Catalogo Cinema Russo - CAIXA Belas Artes

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É com muita satisfação que trazemos ao público a Mostra de Cinema Russo Contemporâneo. Com filmes que contribuíram de forma inigualável para a história do cinema, a produção cinematográfica russa ganha uma retrospectiva que vai do período da Perestroika aos seus últimos 20 anos. Considerado um dos mais expressivos do mundo, o cinema russo contou com realizadores renomados como Serguei Eisenstein, Andrey Tarkovsky, Alexander Sokurov entre outros, mais jovens – não tão conhecidos do grande público, mas que deram continuidade à escola desses grandes mestres. Com curadoria de Luiz Gustavo Carvalho e Maria Vragova, a mostra pretende inaugurar uma nova perspectiva de debate em torno dessa filmografia, apresentando ao público brasileiro alguns dos melhores exemplos do cinema russo após a queda da União Soviética. Para auxiliar na formação do público, o crítico russo, Andrei Plakhov, fará um ciclo de quatro palestras, Aspectos do Cinema Russo Contemporâneo, com entrada gratuita. Ao viabilizar este projeto, a CAIXA dá mais uma prova do seu compromisso com os brasileiros. Além de seu papel como banco público e parceiro das políticas de estado, a CAIXA apoia e estimula a cultura, especialmente na circulação de eventos pelas unidades da CAIXA Cultural. Privilegiando a qualidade e a democratização do acesso, elas levam a sete capitais eventos de artes visuais, música, cinema, teatro e dança. Nas outras regiões do Brasil, programas específicos fomentam os festivais de teatro e dança, a produção de artesanato e a modernização de espaços museológicos. Assim é a história da CAIXA que, desde sua criação, vem contribuindo para facilitar o acesso aos diversos bens culturais e o crescimento intelectual e cultural de nossa gente. Não é fácil chegar a tantas pessoas e lugares, mas esse é um desafio que vale a pena. Afinal, a vida pede mais.

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL



Há vinte anos atrás, o filme “Penitência” (Pokayanie), realizado em 1984 pelo diretor georgiano Tenguiz Abuladze, gerava uma grande polêmica em toda a União Soviética. Muitos acreditavam que, caso este filme fosse exibido nos cinemas, isto significava que realmente alguma coisa importante estava acontecendo no país e era possível acreditar na transparência (glasnost), nas mudanças e no que chamavam de “Perestroika” (reconstrução). “Penitência” foi exibido nos cinemas em 1987, e imediatamente tornou-se um símbolo audiovisual da sua época. Se o “Degelo”, iniciado por Khrushchev, trouxe uma liberdade maior para as artes em geral, isto não aconteceu no cinema. Na década de 1960, muitos escritores e poetas aproveitaram a abertura de Khrushchev para expurgar o espírito stalinista da literatura, provocando o nascimento de um novo gênero literário, diferente do realismo soviético. No entanto, não se viu um análogo na sétima arte, em grande parte devido à natureza específica da produção e distribuição cinematográfica, que envolvia uma série de interdependências em todas as suas fases. O cinema do “Degelo”, mais suscetível ao controle e censura por parte do Estado, manteve-se conservador e o espírito stalinista pairou sob o cinema até a chegada de Gorbachev ao poder. A Mostra de Cinema Russo Contemporâneo apresenta pela primeira vez em São Paulo, uma seleção de 13 filmes realizados durante a “Perestroika” e na Rússia da década de 1990 e do início do século XXI, possibilitando ao público carioca a oportunidade de conhecer um cinema que aborda pela primeira vez temas de grande importância da história do país durante o século XX. É impossível compreender o cinema russo contemporâneo, sem evocar o cinema da “Perestroika”, este cinema realizado entre duas épocas. Graças à produção dessa época, que praticamente aboliu a censura até então sempre presente na indústria cinematográfica soviética, cineastas de diversas origens e idades retrataram pela primeira vez o assassinato da família imperial russa, as perseguições stalinistas da década de 1930 e o trágico destino dos soldados russos na Guerra do Afeganistão. No entanto, esses diretores não se libertaram da censura somente ao tratar de assuntos passados, mas também ao falar do presente e do futuro. O cinema da “Perestroika” retrata de uma maneira visceral a realidade e angústias das pessoas na Rússia do final do século XX. Nos dias atuais, quando os netos da Perestroika mostram-nos as consequências deste cinema nos seus filmes, a Rússia encontra-se novamente diante de uma encruzilhada e por vezes temos a impressão de vislumbrar um “déjà vu”. Porém o cinema na Rússia atual, com todas as suas diversidades e nuances, é, sobretudo, um cinema autoral sem nenhuma sombra do medo que rodeava o cinema soviético. Como Yuri Zhary, personagem inicial do filme “O Espelho”, de Andrey Tarkovsky, o cinema russo contemporâneo não gagueja e não tem medo de falar livremente. Luiz Gustavo Carvalho

Curador da Mostra


CINEMA DA “PERESTROIKA”: REVOLUÇÃO OU EVOLUÇÃO? Andrei Plakhov A vida do novo cinema russo e soviético começou a ser escrita em maio de 1986, durante o “Quinto Congresso de Cineastas”, quando foram escolhidos novos dirigentes, sob a presidência de Elem Klimov, os quais criticaram os «intocáveis» conservadores e apoiaram as reformas de mercado na indústria cinematográfica. Com isso, os estúdios de cinema ganharam independência artística e financeira e a censura foi praticamente liquidada. Até esse momento histórico, apesar das suas indiscutíveis realizações, o cinema nacional passava por uma crise profunda, como consequência da estagnação social e política. Somente as pessoas que adulavam o poder, podiam trabalhar sem problemas. Os melhores cineastas, como inclusive Aleksey Guerman e Kira Muratova, passaram anos sem trabalhar, após terem mais um de seus filmes “colocados na prateleira”. Outros, como Otar Iosseliani e Andrey Tarkovsky, foram para o estrangeiro e, por isso, banidos da sua pátria. Os jovens talentos, dentre eles Aleksander Sokurov, encontraram imensas dificuldades tentando ultrapassar a censura. O número de pessoas que foram ao cinema assistir filmes soviéticos aprovados pelo poder oficial foi falsificado, mas mesmo assim o número de pessoas que iam ao cinema era bastante alto. A quantidade de filmes estrangeiros exibidos foi limitada e vídeos oficialmente proibidos não podiam circular pelo país, pois eram considerados ilegais. Mas não era mais possível manter um país inteiro sob um isolamento de informações e de cultura: a revolução tecnológica batia à porta. Praticamente, após o “Quinto Congresso de Cineastas”, foi criada uma comissão para lidar com os assuntos criativos do cinema. Eu, por exemplo, soube que havia sido indicado para ser o presidente dessa comissão, quando voltei de Tbilissi, para onde eu tinha viajado no dia seguinte ao encerramento do congresso. Em Tbilissi, eu já havia começado a trabalhar na tentativa de trazer para Moscou a cópia de «Penitência», filme proibido de Tenguiz Abuladze. A sua legalização foi uma das ações de maior impacto dessa comissão. Um total de 250 filmes que haviam sido censurados, foram legalizados nessa ocasião. Os mais importantes entre eles foram “A longa despedida”, de Kira Muratova, “A voz solitária do homem”, de Aleksander Sokurov, “Anjo”, de Andrey Smirnov, “A lancha de Ivan”, de Mark Ossepian, “Comissário”, de Aleksander Askoldov e, obviamente, “Penitência”, uma farsa trágica anti-stalinista que apelava para fazer as contas com o passado totalitário, e para propor uma renovação social. Apesar da resistência dos conservadores, “Penitência”, foi exibido nos cinemas da Rússia e representou a União Soviética no Festival de Cannes, ganhando o Grande Prêmio.


