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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
MÁRIO HERNANDES BALENTI
A ARTE COMO CANAL DE EXPRESSÃO. CAMINHOS POSSÍVEIS PARA UMA EDUCAÇÃO DO SENSÍVEL.
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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ERTE VISUAIS
MÁRIO HERNANDES BALENTI
A ARTE COMO CANAL DE EXPRESSÃO. CAMINHOS POSSÍVEIS PARA UMA EDUCAÇÃO DO SENSÍVEL.
Canoas, 15 de junho de 2011.
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Mário Hernades Balenti
A ARTE COMO CANAL DE EXPRESSÃO. CAMINHOS POSSÍVEIS PARA UMA EDUCAÇÃO DO SENSÍVEL.
Trabalho de curso apresentado como prérequisito parcial para obtenção de título acadêmico de Licenciado em Artes Visuais, pelo Curso de Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Celso Vitelli, Jurema Roehrs e Ana Lúcia Beck.
Canoas, 15 de junho de 2011.
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Ao companheiro e amigo Paulo Fochi que muito me incentivou nos momentos difĂceis de estĂĄgio, aconselhando e indicando autores que pudessem dialogar com meu projeto de ensino Dedico-lhe esta conquista com gratidĂŁo.
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Agradeço a ajuda prestimosa de minha orientadora, Ana Lúcia Beck, pela paciência, e carinho com que me acompanhou neste processo. Agradeço a meus colegas de turma pelo apoio e estímulo.
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“Se o homem fosse realmente livre para ser ele mesmo, sem se reprimir ou obedecer a normas de conduta, seria um ser mágico, como os loucos e as crianças são.” Joãosinho Trinta
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RESUMO
O presente Trabalho de Curso foi desenvolvido a partir do projeto de ensino em Artes aplicado em duas escolas de Porto Alegre: Escola de Ensino Fundamental Rio de Janeiro e o Colégio de Aplicação da UFRGS. Duas instituições de ensino em condições opostas de infra-estrutura e projeto educacional. Ao longo de 14 semanas foram ministradas aulas de Artes na tentativa de propor atividades alternativas às práticas observadas dos professores titulares, buscando atrair maior interesse dos alunos aos conteúdos da disciplina. Foram apresentados às duas turmas exercícios de sensibilização em materiais, proporcionando um primeiro contato com suas possibilidades expressivas, seguidos da apresentação de trabalhos do artista Cho Dorneles, reflexão sobre suas obras e atividade prática de conclusão. No ensino fundamental, foi apresentada aos alunos a obra do cenógrafo Joãosinho Trinta, propondo uma reflexão sobre a diversidade de materiais utilizados nas alegorias de carnaval. Como uma das atividades práticas foi apresentada a proposta da construção de uma maquete de uma escola de samba. No ensino médio, após o contato com vários materiais, seguiu-se a proposta de criação e construção de um esquisito personagem em forma tridimensional. Após concluídas, as esculturas, foram apresentadas as obras dos artistas que fizeram parte da Semana de Arte Moderna de 22, analisando suas características e impacto no movimento a cultura Nacional. Durante o período de estágio, muitas situações inesperadas surgiram diante da realidade da sala de aula que me constantemente fizeram resignificar os conteúdos para manter a turma atenta à proposta de ensino. A infra-estrutura oferecida para o exercício da disciplina de artes expôs uma série de dificuldades colocando em questão as idéias preconcebidas de escola ideal.
Palavras-chave: Educação. Realidade. Ressignificação. Sensibilização.
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SUMÁRIO Introdução ........................................................................................................ 10 1. Reconhecimento do espaço de ensino......................................................... 13 1.1. Infra-estrutura das escolas ............................................................. 14 1.2. Histórico do Colégio de Aplicação da UFRGS ................................ 14 1.3. Histórico da Escola de Ensino Fundamental Rio de Janeiro ........... 16 1.4. Observações silenciosas ................................................................ 17 1.5. Análise das observações silenciosas .............................................. 18 1.5.1. Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro ... 18 1.5.2. Colégio de Aplicação da UFRGS ...................................... 21 1.6. Análise dos questionários do ensino fundamental .......................... 24 1.6.1. Análise do questionário respondido pelo diretor ................ 24 1.6.2. Análise do questionário respondido pelo coordenador ...... 25 1.6.3. Análise do questionário respondido pelo professor ........... 26 1.6.4. Análise do questionário respondido pelos alunos ............. 26 1.7. Análise dos questionários do ensino médio .................................... 27 1.7.1. Análise do questionário respondido pelo diretor ................ 27 1.7.2. Análise do questionário respondido pelo coordenador ...... 27 1.7.3. Análise do questionário respondido pelo professor ........... 28 1.7.4. Análise do questionário respondido pelos alunos .............. 29 1.8. Motivo da escolha do tema de pesquisa em artes visuais............... 29 1.8.1. O trabalho de artes no Ensino Fundamental e Médio: Qual é o “canal”? ......................................................................... 29 2. O homem e a necessidade de expressão .................................................... 35 2.1. Cho Dorneles .................................................................................. 38 2.2. Niki de Saint Phalle ......................................................................... 42 2.3. Antoni Gaudi i Cornet...................................................................... 43 2.4. Papel Machê ................................................................................... 47 2.5. Mosaico .......................................................................................... 50 2.5.1. História do Mosaico ........................................................... 51 2.6. Joãosinho Trinta ............................................................................. 53
8 3. Projeto e prática de ensino ........................................................................... 55 3.1. Prática de ensino E. E. E. F. Rio de Janeiro ................................... 56 3.2. Prática de ensino E. E. M. C. Aplicação da UFRGS ....................... 93 4. Considerações Finais ................................................................................. 131 Referências .................................................................................................... 145 Apêndice1 .......................................................................................... 149 Apêndice 2 .......................................................................................... 152 Apêndice 3 .......................................................................................... 155 Apêndice 4 .......................................................................................... 162 Apêndice 5 .......................................................................................... 168 Apêndice 6 .......................................................................................... 173 Anexos ........................................................................................................... 176
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INTRODUÇÃO O Trabalho de Curso ora apresentado reflete algumas questões sobre a proposta de ensino em artes, aplicadas em duas instituições educacionais de realidades opostas. A Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro e o Colégio de Aplicação da UFRGS. A experiência de estágio e convívio diário nestas duas escolas possibilitou uma observação maior dos diferentes condicionantes na atuação do professor de artes. Neste trabalho faço um comparativo das práticas mediante situações diferenciadas surgidas em sala de aula que me exigiram ações mediadoras, muitas das quais eu não estava preparado a enfrentar. Como a prova de controle e autoridade que ocorreu já no terceiro encontro na Escola de Ensino Fundamental Rio de Janeiro. Ou até mesmo a mudança de Artista e obra para tentar atrair os alunos na re-significação de conteúdo mudando o plano que estava sendo aplicado na escola. Outra questão surgida nas primeiras Observações Silenciosas a partir da prática de ensino dos dois professores titulares e que motivou o tema deste Trabalho de Curso, surgiu da desmotivação dos alunos em relação as aulas de arte. Enquanto na Escola Estadual era manifestada na taxa de evasão que chegava a metade da turma, no Colégio de Aplicação os alunos estavam presentes na sala de aula mas ausentes em espírito. É claro que podemos considerar, em parte, que na escola estadual a evasão é provocada também por outros motivos estruturais do ensino público. Mesmo assim é muita gente do lado de fora. Este comportamento apático ou reativo a disciplina de arte tornou-se meu ponto de partida para o tema que venho abordar neste Trabalho de Curso: A Arte como Canal de expressão: Caminhos possíveis para uma educação do sensível. Separando uma lista de frases coletadas na pesquisa feita com os alunos sobre o que eles entendem por arte e o que mais gostariam de fazer na disciplina, percebi que havia uma expectativa frustrada pela abordagem dos professores. Lendo os questionários dos alunos do ensino fundamental, eles estabeleciam uma relação entre a disciplina com os momentos de saída da escola, pouco se relacionava artes à expressão artística.
Enquanto no ensino médio os alunos
relacionaram as aulas de artes a conhecimento de história e atividades práticas mas também pouco se relacionou arte a canal de expressão. Se as demais disciplinas
11 impõem aos alunos o mesmo papel passivo de depositários de conhecimentos desconexos de suas realidades, bem que o ensino de arte poderia ter um significado diferente. A disciplina de arte não é “o canal” na escola. Esta expressão, muito usada pelos adolescentes para caracterizar algo significativo do seu cotidiano, passou a ser o meu ponto de contato com as duas turmas para refletir sobre a importância da arte como veículo de expressão de sentimentos e idéias. Sem estabelecer esta relação com a disciplina não havia sentido estarmos na escola. Era importante propor uma atividade que lhes possibilitasse uma experiência sensória, que passasse pelo corpo e virasse expressão. Tornar o aluno um ser ativo e participante do fazer arte. Mas para conseguir utilizar deste “canal” era importante estabelecer um acordo de investigação de materiais tornando a atividade artística um momento de prazer e comunicação, apropriar-se das ferramentas necessárias, para construir idéias e torná-las concretas. A primeira ferramenta explorada em ambas escolas foi a descoberta do papel machê, observando as obras de Cho Dorneles, criando formas com papel e cola, depois as duas turmas seguiram propostas diferentes conforme o currículo da escola. Os alunos da Escola de Ensino Fundamental Rio de Janeiro montaram uma maquete de escola de samba inspirada nas alegorias de Joãosinho Trinta enquanto cada aluno do Colégio de Aplicação da UFRGS construiu uma escultura do “Esquisito”, personagem imaginário que representasse a sensação de não pertencimento e solidão de um individuo fora do grupo de amigos, para depois então abordarmos a Semana de Arte Moderna de 22. Em cada escola o processo de descoberta do fazer artístico foi muito rico e contraditório, em vários momentos parecia que as aulas estavam acontecendo plenamente e outros nem tanto, necessitando um jogo de cintura estressante para que o trabalho não caísse no vazio. O resultado apresentado nas duas exposições realizadas em ambas escolas comprova que é possível realizar um trabalho que contemple o exercício de criação e ao mesmo tempo aquisição de conhecimentos em arte para vida. Mas, acredito também que este resultado pode ser alcançado muito em função da dedicação e disponibilidade de tempo para pesquisa de materiais e preparação de aulas, características do estágio. Um professor de Artes, em ritmo normal de trabalho, em salas super lotadas, sem infra-estrutura e baixos salários, dificilmente
12 conseguirรก aplicar um projeto de ensino criativo sem esbarrar no sistema paralisante da escola tradicional.
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CAPÍTULO 1. RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO
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1. RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO 1.1. A Infra-Estrutura das Escolas Para o bom desempenho do ensino de Artes Visuais na Escola se faz necessário atenção especial as características da disciplina. Oportunizar aos alunos o acesso a obras de arte através de reproduções de qualidade bem como a experimentação e manuseio de diversos materiais expressivos, são
elementos
básicos da produção de conhecimento em arte. Logo os espaços e equipamentos devem estar adequados a esta prática, este cuidado revela e importância que a disciplina é dada no desenvolvimento da formação do educando. Cada escola tem sua gênese comportamental, ou seja, os motivadores pelos quais elas foram criadas, estes vetores passarão a nortear as diretrizes pedagógicas, o perfil de educadores que farão parte do quadro funcional além da proposta arquitetônica resultar do diálogo com o projeto de ensino.
1.2. Histórico do Colégio de Aplicação da UFRGS Nota-se claramente que o Colégio de Aplicação (CAp), por ser uma instituição mantida pela tradicional e conceituada UFRGS esforça-se para manter-se atualizado nas suas ações pedagógicas. Em suas metas de ensino conforme sua identidade consta: 1 O CAp deve assumir a responsabilidade de ser uma Escola envolvida com a construção de alternativas curriculares que atendam a todos nas suas diferenças. A concepção de educação deve contemplar uma visão de futuro que considera a condição humana como objeto essencial de todo ensino. As proposições educativas devem promover a emancipação e a justiça social com base nas trocas de construções entre o sujeito e o coletivo.
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http://www.cap.ufrgs.br/interno.php
15 A proposta educacional, nas diferentes áreas de conhecimento, deve proporcionar ações vinculadas ao ambiente que busquem a compreensão dos aspectos sociais, políticos, históricos e econômicos que interagem no componente ambiental. O CAp deve assumir a responsabilidade de ser uma Escola envolvida com a construção de alternativas curriculares que atendam a todos nas suas diferenças. A concepção de educação deve contemplar uma visão de futuro que considera a condição humana como objeto essencial de todo ensino. A escola instalada em novo prédio anexo ao campus no bairro Agronomia, possui uma área construída cercada de vegetação. É um ambiente agradável com grandes janelas por onde o sol entra sem cerimônia. O saguão de entrada é amplo possibilitando a permanente exposição de trabalhos artísticos. Ao entrar para as salas os alunos sempre encontrarão alguma forma de manifestação artística, nota-se que a escola está voltada para a suas expressões, os alunos sentem orgulho de estar nesta escola. Mais da metade dos entrevistados declarou que não falta nada para as aulas de artes. Outro fator determinante é a livre escolha da modalidade de expressão artística que pode ser escolhida entre música, teatro e artes plástica. Embora saibamos da dificuldade em escolher qual optar em detrimento da própria faixa etária, ainda assim, a escola oferece um “canal” de escolha é oferecido pela instituição. A escola tem sua origem como escola-laboratório da Faculdade de Filosofia foi criado em 1954 a novas propostas pedagógicas, conforme diz no site da instituição:
O Colégio de Aplicação da UFRGS, criado em 14 de abril de 1954 como escola-laboratório da então Faculdade de Filosofia, de acordo com o decreto-lei 9.053 de 12 de março de 1946, vem desenvolvendo novas propostas pedagógicas, sendo pioneiro, no trabalho com classes experimentais, conselho de classe, conselho de classe participativo, professores especialistas nas disciplinas de Educação Física, Música e Línguas Estrangeiras nas séries iniciais, ensino por níveis em Língua Inglesa e, também o oferecimento de Espanhol, Francês e Alemão como partes integrantes do currículo, implantação de laboratórios de ensino, desenvolvendo estudos especiais e atendimento às diferenças individuais, tendo em vista a recuperação e aceleração do ensino, opção por modalidades esportivas, projeto interdisciplinar em 5ª e 6ª séries do ensino
16 fundamental, oferecimento de Artes, Teatro e Música em todas as séries da educação básica e outros projetos de pesquisa e extensão, em anexo. 2
A escola possui duas salas para artes plásticas com tanque, mesas grandes e armários para a expressão dramática e refletores assim como a expressão musical possui a sua sala. Os Professores dispõem de data show, sala de projeção e um amplo material de livros também, possuiu uma sala com caixa preta ( palco para ensaios os de artes oriundos da uma das bibliotecas da universidade). Com tamanha infra-estrutura não foi por acaso que o Colégio de Aplicação participou do Projeto Pedagógico da 7ª Bienal do Mercosul – na proposta de construção da obra coletiva da artista Diana Aisenberg (Argentina), permanecendo exposto no saguão do CAp, com trabalhos de alunos de outras quatro escolas participantes do evento, até o dia 29/11/2009. Mesmo estando fora do centro da cidade o acesso ao conhecimento é seu vizinho do lado, ou, bate naturalmente à sua porta.
1.3. Histórico da Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro
Fundada em 1936 com o nome de “Aulas Reunidas” a escola funcionava na Rua José do Patrocínio, 326, na época era atendida por duas professoras, em 1947 passou a se chamar Grupo Escolar Rio de Janeiro. O endereço atual da Rua Lima e Silva veio em 1978. Atualmente a escola conta com 682 alunos no ensino regular, a maioria dos alunos moram próximos a escola e outra parte são filhos de pais que trabalham na Cidade Baixa.
O corpo docente é formado por 51
profissionais entre Professores e especialistas em Educação. Localizada no bairro boêmio de Porto Alegre a Escola Rio de Janeiro é mantida pelo governo do estado seguindo o padrão de dificuldades do atual ensino público. O prédio antigo deu lugar a uma construção nova com grande pátio na entrada, com quadra de esporte, internamente possui áreas arborizadas mas sem 2
http://www.cap.ufrgs.br/interno.php
17 nenhum tratamento, o abandono na manutenção se faz bem presente. Sem pintura e vidros quebrados a escola possui uma má aparência. Já na entrada os conflitos na portaria são uma constante, em várias ocasiões encontrei professores discutindo com alunos
por motivo de indisciplina,
a evasão durante o período de aula é
frequente. A escola possui uma pequena sala de artes no segundo andar do prédio que, com certeza não comportaria a todos os alunos matriculados no turno. As paredes estão sujas assim como as cortinas. Estando localizada próximo do centro da cidade viabiliza a visita de museus, exposições e peças de teatro.
1.4. Observações Silenciosas
À medida que o estágio de observação silenciosa foi acontecendo, registros do meu processo escolar foram inundando meus pensamentos, e, por diversos momentos, confrontando as experiências que vivi quando aluno à aproximadamente 30 anos com as que hoje estou observando. O meu processo escolar aconteceu em meados da década de setenta, onde por sua vez estudei grande parte em colégios regidos por congregações religiosas onde se aplicava a pedagogia da época, e neste mesmo momento, ocorria a ditadura militar no Brasil. Durante este período, muitos movimentos pedagógicos foram sufocados arrastando por anos um determinado modelo de ensino. Por sua vez, ao presenciar o cotidiano escolar atual, me chama a atenção perceber por que vias as relações entre professor e aluno, aluno e aluno, e até mesmo, o papel da escola foram evoluindo com o tempo. Com isso, percebi o quanto se faz necessário o trabalho de observação silenciosa anterior ao momento de intervenção, pois as figuras e suas respectivas funções dentro do processo de escolarização – em especial a figura de autoridade do professor – sofreram grandes mudanças e com isso, suscitou em mim a necessidade de rever conceitos e esboçar quem sabe uma forma de vivenciar futuramente a minha prática.
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1.5. Análise das Observações Silenciosas
1.5.1. Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro
Antes de qualquer observação referente ao trabalho desenvolvido na disciplina especificamente, é importante fazer alguns destaques referente à estrutura do ensino público hoje. Ao chegar nesta escola, a supervisora se demonstrava aflita em relação a possibilidade do quadro de professores não estar completo para aquele dia, e os pais na portaria da escola, buscando por uma afirmativa se neste dia haveria a presença de todos os docentes, deixando em evidência que era recorrente a falta de professores nesta escola, e, para nenhuma surpresa, faltando apenas 10 minutos para a entrada dos alunos, só existiam 3 professores na sala. A turma observada, 5º série 51, uma turma “terror” segundo os professores, compõem com 38 alunos matriculados sendo que: 9 foram transferidos, 4 evadidos e 6 alunos não assistem a aula de arte. Conforme observado, desses 38 alunos, em média 15 alunos estavam presentes durante as 7 horas observadas. De toda forma, seria inimaginável os 38 alunos dentro da pequena sala de artes que a escola dispõem. A professora, em conversa paralela, comenta que, neste período do ano, os alunos estão “melhores”, pois, em função de que o público da 5ª série ser oriundo de outras escolas, no início do ano letivo é sempre complicado por vários fatores como bullying, e de questões até mesmo da idade dos alunos. A observação feita em relação ao desenvolvimento das propostas em artes nesta escola trazem peculiaridades interessantes. A professora inicia com a solicitação para que em duplas, os alunos criem através de um desenho um personagem brasileiro em uma cena. Durante esta atividade, alguns realizam, porém, outros estão terminando trabalhos para outras disciplinas, e outros ainda, estão vagando, ouvindo música e etc. Nesta aula a professora anuncia a saída para o cinema e solicita os materiais alternativos para as próximas aulas.
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Foto da sala de artes (Fonte: BALENTI, 2010)
Na aula seguinte a professora solicita que os alunos representem o personagem desenhado na aula anterior através de uma construção com material alternativo. Faz-se necessário destacar que, a professora ao ofertar os materiais, em momento algum, sensibilizou os alunos a perceberem aquela matéria prima, e com esta reflexão, perceber as possibilidades que poderiam surgir para a execução da tarefa. Também, a professora não fez nenhuma intervenção no que diz respeito as possibilidades de uso dos materiais, como por exemplo, como fixar uma garrafa pet a outra, ou, como colar tecido em garrafas pet ou plástico. Era perceptível que os alunos, na medida em que percebiam a falha nas tentativas de construção, foram automaticamente limitando as possibilidades, deixando uma atividade pobre e bastante desmotivadora. É interessante destacar que, segundo os questionários realizados com os alunos, eles mencionaram o gosto e o desejo em trabalhar com materiais alternativos, porém, também apontam que sentem falta, em alguns momentos, da intervenção maior da professora. Essa prática vazia é comum no ambiente escolar, ou o professor fica preso à técnica e esquece a possibilidade da expressão presente e inerente do processo criativo, ou o professor espera, utopicamente, que sem técnica e instrução alguma, talvez imaginando que por “dom”, os alunos venham a expressar-se através de materiais os quais não dominam o uso e técnicas para sua construção. Silvia Pilotto (2007, p.114), no seu artigo Educação pelo sensível , diz que:
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A escola, apesar das inúmeras pesquisas realizadas sobre métodos contemporâneos para a educação, ainda continua priorizando em suas práticas um ensino e aprendizagem voltada ao pensamento linear, disciplinar e consequentemente fragmentado. A educação pela via do sensível é por vezes considerada menos importante que os aspectos cognitivos, que indicam na concepção de algumas escolas sucesso futuro.
Conforme avisado aos alunos, na aula seguinte foi feito a visita ao cinema para assistir o filme “Pequenas Histórias” do diretor Helvécio Ratton com o objetivo de observar os personagens. A ida ao cinema apresenta ao professor uma situação imprevisível. Como controlar um grupo de adolescentes ao cruzar o centro da cidade sem interagirem com tudo o que acontece no trajeto. A saída da escola é muito estimulante e também apontada nos questionário como uma das atividades preferidas dos alunos. A necessidade de expressão do grupo é inerente à faixa etária, faz parte da sua natureza. Os professores não conseguem compreender este fato e se incomodam mais que o necessário tentando a todo o momento conter o incontrolável. A sessão de cinema ocorreu com a censura constante ao menor riso ou gargalhada dos alunos às engraçadas cenas que tomaram a atenção deles desde o início do filme. Isto revela que o roteiro, direção e atores captaram a atenção dos alunos, e que os professores deveriam entender que assistir a uma sessão de cinema ou teatro não obriga ninguém ficar calado pois acessa emoções de riso, indignação, concordância ou discordância. Afinal, o que significa ser educado dentro de uma sala de projeção ou espetáculo? É estar mudo? Isso demonstra a necessidade urgente para que professores reflitam o que é disciplina ou indisciplina. Na seguinte aula a professora propõe aos alunos que
desenhem o
personagem do filme assistido que mais gostaram, recortem papéis e colem sobre o desenho. Os alunos parecem não entender a proposta, para exemplificar a professora mostra um quadro com um trabalho realizado representando uma paisagem estereotipada de uma casinha, sol etc... com papel colado. A proposta apresentada parece não corresponder à faixa etária do grupo,
propor a
adolescentes 5ª série do fundamental colagens em desenhos pressupõe que eles ainda não saíram da linha e adentraram no universo bidimensional. Ao final da aula poucos realizam a tarefa.
21 Talvez essa seja uma forma de justificar o descaso existente em relação à disciplina de artes nas instituições de ensino, por acontecer, em geral, numa prática vazia, sem critérios, e sem aparentemente objetivo algum, ou até mesmo utilizada para ser a “perfumaria” da escola, confundida como período pra decorar e enfeitar a instituição.
1.5.2. Colégio de Aplicação da UFRGS
No Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a turma de alunos do Ensino Médio, demonstra uma situação totalmente diferenciada, primeiro pela possibilidade dos alunos escolherem entre as atividades artísticas que desejam fazer, e desta forma, não passando de mais de 15 alunos em cada turma, e ao mesmo tempo, uma escola com infra-estrutura, equipamentos e materiais para o desenvolvimento das aulas. Mesmo com tudo isso, a relação apática dos alunos é algo considerável, demonstrada nas relações vivenciadas em sala e na consideração, ou falta dela, em relação aos trabalhos solicitados e a figura da professora.
