Boletim Informativo Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

Page 1

Distribuição Gratuita – Venda Proibida

Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

•1


2•

Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis Coordenador: Victor Worner Leite (Professor Victor) Vice-Coordenador: Valmir Ari Brito (Mestre Jimmy Wall) Secretária: Joseane Pinho Corrêa (Contramestra Jô Capoeira) Segunda Secretária: Rosa Cristina Costa (Mestra Rosa) Equipe de Pesquisa Anderson José Libanio (Contramestre Rato) Douglas Ladik Antunes (Anzol) Henrique Rettamozo Borges (Graduado Império) Joseane Pinho Corrêa (Contramestra Jô Capoeira) Rosa Cristina Costa (Mestra Rosa) Samanta de Mendonça Barros Valmir Ari Brito (Mestre Jimmy Wall) Programa de Extensão O Sentido do Olhar Coordenador: Douglas Ladik Antunes Bolsistas: Ana Paula Koops Lordello Aquiles Carrion dos Santos Schlüter Marina Pinho Bernardes Colaboradores Azânia Mahin Romão Nogueira Jeruse Romão Richard Rafea Fábio Garcia Rossano Lopes Bastos Cartografia e Mapa Aquiles Carrion dos Santos Schlüter Mparina Pinho Bernardes Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Ana Paula Koops Lordello Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis forumcapoeira@gmail.com


Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

Apresentação

“A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas conseguem identificar o que nos separa e não o que nos une” Milton Santos

O Fórum da Capoeira da Grande Floria-

e incentivo para a participação nas Rodas da

nópolis, criado em 08 de março de 2014, é

Cidade, o Fórum apresenta este trabalho, o

um espaço aberto de discussão e de articu-

Mapeamento Social da Capoeira.

lação permanente, composto de camaradas

A capoeira é luta social e política. Não

comprometidos com a capoeira, formado por

devemos ser capitães do mato na roda, lutar

representantes de vários grupos e associações

uns contra os outros. Temos, ao contrário,

da Grande Florianópolis, dos diversos estilos,

que nos unir para o rompimento da estru-

linhagens e vertentes.

tura atual de nossa sociedade desigual, que

Seu principal objetivo é ser um espaço de

cultiva os princípios do egoísmo, individua-

debates, promoção de encontros, aproxima-

lismo e opressão. Parafraseando Paulo Freire,

ção dos grupos e conjugação de esforços para

quando a capoeira não é libertadora, o sonho

a politização dos capoeiras e para a elabora-

do oprimido é ser opressor. Temos que nos

ção de propostas e ações de políticas públicas

libertar da alienação, da opressão e lutar na

orientadas à melhoria da visibilidade da ca-

roda e na vida por uma sociedade mais justa.

poeira na região. Além da organização e promoção da Semana da Capoeira, a divulgação

Equipe de pesquisa e assessoria: Frente: Joseane Correa (Contramestra Jô Capoeira), Samanta Barros. Atrás: Valmir Ari Brito (Mestre Jimmy Wall), Ana Lordello, Douglas Antunes (Anzol), Aquiles Schlüter, Rosa Cristina Costa (Mestra Rosa), Valmir Ari Brito (Contramestre Rato).

Vamos “simbóra” camaradas, nas rodas e na rua… Força na Luta!

•3


4•

Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

Um breve histórico da capoeira em Florianópolis

Por Anderson José Libânio (Contramestre Rato)

Do mesmo modo que é difícil demarcar com

o artigo 63 desautorizava escravos a jogar nas

precisão o ponto inicial da origem da capoeira

ruas, praças, bosques ou esconderijos.

no Brasil o mesmo acontece em Florianópolis.

Em Favor desta hipótese Marcelo Stotz, o

Tomando como referência o contexto

Mestre Kbleira (2018), relata que em um de

apresentado por Rebelatto (2006), as lutas,

seus treinos na Beira Mar Norte na década de

estratégias de resistência e o trânsito de escra-

80 foi abordado por um senhor negro de 70

vos Africanos também se fizeram presentes

anos e este o contou que seu avô fazia a mes-

na Freguesia de Nossa Senhora do Desterro.

ma prática em frente à Igreja de Santo Antô-

Segundo Fregolão (2008) é possível pen-

nio de Lisboa quando trabalhava lá.

