Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Andréia Soares Marques

Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

Canoas, julho de 2012.


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Andréia Soares Marques

Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

Trabalho de Curso apresentado como pré-requisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciada em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Dr. Celso Vitelli, Me. José Giuliano, Me. José Carlos Broch e Ma. Ana Lúcia Beck.

Canoas, julho de 2012.


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Dedico este Trabalho de Curso à minha família, pela paciência das minhas ausências em momentos importantes e pela compreensão diante dos inúmeros estresses. Em especial aos meus filhos, Vinicius e Núbia, motivos de alegria e busca do conhecimento. Aos meus pais, Maria Rosilda (in memoriam) pelo exemplo de garra da mulher negra, Newton (in memoriam) por sua admiração ao magistério e para minha mãe Didi, sempre presente em minha vida, me apoiando.


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Agradeço aos meus antepassados por poder estar presente neste momento descobrindo a herança por eles deixada. A todos professores orientadores dos estágios que ajudaram no meu conhecimento e crescimento profissional. As Equipes Diretivas das escolas em que realizei os estágios, por terem me apoiado na realização do meu trabalho. Aos alunos pela oportunidade de dividir meu conhecimento.


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Encontrei minhas origens Em velhos arquivos Livros Encontrei Em malditos objetos Troncos e grilhetas Encontrei minhas origens No leste No mar em imundos tumbeiros Encontrei Em doces palavras Cantos Em furiosos tambores Ritos Encontrei minhas origens Na cor da minha pele Nos lanhos de minha alma Em mim Encontrei-as, enfim Me encontrei. Oliveira Silveira


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RESUMO

O presente Trabalho de Curso “Arte e cultura brasileira e afro-brasileira: conhecer para respeitar” apresenta a trajetória do estágio desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Médio Caetano Gonçalves da Silva. A escola localiza-se no município de Esteio, estado do Rio Grande do Sul. O estágio foi realizado em uma turma do 3º ano de Ensino Médio na Educação de Jovens e Adultos. O tema desenvolvido visava refletir e conhecer a produção cultural do negro na arte brasileira. O objetivo geral era proporcionar o conhecimento de determinadas manifestações artísticas africanas e afro-brasileiras, reconhecendo a presença africana no Brasil, identificando as manifestações culturais deste povo e sua influência na formação cultural brasileira. Como objetivos específicos, pretendia que os alunos: Conhecessem o continente africano, sua diversidade cultural e arte; Conhecessem a vida e as obras dos artistas plásticos que tivessem em suas obras referências ao tema trabalhado; Debatessem questões presentes no trabalho dos artistas; Realizassem atividades plásticas que remetessem as características das obras dos artistas; Refletissem sobre a comunhão entre religiosidade e estética presente nos trabalhos de alguns dos artistas trabalhados e Explorassem diferentes materiais; Começamos a contar a história dos africanos no Brasil, a partir da Lei 10.639/03 que tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira, a História da África e dos africanos nos estabelecimentos de ensino público e privados. Levei ao conhecimento dos alunos a contribuição do africano na construção da identidade artística brasileira através da arte do artista plástico e museólogo Emanoel Araújo que, através de estudos nos mostra que desde o Barroco era grande a contribuição destes descendentes na arte brasileira. Elisa Larkin Nascimento, contribuiu nas pesquisas sobre simbologia Adinkra, antigo sistema de escrita de um povo da atual região da República do Gana e, parte da Costa do Marfim. São símbolos que representam valores, sendo impressos sobre tecidos. Inicialmente eram usados em vestuários nas cerimônias fúnebres e posteriormente, por líderes espirituais. Passou a ser um sistema de escrita, também era esculpido em madeira, ferro e estampado em adereços. Atualmente são aplicados nas paredes, adornos, logotipos e em cerâmicas. Após apresentar aos alunos a arte africana, arte brasileira, influência da arte africana na cultura brasileira, realizamos um estudo maior no simbolismo, principalmente o Adinkra. Rubem Valentim, Mestre Didi e Mônica Nador contribuíram no presente trabalho através de suas artes para realizar as atividades práticas dos alunos. A partir das análises da arte desenvolvida pelos artistas citados, os alunos refletiram e fizeram seus trabalhos buscando a essência apresentada nas obras de cada um destes artistas plásticos. Por fim cada aluno elaborou um símbolo e o aplicou em um quadro de MDF, utilizando técnica de colagem com areia colorida, criando composições.

Palavras-chave: Arte africana. Arte brasileira. Simbologia Adinkra.


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................8 RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO.......................................................14 1.1. Dados Gerais da Escola Observada .................................................................15 1.2. Observações Silenciosas ..................................................................................16 1.2.1. Primeira Observação Silenciosa .............................................................16 1.2.2. Segunda Observação Silenciosa .............................................................18 1.2.3. Terceira Observação Silenciosa ..............................................................19 1.2.4. Quarta Observação Silenciosa ................................................................19 1.2.5. Quinta Observação Silenciosa ................................................................21 1.2.6. Sexta Observação Silenciosa ..................................................................23 1.3. Análise das Observações Silenciosas ..............................................................24 1.4. Análise do Questionário com a Professora ......................................................26 1.5. Análise do Questionário dos Alunos ...............................................................28 PESQUISA SOBRE O TEMA NAS ARTES VISUAIS ................................................31 2.1. Arte Africana....................................................................................................32 2.2. Presença Africana na Cultura Brasileira...........................................................34 2.3. A Arte Negra Brasileira....................................................................................38 2.4. Simbolismo Adinkra.........................................................................................50 PROJETO E PRÁTICA DE ENSINO EM ARTES VISUAIS ......................................54 3.1. Dados Gerais da Escola e Turma da Prática de Ensino ..................................55 3.2 . Dados Gerais do Projeto de Ensino.................................................................55 3.3 . Prática de Ensino.............................................................................................56 3.3.1. Primeiro Encontro..................................................................................56 3.3.2. Segundo Encontro..................................................................................61 3.3.3. Terceiro Encontro...................................................................................67 3.3.4. Quarto Encontro.....................................................................................73 3.3.5. Quinto Encontro ....................................................................................80 3.3.6. Sexto Encontro.......................................................................................85 3.3.7. Sétimo Encontro.....................................................................................89 3.3.8. Oitavo Encontro.....................................................................................96 CONCLUSÃO...............................................................................................................103 REFERÊNCIAS............................................................................................................110 APÊNDICE 1- Avaliação da aluna estagiária...............................................................113 APÊNDICE 2- Questionário com a diretora da escola..................................................115 APÊNDICE 3- Questionário com a professora da escola.............................................118 APÊNDICE 4- Questionário com os alunos da escol .................................................121


