas. A complexidade que isto envolve é de facto uma dificuldade”, adianta.

O responsável da Crisal também explica que os trabalhos de preparação para instalação de um forno oxi-híbrido estão concluídos, “mas tivemos de iniciar trabalhos de preparação com o forno atual em funcionamento, é quase a mesma coisa que começar a construir um prédio novo no mesmo local de outro que está a ser habitado, se me permitem a comparação. Esta alteração tecnológica vai implicar a combustão com oxigênio, estamos a falar de volumes de oxigênio muito grandes, tivemos de adaptar toda a nossa estrutura da armazenagem e de fornecimento de oxigênio. Vamos tentar o mais possível antecipar as necessidades das redes e da segurança relacionadas com a introdução do hidrogénio na fábrica”, explica.

Sobre as dificuldades, o engenheiro refere ainda os “constrangimentos decorrentes da limitação da área para construção. Estamos limitados em termos da área coberta e tivemos que nos reinventar para ver onde é que íamos colocar os equipamentos, dado que não podíamos expandir para fora do contexto industrial”. As mudanças são muitas simultâneas, refere Carlos Viegas, “iremos incorporar mais energia elétrica nos nossos processos, isso obriga-nos a alterar toda a infraestrutura elétrica. Os temas de backup também foram foco, dado que, quanto mais estamos dependentes da energia elétrica, mais temos de estar preparados para eventuais falhas desse mesmo fornecimento, e para a manutenção planeada da infraestrutura elétrica da nossa responsabilidade, onde se inclui a subestação elétrica”.

Sobre os testes que foram feitos com misturas de hidrogénio e com hidrogénio, já nos equipamentos industriais, “o objetivo é aprendermos, é percebermos qual é o impacto que a combustão de

Hidrogénio tem nos nossos consumos, nos nossos custos, no nosso produto, no nosso processo e, com isso, conseguirmos, depois, tomar melhores decisões para industrializarmos esse consumo”, explica Carlos Viegas. “Estamos a receber Oxigénio há muito tempo em camiões-cisterna e iremos continuar, mas assim que o projeto da Regaenergy, um projeto que estamos a desenvolver em consórcio, esteja na sua fase de comercialização, podemos passar a receber Hidrogénio e Oxigénio através de pipeline diretamente do eletrolisador, eletrolisador que vai estar muito próximo de nós, a cerca de um quilómetro”. A nível dos equipamentos, a Crisal também investe na sua eletrificação “deixando estes de terem acionamentos pneumáticos, pois o ar comprimido pela sua produção é caro e menor eficiente".

Em relação à construção do forno, a Crisal teve a possibilidade de formar pessoas numa nova tecnologia, “na tecnologia BIM, o forno foi todo desenhado a 3D com base neste software e foi um avanço, uma preparação e um planeamento brutal, porque permitiu, antes de começar a executar, antes de começar a encomendar materiais aos fornecedores, antes de mandar peças técnicas desenhadas para os fornecedores, garantir a sua otimização. As ligações, as dimensões, as zonas de passagem, as zonas de segurança, portanto, tudo isso foi otimizado sobre um modelo 3D”, refere.

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“Dentro do WP3, desenvolvemos o sistema de melhoria da limpeza do casco, que nos permite ir buscar alguma água do nosso processo final que é uma água de ETAR, conseguimos injetá-la nos sistemas de limpeza e com isso garantir que temos um casco limpo adequado à produção do vidro. É uma base que nos irá permitir aumentar a taxa de incorporação de casco no nosso processo", explica.

Em relação ao WP4, "por via de um novo conceito de molde e com adequação das máquinas vamos obter produtos com geometrias diferenciadas e mais complexas. Começamos por pensar na solução em termos da máquina, então desenvolvemos protótipos 3D do mecanismo, depois desenvolvemos protótipos 3D do produto e chegamos depois aos moldes finais, neste momento já temos produtos produzidos que estão a ser comercializados”.

Em relação ao WP5, Carlos Viegas adianta que a Crisal está a instalar sensores nas máquinas, “o objetivo é recolher entre outras informações do processo, da produção em tempo real, a informação relevante de parâmetros e ocorrências de processo, a performance e o consumo de energia. No início do ano, vamos ter a possibilidade de testar o sistema em ambiente real, já fizemos um protótipo para validação, que instalamos numa linha de produção e que será estendido às restantes linhas de produção".

Imagem 2. Construção das bases para novo forno oxi-híbrido na Crisal.

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PRIMUS CERAMICS EXECUTOU MAIS DE 90% DO PROJETO

Por: Mónica Nascimento, licenciatura em jornalismo.

A Primus Ceramics já previa algumas inovações no seu Plano de Investimentos, ainda antes do início do ECP. Portanto teve a possibilidade de encaixar investimentos que já tinha começado a executar em 2022. Neste momento, atingiu uma taxa de execução do projeto superior a 90%.

Paulo Almeida, Assessor no Conselho da Administração da Primus Ceramics destaca os principais investimentos produtivos, nomeadamente a criação de um projeto de um secador híbrido, um secador que permite durante o dia funcionar a eletricidade através da energia produzida pela central fotovoltaica da empresa, que de acordo com o responsável é “único no mundo, porque foi desenhado à nossa imagem”.

Este secador permite a comutação automática entre gás e eletricidade e também ter uma parte a funcionar a eletricidade e outra a gás, conforme as condições climatéricas. O responsável assegura que a Primus Ceramics aproveitou para fazer os investimentos que tinham paybacks superiores. A unidade de Taboeira, que tem 380 m de comprimento, precisava da recuperação de ar quente e só para tubagem para a recuperação precisava de cerca de 240m. “O custo do gás acabou por ajudar a reduzir o payback, e com a ajuda do financiamento da agenda, efetuámos a recuperação de ar quente também para o secador. Portanto, o nosso secador consegue trabalhar com um baixo consumo energético atendendo, por um lado, à energia fotovoltaica que é consumida durante o dia. Por outro lado, quer durante o dia, quer durante a noite, conseguimos ter ar quente a entrar no secador na casa dos 120 ou 130 graus, o que nos permite um ganho significativo”.

Em relação à unidade de Aradas, a empresa aumentou a central para criar uma unidade de autoconsumo coletivo que neste momento está em fase de licenciamento. A empresa tem as necessidades elétricas da unidade de Taboeira cobertas e queria centralizar a produção nesta unidade, e ter esse consumo em Aradas, beneficiando desse ganho energético.

A Primus Ceramics apostou em várias medidas ligadas à eficiência energética, como os queimadores da alta eficiência que permitiram uma redução de consumo específico com algum significado. “Quando estamos a falar com algum significado, não nos podemos esquecer que a cerâmica tem vindo a reduzir os consumos específicos há 20 anos e, portanto, os ganhos hoje são marginais, mas com impacto muito significativo em termos de sustentabilidade. Os queimadores de alta eficiência foram implementados nos nossos três fornos”, explica Paulo Almeida.

Escolha feita à medida

A empresa implementou ainda um sistema que faz a monitorização do oxigénio na atmosfera do forno e o CEO explica que este é um sistema que permite trabalhar com os níveis mínimos de oxigénio, o que minimiza o consumo de gás e torna a queima o mais eficiente possível em termos de consumo.

A Primus Ceramics realizou ainda investimentos que têm a ver com o aumento de produtividade, “aproveitámos o projeto para montar uma linha de escolha na unidade de Aradas feita à medida, especial para pequenos formatos, que permite ganhos significativos. Neste momento, já estamos a

Imagem 1. Investimento produtivo. Secador industrial híbrido, com aproveitamento de calor residual, instalado na Primus Ceramics.

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trabalhar em acelerar mais o forno e tentar reduzir os ciclos de cozedura para poder ter ganhos também em termos de eficiência energética”, resume.

Outra das apostas da empresa centrou-se na consultoria e software com a digitalização de toda a parte logística e, neste momento, já com a instalação de PDA’s. Na parte da consultoria, a empresa está a implementar uma gestão baseada nos princípios da ESG, virada para a sustentabilidade e tem como objetivo ser pioneira no setor.

