baraúnas revista
DEZEMBRO, 2023. nº 8
RISCO TRABALHO DE
OS DANOS CAUSADOS PELA ROTINA EXAUSTIVA DOS ATENDENTES DE TELEMARKETING TORNA A ATIVIDADE UMA PROFISSÃO QUE IMPACTA A DIRETAMENTE A SAÚDE DO TRABALHADOR
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baraúnas revista
ISSN 2595-2218 - 8ª ed./dez/2023 EXPEDIENTE
A revista baraúnas é uma publicação do Estágio Supervisionado (impresso) do curso de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba, com periodicidade semestral. REITORA Célia Regina Diniz CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS Diretor: Geraldo Medeiros Júnior COORDENAÇÃO DE CURSO Orlango Angelo Rostand Melo PROFESSOR ORIENTADOR/EDITOR Arão de Azevêdo Souza PROJETO GRÁFICO Arão de Azevêdo Souza REPORTAGEM E DIAGRAMAÇÃO Andresa Thayane Alves da Costa Arthu Araújo Alexandre Daiane Augusta Ramos Deborah Livia Severino da Silva Gabriel Victor Barbosa de Macedo Joabbyson de Aguiar Freire Letícia da Silva Costa Louise Isabela Soares Viana Florencio dos Santos Maria Luiza da Silva Rodrigues Mariana Fernandes da Silva Rharyanne Ouriques de Oliveira Samanta Rocha Lima Vitória Demétrio Cassiano Wallington Cruz dos Santos ENDEREÇO PARA CONTATOS: Curso de Jornalismo Universidade Estadual da Paraíba Rua Baraúnas, 351 - Bairro Universitário, Campina Grande-PB, CEP 58429-500 Fone/83 3344.5316. www.uepb.edu.br 2 |e-mail: araodeazevedo@gmail.com baraúnas | dezembro, 2023
aos leitores! A revista baraúnas apresenta mais uma edição, como resultado do estágio supervisionado obrigatório realizado por alunos no curso de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba. Na última edição do ano, trazemos para você, leitor, uma variedade de temas. Passando das pautas do jornalismo cultural ao jornalismo cotidiano. Como reportagem de capa, abordamos a questão do trabalho de telemarketing. Uma área que oferece muitos empregos em Campina Grande, principalemente de jovem estudantes universitários, os quais são impactados pela rotina do trabalho e dos problemas causdados pela atividade. Tenham uma ótima leitura e até a próxma edição! O editor.
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sumário
PAIZINHA LEMOS
MUSEU, HISTÓRIA E MEMÓRIA DE CAMPINA
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{ Especial
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Curso de Jornalismo comemora 50 anos e implanta novo PPC
Artigo: A falta de autoestima por trás do estima das redes sociais Resenha: Se Tu Me Quisesse: A magia do sertão nordestino Os desafios da educação inclusiva A importância da psicopedagogia no âmbito escolar “Cuidando de Quem Cuida” Viva o Maior São João do Mundo e suas memórias Rodas Abençoadas: Padre está conhecendo a Paraíba de bicicleta Lentes que enxergam esperança TRABALHO OU PESADELO? Saúde mental: como as redes sociais afetam diagnóstico? Salvando vidas Gravidez na adolescência: precisamos falar sobre isso Mulheres que brilham Clara Lenira: o rosto atrás das lentes da funesc Cléber Oliveira: nascido no berço da comunicação Conceição Evaristo transcende a literatura contemporânea com Olhos D’água dezembro, 2023 | baraúnas | 5
{ Artigo
A FALTA DE AUTOESTIMA POR TRÁS DO ESTIMA DAS REDES SOCIAIS Vitória Demétrio
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o entrar nas redes sociais nos deparamos com pessoas, da nossa mesma faixa etária, possuindo produtos de marca, mantendo uma vida saudável, estudando nas melhores escolas, fazendo viagens, tendo um corpo “perfeito”. Ao observar esse conteúdo por alguns minutos, você começa a se sentir menos feliz? Sente que falta algo na sua vida? Começa a comparar a sua realidade com a de outrem? Começa a comparar o seu corpo? Estes questionamentos surgem nas nossas cabeças e o que antes deveria ser algo que proporcionasse conexões, interações e compartilhamentos de conteúdos, se transforma em um grande palco de gatilhos mentais. Segundo levantamento do Indicador de Confiança Digital (ICD), 41% dos jovens brasileiros relatam que as redes sociais causam sintomas como tristeza, ansiedade ou depressão. Essa imagem de vida perfeita mostrada nas mídias sociais acaba afetando drasticamente os adolescentes que não conseguem ter esta mesma realidade, que na maioria das vezes é ilusória. A verdade é que as mídias digitais são apenas 1% da vida daquelas pessoas, é apenas o que ela deseja que seja visto, influenciadores/blogueiros sempre tentam mostrar o seu melhor, sempre será postada a foto de melhor ângulo, sempre será mostrado o melhor da viagem, tudo com muito filtro, edição e produção por trás. Se pararmos para refletir, vamos observar que apenas conhecemos o lado bom da vida dessas pessoas, os problemas pessoais ou algo de ruim que está acontecendo com elas, nunca será visto por nós. Com essa enorme distorção da realidade existente no mundo online, os pais e/ou responsáveis devem olhar com cautela para seus filhos utilizando as redes sociais. Procu-
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rar por ajuda de profissionais da psicologia é fundamental para que, a partir de um olhar crítico, eles consigam orientar e tratar possíveis transtornos de distorção da autoimagem causados pelas mídias sociais, dessa forma, ajudando os jovens a lidar com suas emoções e orientando mudanças necessárias para o fortalecimento da sua autoestima. A internet veio para potencializar e melhorar as relações, no entanto, é preciso maturidade psicológica para usufruir desse potencial que está ao alcance de todos, para que essa essa ferramenta não se torne prejudicial à própria saúde mental.
{ Resenha
Se Tu Me Quisesse: A magia do sertão nordestino
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Samanta Rocha
ino que está tão acostumado a ser abandonado, pede que Lila voe para longe dele por não se achar merecedor do bem querer dela, mas como poderia Lila voar se desde que se entende por gente vive com as asas de metal quebradas? Dino carinhoso que só cuida das asas quebradas de Lila para que ela então possa voar pela primeira vez, ajudando-a a se ver livre e então poder vê-la voltar para ele. Diante de palavras delicadas e uma narrativa envolvente a escritora paraibana Jadna Alana apresenta a linda e apaixonante história da fada Lila e do aprendiz de mágico Dino, que compartilham de um amor forte, leve e cheio de magia e saudade no sertão brasileiro. O conto Se tu me Quisesse, aborda tudo de mais belo que existe na literatura regionalista mesclando com as belezas das fantásticas do sertão, as quais fomos apresentados nas belas histórias contadas por Ariano Suassuna tantos anos atrás. Sem deixar de lado as características e tradições dos povos interioranos e sertanejos, Jadna constrói uma narrativa mágica para contar e envolver profundamente o leitor na vida de Lila e Dino em pleno São João nordestino. Com diálogos tão próximos da realidade, Jádna
toca o coração do leitor com um afago. De uma forma profunda e poética a autora tece a trama com muita fluidez e desenvoltura, imergindo o leitor na mágica do nordeste. A autora faz com que acompanhar o passado e presente de Lila e Dino seja adorável e tão mágico quanto os dois, e nos coloca como testemunhas sentindo devagarinho o frio na barriga de espreitar no cantinho a história do casal se desenrolando sob o imenso céu estrelado do sertão. O conto de Lila e Dino é sobre recomeço, saudade e amor, mas sobretudo esperança e liberdade. E, em um cenário tão conhecido por nós leitores nordestinos tudo se torna ainda mais belo e carinhoso. Se Tu me Quisesse é um presente e um abraço para quem entende a mágica do ritmo de uma sanfona e de uma zabumba sob o céu estrelado de uma noite de São João.
FICHA TÉCNICA Autora: Jadna Alana Ano: 2022 Páginas: 84 Formato: ebook
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Os desafios da
EDUCAÇÃO INCLUSIVA COMO A FALTA DE CAPACITAÇÃO PARA OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO AFETA A QUALIDADE DO ENSINO PARA OS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA
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Daiane Ramos e Déborah Livia
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busca por uma educação inclusiva tem sido uma prioridade em todo o mundo, mas muitos desafios ainda persistem. Entre eles, destaca-se a falta de capacitação adequada para os profissionais da educação lidarem com alunos com deficiência. A inclusão se faz necessária nas salas de aula pois é através dela que todos os estudantes podem ter as mesmas oportunidades de aprendizado. Porém, não é o que acontece na prática. A ineficiência do sistema de ensino brasileiro não capacita os profissionais da educação de acordo com a diversidade da sala de aula. A formação insuficiente ou a ausência de orientações claras podem deixá-los inseguros e despreparados para atender às necessidades individuais
dos estudantes. Isso, por sua vez, pode resultar em uma experiência de aprendizado prejudicada para os alunos com deficiência. E o resultado é mais desigualdade e violência nas escolas e alunos cada vez menos motivados a estar em sala de aula. De acordo
NORMAS
CERCA DE 94% DOS
PROFESSORES REGENTES NÃO
TÊM FORMAÇÃO CONTINUADA SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL
com o Ministério da Educação (MEC), cerca de 94% dos professores regentes não têm formação continuada sobre Educação Especial - modalidade da Educação Básica, em uma perspectiva inclusiva, que tem como
público pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Os dados são do ano de 2022 e revela uma realidade obscura para os alunos especiais que ficam à mercê de um ensino sem preparo e com diversas lacunas a serem preenchidas. Caso o menor não tenha o seu direito atendido, é importante lembrar que os pais ou tutores da criança ou adolescente devem ser orientados a procurar a Secretaria da Educação do seu estado para reivindicar e denunciar o não cumprimento da lei. É de extrema relevância o profissional da educação e os responsáveis reconhecerem que existe uma legislação de educação especial vigente no país, que garante a acessibilidade desses alunos ao sistema de ensino brasileiro.