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INTRODUÇÃO

Ao elaborar o tema de pesquisa, fiquei em dúvida sobre o assunto que desenvolveria. Queria trabalhar a etnia negra, pois durante o Curso de Artes Visuais poucas disciplinas realizaram atividades sobre a contribuição do negro nas artes. O tema visava conhecer e refletir sobre a produção cultural africana na identidade brasileira. Falar de arte africana é falar genericamente pois, no continente africano, há uma diversidade de povos, línguas e culturas, assim como na arte onde também há especificidades. A arte africana tradicional tem a principal função de representar valores de uma cultura. A relação com a arte está muito ligada ao espiritual, desde o nascimento, tendo forte ligação com a ancestralidade. Realizando a pesquisa, tive dificuldade em selecionar o que trabalhar, uma vez que a temática oportuniza desenvolver várias questões ligadas à produção cultural do negro em nossa cultura. No decorrer do Curso de Artes, descobri a simbologia Adinkra, antigo sistema de escrita de um povo da atual região da República do Gana e, parte da Costa do Marfim. Busquei informações sobre os símbolos, porém a literatura disponível era bastante restrita. Passei a procurar em sites brasileiros, que dispõem de maiores informações. Todas as leituras realizadas contribuíram para me aprofundar na compreensão e elaboração da pesquisa. Senti necessidade de trabalhar com artistas negros brasileiros que desenvolvessem a temática negra em suas obras. Realizar a seleção foi um processo difícil, pois cada um realizava um trabalho bem específico sobre a questão. Cheguei até Emanoel Araújo (1940), artista plástico, pesquisador e responsável pelo Museu Afro Brasil; Abdias do Nascimento (1914-2011) militante da luta contra a discriminação racial e pela valorização da cultura negra; Rubem Valentim (1922-1991) e Mestre Didi (1917), artista plásticos negros que desenvolvem seus trabalhos estabelecendo uma relação entre a religiosidade e identidade negra. Mônica Nador (1955), artista plástica contemporânea, que apesar de não ser negra, desenvolve um trabalho na periferia de São Paulo, através do Projeto Paredes Pinturas. Em se tratando de Brasil, a grande parte dos moradores destes locais periféricos são afro-descendentes devido a questões históricas, portanto um trabalho de auto-estima que muito contribuiu para desenvolver


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minha prática. A busca de informações sobre simbologia Adinkra me levou até a pesquisadora Elisa Larkin Nascimento, que realizou uma ampla pesquisa sobre este assunto. Descobri uma herança cultural nestes símbolos que enriquece e fundamenta a experiência humana e que até então eu desconhecia. Ao desenvolver o Projeto de Ensino, que foi aplicado nos dois níveis de ensino onde realizei a prática, cheguei ao título Arte e cultura africana e afro-brasileira: conhecer para respeitar, que desenvolve o tema sobre a formação cultural brasileira. O projeto se justificava pelo fato de que desde janeiro de 2003 existe a lei 10.639 que tornou obrigatório no currículo escolar o ensino da história e cultura africana e afrobrasileira nas escolas públicas e privadas do país. A identidade cultural de uma nação está vinculada através das interrelações culturais, portanto se faz necessário que o professor leve para a sala a preocupação com a diversidade cultural, pois a escola é um dos vários espaços existentes na sociedade, em que os indivíduos de diferentes culturas se inter-relacionam. O objetivo geral era proporcionar o conhecimento de certas manifestações artísticas africanas e afro-brasileiras, reconhecendo a presença africana no Brasil, identificando as manifestações culturais deste povo e sua influência na formação cultural brasileira. Os objetivos específicos eram: - Conhecer o continente africano, sua diversidade cultural e arte. - Conhecer a vida e as obras dos artistas plásticos Rubem Valentim, Mestre Didi e Mônica Nador. - Debater questões presentes no trabalho dos artistas. - Realizar atividade plástica que remeta as características das obras dos artistas. - Refletir sobre a comunhão entre religiosidade e estética presente nos trabalhos de alguns dos artistas trabalhados. - Explorar diferentes materiais. A prática do Ensino Fundamental foi realizada no Centro Municipal de Ensino Básico Clodovino Soares na cidade de Esteio com uma turma de 2º ano do ciclo III (7ª série), Turma 23, no turno da tarde. Ao todo tivemos 14 encontros de um período (45 min.) cada. Essa prática aconteceu no primeiro semestre de 2011. Entre os conteúdos trabalhados, o estudo e pesquisa sobre simbologia Adinkra foi algo que chamou atenção dos alunos, assim como a criação de símbolos realizado por eles. Realizaram, como atividade de conclusão do meu estágio, uma pintura no muro da escola que mexeu com a turma como um todo uma vez que saíram


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do espaço da sala de aula e puderam levar seu trabalho para um lugar em evidência. Esta atividade aconteceu como encerramento da prática. Através da prática de estágio consegui ver que atividades prazerosas, como foi o caso de uma pintura realizada no muro da escola, motivam os alunos a participarem do trabalho ainda que dê muito mais trabalho para o professor, visto que são necessários materiais específicos e tempo para selecioná-los e organizá-los em outro espaço que não a sala de aula. O estágio em Artes Visuais possibilitou repensar minha prática pedagógica em alguns aspectos, como a metodologia de ensino, a importância de outros profissionais ou disciplinas, estarem envolvidos no projeto de trabalho pois é um outro olhar sobre o assunto, possibilitando outras discussões e propostas. Os questionamentos sobre o conteúdo desenvolvido propiciaram uma busca maior de conhecimento sobre o que estávamos trabalhando. A questão sobre o tempo foi um fator colocado nas análises das aulas, promovendo dinamismo tanto na proposta quanto nas intervenções. Apesar de já conhecer a turma, pois fiz o estágio na escola em que trabalho, foi importante realizar esta prática para que eu repensasse minha metodologia de ensino. A própria forma de organizar as aulas, que diferem do que a supervisão escolar exige, já serviu para que eu visse o quanto é importante planejar e aproveitar o tempo da melhor forma possível. O assunto abordado no meu tema de pesquisa tomou uma proporção no município que, inclusive, recebeu verba, através do Funproarte. Com isso foi possível adquirir todos os materiais usados nesta prática. Já o estágio do Ensino Médio aconteceu na Escola Estadual de Ensino Médio Caetano Gonçalves da Silva, na cidade de Esteio. Com o 3º ano, Turma 9 A (EJA), no turno da noite. Ao todo foram 8 encontros com 2 períodos (40 min) cada. Essa prática aconteceu no segundo semestre de 2011. O conteúdo desenvolvido com a turma foi de interesse geral. Em vários momentos os alunos verbalizavam a satisfação em ter aula de Artes. O que notei nas minhas observações, pois as atividades propostas estavam a serviço da disciplina de Ciências, que é a formação da professora referência de Artes da escola. Na maior parte das aulas desenvolvidas, o material era levado por mim, poucos alunos levaram o que eu solicitei. Esse fato me chamou atenção. Pensei que no trabalho com adultos isso não aconteceria pois pareciam ser mais comprometidos, devido a idade. Vi que aluno tem comportamento parecido em qualquer época da vida.