Projetos piloto já estão implementados e com ganhos significativos

Paulo Almeida admite ainda não ter indicadores que permitam auferir ganhos para medidas específicas, já que todas estas medidas requerem um período de adaptação. “Aquilo que temos como certo é que, em Aradas, conseguiremos uma redução de cerca de 10% no consumo específico de gás natural.

Imagem 2. Alimentação de peças cerâmicas ao secador industrial híbrido, após prensagem, na Primus Ceramics.

Queremos tentar chegar a esse valor na unidade de Taboeira. No entanto, como já é bastante mais eficiente, prevíamos um ganho de apenas 5%. Eu estou convencido que vamos ultrapassar, mas não temos um número final no momento”.

Sobre a circularidade e o consumo de matérias minerais, a empresa já desenvolvia algum trabalho e recorria à recuperação de pó nas prensas para ovoltar a reintroduzir no processo. Desta vez, a Primus Ceramics desenvolveu uma solução em que o pó das prensas já cai num “funil” por baixo das prensas, é aspirado para um ciclone em que os finos são expedidos para o despoeiramento e o pó mais grosso desce diretamente para os tapetes de alimentação às prensas. Este processo permite um aproveitamento de entre 1,5 e 2% de pó que era desperdiçado e que neste momento é simplesmente injetado diretamente no processo.

A empresa diminuiu a espessura em um dos formatos mais vendidos, “esta redução tem significado, são 5%, sem alterar qualquer tipo de propriedade técnica ou funcional do produto.

são ganhos significativos nessa área”, explica. O responsável aponta ainda outra alteração de ferramentas nas prensas, conseguindo aumentar cerca de mais 10% o número de peças por prensada. A empresa desenvolveu ainda um projeto piloto aplicado a uma máquina de cintar. Esta tecnologia permite cintar fiada a fiada na palete, compactando mais e evitando a quebra de material.

“Orçamentamos os investimentos num período de muito baixa inflação e executamos os investimentos com inflação muito alta”

Quanto às dificuldades do projeto, o administrador destaca uma, transversal a todas as empresas, “orçamentamos os investimentos num período de muito baixa inflação e executamos os investimentos com inflação muito alta. Eu diria que estamos a

Imagem 3. Saída de peças cerâmicas após processo de secagem na Primus Ceramics.

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Imagem 4. Azulejos produzidos após cozedura em forno de rolos da Primus Ceramics.

falar num acréscimo de 20 a 25% no custo dos equipamentos. Nesse sentido, já enviamos um pedido à Agenda para se houverem entidades que não tenham consumido os recursos todos, afetar alguma parte dessas verbas à Primus Ceramics. Porque nós temos mais verba consumida do que aquela que nos foi atribuída e ainda não acabamos de executar todos os investimentos.” Paulo Almeida explica que a segunda dificuldade foram os prazos de entrega que em alguns equipamentos atingiram os 11 meses. Depois, esses prazos de entrega tiveram de ser ajustados a uma paragem da empresa que trabalha em processo contínuo.

De acordo com Paulo Almeida, uma terceira dificuldade foi o licenciamento do novo PT. “Todos estes processos em termos burocráticos levam

muito tempo e só podemos continuar o aumento da central fotovoltaica depois de ter esta parte do processo licenciada”, defende. “Se tivesse que referir a dificuldade maior deste projeto é que, a um ano do final, os gases renováveis não existem, estamos dependentes de outros e não conseguimos avançar mais”.

O responsável da Primus Ceramics não tem dúvida de todos os ganhos da Agenda ECP, sobretudo no que diz respeito à união do setor, “noto que no desenvolvimento desta agenda foram criadas linhas de comunicação que têm sido bastante úteis e que nos têm permitido verificar outras realidades e partilhar conhecimentos”. Paulo Almeida acredita que a agenda vai promover a união do setor perante as dificuldades.

Imagem 5. Vista do painel de controle e monitorização do secador industrial híbrido na Primus Ceramics.

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RIA STONE ENTENDE INOVAÇÃO COMO PARTE DO SEU ADN

Mónica Nascimento, licenciatura em jornalismo.

A Ria Stone está envolvida na Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP) desde o seu início e Paulo Pires lembra que a inovação está no ADN da empresa. “Há cerca de 12 anos, e tendo essa visão sempre do médio/longo prazo, a Ria Stone foi uma das entidades pioneiras e sempre vimos neste projeto e neste consórcio uma forte alavanca para estes caminhos difíceis em termos de descarbonização, transição energética e da questão da circularidade, tanto que a questão da sustentabilidade também é um dos nossos desígnios nas vertentes da redução das emissões, na questão da utilização cada vez maior de energias renováveis e na questão da circularidade”, lembra.

O responsável sublinha que os principais objetivos da descarbonização são reduzir as emissões de CO2 e de gases com efeitos de estufa e a pegada carbónica, mas obviamente, também a redução do consumo energético. Neste caso, o gás natural tem a principal fatia nas emissões e também nos custos. Os investimentos da Ria Stone vão todos nesse sentido, e as maiores preocupações da empresa estão na componente da oferta. “Vamos cumprir todos os passos neste caminho da descarbonização, para capacitar os nossos equipamentos para os novos gases de origem renovável. No entanto, do que percebemos da Estratégia Nacional do Hidrogénio e do Plano de Acção do Biometano, não vai haver a oferta necessária para as nossas necessidades”, afirma.

A empresa continua a trabalhar com todos os players do mercado no que diz respeito ao hidrogénio e também ao biometano, mas não acredita “numa solução única milagrosa” para a descarbonização. Paulo Pires defende que a solução poderá estar numa mistura de vários gases, vários blends, que vão permitir a transição energética, mas teme que ainda possa demorar algum tempo.

O responsável da Ria Stone defende que o gás natural ainda vai ter um papel muito importante até haver os gases de origem renovável em quantidade, qualidade, competitividade e com fiabilidade de alimentação. “Somos uma empresa fortemente exportadora e temos que nos manter competitivos à escala global, logo, o preço das energias é absolutamente crítico para a nossa competitividade e a descarbonização tem diferentes velocidades, nós na Europa estamos um pouco à frente. O que acho é que, a médio e longo prazo este investimento vai trazer o seu retorno, quando o cliente final estiver disposto a pagar um prémio por produtos de baixa pegada carbónica e exigir dos próprios produtores essa baixa pegada carbónica”, afirma.

Ria Stone vai testar em fábrica a experiência do CTCV

A Ria Stone já procedeu a alterações num dos seus fornos, e João Menício explica que a maior dificuldade da alteração se prendeu com o tempo que o forno esteve imobilizado. “Parar um forno desta dimensão durante dois meses impacta na nossa capacidade de entrega do produto ao cliente e foi essa a maior dificuldade, obrigou-nos a executar um plano de seguimento dos trabalhos bastante exigente, mas foi algo que conseguimos cumprir. Agora, passamos para a fase seguinte do projeto, que será testar em produção real e à escala industrial um blend de gás natural e hidrogénio, que, se tudo correr de acordo com o previsto, será executado no final de 2024, início de 2025”, afirma.

João Menício adianta ainda que um dos parceiros do consórcio, a PRF, está a desenvolver um misturador de gases, que a Ria Stone vai instalar

Imagem 1. Reconversão de forno industrial para incorporar H2 em mistura com gás natural, aproveitamento de calor residual e aplicação de queimadores de alta eficiência. Demonstrador Industrial da Ria Stone.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

um misturador de gases nas suas instalações e que já está em contacto com parceiros que podem fornecer o hidrogénio, quando a empresa proceder à instalação do misturador de gases, pode abastecer oforno demonstrador com uma mistura de gás natural e hidrogénio A Ria Stone já está a preparar um plano para o ensaio industrial sem interromper a produção nos outros dois fornos de modo a registar omínimo de perturbações na produção. “O CTCV tem um forno que permite fazer diferentes misturas de hidrogénio e gás natural à escala laboratorial para antecipar o impacto do teste na Ria Stone à escala industrial real life”, explica.

