KÉRAMICA
revista da indústria cerâmica portuguesa
revista da indústria cerâmica portuguesa
Acreditada pelo IPAC como organismo de certificação de produtos (incluindo Regulamento dos Produtos de Construção), serviços e sistemas de gestão
. 04
Indústria 5.0: uma Abordagem Centrada nas Pessoas
Robótica . 07
Indústria 5.0 como facilitador de captação e retenção de talento 7 14
A Visão do INESC TEC para a Robótica no Âmbito da Indústria 5.0
Indústria 5.0: A fábrica do Futuro
Recursos Humanos . 11
Propriedade e Edição APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria NIF: 503904023
Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício Lufapo Hub A - nº 40, 1º Piso 3025-307 Coimbra [t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt
Tiragem 500 exemplares
Diretor Marco Mussini
Editor e Coordenação Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt
Conselho Editorial Albertina Sequeira, António Oliveira, Cristiana Costa Claro, Marco Mussini e Martim Chichorro. Capa Nuno Ruano
Estratégia . 17
Indústria 5.0: Uma Simbiose entre Pessoas e Tecnologia para um Futuro Próspero
Indústria 5.0 . 20
O Futuro é Humano: Indústria 5.0 e a Importância da Estratégia Centrada no Ser Humano
Secção Jurídica . 23
HOMO EX MACHINA, Onde se encaixa o Humano no Paradigma da Máquina?
Notícias & Informações . 25
Novidades das Empresas Cerâmicas Portuguesas
Calendário de Eventos . 32
Colaboradores Albertina Sequeira, Carolina Feliciana Machado, Filomena Girão, Filipa P. Silva, João Martins, J. Paulo Davim, Luís Rocha, Manuel F. Silva, Miguel Oliveira, Paulo Reis, Raquel Almeida. Paginação Nuno Ruano
Impressão Gráfica Almondina - Progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas, Apartado 29 2350-909 Torres Novas [t] 249 830 130 [f] 249 830 139 [email] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com
Distribuição Gratuita aos associados e assinatura anual (6 números); Portugal €42,00 (IVA incluído); União Europeia €60,00; Resto da Europa €75,00; Fora da Europa €90,00
Versão On-line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal
Notas
Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte. Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores. Esta edição vem acompanhada da Revista Técnica da Indústria 2024 #23 Junho . Julho | Bimestral
Índice de Anunciantes CERTIF (Verso Capa) • GOLDENERGY (Verso Contra-Capa) • INDUZIR (Pag 1) • TECNA (Pag 29) • SMARTENERGY (Contra-Capa)
Conteúdos conforme o novo acordo ortográfico, salvo se os autores/colaboradores não o autorizarem
Publicação Bimestral nº 388 . Ano XLIX . Maio . Junho . 2024
Depósito legal nº 21079/88 Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X Estatuto Editorial disponível em http://www.apicer.pt/apicer/keramica.php
“Indústria 5.0”
O grande filósofo existencialista dinamarquês, Soren Kierkegaard escreveu “a vida só pode ser compreendida olhando para trás, mas só pode ser vivida olhando para a frente”. Este pensamento vem a propósito de que vou escrever.
O tempo da indústria 3.0, em que a eletrónica e a robótica modernizaram e revolucionaram as empresas, acompanhando o uso da energia abundante e barata, o início do uso dos computadores e a terciarização da economia, ocorreu durante algumas décadas, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Os novos ciclos de desenvolvimento da Internet e do digital, originaram um novo ciclo industrial a que se chamou Indústria 4.0, ou quarta revolução industrial. Esta é uma expressão que agrega tecnologias de automação, robótica, big data, machine learning, transferência de dados, uso de conceitos de sistemas da física, novos algoritmos base, uso da inteligência artificial, da internet das coisas e da computação na nuvem. O objetivo da indústria 4.0 foi, e é, a melhoria da eficiência, da produtividade, da digitalização dos processos, do tratamento de dados, da manufatura aditiva, da criação de sistemas de simulação prévia, da redução dos custos da não-qualidade e da cibersegurança, promovendo a rentabilidade e competitividade das empresas.
Tão rapidamente como se consolidou a indústria 4.0, entra nas empresas a indústria 5.0 que dedicamos este número da revista Keramica. Tal com escrevia Soren Kier-
kegaard aceitamos que a vida “só pode ser vivida olhando para a frente”.
A indústria 5.0, colocou o ser humano no centro dos avanços tecnológicos e no centro da transformação dos processos industriais. Todas as revoluções industriais têm como pilar o aparecimento de uma tecnologia disruptiva. No entanto, a chegada de uma nova revolução, normalmente serve para cumprir e consolidar a mudança anterior. Foi sempre, historicamente, assim. É minha opinião que os conceitos-base, da Indústria 5.0, vêm ajudar a melhorar os princípios e a revolução da indústria 4.0 ainda em curso, e reorientar corretamente a tecnologia, colocando-a ao serviço das pessoas e dos recursos humanos nas organizações.
Se com algum nível de abstração podemos dizer que a indústria 4.0 serve o interesse dos acionistas das empresas e dos conselhos de administração, que têm de apresentar e partilhar resultados, diremos também com o mesmo nível de abstração que a Indústria 5.0 serve o interesse de todas as partes estratégias das organizações, acionistas, trabalhadores, ambiente, sustentabilidade, resiliência
A indústria 5.0, para além de continuar a exigir a implementação das novas tecnologias e a adoção de novas formas de organização do trabalho baseadas no princípio “continuous improvements”, introduz também novos princípios éticos e de “corporate” destacando a responsabilidade da gestão nas e das pessoas, como motor para a inovação, rentabilidade e resiliência das organizações.
A escassez de recursos, a necessidade de redução de custos, a necessidade de valorizar as pessoas, a sustentabilidade dos processos, o uso eficaz da energia, a descarbonização da economia e a resiliência das organizações originaram este turbilhão de mudanças que farão com que a indústria tenha de se adaptar, inovar e desenvolver modelos de gestão, para entrar naquele que já é considerado o novo paradigma social e ambiental que já enfrentamos.
A indústria da cerâmica e a da cristalaria estão atentas a estes desafios e estão a preparar-se, cada vez mais e melhor, para melhorar a sua posição no mercado face aos seus concorrentes externos, como também perante a necessidade de cativar os seus atuais e futuros colaboradores, que irão definir e criar a Indústria 5.0.
Esperamos que os governos e a Comissão Europeia abandonem o geocentrismo e admitam que há mais mundo, que prospera à custa da velocidade a mais da Europa em matérias como as que envolvem a Indústria 5.0. Vale a pena, por isso, voltar à primeira metade da citação de Soren Kierkegaard “a vida só pode ser compreendida olhando para trás”.
A desejada Indústria 5.0 só será possível… se houver indústria. Editorial
José Cruz Pratas (Presidente da Direção da APICER)
Editorial . Kéramica . p.3
por Carolina Feliciana Machado, Professora Associada com Agregação¹ e J. Paulo Davim, Professor Catedrático²
Introdução
Vivemos, atualmente uma nova fase da evolução industrial a qual designamos de Indústria 5.0. Sucedendo à Indústria 4.0, que se concentrou na automação, digitalização e integração de sistemas através de tecnologias avançadas como a Internet das Coisas (IoT), a inteligência artificial (IA) e big data, a Indústria 5.0, por seu turno, coloca a ênfase na colaboração entre Homens e máquinas, na procura de uma abordagem mais equilibrada e humanizada na produção e nos processos industriais. Esta nova fase dá particular destaque à humanização da tecnologia, à personalização em massa, à sustentabilidade e, fundamentalmente, à formação contínua e ao desenvolvimento de talentos. Tal como referido por Mariya Gabriel, Comissária para a Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude “O novo conceito de Indústria 5.0 não poderia vir em melhor hora. Muitas indústrias europeias estão a reinventar-se, adaptando-se à nova realidade pós-pandemia, adotando cada vez mais tecnologias digitais e verdes para continuarem a ser o fornecedor de soluções para todos os europeus. Agora é a hora de tornar os locais de trabalho mais inclusivos, construir cadeias de fornecimento mais resilientes e adotar formas de produção mais sustentáveis.” (https:// ec.europa.eu/info/news/industry-50-towards-more-sustainable-resilient-and-human-centric-industry-2021-jan-07_en).