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Utilizei materiais e recursos diversos assim como a metodologia que empreguei, fazendo uso de documentários, apresentações em multimídia praticamente em todos os encontros. Houve contato dos alunos com muitas imagens, o que não poderia deixar de ser, em se tratando de estágio em Artes Visuais. Porém, apesar de oportunizar acesso a amplo material visual, o trabalho final, quando deveriam elaborar um quadro com imagem criada pelos alunos não ficou bem elaborado. Isso se deve, em grande parte, pelo fato de que a turma em que iniciei o estágio, não foi a mesma com a qual encerrei este processo. Destes, apenas 3 permaneceram, e não eram alunos frequentes. Portanto, houve ingresso de alunos novos que não passaram pelo processo de reflexão e conhecimento do trabalho dos artistas. O calendário escolar do EJA é diferente. Os alunos têm a chance de avançar durante o trimestre. O que acabou acontecendo com grande parte da turma 9 A. Isto me deixou um pouco frustrada. Esperava que a atividade que iria concluir o estágio ficasse melhor elaborada. Penso que a prática realizada na turma serviu para que eu, além de ter experiência, também pudesse vivenciar um nível de ensino com o qual ainda não havia tido contato. A falta de autonomia do professor no espaço educacional foi algo que posso salientar, visto que todas as produções elaboradas pelos alunos e que eu queria expor nos corredores da escola, precisava ter a permissão da Equipe Diretiva. Com relação à turma, a questão religiosa foi levantada por alguns alunos, visto que trabalhamos com artistas que simbolizam em seus trabalhos as religiões de matriz africana, e alunos que se opõem a esta crença foram contra, chegando ao ponto de se negar a realizar uma atividade. Precisei ser flexível neste momento e propor uma alternativa para que a tarefa fosse feita. Este fato me fez ver, mais uma vez, que o professor não possui uma verdade absoluta. Vivemos em uma sociedade multicultural, portanto, é importante que se conheça todos, ou o maior número possível, de pontos de vista para mostrar aos alunos, não tomando partido de qualquer um. Mas mediando-os. A prática no Ensino Médio serviu para que eu desmistificasse algumas questões que, no meu ponto de vista, norteava este nível de ensino. Também foi possível dialogar sem muitos “rodeios” utilizando um vocabulário da minha faixa etária, uma vez que grande parte da turma era adulta. As aulas ocorriam de maneira tranquila, os alunos levantavam questões pertinentes ao que estávamos conversando. A satisfação que demonstravam quando eu propunha algo era incentivador. Encerrei minha prática, em parte, frustrada por não ter conseguido concluí-la com os alunos de quando iniciei.


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No estágio IV precisei optar por um nível de ensino para relatar meu processo de trabalho. Esta tarefa não foi fácil, uma vez que, no Ensino Fundamental passei por experiências significativas para meu crescimento profissional. As atividades elaboradas foram atraentes e incentivadoras. O fato da turma ter um vínculo comigo também ajudou a desenvolver o estágio, porém, inicialmente pensei que seria fácil trabalhar com estes alunos. Para minha surpresa precisei me desacomodar da situação de professora da turma e buscar maior conhecimento sobre o assunto desenvolvido e propor atividades desafiadoras. As propostas de trabalho foram além da sala de aula, pois realizaram trabalhos nos muros da escola, como fechamento do projeto. Na turma de Ensino Médio, foi preciso trabalhar sobre outra perspectiva, uma vez que as aulas de Arte que a turma tinha estava a serviço de outra disciplina. Foi preciso trabalhar com atividades que chamassem atenção dos alunos para o conhecimento e fosse atraente nas propostas de trabalho. Consegui atingir os objetivos que propus desenvolver, pois os alunos relatavam frequentemente, a satisfação do que estavam descobrindo e aprendendo. As atividades desenvolvidas foram significativas neste processo de conhecimento. As que mais chamaram atenção dos alunos foram as máscaras, nas primeiras aulas, quando eles entraram em contato com muitos materiais. Começaram aí a se dar conta que tinham potencial para desenvolver os trabalhos, o que, inicialmente não acreditavam em suas potencialidades. Nas demais propostas era possível observar que estavam perdendo o receio de não conseguir fazer os trabalhos. Acabei optando por relatar a prática desenvolvida no Ensino Médio por várias questões, uma delas se deve ao fato de que este momento serve para refletir sobre o resultado que se chegou. Na conclusão do trabalho escrevo sobre o processo que passei. Todos os momentos vivenciados, algumas vezes com os objetivos alcançados, outros não. Os acertos, erros, tudo o que passei e fez parte deste crescimento, valeu como experiência de vida e profissional. Ainda na conclusão levanto questões referentes a todo o processo vivido no estágio, como organização escolar, metodologia, identidade brasileira, expectativa em relação a minha prática e importância da disciplina. Questões estas que me levaram a refletir sobre o papel do arte-educador. Ao final da conclusão, procuro fazer uma reflexão sobre o processo de trabalho. Percebi que algumas atividades poderiam ter sido melhor elaboradas à medida que eu deveria tê-las elaborado de maneira diferente, mais interessante. Volto meu olhar


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para todo o processo de trabalho do início do projeto, me detendo nas dificuldades, com a intenção de usar a experiência de estágio como um aprendizado. Na busca do conhecimento pretendo me preparar cada vez mais para aprimorar minha prática, visando o aluno, que é o motivo maior para desenvolver o gosto pela arte.


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CAPÍTULO 1 RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO


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1.1. Dados gerais da escola observada

Em 1957 a Escola chamava-se Grupo Escolar Bento Gonçalves. Criada em 11 de fevereiro de 1958 pelo Decreto nº 8.621/58 e Decreto de Denominação nº 10.843 de 08 de outubro de 1959 e assinado pelo governador Ildo Meneguetti sendo denominado Grupo Escolar Caetano Gonçalves da Silva, com sede na cidade de Esteio, na Avenida Dom Pedro, nº 200. Atendendo crianças de 1ª a 5ª séries do Ensino Fundamental. Em 24 de abril de 1970 recebe como doação da Prefeitura Municipal de Esteio, na gestão do então prefeito Clodovino Soares o terreno situado na Avenida Dom Pedro, nº 790. Em 1975 o Grupo Escolar muda para o novo prédio, situado na Avenida Dom Pedro. Em 30 de dezembro de 1975 no parecer nº 1.163/75, do Conselho Estadual de Educação com a portaria nº 1.574 é autorizada a implantação do Ensino Supletivo. Em 06 de abril de 1976 é autorizada a implantação da 6ª série do ensino fundamental. Em 14 de fevereiro de 1977 é autorizada a implantação da 7ª e 8ª séries do ensino fundamental. Em 22 de dezembro de 1977 pelo Decreto de Reorganização nº 26.443 do governo de Sinval Guazelli o Grupo Escolar passa a ser denominado Escola Estadual de 1º Grau Caetano Gonçalves da Silva. Em 15 de setembro de 1993, Parecer nº 1.306/93, e Escola é autorizada a criar a Classe Especial para Deficientes Visuais. Em 2001, pelo Decreto nº 41.286 de 18 de dezembro de 2001, a Escola passa a denominar-se Escola Estadual de Ensino Médio Caetano Gonçalves da Silva, com a criação da modalidade EJA para Ensino Médio. Em 2007 foi instituído Ensino Fundamental de 9 anos. Atualmente a escola possui cerca de 900 alunos distribuídos em três turnos (manhã, tarde e noite) atendendo da Ed Infantil até o Ensino Médio.