Alunos do Colégio Aplicação (Fonte: BALENTI, 2010)
Quando comecei as observações silenciosas uma tarefa já estava em andamento, consistia que cada aluno pesquisasse referente a um movimento artístico e o organizasse em forma de apresentação de POWER POINT a ser
22 compartilhada com os colegas. Em consonância a essa atividade, os alunos fariam uma instalação que seria encaminhada para a BIENAL. Ocorreu ainda o fato de que no primeiro dia a professora de Música não estava na escola, e os alunos de Artes e Música ficaram juntos. No último dia observado, a sala de datashow estava ocupada, obrigando os alunos a culminarem suas apresentações na sala dos professores utilizando apenas um monitor. Referindo-se às apresentações, a apatia dos alunos foi notável, de todos os trabalhos apresentados, apenas um teve destaque, uma aluna que apresentou o POP ARTE, demonstrando o engajamento e até mesmo a identificação com o tema, os demais, utilizaram poucas imagens, de apresentação empobrecida e textos curtos e nitidamente copiados da internet. Observei a necessidade do professor trabalhar dentro de uma realidade do adolescente para estimulá-lo a entrar no universo artístico. A pesquisa realizada aponta que a maioria dos alunos considera as aulas de Artes importante por ser um “canal” de auto-expressão mas a necessidade de avançar os conteúdos sobre os movimentos artísticos impediram que eles pudessem vivenciar uma experiência concreta de encontro com a arte.
Sobre isso, é importante destacar o que FERRAZ e FUSARI (1993) no seu livro Metodologia do Ensino da Arte nos dizem sobre a importância do professor agir como mediador de conhecimentos em artes, porém, também a importância do professor conseguir trazer as vivências dos estudantes como ponto de partida para novos saberes a serem aprendidos. É o que Vygotsky diria em conseguir observar qual a Zona de Desenvolvimento Real do aluno (aquilo que ele já sabe fazer sozinho) para então conseguir provocá-lo para o alcance de um novo patamar, a Zona de Desenvolvimento Proximal ( aquilo que ainda não é capaz de fazer sozinho mas é capaz de fazer em colaboração de um parceiro mais experiente). Ainda se tratando das apresentações, é inegável o vasto conhecimento da professora, muitas vezes até realizando a apresentação pelos alunos já que os mesmos não trouxeram nem mesmo o essencial. Porém, em alguns momentos, a professora não permitia que os alunos vivenciassem na prática possibilidades que estariam próximas deles compreenderem efetivamente, e desta forma, não conseguindo engajá-los nas propostas e assuntos.
23 Esse despreparo metodológico é ponto relevante num processo de ensino aprendizagem. O professor não pode saber apenas, tem que ter claro a forma que seus alunos poderão construir aquele conhecimento. No ensino de artes visuais é fundamental que os alunos relacionem a disciplina à auto- expressão. Também é necessário relacionar os movimentos artísticos (em algum momento) a um determinado grupo de pessoas, período histórico, que foram motivados por uma determinada necessidade de expressão. Durante algumas apresentações dos alunos e falas da professora, era comum ver alunos saindo da sala, meninas se arrumando, e para o meu espanto, alguns meninos dormindo. Ao final das apresentações de trabalho, os alunos, em pequenos grupos, foram convidados a realizarem intervenções em bancos da escola relacionado à algum movimento artístico apresentado. Neste momento da prática é que foi possível perceber um pouco de entusiasmo e engajamento dos alunos na proposta da professora. Porém esta se dará nos próximos dias, onde não acontecerá mais esta observação. Ainda se tratando da observação feita no Ensino Médio, os alunos foram convidados a construir uma instalação com o tema “Silêncio”, da artista plástica argentina Diane Aisenbergerg, que faz parte da 7ª Bienal do Mercosul. É curioso observar o sutil desejo de auto realização da professora nas tarefas dos alunos. A mesma, trouxe o material, deu as orientações do que fazer, e os alunos, apenas foram os executores do pensamento dela. Ela, por sua vez, usava de falas de incentivo dizendo que os trabalhos deles seriam observados por várias pessoas importantes, e que então, os mesmos deveriam se empenhar na execução, evidenciando que esta prática não mobiliza a auto expressão. A instalação era composta por uma cabine de tecido preto onde palavras relacionadas ao tema e pintadas em pequenas faixas de tecido foram penduradas no interior. Com tudo, é possível considerar que existe um longo caminho a ser percorrido no que diz respeito ao ensino de arte em instituições de ensino, podendo ser destacado as palavras de Idméa S. Siqueira e Maria Heloisa C. T. Ferraz: A formação do ARTE-Educador não é só fazer. Ela se completa quando acompanhada de estrutura teórica-prática equilibrada. O embasamento teórico consolida a atuação do professor, pois propicia a reflexão crítica e o
24 coloca em alerta diante de ocorrências que poderiam passar despercebidas. A teoria funcionará como consciência da prática, se estiver interligada a todos os momentos da ação do professor. Os fundamentos da ArteEducação têm como alicerce, portanto, a dialética entre a teoria e a prática, vivenciada principalmente na ação pedagógica, uma vez que a tomada de consciência crítica se faz na vivência e na experimentação da “ação de como educar, quando educar, em que educar, quem educar, por que educar... em ARTE por meio de quais caminhos, quais materiais e instrumentos (2008, p.48).
1.6. Análise dos Questionários de Ensino Fundamental 1.6.1. Diretor
Conforme o questionário feito com a diretora da Escola Estadual Rio de Janeiro, fica claro um descaso em relação ao mesmo pois realizou a entrega preenchida a lápis, com respostas incompletas e solicitando para que eu mesmo fizesse a transcrição à caneta. Nas respostas, para a diretora a associação entre arte, adolescência, escola e aprendizagem o que é evidenciado é o uso deste componente curricular – assim chamado na escola – como a “perfumaria” da instituição, fazendo ainda sinalizações de que a “arte é importante para vida”, o que diretamente este pensamento, é evidenciado nos outros questionários, em especial os dos alunos,
explicitando a disciplina de Artes, assim como a Matemática, o Português, deva assumir uma importância para a vida. Este pensamento de senso comum, de que a escola tem que ser um lugar para servir de ponte para o alcance de algum lugar, e logo, suas disciplinas devem ser os degraus desta ponte, torna clara que o currículo de Artes faz parte de mais um emaranhado de palavras sem sentido, que, supostamente foi copiado de forma leviana de trechos de livros, para que, aos olhos de um leitor, pareça sério e comprometido o trabalho que é realizado. Nas considerações que a diretora faz em relação às dificuldades para o desenvolvimento da disciplina, rapidamente é culpado os alunos e a falta de material, ainda aponta que o desinteresse dos alunos acontece em relação ao contexto que estes estão inseridos, e que a disciplina de Artes não conseguiria se
25 articular com adolescentes em função desta distância. Porém, vale destacar que neste ponto de vista é que se percebe que a escola não consegue canalizar na disciplina de artes um veículo de expressão e comunicação, e logo, se a escola deve estar contextualizada, como é que a disciplina de Artes poderia se distanciar da realidade dos alunos?
1.6.2. Coordenador
O questionário respondido pela coordenadora da escola é um reflexo do pensamento da diretora. Não somente por muitas respostas mostrarem um cruzamento, mas também por esta assumir um papel de preenchimento em relação à outra. Quanto ao seu papel, a coordenadora deixa claro que é atuar para garantir o cumprimento das questões legais, porém, mais especificamente, às administrativas. Curiosamente, ela pouco evidencia seu papel relacionando com questões ligadas à aprendizagem e prática pedagógica. A coordenadora ainda demonstra em seu questionário que muitas das ações realizadas na escola não são de seu total acordo, porém, numa questão hierárquica, ela age de acordo com seu superior. Ainda sobre sua função, ela se punha como uma mediadora entre professores e professores, professores e alunos, professores e gestores, buscando sempre encontrar pontos comuns entre as partes, ou seja, não atuando como uma intelectual da educação, provocando situações de crescimento e aprimoramento na instituição. Quando questionada sobre a importância da disciplina de artes, o que parece é uma tentativa de compensação da disciplina em detrimento às outras, buscando tornar útil na medida que esta se apresenta a disposição das disciplinas ditas sérias. E, em relação ao currículo, a função da disciplina é uma projeção da escola com os alunos, entendido isso como um desafio, uma vez que, o público da instituição é visto como inferior, e, nas participações em eventos da comunidade, é a forma mais evidente de demonstrar sua função na sociedade. Novamente é apresentado como dificuldade a falta de recursos da instituição e dos alunos.
26 Vale destacar que, a coordenadora iniciou sua formação acadêmica no curso de Artes, mais tarde realizando a transição para outro curso. A mesma comenta que na época percebia a disciplina de Artes como “secundária”, de qualquer forma, o conjunto de suas respostas no questionário deixam explícito que, essa visão ainda permanece.
1.6.3. Professor
A professora é licenciada em Artes Visuais, Pós-graduada em Psicopedagogia e Mestranda em Educação, atuando como professora à 18 anos. Segundo ela, quem elaborou o currículo de artes na escola foi ela mesma, e em seguida, apreciado pela supervisão. O discurso não se difere das anteriores, pois fala que a importância da disciplina de artes é em função do trabalho cognitivo e psicossocial. Aponta as mesas dificuldades – recursos materiais – e acredita que a maneira de estimular os alunos são recursos materiais diferentes. O mais assustador é a professora licenciada em artes não perceber esta área do conhecimento como expressão, como canal de comunicação, demonstrando em sua prática o uso da disciplina para o aprendizado de algumas técnicas, talvez se relacionando com sua experiência de escola que ela viveu destacando como lembrança o aprendizado de flauta, mas não como canal de expressão.
1.6.4. Alunos
Quanto aos questionários dos alunos, o que torna claro inicialmente que a preferência dos mesmos em relação às atividades são as saídas da escola, depois a utilização de sucatas, pintura e desenho. Os mesmos quando questionados sobre a importância da disciplina destacam que a possibilidade de conhecimento proporcionado, porém, nenhum fala da importância destacando como forma de expressão. Esta relação é a chave entre todos os questionários: primeiro a gestão escolar não entende como canal de expressão, segundo, a professora não viabiliza, a coordenadora não percebe sua função em relação ao processo de aprendizagem e o produto final disso, é o aluno percebendo a disciplina apenas como área de
27 conhecimento. O que torna pior, é o fato de que Artes não é tema de vestibular, sendo assim, torna totalmente sem importância para a vida escolar.
1.7. Análise dos Questionários do Ensino Médio
1.7.1. Diretor
A partir das respostas dadas pelo diretor do Aplicação, é possível perceber que sua função não participa na elaboração e execução das atividades de artes, deixando a cargo dos professores. Porém, consegue perceber que Arte é um canal de expressão necessária, reconhecendo que os adolescentes têm grande identificação com a disciplina enfatizando que a escola tem esta percepção e procura ofertar aos alunos as mais variadas linguagens. Embora a escola disponha de um espaço privilegiado, o diretor comenta que seria interessante ampliar para garantir a possibilidade de expressão dos alunos. Ele é formado em Química, especializado em Educação Química, mestre em Ecologia e Doutor em Informática na Educação.
1.7.2. Coordenador
O ponto de maior destaque no questionário feito com a coordenadora é a sinalização de que nesta instituição o nome coordenador é substituído por articulador. Não somente uma mudança de nome, mas de percepção de sua função, sendo que esta relata que seu papel é encaminhar debates pedagógicos. É uma característica da escola, desde sua fundação, fazer este rompimento de paradigmas e buscar estar sintonizada com o mundo. Novamente no questionário da articuladora aparece a relação entre arte e expressão, estabelecendo uma relação entre arte e adolescência justamente como um canal.
28 A articuladora ainda afirma que a concepção da escola está baseada na proposta triangular, inspirada na Ana Mae Barbosa. Destaca a carga horária ampla da escola e os espaços escolares como pontos positivos da instituição no que diz respeito ao ensino de artes.
1.7.3. Professor
A professora é licenciada em Artes especialista em Metodologia do Ensino de Artes, cursa atualmente bacharel em Artes Visuais, além de atuar como professora de Artes Visuais na Instituição desenvolve oficinas de Descentralização da Cultura pela Prefeitura de Porto Alegre. Ela demonstra ter uma larga experiência na área tanto no que diz respeito a pratica como a pesquisa. Conforme ela, sua pratica está baseada na Proposta Triangular e sua participação na elaboração do currículo é ativa e constantemente refletida. Julga importante o ensino da arte para a construção de uma visão sensível e crítica frente ao contexto em que vivem. Ela destaca que as atividades que mais envolveu os alunos foi a intervenção feita nos bancos da escola em função da visibilidade que eles deram às suas idéias. E, sob o ponto de vista da professora, uma boa estrutura, um acervo de materiais são importantes para uma boa aula, porém, o que ela dá ênfase é sem dúvida o interesse dos alunos. Das dificuldades apontadas, ela reconhece a boa infra-estrutura da escola, mas atribui que a maior dificuldade está na indisposição dos alunos, que segundo ela, é característico nesta fase da vida. Talvez fique evidenciado que existe uma distância entre um conhecimento teórico e prático, pois, atribuir desinteresse a um determinado grupo de idade é o caminho pra justificar a falta de uma metodologia mais convincente, afinal, nas observações feitas, o que predominou nas aulas foram momentos expositivos com Data Show, pela manhã. É sabido ainda que, adolescentes, no turno da manhã, precisam de atividades onde o corpo esteja em exercício, e, esta questão metodológica é fundamental no exercício docente. A professora, em consonância aos outros questionários também aponta a relação entre arte e adolescente como uma forma de expressão, garante ainda a
29 importância da relação teórica e histórica com o cotidiano dos alunos a fim de que estes percebam, na trajetória histórica, os movimentos expressos. Entre as relações restabelecida entre as experiências como aluna e hoje como professora, ela aponta que quando discente o que era priorizada foram momentos práticos, deixando sempre uma lacuna em relação aos aspectos teóricos, e, fique evidente que hoje como docente o que ela privilegia é o apanhado teórico para posteriormente aparecer a prática.
1.7.4. Alunos
Segundo os questionários, os alunos apontam a relevância das aulas de Artes pela possibilidade de conhecimento e habilidades técnicas, e com um numero não tão significativo, percebe como canal de expressão. Destacam que nas aulas gostam das atividades práticas (desenho, pintura) e demonstram que não gostam de pesquisar e escrever sobre a história da arte, ficando evidente os caminhos distintos entre o desejo da professora e o desejo dos alunos. Embora escolheram Artes Visuais, 66,6% destacam como atividade que mais gostam a música, ficando o desenho com 55,5% em segundo lugar e 44,4% destacam grafite, fotografia, vídeo, cinema e dança. Quando questionados sobre a importância das artes para a vida deles, grande parte, 77,7% falam que é uma forma de expressão.
1.8. Motivo da escolha do tema de pesquisa em artes 1.8.1 O trabalho de artes no Ensino Fundamental e Médio: Qual é o “canal”?
Depois de ministrar cursos de teatro de bonecos para professores e artistas por anos, me deparei neste estágio com uma realidade surpreendente sobre a disciplina de artes visuais nas escolas. Percebi que os adolescentes não
30 relacionam a disciplina a sua necessidade de expressão, mas sim, como mais um obstáculo a ser enfrentado para então cumprir com o currículo escolar. Se a arte é uma necessidade de expressão do sentimento, para onde é canalizada mais esta frustração com a escola? Foi desdobrando uma expressão verbal muito usada pelos adolescentes “o canal”, que comecei a procurar artistas e formas de resgatar esta prática que já foi tão comum nas propostas do Movimento das Escolinhas de Arte, iniciado e 1948, e propagado até meados de 1971 por todo o Brasil,época em que engatinhava a idéia de cursos de arte-educação nas universidades e que somente foi criado em 1973. Se um dos objetivos desta disciplina é aquilo que versa sobre o campo da criatividade, na prática o que se observa foge completamente desta ideia. Enquadrados em 45 minutos de aula por semana, professores e alunos encontram um sistema complexo - que envolve currículo, tempo dedicado a disciplina de artes na escola, espaços e materiais inadequados e ou em falta - geram mais um motivo para evasão escolar.
Aquele ambiente que poderia provocar a curiosidade do
conhecer e o prazer da descoberta da auto-expressão da criança e do adolescente, torna-se mais um mecanismo de repressão artística. Mas então, qual é o canal possível na escola? Por onde passa esse canal? Pensando nas possíveis respostas destas perguntas, este projeto de estágio dialoga com autores que nos auxiliam a refletir sobre a educação pelo sensível (DUARTE JR, 2001), sobre o corpo como um elemento estético que pode proporcionar esta relação direta entre o que sentimos e o que produzimos (MALAGUZZI, 1999) e sobre os conceitos de arte no qual compartilho sentidos (FRITZEN; MOREIRA, 2008). A Arte também se aprende pelo corpo, pelos sentidos num processo de experiências e reflexões. A produção do conhecimento e o desenvolvimento de apuro estético se dá pelo contato sensorial do educando com a materialidade onde oportuniza a construção de significados a partir de sua vivência no contato com as obras de arte, artistas e materiais expressivos disponibilizados como ferramentas para sua expressão. Parece que o substrato intelectual contido na realização artística implica numa inteligência humana bem maior que a simples racionalidade abstrata: supõe , sim, um nível de compreensão “total” , digamos assim, em que se aprende o signo estético com o corpo inteiro e não apenas com a razão conceitual. Deste modo, a arte pode consistir num precioso instrumento para educação do
31 sensível, levando-nos não apenas a descobrir formas até então inusitadas de sentir e perceber o mundo, como também desenvolvendo e acurando os nossos sentimentos e percepções acerca da realidade vivida (DUARTE JR., 2001, p.23).
O desenvolvimento da criatividade se opera no cérebro através de uma cooperação neural proporcionada pela estimulação dos sentidos. Dançar, pintar, esculpir ou representar, são canais de expressão artística que desencadeiam esta ebulição na plasticidade cerebral provocando prazer e desenvolvimento da inteligência. Acreditamos na corrente evolutiva das novas ciências , sustentada pelo neurocientista americano Edleman, pelo biólogo francês Sanjeux e por Levi Montalcini, quando se referem a quadros de sinergia dos neurônios e das sinapses... Sanjeux fala em „resposta sinfônica do cérebro”, em cada parte está relacionada com as outras... eis o motivo pelo qual a apoiamos. [...] a imaginação absorve tudo, o cognitivo, o expressivo, o sentimento, a lembrança, as escolhas que nos pertencem... Temos que destruir a imagem simplificada de um objeto, temos que complicar o mundo... a imaginação é arte e ciência, pois multiplica os significados de um objeto, de um acontecimento, de uma palavra. ( MALAGUZZI, 1999,p.63 )
Optou-se também, para auxiliar nas discussões a respeito das perguntas ora apresentadas, apoiar-se em outros autores (BARBOSA, 1997) para refletir o ensina das artes nas escolas. Cabe aqui destacar que desde a década de 80, ocorreram muitas discussões a respeito do ensino de arte nas escolas promovidos por profissionais da área preocupados com a qualidade do trabalho desenvolvido com os alunos e a importância da arte no ambiente escolar, novas práticas começaram a ser inseridas com o objetivo de desenvolver a percepção, observação, imaginação, sensibilidade e a relação com outros conteúdos das outras disciplinas. Na teoria existe um embasamento muito cuidadoso, mas que na prática ocorre uma desconexão total da teoria pedagógica com a realidade prática e sensível. Aprender arte envolve algo além do correto planejamento das aulas e seus objetivos específicos, se faz necessário ao professor adentrar no território do improvável manter-se sensível a resposta dos alunos aos estímulos propostos, dialogar com eles e não esperar resultados imediatos, como cita os PCN‟s- Arte, v.6, p. 19 “Arte tem uma função tão importante quanto a dos outros conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem [...] Está relacionada às demais áreas e tem suas especificidades”.
32 Trabalhar com arte é plantar sementes da expressão para aguardar a flor da emoção. É fundamental que o aluno consiga estabelecer um significado naquilo que faz, estabeleça uma relação com sua vida. Este aprendizado percorre por caminhos que propiciem conhecimentos específicos sobre sua relação com o mundo. Uma vez estabelecida esta conexão por que os alunos não estão na aula de artes? É sabido que a adolescência é uma fase de necessidade intensa de auto expressão, de busca de identidade, se a evasão das aulas de arte é pertinente é por que não lhes é permitido estabelecer “ o canal “ com arte. A Proposta Triangular desenvolvida por educadores americanos e ingleses e aplicada no Brasil seria um caminho para o diálogo entre o fazer artístico, a contextualização e a leitura de imagens mas quando aplicado sem objetivos claros seguindo uma ordem inflexível impede a criatividade e a fruição artística e estética. Quando Ana Mae Barbosa (1997) amplia o conceito de Metodologia para Proposta, está justamente querendo alertar que esta não envolve apenas o contextualizar, ler e produzir um objeto artístico. Com base nisso, aponto a leitura dessa proposta a partir do apontamento feito pelas diretrizes curriculares no estado de Tocantins3: FAZER ARTÍSTICO: O professor deve possibilitar, valorizar e orientar a expressão artística dos alunos (oportunizar e qualificar o FAZER artístico do educando). Conscientizar os alunos das suas capacidades de elaborar imagens, experimentando os recursos das linguagens, as técnicas existentes e a invenção de outras formas de trabalhar a sua expressão criadora. É atividade do sensível, consolida-se em trabalho pessoal quando mobiliza aspectos cognitivos, construtivos, expressivos e de atribuição de valores de um ou mais contextos culturais. Releitura não é cópia. O Fazer Artístico, um dos pilares da Proposta Triangular, é mal interpretado quando restringe apenas o fazer, à prática da releitura, e define esta como produção de um objeto artístico. Mas o equívoco mais comum é achar que a prática da releitura significa cópia. A cópia também é um recurso didático possível quando queremos realizar estudos de estilos, de técnicas, de análises comparativas, mas não deve estar associada à releitura, que requer não copiar a obra escolhida, mas recriá-lo sob uma nova ótica, a ótica do fruidor-produtor, e não somente do artista. “O importante é que o professor não exija representação fiel, pois a obra
3
Texto adaptado das Diretrizes de Ensino de Artes do Estado de Tocantins de 2009.
33 observada é apenas suporte interpretativo e não modelo para os alunos copiarem. Assim, estaremos ao mesmo tempo preservando a Livre-Expressão, importante conquista do Modernismo que caracterizou a vanguarda do ensino da Arte no Brasil de 1.948 aos anos 1.970 e, também nos tornando contemporâneos”. CONTEXTUALIZAÇÃO: Embora a arte seja produto da imaginação, ela não está isolada do cotidiano, da história pessoal e dos fatos sociais. Para compreender a história da arte, não basta conhecer datas e artistas, mas deve-se criar conexões entre a arte e as outras manifestações e dimensões da vida, alargando assim, a compreensão da sua abrangência. A contextualização pretende situar o artista e sua obra no tempo/espaço e explorar as circunstâncias da sua produção evidenciando que idéias, emoções e linguagens diferem de tempos em tempos, de lugar para lugar. No PCN-Arte, esta dimensão é indicada como reflexão, referindo-se à construção de conhecimento sobre o trabalho artístico e sobre a arte como produto da história e da multiplicidade das culturas humanas, com ênfase na formação cultivada do cidadão. LEITURA DA IMAGEM: Busca uma aproximação com a obra e desenvolve as habilidades de descrever, analisar, interpretar e julgar uma obra ou uma imagem qualquer – imagem cênica, imagens de revistas, imagens de jornais, imagens de TV, imagens de vídeo, imagens digitais, na tentativa de aproximar as imagens, de estabelecer relações com o cotidiano e com a vida. Ressalta-se aqui, que a Leitura não se restringe apenas às produções das Artes Visuais, ela contempla e desenvolve as habilidades do ver, do olhar a imagem, compreendendo os elementos e as relações com o todo o trabalho da linguagem desenvolvida, educando assim, o senso estético, podendo julgar com objetividade a qualidade da imagem. A escolha das técnicas para a proposta de intervenção se dá em função de que a preparação do papel machè exige um envolvimento tátil, no rasgar, no triturar, do perceber a fibra, permitindo o reconhecimento do material a partir do momento em que se conhece as propriedades dele. E nesse exercício de reconhecer, entendendo reconhecer como conhecer de novo, observando de forma ampliada todas as questões sinestésicas (tocar, ouvir, ver, sentir, cheiras) entre o objeto e o sujeito. É evidente, nos questionários, a preocupação entre a escola de que a aula de artes não é possível sem materiais sofisticados, a proposta apresentada aqui
34 é justamente o contrário, ou seja, a bricolagem, o uso de materiais simples na elaboração de possibilidades sofisticadas, justificando que, independente dos materiais, o que irá diferenciar no ensino é a proposta metodológica. Em consonância as técnicas, os artistas escolhidos entram como suporte teórico e exemplo de artistas que utilizam esses materiais, ditos mais simples, para a construção de obras com primor artístico e técnico.