É dentro deste espírito de dinâmica e evolução contínua que este artigo de opinião procura contribuir para um melhor conhecimento da temática da Indústria 5.0, com um enfoque particular para o papel que as pessoas e a necessidade contínua da sua formação e desenvolvimento assumem nesta nova Era.
A Humanização da Tecnologia
Na Indústria 5.0, a tecnologia é vista como um facilitador que complementa e enriquece as capacidades humanas, em vez de substituí-las. Robôs colaborativos, ou "cobots", trabalham ao lado dos operadores humanos, realizando tarefas repetitivas ou fisicamente exigentes permitindo, assim, que os trabalhadores se concentrem em atividades que requerem criatividade, pensamento crítico e habilidades / competências emocionais. Essa sinergia resulta num ambiente de trabalho mais produtivo e de maior satisfação, onde a inovação é impulsionada pela combinação da intuição humana e a precisão tecnológica.
Personalização e Flexibilidade
Uma das características marcantes da Indústria 5.0 é a capacidade de personalização em massa. A procura, por parte dos consumidores, por produtos personalizados está em ascensão, e a integração de tecnologias avançadas com as habilidades / capacidades humanas permite a produção de itens customizados em grande escala, sem perder a eficiência. Isto não só responde melhor às necessidades dos clientes, mas também fomenta a inovação e a flexibilidade na linha de produção, permitindo que as empresas respondam rapidamente às mudanças do mercado.
Sustentabilidade e Responsabilidade Social
A Indústria 5.0 também está alinhada com os objetivos de sustentabilidade e responsabilidade social. A aborda-
gem centrada no ser humano enfatiza a criação de valor que beneficia não só as empresas, mas também os trabalhadores, as comunidades e o meio ambiente. Cada vez mais se recorre a tecnologias avançadas as quais são utilizadas para desenvolver processos mais ecológicos, reduzir desperdícios e promover práticas empresariais éticas e socialmente responsáveis. Este procedimento é de particular relevância para garantir que o crescimento industrial se processe de forma sustentável e inclusiva.
A Importância da Formação e Desenvolvimento de Talentos
Para que a Indústria 5.0 seja bem-sucedida, é essencial investir na formação e no desenvolvimento dos talentos humanos. A integração de novas tecnologias exige que os trabalhadores adquiram novas competências e conhecimentos. Isso inclui a educação contínua e a capacitação dos trabalhadores para lidar com novas tecnologias (para operar e manter sistemas avançados), bem como o desenvolvimento de competências em áreas como a resolução de problemas complexos, liderança, colaboração e capacidade de adaptação. São diversos os exemplos que nos mostram que as empresas que priorizam o desenvolvimento dos seus trabalhadores tendem a ser mais inovadoras e resilientes.
Formação Contínua e Desenvolvimento de Competências Humanas
A formação contínua e a aprendizagem ao longo da vida são pilares essenciais na estratégia da Indústria 5.0. É fundamental que as empresas criem programas de formação robustos que capacitem os seus trabalhadores a lidar com tecnologias emergentes e processos inovadores. Além disso, a criação de parcerias com instituições de ensino e programas de certificação podem ajudar a garantir que os trabalhadores tenham acesso às últimas novidades e às melhores práticas do setor.
Além das competências técnicas, a Indústria 5.0 valoriza as habilidades humanas, como por exemplo a criatividade, a empatia e a inteligência emocional. Estas competências são fundamentais para a inovação e para a criação de um ambiente de trabalho colaborativo e inclusivo. Investir no desenvolvimento destas habilidades promove uma cultura empresarial onde os trabalhadores se sentem valorizados e motivados a contribuir com as suas ideias e soluções.
Assentes nos desafios decorrentes da nova Era da Indústria 5.0, e da importância que a formação e desenvolvimento pessoal e profissional das pessoas assumem em todo este contexto, caracterizado por acentuados níveis de disrup-
ção, os autores do presente artigo dinamizaram a organização e publicação (entre outros) de dois livros com particular interesse para gestores e engenheiros que diariamente se confrontam com os desafios e complexidade característicos dos nossos dias, a saber: Indústria 5.0: Pessoas, Tecnologia e Sustentabilidade, publicado pela Actual Editora com a chancela do grupo Almedina, e MBA para Gestores e Engenheiros, publicado pela Editora Sílabo, os quais contam com um amplo conjunto de contributos proporcionados por diferentes professores / investigadores portugueses.
Direcionados para públicos diversificados – gestores, engenheiros, académicos, investigadores, bem como outros profissionais e público em geral –, com interesse nestas matérias, enquanto o livro Indústria 5.0: Pessoas, Tecnologia e Sustentabilidade procura dar um enfoque muito particular para a dinâmica subjacente à Indústria 5.0 na qual as pessoas e as máquinas interagem positivamente a fim de alcançarem um mundo mais sustentável; o livro MBA para Gestores e Engenheiros, abrangendo uma diversidade de áreas/temas distintos, dentro dos negócios, procura proporcionar aos seus
leitores, de acordo com os seus interesses e disponibilidade, e sem custos, as habilidades e o conhecimento subjacentes a um MBA que os preparará para prosseguirem uma carreira profissional numa variedade de áreas de trabalho.
Desafios e Oportunidades
Ainda que a Indústria 5.0 proporcione inúmeras oportunidades, também apresenta desafios bastante significativos. A integração harmoniosa entre os Homens e as máquinas requer mudanças culturais e organizacionais profundas. Questões relacionadas com a segurança de dados, privacidade e a gestão ética da Inteligência Artificial, precisam ser abordadas de forma cuidadosa. Ao mesmo tempo, é crucial garantir que os benefícios da Indústria 5.0 sejam amplamente distribuídos e não aumentem as desigualdades sociais.
Em suma,
A Indústria 5.0 representa uma evolução significativa no panorama industrial, centrando-se na colaboração Homem-máquina e na criação de valor sustentável. Ao colocar o ser humano no centro das suas estratégias, as empresas podem não só melhorar a sua eficiência e a produtividade, mas também promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e dotado de maiores níveis de satisfação. Adotar este tipo de abordagem exige um compromisso com a formação contínua,
a inovação ética e a responsabilidade social, preparando o caminho para um futuro industrial mais equilibrado e humano.
Referências de suporte:
1. Machado, C. F. e Davim, J. P. (2024). Indústria 5.0 – Pessoas, Tecnologia e Sustentabilidade. INGENIUM, II Série, Nº 184, abril/maio/junho 2024, pp. 44-46. https://www. ordemengenheiros.pt/pt/centro-de-informacao/publicacoes/revista-ingenium/ingenium-n-184-abril-maio-junho-2024/
2. Machado, C. e Davim, J. P. (Coords.) (2023). Indústria 5.0: Pessoas, Tecnologia e Sustentabilidade. Actual Editora / Grupo Almedina: Coimbra. https://www.almedina. net/industria-50-pessoas-tecnologia-e-sustentabilidade-1696042898.html
3. Machado, C. e Davim, J. P. (Coords.)(2023). MBA para Gestores e Engenheiros. (2ª Edição, atualizada e alargada). Editora Sílabo: Lisboa. https://silabo.pt/catalogo/gestao-organizacional/teorias-de-gestao/livro/mba-para-gestores-e-engenheiros/
4. Machado, C. and Davim, J. P. (Eds.) (2023). Industry 5.0: Creative and Innovative Organizations. Springer: London, UK. https://link.springer.com/book/10.1007/978-3-03126232-6
5. Machado, C. and Davim, J. P. (Eds.) (2023). Management for Digital Transformation. Springer: Heidelberg, Germany. https://link.springer.com/book/10.1007/978-3031-42060-3
6. Machado, C. and Davim, J. P. (Eds.) (2023). Managerial Challenges of Industry 4.0. EDP Sciences: Les Ulis, France. https://laboutique.edpsciences.fr/produit/1332/9782759826285/managerial-challenges-of-industry-4-0
7. Machado, C. and Davim, J. P. (Eds.) (2020). Industry 4.0: Challenges, Trends, and Solutions in Management and Engineering, Taylor and Francis Group/CRC Press: Boca Raton, USA. https://www.routledge.com/ Industry-40-Challenges-Trends-and-Solutions-in-Management-and-Engineering/Machado-Davim/p/ book/9780815354406
8. Machado, C. e Davim, J. P. (Coords.) (2019). Resiliência e Inteligência Emocional. Actual Editora / Grupo Almedina: Coimbra. https://www.almedina.net/resili-ncia-e-intelig-ncia-emocional-1564521487.html
9. Machado, C. e Davim, J. Paulo (Coords.) (2019). Organização e Políticas Empresariais. Actual Editora / Grupo Almedina: Coimbra. https://www.almedina.net/organiza-o-e-pol-ticas-empresariais-1569354331.html
por Dr. Luís Rocha, Investigador Sénior e Coordenador
Adjunto do Centro de Robótica Industrial e Sistemas Inteligentes (CRIIS) e Prof. Doutor Manuel Silva, Investigador Sénior no CRIIS e Professor Coordenador no Departamento de Engenharia Eletrotécnica do ISEP.