sar que em todos os lugares que houve con-

Fernando Bueno, o Mestre Tuti (2016) le-

centração de escravos houve capoeiragem,

vanta a possibilidade da capoeiragem ter sido

com nomes distintos e particularidades de

trazida para cá por meio dos negros escravos

cada local. O autor menciona os códigos de

que trabalhavam nas armações baleeiras. Esta

posturas da Câmara de Desterro do ano de

afirmação pode ser apoiada no fato de que

1845, no qual o artigo 38 proibia o batuque e

escravos foram adquiridos para labutar na

Roda de Capoeira na Praça XV organizada pelo meste Pop. Fotografia tirada no dia 03 de agosto de 1985. Acervo: Mestre KBlêra


Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

“Esses vestígios apontam a Armação da Lagoinha (Ribeirão da Ilha) na praça do Rio de Janeiro (Zimmermann, 2013). Outras evidências são as entrevistas de Alberto Luiz dos Santos, o Betinho (2018), homem negro de Florianópolis que aprendeu a capoeiragem através de seu tio “Léla” e seu primo “Coca”. Ainda, João Nilson Costa, o Blonga (2017) expõe o fato de seu avô

possibilidade de um protagonismo negro na construção da capoeiragem em Florianópolis.”

João Costa ter sido conhecido no mundo

sobre a presença da capoeira escrava em Des-

da capoeiragem como “Nego Mariano”. Es-

terro está na notícia do Jornal “O Conserva-

ses vestígios apontam a possibilidade de um

dor” de 22 de fevereiro de 1879, que relata um

protagonismo negro na construção da capo-

rebuliço na Rua do Ouvidor envolvendo o fa-

eiragem em Florianópolis.

moso capoeira Juca Reis.

De acordo com Fregolão (2008) outro fato

Dando um salto na história para década de 70, temos o registro de Franco (2017) que declara a passagem de um capoeira com o nome de Teseu pela Ilha. É relevante apontar que nenhum dos movimentos apresentados proveram resultados que se propagaram e contribuíram para a inclusão e propagação da capoeira no município até os dias de hoje. Com isso faz possível enaltecer a importância e atuação de Lourival Fernando Alves Leite, O Mestre Pop no processo de resistência e perpetuação da capoeira em Florianópolis.

Roda da Barra da Lagoa, 1992 Acervo: Mestre Calunga

•5


6•

Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

A Capoeira: concepções e outras manifestações por Valmir Ari Brito (Mestre Jimmy Wall) e Douglas Ladik Antunes (Anzol)

A corporeidade

comum a um negro aqui escravizado, que

manifesta na capoei-

fosse encontrado praticando capoeira, era de

ragem e em outras práticas

receber 300 açoites e prisão de três meses.

a ela relacionadas é perpassada

E nessa história os capoeiras (re)significaram

por elementos ligados a fatores étni-

estes momentos de dor e sofrimento em can-

co-raciais, culturais, sociais, psicológicos, e

tos e manifestações que enaltecem as lutas a

políticos; e, nesse sentido, o corpo pode ser

favor da sua libertação. Seja na luta corporal

compreendido como o primeiro território de

direta, seja no uso do corpo como “território

cada pessoa praticante dessas manifestações.

de liberdade”, que vinha a contrapor a gestua-

A gestualidade expressa na capoeira tam-

lidade do mundo do trabalho.

bém traz elementos do samba, da musicali-

Neste sentido de “luta” a partir do corpo, de

dade, em um jeito “malandriano” de jogar. O

uma corporeidade negra, a capoeira surge con-

termo malandriano significa malicioso, des-

juntamente com diversas outras manifestações,

contraído, mandingueiro e manhoso. Inde-

que não estão fundidas à capoeira, mas sem dú-

pendente do estilo do jogo, que é particular

vidas compõem um conjunto de práticas rela-

a cada pessoa, e suas influências segundo sua

cionadas em sua origem, em sua história e na

“linhagem” na capoeira, podemos explicar a

corporeidade. Essa corporeidade, como dito,

capoeira conforme suas diferentes concep-

é fortemente ligada à história dos negros e ne-

ções. Então, ao falar em Capoeira, estamos

gras no Brasil, mas com influências indígenas.

naturalmente tratando de Capoeiras — for-

Hoje a capoeira é praticada por pessoas de di-

mas diferentes de jogar, que seguem até prin-

versas origens, etnias, classes sociais, gêneros e

cípios e fundamentos diversos. As palavras

identidades - ou seja, mais uma vez as palavras

Capoeira e Diversidade combinam!

Capoeira e Diversidade combinam.

