Revista Junho de 2014

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vitória Ano IX

Nº 106

Junho de 2014

Revista da Arquidiocese de Vitória - ES

Entrevista

Evaldo Assumpção e a tanatologia atualidade

Fazer gol fora da

copa

mundo litúrgico

A vida é uma eterna procissão


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Tecnologia em ĂĄudio para sua igreja!

Av. Carlos Lindemberg, 6231, Loja 06, Cobilândia, Vila Velha - ES CEP: 29111-165 | Telefone: (27) 3286-0913 E-mail: sonora@sonoraaudiopro.com.br


vitória Revista da Arquidiocese de Vitória - ES

Ano IX – Edição 106 – Junho/2014 Publicação da Arquidiocese de Vitória

05 06

Pensar diálogos Mais humanos e mais de Deus

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arte sacra A identidade das logomarcas

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micronotícias Empreendedorismo

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mundo litúrgico Viver é uma eterna procissão

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Comunidade de comunidade É só pedir a Santo Antônio

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CAMINHOS DA BÍBLIA “Tende confiaça, sou Eu, não tenhais medo”

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VIVER BEM A importância do ócio

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ARQUIVO E MEMÓRIA Dom João, perseguido pela Ditadura Militar

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CULTURA CAPIXABA Se pocar vai ser a maior gastura

30

Aspas

Pensamentos de García Marquez

24

reportagem

36

prÁtica do saber

A atuação da Igreja Católica durante Ditadura Militar

Mulheres Mil

08 atualidade 14 Entrevista 21 Espiritualidade 31 Especial

34 Ideias 38 Reflexões 42 Ensinamentos 45 acontece

Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispos Auxiliares: Dom Rubens Sevilha, Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Gilliard Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin • Revisão de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: comercial@redeamericaes. com.br - (27) 3198-0850 • Fale com a revista vitória: mitra.noticias@aves.org.br • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062 • Ilustrador: Kiko, Rennan Mutz • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica 4 Irmãos - (27) 3326-1555


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w w w. a v e s . o r g . b r

fale com a gente

editorial

Pode ser uma copa sem gol

J

unho ficará para os brasileiros como o mês da copa. Isso será inevitável pelo “prazer”que o brasileiro experimenta quando se trata de futebol. Desta vez, porém, outras visões têm sido colocadas e geram polêmica e debates aquecidos. A Revista Vitória não entra no mérito das opiniões, mas levanta um ponto para quem quiser ir além das controvérsias. O esporte visto como uma das grandes possibilidades de desenvolvimento social e inclusão quando envolve eventos de dimensões tão amplas quanto a copa, ainda carrega esse objetivo? O povo brasileiro apaixonado por futebol em todas as suas classes sociais é, de fato, protagonista nestas ocasiões? Quem participa da copa? Quem se beneficia com a copa? A copa no Brasil, para a maioria da população será mais um espetáculo televisivo? É preciso que os “gols” aconteçam fora da copa e fora co campo! Maria da Luz Fernandes Editora


Warllem e Cris Fotojornalismo

pensar


diálogos

Mais humanos

A equipe de redação desta revista sugeriu-me que escrevesse algo sobre os Sagrados Corações. Tema delicado. Mas vivemos um momento de muita emoção que talvez possa suscitar alguma reflexão de cunho espiritual.

tempo de copa do mundo, é É tempo de política partidária em vista das eleições. Emoção e

esperança. É o coração em vibração. Porém a vitória está reservada apenas para um, o vencedor. Ao contrário de toda esta expectativa que recompensa poucos, nossa fé cristã anuncia e testemunha algo. Melhor, Alguém que faz vibrar os corações e cria expectativa de vitória para todos. É a corrida em direção ao prêmio eterno como nos diz São Paulo: 6

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“não sabeis que aqueles que correm no estádio, correm todos, mas um só, ganha o prêmio? Correi, portanto, de maneira a consegui-lo. Todos os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós, porém, para ganhar uma coroa imperecível. Quanto a mim é assim que corro, não ao incerto.”(1Cor. 9,14-26). Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos venceu a morte, o pecado e todo pecado! Ele fez vibrar os corações dos Apóstolos, de milhares de pessoas que se tornaram discípulos e comunicadores vibrantes de Sua Pessoa e de Sua mensagem. Notícia tão espetacular que tocou um coração cheio de rancor de São Paulo, perseguidor dos que seguiam o Caminho, primeiro título dado aos discípulos de Jesus, e, transformou este coração num coração apaixonado por Aquele que se revelou amor doado à humanidade. Assim, inúmeros corações vibram, a partir do grande encontro com o Coração que encanta, transforma e faz missionários do Amor! Coração que diz ao seu pequeno coração: “ide e pregai o Evangelho, a Boa Nova, a todas

as criaturas” (Mc 16, 15). Assim a Igreja, desde os primeiros dias de sua consciência vocacional e missionária, anunciou e vem anunciando e testemunhando Jesus com palavras, gestos e atitudes, como Deus Amor no meio de nós. Quem é Jesus Cristo? É Deus Amor, revelação do Amor Misericordioso do Pai Criador. “Filipe quem me vê, vê o Pai”! (Jo 14, 9). O Discípulo missionário ao anunciar o Amor Redentor, Jesus, fala também como Deus Amor se revelou, fala do mistério da Encarnação do Filho por Obra do


mais de deus Espírito Criador, no seio virginal de Maria de Nazaré. Um coração humano disponível como que a emprestar à humanidade à Divindade, Lugar do Mistério da Aliança! Dois Corações profundamente unidos, o Coração Divino que se fez também Humano e um Coração que foi elevado à participação do Coração Divino como modelo de fé, de acolhimento e de oferta para que todos os corações humanos façam a mesma corrida, o mesmo caminho em direção da vitória. Por isso chamamos Sagrados Corações. Quando usamos estas palavras “Coração de Jesus” e “Coração de Maria” referimo-nos a Jesus e a Maria, Mãe de Jesus, Nosso Senhor. Referimo-nos à interioridade destas duas pessoas profundamente vinculadas entre si, Jesus o Filho de Deus que assumiu a humanidade em Maria por Obra do Espírito Santo, e Maria Virgem oferente à Ação do Espírito Santo. Toda a Igreja bebe desta fonte do encontro do Divino com o Humano. Nesta fonte aprendemos a ser mais humanos e mais de Deus. Ali está o segredo da

força transformadora pela ação do Espírito que recebemos no Batismo e age em toda nossa vida de tal forma que crescemos como humanos e nos identificamos com Cristo, abrindo-nos confiantes ao Amor apaixonado do Pai. Deste brota o fogo que queima todo o pecado e transforma a face da terra. É a dinâmica do Amor vivido perfeitamente e exemplarmente por Maria, Mãe de Deus convidando todos para que façam discípulos e missionários. Esta copa do mundo começou há muito tempo. Todos poderemos vencer se deixarmos que o Grande Coração tenha lugar em nosso coração. Se aprendermos de Maria de Nazaré a abrir espaço no interior de nosso coração, pequeno coração, à Obra do Espírito Santo. A vitória estará garantida, mesmo que aparentemente precisemos perder para ganhar a vida. A dinâmica destes corações é diferente... Um jogo diferente onde o pequeno, o fraco, o simples torna-se vitorioso por que tem coragem de perder; sua força é o Amor. É a copa do mundo novo! Quando falamos em Sagrados Corações, nosso coração é

convidado a inserir-se num mundo novo, aquele que Jesus veio propor-nos e no qual Maria, a Virgem de Nazaré, inseriu-se plenamente. A estes Sagrados Corações estou consagrado e neles quero viver e morrer. Creio na vitória do Amor!

Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. Arcebispo Metropolitano de Vitória ES

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Atualidade Alessandro Gomes

Esporte, espet谩culo...

O irreal 8

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oa parte das crianças brasiB leiras sonha em ser atleta e, quem sabe um dia, representar o nosso país numa grande competição. Destes pequenos sonhadores, um número muito significativo quer ser jogador de futebol. Talvez isto se justifique pelo simples fato desta modalidade ser o principal esporte brasileiro ou porque para jogar futebol bastam apenas uma bola, que pode ser confeccionada com meia velha ou até mesmo com papel, e dois pedaços de pedra para formar a trave, e... Pronto! O jogo já pode começar. Nem sempre de baixo custo, mas com grande capacidade integradora, o esporte, além de fortalecer o convívio social, é ferramenta importante no combate a doenças sociais como a violência e o consumo de drogas. Neste prisma, algumas políticas públicas para a infância e para a juventude, que envolvem simultaneamente a escola e o esporte, têm ocupado o tempo

ocioso de pessoas, valorizado os laços afetivos e criado oportunidades para a formação de atletas. Dentre várias destas ações, estão projetos como o Escola Aberta e o Segundo Tempo. O Primeiro consiste em oferecer atividades extracurriculares nas escolas aos finais de semana como forma de lazer e de formação para crianças, jovens e adultos. Já o Segundo Tempo, que de acordo com o Ministério dos Esportes atende a mais de 1,2 milhões de beneficiados por ano, busca a democratização do acesso ao esporte e tem como foco pessoas que residem em áreas de vulnerabilidade social. Vale destacar que o esporte e a educação, juntos, têm forte poder mobilizador, uma vez que estão na base, muito próximos dos cidadãos e podem se transformar em canais importantes para acompanhar o desenvolvimento das comunidades. Contudo, se por um lado a atividade esportiva é integradora,

por outro a realidade da sociedade capitalista insiste em classificar e separar as pessoas de acordo com o poder econômico de cada grupo ou indivíduo, agravando problemas sociais em diversos setores. Por isso, outro ponto que merece atenção é a promoção de grandes eventos esportivos pelo Governo Federal, como a Copa do Mundo deste ano e as Olimpíadas de 2016, que vêm gerando vários questionamentos sobre o uso de verbas públicas. Nesta reflexão merece destaque uma pergunta: de que forma estas competições podem contribuir para a democratização do esporte e para a integração dos brasileiros, mesmo quando o ingresso para a partida de abertura da Copa é de R$ 990? É possível que a resposta esteja na “realidade invertida”, conceito criado pelo pensador e escritor francês Guy Debord em 1967, que trata da inversão dos valores daquilo que é real para o não real. Seguindo o raciocínio Junho/2014

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Atualidade

de Debord, o esporte, que é um bem social, é transformado pela mídia e pelo poder econômico apenas em espetáculo e fonte de lucro para emissoras, empresas de marketing, clubes e alguns atletas, o que não o faz perder a sua essência integradora, mas o distancia dos torcedores, uma vez que ir aos estádios é caro e os horários nem sempre são oportunos, já que a mídia compra as transmissões e com isso várias partidas terminam depois de meia noite. No entanto, a questão é simples de ser entendida, pois quanto mais torcedores em casa assistindo pela televisão, mais publicidade e mais retorno financeiro. Assim, se por outro lado existem políticas públicas para usar o esporte como instrumento pedagógico, como bem social e para o desenvolvimento das

