Revista julho de 2014

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vitória Ano IX

Nº 107

Julho de 2014

Revista da Arquidiocese de Vitória - ES

Entrevista

Dom Décio e seus projetos para o futuro

ARQUIVO E MEMÓRIA

A Igreja e o Esporte

reportagem

Os deslaços da

globalização


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Tecnologia em ĂĄudio para sua igreja!

Av. Carlos Lindemberg, 6231, Loja 06, Cobilândia, Vila Velha - ES CEP: 29111-165 | Telefone: (27) 3286-0913 E-mail: sonora@sonoraaudiopro.com.br


vitória Revista da Arquidiocese de Vitória - ES

Ano IX – Edição 107 – Julho/2014 Publicação da Arquidiocese de Vitória

08

Diálogos A Igreja e o poder

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arte sacra Rosácea

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micronotícias Empresas Juniores

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mundo litúrgico As insígnias episcopais

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Comunidade de comunidades São Cristóvão, aquele que carrega Cristo

Atualidade As bondades para o Brasil

05 Pensar 21 ESPIRITUALIDADE 30 ASPAS 31 ESPECIAL

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06

entrevista

34 IDEIAS 38 REFLEXÕES 42 ENSINAMENTOS 46 ACONTECE

Dom Décio fala sobre projetos para o futuro

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reportagem

Os deslaços da globalização

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CAMINHOS DA BÍBLIA Uma comunidade de Palavra e Vida

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VIVER BEM Do limão à limonada

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prática do saber Universidade leva a prática da cidadania a municípios

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ARQUIVO E MEMÓRIA A Igreja e o Esporte

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CULTURA CAPIXABA A festa da Carretela

Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispos Auxiliares: Dom Rubens Sevilha, Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Gilliard Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin • Revisão de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: comercial@redeamericaes. com.br - (27) 3198-0850 • Fale com a revista vitória: mitra.noticias@aves.org.br • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062 • Ilustrador: Kiko, Rennan Mutz • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica 4 Irmãos - (27) 3326-1555


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w w w. a v e s . o r g . b r

fale com a gente

editorial

Laços e deslaços

O

brasileiro cultiva com muito afinco os laços familiares e facilmente manifesta seu patriotismo acentuado. Mas a globalização chegou à nação brasileira com a mesma intensidade que em outros países. Ser cidadão do mundo afeta a relação familiar e diminui o patriotismo? O ambiente de trabalho sofre com esse novo sentimento de “posso viver e trabalhar em qualquer lugar do planeta”? Conhecer pessoas, países, aprender outros idiomas, fazer novas experiências e atuar em áreas diferentes de trabalho provoca deslaços nos laços tradicionalmente intocáveis como família, país de origem e empresa de trabalho? A globalização faz-nos repensar a importância dos laços e a tendência dos deslaços que esta edição aborda na reportagem. Maria da Luz Fernandes Editora


Magno Lima Fotografia

pensar


diálogos

a igreja e o poder “Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, aquele que quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro dentre vós seja o vosso servo.” (Mt.20,26-27)

Igreja de Jesus Cristo não A se entende como instância de poder conforme o mundo en-

tende. O Mistério da Encarnação do Verbo de Deus deixa-nos bem claro que o conceito e a prática do poder no mundo é totalmente diferente do conceito que Jesus ensinou aos apóstolos e recomendou que fizessem como Ele fez. O Lava-pés é a expressão do conteúdo do “poder”. Lavar os pés do semelhante é um exercício de poder! Escândalo para os poderosos deste mundo. Para entender o sentido profundo do poder, ensinado e exercido por Jesus, é preciso mudar de mentalidade, mudar o coração. O adulto precisa aprender com Jesus como fazer-se criança, fraco, pequeno e despojado. A Igreja é convocada pelo Mestre, que é a sua Cabeça, a entrar no mistério 6

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da “kenosis”, do despojamento, para exercer, em nome de Jesus, o poder que vem do Alto e adentra a alma do homem e da mulher, nascidos no Batismo e elevados à dignidade de filhos de Deus, membros da Família de Deus. “Entre vós quem quiser ser o primeiro seja vosso servo”! (Mt 20, 27). Foi o que Jesus fez. Palavra Criadora que se fez obediente ao Pai Criador, Palavra Redentora que liberta toda a criação da escravidão do pecado através do Amor. É o que a Igreja deve fazer como continuadora da missão do Salvador. Igreja, digo, Corpo de Cristo, Povo de Deus, fiéis cristãos leigos ou membros da hierarquia. Todos somos irmãos e servos uns dos outros. A humanidade continua precisando do serviço sacramental libertador de Cristo na história, através da Igreja, serva da mesma humanidade. Mas, por que hierarquia na Igreja se somos todos servos? Porque a hierarquia não é uma instância de poder segundo a mentalidade

do mundo, mas segundo a Cabeça dela que é Cristo Jesus. A hierarquia da Igreja não é uma instância de poder conforme é entendida num sistema monárquico, imperial onde manda o mais poderoso. A Igreja faz uso da cultura monárquica com um conteúdo totalmente diferente, onde e quando o “poder” é “poder-serviço”. Serviço da unidade dos servos, da Comunhão dos servos no Servo Jesus Cristo. Tanto que o diácono, o presbítero e o bispo são escolhidos pela Igreja para prestarem um serviço específico, um “poder-serviço”, o sagrado serviço da proclamação da Palavra e dos Sacramentos, como também o serviço da Comunhão eclesial, governando a Igreja em vista do Mistério de Unidade, da Comunhão como Sinal do Grande Mistério da Trindade. A partir da Santa Ceia Jesus manifestou sua autoridade lavando os pés dos apóstolos. É quando nasce a Igreja e sua hierarquia, todos como servos e servidores da Comunhão Libertadora. O Primeiro fez-se servo de todos. No interior da Igreja, não pode haver “imperador” ou “senhor e senhora” detentor do poder. Isto é sinal de pecado. Toda liderança, seja


do papa, bispo, padre ou leigo de uma pequena comunidade, de um movimento eclesial, é liderança de servidor e não de dominador. O poder ensinado e introduzido por Jesus é “poder-serviço”. Não existe dono de comunidade eclesial ou da igreja. Um só é o Senhor e Servo de todos, Nosso Senhor Jesus Cristo. Todos são irmãos por direito batismal e servos por dever batismal. Todos, na Igreja, são convocados para o serviço da Comunhão. Porém, como estamos a caminho, em marcha para o céu, o testemunho de comunhão nem sempre tem sido vivido e testemunhado como Jesus ensinou e recomendou aos discípulos e apóstolos. Por isso, a história da Igreja, além de ser história de comunhão e graça tem sido também história de pecado. Esta caminhada é bem parecida com a experiência dos hebreus que libertados da escravidão egípcia, ao experimentarem o deserto ficaram com saudade das cebolas do Egito. A ingratidão e o desejo de poder figurado no bezerro de ouro elucida muitos sinais de pecado na nossa história eclesial. A Páscoa de Jesus vai acontecendo na história de todos os dias. Assim vemos entre nós a experiência libertadora do poder que escraviza e também as recaídas na escravidão do poder

do mundo. A liberdade da cidadania do céu é, na história, tentada e combatida pela cidadania do mundo do egoísmo escravista. Assim a Igreja, não poucas vezes, manifesta o seu rosto de pecadora, seja entre os membros da hierarquia, seja entre os fiéis cristãos leigos, através de um “poder mundano,” dominador e destruidor. A Páscoa acontece nesta dialética entre o “poder do mundo”, satânico, divisor, destruidor, e o “poder do mundo” do amor, da gratuidade, do serviço libertador. Não se trata de luta entre os dois poderes porque Jesus já venceu o pecado, o poder do mundo, mas trata-se do acolhimento pessoal e livre à Graça Libertadora doada por Jesus. O cristão acolheu a Graça Libertadora e vive na história a missão de servidor do Reino e Reinado de Deus, uma novidade do exercício e testemunho do poder que liberta e produz somente amor e paz porque a sua raiz é o Amor, a sua força motriz é o Amor e o seu destino é o Amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Então, todos os serviços e funções na Igreja não são e, não podem ser, poder de dominação, opressão do semelhante, mas serviço de comunhão na fé libertadora de Jesus Cristo, nosso Salvador e único Senhor da História.

A concorrência na Igreja deve ser somente no amor como nos ensina São Paulo “Portanto, pelo conforto que há em Cristo, pela consolação que há no Amor, pela comunhão do Espírito, por toda a ternura e compaixão, levai à plenitude a minha alegria, pondo-vos acordes no mesmo sentimento, no mesmo amor, numa só alma, num só pensamento, nada fazendo por competição e vanglória, mas com humildade, julgando cada um os outros superiores a si mesmo, nem cuidando um só do que é seu, mas também do que é dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” ( Filip.2,1-5). “Irmãos eu vos exorto, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, a que estejais todos de acordo no que falais e não haja divisões entre vós. Pelo contrário. Sede bem unidos no sentir e no pensar” (1cor 1,10). Portanto, o cristão esteja onde estiver só será verdadeiro discípulo ou discípula de Cristo, seja ele membro da hierarquia ou fiel cristão leigo, no mundo, se viver e der testemunho de servo ou servidor do Reino de Deus. Ele é filho ou filha de Deus, membro da Igreja de Cristo, convocada a ser na história da humanidade, Sinal do Reino de Deus e Sinal da Trindade. Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. Arcebispo Metropolitano de Vitória ES

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Atualidade Da redação

As

“bondades” que o Brasil precisa

E

m meados de junho a presidente Dilma Rousseff surpreendeu o Brasil com o anúncio do “pacote de bondades” aos empresários do país. Apontada por diversas categorias por ser de pouco diálogo, a presidente surpreende o setor privado com três encontros no espaço de um mês. Dizem os analistas que a aproximação do empresariado com os candidatos de oposição é a grande razão do empenho da presidente. Pode ser. Em tempo de pré-campanha talvez a presidente entenda que deve ouvir mais, afinal as críticas nesse sentido são fortes e não chegam apenas do lado empresarial. Seja como for vale o exercício da escuta mesmo que acompanhado da atitude política de “dar respostas” na hora das promessas em vista de reeleição. O Governo anunciou como medidas para estimular a economia, mas a imprensa intitulou de “pacote de bondades” e “afagos”. 8

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Não tem como criticar a presidente por fazer o que tem sido pedido, mas transformar o silêncio de três anos em diálogos intensivos em cinco meses talvez possa atender algumas categorias, mas não atenderá as demandas no seu todo. Outra pergunta que se coloca é sobre a realidade social do país. De quais “bondades” o país precisa? O Instituto Trata Brasil

divulgou em março deste ano que: 52% dos municípios não têm coleta domiciliar de esgoto. Dos 48% coletados apenas 38% são tratados. Para Washington Novaes isso significa 25 mil toneladas diárias de dejetos nos rios, o que aponta um novo problema que empobrece o país e coloca a população em risco, o meio ambiente e a saúde pública.

