apresenta
quarto de século através do cinema RÚSSIA um
_A CAIXA é uma das principais patrocinadoras da cultura brasileira, e destina, anualmente, orçamento para patrocínio a projetos nas unidades da CAIXA Cultural e em outros espaços, com ênfase para exposições, peças de teatro, espetáculos de dança, shows, cinema, festivais de teatro e dança e artesanato brasileiro. Os projetos patrocinados são escolhidos via Seleção Pública, uma opção da CAIXA para tornar mais democrática e acessível a participação de produtores e artistas de todo o país. No ano do centenário da Revolução Russa de 1917, a mostra Rússia: um quarto de século através do cinema traz 15 filmes produzidos no país entre 1991 e 2017, além de quatro palestras ministradas pelos curadores Maria Vragova e Luiz Gustavo Carvalho, com a presença do convidado Andrey Dolin, redator chefe da revista A arte do cinema, que virá ao Brasil especialmente para o evento. A mostra reúne filmes relevantes para a história do cinema contemporâneo, tanto de ficção como documentários, produzidos na Rússia pós-soviética. Alguns destaques da mostra são os longas Khrustalev, o carro! (1998) e É difícil ser um deus (2013), de Aleksey German, falecido em 2013, e considerado um dos principais realizadores da segunda metade do século XX na Rússia. Haverá, ainda, três estreias em território nacional: Fábrica “Esperança” (2014), de Natália Meshaninova; Blues de Grozny (2015), de Nicola Belucci; e Algo melhor por vir (2014), de Hannah Polak. Este último recebeu 23 prêmios em festivais internacionais. Outra obra recentemente premiada presente na mostra é Sufocamento (2017), de Kantemir Balagov. O filme estreou no Festival de Cannes 2017, no qual ganhou o prêmio de FIPRESCI Prizena na categoria Uncertainregard. O cinema documental apresenta dois títulos do premiado diretor Vitaly Mansky, Relações próximas (2016) e Sob o sol (2015), aclamado longa que retrata a vida na Coreia do Norte. Ao patrocinar mais esta mostra para o público carioca, a CAIXA reafirma sua política cultural de estimular a discussão e a disseminação de ideias, promover a pluralidade de pensamento, mantendo viva sua vocação de democratizar o acesso à produção artística nacional e internacional.
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
08 Programação 16
Fábrica sem esperança Anton Dolin
SINOPSES 22 Irmão 26
Algo melhor por vir
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Fábrica “Esperança”
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Blues de Grozny
32 Periferia 33 Alexandra 34
Enterrem-me atrás do rodapé
36
O aluno
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Sobre homens e aberrações
41
Khustalev, o carro!
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É difícil ser um Deus
46
Relações próximas
48
Sob o sol
51
Que tal a vida, camaradas?
52 Leviatã 54 Sufocamento
PRO GRA MA ÇÃO
19 23 28
17h_cine2 18h30_cine2 19h20_cine2
19 24 01
19h_cine1 19h_cine1 19h15_cine1
19 23 29
19h15_cine2 16h30_cine2 17h_cine2
20 24
17h_cine2 15h30_cine2
PERIFERIA Okraina
20 01
19h_cine2 15h_cine1
ALEXANDRA
21 26
17h_cine2 16h_cine2
21
19h_cine2
IRMÃO Brat Drama policial I 1997 I Rússia I 96 min. I 18 ANOS Direção I Aleksey Balabanov
ALGO MELHOR POR VIR Something better to come Documentário I 2014 I Rússia I 98 min. I LIVRE Direção I Hanna Polak
FÁBRICA “ESPERANÇA” Kombinat Nadezhda Drama I 2014 I Rússia I 90 min. I 14 ANOS Direção I Natália Meshaninova
BLUES DE GROZNY Documentário I 2015 I Suíça I 104 min. I 18 ANOS Direção I Nicola Belucci
Drama I 1998 I Rússia I 100 min. I LIVRE Direção I Piotr Lutsik
Drama I 2007 I Rússia I 90 min. I LIVRE Direção I Aleksander Sokurov
ENTERREM-ME ATRÁS DO RODAPÉ Pokhronite menya za plintusom Drama I 2008 I Rússia I 110 min. I 16 ANOS Direção I Serguei Snezhkin
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O ALUNO Uchenik Drama I 2016 I Rússia I 118 min. I 18 ANOS Direção I Kirill Serebriannikov
SOBRE HOMENS E ABERRAÇÕES Pro urodov i ludei Drama I 1998 I Rússia I 93 min. I 18 ANOS Direção I Aleksey Balabanov
KHRUSTALEV, O CARRO! Khrustalev, mashinu! Drama I 1998 I Rússia I 137 min. I 14 ANOS Direção I Aleksey Guerman
É DIFÍCIL SER UM DEUS Trudno bit bogom
22 27 01
17h_cine2 15h_cine2 14h30_cine2
22 28
19h_cine2 16h_cine2
23 26 29
16h_cine1 18h30_cine2 16h_cine1
24
17h40_cine2
27
19h_cine2
30
15h_cine2
Drama I 2013 I Rússia I 177 min. I 18 ANOS Direção I Aleksey Guerman
RELAÇÕES PRÓXIMAS Rodnyie Documentário I 2016 Letônia, Alemanha, Estônia, Ucrânia I 112 min. I LIVRE Direção I Vitaly Mansky
SOB O SOL V lutchakh solntsa
Documentário I 2015 Rússia, Letônia, Alemanha, Republica Tcheca, Coréia do Norte I 106 min. I LIVRE Direção I Vitaly Mansky
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QUE TAL A VIDA, CAMARADAS? Documentário I 2017 I Brasil I 15 min. I LIVRE Direção I Luis Felipe Labaki
LEVIATÃ Leviafan
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16h30_cine1
30
18h30_cine2
01
19h_cine2
Drama I 2014 I Rússia I 141 min. I 18 ANOS Direção I Andrei Zviagintsev
SUFOCAMENTO Tesnota Drama I 2017 I Rússia I 118 min. I 14 ANOS Direção I Kantemyr Balagov
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MESA-REDONDA
Rússia: um quarto de século através do cinema
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17h_cine1
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18h_cine1
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19h_cine1
30
17h_cine1
01
17h_cine1
com Maria Vragova e Luiz Gustavo Carvalho
PALESTRA
Balabanov e o cinema da Rússia pós-soviética com Anton Dolin
PALESTRA
O cinema de Aleksey Guerman com Anton Dolin
MESA-REDONDA
Cinema na Rússia atual: conformismo ou resistência? com Anton Dolin e Luis Felipe Labaki
PALESTRA
Novas vozes do cinema russo com Anton Dolin
11 15
FÁBRICA SEM ESPERANÇA
Cinema russo: um caminho rumo à liberdade... ou fugindo dela?
_Anton Dolin
_O cinema russo contemporâneo encontra-se entre dois filmes e seus dois heróis: “O Irmão”, de Aleksey Balabanov, realizado há exatamente vinte anos, e “O Aluno”, último filme realizado por Kirill Serebrennikov. “O Irmão” marcou e fixou uma nova realidade - não mais soviética, nem mesmo pós-soviética, porém russa. A São-Petersburgo celebrada por Dostoiévski, “cidade deliberada”, misteriosa e arruinada, recebeu com seus abraços traiçoeiros um soldado desmobilizado provinciano e ingênuo, vestido em um casaco barato. Este novo Raskolnikov matava e não ficava atormentado ou sentia remorsos: matar era o seu trabalho e ele acreditava na sua razão, justiça e poder. O assassino Danila Bagrov, brilhantemente interpretado por Serguey Bodrov, era o “nosso irmão”, como o chamavam com entusiasmo os jornais durante os primeiros anos do primeiro mandato de Vladimir Putin. Ao lado havia outro slogan: “Putin é o nosso presidente”. O tempo passou e Danila mostrou o seu outro lado: ele já não era mais um tolo trágico, porém um quase cômico, surgido de um inexistente livro de quadrinhos. Em “Irmão 2” ele se comportou bravamente e esfrega o nariz da América. Não é estranho que este filme marque o nascimento dos novos blockbuster russos. O protagonista cresceu e se transformou nos criminosos do filme “Cabra cega” e nos bandidos de “Eu somente quero” do próprio Balabanov. Bodrov pereceu e o diretor morreu de maneira trágica ainda jovem. Os assassinos sem remorsos, os killers e policiais, que pareciam uns com os outros, inundaram os pequenos e grandes canais de televisão. Paradoxalmente, “O Aluno” foi realizado baseado em uma peça alemã contemporânea e nos leva a outro herói. Interpretado pelo jovem Peter Skvortsov, um aluno do ensino médio, Veniamin, assim como Danila Bagrov, também tem plena confiança em si próprio e na sua justiça. A sua bandeira, entretanto, são as Escrituras Sagradas que ele cita constantemente. Nas suas mãos ele carrega a cruz, a sua arma com a qual ele está pronto a crucificar todos os que não cumprem os altos padrões do seu extremismo religioso. O filme metafórico e teatral foi criticado por ser irrealista. O que vemos hoje? Serebrennikov, acusado de ter cometido crimes econômicos, encontra-se sob prisão domiciliar, e seus antigos adversários e invejosos se regozijam: quem mandou ser tão insolente? Enquanto isso, os discípulos fiéis de Veniamin boicotam os cinemas e queimam carros, tentando impedir a estreia do inofensivo melodrama “Matilda”, de Alexei Uchitel. Afinal, o czar Nicolau II, protagonista do filme, foi canonizado e um mártir não deve flertar com uma bailarina nas telas de cinema. Para que não flerte, pode até matar, queimar, e proibir. Boa ação.