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pessoas, por outro há que se combater o esporte como produto comercial, bem como os seus subprodutos lançados pela indústria esportiva que reforçam a tese de massificação do desejo e, consequentemente, de consumir. Outro ponto de vista a ser lançado sobre o esporte diz respeito ao atleta de alto rendimento. Este é submetido a grandes cargas de treinamento físico e tático repetitivos a fim de obter rendimento acima das expectativas comuns. Neste caso, crianças e adolescentes, se espelhando em seus ídolos esportivos, e motivados por clubes e treinadores que precisam apresentar resultados a patrocinadores, acabam entrando neste ritmo acelerado deixando, de lado brincadeiras e outras atividades próprias das suas faixas etárias. Esta prática vem acompanhada de campeonatos longos, de disputas

acirradas e de cobranças que nem sempre condizem com as idades deles. Segundo matéria publicada pela Universidade da Amazônia – UNAMA, o esporte para crianças e adolescentes deve motivar a brincadeira e a integração. Ele, antes de tudo, deve ser praticado por prazer e com vistas à obtenção de benefícios físicos, sociais e psicológicos. Iniciativa do Governo Federal, o Prêmio Petrobrás de Esporte Educacional, alerta para os riscos psicológicos em crianças e adolescentes caso o trabalho com o esporte não seja bem feito. De acordo com pesquisa feita pela entidade, foram encontrados “níveis anormalmente altos de ansiedade, estresse e frustração”, resultado de muitos fracassos, ainda precocemente, de pessoas que poderiam ter carreira exitosa no esporte. O documento traz ainda a preocupação com a “infância não vivida”, pois a excessiva dedicação ao mundo do esporte, com várias horas de treinamento por dia pode dificultar a formação escolar destes indivíduos, além de lhes roubar uma parte importante da vida e da formação pessoal. Entre o que é necessário e os produtos vendidos pela indústria cultural da mídia, deve estar o bom senso, afinal, como diz o ditado, “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”.


arte sacra

identidade das logomarcas

A

P

roduzir ou criar uma logomarca quando se fala em termos de religião pode-se comparar à heráldica, arte de descrever brasões de armas. Elas precisam ser simbólicas, dinâmicas, harmoniosas e principalmente remeter ou sugerir aquilo que pretendem representar. A logomarca da Mitra Arquidiocesana conta a história religiosa de

um povo através de pequenos sinais que simbolizam a fé cristã e a presença do catolicismo no Estado do Espírito Santo. Com o texto anterior de Padre Edemar Endringer acontecia, em 2004, o lançamento da Logomarca da Mitra Arquidiocesana de Vitória. Ela nos recorda um brasão, usado pelos guerreiros e nobres, desde os tempos medievais, onde surgem também, os brasões eclesiásticos. Estes usam a composição e o escudo civis, Logomarca da Mitra Arquidiocesana de Vitória (2004)

AN IT

CÚR IA

O METR POL

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RI A

- ESPÍRITO

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Símbolo da Cúria Metropolitana (1986)

Brasão Dom Luiz Mancilha Vilela

rodeados por símbolos de caráter religioso e destinados aos diversos graus da Ordem sacra. Há pelo menos oito séculos, é tradição que os Papas tenham seu brasão pessoal, para as obras de arquitetura, publicações, decretos e outros documentos papais. Podemos ver ainda o brasão do nosso Arcebispo na Catedral e nas Cartas Pastorais. Existem outras instâncias de brasões, todas com orientações e regulamentações próprias. Já em 1986, é criado o Símbolo da Cúria Metropolitana de Vitória, pelo Chanceler, Padre Arnóbio Passos Cruz, com símbolos presentes nos brasões: de cor verde, traz no centro do círculo interno a Mitra, destinada a papas, cardeais, bispos e abades. É um tipo de cobertura de cabeça, fendida, que consiste de duas peças. Pelo

seu valor simbólico, o Papa Inocêncio III (1198-1216) afirmava que seu uso significa o conhecimento do Antigo e do Novo Testamento. As fitas presas por trás simbolizam o espírito e a letra. Cruzados, aparecem o báculo e a cruz de duas hastes. O báculo é símbolo de uma autoridade de origem divina que convoca o peregrino, anima o mais lento e dá vida ao pecador. A cruz de duas hastes simboliza a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, é a cruz gloriosa. Marcando documentos ou identificando autoridades eclesiásticas, estes conjuntos de símbolos reunidos em um brasão, símbolo ou logomarca, “nos remetem para uma dimensão de fé e nos sugerem até uma reflexão sobre nossa história e religião”, um convite a fazer memória!

Raquel Tonini, membro da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese de Vitória e Grupo de Reflexão do Setor Espaço Celebrativo da Comissão Litúrgica da CNBB

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micronotícias

Empreendedorismo O

Espírito Santo é um Estado rico em projetos de desenvolvimento de grande porte, como as rochas ornamentais, atividade cafeeira, petróleo e gás, celulose e minério. Porém, essas atividades abrangem cerca de 15 municípios, enquanto os demais vivem da microeconomia, do empreendedorismo familiar e dos pequenos negócios. Atualmente, no Estado existem 227 mil micro e pequenas empresas e 103 mil micro empreendedores individuais (MEI) formalizados. Existe ainda uma margem de negócios não formalizados que pode chegar a 120 mil empreendedores. (Informações da Aderes)

Microempreendedor Individual Microempreendedor Individual (MEI) é a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno empresário. Para ser um microempreendedor individual, é necessário faturar no máximo até R$ 60.000,00 por ano e não ter participação em outra empresa como sócio ou titular. A formalização do MEI pode ser feita pela internet, no site www.portaldoempreendedor.gov.br. No Espírito Santo existe a Unidade Móvel, que em uma parceria entre o Governo do Estado e as prefeituras, realiza o atendimento e formalização dos empreendedores nas comunidades.

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Um país de FUTUROS EMPREENDEDORES

Apenas

4,8%

discordam totalmente da afirmação “muitas vezes penso em me tornar um empreendedor”

60% dos universitários pensam em abrir um novo negócio

Independência é o maior

objetivo para 76,7% dos estudantes

Dinheiro

66%

Segurança

56%

Recompensas pessoais

55%

Copa do Mundo A Copa do Mundo já rendeu cerca de R$ 280 milhões em negócios para micro e pequenas empresas e até o final do evento a expectativa é que o faturamento chegue a R$ 500 milhões, segundo levantamento realizado pelo Sebrae com base nas rodadas de negociações promovidas nas 12 cidades-sede da Copa. O evento esportivo é uma oportunidade de divulgação das atividades realizadas pelos profissionais das empresas, inclusive para os estrangeiros.

Negócio em casa Segundo dados do Sebrae, dos 3,5 milhões de microempreendedores individuais (MEI), 48,6% trabalham na própria residência. Ainda segundo a instituição, 77% dos profissionais de artesanato também utilizam o lar como espaço criativo.


muita vontade pouca preparação 38,1%

gastam tempo aprendendo a iniciar um negócio

Criação de novos negócios

44,2%

dos potenciais empreendedores cursou uma disciplina ligada a empreendedorismo

24,4%

está economizando dinheiro para empreender

92,3%

diz “eu sempre consigo resolver problemas difíceis se me esforçar bastante”

Bota pra fazer

Inovação

Apenas

28%

já tiveram um emprego remunerado em startups Apesar de autoconfiança ser a característica marcante do jovem

Eles não se sentem seguros em atividades mais técnicas 34,4%

se sentem confiantes ao planejar uma campanha de marketing para um novo produto ou serviço

44,8% se sentem confiantes ao estimar o valor capital e inicial de giro para abrir um negócio

Empreendedorismo social Nós, convencidos de que o empreendedorismo precisa estar presente na vida das pessoas, temos uma visão mais ampla. Para nós, o empreendedorismo é uma forma de reduzir a violência, é instrumento de reduzir pobreza, é instrumento de inclusão sócio-produtiva, empreendedorismo é oportunidade. Nos bairros periféricos mais pobres, percebemos que falta oportunidade, falta a presença do Estado, de estrutura física. O Estado então percebeu que não basta fazer essa prevenção somente com polícia, e sim, com saúde, cultura, esporte e empreendedorismo, oportunidade. O empreendedorismo no Espírito Santo tem tomado dimensões que seguem para a direção do social. Estamos convencidos que, para tirar 126 mil famílias que se encontram na extrema pobreza em nosso Estado, é preciso ajuda-los a empreender, despertar o empreendedorismo nestas pessoas. Pedro Rigo – Diretor presidente da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes)

arregaçar as mangas faz toda a diferença

70%

dos que já trabalharam em starpups relatam um aumento de confiança A confiança é superior em até 10% para os que cursaram disciplinas ligadas a empreendedorismo ou participaram de entidades estudantis, como empresas juniores, por exemplo

Fonte: pesquisa empreendedorismo nas universidades – endeavor brasil (http://promo.endeavor.org.br/pesquisa)

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entrevista

Letícia Bazet Maria Da Luz Fernandes

CADA PERDA É UM LUTO Evaldo Assumpção ensina a fazer pastoral do luto em 15 minutos. Ele vive sua aposentadoria na Praia de Castelhanos em Anchieta e procura aos poucos colocar em prática o que ensinou, presenciou e viveu durante sua carreira de cirurgião-plástico e trabalho social na área da tanatologia.

vitória - O senhor é um mé-

dico tanatólogo?