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Capacitação dos profissionais da área Para entender melhor em relação à instrução dos profissionais da educação para dar aula aos alunos especiais, conversamos com a Pedagoga Olívia Araújo, formada pela UEPB, atualmente cursando especialização em neuropsicopedagogia. Ao ser questionada sobre as disciplinas que pagou durante a graduação, ela afirma: “pagamos uma ou duas cadeiras sobre educação especial, mas ainda é algo bem teórico e superficial que de fato não nos deixa capacitados da forma que deveria para esses estudantes, essa parte que envolve a educação especial, ela é mais abordada na disciplina da educação especial, porque vai trazer os tipos de materiais que são usados. Porém, abordando mais a questão documental, os direitos da pessoa com deficiência”. Atualmente, Olívia leciona em uma escola particular e diz que teoricamente deveria ter um avanço em relação a essa abordagem, mas ainda assim, não é algo tão presente. Ela explicou que na escola existem psicólogos que compõem o quadro de funcionários para auxiliar os professores durante as aulas. Olivia destaca: “A educação é um pilar fundamental e um direito de todos, alunos especiais nesse sentido são negligenciados por falta de assistência efetiva nas escolas brasileiras. A educação inclusiva para alunos com deficiência não é apenas um ideal a ser alcançado, mas um compromisso inegociável na sociedade brasileira”. Ela ainda complementa dizendo que professores, administradores e políticos precisam trabalhar em conjunto para fornecer os recursos adequados, treinamento e apoio necessários para atender às necessidades de todos os alunos. 10 |
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ENSINO PÚBLICO | Mesmo em escolas de ensino integral, o descaso com a preparação de profissionais é a mesma Além disso, Olívia ressalta que apesar de atuar em uma escola particular, que teoricamente possui mais recursos e deveria ter um avanço em relação a essa abordagem, não é algo que acontece na prática, professores pouco abordam o tema em sala de aula e quando falam é algo superficial, usado como exemplos pontuais de educação inclusiva em uma conversa rápida entre profissionais nas reuniões escolares. A educação é um pilar fundamental e um direito de todos, alunos especiais nesse sentido são negligenciados por falta de assistência efetiva nas escolas brasileiras. A educação inclusiva para alunos com deficiência não é apenas
um ideal a ser alcançado, mas um compromisso inegociável na sociedade brasileira. Quando as escolas adotam práticas inclusivas, elas não apenas conseguem igualdade de acesso, mas também enriquecem a experiência de aprendizagem para todos os alunos. A diversidade promove a compreensão, a empatia e o respeito mútuo, preparando os jovens para uma sociedade mais diversa. Porém, a jornada para uma educação verdadeiramente inclusiva não é isenta de desafios. Professores, administradores e políticos precisam trabalhar em conjunto para fornecer os recursos adequados, treinamento e apoio necessários para atender às necessidades de
todos os alunos. Esse despreparo acontece tanto em escolas públicas quanto em escolas privadas. O estado da Paraíba tem o modelo Escola Cidadã Integral espalhado em diferentes municípios. Os alunos passam a ter a escola como uma segunda casa, e, às vezes, têm mais contato com os professores e demais estudantes do que com a própria família. Dessa forma, a escola passa a ser um local que tem a necessidade de estar preparada para receber e ensinar todos os tipos de estudantes, sem diferenças. Mesmo assim, após cinco anos fazendo parte deste modelo de ensino, Carlos Alberto, coordenador financeiro de uma das escolas integrais, disse que nunca teve uma formação que preparasse a gestão ou os professores para lidar com alunos especiais. Ele mesmo diz ser contra esse despreparo, afinal, ele e os demais membros da gestão são os responsáveis que devem lidar com a situação. A escola que faz parte já teve um aluno cadeirante, que dependia da ajuda de colegas e professores para o transporte dentro da escola, até acontecer a reforma do local onde foram colocadas rampas de acesso. Atitudes como essas, de dar o mínimo de suporte para os alunos especiais, muitas vezes são tomadas pela própria unidade escolar. Quando na verdade, o Estado deveria ser o responsável por contratar/capacitar tanto os profissionais, quanto fornecer infraestrutura adequada para receber alunos com deficiência. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de número 9.394/96 é dever do Estado garantir o “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”.
Necessidades especiais Quando falamos em deficiência, é importante reconhecer que além das dificuldades motoras, existem também distúrbios neurológicos e cognitivos, como é o caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA). De acordo com dados da OMS de 2022, estima-se que dentre 200 milhões de habitantes, cerca de 2 milhões são autistas, o número crescente de diagnósticos se deve ao avanço da tecnologia e também a maior atenção de pais e professores com crianças cada vez mais cedo. O TDAH também faz parte desse nicho de ca-
racterísticas que estão presentes em sala de aula e colocam a prova o trabalho realizado pelos professores. Ele é caracterizado por uma doença crônica que inclui dificuldade de atenção, hiperatividade e impulsividade. Esses aspectos demonstram o quanto aluno pode ser negligenciado em sala de aula e muitas vezes o que pode ser diagnosticado, acaba sendo deixado de lado e visto apenas como um traço da personalidade, quando na verdade pode ser tratado e controlado com acompanhamento. Além disso, a falta de capacitação para a educação inclusiva pode ter várias implicações negativas como a desigualdade educacional, os alunos com deficiência podem não receber o apoio necessário para alcançar seu potencial acadêmico, enquanto aqueles educadores que estão em busca de treinamento podem se sentir sobrecarregados, levando a altos níveis de estresse e desmotivação que acabam refletindo na qualidade de ensino ofertada nas salas de aula.
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A importância da psicoped “O PSICOPEDAGOGO TEM A FUNÇÃO DE IDENTIFICAR COM AJUDA DE OUTROS PROFISSIONAIS AS BARREIRAS NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM”, EXPLICA A PROFESSORA JUDITE RIBEIRO Wallington Cruz
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psicopedagogia é uma to Educacional Especializado - na área que estuda e busca perspectiva de inclusão e Psicopecompreender os processos dagogia institucional escolar e clíde aprendizagem e desenvolvi- nica. O seu interesse pela área da mento humano, especialmente no psicopedagogia surgiu a partir das contexto educacional. Ela possui complexidades contemporâneas conhecimentos da psicologia e da que implicam no processo de enpedagogia para auxiliar no diag- sino aprendizagem da educação nóstico e intervenção de dificul- básica, especialmente, nos anos dades de aprendizagem, além de iniciais do ensino fundamental. promover o desenvolvimento de Além disso, o psicopedagogo estratégias e práticas pedagógicas também tem um papel importante mais eficientes. no apoio e orientação aos pais e O psicopedagogo atua tanto na professores do paciente. Ele pode prevenção e identificação de pro- oferecer informações sobre estrablemas de aprendizagem, como tégias de ensino e aprendizagem também na intervenção e acom- mais adequadas, além de orientar panhamento de sobre como lidar com estudantes que as dificuldades espeapresentam dicíficas do paciente no ficuldades espeambiente escolar. cíficas. É impor- “O psicopedagogo tem a A relação entre o tante ressaltar psicopedagogo e o que a atuação função de identificar as paciente é pautada do psicopeda- barreiras que atrapalham no respeito, na escuta gogo não se liativa e na parceria. O a aprendizagem.” mita apenas ao psicopedagogo busJUDITE RIBEIRO ca compreender as ambiente escoPsicopedagoga lar. Ele também necessidades do papode atuar em ciente e adaptar as clínicas, hospitais e outros contex- intervenções de acordo com suas tos. particularidades. Para refletir sobre esse assunto a Revista Baraúnas entrevistou Revista baraúnas: Qual é a imJudite da Silva Ribeiro, licenciada portância do trabalho psicopedaem pedagogia e em letras com gogo e a sua atuação no âmbito habilidade em língua portuguesa, escolar, e quais foram as maiores especialista em AEE- Atendimen- dificuldades já enfrentadas?
INCLUSÃO
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PALESTRA SOBRE INCLUS: | um pro Judite Ribeiro: A psicopedagogia trabalha inicialmente de modo investigativo com intuito de uma possível intervenção qualitativa no processo de ensino aprendizagem, dando condições e desenvolvimentos a partir de novos caminhos (uma nova forma do fazer pedagógico). O psicopedagogo, também, tem a função de identificar com ajuda de outros profissionais as barreiras subjetivas que implicam o processo de ensino e aprendizagem, a exemplo das altas habilidades, dificuldade, transtornos
dagogia no âmbito escolar FOTO: ARQUIVO PESSOAL
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
JUDITE SILVA | Licenciada em pedagogia e em letras com habilidade em língua portuguesa, especialista em AEE- Atendimento Educacional Especializado.
