Revista Abril de 2014

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vitória Ano IX

Revista da Arquidiocese de Vitória - ES

Ensinamentos

Páscoa Festa das festas

entrevista

frei beto

Suas ideias sobre a vida e sobre a Igreja

reportagem

Eles chegaram perto O testemunho de quem esteve com João Paulo II em Vitória

Nº 104

Abril de 2014


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vitória Revista da Arquidiocese de Vitória - ES

Ano IX – Edição 104 – Abril/2014 Publicação da Arquidiocese de Vitória

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Diálogos Olhar do peregrino

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Micronotícias O meio ambiente e as chuvas

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entrevista Frei Betto e seu pensar sobre Igreja e sociedade

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Mundo Litúrgico Imagens cobertas na Semana Santa

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COMUNIDADE DE COMUNIDADES Santo Expedito

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cAMInHOS DA BÍBLIA Tempo propício para o encontro

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ESPECIAL O outro lado da moeda

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IDEIAs A quaresma e a estrada e a mãe

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aRQUIVO E MEMÓRIA A visita pastoral de Dom Pedro Maria de Lacerda

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pRÁTICA DO SABER Práticas sustentáveis para o mercado de trabalho

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CULTURA CAPIXABA Torta capixaba uma festa gastronômica

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REFLEXÕES Injustiça estrutural

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Homenagem Festa da Penha e canonização de José de Anchieta

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Atualidade

Cadê os pais?

Reportagem

O santo que esteve em Vitória

05 pensar 17 arte sacra 21 ESPIRITUALIDADE 30 ASPAS 32 VIVER BEM 42 ENSINAMENTOS

Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispos Auxiliares: Dom Rubens Sevilha, Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Gilliard Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin • Revisão de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: comercial@redeamericaes. com.br - (27) 3198-0850 • Fale com a revista vitória: mitra.noticias@aves.org.br • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062 • Ilustrador: Kiko, Rennan Mutz • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica 4 Irmãos - (27) 3326-1555


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Santos de ontem e de hoje

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w w w. a v e s . o r g . b r

fale com a gente

s santos que tantas vezes parecem distantes e inatingíveis, de repente, tornam-se tão próximos que a busca pela santidade parece mais possível. Papa João XXIII, Papa João Paulo II e beato José de Anchieta serão, durante o mês de abril, reconhecidos santos pela Igreja Católica. Esta edição da Revista Vitória fala de canonização, mas a partir das lembranças daqueles que estiveram perto do beato João Paulo II aquando de sua passagem por Vitória em 1991. Escolhemos este caminho, certos de que essas lembranças recentes ajudarão a aproximar o sentimento da história de vida do Papa João XXIII e do beato José de Anchieta, que conhecemos apenas pelo que ouvimos e lemos. A santidade é possível e o processo começa com o reconhecimento de quem convive com os santos.

O

Maria da Luz Fernandes Editora


pensar

Irm達 Maria Joana Dalva


di谩logos

Olhar

do peregrino

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revista vit贸ria

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Olho para o alto da Penha... Vejo a mata verde em volta da penha... Um manto verde que fala ao meu coração... Um manto verde...ora suave ... ora escuro... Caminho...Olho para o alto da penha... Uma mata verde... ora suave... ora escura.... Penha Verde...pedra dura...rocha... Na rocha... uma mata...mata verde... Peregrino, não busco a rocha, a pedra. Peregrino, não busco a mata verde. A rocha entra em meus olhos peregrinos... A mata verde entra em meu coração... O Coração peregrino conversa... Coração Peregrino... A rocha... A mata... Diálogo... Peregrino vejo com o coração... Rocha que dá vida à mata... Mata verde que exala perfume...frescor... No Alto... sobre a rocha com manto verde... Peregrino vejo a Senhora das Alegrias... Manto azul.. Cravada na rocha verde da mata... Peregrino subo até o alto... Alto da Penha... Peregrino... aos pés da Mãe... contemplo... vejo: A Rocha que é Cristo Deus e Senhor... A mata verde... Manto da esperança... A Senhora das Alegrias... No Alto da Penha... Cravada no Filho... O Cristo Filho de Deus...! Mãe das Vitórias, Mãe da Esperança... Nossa Senhora das Alegrias... Peregrino, olho, contemplo e confio... Sinto-me filho... Volto abençoado... Pela Senhora das Alegrias... Rocha...Manto Verde...Manto Azul... Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. Arcebispo Metropolitano de Vitória ES

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Atualidade

Cadê

os pais?

N

o decorrer de dois séculos, família e escola viveram em total harmonia, comungavam das mesmas ideias, sendo consideradas instituições que representavam a autoridade, geradoras de valores intelectuais e morais. Com o passar dos tempos, houve uma ruptura nessa harmonia. Os pais foram se afastando da escola, muitas vezes questionando as regras adotadas pela mesma, consideradas rígidas, injustas ou indisciplinadas. Há um grupo de pais que, após matricular seus filhos, considera seu papel terminado, transferindo à escola não só o papel de ensinar, como

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também o de construir os valores éticos e morais. Insistem em não comparecer às reuniões pedagógicas ou, mesmo quando chamados para tratar de assuntos relacionados especificamente a seus filhos, não atendem às solicitações da escola. Como atuante na área educacional, acompanhando alunos do ensino fundamental e do ensino médio, pude perceber o quanto é importante analisarmos os reais motivos do distanciamento dos pais das nossas escolas. Em 2012, foi realizada pelo MEC uma pesquisa nas escolas públicas, a qual apontou que sete em cada quinze adolescentes têm pais que não sabem se seus filhos estão fazendo suas tarefas de casa, por vezes não sabem sequer que eles as têm. Cerca de 40% dos pais não sabem o que seus filhos fazem no tempo livre e 25% desconhecem que os filhos faltam às aulas. Esses dados tornam-se motivo de grande preocupação. Precisamos, pois, de um olhar atento para retomar a nossa harmonia de outrora e, assim, investir numa educação coerente, saudável e de qualidade. Diante desse cenário educacional brasileiro, um dos grandes desafios para nós, edu-

cadores, é resgatar uma relação de parceria entre família e escola. Há um distanciamento dos pais. Se formos analisar a história familiar nos últimos trinta anos, observaremos algumas mudanças que interferiram consideravelmente na formação familiar. As maiores delas são o aumento do número de mulheres no mercado de trabalho e a redução do número de filhos. Também houve um aumento da jornada de trabalho dos pais, afastando-os ainda mais do convívio com os filhos. Outro aspecto que podemos observar é a desconstrução familiar devido aos divórcios que vêm acontecendo: dados do IBGE declaram que “em 2011 foi registrada a maior taxa de divórcios desde 1984, um crescimento de 45,6%” . À medida que aconteciam as mudanças no núcleo familiar, as escolas também passavam por suas transformações. A cultura de que o papel da educação vem de casa foi substituída pelo importante papel da educação na escola. Mediante as mudanças

45,6% Foi a taxa registrada pelo IBGE em 2011referente a desconstrução familiar devido aos divórcios que vêm acontecendo recentes, há uma confusão de papeis: por um lado, uma severa cobrança por parte da família na educação integral dos seus filhos, terceirizando a educação familiar; por outro lado, a escola não consegue administrar um diálogo que proporcione um bom entendimento entre ambas as partes. As famílias precisam entender que a referência de vida


Atualidade

para a criança, em primeiro vem do seio familiar, que é um lugar de segurança, amor e acolhimento. A formação da criança é algo que deve começar em casa e, a partir daí, cabe aos profissionais da educação fazer uma abordagem do processo de adaptação da criança na escola. Entra, então, a importância de estabelecermos claramente o papel das duas partes: a família e escola. Devemos não só levar em conta o que concerne à educação, à aprendizagem e às relações sociais, como também a presença dos pais na escola. Constatamos que os alunos que são acompanhados de perto pelos pais sentem-se mais responsáveis e, consequentemente, obtêm melhores resultados acadêmicos. Uma pesquisa feita pelo INSPER diz que incentivar

o filho a fazer a lição de casa, providenciar um lugar tranquilo onde ele possa estudar e comparecer às reuniões de pais têm o efeito de elevar as notas em torno de 15%. Diante de todos esses dados levantados, o Ministério da Educação e Cultura, em par-

ceria com instituições como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou a cartilha ‘Nenhuma Criança Brasileira vai Crescer sem Saber Ler! Ou sem Gostar de Ler’, ilustrada pelo cartunista Ziraldo, que traz algumas sugestões para os pais:

Visitar a escola do filho sempre que puder. Observar se as crianças estão felizes e cuidadas no recreio, na hora da entrada e da saída. Observar a limpeza e a conservação das salas e demais dependências da escola. Conversar com os responsáveis pelos colegas do filho ou filha sobre o que observou. Conversar com os professores. Perguntar como o filho está nos estudos. Pedir orientação, caso o filho esteja com alguma dificuldade na escola. Procurar saber o que podem fazer para ajudar, conversando também com a direção e as outras pessoas da escola. Ler bilhetes e avisos que a escola mandar e responder quando necessário. Comparecer às reuniões da escola e dar sua opinião.