Ana Almeida destaca outros projetos da Agenda ECP que a Ria Stone está a levar a cabo, como a instalação de mais uma unidade de painéis fotovoltaicos, que permitirão produzir cerca de 20% da energia elétrica da empresa e, em parceria com o fornecedor de matéria-prima, está também a trabalhar uma "pasta Loft" que possibilitará uma temperatura de cozedura mais baixa e ciclos mais curtos.

Ana Almeida explica que no âmbito da circularidade, a empresa está a desenvolver uma pasta que permite integrar mais resíduos gerados no processo de forma a incorporar mais percentagem de produtos reciclados e que está também “a trabalhar num projeto de rastreabilidade, com o objetivo de implementar um “passaporte digital verde"”. Sobre a digitalização, Luís Silva explica que a Ria Stone está a desenvolver o projeto e a acrescentar ao processo outras ferramentas que permitem indicadores mais fiáveis para melhorar o sistema operacional. Luís Silva defende que depois de melhorar os equipamentos em termos de eficiência energética, a empresa está a “implementar ferramentas de dashboarding para tornar visíveis no chão de fábrica

indicadores sobre o processo porque acreditamos que a visibilidade ao nível chão de fábrica é a mais importante para nos tornarmos mais produtivos e eficientes”.

Imagem 2. Controlo digital das prensas isostáticas, na Ria Stone.
Imagem 3. Aproveitamento do calor residual à saída do forno na Ria Stone.
Imagem 4. Aspiração de ar exterior, para controlo temperatura do ar quente reintroduzido, no forno da Ria Stone.
Introdução de hidrogénio

ainda não está regulamentada

O ISQ também contribui para vários projetos da Agenda ECP. Helena Monteiro revela que a entidade tem liderado estudos para a recuperação de calor para o setor da cerâmica e da cristalaria e também tem desenvolvido ferramentas de digitalização e monitorização de ativos para deteção de fenómenos de degradação, como é o caso da corrosão com o recurso a imagens recolhidas através de drones. O ISQ também tem apoiado a indústria no processo de reconversão nas suas redes para a introdução do blend de hidrogénio gás natural.

A responsável adianta que o estudo tem várias etapas, sendo que a primeira começou pelo levantamento da rede e caracterização de todos os elementos da rede, depois, foi elaborado um estudo do dimensionamento de rede para verificar se o elemento original se ajusta aos novos caudais necessários para o blend de hidrogénio gás natural e posteriormente o ISQ levou a cabo

um levantamento de todos os componentes desta rede de distribuição de gás, para garantir que os materiais e o estado atual desses componentes são compatíveis com o novo gás a ser introduzido na rede.

Helena Monteiro realça que foi feito um plano de inspeções e ensaios que quando for implementado vai garantir que os materiais existentes não irão sofrer processos de degradação com a introdução do hidrogénio no sistema. “Ao contrário do gás natural que, quando chegou a Portugal, já estava muito testado na Europa e já tinha regulamentação no contexto europeu e internacional, que o estado português com relativa facilidade conseguiu adaptar ao normativo nacional e regulamentar, neste caso, a introdução de hidrogénio em redes existentes de gás natural ainda é uma tecnologia nova, e por isso não existe um enquadramento regulamentar para adaptação destas redes existentes. Neste momento, em Portugal o que estamos a fazer é a seguir as best practices e apoiar todos os industriais que pretendem fazer esta transição para garantir a segurança das redes”, explica a responsável do ISQ.

Imagem 5. Sensorização do processo de prensagem na Ria Stone.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

SANINDUSA JÁ ENSAIA PRODUTOS INOVADORES NO ÂMBITO DA AGENDA

ECOCERÂMICA E CRISTALARIA DE PORTUGAL

Por: Mónica Nascimento, licenciatura em jornalismo.

A Sanindusa tem em curso vários projetos no âmbito da Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP), e uma das suas propostas de inovação assenta nos princípios de circularidade, com a reincorporação de resíduos gerados no seu processo, como é o caso do caco cozido e das lamas de ETAR.

Luís Ferreira, diretor de produção, enumera as vantagens do projeto. “Vamos obter produtos mais sustentáveis, com mais valor acrescentado, e ter uma redução de custo. Estimamos uma redução de 0.7% do custo das pastas, por cada ponto percentual de introdução destes resíduos. Grande parte desses resíduos são lamas provenientes do tratamento das águas residuais e caco de peças não conformes. Relativamente ao caco, já temos peças desenvolvidas com a sua incorporação. Foi necessário reformular a composição das pastas após a definição das características das matérias-primas e da granulometria mais adequada do caco a incorporar”, explica, numa altura em que a empresa obteve bons resultados entre 5 e 7% de incorporação nos ensaios industriais que já levou a cabo e está otimista que pode ultrapassar esse valor.

Relativamente às lamas provenientes do tratamento das águas residuais industriais, a Sanindusa continua a trabalhar a nível laboratorial, porque as lamas apresentaram dificuldades acrescidas. “Introduzindo lamas na pasta, aumentam sempre a sua viscosidade, que é uma variável importantíssima na conformação”. As fases dos ensaios em laboratório revelam outros desafios como alguma variabilidade entre diferentes lotes de lamas, ou um impacto que essas lamas têm na deformação da pasta em cozedura, especialmente devido à existência de vidro misturado com a pasta.

Imagem 1. Investimento produtivo na Sanindusa. Máquina de enchimento automática para aumento de capacidade produtiva.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

Na Sanindusa, todos os efluentes líquidos são recolhidos no mesmo tanque, “de maneira que temos uma mistura de resíduos de pastas diferentes. Estamos a estudar novos aditivos e a encarar a possibilidade de instalar uma outra ETAR. Entre a tecnologia de eletrocoagulação e a tecnologia de centrifugação, estamos a estudar qual se adapta melhor à nossa produção e ao espaço que temos. É por aí que achamos que vamos conseguir resolver o problema da floculação, da variabilidade e também da retração em cozedura das pastas. Estamos em fase laboratorial, com uma percentagem da utilização muito reduzida. Temos bons resultados, mas ainda na fase dos 2%. Um resultado, muito modesto”, revela Luís Ferreira.

Cozedura a menor temperatura

A empresa está a desenvolver uma formulação de pasta para cozedura com menor temperatura.

O diretor de produção assinala a importância da deformação das peças durante a cozedura. “Os nossos moldes que estão em produção vão trabalhar também com esta nova pasta. É preciso garantir que a pasta cumpre o standard da deformação piroplástica e da retração, para garantir os aspetos dimensionais das peças finais. Chegámos a um resultado muito interessante”. Luís Ferreira sublinha ainda que o objetivo da empresa é de baixar em cerca de 30ºC a temperatura dos seus fornos e que já obteve bons resultados. “Desenvolvemos um vidrado internamente e tivemos, também, a colaboração da Universidade de Aveiro. Desenvolvemos uma pasta para a porcelana de sanitário, e já temos peças exemplo. Estimamos que a redução será entre 1 a 4% do consumo de gás. Isso em termos do grupo, se conseguirmos reduzir a temperatura em todos os fornos da Sanindusa, admitimos uma redução de consumo entre 500MWh e 1 GWh por ano, qualquer coisa como 140 toneladas de emissão de CO2”.

Gestão

O responsável da Sanindusa lembra que a empresa apostou numa nova gestão da distribuição do calor recuperado com a instalação de um sistema

de recuperação do calor do forno, e recuperação de ar quente do pré-forno. A empresa melhorou a otimização dessa recuperação, isolou as condutas para os secadores, e geriu melhor os ciclos de secagem. “Nestas áreas (caldeiras de aquecimento de águas e pasta, climatizações da olaria e secagem de peças), conseguimos 60% de redução de consumo anual o que equivale a 2.8 GWh de gás. Isso representa uma redução de cerca de 520 toneladas de emissão de CO2, com um ganho de cerca de 100 mil euros anual, o que foi um resultado muito bom”.

Imagem 2. Recuperação de calor dos fornos para aquecimento das Olarias na Sanindusa.