Evaldo Assumpção - A tanatolo-

gia não é uma atividade médica. Eu exerci cirurgia-plástica durante 45 anos. No decorrer desse período, em 1978, tive a oportunidade de fazer um seminário que me despertou curiosidade exatamente pelo inusitado do tema que era “Psicologia Transpessoal da Morte”. Eu sempre gostei de psicologia, “transpessoal” eu não tinha a menor ideia do que era e morte, eu não achava muita graça não. Então fui fazer o seminário e lá tive contato, pela primeira vez, com a

tanatologia, ciência, que tinha surgido no final da década de 1960 com duas pessoas: uma enfermeira na Inglaterra, Cicely Saunders e uma médica psiquiatra suíça, mas radicada nos Estados Unidos que era a Elisabeth Kübler-Ross. Saunders começou todo esse trabalho observando os pacientes que estavam em fase terminal da doença que, de alguma maneira, eram abandonados pela comunidade médica. O médico é formado para salvar vidas. Quando eu já não tenho mais jeito de salvar uma vida, o que eu faço? Saio correndo, abandono, não tenho nada pra fazer mais. E a Cicely Saunders percebeu isso e criou uma ala no Saint Christopher, um hospital da Inglaterra, para aqueles enfermos que os médicos falavam: “Não tem mais nada o que fazer”. Aí ela falava: “Agora tem muito que fazer, manda pra mim”. Depois isso evoluiu para uma consequência inevitável, o trabalho com o luto. Já em 1978, eu tive essa visão e de repente me caiu a ficha de que aquilo era uma coisa importantíssima. No Brasil não tinha nada disso, então comecei a ler e pu-

bliquei o primeiro trabalho meu chamado “A Morte” numa revista católica de Belo Horizonte. Isso foi o começo, depois vieram os desdobramentos. Eu continuei como cirurgião até para poder pagar algo tão diferente, mas dedicava alguns fins de semana ao trabalho social com o luto. vitória - O senhor passou

quanto tempo exercendo a profissão e paralelamente trabalhando o luto como atividade social? Evaldo - As duas coisas juntas desde setembro de 1979. Depois passei a fazer trabalho profissional mesmo, em Belo Horizonte. Eu não podia colocar médico tanatólogo, porque parecia que eu estava colocando como especialidade. E eu corria risco de ter um problema com o Conselho de Medicina, se bem que, paradoxalmente, consegui criar o Departamento de Tanatologia, que existe até hoje em Minas Gerais. É um departamento atuante, e agora uniu-se a uma coisa que surgiu posteriormente, que eu considero como uma decorrência da tanatologia, que foi a mãe de tudo disso, que é o cuidado paliativo.


O que é o cuidado paliativo se não a aplicação dos conceitos da tanatologia por parte do médico que virou o paliativista? Acho que está caminhando para uma especialidade. vitória - Esse trabalho deu origem à pastoral do luto? Evaldo - Eu fazia grupos de suporte ao luto no auditório das Paulinas e na paróquia Santo Inácio, em Belo Horizonte, por causa do livro que publiquei. Então me ocorreu: Como é possível que a Igreja não tenha uma pastoral do luto? Eu tinha raiva da tal da Pastoral das Exéquias. Tinha e continuo tendo. Porque eu acho que a Pastoral das Exéquias é uma coisa muito fora de propósito. Ajudar o pessoal, ir ao enterro, sepultamento e tal, tudo bem. Mas, e depois o que acontecia? Eu falava com Dom Serafim e depois com Dom Walmor que precisava ter uma pastoral para que os leigos e os padres falassem sobre a morte, porque eles não sabem falar. A Pastoral do Luto precisa existir porque, na hora em que a pessoa morre, a Pastoral das Exéquias o que faz? Dá tchau e vai embora? A Pastoral do Luto entra na hora em que a Pastoral das Exéquias sai. Ela vai acompanhar durante dois anos, porque dois anos é o tempo médio do luto. vitória - Como o senhor criou

a Pastoral do Luto? Eu propus à Arquidio-

Evaldo -

cese a criação da pastoral. Só que, você sabe muito bem, não é fácil. A começar pelo nome. “Vamos fazer a Pastoral da Esperança”, definitivamente não. Eu mandei carta para muito bispo e padre, Pastoral da Esperança não existe. Esperança: você vai pegar uma pessoa que acabou de perder um filho atropelado e falar em esperança com ela? Nós temos que ter a noção de que há coisas que a gente tem que fugir daquela religiosidade, não espiritualidade, muito certinha e saber que nós temos que ir por outros caminhos. Jesus não falou que nós temos que ser espertos como a serpente? Eu vou receber uma pessoa que está enlutada, eu não vou falar assim: “Não... Sua filha está no céu...”. Naquele momento, isso e nada é a mesma coisa. Uma pessoa amada, querida está ali estendida no chão, “Deus queria ela lá com Ele”. Isso para mim é até falta de caridade. Tem uma técnica facílima para fazer a Pastoral do Luto, eu ensino em quinze minutos: duas orelhas, uma boca, de preferência fechada, ombrinho, para a pessoa chorar, abraça e escuta o que ela quiser falar. Quando eu fiz o grupo de luto, ele era oito/nove sessões, uma vez por semana. Isso é uma forma ideal, depois por falta de tempo das pessoas reduzi para duas sessões por semana. Tempos depois fiz num final de semana. Era um grupo de diversas crenças e eu não colocava nada de oração. Na-

Tem uma técnica facílima para fazer a Pastoral do Luto, eu ensino em quinze minutos: duas orelhas, uma boca, de preferência fechada, ombrinho, para a pessoa chorar, abraça e escuta o que ela quiser falar.” quele momento, ali, que oração nós vamos fazer? Nós estamos orando. Oração não só é “Pai Nosso”, “Ave Maria”. A vontade que eu tinha, pena que por ética eu não podia fazer, era de esconder uma câmera e filmar o pessoal chegando e depois filmar o pessoal saindo. Você não reconhecia as pessoas. A pessoa que chegou lá quase se arrastando de manhã cedo, saía rindo abraçando todos. Milagre? Não, não era milagre, elas apenas puderam vomitar toda a dor que tinham. A expressão das emoções, dos sentimentos, é fundamental. A Pastoral do Luto é uma coisa muito simples. vitória - E a reação das pes-

soas? O que dá um retorno maior para quem está fazendo uma proposta, trabalhar com médicos, enfermeiros ou famílias enlutadas? Evaldo - Eu acho difícil responder, porque não tinha aquela que me dava mais satisfação. Eu ficava feliz com tudo o que fazia. Mas, a resistência dos médicos é muito grande. Dos enfermeiros, Junho/2014

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entrevista

Letícia Bazet Maria Da Luz Fernandes

muito pequena. E os psicólogos eram a grande e esmagadora maioria nos cursos que a gente fazia. Médico tem uma pretensão, mas o médico tem sentimentos, igualzinho qualquer um de nós, só que ele embute o sentimento, ele fala assim: “Você não pode se manifestar”. Meu pai tinha uma expressão que eu gostava muito: se a gente tivesse uma torneirinha de sentimentos na cabeça, se pudéssemos fechar e abrir na hora necessária, seria ótimo. Mas não existe a torneirinha, então você vai ter que conviver com eles. O médico faz isso, ele imagina que tem a tal torneirinha, só que o sentimento fermenta lá dentro e explode. E isso explode na cabeça dele, no coração dele, no câncer que aparece nele. Tanto que o índice de suicídio, de câncer, de doenças mentais, de consumo de drogas entre médicos é altíssimo. vitória - Teve algum caso de doente terminal que marcou a sua experiência? Evaldo - O trabalho com o enfermo em fase terminal não é só no psicológico, é no econômico, no prático também. Quantas pessoas têm um testamento feito? Esse era um dos temas que eu abordava. Ter um testamento, organizar o seu patrimônio. Eu tive uma experiência com meu ex-sogro. Era minha primeira esposa e uma irmã mais nova. Gostava demais dele. Quando ele morreu, não tinha nada, nada. Eu tive que destrinchar a vida dele. Sei que 16

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a família dele passou muita dificuldade, inclusive, porque muita coisa dele se perdeu, a gente não localizava. Isso era um tema que eu colocava nos grupos. Porque na verdade, nós estamos falando em luto, Não estamos falando, apenas, em morte. Se você tem uma perda, você passou pelo luto. Se você olhar as fases do luto, vai ver que as mesmas fases que você vive quando perde uma pessoa, você vive quando perde um relacionamento importante, quando perde um bem material importante, quando perde um emprego, enfim, perdas. E nós temos que aprender a lidar com as perdas. Quem aprendeu a lidar com a perda maior, que é perda pela morte, as outras se relativizam. vitória - Você não conseguiu

virar ateu, nem se perguntando quando daria aquele “estalinho”? Evaldo - Bem que eu tentei, só para ver como era o gosto, mas eu não conseguia (risos). Eu aprendi com Dom Serafim e uso muito essa expressão: “Aprender com as pequenas gentilezas de Deus”. E a minha vida é repleta de pequenas gentilezas de Deus. Você acha que a dimensão religiosa, da fé, o ajudou a despertar para esse trabalho? Evaldo - Com certeza. Principalmente ser pioneiro numa coisa que é completamente estranha. As dificuldades e obstáculos eram muito grandes. Eu acredi-

to que essa dimensão de fé me fez ser persistente. Eu acreditava no que eu estava fazendo, eu via que aquilo ia ser útil, não só para os enfermos, mas para os meus próprios colegas que passariam a poder se soltar mais e ter menos alma profissional, mas também porque eu achava que aquilo era uma forma de eu estar exercendo um apostolado sem fazer muito estardalhaço. vitória - E se eu pedisse para você me definir a morte? Evaldo - Eu considero a morte simplesmente como uma transição. Não é um fim, mas uma passagem, simplesmente uma passagem. Eu gosto muito do Guimarães Rosa, quando fala: “A gente não morre, a gente se encanta”. Eu acho que nós estamos numa passagem, numa mudança de circunstância de vida. Eu tenho uma vida estritamente dentro de um campo material, claro que com uma diversidade do meu psiquismo, espiritual, mental, mas quando eu morro eu deixo tudo aquilo que era da dimensão material, que é a dimensão da impermanência, porque tudo aqui é impermanente. vitória - Como médico, a vida

acaba?

Evaldo - Não acaba. Eu trabalhei em pronto-socorro por trinta anos, mas eu não sentia que estava acabando. Nessa época eu não mexia com tanatologia, eu tinha uma base religiosa, que eu devo muito aos meus pais. Eu tive um


período da minha vida que eu era religioso, mas era religioso de missa dominical. Depois eu tive a experiência do cursilho, onde muita coisa mudou na minha vida. Quando eu vejo uma pessoa morrendo, ela não está morrendo, quem está morrendo é o corpo dela. Biologicamente, a cada sete anos, você morre. Suas células são praticamente todas renovadas. Na hora que meu corpo morrer, eu não morri junto com ele. Pra onde eu vou não me pergunte, que eu não sei. Não sei nem quero saber. Para quê que eu quero saber como é o outro lado? Primeiro, eu não tenho condição de saber. Se eu saio do espaço-tempo, a minha razão eu não tenho competência para alcançar. vitória - E atualmente? Pro-

fissão, não está exercendo mais, Pastoral do Luto, ainda não implementou em Anchieta. Evaldo - Essa é uma profunda mágoa que eu tenho com a Arquidiocese de Vitória. Porque eu fui lá duas vezes fazer palestras, que seriam preparatórias para a nossa pastoral, mandei para o Secretariado de Pastoral a proposta de treinamento para a Pastoral do Luto. Aí tudo foi ficando para o ano que vem. Quando chegou o fim do ano passado, eu falei: “Agora, encerrei definitivamente minha tranquilidade”. vitória - E como você vai se

reconciliar com a Arquidiocese de Vitória?

vitória - Mas não tem como

levar Evaldo de Anchieta para Vitória? Evaldo - Evaldo tem que ser coerente. Eu procuro o máximo ser. Eu estou num processo sequencial de acabar com certas coisas. Nós temos que tomar muito cuidado, nós queremos ser permanentes em muita coisa. E essa uma das maiores causas de sofrimento. vitória - Não tem um pou-