No final dos anos 80, apareceram os primeiros filmes que foram realizados sem os tabus impostos pela censura. Eles legalizaram temas proibidos como “sexo” (como em “A pequena Vera”, de Vassily Pitchul), “violência”, dentre outros. Não só os jovens cineastas, mas também diretores conceituados abordaram temas importantes da vida dos jovens: Eldar Riazanov filma “Querida Elena Sergueevna” e Petr Todorovsky, “Garota internacional”, um filme no qual a heroína principal é prostituta e, ainda assim é ilustrada com compaixão. Estes filmes despertaram um grande interesse por parte do público, tornando-se líderes de bilheteria. Outra repercussão interessante desses eventos deu-se na obra de Serguei Soloviev, mais um famoso cineasta da época. Antes da Perestroika, ele, adaptando clássicos da literatura para o cinema, filmava um cinema nostálgico sobre o destino dos intelectuais russos (intelligentsia) de uma maneira bastante pitoresca (“Cem dias depois da infância”, “Salvador” e “A herdeira”). No entanto, ainda em 1986, como um artista intuitivo, Soloviev realiza uma mudança abrupta em seu estilo. Filmado nos estúdios do Cazaquistão, o filme “A pomba branca”, não esconde as influências de cineastas tais como Aleksey Guerman e Aleksander Sokurov, nem as “vacinas” que o cineasta recebeu durante o seu contato com alunos da lendária classe cazaque (dirigida pelo diretor no VGIK*, alunos esses que realizaram estreias famosas tais como “La-kha” e “Agulha”, de Rashid Nugmanov). A mistura entre “grande estilo” e técnicas de vanguarda eternas e transitórias, fórmulas características da época do nascimento do pós-modernismo russo, são os principais elementos, através dos quais Serguei Soloviev conseguiu romper os grilhões do neoclassicismo e virar o representante mais brilhante deste estilo. O seu filme “Assa” (1987) estava repleto de uma ânsia por mudanças, de ações guerrilheiras undergrounds contra a arte oficial, do exotismo da “contra-cultura” jovem e dos códigos distintivos do tempo de transição. O próprio Soloviev chamou esse filme, que tornouse um filme da moda, de o início da “Trilogia do marasmo” ou “Três canções sobre a Pátria”, seguido por “Rosa preta, emblema de tristeza; rosa vermelha, emblema do amor” e “A casa sob o céu estrelado”. Na década de 90, após a queda da União Soviética, o cinema russo enfrenta novas dificuldades: o sistema de distribuição de filmes está falido e a velha ideologia e mitologia são preenchidas por um vazio. Os cineastas tentam preencher esse vazio refletindo sobre a história soviética e sobre a atualidade que viviam. Karen Shakhnazarov, no filme “Assassino do Czar”, busca achar a chave da tragédia das lutas revolucionárias, que tomaram o lugar do culto cristão com violência sob a bandeira da luta entre as classes. Nikita Mikhalkov realiza “O Sol enganador”, um análogo russo do filme “E o vento levou”. Trata-se de um romance com intrigas amorosas acompanhando a história de perseguições stalinistas da década de 30. A atmosfera de uma casa quase tchekhoviana lembra a última ilha de felicidade no Arquipélago GULAG: em breve esta ilha estaria condenada a afundar.


Ao longo da última década do século XX, na sociedade russa, onde não se aprendeu as lições de democracia, acumulam-se a sensação de instabilidade, insegurança e medo diante de agressões tanto na geração mais velha quanto na geração mais jovem. O homem esconde-se no seu mundo interior, como é retratado, por exemplo, no filme “O País dos Surdos”, de Valery Todorovsky, que expressa muita bem a vida turbulenta de Moscou dos meados dos anos 90. A obra, “A idade meiga”, de Serguey Soloviev, é uma tentativa de mostrar uma época de fortes emoções através da experiência pessoal do jovem protagonista. A alforria sexual dos adolescentes tem como fundo a agonia dos rituais dos “Pioneiros”. As deusas do “Komsomol” viram prostitutas e os meninos de boas famílias trabalhando como caminhoneiros, transportando drogas. Por causa de um amor infeliz, o protagonista corre para a Guerra do “Cáusaso” para voltar meio louco, cortar as veias, salvar-se, ir para Paris e entender que a felicidade existe. Os filmes mais importantes do período pós-soviético foram realizados por Aleksey Balabanov, cineasta que pode ser considerado filho da “Perestroika”. No final dos anos 90, apareceu “Irmão”, um filme de revanche social das classes que foram levadas pela Perestroika para os abismos da existência. Já em 2007, Balabanov filmou “Mercadoria 200”, um filme-metáfora do final da sociedade soviética, quando a URSS afundou-se na guerra do Afeganistão e na estagnação social. Nesta obra, o diretor usa como enredo uma história patológica sobre um capitão da polícia, perverso e assassino. Esse personagem seria a representação de um coágulo extremo do subconsciente que cresce sempre em um império, que manda seus filhos para o moedor de carnes bélico e que mata o seu tempo em conversas bêbadas sobre a “Cidade do Sol”. O filme “Mercadoria 200” é o testemunho de que os miasmas da época soviética continuam até hoje envenenando o ar. Contudo, as reformas realizadas no cinema russo graças à energia da Perestroika não foram em vão. Graças a ela, os artistas receberam vinte anos de uma liberdade quase absoluta. Muitos mestres da velha escola, habituados a trabalhar no sistema soviético através de doações estatais, ficaram desamparados no mercado livre. Entretanto, não há dúvida de que cineastas como Sokurov, Valery Todorovsky, Balabanov e muitos outros tiveram oportunidade de trabalhar somente graças às reformas no cinema.


O desenvolvimento futuro do cinema, a partir do século XXI, percorreu mais o caminho de evolução do que o da revolução. Surgiu na Rússia, no início deste século, uma “nova onda” de cineastas: isto também é um eco da Perestroika. Diretores tais como Boris Khlebnikov, Piotr Popogrebsky, Aleksey Mizguirev, Maria Saakyan e Valeria Gai-Guermanika, não são filhos da Perestroika, mas são netos dela. Graças a ela, apesar de quaisquer mudanças das condições econômicas e políticas que possam ter surgido, a principal vertente do cinema russo continua a ser a ideia da obra autoral. * VGIK – Instituto Estatal Russo de Cinema. Mais antiga universidade de cinema do mundo, fundada em 1919.