Peças de espessura muito baixa com a incorporação do caco seguindo conceitos de Ecodesign

As novas máquinas de enchimento foram outro dos investimentos produtivos da empresa, já estão instaladas e em produção. As novas máquinas permitem gerir melhor a produção de bases de menor dimensão com as bases de maior dimensão e produzir bases com uma espessura mais baixa, já incorporando conceitos de Ecodesign. “Já produzimos uma base de chuveiro com uma espessura muito baixa, com incorporação de caco cozido, com vantagem a nível do custo, porque terá menos massa, menos resíduos e mais vantagens em termos de transporte das próprias peças”, adianta.

Intensidade carbónica depende da alteração do combustível

O diretor de produção da Sanindusa faz o ponto de situação da execução do projeto. “O investimento produtivo previsto nesta agenda é de cerca de 6 milhões de euros. Já executamos um pouco mais de 2.2 milhões de euros até ao final do primeiro semestre deste ano. Neste terceiro

trimestre, devemos estar a rondar os 2.5 milhões de euros. A Sanindusa ainda prevê instalar um forno intermitente, uma linha de vidragem, um secador, a ETAR com o novo processo de tratamento das águas residuais e as obras dedicadas à instalação destes equipamentos". Em curso, a empresa tem a instalação de elevadores na fábrica para facilitar a carga das vagonas.

Luís Ferreira estima que as previsões de aumento de faturação atinjam entre 15 a 20% e sublinha que a empresa pretende criar 50 postos de trabalho.

Quanto à finalidade do projeto, o diretor de produção lembra que o compromisso é de “passar de uma intensidade carbónica, que atualmente anda à volta de 52 toneladas de CO2 por cada TJ de energia, para 38 toneladas de CO2 até 2027. Isto não se faz com medidas de redução de consumo, faz-se com a alteração do combustível. Está previsto substituir o gás natural, ou parte dele, por biometano e por Hidrogénio verde que deverão estar disponíveis no mercado. No caso do biometano será injetado na rede de distribuição do gás natural e no caso do Hidrogénio, para além do injetado na rede haverá a possibilidade de recebermos por pipeline desde Oliveira do Bairro. Estimamos substituir o gás natural em 30% por biometano e em 20% por Hidrogénio, para atingirmos as metas de intensidade carbónica até final de 2027”.

Imagem 3.Sistema de recuperação de calor do forno na Sanindusa.

Taxa de circularidade em Portugal é de 2,6%

Uma das características da Agenda ECP é precisamente a colaboração entre as instituições científicas e as empresas, e Luís Ferreira admite que esta aproximação pode abrir portas para projetos futuros. Monique Dias, investigadora da Universidade de Aveiro, destaca "a possibilidade de conhecer melhor os problemas e necessidades das empresas envolvidas e desenvolver novas soluções”.

A investigadora da UA explica que a colaboração com a Sanindusa tem como objetivo principal odesenvolvimento de novas formulações que proporcionem a redução da temperatura de cozedura da pasta e posteriormente dos vidrados. Para tal, foram realizados ensaios de caracterização física, química e estrutural utilizando um conjunto de equipamentos dedicados existentes na Universidade de Aveiro. De acordo com a investigadora Inês Vilarinho, a Universidade de Aveiro, “tem contribuído numa primeira fase, na caracterização dos resíduos que são internos ou externos das empresas. Também caracterizámos diversos lotes, ou seja, fomos recolhendo amostras ao longo do tempo, para verificar a variabilidade das características dos resíduos, para perceber como cada utilização vai influenciar o produto final. Seguidamente, fizemos testes de pastas, cozendo em fornos do laboratório e testámos algumas das propriedades”.

A investigadora lembra que a taxa de circularidade ainda é bastante baixa na Europa, de cerca de 13%, e em Portugal desceu para 2,6%. “Ou seja, ainda estamos a fazer um modelo de economia linear e não o modelo da economia circular. Portanto, a introdução de resíduos é só por si bastante inovador, porque realmente não está a ser feito”. Inês Vilarinho admite que este é um projeto bastante desafiante, “podemos olhar não só para os resíduos ou para os produtos das empresas cerâmicas, mas para outros que podem ajudar, por exemplo, a dar cor aos cerâmicos, como os resíduos das empresas metalúrgicas. Estamos a contribuir para obter um produto mais sustentável. Além disso, estamos a criar diversas simbioses industriais, esperando obter uma taxa de circularidade bastante maior do que aquela que temos atualmente”.

IPL dedica-se à circularidade, desenvolvimento de produto e formação

O Instituto Politécnico de Leiria também está a trabalhar na investigação em vários projetos com a Sanindusa. O professor Fernando Carradas só vê vantagens nesta colaboração que permite um conjunto de benefícios e de condições que são favoráveis, como a investigação e também a formação de profissionais, para além de ser possível testar as soluções em contexto industrial. No entanto, destaca o objetivo final do projeto de poder contribuir no sentido de construir um futuro um pouco mais sustentável e reafirmar a importância da responsabilidade social. “Com as nossas competências, alterar alguns processos e diminuir os impactos ambientais resultados das atividades industriais. contribuir também para o crescimento do setor e melhorar a qualidade das pessoas em geral”, assegura.

Carla Lobo, professora do IPL, sublinha que o contributo da instituição passa pela questão da circularidade, desenvolvimento do produto e também na disseminação do conhecimento e formação do tecido empresarial. “Estamos a participar onde podemos contribuir, que é na transferência de conhecimento, mas também na aquisição de conhecimento”. Fernando Carradas adianta que em termos de desenvolvimento de produto, a colaboração ainda está numa fase embrionária. Em termos de plano de ação, a ideia é dar contributo na aplicação de estratégias, em função da tipologia de produto e também dos interesses e das expectativas de cada parceiro. “Vamos tentar trabalhar a questão dos recursos das matérias-primas, também a questão da funcionalidade e da multifuncionalidade dos produtos. Por outro lado, também trabalhar a questão da produção, assim como do ciclo de vida e da circularidade no seu todo. Portanto, desde a extração até ao descarte do produto e abordar também as tendências de consumo e de utilização dos objetos por parte do público”.

Carla Lobo acrescenta ainda que a decisão das ideias a desenvolver nos projetos não cabe propriamente ao IPL, mas sim às empresas, “tentamos encontrar propostas que podem responder a problemas que existem na empresa e que possam responder à agenda”.

Edição especial . p.29

Imagem 4. Alteração da estrutura das vagonas, para aumento da eficiência energética da cozedura, na Sanindusa.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

TRANSIÇÃO DIGITAL DO SETOR CERÂMICO

Por:

Mónica Nascimento, licenciatura em jornalismo.

Um dos objetivos do WP5 – Transição digital do setor cerâmico da Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP) – é a criação de uma Plataforma Nacional de Conteúdos BIM para a Indústria Cerâmica – BIMCer – com vista à disponibilização de uma biblioteca digital de produtos cerâmicos, utilizando metodologias padronizadas e tecnologia BIM, que incorpora diferentes camadas de informação, com destaque para a informação relacionada com a sustentabilidade, em especial para a pegada de carbono dos produtos.

Nesta fase do projeto, com a colaboração da TecMinho – Associação Universidade – Empresa para oDesenvolvimento, da Universidade do Minho, já se avançou com a criação dos Modelos de Dados de Produtos (PDTs) para a Revigrés e Sanindusa, alinhados com as normas relevantes da EN ISO para Templates de Dados de Produtos (EN ISO 23386 e EN ISO 23387), bem como as normas EN relacionadas a cada produto. Estes Templates de Dados de Produtos serão a base da estrutura de informação de consulta e para os filtros de pesquisa da Plataforma Pública e Aberta de Modelos Digitais de Produtos Cerâmicos – BIMCer, bem como na estrutura de Grupo de Propriedades para os Requisitos mínimos de informação alfanumérica, a ter nos objetos BIM (IFC) da mesma plataforma, nomeadamente as propriedades de desempenho ambiental (DAPs).