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1.2. Observações silenciosas

1.2.1 Primeira observação silenciosa 16/08/2010

Ao chegar a escola, 10 minutos antes da troca de período, aguardei a professora de Artes para conversar sobre o meu trabalho. Ao sinal do período (20 h) ninguém da equipe diretiva encontrava a professora ou a turma. Após alguns minutos “descobriram” que a turma 7 B (1º ano) estava na sala de vídeo juntamente com as demais turmas do mesmo ano, acompanhadas pelas professoras de História e Geografia. Assistiam ao filme Invictus (2010). Após conversar com a professora de História e me apresentar, sentei e perguntei a uma aluna desde que horas estavam ali, ela me disse que desceram para a sala no segundo período e, antes de sair a professora de História entregou uma folha com questões que deveriam ser respondidas e devolvidas na próxima aula:

Trabalho de Geografia, História,Artes, Filosofia e Sociologia Assista ao filme e depois responda às questões abaixo: 1-Ficha técnica do filme: título, direção, ano, produção, atores principais e música. 2-Resumo (15 linhas) do tema do filme. 3-É um filme de ficção (fantasia), uma reconstrução histórica ou um documentário? 4- Que episódio histórico ou contexto histórico retrata? 5-Desenhe numa folha de ofício a imagem que mais chamou a sua atenção no filme. 6-O que determina a liberdade de um indivíduo e qual o


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seu valor? 7-Para você o que é dignidade? 8-No filme, que meios foram utilizados para romper as barreiras raciais?

Durante a exibição do filme, no período em que permaneci, alguns alunos conversavam sem dar importância à televisão. Outros atendiam ao celular ou jogavam. Vale lembrar que havia 3 turmas do mesmo ano na sala. Ao sinal (20h 40 min.) do recreio todos saíram da sala. Conversei novamente com a professora de História e ela comentou que o filme continuaria até o 4º período. Fui embora e a professora de Artes não havia assistido ao filme com os alunos.


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1.2.2. Segunda observação silenciosa 23/08/2010

Anterior ao período de Artes a turma tem aula de Biologia e, após é o recreio que dura 15 minutos. Entre a troca de períodos, os alunos permanecem na sala. A professora de Biologia é quem ministra as aulas de Artes, pois precisa completar a carga horária da escola. Ao conversar com a professora durante a observação, ela falou que seu trabalho é interdisciplinar. Ou seja integra as disciplinas de Biologia e Artes. A proposta de hoje é que os alunos construam moléculas de DNA, para isso ela solicitou que trouxessem os seguintes materiais: arame, linha, canudos e miçangas. A turma é pequena, 15 alunos, estavam presentes na aula de hoje, 12. Desses 4 não trouxeram o material pedido. Os demais empenharam-se na construção da molécula. Desde que entrei na sala estava presente outra estagiária observando a turma, porém a Supervisora deu-se conta de que já havia deixado a turma 7 B para que eu fizesse as observações necessárias. E a outra estagiária faria sua prática em outro dia e em outra turma com a mesma professora. Durante o período ela ficou junto comigo e conversou com a professora para acertar a sua turma de prática. Enquanto nós duas aguardávamos o final da chamada uma aluna aproximou-se e se apresentou, pensando que fossemos colegas novas, eu disse que era estagiária e pedi para a professora que eu me apresentasse. Embora esta seja minha segunda observação é a primeira em que eu entro na sala apenas com a turma. Ao sinal do recreio a professora pediu que os alunos concluíssem o trabalho em casa e trouxessem na próxima aula.


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1.2.3 Terceira observação silenciosa 30/08/2010

Assim que eu entrei na sala fui falar com a professora sobre o questionário de estágio. Combinamos que ele será aplicado na próxima aula. Hoje estavam presentes 13 alunos, quatro entregaram o trabalho da aula anterior (moléculas de DNA). A professora pediu aos demais que tragam na próxima aula. Para a aula de Artes de hoje foi programado um documentário sobre glândulas e hormônios. Antes de nos dirigirmos para a sala de vídeo a professora comentou comigo que para a próxima aula, após o questionário os alunos farão uma pesquisa, na biblioteca da escola, sobre o assunto do vídeo e, nas aulas seguintes irão elaborar, no laboratório de informática, um trabalho utilizando o power point para um Seminário que ela está organizando. Ao pedir que se dirigissem à sala de vídeo uma aluna questionou o que iriam fazer e a professora respondeu que assistiriam a um DVD sobre glândulas. Durante o documentário grande parte dos alunos prestou atenção enquanto duas alunas conversavam e riam em vários momentos. Após 30 minutos encerrou-se a apresentação e a professora fez alguns comentários sobre o que foi visto. Ninguém fez pergunta e foi solicitado que se dirigissem à sala. Alguns alunos não gostaram ter que subir e, logo em seguida descer novamente visto que faltavam 8 minutos para o intervalo. Saíram dirigindo-se ao pátio da escola.


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1.2.4. Quarta observação silenciosa 13/09/2010

Como em todas as observações, ao sinal de troca de períodos me dirigi à sala, porém ninguém se encontrava no local. Precisei me dirigir até a Equipe Diretiva para saber onde estava a turma. A mesma se encontrava no Laboratório de Informática. Ao entrar localizei a professora e esta me falou que estavam lá desde o segundo período, na aula de Biologia e permaneceriam até o horário de recreio. Portanto a aula de Artes seria ocupada com pesquisa na Internet, pois os alunos estavam preparando um seminário do conteúdo desenvolvido em Biologia. Relembrei a professora o que havíamos combinado na última aula: eu aplicaria o questionário e após, os alunos fariam a pesquisa na Biblioteca. A professora falou da dificuldade de agendar o Laboratório de Informática e, como havia conseguido os dois períodos (Biologia e Artes) neste espaço, pediu para que o questionário ficasse para a próxima aula. Os alunos estavam bastante envolvidos na realização da pesquisa. Todo o conteúdo era colocado em uma pasta no computador. Todos estavam presentes. Cada estudante ficou em um computador. A escola possui um Laboratório de Informática com 25 computadores novos. Ao sair, no final do período, procurei a Supervisora e a Diretora para pegar o questionário que havia deixado na última aula que observei (30/08), porém nenhuma delas havia respondido as questões, sendo que a supervisora não sabia onde o havia colocado. Combinei que na próxima semana pegarei os questionários.


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1.2.5. Quinta observação silenciosa 27/09/2010

Ao chegar à escola procurei a direção para pegar o questionário. Foi necessário entregar, pela segunda vez, as questões, pois o material anterior foi perdido pela diretora. Conversando com a equipe diretiva, esta me informou que a turma 7B, e as demais turmas do mesmo ano se encontravam na Casa de Cultura de Esteio participando de um Seminário, desde às 18 h 30 min, sobre Movimento Negro na Contemporaneidade. A organização da atividade foi feita pelo Grupo Unir Raças, associação local empenhada em unificar etnias construindo a igualdade racial e social. Durante o ano o grupo realiza atividades com ações afirmativas em relação a implementação da lei 10.639/03. Fui até o espaço onde se realizava o evento. Na programação constava as seguintes palestras:

 Histórico do Movimento Negro Palestrante: Profº Wagner Chagas (Licenciado em História/Ulbra; Especialista em Gestão da Educação/Ulbra; Mestrado em Educação/Unisinos)  Saúde da população negra Palestrante: Stênio Rodrigues (Servidor Ministério da Saúde; Acadêmico de Direito/Ulbra)  Quilombos Palestrante:Ubirajara Toledo (Acadêmico de Direito/Unilasalle)  Ensino da História africana e afro-brasileira nas escolas-Lei 10.639/03 Palestrante: Profª Adiles da Silva Lima (Professora de Literatura/UFSM e Especialista em Estudos africanos e afro-brasileiros)

Apesar de ter chegado após o horário de início do Seminário consegui sentar próximo aos alunos e assistir a palestra da Profª Adiles que está ligado ao assunto que irei desenvolver no estágio.