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“O Aluno” tornou-se uma profecia, embora neste momento estejamos falando da condenada “Matilda”. Por uma coincidência, antes da primeira exibição de “Matilda” em Vladivostok o Metropolita de Vladivostok se pronunciou contra o filme. O nome dele era o mesmo do herói de Serebrennikov: Veniamin. Ele advertiu: “Nós não ficaremos calados diante dos que cometem sacrilégios e mostraremos aos blasfemadores a nossa fé ortodoxa e o amor pelos Santos Portadores da Paixão”. Ainda assim, a Rússia surpreende do ponto de vista cinematográfico. Desde os tempos de “Outubro”, de Serguei Eisenstein, acreditava-se que a fantasia exibida nas telas se torna uma realidade e obscurece os fatos reais. Assim realmente aconteceu. Daí surge um complexo sistema de tabus: cineastas russos atuais são virtuosos em eufemismos, esquivando-se de tópicos e questões relevantes. Mas, mesmo assim, estas questões surgem na superfície. Podemos citar o filme “Leviatã”, de Andrei Zvyagintsev, o mais sensacional de todos os filmes do famoso diretor. É uma história baseada em um caso de jornal americano sobre um mecânico solitário que tenta resistir ao sistema e não ceder a sua casa. Porém, logo que aparece a imagem do poder e os temas religiosos, que imediatamente encontram eco no caso “Pussy Riot”, o filme tem outra ressonância. Uma ressonância típica russa. Somente na Rússia é possível esta solução do conflito: obediência e derrota em uma luta desigual e sem sentido com o Leviatã do Estado. Vamos viajar no tempo, voltando agora vinte anos. O único filme de Piotr Lutsik, “Periferia”, fala precisamente disso: a revolta de um homem humilhado contra uma máquina estatal de mentiras e supressão. A linguagem popular, o humor sarcástico, os motivos folclóricos - tudo isso fez de “Periferia” um filme único. E, apesar de toda a crueldade, é um filme otimista que nos traz esperanças. A esperança e a oposição contra as autoridades perpassa a década de 1990 na Rússia. Hoje, o Leviatã está ganhando. A sociedade patológica, na qual as pessoas desde tempos imemoriais foram divididas entre carrascos e vítimas, está no centro do filme mais franco e penetrante do período inicial de Balabanov: “Sobre homens e aberrações”. Assim era antes da revolução, cujo centenário celebramos este ano; assim era na época acolhedora da URSS (“Enterrem-me atrás do rodapé”, de Serguei Snezhkin). Assim eram os anos 1990, quando na periferia do antigo império eclodia a guerra, e esta guerra acontecia não apenas nos campos de batalha, mas também na vida privada das casas e famílias. Disto, com surpreendente delicadeza, fala Alexander Sokurov no seu filme “Aleksandra”, filmado na Chechênia. Sobre isso trata também “Sufocamento”, estreia deslumbrante de seu aluno, Kantemir Balagov (nativo de Nalchik), que integrou o programa principal do Festival de Cannes. Oficialmente, não há censura na Rússia. Mas, apesar de todas as frases sobre a proteção do cinema russo, os filmes que não coincidem com as ideias oficiais de patriotismo sempre têm problemas. Por mais estranho que possa parecer, é assim que a lei sobre a proibição do léxico obsceno funciona: por causa dela,
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no cinema foram exibidas as versões censuradas de “Leviatã” e “Desamor” de Zvyagintsev e o filme “A fábrica Esperança” de Natalya Meshchaninova não entrou no circuito. E mesmo o status de clássico universalmente reconhecido não ajudou o diretor russo Aleksey Guerman mostrar ao público os seus últimos filmes, “Khrustalev, o carro!” e “É difícil ser um deus”. No primeiro filme, uma terrível crônica surrealista do inverno de 1953, o diretor tentou enterrar Stalin, embora a crescente popularidade desta figura histórica na Rússia moderna demonstre a inutilidade dessa nobre tentativa. O segundo, uma fantasia que nos remete aos quadros de Bosch e Brueghel, demonstrou a impossibilidade de cultura e educação em um país que venera a violência e submissão. A esperança, no entanto, é a última a morrer. Com poucas forças, a arte resiste às trevas e estas recuam. Pelo menos, por algum tempo. Ou se transformam na escuridão da sala de cinema que não é assustadora, mas tentadora, misteriosa e atraente.
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SI NOP SES
IRMÃO Brat Drama policial I 1997 I Rússia I 96 min. I 18 ANOS Direção I Aleksey Balabanov Versão original em russo. Legendas em português Exibição I DCP _Danila Bagrov volta para casa após servir o exército e participar de uma guerra devastadora. Se esforçando para começar uma nova vida, ele vai à São Petersburgo, onde o irmão, segundo rumores, leva uma vida próspera. Entretanto, a “nova vida russa” surpreende Danila e ele descobre que o irmão ganha a vida como assassino professional. Danila é o herói do seu tempo e de uma nação que perdeu a sua identidade. Usando a arma no lugar da palavra, ele cristaliza esta nova sociedade, na qual as ideias de nacionalidade, moralidade, família e honra estão sendo reavaliadas e reformuladas.