“Você vai pegar uma pessoa que acabou de perder um filho atropelado e falar em esperança com ela? Nós temos que ter a noção de que há coisas que a gente tem que fugir daquela religiosidade, não espiritualidade, muito certinha e saber que nós temos que ir por outros caminhos.” Torcer para que a Pastoral do Luto seja formada lá. Tem uma médica que me ajudou, Flávia, que me conheceu onde eu trabalho, fez curso de tanatologia em São Paulo e é muito amiga do Dom Luiz, e eu falei: “Agora você assume”. Acho que é a pessoa mais indicada. Evaldo -

quinho de exagero nas suas decisões? Evaldo - Não tem. Eu acredito também que a própria capacidade da gente não é permanente. Eu tenho noção absoluta da minha limitação física e mental. Eu não tenho hoje a mesma agilidade física e mental que eu tinha há quinze anos. Eu me julgando insubstituível, eu tiro a oportunidade de outras pessoas, que podem e estão em condições muito melhor do que eu hoje, para fazer as coisas. Hoje eu não estudo mais. Eu gosto de ler, eu leio muita coisa, mas a minha leitura não é compromissada com o estudo para me atualizar. Em medicina e em tanatologia, ela exige uma atualização constante e eu precisaria estar em congressos... E eu não tenho disposição nem disponibilidade para isso. Hoje eu faço muito melhor escrevendo as memórias. Eu prefiro escrever meus artigos, que são mais pontuais, eu não preciso estar fazendo grandes pesquisas. Junho/2014

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Mundo litúrgico

VIVER É UMA ETERNA

PROCISSÃO D

esde o Antigo Testamento, a experiência de vida e de fé do povo é marcada pela caminhada, pelo deslocamento, pela possibilidade de ir em busca de algo melhor, pela manifestação de um Deus que se sente próximo da humanidade e por isso caminha junto, vai à frente. Em tantos momentos na vida litúrgica das comunidades, escuta-se com tamanha devoção “o povo de Deus no deserto andava” ou outros cantos similares que evocam esta manifestação pública de fé. Não é simplesmente a voz que canta. É, sobretudo, o coração que canta, pois a vida é uma eterna procissão, um caminhar rumo ao Pai. Na Sagrada Escritura várias passagens nos fazem compreender este sentido como a saída de Abrão de sua terra para formar uma grande nação (cf. Gn 12), o povo liberto em busca da terra prometida (cf. Ex 13), a peregrinação por ocasião da Páscoa (cf. Dt 16). Caminhar é anseio e, ao mesmo tempo, uma necessidade humana, assumido pela liturgia, pois celebrar não é algo estático.

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Celebrar exige movimento, dinâmica, tal como é a vida e promove o encontro com Cristo e com os irmãos. As procissões surgiram, muitas vezes, dos gestos mais simples do povo e, como define o Código de Direito Canônico, são para “comemorar os benefícios de Deus e dar-lhe graças ou para implorar o seu auxílio” (cf. cân. 1290) No interior, nas pequenas comunidades eclesiais,

as procissões são muito comuns. Louva-se a Deus pelo testemunho da Virgem Maria, dos Santos e por sua poderosa intercessão. Na vida urbana, contudo, o ritmo frenético muitas vezes impossibilita a realização destas manifestações da piedade popular e que sustentam a fé do povo de Deus. Neste sentido, caminhar é um sinal cristão e, no rito da celebração, encontramos alguns momentos processionais. A primeira procissão é a de entrada, rumo ao altar, rumo a Cristo. Nela contemplamos a Igreja que caminha ao encontro do seu Senhor, com total disposição de ouvi-Lo, segui-Lo e anunciá-Lo. Toda a comunidade é inserida no mistério da Páscoa que ali é atualizado. Durante o canto das oferendas acontece a segunda procissão: os dons do pão e

do vinho, sinais humanos, são conduzidos para se converterem no Corpo e Sangue de Cristo, sinais divinos. É um gesto muito significativo, pois expressa o reconhecimento da bondade de Deus em oferecer ao homem tantos bens para a sua subsistência. Bens, que outrora, eram levados de casa pelos fieis. A terceira procissão manifesta o desejo dos cristãos de sempre nutrirem a sua vida com pão celeste. Todos se dirigem rumo ao altar que é Cristo em busca de seu corpo e sangue, alimento que sacia toda a sede e fome e clamam: “protegei vossa Igreja que caminha nas estradas do mundo rumo ao céu, cada dia renovando a esperança de chegar junto a vós, na vossa paz.” (Oração Eucarística V) Marcus Tullius Comissão Arquidiocesana de Liturgia

Após a missa da Solenidade de Corpus Christi acontece a procissão com o Santíssimo Sacramento mantida pela tradição da Igreja desde 1264 e fundamentada no Código de Direito Canônico - com o intuito de “testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia”, fazendo a procissão pelas vias públicas. Este é o dia prescrito, por excelência, dentro do ano para expor publicamente este tesouro para que seja contemplado por todos, com respeito e dignidade. Como a procissão deve ocorrer após a missa, não há a bênção final própria da celebração, sendo esta encerrada com a bênção do Santíssimo. Junho/2014

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Seg a sex: 8h às 19h • Sábado: 8h às 12h Rua Aurora, 612, 1º piso - Glória - Vila Velha Telefone: (27) 3075 - 1275


espiritualidade

HOMEM QUE BATE EM MULHER

O

Estado do Espírito Santo, infelizmente, está no primeiro lugar em violência contra a mulher. Um questionamento que podemos fazer é: como é possível uma população de esmagadora maioria cristã (católicos e protestantes) ser tão violenta? Uma das causas da violência contra a mulher é a má educação na família. O pai e a mãe são os principais culpados por terem criado mal o filho machista-estúpido-violento. É na família que o ser humano aprende a controlar a si mesmo e a respeitar os outros. É o pai e a mãe que devem ensinar os seus filhos a terem limites, a controlar as próprias emoções, a não serem egoístas e aprenderem a respeitar a liberdade e o direito dos outros. O machismo é aprendido dentro de casa. A cultura machista é passada de pai para filho, com a

cumplicidade da mãe. Assim sendo, educa-se diferentemente o filho “homem” da menina. O filho pode tudo. A filha recebe mais restrições. Usam-se dois pesos e duas medidas. O homem mais livre e superior enquanto a mulher mais contida e submissa. Aos cristãos é ensinado que “todos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, pois todos os que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos são um só em Jesus Cristo”. (Gal 3, 26-28). É óbvio que há diferenças naturais entre

“O filho pode tudo. A filha recebe mais restrições. Usam-se dois pesos e duas medidas. O homem mais livre e superior enquanto a mulher mais contida e submissa.”

homem e mulher. A igualdade em dignidade dos filhos de Deus diante do Pai não anula a riqueza das diferenças com as quais nos dotou o Criador. De fato, por vontade divina, o homem e a mulher se completam maravilhosamente. A violência contra a mulher é um pecado, pois vai contra a vontade de Deus que nos ordena: “Amai-vos uns aos outros”. A cultura cristã, depois de dois mil anos de evangelização, ainda não transformou (converteu!) certas áreas estragadas da alma e, consequentemente, da cultura humana. A violência contra a mulher é um traço cultural do Estado do Espírito Santo que deve ser extirpado. As Igrejas cristãs (católica e protestantes) são também culpadas pela violência atual, pois estão educando mal seus fieis. Convertamo-nos.

Dom Rubens Sevilha, ocd Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória

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comunidade de comunidades

É só pedir a

Santo Antônio... C onsiderado um dos santos mais populares da Igreja Católica, Santo Antônio de Lisboa, nasceu na capital portuguesa, em 1195, e se chamava, na verdade, Fernando. Celebrado em 13 de junho, o santo possui uma lista vasta de atribuições dadas pelo povo: seus pães ajudam na garantia de fartura em casa, o responsório em caso de algo perdido é considerado infalível e, a mais conhecida, a de santo casamenteiro. A tradição e os costumes fizeram com que uma série de crenças rompessem a barreira do tempo e chegassem aos dias

Santo de castigo? No bojo das tradições e na busca por um companheiro/a, as pessoas passaram a “negociar” com o religioso o tão sonhado casamento e quando não conseguem, o “castigam” de diversas formas. Umas delas é colocar o santo de cabeça para baixo, dentro da água. Segundo o padre Roberto Camillato “são tradições do folclore, mas não há nenhuma relação com a vida do santo”.

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atuais. Entre elas a que conta que uma jovem pobre pediu a benção do então Frei Antônio porque não conseguia se casar por conta da condição financeira. Era prática na época que os pais da noiva pagassem uma espécie de “dote”. Passados alguns dias, a mulher recebeu em casa tudo aquilo que precisava e conseguiu se casar. O padre Roberto Camillato, pároco em Santo Antônio e reitor do Santuário-Basílica, em Vitória não confirma a história. “O único registro histórico era de que tendo conhecido esta realidade da época, ele passou a se posicionar contra o costume, o que facilitou com que as noivas pudessem se casar sem essa condição.” Alheia às tradições, quem deposita toda a fé no santo é uma moradora de Vitória, que preferiu não se identificar, mas acredita


Pão de Santo Antônio Antônio certa vez, distribuiu aos pobres todo o pão do convento em que vivia. O frade padeiro foi contar ao santo o ocorrido. Este mandou que verificasse melhor o lugar em que os tinha deixado. Quando retornou, viu, sem entender, que os cestos transbordavam de pão. Até hoje na devoção popular o “pãozinho de Santo Antônio” é colocado, pelos fiéis nos sacos de farinha, arroz ou outros mantimentos com a fé de que, assim, nunca lhes faltará o que comer. Só na comunidade dedicada ao santo, na Paróquia do Bom Pastor, cerca de 700 a 800 pães serão distribuídos nas comemorações deste ano.

Antônio morreu cedo, aos 36 anos, e foi canonizado pelo papa Gregório IX, em 1232 e de lá pra cá, as histórias cruzaram o Atlântico e a devoção ao santo só aumenta e enche, aqui no Brasil, as Igrejas dedicadas ao santo português. Gilliard Zuque

na intercessão do santo. “A fé é muito importante, primordial. Sempre que me ajoelho, agradeço a Santo Antônio pela minha saúde, é a maior graça. E eu estou com muita saúde. O resto, com trabalho, a gente consegue.” E ela repete um costume do santo: no dia 13 de junho, distribui os tradicionais pães. Quem também fala dessa fé é a coordenadora da comunidade dedicada ao santo, na Paróquia do Bom Pastor, em Campo Grande, Isolina Tibério. “Na procissão muitas pessoas ajudam a carregar o andor do santo como forma de agradecimento por graças alcançadas. ” Para ela a marca de Santo Antônio persiste no carisma da

comunidade: “A exemplo do santo, sempre buscamos ajudar a quem precisa. Toda nossa caminhada de 41 anos foi baseada no trabalho social”, finalizou.