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Estavam presentes 13 alunos, todos prestaram atenção nas palestras, porém ao final, quando abriram para perguntas, ninguém questionou os palestrantes. Apesar do incômodo, observado nas expressões, quando a professora Adiles falou sobre os erros e os acertos em relação a implementação da lei que trata do ensino da história e cultura brasileira e afro-brasileira nas escolas nem mesmo os professores da escola fizeram perguntas. O Seminário acabou às 21h 15 min. Alguns alunos foram embora antes do término e os que permaneceram até o final foram dispensados. A professora de Arte comentou com os alunos que na próxima aula será feito um debate sobre as questões levantadas nas palestras. Alguns alunos não gostaram de ter que retomar o assunto.


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1.2.6. Sexta observação silenciosa 04/10/2010

Estavam presentes 14 alunos. A professora iniciou o período retomando os grupos de Biologia que, na aula de Arte, deveriam trazer materiais para a elaboração de cartazes sobre assuntos relacionados à Biologia. Alguns alunos entenderam que o material deveria ser levado na quinta-feira, quando eles teriam o segundo período de Biologia da semana. Iniciou uma discussão entre os alunos e a professora em função do tempo para a pesquisa que os alunos não dispõe. A professora relembrou que há um dia da semana (quarta-feira) que a escola libera os computadores do Laboratório de Informática para pesquisa. Uma aluna, insatisfeita com o fato de ninguém da turma ter avançado até o momento, reclamou e a professora encerrou a discussão dizendo que quem não estivesse gostando que reclamasse para a vice-direção. Conversei com a turma sobre o questionário que aplicaria. Realizei a leitura das questões, junto com os alunos. Ao perguntar se havia dúvidas, duas alunas falaram que não poderiam responder as questões 2-Como são as aulas de Arte? e 3-O que você mais gosta nas aulas de Arte? pois não tiveram aula de Arte neste ano. Deixei a critério delas responder ou não. Após responderem as questões a professora mostrou as notas de Biologia e Arte por solicitação de alguns alunos. Faltavam 15 minutos para o encerramento da aula quando todos devolveram o questionário e seguiram mostrando e discutindo as notas das duas disciplinas. Na aula de hoje, me chamou a atenção que os alunos estavam divididos em dois grupos. Alguns, mais antigos na turma, sentados de um lado da sala, enquanto outros, que avançaram no decorrer do ano, estavam sentados do outro lado da sala.


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1.3. Análises das observações silenciosas

As aulas observadas na Escola Estadual de Ensino Médio Caetano Gonçalves da Silva aconteceram no segundo semestre de dois mil e dez em uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no noturno. Ao solicitar, junto a supervisora, uma turma de Ensino Médio a mesma me deixou à vontade para escolher o ano que desejaria observar. Falei da proposta de trabalho que gostaria de desenvolver no ano seguinte e foi bem recebida, uma vez que a escola desenvolve projetos relacionados à aplicação da lei 10.639/03 que trata do ensino da história e cultura afro-brasileira, bem como a história da África e dos africanos em estabelecimentos de ensino públicos e privados, no Brasil. “Ao tornar obrigatória sua inclusão na Educação Básica, estaremos frente a uma imensa dificuldade: que História será esta a ser apresentada, se a maioria dos professores em sala não teve contato com ela?” (LIMA, 2004, p.84). Ficou acertado que observaria uma turma de 1º ano, nas sextas-feiras, no terceiro período. No primeiro dia de observação, ao chegar a escola e me dirigir à sala de aula, para minha surpresa, os alunos haviam sido dispensados. Houve falta de um professor e a disciplina de Arte foi antecipada, ficando os alunos liberados para irem embora. Em conversas com colegas que atuam em escola do estado me foi relatado que esta é uma prática recorrente. “Um sistema público extremamente tolerante para faltas, supostas licenças médicas, comissionamentos e uma série imensa de recursos e meios para fugir da sala de aula, deixando os alunos...” (ANTUNES, 2010, P.157). Acabei trocando a turma que faria as observações, permaneci no mesmo ano (1º), agora passaria a observá-los na segunda-feira e a turma foi a 7B. Em vários momentos a equipe diretiva me pareceu não saber o que se passava com a turma. Desde o primeiro dia de observação, quando os alunos assistiam a um filme e ninguém da equipe os encontrava, até o penúltimo dia de observação quando a turma participava de um Seminário. A sala de aula era dividida no diurno com turmas do Ensino Fundamental, não há, nas paredes, materiais que marquem a presença dos alunos de EJA. As aulas de Arte observadas, na verdade, nada tinham que remeta à disciplina, pois além da Arte, em algumas aulas, estar a serviço da disciplina Biologia, sequer esta serventia estava a


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favor da criação do ambiente sala com apropriação dos alunos que deveriam ser protagonistas do espaço. Assim, pode-se destacar que,:

[...] o fazer técnico-inventivo, o representar com imaginação o mundo da natureza e da cultura, e o exprimir sínteses de sentimentos estão incorporados nas ações do produtor da obra artísticas, na própria obra de arte, no processo de apresentação dos mesmos à sociedade e nos atos dos espectadores. Assim, num contexto histórico-social que inclui o artista, a obra de arte, os difusores comunicacionais e o público, a Arte apresenta-se como produção, trabalho, construção. Nesse mesmo contexto a arte é representação do mundo cultural com significado, imaginação; é interpretação, é conhecimento do mundo; é também, expressão dos sentimentos, da energia interna, da efusão que se expressa, que se manifesta, que se simboliza. A arte é movimento na dialética da relação homemmundo. (FERRAZ e FUSARI, 2001, p.23)

A escola possui espaços amplos, há laboratório de informática, biblioteca, sala de vídeo, refeitório, quadra de esportes e várias salas de aula. Os ambientes são inúmeros, porém os trabalhos expostos são em número muito pequeno em relação a quantidade de alunos da escola. A falta de sintonia entre professor-aluno chamou minha atenção, grande parte das aulas observadas a professora ficava sentada explicando as atividades, enquanto poucos alunos perguntavam algo para a professora. Esta não sabia sequer o nome dos alunos, pois em uma aula após a chama ela perguntou se alguém não havia sido chamado. Um aluno levantou a mão e a educadora perguntou seu nome. Demonstrando, neste recorte, falta de entrosamento. Diante de tudo que pude observar, passei por um processo de reflexão sobre minha prática pedagógica. Algumas vezes, diante das adversidades da profissão acabamos deixando de lado o que acreditamos em nome do dar conta dos conteúdos, esquecendo o sujeito principal da educação que é o aluno. A relação professor-aluno é outro fator importante de destacar, visto que esta interação é fundamental para que se estabeleça uma relação de confiança e um ambiente propício para que aconteça a aprendizagem.