ojeto de vida para tudo e todos. e possíveis deficiências. As maiores dificuldades já enfrentadas é a descredibilização por parte de alguns profissionais da educação. Como é o processo de avaliação de uma criança para saber se ela precisa de um atendimento especializado e como funcionam os atendimentos nas escolas? Inicialmente é feita uma entrevista com a família e escola sobre o processo de ensino aprendizagem e em seguida é feita uma anamnese com informações sociais e subjetivas desde o inicio da gestação
até os dias atuais. A partir dessas informações prévias o individuo entra no processo de triagem, onde será submetido um grupo de atividades inerente a um campo das inteligências múltiplas (emocional, cognitiva, interacional, raciocínio lógico,...) com teor investigativo na qual chamamos de avaliação diagnóstica. Após o psicopedagogo chegar à conclusão, a partir das análises feitas durante a triagem, fechará o quadro diagnóstico no caso dos transtornos ou dificuldade de aprendizagem registrada em
documento descritivo (relatório), mas se houver a hipótese de uma deficiência esse profissional pedirá a ajuda da área médica para comprovar ou descartar a hipótese (levar o estudante a um profissional da saúde e de responsabilidades dos pais). Lembrando que esse processo, triagem, é sigilosa. Acredito que esses atendimentos leva o profissional a criar laços e relações, e ao mesmo tempo em que você ensina você aprende com eles também. Conta pra gente com o é essa troca? Todos nós não somos uma tábua rasa e tão pouco um corpo vazio. Ganhamos e temos diversas informações que se tornam em conhecimentos por meios das experiências vividas com o meio social, familiar e escolar. Ou seja, cada sujeito traz consigo conhecimentos prévios, muitos ou poucos. dezembro, 2023 | baraúnas | 13
“Cuidando de Quem Cuida”
Acolhimento e partilha através da escuta psicológica
S
Vitória Demétrio
er mãe é algo desejado por muitas mulheres, mas quem está preparado para a maternidade atípica? Não é uma tarefa fácil! Em decorrência da frequência crescente, nos últimos anos, do diagnóstico do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), essas mães atípicas necessitam de uma rede de apoio, cuidado e partilha. “O autismo é um distúrbio do neurodesenvolvimento, diagnosticado entre 30 a 40 crianças, ele em menor ou maior proporção atrapalha a comunicação e socialização. O aumento no número de casos diagnosticados decorre da maior capacidade técnica de informação e mudanças nos critérios de avaliação. Os diagnósticos estão cada vez mais precoces dando a essa criança mais possibilidades de tratamento, ” explica a psicóloga Franciellen Pereira. Estima-se que 140 crianças sejam diagnosticadas com TEA, na cidade de Lagoa Seca, e aproximadamente 200 crianças estão no processo de diagnóstico do transtorno, de acordo com dados do Centro de Atenção Psicossocial de Lagoa Seca (CAPS). A partir desses números, Maria Camila, estudante de psicologia e estagiária da rede de saúde do município de Lagoa Seca, idealiza o
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projeto “Cuidando de Quem Cuida”. Afim de oferecer escutas psicológicas para as mães da Associação de Pais de Autistas (APA) da cidade de Lagoa Seca. “O objetivo como um todo do projeto é acolher e compreender essa mulher em todas as esferas que ela está inserida, não só ela como mãe. Por muitas vezes nas sessões não falamos dessa mulher que é mãe, se fala dessa mulher que é esposa ou que já perpassou por um divórcio, da mulher que é filha, ou que já não é mais. Da mulher que está inserida no mercado de trabalho, ” conta Maria Camila. Cuidando de quem cuida O projeto desenvolve escutas psicológicas individuais e em grupo, as mães são atendidas pela estudante de psicologia Maria Camila, com a supervisão da psicóloga Sandra Luna. As sessões têm duração de 40 minutos e acontecem duas vezes por semana. Durante a sessão, se houver a necessidade de uma atenção específica, o paciente é encaminhado para o atendimento com o psicólogo do Centro de Atenção Psicossocial de Lagoa Seca (CAPS), Alisson Tiago. A Associação de Pais de Autistas (APA) do município de Lagoa Seca surgiu em janeiro de 2023, atual-
ATENDIMENTO | Grupo de mães da APA durante sessão em grupo. Atividade de extrema importância para o bem estar delas.
MARIA CAMILA
mente, cerca de 50 mães participam da associação. A presidente da APA, Stephanie Paixão, conta que o atendimento para as mães atípicas já era um tema discutido dentro da instituição: “todas nós entendemos
e passamos pelas mesmas situações diariamente, entendemos a importância desse cuidado, apoio e acolhimento sem julgamento. Nós vivemos em uma sociedade extremamente machista onde mu-
lheres são escravas das exigências impostas por toda uma sociedade. Então, escutar essas mães, entender que não somos perfeitas e que está tudo bem por isso. Ouvir que precisamos descansar, que nosso 100%, em alguns dias, é apenas 20%, e está tudo bem. É importante e faz diferença na vida dessas mães que necessitam de apoio diário, já que muitas delas não têm nenhuma rede de apoio”. Stephanie relata que recebe feedbacks positivos das mães atendidas pelo projeto. “Elas nos contam que sentem um grande alívio em ter alguém com quem desabafar e falar de suas dificuldades diárias, dizem tirar um peso de suas costas. E ao serem ouvidas se sentem acolhidas e compreendidas, ” disse. Futuro No Brasil, não há dados sobre a prevalência do autismo. Entretanto, o projeto "Estudo Multicêntrico de Acompanhamento de Crianças com Transtornos do Espectro Autista", desenvolvido pelo Ministério da Saúde do Brasil, tem por objetivo avaliar o perfil clínico e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em diferentes regiões do país. Eles pretendem compreender a prevalência do transtorno, características, comorbidades e necessidades de intervenção. Além disso, pretendem construir um banco de dados que possa ser utilizado para aprimorar a assistência ao autismo no Brasil. A partir deste estudo, teremos um melhor entendimento sobre o autismo no país, ocorrendo a implementação de políticas públicas de saúde voltadas para a assistência e inclusão de pessoas com TEA. Trazendo mais informações sobre o diagnóstico para os pais e/ou responsáveis aumentando as formas de tratamento para as crianças diagnosticadas. dezembro, 2023 | baraúnas | 15
Viva o
Maior São João do Mundo
e suas memórias ACERVO DE CLÉA E MEMÓRIAS DE MASSILON NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DA FESTA
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Por Gabriel Barbosa e Rharyanne Ouriques
ote, xaxado, baião, milho verde, tradição, cultura e história. Talvez seja essa a receita para fazer uma festa como o Maior São João do Mundo, uma das maiores e reconhecidas manifestações populares do Brasil que acontece em Campina Grande, segunda maior cidade da Paraíba, no Nordeste. Quem conhece a festa de perto e ajudou a criar os ambientes que remonta às raízes do povo nordestino sabe da força dos festejos juninos. Cléa Cordeiro expõe desde 2004, nos meses de junho e julho, um memorial que reúne cartazes, imagens, jornais e folderes desde os primeiros anos do Maior São João do Mundo. O memorial já percorreu diversos pontos de Campina Grande, como shopping, espaços alugados e casas de cultura. Ela é dona de um vasto currículo acadêmico, atrelado ao seu passaporte repleto de carimbos, por onde passou, fatores que lhe credenciaram para assumir a Direção
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de Marketing e Turismo da Prefeitura Municipal de Campina Grande em 1998. Tal função permitiu a Cléa deixar suas digitais no Maior São João do Mundo e contribuir com a festa no seu aspecto cultural. “Como não consigo entender a festa junina sem a base cultural, então foi nessa área que eu desenvolvi meu trabalho. Dentro da Prefeitura de Campina Grande cada um tomava conta de uma parte do São João. Eu, por exemplo, ficava mais na parte cultural. Fiz desfile de carroça, criei a barraca do correio elegante, também organizei o evento chamado Santos Juninos dentro do Parque do Povo. Mas uma coisa me marcou profundamente nessa atividade. Foi a criação da Vila Nova da Rainha. Colocamos um espaço para o artesanato com o apoio dos intelectuais da cidade para descobrir quem era quem nessa área e fomos buscar os artesãos”, destacou Cléa. Ela relembra também sua experiência como ouvinte da Rádio Junina, uma rádio que funcionava
nos limites do Parque do Povo. O conteúdo era apresentado pelo radialista Massilon Gonzaga, que ‘introduzia nostalgia, poesia, música, tornando tudo lúdico e romântico’. A respeito da divulgação do evento uma constatação própria de quem realmente esteve presente no processo de consolidação do São João: o rádio era de fundamental importância para que o campinense e os turistas ficassem cientes da programação da festa. O folder foi um outro elemento im-
MEMORIAL | Cléa Cordeiro e a placa do Memorial do Maior São João do Mundo, espaço criado por ela em 2004
portante no processo de divulgação das atrações do maior evento junino do país. “Era uma loucura quando saía o folder na abertura do São João porque todo mundo queria ter”, relembra Cléa, que faz questão de guardar o documento histórico que se perdeu no tempo, mas no que depender dela não se perderá na história em virtude do Memorial do Maior São João do Mundo. A professora avalia com criticidade a mudança na gestão da fes-
ta com a Parceria Público Privada que, para ela, é uma forma da gestão municipal não se responsabilizar pelo trabalho de acompanhar de perto as manifestações que agregam e fazem a festa junina e principalmente no tocante à divulgação. “A empresa está focada em fazer com que as coisas funcionem, construir uma estrutura magnífica e muito grande, mas não tem o compromisso de resgatar o lúdico. São pessoas novas e não sabem como
era feito antigamente”, sublinhou. A respeito do casal de espigas de milho criado por Eraldo César, uma das imagens mais emblemáticas do Maior São João do Mundo que por muito tempo fez parte da identidade visual da festa, Cléa cita que não participou da construção da marca, mas lamenta algo tão próprio da cultura nordestina e do festejo se perder na história da própria festa. Digitalmente, em 2013, ano em que o Maior São João do Mundo dezembro, 2023 | baraúnas | 17
MESTRE DO RÁDIO | Massilon Gonzaga ao lado de mesa do som do DECOM da UEPB, equipamento presente em sua vida há mais de 30 anos
completou 30 anos, a gestão do prefeito Romero Rodrigues fez o resgate de Sabugildo e Milharilda, casal recriado pelas mãos do designer William Medeiros. Desde então a marca não foi mais usada na promoção do evento. Cléa crítica, porém, aponta caminhos para uma divulgação que volte a contemplar o caráter humano, histórico, cultural e lúdico da festa tão defendido por ela. Se atualmente existe resistência para disseminação de informações sobre o Maior São João do Mundo por vias mais tradicionais pelas ruas de Campina Grande, a historiadora aponta as estruturas – órgãos da administração – da Prefeitura Municipal como espaços a serem usados com esse intuito e até em estabelecimentos privados que atuam diretamente na festa, como restaurantes e hotéis. “Cartazes, folders e quadros anunciando as datas da festa o ano todo. Divulgação que não eliminaria a presença do maior evento do Nordeste nas redes sociais como acontece nos últimos anos”, sublinhou. AS MEMÓRIAS DE UMA VOZ DO RÁDIO Voz inconfundível do rádio campinense, Massilon Gonzaga usou suas habilidades com os microfones em prol do Maior São João do Mundo, sendo ele o primeiro mestre de cerimônia da festa e locutor, ou seja, o apresentador das atrações, função atualmente ocupada por Cleber Oliveira, Rafael Pereira (Rafafá) e Kalilka Volia, e que foi exercida ainda por Evilásio Junqueira e Abílio José. Também foi de responsabilidade de Massi18 |
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lon, a Rádio Junina que teve início no Governo de Félix Araújo (1993) e perdurou até o segundo governo de Cássio Cunha Lima (2001). Além de tocar as músicas dos artistas presentes no São João, prestava informações importantes ao público no Parque do Povo, como a perda de documentos, crianças desaparecidas e a presença de autoridades no espaço. Ainda fazia parte da pauta da Rádio Junina a programação da festa. “Eu tinha as torres que só tocavam músicas, depois fiz o projeto da rádio. A Rádio Junina era a voz do Parque do Povo. A Universidade Estadual da Paraíba forneceu a
mesa de som, repórteres e locutores, que eram os meus alunos. No Governo de Cássio a gente profissionalizou, eu tirei os alunos de comunicação que queriam curtir a festa, e coloquei profissionais. Chegamos a distribuir prêmios, rosas no Dia dos Namorados e ingressos para o Spazzio”, disse. Um fusca, nos primeiros anos da festa, era usado pela Prefeitura Municipal de Campina Grande para rodar a cidade, chegar até às redações e entregar releases do São João. “A assessoria de Comunicação fazia os releases sobre o São João de geralmente uma lauda e no final
NÚMEROS DA 40ª EDIÇÃO •
Campina Grande recebeu 2,5 milhões de pessoas e injetou cerca de R$ 500 milhões na economia local e nacional; • Geração de 5 mil empregos diretos e indiretos, sendo 1 mil apenas na montagem da estrutura; • Em 32 dias de festa, 340 artistas passaram pelo Parque do Povo • Somente no palco principal, foram 98 atrações, incluindo nomes como Xand Avião, Elba Ramalho, Flávio José, Solange Almeida, João Gomes, Alceu Valença e mais; Além do Parque do Povo, o São João de Campina Grande também teve programação no Quadrilhódromo (Estação Velha) e nos distritos de Galante, Catolé de Boa Vista e São José da Mata, além dos eventos privados.