QUE BONDADE PODERIA SER FEITA PARA MUDAR ESTA REALIDADE?

O tamanho da pobreza no Brasil

Segundo o Ipea são cerca de 50 milhões de pessoas que passam por dificuldades e vivem em situação de pobreza. Nesse total incluem-se os pobres e os que vivem do Bolsa Família (7 milhões de pobres e 40 milhões do Bolsa Família).


QUE BONDADE PODERIA SER FEITA PARA MUDAR ESTA REALIDADE?

O atendimento à saúde O mapa do Brasil, se comparado ao número de médicos por grupo de pacientes ideal, mostra um quadro difícil de ser modificado para atender a população.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/infograficos/2014/03/82356-radiografia-da-saude.shtml

Em artigo publicado em 2009 intitulado “As Riquezas do meu país”, Giuseppe Martino, administrador, especialista em gestão, escreveu: “O Brasil é o quinto maior país do mundo em território e em população. Possui a maior floresta tropical, a maior biodiversidade, a maior reserva de água doce subterrânea cujos estudos indicam que abasteceria por 20 anos a população mundial; o maior rio em volume e em extensão, a maior bacia hidrográfica, possui a nona maior empresa de energia e a maior empresa de exploração de petróleo em águas profundas, a melhor instituição financeira em tecnologia, a décima maior economia, o oitavo maior PIB, um litoral extenso, lindo e com águas quentes e ainda é um país com condições de clima favoráveis ao turismo, à vida e ao cultivo, onde cresce quase tudo o que se planta. Mas por que será que o Brasil continua perdendo infinitamente e em todos os setores (econômicos, sociais, políticos) para países onde mal se consegue andar na rua de tão frio, minúsculos, sem recursos naturais Julho/2014

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Atualidade

e que não tem nem metade das riquezas naturais do Brasil”? E continua: “Como explicar que depois da segunda guerra mundial, a Alemanha, Itália e Japão, países destroçados economicamente, fisicamente e moralmente, em apenas 40 anos conseguiram se reerguer e estar entre as maiores potências no cenário mundial? E o Brasil com mais de 500 anos de existência ainda não consegue alcançar o lugar de destaque mundial a exemplo dos países acima citados? A resposta é óbvia, somos um país muito mal administrado. Parafraseando (Vladimir Illitch Ulianov) Lenin: “a prática é o único critério para se avaliar a verdade”. Praticamente não sabemos administrar nossas dívidas, os Estados, a nossa previdência, a nossa educação, a nossa saúde

pública e nem a nossa segurança”. E Martino atribui ao Estado a responsabilidade de enfrentar o problema e buscar a solução: “quando falamos de Estado, enquanto organismos, verifica-se que possui duas faces: uma mutável e outra imutável. A face do governante, ocupante do cargo, muda de acordo com as decisões dos eleitores e dos colégios eleitorais, conforme suas próprias conveniências políticas, sendo que os nossos governantes não têm uma formação em administração e na maioria das vezes os escolhidos para compor o primeiro e segundo escalão da máquina administrativa pública são amigos de campanha ou colegas da época estudantil que, certamente, tomam decisões por critérios políticos em detrimento à experiência administrativa. A outra face é a estrutura

O tamanho da burocracia A economia brasileira desperdiça R$ 46 excesso de burocracia, segundo a Fiesp.

bilhões

Desde a Constituição de 1988, foram editadas somando União, Estados e municípios.

por ano por causa do

4,4 milhões de normas,

Apenas 13% dessas normas estão em vigor. Muitas servem apenas para revogar regras anteriores.

Em média, são editadas 776

normas por dia útil, ou 32 por hora.

Juntas, essas normas publicadas a cada dia têm mais de 2 milhões de palavras. Existem hoje no Brasil, de julgamento.

86,6 milhões de processos judiciais pendentes

Fonte: Fundação das Indústrias de São Paulo (Fiesp)

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jurídica em que se assenta e cria seu arcabouço burocrático onde tudo emperra, não anda pela falta de uma rubrica, selo, carimbo, horas de recebimento, falta de funcionário, mau humor do gestor e grande parafernália de leis cheias de brechas e recursos de “ampla defesa” aonde todos são culpados, mas ninguém é condenado”. Alguns analistas consideraram “as bondades” apresentadas pela presidente Dilma Rosseff à indústria recentemente, como medidas sem impacto. Referiram duas especificamente: a recriação do Reintegra (programa que dá aos exportadores um crédito de PIS/Cofins sobre as vendas de manufaturados no exterior) e, a remodulação do Refis (programa que permite o pagamento de dívidas tributárias vencidas até dezembro de 2013 em condições favoráveis) para exemplificar. Elas trazem alguma compensação, um pequeno agrado, mas não resolvem o problema. “Bondades” agradam aos grupos que são beneficiados, mas parece que as “bondades” que o Brasil precisa não podem ser oferecidas em dosagens específicas que atendam a algumas categorias. O pacote de bondades que o Brasil precisa está descrito no documento 91 da CNBB (Por uma Reforma do Estado com Participação Democrática) lançado em 2011.


arte sacra

rosácea “Enquanto as igrejas românicas eram escuras, lembrando cavernas, as catedrais góticas são exuberantes, convidam a olhar para o alto e dão um sentido ascensional ao ato de estar na igreja. (...) Sem falar nas cores das rosáceas, em que o vermelho se destaca. A intenção era que, durante as Vésperas e na Hora Mariana, a luminosidade filtrada criasse a sensação de um incêndio, verdadeiro fogo iniciático”.

A

rosácea, grande abertura circular, é um elemento arquitetônico ornamental próprio das catedrais do estilo gótico, presente em quase todas as igrejas construídas entre os séculos XII e XIV. Apresenta-se sobre o portal da fachada principal ou no transepto. Sua decoração é feita em sentido radial, com vidros co-

Estrutura de uma igreja Gótica

(E. Pellizari)

loridos, representando pétalas de rosa de forma estilizada, origem do nome. A arquitetura deste período, vertical e majestosa, apresentando torres de pontas agulhadas e arcos ogivais, convida à união com o divino e se desenvolve a partir do surgimento das pequenas cidades, com a intensificação das relações de comércio. As inovações técnicas trazem grandes mudanças na construção das igrejas: na fachada, três portais de acesso às três naves, e na estrutura, abertura de grandes vãos para entrada da luz, antes impossível. A rosácea, com origem no “oculus” romano e tendo sido pequena ja-

nela no estilo românico, pode, agora, abranger toda a largura da nave. Como os grandes vitrais deste período, a rosácea permite, através da luz e da cor, a ascensão ao sagrado e o conhecimento da Bíblia. Geralmente, no centro de sua composição, surge uma figura: os mais retratados são a Virgem Maria com o Menino, cenas da vida de Cristo e dos apóstolos ou outras histórias bíblicas. Durante o período do seu uso, passa por transformações na sua forma de representação

até chegar aos desenhos rendilhados em pedra (traceria) e usa vidros com cores fortes que acentuam o realismo da representação. No Brasil, temos alguns exemplos neogóticos que também apresentam a rosácea em sua composição arquitetônica, como a Catedral da Sé – SP. De cores vibrantes e com forte atração pela luz filtrada, são ornatos belíssimos que ajudam a compor um ambiente favorável à oração pessoal e comunitária em nossas igrejas.

Raquel Tonini, membro da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese de Vitória e Grupo de Reflexão do Setor Espaço Celebrativo da Comissão Litúrgica da CNBB

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micronotícias

Empresa Junior qualidade por um custo abaixo do mercado, propiciando soluções acessíveis e a ajuda necessária para os desafios encontrados pelas micro e pequenas empresas. Esse é o contexto que insere as empresas juniores como desenvolvedoras de um importante papel socioeconômico.

Engenharias e ciências sociais aplicadas representam mais de 50% das EJs brasileiras

*Tecnologia da informação, biotecnologia, ciências e tecnologia e design de produtos

Fote: Censo e identidade 2012/Brasil Júnior

erar profissionais G diferenciados à sociedade e oferecer serviços de

Seleção e participação O que é uma empresa junior? Empresa Júnior (EJ) é uma associação civil, sem fins econômicos, constituída e gerida exclusivamente por alunos de graduação de estabelecimentos de ensino superior, que presta serviços e desenvolve projetos para empresas, entidades e sociedade em geral, nas suas áreas de atuação, sob a orientação de professores e profissionais especializados.