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1.4. Análise do questionário com a professora

No decorrer das observações silenciosas do Ensino Médio pude observar fatos que vão de encontro ao que a professora respondeu no questionário. Presenciei uma situação de conflito entre a educadora e os alunos quando da aplicação do questionário, pelo fato de na aula de Arte a turma ter atividade de Biologia. A professora possui formação em Ciências Biológicas e há quase dois anos leciona Arte. Isto é comum em escolas estaduais, professores de outras disciplinas, para completar em suas cargas horárias, acabam ministrando aulas de disciplinas que não são habilitados. Embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394) aprovada em 20 de dezembro de 1996, estabeleça em seu artigo 26, parágrafo 2º: “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. A aula de Arte é vista com pouco valor, sendo que professor de qualquer área pode ministra-la. Quando questionada sobre o conteúdo de Arte (como é selecionado e o que está trabalhando) a professora respondeu que o trabalho na EJA se dá de forma interdisciplinar, porém o que observei nas aulas não foi isso, pois normalmente a aula de Arte estava a serviço da Biologia. Sobre isto pode-se considerar que,

[...] uma série de desvios vêm comprometendo o ensino da arte. Ainda é comum as aulas de arte serem confundidas com lazer, terapia, descanso das aulas “sérias” , o momento para fazer a decoração da escola, as festas, comemorar determinada data cívica, preencher desenhos mimeografados, fazer o presente do Dia dos Pais, pintar o coelho da Páscoa e a árvore de Natal. (GUERRA, MARTINS e PICOSQUE, 1998, p.12),

Os materiais solicitados aos alunos são revistas, cola, lápis de cor, cola e outros mais. No entanto em todas as aulas que observei, nenhum dos materiais citados foi usado ou solicitado pela professora. Quanto à exposição dos trabalhos, não havia nenhuma tanto na sala quanto em outros espaços da escola. Coloquei uma questão referente à Lei 10.639/03 que estabelece diretrizes e bases da educação nacional para incluir a história e cultura afro-brasileira e indígena na


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rede de ensino. A educadora respondeu que a disciplina de História fica responsável por trabalhar o que estabelece a lei. Fica a cargo das demais disciplinas levar os alunos a seminários que falem sobre a temática. Neste ano, até o momento em que realizei as observações, os alunos não haviam ido a exposições de arte. Ao conversar com a professora ela falou que eles sempre vão à Bienal do Mercosul. Portanto neste ano não terão saída com esta finalidade.


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1.5. Análise do questionário dos alunos

O questionário tem como finalidade conhecer os alunos e sua relação com a disciplina, além de verificar o conhecimento que possuem sobre o assunto que será desenvolvido no estágio prático. No dia da aplicação do questionário na turma que realizei as observações, apenas um aluno faltou a aula. Não há um gênero que prevaleça na turma, pois o número de homens e mulheres é muito próximo um do outro. A faixa etária vai dos 18 aos 61 anos. Em maior número é o de educandos de 18 anos, ao todo 3. Nas demais faixas há 1 pessoa com 19, 20, 21, 22, 27, 28, 29, 37, 39, 44 e 61 anos. Nas questões referentes às aulas de Artes, grande parte dos alunos respondeu que neste ano não houve aulas de Arte. Um aluno deixou a questão em branco, enquanto que dois alunos “denunciaram” o que eu observei, a aula de Arte está a serviço da aula de Biologia. Frequentemente os alunos faziam cartazes ou trabalhos relacionados ao conteúdo de Biologia. Sobre isso Ferraz e Fusari (2001, p 24) afirmam: No contexto da educação escolar, a disciplina Arte compõe o currículo compartilhado com as demais disciplinas num projeto de envolvimento individual e coletivo. O professor de Arte, junto com os demais docentes e através de um trabalho formativo e informativo, tem a possibilidade de contribuir para a preparação de indivíduos que percebam melhor o mundo em que vivem, saibam compreende-lo e nele possam atuar.

Ao perguntar o que mais gostavam nas aulas, alguns colocaram que as atividades que valem nota. “A avaliação tem se caracterizado como disciplinadora, punitiva e discriminatória, como decorrência, essencialmente da ação corretiva do professor e os enunciados que emite a partir dessa correção.” (HOFFMANN, 2010, p.89) O fato de terem deixado em branco a resposta, revela a falta de trabalho da disciplina. Não podem falar de algo que não conhecem. O mesmo pode-se dizer sobre as respostas à pergunta: Onde você vê arte? A resposta “em todos os lugares” demonstra que não conseguem conceituar Arte. Quando perguntados se conhecem algum artista, a grande maioria disse não conhecer ninguém, enquanto dois alunos conhecem escultores e um aluno conhece um grafiteiro.


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A prática da disciplina de Arte pode ser feita tanto em grupos, quanto individualmente, pois ambas respostas foram sinalizadas. O número reduzido de materiais que gostam de usar ficou explícito quando assinalaram em maior número o lápis de cor, tinta e tesoura, demonstrando mais uma vez o pouco contato com materiais artísticos. Como apontam Ferraz e Fusari (2001, p.94):

[...] é necessário vivenciar atividades práticas, nas quais se possa lidar diretamente com a linguagem visual, para saber fazer, expressar, comunicar, enfim, pensar visualmente. Desta forma, poderemos entender melhor os nossos próprios trabalhos (nossa linguagem) e a dos outros autores, artistas em variados contextos comunicacionais e ao longo da história da humanidade.

A grande maioria desconhece a Arte Africana, alguns à relacionaram com a dança, religiosidade e artesanato (máscaras). Penso que deveria ter colocado alguma questão sobre Arte afro-brasileira, uma vez que desenvolverei um trabalho que está ligado à aplicabilidade da Lei 10.639/03, que trata da história e cultura afro-brasileira , bem como a história da África e dos africanos. A disciplina no currículo escolar é vista com grande importância, porém foram significativas as respostas que negaram tal importância. Eu as transcrevo aqui: “Porque em nenhum serviço público eu vou pintar, desenhar ou modelar é bom para quem vai seguir a profissão artística” aluno de 19 anos; “Porque não vou aprender nada que me possa ser útil” aluno de 18 anos. Estes relatos demonstram que os alunos nunca tiveram um professor que mostrasse a importância da arte. Conforme Guerra, Martins e Picosque (1998, p.37),

Somos rodeados por ruidosas linguagens verbais e não verbais – sistema de signos – que servem de meio de expressão e comunicação entre nós, humanos e podem ser percebidos por diversos órgãos dos sentidos.[...] Nossa penetração na realidade, portanto, é sempre mediada por linguagens, por sistemas simbólicos. O mundo por sua vez, tem o significado que construímos para ele. Uma construção que se realiza pela representação de objetos, idéias e conceitos, que por meio de diferentes sistemas simbólicos, diferentes linguagens, a nossa consciência produz. Quando nos damos conta


30 disso, vemos que a linguagem é a forma essencial da nossa experiência no mundo e, consequentemente, reflete nosso modo de estar-no-mundo.