da tarde um fusquinha da Prefeitura de Campina Grande, com um jornalista, ia distribuir nas redações esse material. Depois, a gente começou a fazer o release acompanhado de fotos como era no jornal. O ‘cara’ tinha que bater a foto, revelar e mandar uma cópia para os jornais, isso em 1986”, descreve o comunicador. O rádio deu uma grande contribuição para a divulgação da festa junina campinense principalmente com os programas regionais, nos anos 80 e 90, como o Jornal da Verdade, apresentado pelo jornalista Juarez Amaral que tinha uma grande audiência em Campina Grande
e que colocava a festa como pauta. Massilon cita ainda Hilton Motta. “A Campina FM era conhecida como a rádio do São João por causa da atuação do proprietário da emissora Hilton Motta, um entusiasta da festa que montava uma cabine no Parque do Povo para receber trios de forró e os artistas na grade da rádio. A Rádio Borborema, por sua vez, dava ênfase apenas aos fins de semana d'o Maior São João do Mundo, enquanto a Caturité trazia flashes ao vivo e a Correio FM chegou depois para seguir também sendo espaço cativo de divulgação do evento”, pontuou. O show do dia era a informação
que se dava um destaque maior nas rádios. Massilon recorda de anunciar os shows de Flávio José, Dominguinhos, Alcymar Monteiro e Pinto do Acordeom, nomes do Nordeste e que estiveram no palco principal do Parque do Povo. Outro aspecto importante no relato de Massilon é a lembrança do espaço criado dentro do Parque do Povo destinado à imprensa. “No Parque do Povo tinha a Rua da Imprensa e lá o Departamento de Comunicação. Chegava os primeiros oito dias da festa e não tinha os folderes para distribuir com as pessoas. A pessoa passava na lá Decom e pedia o folder, com a programação do São João, do palco e das rádios. Aconteceu muitas vezes de o São João começar e os folders não ficarem prontos”, declarou. dezembro, 2023 | baraúnas | 19
RODAS ABENÇOADAS
Padre está conhecendo a Paraíba de bicicleta
DIVULGAÇÃO: REPRODUÇÃO
CONHECIDO COMO “PADRE CICLISTA”, PADRE MARINALDO TEM UM CANAL NO YOUTUBE COM INTUITO DE ESPALHAR O CICLOTURISMO
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Malu Teixeira
pandemia do coronavírus trouxe uma série de mudanças em diversos setores da sociedade, sendo uma das áreas mais afetadas: o turismo. Aviões e navios de cruzeiro parados, hotéis fechados e aeroportos em silêncio. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a economia global do turismo sofreu uma queda de cerca de 80% em 2020, afetando cidades do interior brasileiro que tinham como base de sustentação a visita de turistas ao longo de todo ano. Passado o pico mais agudo da pandemia, as pessoas tentam recomeçar suas vidas. Tarefa nada fácil em função das perdas e dos traumas causados. Como alternativa a esse contexto, a bicicleta se tornou um item indispensável na vida dos brasileiros, seja na busca por atividades físicas ao ar livre, como meio de transporte ou na prática do cicloturismo. O aumento do uso de bicicletas não ficou somente visível nas ruas, segundo o estudo realizado pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), realizado junto às 40 empresas associadas, houve um au-
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PADRE MARINALDO| Durante sua jornada, já foram várias cidades visitadas em toda a Paraíba
mento de 118% nas vendas de bicicletas entre 15 de junho e 15 de julho deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. A prática do cicloturismo compreende viajar utilizando uma bicicleta, constituindo um estilo saudável, econômico e ecológico de fazer turismo. Diante disso, o Ministério do Turismo, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto
Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vêm estruturando e promovendo trilhas de longo curso, que estimulam o cicloturismo no país. Na Paraíba, a modalidade já vem se tornando uma realidade em algumas localidades, na região metropolitana da cidade João Pessoa, por exemplo, existem atualmente com 12 rotas de cicloturismo cadastradas.
Confira alguns trajetos feitos pelo Padre nos últimos anos: pároco da Paróquia do Perpétuo Socorro, na cidade de Casserengue, que compreende a área da Diocese de Guarabira. Tradicionalmente nesta diocese os Padres têm “folgas”- destinadas ao seu descanso e o lazer-, às segundas-feiras, sendo o momento que o Pe. Marinaldo realiza suas cicloviagens mais curtas nas cidades mais próximas a Casserengue.
Trajetória “Comecei a andar de bicicleta através do meu irmão, nós íamos as cachoeiras próximas a Guarabira realizar esse nosso lazer”
MARINALDO FLOR Padre
O uso da bicicleta ao mesmo tempo que vem se popularizando como meio de transporte nas grandes metrópoles – tendência que desponta forte nas cidades europeias surge também a preocupação em se ter equipamentos bons, o que acaba impedindo muitas pessoas de iniciarem no cicloturismo. FÉ SOBRE DUAS RODAS Padre Marinaldo de 31 anos, natural da cidade de Guarabira, conta com mais de 1500 seguidores em suas redes sociais e tem feito sucesso na região do brejo paraibano além das suas funções eclesiásticas. Conhecido como “padre ciclista”, Padre Marinaldo é proprietário de um canal no Youtube que tem como intuito compartilhar suas experiências com o cicloturismo. O mesmo realiza vlogs das cicloviagens com muito humor e irreverência, mostrando as
belezas das cidades por onde passa. A partir daí, o Padre reconheceu na bicicleta um meio de transporte fácil, acessível, transformando-a em uma companheira para “pegar a estrada”. Após ordenado, o Padre conheceu um grupo de ciclistas da cidade de Belém, - sendo sua primeira paróquia - em que passou a acompanhar em pequenas cicloviagens a cidades vizinhas. Mas como conciliar a rotina de padre com o cicloturismo? Segundo o Padre, ele tem um mês de férias anualmente, e é nesse período que a atividade de ciclista se intensifica. O eclesiástico tenta dividir ao máximo o tempo entre visitar a família, estar com os amigos e conhecidos, e conhecer a Paraíba de bicicleta em pelo menos uma semana. Padre Marinaldo atualmente é
PEDAL SEM DESTINO Ultrapassando as fronteiras da Paraíba, o Padre já realizou o trajeto da cidade de São Paulo em direção ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte. Segundo ele, este é o seu recorde pessoal de quilometragem diária, em que pedalou cerca de 190 km por dia, e que os planos futuros para o canal é conhecer o Brasil inteiro de bicicleta, mostrando lugares que muitas pessoas não conhecem, e acabam passando despercebidos. O mesmo também enfatizou que o intuito principal do cicloturismo não é chegar o mais rápido possível no destino, mas sim aproveitar o percurso de ida e volta, da paisagem e da cultural local das cidades em que passa. Sendo ciclista, o Padre se aproximou de pessoas que não eram seus fiéis na Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, e que através das cicloviagens passaram a frequentar a igreja católica. Além do ciclismo, o Padre também realiza a atividade de corrida de rua, e que seus hobbies causam dois sentimentos nos seus fiéis: estranhamento e admiração. Segundo o Padre, não é preciso gastar tanto inicialmente para realizar as cicloviagens, sendo melhor desenvolver um gosto inicial pela atividade que se está fazendo. Sair da zona de conforto, conhecer o novo, fazer amizades, expandir a sua visão de mundo, prestigiar a cultura e as belezas locais. dezembro, 2023 | baraúnas | 21
LENTES QUE ENXERGA ALOISIO ABRANTES FILHO, 32 ANOS, NATURAL DE SOUSA, NO SERTÃO PARAIBANO, É UM DOS FOTÓGRAFOS MAIS CONHECIDOS NA ÁREA DA COBERTURA POLÍTICA PARAIBANA
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Malu Teixeira
s olhos nos permitem observar todas as belezas que o nosso mundo pode oferecer. Mas, e se mesmo enxergando você não conseguisse vislumbrar encanto nenhum? Aos 22 anos morando em Salvador no estado da Bahia, Aloisio estava no ensino superior cursando enfermagem. Estava no sexto período, mas a situação financeira de sua casa já não era das melhores, pois sofreram um golpe enquanto moravam no estado, até que um fato mudou completamente a sua a vida e a de sua família: a morte do seu pai em um trágico acidente de carro. Para se reerguer sem o seu pai, a família se mudou para Boa Ventura, no sertão da Paraíba, em meados de 2013, mas as marcas dessa perda perduram até hoje em sua vida: depressão. Abandonou a faculdade, não via os amigos ou saia de casa. Não enxergava mais nenhuma esperança na vida, até que um dia conheceu a fotografia.