QUERIDA ELENA SERGUEEVNA (Dorogaya Elena Sergueevna)

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O SOL ENGANADOR (Utomlennie solntsem)

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FAROL (Mayak)

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18h30

16

23h30

Drama . URSS, 1988, 94 min. 12 ANOS . HD Direção . Eldar Riazanov

PENITÊNCIA (Pokayanie)

Drama Filosófico . URSS, 1984, 153 min. 12 ANOS . Blu-Ray Direção . Tenguiz Abuladze

O ASSASSINO DO CZAR (Tzareubitsa)

Drama histórico-psicológico Grã-Bretanha/URSS, 1991, 104 min. 12 ANOS . Blu-Ray Direção . Karen Shakhnazarov

Drama . Rússia, França, 1994, 151 min. 14 ANOS . HD Direção. Nikita Mikhalkov

Drama. Rússia/Armênia/Holanda, 2006, 98 min. LIVRE . HD Direção . Maria Saakyan

MERCADORIA 200 (Gruz 200) Drama . Rússia, 2007, 90 min. 18 ANOS . Full HD Direção . Aleksei Balabanov

ROSA PRETA, EMBLEMA DA TRISTEZA; ROSA VERMELHA, EMBLEMA DO AMOR (Tchernaya rosa - emblema petchali, krasnaya roza - emblema lubvi) Drama . URSS, 1989, 139 min. 12 ANOS . HD Direção . Serguei Soloviev

18h30

16h

16h

15h45

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17 18 26

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A POMBA BRANCA (Tchuzhaia Belaya e Ryaboi)

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MELODIA DAS NOITES BRANCAS (Melodii beloi notchi)

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16h

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18h30

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16h

ESSA NÃO SOU EU

Drama . Rússia/Arménia, 2012, 102 min. LIVRE . DCP Direção . Maria Saakyan

ASSA

Drama . URSS, 1987, 153 min. 14 ANOS . 35 mm Direção . Serguei Soloviev

Drama . URSS, 1986, 95 min. LIVRE . 35 mm Direção . Serguei Soloviev

Drama . URSS, Japão, 1976, 97 min. LIVRE . 35 mm Direção . Serguei Soloviev

GAROTA INTERNACIONAL (Interdevotchka) Drama . Suécia e URSS, 1989, 151 min. 16 ANOS . 35 mm Direção . Piotr Todorovsky

O PAÍS DOS SURDOS (Strana glukhikh) Drama . Rússia, 1998, 92 min. 14 ANOS . DCP Direção . Valery Todorovsky

18h30 18h30

18h

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18h30

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comentário do diretor

Aravidze é um sobrenome criado por nós. Na realidade, não existem georgianos com este sobrenome. Aravidze foi criado a partir da palavra “ara-vin”, que significa “ninguém”. Varlam Ninguém. Ele representa uma imagem coletiva de vilões e ditadores de todos os tempos e povos. Onde isso acontece? Em lugar algum e em todos os lugares. Nunca e sempre. É aí que surge a “incompatibilidade” consciente de indícios cotidianos, e a imagem máxima generalizada de Varlam atinge máscaras expressivas. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, quanto mais generalizada, mais concreta percebe-se a imagem. Qual é o gênero do filme? Creio que é uma triste fantasmagoria, uma tragicomédia grotesca, ou talvez uma farsa trágico-lírica.

Na cena da igreja, soa pelo rádio o texto de uma entrevista, gravada no leito de morte de Albert Einstein. Mal termina a transmissão, e sem qualquer pausa, pelo rádio é transmitido um concerto de música leve. Isso impede o pensamento. E antes da leitura do testamento de Einstein, no qual o cientista adverte a humanidade sobre a catástrofe nuclear universal, vemos entre as grandes esculturas e exemplos de estética e técnica colocadas na igreja, outra figura de Bosch: rapidamente passa uma mulher em um vestido verde e azul. Ela arrasta uma cauda longa, tem um livro grosso na cabeça e no livro está sentado um rato. Esta é a imagem do cientista que come a si próprio. Este é outro tema importante para mim no filme: o aviso. Todas essas imagens não são grotescas ou surreais, porém elementos do conteúdo. De outra forma eu


PENITÊNCIA (Pokayanie) Tenguiz Abuladze

Drama Filosófico URSS, 1984, 153 min. 12 ANOS Com . Jeinab Botsvadze, Ketevan Abuladze, Quachi Kavsadze, Avtandil Maxaradze, Sofiko Thiaureli Exibição . Blu-Ray Grande Prêmio Especial no Festival Internacional de Moscou, 1987 Prêmio FIPRESSI no Festival Internacional de Cannes, 1987 Apesar de ter sido realizado em 1984, “Penitência”, o último filme do diretor georgiano Tenguiz Abuladze, só pôde ser exibido ao público em 1987. Artistas como Sandro Barateli e sua esposa são os primeiros a sofrer com o regime totalitarista instaurado em seu país. Anos depois, a filha decide vingar a morte dos pais e três gerações de uma família pagam pelos pecados dos seus antepassados. “Penitência” representa o final de uma época no cinema soviético e anuncia uma nova página na história do país, sendo considerado um dos primeiros marcos na arte audiovisual da época da Perestroika.

Nasceu na Georgia, em 1924. Estudou direção teatral no Instituto de Teatro de Shota Rustaveli, em Tblissi, e cinema no Instituto Estatal Russo de Cinema (VGIK), em Moscou, onde obteve o seu diploma como diretor em 1952. Em 1980, recebeu o prêmio “Artista do Povo da União Soviética”. Já o seu primeiro curta-metragem «O burro de Magdana» foi premiado no renomado Festival de Cannes, em 1956. Sua trilogia (“Suplício”, “A árvore do desejo” e “Penitência”), trouxe-lhe o prêmio “Lenin” e o “Prêmio NIKA” (por melhor fotografia), além do prestigiado “Prêmio Especial do Júri” no Festival de Cannes, em 1987. Tenguiz Abuladze faleceu em 1994.


A primeira “sessão secreta” do filme Penitência foi realizada em Tbilissi, no estúdio “GeorgiaFilm”. Por coincidência, a luta pela legalização de Penitência começou imediatamente após o 5º Congresso de Cineastas da União Soviética*. Em uma viagem profissional à Tbilissi, Andrei Plakhov**, que tinha uma vaga idéia sobre um filme “secreto” anti-stalinista do diretor Tenguiz Abuladze, pede para o cineasta e diretor da “Geórgia-Film”, Rezo Chkheidze, organizar uma exibição do filme. A desagradável conversa entre Mikhail Gorbachev e Eduard Shevardnadze sobre o filme já era conhecida e por isso, todas as precauções possíveis eram tomadas. No entanto, a sessão foi assistida por pelo menos vinte espectadores, o que poderia causar novos problemas. O filme, que pelo simples fato da sua existência era testemunha da queda próxima e inexorável do Império, foi cuidadosamente escondido dos órgãos de censura da capital até 1985. A produção do filme, o qual em breve teria o nome de Penitência, não teria sido possível sem o patronato pessoal de Eduard Shevardnadze, que naquele momento exercia a função de Primeiro Secretário do Comitê Central da Geórgia. Ele apoiou o filme desde o início, logo após a leitura da sinopse e, de fato, foi o produtor secreto de Penitência. Querendo proteger o futuro filme de intervenções por parte dos órgãos centrais do partido, Shevardnadze encontrou a única forma de realizar o filme evitando uma interferência de Moscou: Penitência foi encomendado e financiado pela televisão georgiana. Desta forma, os autores não precisavam aprovar o cenário em Moscou e o Comitê Nacional de Cinema somente foi avisado que Tenguiz Abuladze havia começado a trabalhar em um novo filme. A equipe de filmagem realizou uma expedição de quatro meses em Batumi***, de onde voltou quase sem nada: o material, que contemplava mais do que 5.000 metros de filme, foi estragado pelo laboratório de revelação. Além disso, o filme havia perdido um dos seus principais atores, Guega Kobakhidze, que faria o papel de Tornike, neto de Varlam. Kobakhidze foi preso por ter participado no seqüestro de um avião, no aeroporto de Batumi. Em Tbilissi, corria o boato que as filmagens foram interrompidas pelo KGB georgiano. Mas no dia 31 de janeiro de 1984, no dia do seu sexagésimo aniversário, Abuladze recebeu um telegrama de Shevardnadze, desejando-lhe uma conclusão bem sucedida dos trabalhos. As filmagens recomeçaram em março, após terem encontrado um novo ator para o papel de Tornike (Merab Ninidze). O filme foi realizado praticamente em cinco meses e em dezembro de 1984 foi exibido nos estúdios da “Georgia-Film” para o Comitê Central do Partido. Foram sugeridas apenas a realização de duas pequenas alterações. No entanto, para preservar a versão original do autor, Sosso Tsiskarishvili, amigo de Abuladze, secretamente realizou uma cópia em vídeo do filme. O Comitê de Televisão e Rádio da República da Geórgia e o Cinema Estatal da Geórgia receberam o filme no final de dezembro de 1984 e em meados de maio de 1985 estava planejada uma estréia na televisão georgiana, a qual porém foi cancelada no último minuto: cópias do vídeo, o qual estava guardado na casa de Abuladze, foram distribuídas em Tbilissi. Isto deu motivo para que o KGB local transmitisse informações sobre o filme Penitência diretamente para Mikhail Gorbachev.