A Visabeira I&D, é outra dos parceiros do projeto de criação das plataformas BIMCer e DIGICer. Sílvia Vara, responsável pelos projetos na Visabeira I&D, lembra que “a agenda ECP tem como principal objetivo posicionar o setor da cerâmica num lugar cada vez mais competitivo e estas plataformas estão a ser trabalhadas indo ao encontro daquilo que são as ambições da agenda. O pilar da

sustentabilidade, é abordado de diversas formas, através do passaporte digital, economia circular, eficiência energética, das simbioses industriais, etc. Temos também os pilares dos recursos humanos e da transição digital. É no âmbito do pilar da transição digital que as plataformas que estamos a desenvolver surgem. Pretendem posicionar o setor da cerâmica de uma forma mais competitiva num mercado cada vez mais exigente e globalizado”, resume. Em relação à plataforma em concreto, a BIMCer, “será uma plataforma pública e aberta de modelos digitais de produtos cerâmicos. Por um lado, será completamente aberta aos profissionais de arquitetura, engenharia e construção (AEC) e por outro funcionará como um instrumento através do qual os fornecedores e fabricantes podem divulgar os seus produtos e entrar em mais um canal de contacto com o mercado. A plataforma vai definir as regras de base para a construção de modelos digitais de produtos cerâmicos, que é um dos temas que temos estado a trabalhar com a Revigrés e a Sanindusa e também com a Universidade do Minho”.

Miguel Figueiredo, diretor de desenvolvimentos digitais da Visabeira I&D, revela que a plataforma neste momento “está em testes e validação de conceito. Sabemos que a solução já dá resposta a todos os requisitos iniciais que foram definidos para a plataforma, nomeadamente, extrai a catalogação do tipo de utilizador, seja o tal cliente que vai à BIMCer visualizar um produto, o fornecedor do serviço ou os fabricantes dos produtos. Neste momento, a base de dados funciona, está online e os próximos passos vão-se basear na definição dos atributos dos ficheiros BIM para que estes possam ser admitidos na plataforma: Que tipo de informação terão de conter os formatos IFC, quais os atributos que vão ser disponibilizados ao público geral. A nível do profissional de AEC, a partir do

momento que faz o login, quais são os atributos que conseguem obter, o que visualizar e descarregar para ser utilizado em projetos de construção, com especial foco nos atributos relacionados com a sustentabilidade, nomeadamente a pegada de carbono”. Sílvia Vara explica que “foi uma oportunidade de padronizar esses atributos e dados e harmonizar estes dados com aqueles que são, ou virão a ser, as exigências dos dados do passaporte

digital do produto. Aquilo que a BIMCer vai fazer é também instruir os fabricantes para desenvolverem para os seus produtos um padrão BIM (neste caso opadrão IFC), com maior qualidade, que garanta a interoperabilidade com os softwares que serão usados a jusante na construção, e na minha opinião este é o resultado de maior valor alcançado com esta plataforma”.

Imagem 1. Mockup da plataforma BIMCER desenvolvida pela Visabeira I&D.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

Sobre a DIGICer, Miguel Figueiredo explica que é uma plataforma “que não vai ser pública, mas vai ser diferenciada para cada empresa do consórcio. Na DIGICer será possivel agregar todos os ficheiros e todos os formatos utilizados, que muitas vezes é diferente nas diversas fases de desenvolvimento do produto, o que cria entropia e algumas dificuldades na leitura da tipologia informática do ficheiro. Essa plataforma vai conseguir ler cerca de 30 formatos diferentes, e a partir daí, também controlar todo o resumo documental relacionado com o produto em si: desenhos técnicos, documentação, e-mails, etc... É quase um repositório de toda a informação associada num único local”. Sílvia Vara reforça que “a componente colaborativa que a DIGICer no processo de desenvolvimento do produto, que até poderá envolver o próprio cliente final, vai colocar no processo de desenvolvimento de madres e moldes e até no desenvolvimento do produto cerâmico em si é uma característica diferenciadora”, e adianta que vai criar poupança “ao nível da matéria-prima e de todos os recursos que implicam gerir um armazém físico e, por outro lado, quando implementamos esta plataforma num processo estamos a facilitar que o molde deixe de ser físico e passe a ser digital, abrindo espaço e facilitando a introdução mais intensa das tecnologias de digitalização 3D e impressão 3D no processo da indústria cerâmica”.

Nilza Paraíba, designer de comunicação do Departamento de Marketing da Revigrés, e Carlos Calças, responsável do Sistema de Informação da Sanindusa, concordam com as premissas da Visabeira I&D. A Revigrés posiciona-se no mercado como parceira dos projetistas e profissionais de AEC. “Em termos de futuro para este profissional, o que vai acontecer é que há uma transição digital mesmo na forma de projetarem e fazer um licenciamento das suas obras para poderem construir. Portanto, a Revigrés, para fazer a promoção dos seus produtos a este público profissional, tem de perceber as suas necessidades, tendo sido pioneira no seu setor, no investimento numa estratégia de longo prazo na implementação do BIM. Como a promoção é efetuada junto da conceção do próprio projeto, permitindo aos arquitetos o acesso aos objetos BIM digitais gratuitos, que neste momento já representa cerca da totalidade da sua gama de produtos técnicos. Podem já pensar na solução final dos projetos, e usando na modulação 3D, nos cálculos a nível de ciclo de vida do edifício, nas soluções ambientais que têm de obter para promoção e valorização do próprio edifício e até ao nível do seu desempenho, de certificação energética, ao nível da manutenção e durabilidade do edifício. Portanto, os objetos BIM da Revigrés além de terem a informação estética e geométrica, também disponibilizam informação de características, que estão nos certificados de produto e também dos

Imagem 2. Mockup da plataforma DIGICER desenvolvida pela Visabeira I&D.

nossos catálogos. O projetista tem acesso a esta informação que lhe permite cumprir a legislação de cada mercado onde desenvolve o seu projeto e ao mesmo tempo a informações de desempenho que permite cumprir os objetivos de descarbonização”, adianta a responsável da Revigrés.

Carlos Calças, da Sanindusa, explica que "a transição digital já é uma das maiores preocupações da empresa, há alguns anos. Faltava-nos obviamente começar a trabalhar na cadeia de valor fora da empresa. Não são os clientes o nosso destinatário, é todo um conjunto de operadores que estão a construir toda uma rede de influentes, os arquitetos, os construtores, que hoje em dia cada vez mais contam com a transformação digital, no desenho do projeto e até nas operacionalizações de maquetes. E nesta cadeia de distribuição teríamos de estar presentes, com um objeto digital carregado com oDNA dos nossos produtos que, quer a montante, quer no desenho do processo, teria de ter o que está a ser desenvolvido agora. Os produtos também irão carregados de um passaporte digital”. O responsável da Sanindusa lembra que trabalhar sobre estes produtos BIM, com esta dimensão, é uma novidade e são apenas estas as duas empresas a colaborar no projeto. A dificuldade prende-se mais com a gestão de recursos, “felizmente temos encontrado parceiros bons, aliás a Visabeira I&D tem sido muito útil e a Universidade do Minho tem ajudado bastante, mas é um projeto novo”.

Nilza Paraíba destaca que “o maior desafio é mesmo a normalização, porque cada indústria tem as suas normas de produtos e de características técnicas que são exigidas para estar no mercado, mas depois há aqui que cruzar com outro tipo de normalização a nível internacional, e estamos a falar já de informação que também obedece a normas do próprio objeto BIM, que depois tem a ver com arquitetura e com a engenharia. E temos de pensar numa estrutura de dados da informação de cada empresa que permita responder a várias demandas”.

A designer da Revigrés adianta que este trabalho já está a ser desenvolvido a pensar na futura legislação nacional e europeia, tais como a Plataforma Digital única de Licenciamento digital de âmbito nacional, a PEPU – Plataforma Eletrónica dos Procedimentos Urbanísticos (com obrigatoriedade de recurso ao BIM a partir de 2030), e também com a legislação que se encontra a ser preparada para o Passaporte Digital de Produto da Construção, onde também se prevê a informação do ciclo de vida do produto, presente atualmente nas Declarações Ambientais de Produto.