35
CAPÍTULO 2. O HOMEM E A NECESSIDADE DE EXPRESSÃO
36
2. O Homem e a necessidade de expressão
FRITZEN E MOREIRA (2008), em seu livro "Educação e Arte: as linguagens artísticas na formação humana iniciam a publicação questionando "de que modo a arte que circula, que é produzida ou apropriada pelos e nos ambientes educativos pode tornar-se significativa na formação humana?". Essa questão, mais do que emergente, é o retrato oposto da realidade escolar atual. Embora se tenha consciência de que a arte é um veículo de expressão, na escola ainda veste um conceito como meio de reprodução e não canal de criação e expressão. Seguindo a idéia ainda de FRITZEN e MOREIRA (2008), os mesmos evidenciam que "essa questão central do livro [...], parece-nos, não sem importância, principalmente em tempos nos quais se acentua a crítica ao embotamento criativo da educação". Nas experiências vividas com as observações, os professores e a instituição não conseguem perceber a arte para os adolescentes, independente da idade e série, como veículo de expressão, ao contrário, ou é utilizada como forma de reprodução determinada por várias condicionantes sociais, ou, do outro lado, é a forma de expressão do professor, sendo o aluno, o interlocutor desse veículo. Com isso, se faz necessário refletir sobre o que é arte? A busca deste conceito que aparentemente é tão óbvio parece não se fazer presente no cotidiano escolar, talvez, buscando ser mais pontual na questão, a pergunta ideal seria que arte vem sendo feita na escola, ou, como a arte é percebida na escola? Arte é a atividade na qual o ser humano se vê expresso, seus sentimentos, suas emoções, sua cultura e sua história. O conceito de arte varia de acordo com a época e a cultura mudando no decorrer dos séculos. Se antigamente a palavra artífice significava a profissão de artesão ou pintor estas duas atividades com o tempo separaram-se. A palavra Arte, por muito tempo, ficou associada à beleza, à busca do belo através dos objetos. Nas artes visuais, isso era traduzido pelas esculturas, pinturas e arquitetura. Hoje a arte é mais do que tudo, a comunicação de sensações, emoções e sentimentos – é atribuído valor estético à obra, despregado de beleza. Todo o conhecimento que temos da longa trajetória da humanidade veio através dos registros coletados deixados pelo homem no seu caminho, em cada
37 fragmento de objeto foi possível decifrar a sua cultura, seus hábitos, suas crenças, seu modo de viver. Sem estes fragmentos do cotidiano não conseguiríamos construir a história das civilizações, a vida impressa através dos materiais tornou possível o conhecimento do homem. O processo artístico, de criação, e fruição, traz impregnado impressões, comportamentos e sentimentos em relação ao que o artista busca expressar, Vivaldi, na composição As quatro estações “não partiu apenas da percepção dos aspectos físicos, como clima, cores, formas e sons da natureza” (ARAÚJO, 2007, p. 39) . A idéia de percepção, movida por um momento de reflexão, é um convite ao sujeito para utilizar dos materiais que estão ofertados, das cores que poderá utilizar, do tempo e do espaço que está inserido à traduzir suas sensações redimensionando sua compreensão de mundo, não por uma obrigatoriedade de todos os condicionantes sociais, mas um canal de comunicação que se amplia. É nessa construção de raciocínio que Anna Rita Ferreira de Araújo comenta: A percepção constitui-se num fundamento da prática e da reflexão artística. O artista materializa seu trabalho, seja em cores, formas, sons ou movimento, justamente porque exercita uma percepção acerca do universo. Estou falando em universo, no sentido de abarcar não só os objetos do mundo, mas todo e qualquer aspecto de natureza física e espiritual (ARAÚJO, 2007, p. 39).
Aqui é importante sublinhar o conceito citado pelo antropólogo LéviStrauss (1970) a bricolage, apresentando um “caráter mito poético” (p.38) podendo ser percebida no plano da arte no sentido da utilização baseadas em soluções surpreendentes que fogem dos padrões tradicionais fazendo uso de materiais considerados pouco nobres, nada convencionais, e cujos autores são geralmente pessoas sem conhecimento formal, que realizam suas criações guiadas por desejos e fantasias. A hipertextualidade desejada aqui é a distinção que o próprio Lévi-Strauss faz entre o conhecimento científico e a bricolage, especificando que a bricolage se diferencia pelo modo como opera o indivíduo- o bricoleur – onde este é o que trabalha com as mãos, usando meios indiretos se comparado com os do artista. Ele inventa maneiras de fazer com os recursos que dispõe, na maioria das vezes materiais que se desviam dos princípios ou finalidades originais, achados, recolhidos, ajuntados e guardados para uma possível utilização futura.
38 O bricoleur está apto a executar grande número de tarefas diferentes; mas, diferentemente do engenheiro, ele não subordina nenhuma delas à obtenção de matérias primas e de ferramentas: seu universo instrumental é fechado e a regra de seu jogo é a de arranjar-se sempre com os meioslimites, isto é, um conjunto continuamente restrito de utensílios e materiais (LÉVI-STRAUSS, 1970, p. 38).
A questão configurada aqui, é a de incorporar este conceito de construtor bricoleur refletindo como aquele que realiza suas obras a partir de uma lógica oposta à do artista: ele não elabora previamente um plano, ou um projeto com começo, meio e fim, mas desenvolve sua construção à medida que dispõe de material e ferramentas em um desenvolvimento contínuo não-programado, lidando diretamente com o acaso, o imprevisto, o improviso. Ao analisar as questões inerentes do espaço escolar, o discente acaba incorporando essa idéia de bricoleur, não somente por uma proposição específica, mas, em detrimento à inúmeros fatores como a escassez de materiais, o pouco tempo, e até mesmo, a consciência de que não necessariamente, encontraremos alunos com predisposição ao processo artístico. Apesar do olhar voltado prioritariamente para a possibilidade da aula de Artes exercer um momento de comunicação, ou seja, de canal de expressão dos alunos, faz se necessário o encontro de possibilidades teóricas, metodológicas e filosóficas para viabilizar essa expressão, e é partindo desses pressupostos, que o presente projeto, percebendo o aluno como um bricoleur, que sinaliza a possibilidade de uma construção poética a partir de artistas - também de uma certa ótica, um pouco bricoleur – e técnicas próxima da realidade escolar. Avaliando as experiências, e suas implicações artísticas e pedagógicas, talvez seja incoerente dizer que é necessário percebermos a arte como canal de expressão e ofertar oportunidades artísticas que só poderiam ser vividas no espaço escolar. Se por um lado, a aula de artes pode ser a facilitadora dessa expressão, por outro, ela também deve afirmar que arte não é restrito à academia ou à espaços “líricos”.
2.1. Cho Dorneles No contexto apresentado no capítulo anterior, um dos artistas escolhidos para estudo e posterior trabalho a ser realizado com os alunos é o gaúcho Cho
39 Dorneles. Nesse processo de pesquisa, que envolveu levantamento bibliográfico em sites e livros, e até mesmo, no caso do Cho Dorneles, contato pessoal com o artistas para ampliar a base referencial. Chô Dornelles é escultor e tapeceiro, reside em Porto Alegre, RS. Nascido em 1948, é autodidata e iniciou seu trabalho em arte na década de 80, quando residia em São Paulo, através da tapeçaria. Trabalhou nesse período com adereços para o teatro. Em 1985 participa da coletiva Tendência, MASP, São Paulo. De volta a Porto Alegre realiza a primeira individual na Galeria Arte&Fato em 1988. Autor das populares gordinhas, inicialmente em papier-mâchê e mais tarde em terracota (contando nesse período com a participação do artesão Sérgio Sartori). Seu trabalho possui uma identidade própria e tem sido apresentado em galerias do País. Em 1995 expõe no Richard Café e Arte em Porto Alegre. Divide atividades entre São Paulo e Porto Alegre, mantendo atelier nestas duas cidades.
As gordas (Fonte: Balenti, 2009)
Segundo o Web Designer Marcus Greiner em depoimento dado para o site do artista, objetos naturais, que por nós passam desapercebidamente, para Cho Dorneles são mais do que apenas elementos da natureza, são fonte de inspiração e matéria-prima para o seu trabalho. O papel machê, tão simples em sua composição e tão rico depois de, delicadamente ao ser manuseado por Cho, nos faz sentir a beleza e a suavidade das formas orgânicas presentes em cada peça.
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Filtro de café usado (Fonte: http://www.chodorneles.com/coadores.html Acesso em: 02/11/09)
Uma constante no design brasileiro de peças únicas é a utilização e, principalmente, a transposição de uso de materiais. Dentre esses destaca-se o papel. Conforme Maria Helena Estrada, editora da revista Arc Design, comenta no site do artista, Cho Dorneles trabalha com o papel machê de modo inusitado, “transfazendo-o”, dando-lhe nova superfície e textura - e aí reside sua arte. Ela ainda afirma que nas peças de Dorneles, principalmente quando vistas em conjunto, o que chama atenção, de imediato, é a nobreza das formas, ou mais além – a sua sacralidade. Se em objetos rebuscados e pretensiosos, a primeira vontade é ao contrário, a de dessacralizá-los, a singeleza de Dorneles age em sentido contrário. Para ESTRADA, ao combinar o papel-quase barro e pequenos galhos brancos, o artista/design cria objetos absolutamente originais, na linguagem dos arquétipos.
Vasos (Fonte: http://www.chodorneles.com/ Acesso em: 02/11/09)
Vasos (Fonte: http://www.chodorneles.com/ Acesso em: 02/11/09)
41 Cho Dorneles ministra cursos de papel machê desde 1995 no Brasil (Porto Alegre e São Paulo) e Itália. Seu nome consta no Dicionário de Artes plásticas do Brasil de Júlio Louzada e no Dicionário de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul de Renato Rosa e Décio Presser.
Escultura (Fonte: http://www.chodorneles.com/mache2.html Acesso em: 02/11/09)
Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Fonte: http://www.chodorneles.com/margs.html Acesso em 22/11/09)
O currículo do artista ainda conta com exposição feita no MARGS em 2004, na Sala Escura, onde pela primeira vez na história foi permitida a entrada do Papel Machê.
42 Ao contatar com Cho para dizer que estaria usando material da produção dele para o trabalho de estágio em Artes, o mesmo me indicou uma outra artista que trabalhou com papel machê, que inclusive influenciou o trabalho dele que é a francesa Niki de Saint Phalle.
2.2. Niki de Saint Phalle Conforme o site do Museu de Arte de Macau4, Niki nasceu na França na região de Nevilly-sur-Seine perto de Paris. Durante a depressão de 1933 migrou com sua família para os Estados Unidos estudando em Nova York. A história escolar de Niki traz fatos curiosos e que demonstram a necessidade de expressão que ela buscava e só foi encontrar mais tarde pelo viés artístico. Niki foi expulsa do Brearley School por pintar de vermelho detalhes de uma escultura da escola. Foi modelo fotográfico posando para as revistas Life e Vogue francesa, aos 18 anos fugiu de casa com o músico Harry Matheus para Cambridge, Massachusettes. Depois da vinda de dois filhos, Niki teve um colapso nervoso, reflexo do seu conflito interior que sempre teve com relação ao papel da mulher na sociedade da época.
Niki de Saint Phalle (Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:NikideSaintPhalle.jpg Acesso em: 02/11/09)
Muda-se para Espanha onde veio a conhecer em Barcelona as obras de Gaudi no Parque Güel. Esta visita foi muito marcante, vindo a inspirar vários 4
http://www.artmuseum.gov.mo/showcontent.asp?item_id=20060708020300&lc=2
43 trabalhos realizados posteriormente. Em 1961 tornou-se mundialmente famosa pelas Pinturas de Rodagem, pinturas sobre placas de madeira contendo recipientes com tinta os quais espirravam nas obras após uma sessão de tiros feitos por uma espingarda calibre 22.
Nanas, 1974 Nanas (Fonte:commons.wikimedia.org/wiki/File:Saint_ph (Fonte: www.wazzau.com/catalogue/saintalle_hannover2.JPG phalle.html Acesso em: 02/11/09) Acesso em: 02/11/09)
Outro trabalho também bastante conhecido foi as Nanas, esculturas gigantes que valorizavam a figura da mulher. Estes trabalhos foram feitos para museus e praças de vários países. Também podemos citar como um dos grandes trabalhos de Niki e que consumiu mais de 20 anos de dedicação, o Jardim Tarot construído na Itália na região da Toscana. São esculturas gigantes inspiradas nas cartas do tarot e com referências das obras de Gaudi. Niki faleceu em 2002.
2.3. Antoni Gaudi i Cornet5
Nasceu em Reus, localidade costeira da Catalunha, Espanha, em 25 de Junho de 1852; morreu em Barcelona, em 10 de Junho de 1926. Arquiteto cujo estilo distinto se caracteriza pela liberdade de forma, cor e texturas voluptuosas e na unidade orgânica, Gaudí trabalhou quase sempre em 5
As informações referente à biografia do Gaudí foram extraídas do site http://www.arqnet.pt/portal/biografias/gaudi.html
44
Jardim Tarot (Fonte: http://www.nikidesaintphalle.com/ Acesso em: 22/11/09)
Barcelona ou nos seus arredores. Grande parte da sua carreira foi ocupada com a construção do Templo Expiatório da Sagrada Família, que ainda não estava concluído quando morreu. Gaudí era de origem humilde, filho de um latoeiro que iria viver com ele no fim da vida acompanhado de uma sobrinha, nunca tendo casado. Mostrou desde cedo interesse pela arquitetura, tendo ido estudar em 1869 para Barcelona, então o centro político e intelectual da Catalunha, sendo também a cidade mais moderna de Espanha. Só acabou o curso oito anos mais tarde, estes interrompidos pelo serviço militar e outras atividades intermitentes. O estilo de Gaudí atravessou diversas fases. Quando saiu da escola provincial de arquitetura de Barcelona, em 1878, começou a projetar de acordo com um estilo Vitoriano bastante florido, que já era evidente nos seus projetos escolares, mas desenvolveu rapidamente uma maneira de compor por meio de justaposições de massas geométricas, até aí nunca usadas, cujas superfícies eram animadas com pedra ou tijolo modelado, painéis cerâmicos de cores vivas, e estruturas de metal utilizando motivos florais ou répteis. O efeito geral, embora os detalhes não o sejam, é Mourisco - ou Mudéjar, como a mistura especial da arte muçulmana com a cristã é conhecida na Espanha. Os exemplos de seu estilo Mudéjar são a Casa Vicens, de 1878-80, e El Capricho construída entre 1883 e 1885, assim como a Propriedade e o Palácio de
45 Güell, de finais dos anos 80 do século XIX. Todas as obras, exceto o El Capricho estão localizadas em Barcelona. Mais tarde, Gaudí experimentou as possibilidades dinâmicas de vários estilos arquitetônicos: o gótico no Palácio Episcopal de Astorga, obra realizada entre 1887 e 1893, e na Casa de los Botines em Leão, construída entre 1892 e 1894; o barroco na Casa Calvet em Barcelona (1898-1904).
Parque Guell (Fonte: http://www.spanish-town-guides.com/photo/ Acesso em: 22/11/09)
Mas após 1902 os seus projetos deixam de poder ser atribuídos a um estilo arquitetônico convencional. À exceção de alguns edifícios em que é clara representação simbólica da natureza ou da religião, os edifícios de Gaudí transformaram-se em representações da sua estrutura e dos materiais que os constituem. Na sua Vila Bell Esguard, de 1900-02, e no Parque de Güell, de 1900 a 1914, em Barcelona, e na igreja da Colônia Güell (1898 - c. 1915), a sul daquela cidade, chegou a um tipo de estrutura que veio ser chamada equilibrada - isto é, uma estrutura projetada para se apoiar sobre si própria sem apoios internos ou suportes externos - ou, como Gaudí afirmava, exatamente como uma árvore se ergue. Gaudí aplicou seu sistema equilibrado a dois edifícios de apartamentos de vários andares edificados em Barcelona: a Casa Batlló, de 1904-06, uma renovação que incorporou novos elementos equilibrados, sobretudo a fachada; e a Casa Milá (1905-10). Como era frequente nele, projetou os dois edifícios, tanto nas suas formas com nas superfícies, como metáforas do caráter montanhoso e marítimo da Catalunha.
46
Parque Guell (Fonte: http://www.educatorium.com/images/projetos_referenciais/ Acesso em: 22/11/09)
Arquiteto admirado, mesmo que considerado um pouco excêntrico, Gaudí foi um participante importante na Renascença catalã, um movimento artístico revivalista das artes e dos ofícios que se combinou com um movimento político de feições nacionalistas que se baseava num fervoroso anti-castelhanismo. Ambos os movimentos procuraram restabelecer um tipo de vida na Catalunha que tinha sido suprimido pelo governo centralista de Madrid, ao longo do século XVIII e XIX. O símbolo religioso da Renascença em Barcelona era a igreja da Sagrada Família, um projeto que ocupou Gaudí durante toda a sua carreira. Contratado para construir a igreja desde 1883, não viveu para a ver terminada. Ao trabalhar nela tornou-se cada vez mais religioso, e após 1910 passou a trabalhar quase exclusivamente na construção da Igreja, tendo mesmo passado a residir nos estaleiros. Aos 75 anos, foi atropelado por um trolley-car, tendo morrido dos ferimentos. Ignorado durante os anos 20 e 30 do século XX, quando o estilo internacional era o estilo arquitetônico dominante, foi redescoberto nos anos 60, sendo reverenciado tanto por profissionais como pelo público em geral, devido à sua imaginação transbordante. A avaliação do trabalho de Gaudí é notável pela sua escala de formas, texturas, e policromia, e pela maneira livre e expressiva como estes elementos da sua arte se conjugam. A geometria complexa de um edifício de Gaudí coincide com a sua estrutura arquitetônica em que o todo, incluindo a sua fachada, dá à aparência de ser um objeto natural conformando-se completamente
47 com as leis da natureza. Tal sentido da unidade total informou também a vida de Gaudí, já que a sua vida pessoal e profissional eram indistinguíveis. A escolha de artistas que contemplassem em suas obras o uso do papel machê, cores vibrantes, e alternativas diferentes das triviais não foram gratuitas. A escolha se deu baseando-se principalmente nas observações feitas e nos resultados dos questionários feitos com os alunos. Como diria Laila Loddi e Raimundo Martins: o ensino de arte de modo geral, ainda se mostra desconfortável e despreparado para se aproximar das manifestações populares produzidas fora da academia por pessoas sem conhecimento formal. Ainda prevalece, mesmo que discretamente, a preferência por trabalhos/obras produzidos por indivíduos “cultos”, “eruditos” ou “especializados”, licenciados pelas academias ou instituições de ensino formal. ( MARTINS, 2009. p. 39 ).
Na ânsia de tornar as aulas um momento de “bricolagem”, o encontro dos artistas como Cho Dorneles, Niki de Saint Phalle e Gaudí, tornam possível a ampliação de um repertório visual atrelado toda a perspectiva da utilização de materiais diferentes do seu uso comum, e não somente isso, a utilização de formas e cores como veículo de manifestação e expressão.
2.4. Papel Machê Apesar de ainda existir alguns desencontros na história do papel machê, Desta forma, a história apresentada aqui está baseada no livro de Huon Mallalieu, Histórias Ilustradas das Antiguidades: Guia básico para antiquários, colecionadores da editora Nobel de 1999. Originalmente vindo da China esta técnica apareceu na França em meados de 1600, com o nome de Papier Mâché – massa de papel – consiste em triturar o papel misturado em água até formar uma massa onde é adicionado cola. Na Inglaterra foi largamente utilizado na confecção de objetos decorativos, recipientes, bandejas decoradas. O cientista Robert Boyle em 1627 patenteou um processo de preparo que consistia em ferver o papel pardo adicionando cola e prensando em formas para fabricação de lâminas, após um processo de secagem era dado acabamento com laqueadura e pinturas decorativas com pós metálicos.
48 Esta técnica foi muito utilizada até 1851, período áureo do papel machê. Quando chegou-se a fabricar móveis, caindo em desuso em 1860.
Bandeja: Papel Machê, douração e madrepérola – Século XIX (Fonte: MALLALIEU, Huon. Histórias Ilustradas das Antiguidades: Guia básico para antiquários, colecinadores. Nobel, 1999.)
Se arte é um canal de expressão, o conhecimento de materiais é fundamental para que tal canal possa fluir, o domínio da técnica será responsável pela boa execução das obras. Vejo no papel machê o próprio exercício de contato sensível com um material, o fato de rasgar o papel possibilita que o iniciante tenha contato com a fibra do papel, não se prepara a massa do papel machê recortando com tesoura ou com a utilização de qualquer outro utensílio, o ato de rasgar já é um exercício de contato profundo com o material. Poder observar o serrilhado que fica na borda do papel, as formas que irão magicamente aparecendo, a possibilidade de criação sem recursos refinados, esta incrível possibilidade é que facilitará ao sujeito a sensibilização com o material que está sendo utilizado. A técnica de trabalho não é dispensável, pelo contrário, só será possível construir efetivamente algo quando, em algum momento, o aluno aprender a técnica, para então posteriormente, utilizar dela e dos materiais como uma forma de expressão. O serrilhado do papel rasgado, por exemplo, permitirá com que a trama
49 se junte formando uma massa única. Para a papelagem, é impossível realizá-la com papel cortado com tesoura. Trago aqui, não só o desejo de uma possibilidade distante de minha prática, mas sim, algo com que convivo, e já tenho resultados de outras atividades em que a experiência com materiais deste gênero proporcionaram nos alunos uma sensibilização fundamental para uma produção artística propriamente dita. Sempre trabalhei em minhas oficinas de teatro de bonecos, iniciando os alunos com o papel machê e a papelagem. São duas técnicas de reciclar o papel, possibilitam ao aluno um contato profundo com este material básico para a construção de qualquer objeto cênico. O jornal usado é um material de fácil obtenção, apesar de conter resinas oriundas do petróleo na composição da tinta de impressão ele possibilita a realização de obras incríveis com baixo custo. Apenas se faz uma advertência às pessoas que possuem alergia a pó não sendo recomendado trabalhar com este material. O ato de rasgar produz uma pequena quantidade de pó muito fina da fibra do papel. De qualquer forma, o uso de máscara neste momento do trabalho é recomendado. Mas, o contato com o papel deve ser com as mão livres de luvas. A idéia de sensibilização faz necessário o contato direto com o material.
Escultura de papel (Fonte: BALENTI, 2010)
Escultura de papel (Fonte: BALENTI, 2010)
João Francisco Duarte Junior, 2001, afirma que “ as formas artísticas visam a significar esse nosso contato carnal com a realidade, e a sua apreensão opera-se bem mais através de nossa sensibilidade do que via intelecto.” (2001, p.33)
50 Em atividades com este tipo de material, é fundamental que o “bricoleur” seja desafiado a romper com a idéia pré concebida de utilização do jornal, e que experimente infinitas possibilidades de combinações de formas extraídas deste material. Sem cola para colar ou tesoura para cortar, sem barbante para amarrar o iniciante é convidado a vivenciar com todas as possibilidades que o material pode oferecer: dobrar, rasgar, enrolar, laçar, encaixar, trançar, amassar, suspender, friccionar, bater etc. São verbos de ações não relacionadas ao objeto jornal e para o qual ele foi feito: Ler e informar notícias. Em nenhum momento do exercício se permite que o aluno pare para fazer o uso comum do jornal, ou seja, ler notícias. A partir deste contato este material deixará de ser o jornal e passará a ser um material, canal da mais profunda expressão. E, novamente utilizando-se das palavras de João Francisco Duarte Jr: A arte não estabelece verdades gerais, conceituais, nem pretende discorrer sobre classes de eventos e fenômenos. Antes, busca apresentar situações humanas particulares nas quais esta ou aquela forma de estar no mundo surgem simbolizadas e intensificadas perante nós. ( DUARTE JR, 2001, p. 23 ).
2.5. Mosaico 6 Mosaico ou arte musiva, é um embutido de pequenas peças (tesselas) de pedra ou de outros materiais (vidro, mármore, cerâmica ou conchas), formando determinado desenho. O objetivo do mosaico é preencher algum tipo de plano, como pisos e paredes. A palavra "mosaico" tem origem na palavra grega mouseîn, a mesma que deu origem à palavra música, que significa próprio das musas. É uma forma de arte decorativa milenar, que nos remete à época greco-romana, quando teve seu apogeu. Na sua elaboração foram utilizados diversos tipos de materiais e teve diferentes aplicações através dos tempos. A técnica da arte musiva consiste na colocação de tesselas, que são pequenos fragmentos de pedras, como mármore e granito moldados com tagliolo e martellina, pedras semi-preciosas, pastilhas de vidro, seixos e outros materiais, sobre qualquer superfície. Nos dias de hoje, o mosaico ressurgiu, despertando 6
Material extraído do site http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosaico em 22 de novembro de 2009.