Em Moscou, o filme chega em 1986. Apos regressar de Tbilissi, Plakhov conta para Elem Klimov**** sobre a exibição ilegal em Tbilissi e Chkheidze leva uma cópia secreta do filme para a capital. Penitência foi o grande filme do final da época soviética no cinema. Com este filme, e sob a sua bandeira, foi aberta a primeira página da nova história do cinema russo. Maxim Medvedev

*5º Congresso de Cineastas da União Soviética: aconteceu durante a Perestroika, em 1986. Durante o Congresso, inesperadamente, todo o conselho da União dos Cineastas foi reeleito. **Andrei Plakhov: um dos principais críticos de cinema da antiga União Soviética e da Rússia. ***Batumi: cidade da Geórgia. ****Elem Klimov: cineasta russo. Foi eleito presidente da União dos Cineastas da União Soviética em 1986, durante o 5º Congresso de Cineastas.


GAROTA INTERNACIONAL (Interdevotchka) Drama . Suécia e URSS, 1989, 151 min. 16 ANOS Com . Elena Yakovleva, Tomas Laustiola, Irina Rosanova, Anastassia Nemolyaeva, Ingeborga Dapkunaite, Maria Vinogradova Exibição . 35 mm “Garota internacional” é um dos primeiros filmes na história do cinema soviético que aborda um dos temas tabus da URSS: a prostituição. Tânia trabalha oficialmente como enfermeira, mas ganha a sua vida como prostituta. Em busca de um novo começo, ela quer fugir da difícil realidade soviética. Porém, a única saída para ser independente é deixar o país e casar-se com um estrangeiro. Nascido em 1925, Piotr Todorovsky iniciou-se no cinema durante a Segunda Guerra Mundial, decidindo após a guerra tornar-se profissional. Graduou-se no VGIK no início da década de 50, trabalhando então durante dez anos nos estúdios de Odessa. Todorovsky foi diretor e cenarista de todos os seus filmes. O seu filme “Garota Internacional” foi considerado o filme do ano na União Soviética, em 1989.


QUERIDA ELENA SERGUEEVNA (Dorogaya Elena Sergueevna) Drama . URSS, 1988, 94 min. 12 ANOS Com . Marina Neelova, Natalia Schukina, Fedor Dunaevskiy, Dmitry Marijanov, Andrey Tikhomirnov Exibição . HD Elena Sergueevna, professora de um ginásio russo, recebe no dia do seu aniversário uma inesperada visita de quatro alunos. Grata e surpresa, ela os convida para a sua casa, e só durante a noite percebe o verdadeiro motivo da visita. Um filme importante para se compreender as mudanças no sistema escolar durante a época da Perestroika. Nascido em 1927, o cineasta russo Eldar Aleksandrovitch Riazanov alcançou um grande renome e popularidade na URSS, através de comédias que exploram de maneira satírica o cotidiano da sociedade soviética. Recebeu o Prêmio Estatal Socialista em 1977 e o prêmio “Artista do Povo da URSS” em 1984. Entre os seus filmes mais conhecidos estão “Noite de Carnaval”, “Atenção com o Automóvel”, “Ironia do Destino” e “A Garagem”.


“Assassino do Czar” não é uma simples adaptação cinematográfica dos acontecimentos da derrota do regime czarista. De alguma maneira, é uma nova apreciação destes acontecimentos através do prisma da atualidade. Se acreditarmos em estudos de psicoterapia, que afirmam que a sensação de culpa é o único sentimento humano negativo, pois ela destrói totalmente a mentalidade, é sensato supor que o doente Timofeev virou paciente de um hospital psiquiátrico por causa da sensação de culpa de algo feito por um outro “ele”. A sua tortura, agora, consiste em lembrar destes acontecimentos.


O ASSASSINO DO CZAR (Tzareubitsa) Karen Shakhnazarov Drama histórico-psicológico Grã-Bretanha/URSS, 1991, 104 min. 12 ANOS Com . Oleg Yankovsky, Olga Antonova, Malcolm McDowel, Armen Dzhigarchanian Exibição . Blu-Ray Um novo médico assume a direção de um hospital psiquiátrico em uma província russa. Ele desperta um interesse especial por um doente que alega ter matado Nikolai II, o último Czar da Rússia. Ao longo das conversas com o paciente, ele compreende que a tragédia da família imperial é também a sua tragédia. “O Assassino do Czar” é o primeiro filme russo realizado sobre o fatídico destino do último Czar e da sua família.

Karen Shakhnazarov nasceu em Krasnodar em 1952. Graduouse no Instituto Cinematográfico da Rússia e iniciou o seu trabalho como cineasta nos estúdios Mosfilm. Os filmes “Uma noite de inverno em Gagra” e “O mensageiro” tornaram-no conhecido em toda a Rússia. “O Mensageiro” foi premiado no 15º Festival de Cinema de Moscou. Karen Shakhnazarov é diretor do maior estúdio cinematográfico da Rússia, Mosfilm e integra o júri dos mais importantes festivais de cinema no mundo.


comentário do diretor

Meu desejo de fazer este filme veio em resposta a todas as acusações trazidas ao longo dos anos sobre o meu país. Que direito temos nós, olhando com o recuo histórico da década de 90, para analisar qualquer das eras passadas e condená-las pelo que aconteceu em seguida? Em 1917, os bolcheviques condenaram tudo o que havia precedido a sua revolução, e da mesma forma os “Novos bolcheviques”, em 1991 decidiram retratar como horrível, tudo o que aconteceu depois de 1917.

Com o filme “O Sol enganador”, eu não tento julgar uma era. Eu só estou tentando mostrar através de uma perspectiva trágica, o charme de uma existência simples: de crianças que continuam a nascer, de pessoas que se amam vivendo momentos da sua vida e tendo fé que tudo o que estava acontecendo ao redor deles era o melhor. Em 1936, as pessoas na Rússia viviam sob um “Sol Enganador”. Todos foram atores e vítimas do que aconteceu, do que haviam criado. Aparentemente, Stalin era um gênio diabólico, mas ele foi criado pelas mãos do homem. As pessoas não perceberam que elas foram as criadoras da sua própria destruição. No filme, Serguei Petrovitch Kotov, coronel do Exército Vermelho e herói da revolução, não inspira a imagem de alguém que poderia ser acusado de traição. Quando a polícia política de Stalin, o NKVD, vem prendê-lo, Serguei continua calmo, com a expectativa de resolver tudo com um simples telefonema para o Kremlin. Somente quando os policiais tornam-se violentos, ele percebe o que acontece. Esta não é uma tragédia de um homem culpado, mas a tragédia de um homem cego pelo sol.