Estamos sensíveis a refletir melhor sobre os nossos papeis? A nos comprometermos com a melhoria da relação família e escola? Pensemos numa educação que favoreça a formação do indivíduo integralmente, que os pais assumam o seu papel tão necessário para a educação dos seus filhos e que a escola desenvolva uma estrutura de diálogo aberto e uma comunicação adequada ao que se propõe. Dessa maneira, que a vida acadêmica leve o aluno a conquistar um lugar na sociedade, vencendo desafios escolares e adquirindo sua tão sonhada colocação no mercado de trabalho. Alba Valéria de Freitas é Pedagoga, com Especialização em Gestão Educacional, atua na Coordenação Pedagógica da Escola Crescer PHD

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Páscoa:

LANÇAMENTOS


micronotícias

A

meio

s chuvas fortes que aconteceram no final de 2013 e provocaram enchentes em diversos municípios do Espírito Santo aumentaram o alerta sobre prevenção e cuidados com o meio ambiente. As chuvas provocam situações mais complexas quando atingem cidades não planejadas ou onde houve um crescimento excessivo e desordenado da população. Estas situações dificultam a realização de obras de drenagem e de esgotamento de águas pluviais. Em períodos de chuvas, enxurrada e alagamentos costumam acontecer simultâneamente. A situação pode tornar-se mais grave nas cidades litorâneas quando a temporada de chuvas coincide com maré alta.

ambi

O que fazer?

Proteger e preservar o meio ambiente é dever do poder público estabelecido na Constituição de 1988, sendo a responsabilidade distribuída pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Nos últimos anos algumas leis foram editadas e regulamentadas em vista de garantir projetos e prazos para que cada instância dê sua contribuição. Uma delas que pode contribuir para a limpeza das cidades e diminuir a intensidade dos riscos em épocas de chuvas intensas é a eliminação de lixões.

Fique atento

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Agosto de 2014 – Data limite para extinção de lixões existentes nos Municípios brasileiros. Para viabilizar os custos dos aterros sanitários alguns municípios criaram um consórcio intermunicipal de gestão de aterros.

Separe o lixo

Uma atitude que é responsabilidade do governo, mas precisa da colaboração de toda a população é a coleta seletiva de lixo. Para informações acompanhe em http://mma.gov.br/separeolixo


biente O uso do solo

O melhor meio para se evitar grandes transtornos por ocasião de uma inundação é regulamentar o uso do solo, limitando a ocupação de áreas inundáveis a usos que não impeçam o armazenamento natural da água pelo solo e que sofram pequenos danos em caso de inundação. Esse zoneamento pode ser utilizado para promover usos produtivos e menos sujeitos a danos, permitindo a manutenção de áreas de uso social, como áreas livres no centro das cidades, reflorestamento, e certos tipos de uso recreacional. (Ambiente Brasil)

Ações permanentes da Prefeitura de Vila Velha como prevenção às enchentes

w Criação de 16 equipes de mutirão em escala de rodízio em todas as regiões. O mutirão é permanente e inclui capina, varrição, limpeza de caixa ralo. w Realização de ciclos de limpeza superficiais dos 45 km dos canais, com a média de retirada de 50 toneladas/mês. São retirados: gigogas, móveis, diversos tipos de entulhos, pneus, objetos trazidos pela correnteza ou jogados pelos moradores. (Canal da Costa/ Guaranhuns/Marilândia/ Rio Marino/Do Congo). w Implantado em novembro, o projeto Cata-Móveis recolhe móveis e eletrodomésticos das casas. Os que estiverem em bom estado, serão doados. Ações permanentes da Prefeitura de Cariacica como prevenção às enchentes

Ações realizadas neste ano

w 24 bairros foram atingidos com limpeza de valões e galerias. w Pavimentação em alguns bairros com o objetivo de manter os cursos d’água onde existem canais a fim de minimizar os alagamentos. Em andamento: Limpeza de valão em Vale dos Reis e Piranema e de Novo Horizonte a Novo Brasil. Limpeza do canal Rio Marinho, Boa Sorte e Itanguá.

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entrevista Maria da Luz Fernandes

FREI BETTO Frei Beto, como é conhecido, ou Carlos Alberto Libânio Christo, nome de batismo, conversou com a Revista Vitória sobre sua vida, a Igreja e a sociedade.

vitória - O que significou, na história de vida do senhor, morar por um tempo em Vitória? Frei Betto - Fiquei preso de 1969 a 1973. Quando saí da prisão, havia uma pressão do governo, da Igreja, da família e da Ordem para que eu fosse para o exterior. Mas eu não queria, porque muda-se um país estando dentro dele, e não estando fora. Eu nunca tinha vindo aqui e não conhecia ninguém, mas pela facilidade de deslocamento para as cidades que eu mais circulo - Belo Horizonte, Rio e São Paulo -, decidi vir para Vitória. vitória - Quais foram suas atividades na Arquidiocese?

Frei Betto - Entrei de cabeça, tempo exclusivo para a Pastoral. Organizei e ministrei cursos, reorganizei a Cáritas de Vitória, contribuí na formação de toda uma geração de políticos naquela época e assessorava outras dioceses.

vitória - Como foi a sua experiência aqui, com as pas-

torais?

Frei Betto - Foi extremamente rica. Aqui se organizaram os

primeiros encontros eclesiais das CEBs. Vitória era o ponto de referência do Brasil, vinha todo mundo aqui conhecer as CEBs, chegamos a ter uma rede de 14 barracos de agentes pastorais nos bairros mais pobres de Vitória e Vila Velha.

vitória - O senhor tem uma história interessante. É escritor, tramitou pela política, é frade. Como é que o frei Beto se define? Frei Betto - Eu sou um peregrino de Deus viajando a bordo de um paradoxo. A vida é paradoxal. Essa multiplicidade de atividades vem da formação que eu tive. Meu pai era uma pessoa extremamente ligada à política, chegou a ser vereador. Minha mãe era uma militante da Ação Católica, uma mulher da Teologia da Libertação, quando nem existia essa expressão. Com 17 anos eu fui para a direção da Ju-

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ventude Estudantil Católica no Rio e durante três anos corri o Brasil inteiro articulando esse movimento. vitória - O senhor é muito que-

rido por algumas alas da Igreja, mas olhado com receio por outras. Frei Betto - Eu sou um ser apocalíptico, ou quente ou frio. Não há meio termo. Isso não me preocupa em nada, porque eu creio que todas as pessoas que buscaram coerência na luta por justiça, nos valores do Evangelho passaram por isso. Sempre escrevi muito, o fato de eu escrever e manifestar minha opinião causa polêmica. Eu tenho ideias consideradas progressistas, gosto delas. Nunca fui censurado pela Igreja, apesar de alguns reacionários dizerem que eu já não sou frade, que eu sou infiltração comunista. vitória - Na Igreja o senhor

nunca foi tolhido nas suas ações e iniciativas? Frei Betto - Pelo contrário. Na prisão recebi apoio pessoal do papa Paulo VI. Ele me mandou um cartão manuscrito de apoio e um terço feito com caroços de azeitona. Levei sindicalistas, como o Lula, para conhecer João Paulo II na primeira viagem que ele fez ao Brasil. Então, embora dentro da Igreja vários bispos e cardeais não podiam e não podem nem ouvir meu nome, eu tive imenso apoio de D. Aloísio Lorscheider, D. Paulo Evaristo Arns, de D. Hélder, D. Pedro Casaldáliga e do Cardeal Villot que foi secretário de Estado.

“Aqui se organizaram os primeiros encontros eclesiais das CEBs. Vitória era o ponto de referência do Brasil, vinha todo mundo aqui conhecer as CEBs, chegamos a ter uma rede de 14 barracos de agentes pastorais nos bairros mais pobres de Vitória e Vila Velha.”

vitória - Quando o senhor teve uma participação no governo do Lula, com o projeto Fome Zero e se envolveu mais diretamente na política a Igreja colocou restrições à sua atividade? Frei Betto - Veja bem, tem duas coisas que todo mundo pensa que eu sou e que eu nunca fui: padre e militante de partido político. Várias vezes eu fui convidado por petistas muito amigos, que assumiram funções no serviço público, para assessorá-los, e eu sempre disse não. A começar, o Vitor Buaiz, ex-governador do Espírito Santo, que trabalhou na Cáritas comigo e era da minha turma, que eu ajudei a formar. Nunca me filiei a nenhum partido político, sempre gostei da minha independência, da minha liberdade. Mas quando o Lula me convidou para trabalhar com os mais pobres dos pobres, que são os famintos, eu falei com o meu superior no Brasil e com meu superior em Roma e os dois disseram: “Você tem que ir”. Eu fui em consenso com os meus superiores. Agora, é claro que muita gente pensou: “Poxa, esse cara no governo...”. Eu saí porque eu fui para trabalhar no Fome Zero, que tinha caráter emancipatório, e aí o governo “matou” o Fome Zero e criou o Bolsa Família, que é bom, mas tem caráter compensatório. vitória - O governo mudou o projeto. O senhor acha que a Igreja também se distanciou um pouco dessas lideranças? Frei Betto - A Igreja se distanciou