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Qualquer estudante da graduação do ensino superior pode fazer parte de uma empresa júnior ligada ao seu curso, mas é preciso passar por um processo seletivo rigoroso, assim como as grandes empresas fazem para escolher seus estagiários e trainees, com provas de conhecimentos gerais, redação, dinâmicas de grupo e entrevistas. A busca é por pessoas dispostas a aprender e a ajudar a desenvolver a empresa.


A experiência de quem já passou por uma Empresa Junior Samara Verneck é estudante de Publicidade e Propaganda da Ufes e vivenciou por 1 ano e meio a experiência da Empresa Junior de Comunicação (Ecos Jr.) da Universidade. Além disso, Samara atuou por dois anos na Federação Capixaba de Empresa Junior.

Empresa JUnior no Brasil O Brasil é o país com o maior número de empresas juniores do mundo. O Movimento Empresa Júnior (MEJ) no Brasil é representado por 27 mil universitários em 1,1 mil empresas juniores de diferentes atuações (comunicação, engenharia, medicina, psicologia, turismo, computação, administração, etc.) com um faturamento anual de R$ 8,5 milhões, realizando mais de 2.500 projetos por ano, conforme dados da Confederação Brasileira de Empresas Juniores – Brasil Jr.

O que te acrescentou essa experiência? Hoje me sinto totalmente diferente das outras pessoas da minha turma que não passaram por essa experiência. A Empresa Junior te prepara profissionalmente, proporciona aprendizado em outras áreas que o curso não oferece, ou seja, cada vez mais jovens estão abrindo seu próprio negócio e tornando-se empresários que fazem a diferença. Você se torna realmente um agente transformador da sociedade. Abrem-se mais portas para quem participa de uma Empresa Junior? Sim, muitas. Muitas empresas reconhecem o estudante como um universitário diferenciado no mercado, quando tem no currículo essa atuação. A empresa acredita no potencial e no preparo que esse estudante teve durante os trabalhos na EJ, e por isso contratam mesmo. Atualmente empresas como Itaú, Falconi e Ambev já possuem processos seletivos específicos para empresários juniores. Hoje estagio na Red Bull, uma empresa mundialmente conhecida, e com toda certeza devo isso ao que aprendi na Empresa Junior, às pessoas que conheci e a todo o desenvolvimento a que fui submetida como empresária junior.

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entrevista

Letícia Bazet Maria Da Luz Fernandes

“Colatina vai sentir que de Deus, não um moment Dom Décio Sossai Zandonade, bispo emérito da diocese de Colatina fala sobre seu novo momento, projetos futuros e sentimentos perante a situação atual

vitória - O senhor já pediu

a renúncia em 2010. Se fosse hoje ainda pediria? Dom Décio - Talvez não. Há momentos muito difíceis. Como alguém mesmo já comentou comigo, bispo tem que ter duas coisas: carisma e báculo. Eu adoro estar presente, tenho um jeito humano de me relacionar. O outro lado é o báculo do governo. Eu nunca me senti bem para governar. Ou seja, hoje se exige paciência, visão ampla, determinação, e isso não é muito do meu feitio. Eu sou muito contemporizador, deixo as coisas passarem, pra ver se resolvem. No momento que pedi, tinha problemas internos, eu não sabia por onde caminhar e isso me pressionou. Havia também situações pessoais de saúde. Se eu estivesse no momento de hoje, talvez não pediria, porque me sinto bem. Mas, se o pedido foi feito e o Papa resolveu aceitar, é sinal que esse é o caminho que Deus quer para a Diocese de Co-


este foi um momento o pessoal de Dom Décio.” latina. Vou cuidar daquilo que a Providência Divina me inspirar. vitória - A providência já inspirou alguma coisa? Dom Décio - Eu sou como Dom Bosco, eu tento ser contemplativo na ação. Você tem que ter momentos de deserto, de retirada, para que depois você facilmente se coloque numa atitude contemplativa no cotidiano. O que o mundo de hoje precisa mais é disso. vitória - Recentemente o

senhor fez uma experiência de um retiro diferente pelas montanhas? Dom Décio - É um pouco isso. Entrar em contato com a natureza, ter momentos de contemplação, de leitura orante. Mas não gostaria de viver isolado, acho que não é a minha vocação. Talvez isso se concentre melhor no projeto do Santuário Diocesano Nossa Senhora da Saúde, em Ibiraçu. Lá eu posso ter um lugar de contemplação e um lugar de atendimento. Junto com isso, tem o IESIS, Instituto Espírito Santo de Inovação Social. O se-

vitória - O que se pensa em

“Eu não quero que a Diocese de Colatina volte para trás. Peço para o Espírito Santo, que suscite para a Igreja de Colatina, um bispo que seja o bispo do momento

A estrutura já foi reformada, agora é tentar montar cursos, encontros, para a formação de lideranças com princípios cristãos e éticos, que possam transformar a sociedade. Eu queria focar minha vida nestes dois espaços, o espaço do Santuário Diocesano e o espaço do IESIS, no antigo seminário.

realmente transmitir alguma coisa diferente para formar a sociedade. E a educação através dos meios de comunicação, que é outro grande desafio, porque tem a internet, esse mundo enorme onde estão as crianças e a juventude, nós estamos ausentes.

vitória - O senhor tramitou

vitória - No início de nossa

minário de Ibiraçu é um espaço que eu sempre vislumbrei como um espaço privilegiado da diocese, porque ele está colocado num centro estratégico. fazer lá?

Dom Décio -

em várias áreas: comunicação, política, educação. Na relação Igreja/sociedade, onde a Igreja precisa atuar mais fortemente? Dom Décio - Esse campo educativo eu acho que seria importante. Uma educação num sentido mais amplo, que privilegie os mais pobres, tente buscar estruturas de formação de valores com crianças pequenas. Depois, as escolas, a Pastoral da Educação não atua para que os professores possam

conversa o senhor falou que lhe agrada o relacionamento humano, mas o bispo também tem que gerenciar pessoas, projetos e processos e o senhor buscou ajuda para gerenciar a diocese. Como se dá a relação carisma/vocação e carisma/ gerente? Dom Décio - A minha dúvida foi sempre essa. Eu tentei fazer e há algumas análises exteriores de psicólogos que dizem que eu Julho/2014

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entrevista

Letícia Bazet Maria Da Luz Fernandes

teria o perfil ideal para o bispo que o mundo precisa hoje. Ou seja, um jeito de escutar, esperar, de não tomar decisões repentinas. Mas isso me incomodava, eu acho que isso tem certo limite, eu acho que em certos momentos tem que haver decisões, decisões precisas, que dêem limites, orientação, que façam as coisas acontecerem. Eu procurei aqui encontrar um jeito de unir carisma e poder. Senti dificuldade. Mas, é claro, hoje o poder se expressa muito mais numa preparação bem feita de um projeto pastoral diocesano. E isso nós procuramos fazer, também com o auxílio de especialistas do SEBRAE, as equipes de planejamento de empresas, de tal maneira que as pessoas pudessem participar e sair um pouco dessa reclusão de um mundo puramente eclesial. Eu acho que, de fato, através do projeto diocesano de evangelização, a gente conseguiu fazer com que muitas coisas caminhassem e se estruturassem melhor. O poder acaba suscitando uma certa dimensão de “eu mando aqui”, “eu que mando, eu que sei” e não é isso. Hoje você tem que trabalhar muito a escuta, a observação, a riqueza do entorno. Hoje, o bispo tem que ser um bispo de muito relacionamento, de muita escuta, buscar assessoria, não tanto só interna, mas externa, para poder tomar decisões que sejam oportunas, na hora certa, com 16

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as características que o mundo de hoje precisa. vitória - Durante as asses-

“Que esse jeito de ser da Diocese de Colatina continue fortalecendo as comunidades, voltarse para os mais simples, multiplicar os ministérios para que a Igreja se torne mais presente nas grandes periferias urbanas. Continuar nesse caminho, tendo ousadia e coragem, como diz o Papa, “dar passos novos”. Eu não quero que a Diocese de Colatina volte para trás. Peço para o Espírito Santo, que suscite para a Igreja de Colatina, um bispo que seja o bispo do momento.”