O SOL ENGANADOR (Utomlennie solntsem) Nikita Mikhalkov Drama Rússia, França, 1994, 151 min. 14 ANOS Com . Oleg Menshikov, Nikita Mikhalkov, Ingeborga Dapkunaite, Evgueniy Mironov, Nina Arhipova, Lubov Rudneva, Vatheslav Tihonov, Marat Bashirov Exibição . HD Vencedor do Oscar como melhor filme estrangeiro em 1994 Grand-prix do júri no Festival Internacional de Cannes em 1994 Durante o verão de 1936, o premiado drama de Nikita Mikhalkov retrata as perseguições stalinistas da década de 30. O legendário militar Kotov, camarada preferido de Stalin, passa as férias com sua família em uma “datcha” (casa de campo). Tudo muda com a inesperada chegada de Mitia, quem a família não via durante muitos anos.

O escritor, diretor e ator Nikita Mikhalkov nasceu em uma família de artistas, em Moscou, em 1945. Estudou teatro na Escola Schukin do Teatro Vakhtangov e cinema no VGIK. Conquistou prestígio internacional com o filme “Um escravo do amor”, aclamado pela crítica na Europa e nos Estados Unidos. Seus filmes foram premiados em diversos festivais de cinema internacional, tais como o Festival de Cannes e o Oscar Americano.


comentário do diretor

Em 1983, eu servi no transporte aéreo e nós fomos anexados à divisão de força de desembarque que foi para o Afeganistão. Eu próprio voei para o Afeganistão, e nós trouxemos soldados e cadáveres de volta. No quartel, eu morava com um homem que tinha grande experiência de guerra e ele me contou várias histórias. Por exemplo, de que os cadáveres muitas vezes desapareciam e não havia nenhum controle real sobre o transporte de volta para casa. É assim que a imagem do corpo do soldado morto roubado veio à minha mente. Eu não pensei na Rússia contemporânea ao fazer este filme. Eu não sou um professor e não é minha tarefa ensinar as pessoas quaisquer lições de moral. Os dois meninos andando juntos no final do filme tornaram-se oligarcas. Este é o início do capitalismo. Eu não amo o capitalismo e tão pouco amo o comunismo. Eu gosto das pessoas quando elas são honestas e dignas.


MERCADORIA 200 (Gruz 200) Aleksei Balabanov

Drama Rússia, 2007, 90 min. 18 ANOS Com . Agnya Kuznetsova, Aleksei Poluyan, Leonid Gromov, Aleksei Serebryakov, Leonid Bichevin, Natalya Akimova Exibição . Full HD Inspirado em um pequeno artigo de jornal, “Mercadoria 200” é, provavelmente, o filme mais importante na carreira de Balabanov, que faz, aqui, uma autópsia do seu país. Tendo como fundo a guerra do Afeganistão, este ‘thriller’ conta a história de um policial maníaco, sua mãe, um professor universitário ateu, o líder do partido local e sua filha desaparecida, entre outros habitantes da pequena cidade soviética de Leninsk.

Aleksei Balabanov nasceu em 1959, em Sverdlovsk. Em 1981, terminou a faculdade de tradução do Insituto de Pedagogia de Gorky e em 1990, o Curso Superior de cineastas, com especialização em «cinema de autor». Entre 1983 e 1987 trabalhou como assistente de diretor. Desde 1990 vivia em São Petersburgo. Foi um dos fundadores do estúdio e empresa «STV» onde realizou a maior parte dos seus filmes. Ele foi o membro da Academia de Cinema Europeu.


O PESO INSUSTETÁVEL* “Mercadoria 200” (2007) caiu nos frágeis ombros do universo cinematográfico russo, exigindo que todo o percurso anterior de Aleksei Balabanov fosse reavaliado. Este peso foi imposto por um homem nascido (como cineasta) a partir dos destroços do império soviético. “Mercadoria 200”, que passa em uma cidade fictícia chamada Leninsk, na região de Leningrado, pode parecer um filme retrô, um thriller psicológico à la Freud, um trash movie ou um cinema antibélico sobre a Guerra do Afeganistão. Mas não se trata de nenhum filme histórico, mesmo que a trama do filme aconteça em 1984. “Mercadoria 200” tampouco é o Hitchcock russo ou um trash movie. Sim, é um filme antibélico. O episódio em que descarregam os caixões e no mesmo avião embarcam os novos recrutas é um dos momentos mais chocantes do filme, quando cada detalhe é uma provocação. Finalmente, na tentativa de definir o gênero desse filme, é mais fácil explicar o que ele não é. Não é um filme realístico, no qual as canções interpretadas servem para situá-lo no tempo. Também não se trata de uma projeção exata da hierarquia social do período da “Estagnação” (zastoy)** tardia: é difícil crer que a filha de um Secretário do Comitê Distrital tenha escolhido um órfão que vai para o Afeganistão como noivo, quando sai para dançar sem a permissão dos pais. A história sobre o policial perverso e assassino e até mesmo a menção nos créditos do filme, onde Balabanov diz que “Mercadoria 200” é baseado em fatos reais, também não são muito esclarecedores. Os meados dos anos 1980 deram a origem às lendas sobre Chikatilo***, personagem que pode ser comparado a Hannibal Lecter****. O principal canalha do filme é um dos policiais, porém este papel pode ser trocado com o covarde professor de ateísmo cientifico, que no final do filme vai à igreja para, por via das dúvidas, ser batizado. E não se trata de impotência sexual, freudianismo ou ateísmo, mas do subconsciente coletivo russosoviético, que era o verdadeiro dirigente do país. O caso patológico é mostrado como um coágulo extremo deste subconsciente, que cresce na sociedade de uma grande potência, a qual manda os seus “filhos” para o moedor de carne bélico enquanto passa o tempo em uma conversa de bêbados sobre a “Cidade do Sol”*****. Balabanov não nos oferece uma catarse. No filme, não há nenhum arrependido e nenhum herói positivo, com a exceção do deficiente vietnamita Sunka, o qual é assassinado por tentar obstruir o mal. Sem dúvida, um “sinal” do diretor para aqueles que o consideravam xenófobo. A união final entre um músico romântico e um impostor também é uma alusão óbvia ao sacrifício que seria imposto em breve à juventude e uma afirmação de que o futuro pós-perestroika permaneceria tão escuro quanto o passado soviético.


Os lobisomens com patente****** e sem patente são não só os carrascos, mas também as vítimas de uma sociedade construída sob uma repressão total camuflada, a qual ficou impregnada no subconsciente coletivo. “Mercadoria 200” dá-nos a chave para todo o universo de Balabanov. A mesma chave que abre as portas para o mundo de outros “poetas malditos”. Esta chave é a transgressão, ou seja, a saída do estado natural, que é muitas vezes realizada através da perversão sexual (como em Pasolini), violência (Haneke), álcool ou drogas. Mas pode igualmente ser o resultado de mutações abruptas da sociedade. Assim, a idéia “esquerda” evoca um texto totalitário. Assim, o passado soviético ganha traços necrófilos de um cadáver vivo, fascinante e repulsivo, que constitui o estilo neo-soviético da estagnação. Com “Mercadoria 200”, que é filmado no estilo de um Guignol gótico e que o próprio cineasta define como um filme sobre o amor, Balabanov prova que não é um cínico, mas um romântico. Um romântico não revolucionário, porém macabro.