51 grande interesse, sendo cada vez mais utilizado, artisticamente, na decoração de ambientes interiores e exteriores. Em Portugal, destacam-se os mosaicos das ruínas romanas de Conímbriga, datados do século II d.C., além do "mosaico das musas", da villa romana de Torre de Palma (século II - IV d.C.), em Monforte 7, e os da villa romana de Milreu, no Distrito de Faro, no Algarve - belos exemplares decorativos da época romana 8. Também são exemplos de mosaico o calçadão de Copacabana, a disposição dos pisos e azulejos de uma casa, até mesmo algumas gravuras do artista holandês M. C. Escher que tratam do preenchimento do plano.
2.5.1. História do Mosaico
O primeiro registro é encontrado há 3.500 anos A.C. na cidade de Ur, região da Mesopotâmia. O Estandarte de Ur compõe-se de dois painéis retangulares de 55 cm, feitos de arenito avermelhado e lápis-lazúli. No antigo Egito havia preciosos trabalhos feitos em sarcófagos de antigas múmias; também havia mosaicos que decoravam colunas e paredes. Entre os gregos, existiam pisos feitos com pedaços de mármore branco ou de cor, embutidos numa massa compacta em muito resistente. Um motivo que alcançou um certo sucesso na Grécia foi de pombas, conhecidas como "as passarinhos de Plínio". Em Roma esta arte começou no I-º século A.C. e foi largamente usada em pisos, murais fontes e até painéis transportáveis. Em Pompéia especificamente, foi um viveiro de mosaicistas que desde os poderosos e os abastados até o povo em geral apreciavam esta arte. No período paleo-cristão abre-se para o mosaico uma nova era: a arte bizantina que é o verdadeiro triunfo das artes visuais do cristianismo. Combinando harmonicamente elementos ocidentais e orientais, deu origem a uma arte intelectualizada, onde o sentido de divino, de sobrenatural, manifestava-se através de um original abstracionismo.
7
Villa Lusitano-Romana Torre de Palma (http:/ / www. cm-monforte. pt/ patrimonio/ p_arqueologico_palma. htm) 8 "Ruínas de Milreu: Tesouro romano em terras algarvias" (http:/ / www. algarve-portal. com/ pt/ OBJ/ milreu/ )
52
Cúpula do Batistério de Florença (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosaico Acesso em: 22/11/09)
Mosaico Romano (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosaico Acesso em: 22/11/09)
Nunca o mosaico teve tanto esplendor e foi tão largamente usado no mundo como nesse período. No mundo islamítico a arte do mosaico teve importante aplicação na ornamentação de edifícios e mesquitas. Um outro tipo de mosaico foi o de pequenas tesselas de madeira, usado para decoração de móveis, caixas e outros objetos. Eram também usados pedaços de marfim e madrepérolas. No século 19 cai
53 quase em abandono. Os estetas subdividiram a produção artística em artes maiores (pinturas a óleo, afresco, têmpera e esculturas) e em artes menores (cerâmica, esmalte sobre metal, tapeçaria e o mosaico). Eles se esqueceram que o importante é o objetivo plástico. Mas o brilho de suas tesselas não foi apagado pelo tempo, se sentido de pintura do eterno, esperavam novamente o gênio e a mão do homem, para continuar a policromia narração do sentir humano. Na América Central que esta forma de decoração mais se difundiu, alcançando no Estados Unidos e no Peru sujas mais perfeitas realizações. No período moderno o mosaico, arte mural por excelência, consegue a metamorfose: parede-cimento-pedra-cor. Com isto ele consegue harmonizar a arquitetura moderna.
2.6. Joãosinho Trinta Nascido em São Luiz do Maranhão no ano de 1933, filho de operária e mestre de obras foi freqüentador assíduo da Biblioteca Pública de São Luiz, onde lia com grande interesse as tragédias gregas. Já aos doze anos não perdia as apresentações das companhias teatrais em turnê pelo Maranhão. Foi para o Rio de Janeiro os 17 anos para ser bailarino no corpo de baile do Theatro Municipal. Nos intervalos de ensaio costumava correr para visitar o atelier de cenografia convivendo com marceneiros, serralheiros, pintores, escultores e costureiras que trabalhavam na coordenação de Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona. Com esta vivência de não foi difícil migrar para o carnaval e provocar uma revolução nos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. Com mais de trinta desfiles tornou-se um gênio da arte popular conhecido no mundo inteiro. Era delirante pragmático por isso trocou o “z” pelo “s” no próprio nome para dar sorte assim como usou quatro vezes a palavra REI em quatro temas enredos campeões. Ganhou nove títulos em carnavais memoráveis transformando a avenida em grande palco de espetáculo musical de luxo. Sempre dizia que o carnaval era a ópera brasileira de rua onde “o rèsisseur é o carnavalesco. O maestro é o mestre de bateria. O enredo é o libreto. A bateria, a orquestra: enquanto os passistas, o corpo de baile. As alas são o coro e os destaques são os personagens principais da ópera. Os carros alegóricos são a cenografia”.
54 Com muita habilidade plástica de quem conhece os materiais, Joãosinho Trinta transformava sucata em ouro, muitas alegorias impactavam na avenida pelo domínio plástico e estético que tinha. Subverteu o conceito de carnaval impondo um estilo próprio de organizar os desfiles, brincando com as forma esculpidas, contraste de cores entre as alas, criando coreografia para passistas e trazendo para avenida um acabamento operístico para os carros alegóricos. Joãozinho Trinta é um exemplo do poder comunicativo da criatividade e riqueza da cultura brasileira. A sua entrada no projeto de ensino ocorreu a partir da re-significação dos conteúdos planejados para a prática de ensino na Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio e Janeiro. Ao perceber que muitos alunos escutavam pagode nos celulares e traziam instrumentos para a sala de aula, coloquei em votação a temática para o trabalho prático: Parque de diversão ou Carnaval. Deu Carnaval.
Carros alegóricos (Fonte: GOMES, 2008, p. 46 )
55
CAPÍTULO 3. PROJETO E PRÁTICA DE ENSINO
56
3.1. PRร TICA DE ENSINO NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL RIO DE JANEIRO
DADOS GERAIS DA ESCOLA e TURMA
Escola: Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro Endereรงo: Rua Lima e Silva, 400
57 Bairro: Cidade Baixa Cidade: Porto Alegre Componente Curricular: Artes Visuais Série: 6ª série – turma 61 Ano / semestre: 2010 / 01 Número de alunos matriculados: 30 alunos Aluno estagiário: Mário Hernandes Balenti
1° ENCONTRO Aulas: 01 e 02 Data: 23 de março – 7h45min às 8h35min e 25 março - 11h30 às 12h10min
PLANEJADO Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte. Duração: 2 períodos de 45min.
Conteúdos o Projeto Educativo de Ensino. o Relação de Materiais, formas e conteúdo. o Formas livres e formas geométricas. o Escultura.
Objetivos o Apresentar e refletir o projeto de ensino do estágio. o Refletir o conceito de arte e do “canal”, quem faz e de que forma (como). o Sensibilizar os alunos através de dinâmica de percepção de objetos. o Explorar a leitura tátil através do desenho. Planejado o Apresentação do professor estagiário e dos alunos rapidamente. o Apresentação aos alunos do Projeto Educativo de Ensino.
58 o Dinâmica de iniciação. o Escrever no quadro: O QUE É O CANAL? o Debater com o alunos sobre o conceito do “canal”. Utilizando uma lata com frases, solicitar aos alunos que retirem uma frase e comentem a respeito.
É BOM PRA VIDA É O CANAL É COMUNICAÇÃO É EXPRESSÃO DAS IDÉIAS SÃO OBRAS DE ARTES É VER OBRAS DE ARTES É PITAR QUADROS É DANÇAR É CANTAR É FALAR DE UMA FORMA DIFERENTE COISAS QUE SENTIMOS É SENTIMENTO Frases de alunos do ano anterior recortadas para a dinâmica
o Através das frases, debater sobre: o Qual é o CANAL DA ARTE ? o Qual é o CANAL DE CADA UM? o Quando agente estabelece um CANAL DE EXPRESSÃO? o Refletir sobre a necessidade de estar sensível aos materiais para fazer arte. o Exercício de Sensibilização: o Para sensibilizar e refletir o conceito anterior, explicar a dinâmica que irão vivenciar a após as orientações, vendar os alunos. o Oferecer gradativamente objetos retirados de uma caixa para que os mesmos leiam com as mãos. o Pode-se utilizar música de fundo;
59 o Após vários objetos terem sido utilizados para leitura, os objetos serão guardados em uma caixa.
Foto dos objetos colocados na caixa para o exercício de sensibilização tátil. (Fonte: BALENTI, 2010)
o Tirar as vendas e propor uma conversa sobre a sensação de estar com o sentido da visão bloqueado. o Solicitar aos alunos que desenhe os objetos “imaginados” que em uma folha de papel. o Após os desenhos terem sido realizados expor os objetos que estavam guardados na caixa. o Refletir sobre os objetos desenhados e imaginados pela leitura tátil e comparar com o objeto real. o Avaliar a experiência com todos.
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Leitura Tátil. o Prática Individual. o Prática coletiva. Recursos materiais o Fichas com as frases ou palavras. o Giz para quadro branco. o Vendas. o Caixa com diversos objetos de texturas e materiais diversos.
60 o Aparelho de CD. o CD‟s diversos. o Caixa com os objetos dentro.
Recursos físicos o Sala de artes com mesas grandes.
Avaliação o Observar o desempenho dos alunos na experiência tátil. o Analisar os desenhos e a capacidade de expressão sobre o papel.
Encaminhamento Solicitar aos alunos trazerem caixas de papelão e embalagens para próximo encontro.
REALIZADO Após a minha apresentação feita pela prof. Marina, a turma me é entregue para a primeira aula de estágio. Coloco os objetivos no quadro, me apresento aos alunos e começo a reflexão sobre O que é Arte? E o que é o Canal para cada um?
Passo uma pequena lata de chá contendo frases
impressas em tiras de papel transcritas do material de observação da turma do ano anterior. Peço para que eles comentem sobre. É difícil mantê-los atentos, se dispersam a todo o momento, alguns não conseguem falar nem responder nada. Em determinados momentos parece que o assunto vai engrenar e descamba para coisas sem importância. Consigo refletir somente o conceito de arte. A questão do canal de expressão se perde. Quando perguntei aos alunos presentes o que o que eles mais gostavam de fazer nas aulas de arte, a maioria respondeu que gostava de desenho. A minha proposta era escultura. Hoje eu penso que a motivação para trabalhar a escultura era mais pessoal do que dos alunos. Revendo o resultado da pesquisa feita na turma no ano anterior 72% haviam respondido que a pintura e o desenho eram as atividades que mais gostavam. Escultura aparecia
61 com 28%. Até poderia trabalhar com escultura mas nunca esquecendo: atividade que lhes proporcionava prazer e interesse era pintar.
a
Talvez um
painel coletivo oferecendo a possibilidade de experimentar diversas cores e tons encadeassem uma curiosidade maior sobre as aulas seguintes. O sinal toca. Saio da aula ensurdecido com tanto barulho e dispersão. Não houve tempo para realizar o trabalho prático de desenho. A sensibilização feita com os objetos será no próximo período. O segundo encontro foi após o intervalo, a turma se apresenta completa, vários alunos aparecem neste dia. Estavam muito inquietos desde a entrada na sala, empurrões, brigas, gritos, tudo. Meu Deus o que será da aula? A sensibilização dos objetos com as vendas foi impossível, com tanto tumulto ninguém conseguiu ficar com os olhos vendados, provavelmente devido ao ambiente intranqüilo, com trocas de tapas e cascudos como alguém vai ficar sentado na classe com os olhos vendados. Nada acontece conforme o planejado, percebo que começo a subir o tom de voz nos meus comandos mas não sou obedecido em nada, os objetos apresentados foram atirados pelos alunos uns nos outros, outros objetos foram simplesmente destruídos, cortados. Conduzo a leitura tátil para um exercício de desenho de observação. Os alunos começam a desenhar os objetos, novas brigas na sala. Eu coloco um aluno para fora de aula por indisciplina. A turma se acalma a desenhar. Os desenhos são entregues. O sinal toca, saem todos correndo. A sala fica uma bagunça. Saio muito frustrado e cansado. Os objetivos propostos aparentemente não foram atingidos, estas duas aulas serviram como uma sondagem mais real sobre a comportamento da turma. Preciso ressignificar os meus conteúdos ou não conseguirei atraí-los para a disciplina. O tema do canal de expressão é preciso ser compreendido para que a aula de artes tenha um sentido nas suas vidas.
62
2° ENCONTRO Aulas: 03 e 04 Data: 30 de março – 7h45min às 8h35min e 01 abril - 11h30 às 12h10min
PLANEJADO
Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte.
Duração: 2 períodos de 40min
Conteúdos o Relação de materiais, forma e conteúdo. o Formas livres e formas geométricas. o Escultura.
Objetivos o Refletir o conceito de arte, quem faz e de que forma (como). o Produzir escultura de baixo relevo utilizando a técnica de papelagem. o Conhecer material dos bonecos do IPDAE como referência para a escultura. o Desenvolver formas livres e formas geométricas.
Planejado
63 o Conhecendo uma linguagem feita através da papelagem e jornal. o Apresentação do material do teatro de bonecos do IPDAE. o Apresentação
de
bonecos
construídos
com
papelagem
pelos
adolescentes do IPDAE.
Foto do processo de construção dos bonecos do espetáculo O Cavaleiro da Mão-de-Fogo. ( Fonte: BALENTI, 2004 )
o Exposição de fotos de construção de cenários para o Natal Luz e espetáculo “O Cavaleiro da Mão-de-Fogo”. o Exposição de fotos de construção de alegorias de carnaval. o Refletir as formas e o material utilizados pelos artistas.
64
Fotos de Carnaval ( Fonte: Revista Manchete,1997, p. 01 )
Fotos dos bonecos do IPDAE ( Fonte: Jornal do Comércio, 2004, p.46 )
o Produção de papelagem sobre prancha. o Iniciar a construção de formas com o jornal sobre retângulos de papelão. o Papelagem. o Aproveitar a ocasião para lançar a proposta: parque de diversão ou escola de samba. Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Execução das tarefas. o Prática individual.
65
Fotos das esculturas feitas para o Natal Luz de Gramado (Fonte: BALENTI, 2008)
Recursos materiais o Fotos do processo de construção dos bonecos do espetáculo O Cavaleiro da Mão de Fogo e matéria jornalística sobre o IPDAE. o Jornal rasgado. o Retângulos de papelão. o Cola branca. o Potes de cola diluída para papelagem. o Pinceis.
Recursos físicos o Sala de artes da escola. Avaliação o Observar a participação dos alunos nas esculturas de papel. o Avaliar o envolvimento na elaboração das formas com papel. o Avaliar a organização dos materiais após a finalização dos trabalhos. o Observar a capacidades de obter formas através da papelagem.
Encaminhamentos
66 Solicitar aos alunos que tragam embalagens e placas de papelão.
REALIZADO Mudança nos planos. Ao perceber que os alunos estão ficando dispersos na aula com as minhas propostas sensibilizantes resolvo procurar algo que tenha significado para eles, uma referência de um trabalho feito por adolescentes. Apresento fotos do processo de construção dos bonecos do espetáculo O Cavaleiro da Mão-de-Fogo onde figuram jovens atores trabalhando com papelagem e construindo cenários, apresento também jornal e fotos do trabalho realizado com adolescentes do IPDAE - Instituto Popular de Arte e Educação. A turma por um momento manteve-se extremamente atenta aos bonecos feitos pela ONG da Lomba do Pinheiro. Uma das alunas mora na Lomba. Mostro ainda fotos de barracão de cenários construídos para o Natal Luz de Gramado e alegorias de escolas de samba confeccionadas no Centro Cenotécnico do Estado. Suspendo o exercício de sensibilização e parto para a construção de formas com jornal amassado em retângulos de papelão e cola branca. Proponho a todos que elaborem formas trabalhando com a trama da papelagem. A turma se põe a trabalhar. Em meio a brigas e chutes os alunos elaboram diversas formas em baixo relevo sobre as placas de papelão. Toca a sineta, a sala esta uma bagunça de papel rasgado por todo o lado. Saem todos correndo e eu fico a limpar a sala para a entrada do outro professor de arte. Na aula seguinte mostrei os dois bonecos do espetáculo de bonecos construídos pelos alunos do IPDAE. Percebi que o pagode estava presente na aula, no toque de celular, no pandeiro que um aluno trazia na mochila nas cantorias soltas ao entrar na sala. Apresento uma coleção de revistas de carnaval mostrando que aquele trabalho que eles estão fazendo faz parte do processo de construção das alegorias do samba. Ao final da aula de quintafeira eu fiz a proposta para as próximas aulas: Escolham para seqüência do nosso
67 trabalho entre a construção de um parque de Diversão ou uma Escola de Samba. A maioria escolhe com vibração: ESCOLA DE SAMBA!!!
Foto das primeiras esculturas de papel jornal e cola (Fonte: BALENTI, 2010)
3° ENCONTRO Aulas: 5 e 6 Data: 06 de março – 7h45min às 8h35mine 08 de abril - 11h30 às 12h10min
PLANEJADO Conteúdos o Formas livres e formas geométricas. o Conceito de arte. o Escultura.
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Objetivos o Refletir o conceito de escola de samba, quem faz e de que forma (como). o Planejar a maquete da escola de samba. o Apresentar artista Cho Dorneles.
Planejado o Chamada. o Apresentar ao grupo o objetivo do trabalho. o Colocar elementos no quadro que compõe uma escola de samba. o Eleger o presidente de cada escola. o Dividir a turma em grupos/escola de samba. o Propor ao grupo que escolham. o Nome da escola. o Tema enredo. o Cores. o Elaborar o mapa da escola estabelecendo o número de alas, carros etc. o Construir os carros alegóricos utilizando embalagens e papelagem. o Apresentar o trabalho com papel machê de Cho Dorneles.
Foto das esculturas de Cho Dorneles (Fonte: Cho Dorneles, 2008)
o Apresentar rapidamente a biografia do carnavalesco Joãosinho Trinta. o Exposição de fotos de carros alegóricos;de Joãosinho trinta. o Refletir as formas e refletir o material construído nas escolas de samba.
69 Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Execução das tarefas. o Dinâmica de grupo
Carros Alegóricos de Joãozinho Trinta (Fonte: GOMES; VILLARE, 2008)
Recursos o Pranchas das obras da artista. o Placas de papelão. o Embalagens diversas. o Pincel. o Jornal. o Isopor. o Cola de isopor.
Avaliação o Observar a participação dos alunos nas esculturas de papel. o Avaliar o envolvimento na elaboração das formas com papel. o Avaliar a organização dos materiais após a finalização dos trabalhos.
REALIZADO Começamos o trabalho de aula com o planejamento das escolas de samba, muita confusão. A muito custo consigo organizar três grupos para a
70 montagem das maquetes, foram escolhidos os presidentes das escolas, muita discussão para a escolha dos temas enredos e as cores das agremiações. Mas a bagunça na sala torna impossível a continuação do trabalho. Um grupo de alunos flutua pela sala batucando e brigando com os colegas, meu limite de paciência foi testado novamente, este foi o momento crítico no trabalho com adolescentes, coloquei com energia três alunos para fora da sala. Um silêncio tomou conta do ambiente e todos começaram a trabalhar. Propus que trouxessem caixas de papelão e embalagens para a construção da maquete da escola de samba quando para minha surpresa um dos alunos ficou indignado e respondeu: “Eu não vou trazer nada professor, não sou catador de lixo! “, percebi que para alguns alunos de escola pública trabalhar com sucata significava realizar algo pobre e sem valor, longe de qualquer tipo de sofisticação. Na próxima aula a professora titular veio acompanhar a visita da supervisora do estágio. Comecei a aula conversando sobre a importância da descoberta do canal de expressão de cada um e apresentei o power point sobre o escultor Cho Dorneles como exemplo de artista plástico que transformou o papel machê, material barato e de fácil aquisição, em obra de arte. As imagens no computador chamaram atenção da turma, eles interagiram durante a exposição das obras e mais uma vez a turma se manteve atenta e curiosa. Seguimos para a construção das escolas de samba, percebo a dificuldade dos grupos em chegar a um acordo comum sobre o tema. A escolha dos presidentes das escolas como coordenadores do trabalho dos grupos não funcionou. Faltaram a aula seguinte deixando o grupo sem líder. A minha ideia de formar pequenos grupos para realização de várias Escolas de samba estava fora da realidade. Mais adiante com as constantes faltas de alguns alunos acabei formando um único grupo em torno da elaboração de uma escola da samba. Começou-se a construção dos carros alegóricos partindo daquilo que cada um gostaria de expressar individualmente. O material depois de distribuído aos alunos foi espalhado por toda a sala. A turma se dividiu em pequenos grupos que se configurou da seguinte forma: “os afins” próximo a mesa do professor, “os nem tanto” no meio da sala e “os nada afim” no fundo da sala, esses a escutar música no celular ou a assistir os que trabalhavam.
71 Quando a dispersão começou a prejudicar o trabalho do grupo “dos afins”, eu intervim energicamente. Tocou o sinal e a sala novamente ficou uma bagunça. Acabei arrumando rapidamente para a entrada da próxima turma. A proposta de apresentar o carnavalesco Joãosinho Trinta precisou ser transferida para semana seguinte por falta de tempo. Apresentar dois artistas em uma mesma semana acabou sendo muita informação para ser assimilada pela turma. A medida que eles começam a gostar da montagem das alas da Escola de Samba, alguns alunos começam a chegar mais cedo e reclamam quando o sinal toca interrompendo a aula. Ao final das últimas aulas, percebo que a dinâmica instaurada nesta “cultura louca escolar” acaba por imprimir no professor uma sensação de caos mental, onde nem a chamada é possível ser feita, quanto menos, organizar a turma para deixar o ambiente organizado para o próximo grupo.
4° ENCONTRO Aulas: 7 e 8 Datas: 13 de abril – 7h45min às 8h35min e 15 de abril - 11h30 às 12h10min
PLANEJADO Conteúdos o Formas livres e formas geométricas. o Projeto Educativo do Estágio. o Conceito de arte.
Objetivos o Refletir o conceito de escola de samba, quem faz e de que forma (como). o Planejar a maquete da escola de samba. o Apresentar artista Joãosinho Trinta.
Planejado
72 o Chamada. o Apresentar ao grupo o objetivo do trabalho. o Apresentar rapidamente a biografia do carnavalesco Joãosinho Trinta. o Apresentar material relativo a azulejaria portuguesa, a cerâmica e São Luiz do Maranhão relacionando com as alegorias das escolas de samba e a obra de Joãosinho Trinta.
Foto dos azulejos portugueses de São Luiz do Maranhão (Fonte: BALENTI, 2008)
Foto de Porcelana de São Luiz do Maranhão (Fonte: BALENTI, 2010)
Foto fantasia das baianas da Beija Flor o Retomar a construção das escolas de Samba. (Fonte: GOMES; VILLARES, 2008)
o Refletir as formas e refletir o material construído nas escolas de samba do Rio de Janeiro. o Propor a continuação da construção dos carros e alas utilizando a papelagem combinada com isopor , papelão e plástico.
73 o Discutir volume, exploração de novas formas e aplicação de outros materiais, recortes de revistas, pequenos objetos, tampinhas de garrafa etc. o Exposição de fotos de carros alegóricos de Joãozinho Trinta. o Dinâmica de grupo.
Recursos o Pranchas das obras do artista. o Placas de papelão o Embalagens diversas o Pincel o Jornal o Isopor o Cola de isopor o Tesouras o Lixa
Avaliação o Observar a participação dos alunos na elaboração das escolas de samba. o Avaliar se esta ocorrendo evolução no manuseio da papelagem combinado com outros materiais propostos. o
Avaliar a organização dos materiais após a finalização dos trabalhos.
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Execução das tarefas. o Elaboração do símbolo da escola.