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FOTOGRAFIAS | Uma das paixões dele é fotografar pessoas desconhecidas Como você conheceu a fotografia? Eu a conheci no pior momento da minha vida. Eu estava em casa, tomava muitos remédios antidepressivos, mas mesmo assim não conseguia ver ninguém… nem sair do quarto. Daí então eu avistei uma máquina sony muito antiga da minha mãe, e a perguntei se poderia pegar, ela como boa mãe que é, permitiu. Foi então que eu percebi que ficar naquele quarto já não era mais a minha vocação,
e mesmo com aquela máquina velhinha, eu saí fotografando tudo.. Como foi a primeira experiência profissional? Foi terrível.. Eu ainda era muito tímido e inseguro, e tinha muito medo das pessoas, e muito medo de errar. Eu nunca me imaginei fazendo aquilo, e estar naquele lugar ao mesmo tempo que me fazia ter prazer, me dava muito medo. Quando foi que você enxer-
AM ESPERANÇA DIVULGAÇÃO
Defina a fotografia pra você. Ela é tudo o que tenho.. me salvou de mim mesmo. Hoje eu vivo disso e pra isso, e não me imagino fazendo outra coisa além de contar a história das pessoas por um simples clique. É preciso sim fazer tratamento, tomar os remédios.. depressão não é brincadeira. Ela não me matou mas roubou de mim muitos momentos com a família, amigos, e principalmente de ver o mundo. E hoje, eu sei que a fotografia salvou a minha vida, e eu só estou aqui graças a ela.
s em situações do cotidiano gou a primeira dificuldade na fotografia? Eu estava gostando de fotografar, mas eu queria que as minhas fotos tivessem um ar mais profissional, daí então eu juntei todo o dinheiro dos meus primeiros “trabalhos”, e comprei uma câmera para que a qualidade melhorasse, e também investi em um curso de edição e tratamento de imagens. Pratiquei muito.. muito mesmo. O que você acredita que foi
a virada de chave na sua carreira? Eu montei um estúdio de fotografia na minha cidade, mas continuei a ir a esses eventos políticos, porque sempre gostei de política. Daí eu fotografei um candidato e marquei ele nas redes sociais, e ele gostou do meu trabalho, e um tempo depois me chamou pra trabalhar com ele, e vir morar aqui em João Pessoa.. Acredito que tenha sido essa a principal mudança.
2018: Era ano de eleição presidencial, muitos políticos visitando o sertão paraibano, e Aloísio viu ali uma oportunidade de fotografar pessoas que ele talvez jamais tivesse contato novamente. Mesmo não sendo chamado para os eventos como fotógrafo, ele ia e levava sua companheira, e capturava em suas lentes toda e qualquer pessoa que achava interessante ou que lhe pedisse, sem cobrar nada por isso, apenas pelo fato de querer melhorar naquilo que já amava. Aloísio hoje atua na capital paraibana além dos parâmetros políticos, mas em tudo o que a arte e a fotografia lhe permitem ser e estar. A depressão nos rouba o sentido de viver e de enxergar beleza ao nosso redor, e presenciar Aloísio capturando e mostrando lugares e nuances nas suas fotografias de lugares que às vezes, nós não enxergamos é inspirador, e ao mesmo tempo reconfortante. A arte definitivamente salva vidas. dezembro, 2023 | baraúnas | 23
HEADSET| Equipamento ultilizado no ambiente de trabalho.
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Trabalho ou
PESADELO? OS DANOS CAUSADOS PELA ROTINA EXAUSTIVA DOS ATENDENTES DE TELEMARKETING: DRAMA ENFRENTADOS POR DIVERSOS BRASILEIROS
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ritos, xingamentos, estresse e esgotamento físico e mental, essa é a rotina diária dos atendentes de telemarketing. O que deveria ser apenas 6 horas e 20 minutos de trabalho, perdura ao longo do dia, pois a exaustão psicológica invade e atrapalha a vida do operador. Segundo a Associação Brasileira de Telesserviços (ABT), as empresas de call center empregam mais de 1,4 milhão de pessoas no país, principalmente jovens em seu primeiro emprego. De acordo com dados do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações na Paraíba (SINTELLPB), somente na região metropolitana de Campina Grande existem aproximadamente 11 mil profissionais neste segmento. A função é prestar serviço via chat ou realizar chamadas com objetivo de vender produtos, solucionar problemas ou realizar cobranças. A orientação que a empresa repassa para seus colaboradores é manter sempre o tom de voz calmo e agradável. Existem protocolos que são conduzidos quando o operador é tratado de forma desrespeitosa. Por exemplo, é solicitado ao cliente que ele se acalme e,
Letícia Costa e Mariana Fernandes
caso as ofensas persistam, é possível encerrar a ligação e retornar o contato em outro momento oportuno. A repetição diária de reclamações, ofensas por parte dos clientes e a pressão da empresa para cumprir metas exageradas contribuem ainda mais para o estresse
DANOS EXISTENCIAIS “DINHEIRO NÃO VALE A MINHA SAÚDE MENTAL.” TATIANE EX-ATENDENTE
do atendente. É nesse ambiente que surgem as doenças relacionadas ao esforço psicológico diário dos trabalhadores.Segundo o blog Psicologia Viva, além da típica depressão, insônia e transtornos de ansiedade, se não tratado a tempo, o estresse pode acabar no aparecimento da Síndrome de Burnout. Essa síndrome é caracterizada pelas reações agressivas, a falta de energia emocional para o trabalho
e a despersonalização do indivíduo. O atendente pode gritar com um cliente ou superior, por exemplo, em pleno expediente. Joana, 26, estudante de psicologia e supervisora de operações de um call center em Campina Grande, relata que logo após começar a atuar no teleatendimento, desenvolveu crises de ansiedade. A estudante de psicologia, acredita que para um desenvolvimento menos exaustivo dos funcionários medidas devem ser adotadas. Os empregados merecem ter suporte psicológico, especialmente os líderes, necessitam ter uma preparação melhor para lidar com as cobranças e como repassar para sua equipe de uma forma leve e menos exaustiva. Ao ser questionada sobre o treinamento e preparo dos superiores da empresa, Joana responde: “não, percebo que há um certo esforço atualmente em fazer isso acontecer. Mas quando fui promovida não tinha, tudo que aprendi foi com os meus pares e minha antiga gestora, na prática”. Hora de Parar Para alguns funcionários o trabalho se tornou exaustivo e pedir dezembro, 2023 | baraúnas | 25
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PA | Estação de atendimento em um call center
demissão foi a única alternativa, mesmo isso impactando sua vida financeira. Tatiane, 24, trabalhou em um call center de Campina Grande por quase 2 anos. Com o decorrer do tempo, o trabalho lhe ocasionou ansiedade, estresse e uma enorme cobrança a si mesma. A atendente, após inúmeras noites sem dormir e sérias crises de ansiedade, encontrou solução solicitando o desligamento. Ao ser abordada sobre o preparo da empresa em relação ao cuidado sobre a pessoa que aquele funcionário representa, Tatiane expressa acreditar que a empresa não realiza um treinamento adequado para auxiliar seus operadores a lidar com pessoas, além de gestores despreparados, "Muitas vezes geram apenas mais cobranças, desmotivam e realizam ameaças exorbitantes". 26 | baraúnas
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Momentos de Aflição Existem espaços capazes de nos causar mal e só a memória ou hipótese de estar lá já ocasiona ansiedade, é o caso de diversos atendentes de telemarketing que só de imaginar a rotina e as cobranças do dia seguinte ou até mesmo de passar em frente ao seu local de trabalho, se sente angustiado e todos os relatos levam apenas a uma definição: trabalho torturante. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o Brasil é o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, diversos fatores contribuem para este padrão, salários baixos e exaustão podem desencadear o transtorno de ansiedade, de acordo com os relatos citados é algo constante no trabalho de telecomunicação. A psicóloga Nathália Henriques, que atende no Centro Médico San
Raphael, localizado no bairro da Prata, Campina Grande, explica que essa pressão e estresse típicos de empresas call center se dá pelo fato desse ambiente exigir bastante do empregado, sempre com cobranças, rotinas estressantes, desafios impossíveis, fundadas pelo mercado de trabalho e capitalismo, acabam despertando nos atendentes sentimentos negativos, angústias, dores e traumas, além do sentimento de inferioridade. Esses fatores impactam diretamente na saúde mental desses indivíduos, deixando cicatrizes que serão lembradas por um longo período, além do adoecimento e sofrimento psíquico. Nathália menciona que o trabalho com teleatendimento desencadeia problemas graves como ansiedade e depressão. “pode vir a se tornar uma fonte de sofrimento nos trabalhadores”, afirma. Fica evidente que as empresas de call centers são uma das primeiras opções de emprego para aqueles que buscam ingressar no mercado de trabalho, no entanto, é notório que esse serviço exige muito esforço emocional do operador, tendo como consequências, surgimento de doenças mentais e físicas. Um agravante para toda essa carga de estresse e sofrimento psíquico se dá pelo fato de pouquíssimas empresas de call center oferecem ao empregador a mínima assistência psicológica para lidar com as problemáticas ocorridas durante os expedientes.