Na Arquidiocese de Vitória, uma paróquia e 28 comunidades são dedicadas ao santo.

Santo Antônio nas comunidades Área Vitória Comunidades nos bairros Santo Antônio e Mata da Praia Área Vila Velha Comunidades nos bairros Brisa do Mar, Vale Encantado, Riviera da Barra e Praia da Costa. Área Serra Comunidades nos bairros Mata da Serra, Morada de Laranjeiras, Bicanga e Cidade Continental (Setor América) Área Serrana Comunidades nos bairros Fazenda Guandu

e Ribeirão da Costa (Afonso Claudio), Vitor Hugo (Marechal Floriano), Garrafão Gonçalves (Santa Maria de Jetibá), Lajinha (Pedra Azul), Mangaraí e Santo Antonio (Santa Leopoldina) Área Cariacica-Viana Comunidades nos bairros Cruzeiro do Sul, Itacibá, Porto Novo, Santo Antônio (CariacicaSede), Universal e Perobas (Viana) Área Benevente Comunidades em Cachoeirinha, Santo Antônio do Ribeirão e Santo Antônio Ibitiruí (Alfredo Chaves), Buenos Aires e Félix (Guarapari)

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Reportagem Letícia Bazet Maria Da Luz Fernandes

a atuação da Igreja Católica durante a

ditadura tre os vários objetivos propostos pelo Concílio, ressaltamos o que visava estruturar uma maior atuação do clero nos assuntos sociais. Nesse contexto, a Igreja capixaba, liderada pelo arcebispo Dom João da Motta e Albuquerque e pelo bispo auxiliar Dom Luís Gonzaga Fernandes, foi vista como a instituição de resistência ao regime ditatorial, e utilizou os seus espaços e a sua influência para levar às comunidades a reflexão sobre o momento sócio-político vivido pelo país. Era constante nas reuniões, assembleias e encontros das comunidades, a presença de policiais

Romaria Libertadora da Terra em 1987

E

ra 1° de abril de 1964 quando os militares deram um golpe e instauraram a Ditadura Militar no Brasil. Paralelamente ao período de repressão, censura e perseguições, florescia na Igreja de Vitória as Comunidades Eclesiais de Base. Foi o despertar de uma Igreja que escolheu lutar pela causa dos mais

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pobres e oprimidos. Uma Igreja que despertou nos fiéis o pensamento questionador e a vontade de buscar uma sociedade melhor, mais justa e solidária. Um dos fatos que contribuiu para sustentar essa ação católica foi o Concílio Vaticano II, realizado de 1962 a 1965 e presidido, inicialmente, pelo então papa João XXIII. Den-

Dom João Batista e Claudio Vereza na Assembleia de 1982


militar infiltrados para espionar e gravar o que estava sendo dito. “Com grandes gravadores, esses caras marcavam presença nas nossas reuniões e nós os colocávamos para fora. Em uma determinada assembleia, houve a colocação de uma bomba em pleno auditório do Carmo. O auditório teve que ser esvaziado rapidamente, a bomba foi jogada mas não estourou e eu me lembro apenas de ser carregado escadas abaixo, foi uma correria medonha. Era uma bomba de fabricação caseira, que jogaram para amedrontar o movimento”, contou Cláudio Vereza, católico atuante, que militou durante a ditadura pela liberdade democrática. Aos 14 anos, Francisco Celso Calmon iniciou a sua militância pelas causas sociais, ainda imaturo e com propósitos um pouco conturbados. Ao ouvir uma fala do padre Valdir Ferreira de Almeida, que deveria buscar a justiça por outros meios e não com revolta, houve a aproximação

com os ideais da Igreja Católica. “Eu diria que a Igreja, por meio da ação católica, deu organicidade e rumo para a minha militância, que teve início há mais de 50 anos”. Celso foi diretor regional da Juventude Estudantil Católica (JEC) e lutou contra a ditadura, foi perseguido, exilado e preso. Durante o período, a Arquidiocese lançou alguns documentos com o objetivo de provocar a reflexão para a conscientização sócio-econômica-política. Podemos citar documentos como o SIDAV (Serviço de Informação da Arquidiocese de Vitória), Boletim da Gente, Bate Papo Sobre Política, Manual do Eleitor, o Boletim Ferramenta, da Pastoral Operária que traziam informações diversas sobre a realidade social, esclarecendo questões acerca da política. Também foram criados os concilinhos que, com linguagem popular, passavam as ideias chaves do período, conforme conta Marlene Cararo: “A gente partici-

Marlene Cararo no Congresso Internacional de Jovens em 1972

pava de assembleias e encontros de Igreja para discutir o Concílio, onde essa perspectiva da realidade social estava muito presente. E esse trabalho ficou muito dentro da Igreja, nas pastorais, no estudo da Bíblia. Em 75, 76, o Concílio de jovens foi o ápice, o ícone desse trabalho realizado no interior da igreja. O DOPS participava desses momentos, sempre camuflado, espionando”, e completou: “Naquela época eu nem compreendia bem o que se Junho/2014

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Reportagem

passava, a noção exata do que era a ditadura, mas eu fazia tudo movida pela fé, pela dimensão eclesial de que aquilo era o correto a se fazer, na perspectiva da teologia da libertação. A gente fazia aquelas análises da realidade, de que o povo tinha que ter democracia, o povo tinha que participar. Dom João coordenava essas assembleias e puxava o canto: “A vida que a gente vive é cheia de divisão, mas Deus não quer isso não! Foi um momento muito rico na nossa Igreja”. Em 1977, a CNBB lançou o documento ‘Exigências Cristãs de uma Ordem Política’, um documento que denunciava toda a forma de opressão e incentivando a liberdade democrática. Focada na responsabilidade social e consciente da importância do povo nos processos e reflexões, a Arquidiocese de Vitória, a pedido do bispo Dom Luís Gonzaga Fernandes, traduziu o documento para a linguagem popular. Ele foi estudado em, praticamente, todas

Operários da construção civil em greve em 1981 26

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João Batista Herkenhoff

as CEBs da diocese. O documento foi realmente um posicionamento da Igreja contra o regime instaurado, contendo críticas diretas ao governo, abordando o direito à liberdade ao voto direto e questionando a forma de desenvolvimento adotada pelos militares. A Arquidiocese de Vitória criou também diversos organismos de atuação leiga. Um deles foi a Comissão Justiça e Paz (CJP), criada em setembro de 1977. Dom João dava a sustentabilidade representativa que a comissão exigia, enquanto Dom Luís trabalhava nos bastidores articulando e motivando a militância leiga para o desempenho das atividades. João Batista Herkenhoff foi o primeiro convidado para fazer parte da CJP. Uma das lutas encampadas pela comissão foi uma ação contra os despejos coletivos. “Com o título de propriedade em mãos, foi realizado o despejo de mais de 500 famílias. A Comissão Justiça e Paz tomou o lado dos posseiros e essa foi uma luta bem difícil. A luta pela justiça é uma luta evangélica, luta pela dignidade humana, essa visão orientava a CJP”. Com advoga-

dos voluntários a comissão lutava pela causa dessas pessoas. Durante a ditadura, Herkenhoff sofreu com o terrorismo psicológico feito pelos militares. Ligações para a sua casa, perseguições de carro à sua mulher, telefonemas monitorados foram algumas das situações vividas. Já juiz na época, Herkenhoff passou pelo banco dos réus, no Conselho Superior da Magistratura, por julgarem que sua atuação na CJP era subversiva. “É um conselho disciplinar, eu fui chamado para responder a um processo onde eram julgados ladrões e bandidos. Liguei para Dom Luís e pedi uma orientação de como me preparar, ele então me pediu para abrir e ler o Evangelho, dizendo que assim eu estaria preparado. Abri e li: “Quando fordes chamado ao tribunal, não vos preocupeis com o que haveis de dizer, o Espírito lhe soprará” (Lc 12,11-12). Na hora marcada eu fui, os desembargadores no alto, a minha cadeira posicionada abaixo deles e eles começaram a fazer perguntas e ali, o espírito me soprou. Eu falei com tanta firmeza que depois me admirei, parecia que eu estava lá em cima e eles embaixo. Foi incrível”, detalhou. A ditadura militar foi um período que deixou marcas em muitos militantes e trouxe um retrocesso para o desenvolvimento do país. Porém, a atuação da Igreja suscitou e estimulou o pensamento crítico coletivo que, segundo Vereza, foi primordial para


a formação de lideranças capixabas. “Sem a atuação da Igreja do Espírito Santo, sem esse trabalho pastoral com conteúdo libertador, eu creio que o movimento social e a vida política capixaba seria completamente outra, seria muito mais atrasada, o movimento social não teria surgido. Podemos observar na formação de vários sindicatos, tem sempre o dedo de alguém da Igreja. Sem a atuação da Igreja nos anos 60, 70, 80 e 90, a vida sócio-econômica e política não seria a mesma, não seria crítica. Muitas lideranças políticas vieram desse trabalho pastoral sistemático que houve naquele período”.

Encontros Intereclesiais das Comunidades Eclesiais de Base A atuação da Igreja, porém, sempre priorizou a dimensão da fé. Os membros que lutavam pela justiça social eram pessoas de fé e agiam motivados por ela. Assim, no ano de 1975, aconteceu em Vitória o primeiro Encontro Intereclesial das CEBs, no casarão de Santa Helena, onde hoje funciona o Seminário Nossa Senhora da Penha. O encontro tinha como proposta ser uma partilha das diversas experiências pastorais que estavam surgindo no Brasil e fortalecer nelas a experiência religiosa e o sentido de justiça. Como tarefa preparatória para o encontro de 1975, a pedido de Dom Luís, representantes de diversas dioceses prepararam um relatório contendo informações sobre a vida pastoral das comunidades que cresciam sobre os anseios do novo jeito de ser Igreja. O segundo intereclesial, em 1976, também

aconteceu na Arquidiocese de Vitória e contou com a participação de leigos, com o tema: Igreja, povo que caminha. Segundo Vereza, durante este encontro, os participantes flagraram um espião da Polícia Federal em cima de uma árvore gravando a reunião. “Os militares tinham noção da capacidade mobilizadora da Igreja, mas não tinham motivos para a perseguição, pois a Igreja não pegava em armas, é uma instituição reconhecida e respeitada em todo o mundo. Perseguir a Igreja era mais difícil. Até pessoas que participavam de movimentos clandestinos vinham participar das atividades eclesiais, e isso nós fomos perceber tempos depois”, disse. Marlene Cararo também se recorda dessa situação. “Houve esse momento da chegada de pessoas que não tinham essa dimensão da fé, mas encontraram na Arquidiocese espaço para debater as ideias”.