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entrevista

muito das bases populares a partir do pontificado de João Paulo II. A Igreja está num impasse, agora explicitado pelo Papa Francisco. Ninguém mais tem proximidade física ou proximidade geográfica. E aqui na América Latina se inventou um grande caminho pastoral que foram as Comunidades Eclesiais de Base. vitória - A proposta seria, então,

valorizar mais as Comunidades Eclesiais de Base? Frei Betto - E as pastorais populares. Como a Pastoral Carcerária, da Mulher, do Índio, do Negro, da Criança. Acho que esse é o caminho. Você tem que fazer comunidades de advogados, de mestres de obras, de pequenos agricultores, pessoas que têm identidade na vida, no seu trabalho. As nossas paróquias se elitizaram, porque há um clericalismo muito forte. Há um equívoco de querer começar a evangelização pela sacramentalização e não pela oração, pela meditação, pela experiência de Deus. vitória - O Papa Francisco tam-

bém apontou o clericalismo como um dos problemas que impedem

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a Igreja de crescer. O senhor se sentiu confortável com isso? Criou uma expectativa com o Papa? Frei Betto - Você não tem ideia da minha alegria com o Papa Francisco, eu achava que ia morrer sem ver outro João XXIII. E de repente, Deus me dá esse presente de estar vivo quando o Papa Francisco é eleito. Sinto-me muito reconfortado. Espero que Deus dê a ele longa vida porque a Igreja precisa passar por uma reforma muito profunda e ele já começou pelo papado, destituindo símbolos nobres, enfatizando a questão da opção pelos pobres, fazendo dura crítica ao capitalismo neo-liberal. Fico muito feliz que Francisco tenha surgido depois de um tempo em que a Igreja estava fechada em si mesma. vitória - O Brasil pela própria

história tem mais condições que outros países, de fazer a mudança acontecer? Frei Betto - Claro. Nos quatro primeiros encontros das Comunidades Eclesiais de Base em Vitória havia 70, 100 pessoas, agora em Juazeiro do Norte tinha 4.600 pessoas, foi o encontro de maior participação.

O que mostra que as CEBs estão muito vivas. Aqueles que dizem que as CEBs não existem mais, que morreram, é porque se deixam guiar pela mídia. vitória - O que o surpreendeu em suas passagens por diversos ambientes, regiões e países? Frei Betto - Muitas coisas, mas o que mais me surpreende hoje é ver que a América Latina é o único continente do planeta onde há esperanças. É o único continente do planeta onde cada vez mais os eleitores, apesar da estrutura burguesa do processo político, escolhem governantes identificados com os anseios populares. Isso pra mim é surpreendente, é fruto de todo um movimento popular que foi construído desde a base e no qual essa Igreja dos pobres tem um papel preponderante. vitória - Como o senhor percebe

a Igreja de Vitória hoje? Frei Betto - Apesar de não acompanhar mais a Igreja de Vitória, sei que ela talvez seja uma das arquidioceses do país com a mais bela história de atividade pastoral, de compromisso evangélico e de opção pelos pobres.


arte sacra

ESTAÇÕES DA “VIA SACRA” “Na sua misericórdia infinita, Deus salvou os homens pela morte e ressurreição de seu Filho, que Se humilhou a Si próprio, tomando a forma de servo e obedecendo até à morte e morte de cruz.” (Ritual de Bênçãos nº1103).

A

Via Sacra é a via ou caminho que acompanha o Senhor Jesus em seus sofrimentos do Tribunal de Pilatos ao Monte Calvário – Paixão de Nosso Senhor – devoção que recorda os passos da Via Dolorosa ou Via Crucis. Realizada geralmente durante o Tempo da Quaresma nas igrejas do mundo inteiro, imita as peregrinações a Jerusalém, local do evento da paixão, morte e ressurreição do Senhor. O número de estações, fixado em 15 ou 14, contempla ou não a estação da Ressurreição. Surgiu no século XVI e os quadros com as imagens que ilustram esses momentos foram introduzidos nas igrejas no século XVIII. Além do anúncio da estação e das orações específicas, o Beato Papa João Paulo II introduziu na sua meditação a narração dos textos evangélicos referentes a cada estação, como continua sendo feito no Coliseu, em Roma. A Via Sacra é uma devoção popular que surgiu em um tempo onde o povo não tinha acesso à Bíblia e à liturgia e se mantém até hoje ajudando no conhecimento dos mistérios da nossa fé em Cristo. Expressa normalmente através de quadros com imagens, cada estação é, na maioria das vezes, identificada de fato, pelo numeral em algarismo romano que vemos. Seja de cerâmica, mosaico, metal ou outro material, olhar para ela nos ajuda na meditação e nos coloca mais próximos daquele momento contemplado.

Embora muitas igrejas mantenham os quadros das estações em seu interior, aqui e em outros lugares, há também o costume de se fazer encenações que representam as cenas ao vivo, subida penitencial ao Convento da Penha ou caminhada pelas ruas dos bairros nas diversas comunidades eclesiais, como os próprios documentos orientam. A Basílica de Nosso Senhor de Matosinhos, em Congonhas, por exemplo, fica no alto do morro e, na subida, estão as estações da Via Sacra: capelas com cenas da Paixão de Cristo representadas por esculturas em madeira, todas feitas por Aleijadinho. De uma forma ou de outra, elaboradas com arte, são expressões da fé católica. Raquel Tonini, membro da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese de Vitória e Grupo de Reflexão do Setor Espaço Celebrativo da Comissão Litúrgica da CNBB

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Mundo litúrgico

Por que cobrir as

historiador da arte sacra, sempre diz quando apresenta seus projetos para igrejas: estamos construindo um microcosmos, um mundo organizado, a Jerusalém gloriosa, a Cidade Santa frente ao mundo desorganizado e caótico. Nossos templos querem ser o céu resplandecente, tendo a luz do Cordeiro como o centro dessa morada. O texto do Apocalipse, no seu final, descreve em detalhes essa Morada de Deus entre os homens. A arte barroca investiu nas cortinas, palcos, luzes, cenas e arranjos nos seus lugares de maior pujança, como reflexo de magnificência. Na vivência da construção das igrejas, fez da morada de Deus entre os homens uma casa para o convencimento, a paixão, as trevas e a luz. O período da quinta semana da Quaresma era conhecido como Semana de Trevas e, antes do Concílio, era obrigatório cobrir as cruzes e imagens. Tendo como pano de fundo as trevas

imagens durante a Semana Santa?

U

m costume diferente para alguns lugares e familiar a outros é a prática de, durante a Quaresma e Semana Santa, cobrir ou velar as imagens dentro das igrejas. Talvez por causa da cor do tempo, o mais comum é encontrar as imagens atrás de cortinas roxas ou mesmo envolvidas em panos roxos. Um costume antigo ao qual o atual missal, na sua 2ª edição típica,

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ainda faz referência, quando, na Quaresma, chegamos ao 5º Domingo: “Pode-se conservar o costume de cobrir as cruzes e imagens da igreja, a juízo das Conferências Episcopais. As cruzes permanecerão veladas até o fim da celebração da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa. As imagens, até o início da Vigília Pascal”. Cláudio Pastro, artista e


que aconteceram na morte de Jesus na cruz, o paraíso terrestre, nossa Jerusalém do Alto, nosso Templo, é desfeito em trevas: “Jesus nos foi tirado”. As dores de Maria, a paixão do Senhor geraram muitas celebrações, procissões, cantos e, diria, ações paralitúrgicas. Uma dessas ações, tirando o nosso céu na terra, para simbolicamente o recuperarmos na Páscoa, é cobrir as imagens, desnudar os altares, tirar as flores, apagar as velas. Inclusive na Quinta-feira Santa volta-se a recomendar cobrir as cruzes, que não possam ser retiradas, para a apresentação solene do Crucificado na celebração da Paixão do Senhor, não mais como um simples costume.

Descobrir a cruz gerará em sua razão o desvelar de toda a igreja na Páscoa, na celebração da luz que abre a Vigília Pascal. Os santos e santas participam já dessa nova vida na luz da ressurreição. Essa teatralidade foi repensada a partir da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, mas este também falava do respeito pela cultura do povo. No processo de inculturação da fé, cabe-nos o cuidado para não cair no excesso teatral barroco ou no desrespeito aos costumes locais, quando esse costume de cobrir as imagens ainda lhes fala para a vivência da Semana Santa. Pe. Diovany Roquim Amaral, Diocese de Oliveira -MG

O Tríduo Pascal e o domingo No decorrer do ano litúrgico celebramos-atualizamos o mistério de Cristo no tempo. Assim como o coração bombeia sangue para o corpo, o Tríduo Pascal garante vitalidade para todo esse mistério. A Páscoa semanal (domingo) ganha novo sentido quando a Páscoa anual é compreendida a partir de uma visão globalizante: não são três celebrações isoladas e independentes, mas elas se unem de forma harmoniosa – em torno da ceia (Quinta-feira Santa), em torno da Cruz (Sexta-feira Santa) e em torno do Sepulcro vazio (Sábado Santo) -, conduzindo os fieis à contemplação máxima o amor de Deus pela humanidade.

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espiritualidade

QUER TER VIDA BOA?