A aula de Arte deve possibilitar aos alunos conhecerem esses códigos não verbais, fazendo com que eles signifiquem seus mundos e se sintam-se integrantes de um espaço maior.


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CAPĂ?TULO 2 Pesquisa sobre tema nas Artes visuais


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2.1. Arte africana

Algumas pessoas taxam a arte africana como sendo de povos sem cultura. Cabe discordar visto que a influência dos povos deste continente na história mundial e em especial na cultura brasileira, é muito grande. Porém ainda encontramos pessoas com a visão distorcida a respeito desta arte. Carise (s/d, p.65) fala que “a arte africana tradicional tribal é tão universal quanto a arte grega” referindo-se ao conteúdo estético e espontaneidade criadora dessa arte. Devido às características do continente africano, no que diz respeito a diversidade de povos, línguas e culturas , também na arte encontramos especificidades em relação a arte de culturas ocidentais. Assim conforme afirma Carise (s/d, p.66), [...] na África, a arte não tem, apenas, um caráter estético; ela é, antes, uma atividade criadora na qual o artista dá nova forma ao mundo unificando a condição de homem e da humanidade, através de princípios que definem e caracterizam uma época, uma tradição. Gira em torno de crenças, vive em estreita relação com o homem, a natureza, os vivos e os mortos. O artista africano exprime uma idéia, um símbolo, não reproduz, simplesmente, as aparências visíveis da natureza, mas as forças interiores, procurando mais captar uma realidade pensada do que vista.

Portanto, esta arte deve ser vista com um novo olhar, desprovido de uma arte convencional dominante. Na verdade, ela é livre de influências técnicas, ela expressa a diversidade cultural e étnica. A arte africana foi por um longo período da história desconhecida. Alguns etnólogos mostravam-se interessados nela, porém foi com o livro “Arte Negra” de Karl Einstein que o assunto começou a ser discutido com maior interesse por artistas modernos. Carise (s/d, p.67) comenta que “embora discutível sua teoria sobre cubismo o tema reflete bem o papel decisivo que a arte africana vem desempenhando no desenvolvimento dos conceitos estéticos do século XX”. A arte africana tradicional está presente nas sociedades rurais e não tem a intenção de reproduzir a realidade. A principal função desta arte é reproduzir valores emocionais, em especial para as comunidades a qual pertence, pois estas pessoas podem compreendê-la. Ela é apreciada pelo que representa e não pelo que aparenta.


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A chamada “arte negra” é um instrumento da relação espiritual das pessoas da comunidade, acompanhando assim suas vidas, participando de rituais desde o nascimento, passando por ritos de passagem, pela morte e continuando na ligação com a ancestralidade. As representações desta arte estão sujeitas a diversidade étnica, apresenta-se sem a simetria e a proporção que poderíamos esperar. Normalmente a cabeça é demasiado grande, pois ela representa a personalidade, o saber, principalmente quando é a de uma pessoa mais velha da comunidade; a língua ultrapassa a boca, expressando a fala, que é a chave da tradição oral; a barriga e os seios femininos representam a fertilidade; os pés, muito grandes, são fixados na terra. Essa arte africana, de base rural comunitária, feria a arte européia do século XIX, porém, seu ‘expressionismo” atraiu pintores como Picasso e Braque quando eles partiram para o cubismo. Nessa mesma época chamou a atenção dos europeus os bronzes de Benin, que utilizavam-se da técnica da cera perdida que estava no patamar mais elevado de técnica de fundição na Europa. Esta técnica antes mesmo de chegar ao continente europeu já era usada pelos iorubas desde o século XVI. A arte relatada até aqui era produzida no período pré-colonial. Ainda hoje ela existe tanto para uso comunitário quanto para apreciação dos turistas. Falar de arte africana é falar genericamente e isto é impossível visto que nos referimos a um continente composto por mais de 50 países, com língua e cultura próprias, onde cada povo desenvolveu sua arte especificamente, de acordo com suas características.


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2.2. Presença africana na cultura brasileira

Quando falamos em África o senso comum acaba relacionando a um lugar onde vivem povos com uma única cultura. Isso não é verdade. África é o nome de um continente em que há mais de cinqüenta países, cada um com sua língua, costumes, modo de viver, enfim uma cultura própria de cada país que compõe o continente. Conforme Araújo (2003, p.7), Lá vivem – e sempre viveram – povos diferentes uns dos outros, fazendo deste continente um lugar riquíssimo na sua produção cultural. A África não é uma só, são várias Áfricas. Um continente que produz e produziu diferentes ritmos, histórias e ricas trajetórias.

Segundo o dicionário Aurélio uma das definições para cultura é “o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais, transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade.” Podemos entender cultura como um conjunto de comportamento do cotidiano: alimentação, moradia, vestimenta, crenças e rituais, nascimento e morte. Devido a constituição do povo brasileiro e como ela se deu, temos influência de vários povos. Entre estes estamos falando de pessoas que foram tiradas de sua cultura para serem transformadas em mercadorias e serem vendidas como escravas. Através de dados históricos temos a seguinte consideração,

Segundo dados reconhecidos por diversos estudiosos, o Brasil recebeu cerca de quarenta por cento dos quase dez milhões de africanos que foram transportados para as Américas no período compreendido entre os séculos XVI e XIX. Esses números, por si só, indicam as estreitas ligações que, ao longo do tempo, foram sendo tecidas entre o Brasil e o continente africano. Pensar o Brasil a partir desse fato significa dar atenção a uma gama de elementos culturais relacionados à diáspora africana que se tornaram parte de nossa percepção do mundo e de nossas práticas cotidianas. (PEREIRA, 2007, p.22)

Traziam consigo muitos modos de ver o mundo e de reagir à vida. As embarcações traziam outras maneiras de falar, rir, contar histórias, alegrias e ritmos. “Os africanos e seus descendentes se inseriram na sociedade brasileira escravista de


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maneira ativa e participativa, e a cultura afro-brasileira de hoje pode ser vista como produto dessa ação.” (ARAÚJO, 2003, p.50) Apesar disso, a sociedade brasileira sempre tratou a cultura africana com preconceito e violência. Aos olhos da elite brasileira no regime escravista tudo que se referia a cultura africana era tido como exótico ou estranho, não sendo tratado como fator de formação de nossa identidade. Há pouco tempo começamos a contar a história dos africanos no Brasil. É importante passar de um discurso escravista para mostrar efetivamente a contribuição dos negros na formação da sociedade e identidade nacional. Ao falarmos de cultura afro-brasileira devemos citar a religiosidade, fortemente influenciada pelo africano. Embora há de se verificar que não se trata de uma vivência religiosa uniforme, que trata iguais todos os afrodescendentes em todas as regiões do país. Sobre a vivência religiosa brasileira temos,