A capoeira é um evento possuidor de

Assim, a história da capoeira é marcada

um saber corporal. E como registram alguns

pela criação de formas diferentes de jogar,

historiadores, por volta de 1820 o castigo

de gingar, de lutar; essas diferentes formas


Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

nos referimos aqui como “concepções”. Podemos encontrar na Ilha, em Florianópolis, essas diversas concepções, banhadas pelos saberes dos mestres que aqui difundiram suas práticas, segundo suas próprias “linhagens”. Para fins de explicação podemos demonstrar a presença de Capoeiras denominadas como: Capoeira Angola, Capoeira Regional, Capoeira Contemporânea, Capoeira Angola do Meio, Miudinho. Os grupos estabelecem suas formas de jogo conforme essas “matri-

“ao falar em Capoeira, estamos naturalmente tratando de Capoeiras — formas diferentes de jogar, que seguem até princípios e fundamentos diversos. As palavras Capoeira e Diversidade combinam!”

zes”. Porém, podemos afirmar um algo dife-

a puxada de rede, as danças afro-brasileiras,

rente: a Capoeira que se forma na Ilha a partir

as danças de origem africana, etc. Desta for-

da relação dos grupos em suas concepções. E

ma, cada lugar de capoeira em Florianópolis

nesse sentido é possível afirmar a presença de

expressa um território — para além do cor-

uma Capoeira da Ilha. Essa Capoeira vem se

po — de negritude, ou de “negra atitude”. Esta

formando aqui desde sua prática mais “ins-

corporeidade negra, mas também diversa, se

titucional”, na década de 1970, mais precisa-

define inicialmente na Capoeira pela ginga,

mente 1977.

no balanço incessante e maneiroso do corpo,

Juntamente às práticas das Capoeiras, como

que faz com que se esquive e dance ao mesmo

diriam alguns grande mestres: “tudo é Capo-

tempo, tudo isto comportando uma mandin-

eira”, podemos observar a presença de outras

ga (feitiçaria, encantamento, malícia) de ges-

práticas como o samba de roda, o maculelê,

tos, sorrisos, capazes de desviar o adversário de seu caminho previsto, isto é, de seduzi-lo. Os territórios se definem a partir da relação entre esses lugares de práticas, de fundamentos, de política, de identidades, onde cada mestre juntamente aos seus “discípulos” mantêm viva a arte da luta através do movimento, da música, na roda e na vida.

•7


8•

Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

Patrimônio cultural arqueológico: Capoeira e a cartografia do passado Por Rossano Lopes Bastos (Mestre Rossano)

A proposição que trazemos aqui, vem so-

“grupos vulneráveis”, em especial os negros

mar esforços transdisciplinares com objetivo

em situação de exclusão, vítimas de racismo

de aproximar os campos de pensamento do

e intolerância nas suas práticas culturais e so-

patrimônio cultural arqueológico e a carto-

ciais. Para isso, junto com eles, procuramos

grafia social. Nosso empreendimento deriva

abordar e demonstrar como se forma a ca-

da prática coletiva, participando do proje-

tegoria do “Patrimônio” e como ele pode ser

to “mapeamento social da capoeira em Flo-

entendido como um aparelho ideológico de

rianópolis”, no departamento de design do

Estado. Em função disso, compreendemos a

Centro de Artes da Udesc. O patrimônio cul-

temática do patrimônio cultural arqueológi-

tural arqueológico foi aqui escolhido por ser

co afro-brasileiro e seus desdobramentos na

uma categoria de pensamento e abordagem

contemporaneidade, sua apropriação e as no-

que nos permite abarcar uma gama de pai-

vas e antigas formas de silenciamento, como

sagens, artefatos, símbolos e sítios que apon-

conteúdo dos direitos humanos. O Estado

tam para uma pluralidade de entendimento

de Santa Catarina tem uma população mul-

e interpretação da realidade que nos permite

tiétnica, todavia a política de Estado procura

problematizar a questão da cartografia social.

fomentar de todas formas a supremacia dos

A importância da luta contra o racismo es-

colonizadores europeus, em detrimento dos

trutural e estruturante no Brasil passa pelas

indígenas, dos negros e ciganos. Dentro des-

memorias silenciadas e pela invisibilidade do

te contexto, o conhecimento, a formação e o

patrimônio cultural do povo negro no Brasil.