Andrei Plakhov

*Peso insustentável: a palavra «Gruz» em russo tem diversos significados. Pode significar «mercadoria», como no nome do filme, e também peso. **Estagnação: a estagnação econômica que assolou a antiga União Soviética, durante a liderança de Leonid Brejnev. *** Chikatilo: Andrei Chikatilo foi um maníaco sexual que matou 53 crianças e mulheres no período entre 1978 e 1990. Julgado pelos seus crimes somente após a queda da União Soviética, foi fuzliado em 1994. **** Hannibal Lecter: Hannibal Lecter é um célebre personagem de ficção elaborado pelo escritor Thomas Harris, que surgiu pela primeira vez no livro Dragão Vermelho. ***** Cidade do Sol: A Cidade do Sol é uma obra filosófica do frade dominicano italiano Tommaso Campanella, de 1602. Junto com a Utopia de Tomás Moro, a Cidade do Sol constitui a obra utópica mais importante do início da idade média. ******Lobisomens em platina: integrantes da polícia russa.



O PAÍS DOS SURDOS (Strana glukhikh) Drama . Rússia, 1998, 92 min. 14 ANOS Com . Tschulpan Hamatova, Dina Korzun, Maksim Sukhanov, Aleksey Gorbunov, Nikita Tiunin, Alexandr Yatsko Exibição . DCP Na busca de dinheiro para pagar as dívidas de jogo do namorado, Rita, a heroína principal do drama de Valery Todorovsky, conhece a surda-muda Yaya. Juntas, as duas vivenciam diversas oportunidades que permitirão Rita ajudar o namorado ou viajar para o “País dos surdos”. Filho do diretor Piotr Todorovsky, Valery Todorovsky nasceu em Odessa, em 1962. O seu primeiro longa-metragem, “País dos surdos” foi exibido no 48º Festival Internacional de Cinema de Berlim. Seus filmes receberam o “Prêmio Nika” e a “Prêmio Águia Dourada”, assim como o Grande Prêmio do Festival Internacional de Cinema Heidelberg-Mannheim. Em 1999, integrou o júri do 21º Festival Internacional de Cinema de Moscou.


Serguei Soloviev é uma das figuras mais importantes no cenário cinematográfico russo atual. Nascido em 25 de agosto de 1944, na cidade de Kem, Soloviev ganhou o prêmio “Artista do povo da Rússia”. Após completar os seus estudos no Instituto Estatal Russo de Cinema, ganhou, em 1975, o “Urso de Prata” como melhor diretor no 25º Festival Internacional de Berlim pelo filme “Cem dias depois da infância”. Foi diretor de importantes peças teatrais, tais como “Tio Vânia” (Pequeno Teatro) e “A Gaivota” (Teatro Taganka). Entre 1994 e 1997, lecionou no Instituto Estatal Russo de Cinema. Integrou o júri do 22º Festival Internacional de Cinema de Moscou. A sua filmografia inclui mais de 19 filmes.


MELODIA DAS NOITES BRANCAS (Melodii beloi notchi) Serguei Soloviev Drama URSS, Japão, 1976, 97 min. LIVRE Com . Komaka Kurihara, Yuri Solomin, Aleksandr Zbruev, Elizaveta Solodova, Andrei Leontovitch, Serguey Polezhaev Exibição . 35 mm O maestro e compositor russo Ilya e a jovem pianista japonesa Yuko conhecem-se em Leningrado. Após o seu regresso para o Japão, Yuko tenta esquecê-lo, porém durante uma gravação ressurgem sentimentos, acompanhados das lembranças das noites brancas do verão russo e a consciência de um obstáculo que os separa.

A POMBA BRANCA (Tchuzhaia Belaya e Ryaboi) Serguei Soloviev Drama URSS, 1986, 95 min. LIVRE Com . Slava Ilyushenko, Vladimir Steklov, Ludmila Savelyeva, Ilya Ivanov, Liubomiras Lauciavicius, Andrey Bitov, Sultan Banov, Boris Olekhonovitch Exibição . 35 mm Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional de Filmes de Veneza, 1986. Em 1946, na pobre cidade de Poinciana, as crianças são confrontadas com a formação militar, a elite local ostenta falsas histórias nas salas de bilhar e bandos de divertem-se com brigas sangrentas. É neste contexto que aparece na cidade uma linda pombinha branca. Quase morrendo, Ivan consegue apanhá-la e logo passa a ser cobiçado pela “máfia dos pombos”.


TRÊS CANÇÕES SOBRE A PÁTRIA

Oleg Kovalov (Nova história do cinema nacional. 1986-2000. Cinema e contexto, T.S. São Petersburgo, Seans, 2001)

Serguei Soloviev chamou os seus filmes “Assa”, “Rosa preta, emblema da tristeza; rosa vermelha, emblema do amor” e “A casa sob o céu estrelado”, de “Três canções sobre a Pátria”, pois retratavam a realidade da Rússia na época da Perestroika. A trilogia é construída de forma lógica e consequente: “Assa” é uma canção sobre os tempos passados, “Rosa preta, emblema da tristeza; rosa vermelha, emblema do amor” um brilhante carnaval dos tempos de mudança e “A casa sob o céu estrelado” um réquiem, cantado com uma amargura seca e lágrimas invisíveis, pelos sonhos que nunca se tornaram realidade.

Entre imagens que mostravam a estagnação dos tempos de Brezhnev e cenas do Czar Pavel I nos últimos dias antes do seu assassinato, Soloviev previa o fim, onde muitos, ingenuamente, estavam vendo o início. Na sociedade soviética da década de 80 ainda era possível evitar o contato com a realidade e continuar a viver a sua vida. Na sua estreia, “Assa” anunciou a queda de um império, através do caráter de Krymov, um leitmotiv persistente em toda a trama, uma forma de realização concreta das forças de estagnação no filme. A canção de Viktor Tsoi sobre a esperança de mudanças foi considerada um hino pela geração da Perestroika. Mas o espectador de “Assa” na época, não conseguiu entender que as “mudanças”, e em conseqüência a “liberdade”, não seria o futuro ideal pelo qual todos esperavam. Problemas morais não podem ser resolvidos através de mudanças sociais. Este ciclo nietzchiano é virtuosamente abordado através da introdução do assassinato de Pavel I na narrativa. Em 1801, o czar russo sente que o fim do seu reinado está perto, e Krymov identifica-se com este sentimento. Embora o assassinato de Pavel I e o golpe de Estado estejam visualmente em paralelo ao assassinato de Bananan pelos homens de Krymov, o assassinato de Pavel faz alusão, na verdade, ao posterior assassinato de Krymov. Ambos os assassinatos, obviamente, têm um significado simbólico de mudança: o colapso de valores antigos e o início da nova época.


ASSA Serguei Soloviev Drama URSS, 1987, 153 min. 14 ANOS Com . Serguey Bugaev, Tatiana Drubitch, Stanislav Govorukhin, Dmitri Shumilov, Viktor Beshlyaga, Anita Zhukovskaya Exibição . 35 mm Um mafioso intelectual vai à cidade de Yalta para roubar um precioso violino. Bananan, um jovem e talentoso músico, apaixona-se por Alika, amante do velho bandido. O filme narra o conflito entre duas épocas, o velho mafioso que incorpora a URSS e o rapaz sonhador da Rússia, na época da Perestroika. Uma das principais obras de Serguei Soloviev, o filme relata o fim do antigo império, e mostra-nos como tudo de positivo e atraente dos novos tempos nada mais é do que o resultado deste sistema e, por isso, é também condenado a naufragar com ele.