A

vida é uma viagem, ou melhor, uma peregrinação. Mas, essa viagem onde começa e onde termina? A nossa viagem começou no coração de Deus Pai que nos conhece e ama desde toda a eternidade e, em determinado momento da história, aqui nos colocou para viver, ou caminhar, ou peregrinar até o Céu. Ninguém nasce por acaso ou acidente. A vida é um dom de Deus. Nesse

mundo todos temos uma missão que pode ser resumida numa frase: Fomos criados para fazer o bem! A vida será boa e viverá bem aquele que passar a vida fazendo o bem. Aqui não importa a quantidade de problemas, dificuldades e sofrimentos que terá que suportar. A vida boa não consiste na ausência de sofrimentos, mas, na quantidade e qualidade do bem realizado. É impossível alguém ter uma “vida boa” realizando o mal e, pelo contrário, aquele que faz o bem tem vida boa e será feliz. Jesus “passou fazendo o bem” (Cfr. At, 10, 38), Ele é o nosso Mestre e nós cristãos, somos seus

discípulos e missionários da bondade. Sozinhos, não conseguimos fazer o bem sempre e a todos. Precisamos do auxílio e da graça do Espírito de Deus para perseverar no bem. Quando não conseguimos fazer o bem ou até fazemos o mal, o Senhor misericordioso e cheio de bondade nos perdoa tudo e nos ajuda a recomeçar sempre. Enfim, os filhos de Deus, sob nenhum pretexto, jamais podem desanimar. Quem tem fé e confiança no amor do Pai jamais desanimará. Como sabiamente afirmou o nosso querido Papa Francisco: “Há a escuridão, há dias de escuridão, e mesmo dias de fracasso e também dias de queda: uma

pessoa caiu, caiu... Fixai isto no pensamento: não tenhais medo dos fracassos, não tenhais medo das quedas. Na arte de caminhar, o que importa não é tanto não cair, como sobretudo não “ficar caído”: levantar-se depressa, logo, e continuar a caminhar. Isto é bom: esforçar-se todos os dias, eis o que é caminhar humanamente. Mas também é ruim caminhar sozinho, é mau e chato. Caminhai em comunidade, com os amigos, com aqueles que nos amam: isto ajuda-nos, ajuda-nos precisamente a chegar à meta para onde devemos ir”! (Homilia 7/6/2013).

Dom Rubens Sevilha, ocd Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória

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comunidade de comunidades

Santo Expedito

ajuda-nos a crer que tudo é

C

onhecido com o santo das causas urgentes, Expedito embora tenha uma história de vida pouco conhecida, tem grande prestígio junto ao povo. Em nossa Arquidiocese apenas cinco comunidades têm o santo como padroeiro. Era um militar, da região da Capadócia (atual Armênia) que tocado pela graça de Deus, converteu-se ao Cristianismo e resolveu mudar de vida. Foi então que o demônio lhe apareceu sob a forma de um corvo, sugerindo-lhe que adiasse sua conversão. Mas Expedito, pisoteando o corvo, gritou “Hoje”, sem adiamentos. Daí o imediatismo atribuído ao santo. A tradição histórico-familiar nos sugere o “responso a Santo Expedito” para localizar algum objeto perdido, a aprovação num processo seletivo, arrumar um emprego melhor, recuperar uma amizade, a cura de uma doença, enfim, para algo que não pode esperar, que a demora ou a não realização, poderia causar prejuízo Quem confia na eficácia do santo, que é lembrado pela Igreja em 19 de abril, é a coordenadora de umas Santo Expedito nas comunidades Área Benevente Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Concha d’stra (Guarapari) Paróquia Nossa Senhora da Assunção – Nova Anchieta (Anchieta) Paróquia São João Batista – Ibiapaba (Cariacica-sede) Paróquia de Nossa Senhora de Fátima – Vivendas (Pedra Azul) Paróquia Nossa Senhora da Glória – Jaburuna (Vila Velha)


possível das comunidades da Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Vila Velha, Sirleide Smarzaro. Ela nos contou a história de dois jovens que se conheceram na igreja e ambos fizeram o mesmo pedido ao santo: que achassem um companheiro/a e que fossem felizes na união. Eles estão casados há três anos! A coordenadora da comunidade dedicada ao santo na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Guarapari, Elizabeth da Penha Vaz Caetano também conta com a intercessão do padroeiro. As obras da capela do Santíssimo, segundo ela, foram concluídas com a ajuda do santo. “A comunidade é humilde, porém muito unida e atuante. Recebemos doações de pesso-

as que alcançaram graças pela intercessão do santo. A conclusão desta obra também é uma graça de Santo Expedito”, finalizou. Santo Expedito, jovem, é um símbolo da nossa fé vigorosa, viva e sólida. Representado como um jovem. Essa juventude deve ser a imagem de nossa alma, jovial, inquieta e destemida, revestida de Jesus Cristo. Que tenhamos no nosso dia a dia o mesmo compromisso de Expedito: servo zeloso, sempre pronto a colaborar para que o Reino de Deus aconteça, sem deixar para amanhã, pronto para o “combate”, para interceder por quem precisar. Gilliard Zuque

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comunidades são dedicadas ao santo na Arquidiocese de Vitória

Oh! Santo Expedito, das causas justas e urgentes, intercede por nós junto a Nosso Senhor Jesus Cristo, para que venha em nosso socorro nesta hora de aflição e desesperança. Santo Expedito, tu que és o Santo guerreiro; tu que és o Santo dos aflitos e desamparados; tu que és o Santo dos desempregados; tu que és o Santo das causas urgentes, protege-nos, ajuda-nos, concedendo-nos força, coragem e serenidade. (Fazer o pedido) Santo Expedito ajuda-nos a superar estas horas difíceis, protegendo-nos de todos os que possam nos prejudicar, protegendo nossa família, atende nosso pedido com urgência, devolvendo-nos a paz e a tranquilidade. Amém!

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Reportagem LetĂ­cia Bazet

A

santidade

percebida nos gestos Canonização em 27/04/2014


Quando ele quebrou o protocolo e desceu na lama pelo corredor de gente, as pessoas corriam para abraçá-lo, as vestes dele, cor de vinho, lindas, cheias de lama, e ele tão carinhoso com as pessoas. Eu consegui chegar, dar tchau, eu vi ele. Não encostei nele, não cheguei perto, mas eu estava lá, eu acenei para ele. Jamais esquecerei. Eu peguei na mão dele, foi como se ele fosse um anjo. Inesquecível. Foi o melhor dia da minha vida. Ele passou tão próximo a mim, mas a minha emoção não me deixou perceber.

O

s depoimentos acima são relatos de moradores do bairro São Pedro, recordando o outubro de 1991, ocasião em que o beato João Paulo II escolheu essa comunidade para uma visita. As lembranças permanecem vivas na memória de quem esteve no local, mesmo passados 23 anos. Dulce era catequista na época, e junto com outras comunidades preparou um coral de 300 crianças para realizar uma apresentação para o pontífice. “Foi um dia muito especial e também angustiante, pois falaram-nos que se estivesse chovendo ele não viria mais aqui. E durante toda a semana a chuva não cessou. Na noite anterior à visita, tive um sonho com o papa, no qual ele me garantiu que em hipótese nenhuma deixaria de vir a São Pedro. No dia a chuva insistia em cair, e ao avistar o helicóptero se aproximando, as crianças choravam, se

abraçavam, e as lágrimas se misturavam com a água que caía do céu. Só de falar me arrepio, pois a gente se mobilizou, rezamos muito porque as dificuldades eram muitas. Hoje em dia ver São Pedro do jeito que está e lembrar do que o bairro já foi, isso é obra de alguém, e eu acredito que seja de João Paulo II”. Houve também quem se esforçou para presenciar a cena e não perder o momento de uma visita histórica. Marlene Paiva trabalhava como doméstica em Maruípe e solicitou a patroa para que a liberasse para ver o papa. Com as vias e acessos interditados para a passagem de veículos, ela andou até São Pedro e chegou a tempo de acenar em despedida. “O filho da minha patroa tinha sete anos e insistiu que queria ir também, então fomos nós, andando, com a esperança de chegar a tempo, e conseguimos. Ele estava prestes a subir no helicóptero, acenando para as pessoas

“Tinha muita gente, a chuva caía, ele andou em meio às pessoas, na lama, e eu consegui tocar na mão dele, foi inesquecível esse momento. Já faço minhas orações e peço graças a ele” Dalva Natividade

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Reportagem

e eu estava lá, não encostei, não cheguei perto, mas estava lá, eu vi o papa na minha terra, esse bairro que eu sou apaixonada. São Pedro cresceu e muito mais, prosperou na fé, esse é um povo que tem fé. Com certeza João Paulo II será o meu santo de devoção. Nós saímos da condição de lugar de toda pobreza para lugar de toda riqueza, e isso graças a ele, eu tenho certeza”. A vinda de um papa a um Estado envolve a preparação em diversas frentes, como a resolução de questões burocráticas, esquemas de segurança, logística, apoios políticos e empresariais. O Papa João Paulo II veio a Vitória e participou de dois momentos: uma missa na Praça do Papa e uma visita ao bairro São Pedro. Para o padre Ayrola, então pároco da Catedral Metropolitana e administrador da Mitra, foi dada a tarefa de coordenar todos os trabalhos relativos à realização da

missa. Para ele, foi um dos maiores desafios da sua vida “um momento de muita responsabilidade, pois havia muitas exigências, precisamos do envolvimento de muitas pessoas, diversas comissões foram criadas para que tudo desse certo, e deu, graças a Deus, nada atrapalhou”. Apesar de toda a burocracia envolvida, um gesto do pontífice marcou o sacerdote: “ao descer do carro, ele segurou bem forte na minha mão, como quem precisasse de apoio mesmo, e daquela forma ele permaneceu por onde andamos e passamos, segurando firme em mim, não sei se era cansaço... Mas assim ele ficou até o momento em que o deixei no local onde ele ficaria hospedado, e ele me disse: Obrigado, Deus lhe pague! Aquilo me marcou muito”. José Eugênio Vieira era o secretário da Casa Civil na ocasião e também se recorda com detalhes dos

“Foi o melhor dia da minha vida, uma emoção indescritível. Meus filhos cantaram no coral e minha filha conseguiu abraçá-lo e ainda ganhou um terço dele, que eu guardo até hoje com muito carinho” Maria das Graças Basílio

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preparativos para a recepção. Ele ficou responsável pela organização do projeto para a colocação do altar na Praça do Papa, pela logística da visita a São Pedro e também por arranjar parcerias para custear toda essa preparação. Ao resgatar a memória e se recordar do dia, o atual diretor superintendente do Sebrae se emociona. “A sensação de estar próximo a ele me emociona, na época dava aqueles arrepios, até porque ele era uma figura muito humanitária, uma pessoa que cativava, tinha um dom de fazer as pessoas sentirem isso. Essa forma carinhosa, a pouca preocupação com segurança fazem dele uma pessoa especial”. A visita está registrada em um capítulo do livro escrito por José Eugênio.