Curso de Jornalismo comemora 50 anos e implanta novo PPC ELABORADO PELO NÚCLEO DOCENTE ESTRUTURANTE, O PPC ATUALIZA A GRADE CURRICULAR FOTO: PAIZINHA LEMOS
Louise Viana
E
m 2023, o curso de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) completa 50 anos de história. Tendo como casa Campina Grande, a “Rainha da Borborema”, foi o primeiro curso de Comunicação Social fundado no interior e contribui até hoje para o aumento do fluxo de estudantes da região, conectando cidades próximas e também recebe alunos de outros estados, que se tornam residentes da cidade. Como pioneira em vários aspectos, a graduação é anterior até mesmo a instituição UEPB, que foi criada em 1987 como resultado da estadualização da antiga Fundação Universidade Regional do Nordeste (FURNE). Em 02 de outubro de 1973, por meio da resolução nº 06/73 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão assinada pelo Vice-Presidente da Fundação, Luiz José de Almeida, a criação do curso foi oficializada. No decorrer dessas 5 décadas, a UEPB formou referências do jornalismo campinense, paraibano e também nacional. No corpo docente, alunos egressos se tornaram professores e contribuem diretamente para a formação de novos jornalistas. Mas com o passar do tempo e o desenvolvimento de novas tecnologias, o jornalismo precisou se adaptar, e essas mudanças interferem diretamente na formação dos atuais
MUDANÇAS | Propostas pelo NDE renova matriz curricular e projeto o curso de Jornalismo da UEPB para o futuro e futuros discentes do curso. Com a iminência dessas mudanças externas, é necessário repensar e propor alterações no currículo do curso, para que este reflita as necessidades do jornalismo atual e forme profissionais que sejam capazes de atuar de acordo com o novo perfil da profissão. Por conta disso, em 2023, após 7 anos da elaboração do último Projeto Pedagógico, um novo Núcleo Docente Estruturante (NDE) foi formado com a função de elaborar um novo PPC. O novo Projeto Pedagógico de Curso é elaborado pelo Núcleo Docente Estruturante, presidido este ano pela Professora Doutora Agda Aquino e também composto pelos Professores Doutores Ada Guedes, Luís Adriano, Moisés Araújo e Rostand Melo. Representando a Chefia do De-
partamento de Jornalismo, também esteve presente em reuniões do NDE a Professora Salete Vidal. A reestruturação da graduação em Jornalismo da UEPB se tornou uma necessidade. Para o professor Rostand Melo, o novo PPC pode parecer precoce, visto que a atualização do atual modelo foi feita em 2016, mas visando o acompanhamento das mudanças do jornalismo, a restruturação do Projeto foi posta em prática em 2023. Ao elaborar a proposta, o Núcleo Docente Estruturante tem que aguardar a aprovação do novo Projeto pelo colegiado do curso. Com a aprovação, a versão final do material é enviada à Pro-reitoria de Graduação (PROGRAD) e o Projeto Pedagógico entra em vigor no próximo semestre. dezembro, 2023 | baraúnas | 27
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SAÚDE MENTAL
como as redes sociais afetam diagnóstico?
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um cenário onde todo conteúdo parece caber num vídeo de TikTok, a informação passa por nossos dedos “num rolar de tela”. Postagens sobre transtornos mentais, que apresentam, muitas vezes em tom cômico, sintomas de doenças como depressão, ansiedade, síndrome de borderline, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), entre outros, causam preocupação em profissionais da área de psicologia por induzir a diagnósticos inadequados. A psicóloga Rosa Maria Soares, coautora do artigo: “Dependência Digital: Impactos do uso excessivo das redes sociais no cotidiano dos usuários”, conta a que falta base cientifica nesse tipo de publicação. “A busca por conteúdos cada vez mais rápidos e mais fáceis de entender é muito grande. Na maioria das vezes, não são feitos por profissionais. Geralmente são pessoas que fazem com base nas suas próprias vivências, de uma forma muito pessoal”, disse à Revista Baraúnas.
Joab Freire Um estudo canadense de 2022 intitulado TikTok and Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder: A Cross-Sectional Study of Social Media Content Quality (TikTok e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: um estudo transversal da qualidade de conteúdo de mídias sociais, em tradução livre) publicado no jornal Can J Psychiatry, analisou 100 vídeos publicados na rede chinesa e concluiu que mais de 52% tinham informações incorretas sobre a doença e 27% continham apenas relatos pessoais e apenas, 21% foram classificados como vídeos úteis. “Vários transtornos mentais têm sintomas muito parecidos, então se você for fazer um estudo – entre aspas – nas redes sociais, sairá com vários diagnósticos. Se por um lado é bom, porque acaba tirando o estigma do transtorno mental, por outro lado é necessário muito cuidado”, alerta a profissional No Instagram, rede social mais popular no Brasil, a hashtag #TDAH tem mais de 1 milhão de publicações. São conteúdos que vão desde postagens de profissionais da
saúde até esquetes de humor que representam pessoas com o transtorno. “Não é errado consumir conteúdos que tenham humor, mas é necessário que o usuário saiba quem está produzindo, que sejam médicos, psicólogos, e não apenas por pessoas que foram diagnosticadas com algum transtorno. É preciso fazer essa filtragem. Quem é que está falando? Com que intuito está sendo falado esse vídeo? Com que intuito esses sintomas estão sendo demonstrados? Quais são as referências, também, que estão sendo utilizadas? Bons conteúdos sempre têm referências, seja na legenda ou nos comentários”, complementa a psicóloga. Questionada sobre o tema, a estrategista de conteúdo para as redes sociais, Elisama Vitória, reconhece que é necessário falar sobre transtornos mentais, mas concorda que é necessário que o usuário fique atento a qualidade da informação. “Eu acredito que a intenção por trás dessa produção de conteúdo dezembro, 2023 | baraúnas | 29
ARQUIVO PESSOAL
SOFRIMENTO | “Quem tem transtorno mental sofre para entender como ele lida com a vida a partir dele, não é algo que as pessoas ostentam” é genuína. Quanto mais informação, mais conhecimento é propagado. Há pouco tempo, não havia a repercussão desses assuntos, não havia conhecimento acessível suficiente. Mas, há um viés preocupante no que diz respeito ao excesso de informação, pois há vários perfis que produzem conteúdo vinculado a uma experiência pessoal e que acaba gerando um autodiagnóstico e, pior, um autodiagnóstico errado” comentou a profissional. Sofrimento banalizado Outro fator preocupante, que vai além do diagnóstico errado, é a relativização dos transtornos mentais. Conteúdos que expõe os sintomas de maneira simplificada e que acabam diminuindo a chance de as pessoas compreenderem o que, de fato, estão sentindo. “Se vê muitas pessoas se autodiagnosticando e diagnosticando outras pessoas por meio dos comentários de vídeos. Se não é 30 | baraúnas
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TDAH, é ansiedade. Se não é ansiedade, é toque. Se não é o toque, é narcisismo, enfim, tem uma variedade de transtornos mentais, sendo utilizados para explicar, entre aspas, o comportamento das pessoas. Isso além de preocupante, banaliza sofrimento das pessoas que realmente têm transtornos mentais. Isso não é um hype, ou pelo menos não devia ser”, declarou Rosa Maria. Ela ainda complementa que embora esse conteúdo viral chegue em pessoas que dificilmente se interessariam pelo tema, mas que o lado sensacionalista das produções realmente causa preocupação. “Quem tem transtorno mental passa por um sofrimento para entender como é e como ele lida com a vida a partir dele, não é algo que as pessoas ostentam. Então eu não posso deixar de pontuar que tem um lado bom, uma quebra de estigma, o cuidado, promoção de conversas sobre o tema, mas esse lado sensacionalista é preocupante,
não podemos tratar a saúde mental de uma forma tão superficial”. Diagnóstico é coisa séria A terapeuta ainda alerta que ao menor sinal de identificação com sintomas de algum vídeo na internet é ideal buscar ajuda profissional. “O diagnóstico leva em consideração muitas variáveis, consideramos o tempo de duração desses sintomas, quais os sintomas, quando é que eles aparecem, por quanto tempo eles ficam enquanto tempo eles vão embora, se é que vão embora. É realmente feito um estudo sobre tudo que você traz para aquele momento. Se você está se perguntando se possui algum transtorno após consumir esse tipo esse tipo de conteúdo, procura ajuda de um profissional de saúde, para que seja feito o tratamento da forma mais adequada possível, da forma que menos afete a sua vida e que promova realmente o bem-estar”, concluiu.
SALVANDO VIDAS PROJETO ENSINA PRIMEIROS SOCORROS A ESTUDANTES DE ESCOLA PÚBLICA, NA PB
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JOAB FREIRE
Joab Freire
m projeto desenvolvido numa escola estadual da cidade de Pilõezinhos, no Brejo paraibano, orienta a estudantes do ensino médio como agir em casos de emergências médicas para prestação de primeiros socorros e até a aferição de doenças como diabetes e hipertensão. Ministrado pelo professor Jhonantan Aguiar para a disciplina de Biologia da Saúde Humana, o Projeto Escola Segura teve sua culminância nesta sexta-feira (1º) no laboratório da Escola Cidadã Integral Silvio Porto. Adrian Ferreira, de 16 anos, estudante do 2º ano, que participou do projeto, disse ter sido muito interessante aprender mais sobre o tema. “Em diversos momentos pode ocorrer de alguém se engasgar, desmaiar ou, até mesmo, se cortar como já aconteceu na escola. Com os alunos capacitados e preparados para ajudar fica mil vezes melhor para prestar socorro e acalmar as pessoas”, destacou. Outro participante do curso foi Jair Gustavo, de 16 anos, aluno do 1º ano, que aprovou a iniciativa do professor, e disse que agora sabe como se comportar diante de uma emergência. “No meu ponto de vista, aprender sobre primeiros socorros proporciona habilidades essenciais para lidar com emergências e isso ajuda a salvar vidas, prevenir o agravamento de lesões e promover um ambiente mais seguro”, disse o estudante. O professor Jhonantan Aguiar,
SALVAR VIDAS | Formação em primeiros socorros garante mais segurança para lidar com emergências responsável pelo projeto, falou da importância do ensino de primeiros socorros na escola. "O ambiente escolar é muito movimentado e observando a própria estrutura física da escola percebi a necessidade de capacitar os estudantes em primeiros socorros. O projeto surgiu a partir da disciplina eletiva 'Biologia da Saúde Humana', onde eles aprenderam o básico de primeiros socorros: Manobra do desengasgo (manobra de Heimlish) em adultos, crianças e bebês, RCP (reanimação cardiopulmonar), contenção de Hemorragia, imobilização de fraturas, verificação de sinais vitais,
entre outras situações que podem acontecer na escola, em casa ou na rua”, pontuou. Durante a culminância, os estudantes puderam expor o aprendizado obtivo por meio de demonstração prática que contou com a participação dos demais estudantes, professores e da comunidade em geral. A disciplina contou com ainda o apoio de uma escola técnica participar que cedeu aos estudantes equipamentos de proteção individual, jalecos e outros equipamentos que, segundo o professor, contribuíram com a dinâmica em sala de aula. dezembro, 2023 | baraúnas | 31
Gravidez na adolescência: precisamos falar sobre isso DE ACORDO COM DADOS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE REUNIDOS PELO FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, CERCA DE 19 MIL NASCIMENTOS DE BEBÊS AO ANO SÃO DE MÃES ENTRE 10 A 14 ANOS
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Arthu Alexandre