REALIZADO
74
Nesta terça feira a turma estava bem calma e disponível. Comecei aula colocando no quadro fotos da cidade de São Luiz do Maranhão, apresentei aos alunos um breve relato da vinda dos azulejos portugueses para o Brasil, as fachadas dos casarões da cidade e a variedade de formatos e cores dos azulejos. Mostrei uma xícara comprada em São Luiz com o mesma decoração barroca pintada sobre o esmalte da porcelana. Mostrei uma foto de uma baiana da beija flor com a mesma padronagem. Perguntei a todos o que havia em
o o
o
Imagens das alegorias de Joãosinho Trinta (Fonte: GOMES, 2008, p.46 )
o comum entre as fotos dos azulejos, a xícara de porcelana e a fantasia das baianas da Escola de Samba Beija Flor. Após esta reflexão apresentei brevemente a biografia de Joãosinho Trinta relacionando suas origens refletida no seu trabalho criativo nas alegorias de carnaval. As mesmas cores e contrastes, volumes e decorados barrocos. Percebi a ansiedade da turma em começar a trabalhar. Os alunos ficaram motivados pelo tema. Nesta manhã tralharam como nunca. Apareceram os primeiros carros alegóricos com as seguintes temáticas: O carro em homenagem ao Flamengo, o carro das bandas de Rock e o carro da Rainha Coelha. Os alunos descobriram as possibilidades de utilização do papel jornal e cola branca
75 combinado com a sucata para construir estruturas. Corri de um grupo para o outro, sugiram muitas duvidas, perguntavam sem parar. Este dia eu considero o melhor momento do estágio, foi quando a vontade de fazer algo aparece estampada no rosto dos alunos. Eles começam a criar coisas e perguntar sem parar. Nos carros alegóricos começa a aparecer o universo dos jovens. Mostro fotos de alegorias de Joãosinho Trinta de vários carnavais. Provoco desafiando-os a criar formas menos óbvias e de maior dificuldade de elaboração. Novas possibilidades de construção combinando embalagens variadas para estruturas as esculturas. Apresento outros tipos de cola: bisnaga de cola de contato, cola de isopor e bastão. Uma explosão de idéias emergiu na turma. Como juntar, como colar, como prender. Até que enfim a turma começou a produzir algo.
Construção dos Carros Alegóricos (Fonte: BALENTI, 2010)
Construção dos Carros Alegóricos (Fonte: BALENTI, 2010)
5° ENCONTRO
76 Aulas: 9 e 10 Datas: 20 de abril – 7h45min às 8h35min e 22 de abril - 11h30 às 12h10min.
PLANEJADO Conteúdos o Formas livres e formas geométricas. o Conceito de arte. o Escultura.
Objetivos: o Refletir o conceito de escola de samba, quem faz e de que forma (como). o Planejar a maquete da escola de samba. o Apresentar as obras do Joãosinho Trinta.
Planejado o Apresentar ao grupo o objetivo do trabalho. o Apresentar o Samba Enredo da Beija Flôr – A grande constelação das Estrelas, campeã de 1983. o Perguntar quais palavras da letra não foram compreendidas. o Debater a importância da homenagem feita aos personagens negros apresentados no samba. o Retomada das alegorias utilizando papel laminado. o Retomar a construção das escolas de Samba. o Refletir as formas e refletir o material construído nas escolas de samba do Rio de Janeiro. o Propor a continuação da construção dos carros e alas utilizando a papelagem combinada com isopor , papelão e plástico.
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Samba Enredo Campeão de 1983
Compositores: Neguinho Da Beija-flor E Nêgo Carnavalesco: Joãosinho trinta Ô ô ô Yaôs quanto amor ) Quanto amor ) As pretas velhas Yaôs ) BIS Vêm cantando em seu louvor ) A constelação De estrelas negras que reluz Clementina de Jesus Eleva o seu cantar feliz A Ganga-Zumba Que lutou e foi raiz Do negro que é arte, é cultura É desenvoltura deste meu país Êh ! Luana O trono de França será seu baiana Pinah êêê Pinah A Cinderela negra Que ao príncipe encantou No carnaval com o seu esplendor Grande Otelo homem show Em talento dá olé E o mundo inteiro gritou, Gol !
78 (É gol) Gol do grande Rei Pelé Ô Yaôs (Fonte: http://www.terra.letras.com.br/beijaflor)
o Discutir volume, exploração de novas formas e aplicação de outros materiais, recortes de revistas, pequenos objetos, tampinhas de garrafa etc. o Finalizar o processo de papelagem e iniciar a pintura do fundo branco.
Carros Alegóricos do Joãozinho Trinta ( Fonte: GOMES, 2008, p. 62 )
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Execução das tarefas. o Dinâmica de grupo.
79 Recursos o Cópias do samba com a bandeira da escola Beija-Flor. o Placas de papelão. o Embalagens diversas. o Pincéis. o Jornal. o Isopor. o Cola de isopor. o Tesouras. o Papel laminado colorido. o Tinta branca. o Pincéis.
Avaliação o Observar a participação dos alunos na elaboração das escolas de samba. o Avaliar se esta ocorrendo evolução no manuseio da papelagem combinado com outros materiais propostos. o
Avaliar a organização dos materiais após a finalização dos trabalhos.
REALIZADO Nesta manhã chuvosa de terça vários alunos faltaram a escola. Trouxe para aula uma gravação do samba enredo campeão em 1983 da Escola de Samba Beija Flor “ Ô Yaôs”, letra que exalta a cultura afro brasileira. Antes de tocar o sinal os alunos mais novos estavam prontos para começar o trabalho. Distribuí uma cópia da letra e apresentei a música. Conversamos sobre o significado de algumas palavras contidas na letra e recomeçamos os trabalhos de construção dos carros alegóricos. Trouxe para a sala muitas caixas de papelão e papel laminado de várias cores. Enquanto a
80 turma “dos afins” começava a construir freneticamente “os nada afins”, - os mais velhos da turma - estavam no fundo da sala completamente apáticos solicitando ajuda do professor. Estas atitudes me deixaram ao final da aula bastante cansado. Com a falta dos professores, foi possível realizar uma aula extra na sexta-feira, nesta manhã, os alunos trabalham com ânimo, não somente “os afins” como “os nada afim” começaram a desenvolver o trabalho. Junto aos alunos, comecei a construir um carro alegórico para ir apresentando os resultados possíveis que a papelagem apresenta, fator que desencadeou uma gama de novas possibilidades para as soluções dos carros alegóricos dos alunos. A falta de professores é bastante freqüente, seguidamente ao chegar na escola observo alunos jogando bola no pátio da entrada, isto significa que algum professor não veio dar aula e a direção não teve como remanejar. Alguns pais preocupados com esta situação trazem os filhos e aguardam a resposta da vice-diretora se naquele dia os filhos terão todas as disciplinas..
Finalização da construção dos carros (Fonte: BALENTI, 2010)
Chegando na quinta semana, tenho um sensação de impossibilidade de conclusão da atividade dentro do programa do estágio de sete semanas. Observo que o trabalho para render é muito dependente da relação de estímulo do professor, demonstrando ser impossível naquelas condições alcançar um resultado, uma vez que dos 45 minutos de aula, o tempo real de trabalho é de 25 à 30 minutos .
81 Para aumentar o rendimento da turma e ter mais horas de trabalho acertei com a vice-diretora que me avisasse das faltas de professores para que pudesse ocupar com a Disciplina de Arte. Participar deste remanejamento foi ótimo para escola e prazeroso para os alunos. Permaneceram nas aulas extras aqueles que estavam realmente motivados no trabalho.
6° ENCONTRO Aulas: 11 e 12 Datas: 27 de abril – 7h45min às 8h35min e 29 de abril - 11h30 às 12h10min
PLANEJADO Conteúdos o Formas livres e formas geométricas. o Conceito de arte. o Escultura. o Pintura.
Objetivos o Refletir o conceito de escola de samba, quem faz e de que forma (como). o Planejar a maquete da escola de samba. o Apresentar o conceito de bricolagem. Planejado o Apresentar ao grupo o objetivo do trabalho. o Apresentar o conceito de bricolagem. o Mostrar fotos de artistas populares que usam a bricolagem. o Continuar a pintura do fundo branco. o Decorar os carros com papel colorido agregando outros materiais. o Texturização dos carros alegóricos. o Elaboração das alas. o Explanação a respeito da vista superior da escola. o Convidar a turma para assistir o Concerto Didático do IPDAE.
82
Casa do Estevão (Fonte: www.anpap.org.br, 2010)
Casa da Flor (Fonte: www.casadaflor.org.br, 2010)
Convite do Concerto do IPDAE (Fonte: IPDAE, 2010)
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Execução das tarefas. o Dinâmica de grupo.
Recursos o Fotos de Bricolagem. o Placas de papelão. o Embalagens diversas. o Pincéis. o Jornal.
83 o Isopor. o Cola de isopor. o Tesouras. o Papel laminado colorido. o Tinta branca. o Tinta colorida. o Tesoura.
Avaliação o Observar a participação dos alunos na elaboração das escolas de samba. o Avaliar se esta ocorrendo evolução no manuseio da papelagem combinado com outros materiais propostos. o
Avaliar a organização dos materiais após a finalização dos trabalhos.
REALIZADO Pareceu que a partir daquele momento as aulas começaram a engrenar. Com mais horas, o trabalho dos carros alegóricos começou a aparecer, eles se sentiram motivados.
Mesmo estando dentro do horário
normal alguns alunos aproveitaram para matar aula extra. A turma ficou menor. Pude melhorar a qualidade no atendimento individual.
Possibilitando a
experimentação e vez de soluções prontas e fáceis. O surgimento de uma escola de samba em miniatura acessa o universo imaginativo de cada um. Problematizei questões quanto à pintura, propondo uma investigação mais ampla, propus a utilização de novos materiais bem como suas possíveis combinações. Nesta sexta semana, já é possível perceber junto ao grupo um avanço na utilização dos materiais, percebendo que as soluções que os alunos vão dando para o avanço na construção do carro traz a bagagem das aulas anteriores. Ao findar daquela semana, foi estabelecido um prazo para finalização dos carros, a turma estava bastante desconcentrada, por esta razão, dificultou muito o desenvolvimento do trabalho de pintura. Diversas vezes, alunas
84 gritavam porque um colega tinha pintado o rosto de brincadeira, potes de tintas foram derrubados no chão, a professora da sala ao lado reclamou que meus alunos estavam perturbando sua aula no corredor, coloquei um alunos para fora de aula e advertências a outros dois. Existe sempre um desequilíbrio entre os dias possíveis e os dias impossíveis de realizar os trabalhos. No final da aula, a professora titular veio até a turma ajudar no controle de toda a situação, e neste dia, eu barro a porta de saída obrigando a todos a limpar e organizar a sala para poder sair. Por fim, as pinturas foram concluídas, e não foi mais utilizado pintura na elaboração dos carros, também foi suspendido o trabalho com a bricolagem, em função do pouco tempo e da dificuldade que estava sendo dar término na atividade com os carros alegóricos. Antes do encerramento da aula, convidei os alunos para que no próximo dia 30, a tarde, todos pudessem comparecer para apreciar a apresentação do Concerto do IPDAE. Foi comentado que os alunos/músicos que iriam se apresentar, eram adolescentes que estavam utilizando a música para canalizar suas expressões, estabelecendo assim uma relação entre a prática que os alunos vinham desenvolvendo. O acerto do concerto musical do IPDAE – Instituto Popular de Arte e Educação para a apresentação na Escola RJ foi feito na semana anterior. A orquestra participava de um projeto de apresentações gratuitas a produção estava a procura de escolas públicas interessadas. Como conheço tive contato com IPDAE foi possível incluir a RJ no circuito. Produzir um evento cultural na escola propiciando aos alunos o contato com outras formas de expressão artística exige um envolvimento extraclasse do professor de artes, a gestão escolar tradicional esta inerte para tal mobilização. Tal fato comprova a quantidade de instrumentos musicais abandonados em uma no depósito da escola. Em outros tempos a escola possuía uma banda marcial, mas coma e extinção da disciplina de música a atividade foi desativada. A diretora aguarda um voluntário que queira trabalhar com os alunos pois não dispõe de recursos. O curioso é que sempre que a escola pensa em evento, lembra do professor de artes. Nas entrevistas feitas com as diretoras de escolas no estágio 1, o professor de arte aparece sempre como o organizador, produtor.
85 Ele é a figura sempre associada a decoração. Isto reforça a idéia de que arte não é necessária para o desenvolvimento da inteligência e o raciocínio criativo nada tem a ver com a imaginação e construção do conhecimento e sim um enfeite da escola.
Finalização dos carros alegóricos (Fonte: BALENTI, 2010)
7° ENCONTRO
86 Aulas: 13 e 14 Datas: 30 de abril – 7h45min às 8h35min e 04 de maio - 11h30 às 12h10min
PLANEJADO Conteúdos o Projeto Educativo de Ensino. o Formas livres e formas geométricas. o Conceito de arte.
Objetivos o Finalizar processo de construção. o Refletir o processo de construção realizado. o Apresentar a maquete construída.
Planejado o Finalizar carros alegóricos. o Finalizar alas. o Montagem da escola de Samba Unidos da Rio de Janeiro. o Reflexão sobre o processo vivido com papelagem, bricolagem, conhecimento do artista Joãozinho Trinta. o Reflexão com o grupo sobre a possibilidade de utilizar materiais como forma de expressão, como canal de comunicação. o Finalização do projeto educativo com questionário de auto avaliação dos alunos.
QUESTIONÁRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO 1) Quais foram os artistas apresentado em aula? 2) Qual dos artistas apresentados você achou mais legal? Comente: 3) Das atividades realizadas, qual você mais gostou? Por quê? 4) Através de qual dessas atividades você conseguiu estabelecer um canal de expressão? 5) Qual a importância que você considera a Arte na sua vida? 6) Assinale uma nota para cada atributo no quadro abaixo:
87
Atributo / nota
0
1
2
3
Sua participação individual na aula Sua contribuição no trabalho do grupo Responsabilidade quanto aos materiais solicitados Respeitou o espaço e a produção do colega Auto organização com materiais e a sala de aula Resultado final do seu trabalho
o Exposição na escola da Escola de Samba criada pela turma.
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Execução das tarefas. o Dinâmica de grupo.
Recursos o Fotos de Bricolagem. o Placas de papelão. o Embalagens diversas. o Jornal. o Tesouras. o Papel laminado colorido. o Tinta branca. o Tinta colorida. o Tesoura. o Pincéis.
4
5
88
Avaliação o Observar a participação dos alunos na elaboração da exposição no corredor da escola. o Avaliar os conhecimentos adquiridos na experiência com a pelagem na montagem das alegorias. o
Avaliar os conhecimentos adquiridos sobre os artistas apresentados.
o
Avaliar os conceitos formados sobre a importância da arte na vida de cada um.
o
Avaliar com os alunos, a relação entre a arte e o canal de expressão.
REALIZADO
89 Nesta última semana foi finalizado os carros com colagens, com papel crepom e montagem da exposição. Após a conclusão da maquete da “Escola de Samba Unidos da Rio de Janeiro”,nome escolhido pelos alunos, foi realizado uma retrospectiva sobre todo o trabalho realizado no projeto de estágio, levantando os artistas apresentados, as técnicas utilizadas e por fim, um questionário de auto avaliação com os alunos. A exposição foi montada sobres classes no corredor da escola. A tarde, após a apresentação do concerto didático com a Orquestra Infanto - Juvenil do IPDAE, foi aberta a exposição para
toda comunidade
escolar. Na ocasião da apresentação, foi levantado aos colegas das outras turmas que: da mesma forma que os alunos da turma 61 descobriram a papelagem
como forma de expressão plástica, os jovens do IPDAE
descobriram a música como canal de expressão de suas emoções e sentimentos também. Foi possível, junto a análise da Auto avaliação perceber que houve uma evolução no entendimento dos alunos quanto este aspecto, não somente isso, mas também a forma de utilizar materiais simples, como uma forma de produção artística de qualidade.
Exposição da Escola de Samba (Fonte: BALENTI, 2010)
90
91
92
Encontro com Jo達osinho Trinta (Fonte: BALENTI, 2010)
93
3.2. PRÁTICA DE ENSINO NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UFRGS DADOS GERAIS DA ESCOLA E TURMA
94
Escola: Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Colégio de Aplicação Endereço: Av. Bento Gonçalves, 9500 – prédio 43815 Bairro: Agronomia Cidade: Porto Alegre Componente Curricular: Artes Visuais Série: 1ª série – turma 92 Ano / semestre: 2010 / 01 Número de alunos: 8 alunos Aluno Estagiário: Mário Hernandes Balenti
1ª ENCONTRO
Aula: 01 Data: 31 de março – 10h30 às 12h10min
PLANEJADO Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte
Duração: 2 períodos de 50 minutos
Conteúdos o Projeto Educativo de Ensino. o Forma e conteúdo. o Formas livres e formas geométricas. o Escultura.
Objetivos o Apresentar e refletir o projeto de ensino do estágio. o Refletir o conceito de arte e do “canal”, quem faz e de forma (como). o Sensibilizar os alunos através de dinâmica de percepção de objetos. o Explorar a leitura tátil através do desenho.
95
Planejado o Apresentação do professor estagiário e dos alunos rapidamente. o Dinâmica, expositiva dialogada: o Debater com os alunos sobre o conceito do “canal”. Utilizando uma lata com frases, solicitar aos alunos que retirem uma frase e comentem a respeito. Através das frases questionar: O que é arte? O que é canal para cada um? Qual é o canal da arte? Quando estabelecemos um canal de expressão?
É BOM PRA VIDA É O CANAL É COMUNICAÇÃO É EXPRESSÃO DE IDEIAS SÃO OBRAS DE ARTES É VER OBRAS DE ARTES É PINTAR QUADROS É DANÇAR É CANTAR É FALAR DE UMA FORMA DIFERENTE COISAS QUE SENTIMOS É SENTIMENTO Frases utilizadas recortadas para a dinâmica
o Sensibilização tátil: solicitar que cada aluno coloque uma venda nos olhos. Após, o professor irá disponibilizar para eles diversos objetos para que os mesmos realizem a leitura tátil. Finalizada a leitura, os objetos serão guardados e os alunos serão convidados a refletir sobre a sensação de estar com o sentido da “perda da visão”, e o que isso influencia nos demais sentido. o Em seguida, irão registrar através de desenhos os objetos que foram tateados por eles. o Comentar sobre a sensação de experimentar a ausência do sentido da visão.
96 o Avaliar com a turma o trabalho vivenciado em aula salientado a importância do desenho como canal de expressão.
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Leitura Tátil. o Atividade prática individual.
Foto dos objetos colocados na caixa para o exercício de sensibilização tátil. (Fonte: BALENTI, 2010)
Recursos o Lata com frases recortadas. o Caixa de papelão contendo objetos variados. o Vendas para os olhos. o Folha de papel tamanho A3. o Lápis e borracha. Avaliação o Analisar e comentar as experiências dos alunos na vivência tátil. o Analisar a capacidade de expressão dos alunos através dos desenhos.
97
REALIZADO Nesta primeira aula no Colégio Aplicação não foi preciso maiores apresentações. Por solicitação da coordenadora da escola assisti duas aulas junto com a turma antes de realizar a intervenção, em função disso, a turma aceitou bem a transição de professor. Após a apresentação do projeto de ensino iniciei o trabalho disponibilizando uma lata de chá contendo frases impressas sobre os diversos significados da arte – conforme consta no planejamento -, frases estas elaboradas no semestre anterior pela turma de ensino médio observada na ocasião do estágio1. Ao lerem as frases em voz alta para os colegas, a identificação das expressões foi imediata. Uma aluna chegou a indagar como é que eu tinha conseguido aquelas frases pois já tinha escrito algo semelhante. Refletindo a atividade, foi possível destacar que a arte que toca aos alunos é aquela que se comunica diretamente com eles, logo, perceberam o papel de comunicação que arte é, traduzindo-se num canal de expressão. Em função disso, surgiu o que especificamente na arte (música, dança, teatro, artes visuais...) se comunicava diretamente com eles, conversamos sobre gostos musicais, bandas que diziam alguma coisa através das letras e ritmos. Apresentaram músicas contidas nos celulares e pedi que explicassem o porque gostavam de determinadas músicas. Esta foi a introdução para debater com os alunos a questão do CANAL DE EXPRESSÃO. Ainda foi possível constatar que o conceito de arte varia de um grupo social para outro, ou seja, este conceito é dependente da capacidade que a obra tem de se comunicar com o grupo que se destina, tendo a necessidade de apresentar um leque de códigos para significar num determinado grupo. Como diria COLI (2004, p. 8): É possível dizer, então, que arte são certas manifestações da atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo, isto é: nossa cultura possui uma noção que denomina solidariamente algumas de suas atividades e as privilegia.
Após o debate realizei o exercício de sensibilização tátil. Solicitei aos alunos que colocassem uma venda para poderem realizar uma leitura tátil de alguns objetos que estavam escondidos dentro de uma caixa. O exercício
98 provocou “frisons” na turma. A concentração durante o exercício foi bastante significativa. Quanto a leitura, alguns foram bastante cautelosos, se prendendo nos detalhes, já outros, faziam uma leitura muito rápida, apenas focando na quantidade de objetos que estariam a disposição. Após o exercício tátil solicitei que desenhassem em uma folha branca os objetos que mais lhes impressionaram. Houve uma surpresa neste momento, ficou clara a necessidade de realizar cuidadosamente esta experiência tátil para poder ter um repertório de sensações para a realização do desenho. Essa experiência nos traz a luz das reflexões já feitas por Celso Vitelli (2005) quando nos afirma que atualmente vive-se numa era em que predomina a experiência imediata, uma época mediada por controle remoto e mensagens instantâneas. Talvez essa seja a razão pelo qual os alunos ao se depararem em situações práticas nas aulas de artes, tem sido cada vez mais rápido, onde sabe-se da necessidade de uma experiência intensa e de mais tempo. Posteriormente, os desenhos feitos renderam muitas conversas e surpresas ao enxergarem os objetos tocados. Alguns disseram que não sabem desenhar nada. Foi levantado da facilidade e da dificuldade em registrar determinados objetos, principalmente em função de alguns não pertencerem ao universo deles. Conversamos sobre a questão da importância da luz e da sombra para a criação de volume no desenho. Em relação aos desenhos, de modo geral, todos apresentam uma certa habilidade para desenhar, um domínio no traço. Conseguiram retratar os objetos com detalhes, isso muito de acordo com o quanto conseguiram se atentar na leitura com os olhos vendados. Ao final, todos avaliaram positivamente a experiência refletindo a importância dos sentidos para a produção artística e a intensificação da percepção dos demais sentidos quando um canal perceptivo é bloqueado. Aqui nesta escola ficou claro a importância de um ambiente tranqüilo para poder realizar um exercício de sensibilização, são poucos alunos e o espaço é amplo, com mesas adequadas, propiciando uma relação mais próxima entre aluno e professor. Quando os alunos começaram a me apresentar as músicas eu pude tranquilamemte adaptar o meu planejamento
99 ao assunto que eles traziam de uma conversa informal partimos para elaboração de um conceito sobre arte e canal de expressão.
Exercícios com sensibilização de materiais (Fonte: FOGAZZI, 2010)
Desenhos de observação dos objetos (Fonte: BALENTI, 2010)
2ª ENCONTRO
100
Aula: 02 Data: 07 de abril – 10h30 às 12h10min
PLANEJADO Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte
Duração: 2 períodos de 50 minutos
Conteúdos o Forma e conteúdo. o Formas livres e formas geométricas. o Escultura. o Desenho.
Objetivos o Refletir o conceito de arte, quem faz e de que forma (como). o Descobrir possibilidade de formas através do papel jornal. o Produzir esculturas de baixo relevo utilizando a técnica de papelagem. o Desenvolver formas livres e formas geométricas.
Planejado o Apresentação dos desenhos do artista Cornelis Escher. o Comentar sobre as formas de utilizar o sombreado para poder criar formas relacionando as obras do artista com os desenhos produzidos na aula anterior. o Sensibilização com jornal: Através da exploração do jornal, elaborar múltiplas formas obtidas pelo manuseio do jornal. o Trabalho com as placas de papelão. Elaborar formas com jornal e cola branca sob as placas de papelão em baixo relevo. Colocar as formas sob a mesa para secar.
101 o Montar painel coletivo de formas. Observar as formas obtidas e discutir possibilidades. Após o encaminhamento da atividade de escultura com os alunos, fazer um exercício de reflexão a respeito de quando é que nos sentimos estranho num ambiente? Porque aparece esse sentimento? Quando a gente se sente pertencente em um grupo? Quais são os ambientes mais favoráveis a esse pertencimento? Quais são menos favoráveis?