A evolução da indústria tem sido marcada por diversos ciclos, com caraterísticas muito diferenciadoras entre eles, a que se convencionou chamar de revoluções industriais [1].
Assim, a Primeira Revolução Industrial teve início na Grã-Bretanha por volta de 1760 e estendeu-se até aproximadamente 1840, tendo sido caraterizada pela introdução da máquina a vapor e a mecanização de processos produtivos que revolucionaram a indústria têxtil e outros setores.
A Segunda Revolução Industrial começou por volta de 1870 e continuou até ao início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, tendo como caraterística principal a substituição do vapor pela eletricidade como principal fonte de energia industrial, impulsionando a eficiência e permitindo novos avanços tecnológicos. Foi também durante este ciclo que se assistiu à introdução da linha de montagem e do sistema de produção em massa, popularizado por Henry Ford no fabrico de automóveis.
A Terceira Revolução Industrial teve início por volta da década de 1950 e continuou até ao final do século XX, sendo caraterizada pelo desenvolvimento e expansão dos computadores, da tecnologia digital e da internet. A informática transformou processos produti-
vos e de comunicação e a introdução de robôs e sistemas automatizados nas fábricas aumentou a eficiência e reduziu a necessidade de trabalho manual.
Encontramo-nos de momento na quarta revolução industrial, a que se convencionou chamar de Indústria 4.0, mas já com os olhos postos na próxima, denominada de Indústria 5.0. A Quarta Revolução Industrial começou por volta do ano 2000 (e continua em curso) e é caraterizada pela fusão de tecnologias que está a esbater as fronteiras entre as esferas física, digital e biológica. Exemplos incluem a internet das coisas (IoT), big data , inteligência artificial (IA), computação na nuvem, robótica avançada, biotecnologia e nanotecnologia. Esta Quarta Revolução Industrial centra-se nas tecnologias da informação e na interligação entre os diversos equipamentos fabris. No entanto, há vários exemplos que mostram que a aposta desmedida na tecnologia não resolve todos os problemas e, muitas vezes, continuam a ser necessários humanos por trás das tecnologias mais avançadas [2, 3].
A próxima revolução industrial, denominada Indústria 5.0, tem como objetivo recentrar os sistemas de produção no ser humano, voltando a trazer o trabalhador para o centro da equação. Mais que substituir a Indústria 4.0, este novo paradigma representa uma evolução natu-
ral, com o objetivo de fortalecer a agilidade, resiliência e sustentabilidade industrial. A estratégia passa assim pela conjugação próxima de tecnologias avançadas de produção com as capacidades criativas, intelectuais e de destreza dos trabalhadores, facilitando a criação de produtos inovadores e de alto valor acrescentado. Este processo é fundamental para aumentar a produtividade e a competitividade das empresas nacionais.
O Centro de Robótica Industrial e Sistemas Inteligentes (CRIIS) do INESC TEC encontra-se fortemente envolvido em projetos de I&D alinhados com esta filosofia¹. O INESC TEC é uma associação privada, sem fins lucrativos, que se dedica à investigação científica e desenvolvimento tecnológico (I&DT), à transferência de tecnologia, à consultoria e formação avançada e à pré-incubação de novas empresas de base tecnológica. A visão do INESC TEC é ser um ator internacional relevante em Ciência e Tecnologia nos domínios da Informática, Indústria e Inovação, Sistemas Inteligentes em Rede, e Eletricidade e Energia.
Enquanto instituição que opera na interface entre o mundo académico e o mundo empresarial, aproximando a academia, as empresas, a administração pública e a sociedade, através do seu modelo de "ciência com impacto", o INESC TEC alavanca o conhecimento e os resultados gerados no âmbito da sua investigação, em projetos de transferência de tecnologia, procurando impacto tanto através da criação de valor como da relevância social. Vários destes trabalhos encontram-se em desenvolvimento no iiLab – Industry and Innovation Lab², cuja vista geral se apresenta na Figura 1.
Assim, o INESC TEC tem procurado desenvolver soluções de células robóticas colaborativas que procurem aproveitar o melhor de cada um dos componentes do sistema: a repetibilidade inerente aos robôs e a capacidade de adaptação dos humanos. Um destes trabalhos relaciona-se com o desenvolvimento de uma célula robótica colaborativa dedicada a operação de montagem de componentes complexos, no qual o processo da gestão da colaboração humano-robô se encontra assente num sistema imersivo baseado em realidade aumentada projetada (que se mostra na Figura 2). Este sistema visa permitir apoiar o trabalhador na execução de operações de elevada complexidade, ou de elevada variabilidade (produtos personalizados), indicando-lhes os passos que deve executar em cada fase do processo, mas também coordenar as suas ações com o robô colaborativo. Desta forma, e recorrendo a um projetor montado sobre a estação colaborativa, é projetada informação contextualizada diretamente sobre a bancada e objeto de trabalho, suportando o operador nas suas tarefas. Recorrendo ao mesmo, é ainda projetado um pequeno interface homem-máquina que fornece, não só, informação textual e vídeo de suporte para o operador durante cada etapa do processo de montagem, mas também permite ao operador alternar entre etapas. É através deste input do operador que as ações dos diferentes sistemas integrados neste protótipo e do robô colaborativo são despoletadas, em linha com a etapa de montagem em causa. Com isto, é possível minimizar a probabilidade da ocorrência de erros durante o processo de montagem, não necessitando o trabalhador de consultar nem memorizar procedi-
mentos de montagem, bem como é incrementada a eficiência da colaboração entre humano e robô. A mesma tecnologia pode ser utilizada na fase de treino de novos operadores.
O INESC TEC tem também vindo a trabalhar no desenvolvimento de soluções de robótica móvel que juntem as capacidades dos robôs móveis aos operadores humanos. Um dos problemas que muitas empresas enfrentam atualmente está relacionado com a dificuldade de recrutar operadores para empilhadores. Este é um trabalho que lhes provoca frequentemente lesões músculo-esqueléticas, devido às frequentes acelerações e desacelerações bruscas dos veículos, associado aos impactos na coluna vertebral devido às entradas e saídas do empilhador nas galeras dos camiões durante os processos de carga e descarga destes. Acresce a isto o facto de este ser um trabalho mal remunerado e em que muitas vezes é necessário também trabalhar em períodos noturnos. Uma forma de ultrapassar estes problemas passa pelo recurso a robôs autónomos ( Autonomous Mobile Robots – AMR) do tipo empilhador. No entanto, estes veículos apresentam uma velocidade média em situação normal de operação inferior aos empilhadores tradicionais, o que leva à necessidade de se usar um número superior de AMR comparativamente à frota de empilhadores tradicionais. Um outro problema que surge com alguma frequência é a ocorrência de situações de falha. Por outro lado, apresentam a vantagem de poderem trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semana.