despertar para as possibilidades que a arque-

A arqueologia atualmente tem oferecido im-

ologia traz para o entendimento e construção

portante contributo à construção de um Pa-

da visibilidade do patrimônio cultural arque-

trimônio cultural arqueológico plural. Nosso

ológico plural tornou-se lugar-luta. Então,

trabalho vem na perspectiva de visibilizar os

na medida em que avança o conhecimento


Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

arqueológico plural, avança também a siste-

mestres de capoeira, no livro dos saberes e a

matização do saber em relação aos invisíveis

roda de capoeira no livro das formas de ex-

e silenciados, com destaque para o patrimô-

pressão, ambos registrados em 21 de outubro

nio cultural afro-brasileiro. Neste cenário, o

de 2008. Além disso; como explicitado no

mapeamento da capoeira em Florianópolis

site do IPHAN: “ a 9ª Sessão do Comitê Inter-

esta revestido deste intento, visibilizar a cons-

governamental para a Salvaguarda aprovou,

trução deste território e suas disputas na ci-

em novembro de 2014, em Paris, a Roda de

dade. Aponta para a diversidade de práticas

Capoeira, um dos símbolos do Brasil mais

e disseminação em diferentes lugar-luta. En-

reconhecidos internacionalmente, como Pa-

tendemos, que somente a partir da formação

trimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

das identidades e seus territórios é possível

O reconhecimento da Roda de Capoeira, pela

romper a persistência da desigualdade racial.

Unesco, é uma conquista muito importante

O passado escrito, é diferente daquele que

para a cultura brasileira e expressa a história

testemunham as narrativas orais, as relíquias,

de resistência negra no Brasil, durante e após

os lugares e as imagens; ele é apenas acessível

a escravidão. ” Aqui vale ainda deixar consig-

a uma pequena minoria. É um passado ofi-

nado que a roda de capoeira está presente em

cial, institucional. O passado que buscamos

mais de 150 países mostrando assim como a

aqui, enquanto formador da memória, de

territorialização desta prática de resistência

patrimônio, identidade e território, tem ato-

a escravidão, tem amplitude global. Como

res vivos, ressignificados e invocam a própria

patrimônio vivo e em expansão tem tam-

memória para construção de uma narrativa

bém passado por transformações e diferentes

de visibilidade e de poder. No Brasil, em to-

apropriações. Neste contexto o mapeamento

dos os estados da federação, temos registra-

da capoeira em Florianópolis reveste-se tam-

do em todo território nacional o ofício dos

bém de importante instrumento de avaliação

•9


Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

10•

-48°36′0″

-48°30′0″

2.5

0

2.5

5 km

1:170.000

Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis LOCAIS DE RODAS E DE MESTRES DE CAPOEIRA EM FLORIANÓPOLIS

Realização: Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

Cartografia e Assessoria: Aquiles Schlüter, Marina Pinho Bernardes, Douglas Ladik Antunes, Ana Lordello

8. Roda do Campeche

7. Roda da Lua Cheia

6. Roda da Barra

5. Roda da Lagoa

4. Roda do Calçadão

3. Roda da Catedral

2. Roda da Figueira

10. Kadu

9. Khorvo

8. Tainã

7. Cascão

6. Demétrius

5. Calunga

4. Gerry

3. Habibis

2. Elma

1. Pop

Locais de Mestres:

Fonte de Dados: IBGE – Limite dos Municípios Brasileiros Sistema de Projeção: UTM 22S – Datum: Sirgas 2000 Desenvolvido no Software Livre QGis 2.18 Locais de Roda:

9. Roda dos Ingleses

11. Polegar

1. Roda do Mercado

10. Roda do Básico

18. Adão

17. Chiquinho

16. Diogo

15. Salmir

14. Cruz

13. Jimmy Wall

12. Pinóquio

11. Roda do Convivência 12. Roda da Associação Quilombola Locais de Rodas Intermitentes: 1. Roda do Trapiche 2. Roda de Canasvieiras 3. Roda da escadaria do Rosário

-48°24′0″

-27°36′0

-27°42′0″

-27°48′0″

-27°3 -27°42′0″ -27°48′0″


Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

48°32′56″W

o va lh

Ru a

La rgo

nse lhe

3.

iro M

a fr a

or ct Vi M

o

es nt

de ra Ti

s lle re ei

a Ru dã lça Ca

ão Jo

a Ru

s ne Nu

M

h ac

o ad

n Pi to

LOCAIS DE ENSINO DE CAPOEIRA EM FLORIANÓPOLIS

27°36′0″S

-48°24′0″

27°36′0″S

Realização: Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis Cartografia e Assessoria: Aquiles Schlüter, Douglas Ladik Antunes, Ana Lordello

Locais de Roda Tradicionais:

Fonte de Dados: IBGE – Limites dos Municípios Brasileiros; CIRAM – EPAGRI Sistema de Projeção: UTM Datum: WGS 84 Desenvolvido no Software Livre QGis 2.18 Las Palmas

0

-27°24′0″

arin h

2.

da Alf ân de ga

Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

-27°30′0″

o

éiu s os Ilh Praça XV de Novembro

a Ru

Fo nte s

Co

Rua Sald a

4. Av en ida Pa ul o

1.