sorias externas, em algum momento, o senhor teve que dizer “isso não pode ser feito na Igreja”? O que faz a diferença, onde está o limite da exigência de uma liderança da Igreja, de uma autoridade eclesiástica e de uma autoridade empresarial? Dom Décio - A dimensão da caridade, a dimensão do amor, a dimensão do transcendente. O objetivo da empresa é alcançar o lucro, o sucesso e assim por diante. E tudo isso é que determina as decisões, se alguém se encaixa nisso, vai, se não encaixa, é retirado automaticamente. Na Igreja, não. O relacionamento com pessoas, com o mistério das pessoas, envolve um modo diferenciado de tratá-las, de esperar, de dialogar, de conversar. Se bem que isso também está sendo assumido por empresas hoje, o sistema dialógico, de escuta é muito mais forte. Na Igreja, aquilo que numa empresa se resolveria num toque, rapidamente se tomaria uma decisão, você tem que respeitar a pessoa, você tem que escutar, tem que informar, é uma série de desafios diferentes. vitória - O senhor continua

na diocese? Dom Décio - Dom Wladimir (Lo-


pes Dias) continua bispo auxiliar de Vitória, portanto, ele tem obrigações lá. Ele perguntou se eu podia ajudá-lo até chegar o outro bispo, mas depois que o bispo definitivo estiver aqui eu quero vivenciar realmente essa liberdade que me traz a renúncia. Até chegar lá, exerço a função de vigário geral da diocese, uma espécie de substituto do administrador apostólico. vitória - E essa nova condição

dentro da Cúria? Já entrou na sala errada? Dom Décio - Não, desde o dia que eu renunciei deixei a sala. Lá é o bispo, é o administrador diocesano, é o administrador apostólico. vitória - Qual foi o sentimento na hora que o Papa aceitou sua renúncia? Dom Décio - Veio-me muito o sentimento de covardia. Então bateu aquela dúvida: “Você não está tendo uma atitude ‘covarde’, se acomodando a um projeto pessoal e não ao amor à Igreja como tal?”, mas uma mudança numa diocese também, eu acho que faz bem. Eu estou assimilando como uma graça de Deus. Não para mim só, mas uma graça de Deus para a Diocese de Colatina. Ela vai sentir que foi um momento de Deus, não foi um momento pessoal de Dom Décio. vitória - O que o senhor diz

nesse momento para a Diocese de Colatina e para a Igreja do Espírito Santo? Dom Décio - Que esse jeito de ser da Diocese de Colatina continue fortalecendo as comunidades, voltar-se para os mais simples, multiplicar os ministérios para que a Igreja se torne mais presente nas grandes periferias urbanas. Continuar nesse caminho, tendo ousadia e coragem, como diz o Papa, “dar passos novos”. Eu não quero que a Diocese de Colatina volte para trás. Peço para o Espírito Santo, que suscite para a Igreja de Colatina, um bispo que seja o bispo do momento. Para o Espírito Santo, nós precisamos compreender que temos essa peculiaridade diferente das outras Igrejas do Brasil e que talvez ainda não foi suficientemente valorizada. Temos que exportar esse rosto capixaba de ser Igreja, onde as quatro dioceses se irmanam, onde nós nos encontramos numa formação permanente e continuada, onde a gente tem que se aprofundar em nível de relação com o gerenciamento público, crescer nisso. O governo civil e o religioso precisam andar juntos.

uma pessoa que não tem dificuldade de se relacionar, que não tem muita força decisória, mas fortalece a comunhão, é um alguém muito ligado à base das comunidades rurais, é alguém que cresceu formado na Escola Salesiana, portanto, do jeito de ser dos Salesianos, sobretudo, com a formação de Dom Bosco. Ele podia ser proposto como modelo de um padre diocesano, era criativo, experiente, comunicador, criador. Eu tentei procurar realizar em mim um pouco desse jeito de Dom Bosco, ser um homem de Deus. Mas, é claro, um cara ainda com muito limite no sentido de relacionamento com as pessoas e que pode crescer mais.

vitória - Se o senhor pudesse resumir, definir quem é Dom Décio? Dom Décio - É um homem que não tem características excepcionais, é um ser comum, é Julho/2014

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Mundo litúrgico

Insígnias, sinais do ministério episcopal

“O

nde comparecer o Bispo, aí se deve juntar a multidão, tal como, onde estiver Jesus Cristo, aí está a Igreja católica”, sentença ensinada por Santo Inácio de Antioquia ainda no primeiro século da era cristã. Santo Agostinho escreveu também que para o seu povo ele era bispo e com o povo ele era um cristão. De fato, o Bispo é um discípulo de Jesus Cristo, humano, semelhante a todos os fiéis, mas o ministério episcopal faz dele sinal sacramental. O que ele significa para nós, por desígnio divino, vai além da frágil figura humana. Ele é o elo da Igreja com Cristo, pois através da sucessão dos apóstolos transmitida aos bispos somos guiados pelos mesmos pastores escolhidos pelo Senhor. O bispo é o sinal visível de comunhão da Igreja Particular em si e dela com a Igreja universal. Toda

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essa realidade verdadeiramente espiritual ganha visibilidade pelas suas vestes, paramentos e insígnias com que foram honrados ao longo da história. No dia da Ordenação Episcopal, o eleito recebe algumas insígnias que embora de uso consagradamente litúrgico, não se limitam às celebrações e revelam outros atributos do ministério do Bispo. A primeira é o solidéu (que significa “só para Deus”), pequena cobertura redonda usada sobre a cabeça de cor violácea e quando cardeal vermelha, e sobre o solidéu a mitra, tipo de chapéu pontiagudo com duas tiras (ínfolas) que pendem nas costas. Os grandes mestres usavam desde a antiguidade algum tipo de chapéu ornando a cabeça. Para o bispo, além de por em relevo a sabedoria recorda que ela não vem de si, mas de quem está acima dele, o próprio Deus que o assiste a todo

tempo por meio do seu Espírito Santo. Somente na presença do Senhor no Santíssimo Sacramento o bispo se apresenta de cabeça descoberta. Como guardião da fé, a mitra é sinal do capacete espiritual do bispo para a defesa da verdade. Para tanto sua cabeça foi ungida com o óleo do crisma no dia da ordenação episcopal e recebeu


O que é a missa estacional do Bispo Diocesano?

o livro dos Evangelhos para seu ensino. No dedo anelar da mão direita, o bispo recebe também o anel, símbolo da fidelidade à Igreja, esposa de Cristo, a quem ao bispo é confiada a guarda e proteção. Com essa mesma mão ele passará abençoando seu povo e na mão esquerda, enquanto caminha, o bispo portará o báculo pastoral, talvez, de todas as insígnias, a mais significativa e que facilmente as pessoas identificam como o cajado do pastor. De fato, o bispo revelará em si as feições de Jesus, o Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas (cf. Jo 10,11). Os arcebispos metropolitanos, bispos de Igrejas mais antigas e de grande importância, são incumbidos de zelo, em situações muito especiais, pelas dioceses vizinhas que formam a Província Eclesiástica (as chamadas dioceses sufragâneas). Em função disso recebem uma distinção com o uso do pálio: uma tira de lã que envolve o pescoço e pende no peito e nas costas com cinco cruzes pretas e recorda o Bom Pastor que leva em seus ombros a ovelha tresmalhada. As 5 cruzes fazem referência às 5 chagas do

Salvador, sendo que 3 delas, a da frente, do ombro esquerdo e das costas podem ser perpassadas por 3 cravos, lembrando aqueles que prenderam o Senhor ao madeiro. O Pastor Divino também se fez ovelha, o Cordeiro imolado, único capaz de salvar os homens de seus pecados (cf. Jo 1,29). O ministério do bispo, longe de ser uma honra, é na verdade uma verdadeira cruz, onde homens chamados pelo Senhor para suceder seus apóstolos tomam com coragem em seus ombros as ovelhas feridas e sobre si a cruz e as marcas da paixão.

É chamada Missa Estacional a celebração presidida pelo Bispo Diocesano, principalmente na Igreja Catedral, em momentos especiais no Ano Litúrgico, como a Missa para a consagração dos óleos, o padroeiro da diocese, aniversário de sua ordenação ou dedicação da catedral dentre outras. Além de manifestar a unidade visível da Igreja, apresenta a diversidade de ministérios em torno da Eucaristia, na qual o Bispo, pastor que guia o rebanho, celebra em comunhão com o seu presbitério, levando os fiéis a uma participação ativa, plena e consciente.

Pe. Renato Paganini Mestre de Cerimônias do Arcebispo de Vitória

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espiritualidade

AS PAREDES E A SOLIDÃO SONORA

Um jornalista foi entrevistar o poeta vietnamita Ho Chi Minh que ficou vários anos preso. Perguntou ao poeta como ele conseguiu fazer poesias tão belas, suaves e amplas vivendo em lugar tão estreito e injusto como era aquela prisão comunista. O poeta respondeu com extrema simplicidade: “Eu só desvalorizei as paredes!”.

T

ambém São João da Cruz ficou preso nove meses no cárcere conventual de Toledo, Espanha, em 1578. Nove meses sem permissão para celebrar a Santa Missa, nem tomar banho ou trocar a roupa... Naquele cárcere escreveu suas mais belas e profundas poesias místicas: “No Amado acho as montanhas, os vales solitários, os bosques, as ilhas mais estranhas, o barulho dos rios e o sussurro dos ares amorosos, a noite sossegada, o raiar da aurora, a música calada, a solidão sonora, a ceia que recreia e que enamora”.

“A sabedoria está em desvalorizar as paredes. Olhar além das paredes da condição humana, isto é, olhar a vida com os olhos da fé.”