Eu estava estudando no VGIK*, na faculdade de fotografia. Depois de dois anos de estudos, havia compreendido que não me tornaria operador de câmera. Assim, eu comecei a escrever roteiros.

Serguei Livnev Roteirista do filme “Assa”

Soloviev veio visitar-me, e eu entreguei-lhe um cenário para que ele estudasse. Ele vislumbrou algo que procurava no cenário, pensando num projeto que depois virou o filme “Assa”. Vivíamos uma época de mudanças e ele, sendo uma pessoa muito sensível, percebia que tinha que fazer alguma coisa diferente. E provavelmente, via em mim uma personificação de algo novo e fresco. Naquela época, eu tinha vinte anos. Depois de ler os meus roteiros, Soloviev convidou-me para uma conversa. Disse que gostava dos meus roteiros, mas que para poder filmá-los, ele precisava de um novo roteiro. Ele pediu-me para escrever um roteiro de um romance policial, o qual evocasse de alguma maneira o filme “Não atirem no pianista”, de François Truffaut. Queria também que tivessem assassinatos na trama. “Pelo menos dois”, disse-me. E ainda deveria existir uma história de amor. Ele queria uma história emocionante, como nas peças de Tchekhov. Ele havia proposto para que eu, um jovem rapaz de vinte anos de idade, inserisse no filme tudo o que houvesse de atraente.

*VGIK – Instituto Estatal Russo de Cinema. Mais antiga universidade de cinema do mundo, fundada em 1919.


“Assa” está nos cinemas. Pela primeira vez na história do cinema soviético foi realizada uma campanha publicitária. Longas filas nas bilheterias e salas superlotadas. As opiniões do público e dos críticos vão de elogios azedos e irônicos ao entusiasmo acompanhados por palavrões. Entretanto, “Assa” é um dos filmes mais discutidos de Serguei Soloviev. Não é um filme dependente da conjuntura atual, como muitos dizem. O filme reflete o inebriamento causado pela liberdade e a chegada da contracultura, a qual Soloviev testemunhou no início dos anos 1980. “Assa” é um dos poucos filmes dos anos 1980, no qual os autores tentam dialogar com a realidade e com as rápidas mudanças sociais, procurando novas formas e técnicas para delas se aproximarem. A linguagem dos personagens é extremamente liberal. Muitos tabus soviéticos são quebrados no filme e pela primeira vez no cinema soviético são interpretadas canções de Victor Tsoi e Grebenchikov. Provavelmente, nunca a estética e a mitologia do rock russo foram tão precisamente encarnadas na tela como em “Assa”. Ao contrário do rock ocidental dos anos 1960, o rock russo tem traços inteligentes e humanistas, funcionando como uma forma de resistência à vida cotidiana soviética bruta e chata. Por isso, as letras das músicas descrevem personagens bondosos e infantis, como é o caso de Bananan*. Soloviev sentiu muito bem a falta de vitalidade, à qual todos estavam condenados. Isso determina os tons do filme: onde muitos ingenuamente viam o início, Soloviev previa o fim. Se na sociedade soviética ainda existia a possibilidade de evitar contato com a realidade e simplesmente continuar a viver a sua vida, nas novas condições seria necessário renascer, calar a boca ou morrer. Uma outra saída foi simplesmente procurar outra ocupação, como fizeram quase todos os jovens roqueiros no início dos tempos das “mudanças”. A canção de Tsoi sobre a espera pelas mudanças é acolhida como o hino desta geração. Mas há ainda um longo caminho a percorrer, antes que os espectadores de “Assa” entendam que as mudanças e, respectivamente, a tão almejada liberdade não é uma época em que tudo será permitido. Eles deverão entender que problemas morais não podem ser resolvidos somente por transformações sociais e que todos sempre mentirão. Eles deverão ainda compreender que Krymov era, é e sempre será o dono da vida, ao contrário de Bananan, que não encontrou lugar e maneira para sobreviver no passado, e encontrará ainda menos no futuro. E ainda terão que resignar-se com este fato.

Dmitri Bykov** *Bananan – protagonista do filme “Assa” ** Dmitry Bykov é escritor, poeta, jornalista, crítico e professor.


Tatiana Drubitch atriz principal do filme “Rosa Preta, Preta, emblema da tristeza; Rosa Vermelha, emblema do amor”)

Aleksandra é um personagem extremamente importante para mim, pois sem ele não existiria o filme “Rosa Preta, emblema da tristeza; Rosa Vermelha, emblema do amor”. Eu gosto muito desse filme. Acho que ele é mais concreto do que “Assa”, também devido ao gênero. “Rosa Preta, Preta, emblema da tristeza; Rosa Vermelha, emblema do amor” é feita em um gênero concreto, o qual eu entendo. Mas, apesar de tudo, é “Assa” que funciona como um fermento, sem o qual “Rosa Preta, Preta, emblema da tristeza; Rosa Vermelha, emblema do amor” não existiria.


ROSA PRETA, EMBLEMA DA TRISTEZA; ROSA VERMELHA, EMBLEMA DO AMOR (Tchernaya rosa - emblema petchali, krasnaya roza - emblema lubvi) Serguei Soloviev

Drama . URSS, 1989, 139 min. 12 ANOS Com . Aleksandr Abdulov, Aleksandr Bashirov, Viktor Beshlyaga, Mikhail Danilov, Tatiana Drubitch, Aleksandr Zrubev Exibição . HD Este filme é um hino tragicômico de uma época louca. Querendo proteger a filha, os pais de Alexandra a trancam na casa do avô. Isto não impede que ela conheça o dissidente Tolik, que acabou de sair do manicômio, e o extravagante órfão Mitia. “Rosa preta, emblema da tristeza; rosa vermelha, emblema do amor” passou a ser também o emblema de uma marcha da luta e do entusiasmo de artistas que descrevem com veemência uma época caótica e de mudanças.


Maria Saakyan vem se destacando no cenário cinematográfico russo e europeu como um dos talentos mais promissores da nova geração. Nascida em 1980 em Yerevan, Armênia, aos doze anos mudou-se para Moscou com a sua família. Em 1996, iniciou seus estudos no Instituto Estatal Russo de Cinema (VGIK), na classe de Vladimir Kobrin. Graduou-se em 2003 com o filme “O adeus”, o qual recebeu um prêmio no Festival de Cinema de Rotterdam e o prêmio “Golden Apricot” no Festival de Cinema de Yerevan. O seu primeiro longa-metragem, “Farol”, foi premiado em diversos festivais internacionais de cinema. Maria Saakyan tem recebido convites para participar de importantes festivais de cinema internacionais tais como o Festival Internacional de Filme de Moscou, o Festival de Cinema de Belgrado e a Berlinale.


FAROL (Mayak) Maria Saakyan

Drama Rússia/Armênia/Holanda, 2006, 98 min. LIVRE Com . Anna Kapaleva, Olga Yakovleva, Sos Sarkissyian, Sofiko Thiaureli Exibição . HD Lena, originária de uma pequena cidade cáucasa, foi procurar a sua felicidade em Moscou. Ela regressa para a sua cidade natal, onde moram os seus avós e onde eclodiu a guerra. Todos preferem não falar sobre a guerra, mas é impossível ignorá-la e, agora, Lena tem que descobrir o mundo dentro da guerra e compreender que fugir não quer dizer se salvar ou salvar os outros. O destino dela agora é encontrar a si própria nesta situação.