Av en ida He rcí l

-48°30′0″

ch mi dt

Rua d

eS

Te ne nte Sil ve ira

Ru a

Fe lip

lR am os

Tra jan o

Ru a

De o

do ro

Ru a

Praça Getúlio Vargas

5.

io Lu z

Vid a

Ru a

Je rô n

Ru a

nha M

im oC oe lho

de Ca r Álv aro

-48°36′0″

Ru a

-27°36′0″

27°35′42″S

48°33′7″W

-27°24′0″

Ru a

-27°30′0″

27°35′42″S

-27°36′0″

100

200

48°33′7″W

11

1. Roda da Catedral 2. Roda da Figueira 3. Roda do Calçadão 4. Roda do Mercado Locais de Rodas Intermitentes:

300 m

5. Roda da Escadaria do Rosário

48°32′56″W


Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

12

-48°36′0″

Legenda Nome do Responsável Grupo

Aliança Capoeira

1 Cavalo Herança Capoeira Grupo Sinhá Bahia

2 Batman 3 Pantera 4 M. Tainã

Maré Brasil

10 Carioca Capoeira É Vida

5 Rato, Minnie

11 Gonzalo Espaço Muqém

Sinhá Bahia

12 Galo, Muquém Mandinga

6 M. Cascão

13 Tulipa

Angoleiro Sim Senhô

Mandinga

14 Carlinhos

Amazonas

7 Roseta

15 Angolinha

Arte do Cativeiro

Sinhá Bahia

16 Alemão

Mandinga

8 M. Demétrius

17 Polaco

Arte do Cativeiro

Maré Brasil

18 Dam

Arte do Cativeiro

9 Pica Pau

19 M. João Nilson

-48°30′0″

34 M. Calunga

33 Alê

32 M. Gerry

31 Vitor

30 Kiko

29 M. Khorvo

28 Polegar/Danuza

27 Téo

26 M. Chiquinho

25 Sardinha/Gil Black

24 M. Kadu

23 Bode

22 Jô

21 M. Cruz

20 M. Pinóquio

Angola Palmares Sul

Fortaleza da Ilha

Lagoa da Conceição

Fortaleza da Ilha

Angola Palmares

Palmares

Angola Palmares

Ginga Erê

Beribazu

Quilombo

Gunganagô

Muzenza

Angola Palmares

Escola Brasileira de Capoeira

Quilombola

Grupo

35 Pardal

Fortaleza da Ilha

Nome do Responsável

36 M. Adão

Cordão de Ouro

37 Gazinho

2.5

0

5 km

1:170.000 2.5

Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis LOCAIS DE ENSINO DE CAPOEIRA EM FLORIANÓPOLIS Realização: Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis Cartografia e Assessoria: Aquiles Schlüter, Douglas Ladik Antunes, Ana Lordello Fonte de Dados: IBGE – Limites dos Municípios Brasileiros; CIRAM – EPAGRI Sistema de Projeção: UTM Datum: WGS 84 Desenvolvido no Software Livre QGis 2.18 Las Palmas

-48°24′0″

Grupo

Cordão de Ouro

Nome do Responsável

38 M. Habibis

Angola Palmares Sul

48 Difunto

47 Regis

46 Caveira

45 Deco

44 Sid

43 Jarí

42 M. Salmir

41 Kamila

Camboatá

Semente do Jogo de Angola

Liberdade Casa Grande

Guerreiros de Palmares

Camboatá

Fortaleza da Ilha

A. C.A.P.O.E.I.R.A.

Vadiação Capoeira

FICA

54 Guga, Gui

53 Majé

52 M. Elma

51 M. Pop/Serena

Egbé Obádimejí

Áfricanamente

N’Zambi

Espaço Aruandê

50 Chiquinho

49 Polenta

40 Aníbal

39 João Gilberto

-27°36′0″ -27°42′0″ -27°48′0″

-27°36′0″ -27°42′0″ -27°48′0″

Pinho Bernardes, Ana


Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

-27°36′0″

-27°24′0″

-48°36′0″ -48°30′0″ -48°24′0″

-27°36′0″

-27°30′0″

-27°30′0″

-27°24′0″

•13


14•

Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

Capoeira, o sagrado e o profano Por Jimmy Wall e Douglas Ladik Antunes

“Se queres saber quem sou, Se queres que re-ensine o que sei Deixa um pouco de ser o que tu és E esquece o que sabes” (Provérbio Africano)

Para tratar dos fundamentos da capoeira,

prática em um grupo (seu lugar de “origem” e

nada mais oportuno que começar pelas re-

primeiro lugar de seu reconhecimento quan-

ligiões afro-brasileiras. Não queremos dizer

to mestre), essa prática se divide em dois es-

que a Capoeira é religião, e sim destacar cer-

tágios: de iniciante ou aluno, e contramestre.

