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Construção Sustentável

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Sustentabilidade

Sustentabilidade

CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

por Rui Valente, diretor do CICCOPN (Centro de Formação Profissional da Indústria da Construção Civil e Obras Públicas do Norte)

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Na última década, tem-se verificado um notável crescimento nas emissões de carbono provenientes de determinados setores, como a produção de eletricidade, os transportes, a indústria e, principalmente, a indústria da Construção. Sabemos que a Construção é uma das atividades mais representativas na emissão de gases com efeito de estufa e, se queremos reduzir o nosso impacto ambiental, precisamos todos – investidores, associações do setor, comunicação social, promotores, investigadores, privados e indústria – de caminhar para níveis cada vez mais racionais de consumo e de produção. Um destes passos fundamentais é a implantação de edifícios cada vez mais verdes e mais sustentáveis, começando o processo de sensibilização para esta temática logo na formação, seja ela académica ou profissional. Também no CICCOPN (Centro de Formação Profissional da Indústria da Construção Civil e Obras Públicas do Norte) sentimos essa fatia de responsabilidade. O Global Status Report de 2017 demonstra que a utilização dos edifícios, em conjunto com o setor da Construção, é responsável por 39% de todas as emissões de carbono mundiais, sendo a fase de utilização dos edifícios responsável por 28% dessas emissões, sobretudo ligadas à energia consumida para climatização. Se atendermos unicamente ao contexto europeu, essa percentagem sobe para 40%. Hoje em dia, mais de 50% da população mundial vive nas cidades, havendo a perspetiva de que este indicador atinja os 70% até 2050. Nunca foi tão importante o setor estar na vanguarda da ação climática, principalmente nos grandes centros urbanos. Nesta linha, a implementação de medidas de sustentabilidade na construção pode ter um impacto muito positivo, estimando-se reduções que podem atingir entre 25% e 50% no consumo de energia, 40% no gasto de água e 70% na produção de resíduos. Com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), antevê-se um investimento de mais de 600 milhões de euros, apenas na eficiência energética do parque edificado português, ao longo de cinco anos. Espero e acredito que este seja um passo extremamente importante, que vai contribuir para uma transição justa, democrática e coesa, a nível nacional, assim como um marco de elevada importância, gerador de novas oportunidades de emprego. A renovação de edifícios, utilizando materiais mais sustentáveis e reciclados, de forma a tornar o seu uso mais eficiente a nível energético e melhorar o seu desempenho ambiental, é uma etapa determinante na disseminação das práticas de construção sustentável, até porque Portugal está comprometido com uma redução em 50% das emissões de gases com efeito de estufa, face aos níveis de 1990. O PRR, estando alinhado no combate à pobreza energética, vai certamente estimular a renovação dos edifícios para se tornarem mais eficientes. No entanto, mais uma vez, não se pode falar só na sustentabilidade durante a utilização, mas também na construção, até porque os materiais utilizados em obra consomem muita energia e podem, muitas vezes, ser substituídos por outros reciclados ou mais sustentáveis.

O papel do CICCOPN, enquanto entidade que assegura a qualificação dos atuais e futuros profissionais do setor da Construção Civil, numa realidade em constante evolução, é fundamental neste processo de mudança rumo à sustentabilidade. Num horizonte mais alargado, o CICCOPN prepara a transição para a Construção 4.0, a era digital da indústria, que, para além de todos os processos associados à desmaterialização, é sobretudo uma era de interação. Neste desafio, estamos prontos para responder transversalmente às necessidades do Setor, desde a construção sustentável aos edifícios inteligentes, passando pela eficiência energética e o combate às alterações climáticas. É, pois, sem qualquer surpresa, que a oferta formativa do Centro se adapta e responde a estas necessidades, sendo, aliás, uma preocupação já com alguns anos. O CICCOPN existe desde 24 de julho de 1981, fruto de um protocolo entre o Fundo de Desenvolvimento da Mão de Obra, atual Instituto do Emprego e Formação Profissional, I.P., e a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), apoiando desde então os empresários, trabalhadores e todos os candidatos às profissões que se enquadram no setor. O Centro disponibiliza formação para jovens e adultos, independentemente do seu nível de formação. Do nosso universo fazem parte mais de duas mil pessoas, incluindo formandos, formadores e colaboradores. O CICCOPN está localizado no concelho da Maia, distrito do Porto, mas acolhe formandos um pouco de todo o país e também do estrangeiro, graças à flexibilidade conferida pela formação a distância – uma realidade já com vários anos na nossa instituição, mas que é sempre um desafio. Curiosamente, em 1985 surgiu pela primeira vez a “formação a distância” no CICCOPN, num projeto pioneiro em que se desenvolveu um modelo de formação, naturalmente não suportado na eletrónica e na internet, mas que permitiu levar a formação profissional a todo o país. Este conhecimento foi, aliás, relevante para uma transição sem grandes percalços após o início da pandemia. A formação retomou prontamente, quase toda a distância no formato e-learning. Acreditamos que cada vez mais o futuro se encaminha para sistemas híbridos, com formações presenciais, formações a distância e uma combinação dos dois tipos, permitindo alargar a oferta formativa e abranger mais pessoas. No CICCOPN, este tipo de formação tem sido recebido com um feedback muito positivo, tanto por parte dos formandos e das empresas, como das equipas pedagógicas e dos formadores. É com orgulho no passado, pleno de reconhecimento, que o CICCOPN celebra em 2021 os seus 40 anos, de olhos postos no futuro de um setor em crescimento e modernização, com cada vez mais preocupações ambientais e de sustentabilidade. É com o maior otimismo que enfrentamos o desafio para os próximos anos, quer ao nível do setor da Construção Civil, quer da proteção ambiental.

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