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Caminhos da Bíblia

“Tende confiança,

sou Eu, não te J

esus orando sobre o monte é uma imagem comum aos evangelhos sinóticos que sempre o apresentam em oração. Esta imagem prepara o que há de vir em sua manifestação poderosa diante do mar revolto e no salvamento de Pedro. Esta manifestação culmina com a firme proclamação de fé da comunidade dos discípulos, daqueles que estavam na barca, afirmando ser Ele o Filho de Deus. A barca atravessa o mar de noite e é assaltada pelas ondas de um mar revolto. O mar agitado e o vento contrário são sinais claros das turbulências sofridas pela comunidade dos discípulos. O verbo grego para descrever a dificuldade sofrida pela barca em atravessar o mar, muitas vezes é utilizado para descrever o sofrimento humano, sinal claro que o mar, as ondas e a barca podem ser transportados para o dia a dia da Igreja e das 28

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dificuldades no caminho do testemunho da fé. Jesus vem na direção de seus discípulos caminhando sobre as águas entre as três e as seis da manhã, momento da aurora, recordação evidente da manifestação do Ressuscitado e de sua luz que ilumina e garante a segurança do caminho. O Senhor que caminha sobre as águas expressa o seu domínio e senhorio sobre todas as coisas. O que mais amedrontava a comunidade dos discípulos é vencido pelo Senhor que lhes vem ao encontro. Jesus não só lhes comunica a segurança quando diz: “Tende confiança, sou Eu, não tenhais medo”, como os convida a seguí-Lo. Pedro, em nome da comunidade dos discípulos, vai na direção do Senhor, porém assustado com o barulho das ondas, temeroso com a força dos ventos, tolhe o olhar do Mestre e se preocupa mais com o


nhais medo” que está ao seu redor. Sem o olhar do Senhor e a confiança que ele comunica o apóstolo começa a afundar e pede socorro: “Senhor, salva-me!”. Jesus lhe estende a mão e o repreende: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?”. Esta palavra é dirigida a Pedro, mas atinge o coração de toda a comunidade reunida na barca, que tocada pela presença do Senhor e por sua manifestação é levada a professar a fé: “ Verdadeiramente Tu és o Filho de Deus”. O texto é uma profunda reflexão cristológica, isto é, apresenta um aspecto da vida de Jesus, neste caso, a sua divindade e o seu poderio sobre todo o criado. Deve ainda o texto ser analisado sobre o aspecto eclesiológico, ou seja, um texto que reflete sobre a fé da Igreja, da comunidade dos discípulos que, por vezes cheia de dúvidas, incompreensões e incertezas, é convidada a reconhecer

em seu meio o Senhor Ressuscitado, vendo-O salvar o discípulo que se afoga, mesmo que seja o responsável por todos os irmãos. Pedro é salvo e se torna sinal para toda a comunidade dos discípulos que, como ele, também, por vezes, deixa de ter os olhos fixos no Senhor e em sua presença e se deixa amedrontar pelos ventos contrários. Na conclusão do relato da profissão de fé, a comunidade deixa claro que quer crescer na fé e jamais deixar de crer na presença do Senhor junto da barca que é a Igreja, comunidade dos discípulos missionários. Hoje, os discípulos do Senhor são convidados pelo relato deste texto a fazerem a mesma experiência de Pedro e seus irmãos, confiar na presença do Senhor que os acompanha sempre. Pe. Andherson Franklin, professor de Sagrada Escritura no IFTAV e doutor em Sagrada Escritura

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aspas

de Gabriel García Marquez

Pensamentos N6

de março de 1927

Descobri que não sou disciplinado por virtude, mas como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir a minha mesquinhez, que passo por prudente por ser pessimista, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que não se saiba que pouco me importa o tempo alheio.” “Ele ainda era demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as coisas más e amplia as coisas boas, e que graças a esse artifício conseguimos suportar o peso do passado.” – O amor nos tempos de cólera. “Ninguém merece as tuas lágrimas, mas quem as merecer não vai fazer você chorar”. “Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade.” – Cem anos de solidão.

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de abril de 2014

“Nenhuma medicina cura o que a felicidade não pode curar.” “Ora, o jornalismo é uma arma muito mais rápida que a literatura. Creio que é uma arma tão poderosa quanto a literatura, sob o ponto de vista político. Os tempos é que são diferentes: o jornalismo é uma arma de emergência, para batalhas a curto prazo, enquanto a literatura é uma arma mais lenta, embora muito eficaz. “ – entrevista concedida à Revista Veja, em 24 de setembro de 2003. “Meu ofício não é publicar, mas escrever. A única coisa certa é que não faço outra coisa senão escrever”. – em entrevista ao jornal Colombiano El Tiempo, em 2009.


especial

O Ministério ordenado do diácono

O

ministério diaconal, como os demais ministérios na Igreja, tem sua referência fundamental em Jesus Cristo: “estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27b). Trata-se de um ministério presente desde o início da Igreja (At 6,1-6), com a missão voltada para a caridade, a palavra, o culto, entre outras dimensões. “Diakonia” é uma palavra grega que significa “serviço”. Na Carta de Paulo aos Filipenses 1,1 há uma referência a esse título próprio do mundo grego e judaico para designar um serviço de auxílio ao vigia (bispo) da comunidade. Em Timóteo 3,811 há uma referência a esse ministério para administração dos bens materiais e assistência. Em Timóteo, S. Paulo apresenta um catálogo de qualidades requeridas aos diáconos (1Tm

3,813;46). Dentre os diáconos aparecem as mulheres (1Tm 3,11; Rm 16,1), reforçando a ideia de não existir monopólio dos varões no exercício do ministério diaconal. Quando o Concílio Vaticano II restabeleceu o diaconato na Igreja (LG 29) não reduziu esse ministério às funções litúrgicas. Inserido no ministério episcopal e colaborador junto aos presbíteros, o diácono participa do múnus de ensinar, santificar e pastorear (Congregação para a Educação Católica e Congregação para o Clero). O diácono está à disposição do bispo, de toda a Igreja, para servir

a todo o povo de Deus e cuidar dos doentes e dos pobres; com razão e propriedade, ele é chamado amigo dos órfãos, amigo dos que cultivam a piedade, amigo das viúvas, fervorosos de espírito e amante de tudo que é bom. Ele não é um mero executor de atividades litúrgicas do altar, mas um vocacionado que interpela a Igreja ao serviço dos empobrecidos e excluídos. O diácono não assume o ministério para realizar um sonho individual, não é ordenado para exercer um poder na Igreja ou para substituir os presbíteros onde são em número insuficientes. Recebem um dom do Espírito, no Sacramento da Ordem, para colaborar nos diversos serviços específicos, necessários à vitalidade da Igreja. Seu ministério colabora com o específico dos cristãos leigos e

leigas, sendo paradigmas para a unidade dos discípulos missionários de Cristo. Ele é sinal visível de que é possível integrar autonomia do tempo e profissão de fé. O diácono casado tem como vocação primeira o Matrimônio. Por isso, seu ministério está subordinado aos deveres do lar (esposa e filhos). O cuidado com a vida matrimonial e com o ministério diaconal precisa caminhar em harmonia. A família é o primeiro espaço ministerial que se amplia de acordo com suas possibilidades e condições. Nas posturas de relação de bispo e presbíteros com o diácono, toda a realidade familiar deste deve ser levada em consideração, por isso a presença da esposa e filhos é fundamental no seu ministério. Pe. Ivo Ferreira de Amorim

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VIVER BEM

A importância do

Ócio R

ápido, o dia está começando! Rápido o mês está passando! O ano está acabando! Rápido ! Rápido! Vivemos numa correria constante e cruel. Tentar ter o controle de todos os fatos da vida é irreal e acarreta um sofrimento imenso. Aceite. Não controlamos tudo. Vivemos num mundo altamente competitivo, de muitas vaidades, de tantas preocupações com o exterior que esquecemos de cuidar do que mais importa: O nosso interior. Buscar o que somos, cuidar do nosso autoconhecimento.

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Qual a qualidade de vida que estamos nos permitindo? Qual o tempo que dedicamos a nós como pessoas? Qual o tempo que nos permitimos relaxar sem ter nada para fazer? Deitar numa rede, sentir o vento... Por que pensamos que temos sempre que estar realizando algo? Que o descanso nos traga a paz e a reflexão. As inúmeras exigências que nos impomos nos fazem sentir culpados do benefício do ócio, achamos incessantemente que temos de estar realizando algo, mas nosso equilíbrio psí-

quico está vinculado ao fato de nos permitirmos um tempo desocupado na agenda. O ócio é importante até mesmo para o desenvolvimento da criatividade. É importante mesclar atividades como o trabalho e o estudo, com o tempo livre. Temos aí o Ócio Criativo. A nossa identidade vem do que aprendemos, da nossa formação, da nossa capacidade de produzir ideias, do nosso modo de também viver o tempo livre. A dedicação em tudo que fazemos é importantíssimo, mas todos nós precisamos de


momentos de descanso em benefício até mesmo das nossas atividades profissionais e do bem estar das nossas famílias. Uma pessoa estressada dificilmente renderá bem, tanto no seu meio familiar como no trabalho. Tire suas férias, aproveite os finais de semana, descanse. Seus familiares irão agradecer, seu rendimento profissional será bem melhor e o seu risco de doenças Psico-Neuro-Imuno-Endócrinas será bem menor. Se não aprendermos a lidar com as cobranças excessivas que nos impomos e a tirar o foco da

obrigação constante de resultados, corremos o risco de nos perdermos. A necessidade da introspecção, a dedicação à amizade, ao amor, às atividades lúdicas são necessidades que precisam ser levadas em consideração. Elas contribuem para o fortalecimento da autoestima e quando começamos a gostar mais de nós mesmos, as nossas relações se tornam melhores e mais saudáveis. Precisamos respeitar nosso próprio ócio para crescermos intelectualmente, profissional-

mente, criativamente e florescermos como seres humanos. Nos conhecendo e nos respeitando. Você é muito importante. Trate-se muito bem. Você recebeu o maior e o melhor dos presentes, a vida. Cuide bem desse presente precioso, ele é de sua responsabilidade. Ame e cuide dessa pessoa especial e única que é você. Comemore essa pessoa única que você é e a pessoa ainda mais incrível que pode ser. Lourdes Landeiro Psicóloga

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ideias

Atualizando forças, belezas e acontecimentos

O

tempo segue. Mas pela liturgia o tempo que segue se enfeita em voltas e retornos. Sim, a liturgia não deixa de ser um magnífico processo de atualização de forças e acontecimentos. Decerto mais do que nos recordar acontecimentos passados a liturgia quer ser uma experiência existencial em que se tem acesso às mesmas forças e belezas de então. E sabendo 34