tos “pontos de encontro” entre as religiões

Como aluno, são aprendidos os movi-

afro-brasileiras e a Capoeira, mesmo que de

mentos básicos da Capoeira ; a ginga, os gol-

forma indireta. Como dito pelo pesquisador

pes e esquivas, quedas, os cantos, o toque dos

Waldeloir Rego, “de início, tenho a afirmar

instrumentos que compõem a bateria (berim-

que entre a capoeira em si e o candomblé

baus, atabaque, pandeiro, agogô, reco-reco).

existe uma independência (...) o que existe

Já o contramestre é aquele que já pode minis-

vem por vias indiretas. É o capoeira que é

trar aulas, que está mais presente nas rodas

onorixá (filho de santo), Mestre Caiçara feito

da sua cidade, e com isso passa a ter maior

de Logum e Dé. Quando não é isso, é Oloyê

reconhecimento, que participa e organiza

(dono de título onorífico)”.

eventos sobre a capoeira, em outras palavras,

Entre os principais fundamentos, que vêm

o contramestre conquista maior responsabili-

por vias indiretas das religiões afro-brasilei-

dade sobre a arte. O mestre, após passar pelos

ras, para a Capoeira podemos destacar a figu-

dois estágios anteriores, passa a ter reconhe-

ra do mestre. O mestre é aquele que detém o

cimento em seu grupo quanto mestre e tam-

conhecimento sobre a musicalidade, os movi-

bém por outros mestres de capoeira. Nas ou-

mentos, os fundamentos, os cantos, etc. Para

tras concepções e capoeira, como na regional

o mestre, além de possuir todos esses conhe-

e na contemporânea, o processo de formação

cimentos,

é necessário que tenha formado

e reconhecimento é semelhante, porém, com

discípulos. Para a Capoeira Angola, por exem-

maior quantidade de graduações, ou cordões,

plo, tornar-se mestre requer muito tempo de


Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

entre a iniciação e a formação. Um dito comum na capoeira é que o mestre não se forma e sim ele se torna mestre. Segundo o grande Mestre Pastinha: “o mestre é o zelador da capoeira, é aquele que cuida para que a capoeira não se descaracterize”. Acreditamos que os mestres podem ser comparados aos Griots africanos, que eram considerados menestréis, sábios, trovadores, contadores de

A capoeira e as religiões de matriz africana denotam uma interligação, [...] possuem laços que as familiarizam.

histórias. Os Griots ou sábios falam dos deuses, da música, da poesia lírica e dos contos que

contadores de história e grandes viajantes.

animam as recreações populares. Eles eram

O mestre, visto como o sábio, o velho, tem

de três tipos: os Griots músicos - àqueles que

um lugar de grande respeito, e reserva seu

tocam qualquer instrumento, cantam e com-

papel de ensinamento, na legítima concep-

põem; os Griots “embaixadores” (e cortesãos)

ção de “maestria”. Diferentemente de muitas

– àqueles responsáveis pela mediação entre

sociedades africanas, das religiões afro-bra-

as grandes famílias em caso de desavenças; e

sileiras e da capoeira, na nossa sociedade a

os Griots genealogista – àqueles historiado-

velhice é concebida, a grosso modo, como a

res ou poetas (ou os três ao mesmo tempo) são

idade da estagnação, da aposentadoria, o que pode significar recolhimento aos aposentos e conseqüente abandono da vida produtiva e pública. Sendo assim, o jovem não aprende necessariamente convivendo com os mais velhos, e sim, se aprende muito com a leitura e as instituições da palavra escrita; como versa

•15


16•

Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

o dito: “não há professor sem livro”. Na capo-

significado e a música liga a relação entre o

eira não existe a aprendizagem do jovem sem

sutil e o material.

a sabedoria do velho.

Na capoeira e nessas religiões os apren-

A capoeira e as religiões de matriz afri-

dizados são transmitidos predominante-

cana denotam uma interligação, não que

mente na forma oral; não há separação entre

a capoeira possa ser com-

o mundo material e o mundo

parada ao Candomblé ou

O mestre, visto como

à Umbanda, mas sim, que

o sábio, o velho,

profano. Nas rodas irão exis-

liarizam. No ritual de início

tem um lugar de

da proteção, da mandinga,

de jogo em que os capoeiris-

grande respeito, e

suas linguagens e seus mo-

rimbau tocando o chão, eles

reserva seu papel de

loir Rego, o capoeira procura

estão pedindo proteção aos

ensinamento [...] Na

sempre “(...) se proteger, por

aconteça nenhum aciden-

capoeira, não existe

introduzido na sua formação.