Daniil Smolev crítico de cinema

No filme “Farol”, mesmo quando falam da guerra, falam bem baixinho, sussurrando, olhando com cautela. Maria Saakyan não se aprofunda nos detalhes políticos, ela vê a guerra sem divisão entre os seus e outros, de uma maneira feminina e muito pessoal (ela própria mudouse com a sua família para a Rússia, em 1993, fugindo da guerra na Armênia). Ao mesmo tempo, é um filme muito pitoresco. Cada imagem é feita como se fosse um quadro e chega o momento quando não estamos mais em um cinema, mas passeamos por um museu.


ESSA NÃO SOU EU (I’m going to change my name) Maria Saakyan

Drama Rússia/Arménia, 2012, 102 min. LIVRE Com . Evgeny Tsyganov, Arina Adju, Maria Atlas-Popova Exibição . DCP Um retrato de duas gerações femininas. Uma mãe, diretora de um coral de renome internacional, e sua filha, perdida entre a solidão e a tecnologia. Indiferentes aos seus próprios sentimentos, a distância entre ambas leva-as a arriscarem suas vidas, sem pensar nas consequências.





CICLO DE PALESTRAS ASPECTOS DO CINEMA RUSSO CONTEMPORÂNEO


Andrei Plakhov É crítico, historiador de cinema e colunista do jornal Kommersant. Entre 2005 e 2010, foi presidente da Federação Internacional de Críticos de Cinema. Durante a Perestroika, Plakhov era secretário da “União de Cineastas de URSS” e chefe do comitê que lançou mais de 200 filmes proibidos pela censura soviética. Ele atua como conselheiro, programador e membro do júri de vários festivais internacionais de cinema, incluindo Berlim, Veneza, Tóquio, San Sebastian, Xangai, São Petersburgo e Moscou. É membro da Academia de Cinema Europeu.


“Penitência e a abertura para um outro cinema” 20 de janeiro, às 18h30 O filme “Penitência” de Tenguiz Abuladze, realizado na Geórgia ainda antes da chegada de Mikhail Gorbatchev ao poder, foi um dos primeiros sinais da “Perestroika”. Não é por acaso que este filme é proveniente da Geórgia, onde os estúdios de cinema tinham uma atmosfera mais liberal e o Chefe de Estado, Eduard Shevarnadze, era mecenas de ousados projetos artísticos. Através da sua legalização, após ter ficado parado durante três anos devido à censura, dos prêmios conquistados em festivais internacionais e da distribuição nos cinemas, Penitência fez o acerto final de contas com o stalinismo e foi o marco da falência ideológica da União Soviética. A pergunta final do filme: “Para que serve uma estrada, se ela não leva-nos à igreja?” aponta o sinal de mudanças de valores dos dogmas comunistas para o cristianismo. O filme proporcionou a abertura para as críticas ao stalinismo, as quais podem ser encontradas em diversos outros filmes soviéticos do final dos anos 1980 e início dos anos 1990.


“O cinema da Perestroika: um cinema engajado” 21 de janeiro, às 18h30 A Perestroika trouxe a oportunidade de abordar novos temas através do cinema. Um deles era o sexo (até a Perestroika, este tema era resumido na famosa frase que dizia que “o sexo não existia na URSS”). Os primeiros filmes que evocam este tema foram “Pequena Vera”, de Vassily Pitchul e Garota Internacional, de Piotr Todorovsky. Palavras ousadas como “sexo” e “prostitutas” assustavam e intrigavam os espectadores e por isso ambos tornaram-se sucesso de bilheteria na antiga União Soviética. A Perestroika influenciou também outros filmes, que pela primeira vez na história abordaram temas de grande interesse para a sociedade soviética, os quais até então eram tratados como “tabu” no país. Assim, podemos citar o filme “O assassino do czar”, de Karen Shakhnazarov, que aborda pela primeira vez na história do cinema russo o destino final da família imperial russa, ou “O sol enganador”, de Nikita Mikhalkov, que retrata as perseguições stalinistas nos anos 1930.


“Aleksei Balabanov e o cinema dos anos noventa” 22 de janeiro, às 18h30 Aleksei Balabanov tornou-se o principal cineasta dos anos 1990, mas isto só ficou completamente claro após o grande sucesso dos filmes “Irmão” e “Irmão 2”. Foi Balabanov quem também pela primeira vez falou nitidamente sobre a “ideologia de revanche social”, um tema importante para a sociedade russa pós-soviética. Nessa época, Balabanov realizou o filme “Mercadoria 200”, no qual explica por que a imundice do passado soviético permaneceu tão presente no subconsciente da sociedade russa dos anos 1990.


“Serguei Soloviev: o cineasta da Perestroika” 23 de janeiro, às 15h30 Serguei Soloviev foi um dos cineastas mais bem sucedidos durante o período da “Estagnação” (zastoy), durante o governo de Leonid Brejnev. Mas Soloviev foi também um dos primeiros cineastas a sentir o vento das mudanças trazidas pela Perestroika, as quais ele cristalizou no seu filme “Assa”. Nesse filme, sente-se o entusiasmo das subculturas jovens que chegavam para substituir a arte oficial. Desta forma, a obra de Serguei Soloviev de certa forma representa todo o anseio por mudanças e novos ideais, tão esperados pela sociedade soviética dos meados dos anos 1980.



BIBLIOGRAFIA BARABANOV, Boris - Assa. Livro de mudanças. São Petersburgo, Amfora. 2008 BYKOV, Dmitri - A mais nova história do cinema nacional. 1986-2000. Cinema e contexto. Volume IV. São Petersburgo, Revista “Seans”, 2002. MEDVEDEV, Maxim - A mais nova história do cinema nacional. 1986-2000. Cinema e contexto. Volume IV. São Petersburgo, Revista “Seans”, 2002. SOLOVIEV, Serguei Soloviev - Aniversário de Assa // Assa e outras obras deste autor. Segundo livro: Não faz mal, se eu fumar? São Petersburgo. Seans. Amfora. 2008


Curadoria e Direção Artística Luiz Gustavo Carvalho

Presidente da República Dilma Vana Rousseff

Direção Executiva Maria Vragova

Ministro da Fazenda Nelson Barbosa

Direção Financeira Marcos Antônio Miranda

Presidente da Caixa Econômica Federal Miriam Belchior

Identidade Visual e Design Gráfico Phamela Dadamo Assessoria de imprensa Bárbara Chataignier Revisão de textos Francisco César Inserção de Legendas Marcus Rodrigues (Studio Cerri) Matheus Helena Legendagem eletrônica 4 Estações Revisão Técnica Francisco César Agradecimentos Valery Todorovsky e Dmitry Davidenko, Maria Saakyan e Victoria Lupik, Anton Melnik, Konstantin Biryukov e Rossotrudnichestvo, Embaixada da Rússia no Brasil, Consulado da Rússia no Rio de Janeiro, Elena Ignatyeva, Andrei Plakhov, Consórcio MOSFILM, Alessandro Cerri e Studio Cerri, Flávia Cerri, Phamela Dadamo, Yvonne Varry e Gaumont Pathearchives, Gosfilmofond e Oleg Botchkov.

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