A proposta do INESC TEC para ultrapassar esta limitação passa pelo desenvolvimento de AMR do tipo empilhador com capacidade de teleoperação. Assim, uma empresa pode adquirir uma frota de AMR deste tipo, beneficiando da sua capacidade de trabalho 24/7 e evitando as dificuldades de recrutamento de operadores para cada um dos veículos. No entanto, e de forma a resolver rapidamente os eventuais problemas de falha
que possam ocorrer com estes AMR, os veículos dispõem da possibilidade de teleoperação através de um operador situado num centro de controlo. Assim, consegue-se rapidamente tirar um veículo da situação de falha, diminuindo significativamente o seu tempo de paragem.
Acresce que um único operador pode supervisionar uma frota significativa de AMR, estando confortavelmente sentado no centro de controlo. Para tornar a teleoperação dos veículos o mais amigável possível, encontra-se em desenvolvimento uma interface recorrendo a Realidade Virtual, que se pode ver na Figura 3.
As soluções apresentadas acima são um exemplo das competências do INESC TEC, alinhadas com a Indústria 5.0, mas há outras competências muito fortes e que são significativas para a indústria cerâmica, nomeadamente na área da inspeção de peças brilhantes e reflexivas. O INESC TEC tem vindo a desenvolver esta área de trabalho com bastante sucesso, conjugando tecnologias como visão computacional, robótica e AI. A Figura 4 ilustra um exemplo de uma célula robotizada que recorre às tecnologias referidas.
Por último, e de acordo com o estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE) “Employmet Outlook 2023” [4], 27% dos empregos na Europa serão, até determinado ponto, afetados por esta transformação digital, tendo elevada probabilidade de serem automatizados. Em Portugal, esta percentagem sobe para 30%. Será por isso um fator decisivo o investimento por parte das empresas na formação dos seus trabalhadores, procurando a sua valorização, quer através do upskilling (aquisição de novas competências) e reskilling (reciclagem profissional), de forma a preparar os mesmos para trabalharem em processos produtivos de elevada densidade tecnológica. Dado o profundo domínio da maioria das tecnologias envolvidas na Indústria 5.0, o INESC TEC coloca à disposição da sociedade este know-how interno, oferecendo também uma vasta gama de formações em tecnologias avançadas de produção, dirigidas essencialmente a quadros médios e superiores de empresas já envolvidas nesta transformação ou que pretendam ficar a conhecer melhor de que forma podem todas estas tecnologias contribuir para a melhoria da produtividade e competitividade das suas organizações.
Referências bibliográficas
[1] Wikipedia. “Revolução Industrial.” Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolução_Industrial . Último acesso em 05 / 06/ 2024.
[2] The New York Times. “G.M.’s Cruise Moved Fast in the Driverless Race. It Got Ugly.” Disponível em: https://www.nytimes.com/2023/11/03/technology/ cruise-general-motors-self-driving-cars.html . 3 de novembro de 2023. Último acesso em 05 / 06/ 2024.
[3] The Guardian. “So, Amazon’s ‘AI-powered’ cashier-free shops use a lot of … humans. Here’s why that shouldn’t surprise you.” Disponível em: https://www.theguardian.com/ commentisfree/2024/apr/10/amazon-ai-cashierless-shops-humans-technology. 10 de abril de 2024. Último acesso em 05 / 06/ 2024.
[4] OECD, “OECD Employment Outlook 2023: Artificial Intelligence and the Labour Market.” OECD Publishing, Paris. 2023. https://doi.org/10.1787/08785bba-en
Recursos Humanos
por Raquel Almeida, Innovation Manager na A.SPIRE e Senior Project Manager no ISQ
Nos últimos anos, a indústria tem enfrentado algumas dificuldades na atração de novos talentos. Nas suas reflexões sobre as causas destas dificuldades, alguns fatores têm sido apontados: a ideia de que trabalhar na indústria é, ainda, um trabalho sujo, árduo, perigoso, muito exigente e pouco flexível continua a dominar a perceção pública, em geral. A acrescentar a estes fatores, surge ainda a imagem negativa de uma indústria altamente poluente, com utilização intensiva de energia e, por isso, responsável por elevadas emissões de dióxido de carbono e, assim, extremamente nociva para o meio ambiente. Ora, numa altura em
que a atualidade gira à volta das alterações climáticas, da sensação de urgência em travá-las, da noção de que “não há um planeta B”, e da vontade meritória de uma geração mais nova de contribuir para a resolução deste problema, trabalhar para a indústria pode não parecer a opção mais desejável. Não para uma geração de (potenciais) trabalhadores que vê o trabalho como uma extensão dos seus valores, que pretende ver o seu trabalho como uma contribuição para uma sociedade melhor, que prefere encarar a vida profissional com um sentido de missão, que procura encontrar um significado naquilo que escolhem fazer e, de preferência, ver o impacto do seu trabalho. São vários os sectores que têm reportado não só esta dificuldade de recrutamento de talentos, como também o desafio associado à retenção e desenvolvimento dos seus trabalhadores. O advento da Indústria 4.0 veio colocar sérios desafios à indústria. Esta revolução digital trouxe novas tecnologias que introduziram – e continuam a introduzir – mudanças significativas na forma de operar. O foco estava no aumento da produtividade e eficiência das fábricas e, segundo alguns críticos, o motor para tudo isto estava na obtenção máxima de lucros. As pessoas tinham
agora um papel secundário, e muitos dos seus postos de trabalho estariam agora em risco, substituídos por soluções de robótica e automação.
O conceito da Indústria 5.0 vem introduzir uma forma mais abrangente de encarar a digitalização na indústria, reconhecendo o poder da indústria de contribuir para se alcançar os objetivos societais que vão para além do crescimento e do emprego, assumindo antes um papel de facilitador de prosperidade, assegurando uma produção que respeita os limites do nosso planeta e que põe o bem-estar dos seus trabalhadores no centro do processo de produção. Foi a 4 de janeiro de 2021 que a Comissão Europeia publicou o documento “Indústria 5.0 – Rumo a uma indústria europeia sustentável, centrada no ser humano e resiliente” e são esses, precisamente, os três pilares deste conceito de Indústria 5.0:
• Sustentável: usando tecnologias digitais, as empresas conseguirão operar dentro daquilo que são os limites do planeta, respeitando-os. Este pilar está muito ligado à utilização eficiente de recursos (água, materiais, energia) e à redução de emissões, mas engloba também a ideia de que a sustentabilidade ambiental, económica e social estarão na base do design.
• Centrada no ser humano: capitalizando os talentos e a diversidade dos trabalhadores, dar-lhes a oportunidade de fazer parte da jornada da digitalização, em vez de apenas terem de aceitar o processo no final. Este pilar abrange não só o aspeto de envolver os trabalhadores no processo de transformação, de modo que o sintam como seu, mas abrange também a melhoria das suas condições de segurança e bem-estar no local de trabalho.
• Resiliente: aplicando tecnologias digitais de uma forma flexível e adaptável a mudanças de circunstâncias (na operação, na cadeia de valor, nas exigências do cliente).
Toda esta digitalização da indústria requer, portanto, a formação dos trabalhadores para uma adaptação ao novo processo digital, garantindo que são eles, ainda, quem continua a controlar. E há que reconhecer que, estando capacitados para compreender o potencial destas tecnologias digitais e saber lidar com elas, os trabalhadores têm o poder de contribuir para uma maximização de aproveitamento das mesmas. São eles quem, na realidade, conhecem todos os detalhes do processo de produção, todas as “especificidades” associadas ao mesmo e que, assim, poderão até contribuir para a conceção da digitalização e automação de todas
1.- Sugiro uma espreitadela ao projeto Bridges 5.0, que pretende preparar os trabalhadores para a Indústria 5.0.
as suas componentes, identificando talvez mais facilmente quais os fluxos de informação e materiais mais relevantes, as condições em que a instalação tem um melhor desempenho, quais os pontos do processo de produção que são mais problemáticos. É importante valorizar todo este capital de conhecimento tácito para o sucesso da conceção e operacionalização da transformação digital pretendida.