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_Andrey Plakhov
_Danila Bagrov, com seu sorriso estranho, em seu suéter áspero de segunda mão, com uma arma atrás do cinto, é nosso irmão. Nosso herói único e principal. Truísmo e até insidioso: vale a pena comparecer ao filme e ouvir o que Danila diz, assim como duvidar dessa auto-identificação aparentemente habitual. De qualquer maneira, é improvável que ele seja irmão de Serguei Bodrov, que desempenhou neste filme o melhor papel da sua carreira, ou de Alexey Balabanov. Quem era sua família, esse assassino, - cínico e rígido, embora indubitavelmente colorido e encantador - um monstro, na impecável atuação de Viktor Sukhorukov. Então, nós somos ou não irmãos de Danila? E há algo para se orgulhar? O filme é responsável por este efeito de proximidade, provocando quase um parentesco entre o espectador e o protagonista: é o principal filme, se não o único, em todo os anos 90, que descreve e resume exaustivamente aquela década crucial. E, claro, o principal título de Balabanov. Nele, ainda não há a sedução explícita de “Irmão 2” e a crueldade guignolesca de “Cargo 200”, mas já não se percebe a atenção esotérica de “Dias Felizes” e “Castelo”. Mas há algo que Balabanov mais tarde define pelo termo “realismo fantástico”, onde elementos documentais desprovidos de adornos limitam convenções extremas. Difícil, claro, arrojado, franco, ingênuo, poético, musical, não contendo um único quadro ou palavra supérflua. Com um agitado trabalho de atuação e uma energia que vão muito além do conceito de “agir” - como o “Taxi Driver” de De Niro ou Isabelle Huppert em “O pianista”. Idealmente, encontramos a definição de “obra-prima”. Eu próprio, assim como Danila, ouvi “Nautilus Pompilius”. Foi a minha primeira banda de rock. Sob a sua música, meus colegas e amigos observaram o colapso da URSS. Os poemas amargos e espaçosos de Ilya Kormiltsev e a sibilância desesperada de Vyacheslav Butusov fugiram da memória coletiva por um longo tempo. Não é por acaso que quando o herói do filme vai ao concerto de Nautilus, do palco ele ouve “Khlop-Khlop” (a única música da banda do período soviético que soa no palco!): “Nós crescemos um dia, somos grãos de ervilha...” O irmão de Danila é uma ervilha que fugiu da correnteza principal e ficou sozinha. Foi assim que eu senti naquele momento, provavelmente, e em qualquer outro. E com certeza, muitos sentiram o mesmo. Danila saiu do exército e não quer ir à guerra. É impossível saber o que ele fez lá na Chechênia. “Eu fiquei como funcionário na sede”, brinca. Mas, obviamente, ele está brincando: de outra forma, não poderia disparar com tanta precisão, matando a sangue frio. Ele recusa o convite para ingressar na polícia e sai da sua cidade natal, onde ainda se lembravam de seu pai
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condenado. E encontra-se em São Petersburgo. Não é nativo da cidade de Balabanov, mas mais importante do que muitos que a descreveram. Podemos ouvir ou não ouvir o Nautilus, ir ou não ao exército, passar a nossa juventude em São Petersburgo ou em outra cidade. Mesmo assim, reconhecemos imediatamente este mundo, combinando o colapso do estado e as ervas daninhas que cresceram em ruínas, a beleza estética da província e da capital, os bandidos e rockers, mendigos e “casacos carmesins”. Quem é este que chegou aqui vindo do nada, Irmão? Sua aparição no início do filme coincide com a filmagem de um clipe para a música do mesmo Nautilus Pampilus, “Asas”: uma música sobre um anjo caído, jogado no chão. Danila - na tradução, “Deus é meu juiz” - não por acaso, quer castigar o perverso e preservar a vida daqueles que encontram-se sob as suas asas. Aparentemente, um mensageiro da vontade superior, a qual ele não teve tempo de desconstruir. Danila Bagrov nos é próximo. A sua confusão, simplicidade e crueldade são nossas. Ele é um homem que foge do contexto, vivendo em um momento de grande mudança, mas esquecendo de sentir a história. Ele dispara na derrota, porque não quer ser atingido por direitos. Porém, sobre os seus direitos, ele pouco sabe. Ele está procurando parentes, mas não os encontra. Ou encontra neles o que não estava procurando. O herói do primeiro filme de Balabanov, “Dias felizes”, era perdido e desempregado. O topógrafo do “Castelo” estava procurando uma nova casa. Balabanov e Sergei Selyanov não tiveram medo de concluir o livro de Kafka. Danila vai mais longe. Não tendo se perdido, ele tenta alcançar “a própria essência”. Mas não pode. Da guerra à nativa Priozersk, de lá para São Petersburgo, de lá (nós sabemos) para Moscou. Depois para a América, de onde voltará para casa, levado por todos os ventos do rancor. Uma composição circular. Ele é como o herói do poema de Gumilev: “forte, maligno e alegre”. Como Ivanushka de um conto de fadas russo: um idiota, porém mais inteligente que todos. Ivan, o tolo, sempre teve irmãos mais velhos, notáveis cachorros. Aqui está a resposta para a questão sobre por que Danilo se colou ao irmão traidor. De qualquer forma, ele não tem uma casa, exceto a do seu irmão. Balabanov aborda um tópico “russo” ardente e perigoso. “Este é o seu sangue”, diz a mãe de Danila, mostrando fotos do Vitenka mais velho e enviando o veterano para São Petersburgo. E ali, na capital de uma utópica e não formada Europa, qualquer sangue permanece alienígena. Em torno do discurso francês, da música americana e bandidos chechenos, o seu único aliado acabou sendo um alemão e o próprio irmão. Danila está pronto para defender os seus e, para isso, não sente pena de matar ou morrer. Seus esforços não terão sucesso. “Irmão” é uma tragédia ou uma comédia sobre a solidão de um herói que sonhou com seus parentes, mas encontrou-se com sua pistola em um cemitério luterano, na companhia de um alemão e até mesmo de um diretor que morre de medo dele. Gostaria de saber se Balabanov estava com medo de seu herói?
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Este primeiro “Irmão” é tão diferente do bastardo patriótico “Irmão 2”, cujo herói não estava tão confuso e transtornado: ele sabia exatamente o que era verdade e o que era poder. Este Danila não sabe. É como se ele prevesse que novos tempos estão por vir, e que não haverá espaço para o autor ou ator. E o herói será apropriado e revisado por seus irmãos ladrões triviais que tentaram, sem sucesso, dominá-lo no filme. Na verdade, Danila Bagrov não tinha irmãos. Ele era só.
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ALGO MELHOR POR VIR Something better to come Documentário I 2014 I Rússia I 98 min. I LIVRE Direção I Hanna Polak Versão original em inglês/russo. Legendas em português Exibição I Full HD _Yula tem um sonho: ter uma vida normal. Durante 14 anos, a diretora indicada ao Oscar americano Hanna Polak acompanha Yula durante a sua vida no território proibido da “Svalka”, um lixão localizado a 20 quilômetros do Kremlin, na Rússia de Vladimir Putin. Algo Melhor Por Vir é uma historia universal de esperança e coragem, onde a protagonista decide mudar o seu destino com as próprias mãos. Filme vencedor de 23 prêmios internacionais, entre os quais se destacam o prêmio do Festival de Cinema de Trieste, do Art DocFest Moscou, do Documenta Madrid e do Doc Fest de Munique.
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_Hanna Polak
_”Algo melhor por vir” é um filme sobre dignidade humana e resiliência. É uma história vibrante, que instila uma perspectiva única no espectador, ilustrada por uma citação da peça de Maxim Gorky “O submundo”: “Todos, meu amigo, vivem por algo melhor para vir”. É uma extraordinária viagem pessoal durante quatorze anos sobre um dos lugares urbanos mais sombrios do mundo: um grande “lixão” fora de Moscou. A história acontece no maior aterro sanitário na Europa. Uma área cercada onde ninguém, exceto os caminhões de lixo, tem permissão de entrada. E, mesmo assim, as pessoas conseguem viver lá. Incluindo Yula, a nossa protagonista de dez anos. Yula cresce nesta terra proibida e, no entanto ri, se apaixona e se maquia para ser sedutora. Ela se atreve a sonhar em sair um dia dali... O lixão é imenso. Os recém-chegados tentam viver uma vida normal, tentam achar comida, abrigo, tentam sobreviver e são inconscientes do lado sombrio do lugar. No entanto, quando alguém entra neste território, ele é aspirado por uma areia movediça, tornando-se um escravo empregado por uma máfia local que administra os centros de reciclagem ilegais do lixo: o único negócio desta cidade. Este aterro é o país de Yula, onde ela vive atrás de cercas e concreto. Neste país estranho, uma garrafa de vodka é moeda e a polícia corrupta mantém pessoas indesejadas como jornalistas fora para que as atividades criminosas de despejo continuem sem controle. O aterro russo parece estranho e estrangeiro - quase um outro planeta. A vida ali é sombria e depravada, mas também revela o melhor das pessoas quando compartilham o último pedaço de pão e abrem as portas das pequenas cabanas a qual chamam de casa, mesmo - ou especialmente - durante as frias noites do inverno russo. É o lugar onde Yula e seus amigos compartilham o mesmo destino - uma luta primordial pela sobrevivência - e onde o que resta é só o vínculo humano duradouro. A cidade linda e reluzente de Moscou acena de longe, suas luzes e esplendor do outro lado da cerca piscam uma opulência atrevida para os habitantes depravados do lixão. Este é um mundo com o qual Yula só pode sonhar e olhar de longe, da imensa cidade do lixo que é seu lar. Através de pessoas que filosofam sobre chá e/ ou vodka em suas frágeis cabanas de papelão colocadas entre montanhas de lixo, ou de momentos de emoção elevada, incluindo o amor, testemunhamos durante anos Yula e seus amigos: personagens incríveis, calorosos e divertidos. Através da jornada de quatorze anos de Yula, somos testemunhas de sua luta para realizar seu sonho de ter uma vida fora dos muros deste lixão.
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FÁBRICA “ESPERANÇA” Kombinat Nadezhda Drama I 2014 I Rússia I 90 min. I 14 ANOS Direção I Natália Meshaninova Versão original em russo. Legendas em português Exibição I DCP _Sveta está ansiosa para escapar de Norilsk, uma cidade isolada do continente, ao norte da Rússia. No seu sonho, Maksim está lá fora, na distante cidade de Temryuk, esperando por ela. Nádia é a essência de tudo o que Sveta odeia sobre Norilsk. A situação se torna ainda pior, uma vez que os amigos de Sveta usam descaradamente e constantemente os serviços sexuais de Nádia. Quando eles têm a oportunidade de deixar Norilsk, o ódio de Sveta atinge seu clímax. “Ela roubou meu sonho!”