Todo ser humano sente-se aprisionado por alguma coisa em algum momento da vida. A prisão do trabalho e do trânsito; está preso às contas para pagar no final do mês, aos deveres familiares... Talvez, a prisão maior seja a própria condição humana: estamos presos à nossa fragilidade, pequenez, impotência diante de problemas ou circunstâncias da vida que são maiores do que nós. Estamos todos presos ao tempo que passa e à morte que se aproxima! A sabedoria está em desvalorizar as paredes. Olhar além das paredes da condição

humana, isto é, olhar a vida com os olhos da fé. A contemplação é olhar a realidade com os olhos de Deus. O cristão pensa e age de acordo com o pensar e agir do divino Mestre: Jesus. Somos discípulos e, concomitantemente, missionários. A fé nos faz enxergar um horizonte infinito, além das paredes da realidade humana. A realidade humana é a caverna de Platão. Há vida além da caverna. Cristo ressuscitado literalmente saiu da caverna e nos mostrou a luz da vida! Precisamos continuamente reeducar o nosso olhar (conversão!) para enxergarmos a vida com os olhos de Deus. Termino, com um singelo relato verdadeiro: Depois de uma noite de vento e chuva, uma menina, ao ver a calçada forrada de folhas e pétalas de flores, exclamou: “mãe, essa noite choveu flores!”. Dom Rubens Sevilha, ocd Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória

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comunidade de comunidades

São Cristóvão: aquele que carrega Cristo

A

pesar de ser um dos santos mais populares do mundo, muito pouco se sabe ao certo sobre a vida de São Cristóvão. Celebrado em 25 de julho é considerado o padroeiro dos caminhoneiros e dos viajantes. Viveu provavelmente na Síria e sofreu o martírio no século III. “Cristóvão” significa “Aquele que carrega Cristo” ou “porta-Cristo”. Cristóvão foi um dos santos cuja história de vida gerou diversas lendas e, assim como outros na mesma época, foi proclamado santo por aclamação popular. De acordo com uma dessas lendas, Cristóvão era um gigante com mania de grandezas. Imaginava que o rei a quem

servia era o maior do mundo. Com o tempo, teve a certeza de que o maior rei do mundo era Nosso Senhor e que uma das coisas que mais agradavam era a bondade. Cristóvão resolveu trocar a mania de grandeza pelo serviço aos semelhantes. Valendo-se da imensa força, certo dia, fez a travessia de uma criança que ficava cada vez mais pesada, de tal maneira que ele sentia como se o mundo inteiro estivesse sobre os seus ombros. Diante de seu espanto, o menino lhe disse: “Tiveste às costas mais que o mundo inteiro. Transportaste o Criador de todas as coisas. Sou Jesus, aquele a quem serves”. E servir parece ser a missão da dona Tereza Alves de Lima

Oração “Dai-me Senhor, firmeza e vigilância no volante, para que eu chegue ao meu destino sem acidentes. Protegei os que viajam comigo. Ajudai-me a respeitar a todos e a dirigir com prudência. E que eu descubra vossa presença na natureza e em tudo o que me rodeia. Amém”.

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Girelli, de 90 anos, moradora do Bairro São Cristóvão, e uma das fundadoras da comunidade dedicada ao santo na capital. Quando chegou, em 1962, começou com as primeiras turmas de catequese na região. “Não tinha igreja por aqui, só centros espíritas e o padre Dario Kill me perguntou se eu podia rezar com as crianças. Disse que sim. Depois fiz uma listagem dos católicos que moravam por aqui, entreguei pra ele, que decidiu fundar a comunidade, em 1964”, contou ela. De lá para cá, assim como o bairro que antes se chamava Barreiros e ganhou o nome do santo, a comunidade cresceu, e em 2014 celebra seu Jubileu de Ouro. Segundo uma das integrantes da comissão de festa, Cleia Bezerra Monteiro, este ano será feito um resgate da tradição das antigas comemorações. “Além da missa do padroeiro com benção das carteiras


da habilitação e da carreata com a imagem do santo pelas ruas da região, faremos um grande almoço comunitário, no dia 27 de julho.” Cada um de nós seja um pouco de Cristóvão na própria vida: aquele que ‘carrega Cristo’. Que nosso corpo e coração sejam suporte para a mensagem de amor e paz que ele deixou para o mundo. Que na oração, no empenho e na dedicação de cada devoto de São Cristóvão, padroeiro dos caminhoneiros e dos viajantes, esteja também um pedido de paz nas estradas. Que nossas rodovias conduzam o desenvolvimento de nosso país. Que famílias não carreguem a dor de terem seus parentes vitimados em acidentes. São Cristóvão, rogai por nós.

Na Arquidiocese de Vitória, 04 comunidades são dedicadas ao santo.

Gilliard Zuque

Onde celebrar São Cristóvão Área Vitória Comunidade no bairro São Cristovão Área Serrana Comunidades nos bairros Floresta (Afonso Claudio) e no Trevo de Parajú (Marechal Floriano) Área Benevente Comunidade em Pau d’óleo (Guarapari)

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Reportagem Letícia Bazet Maria Da Luz Fernandes

Os deslaços da

globaliz

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ação A

globalização que inicialmente trouxe as possibilidades de integração econômica, cultural, social e política, aos poucos vai fazendo surgir outras possibilidades e também criando novos desafios. Entre os muitos, que algumas vezes são antagônicos, temos a possibilidade de viver e trabalhar em qualquer canto do mundo e, ao mesmo tempo, as consequências dessa possibilidade que é o que chamaremos de “deslaços”. As facilidades profissionais e de conhecimento que a globalização oferece são um atrativo e ganham, principalmente entre os jovens, uma importância tamanha que, conhecer outras realidades e outros idiomas tornou-se quase um requisito para uma carreira de sucesso. Do outro lado, surge um novo questionamento sobre a fragilização dos laços familiares, o sentido de pertença a uma pátria e a estabilidade profissio-

nal dentro de uma empresa. Os mais novos, seja para atingir metas pessoais ou profissionais arriscam-se como cidadãos do mundo, partem para experiências e, se não obtiverem êxito, retornam e partem de novo para outras tentativas. Acima de tudo, não se prendem a pessoas, emprego ou qualquer outro vínculo social para realizarem o que desejam. Marcela Bastos tem 26 anos e é psicóloga. Após uma viagem pela Europa em outubro do ano passado, encantou-se por Londres e decidiu, então, fazer um mestrado naquele país. “Já estava pensando em fazer um mestrado, só não sabia se seria no Brasil mesmo ou fora. Conversei com meus pais, vi que tinha disponibilidade de conseguir e vim tentar!”, diz ela com a leveza de quem está apenas em uma cidade vizinha. A prova para o Mestrado será apenas no mês de julho, mas desde então ela está no país

aperfeiçoando o inglês. “Eu não tenho certeza de nada, vim tentar meu Mestrado, se vou ser aceita pela Universidade já é outra história. Eu consigo fazer um mestrado no Brasil que também vai preencher meu currículo. Mas viver em Londres, outra cultura e outra língua, isso mexe bastante”. Sobre o futuro, ela garante que é incerto, mas o presente está sendo bem vivido. “Viver em Londres é algo que todo mundo sonha. Essa cidade é muito estruturada. Gente do mundo inteiro vem para cá em busca de uma melhor condição de vida, sinto aqui maior liberdade de expressão, ando sem ter medo de ser assaltada, posso conhecer outras cidades viajando de trem, enfim. A forma que se vive aqui é muito boa mesmo”, afirma. Antes da viagem, Marcela atuava na Prefeitura de Cariacica, mas sabia que era algo momentâneo. “Com a PsicoJulho/2014

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Reportagem

logia Social ganhei bagagem profissional. O salário não era atraente e, além disso, eu já havia absorvido todo o conhecimento que eu gostaria daquele trabalho e eu sempre busco mais e mais”. Com a globalização, as empresas locais tornam-se pequenas diante dos sonhos e aspirações de muitos, como no caso de Marcela. Essa realidade torna-se um desafio para os empregadores que precisam apresentar interesses para que os jovens queiram permanecer nelas. O restaurante Outback oferece muitas oportunidades para jovens que buscam o primeiro emprego, pelo fato de não exigir experiência na fun“A gente conversa muito, e meus filhos participam das decisões; o que é melhor para eles? Ficar pertinho da gente ou explorar esse mundo?” Lucienne

Lucienne pensa sempre no crescimento e felicidade de seus filhos

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ção. Por isso, o sócio proprietário de Vitória, Terence Rangel afirma que estimulando a ação empreendedora e ao apresentar possibilidades reais de desenvolvimento dentro da empresa, foi possível perceber um maior comprometimento do funcionário em crescer e se desenvolver junto com ela. “O principal desafio é desenvolver boas práticas de gestão de pessoas que devem ser aplicadas em conjunto com um bom planejamento. Além do plano de carreira, que deixa clara a estabilidade, já que possibilita ao funcionário ter uma visão dos passos que deverá traçar dentro da empresa, atualmente, temos diversos programas para os profissionais que trabalham em nossos restaurantes”, disse. Se de um lado a empresa precisa criar atrativos para fidelizar o funcionário, ao mesmo tempo ela precisa abrir-se para o mercado globalizado, considerar o mundo o seu espaço de atuação e oferecer ao empregado o mundo como limite para sua expansão. O empresário Hudson Chamon, aos 34 anos, administra três empresas ao lado de sócios. Viaja pelo Brasil e pelo mundo em busca de novos negócios e garante que ainda não alcançou tudo o que deseja. Em 2005 abriu a primeira empresa no ramo de tecnologia e, em 2011, após uma viagem para a Europa, conheceu um produto diferenciado e abriu uma nova empresa na área esportiva, que está presente em

todo o Brasil e já se expande para o exterior. “Nós sabemos que não é rápido criar uma empresa, ela se tornar sólida, sair da inércia. Hoje, em todos os negócios, pensamos ações locais, a nossa base é no Espírito Santo, mas buscamos sempre atingir o Brasil e o mundo”. Hoje empregador, Hudson afirma que a meritocracia ainda é o melhor método de reconhecer o trabalho do profissional e mantê-lo interessado no projeto da empresa. Diz ainda que é preciso que os funcionários sintam a experiência do que a empresa oferece ao público para também se sentir parte daquela ideia. E assim mudam as referências do trabalho. Aquilo que no passado recente era considerado bom, hoje é visto com desconfiança. Afirmar que trabalha na mesma empresa há muitos anos deixou de ser prova de bom profissional. Fala-se até em 3 anos como um tempo bom para atuar na mesma empresa, depois disso é necessário partir para outras experiências e, portanto, quanto mais experiência em empresas diferentes melhor para o currículo. Será que no futuro os custos de treinar pessoas e perda de conhecimento empírico afetarão o mundo do trabalho? Conversando com as pessoas capta-se que o lado profissional é o que mais pesa na hora de fazer escolhas por outros países e é nesse quesito que as relações familiares se


apoiam na tecnologia que encurta as distâncias e cria a ilusão da proximidade. Marcela tomou a decisão junto com os pais. Assim também Lucienne Bastos incentivou dois filhos a fazerem intercâmbio e está nos preparativos para encaminhar a mais nova. A filha mais velha foi para a Austrália, onde conheceu o atual marido, e hoje mora lá; já o do meio foi para o Canadá. “A gente fica com o coração apertadinho, mas eu não bloqueio esse desejo deles, incentivo. O mundo tem tantas possibilidades profissionais, eles saem daqui, conhecem outra cultura, abrem as oportunidades e a sua visão sobre a vida. Hoje eu tenho certeza do quanto a minha filha mais velha cresceu depois que saiu de casa. Meu filho do meio a mesma coisa, foi um, voltou outro. Até o compartilhamento das questões familiares, antes não se envolviam muito e hoje nos ajudam nas tomadas de decisões, opinam. A menor a mesma coisa. Ela quer mais e aqui tem menos, ela não se sente motivada na escola. Quer buscar outras possibilidades”. Lucienne garante que não há arrependimentos, pois tudo que faz é pensando no crescimento e felicidade de seus filhos. Afirma ainda que apesar da distância e da saudade, o sentimento é de missão cumprida, ao ver os filhos encaminhados no caminho correto. “A gente conversa muito, e meus filhos participam