Centrada no ser humano, a Indústria 5.0 encara os trabalhadores como um investimento, e não como um mero custo, pelo que investir na sua formação e desenvolvimento potencia o seu valor acrescentado para as empresas à medida que vão progredindo na sua própria jornada de aprendizagem na digitalização¹. A tecnologia está lá para reforçar as capacidades destes trabalhadores e reforçar a sua criatividade. Concretizada a digitalização da indústria, pretende-se alcançar não só a transformação da indústria, mas também uma mudança no papel dos trabalhadores. Fala-se em termos a robótica e automação a complementar os humanos (e não a tomar o seu lugar) – veja-se o caso dos cobots, robots concebidos para interagir diretamente e de forma segura com humanos num local de trabalho, a termos as pessoas a trabalhar menos horas, a fazerem trabalhos mais criativos e menos monótonos e perigosos, a terem espaço para contribuírem para outras vertentes da sociedade – sendo cidadãos mais ativos, mais libertos para ajudar o próximo, para se dedicar à família, para apoiar os mais idosos–e talvez até para terem as suas próprias ideias de negócio e explorarem outros sonhos ou desejos. Enfim, podemos estar no limiar de uma transformação da sociedade, mas por enquanto são tudo possibilidades, teorias, suposições, apostas. Duas coisas parecem certas, contudo: 1) a base para o sucesso da Indústria 5.0 é o sucesso da Indústria 4.0. 2) A diferença crítica nos dois conceitos de indústria consiste na passagem de um foco no lucro (Indústria 4.0) para um foco na missão em que o lucro é um subproduto (Indústria 5.0).
A Comissão Europeia tem investido na I&D de inovação nestas matérias² e existe já uma Comunidade de Prática.
O tema da Indústria 5.0 foi também acolhido pela A.SPIRE – Associação Europeia da Indústria de Processo, que representa 10 sectores³ e tem como missão assegurar o desenvolvimento de tecnologias e de melhores práticas ao longo de todas as fases de produção existentes em grande escala na cadeia de valor que contribuirão para uma indústria de processo eficiente em termos de recursos.
A A.SPIRE representa a parte privada da parceria Processes4Planet, em que a parte pública desta parceria
2.- Sugiro a consulta do Anexo I do documento “Indústria 5.0 – Rumo a uma indústria europeia sustentável, centrada no ser humano e resiliente”: https://op.europa.eu/en/publication-detail/-/publication/468a892a-5097-11eb -b59f-01aa75ed71a1/
3.- Cement, Ceramics, Chemicals, Engineering, Non-ferrous metals, Minerals, Pulp & paper, Refining, Steel, and Water
é representada pela Comissão Europeia (DG RTD e DG GROW)⁴. A Processes4Planet tem uma Agenda Estratégica para a Investigação e Inovação⁵, concebida com base em três objetivos fundamentais para os 10 sectores da A.SPIRE: Neutralidade climática (incluindo a descarbonização da indústria), Circularidade, e Competitividade, e publicada em 2021. Nesta agenda/roadmap estão identificadas 14 áreas de inovação, que se desdobram em 36 programas de inovação. Durante o ano de 2023 foi feita uma atualização ao documento, dadas as várias alterações no panorama da indústria europeia desde a elaboração do documento⁶, e o tópico da Indústria 5.0 foi abordado.
Na perspetiva da A.SPIRE, a Indústria 5.0 visa capacitar os trabalhadores para serem capazes de selecionar, utilizar e desenvolver processos e procedimentos, revelando o potencial inovador no local de trabalho, mas também capacitar investidores e consumidores para obter informações fiáveis sobre produtos e processos de produção, especialmente no que diz respeito à sustentabilidade. Uma das vertentes também explorada é a importância de se assegu-
rar que os consumidores recebem informações ambientais fiáveis, comparáveis e verificáveis sobre os produtos, sendo que as alegações devem ser fundamentadas com provas científicas amplamente reconhecidas, identificando os impactos ambientais relevantes e quaisquer compromissos entre eles.
Em suma, o paradigma da Indústria 5.0 é consistente com a sociedade mais responsável, segura e equilibrada almejada pelas gerações mais novas – e não só! – e torna a decisão de trabalhar para a indústria mais apelativa. A indústria precisa de trabalhadores qualificados capazes de lidar com os grandes desafios emanados das novas políticas europeias que emergiram recentemente, sejam elas a descarbonização, a economia circular, a segurança das comunidades e o respeito pelo meio ambiente, ao mesmo tempo que se assegura o sucesso de uma indústria europeia que compete com indústrias de outras partes do globo em que as exigências não são as mesmas. Quem não quer contribuir para esta missão?
Miguel Oliveira, Country Sales Manager
Existe há muito tempo um movimento global para criar configurações de produção inteligentes e automatizadas e fazer com que as coisas comuniquem de forma digital, tudo isto resume-se no conceito de Indústria 4.0.
Na Universal Robots consideramos um novo conceito ainda mais interessante a que chamamos Indústria 5.0. Enquanto a Indústria 4.0 se baseia em grande parte na consistência da qualidade e no fluxo e recolha de dados substituindo funções nas quais pessoas menos qualificadas têm que realizar tarefas repetitivas e onerosas, um novo conceito denominado Indústria 5.0 reflete uma
visão crescente entre os fabricantes sobre a necessidade de responder à crescente procura entre os clientes por um maior grau de customização. Uma nova tendência para devolver o toque humano à produção está a transformar o processo de fabrico, esta redistribuição da criatividade humana em configurações onde trabalhadores qualificados colaboram com robôs é necessária porque as exigências do mercado e expectativas dos consumidore estão a afastar-se da produção em massa e os clientes finais estão a exigir muito mais personalização e customização nos produtos que compram.
Os robôs tradicionais são excelentes na fabricação de produtos standard usando processos standard que ajudam a garantir alta velocidade e elevado volume.
Mas a personalização e produção de pequenas séries é um desafio onde os robôs necessitam de orientação e assistência impulsionando a necessidade de trazer de volta o toque humano numa vasta gama de processos de fabrico, preparação e acabamento.
É através da robótica colaborativa que a Universal Robots está a quebrar estas barreiras na automação de processos, permitindo que humanos e robôs trabalhem lado a lado no mesmo espaço de trabalho.
Os Cobots são versáteis, fáceis de programar, seguros e ocupam pouco espaço. As capacidades destes robôs tornam-nos numa ferramenta multifuncional que pode ser ultilizada pelos membros de qualquer força de trabalho, podendo inclusivamente ser adaptados a diferentes tarefas. Isto permite também libertar as pessoas para aplicarem a sua criatividade e competências
intangíveis em tarefas de valor acrescentado permitindo um aumento considerável da produtividade.
Na Universal Robots o conceito Indústria 5.0 consiste em combinar a criatividade e o trabalho artesanal das pessoas com a velocidade, produtividade e a consistência dos cobots para criar o máximo valor humano obtendo o melhor dos dois mundos e dos dois tipos de capacidades.
Os benefícios de uma força de trabalho colaborativa de homens e máquinas
1. Capacidade de personalizar, adicionando o elemento humano criativo
Embora os robôs sejam excelentes na fabricação de produtos standard em processos standard com volume de produção elevado, customizar ou personalizar cada produto pode ser um desafio onde os robôs exigirão orientação. Portanto, manter o toque humano nos processos de produção é fundamental.
Nos processos de produção, a automação só pode ser utilizada em todo o seu potencial quando existe uma componente de criatividade humana influenciando os processos. Por si só, uma produção automatizada com robôs industriais tradicionais fará apenas o que lhe for ordenado – muitas vezes apenas após longas horas de programação. Os robôs colaborativos ou “cobots”, no entanto, trabalham em sincronia com funcionários humanos. Nesta situação, homem e máquina complementam-se, pois o humano pode ser responsável pela customização, enquanto o robô processa o produto ou prepara-o para o toque humano. Desta forma, o colaborador fica capacitado e utiliza o cobot como uma ferra-
menta multifuncional, como uma chave de fenda, um dispositivo de embalamento ou um paletizador.