Etapas do processo de canonização A tramitação do processo de santidade de um católico morto com fama de santo passa por etapas bem distintas.


Simplicidade, humildade, carisma, gestos afetuosos e fraternos foram algumas palavras utilizadas pelos entrevistados para que, segundo eles, se justifique a canonização do beato João Paulo II anunciada pelo Papa Francisco para este mês de abril, juntamente com o beato João XXIII.

Trechos da homilia de João Paulo II na Praça do Papa

“Queridos irmãos e irmãs deste Estado do Espírito Santo e todos que aqui vieram do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do sul da Bahia e de outros lugares! O Papa se sente feliz no dia de hoje. Veio ele conhecer uma das mais antigas comunidades na história da Igreja no Brasil. [...] Esta comunidade foi santificada pela presença do Beato José de Anchieta que passou neste Estado os últimos anos de sua vida missionária e faleceu no final do século dezesseis na aldeia indígena de Reritiba, que é hoje a cidade que leva o seu nome.” “A imagem quinhentista de Nossa Senhora da Penha que nos acompanha nesta Celebração Eucarística, evoca-nos aquela “mulher vestida de sol... e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça” (Ap 12, 1-2) contemplada por São João. Nossa Mãe é Rainha. Rainha de todos os homens, dos filhos de Deus e irmãos de Jesus Cristo, até o fim dos séculos.” “Amadíssimos filhos e filhas, coloquemos estes propósitos nas mãos do Beato José de Anchieta. Este Apóstolo do Brasil, que se consagrou inteiramente à causa do Evangelho, a quem tanto venerais, sirva de modelo e de estímulo para que possais colocar vossas melhores energias a serviço da Igreja, nossa Mãe. Que o Espírito Santo ilumine este Estado do Brasil, que leva Seu mesmo nome, dirigindo os passos de seus filhos e filhas em direção ao porto definitivo, o Reino dos Céus.”

Cinco anos após a sua morte, qualquer católico ou grupo de fiéis pode iniciar o processo através de um postulador, constituído mediante mandato de procuração e aprovado pelo bispo local. Juntam-se os testemunhos e pede-se a permissão à Santa Sé. Quando se consegue esta permissão, procede-se ao exame detalhado dos relatos das testemunhas, a fim de apurar de que forma a pessoa em questão exercitou a heroicidade das virtudes cristãs. Aos bispos diocesanos compete o direito de investigar acerca da vida, virtudes ou martírio e fama de santidade ou

de martírio, milagres aduzidos, e ainda, se for o caso, do culto antigo do Servo de Deus, cuja canonização se pede. Este levantamento de informações é enviado à Santa Sé. Se o exame dos documentos é positivo, o “servo de Deus” é proclamado “venerável”. A segunda etapa do processo consiste no exame dos milagres atribuídos à intercessão do “venerável”. Se um destes milagres é considerado autêntico, o “venerável” é considerado “beato”. Quando após a beatificação se verifica outro milagre devidamente reconhecido, então o beato é proclamado “santo”.

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Caminhos da Bíblia

Tempo propício para o

encontr com o Senhor

A

Igreja propõe neste tempo fértil da Quaresma momentos de encontro com o Senhor e com a sua Palavra. Nestes, cada fiel é convidado a olhar para si mesmo, refazer o caminho voltando-se para o Senhor e abrir os olhos para as necessidades dos irmãos e irmãs. Neste ano, de forma especial, a Igreja deseja despertar a consciência dos fiéis e abrir os seus olhos para a triste situação das pessoas que são tratadas como mercadoria de troca e venda, pelo tráfico humano. A Quaresma é um caminho de conversão e de mudança de vida, que exige compromisso e constância, um espírito decidido, como diz o Salmo 50,12. Entre os muitos encontros descritos nos Evangelhos, dois deles, por sua proximidade e semelhanças, devem chamar a atenção dos leitores, é o caso da cura do cego e a conversão de Zaqueu. O relato de Lucas no capítulo 18,35 − 19,10 se passa na cidade de Jericó, pela qual Jesus deve atravessar em sua “subida” na direção de Jerusalém. Este caminho é marcado pela cura do cego, pelo perdão e pela acolhida de Zaqueu, ambos tocados pelo dom de Deus

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ro que será plenamente manifestado na entrega do Senhor na cruz, na Cidade Santa. A descrição de um e de outro encontro é muito similar, pois, o mesmo acontece com o cego e com Zaqueu: ambos impossibilitados de se aproximarem de Jesus, por causa da multidão que os impedia, são acolhidos pelo próprio Senhor. A força do cego é sentida e, ao saber que o Senhor passava, começa a gritar o seu nome. A iniciativa do cego chama a atenção de Jesus que o acolhe e responde positivamente ao seu pedido: “Senhor que eu possa ver novamente”.

A palavra de Jesus ao cego é: “Vê de novo; tua fé te salvou”. O verbo “salvar” indica de forma clara a cura total deste homem, elemento importante do Evangelho de Lucas, que indica a alegria da salvação que nos vem por meio do nascimento do Salvador (cf. Lc 2,10). O cego salvo e curado passa a seguir Jesus. Um outro encontro e outro homem é apresentado: Zaqueu, descrito como rico e cobrador de impostos. Como o cego, Zaqueu, por causa de sua baixa estatura, não consegue ver Jesus e, mais uma vez, a presença da multidão é colocada também como um empecilho (cf. Lc 19,1-4). Mesmo depois de ser acolhido por Jesus, a multidão questiona a atitude do Senhor por ter ido se hospedar na casa de um pecador, murmurando contra a vontade de Deus de procurar o que estava perdido − ponto central do Evangelho de Lucas, repetido tantas vezes no próprio texto do Evangelho.

Apesar do texto indicar a hospitalidade de Zaqueu, um olhar mais atento percebe que é o próprio Zaqueu quem é acolhido diante de Jesus, acolhido no Reino, acolhido como verdadeiro discípulo. O gesto de partilha de Zaqueu, mencionado no Evangelho, é algo que marca a vida das primeiras comunidades cristãs, que tinham tudo em comum e dividiam seus bens com alegria (cf. At 2,42-47). Apesar dos empecilhos e da atitude contrária da multidão, ambos vão na direção de Jesus, ambos dão um passo significativo no encontro com o Senhor, que os acolhe e indica o caminho do discipulado e no caso de Zaqueu de uma sincera e real mudança de caminho e de vida. Que estes dois encontros com o Senhor sejam fonte de inspiração neste tempo de graça e conversão. Pe. Andherson Franklin, professor de Sagrada Escritura no IFTAV e doutor em Sagrada Escritura

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aspas

Pensamentos de Padre João Batista Libânio À medida que as pessoas vão crescendo espiritualmente, apreciam cada vez mais as alegrias menores da vida e percebem que o ter não acrescenta nada ao ser. O sorriso cheio de carinho de uma criança vale mais que os ganhos nas bolsas de valor. A riqueza exige muito tempo, desgaste de energia, preocupações para conservá-la, aumentá-la. E para o coração sobram pouco tempo e escassa energia. Artigo ‘Viver de forma franciscana’ - setembro de 1999

Portanto, quando nos sentirmos mais arrasados, apuremos os nossos ouvidos e ouviremos de Deus que somos seus filhos muito amados. Penso que, se entendermos um pouquinho desse mistério de Jesus, nossas tristezas, nossas dores e nossos sofrimentos se diluiriam e encontraríamos uma grande paz interior. Homilia do dia 12 de janeiro 2014, em Vespasiano (MG)

A Ética cumpre a melhor função de vigilância. Apela para a verdade, a responsabilidade, a liberdade e a consciência. Quando falta, os humanos a substituem com terrível parafernália de repressão e inspeção eletrônica.