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_Andrei Plakhov
_O frio deveria se tornar o tema principal do filme “A Fábrica Esperança”, de Natália Meschaninova, porque mesmo se a trama acontece no verão, tudo é passado na Norilsk Polar, que na canção heróica é chamada “cidade-sonho Norilsk, cidade das imensidões nevadas” e inspiração da composição musical “Respingos do metal”. Na verdade, estas vastidões não transpiram a frescura do frio, mas as emanações de produtos químicos tóxicos: as pessoas estão no epicentro de um desastre ecológico, mas se acostumaram a não percebe-lo. Além disso, eles tendem a viver em dignidade: sabem como trabalhar duro e descansar depois do trabalho, as casas estão com as geladeiras cheias e as festas de aniversário tem tudo o que quiser. Um tema particular são as senhoras-atrizes de meia-idade que trabalham no teatro local: elas fazem parte de um fundo exótico, porém não caricato. Nesse cenário, observamos a vida de um grupo dos adolescentes com os rituais: festas na sauna e piqueniques nos arredores da cidade, em meio a uma natureza remanescente e tubos enferrujados. O tema central do filme são dois dramas de duas meninas. A primeira é o de Svetlana (nome que tem a sua origem na palavra “luz”), uma menina de uma família decente (a mãe é atriz daquele teatro). O segundo de Nadia, que ganha a vida como prostituta. Sveta e Nadezhda*, no entanto, querem sair deste lugar maldito, apesar dos brindes favoritos dos meninos sobre o “caráter nórdico” e das inscrições na memória: “Não existem ex-moradores de Norilsk”. Escapar dali, seja para onde for, torna-se um ideia fixa para as protagonistas. Natalia Meshchaninova fez um filme onde se sente a fragilidade de um primeiro filme da ficção, mas essa vulnerabilidade também é atraente. É uma experiência bem sucedida, não só da cineasta, mas também do grupo de jovens produtores liderados por Elena Stepanisheva, que arrecadaram uma verba de US$ 400 mil sem pedir um tostão do estado, que obviamente, entraria em histeria pelo fato de que os pênis e as vaginas não são chamados por termos médicos, porém por palavras que, é claro, nunca foram ouvidas nos corredores do Ministério da Cultura e da União de Cineastas, onde trabalham arduamente sobre a “carta de ética”. Mas isso não diminui o valor do que foi possível filmar, realizando um filme atual com atmosfera e suspense, convidando bons jovens artistas. E o que é muito importante: “A Fábrica Esperança” não é percebida como um filme noir, um filme de autor, um manifesto feminista direto e nem mesmo, refutando a característica do catálogo de Rotterdam, como drama documentário cinético”. É apenas um bom filme, que estranhamente, lembra os filmes filmados durante o Degelo** sobre pessoas imperfeitas com as quais o espectador simpatiza.
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* Nadezhda significa “Esperança” em russo ** Degelo – Período histórico na URSS no final dos anos 1950 – início dos anos 1960
BLUES DE GROZNY Documentário I 2015 I Suíça I 104 min. I 18 ANOS Direção I Nicola Belucci Versão original em russo. Legendas em português Exibição I DCP _“Grozny Blues” acompanha a vida de quatro mulheres nos arredores de Grozny, capital da Chechênia devastada pela guerra, onde o cotidiano é marcado pela repressão política, costumes constrangedores, islamização forçada, a incapacidade de lidar com a história recente e a desilusão com a situação dos direitos humanos na Rússia atual. Possuindo apenas vagas memórias das duas guerras da Chechênia, elas tentam compreender as coisas estranhas que acontecem no seu país. Nicola Bellucci mostra de forma dramática e, no entanto, muito poética, o que significa viver em uma sociedade dividida entre guerra e paz, repressão e liberdade, tradições arcaicas e a vida moderna.
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_Vitaly Mansky
_Eu não notei o interesse na Chechênia por parte dos documentaristas russos. Eu assisto muitos filmes que falam sobre tudo na Rússia, mas não há filmes sobre a Chechênia. Como se a Chechênia não fizesse parte da Rússia. Aparentemente, os documentaristas russos preferem evitar esta região, mas no filme suíço “Blues de Grozny” a Chechênia não apenas está lá, ela é a personagem principal. Quando você entende que documentaristas de uma Suíça próspera, por conta própria, foram para uma desconhecida e, por isso, ainda mais terrível Chechênia, quando você começa a se familiarizar com os heróis do filme e, mais corretamente, com as heroínas chechenas ativistas dos direitos humanos, surge um tremor que não te deixa até o final do filme. Você olha e não acredita nos seus próprios olhos. Não só o papel das mulheres nesta cultura é muito específico, e nós vemos como alguns códigos culturais são quebrados. Mais ainda, você se pergunta constantemente como essas mulheres arrojadas existem em tais circunstâncias, formando e concretizando esse sistema. Eu diria que trata-se de um blues, uma dança no sangue. Este filme é, claro, sobre a ditadura que substituiu a guerra. Em algum sentido, a ditadura substituiu o caos. E quando você vê “Blues de Grozny”, surge a questão: só a ditadura é capaz de substituiu o caos? Pode esta sociedade existir de alguma forma civilizada? Porque as heroínas do filme são mulheres perfeitamente normais, adequadas, vivas e livres do Oriente. E todos esses paradoxos e perguntas estão pendurados na energia do filme, como os machados no ar.
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PERIFERIA Okraina Drama I 1998 I Rússia I 100 min. I LIVRE Direção I Piotr Lutsik Versão original em russo. Legendas em português Exibição I 35mm digitalizado _“A periferia é o inicio do mundo, e não o seu fim”, disse o poeta Iosif Brodsky. “Periferia” é um western realizado no estilo dos clássicos antigos do gênero, repleto de situações dramáticas e elementos de humor negro, que conta as aventuras de camponeses, cujas terras foram tomadas. Furiosos, eles partem dos confins mais distantes rumo à capital em busca da verdade e de justiça.
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ALEXANDRA Drama I 2007 I Rússia I 90 min. I LIVRE Direção I Aleksander Sokurov Versão original em russo. Legendas em português Exibição I Full HD _Alexandra é uma mulher idosa que visita seu neto, um oficial do exército russo na Chechênia, logo após o término da guerra. Este reino dos homens jovens e fortes lhe é alheio. Alexandra tenta compreender esta cidade “ferida” e seus habitantes. Os seus sentimentos são muito mais fortes do que as armas e o tanques. Assumindo o papel de uma avó para toda uma etnia, ela tenta confortar as almas humanas, trazê-las de volta à vida e dar um pouco de bondade e compaixão.
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ENTERREM-ME ATRÁS DO RODAPÉ Pokhronite menya za plintusom Drama I 2008 I Rússia I 110 min. I 16 ANOS Direção I Serguei Snezhkin Versão original em russo. Legendas em português Exibição I Up scale _O filme é baseado no livro homônimo de Pavel Sanaev e conta a historia do menino Sasha. Aos 8 anos de idade, ele mora com a sua avô, que não confia na educação que a sua filha recém casada dá para o menino. Segundo ela, a filha é uma sem vergonha. A vovó, um verdadeiro tirano, e a mãe brigam pela posse da criança, sem pensar nela ou nos seus sentimentos.
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O ALUNO Uchenik Drama I 2016 I Rússia I 118 min. I 18 ANOS Direção I Kirill Serebriannikov Versão original em russo. Legendas em português Exibição I DCP _Um adolescente russo descobre sua vocação para as palavras da Bíblia, e logo se transforma em um crente fervoroso capaz de citar constantemente versículos de cor. Ele começa a usar os ensinamentos cristãos para questionar as palavras de sua mãe, da escola onde estuda e, principalmente, de uma progressista professora de biologia.
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_entrevista por Anton Dolin
_Kirill Serebrennikov «Não sou eu que deixo todos com raiva. Eles próprios se enraivecem.» Você ficou famoso por encenar a dramaturgia contemporânea, mas no Gogol Center a maioria das apresentações são os clássicos... Acredito que, o próprio nome do Centro te obriga fazer isso. Mas o que existe na peça de Marius von Mayenburg, um dramaturgo jovem e não tão famoso da Alemanha, cujo “(M)artiro”, você encenou, primeiro no teatro, e agora, removendo a letra M do título, também no cinema? _Anton, ele é famoso! Ele é um autor muito bom autor. Eu assisto muito teatro alemão. “O Aluno” é, em primeiro lugar, uma peça muito bem escrita. É difícil encontrar algo parecido na Rússia. Em segundo lugar, é óbvio que Mayenburg toca bem os pontos dolorosos. Eu logo vi como você pode fazer um modelo do que está acontecendo conosco a partir disso. Todos os personagens - eles são tão familiares! Imediatamente imaginei a diretora da escola. Você sabe como foi interessante compor a versão russa desta peça? Eu trouxe alguns textos documentais e vídeos e, no final, criamos todas personagens a partir da realidade. O maior problema era o padre. Era impossível usar aquele, da peça alemã. Da cena com ele, tomamos apenas as réplicas do menino. O resto, tínhamos que procurar. Mas nós tínhamos um consultor, um ex-sacerdote, que foi demitido por discordar da política do “partido e do governo”. Ele trouxe-nos uma grande quantidade de livros... Manuais de igreja... Fragmentos destes manuais usamos no filme. Como o último sermão em “Leviatã” também era um texto real. Aliás, esse filme e “O Aluno” são exemplos raros de cinema político na Rússia. Não gostam deste tipo de cinema e nem sabem como fazê-lo.