2 Criação de empregos
Um relatório sobre as lacunas de competências da Deloitte em 2020 sugeria que, na próxima década, existiriam 3,4 milhões de empregos, com apenas 1,4 milhões de trabalhadores qualificados para os preencher. Os robôs são perfeitamente adequados para muitas destas funções e os cobots, em particular, podem trabalhar lado a lado com trabalhadores humanos. Os cobots são úteis porque podem assumir trabalhos sujos, repetitivos e perigosos, enquanto os trabalhadores humanos passam para posições de maior valor.
A maior ameaça à segurança do emprego é o fracasso de uma empresa em permanecer competitiva. A automação oferece às empresas uma vantagem competitiva por meio de produtos com maior qualidade, maior produção e custos gerais mais baixos.
Os cobots, em comparação com outros robôs industriais, podem aumentar as oportunidades de emprego nas empresas, uma vez que podem aumentar a produtividade e incentivar conjuntos de competências melhorados. Em vez de substituir os seus homólogos humanos, estes dispositivos trabalham ao lado das pessoas em tarefas de fabrico e processamento. Além disso, à medida que os fabricantes pretendem aumentar a produção e desenvolver novas linhas de produtos, os cobots podem ajudá-los a multiplicar a sua força de trabalho e a fazer a transição dos funcionários de posições monótonas para funções com maior satisfação e remuneração do trabalho.
3. Melhores funções para os trabalhadores humano s
O cobot não foi concebido para substituir a força de trabalho humana, mas para assumir tarefas extenuantes ou mesmo perigosas. Como resultado, os funcionários humanos podem usar a sua criatividade para se dedicarem a projetos mais complexos. Por exemplo, quando os robôs assumem pequenas tarefas de montagem, os funcionários podem passar para tarefas diferenciadas que exigem o engenho humano.
Com as tarefas repetitivas automatizadas, os funcionários podem concentrar-se na operação de várias outras máquinas e/ou envolver-se em tarefas mais variadas no chão de fábrica. Os trabalhadores humanos melhoram as suas capacidades para trabalhar noutras atividades e aumentam a sua satisfação no trabalho.
Sem dúvida, a força de trabalho conectada e colaborativa apresenta vastas oportunidades para aumentar a produtividade e a inovação da produção. Apresenta também a perspectiva de aumentar a segurança e a satisfação no local de trabalho, ao mesmo tempo permite funções mais estimulantes para os trabalhadores humanos e estimula o próprio crescimento do emprego.
Finalmente, à medida que os processos de produção evoluem para se tornarem mais inteligentes e conectados, os concorrentes menos ágeis e demasiado lentos para se adaptarem serão deixados para trás. Os fabricantes devem compreender que as fábricas colaborativas oferecem não só o potencial para melhorar a eficiência operacional e outros benefícios mencionados anteriormente, mas também o potencial para reduzir os crescentes custos laborais em mercados cada vez mais competitivos.
por Paulo Reis, Diretor-Geral FI Group Portugal
O panorama industrial global encontra-se num alvoroço de transformações jamais presenciado nas últimas duas décadas. Apesar dos desafios impostos pelo cenário pós-pandémico e das incertezas em torno da utilização de recursos energéticos, a digitalização da indústria caminha a passos largos para se consolidar nos próximos anos. Esta rápida [r]evolução deve-se ao surgimento da Indústria 5.0, também conhecida como Quinta Revolução Industrial.
Ainda há pouco tempo eram debatidas as características da Indústria 4.0 e os seus impactos nas empresas ao redor do mundo, mas esta acelerada dinâmica industrial levou várias pessoas a questionarem-se se, de facto,
estamos diante de uma nova era industrial. A resposta é um sonoro "sim". Mesmo que ainda em estágio embrionário em diversos segmentos de mercado, a Indústria 5.0 surge quase que em paralelo à Indústria 4.0, mas com uma proposta inovadora: a integração do ser humano às tecnologias automatizadas.
As novas tecnologias são, sem sombra de dúvida, eficientes a simular, mas falta ainda capacidade para transferirem esses resultados para um contexto real. Segundo a Comissão Europeia, a Indústria 5.0 “proporciona uma visão da indústria que vai além da eficiência e da produtividade como únicos objetivos, e reforça o papel e o contributo da indústria para a sociedade”, e “coloca o bem-estar do trabalhador no centro do processo de produção e utiliza novas tecnologias para proporcionar prosperidade para além do emprego e do crescimento, respeitando os limites de produção do planeta”. Complementa assim a abordagem da Indústria 4.0 ao “colocar especificamente a investigação e a inovação ao serviço da transição para uma indústria europeia sustentável, centrada no ser humano e resiliente”.
No seu cerne, a Indústria 5.0 representa uma mudança radical de paradigma, transcendendo a mera procura por valor económico para priorizar o valor social e o bem-estar humano e planetário. Essa transformação é inédita e marca um divisor de águas na história da indústria.
Embora conceitos como Responsabilidade Social das Empresas, ESG e Triple BottomLine já defendam a importância do valor social e ambiental, a Indústria 5.0 integra-os na própria definição, colocando as pessoas e o planeta no centro da atividade industrial. Essa mudança de foco representa um afastamento definitivo do modelo tradicional centrado no lucro e no crescimento desenfreado. Esta ênfase no valor social e no bem-estar está alinhada a um movimento cada vez mais crescente nos últimos anos, ecoando a visão regeneradora dos negócios e da economia.
Que peso tem a Indústria 5.0 para a sua estratégia de negócio?
A Indústria 5.0 transcende os limites da indústria tradicional, permeando todos os setores e organizações imagináveis. A sua aplicabilidade abrangente supera significativamente a da Indústria 4.0, exigindo uma perspetiva estratégica abrangente.
Conforme detalhado na infografia da Comissão Europeia, a Indústria 5.0 assenta em três pilares fundamentais: centrada no ser humano, resiliente e sustentável. Estes três pilares têm implicações significativas para a estratégia empresarial.
A Indústria 5.0 não é apenas uma mudança tecnológica, mas uma transformação holística que exige uma visão estratégica ampla e adaptável. As empresas que abraçarem essa nova era prosperarão num mundo cada vez mais interconectado e em constante mudança.
Estratégia Centrada no Ser Humano Uma estratégia centrada no ser humano vai além da mera valorização de talentos. Trata-se de fomentar um ambiente que promova o desenvolvimento de talentos, a diversidade e a capacitação dos funcionários. Isso representa uma mudança fundamental de perspetiva: as pessoas deixam de viver para servir as organizações, para as organizações passarem a servir as pessoas.
Como anteriormente referido, a natureza desta mudança está alinhada com as tendências atuais do mercado de trabalho. Em diversos setores e países, atrair, reter e desenvolver talentos tornou-se um desafio maior do que conquistar e manter clientes. Se essa tendência continuar, as estratégias de negócios precisam urgentemente de se adaptar de modo a priorizar o talento. É precisamente isso que a Indústria 5.0 visa alcançar.
Tradicionalmente, a estratégia concentrava-se em obter uma vantagem competitiva e utilizá-la para criar valor único para os clientes. No entanto, uma abordagem verdadeiramente centrada no ser humano exige uma mudança estratégica: obter vantagem competitiva através da criação de valor único para os colaboradores. Ao adotar esta estratégia, as organizações criam uma posição win-win dado que uma força de trabalho feliz e capacitada impulsiona a inovação, a produtividade e, em última análise, a satisfação do cliente e o sucesso a longo prazo.