A adoção de um passaporte digital de produtos, visa garantir ao consumidor o acesso a toda a informação necessária sobre o bem que pretende adquirir. É uma das medidas que faz parte do novo pacote regulamentar em discussão na União Europeia sobre o Ecodesign de produtos sustentáveis. Em causa está o acesso a um conjunto de dados que ajude o consumidor a tomar as suas decisões de uma forma mais transparente e informada, tornando acessíveis informações relevantes sobre as características dos produtos, o seu desempenho e durabilidade, rastreabilidade, impacto ambiental, facilidade de reparação e reciclagem, e que adicionalmente favoreça a comparabilidade entre produtos, através de uma plataforma online. O novo quadro regulamentar sobre a conceção ecológica, configura ainda uma aposta clara nos princípios da circularidade e prevê a adoção de regras que desincentivem a curta durabilidade e a limitação precoce do fim de vida dos produtos, passando para o lado das indústrias as garantias de fornecimento de soluções de atualização de sistemas, consumíveis, peças de substituição e acessórios, fácil reparação, bem como o fornecimento de manuais de instalação e reparação.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

MATCERÂMICA E INOV DESENVOLVEM UM SISTEMA DE RASTREABILIDADE E DE APOIO À PRODUÇÃO

Por: Mónica Nascimento, licenciatura em jornalismo.

A Matcerâmica e o INOV estão a cooperar em vários projetos da transição digital, sistema de rastreabilidade e marcação de peças, bem como no sistema integrado de apoio à produção e as plataformas a desenvolver nesse sentido foram o mote para a conversa entre empresas.

“Virar de página no setor”

O responsável pelo projeto interno da Matcerâmica, Luís Almeida, sublinha que os laços entre as entidades de investigação e as empresas tornam possível o enquadramento dessa investigação na indústria e neste plano estratégico. Quanto aos desafios desta colaboração “têm muito que ver com a investigação em si, é uma discussão”, resume. Fernando Piedade, coordenador da área de Engenharia de Produto do INOV, concorda que as parcerias permitem o acesso a informação nova, “às vezes acontece esta dissociação da academia da parte da indústria. E esta é uma oportunidade única, porque estamos a falar de um setor. Conseguimos perceber o que é que as fábricas realmente precisam e penso que essa colaboração é valiosa porque permite-nos perceber o que é um processo produtivo”.

Marcelo Sousa, CEO da Matcerâmica, destaca a partilha de conhecimento entre empresas como o âmbito verdadeiramente transformador da agenda. “Todos nós, uns mais e outros menos, já tivemos experiência em trabalhar com entidades do sistema científico. A partilha com a parte científica todos nós já experienciamos, com concorrentes é que não, até porque por norma há sempre constrangimentos, portanto, penso que isto é que é interessante. Os técnicos das várias empresas partilharem ideias e

informação, e isso só por si tem valor”. Para o líder da Matcerâmica isto significa “um virar de página no setor, estão muitas empresas envolvidas, mas isto nunca tinha acontecido. E, portanto, isso vai depender da ligação se manter pós-projeto, e eu acho que esta é uma relação que vai permanecer, até porque isto era um imperativo do PRR”. O responsável da Matcerâmica lembra que o concurso surpreendeu a indústria quando foi lançado, “porque não era habitual não existirem candidaturas individuais e isso está a traduzir-se neste trabalho e eu penso que pode deixar um legado de colaboração, num mundo tão global ou há coopetição ou se só há competição, não resulta”, afirma.

A Matcerâmica planeia duas intervenções na área da descarbonização como parte da Agenda ECP: a substituição de fornos e a implementação de um retrofit. A empresa reconhece a importância da descarbonização e a oportunidade que a Agenda ECP oferece, mas sublinha a necessidade de mais clareza em relação aos combustíveis alternativos e a investigação em andamento para validar a descarbonização.

Apesar ter iniciado o processo de retrofit, a implementação em larga escala enfrenta alguns desafios técnicos. O retrofit profundo requer um período de paragem maior do que o período de férias da empresa, dificultando a sua realização devido aos compromissos com clientes internacionais. A interrupção da produção, durante dois a dois meses e meio, tem impacto significativo na atividade e gera custos adicionais. Apesar de haver uma solução técnica para o retrofit profundo, a empresa enfrenta dificuldades na sua materialização devido ao tempo necessário para a implementação e à necessidade de encontrar uma janela temporal adequada que não interfira com a produção.

A empresa já começou a avançar em relação ao retrofit, mas tem “de calcular a intensidade” com que ovai fazer. “Em termos de janela temporal, ainda não conseguimos encaixar”, explica Marcelo Sousa.

“Estamos a trabalhar no desconhecido”

O CEO da Matcerâmica assegura que o fator tempo é crucial para o sucesso da agenda, explicando que a empresa tem de tomar decisões difíceis, “primeiro, temos de ter a certeza de que a investigação está a ser executada, e que essa alternativa é viável, o hidrogénio, e essa garantia não existe no momento”. Embora o trabalho de investigação esteja em curso, Marcelo Sousa lembra que o retrofit não garante a descarbonização. “Podíamos decidir fechar dois meses e o retrofit já estava feito, mas a descarbonização não, porque continuava a gastar gás. O preço já se sabe que é mais caro, e todos nós, partimos com essa consciência”. Marcelo Sousa também acredita que a dificuldade não é a distribuição de hidrogénio, porque quando houver mercado essa distribuição vai existir.

O responsável da Matcerâmica admite que a sua principal preocupação é saber se a solução técnica será suficiente para atingir os pressupostos da Agenda, e quando. “Estamos a trabalhar no desconhecido. Neste momento, o que seria bom era haver a confiança de que poderia haver uma extensão, sob pena de perder algumas oportunidades por uma questão de tempo. Precisamos do aliado tempo”. Até porque, de acordo com Marcelo Sousa, esta é “uma oportunidade extraordinária, mas a ambição é muito grande”.

“Quem melhor produz, não pode estar a pagar para produzir tão bem”

A União Europeia tem como objetivo reduzir drasticamente as emissões de carbono nas próximas décadas. Apesar dos investimentos e esforços, especialistas questionam a eficácia da política de descarbonização, argumentando que a mesma pode estar a contribuir para a intensificação da poluição global. Segundo o responsável, a interrupção do processo de descarbonização é prejudicial, visto

que os investimentos realizados seriam perdidos e o problema da poluição persistiria.

Marcelo Sousa adianta que as metas impostas pela União Europeia podem não resolver o problema global. “Esta política de descarbonização não interferiu nos níveis de consumo. Nós continuamos a consumir a mesma coisa. Só que os produtos que estamos a consumir não têm a mesma origem. No mercado europeu, temos as melhores práticas em termos de eficiência energética, mas estamos a importar mais de países com piores práticas. Como as fronteiras só existem nos territórios, no planeta e na atmosfera, não há fronteiras, a poluição é global. Portanto, em última análise esta política de descarbonização acelerou a poluição no mundo. Porque acelerou a fuga de carbono que é a deslocalização dos pontos industriais. Uns que têm a escala conseguem deslocalizar, outros que não têm a escala correm o risco de não aguentar este nível de competição”.

Eletrificação poderá ser o caminho

Marcelo Sousa vê com bons olhos a possibilidade de eletrificação de fornos, embora aponte alguns constrangimentos. “A eletrificação de um forno é uma coisa que não tem, digamos, ciência, é uma existência que está adiantada, mas tem alguns handicaps para alguns tipos de materiais cerâmicos, os diferentes tipos de combustíveis também impactam de forma diferente nos diferentes materiais. Decidimos avançar para um forno elétrico já há bastante tempo e conseguimos fazer todo o processo de validação técnica, o tema não é esse, o tema está no facto da transmissão de calor através da resistência se fazer apenas num sentido, isso implica que tem que ser um forno monostrato. E os fornos para serem eficientes têm que ser monostratos, eventualmente de duas peças, e foi por causa desta dificuldade que o setor nunca avançou. Sendo certo que o pavimento tem essa vantagem, só trabalha com fornos monostratos e tem essa facilidade de eletrificação. Como a solução técnica existe, provavelmente pode vir a ser uma solução a eletrificação dos fornos. É um caminho, na minha opinião dos que terá mais viabilidade, mas não foi o ponto de partida da nossa motivação no consórcio, nem a questão de eletrificação e do híbrido”.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

Visão em tempo real sobre o processo produtivo

Em relação à implementação da Agenda ECP, Rui Carreira, responsável de Desenvolvimento de Produtos e Novas Tecnologias da Matcerâmica, faz oponto de situação deste projeto, revelando que a empresa definiu “alguns equipamentos como prioritários e procedeu a alterações ao nível da sensorização, com o objetivo de adquirir dados em tempo real em estações-piloto. Essas estações-piloto estão a funcionar bem, agora o próximo passo é replicar tudo o que fizemos nas estações-piloto por todos os equipamentos principais. Os equipamentos que definimos como prioritários eram os mais complexos e nesses já temos a edição de dados em tempo real, depois, vai ligar com oprocesso de rastreabilidade, identificar alguns desvios que possam estar a ocorrer em toda a cadeia”.