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Eu acho que o cinema político não é sobre aspectos da política atual, mas sobre o que está acontecendo com as pessoas aqui e agora na Rússia. Eu acho que não vale a pena fazer mais nada. Nem no teatro, nem no cinema. Porque as pessoas estão interessadas nisso. E eles me dizem que os problemas de hoje representa um gênero baixo, jornalismo, mas valores duradouros! ... Sim, eles são, duradouros, porque estão espalhados por toda parte em torno de nós. É estúpido fazer abstrações sobre eles. Às vezes, você assiste um filme ou uma peça de teatro e não pode entender: quando isto foi feito? Em que ano estamos? Um dia, a Máscara de Ouro* me pediu para realizar uma cerimônia. Não deu em nada, mas olhei as listas daqueles que foram nomeados e premiados. E, de acordo com a lista, era impossível entender em
que ano estávamos. Tudo o que acontecia na vida não tinha nada a ver com o que foi nomeado e premiado. Aqui, na realidade, temos “Nord-Ost” - e lá, no teatro, eles falam de “eternidade”! Por isso, nos tornamos desnecessários. Estou falando de teatro e cinema. Mas você está falando sobre a situação russa, certo? Qualquer filme do ocidente - e até mesmo os blockbusters americanos! expressa alguma hipóstase do estado atual do homem. No “Regresso” não trata-se somente de Leonardo Di Caprio, que sofre e come o fígado de um bisonte. Neste ponto, esse país precisa de uma forte motivação! E um herói que, ao contrário de todas as leis, sobrevive. Seja por vingança ou pela vida. Arrasta e mata seu inimigo - e não mata, é o destino que mata. Praticamente ele comete um ato budista. E você é realmente budista? Sim, sou budista. O budismo não é uma religião. Mas eu tenho um lama, eu recebi iniciação, fui no refugio. No entanto, o seu herói, um aluno da escola russo comum, recebe uma injeção, não como uma lavagem cerebral, porém diretamente da Bíblia. E ele fala com citações de lá, e a fonte é escrupulosamente refletida na tela. Há violência neste livro. A religião para a sua afirmação usou os métodos que eram habituais para a humanidade durante os últimos dois mil anos. E mesmo antes. Ninguém fazia cerimônia: alguns foram entregues a predadores, outros foram pendurados nas cruzes... Depois, começara as Cruzadas. A história de qualquer religião é a história de guerras e atrocidades, pesadelos, banho sangrento. Muito raramente a religião dá paz, tranqüilidade e amor. Ela separa as pessoas, e não junta. Nós no filme, no entanto, não queremos culpar ninguém. Nós apenas queremos que as pessoas depois de vê-lo, começassem a pensar. Tem partes, onde “O Aluno” parece um manifesto. Eu não o considero como um manifesto. O manifesto é sempre direto e não tem um segundo significado. Um segundo plano. Campo de interpretação. E no nosso filme cada um é lobisomem. O nosso filme é uma forte história de ação direta, condensada em um grotesco: um fogo em um bordel durante uma inundação.
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É possível considerar “O Aluno” um filme sobre o sistema educacional russo? Afinal, a incapacidade de combinar os fundamentos da religião com a biologia é algo sobre nós. Bem, vamos propor um conceito diferente para as crianças, e elas escolherão depois... A nossa tradição decorre da instabilidade soviética: como essas mulheres que vêm da URSS podem ensinar as crianças? O diretor da escola de Mayenburg é um homem, mas eu percebi: na nossa escola, não pode haver um diretor homem. Só pode ser uma mulher. E esse é o papel da Svetlana Bragarnik. Ela também é meio perdida, diferente do que tivemos na peça. Ela ficou confusa, não sabe o que ensinar para as crianças. Interiormente, ela simpatiza com a professora de biologia Krasnova, mas não há nada a fazer. O padre toma o poder na escola.
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Mas isso não é apenas sobre a Rússia. É sobre todo o mundo atual? A peça alemã após a adaptação ficou apropriada para nós e agora, vendo a reação em Cannes, é compreensível para os franceses e italianos. Então, todos nós vivemos na mesma merda, estamos na mesma armadilha! A situação econômica na Europa é mais estável, estas questões não são tão graves. E nós temos um país pobre com muitos problemas, então algo se torna mais óbvio.
O filme sempre fala que o teatro é indesejado por Deus. Por trás, há algo profundamente pessoal. O “Centro Gogol” é um teatro indesejado por um Deus que pode acumular energia e de alguma forma resistir ao fanatismo e ao tempo das trevas? Claro! E de que outra forma poderíamos resistir? O meu espetáculo não mudará nada. Assim como o seu artigo. O seu artigo me fará pensar e o meu espetáculo também te fará. Mas o que está de novo lá? Enviamos uma mensagem um ao outro sobre coisas claras: uma cobra mordendo sua própria cauda. O que resta - colar o tênis no chão, como fez a protagonista do “O Aluno”? E não ir a lugar nenhum? Sim, em algum momento, é necessário dizer “Eu não vou para lado nenhum” quando todos gritam: “Sim, saia daqui! Não gosta? Então, saia!”. E eu vivo e trabalho aqui. É o meu teatro, o meu cinema. Esta é a minha terra natal.
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Existem várias propostas para você trabalhar no exterior. Você já faz isso. É tentador sair e trabalhar fora da Rússia? Sim, é bastante atraente, mas também tenho muitas perguntas. Se eu posso? Eu posso. Eu quero? Eu quero. É confortável para mim? Super confortável! Mas não quero perder a Rússia. Um espectador como no Gogol Center, não encontrarei em nenhum lugar. Não existe público desse tipo. Muitas pessoas me falam sobre isso. As pessoas que tem o mesmo tipo de pensamento são muitas, e é necessário lugares - não o Facebook, porém lugares físicos! - onde elas não se sintam sozinhas.. Por que todos foram para as demonstrações com fitas brancas? Só por causa disso. Eles não seguiram Navalny, eles queriam ver um ao outro. “Então, eu não sou um “idiota”, há outros como eu”. As redes sociais há muito tempo não dão sentido da comunidade, e esse sentimento de unidade é incrivelmente importante. Eu respeito e amo essas pessoas. Eu quero trabalhar para elas. Às vezes, parece que você provoca as autoridades de propósito: aqui há uma performance com atores nus, aqui há um filme sobre um tema religioso... E onde está escrito que você não pode estar nu? Na Constituição? As mentiras e a hipocrisia me causam nojo. E o silêncio é nojento, nada é pior. Mas não quero mentir pelo menos para mim próprio. Eu sempre penso na década de 1930, quando as pessoas foram levadas a morte um por um, e todos os outros estavam calados e com medo. Por que eles não fizeram nada, por que não cortaram com os dentes as gargantas destes filhos da puta? Como em Sobibor? Muitos morreram, mas é melhor morrer assim.
*Prêmio teatral
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SOBRE HOMENS E ABERRAÇÕES Pro urodov i ludei Drama I 1998 I Rússia I 93 min. I 18 ANOS Direção I Aleksey Balabanov Versão original em russo. Legendas em português Exibição I DCP _Sobre homens e aberrações é inspirado em uma coleção de fotografias eróticas antigas de mulheres jovens sendo flageladas. Com base nessas fotografias, o diretor construiu um melodrama extravagante sobre a influência degradante da pornografia em duas famílias de classe alta de São Petersburgo no início do século XX, assim como uma alegoria sobre a gênese do gênero no cinema russo. Um melodrama assustador sobre paixões ocultas e práticas sadomasoquistas, um conto bizarro no qual a manipulação e a vingança ditam as normas em meio ao charme, à inocência e à perversão de tempos idos.