s índices de gravidez na adolescência no Brasil estão acima da média mundial. De acordo com dados do Ministério da Saúde reunidos pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), cerca de 19 mil nascimentos de bebês ao ano são de mães entre 10 a 14 anos. Além disso, outro agravante é que somente nos sete primeiros meses de 2022, segundo o Portal de Transparência de Registro Civil, mais de cem mil crianças foram registradas sem o nome do pai. O abandono paterno e a gravidez precoce são a dura realidade do nosso país. Elidênia Barbosa, 32, faz parte dessas estatísticas de mulheres que vivem a maternidade solo e lutam diariamente para criar e educar seus filhos. Sua primeira gravidez aconteceu quando ela ainda tinha 15 anos e namorava um rapaz que morava na mesma rua da sua casa. O relacionamento, que segundo ela, tinha traços abusivos, não durou muito tempo, mas deixou um vínculo para a vida toda. Sua filha nasceu em 2007 e daí em diante
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sua vida nunca mais foi a mesma: “Eu tinha muitos planos para o futuro. Queria estudar, me formar, noivar, casar. E acabei atropelando todas essas fases. A minha filha é o meu maior presente, lógico, mas hoje eu entendo que tudo aconteceu cedo demais. Eu era uma criança que tive que cuidar de outra criança.” Em janeiro de 2023, o Instituto Data Folha entrevistou mais de mil mulheres acima de 16 anos de 126 cidades do país e os resultados mostraram que 36% das mulheres sem filhos tiveram mais chances de ingressar em uma universidade, enquanto que 9% estudaram apenas até o fundamental. Esse contexto de desigualdade afeta diversas camadas da nossa sociedade e desencadeia uma série de diversos outros fatores. Um dos principais motivos de evasão escolar, por exemplo, é a gravidez na adolescência, provocando resultados desastrosos na educação. Consequentemente, por causa disso, futuramente a grande maioria delas não conseguem ingressar no mercado de trabalho,
RMONTIEL85/MORGUEFILE/DIVULGAÇÃO
EMPREENDEDORAS | No alto, Grupo da Associação Mulheres de Brilham. Abaixo, “Bruxinhas da vovó” e o Artesanatos produzido na Associação
gerando altos índices de desemprego e pobreza. Bruna Ribeiro, 22, é uma exceção. Quando estava prestes a concluir sua graduação em geografia pela Universidade Estadual da Paraíba, descobriu que estava grávida. Antes da criança nascer, ela conseguiu se formar, mas as dificuldades de ser mãe solo surgem diariamente. “Eu não tenho com quem deixar minha filha para trabalhar. No momento estou recebendo auxilio do governo, mas gostaria de atuar na minha área, até porque foi pra isso que eu me formei. Tudo é mais difícil pra quem precisa ser mãe e pai ao mesmo tempo.” A realidade de famílias monoparentais no Brasil cresce a cada dia e para a socióloga Beatriz Campos, 49, o caminho para amenizar esse problema é instaurar políticas de educação sexual nas instituições de ensino e abrir janelas de diálogos entre jovens e adolescentes para a conscientização, além de criar estratégias de combate ao cenário de desigualdade “O grande problema do Brasil é não gostar de falar sobre os assuntos que nos ferem. Parece que ninguém quer discutir sobre a fome, sobre a pobreza, sobre o racismo. Parece que é mais fácil dizer que não existe do que encarar de frente, sentar e conversar sobre isso pra solucionar.” Em 2021 foi aprovado pelo senado o Projeto de Lei 3717/2021 que prevê uma série de benefícios para as mulheres na assumem a condição de mães solo, no entanto, a medida ainda segue em tramitação na Câmara dos Deputados. dezembro, 2023 | baraúnas | 33
Mulheres que brilham
O ARTESANATO DESEMPENHA UM PAPEL FUNDAMENTAL NA PRESERVAÇÃO DA CULTURA, NA GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA, E NA INCLUSÃO SOCIAL Wallington Cruz
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s mulheres artesãs desempenham um papel muito importante e fundamental na preservação, valorização e na história do artesanato. Elas trazem suas habilidades, criatividade e sensibilidade para a criação de peças únicas e cheias de significado, transmitindo conhecimentos de geração em geração. Elas são responsáveis por preservar e perpetuar tradições culturais, utilizando suas habilidades manuais para criar peças que reflitam a identidade e a história de suas comunidades. Além disso, o artesanato muitas vezes se torna uma fonte de renda para as mulheres, possibilitando sua independência financeira, muitas artesãs utilizam o artesanato como meio de sustento para si e suas famílias, transformando suas habilidades em uma atividade econômica. As mulheres artesãs estão presentes em diversos segmentos do artesanato, como bordado, costura, entre outros, e cada uma delas traz consigo sua bagagem cultural e suas experiências pessoais. Para entendemos um pouco mais, a Revista Baraúnas foi conhecer a Associação Mulheres que Brilham, em Remígio na Paraíba. Fundada em 2013, a associação surgiu da união de um grupo de mulheres 34 | baraúnas
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que buscava fortalecer sua participação social e econômica. Eles acreditavam que juntas poderiam conquistar mais espaços e oportunidades, e assim, transformar suas vidas e a realidade ao seu redor. Também tem sido um importante espaço de empoderamento e transformação para as mulheres de Remígio. Através de suas ações, elas conquistaram mais autonomia, confiança e visibilidade na sociedade. Com a criação de uma rede de apoio e solidariedade entre as mulheres da comunidade, elas se ajudam mutuamente, compartilhando experiências e conhecimentos, criando um ambiente acolhedor e de suporte para todos. A associação também participa de eventos culturais e sociais, como feiras de artesanato, exposições e festivais. Elas desenvolvem diversos tipos de artesanato, como, bordados, crochê, entre outras peças, com o objetivo de valorizar e promover a produção artística e cultural das mulheres da região. Um dos “carro-chefe” na produção dentro Associação são as “bruxinhas da vovó”, essa produção consiste na confecção artesanal de bonecas, que são comercializadas como forma de geração de renda para as mulheres da associação.
FOTOS: WALLINGTON CRUZ
Dona Socorro, que já recebeu o título de mestra artesã contou “a peça que eu mais amo fazer é as bruxinhas da vovó”. As bruxinhas são feitas de tecido, com detalhes bordados à mão, e cada uma possui sua própria personalidade e estilo. Elas são criadas pelas mulheres da associação, de forma colaborativa, onde as mulheres reúnem seus conhecimentos, e dedica seu tempo e habilidades artesanais para produzi-las com muito carinho e cuidado, com detalhes que tornam especiais, como vestidos e acessórios personalizados. Cada uma contribui com seu talento e criatividade na confecção das bonecas, resultando em modelos únicos e cheios de personalidade. A Associação Mulheres que Brilham em Remígio, desempenha um papel fundamental na valorização
EMPREENDEDORAS | No alto, Grupo da Associação Mulheres de Brilham. Abaixo, “Bruxinhas da vovó” e o Artesanatos produzido na Associação
das mulheres da região. Essa valorização é de extrema importância, pois promove o fortalecimento das mulheres e o desenvolvimento social e econômico da comunidade. Essa valorização começa pelo reconhecimento do trabalho e das habilidades das mulheres envolvidas. Ao valorizar o artesanato produzido por essas mulheres, a associação se destaca pela importância do trabalho manual, da criatividade e da cultura local. Além disso, a associação oferece oportunidades de capacitação e formação para mulheres, permitindo que elas aprimorem suas habilidades e adquiram novos conhecimentos. Terezinha salientou “a associação é uma troca de experiência, é bom pra mim, é uma terapia, ao chegar à associação até esqueço os problemas”. Isso contribui para o fortalecimento individual e coletivo, aumentando sua autoestima e confiança, além de abrir portas para novas oportunidades de trabalho e renda. Portanto, ao adquirir uma Bruxinha da Vovó ou qualquer outra peça feita por elas, além de levar para casa uma peça artesanal única, o comprador também contribui para o fortalecimento e autonomia das mulheres da associação. Essa atividade de produção e venda proporciona às mulheres da Associação Mulheres que Brilham uma oportunidade de geração de renda e valorização do seu trabalho. Se você está interessado em saber mais sobre o trabalho delas ou adquirir algum produto artesanal, sugiro entrar em contato diretamente com a associação para obter mais informações. @ascmulheresquebrilham. dezembro, 2023 | baraúnas | 35
CLARA LENIRA
O ROSTO ATRÁS DAS LENTES DA FUNESC Andresa Thayane
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memória pode ser definida como a faculdade de conservar os estados de consciência passados e tudo que se ache atrelado a eles, de acordo com a definição do Dicionário Oxford. Na fotografia, esse estado de memória é responsável por construir percepções individuais e coletivas sobre um determinado momento histórico e/ ou cultural. Clara Lenira Saboia de Almeida, é natural de Mossoró - RN, reside em João Pessoa, Graduada em História, Coordenou por anos o Departamento de fotografia da Fundação Cultural da Paraíba (FUNESC), é fotógrafa e atuou em boa parte da sua vida como fotojornalista. Seu primeiro emprego foi no jornal O Norte (1908-1956), dos Diários Associados. Clara saiu de Natal até São Paulo, estudou fotografia no Senac, trabalhou em agências de publicidade e depois acabou lecionando no mesmo curso de Fotografia da instituição, mas na sede em João Pessoa e também deu aulas de fotografia no Espaço Cultural. “No SENAC era pior ainda de estrutura era onde havia uma cozinha”, o estudo e ensino de fotografia no Brasil sempre sofreu alguns impasses sobretudo pelos valores exorbitantes dos equipamentos. Diferente do tempo imortalizado nas memórias através das suas lentes fotográficas, Clara esconde as mãos, ela diz que as pessoas falam que quando se está ficando velha não se põe as mãos em evidência. Afinal
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o rosto estica, muda com o tempo, mas ainda pode ser alterado esteticamente. Entretanto as marcas do tempo em suas palmas e dedos não podem ser apagadas. É engraçado como o tempo inteiro ela costuma lembrar-me durante a entrevista que mesmo com um pouco mais de idade, a sua beleza ainda está contida em todas essas marcas do tempo. Embora a indústria da beleza goste de proporcionar a sensação de que envelhecer não é um processo natural e saudável, ele é sim e é importante respeitar a passagem do tempo. Existem duas formas de marcar o tempo, como diria Rubem Alves, uma delas foi inventada por homens apaixonados por números e a outra por homens que sabem que a vida não pode ser medida por calendários e relógios. As pessoas não são descartáveis e nem se tornam só porque atingiram certa idade. A fotografia de autoria feminina na Paraíba não possui muito destaque nos registros bibliográficos físicos, existem apenas dois materiais publicados da área que creditam fotógrafas paraibanas. Um deles é a revista Fotografia Paraibana publicada pelo XII Prêmio de Fotografia da Funarte em 2013, mas apenas Deize Euzébio está na lista, enquanto temos outros de quatorze fotógrafos homens que estão citados na publicação. O outro material é o Parahybas organizado por Rodolfo Athayde que destaca personalidades
femininas que influenciaram a sociedade paraibana, onde temos Clara Lenira citada como fotógrafa. Durante a entrevista, Clara relatou-me coisas tocantes e singelas sobre a sua relação com a fotografia, mas o que foi mais sensível para mim foi termos partilhado dos mesmos carnavais na cidade onde nasci, Recife. Saiu do Rio Grande do Norte foi até São Paulo, depois se mudou para o Recife. Se compreendeu como fotojornalista através do seu trabalho no jornal onde ela cobriu as mais diversas pautas. “ O Jornal me deu essa certeza, porque eu já trabalhava assim das mais diversas formas eventuais,mas sem esse compromisso. Quando vim morar aqui e foi o jornal essa grande escola, hoje não tem mais jornal… A gente fazia do desfile na casa de Ana Lúcia Ribeiro Coutinho na piscina, a central de polícia, a campo de futebol. A Kombi do jornal ia “, relatou Clara. Ao ser questionada sobre seu acervo, ela revelou que era autora, mas que nunca foi dona de suas fotos e essa talvez seja a afirmação mais dolorida de toda a entrevista. A discussão de direito autoral sempre foi muito cara para os trabalhadores da comunicação, especialmente da fotografia que sempre acumulou a respeito desde a sua institucionalização da fotografia no país a partir da FUNARTE, mas que ainda é um debate que tem pouca literatura a respeito.