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que a melhor maneira de matar um acontecimento, de retirar dele sua força, é torna-lo mero fato ocorrido, a liturgia, mesmo que nos fale de fatos ocorridos, quer ser mais do que isso, bem mais. É com este entendimento que sigo na tentativa de alguns pensamentos, na sondagem do que este tempo de páscoa significou para mim, no reconhecimento da poesia e do remédio que me foram

oferecidos em cada celebração, nos espaços e caminhos que se abriram aos meus olhos ao longo dessas semanas, embora faltem algumas. No primeiro domingo uma palavra me chamou a atenção. “Este é o dia”. Aquele dia, este dia em que vivo em 2014, é “o dia” de fato, o da passagem, dia divisor, dia referencial, marcador de mudanças, de transforma-


ções, de revoluções, de entrada em novos mundos. Fogo. Água. Batismo. Antes e depois. O que eu vivi e o que vou viver. O que eu pensava e o que vou pensar. O que sofri e o que me alegrará. Mas é claro que a atualização deste dia implica em decisões, escolhas, opções. Ele ressuscitou, ele foi ressuscitado. Eu recebo, eu decido receber. Ou seja, eu decido fazer do domingo de páscoa um domingo de atualização da vida com todas as suas belezas e possibilidades. Marco, decido, registro: A vida será diferente de agora em diante, melhor. O amor me dominará. E direi com Fernando Pessoa, Há um tempo em que é preciso esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. Se no primeiro domingo eu me revisto de branco (do batismo), de festa, de alegrias, abraços e confraternizações, no segundo sou convidado e desvestir-me e retomar as vestes das lutas do dia a dia. Sou reconduzido à vida cotidiana com a vida renovada. Se retiro as roupas brancas - atu-

alizando existencialmente o que os cristãos das origens faziam no segundo domingo - retorno depois das festas para o que tenho que viver. Se me desvisto das roupas de festa não desvisto o coração da nova vida. Dar de si é a mensagem do dia da desvestição. Eles distribuíam seus bens. Eu atualizo minha vida como pão bom a ser distribuído, como tesouro a ser aberto, como território a ser povoado. E direi com Clarice Lispector, Todos os dias, quando acordo, vou correndo tirar a poeira da palavra amor. No terceiro domingo recordo, atualizo, retomo, incorporo a mensagem central que minha vida deve proclamar: Ele é vivo. Esta proclamação diz que a vida é maior. Esta proclamação diz que a vida Nele e com Ele se torna o que tem que ser: vida em abundância. Decerto a vida ainda não é abundante, mas o terceiro domingo, o domingo do Querigma, afirma que, a despeito da morte e do seu império que ainda avança sobre muitos, Ele é vivo! E nos empenhamos em pro-

clamar isso diante das realidades com palavras e gestos. E diremos com Fernando Sabino, Façamos da interrupção um caminho, da queda um paço de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro. No quarto domingo, o do Bom Pastor, somos estimulados à afirmação de que essa vida não poderá ser vivida senão no rebanho. Há prazeres e satisfações e contentamentos que só podemos usufruir se compusermos com outros um rebanho. Há uma especial potência na vida coletiva. Além do mais, e lógico, se o Pastor é bom, de algum modo o rebanho também o é. Pois bem, entre outras coisas, este é o domingo em que o batismo lá do primeiro dia precisa ser entendido não como uma aquisição pessoal, mas como uma inserção num rebanho. Vida comum, em comum. Impossível dispensar a comunidade. E diremos com Cora Coralina, Se for pra semear, então que seja pra produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e de amizade. Dauri Batisti

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prÁtica do saber

Mulheres Mil Escolas Técnicas Federais identificam vulnerabilidades sociais e desenvolvem projetos específicos para demandas locais.

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om o objetivo de incluir mulheres em situação de vulnerabilidade social o Programa Mulheres Mil chegou a Vitória e teve como porta de entrada o grupo de mulheres paneleiras da região da Grande Goiabeiras. O Campus do IFES em Vitória, que aderiu à proposta, já está com a segunda turma e realizando o que o Programa se propõe: elevar a escolaridade das mulheres e proporcionar condições de inclusão no mercado de trabalho. Na primeira turma, das paneleiras, tudo começou na reunião com a presidente da associação. Depois, todas foram convidadas e manifestaram as necessidades reais. A partir daí a coordenação desenvolveu um projeto específico para atender as demandas surgidas e, finalmente, foi dado início à capacitação Primeira turma 100 mulheres divididas em três turmas, com aulas duas vezes na semana compondo uma carga horária de 160 horas.

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profissional que durou em torno de 4 meses. Maria José de Resende Ferreira que estuda o gênero feminino há vários anos é coordenadora do projeto e fala com entusiasmo das reações da comunidade beneficiada, dos professores que lecionam, dos alunos que atuam como voluntários e, principalmente, dos progressos individuais que envolvem a auto-estima e a interação escola/sociedade. Ela é “Mulher Mil”. Conversando com


ela percebe-se que, além dos propósitos comuns que o Mulheres Mil se propõe, o envolvimento pessoal da comunidade, dos professores e voluntários traz benefícios para todos. No caso das paneleiras o curso foi de Gestão e Relacionamento com o Cliente sendo composto por aulas de Inglês, Espanhol, Informática, Matemática Básica e Economia Solidária. Foi nesta disciplina que o grupo discutiu sobre leis trabalhistas e atendimento ao cliente. O grupo respondeu bem e no término organizaram um baile e jantar de formatura no galpão em Goiabeiras, voltando para casa com mais bagagem e mais conhecimento e deixando no IFES aos professores e voluntários a certeza de

Processo de adesão ao Programa 01

Convidados pelo Governo Federal por chamada pública, os Institutos fazem um plano de adesão.

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Se contemplados devem identificar uma comunidade e junto com ela levantar as necessidades da mesma.

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Elaborar o projeto para a demanda identificada.

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Executar o projeto

que o ambiente escolar interagindo com a comunidade só favorece o crescimento mútuo. O Programa no Campus de Vitória está com a segunda turma,

as desfiadeiras de siri do Bairro São Pedro. Este grupo foi identificado por ter características semelhantes ao primeiro e assim favorecer a utilização do projeto e

Adesão dos alunos do IFES O recrutamento dos alunos para o voluntariado acontece nas aulas do curso de licenciatura onde Maria José leciona. No primeiro dia de aula ela se apresenta e fala dos projetos. Os alunos que se interessam tornam-se voluntários e a adesão depende da sensibilidade para as questões sociais e da disponibilidade do aluno. A próxima turma que inicia em agosto já conta com dez voluntários. Para participar inscreve-se, assina um contrato de voluntariado e depois é gerenciado pela coordenação do projeto. As aulas sempre são ministradas por professores, mas os alunos podem auxiliar o professor ou prestar outros serviços, de mobilização, divulgação, inscrições e mesmo tarefas administrativas, como listas de chamadas, folha de pagamento, contatos, etc.

plano de aula, porém, neste caso a adesão da comunidade foi menor e o trabalho de identificar pessoas, motivá-las e fazer as inscrições foi mais demorado. Ao contrário das paneleiras que fizeram a divulgação boca-a-boca, a comunidade das desfiadeiras contou com a ajuda dos agentes de saúde para identificar as mulheres e das escolas da prefeitura para realizar as inscrições. A partir de agora o Governo vai ligar o Mulheres Mil com o PRONATEC, Programa Nacional de Acesso Técnico e Emprego, e a gente vai continuar a parceria com a escola de EJA, Educação de Jovens e Adultos porque ali está o público. “Ao mesmo tempo que lá, as mulheres fazem escolarização, elas vêm para cá fazer uma qualificação”, disse a coordenadora e acrescentou “A gente sabe que elas não vão melhorar de vida, mas elas retornam à escola, percebem que aqui (IFES) também é espaço de mulheres e de pessoas pobres”.

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reflexões

ESTAMOS EM FESTA!

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este mês de junho a Igreja celebra uma solenidade muito significativa do Mistério da nossa salvação realizado por Jesus Cristo: a Festa da Eucaristia, a Festa da Unidade. Corpus Christi é a festa do Sacramento do Corpo e Sangue do Senhor e que constitui o tesouro mais precioso da Igreja. A Eucaristia é como o coração pulsante que dá vida e cria unidade do Corpo de Cristo, que é a Igreja, o Povo de Deus. Como afirma o apóstolo Paulo: “Há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão”. ( 1 Cor 10,17 ). Podemos afirmar que sem a Eucaristia

a Igreja simplesmente não existiria. É ela que faz de uma comunidade cristã uma verdadeira comunhão, capaz de levar Deus ao mundo e o mundo a Deus. É o Espírito Santo, que transforma o pão e o vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, para alimento dos cristãos. A presença real de Jesus Cristo na Eucaristia nunca foi problema para as primeiras comunidades. Porém, com o passar dos anos foi necessário que a Igreja declarasse oficialmente sua fé e, através dos sinais na história, empreendesse celebrações mais populares para manifestar seu modo de crer. A procissão de “Corpus Christi” é um desses sinais. É a nossa

“A Eucaristia é como o coração pulsante que dá vida e cria unidade do Corpo de Cristo, que é a Igreja, o Povo de Deus. ”

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“FESTA DA UNIDADE”, quando anunciamos que em nossa caminhada, o Senhor se faz presente e nos alimenta com o Seu Corpo e Seu Sangue. O Papa Francisco nos recorda na Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho” que a “Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas um alimento generoso para os fracos”. É costume solenizar e visibilizar o nosso amor por este grande mistério ornamentando as ruas por onde passa a procissão com tapetes coloridos e desenhos temáticos de inspiração religiosa. Estes enfeites, de longa data se constituem uma tradição no Brasil, uma verdadeira evangelização através

da arte, recordando a nossa vida que deve estar bela e preparada para estar com o Senhor. A festa de “Corpus Christi” remonta ao século XII, instituída pelo Papa Urbano IV (1262). Ela é um convite para uma meditação sobre o valor e a importância da Eucaristia em nossa vida que se torna fecunda através da caridade e solidariedade radical. A vida cristã consiste em viver em Cristo, com Cristo e por Cristo, como discípulo missionário, ou seja, fazer da vida uma Eucaristia para os irmãos. É comprometimento pessoal e comunitário com a vida de Cristo, dada por amor até a morte. Que Jesus, visibilizado pelo dom da Eucaristia, abençoe nossas famílias e todas as comunidades eclesiais da Arquidiocese de Vitória. Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória


vitória Revista da Arquidiocese de Vitória - ES

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Periodicidade: mensal



ARQUIVO E MEMÓRIA

DOM JOÃO, PERSEGUIDO PELA DITADURA MILITAR

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pobreza e o sofrimento do povo, que via de perto e a sua atuação junto as Comunidades Eclesiais de Base influenciaram a postura política e social de Dom João Batista da Motta e Albuquerque. Mesmo vigiado pelos militares apoiou a Ação Católica e a formação de grupos como a JEC (Juventude Estudantil Católica), JOC (Juventude Operária Católica) e JUC (Juventude Universitária Católica). Na década de 70 foi ameaçado e obrigado a vender a Rádio Capixaba, que pertencia a Arquidiocese e era um importante veículo de informação naquele tempo em que tantos se calavam. Orientou a Igreja de Vitória a se organizar e defender os perseguidos pela Ditadura. Em 1982, relembrando sua trajetória, sua luta pelos Direitos Humanos e contra a ditadura, Dom João declarou: “antes mesmo da carta da ONU, já alertava o povo para a defesa dos direitos fundamentais”. Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc Junho/2014