“Todos os dias penso nisso e todos os dias tenho uma resposta diferente. Hoje eu diria que quero voltar imediatamente, mas amanhã eu não sei!” Marcela

das decisões; o que é melhor para eles? Ficar pertinho da gente ou explorar esse mundo? Quando colocamos a razão na frente, temos a resposta do que queremos para o futuro deles”. Marcela vai aguardar o resultado da aprovação no mestrado aqui no Brasil, mas garante que não sabe o que vai fazer após. “Todos os dias penso nisso e todos os dias tenho uma resposta diferente. Hoje eu diria que quero voltar imediatamente, mas amanhã eu não sei! Até porque a validação da prova é de até 2 anos.. Então tenho a oportunidade de fazer um mestrado aqui até 2016, se eu passar”. A globalização proporciona essa facilidade de ir e vir, estar aqui e conectado acolá, e, ao mesmo tempo que provoca a fragilidade dos projetos duradouros, encurta as distâncias entre pessoas que estão distantes, tornando-se uma aliada seja na busca por informações, que se atualizam a todo instante, seja para matar a saudade de quem está longe, assim como faz Lucienne com a filha que está na Austrália. “Os laços não se rompem. Minha filha está há três anos lá e eu falo com ela todo

dia, é raro quando eu não falo. A tecnologia nos ajuda muito. Por telefone a gente não se vê, então a gente se comunica muito por Whatsapp, mandando fotos; Skype, que a gente conversa se vendo mesmo, colocamos na televisão e a família toda interage; e email”. A dosagem do uso das tecnologias e da influência da globalização nas relações é relativa e possui lados diferentes. Como bem resumiu Lucienne, “a tecnologia de um modo geral afasta as pessoas que estão perto, pois cada um se isola no seu universo particular, mas aproxima as que estão longe, pois facilita o contato e diminui as distâncias”. Julho/2014

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Caminhos da Bíblia

Uma comunidade de

Palavra e Vida O

texto dos Atos dos Apóstolos, em várias passagens, apresenta quadros que indicam como viviam as primeiras comunidades cristãs, fundadas sobre a profissão de fé de Pedro e dos apóstolos. Uma destas passagens se encontra em At 2,42-47, na qual se vê, bem descrita, uma comunidade fundamentada em suas quatro “colunas”: “Mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do Pão e às orações” (At 2,42). Em dois artigos apresentaremos cada uma destas características fundamentais deste texto do livro dos Atos dos Apóstolos e o quanto elas se tornam necessárias para nossas comunidades ainda hoje. 28

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Parte I


A primeira “coluna” é o encontro fecundo com a Palavra de Deus, a pregação da mesma, uma voz que parte da Igreja e a todos propõe o primeiro anúncio: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Os apóstolos proclamam a decisiva intervenção divina na história humana, a morte e ressurreição de Cristo, que inaugura o Reino de Deus (At 4,12), convidando a todos a acolherem a fé e a se tornarem também anunciadores desta boa nova - discípulos missionários. Tal dimensão catequética presente na comunidade deve propor o primeiro anúncio da salvação a todos, ajudando aos irmãos e irmãs a entrarem em comunhão com o mistério do Amor de Deus. A intenção é a de formar discípulos missionários, à luz da Palavra de Deus, introduzindo-os no mistério de Cristo. Somente a Palavra de Deus encarnada na vida da pessoas, proclamada com autoridade, competência e simplicidade é capaz de iluminar a realidade e a história de cada discípulo. Essa faz brotar no coração de cada um a mesma

pergunta que foi feita aos apóstolos depois da pregação no dia de Pentecostes: “Irmãos, que devemos fazer?” (At 2,37). Ao mesmo tempo, a Palavra anunciada revitaliza os passos dos discípulos ao longo do caminho, pois é o sinal claro da presença de Cristo que “sopra as cinzas do coração dos seus discípulos” como também aconteceu com os discípulos de Emaús (cf. Lc 21,32-33). A comunhão fraterna, a caridade ativa, é a segunda “coluna” que sustenta a comunidade dos discípulos missionários. Esta se verifica na vida daqueles que se tornam discípulos de Cristo, “aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21), se atualiza naqueles que “têm fome e sede de justiça” (Mt 5,6; 6,33) e se torna realidade na opção preferencial pelos pobres, a fim de que tenham vida, e a tenham em abundância, como nos indica o próprio Senhor (Jo 10,11; 15,13). A escuta autêntica e verdadeira da Palavra de Deus deve conduzir à sua observância e à sua

prática, fazendo desabrochar na vida a justiça e o amor, a solidariedade e a partilha, a comunhão e o compromisso, particularmente com os empobrecidos e excluídos da sociedade. Esse clamor da Palavra deve chegar lá onde existe o sofrimento e a dor, a angústia e a falta de esperança, a pobreza e a exclusão, a desigualdade e a corrupção, levando um sopro de vida que cura as feridas e uma luz que indica o caminho. Cristo é a Palavra Viva do Pai, em suas feições, em seu olhar, em suas palavras e em seus gestos, a comunidade dos discípulos deve contemplar o rosto de cada irmão e irmã — semblantes alegres e cheios de esperança, mas muitas vezes sofridos e marcados pelas dores e angústias, rostos de cada criança, jovem, adulto e idoso. Ao acolher o Senhor, cada discípulo é chamado a acolher também as dores de cada irmão e irmã neste mundo, deve se tornar um Bom Samaritano, isto é, próximo de seu próximo. Pe. Andherson Franklin, professor de Sagrada Escritura no IFTAV e doutor em Sagrada Escritura

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especial

Refletindo sobre política

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omo muitos irmãos e irmãs esperam do Arcebispo uma orientação para votar bem, com modéstia, exponho sucintamente o que me parece importante para o exercício da cidadania através do voto livre consciente. O que é voto livre?

É um ato de cidadania, responsável e consciente, na escolha de um cidadão candidato a servir o povo. O cidadão escolhe livremente outro cidadão em vista do Bem Comum. Para que votar?

Pelo voto, o eleitor pode escolher o melhor candidato para servir o povo. Pode impedir a ditadura de algum aventureiro, pessoa não preparada para o cargo ou de algum partido inconveniente.

A palavra chave é INVESTIMENTO. Investir na PESSOA que nasce em uma Família.

Cultivar os valores família e pessoa. Revitalizar a família com seus valores humanos de ternura, respeito, capacitar para o diálogo e o perdão. Investir nos formadores de opinião para que possam colaborar na formação ética e moral das pessoas. Investir nos professores e escolas para que sejam parceiros na formação dos cidadãos ajudando-os a alicerçarem suas convicções em princípios norteadores da vida e cidadania. Investir na mídia para que comunique valores aos cidadãos e à família e seja parceira das escolas. Cuidar da saúde da pessoa em todas as etapas da vida. Investir na mobilidade urbana e nas estradas como instrumentos que facilitem a vida dos cidadãos no seu direito de ir e vir e no aprendizado constante dos direitos e deveres no trânsito. Investir na segurança do cidadão, residência, ruas, vilas e estradas. Uma sociedade que desenvolve valores humanos e cristãos vai conquistando o que tanto deseja: a paz. Para isso precisa de INVESTIMENTO. A Igreja acredita e ensina que tanto o eleitor quanto o candidato devam ter como pilares os seguintes princípios: 1. A dignidade do ser humano. 2. A igualdade do ser humano nos seus direitos e deveres. 3. A subsidiariedade. 4. O bem comum. Na hora de votar você saberá escolher o cidadão candidato que der exemplo de vida destes princípios e cujo projeto de go-

O que o cidadão deve levar em consideração ao exercer o seu direito de votar?