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KHRUSTALEV, O CARRO! Khrustalev, mashinu! Drama I 1998 I Rússia I 137 min. I 14 ANOS Direção I Aleksey Guerman Versão original em russo. Legendas em português Exibição I DVD _“O médico militar, general Klenski, é preso na Rússia de Stalin, em 1953, durante uma campanha política antissemita. Ele é acusado de participar do chamado “complô dos médicos”. A caminho de um campo de trabalhos forçados, o general é levado para a casa de campo onde Stalin está morrendo. Lá, os oficiais imploram para que ele salve a vida do líder soviético. O filme foi selecionado para a competição do Festival de Cannes.
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É DIFÍCIL SER UM DEUS Trudno bit bogom Drama I 2013 I Rússia I 177 min. I 18 ANOS Direção I Aleksey Guerman Versão original em russo. Legendas em português Exibição I DCP _Em Arkanar, um planeta semelhante à Terra, os indivíduos ainda vivem no período medieval. Um grupo de cientistas terrestres, liderado por Don Rumata, é enviado para lá para estudar os seus costumes. Para não alterarem o curso natural da História daquele planeta, eles são proibidos de interferir em qualquer conflito, independentemente das crueldades que possam vir a testemunhar. Entretanto, vendo as injustiças que são cometidas contra a elite intelectual de Arkanar, a única capaz de fazer evoluir a sociedade, Don Rumata não consegue evitar de tomar uma posição. O filme é uma a adaptação da obra homônima de ficção científica escrita em 1964 por Arkady e Boris Strugatsky.
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_Andrey Plakhov
_”É difícil ser um espectador”, escreveu o escritor Umberto Eco sobre o filme “É difícil ser um deus”. E concluiu o seu ensaio com as palavras: “Comparados aos filmes de Aleksey Guerman, os filmes de Quentin Tarantino são Walt Disney”. A estreia em Roma mostrou: é difícil, mas é possível. Na exibição para a imprensa, ninguém saiu. Todos aplaudiram por muito tempo. Na estreia oficial foi mais difícil e, ainda assim, um contraste impressionante com o filme “Khrustalev, o carro” do Festival de Cannes, em maio de 1998, quando os jornalistas franceses, após muito tempo, pediram desculpas. Aquela sessão mostrou a despreparação do corpo jornalístico de Cannes para qualquer coisa mais complicada que Disney, e virou um grave trauma na mente de Alexei Yuryevich. Essa foi uma das razões pelas quais sua família, entre todas as propostas dos festivais, escolheu a Roma para a estreia mundial. E a decisão foi certa, apesar das tentações comerciais do mercado de Cannes. Marko Muller, um admirador de longa data de Guerman, disse que há muitos anos atrás, ele fez tudo o possível para conseguir assistir o filme “Controle na estrada” que acabava de ser legalizado, porém a sessão era esgotada: o cinema das prateleiras estava da moda. Müller veio então à Moscou com Gianni Buttafawa, um intérprete e grande especialista da cultura russa. Muitos (inclusive eu) que viram o material de trabalho em várias fases do filme, ficaram impressionados com a força da impressão artística de “É difícil ser um deus”. Guerman mostrou audácia criativa desde o início, quebrando cânones musgosos, questionando tabus, arrancando uma camada de bem estar dos artistas famosos, mostrando o perfeccionismo desumano em escala e detalhes. Naquela época, na fase inicial, os críticos estavam gritando sobre as “texturas frenéticas” e o “movimento browniano” como categorias estéticas inaceitáveis na sua cinematografia. A censura recuou, pelo menos por um tempo. A obra do último período do diretor, um dos poucos que superou o pico da crise da Perestroika, é um excelente exemplo do que a energia do artista é capaz em uma época corrompida por falsificações e especulações sobre a preguiça mental. Em tempos em que os principais gêneros da história são melodrama, ação ou quadrinhos, Guerman levanta questões fora da moda sobre o significado da vida e o significado da arte. Nas respostas a essas questões, há muita tragédia, mas a arte poderosa do “Bosch Russo” ou “Fellini do Norte” é um contrapeso ao desespero.
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A ação de “É difícil ser um deus” ocorre simultaneamente no passado e no futuro, pressupondo o presente nos dois: estranhamente, é provável que seja o único filme de Guerman sobre o dia de hoje. O mundo totalitário com a ideologia e a moral da Idade Média era compreensível para o diretor, que cresceu no gueto da intelligentsia da cultura soviética e absorveu seus mitos
como o leite materno. Ele entendeu os ideais liberais dos anos 60 dos irmãos Strugatsky, mas o destino, decidindo com sabedoria, postergou o projeto “É difícil ser um deus”, iniciado em 1968 (tendo como fundo a invasão soviética na Tchecoslováquia), por algumas décadas. E tornou-se óbvio que a Idade Média não se encontrava no passado, porém no futuro. Ou melhor, ela já havia chegado e exatamente isso é grandioso no filme de Alexey Guerman. Neste filme a tragédia é novamente possível, assim como nos tempos da Antiguidade e do Renascimento. E não é tão inevitável, como nos parecia recentemente. Neste filme, as imagens das gravuras e pinturas de Durer ou Brueghel estão revivendo (Bosch já foi mencionado). Isso não é estilização, porém atualização de relacionamentos esquecidos. Citando Svetlana Karmalita*: relacionamentos esquecidos “entre pessoas, entre pessoas e animais, entre pessoas e objetos”. E todos atuam aqui não nas existências tradicionais: são monstros, são vítimas, são totens inscritos em um padrão simbólico, porém possuem cheiros, textura, viscosidade e encarnação erótica sombria. Este filme está cheio de expectativas, em parte esperadas, porém ainda muito ousadas, como, por exemplo, a transformação mágica de Leonid Yarmolnik no trágico herói Rumata, o Hamlet do século XXI. Uma análise separada requer o tecido pictórico da imagem, filmado por Vladimir Ilyin e Yuri Klimenko. Mas, talvez, a composição dramática do filme tenha o efeito mais forte no subconsciente. Há mais traços comuns com a pintura, do que com a adaptação do romance ou da peça. A incrível densidade do quadro leva-nos a examinar com precisão a matéria da tela e a analisar em fragmentos, detalhes, convidando-nos a construir um todo. Este quadro completo, se resumirmos brevemente, prova-nos como é difícil ser um espectador desapaixonado dos sofrimentos de outras pessoas. É difícil ser um deus que decide os destinos dos seres vivos. E mais difícil é ser apenas uma pessoa com a função de ser uma pequena parte da história que lhe foi atribuída, mas, felizmente ou infelizmente, dotada de consciência. Seja em Arkanar ou na Terra.
*Svetlana Karmalita – mulher de Aleksey German e roteirista da maior parte dos seus filmes
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RELAÇÕES PRÓXIMAS Rodnyie Documentário I 2016 I Letônia, Alemanha, Estônia, Ucrânia I 112 min. I LIVRE Direção I Vitaly Mansky Versão original em ucraniano/russo. Legendas em português e inglês Exibição I DCP _Vitaly Mansky, cidadão russo nascido na Ucrânia soviética, atravessa a Ucrânia para conhecer a sociedade do país após a revolução de Maidan. A sua família vive espalhada por todo o país: em Lviv, Odessa, na região separatista de Donbass e em Sevastopol, na Crimeia. O filme procura as razões do conflito, após o qual cidadãos de um único país se encontraram em lados de uma só barricada.
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_Andrey Plakhov
_“No concurso documental aconteceu a estreia mundial do filme de Vitaly Mansky: “Relações próximas”. O filme é dedicado à Ucrânia, o mais atual “novo país europeu” e fala de como os dramáticos acontecimentos ocorridos no país afetaram a vida de uma família. A obra cinematográfica tátil e cheia de ternura destaca de maneira diferente a personalidade de seu autor, conhecido como duro e sarcástico polemista. Aqui, a política está presente na medida exata em que afeta a consciência das pessoas comuns. Uma das principais personagens do documentário, a mãe do cineasta, Victoria, moradora de Lviv, fala para seu filho: “Deixe sua política de lado. Deixe-me terminar de fritar as panquecas”. Porém o tio Misha, de 96 anos de idade, habitante da República Popular de Donetsk, fica o tempo inteiro em frente da televisão e sabe perfeitamente onde se encontra o principal inimigo. A rejeição da propaganda e a falta de vontade de se identificar com qualquer líder político é uma reação natural de defesa, mas, infelizmente, nem ela consegue garantir a paz e a segurança. O episódio mais emotivo do filme é uma conversa telefônica entre irmãs: duas vivem na Lviv de “Bandera”, a terceira, na Sevastopol russa, quase soviética. Fato é que a etnia não é a principal característica que divide as pessoas: na família de Mansky, o elemento ucraniano não é tão significativo, mas muitos, especialmente jovens, escolhem a Ucrânia como sua pátria e estão prontos a defendê-la. E a Ucrânia significa a Europa para o povo de Lviv: eles se consideram pobres, mas parentes de sangue de europeus “reais”.