te grave no transcorrer do

a aprendizagem

Assim, a todo instante um ca-

tos musicais como o ataba-

do jovem sem a

tro, isto é, fazendo ebó (feiti-

que, o agogô, o caxixi, que

sabedoria do velho.

possuem laços que as fami-

tas se benzem ao pé do be-

Orixás, e também que não

jogo. Alguns dos instrumen-

são utilizados na roda da ca-

espiritual, entre o sagrado e o tir os sentidos da reverência,

mentos. Como diz Walde-

esse caminho, que é o que foi

poeira ‘está queimando’ ouço) para o seu companheiro, tendo em vista sempre a

poeira, também são utilizados em Terreiros

concorrência e desavenças resultantes disso”.

de Candomblé e Centros de Umbanda com

Como dito naquela velha cantiga “quem não

toques e significados, cada toque tem seu

pode com mandinga não carrega patuá”.

Roda da Catedral, 1987. Acervo: Contramestre Alemão


Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

Os saberes da roda: refletindo sobre os pressupostos civilizatórios da capoeira Por Jeruse Romão

A capoeira é a expressão mais vital e necessária da resistência negra no Brasil. Vocês têm em suas mãos, nas comunidades, nas ruas, dentro de espaços fechados, nas escolas, espaços marginais e o público vulnerável, uma parcela da população que vocês cuidam de

Educação das relações étnicos-raciais é a consolidação de um projeto de resistência do movimento negro brasileiro

uma forma política, cultural, histórica e que não tem como definir esse trabalho. Fico

Embora seja uma capoeira em território

sempre muito emocionada com a capoeira,

extremamente branco, porque nós somos

porque desde quando eu comecei a militar,

minoria negra, ainda assim a capoeira de

nunca fui uma pessoa da roda, mas sempre

Santa Catarina, de Florianópolis, não perdeu

joguei junto a capoeira. A defesa dela, o con-

seu ligamento histórico africano. Isso é um

teúdo dela, os marcos civilizatórios que ela

mérito muito importante a ser visto. Por-

traz, sujeito como pessoa, a resistência que

tanto o zelo com as pessoas de descendência

ela imprime, a dignidade de que cada mestre

não-africana, na cor da pele apenas, mantém

toca o seu berimbau para estabelecer suas ro-

com a capoeira em Santa Catarina, faz com

das, o respeito da ancestralidade que os mais

que eu me renda sempre à expectativa de que

jovens carregam.

esse é um projeto de vida e que eu gostaria que a sociedade brasileira assumisse. Pois o legado do sujeito tem que ser tratado com respeito dependendo da minha origem, se eu assumisse essa cultura, se eu estou falando deste lugar, do lugar do capoeirista, eu tenho que reconhecer quem é o sujeito da capoeira e isso a capoeira faz.

•17


18•

Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

Isto é educação das relações étnico-raciais, uma política que existe no Brasil, desde quando o africano escravizado chegou aqui. Educação das relações étnicos-raciais não é a lei 10.639 ou 11.645, é a consolidação de um projeto de resistência do movimento negro brasileiro que diz o seguinte, nós precisamos nos ver no currículo da escola, saber quem a

Os mestres da capoeira são autoridade dentro do panteão civilizatório africano vivido em Florianópolis

gente é. Essa escola eurocêntrica, branca por excelência, dominadora, patriarcal, machista, racista, homofóbica. Essa escola não traduz a nossa perspectiva, dos sujeitos brancos não racistas, dos sujeitos negros que resistem, dos sujeitos indígenas que lutam, das mulheres, das Ialorixás, do povo da rua, dos povos que estão nas matas, dos ciganos. A capoeira é um território instituído a partir de princípios de resistência. Ela tem histórico, tem um pensamento. Ter pensamento quer dizer que é preciso fazer uma narrativa do começo, meio e fim, e o fim que não acaba. Ela é ancestral e os mestres são seus pensadores. A capoeira tem música, tem tempo para começar, para manter e finalizar uma roda, assim como a escola tem horário, a capoeira também tem tempo. A capoeira tem conteúdo, tem metodologia e ritos. A capoeira tem pedagogia. A pedagogia da capoeira, a meu juízo, é que nós resistimos porque somos guardiões de uma ancestralidade, faz com que os mestres sejam espelhos para seus discípulos, faz com que os mestres sejam imortais para seus discípulos, e faz com que suas diretrizes, seus princípios e as suas realizações sejam voltadas para a construção de um sujeito não racista, não homofóbico, não classista e com tolerância religiosa. E por último, o que já foi dito em várias rodas, vou repetir porque sou teimosa,


Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

ainda sinto que precisamos da capoeira traba-

à capoeira. Essas pessoas precisam ser crian-

lhar com os aspectos de gênero.