Foto de gravuras de Cornelis Esher (Fonte: http://www.escherinhetpaleis.nl/)
o A partir das respostas dos alunos, começar exercício de criação de um bicho esquisito, este bicho será elaborado a partir dos posicionamentos comentados anteriormente. o Desenhar livremente o seu personagem esquisito. Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Atividade Prática individual.
Recursos o Pranchas de reproduções do artista Cornelis Escher. o Jornal.
102 o Cola. o Pincéis. o Placas retangulares de papelão. o Folha de papel A3. o Lápis e borracha. Avaliação o Observar a participação dos alunos nas esculturas de papel jornal. o Identificar a investigação e a criatividade na realização das diferentes formas com o papel, jornal e cola. o Avaliar a organização dos materiais após a finalização dos trabalhos. o Observar a capacidade de obter formas através da papelagem.
Encaminhamento o Solicitar aos alunos que tragam material reciclado, jornais, embalagens e giz de cera.
REALIZADO A aula iniciou partindo de um ponto que ficou em aberto na aula anterior, em função de eu ter percebido da dificuldade dos alunos quanto ao desenho com lápis, trouxe alguma gravuras do pintor Escher para podermos fazer uma reflexão sobre a sombra e o volume. Seguindo, apresentei aos alunos a técnica da papelagem e como criar formas partindo do jornal. Alguns reclamaram porque queriam pintar. Percebo que uma das características dessa turma é de se manifestar sempre contrário a atividade proposta, mesmo que a proposta seja do desejo deles, mas é essa é uma característica própria do adolescente, especialmente em relação ao ensino da arte, Vitelli aponta à algumas reflexões: Quando vemos certos grupos de jovens adolescentes de diferentes escolas de Porto Alegre (aí incluímos as escolas públicas e privadas) visitando exposições de arte contemporânea em galerias, museus, bienais, levantamos a possibilidade de uma identificação maior por parte deles com a vertente da arte na qual muitos artistas abordam o tema do cotidiano em seus trabalhos. Desta forma, em certos
103 momentos, presenciamos que a distância ora existente entre a obra e o público parece diminuir diante da exposição de propostas interativas, bem como através dos ícones do cotidiano que oram aparecem super valorizados nessas obras (personagens de história em quadrinhos, atrizes / atores – nacionais ou internacionais; enfim, toda uma diversidade de imagens que desfilam em torno deste tema). Para alguns adolescentes, a relação com a arte passou a ser vivida como um divertimento, uma recreação. Esta identificação ligada ao divertimento se processa até pelos próprios meios e temas com os quais os artistas vêm utilizando a mediatização.(VITELLI, 2005, p.120)
Sensibilização com jornal (Fonte: FOGAZZI, 2010)
Alguns alunos apresentaram maior habilidade em manusear o jornal, outros não conseguem sair do baixo relevo para o plano tridimensional, ficando preso em dobraduras. Para poder avançar na escultura tridimensional, provoquei a construção de novas formas para aqueles que estavam
104 manifestando um contato superficial com o material. apresentar a proposta do personagem esquisito.
Formas com jornal (Fonte: BALENTI, 2010)
3ª ENCONTRO Aula: 03 Data: 28 de abril – 10h30 às 12h10min
PLANEJADO Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte
Duração: 2 períodos de 50 minutos
Não houve tempo de
105
Conteúdos o Forma e conteúdo. o Formas livres e formas geométricas. o Desenho. o Escultura.
Objetivos o Criar o conceito do personagem “Bicho Esquisito”. o Criar o desenho do personagem. o Planejar uma proposta tridimensional do personagem. o Construir o personagem em forma tridimensional.
Planejado o Apresentação do vídeo “ Coisas de Pássaros” (For the birds).
Cena do filme Coisas de Pássaros (Fonte: Pixar)
o Refletir sobre a temática do filme de animação relacionando ao bullying escolar.
106 o Debater a relação dos personagens do filme relacionando ao cotidiano escolar e as experiências de exclusão vividas por cada aluno. o Refletir sobre uma situação vivida em que nos sentimos estranho num ambiente? Porque aparece esse sentimento? Quando a gente se sente pertencente em um grupo? Quais sãos os ambientes que são mais favoráveis a esse pertencimento? Quais são menos favoráveis? o A partir destas reflexões, criar um personagem que represente “ o bicho esquisito deles”. A proposta inicial é desenvolver um conceito, criar um desenho, e planejar a escultura deste personagem partindo da papelagem e aproveitamento de materiais reciclados. o Iniciar a construção da escultura do personagem.
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Apresentação de vídeo de animação. o Dinâmica de grupo.
Recursos o Jornal e papelão. o Cola branca e potes plásticos. o Pincéis. o Fita crepe. o Folha de papel branco. o Lápis de cor ou giz de cera. o Computador. o DVD da PIXAR.
Avaliação o Analisar a capacidade de expressão dos alunos através de desenhos após já terem vivenciado a atividade na primeira semana e já terem recebidos um feedback do professor. o Identificar os pontos de reflexão dos alunos frente a problemática do bicho esquisito e o bullying escolar.
107 Encaminhamento: o Solicitar aos alunos que tragam material reciclado para construção da escultura conforme o desenho e planejamento.
REALIZADO Comecei a aula já apresentando uma novidade: um vídeo de animação dos estúdios da empresa Pixar: “ Coisas de Pássaros” ( For the birds). O filme trata de uma temática bem próxima e bastante discutida atualmente, o bullying. Nele um grupo de pássaros pequenos e iguais excluem do pertencimento ao grupo um pássaro grande, desengonçado e diferente. A história do curta prendeu a atenção de todos. Após a apresentação, o debate foi bastante participativo. Foi identificado no grupo que a maioria já vivenciou uma situação semelhante ao ingressar no Colégio Aplicação depois de serem transferidos de outras escolas. Alguns manifestaram que o sentimento do não pertencimento ao novo grupo foi tamanho que pensaram até em desistir de estudar. Refletiuse que aquele pássaro grande e desengonçado apresentado no vídeo era tratado como um “bicho esquisito”
assim como eles se sentiram quando
chegaram no primeiro dia no colégio. Foi a partir desta reflexão que apresentou-se a proposta da criação do seu “Bicho Esquisito”, ou seja, um personagem que representasse todo este pavor do sentimento da rejeição de grupo. O personagem deveria ser desenhado, planejado e executado nas próxima aulas. O vídeo de animação foi um acerto, os alunos estabeleceram uma relação bem afinada com a temática do filme. Nossa conversa sobre os personagens revelou situações muito próximas vividas pelos colegas ao ingressar no Colégio Aplicação, pela primeira vez eu me vi numa conversa de iguais, falando a mesma língua. Quando abordado sobre o material solicitado para dar inicio a tarefa, a maioria respondeu que havia esquecido. Com razão. Tivemos uma pausa de duas semanas consecutivas entre as aulas de artes por motivo de feriado e
108 aniversário da escola. Esta suspensão das aulas sempre causa uma dispersão no andamento do trabalho. Quando retomamos alguns conceitos da aula anterior, pareciam esquecidos. Foi solicitado o empenho de todos em trazer os materiais solicitados para darmos continuidade a proposta.
Desenho do “Bicho Esquisito” (Fonte: BALENTI, 2010)
4ª ENCONTRO
109
Aula: 04 Data: 05 de maio – 10h30 às 12h10min
PLANEJADO Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte
Duração: 2 períodos de 50 minutos
Conteúdos o Forma e conteúdo. o Formas livres e formas geométricas. o Escultura.
Objetivos o Construir em forma tridimensional partindo do desenho planejado. o Elaborar estudo de construção do personagem e escolha de materiais adequados. o Apresentar as obras do artista Cho Dorneles. o Refletir sobre universo do artista projetado em suas obras e suas escolhas de materiais partindo de sua realidade.
Planejado o Retrospectiva dos encontros anteriores. o Utilizando o recurso do Power Point, apresentar as obra de Cho Dorneles. A partir das obras apresentadas, refletir com os alunos a importância do conhecimento de um material para torná-lo expressivo na obra.
110
Foto das esculturas de Cho Dorneles (Fonte: DORNELES, 2008)
o Elaborar o processo individual de construção do personagem “Bicho Esquisito” a partir dos desenhos já realizados e fazer levantamento dos materiais necessários para sua execução.
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Apresentação de Power Point Cho Dorneles. o Execução de tarefas. o Pratica individual.
Recursos o Jornal e cola branca. o Cola e pincéis. o Barbante o Fita crepe
111 o Material reciclado, embalagens. o Retalhos de isopor. o Lixa de madeira.
Avaliação o Avaliar
a
criatividade
nos
projetos
individuais
identificando
estereótipos ou copiados e sem expressão. o Identificar a variedade de materiais percebida pelos alunos para a construção do personagem.
REALIZADO Tendo uma turma de oito alunos quando faltam dois parece ser significativo. Os alunos estavam bastante agitados. Dia de conselho de classe. Os novos não sabiam o que era exatamente o tal „conselho”. Tive duas interferências já no inicio da aula: uma professora passou de sala em sala explanando aos alunos sobre o que seria a reunião, muitas dúvidas e conversas retardaram o inicio da aula. Quando a turma se acalmou apresentei o Power point sobre o artista Cho Dorneles, todos ficaram muito interessados pelo seu trabalho realizado com papel machê e filtros de café. Houve até uma proposta espontânea de visita ao atelier do artista. Proposta esta que encaminhei ao Dorneles mas nunca conseguimos acertar as datas com o calendário da escola. A construção do “Bicho Esquisito” de cada um ficou bastante empacada, novamente a maioria não trouxe o material para trabalhar. Prevendo esta possibilidade me antecipei e trouxe algumas embalagens de papelão, retalhos de isopor e jornais para que ninguém ficasse parado. Retomei a questão da participação de todos em conseguir os materiais. Uma onda de apatia me dá um sinal de alerta para fazer algo para motivar a turma na atividade. Uma desmotivação natural em pensar algo, em ter que resolver um problema apresentado: “Como construir a minha escultura, o meu Bicho Esquisito?”. Percebo que existe uma constância infantil
112 desnecessária de pedido de ajuda para fazer as coisas. Tudo parece difícil de realizar. A escultura de isopor deixou a sala muito suja de flocos. Este material não é nada apropriado para um atelier de escola, mesmo que só uma aluna estivesse trabalhando com esta proposta. Ao término do período levei um bom tempo para deixá-la em condições. O tempo passou correndo, o sinal tocou e eu fiquei com boa parte da limpeza pra fazer. Foi um dia bem cansativo tocar a turma. Minha vivência de atelier é outra. O aprendizado de artes na escola tem, necessariamente que trabalhar com materiais básicos para oferecer ao aluno os primeiros contatos com a pintura, escultura etc. Materiais alternativos exigem espaços alternativos e a escola, por melhor equipada que seja, nunca será um espaço alternativo. As salas participam de um rodízio de turmas que é impossível trabalhar com produtos químicos como; resinas, solventes, colas de contato etc. Em geral produtos que exalam substâncias tóxicas nos seus processos de secagem ou cura ficando no ar por dias nas salas.
5ª ENCONTRO Aula: 05 Data: 12 de maio – 10h30 às 12h10min
PLANEJADO Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte
Duração: 2 períodos de 50 minutos
Conteúdos o Forma e conteúdo. o Formas livres e formas geométricas. o Escultura. o Pintura.
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Objetivos o Construir em forma tridimensional partindo do plano. o Refletir sobre a utilização da papelagem na elaboração de esculturas e alegorias e cenários.
Planejado o Apresentação das fotos do processo de construção de cenários do Natal Luz de Gramado, espetáculo “O Cavaleiro da Mão-de-Fogo. o Refletir com os alunos sobre a importância do conhecimento de um material para torná-lo expressivo na obra.
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Apresentação de fotos. o Execução de tarefas. o Prática individual.
Recursos o Jornal e cola. o Pincéis e tesoura. o Barbante. o Fita crepe e isopor. o Lixa de madeira. o Tinta acrílica de várias cores.
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Construção do Espetáculo O Cavaleiro da Mão-de-Fogo (Fonte: BALENTI, 2010)
Natal Luz (Fonte: KIRAN, 2008)
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Avaliação o Refletir com os alunos dificuldades com os materiais e problematizar novas combinações para obter resultados propostos nos desenhos.
REALIZADO Outro dia lento. Percebo que os alunos estão desmotivados. As constantes aulas suspensas devido ao calendário escolar parecem esfriar a proposta de trabalho do Bicho Esquisito. Alguns estão frustrados para transpor o desenho para o tridimensional, apresentam dificuldades em pintar, construir, colar e elaborar formas. Entramos na fase crítica do processo. Com as datas de festividades, conselho de classe e feriados coincidindo com os dias de aula meu estágio se alongou, iniciando em 31 de março depois de duas aulas assistidas e concluindo somente em 15 de junho. Cada vez que os encontros eram suspensos a turma retornava desconectada com o assunto da semana anterior. Corro de uma mesa a outra tocando todas as propostas individuais, apresentando soluções no fazer, no prender, no fixar. Já faltam duas semanas para encerrar as sete semanas propostas e não vejo as esculturas aparecerem e ainda tenho que entrar com o conteúdo da semana de 22. A coordenadora do curso e professora titular da turma me alertou que precisarei de mais duas semanas, no mínimo. Tudo leva o dobro do tempo para ser construído. Estabeleço um prazo a turma para conclusão.
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Construção do “Bicho Esquisito” (Fonte: BALENTI, 2010)
6ª ENCONTRO Aula: 06 Data: 26 de maio – 10h30 às 12h10min
PLANEJADO Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte
Duração: 2 períodos de 50 minutos
117 Conteúdos o Forma e conteúdo. o Escultura. o Pintura. o Escala de cores.
Objetivos o Concluir as esculturas do personagem Bicho Esquisito. o Concluir acabamento com pintura e colagens. o Desenvolver escala de cores.
Planejado o Finalização das esculturas. o Processo de pintura das esculturas. o Reflexão com os alunos a escala de cores e possibilidades de texturas partindo da sobreposição de tonalidades variadas da mesma cor.
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Execução de tarefas. o Prática individual.
Recursos o Pincéis. o Tinta acrílica de diversas cores. o Potes com água e papel jornal. o Placas de papelão para escalas de cores.
Avaliação o Refletir com os alunos processo de pintura saindo dos estereótipos de pintura, aprofundando o contato com a pincelada e a sobreposição de camadas de tinta no acabamento das esculturas. o Refletir com os alunos de como a pintura e as cores podem valorizar as formas obtidas na escultura.
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REALIZADO Hoje cheguei bem cedo na escola, fui para sala de artes e olhei atentamente os trabalhos dos alunos e refleti sobre o que estava faltando para ser concluído. Organizei o atelier de modo a otimizar o tempo de trabalho com os alunos, distribui cada escultura ao lado do seu projeto sobre as mesas. Preparei os potes de cola para aqueles que ainda não tinham iniciado a pintura. Distribui papel jornal rasgado dentro dos potes de cola para que a papelagem fosse realizada de forma mais rápida. Agrupei os colegas que geralmente costumam trabalhar juntos separando os dispersivos. Uma das alunas chega mais cedo para começar a trabalhar. Um bom sinal! Traz uma garrafa de pet para começar a sua escultura. Quando os demais alunos chegaram na sala, reuni a todos e estabeleci que este seria o último dia de papelagem antes
da pintura.
Proponho esforços concentrados nesta aula para adiantar os trabalhos. Durante o período alguns alunos manifestaram que perderam o preconceito quanto a papelagem e passaram a gostar do processo. Outra aluna manifestou que a sua boneca estava ficando, finalmente, legal! Os demais começaram a reconhecer que alguma coisa estava aparecendo depois de tanto tempo de construção. O dia rendeu como nenhum outro. Corro de um lado ao outro da sala atendendo as dúvidas e encaminhando soluções para a construção das esculturas. Este foi um dia legal de trabalhar! Sai satisfeito da escola, reconheço que ao trabalhar com adolescentes não se pode esperar resultados imediatos e o aprendido não é facilmente visível ao professor. É preciso um tempo paciencioso do mestre para que o conhecimento floresça e seja perceptível. Talvez em determinados momentos do estágio eu esteja esperando um “produto final” dos alunos e menos atento ao processo. Algo, com certeza, já está se processando dentro das suas cabeças que talvez não esteja ainda sendo revelado e por isso eu não esteja percebendo. Mas quando os vejo concentrados em seus personagens ai está um momento de relação com a arte
119 e os materias, é nestas horas que percebo os alunos estão tateando uma forma de expressão.
Pintura e escala de cores (Fonte: BALENTI, 2010)
7ª ENCONTRO Aula: 07 Data: 02 de junho – 10h30 às 12h10min
PLANEJADO Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte.
120 Duração: 2 períodos de 50 minutos Conteúdos o Pintura. o Escultura. o Escala de cores.
Objetivos o Concluir as esculturas do personagem Bicho Esquisito. o Desenvolver escala de cores. o Refletir sobre a relação claro/escuro na pintura e a sobreposição de tons na criação de volume.
Planejado o Iniciar trabalhos de pintura logo no início do período para otimização do tempo. o Analisar com os alunos o que esta faltando para finalizar as esculturas. o Refletir com os alunos as pinturas que estão apresentando resultado. o Sugerir proposta de término das pinturas em horário alternativo no atelier da escola. o Acordar com todos alunos para que tragam os trabalhos prontos na próxima aula para avaliação e início de novo conteúdo.
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Prática individual.
Recursos o Cola e pincéis. o Fita crepe. o Tinta acrílica de várias cores. o Potes de água. o Toalhas de papel.
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REALIZADO Comecei a aula reunindo todos os alunos para uma avaliação sobre o andamento dos trabalhos. Propus que cada um refletisse sobre suas dificuldades em chegar ao término do trabalho. Os prazos de finalização já tinham acabado e ainda alguns alunos não tinham terminado a escultura. A coordenação do curso colocou a disposição o atelier de artes na segunda feira, um horário alternativo para aqueles alunos que quisessem terminar os trabalhos. Alguns se dispuseram a comparecer. Uma aluna manifestou o desinteresse nas aulas de artes por não gostar de atividade prática, comentou que estava ali porque não tinha alternativa, quando escolheu a disciplina de artes visuais entre teatro e música, estava em dúvida. Indaguei que o seu desinteresse era porque não tinha estabelecido um canal de expressão com algum material e que esta posição em relação às aulas práticas não deveria ser encarada como uma sentença. Propus que experimentasse mais e resistisse menos. Mas avaliei positivamente o fato dela ter posicionado-se diante do grupo. Apenas lamento ter guardado esta manifestação de rejeição por tanto tempo. Se tivesse falado ao professor, poderia fazer algo concreto para ajudála ao contrário de apenas observar o desinteresse manifestado nas constantes faltas. A coordenadora do curso já me havia comentado que esta aluna estava vagando pela escola durante o período da disciplina de artes embora ela tenha me relatado estar doente. Deixei este assunto para ser levantado no conselho de classe. Todos falam dos seus trabalhos manifestando satisfação no resultado a que estavam chegando. Concluímos a conversa e começamos a trabalhar. Observei que esta abertura dos alunos em relação a disciplina estabelece uma confiança no professor deixando de lado medos e temores sobre avaliação. Este conversa franca sobre o andamento dos trabalhos alivia a tensão e a ansiedade de ter que terminar um trabalho por obrigação e não por prazer.
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Processo de finalização das esculturas (Fonte: BALENTI, 2010)
8ª ENCONTRO Aula: 08 Data: 09 de junho – 10h30 às 12h10min
PLANEJADO Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte
Duração: 2 períodos de 50 minutos
123 Conteúdos o Escultura. o Pintura. o Escala de cores.
Objetivos o Concluir as esculturas do personagem Bicho Esquisito. o Desenvolver escala de cores. o Refletir sobre a relação claro/escuro na pintura e a sobreposição de tons na criação de volume.
Planejado o Iniciar trabalhos de pintura logo no início do período para otimização do tempo. o Analisar com os alunos o que esta faltando para finalizar as esculturas. o Refletir com os alunos as pinturas que estão apresentando resultado. o Sugerir proposta de término das pinturas em horário alternativo no atelier da escola. o Acordar com todos alunos para que tragam os trabalhos prontos na próxima aula para avaliação e início de novo conteúdo.
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada.
Recursos o Cola e pincéis. o Fita crepe. o Tinta acrílica de várias cores. o Potes de água. o Toalhas de papel.
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REALIZADO Hoje o trabalho andou tranqüilo, os alunos concentraram-se no acabamento das pinturas conseguindo fazer uma reflexão maior sobre a relação claro e escuro, as infinitas possibilidades de texturas que as pinceladas juntamente com uma variedade de tons podem criar. Um dos alunos parece compreender bem esta realização e conclui um trabalho bem elaborado de pintura. Outra aluna reconhecendo a evolução do trabalho do colega também segue pelo mesmo caminho.
Foto da janela da sala de aula (Fonte: BALENTI, 2010)
Para exemplificar esta relação das cores com o volume, fotografei com o celular a janela da sala de aula para demonstrar a beleza da luz do sol atravessando as folhagens. Refletimos que os infinitos tons de verde que enxergamos é que nos fazem perceber tamanha beleza, transparência, forma e volume. Que esta imagem não precisa ser copiada como uma fotografia, mas
125 pode ser impressa na pintura de forma difusa. Desta maneira comecei a introduzir o conteúdo do Impressionista que será abordado na aula seguinte na introdução ao modernismo. Este é o melhor momento do estágio, quando os alunos começaram finalizar os seus bonecos e a se reconhecerem neles.
Esculturas finalizadas (Fonte: BALENTI, 2010)
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9ª ENCONTRO Aula: 09 Data: 16 de junho – 10h30 às 12h10min
PLANEJADO Tema: Qual é o canal? Sensibilização pela arte
Duração: 2 períodos de 50 minutos
Conteúdos o Semana de Arte Moderna de 1922. o Impressionismo. o Modernismo.
Objetivos o Apresentar a Semana de Arte Moderna. o Identificar
características
do
Romantismo,Impressionismo
e
Modernismo nas obras de Victor Meirelles, Eliseu Visconti e José Ferraz de Almeida Jr. o Refletir sobre a importância da semana nas artes. o Refletir com alunos o resultado do trabalho “O Bicho Esquisito” relacionando com o movimento modernista e suas propostas estéticas para o contexto brasileiro da época. o Refletir sobre os reflexos do Movimento Modernista na cultura brasileira.
Planejado o Distribuir sobre a grande mesa do atelier reproduções das obras A Primeira Missa de Victor Meirelles, O Caminho da Escola de Eliseu Visconti, O homem Amarelo de Anita Malfatti e o Caipira Picando Fumo de José Ferraz Jr.
127 o Solicitar aos
alunos que retirem de uma lata de chá frases
recortadas em papel relacionadas a temática, o movimento, a textura da pintura, o título da obra e o nome do autor. Cada um que retira a frase tenta identificar o conceito a obra, se não souber pode pedir ajuda aos colegas.
VICTOR MEIRELLES ROMANTISMO TEMA HISTÓRICO MOMENTO IMPORTANTE E SOLENE ESTUDO RIGOROSO DAS RAÇAS, VESTIMENTAS, ARMAS, ATITUDES PLANOS DISTINTOS MASSAS DE CLARO E ESCURO EM OPOSIÇÃO FOCO DE LUZ NA FIGURA PRINCIPAL IMITAM TEXTURAS REAIS: ROSTO, PELES, TECIDOS, MADEIRA, VEGETAIS, METAIS PRIMEIRA MISSA NO BRASIL, 1860, ÓLEO SOBRE TELA, 268 X 356 CM Frases impressas em tiras de papel (Fonte: BALENTI, 2010)
o Após o trabalho de classificação das obras segue exposição sobre a transição do impressionismo para o modernismo no Brasil. o Exposição dos trabalhos de Anita Malfatti. o O movimento de 22 e personagens importantes. o Reflexos do movimento na cultura brasileira. o Relacionar “O Bicho Esquisito‟” aos personagens do movimento modernista em seu contexto histórico da espoca.
128
Obras para exercício para leitura de imagens (Fonte: GARCEZ; OLIVEIRA, 2006)
Questionário de auto-avaliação 1) Quais foram os artistas apresentado em aula? 2) Qual dos artistas apresentados você achou mais legal? Comente: 3) Das atividades realizadas, qual você mais gostou? Por quê? 4) Através de qual dessas atividades você conseguiu estabelecer um canal de expressão? 5) Qual a importância que você considera a Arte na sua vida?
129 6) Assinale uma nota para cada atributo no quadro abaixo:
Atributo / nota
0
1
2
3
4
5
Sua participação individual na aula Sua contribuição no trabalho do grupo Responsabilidade quanto aos materiais solicitados Respeitou o espaço e a produção do colega Auto organização com materiais e a sala de aula Resultado final do seu trabalho
Metodologia o Dinâmica Expositiva dialogada. o Leitura de imagens reproduções de obras.