Em primeiro lugar, não podemos esperar nenhuma recompensa pelos nossos atos. Parece que isso nunca foi do feitio de Jesus, pois Ele é o homem da gratuidade, simplesmente faz sem esperar o retorno. Se vier, agradece, mas não busca a recompensa, a resposta. É muito difícil porque vivemos num mundo comercial, estamos acostumados a pagar pelo que recebemos e estendemos essa troca também em nossas relações pessoais, mas Jesus quer que cultivemos a generosidade e a gratuidade radical em nossa vida. Homilia do dia 06 de outubro 2013, em Vespasiano (MG)

Artigo ‘Ética para além dos Direitos Humanos’ 21 de outubro de 2007

Vivemos um duplo Brasil: real e virtual. O Brasil real é cheio de contradições, de problemas, de contrastes escandalosos, de uma riqueza esbanjadora e uma miséria ignominiosa, de políticos sérios e corruptos, de uma estabilidade econômica ao lado de desemprego, salários curtos. O Brasil virtual, imaginário, dos jovens de Brasília, é bonito, feito de viagens aos Estados Unidos ou Europa, de navegações pela internet, de conhecimento de línguas estrangeiras, de grifes, de privilégios, de impunidade. Os pobres, os mendigos, os meninos de rua não pertencem a esse mundo. O olhar do teólogo - ‘A cultura da indiferença’ - maio de 1997

Padre libânio Faleceu em 30/01/2014

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especial

N

este ano eleitoral, é bom chamar a atenção para um aspecto importante. Ao votar, nos preocupamos com o Executivo, mas o Parlamento também é relevante. No Brasil, é normal que o Chefe do Executivo pertença a um partido que, ao mesmo tempo, não conquista a maior parte dos cargos no Legislativo. Como resultado, é comum que outros partidos sejam convidados a apoiar o governo, formando uma base cheia de contradições. É por isso que devemos buscar coerência entre quem escolhemos para o Executivo e o Legislativo, notando que, no nosso país, quase sempre os partidos formam coligações para a eleição. Isto acontece porque as coligações somam uma grande quantidade de candidatos. Todos os votos dados aos seus candidatos e às legendas que dela fazem parte são usados para obter cadeiras no Legislativo. Quanto maior for a quantidade de votos que a coligação receba, mais cargos de deputado federal ou estadual conquistam (para o

O outro

candidato a deputado federal também do partido A. Mas o nosso candidato a deputado é mal votado. Os votos que demos a ele são transferidos na coligação e podem eleger alguém do partido E, por exemplo. E pode ser que este deputado do partido E, para apoiar o governo de Fulano, acabe exigindo em troca benefícios e compromissos que impedem a administração dele de cumprir o que prometeu em campanha. Portanto, temos que escolher um candidato ao governo e buscar outro ao Legislativo que seja aliado dele e que tenha condições de ficar nos primeiros lugares da coligação. Muitas vezes, votamos numa pessoa pelas qualidades pessoais dela, porém, se ela não tem boa estrutura de campanha, contribuímos para que alguém diferente seja eleito e isso afeta o desempenho do futuro governo. Assim, temos que pensar também no outro lado da moeda.

o d a l da moeda Senado é diferente). Os eleitos são os primeiros colocados de cada coligação. Se a coligação X recebe três vagas de deputado federal, por exemplo, os três candidatos mais votados daquela coligação é que são os eleitos. Ou seja, se votamos num candidato desta coligação que teve poucos votos e ficou lá atrás, o nosso voto é transferido para os que ficam nos primeiros lugares e é usado para eleger alguém que nós não sufragamos. Agora vamos supor que preferimos o candidato Fulano para o governo. Ele é do Partido A. O partido A formou coligação com os partidos B, C, D e E. Pode ser que esses partidos tenham grandes diferenças entre si, mas eles se juntam assim mesmo. Nós votamos no candidato Fulano, do partido A e votamos em um

André Pereira, Professor da UFES

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VIVER BEM

parar Para Perceber V

Há momentos que percebo que o “be a espera do meu o

ivemos uma vida tão agitada, tão corrida, tão competitiva, tão intensa que às vezes esquecemos de respirar com calma, de nos deliciar com as sutilezas da vida, de contemplar as maravilhas que o bom Deus nos concede todos os dias. Eu mesma me questiono se dedico algumas horas para mergulhar em meu interior, se consigo escutar as batidas do meu coração, se consigo olhar ao meu redor e admirar tudo que me cerca, meus filhos, meu marido, meus pais, meus irmãos, meus amigos! O tempo está voando e parece que a cada dia “ele” torna-se mais curto. Será que nós controlamos o tempo ou será o contrário? Penso que é possível parar e contemplar, sentar-se em um banco de uma praça, observar as crianças correndo, escutar o trinar

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Paciência Letra: Lenine

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma Até quando o corpo pede um pouco mais de alma A vida não para Enquanto o tempo acelera e pede pressa Eu me recuso faço hora vou na valsa A vida é tão rara Enquanto todo mundo espera a cura do mal E a loucura finge que isso tudo é normal Eu finjo ter paciência E o mundo vai girando cada vez mais veloz A gente espera do mundo e o mundo espera de nós Um pouco mais de paciência Será que é tempo que lhe falta pra perceber Será que temos esse tempo pra perder E quem quer saber A vida é tão rara (tão rara) Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma Até quando o corpo pede um pouco mais de alma Eu sei, a vida não para (a vida não para não)

paro e reparo e lo” ainda esta lá lhar... dos pássaros, o vento soprar as folhas, uma boa música... Nossa, como ela tem o “poder” de nos acalmar ou de agitar! Como seria a vida sem as melodias? A música existe desde que o mundo é mundo, com nuances de acordo com seu tempo, mas sempre com a finalidade de expressar algo ou tocar em algo... Quem não tem uma canção que marca algum tempo ou alguma historia?

Será que é tempo que lhe falta pra perceber Será que temos esse tempo pra perder E quem quer saber A vida é tão rara (tão rara) Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma Até quando o corpo pede um pouco mais de alma Eu sei, a vida não para (a vida não para não... a vida não para)

Quando canto,mergulho no mais íntimo do meu ser e tento traduzi-lo em cada nota que ecoa da minha boca, procuro expressar em gestos o verdadeiro sentido da canção e isso me acalma e me transforma... Precisamos parar, escutar e descansar. Nosso corpo, nossa mente, nossa alma necessitam deste TEMPO, só assim seremos capazes de vivenciar cada

segundo da vida com mais clareza, mais ternura, mais sabedoria e discernimento. A vida não é feita só de trabalho, muito pelo contrário, ela é recheada de momentos únicos e que precisam ser vividos intensamente, não como se fossem os últimos mas como os primeiros de muitos outros... Sugiro ouvir a música ‘Paciência’, de Lenine. Dalva Tenório

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ideias

Cinzas da quarta, A quaresma e a estrada e a mãe

É

bem interessante como as ideias se ligam na grande rede de associações dos modos os mais inusitados. O velho e sempre importante Freud até fez delas uma forma de sondar o inconsciente. Sentei-me para escrever sobre a quaresma e lá se foram as ideias se associando de imediato. Associei agradável e livremente a quaresma com uma es-

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trada que eu percorria no meu tempo de criança, quando, em certos domingos, íamos com nossa mãe à casa dos avôs maternos. Surpreendi-me com tal associação. Sigamos com ela. Íamos a pé por aquela estrada de uns três, quatro quilômetros, e aquelas caminhadas - tanto as de ida pelas manhãs, quanto as de volta à tarde - eram marcadas pelas mais variadas e gostosas curiosidades e pelas muitas e sempre novas pequenas surpresas. Ora a atenção era chamada por uma grande lagarta numa folha; ora por um ninho de passarinho num arvoredo que nos permitia, puxando delicadamente o galho, ver os ovinhos depositados naquele colchão de penugens; ora era um pé de goiaba que nos oferecia suas frutas como as mais saborosas da face da terra. Cada vez que fazíamos aquele caminho víamos as mesmas paisagens. No entanto elas se carregavam de tantas novidades que pareciam sempre novas. E, quando pensávamos


fogo do sábado que não, quando olhávamos para frente, lá ia bem adiante nossa querida mãe com seu passo constante e sua sombrinha colorida. Gritávamos “mãeeee” mais pela felicidade do momento do que para que ela nos esperasse. Ela nos esperaria com certeza, mesmo que não a chamássemos. Ela então diminuía seu ritmo, parava, e nos aguardava, enquanto corríamos cheios do que já conhecíamos - paisagens, pássaros, currais, plantações, vacas, árvores, frutas de beira de estrada - mas que naquela jornada tudo de novo se apresentava aos nossos olhos como se pela primeira vez. E o saber que se acumulava das experiências repetidas e sempre novas se tornavam experiências de vida, experiências que conjugavam laços afetivos, laços com a natureza, laços com outros conhecimentos, laços com a vida. Laços e entrelaces que nos constituíam como filhos de uma paisagem, partes de um mundo, membros de uma família. Mas vou dizendo tudo isso

para frisar que a quaresma não nos espera na estrada pacientemente. A quaresma não é mãe. É um tempo que se perde ou se ganha, um tempo que passa e que pode nos deixar para trás. Mas, apesar de não nos esperar, ela nos oferece a cada ano muitos novos elementos para pensarmos e repensarmos a vida. Muitas lições são passíveis de serem colhidas neste tempo como belas experiências de uma jornada espiritual. E de tantas que são não conseguiremos com certeza guardar todas. Algumas vêm e se vão no mesmo dia. Você as ouve e logo depois do “ide em paz” já foram esquecidas. Mas outras, no entanto, pela força dos ritos ou dos costumes, ficam mais presentes em nossas mentes. Dentre estas destacamos a lição das Cinzas da Quarta que remete ao Fogo do Sábado. As cinzas nos são dadas como sinal incontestável de que a morte paira sobre todos e ronda-nos por todos os lugares. “Tu és pó e ao pó voltarás”. Sim, um pó, um gesto, uma recordação, a

da morte. Mas uma recordação que quer nos incitar à vida, nos acordar para a vida, e nos fazer de novo, nos fazer outro, abrasado de nova luz. Se me deixo marcar pelo pó da morte só me resta como saída buscar por debaixo das cinzas o restinho de fogo que ainda existe. Sou incitado a soprar as cinzas e reacender em mim um velho tição a dar-me um fogo novo. Ah, que preciso perguntar-me nesta estrada: o que estou fazendo da minha vida? O que preciso reacender em mim? E nesta estrada também posso olhar para o alto da Penha e gritar...