Estratégia Resiliente
Conforme defendido pela Comissão Europeia, uma estratégia resiliente caracteriza-se por agilidade, adaptabilidade e tecnologias flexíveis. Diante da pandemia da Covid-19, da escassez global na cadeia de fornecimentos e dos conflitos armados da Ucrânia e Israel, poucos são os que discordam com o facto da resiliência ser fundamental, tanto no presente como para o futuro. Neste sentido, esta mudança na Indústria 5.0 exige uma transformação mais profunda do que aparenta à primeira vista. Embora a agilidade e a flexibilidade já estejam em pauta há algum tempo, por si só, não garantem maior resiliência. Muitas são as empresas que ainda se concentram, em grande parte, na eficiência e otimização de lucros, em detrimento da resiliência. E esse foco na eficiência impulsiona muitas iniciativas para tornar as empresas mais ágeis e flexíveis, especialmente na sua versão "lean", podendo torná-las menos resilientes, em vez de as fortalecer.
Para que a resiliência se torne um dos pilares da Indústria 5.0 é necessário criar organizações capazes de
Estratégia
antecipar, reagir e aprender de forma oportuna e sistemática com qualquer crise, garantindo assim um desempenho estável e sustentável num ambiente cada vez mais incerto e desafiador.
Estratégia Sustentável
Num mundo cada vez mais consciente das alterações climáticas, o conceito de sustentabilidade torna-se fundamental para o sucesso das empresas. Conforme a Comissão Europeia define, uma estratégia sustentável significa "liderar ações em prol da sustentabilidade e respeitar os limites do planeta". Isso implica, por exemplo, que as organizações devem comprometer-se com os três pilares do ESG (Ambiente, Pessoas e Governança) e com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Assim como os dois primeiros pilares da Indústria 5.0, a sustentabilidade exige uma mudança radical na maneira como as empresas operam. Até agora, os esforços nesta matéria, muitas vezes, focam-se em reduzir ou minimizar os danos causados ao meio ambiente e à sociedade. Em alguns casos, práticas como o "greenwashing" mascararam a falta de um compromisso real com a sustentabilidade. No entanto, a verdadeira sustentabilidade
na estratégia de uma empresa vai além da mera mitigação de danos. Empresas verdadeiramente sustentáveis concentram-se em ampliar o seu impacto positivo no mundo.
A estratégia na Indústria 5.0 significa assim que as empresas deixam de ser parte do problema para se tornarem parte da solução. Ao adotar uma abordagem holística à sustentabilidade, as empresas podem reduzir o seu impacto ambiental, promover práticas sociais responsáveis e criar valor económico sustentável de forma ética e responsável.
Ao adotar uma estratégia sustentável, as empresas não contribuem apenas para um futuro mais verde e justo, mas também conquistam uma vantagem competitiva significativa, uma vez que consumidores, investidores e parceiros valorizam cada vez mais empresas que demonstram um compromisso genuíno com a sustentabilidade.
E agora?
Embora ainda esteja nas suas fases iniciais, a Indústria 5.0 apresenta-se como um divisor de águas, impulsionando uma transformação profunda no modo como as empresas operam e se relacionam com o mundo.
Enquanto a Indústria 4.0 se concentrou na automação e digitalização, a Indústria 5.0 coloca as pessoas, a sustentabilidade e a resiliência no centro da estratégia, abrindo caminho para um futuro mais próspero e equitativo. A receção à Indústria 5.0 varia entre empresas e indivíduos: alguns veem-na como uma oportunidade empolgante para inovar e alcançar novos patamares de sucesso, enquanto outros encaram-na com apreensão e incerteza sobre os impactos e desafios que esta trará.
Todavia, diante dos desafios e crises globais que já enfrentamos, a Indústria 5.0 surge como uma resposta necessária e promissora. A adoção da Indústria 5.0 exigirá uma mudança radical na mentalidade e nas práticas das empresas. Neste contexto, será necessário investir em novas tecnologias, desenvolver novas habilidades e repensar os modelos de negócios tradicionais. No entanto, os potenciais benefícios são imensos: maior produtividade, inovação acelerada, melhor fidelização de clientes e colaboradores, e um impacto positivo na sociedade e no meio ambiente.
A Indústria 5.0 não é apenas uma mudança tecnológica, mas sim uma transformação holística que exige uma visão abrangente e adaptável. As empresas que abraçarem esta nova era terão mais hipóteses de prosperar num mundo em constante alteração.
por João Martins, Data Analytics & AI Senior Manager, Noesis
Introdução
A evolução industrial ao longo dos séculos tem sido marcada por períodos de mudanças disruptivas, desde a introdução da mecanização na Revolução Industrial até à automação e digitalização na Revolução Industrial 4.0. Atualmente, encontramo-nos à beira de uma nova era: a Indústria 5.0. Este próximo estágio da revolução industrial não apenas continua o legado da automação e digitalização, mas também promove uma integração ainda mais estreita entre tecnologias avançadas e o elemento humano.
Neste contexto, a estratégia adotada pelas organizações desempenha um papel crucial, e é neste contexto que emerge a importância da estratégia centrada no ser humano. Esta abordagem não apenas reconhece, mas tam-
bém coloca as necessidades, habilidades e bem-estar dos trabalhadores como o ponto focal das operações industriais.
Ao contrário das abordagens tradicionais, que frequentemente enfatizam a automação e a eficiência, a estratégia centrada no ser humano procura otimizar a interação entre os seres humanos e as tecnologias, reconhecendo o valor único que cada indivíduo traz para o ambiente de trabalho.
Ao priorizar esta integração harmoniosa entre humanos e tecnologia, a Indústria 5.0 na estratégia centrada no ser humano não apenas redefine os processos de produção, mas também transforma fundamentalmente o futuro do trabalho, criando um ambiente industrial mais humano, eficiente e sustentável.
Enfoque Humanocêntrico: Maximizando o Potencial dos Trabalhadores
Uma abordagem humanocêntrica vai além de simplesmente reconhecer as necessidades, habilidades e bem-estar dos trabalhadores; ela coloca-os no cerne das operações industriais. Neste paradigma, cada indivíduo é considerado um ativo essencial, cujas competências e perspetivas são valorizadas e integradas ao ambiente de trabalho. Ao contrário das abordagens tradicionais, que muitas vezes se concentram exclusivamente na automação e eficiência, o enfoque humanocêntrico busca otimizar a interação entre os seres humanos e as tecnologias,
reconhecendo que cada trabalhador possui uma expertise única e contribui de maneira significativa para o processo produtivo.
Ao adotar uma estratégia humanocêntrica, as empresas podem esperar não apenas um aumento na motivação e satisfação dos trabalhadores, mas também uma melhoria significativa na eficiência e na qualidade dos processos de produção. Os colaboradores tornam-se mais envolvidos e comprometidos, contribuindo com ideias inovadoras e soluções criativas para os desafios enfrentados pela organização.
Benefícios da Abordagem Centrada no Ser Humano
A incorporação de uma estratégia centrada no ser humano traz consigo uma miríade de vantagens tanto para os trabalhadores quanto para as organizações envolvidas. Estes benefícios abrangem uma maior satisfação e comprometimento por parte dos colaboradores, resultando num ambiente de trabalho mais estimulante e produtivo. Além disso, essa abordagem visa à redução significativa de erros e desperdícios, impulsionando assim a eficiência e a qualidade dos processos de produção. Vale ressaltar que, ao priorizar o bem-estar e o desenvolvimento dos trabalhadores, a estratégia centrada no ser humano também se traduz em melhorias contínuas na performance organizacional. Um exemplo concreto disso é o aumento do Overall Equipment Effectiveness (OEE).
Overall Equipment Effectiveness (OEE) & Industria 5.0
O OEE (Overall Equipment Effectiveness) é uma métrica crucial na Indústria 5.0, pois mede a eficiência global dos equipamentos de produção. Esta métrica leva em consideração três componentes principais: a disponibilidade do equipamento, sua performance e a qualidade dos produtos. Na Indústria 5.0, a melhoria do OEE é impulsionada pela integração de tecnologias avançadas, como a Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial (IA), robótica colaborativa, realidade aumentada (AR) e impressão 3D.
A Indústria 5.0 representa uma abordagem na qual a automação e a digitalização são complementadas pelo foco no ser humano. Nesse contexto, as tecnologias avançadas são usadas para aprimorar a interação entre máquinas e pessoas, visando a otimização dos processos produtivos. Por exemplo, a IoT permite a monitorização em tempo real do desempenho dos equipamentos, possibilitando a identificação rápida de problemas e a redução do tempo de
inatividade não planeado. Além disso, algoritmos de IA têm a capacidade de prever falhas nos equipamentos, permitindo a implementação de manutenção preditiva e evitando interrupções na produção.