Recursos o Reproduções de obras. o Lata com frases impressas em tiras de papel.
Avaliação o Avaliar com os alunos a relação do trabalho bicho esquisito com o movimento modernista. o Avaliar a experiência vivenciada com a papelagem e a pintura.. o Refletir sobre a importância da arte como canal de expressão
REALIZADO Último dia de estágio. Cheguei cedo na escola e organizei as reproduções dos pintores distribuindo sobre a mesa central da sala. Deixei para comentar as esculturas no final, pois era importante dar início ao conteúdo sobre a Semana de Arte Moderna de 22. Apresentei aos alunos as pinturas e pedi para que observassem bem as obras. Abri a lata contendo tiras de papel com frases relacionadas as obras expostas. Propus um jogo de relacionar as
130 ideias contidas nas frases com as obras apresentadas. A discussão foi ótima, os alunos mostraram bastante interesse no brincadeira. Após preencher as reproduções com as frases, fiz uma breve exposição dialogada sobre a arte no Brasil colônia, a vinda da família real, a missão francesa e a arte acadêmica. A coordenadora do curso e professora titular se incorporou a aula iniciando o processo de transição para a retomada de sua turma. Para mim foi uma
significativa
colaboração,
Simone
Fogazzi
possui
um
grande
conhecimento de história da arte brasileira e sempre que possível fazia um parêntese na minha apresentação contribuindo com informações e redobrando a atenção da turma ao tema dos modernistas. Utilizei várias ilustrações de obras dos modernistas refletindo a importância do movimento a arte brasileira. Retomei a temática do “Bicho Esquisito” salientando que este personagem estava representando de alguma forma a procura de uma identidade de cada um, assim como fizeram os artistas do movimento de 22 quando procuraram reconhecer-se com a cultura nacional mesmo enfrentando o conservadorismo da época. Concluiu-se então que ser um esquisito também é uma atitude de rebeldia e postura artística indo ao encontro do novo, do não experimentado.
131
CAPÍTULO 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
132
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta de ensino
Outro fator muito importante no desempenho do ensino de Arte Visuais na escola, esta relacionado ao status dado a disciplina dentro do currículo. Muitos diretores e coordenadores desconhecem a importância da expressão artística no desenvolvimento das inteligências, valorizando mais as disciplinas consideradas “fundamentais”, pelo ensino tradicional. Este descaso pode ser percebido pela falta de acompanhamento dado pela coordenação da escola e pelo professor titular. Ao conversar com a professora de Artes da Escola Estadual Rio de Janeiro sobre minha proposta de ensino para a turma, ela concordou com tudo. Eu poderia trabalhar qualquer conteúdo dentro das normas curriculares determinadas pela SEC. Não havia um planejamento o qual eu deveria seguir e que tivesse continuidade com os trabalhos aplicados naquela turma no ano anterior. Não havia um potencial especifico a ser desenvolvido. A turma não era exatamente a mesma observada no ano anterior, as turmas nas escolas estaduais mudam e vários alunos são transferidos ou abandonam a instituição. A dificuldade de integração dos novos alunos é bem presente. No Colégio de Aplicação os grupos de amigos formados no primeiro ano tendem a escolher a disciplina de arte muito em função de permanecer junto aos colegas. O projeto de ensino a ser desenvolvido será adaptado em função dos conteúdos abordados em cada turma, aos alunos do segundo ano, há uma preocupação da coordenação do curso em trabalhar o Movimento Modernista e a Semana de 22, uma vez que aquela turma estudou os demais movimentos artísticos no ano anterior. Esta abordagem pedagógica voltada a construção de alternativas curriculares que atendam a todos nas suas diferenças oferecendo um visão cultural e ampla da historia da arte, vai prepará-lo para as provas do ENEM e também para o vestibular na UFRGS. Estes alunos, com certeza estarão em vantagem em relação aos alunos da escola pública tradicional no momento de serem avaliados. Durante o desenrolar do estágio, fui acompanhado aula a aula. A coordenadora do curso
133 examinou e discutiu cada proposta a ser aplicadas aos alunos. Em nenhum momento a turma me foi entregue sem o acompanhamento da supervisão. A coordenação conhecia cada aluno e acompanha seu histórico de desempenho desde seu ingresso no colégio. Toda vez que nos reuníamos parecia que falávamos de familiares próximos. Ao final espontaneamente me foi entregue uma avaliação do meu estágio. Enquanto na Escola Estadual, a turma me foi entregue no primeiro dia, o professor saiu da sala e voltou somente na ocasião da visita da coordenação do estágio. Em alguns dias estava ausente da escola. Sobre os alunos a única informação que tinha era a lista dos terríveis, comentados na sala dos professores de forma pejorativa pelos professores. No Colégio de Aplicação a turma era composta de 8 alunos, opção que cada um pode fazer entre artes cênicas, música e artes visuais na matricula para o segundo ano do ensino médio. Na Escola Rio de Janeiro haviam 30 alunos na lista de chamada, metade compareceu as aulas de arte. Outros surgiram durante o estágio transferidos de outras escolas e alguns desapareceram sem nenhuma explicação ao professor estagiário. No segundo encontro, tentei realizar o exercício de sensibilização tátil, solicitando a todos os alunos que permanecessem sentados e colocassem uma venda nos olhos para manusear objetos e depois desenhá-los em papel. Foi um caos. Esta aula ocorreu após o intervalo, a turma se apresentou quase completa neste dia. Estavam muito inquietos desde a entrada na sala, empurrões, brigas, gritos, tudo. A sensibilização dos objetos com as vendas foi impossível, com tanto tumulto ninguém conseguiu ficar com os olhos vendados, provavelmente devido ao ambiente intranqüilo, com trocas de tapas e cascudos como alguém poderia ficar sentado na classe com os olhos vendados. Em função da agitação, conduzi a leitura tátil para um exercício de desenho de observação. A questão da suspensão do exercício de sensibilização foi prudente, porque seria impossível trabalhar com aquele grupo uma técnica para o qual eles não estavam preparados. O histórico das aulas de arte já vinha com uma abordagem desconectada para o sensível de muitos anos. Hoje eu percebo que seria exigir demais desta turma de adolescentes, atenção e entrega as propostas de um estagiário, recém chegado na escola. conquistada primeiro.
Esta confiança e intimidade deveria ser
134 Já no Colégio de Aplicação, o mesmo exercício provocou “frisons” na turma conforme observado no primeiro encontro. A concentração durante o exercício foi bastante significativa. Quanto a leitura tátil, alguns foram bastante cautelosos, se prendendo nos detalhes, já outros, faziam uma leitura muito rápida, apenas focando na quantidade de objetos a disposição para manusear. Após o exercício solicitei que desenhassem em uma folha branca os objetos que mais lhes impressionaram. Ao final, todos avaliaram positivamente a experiência, refletindo a importância dos sentidos para a produção artística e a intensificação da percepção dos demais sentidos quando um canal perceptivo é bloqueado. Aqui no Colégio de Aplicação ficou claro a importância de um ambiente tranqüilo para poder realizar um exercício de sensibilização, são poucos alunos e o espaço é amplo, com mesas adequadas, propiciando uma ação mais concentrada tanto do aluno como do professor.
Reproduzindo os mecanismos de disciplina e controle Primeiramente gostaria de me apresentar como ex-aluno de Artes Visuais que voltou a Universidade para concluir curso superior, 24 anos depois de ingressar na licenciatura em Educação Artística da FURG. Logo, com quase 50 anos, voltar a sala de aula é um retorno no tempo a uma peça teatral conhecida onde todos os atores trocaram de papéis. O referencial que tinha em relação a atenção em sala de aula é bem diferente da realidade atual escolar. Durante o meu ensino médio freqüentado em colégios confessionais, na década de setenta, era exigido do aluno uma postura corporal rígida, vinda da disciplina religiosa. Permanecer paralisado na cadeira, sem olhar para os lados e voltado totalmente ao que o mestre falava era o correto. Este comportamento era corrigido constantemente pelo chefe de disciplina com ameaças de punições, construindo nos alunos um mecanismo de censura interna, sempre acionado diante de autoridade. Em vários momentos do estágio foram apresentadas situações de “descontrole” da turma, principalmente na Escola Estadual Rio de Janeiro. A turma
135 51, composta de alunos de faixas etárias diferentes, era considerada o terror da escola. Sempre entravam na sala aos tapas e empurrões. Alunos mais velhos a baterem nos pequenos, meninas sempre a gritar e atirar objetos nos meninos. Antes de começar cada aula, preciosos minutos foram dispensados para acamar os ânimos até que eu pudesse expor a proposta do dia. Este comportamento agressivo e característico do desenvolvimento na adolescência é impossível de ser controlado. Faz parte do processo de aproximação dos pares. Não contava com tamanha inquietação corporal. Neste caos, freqüentemente esquecia de fazer a chamada. Quando tocava o sinal saiam correndo sem que eu conseguisse mobilizar todos a organizarem a sala. Me sentia mal com a questão da bagunça, nunca conseguia disciplinar o tempo para arrumar a sala, quando o trabalho começava a engrenar, tocava a sineta. Sentia que estavam me fazendo de bobo e tentando tirar a minha autoridade. Precisei urgentemente mudar de estratégia, pois estava ocupando o tempo do início das aulas do outro professor com a organização da sala. No décimo primeiro, encontro ao final da aula, corri para porta e tranquei a saída. Obrigando todos a limpar e organizar a sala antes de serem liberados. Naquelas alturas, nem pensava o que a legislação permite ou não, sabia que não poderia obrigar um aluno a permanecer na sala, mas, se eu não fosse enérgico, estaria novamente sozinho tendo que realizar a faxina e aprontar a para a próxima turma. Um momento crítico ocorreu já no segundo encontro. Durante a sensibilização com os objetos, nada acontecia conforme o planejado. A turma estava muito agitada em função do intervalo, percebia que começava a subir o tom de voz mas mesmo assim, não era atendido em nada, os objetos apresentados foram atirados pelos alunos uns nos outros, destruídos ou cortados. Quando a turma começou a desenhar, brigas começaram na sala. Bem, aqui foram apertados os meus “botões da impaciência”. O descontrole da turma expôs a minha frágil “autoridade” diante da classe. Me baixou, lá do Colégio Salesianos, um padre autoritário e furioso. Eu comecei a gritar com a porta aberta expulsando um aluno da sala por indisciplina. Parecia que eu, o estagiário, tinha enlouquecido.
Um clima de tensão e confronto assustou os alunos menores e
deixou os maiores em estado de alerta. A turma se acalmou e voltou a desenhar. A professora titular apareceu para contornar a situação. Os desenhos foram entregues. O sinal tocou e saíram todos correndo. Para estes extremos a escola tradicional possui um sistema de punição e controle para os desordeiros. Ao colocar
136 um aluno para fora, o professor tem que assinar uma ocorrência, encaminhar a direção que, por sua vez, vai convocar o aluno para explicações que serão debatidas no conselho de classe e apresentadas aos pais. Uma chatice burocrática para documentar e proteger o professor e a escola atestando a ineficácia do sistema em estabelecer diálogo. Incomodou, fora! No Colégio de Aplicação a disciplina é estabelecida por um acordo muito claro entre alunos, coordenação e professores. As regras são obedecidas rigorosamente desde cedo e o ambiente é bastante tranqüilo, se algum aluno chega atrasado na sala após início da aula, ele deve passar na secretaria e trazer um atestado para poder entrar, assim como a camisa ou blusão de identificação da escola é exigido na entrada. São pequenas regras que estabelecem limites e criam responsabilidades. Nesta escola, uma aluna havia “matado” a aula de artes se escondendo nos banheiros. Em conversa com a turma para avaliar o processo em que cada um estava na construção do “Personagem Esquisito,” esta mesma aluna, manifestou o desinteresse nas aulas de artes por não gostar de atividades práticas, comentou que quando escolheu a disciplina de artes visuais porque não tinha duvida do que queria estudar. Comentei que o seu desinteresse poderia estar relacionado ao fato de não estabelecer um canal de expressão com a arte. Este fato não era uma sentença na vida de ninguém. Propus que experimentasse mais e resistisse menos nas aulas práticas. Avaliei positivamente o fato dela ter se expressado diante do grupo, mesmo lamentando ter guardado esta indisposição por tanto tempo, uma vez que já estávamos nas últimas semanas de estágio. Indaguei que se tivesse me contado, poderia fazer algo para ajudá-la ao contrário de apenas observar o desinteresse manifestado nas faltas. Quanto a matação de aula deixei este assunto para ser levantado no conselho de classe juntamente com a coordenadora.
Estes duas
formas apresentadas de procedimento diante de conflitos com alunos, mostram que sob pressão e condições adversas de trabalho, o educador perde o equilíbrio emocional trazendo mecanismos de ação nada dignos para a profissão. Não é por acaso que cada vez mais vemos nas páginas policiais ocorrências envolvendo agressões físicas entre alunos e professores. Há um conflito claro de referência do papel da autoridade que cada um dos lados construiu. Neste fato percebi, que um boa conversa ameniza os conflitos e
137 estabelece vínculos de confiança. É importante que os alunos percebam que você se importa com eles, e que a escola também manifeste este “importa-se”, eles passam a respeitar os professores e a instituição por isso. Muitas vezes esta relação não é estabelecida em casa, os pais estão cada vez mais ausentes de seus papéis, na batalha pelo mercado de trabalho, deixando unicamente para escola este papel tardio de norteador. É muita responsabilidade para Escola.
O perfil dos alunos e os vínculos com a escola
Podemos estabelecer que o perfil de aluno que chega a determinada escola esta diretamente relacionado com o perfil cultural e econômico dos pais e suas perspectivas em relação a educação dos filhos. A importância das artes e da cultura na formação é reconhecida também pelos pais que tiveram acesso às artes e procuram matricular seus filhos em escolas que também valorizam a formação cultural no seus currículos. A grande maioria dos alunos matriculados na Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro não optaram por ela. Para quem é pobre esta é a única opção. A maioria pertence a classe econômica baixa e residem nas imediações da escola, um número significativo de alunos é oriundo de bairros distantes, cujos pais, por trabalharem na Cidade Baixa, ali buscam matrícula. Para este perfil de aluno sem opção de escolha, a escola não colabora em nada para sua auto estima. Embora esteja em local privilegiado, próximo ao centro, centros culturais da cidade, o estado de conservação da escola em nada reproduz beleza e cultura, aparenta descaso. Os jardins estão cheios de mato e as quadras de esporte com aparelhos quebrados sem contar que o muro da entrada escola foi pintado de preto, acredito que escolheram esta cor para evitar grafites. Qual a relação que um aluno de classe baixa pode estabelecer entre sua escola e sucesso profissional quando tudo a sua volta é a própria decadência. A ideia de que só estudo poderia salvá-los da pobreza proporcionando uma carreira de sucesso é uma mentira. Os professores da rede pública estadual representam a própria desilusão da escola.
138 Enquanto isso os pais que disputam o sorteio das vagas do Colégio de Aplicação, sabem que estão no páreo de uma das melhores escolas públicas da cidade e zelam para que seus filhos tenham um ensino de qualidade. Ao ingressar no Colégio de Aplicação já estão dentro do território da UFRGS. Eles cuidam da escola e se sentem bem nela, não há depredação. Existem muitos espaços onde eles podem interagir. As portas dos banheiros recebem pinturas feitas por eles assim como as intervenções artísticas nos bancos espalhados pelo pátio. O hall de entrada é amplo e sempre exibe exposição de trabalho de alunos. O ambiente representa a expressão dos alunos. A escola é uma extensão da suas casas. Assim podemos concluir que a resposta dos alunos ao ambiente escolar esta diretamente relacionada a atenção e cuidado dispensado pela instituição a eles. É uma resposta natural, se recebo carinho e atenção em forma de conhecimento e infra-estrutura, aprendo desde cedo que conhecimento e educação são importantes e de grande valor.
O perfil dos professores de arte
Em ambas escolas os dois professores estão bem credenciados para atuar na disciplina, um possui Licenciatura em Artes Visuais, Pós graduação em Psicopedagogia e Mestrado em Educação, o outro possui Licenciatura em Artes Visuais, Especialização em Metodologia de Ensino e Bacharelado em Artes Visuais. A diferença de atuação está condicionada a postura assumidamente tradicional de ensino permanente na Escola Estadual colocando a disciplina de Artes como perfumaria em detrimento dos conteúdos “sérios”. Enquanto no Colégio de Aplicação da UFRGS as artes assumem uma importância no currículo pois fazem parte do processo de desenvolvimento do aluno como um todo, uma visão de futuro que considera a condição humana como objetivo essencial de todo o ensino.
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O desespero da carga horária
Uma das questões levantadas por vários colegas de estágio que não tinham encarado uma turma em sala de aula, foi a carga horária oferecida à disciplina de artes nas escolas. Os projetos de ensino de artes transitaram entre duas dimensões de tempo: uma primeira dimensão diz respeito a um tempo de intensidade. Ou seja, o tempo necessário para a experiência artística, tanto aos alunos quanto ao professor, subverte a estrutura convencionada nos currículos escolares. Para as atividades artísticas, é necessário que os envolvidos possam experimentar os materiais, refletir os processos, organizar o espaço, (sala de aula ou ateliê), antes e depois da atividade. A outra dimensão de tempo, é o tempo do relógio, dos períodos da escola de 45 minutos, conforme observado no terceiro e quarto encontro na Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro. Essa dimensão, a dimensão real da escola, impossibilita a experiência artística fragmentando este processo e representando uma das dificuldades encontradas para a completa realização da disciplina na escola. Nestes momentos eu percebi que o meu tempo de aula imaginado não correspondia em nada com a realidade. Outra problemática, diz respeito ao turno escolar. No primeiro horário da manhã, alguns alunos estão praticamente dormindo em aula, ás 7h45min da manhã é impossível exigir disposição energética para realizar determinadas tarefas, é uma questão orgânica do processo de desenvolvimento do adolescente. É sabido que se o turno ofertado aos adolescentes fosse a tarde, possivelmente a escola estaria em conjunção com a disposição corporal dos jovens para o aprendizado. Tudo isso, o tempo da intensidade, o tempo do relógio, o turno escolar influenciam diretamente na concentração dos alunos e no desejo do fazer artísticos na escola. Na Escola Estadual Rio de Janeiro a disciplina de artes é organizada em dois dias diferentes de períodos de 45 minutos cada. Nas ocasiões em que o período ocorria após o intervalo, foram sempre mais difíceis começar a aula no horário. Na tentativa de manter integralmente o pouco tempo que tinha, deixava o material de trabalho organizado sobre as mesas e mesmo assim, os 45minutos de
140 aula se reduziam a 30 minutos. A rotina de preparo do material (potes de cola, pincéis, papéis, etc...), chamada, encaminhar os trabalhos e, antes do término aula, recolher tudo, solicitar que os alunos limpem os pincéis e deixem a sala em ordem para o próximo professor, ocupou muito tempo. Ao final das últimas aulas de estágio, percebi que a dinâmica instaurada nesta “cultura louca escolar” me causou um caos mental, preocupado em arrumar a sala e recolher o material acabei esquecendo de fazer a chamada. No Colégio de Aplicação da UFRGS, as aulas de arte são dois períodos juntos, das 10 horas e 30 minutos às 12 horas e 10 minutos. O trabalho sem dúvida rende muito mais, é possível realizar uma tarefa e concluí-la sem atropelos.
A obrigação de estar na escola
É sempre um grande desafio para o professor de artes manter o interesse da turma na proposta de ensino. Ser criativo e manter acesa a chama da curiosidade nos alunos exige pesquisa, habilidade com novas mídias, estar atendo ao repertório dos alunos, planejamento e capacidade de improvisação para aplicar um plano B a qualquer momento quando a proposta não der certo. Uma aula de arte nunca pode parecer uma missa monocórdia, sempre igual e distante da realidade. É preciso suspense, excitação, discussão, provocação, dinâmica, contextualização de informações. Todos estes verbos representam ações físicas e nunca paralisia. É preciso se deixar permear pelo fluxo natural da vida, é responder aos estímulos. Quando um aluno detecta o estado de mumificação do professor ele chuta as cadeiras de raiva por ser obrigado a estar naquela ambiente tão anacrônico, todos os dias. Estar na escola passa a ser um castigo. Nenhum ser humano saudável, criativo, merece tal prisão. Como se manter quieto e atento numa aula chata. Como ficar indiferente a um professor que não conhece linguagens digitais, não consegue sabe operar um data show nem baixar músicas ou vídeos na internet, quando todos os alunos se comunicam através de imagens e redes sociais. Artes visuais é imagem, e elas estão circulando nos celulares em forma de mensagem.
141 Depois da invenção da imprensa no séc XV que criou uma nova definição de idade adulta baseada na competência de leitura, o século XXI derruba a função histórica da escola como única fonte de informação e conhecimento. Insistir no modelo tradicional de ensino é incentivar cada vez mais as sucessivas crises que muitas vezes levam os alunos entrarem em conflito com os professores por não se adequarem a chatice do ambiente escola. Esta atualização tecnológica dos professores de artes é urgente e não pode ser subestimada. Não se justifica mais a dificuldade de acesso a museus quando num click podemos, através do Art Projet do Google, entrar em todos os museus do mundo e observar com detalhes de textura a principais obras dos grandes pintores.
A necessidade de ressignificar os conteúdos
Educados por muitos anos no sistema tradicional compartimentalizado de ensino, percebo que é muito difícil para eu e meus colegas estagiários, entrarmos na sala de aula com uma proposta planejada e ao sinal vermelho de indiferença dos alunos, mudarmos os planos estabelecendo novas estratégias para atrair a turma para os conteúdos propostos. Existe uma barreira mental enorme em contextualizar e estabelecer vínculos de interesse do educando. O exercício do olhar transverso para realidade que faz parte do dia-dia do artista não faz parte da experiência de vida do professor. Sabemos que o maior ou menor interesse do aluno depende da conexão que o projeto de ensino consegue estabelecer com sua realidade. Esta será sempre a chave mágica da porta de entrada do conhecimento, uma turma motivada pela curiosidade caminha em direção a descoberta do novo, é sempre prazeroso, é como apreciar um filme de aventura de piratas. Tudo é possível de acontecer. O vento sopra a favor de ambos, professor e alunos sentem-se realizados ao final da aula e no dia seguinte dá uma vontade enorme de voltar a escola. Em vários momentos que mudei os planos de aula buscando aproximar o meu estágio da realidade dos alunos tive resultados positivos. No primeiro encontro
142 ocorrido da Escola Estadual Rio de Janeiro quando perguntei aos alunos presentes o que o que eles mais gostavam de fazer nas aulas de arte, a maioria respondeu que gostava de desenho. A minha proposta era escultura. Hoje eu penso que a motivação para trabalhar a escultura era totalmente pessoal. Revendo o resultado da pesquisa feita na turma no ano anterior 72% haviam respondido que a pintura e o desenho eram as atividades que mais gostavam. Escultura aparecia com 28%. Até poderia trabalhar com escultura mas nunca esquecendo: a atividade que lhes proporcionava prazer e interesse era pintar. Talvez um painel coletivo oferecendo a possibilidade de experimentar diversas cores e tons encadeassem uma curiosidade maior sobre as aulas seguintes. Território perigoso para quem acabou de chegar na escola. No quinto encontro quando um aluno foi reativo a minha solicitação para que trouxessem caixas de papelão e embalagens que seriam utilizadas na aula seguinte. Ele respondeu furioso e indignado: “Eu não vou trazer nada professor, não sou catador de lixo!“ A idéia de trabalhar com material reciclado remeteu a pobreza que muitos vivem em casa, quem cata lixo é pobre. A resposta a este posicionamento veio no sexto encontro quando levei meu computador para apresentação do Power point sobre as esculturas do Cho Dorneles, uma
curiosidade brilhava nos olhos dos alunos, diante das imagens
exibidas na tela do computador.