Mãeeeeee! E ela nos esperará com muitas

alegrias Dauri Batisti

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prÁtica do saber Letícia Bazet

Práticas sustentáveis para o mercado de trabalho

C

om diretrizes voltadas para a sustentabilidade nas práticas de trabalho, os cursos de Design de Interiores e Moda da Faesa levam os alunos a uma reflexão sobre a adoção de novos tipos de materiais que reduzam a agressão ao meio ambiente. Seja na reutilização de materiais para evitar a retirada de uma nova matéria prima, ou na indicação de materiais sustentáveis na elaboração de um projeto, os estudantes são conscientizados sobre a importância de se estabelecer uma nova lógica de mercado. “Trabalhar o assunto em uma disciplina não atenderia a essas diretrizes propostas, percebemos, então, que a temática pode permear diversas disciplinas e proporcionar o conhecimento aos alunos”, afirmou a professora Tânia Crivillin, que trabalha com os alunos dos dois cursos a matéria História do Design. Além da questão ambiental, é realizada também a parceria com organizações de artesanato, com o intuito de desenvolver mais competitividade no mercado. “A ideia é que os alunos ampliem a possibilidade de uso dos produtos desenvolvidos por essas organizações. Por exemplo o

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”A indústria da confecção é altamente agressiva aos nossos mananciais. Sensibilizamos os alunos para buscar os pigmentos e fixações naturais.”

croché, eles fazem os paninhos e os alunos sugerem a produção de uma cúpula de luminária, uma gola de roupa, levando mais desenvolvimento, condições do grupo ter novas ideias, gerar mais renda, enfim, o que não deixa de ser uma questão de sustentabilidade também”, disse Tânia. De acordo com a professora, a conscientização tem em vista a adoção de uma nova postura diante do mercado de trabalho, e ainda o incentivo a pesquisas que busquem materiais menos nocivos ao meio ambiente. “Os alunos utilizam o jenipapo para tingir roupas, por exemplo, não alvejam. A indústria da confecção, como os

Kit Praia: Sandália feita com embalagem tetra pak, chapéu e bolsa confecção em crochê com sacolas de supermercado


Bolsa feita de aparas de papel - tingimento natural e verniz a base de água

tingimentos e a lavanderia do jeans, é altamente agressivo aos nossos mananciais, a química é muito forte. O setor de confecção tem essa problemática, então a gente tenta sensibilizar o aluno para buscar os pigmentos e fixações naturais”. Apesar de o desafio ser grande, Tânia acredita que a sensibilização e preocupação dos novos profissionais em estabelecer a reutilização e

o uso de materiais sustentáveis pode modificar a estrutura vigente. “A história divide os estudos entre o mundo agrícola e o mundo industrial. O mundo industrial chegou a ter esse desenvolvimento que tem hoje, porque apostaram nele. Os designs junto com a indústria contribuíram para atingir esse nível que chegamos hoje. Provavelmente se ele tiver hoje essa visão da responsabilidade social, do meio ambiente, nós vamos conseguir fazer essa mesma coisa, porém potencializando o lado da conservação, de prolongar a vida do planeta. Já que foi possível mudar para chegarmos onde estamos, porque fazer o caminho inverso daria errado?”, questiona. Peças de mobiliário, bancos produzidos com material reaproveitado, peças com colagens diferenciadas, iluminação, reaproveitamento de ralos, tubos e conexões, projetos com tin-

”Queremos abrir os seus olhos para a utilização de tecnologias que possam reaproveitar esses materiais e não simplesmente descartá-los na natureza.”

Saia de aniagem (algodão sem clareamento) com tingimento natural

gimentos naturais, fibras descartadas e sacolas de supermercado para a confecção de bolsas e chapéus, chinelos feitos de caixas de leite e roupas produzidas com latas de refrigerante são alguns dos itens produzidos pelos alunos, que expõem os materiais em feiras, quando são convidados e até mesmo os vendem para garantir uma renda extra. A produção dos itens com materiais descartados tem o objetivo também de conscientizar a população e a indústria de que aquele material pode ter alguma utilidade: “às vezes pode parecer que nós estamos querendo fazer com que as pessoas utilizem esse produto, enquanto na verdade, queremos abrir os seus olhos para a utilização de tecnologias que possam reaproveitar esses materiais e não simplesmente descartá-los na natureza, onde não haverá um tratamento correto para algo que ainda tem o seu valor”.

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vitória Revista da Arquidiocese de Vitória - ES

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Periodicidade: mensal


reflexões

INJUSTIÇA ESTRUTURAL

A

inda sob o impacto do Fórum Econômico realizado no início do ano, somos levados a uma reflexão à Luz da Palavra de Deus. O Fórum é reconhecido por sua conferência anual em Davos, Suíça. Seus membros acreditam que o progresso econômico e o desenvolvimento social andam lado a lado. Às vésperas do evento, o papa Francisco enviou uma forte mensagem aos participantes, pedindo mecanismos e processos rápidos para uma melhor

distribuição de riquezas. Os dois maiores incômodos entre as tendências apresentadas no Fórum foram: o desemprego e o aumento dramático das desigualdades sociais. O dado mais chocante e anti-evangélico foi a revelação de que as 85 pessoas mais ricas do planeta detêm uma riqueza equivalente à renda da metade mais pobre de toda a população mundial, como disse a presidente executiva da Oxfam, Winnie Byanyima. Na ótica cristã, uma fé autêntica comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, partilhar solidariedade e derrotar a globalização da indiferença. Este desejo de construir um mundo mais justo, em que se respeite mais o

homem criado por Deus à sua imagem e semelhança. O papa insiste na obrigação de reestruturar a atividade política, entendida como uma das formas superiores de caridade, como enfatiza na exortação apostólica, “A Alegria do Evangelho”, que “a dignidade de cada pessoa humana e o bem comum são questões que deveriam estruturar toda a política econômica, mas às vezes parecem somente apêndices sem perspectivas e sem programas de verdadeiro desenvolvimento integral”. Há um crescente consenso no fato que, a menos que seja revertida, a crônica perda de empregos e a ampliação das disparidades sócio-econômicas, veremos uma escalada global na agitação social.

A desigualdade continua sendo um sério problema mundial. Neste quesito, o Brasil infelizmente figura entre os destaques, apesar dos esforços recentes de políticas governamentais de inclusão. Não há dúvidas de que o crescimento da desigualdade é assunto de importância central. Nos trabalhos de Davos houve um consenso sobre a necessidade de mudanças para revertermos essa situação desumana. Que o Senhor nos conceda mais líderes no mundo que realmente se importem com a sociedade, que levem em consideração a dignidade de cada ser humano e o bem comum. Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória

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ARQUIVO E MEMÓRIA

A visita de DOM MARIA DE LACERDA AO ESpírito Santo

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o ano de 1886, Dom Pedro Maria de Lacerda, bispo do Rio de Janeiro, diocese à qual o Espírito Santo estava vinculado, realizou uma visita pastoral ao Estado. Em nossos arquivos encontram-se três livros manuscritos com informações significativas e preciosas, registradas numa caligrafia pequena e regular pelo bispo visitante. Ao passar nas localidades de Nova Almeida (Igreja Reis Magos), Anchieta e Guarapari, em vários momentos e situações, Dom Pedro recorda, elogia e exalta o trabalho do Padre José de Anchieta, que fundou em 1569 a Aldeia de Reritiba, hoje Cidade de Anchieta. Foi também ali que o missionário Jesuíta faleceu em 09 de julho de 1597 sempre declarando seu amor pela Cidade (Aldeia) e pelos Índios, eternizado em suas poesias.

...Não podia explicar os sentimentos que me inundavam achando-me junto ao quarto onde faleceu Anchieta. e nisso levei tempo e fiz sobressair por alto as grandes qualidades de tal homem. Lembrei que eu vira por vezes ao longe o berço de Anchieta em Tenerife em viagens que tenho feito à Europa e agora estava junto ao lugar onde ele expirou tendo já celebrado solenes exéquias na Vitória em 1880 junto do que foi seu túmulo. (Página 194 do diário de visitas pastorais de Dom Pedro Maria de Lacerda)

...Recordei a presença neste templo e casa do venerável servo de Deus Pe. José de Anchieta, e talvez de seu noviço grande Padre João de Almeida; relembrei a grande multidão de índios que aqui vinham ouvir o evangelho, batizaremse a si e a seus filhos, confessarem seus pecados, e buscar consolação, remédios, e conselhos aos jesuítas, seus amigos, médicos, missionários e pais. (Página 131 do diário de visitas pastorais de Dom Pedro Maria de Lacerda)

Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc

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ensinamentos

Festa das

festas

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Papa Francisco nos adverte: “Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa”. E nos convida a entrar na torrente de alegria do Evangelho que enche os corações daqueles que se encontram com Jesus Cristo Ressuscitado. A Páscoa cristã expressa a obra salvadora de Deus por meio da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, motivo da nossa maior alegria. Ela ocupa o lugar central no Ano Litúrgico, no qual são desdobrados os diversos aspectos do único mistério pascal. Não é simplesmente uma festa entre outras: é a festa das festas, solenidade das solenidades, como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos (o grande sacramento). A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta sacramental de seu único sacrifício na liturgia da Igreja, que é o seu corpo (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1169 e 1171). Cristo nos une à sua Páscoa. Todos nós como membros da Igreja devemos nos esforçar para nos tornarmos semelhantes a Ele “até Cristo ser formado em nós” (Gl 4,19). Por isso, somos inseridos nos mistérios da vida de Cristo, associamo-nos a suas dores como o corpo à Cabeça,

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para que padecendo com Ele, sejamos também com Ele glorificados (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 793). A Ressurreição de Jesus Cristo restaura o mundo com sua poderosa força, inaugurando um novo tempo na história humana. Bento XVI, em seu livro “Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a Ressurreição”, nos ensina que a ressurreição de Jesus é um acontecimento dentro da história que rompe o âmbito da história e o ultrapassa. Não foi a revitalização de um indivíduo que voltou à vida biológica, sendo submetido novamente à morte. A essência da ressurreição de Cristo está na inauguração de uma nova dimensão chamada habitualmente de escatológica, que abre a história para além de si mesma e cria o definitivo.