Desafios e Soluções
Apesar dos benefícios evidentes, a transição para uma Indústria 5.0 centrada no ser humano apresenta uma série de desafios complexos que requerem atenção cuidadosa e estratégias eficazes para serem superados. Entre esses desafios, destacam-se a resistência à mudança por parte dos trabalhadores e a necessidade premente de investimentos em reskilling e upskilling para preparar a força de trabalho para o novo futuro do ambiente industrial.
A resistência à mudança é um desafio significativo, pois muitos trabalhadores podem sentir-se ameaçados pela introdução de tecnologias avançadas ou temerem pela segurança de seus empregos. Além disso, a adaptação a novos processos e sistemas pode ser desafiadora para aqueles que estão habituados a métodos de trabalho mais tradicionais.
Para superar essa resistência, é crucial implementar estratégias de comunicação eficazes, envolvendo os trabalhadores desde o início do processo de transição, esclarecendo os benefícios das mudanças propostas e oferecendo suporte e formação adequados.
Nesse contexto, as frameworks como Kaizen, Six Sigma e Lean desempenham um papel crucial na superação desses desafios. Essas metodologias fornecem estruturas sólidas e abordagens sistematizadas para promover a melhoria contínua dos processos industriais. O Kaizen, por exemplo, incentiva a cultura de melhoria contínua, encorajando os trabalhadores a identificar e resolver problemas de forma proativa. O Six Sigma concentra-se na redução
por
Filomena
Girão e Filipa P. Silva, FAF Sociedade de Advogados
Se é certo que toda e qualquer revolução industrial veio acompanhada de inovações e disrupções que, inevitavelmente, tendiam a afastar o ser humano do processo produtivo, mediante a automação de determinadas fases do mesmo, mais certo é que, nos últimos anos, com o advento da inteligência artificial, o Humano tem sido colocado, cada vez mais, à margem do processo (desta vez, não apenas produtivo, mas também criativo).
Não obstante, a realidade é que este afastamento do Homem, ao longo dos tempos, sempre visou alcançar-lhe uma maior qualidade de vida, a libertação das amarras que o obrigavam a longas horas de labor, em detrimento de tempo de lazer, tempo de qualidade com a família, amigos e, também, consigo próprio.
Com os avanços da tecnologia, receamos, hoje, ficar completamente alheados dos processos de criação e produção, deixar de ser aqueles que iniciam o processo ou que patenteiam a ideia brilhante. Certo é que a premissa do uso de novas tecnologias sempre foi permitir alcançar aquilo que o Humano, inevitavelmente, não consegue transcender a sua finitude, em rigor, consubstanciada na necessidade de descansar, de fazer refeições, de tirar pausas, e até na sua subjetividade que, levando à inovação e ao belo, muitas vezes leva ao erro e à arbitrariedade.
Para as empresas, que visam o lucro, é determinante a otimização do seu desempenho, em consequência de uma cada vez maior eficiência, e, por tal, o vislumbre da possibilidade de eliminar todas aquelas vicissitudes foi sempre – até hoje, certamente – bastante atrativo, mesmo que tal hipótese tenha implicado a substituição de cada vez mais recursos humanos.
Nos dias de hoje, porém, reconhece-se o valor das incontáveis qualidades que o Ser Humano traz para os processos; e é, pois, nesse contexto que se desenvolve o conceito de Indústria 5.0.
Este novo paradigma, para além de ter como um dos pilares fundamentais a sustentabilidade (económica, social e ambiental), pretende dar novo destaque à ação humana na concretização dos objetivos das organizações – numa vertente marcadamente Human-Centric –, tirando o máximo partido das características humanas que, pelo menos por ora, as máquinas não conseguem replicar: a empatia, a criatividade, a originalidade – tudo isto, naturalmente, sem prejuízo da complementaridade trazida pela automatização dos processos.
Tenta-se, assim, atingir a mais ampla harmonia entre as novas tecnologias e a adoção de novas formas de trabalho, nas quais a tecnologia não deixe de estar ao serviço do ser humano–ao invés de assumir um papel determinante, passando a ser vista como um fim em si mesmo. O Homem gere e garante o desenvolvimento e uso de toda a tecnologia e digitalização surgida nas últimas décadas, mantendo-se no centro do processo de criação e produção.
Ao Direito reconhecem-se cada vez mais e
por Albertina Sequeira, Vice-Presidente Executiva da Apicer
CLIPER/ MATOBRA
Inauguração do MatobraLAB: Um Espaço para Sonhadores e Criadores
No passado dia 3 de maio de 2024, testemunhamos o nascimento de um espaço revolucionário em Coimbra: o MatobraLAB. Sob o lema "Aqui só tens que te concentrar nos teus projetos", a Matobra – Materiais de Construção e Decoração abriu as portas deste laboratório inovador, destinado a jovens arquitetos, designers e engenheiros.
Com a presença calorosa de clientes, parceiros e futuros utilizadores, a tarde de inauguração foi marcada por um entusiasmo contagiante. José Guilherme Martins, diretor-geral da Matobra, ressaltou a singularidade deste projeto não só na cidade e no país, mas também na Europa.
O MatobraLAB oferece acesso gratuito aos mais avançados programas gráficos e aos catálogos das principais marcas de materiais de construção, em parceria com a Matobra. É mais do que um espaço de trabalho
Notícias & Informações
o grupo Nespresso, e a celebração desta parceria com uma marca portuguesa é reveladora do nosso compromisso e da nossa aposta no País.”
Esta parceria, que une as duas marcas «surge pela partilha de públicos comuns entre as duas marcas, mas também pela partilha de valores comuns – como os da
qualidade, da responsabilidade social e ambiental. Sendo ainda o Lisbon Bica um café inspirado na tradição portuguesa, fazia todo o sentido associar este produto ao melhor da cerâmica manufaturada em Portugal», sublinha Liliana Padinha Cachim.
Nos processos de manufatura das peças COSTA NOVA, há uma gestão entre tecnologia avançada e técnicas artesanais, estando a sustentabilidade no centro de todas as operações. O mesmo acontece com a Nespresso, empresa igualmente comprometida em atender a rigorosos padrões sociais e ambientais.
REVIGRÉS
REVIGRÉS APRESENTA COLEÇÕES REBORN
O efeito ultrarrealista dos materiais naturais em superfícies cerâmicas tridimensionais.
A Revigrés apresenta REBORN, um conceito que encontra inspiração na reinvenção dos materiais naturais.
Com a utilização da mais recente tecnologia de impressão digital 3D, as gráficas e relevos das novas coleções convergem na perfeição recriando, de forma ultrarrealista, a essência dos materiais que as inspiram.
sultados obtidos em critérios como a redução das emissões de CO2, racionalização de recursos e transição para as energias verdes, com impacto não só na atividade da Empresa, mas também em todo o setor cerâmico.
Para Victor Ribeiro, CEO da Revigrés “É com imenso orgulho que recebemos este prémio. A sustentabilidade ambiental faz parte do ADN da Revigrés desde a sua fundação e continuamos a dar prioridade a este tema através de novos processos de produção que visam promover a eficiência energética e a aproximação à neutralidade carbónica.”
A distinção acontece quando a Revigrés se prepara para reforçar este posicionamento ao concluir a instalação, no segundo semestre de 2024, de uma nova linha de produção dedicada ao lançamento de produtos de valor acrescentado e mais sustentáveis através de equipamentos industriais energeticamente mais eficientes.
Integrado nas agendas Illiance e Ecocerâmica –financiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência e Fundos NextGeneration EU – e com um investimento de 15 milhões de euros em capitais próprios, o projeto
prevê o reforço da utilização de fontes de energia elétrica renováveis, como o solar, a incorporação de hidrogénio no processo produtivo e a criação de simbioses para a incorporação de resíduos.