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ensinamentos

Fé:

resposta

que damos a deus

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Catecismo da Igreja nos auxilia a compreender a profundidade da Fé e do Crer no Deus Verdadeiro, diferenciando-os da superstição, da magia, da idolatria e das crenças. A profissão de fé da Igreja começa com a afirmação: “Eu creio” ou “Nós cremos”. A fé, dom gratuito sobrenatural de Deus, é a resposta dada por nós a Deus que se revela e a nós se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz para iluminar o ser humano em busca do sentido verdadeiro de sua vida. Para crer, precisamos dos auxílios interiores do Espírito Santo. Pela fé, submetemos completamente nossa inteligência e nossa vontade a Deus. A Sagrada Escritura chama esta resposta que damos ao Deus que se revela como “obediência na fé”. Obedecer na fé significa o ato de submissão livre à palavra ouvida, visto que sua verdade é garantida por Deus, que é a própria Verdade. Por meio da fé, podemos experimentar antecipadamente a alegria e a luz da visão da vida eterna, meta de nossa caminhada na terra, quando veremos então a Deus “face a face” (1 Cor 13, 12), “tal como Ele é” (1Jo 3,2). A fé é um ato pessoal, consciente e livre, isto é, a resposta livre do

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ser humano à iniciativa de Deus que se revela. Mas também é um ato da Igreja. Recebemos a fé de outros, devemos transmiti-la a outros. Nosso amor por Jesus e pelas pessoas nos impusiona a falar a outros de nossa fé. Somos um elo na grande corrente dos que creem. A fé da Igreja precede, gera, sustenta e alimenta nossa fé. Algumas pessoas confundem fé com superstição, crenças e magia. A superstição é condenada pelo primeiro mandamento: somente Deus deve ser adorado e somente a Ele devemos prestar culto. A superstição é o desvio do sentimento religioso e das verdadeiras práticas religiosas. Ela pode afetar o culto que prestamos ao verdadeiro Deus, quando atribuímos importância mágica a certas práticas legítimas ou necessárias, tais como as devoções e a recepção dos sacramentos. A superstição, por exemplo, leva a pessoa a fazer o sinal-da-

-cruz antes de entrar em campo para ter sorte no jogo, carregar o terço como amuleto para proteger do perigo, proferir as palavras das orações como condição para controlar a vontade de Deus, fazer promessas para barganhar uma graça, queimar os ramos bentos no Domingo de Ramos para afastar temporal ou batizar uma

criança para deixá-la mais calma. Estas práticas supersticiosas não levam em consideração as disposições interiores que a vivência da verdadeira religião exige. Vitor Nunes Rosa Professor de Filosofia na Faesa

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cultura CAPIXABA

POCAR VAI SER A MAIOR GASTURA SE

(se não der certo será uma agonia)

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epois de 479 anos da chegada de Vasco Fernandes Coutinho às terras de Guananira (a Ilha do Mel) o capixaba também acha massa (interessante) ter seu espaço no variado mundo dos dialetos empregados pelo povo brasileiro. Mas o que representa genuinamente o modo de falar ou dialeto capixaba, conhecido descontraidamente como capixabês? O capixaba ou o turista, que já pegou um ônibus para subir o Convento da Penha ou catou (apanhou) conchinhas pelas praias de Piúma, também ouviu expressões únicas de nossa terra como, por exemplo, dar tilt, usado espirituosamente sem44

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pre que uma pessoa demonstra estar maluca, ou pocar fora, afirmativa que usamos quando nos despedimos dos amigos e vamos embora. E a origem de todas essas palavras do nosso dialeto está exatamente na mistura de povos que é o estado do Espírito Santo. Por exemplo, dos indígenas herdamos a expressão iá, habitual nos momentos de espanto ou surpresa. Da matriz africana herdamos a expressão cafundó, para expressar a distância longínqua de um local. Então, sempre que um lugar é longe... longe dizemos que fica nos cafundós do Judas. Ou a expressão Hum Hum usada por vezes para con-

cordar outras para discordar. E no nosso dia a dia o capixaba nativo também vai à padaria para comprar pão de sal e café sem doce ao invés de pedir pão francês e café sem açúcar. Mas dentro do próprio Estado também encontramos expressões particulares como, por exemplo, o fato de um viajante, que vai para a região do Caparaó, visitar uh Alegre em vez de visitar a cidade de Alegre. Enfim, quem conhecer outras expressões ou quiser dar uma passada por aqui para esquentar os tamborins, ou melhor, se preparar para a festa é só dar um toque! Diovani Favoreto Historiadora


Acontece

Encontro de formação Pastoral Familiar Para debater os desafios da juventude e das famílias jovens, a Pastoral Familiar realiza um encontro de formação para coordenadores e agentes, nos dias 7 e 8 de junho, no Centro de Treinamento Dom João Batista, em Ponta Formosa. O encontro será assessorado por André Luís Kawahala e Rita Massarico Kawahala, autores de livros voltados para o trabalho do setor de pré e pós matrimônio. Para mais informações, contato pelo email pastoralfamiliarmitra@ hotmail.com

Semana do Migrante De 15 a 22 de junho, a Pastoral Migratória realiza a Semana do Migrante, com o tema ’Migração e Liberdade’ e lema ‘Migrar é direito. Tráfico humano é crime!’. O grupo realiza missas, círculos bíblicos, palestras e quadrilhas nas comunidades, aldeia de pescadores, repúblicas e albergues de Vitória. Será feita também uma exposição das fotos e trabalhos realizados durante o ano, nas comunidades por onde passam.

ROVÃO Nos dias 7 e 8 de junho, acontece o retiro para orientação da vida vocacional, em Marechal Floriano, no Sítio Canaã. O ROVÃO é um encontro para aprofundar e levantar reflexões sobre as vocações de cada um. Durante os dois dias, os participantes irão vivenciar momentos de adoração e palestras. Para inscrições e mais informações, entrar em contato com o Seminário Nossa Senhora da Penha pelo telefone 3227-8601 ou pelo Facebook.

Semana de Oração Acontece de 1º a 8 de junho, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. O tema é motivado pelo texto bíblico de 1 Cor 1, 1-17. Durante a semana acontecem celebrações ecumênicas, palestra sobre o pluralismo religioso e ecumenismo e caminhada. Veja programação completa na contra-capa.

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Acontece

Livros de registros seculares e o Centro de Documentação da Arquidiocese de Vitória

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esquisadores e curiosos da história capixaba e também genealogistas interessados em conhecer as informações sobre seus avós, bisavós, sua origem, ascendência e outras informações podem agora acessar os documentos produzidos pela Igreja Católica no Espírito Santo pela tela do computador. Aproximadamente 900 livros eclesiásticos, entre 1821 e 2002, pertencentes à Arquidiocese de Vitória foram armaze-

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nados e catalogados num projeto, realizado de forma inédita no Brasil, a partir de métodos e regras de arquivologia baseadas na Norma Brasileira de Descrição Arquivística (Nobrade). O processo consistiu na organização dos documentos produzidos nos últimos 180 anos de história da Arquidiocese e que foram reunidos e recolhidos ao Centro de Documentação - CEDAVES. O acesso aos livros poderá ser realizado no Centro de Documentação da Arquidiocese de Vitória por meio dos CDs, onde estão os arquivos digitais dos registros. Já o catálogo que servirá como guia para a pesquisa poderá ser visualizada no nosso site www.aves.org.br, na aba de publicações. O processo começou em 2012 com a higienização cuidadosa do material com produtos específicos para minimizar os danos e resquícios do tempo. Logo após, foi feita

a descrição de cada livro, ou seja, foram todos adequadamente identificados por cidade, paróquia e ordem cronológica. O passo seguinte foi a digitalização para que sejam acessadas em formato digital, evitando maior deterioração e preservando a saúde dos visitantes e pesquisadores. A penúltima etapa do trabalho foi o acondicionamento de todo o material em papel especial. Para facilitar a pesquisa, a historiadora Diovani Favoreto e a arquivista Giovanna Valfré elaboraram um catálogo que servirá de guia para agilizar e otimizar a pesquisa dos interessados. O catálogo contém 168 páginas e 11 capítulos, um para cada cidade que compõem a Arquidiocese de Vitória. Nele será possível encontrar de quais paróquias os livros foram recolhidos e armazenados, a época em que os registros foram feitos, a cidade a qual pertence e quantos livros possui. Diovani Favoreto Historiadora



Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2014

Acaso Cristo está dividido? 1Cor 1,17 Domingo (1º de junho) Celebração de abertura (19h): Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) Paróquia Luterana de Vitória: Rua Engenheiro Fábio Ruschi, 161, Bento Ferreira - Vitória Segunda (2 de janeiro) Celebração ecumênica (19h30): Igreja Presbiteriana Unida (IPU) Praça Assis Chateaubriand, 380 - Ibes - Vila Velha Terça (3 de junho) Celebração ecumênica (19h30): Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) Rua Marilene Rosa Barcelos Peloti, 880, Jardim Limoeiro - Nova Carapina - Serra Quarta (4 de junho) Celebração ecumênica (19h30): Igreja Católica Romana (ICAR) Paróquia São Francisco de Assis: Praça Anibal Anthero Martins, s/nº, Jardim da Penha Vitória

Quinta (5 de junho) Celebração e caminhada ecumênica (19h30) Começa na Paróquia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB): Rua Itapagibe, 21, Flórida - Cariacica. Chegada: Comunidade Santa Cecília da Paróquia Santíssima Trindade (ICAR) - Cariacica Sexta (6 de junho) Palestra sobre Ecumenismo com o Monge Marcelo Barros (19h30) CDDH: Rua Homero Pimentel Lopes, 418, Bairro Rosário de Fátima - Serra Sábado (7 de junho) Palestra sobre Pluralismo religioso com o Monge Marcelo Barros (de 9 às 12h) CDDH: Rua Homero Pimentel Lopes, 418, Bairro Rosário de Fátima - Serra Domingo (8 de junho) Celebração de encerramento (Pentecostes): Igreja Presbiteriana Unida (9h30) Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória: Rua Sete, 412, Centro - Vitória


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