As palavras do Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica “A alegria do Evangelho”, articuladas à reflexão teológica de Bento XVI, são instigadoras para assumirmos nosso papel de cristãos que participam da vida nova inaugurada por Jesus Cristo em sua Páscoa: “Deriva da nossa fé em Cristo, que Se fez pobre e sempre Se aproximou dos pobres e marginalizados, a preocupação pelo desenvolvimento integral dos mais abandonados da sociedade. Cada cristão e cada comunidade é chamado a ser instrumento de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade (EG 186-187).” Vitor Nunes Rosa Professor de Filosofia na Faesa


cultura CAPIXABA

TORTA CAPIXABA

UMA FESTA GASTRONÔMICA

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esde tempos imemoriais o povo capixaba do litoral elegeu certos pratos, feitos com peixes e mariscos, para serem consumidos durante a Semana Santa. Entre esses pratos o que mais chama a atenção é, sem dúvida, a Torta Capixaba. Os Sambaquis (nome indígena que significa “montes de conchas”) nos contam uma história de milhares de anos onde o

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indígena se alimentava de mariscos por todo o litoral e a Torta Capixaba está presente nos relatos há, pelo menos, um século e meio, com uma pitada de contribuição da culinária portuguesa. Uma festa gastronômica composta por frutos do mar como: caranguejo e siri desfiados, sururu ou mexilhões, ostra, camarão, peroá, aratu e bacalhau desfiado, sempre variando ao gosto do freguês ou da cozinheira. A essa seleção se acrescenta os frutos da terra: palmito e azeitona tudo temperado com coentro, limão, azeite doce, colorau, cebola, alho, alguma pimenta e cebolinha misturado com ovos batidos em uma bela panela de barro levada ao forno para assar. Como diria Luiz Guilherme Santos Neves e Renato Pacheco

“a torta é uma mistura de muitas moquecas, tornando-se um verdadeiro complexo culinário capixaba” que agrada olfato e paladar. Hoje a Torta Capixaba ultrapassou a tradição de abstinência de carne da quaresma. E, além de ser servida na Semana Santa, também pode ser encontrada ao longo de todo o ano nos restaurantes de Manguinhos, na Serra, Ilha das Caieiras, em Vitória, ou na orla de Vila Velha e Guarapari, Anchieta e Marataízes. E ainda, nas casas de cada capixaba espalhado pelo mundo, que de certa maneira mantêm a tradição viva com uma mesa farta desse prato de frutos do mar e da terra, típicos do nosso Estado. Diovani Favoreto Historiadora



Homenagem

missionário

Um do Estado do Espírito Santo Canonização em 02/04/2014

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le veio de Portugal, embora fosse espanhol nascido na ilha Tenerife do arquipélago das ilhas canárias. Jesuíta, parente de Santo Inácio de Loyola, muito bem formado não só no campo da vida espiritual, mas também no cultivo das letras. Dominava com facilidade, além da língua materna, o espanhol, o português (formado em Coimbra) e o Latim. Enfermo de uma doença na coluna vertebral, apresentou-se aos Superiores para a missão no Brasil. Homem dinâmico, percorreu vários Estados do Brasil. Porém, marcou o Estado do Espírito Santo, residindo em Vitória por dois anos, onde participou da construção do Colégio São Tiago, hoje

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Palácio do Governo Capixaba, que guarda seu túmulo simbólico. Destacou-se como homem de Deus que se preocupava em formar o povo autóctone. Inculturado e professor dos nativos, educador da fé, um andarilho do evangelho de norte a sul do Estado. O Livro de Tombos da Paróquia Nossa Senhora do Amparo na Vila Itapemirim registra sua passagem pela região. No norte do Estado, a um pequeno povoado com o mesmo nome do rio Cricaré, deu o nome de São Mateus, hoje diocese. Na região central do Estado, evangelizou Guarapari onde deixou como memória uma pequena igreja, em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. Em Vitória foi diretor do Colégio São Tiago e de lá evangelizadou Reritiba, povoado onde era acolhido com carinho pelos nativos. Depois de exercer o serviço de Superior Provincial por dez anos, voltou para lá onde passou os últimos dias nesta região. Reritiba, mais tarde tomou o nome de Anchieta, homenagem justa de um povo amigo. Ali fa-

leceu como fiel missionário, já considerado santo pelo povo. A ação evangelizadora de José de Anchieta foi intensa! Passos abençoados! Viagens abençoadas! Seu testemunho de fé mereceu-lhe grande admiração e respeito. Poderíamos resumir os passos santos que retratam a pessoa deste missionário em seis: 01) Discípulo; 02) Missionário; 03) Catequista e pedagogo; 04) Educador e conciliador em favor da paz; 05) Devoto e poeta da Virgem Maria; antes que surgisse a obra literária de Camões “Os Lusíadas”, Anchieta publicara a epopéia “Lusíadas De gestis Mendi de Saa”; 06) Santo na opinião dos fiéis de seu tempo, santo na opinião dos devotos durante os quatrocentos anos de história cujo testemunho de entrega de sua vida a serviço do Reino de Deus. Diante de tão belo Testemunho, os capixabas aclamam com o Papa Francisco: São José de Anchieta, rogai por nós! Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. Arcebispo Metropolitano de Vitória ES



DOMINGO, 20 DE ABRIL Romaria dos cavaleiros Saída de Cobilândia às 8h30 Chegada à Prainha com bênção Oitavário e missa às 14h no Campinho (Área Pastoral Vila Velha) SEGUNDA-FEIRA, 21 DE ABRIL Oitavário e missa às 14h no Campinho (Área Pastoral Serrana) TERÇA-FEIRA, 22 DE ABRIL Oitavário e missa às 14h no Campinho (Área Pastoral Cariacica/Viana) QUARTA-FEIRA, 23 DE ABRIL Oitavário e missa às 14h no Campinho (Área Pastoral Benevente) QUINTA-FEIRA, 24 DE ABRIL Oitavário e missa às 14h no Campinho (Área Pastoral Serra) SEXTA-FEIRA, 25 DE ABRIL Oitavário e missa às 14h no Campinho (Área Pastoral Vitória) Romaria dos militares – saída do portão do Convento às 14h

SÁBADO, 26 DE ABRIL w Romaria de São Mateus – Campinho às 8h w Romaria das Pessoas com deficiência – saída da Praça Duque de Caxias às 8h – missa na chegada à Prainha w Romaria de Cachoeiro de Itapemirim – saída do portão do Convento às 13h30 Oitavário e missa no Campinho w Romaria dos homens – saída da catedral às 19h w Missa às 23h30 na Prainha DOMINGO, 27 DE ABRIL w Romaria de Colatina – saída do portão do Convento às 8h e missa às 9h no Campinho w Romaria dos motociclistas – saída da Av. Jerônimo Monteiro em Vitória às 10h w Romaria das mulheres – saída do Santuário de Vila Velha às 14h30 SEGUNDA-FEIRA, 28 DE ABRIL w Missa da CRB e Seminário às 7h no Campinho w Romaria dos ciclistas – saída de Cobilândia e do Ibes às 8h30 – chegada à Prainha 11h w Bandas de Congo – apresentação das Bandas de Congo e homenagens no Campinho às 9h w Missa das Pastorais às 10h no Campinho w Missa de encerramento às 16h na Prainha w Show com PADRE após a missa Shows musicais Dia 25 de abril (sexta-ferira) – Rosa de Saron e Nova Prece Dia 27 de abril (domingo) – Anjos de Resgates e Sementes Dia 28 de abril (segunda-feira) – Banda Água Viva Show de Encerramento Dia 28 de abril (segunda-feira) – Pe. João Carlos HORÁRIOS DE MISSAS NA CAPELA DO CONVENTO Dia 20/04: 5h, 7h, 9h e 11h Dia 21/04: 6h, 7h, 8h e 9:30h Dia 22/04: 6h, 7h, 8h e 9:30h Dia 23/04: 6h, 7h, 8h e 9:30h Dia 24/04: 6h, 7h, 8h e 9:30h Dia 25/04: 6h, 7h, 8h e 9:30h (Missa dos Advogados) Dia 26/04: 6h, 7:30 e 11h Dia 27/04: 5h, 7h, 11h e 14h Dia 28/04: 0h (meia-noite), 2h, 6h, 9h e 12h


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