As fotos das esculturas do artista muito
contribuíram para esclarecer a proposta de trabalhar com material reciclado. Naquelas imagens apresentadas a turma, estava a resposta para a rejeição do aluno em trabalhar com material reciclado. Não precisávamos brigar por caixas papelão. As esculturas de Cho Dorneles foram as primeiras obras de papel machê a serem expostas no MARGS no ano de 2004, comprovando que qualquer material pode ser transformado em obra de arte adquirindo valor estético através das mãos do artista. Outro momento de muita concentração dos alunos ocorreu no Colégio de Aplicação no terceiro encontro ao apresentar o filme de animação “Pássaros” dos estúdios Pixar que tratava de forma simbólica a questão do bullying O vídeo foi um acerto, os alunos estabeleceram uma relação bem afinada com a temática do filme. Nossa conversa sobre os personagens revelou situações muito próximas vividas pelos colegas ao ingressar no Colégio de Aplicação, pela primeira vez eu me vi
143 numa conversa de iguais, falando a mesma língua. O vídeo foi introduzido no plano de aula para apresentar a proposta de trabalho do “Personagem Esquisito”. Em vários momentos do estágio, em ambas escolas, houve a necessidade de re-significar os planos de aula exigindo tempo e dedicação que, na maioria das vezes, o professor
não dispõe. Livros de artes foram comprados,
arquivos de fotos produzidos, impressões, locações de filmes além de carregar diariamente a “sacolinha‟ de material que caracteriza o estagiário na escola. Todo este trabalho de pesquisa feito fora do horário de aula representando muitas horas extras. Dentro do ensino regular, a grande maioria dos profissionais não dispõe de tempo e recursos financeiros para constantemente se atualizar.
Quando os alunos embarcaram na proposta
Durante as aulas de estágio ocorreram, alguns momentos que considero gratificantes para um estagiário que está formulando conceitos de ensino e aprendizagem na prática. São pequenas atitudes dos alunos que se pode perceber que o projeto de ensino alcançou seus objetivos, provocou interesse e reflexões sobre os conteúdos apresentados. No sétimo e oitavo encontro na Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro os alunos começaram a enxergar o resultado do trabalho nos carros alegóricos, começaram a dominar a técnica de papelagem e perceberam que podiam fazer muitas coisas com cola e papel jornal. Uma seqüência de perguntas e solicitações me deixou tonto na sala de aula. Percebi que o interesse era total na realização da atividade, uma ansiedade bateu na turma e queriam resolver logo tudo de uma vez. Corri de um lado para outro para aproveitar a onda de criatividade que motivou o surgimento de tantas idéias novas para ao carros. A entrada da atividade de pintura também vai provocou uma grande excitação da turma para as novas possibilidades de expressão através do acabamento com a cor., embora muita confusão veio em função das brincadeiras com pincéis. Com tanta gente pintando ao mesmo tempo é difícil manter a turma totalmente calma sem evitar acidentes com potes de tintas que fazem parte do processo.
144 No dia da montagem da Exposição da Maquete da Escola de Samba ocorreu uma grande mobilização na escola, todos ajudaram a carregar as classes para montar a grande mesa onde ficou exposta no corredor do piso térreo. Placas foram feitas apresentando as alas. Neste momento percebi que estavam orgulhosos com o trabalho que haviam concluído. Na apresentação da Orquestra do IPDAE vários alunos compareceram para assistir sendo divulgado no concerto a exposição para toda a comunidade. No Colégio de Aplicação da UFRGS também em vários momentos pude observar o vinculo que estavam estabelecendo com as esculturas dos personagens “Esquisitos” como pude relatar no sexto encontro ao manifestarem intimidade com a papelagem e surpresa com as possibilidades expressivas.
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REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS ARAÚJO, Anna Rita Ferreira de. Encruzilhadas do olhar: no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação, 2007. BARBOSA, Ana Mae.
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Acesso em: 02 nov. 2009. Disponível em: http://www.esculturagaucha.com.br/chodornelles.htm. Acesso em: 02 nov. 2009. Disponível em: http://www.esculturagaucha.com.br/chodornelles.htm. Acesso em: 02 nov. 2009. Disponível em: http://www.lunaeamigos.com.br/cultura/niki.htm. Acesso em: 02 nov. 2009. Disponível em: http://www.nikidesaintphalle.com/. Acesso em: 02 nov. 2009. Disponível em: http://www.sampa.art.br/biografias/nikiphalle/. Acesso em: 02 nov. 2009. Disponível em: http://www.spanish-town-guides.com/photo/. Acesso em: 02 nov. 2009. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=5xzOwsENVmo. Acesso em: 02 nov. 2009. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=crepuL1Go2U. Acesso em: 02 nov. 2009. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=vjaCCLlVISg. Acesso em: 02 nov. 2009. Disponível em: www.wazzau.com/catalogue/saint-phalle.html. Acesso em: 02 nov. 2009. DUARTE JR, João Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. Curitiba: Criar Edições, 2001. ESTRADA, Maria Helena. editora da revista Arc Design. FOR THE BIRDS. Direção: Ralph Eggteston.Pixar,2000. DVD ( 3 min e 25 seg) FRITZEN, Celdon; MOREIRA, Janine (orgs). Educação e Arte: as linguagens artísticas na formação humana. Campinas/ SP: Papirua Editora, 2008. GOMES, Fábio; VILLARES, Stella. O Brasil é um Luxo: Trinta Carnavais de Joãosinho Trinta. São Paulo/SP: CBPC – Centro Brasileiro de Produção Cultural: Axis Produções e Comunicação, 2008. KING, Sonia. Mosaic Techniques & Traditions: Projects & Designs froAround the World. Sterling Publishing Company, Inc., 2003
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Caderno de Filosofia e Psicologia da
Educação, 2005. p. 113 – 140.
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APÊNDICE 1
150 ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL RIO DE JANEIRO CIDADE BAIXA PORTO ALEGRE
AVALIAÇÃO DO ESTAGIÁRIO DE ARTES VISUAIS MÁRIO BALENTI PREZADA PROFESSORA JUREMA ROEHRS Considerando os critérios estabelecidos durante o período do Estágio do aluno Mário cabe ressaltar o Excelente trabalho desenvolvido na turma 61, na disciplina de Artes. Observei que no inicio o grupo estava desmotivado porque não conhecia o professor ,no entanto algumas dinâmicas iniciais foram suficientes para que houvesse uma participação positiva de todos os alunos. O processo desenvolvido seduziu o grupo e os resultados foram maravilhosos. Alunos, adolescentes com diversas situações de reprovações e dificuldades de aprendizagem conseguiram vencer os desafios lançados e participaram do projeto com muito interesse e participação. O professor estagiário organizou seu projeto de trabalho com coerência, sendo os objetivos claros e as propostas desafiadoras e consistente a ponto de envolver o tempo todo os alunos a proposta; Também auxiliou o grupo em todos os momentos e orientou os trabalhos individualmente, sempre que solicitado. Cabe ressaltar que o mesmo (Estagiário) foi muito responsável, demonstrando pontualidade, domínio do trabalho e do grupo de alunos e segurança em todo tempo. A mostra de culminância dos trabalhos encantou a toda a comunidade escolar porque tanto os alunos quanto os pais e professores elogiaram o trabalho desenvolvido. Não tenho palavras para expressar meu agradecimento ao professor e dizer que “são estes profissionais que fazem a diferença acontecer na Escola e na Arte”. Parabéns e sucesso nesta caminhada...
Atenciosamente Marina Reidel Professora Arte Educadora Escola Rio de Janeiro Professora de Artes Visuais da FUNDARTE Mestranda em Educação - UFRGS Coordenadora da Rede Trans Educ- ANTRA Coordenadora Regional Sul da ANTRA
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL COLÉGIO DE APLICAÇÃO ÁREA DE ARTES VISUAIS Estagiária: Mário Balentti Professora Orientadora do estágio: Instituição: Colégio de Aplicação- UFRGS Disciplina: Artes Visuais Professora titular da turma: Simone Fogazzi Turma em que realizou o estágio: Turma 93, Ensino Médio Período do Estágio: primeiro semestre de 2010.
O estagiário Mário Balentti desenvolveu sua proposta pedagógica conforme o plano apresentado, sendo a mesma adequada aos planos de ensino propostos pela área para a turma. Além disso, seus planos foram bem fundamentados teoricamente, também buscando um contato com as vivências do cotidiano dos alunos. Em seu estágio, Mário fez um bom uso da língua portuguesa em sala de aula, apresentando desenvoltura oral e retórica, sempre buscando a exposição dos enunciados, com clareza e objetividade em suas explicações. Quanto ao domínio de classe foi excelente, primando pela boa condução da turma, sendo que preparou dinâmicas extras para quando uma atividade era executada em tempo diferente do previsto. Apresentando uma comunicação pedagógica plenamente satisfatória em que as demonstrações técnicas, intervenções, recursos materiais e audiovisuais, trazendo diversos materiais de apoio (apresentação em power-point, filmes, objetos e seleções de imagens, além dos materiais necessários no decorrer do estágio), além de apresentar uma boa postura corporal diante da turma. A didática utilizada foi adequada tanto à proposta de atividade do estágio como ao ritmo da turma. Também fez uma boa administração do tempo, controlando o tempo das atividades e do período de aula, apresentando uma excelente postura profissional, sendo ético, e estando preparado frente aos imprevistos, quando estes surgiam. Foi assíduo e pontual. Quando o tempo de estágio prolongou-se, adaptou-se às necessidades da turma e da escola, combinando e cumprindo as mesmas, frente à professora da turma. Foi organizado quando ao seu material e aos registros de aula. Entregou a avaliação da turma em tempo hábil.
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APENDICE 2
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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL Aluno: Mário Balenti Data: 27 de setembro 2009 Disciplina: Estágio 1 Professor: Celso Vitelli Tarefa: Questionário para Diretor do Colégio de Aplicação - UFRGS 1)
Qual a sua formação? Sou Licenciado em Química pela PUC-RS, Especialista em Educação Química pela UNISINOS, Mestre em Ecologia pela UFRGS e Doutor em Informática na Educação pela UFRGS.
2)
Há quanto tempo atua como diretor? Completo um ano em 21 de dezembro de 2009.
3)
Qual sua participação na elaboração do currículo de artes desta escola? Não participo na elaboração. Essa tarefa cabe aos professores das áreas de Artes do colégio.
4)
Qual a importância que você atribui ao ensino de arte no processo educativo? Como qualquer outro componente curricular, faz parte do processo de aprendizagem dos alunos. A arte é uma expressão necessária para o desenvolvimento cognitivo do sujeito.
5) Quais são as dificuldades percebidas para o desenvolvimento da disciplina de Artes nesta escola? Não percebo grandes dificuldades no desenvolvimento da disciplina de artes em nosso colégio. Talvez seja necessária uma ampliação de espaços e de novos recursos para abranger todos os espectros das artes. 6)
Qual o perfil do público atendido pela escola? São atendidos alunos desde as séries iniciais do Ensino Fundamental até o Ensino Médio. São também atendidos alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) no turno da noite. Como o ingresso se dá por sorteio público, o grupo é bastante heterogêneo, tanto nos aspectos cognitivos como nos sócioeconômicos.
7)
Que considerações você faz no que diz respeito à relação adolescente e Artes? Adolescentes sempre têm grande identificação com as artes. Eles apresentam diferentes preferências entre as artes visuais, artes plásticas, música, teatro, dança, etc. Eles podem expressar seus sentimentos e habilidades no tipo de artes que mais se sentem felizes e realizados. Mesmo não seguido uma carreira como artista plástico, músico, ator, fotógrafo, entre outras, o componente artístico é parte integrante da personalidade das pessoas, mesmo que seja como um “hobby” nas horas vagas.
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APÊNDICE 3
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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL Aluno: Mário Balenti Data: 27 de setembro 2009 Disciplina: Estágio I Professor: Celso Vitelli Tarefa: Questionário Coordenador Ensino Fundamental ESCOLA ESTADUAL RIO DE JANEIRO 1) Qual é o papel do coordenador de ensino nesta escola? Entendo que minha função nesta escola é atuar para garantir o cumprimento das questões legais (regimento escolar, projeto pedagógico, calendário escolar, planejamentos, enfim, o processo pedagógico como um todo) em consonância com as questões administrativas, trabalhando conjuntamente com a Direção, Orientação Educacional e Secretaria da escola, pois nenhum setor pode atuar isoladamente. Dependemos de decisões harmoniosas, mesmo que nem sempre concordantes, mas precisamos encontrar um pontos comuns para o desenvolvimento das atividades pedagógicas e administrativas, respeitando a autonomia de casa setor, bem como de cada profissional. Entendo, ainda, que uma grande tarefa é mediar as relações entre professores/as e setores, entre professores/as-professores/as, orientando, sugerindo,
buscando
alternativas
nos
momentos
de
dificuldades,
proporcionando ao grupo momentos de reflexão sobre nosso trabalho.
2) De que forma o currículo de Artes foi pensado na escola? 3) Quais foram os profissionais envolvidos? No período de 1999 a 2001 durante o processo da Constituinte Escolar houveram modificações no currículo, bem como no Projeto Pedagógico da escola. Neste período houve envolvimento da maioria dos/as professores/as para as construções em cada área/componente curricular, utilizando como parâmetros os PCNs.
157 Atualmente temos um currículo bem organizado e sendo modificado, ampliado pela professora sempre que é necessário adequá-lo às necessidades e interesses dos/as alunos/as, bem como proporcionando maior envolvimento com as demais áreas do conhecimento, aproveitando os temas transversais para o desenvolvimento integrado dos conteúdos e ações. É interessante ressaltar que nossos/as alunos/as, através deste componente curricular são constantemente desafiados/as a participarem de atividades curriculares e extra curriculares, como por exemplo o Concurso de fotos sobre os Arroios de Porto Alegre promovido pelo DEP, em que tiveram destaque e receberam premiação; o concurso 'Arte em Algodão' com confecção de sacolas marcando os 20 anos da Feira Ecológica da rua José Bonifácio, em que igualmente houve destaque e premiação aos/às alunos/os; visitas à Bienal, cinema, teatro, criação de vídeos, etc. Entendo que temos em nossa escola um importante elo de ligação para todas as atividades desenvolvidas e contamos com as ações integradas através deste componente curricular.
4) O currículo de Artes é revisto em que periodicidade? Anualmente e sempre que o/a professor/a entender necessário para melhoria da qualidade de seu trabalho e aprendizagem dos/as alunos/as. Em breve iniciaremos novas reflexões
e
possíveis
modificações,
considerando
a
necessidade
de
adequarmos, também, ao processo de Reestruturação Curricular.
5) Qual a importância que o coordenador de ensino atribui ao ensino de arte no processo educativo? Considero de grande importância o ensino de arte em todos os níveis de ensino, considerando a flexibilidade para atuação em conjunto com as demais áreas do conhecimento e com todos os temas da vida atual, considerando as diferentes culturas e a diversidade de interesses e formas de manifestação de casa sujeito. Considero enriquecedoras as contribuições deste componente curricular por possibilitar às crianças, adolescentes e adultos uma visão de mundo mais sensível, criativa e com amplo espaço para o conhecimento do processo histórico e de si mesmos.
158 6) Quais são as dificuldades percebidas para o desenvolvimento da disciplina de Artes nesta escola? A meu ver a maior dificuldade que encontramos é a falta de recursos materiais, tanto da escola quanto dos/as alunos/as.
7) O que você considera importante para a realização de uma boa aula de Artes? Considero os mesmos critérios para uma boa aula, em Artes ou em outro componente curricular, a formação do/a professor/a; sua sensibilidade em compreender o que é possível e o que é necessário desenvolver e propor aos/às alunos/as; planejamento; organização; espaço físico e recursos materiais adequados; valorização de sua área de atuação e de si mesmo enquanto profissional; apoio e colaboração da equipe gestora da escola.
8) Que considerações você faz no que diz respeito à relação adolescente e Artes? Entendo que esta relação adolescente-artes pode ser enriquecedora para ambos - adolescentes e professor/a, considerando a necessidade do ser humano de se manifestar, sua curiosidade por aprendizagens novas, o desafio de realizar atividades diferentes, a possibilidade que este componente curricular tem de estabelecer relações com todas as áreas do conhecimento. Em especial, entendo que em Artes podemos descobrir espaços novos para todas as formas de manifestação no contexto escolar, bem como de grandes descobertas
pessoais
em
relação
às
possibilidades
de
cada
um/a,
considerando que o ser humano é um ser de subjetividades e possibilidades.
9) Que lembranças você tem das experiências vividas nas aulas de Artes enquanto aluno? Particularmente sempre gostei desta área. E fui muito feliz por ter tido a possibilidade de conviver com professores/as que valorizavam cada aula, falavam sobre outras culturas, ampliavam os espaços das reproduções para as produções pessoais e, sobretudo, gostavam muito da área e do componente curricular. Eram professores apaixonados pelo que faziam.
10) Que relações você estabelece entre as suas experiências de ensino de Arte com as experiências proporcionadas por esta escola?
Por algum
159 tempo atuei como educadora no componente curricular de 'Educação Artística', quando iniciei o curso graduação em Artes. Entendia, naquele período, que era uma 'disciplina' considerada secundária na maioria das escolas. Senti grandes dificuldades para trabalhar por falta de recursos materiais das escolas e dos alunos e, com certeza, a falta de maturidade e a formação mais direcionada à formação pessoal de que com a formação de um profissional para atuar no contexto escolar. E, com a vida tem caminhos muitas vezes não planejados para trilharmos, mudei de curso, mas gosto muito desta área e valorizo o trabalho de cada professor/a de Artes. Apoio e incentivo as iniciativas de minha colega de escola, considero ricas as experiências que nossos/as alunos/as vivem a partir e no contexto deste componente curricular. Mas, sem dúvida, é a própria professora Marina que valoriza seu trabalho e a si mesma, demonstra interesse e comprometimento, tem uma formação profissional e pessoal diferenciada e enriquecedora que torna sua ação tão importante em nossa escola.
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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL Aluno: Mário Balenti Data: 27 de setembro 2009 Disciplina: Estágio I Professor: Celso Vitelli Tarefa: Questionário Articulado da área de Artes Visuais – Colégio de Aplicação da UFRGS
1. Qual é o papel do articulador nesta escola? Encaminhar debates pedagógicos, resoluções administrativas, planejamento da área, de modo geral.
2. De que forma o currículo de Artes foi pensado na escola? Levando em consideração as teorias contemporâneas em Arte – educação e a realidade do aluno. 3. Quais foram os profissionais envolvidos?. Todos os professores de Artes Visuais da escola. 4. O currículo de Artes é revisto em que periodicidade?. Anualmente. 5. Qual a importância que o articulador atribui ao ensino de arte no processo educativo? Toda. 6. Quais são as dificuldades percebidas para o desenvolvimento da disciplina de Artes nesta escola? Materiais de qualidade, pois de maneira geral a área é respeitada, temos excelentes salas ateliers e uma boa carga horária. Também temos apoio institucional para realizar saídas de campo. 7. O que você considera importante para a realização de uma boa aula de artes?. Planejamento e motivação. 8. Que considerações você faz no que diz respeito à relação adolescente e Artes? A expressão do que não pode ser dito em palavras e o desenvolvimento do pensamento reflexivo.
161 9. Que lembranças você tem das experiências vividas nas aulas de Artes enquanto aluno? Na minha época o enfoque era expressionista, então não conheci obras de arte, porém tenho boas lembranças. 10. Que relações você estabelece entre as suas experiências de ensino de Arte com as experiências proporcionadas por esta escola? A proposta triangular de Ana Mae Barbosa, a qual sempre utilizei, antes mesmo de trabalhar nesta escola.
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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL Aluno: Mário Balenti Data: 27 de setembro 2009 Disciplina: Estágio 1 Professor: Celso Vitelli
Tarefa: Questionário Professor de Ensino Médio - Colégio de Aplicação 1) Qual a sua formação? Sou formada em Licenciatura de Artes Visuais, e Especialista em Metodologia do Ensino da Arte, ambas pela UNIJUÍ. Atualmente curso Bacharelado em Artes Visuais na UFRGS. 2) A quanto tempo atua como professor de artes?
Atuo como professora
de Artes Visuais no Colégio de Aplicação desde o final de Abril de 2009. Desde a formação na licenciatura (2003) tenho desenvolvido oficinas de arte, bem como atuei como mediadora na 6ª Bienal do MERCOSUL, bem como trabalhei por praticamente 2 anos na equipe da Ação Educativa do Santander Cultural. Atualmente além das atividades no Aplicação
(40h), também
desenvolvo oficinas dos projetos da Descentralização da Cultura- Prefeitura de Porto Alegre. 3) Em que está baseado o seu planejamento? A base para meus planos está nas orientações dos planos gerais para a série, estabelecidos pela área de artes visuais. Nestes, o foco para a série é o estudo da arte contemporânea, sendo trabalhados de acordo com a Proposta Triangular. 4) Qual sua participação na elaboração do currículo de artes desta escola? A participação na elaboração do currículo se dá através das reuniões da área, onde são discutidas as propostas de trabalho, e resultados dos trabalhos que já vem sendo desenvolvidos. Também nas reuniões de série são debatidos projetos multidisciplinares, em que pelo menos 3 áreas do conhecimento articulam um projeto que é desenvolvido em conjunto. 5) Qual a importância que você atribui ao ensino de arte no processo educativo? Entre tantas outras atribuições, a arte, no contexto escolar é
166 fundamental para a construção de uma visão sensível, e ao mesmo tempo crítica do aluno frente ao contexto em que vive. 6) Das propostas em Artes realizadas com os alunos desta modalidade de ensino, quais você destaca? Das propostas desenvolvidas com os alunos, com certeza a que mas envolveu eles é a proposta da realização de intervenções nos bancos da escola, que está sendo desenvolvida agora, uma vez que o fato de fazer um trabalho que a escola toda vai visualizar, proporcionou à eles um momento de modificar seus ambientes cotidianos, bem como dar visibilidade às suas idéias. Destaco como importantes também o trabalho desenvolvido para a proposta da Bienal (dicionário de certezas e intuições) em que a turma realizou a construção de uma instalação a partir dos sentidos que eles atribuíam para a palavra silêncio. E acredito que o fato de eles terem desenvolvido a pesquisa teórica acerca de movimentos da historia da arte deu suporte para que pudessem elaborar com mais consistência suas propostas. 7) Do seu ponto de vista, quais são as dificuldades percebidas para o desenvolvimento da disciplina de Artes nesta escola? Acredito que em relação à outras escolas, temos um excelente ambiente para desenvolvermos as aulas de arte, com uma boa estrutura e um apoio das equipes das outras áreas, acho que na maioria das vezes a maior dificuldade é que nem sempre os alunos estão “bem dispostos” para as aulas, mas isso é uma característica própria dessa fase da vida. Talvez se tivéssemos mais horários e mais espaço para oferecer oficinas abertas a motivação seria maior. Mas isso não chega a ser uma dificuldade. 8) Do seu ponto de vista, o que considera importante para a realização de uma boa aula de artes? Ter um espaço adequado (atelier), acesso à imagens da história da arte e realizar visitas à exposições, e ter materiais para desenvolver os trabalhos, estar com um planejamento bem estruturado. E o mais importante: alunos interessados (que é o que faz toda a diferença). 9) Que considerações você faz no que diz respeito à relação adolescente e Artes? Sinto que a arte muitas vezes funciona como um meio de expressão para aqueles que nem sempre conseguem se comunicar com o restante da turma, mas que de alguma forma colabora no entendimento do mundo em que vivemos. Acredito também que a grande maioria dos adolescentes acaba criando uma identificação maior com um meio ou outro de arte, e por incrível
167 que pareça eles acabam tendo alguns preconceitos com algumas linguagens de arte, mas isso em casos bem específicos. Também tenho observado que a maioria dos alunos quer muito “fazer”, realizar trabalhos de pintura/ desenho e outros meios, mas nem sempre estão dispostos a discutir e debater questões referentes à arte. Apesar de tudo isso, acho extremamente produtiva a relação estabelecida entre a arte e os adolescentes. 10) Que lembranças você tem das experiências vividas nas aulas de Artes enquanto aluno? Tenho algumas vagas lembranças da minhas aulas de artes, pois geralmente eram ministradas por professores não habilitados, mas lembro de que quando conseguia obter bons resultados estéticos em meus trabalhos ficava super feliz. Inclusive lembro de uma vez ter feito uma escultura (torso feminino) em sabão que ficou muito legal e vários colegas pediram para eu fazer para eles. Lembro que no ensino básico nunca tive aulas em que fossem discutidos conceitos de arte, eram baseadas apenas no fazer. 11) Que relações você estabelece entre as suas experiências de ensino de Arte enquanto discente e docente? Tendo em vista minha experiência enquanto aluna, que sempre que as aulas eram apenas práticas me sentia como se estivesse faltando alguma coisa, procuro trabalhar de maneira a articular o conhecer, o fazer e o debater sobre o que foi visto e produzido como forma de construção de um conhecimento acerca da arte que seja consistente, e ao mesmo tempo possa estabelecer relações com o cotidiano dos alunos e com as outras áreas do conhecimento.
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