Vamos usar uma palavra fácil na linguagem dos candidatos políticos e a partir dela pontuar o que queremos ver acontecer em nossa sociedade.

verno contemple investimentos para realizá-los. Se o candidato já exerceu algum mandato ou serviço público no passado será aconselhável verificar se ele observou estes quatro princípios fundamentais. Portanto: Por uma Sociedade Justa e Fraterna é absolutamente necessário INVESTIR. Deus abençoe a todos os cidadãos e cidadãs. Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc Arcebispo Metropolitano

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VIVER BEM

Do limão à

limona Como tirar proveito das situações ruins

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da

ransformar situações difíceis ou impossíveis em situações simples e descomplicadas pode, muitas vezes, parecer falta de compromisso, indiferença ou falta de interesse pelo problema, mas, para muitas pessoas, essa é a única forma que existe para viver, pois de outro modo, seria insuportável a vida. Mãe – Como foi na prova de matemática? Filha, despreocupadamente, responde: – Fui muito bem! Só deixei duas em branco. Não ter respondido 100% na prova, não se configura em algo negativo, por conta do olhar de se fazer o necessário para manter-se acima do exigido. Outro exemplo desta personalidade foi vista após o primeiro jogo do Brasil contra a Croácia, na Copa do Mundo 2014: Repórter – Marcelo, como ficou a sua cabeça após o gol contra? Marcelo – Tranquilo! Tranquilo! Se eu venho abaixo, eu prejudico o time. São dois exemplos de comportamento em que uma situação extremamente estressante pode se desfazer como um torrão de açúcar, quando se é capaz de olhar positivamente. Existe outro grupo de pessoas que foi se aprimorando em ver o lado positivo numa situação negativa, à medida que foi exercitando ouvir opiniões diferentes, mudar o foco do desagradável para o agradável, visualizar outras soluções, outras alternativas. Ainda na Copa do Mundo, após um jogo do Brasil, ouviu-se de um comentarista: “Foi bom o Brasil passar por toda esta dificuldade no 1º jogo porque assim vai mais preparado para os próximos”. Falando dessa forma, ele sinaliza necessidades de mudanças, desviando o olhar da crítica que desmotiva. Mudar o ângulo de visão, trocar de lugar para ver e sentir o mesmo objeto pode ajudar-nos a enxergar o copo quase cheio ao invés de quase vazio, ou, se preferir, fazer uma limonada ao saborear o limão na sua forma original. Ednéa Firme Rosalém

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ideias

Hei de ser,

preciso ser, não há alternativa senão ser...

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ubir uma velha montanha, perdida num deserto povoado por muitas histórias acompanhando Moisés, pode ser uma fértil experiência espiritual-existencial numa manhã de domingo. Mas se fértil, do mesmo modo exaustiva, angustiante. Lá no sopé ficam os nossos mundos - tanto o dele como o meu - marcados pelas dificuldades,

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pelas incertezas, pelo medo. A violência cresce entre os nossos, a confusão e o individualismo solapam sonhos, os que deveriam unir forças ferem-se insensatamente. Soluções precárias e nostálgicas se erguem em bandeiras vistosas, as forças se esgotam, os corações se endurecem. De nossa parte carregamos montanha acima nossas fragilidades, nossas impaciências,

nossos estresses. Subo com Moisés, a princípio por dever. Logo me envolvo. É preciso avistar lá do alto o que os meus próprios esquemas mentais não mais me oferecem. É preciso avistar horizontes, outras possibilidades, ganhar novas disposições para a luta, instar-me a novos passos. Subo com Moisés sem que ele suba comigo,


sem que me note. Na verdade o diálogo entre nós só pode existir pelo fato de fazermos parte de uma mesma linha narrativa, aquela em que vidas se marcam e se constituem por alguns referenciais comuns. Nossas vidas e mundos são distantes e bem diferentes, mas alguns elementos nos põem em diálogo. O Deus a quem me dirijo é o dele, o mesmo Deus que se apresenta na história em capítulos de discreta presença e sutil participação. Um Deus grande em silêncios, em demoras, em ausências, mas insuflador de sonhos, inspirador de grandes projetos e incitador de desafiantes jornadas. É uma outra vez esta que

Moisés sobe à montanha. Tenho especial apreço por esta outra vez. Talvez por isso o acompanhe com especial atenção. As leis que favorecem a convivência feliz já lhe tinham sido entregues na primeira vez. Mas a comunidade se enfraqueceu nos anos que se sucederam diante do deserto que se agigantou em problemas. Querem voltar ao Egito. Mas já que não podem voltar imediatamente, imediatamente retomam o culto ao touro Ápis. E para complicar ainda mais a situação Aquele que o chamou ao monte não se apressa em se mostrar. Meu Deus, penso, de que somos feitos na fé senão de desafios? Deus se esconde. Um soprar de vento aqui, um pássaro quieto ali, uma pequena vegetação tremulando acolá. Moisés parece não saber o que fazer. Observo-o e também não sei. Falta-me também o discurso. Minha missão imediata, a missa. O que dizer? É festa da Santíssima Trindade. Então Moisés começou a andar como se procurasse algo que tivesse perdido, e enquanto olhava aqui e acolá com olhos carregados de distâncias, entre curioso e assustado, destituído das belezas e dos perfumes dos templos egípcios, repetia misturando palavras e línguas: misericordioso, lento na cólera, compassivo, rico em bondade, fiel, misericordioso, lento na

cólera, compassivo, rico em bondade, fiel, misericordioso... Fiquei ali quieto, observando, pensando. A estola para a festa, com enfeites de leve dourado, pendia para um lado, acertei-a. E aquelas palavras começaram a entrar nos meus ouvidos com suavidade e força; minha própria boca não resistiu à repetição: misericordioso, lento na cólera, compassivo, rico em bondade, fiel, misericordioso, lento na cólera, compassivo, rico em bondade, fiel, misericordioso... Moisés dirigia aquelas palavras para Deus, chamava-o, dava-lhe nomes, dava-lhe belos nomes, mas ao mesmo tempo ele como que aguardava o crescimento no seu coração daquelas mesmas forças e delicadezas presentes nos nomes. Era para si próprio que ele também pronunciava os nomes - e para mim - como convite. Nem sempre conseguimos - como ele não conseguiu - mas o desejo de incorporar em nós o que afirmamos de Deus será sempre um bom jeito de fazer as coisas. Hei de ser, preciso ser, não há alternativa senão ser... Para que a vida coletiva faça surgir comunidades, para que as comunidades tornem-nos cada vez mais humanas é preciso ser misericordioso, lento na cólera, compassivo, rico em bondade e fiel ao sonho de uma terra nova. Dauri Batisti

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prÁtica do saber Letícia Bazet

Universidade leva

cidadania e servi a municípios do Estado

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evar a Universidade e seus conhecimentos a cada canto do Estado é o principal objetivo do programa Ufes Presente, desenvolvido por acadêmicos dos cursos de Engenharia Ambiental, Direito, Psicologia, Pedagogia e Química. A intenção é buscar a aproximação entre a universidade e a sociedade, aplicando

o conhecimento universitário para auxiliar as questões sociais de municípios do Espírito

Santo, principalmente nas áreas de educação, saúde, direitos humanos e justiça, cultura e

Ufes solidária Diante das chuvas que atingiram o Espírito Santo no final de 2013, a Ufes se tornou um ponto de apoio com o recolhimento de donativos para as vítimas das enchentes. De acordo com Maurice Costa, a Universidade planeja a criação de um grande programa chamado Ufes Solidária, no qual o Ufes Presente também estaria inserido para auxiliar nessas questões de amparo aos que necessitam. “A ideia é levar apoio e a prática da cidadania para esses lugares, onde muitas pessoas não tem documento, não possuem uma identidade mesmo como cidadão. A tentativa é conscientizar e levar às pessoas essa condição. Com o apoio da Universidade, proporcionar uma nova direção para a vida da sociedade”.

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meio ambiente. A proposta surgiu a partir do interesse de universitários em criar algo semelhante ao projeto Rondon, desenvolvido a nível nacional, envolvendo a participação voluntária de estudantes universitários na busca de soluções que contribuem para o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes e ampliem o bem-estar da população.


ços A primeira ação do projeto aconteceu em Mucurici, em janeiro deste ano, onde os universitários ministraram minicursos, palestras, oficinas, realizaram mutirões jurídicos, além de uma gincana cultural e cinema na praça. “A extensão faz parte do tripé da formação universitária, e é extremamente necessária para levar a universidade à comunidade. O que a gente está buscando, neste momento, é ampliar a divulgação sobre esse projeto, que é ainda recente, para chamar estudantes, técnicos e professores para se inserirem nele, ampliando a área de atuação do projeto, já que a universidade possui essa

diversidade de cursos e áreas de formação”, afirmou o coordenador do projeto, professor Maurice Costa. Nesse momento inicial, participam cerca de 20 estudantes, sendo um bolsista e os demais atuando voluntariamente. A reitoria da Ufes e a prefeitura garantem o apoio com o material necessário, transporte, estadia e alimentação. Segundo o professor Maurice, a equipe está empenhada na construção da continuidade do projeto, juntamente com a administração central da Universidade, que está oferecendo o apoio necessário para o desenvolvimento da ação. “Tendo essa vivência, desde o planejamento,

passando pelas reuniões com prefeitos e secretários para apresentar o projeto, até a experiência do dia a dia direto com a comunidade, lidando com conflitos, é uma oportunidade muito interessante para quem pode se inserir nessa ação, e colocar em prática a teoria que aprendeu em sala de aula”, afirmou. De acordo com o professor, no início do ano que vem, é provável que novos municípios já estejam na agenda de presença do projeto. “O projeto já é uma realidade, fizemos o piloto e foi um sucesso, o município já pediu o retorno, e precisamos apenas finalizar e ajustar alguns pontos. O estudante quer participar

porque sabe que pode ajudar ali, não só pela experiência que vai ganhar. Essa é uma forma de darmos um retorno à população sobre o serviço oferecido pela Ufes. Estimulamos, também, a formação de jovens que desejam se inserir na Universidade e não sabem como, não têm informação. A gente vai, dentro das nossas possibilidades, desenvolver esse papel da melhor maneira”.

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reflexões

O mensageiro enviado “A Igreja nasce da missão e existe para a missão. A essência da Igreja é a missão de anunciar o amor de Jesus. Todas as pessoas têm o direito de conhecer e vivenciar esse amor.