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SOB O SOL V lutchakh solntsa Documentário I 2015 I Rússia, Letônia, Alemanha, Republica Tcheca, Coréia do Norte I 106 min. I LIVRE Direção I Vitaly Mansky Versão original em coreano/russo. Legendas em português e inglês Exibição I DCP _Sob o sol é um filme sobre a vida ideal em um país ideal: a Coréia do Norte. Vemos uma garota em uma escola ideal, filha de pais ideais que trabalham em fábricas ideais, vivendo em um apartamento ideal no centro da capital. Podemos ver como o povo norte-coreano se esforça para fazer com que esse mundo ideal funcione. A menina está preparada para entrar na União das Crianças Coreanas e, assim, fazer parte desta sociedade ideal, vivendo sob os eternos raios do sol, símbolo do grande líder do povo, Kim Il-Jong.
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_Andrey Plakhov
_Alguns anos após a sua estréia europeia em Leipzig, “Sob o Sol” continua causando reações controversas. Só para lembrar: Vitaly Mansky chegou para filmagens em Pyongyang e o enredo e os protagonistas (o pai, a mãe e a filha de oito anos) foram aprovados por camaradas coreanos. O cinema documental, na compreensão local, implica ensaios minuciosos sob a égide de curadores e serviços especiais. No decorrer deste processo, muitas coisas mudam: o protagonista jornalista se transforma em engenheiro, o plano na fábrica, executado primeiramente em 150%, passa para 200%. O filme se torna cada vez mais perfeito, perto do ideal. No entanto, se ele responde à realidade já é uma questão retórica. Assim como você não pode estar absolutamente certo de que o pai, a mãe e a filha que estão no filme são realmente parentes e não apenas figurantes. De qualquer forma, a história está definida. O pai engenheiro e a mãe operária de um laticínio obtêm mais e mais conquistas profissionais. A filha, preparandose para ingressar as fileiras dos pioneiros, se encontra com um veterano da guerra e se prepara para um feriado nacional, que se tornará o ponto culminante do filme. Meninas, lendo poemas sobre os grandes líderes, caem em êxtase enquanto os adultos com rostos de pedra continuam sentados, assistindo com atenção esse espetáculo quase pornográfico. O cineasta conseguiu, no entanto, escapar da vigilância dos serviços especiais e capturou algumas coisas dos ensaios e um pouco da vida real de Pyongyang fora da janela do hotel: por exemplo, as pessoas empurrando um ônibus na rua para movê-lo. As filmagens nem sequer foram concluídas, quando o lado coreano interrompeu o trabalho no filme e ele foi montado a partir do material que conseguiram filmar e levar do país. As acusações de engano, vindas não apenas dos norte coreanos, caíram sobre Mansky. Os ecos negativos também ressoaram na Rússia: afinal, o engano pode se transformar em repressão, quase em uma execução para os protagonistas do filme. Os moralistas perguntam se “a arte vale a pena a lágrima de uma criança?”. Eles não ouvem a vulgaridade desta pergunta. Eu suspeito que Dostoievski, se estivesse vivo, teria feito careta ouvindo isso. Afinal, estes moralistas se conciliam facilmente com as monstruosas abominações que ocorrem não apenas na Coréia do Norte, mas também muito mais perto, diante dos seus olhos. O dilema de “salvar ou filmar” é enfrentado por todos os documentaristas e cada um o resolve de acordo com a sua consciência e intuição. Em certo sentido, o papel do cineasta que cai no território do anti-mundo tirânico pode ser comparado com o trabalho de um agente secreto.
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Na Rússia que apresenta traços característicos do absurdo de SaltykovShchedrin*, o destino do filme “Sob o Sol” parece um teste decisivo em relação
à situação cultural como um todo. A frase clássica “Não li Pasternak, porém o condeno ...”** é válida para o filme: afinal, a “opinião pública” é composta principalmente por pensamentos profundos daqueles que não viram o filme. E, voluntariamente ou inconscientemente, ajuda a garantir que ninguém o veja. Parecia que o conflito que não tinha nem mesmo embasamento para acontecer já havia sido resolvido. Após longos atrasos, o Ministério da Cultura concedeu ao filme um certificado de exibição e sua estreia na Rússia ocorreu no Festival Internacional “Mensagem para o Homem” (São Petersburgo), onde o filme recebeu o prêmio da imprensa internacional FIPRESCI e o prêmio da imprensa russa. No entanto, os ataques ao filme continuam, vindos de cima, de baixo e, especialmente, “do lado”: a embaixada da República Popular Democrática da Coreia promoveu grandes esforços diplomáticos com o objetivo de impedir as exibições. E não se pode dizer que estes esforços foram em vão, tendo em conta a tendência crescente em nosso país do uso da censura. A censura não precisa necessariamente ser descrita na lei: na época soviética, sua prática foi perfeitamente elaborada sob a forma de “lei telefônica”, hoje em dia ela é enriquecida por métodos de impacto econômico. No final do ano passado, os coreanos tentaram pressionar festivais internacionais com a ajuda dos “amigos russos”. Obviamente isto não surtiu nenhum efeito. Agora, a pressão é exercida através de funcionários do mesmo Ministério da Cultura ou do Departamento do Governo de Moscou, responsável por diversos cinemas da capital. E, se é possível entender os coreanos ofendidos, os nossos funcionários públicos que têm medo da própria sombra e que “algo possa acontecer”, parecem estar pedindo para fazer parte dos livros satíricos de Gogol, Chekhov ou Shchedrin. À atenção dos humanistas: o filme não abre margens para pensar que os protagonistas certamente sofrerão. Eles executaram os seus papeis perfeitamente, e a menina apenas uma vez teve um surto, devido ao estresse dos ensaios intermináveis, começando a chorar. Outra fato é que o marasmo do poder despótico não tem limites e, de qualquer forma, nunca poderíamos saber nada sobre o destino da menina Li Jin Mi de oito anos ou sobre o futuro de milhões de seus compatriotas. No entanto, o desfecho foi outro e isso, se você quiser, pode ser chamado de final feliz do filme de Mansky. Como os nossos agentes nos informaram, Jin Mi é agora a criança mais famosa da República Popular Democrática da Coreia: ela foi encarregada de entregar as flores ao líder no encerramento do congresso do partido.
* Escritor russo do segunda metade do século XIX (obs. da tradutora). ** Frase de Alexander Shelepin, diretor da KGB na época (obs. da tradutora.
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QUE TAL A VIDA, CAMARADAS? Documentário I 2017 I Brasil I 15 min. I LIVRE Direção I Luis Felipe Labaki Versão original em português Exibição I HD _O centenário da Revolução de Outubro está próximo. No centro de Moscou, Lênins e Stálins interrompem as fotografias por alguns minutos e falam sobre seu legado, o centenário e a Rússia de hoje.
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LEVIATÃ Leviafan Drama I 2014 I Rússia I 141 min. I 18 ANOS Direção I Andrei Zviagintsev Versão original em russo. Legendas em português Exibição I DCP _Numa península na costa da Rússia, um pai de família luta contra os desmandos de um prefeito corrupto. Para enfrentar o político que tenta desalojá-lo, ele recorre a um amigo advogado de Moscou. O filme foi premiado no Festival de Cannes, em 2014.
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SUFOCAMENTO Tesnota Drama I 2017 I Rússia I 118 min. I 14 ANOS Direção I Kantemyr Balagov Versão original em russo. Legendas em português Exibição I DCP _Vencedor do Fipresci no último Festival de Cannes (Um certo olhar), o primeiro longa-metragem do jovem diretor Kantemyr Balagov conta a história de Ilana, que vive em uma modesta família judaica na cidade de Nalchik. Aos 24 anos, ela trabalha na garagem de seu pai para ajuda-lo a pagar as contas da casa. Uma noite, na pequena cidade de Nalchik, sua família e amigos se reúnem para comemorar o noivado do seu irmão mais novo, David. Mais tarde nesta mesma noite, o jovem casal é sequestrado, e uma quantia é imposta em troca dos reféns. A única maneira de conseguir o dinheiro é que Ilana se submeta a um casamento organizado com um rapaz de uma família rica, o que para ela representa, de qualquer maneira, um desastre.