O grande ganho aqui será mesmo a visão em tempo real sobre o processo. A rastreabilidade do produto permite uma reação mais cirúrgica, não ao lote, mas à peça. O objetivo é criar sistemas automáticos com o modernização destas máquinas, com a sensorização e outros, que conjugados com a nova informação que vai ser retirada pelo sistema de rastreabilidade, permite intervir diretamente sobre o sistema e reagir de forma automática.

A automatização da cadeia de fornecimento da indústria cerâmica

A coordenadora da Unidade de Ciência de Dados do INOV, Joana Rosa, explica que o objetivo nesta fase do projeto é essencialmente recolher os dados em chão de fábrica, tanto quanto possível, digitalizar o processo e, com base na recolha desses dados, automatizar a cadeia de abastecimento da indústria cerâmica. Por exemplo, uma das dificuldades na parte da encomenda das matérias-primas, é que às vezes os processos negociais são demorados e com a implementação de um sistema automático é possível ter acesso em tempo quase real às necessidades de matérias-primas de um interveniente da indústria, colocar essas necessidades sob a forma de

uma encomenda numa plataforma que interliga os vários intervenientes e receber feedback dos fornecedores sobre a disponibilidade das matérias-primas, prazos expectáveis de entrega e respetivas cotações. A digitalização e recolha dos dados do processo produtivo permitem fazer oacompanhamento da execução das ordens de produção em tempo real, controlar o processo produtivo e automatizar a cadeia de fornecimento da indústria cerâmica.

No sistema será injetado o conjunto de operações necessárias para gerar um determinado produto. Através da colocação de equipamentos em chão de fábrica como tablets e quiosques será possível os operadores introduzirem dados que permitam efetuar o acompanhamento da produção. Esses dados irão alimentar o sistema automático que interliga os diferentes intervenientes da indústria e dá suporte à colocação automática das encomendas.

A recolha massiva de dados em chão de fábrica abre também a possibilidade de desenhar sistemas preditivos e de análise de dados que permitam otimizar o processo produtivo. Um exemplo concreto será a análise de dados de funcionamento dos equipamentos e a previsão de avarias dos mesmos. Com este tipo de análise os intervenientes podem agir proativamente desencadeando por exemplo procedimentos de manutenção preventiva dos equipamentos.

Joana Rosa, já antevia algumas das dificuldades: “temos de perceber os processos produtivos e ajustar a tecnologia tanto quanto possível à realidade. Mas isso implica mudar os procedimentos operacionais. Há prazos para cumprir, e é preciso ter em conta que a fábrica não pode parar. Essa deve ser a principal dificuldade, queremos digitalizar tanto quanto possível, mas queremos impactar o menos possível o processo produtivo. Portanto esse equilíbrio é um bocadinho delicado”.

Sensores fotoelétricos

Protótipos de marcação de peças

O INOV que tem vindo a realizar testes exaustivos de marcação de produtos e identifica que a primeira dificuldade coloca-se na valorização da peça, uma vez que “esta marcação compete diretamente com o logotipo do fabricante pela zona central da parte inferior da peça cerâmica. Queremos colocar a marcação de rastreabilidade aí, para facilitar o processo de leitura automatizada ao longo do processo produtivo. Portanto, qualquer marcação a realizar, será desejavelmente invisível e não deverá

afetar a estética final do produto. A marcação tem que ser realizada logo após a conformação, momento em que a peça cerâmica adquire identidade e esta terá de sobreviver a todas as fases do processo de fabrico.”

Fernando Piedade, explica ainda que depois da marcação da peça, o próximo desafio é desenvolver osistema de leitura adequado para uma linha de produção automatizada, “não podemos perturbar em nada aquilo que já é a produção hoje em dia e osistema de leitura tem que ser colocado na linha, não podendo afetar nomeadamente os tempos de produção”.

Imagem 1. Representação visual do protótipo do Sistema Interno de Identificação e Rastreabilidade do Produto Cerâmico.
Estação de Marcação
Estação de Leitura 1
Estação de Leitura 2
Vidrageme cozeduradapeça
Encoder
Imagem 2. Desenvolvimento pelo INOV de marcação em peças cerâmicas para rastreabilidade de processos industriais.

A implementação de um sistema de rastreabilidade interna de produto peça-a-peça vem também abrir a possibilidade de implementação daquilo que se designa por “passaporte digital do produto” e que é algo que vem após a rastreabilidade dentro de fábrica. Para tal, será necessária uma segunda marcação, a inserir numa fase final do processo de fabrico “fase de embalagem” e que poderá entre outra informação, incorporar parte ou todos os dados obtidos pelo sistema de rastreabilidade interna. Essa marcação será desejavelmente visível, de fácil leitura, mesmo com recurso a meios convencionais e acompanhará o produto até ao fim da sua vida útil, fornecendo entre outros dados relevantes de como melhor tratar ou valorizar a peça ou seus componentes, por exemplo através da reciclagem ou do tratamento de alguns resíduos potencialmente perigosos. Em peças de maior valor, "poderemos até incorporar informação sobre o autor, artesão que participou na elaboração da peça, e em que data”.

Pasta 100% reciclada

A Matcerâmica já procura implementar as melhores práticas nas suas unidades. “Nenhuma das nossas pastas é 100% virgem, todas têm materiais reciclados. Inclusive, temos uma pasta 100% reciclada”, revela Marcelo Sousa. “Fazemos vidrados 100% reciclados, portanto, conseguimos oferecer um prato sem matérias-primas virgens naturais”.

A Matcerâmica também tem sistemas de recuperação de calor de alta temperatura dos fornos para a baixa temperatura dos secadores, evitando ter queimadores na parte dos secadores. A empresa ainda investiu numa grande capacidade fotovoltaica, “100% do funcionamento da fábrica em período solar, portanto, não é apenas para uma parte da energia é para 100% da energia, também temos a certificação de energia verde”, sublinha Marcelo Sousa.

Imagem 3. Leitura de um protótipo de marcação de código QR em peça de ensaio da Matcerâmica.

CAPACITAR PARA A TRANSIÇÃO VERDE E DIGITAL É URGENTE

Por: Mónica Nascimento, licenciatura em jornalismo.

A Associação Industrial Portuguesa (AIP) está a executar o plano de formação da Agenda Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal (ECP) que, na altura da candidatura, foi preparado com a participação de todas as empresas do consórcio. Paula Carvalho admite que o plano é ambicioso, mas garante que será exequível. Na fase da operacionalização, as empresas ajustaram o número de inscrições para cada um dos temas permitindo a conclusão de todas as ações.

No que diz respeito a algumas ações de formação específicas, a AIP organizou reuniões preparatórias para afinar os conteúdos programáticos inicialmente previstos. O Plano de Formação da AIP assenta nos pilares estratégicos da Agenda ECP e também nos investimentos que as empresas estão a desenvolver. “As temáticas principais têm que ver com a eficiência energética, com a descarbonização, com a digitalização dos processos produtivos e de relacionamento com os clientes, na perspetiva da internacionalização, também com a área comportamental que é transversal a todas as outras. Portanto, digamos que se pretende elevar a capacitação das empresas o mais possível nestas áreas, com o maior enfoque na descarbonização e eficiência energética”, resume Paula Carvalho.