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niciamos nossa reflexão com as palavras de Jesus: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Um belo mandato imperativo de Cristo aos seus apóstolos para que preguem o evangelho sem discriminação. Não só eles, porém, toda a Igreja e cada um de nós. Destacamos São Paulo, que em sua convicção e exemplo missionário, exclamava: “ai de mim se eu não evangelizar” (1 Cor 9,16). Ele declara que sua missão é um encargo recebido de Deus. Assim procederam os apóstolos, apoiados pelas primeiras comunidades; elas eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão

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fraterna, na fração do pão e nas orações,” (At 2,42). A própria existência da comunidade era essencialmente missionária: “Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E, cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que eram salvas”. (At 2,47). Os apóstolos tornaram-se mensageiros da Palavra de Jesus porque se tornaram, antes de tudo, testemunhas daquilo que viram e ouviram, do que encontraram e experimentaram. A Igreja nasce da missão e existe para a missão. A essência da Igreja é a missão de anunciar o amor de Jesus. Todas as pessoas têm o direito de conhecer e vivenciar esse

amor. “A nós cabe a responsabilidade de transmitir aquilo que recebemos por graça” (CNBB, doc. 94, 4.1). É preciso anunciar pela Fé. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história. Essa experiência implica em irradiar a presença de Deus aos que são próximos ou partir em missão, com a força do Espírito Santo, para evangelizar lugares onde Jesus ainda não é conhecido. Todo discípulo de Jesus deve ser missionário, onde estiver, quer com sua família,

em seu trabalho, passeando, participando dos jogos da copa, etc. Em cada ambiente, o cristão é convidado a ser o mensageiro enviado, a se fazer presente, cheio de graça e verdade, não só com palavras, mas, com uma vida honesta. O Papa Francisco insiste que Jesus ao dizer: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” nos chama a ser discípulos em missão. Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: Jesus envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos. “Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os lugares, incluindo quem parece mais distante e mais indiferente”, repete o Papa. A missão de Jesus é a missão da Igreja “até que Ele venha”. Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória


vitória Revista da Arquidiocese de Vitória - ES

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ARQUIVO E MEMÓRIA

A IGREJA E O ESPORTE

A

o longo de sua trajetória, a Igreja compreendeu e valorizou a prática de esportes. Em várias paróquias, jovens, adultos e crianças associaram a espiritualidade ao esporte como forma de promover a solidariedade, o desenvolvimento saudável e a cidadania. O Papa Pio XII em 1945 discursando aos jovens falou:... afinal, que coisa é o esporte, senão uma das formas de educação do corpo? Ora esta educação está em estreita relação com a moral. Como poderia, portanto, a Igreja dela desinteressar-se? Nesse tempo em que a Copa do Mundo acontece aqui no Brasil e quando uma grande parcela da população está torcendo, vibrando e envolvida pelo futebol, mostramos uma foto de Dom João Batista da Motta e Albuquerque, 6° Bispo do Espírito Santo, dando o pontapé inicial numa partida de futebol no interior do Estado.

do Trigo em 1960 Jogo de futebol em Domingos Martins, Festa

Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc

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ensinamentos

Da democracia representativa

à democracia A

superação da crise da civilização atual, que colocou a ciência e a tecnologia a serviço do lucro, mas não combateu a miséria, a fome e o desemprego, depende de decisões políticas. Em razão do imperativo da vida plena para todos colocado por Jesus Cristo, a Igreja sente-se interpelada a pensar uma resposta eficaz no âmbito da política para essa crise que ameaça, sobretudo, os mais fracos e desprotegidos. O Estado Nacional parece não ter forças para fazer frente aos poderes paralelos e às armadilhas do capital globalizado. Embasado na ética da modernidade, protege o indivíduo proprietário, prevalecendo o ter sobre o ser. Os bispos defendem a radicalização da Democracia. A Democracia Representativa tem seu ponto alto quando o eleitor vota na urna eletrônica, não esgotando todas as formas de vivência democrática. Ela precisa ser complementada com a Democracia Participativa, ultrapassando o individualismo e adotando a solidariedade, para a construção do bem comum, traduzindo-se numa Democracia Econômica.

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O Documento 91 da CNBB, apoiado na Doutrina Social da Igreja, expõe a necessidade da Reforma do Estado para a construção de uma sociedade efetivamente democrática e participativa, do qual extraímos algumas ideias básicas.

participativa Neste contexto, emerge a importância da afirmação do povo como soberano no processo de construção da sociedade e do Estado. Mas, a Democracia plena passa pela formação de agentes políticos que tomem em suas mãos o processo de construção da Democracia, requerendo postura ética dos indivíduos. A Constituição Federal de 1988 garantiu direitos e deveres universais aos cidadãos e apresenta importantes instrumentos na busca de um novo Estado e de uma nova Democracia.

Os cristãos precisam aproveitar os espaços conquistados e participar nesses mecanismos políticos visando à solução dos graves problemas sociais. Como passos práticos para a efetivação dessa reforma, o Documento ressalta experiências exitosas, como por exemplo, as Semanas Sociais Brasileiras, as Comunidades Eclesiais de Base, a participação popular na elaboração orçamentária e no acompanhamento

de sua execução. Destacam-se ainda a ampliação das oportunidades de trabalho, com a valorização da formação da juventude, política agrícola com Reforma Agrária e incentivo à agricultura familiar e a valorização da economia solidária; a visão de desenvolvimento sustentável; a democratização da comunicação; e a Reforma Política não limitada às regras eleitorais. Em suma, a CNBB propõe a opção por um Estado voltado para o equilíbrio ecológico, a justiça social e a paz mundial. Vitor Nunes Rosa Professor de Filosofia na Faesa

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cultura CAPIXABA

CARRETELA

DEL VIN

A

região de Santa Teresa, berço da colonização italiana no Brasil, preserva suas tradições desde a chegada dos primeiros imigrantes que aqui aportaram, em fevereiro de 1874, a bordo do navio La Sofia. Esse navio trazia, além de novos braços para trabalhar na lavoura, o sonho da Terra Prometida para aquelas 386 famílias vindas do norte da Itália. Depois de 140 anos da chegada dos pioneiros ao Vale do

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Canaã, seus descendentes cantam as glórias dos antepassados festejando pelas ruas da cidade com muita polenta e vinho. Nessa cidade, tradicionalmente, no mês de junho, acontece a

festa da Imigração Italiana de Santa Teresa com a confraternização dos moradores e o acolhimento dos visitantes, curiosos pelas manifestações culturais que envolvem danças típicas, cantoria, serenatas, eleição de musas da festa, barracas de comidas e, especialmente, a Carretela del Vin. Em sua essência a Carretela é um grande desfile cultural criado para homenagear a memória dos antepassados. Seus descendentes (em trajes típicos e cantando cantigas italianas) desfilam pelas ruas do centro histórico, contando a saga dos trabalhadores, todas as dificuldades, os fracassos e as conquis-

tas por que passaram as primeiras famílias. Os moradores enfeitam suas casas e ornamentam carros alegóricos num grande cortejo a céu aberto que conta, em detalhes, essa história. Mas, o bom da festa está em degustar uma das maiores contribuições desse povo festeiro, sua culinária. De dentro dos carros alegóricos os moradores oferecem ao público participante porções de polenta, queijo, linguiça, salames e muito vinho (produzidos na região mesmo) regando de alegria os participantes. Diovani Favoreto Historiadora


Acontece

Encontro de secretários e secretárias Para investir na qualificação dos profissionais que atuam nas paróquias, a Mitra realiza pelo 8º ano o encontro de secretários e secretárias paroquiais, no dia 7 de julho, de 8h às 16h, em Ponta Formosa. O grupo será assessorado pelo padre Helder Salvador, da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, que irá abordar o tema ‘Matrimônio à luz do Direito Canônico’. Durante o dia, também haverá participação da Pastoral de Comunicação, debatendo sobre o tema ‘O que fazer com o que chega na minha mesa? Passos para uma boa comunicação’, e a coordenadora do CEDOC, Giovana Valfré, irá esclarecer as dúvidas a respeito dos assentamentos de batismo e casamentos nos novos livros, sobre as notificações necessárias nos livros antigos e técnicas de arquivamento e guarda de acervo de papel.

Encontro Nacional de Pascom Com o tema ‘Comunicação, desafios e possibilidades para evangelizar na era da cultura digital’, jornalistas, religiosos e leigos reúnem-se de 24 a 27 de julho, em Aparecida (SP) para o 4º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação. Seminários, painéis, celebrações e plenárias fazem parte da programação, refletindo sobre o uso das redes, a vivência da fé, as perspectivas e ações para a evangelização, a atuação de jornalistas nas dioceses do Brasil, entre outros assuntos.

Encontro Nacional dos editores de Folheto Litúrgico De 22 a 24 de julho, realiza-se em Aparecida (SP) o Encontro Nacional dos editores de Folheto Litúrgico, promovido pela CNBB. Anualmente, coordenadores de Liturgia reúnem-se para partilhar as suas experiências e debaterem um tema, que neste ano será sobre os ‘Ritos Iniciais da Celebração Litúrgica’. Neste ano, também acontece uma palestra sobre os 50 anos da Constituição Conciliar Dei Verbum. Os participantes ainda vão realizar um estudo sobre o Evangelho de São Marcos e músicas litúrgicas (Ritos Iniciais e Campanha da Fraternidade 2015). O encontro será assessorado por Frei Faustino. A Arquidiocese de Vitória será representada por Margareth Albani. Julho/2014

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Acontece

Festa de Corpus Christi

Vila Velha

Viana

Paraju




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