“EU SOU AUTORA NÃO DONA” “TUDO QUE TEM AQUI É MEU, FUI QUE FOTOGRAFEI, MAS NÃO PODIA LEVAR PARA CASA“
FOTOGRAFA | CLARA Clara Lenira LENIRA em entrevista para a Revista no FOTÓGRAFA Espaço Cultural em João Pessoa
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Cléber Oliveira Nascido no berço da comunicação
FILHO DE UM DOS MAIORES NOMES DO RADIALISMO DE CAMPINA GRANDE, CLEBER É MOVIDO A DESAFIOS Daiane Ramos e Deborah Livia
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comunicador, radialista e publicitário Cléber Oliveira teve seu encontro com a comunicação muito cedo inspirado no trabalho do pai, o também radialista Joacir Oliveira. Nascido e criado na cidade de Campina Grande sendo o segundo de cinco filhos homens, desde pequeno ele o acompanhava em seus trabalhos na rádio, televisão e em eventos, onde passou a se apaixonar pela profissão. Aos 12 anos se juntou ao pai dando início a seus trabalhos na área, sendo locutor e fazendo comerciais para televisão. Dos 13 para 14 anos, o comunicador começou a trabalhar em grandes eventos, com 15, a certeza da profissão veio junto ao projeto
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idealizado em parceria com alguns colegas o “câmera 21”, portal de entretenimento onde eram feitas coberturas de eventos, dois anos depois, seu início no mundo das reportagens destinadas ao mesmo projeto. Movido a desafios, para Cléber o maior deles é atuar nas diferentes áreas da comunicação, ele é apresentador oficial do Maior São João do mundo há mais de dez anos. Seu trabalho no São João de Campina Grande iniciou há mais de quatorze anos, quando na rádio Correio, o locutor fazia rodízio com os demais profissionais para apresentar o evento. Paralelo a isso, Cléber Oliveira passou quatro anos na TV Borborema, onde apresentou os programas Tudo de bom,
Momento Junino, Conectados no tal de conhecimento para ajudar Enem e outros projetos. Atual- através de cursos, mentorias e mente, apresentando o PB CAP eventos os futuros profissionais na TV Correio, Cléber se prepara da área que assim como ele são para assumir o programa Cantos apaixonados por se comunicar, e Contos, antes apresentado pelo conhecer novas histórias e estar cantor e compositor Ton Oliveira. em constante aprendizado. Além do seu trabalho na teA maior parte de sua vida levisão e na rádio, em 2009 Clé- sempre foi dedicada à comuniber criou sua própria produtora, cação, mas ainda assim, Cléber a F5 Comunicação, logo no início já se aventurou por outras áreas. eram feitas apenas produções de Quando adolescente, o comuniáudio, mas desde 2012 trabalham cador trabalhou na padaria dos com conteúdos audiovisuais. Em pais de um dos seus amigos, além 2016 o F5 se tornou uma agência, disso, também teve experiência onde além das produções, são com atendimento comercial e em feitos conteúdos de Marketing 2013 abriu sua própria lanchonePolítico. Tote o Açaí Club dos os irmãos que foi vendido publicitádo alguns anos rio já trabadepois. lharam com Ao ser quesele, e foram tionado sobre CLEBER ATUA NA ÁREA inspiração qual conselho DA COMUNICAÇÃO, MAS daria para fupara a escoJA FEZ TRABALHOS EM lha do nome turos estudanda empresa tes de comuniDIVERSOS RAMOS E a F5 Cocação, Cléber municação é cita como se um dos proidentificar é imjetos que ele deseja fortalecer portante: “Primeiro, tem que se no futuro e novos projetos é algo identificar, assim como a escolha que todo profissional costuma de qualquer outra profissão”, ele pensar. Com Cléber, os planos ressalta que essa escolha deve agora são para consolidar o que ser feita acima de tudo com ética já vem sendo trabalhado há anos, e amor, porque realmente é algo mantendo o foco na sua agência para quem gosta mesmo. de publicidade, a F5 ComunicaAlém de se despir de qualquer ção. Expandir e conquistar novos preconceito, já que a comunicação mercados. é versátil e nos permite ter diversas Um dos planos que tem traba- possibilidades. Conhecer e experilhado também é o lançamento de mentar é mais um conselho imporuma plataforma online, um por- tante para o jovem comunicador.
POLIVANTE
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{ Resenha
Conceição Evaristo transcende a literatura contemporânea com Olhos D’água Samanta Rocha
Q
uando a personagem do conto que inicia o livro de mesmo nome, Olhos d’água, desperta no meio da noite perturbada por uma pergunta ao qual não sabe a resposta “ De que cor eram os olhos de minha mãe?” As palavras que seguem por todo o restante do conto e do livro se desabrocham como uma flor. Olhos d’água não é um livro para se consumir com rapidez. Ele segue com seu próprio ritmo, desabrochando lentamente, palavra por palavra, dando ao leitor tempo de respirar e sentir a beleza da escrita de Conceição Evaristo, bem como a agressividade com que as estórias se desenrolam. A brutalidade com que Conceição coloca a vida de personagens negros em protagonismo nas páginas de olhos dágua, nos faz imergir dentro de uma realidade ficticia que parece não estar tão longe de nós. E, como no primeiro conto, a pergunta que perturba a personagem nos passa a perturbar também. Como a personagem, eu queria correr, interromper minha leitura e ir de encontro a minha mãe que diferente da mãe da personagem, estava no cômodo ao lado do meu, para mergulhar na cor dos olhos dela e matar a curiosidade da pergunta que agora me importunava também. No conto de título Beijo na Face, o leitor se depara com o desabrochar de um amor manso e tranquilo que Salinda a personagem de Conceição vive. “No princípio a aprendizagem lhe custara muito. Acostumada ao amor
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que tudo pode ser gritado, exibido aos quatro ventos, Salinda perdeu o chão. Habituada ao amor que pede e permite testemunhas, inclusive nas horas do desamor, viver silente tamanha emoção, era como deglutir a própria boca, repleta de fala desejosa de contar as glórias amorosas. E por que não gritar, não pichar pelos muros, não expor em outdoor a grandeza do sentimento? Não, não era a ostentação que aquele amor pedia. O amor pedia o direito de amar somente.” As histórias ali contadas nos levam a crer que aqueles personagens são velhos conhecidos nossos, daqueles que todos os dias no mesmo horário pegam o ônibus das sete da manhã junto conosco, para além da ficção, Conceição Evaristo cria um laço do leitor com o personagem, fazendo com que quem está lendo mergulhe na história daquele velho conhecido do ponto do ônibus e é por esse motivo que a leitura deve ser lenta e sem pressa de chegar ao fim. Descobrir e mergulhar na vida de personagens que parecem tão reais, com problemas tão mundanos quanto os nossos, pede espaço para respirar e digerir o que foi lido. A autora mostra como a vida comum é nua, dura e crua, mas que nem mesmo na morte a vida deixa de ter sua beleza, e é com essa beleza nua, dura e crua que os contos de Olhos d’água se
desabrocham para o leitor. A HISTÓRIA DO LIVRO Olhos D’água é uma reunião de contos. Alguns já haviam sido publicados em meados dos anos noventa através da série literária Cadernos Negros da editora quilombhoje que abre espaço e veicula textos de autas e autores afrobrasileiro, e outros inéditos. O livro foi originalmente publicado em 2014 através de um projeto do Ministério Da Cultura e da Biblioteca Nacional, com o objetivo de dar visibilidade a escritoras e escritores afro-brasileiros. Em 2015 a autora recebeu o Prêmio Jabuti, o mais tradicional prêmio literário brasileiro, na categoria contos. O prêmio trouxe uma grande visibilidade para o livro e para autora que apesar de já ter outros livros publicados não era tão conhecida; Foi preciso que Conceição Evaristo recebesse um prêmio para que seu nome fosse legitimado dentro da literatura brasileira e ela fosse reconhecida como tal.
A AUTORA Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em Belo Horizonte, em 1946. De origem humilde, migrou para o Rio de Janeiro na década de 1970. Graduada em Letras pela UFRJ, trabalhou como professora da rede pública de ensino da capital fluminense. É Mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, com a dissertação Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade (1996), e Doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense, com a tese Poemas malungos, cânticos irmãos (2011), na qual estuda as obras poéticas dos afro-brasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira em confronto com a do angolano Agostinho Neto.
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