ças na capoeira, jovens na capoeira, adulto na

Há uma política de higienização e eugenia

capoeira, mas precisam também ser velhos, e

no espaço da cidade. Já houveram várias ondas

velhos demandam uma série de outras políti-

nesse sentido, e novamente estamos vivendo

cas para dar acolhimento a estes mestres. Os

essa mesma onda de higienização e eugenia,

nossos anciões, todos eles, representados por

na cidade em que pretos, pobres, de culturas

aqueles que estão aqui, não são só uma auto-

marginais, aquelas não ocidentalizadas, serão

ridade dentro da capoeira, os mestres da ca-

banidas do uso da cidade, do espaço público.

poeira são autoridade dentro do panteão ci-

Por isso, a cartografia é um dos instrumentos

vilizatório africano vivido em Florianópolis.

políticos mais importantes, pois consolida,

Portanto, os mestres acadêmicos são de uma

dessa maneira, a cidade, com esse olhar de

natureza, os mestres da capoeira são de outra.

matriz africana mais hábil, mais consolidado.

E sem sombra de dúvidas, ao meu reconheci-

Mas precisamos pensar em política pública,

mento, quem deveria estar assinando os nos-

guardar e salvar alguns territórios tradicio-

sos certificados na nossa vida como negros e

nais da cultura da capoeira, salvar e guardar

negras são os mestres da capoeira.

os ofícios dos mestres de capoeira, sobretudo aquelas pessoas que se dedicaram a vida toda

Capoeira no Norte da Ilha. Acervo: Anderson José Libanio

Usem a força que está nas mãos e nós pés de vocês!

•19


20โ ข

Fรณrum da Capoeira da Grande Florianรณpolis


Mapeamento Social da Capoeira em Florianรณpolis

โ ข21


22•

Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis

A capoeira e os territórios negros em Florianópolis Os territórios negros, como expressão es-

na conquista de territórios, por isso, a capoei-

pacial, são definidos a partir de relações de

ra se apresenta como linha de frente na salva-

poder focadas na perspectiva racial, onde a

guarda de dois territórios: como luta/dança,

identidade negra se faz presente, seja pela au-

defende o corpo negro, sendo instrumento

todeclaração daqueles que se apropriam da-

de resistência à dominação colonial; e como

quele espaço, seja pela presença de marcado-

expressão cultural, é um dos pilares da cultu-

res culturais e simbólicos negros.

ra afrobrasileira, resistindo aos processos de

O corpo também é um território. Isso por-

higienização da identidade do nosso país.

que somos percebidos e percebemos o mun-

Dessa forma, a capoeira é um importan-

do, primeiramente, a partir de nossos corpos.

te marcador que define os territórios negros.

Ele carrega nossas identidades e nele estão

Em Florianópolis, observamos a presença de

expressos nossos pertencimentos, de gênero,

rodas de capoeira em diversos territórios ne-

raça, classe, geração, entre outros. É também

gros do município. Desde 1988, é no Merca-

a partir dos corpos que se dá o primeiro passo

do Público - tradicional território negro - que


Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis

Roda da Catedral,1987. Acervo: Alemão.

ocorre a tradicional Roda do Mercado, onde

transformaram num marco cultural. Aqui,

capoeiristas se encontram aos sábados. Por

o novo mercado, arquitetado por aqueles

três décadas, as manifestações culturais ne-

que detêm o poder econômico, condiz com

gras resistem às mudanças impostas por uma

o projeto de cidade voltada para o capital

concepção urbanística que busca eugenizar

turístico elitista.

os espaços populares de sociabilidade.

Porém, a capoeira, juntamente com os

Apesar de leis e datas comemorativas

clubes negros, os terreiros, as rodas de samba,

que protegem e demarcam a relevância de

e outras expressões culturais negras, resistem,

determinadas expressões culturais no mu-

mostrando a força ancestral da cultura afro-

nicípio, o processo de desterritorialização

brasileira e o compromisso dos capoeiristas

da população negra no Mercado Público

com a luta antirracista e com a defesa dos ter-

terminou por retirar elementos caracterís-

ritórios de resistência negra.

ticos dele, transformando-o num espaço estéril, privando o acesso daqueles que o

•23


(CONTRACAPA) agradecimentos frases de mestres

Realização:

FÓRUM DA CAPOEIRA DA GRANDE FLORIANÓPOLIS

Apoio:


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.