Desafio prende-se

com a disponibilidade das empresas

A formação já iniciou e neste momento o principal desafio prende-se com a disponibilidade das empresas para estarem em formação. A AIP está a desenvolver um modelo de formação flexível e inovador permitindo que as empresas perspetivem a melhor data com diversas modalidades, presencial, e-learning ou misto e também com horários ajustados para não perturbar a laboração. Para Paula Carvalho a expetativa é elevar os patamares de competitividade, sustentabilidade e produtividade das empresas, correspondendo aos desafios da transição energética.

A Ação de Formação “Descarbonização e economia circular: metodologias para a transição” está prevista para 25 horas, e terá 10 edições durante o ano 2025. “ Esta, em concreto, tem 21 formandos em sala e começou a 19 de junho e terminou a 23 de setembro com sessões presenciais e 5 sessões de e-learning. A afluência foi a esperada, até porque temos muitas empresas em lista de espera para novas edições que vamos agendar ”.

De acordo com a responsável da AIP, uma das maiores preocupações foi a de alinhar este conteúdo programático à realidade específica de cada empresa e fazer desta primeira edição uma experiência-piloto. “Esta formação vai beneficiar os formandos com os conhecimentos que vão levar para as suas empresas, vai elevar a modernização e a capacitação e dá-lhes bastantes ferramentas para ultrapassar os obstáculos que muitas vezes enfrentam os processos produtivos no que diz respeito à adoção de energias renováveis”, assegura.

Imagem 1. Participantes na Ação de Formação “Descarbonização e economia circular: metodologias para a transição”.

Ecocerâmica

Imagem 2. Sessão de encerramento da ação de formação.

Formandos devem colaborar e liderar os processos de descarbonização

Nuno Monteiro, formador em sala, defende que a Agenda ECP é fundamental para o sector industrial europeu e também português e “está perfeitamente alinhada com as prioridades da União Europeia, por exemplo, o relatório de Mário Dragui sobre a competitividade na Europa dá uma grande ênfase a estas questões que abordamos, desde a questão da digitalização, a eficiência de recursos, a circularidade da economia, são temas muito importantes. Ainda para mais em setores que são consumidores intensivos de energia e terão que cumprir objetivos ambiciosos nos próximos anos e toda a Economia Europeia está a caminhar no sentido da descarbonização, da eficiência e da digitalização”.

O engenheiro acrescenta que um dos objetivos da formação era a partilha de experiências e de conhecimentos. Os conteúdos passaram por questões genéricas acerca de política energética e mercados energéticos, a eficiência energética no setor da cerâmica e da cristalaria, a economia circular e matérias-primas críticas, a economia do hidrogénio e os mercados energéticos e o financiamento de projetos. Nuno Monteiro explica que o objetivo é dar competências para que os formandos possam colaborar e liderar os processos de descarbonização nas suas empresas também muito através daquilo que aprenderam, da partilha de experiências e da análise de outras estratégias de descarbonização.

Rafael Assunção, um dos formandos presentes, mostra-se satisfeito com o plano de formação que permitiu abordar casos de estudo já implementados e o “brainstorming entre os formandos”. “É importante haver tempo para, entre todos, ceramistas e produtores de tecnologia conseguirmos pensar em conjunto aliando as necessidades de uns, os recursos dos outros, para no final conseguirmos alcançar uma produção cerâmica mais verde, e também a viabilidade económica”. De acordo com Rafael Assunção, a descarbonização é uma preocupação de todos e tem de partir das empresas que fazem tecnologia desenvolver as ferramentas necessárias para a indústria cerâmica, para estar capacitada de meios que permitam a redução das emissões de CO2, a descarbonização total ou parcial dos seus processos.

A Capacitação foi definida como um dos quatro pilares do projeto, sublinhando a importância que os sectores da cerâmica e da cristalaria atribuem à formação e atualização dos seus recursos humanos. Sandra Carvalho, Responsável da Academia & Comunicação do CTCV, explica em que é que consiste a Academia de Formação Digital e de que forma irá contribuir para atribuir novas competências para estes setores.

De acordo com Sandra Carvalho, as indústrias da cerâmica e da cristalaria em Portugal, são setores caracterizados por uma longa tradição e uma notável capacidade de adaptação às exigências e concorrência dos mercados internacionais. No entanto a evolução tecnológica destas indústrias, com processos mais flexíveis, mais digitais, mais sustentáveis, fazem com que as pessoas, diga-se os ativos profissionais e os novos quadros, assumam um papel central dessa evolução, “porque todos sabemos que sem pessoas capacitadas, não há evolução tecnológica”.

Numa agenda que foca a inovação, a digitalização e a sustentabilidade como fatores decisivos na competitividade destes setores, Sandra Carvalho destaca as pessoas como um dos pilares do projeto, “bem como a consequente evolução dos formatos de formação tradicionais, para formatos mais imersivos, mais flexíveis, mais digitais, que forneçam uma resposta rápida, adaptativa e dinâmica às necessidades da força de trabalho”. A responsável do CTCV adianta que foi estabelecida uma parceria com a Nova SBE para realização de um estudo através de auscultação por inquérito e focus group setoriais, que permitiu fazer o mapeamento dos perfis profissionais e das competências da força de trabalho futura, e que se encontra em fase de conclusão.

A responsável adianta que os resultados do estudo destacam uma significativa carência em competências digitais, de automação e consciência ambiental, bem como carências de ordem técnica e tecnológica, relacionadas com os processos de fabrico. Carências essas que estão a causar constrangimentos na produtividade, bem como na capacidade de inovar e otimizar os seus processos produtivos, com uma forte tendência a aumentar.

“Estamos a trabalhar atualmente com a Universidade de Aveiro e o Instituto Politécnico de Leiria no desenvolvimento dos conteúdos técnicos, que serão futuramente disponibilizados em formatos digitais e mais imersivos de treino às empresas”, assume.

Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal

Este workpackage da agenda, além de entidades de ensino superior, é composto por entidades tecnológicas, como o INOV e o CCG/ZGDV INSTITUTE, que estão a desenvolver cenários inovadores de aprendizagem, através da criação de modelos-piloto nos formatos “Massive Open Online Courses (MOOCs)” e Realidade Aumentada.

Através dos MOOCs podem ser disponibilizados vídeos de curta e média duração, ilustrados ou animados e materiais de apoio em diversos formatos. Possibilitam também diversas formas de avaliação e transferência de conhecimentos, que permitem a verificação e consolidação da aprendizagem. Trabalhos de grupo, fóruns de discussão, esclarecimento de questões, são algumas das características destes formatos, que podem ser acedidos com boa qualidade de som e imagem, em qualquer dispositivo móvel.

Já na Realidade Aumentada, pretende-se simular situações reais de trabalho, como por exemplo situações de montagem, movimentação ou manutenção de equipamentos, antes mesmo de se tomarem decisões e se enfrentarem as situações

reais. “Neste formato de formação, há uma espécie de expansão do mundo físico, adicionando-lhe “camadas” de informação digital, interativa, 3D, com instruções passo a passo sobre como executar as tarefas. A vantagem é que permite uma maior segurança aos trabalhadores, bem como a integridade dos equipamentos, antes mesmo de enfrentarem situações reais em contexto de trabalho”, adianta.

Sandra Carvalho defende que o desenvolvimento de uma academia para o sector deverá dar resposta aos diversos desafios já mencionados e requer uma estratégia bem desenhada para que possa ser eficiente perante a diversidade de perfis profissionais que estes setores têm assim como a grande diversidade das competências que devem ser abrangidas, o que torna este processo bastante complexo, “com a colaboração da Nova SBE iremos desenvolver já a partir do início do próximo ano o planeamento estratégico, institucional e financeiro da futura Academia, que acreditamos poder vir a dar resposta às necessidades de capacitação da força de trabalho destes setores”.

Imagem3. MOOC (Massive Open Online Courses) para aprendizagem na Academia Digital em desenvolvimento pelo CTCV e INOV.

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