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_Andrey Plakhov
_O cinema contemporâneo, cansado de remakes e auto-repetições, procura desesperadamente novos talentos e territórios. A quantidade de estreias cinematográficas no mundo está se multiplicando, mas as descobertas são raras. O caso de “Sufocamento” é exatamente aquele caso raro. Kantemir Balagov cresceu em Kabardino-Balkaria e deu voz, uma imagem para este pequeno país, terra ainda incógnita para o cinema. No entanto, “Sufocamento” não é de forma alguma um filme étnico: não possui a paisagem exótica do folclore. A paisagem caucasiana com cumes e cachoeiras só aparecerá no final e, depois de tudo o que vimos antes, não será percebida como “belezas naturais”. O filme acontece neste mesmo “Sufocamento” que o título do filme carrega e é enfatizado pelo “espremido” formato arcaico de tela 1.33:1. Qualquer coisa feita pelos protagonistas (mesmo a cena de sexo), sempre mostra planos apertados em corredores estreitos, salas mal iluminadas, pequenos apartamentos e carros, assim como na oficina mecânica onde trabalha a judia Ilana. Ela é interpretada pela atriz talentosa Darya Zhovner, que, sendo feminina e encantadora na vida real, cria na tela uma imagem de uma garota meio rude. Ela é um corvo branco em sua comunidade judaica que vive por um lado sob as leis do patriarcado-matriarcado caucasiano e, por outro de acordo com os conceitos pragmáticos da era do colapso pós-soviético. O filme acontece em Nalchik em 1998. Ao lado, acontece uma guerra chechena sem fim. O nível de criminalidade é alto e os seqüestros tornaram-se parte da prática diária. Em primeiro lugar, parece que o tema principal do filme serão as relações interétnicas em conflto. Mas, embora Ilana namore um homem kabardino, apesar dos planos familiares matrimoniais, não se trata de um “Romeu e Julieta”. E nem “Titanic”, cujo poster esfarrapado aparece na parede. Se é uma história de amor, este é aqui é forçado. Trata-se muito mais da fuga da família, do clã, do “sufocamento” com o qual os pais asfixiam seus filhos, desejando-lhes, obviamente, “apenas o melhor”. Ilana é uma filha ruim, mas o seu irmão David é um bom filho. E não é sua culpa, é claro, que ele e sua noiva sejam seqüestrados por pessoas desconhecidas logo nos primeiros episódios da filme. O desenvolvimento do enredo, focado na busca de uma saída e um resgate, altera a ordem dos acentos morais, não apenas do ponto de vista externo, mas também na posição da família e também na posição religiosa ortodoxa: a principal vítima, a heroína trágica desta história se torna a “rameira”.
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O mundo que surgiu após o colapso do império soviético lembra um mundo bíblico, primitivo, pré-histórico. A vida social aqui é minimizada. Apenas o
clã, a família e a tradição são solidários. Todos estão trancados em um gueto voluntário, do qual é muito difícil sair. O Cáucaso com seu espírito de montanha livre é de fato uma armadilha, uma prisão que estrangula os bons impulsos e talentos. Kantemir Balagov conseguiu escapar, não apenas fisicamente, mas também criativamente. Isso aconteceu devido ao encontro com Alexander Sokurov, cuja fundação “Exemplo de entonação” foi a produtora do filme. O retorno ao solo nativo tornou-se frutífero para a estreia. As realidades e os detalhes da experiência emocional adolescente foram recriados - das músicas histéricas de Tatyana Bulanova e Timur Mutsuraev até às sessões amadoras com a demonstração do “vídeo checheno” do brutal massacre de soldados russos. Tudo isso não é uma tentativa de chocar alguém, porém um “Amarcord” do autor, que apesar da juventude merece a tal comparação. Embora seja lógico comparar o filme de Balagov não com as obras-primas de Fellini, mas com as obras de seu homólogo canadense Xavier Dolan, cuja “Mommy” também é dedicada em grande parte ao sufocamento das relações familiares e à tentativa de livrar-se disso. Para Dolan, assim como para Balagov, a imagem de uma mãe despótica amorosa torna-se arquetípica. No entanto, embora Dolan já tenha feito oito longas, o seu traço típico ainda continua sendo o infantilismo emocional. As emoções de Balagov são escondidas mais profundamente e não há nenhum herói lírico: nesse sentido ele é um discípulo fiel de Sokurov com seu senso de histórico profundo. A liberdade e a maturidade também estão obvias na escolha do nome. Logo lembramos do jovem Sokurov e seu filme “A voz solitária do homem”. O destaque na vanguarda de todo o curso de direção do estúdio de Kabardino-Balkar dá esperança de que a voz dessa terra não seja solitária.
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PA LES TRAS E
MESA-REDONDA
Rússia: um quarto de século através do cinema
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com Maria Vragova e Luiz Gustavo Carvalho
MARIA VRAGOVA _Após terminar seu mestrado em filologia da língua e literatura portuguesa, em 2004, a russa Maria Vragova vem contribuindo como produtora cultural em diversos projetos artísticos, estabelecendo um grande elo cultural entre o Brasil e a Rússia. Através da fundação “Russian Avangarde”, organizou a primeira retrospectiva de Oscar Niemeyer no Museu de Arquitetura de Moscou. No Brasil, foi responsável pela direção executiva da exposição “Antanas Sutkus: Um Olhar” e da exposição “Assim Vivíamos”, de Vladimir Lagrange.
LUIZ GUSTAVO CARVALHO _Realizou os seus estudos de piano em Belo Horizonte, Viena e Moscou, com Magdala Costa, Oleg Maisenberg e Elisso Virsaladze. A sua carreira pianística leva-o às principais salas de concerto da América Latina e Europa, tais como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a Tonhalle de Zurique ou a Grande Sala do Conservatório Tchaikovsky. O seu vivo interesse por outras linguagens artísticas, proporcionaram-no um intensivo contato com importantes artistas, tais como os fotógrafos Antanas Sutkus e Vladimir Lagrange, os atores Charles Gonzalès e Chulpan Khamatova, o poeta Tomaz Salamun e o cineasta Algimantas Puipa.
PALESTRA
Balabanov e o cinema da Rússia pós-soviética
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com Anton Dolin
ANTON DOLIN _É crítico de cinema. Nasceu em Moscou em 1976, estudou no departamento de filologia da Universidade Estadual de Moscou. Trabalhou nas estações de rádio Ekho Moskvy, RSN, Kino FM, Mayak, Vesti FM, jornais Gazeta, Vechernyaya Moskva, Vedomosti, Moscow News, como autor permanente das revistas Afisha e “Arte do Cinema”, apresentador de cinema no programa de televisão “Vecherni Urgant”. Autor de cinco livros, recebeu três vezes o prêmio da Guilda dos críticos de cinema da Rússia.
PALESTRA
O cinema de Aleksey Guerman
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com Anton Dolin
MESA-REDONDA
Cinema na Rússia atual: conformismo ou resistência? com Anton Dolin e Luis Felipe Labaki
LUIS FELIPE LABAKI _Luis Felipe Labaki (São Paulo, 1990) é cineasta, tradutor e músico. Formou-se em Audiovisual na ECA-USP e é Mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela mesma escola. Realizou os curtas “O Pracinha de Odessa” (2013) e “Que tal a vida, Camaradas?” (2017). Para o teatro, escreveu “O Balneário” (2012) e “Os Fins do Sono” (2016), ambas encenadas pelo Coletivo Cardume. Trabalha também como tradutor do russo, tendo traduzido obras de Daniil Kharms e dos cineastas Esfir Chub, Artavazd Pelechian e Dziga Viértov. Em 2017, foi co-curador do ciclo de documentários soviéticos “100: De Volta à URSS”, realizado no 22º É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários.
PALESTRA
Novas vozes do cinema russo com Anton Dolin
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quarto de século RÚSSIA um através do cinema 19 set
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01 out 2017
Curadoria Maria Vragova e Luiz Gustavo Carvalho Direção Executiva Maria Vragova Direção Financeira Marcos Antônio Miranda Identidade Visual e Design Gráfico Phamela Dadamo Assessoria de imprensa Bárbara Chataignier Legendagem 4 Estações Técnico de projeção Matheus Tiengo
Cinemas 1 e 2 Av. Almirante Barroso, 25 . Centro
Agradecimentos Anton Dolin, Andrei Plakhov, Andrei Kassimov, Alessandro Cerri e Studio Cerri, Alexandre Barros, Luiz Guilherme, Leonid Zagalsky, Hanna Polak, Natalia Meshchaninova, Jacob Katsnelson, François Andes, Leonardo Perreira, Luis Felipe Labaki, Artem Fomin e Consulado da Rússia no Rio de Janeiro
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