[...] Por um lado, temos o Candomblé, religião de origem africana ou como também é chamada, a religião dos orixás. Os orixás, de procedência iorubá, segundo os preceitos sagrados, cuidam de partes específicas do mundo e da natureza. Há orixás que zelam pela colheita, pelo raio, pela chuva, pelo mar, pela afetividade etc. Entre os mais conhecidos, estão, Exu (mensageiro e guardião das encruzilhadas), Ogum (deus da guerra, do ferro, da tecnologia), Xangô (deus da justiça e do trovão), Iemanjá (deusa da maternidade, do mar), Iansã ( deusa das tempestades, dos raios, dos ventos), Oxum (deusa da fertilidade, do amor), Nanã ( deusa da lama, da terra), Oxalá (deus da criação). (PEREIRA,2007, p. 24/25)

A inserção nos currículos escolares da cultura afro-brasileira permite o conhecimento da nossa diversidade cultural visto que tivemos influência de várias regiões do continente africano. Este conhecimento também aponta os conflitos existentes nesta questão uma vez que há dificuldade na sociedade brasileira de lidar com mecanismos de exclusão que ela mesma sustenta uma vez que é difícil para muitas pessoas reconhecer os valores da população afrodescendente. Pereira (2007, p.53/54) cita como exemplo a seguinte situação:

Conceição nasceu no dia 8 de dezembro, no final dos anos 70 do século XX, dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição e, em algumas religiões afrodescendentes ou afro-brasileiras, a Oxum, orixá feminino que controla a fecundidade e reina sobre todos os rios, exercendo seu poder sobre as águas doces, fundamental para a vida na Terra.


36 Sua família, adepta da umbanda, uma religião afro-brasileira, desejou homenagear Oxum, colocando este nome na menina. Segundo ela, houve o impedimento no cartório e a família imediatamente lhe deu o nome de Conceição para homenagear Oxum, sem repressão. Por muito tempo, mais de vinte anos, ela relata que tinha vergonha de contar esta história e dizia que seu nome era em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. Ao compartilhar, coletivizar sua lembrança, sua história identitária, Conceição libertou sua memória e sua própria identidade e certamente sua história lembrada e contada foi disparadora de outras memórias e de outras identidades.

A história acima, narra o fato de uma autoridade negar-se a registrar a criança conforme o desejo da família, uma visão eurocentrista, visto que o nome não estaria de acordo com a religião imposta às pessoas e tida como ideal. A rejeição demonstra a visão dos valores culturais afrodescendentes. Por outro lado a solução encontrada pelos pais, de vincular o nome, através do sincretismo, ao modelo religioso dominante, mostra que nem sempre a ordem social está aberta a dialogar, reconhecer o valor de outras culturas. No dia 9 de janeiro de 2003 foi aprovada a lei 10.639, que tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira, assim como História da África e dos africanos em todos os estabelecimentos de ensino públicos e privados, no Brasil. Segundo o texto da lei, nesses conteúdos estariam incluídos, a luta dos negros na formação da sociedade brasileira. Eis o texto base da Lei:

Lei 10.639,de 9 de janeiro de 2003 Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura AfroBrasileira", e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B: "Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura AfroBrasileira. § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.


37 § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. § 3o (VETADO)" "Art. 79-A. (VETADO)" "Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’." Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque

Esta lei não foi criada de forma autoritária, mas por conta de décadas de luta de entidades ligadas ao Movimento Negro que viam a necessidade de mostrar a participação e contribuição do negro na história brasileira. Porém, a lei por si não basta, é necessário que haja engajamento dos professores de todas as áreas para fazer valer seu conteúdo. De acordo com Lima. (2004, p.86):

É essencial cobrar das autoridades, em especial dos gestores de instituições de ensino, o apoio para fazer da iniciativa da lei uma realidade. Foi estabelecida a obrigatoriedade, mas ela não basta, para que o obrigatório se torne viável e produtivo tem que haver investimento na formação

A lei tem alguns anos, mas efetivamente ainda é pouco aplicada, sendo necessário maior comprometimento e desejo de conhecer a verdadeira história dos africanos e afro-brasileiros para que todos os alunos, independente de sua origem, possam conhecer a cultura que contribuiu para nossa identidade brasileira. A inclusão de temas referentes às culturas africana e afro-brasileira nas escolas, aponta para o estabelecimento de políticas afirmativas, permitindo um reparo da sociedade brasileira reconhecendo sua dívida para com os africanos e seus descendentes. Também é possível perceber que o Estado e a sociedade brasileira estão empenhados em valorizar a contribuição do povo africano na cultura brasileira.


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2.3. A arte negra brasileira

Quando se fala em arte negra brasileira, dificilmente pensamos em artes plásticas, normalmente pensamos em música, que é um campo bastante explorado e divulgado pelos afrodescendentes, ou, quando muito, no teatro. A contribuição do negro na formação cultural brasileira está limitada à escravidão e ao legado na música, à literatura, ao sincretismo religioso e aos costumes. Pouco, ou nada é falado sobre a contribuição do negro na arte brasileira. Da mesma forma pode-se dizer da maneira como o povo era retratado. Sobre como o brasileiro era pintado na Academia Imperial, no século XIX,

O modelo era um homem branco, não muito jovem, descarnado, mesmo malfeito. Os alunos e o professor olhavam para o triste indivíduo, mas não o reproduziam sobre o papel, onde apareciam belas figuras que nada tinham com a imagem viva, mas sim com a imaginação. Ironia dos fatos: só a imaginação podia dar conta de um recado imposto, para o qual nunca se levara em consideração as peculiaridades do contexto. Não que devêssemos nos incomodar com o tipo e as deficiências do modelo, e sim como o modo de encará-lo e de absorvê-lo. Veja o caso do negro. Por preconceitos sociais e estéticos, ele ficaria ausente de nossa arte oficial durante o século XIX, apesar de sua substantiva presença física no corpo do país. Oscar Pereira da Silva, por exemplo, tratando do tema da escravidão, não o faria através da escrava negra que os seus olhos encontravam facilmente em torno, mas com a escrava romana, branca e anacrônica no final do século. (FERRAZ e FUSARI, 2001, p.139)

No século XVIII os artistas que se destacavam eram de origem africana, porém essa arte estava ligada a padrões eurocêntricos. Alguns artistas tinham em suas manifestações artísticas características afro-brasileiras, mas somente no século XX aparecem artistas com o propósito de colocar explicitamente uma arte de origem africana, ligada a sua ancestralidade. Assim, [...] pode-se aprofundar os conceitos de modernismo e modernidade que foram incorporados às culturas brasileiras e latinoamericanas ao longo do século XX, e que resultaram em manifestos e movimentos de vanguarda. Esta mudança de posicionamento frente à arte trouxe na prática uma liberação expressiva e o surgimento de novas posições artísticas, estéticas e sociais. Surge, como resposta a essas inovações, a organização de sistemas culturais, artísticos (salões de arte, criações de museus, Bienal de São Paulo


39 etc.), quando acontecem novas rupturas e formulações. (FERRAZ e FUSARI, 2001, p. 141)

A partir de então aparecem artistas com a intenção de criar uma linguagem que não estivesse ligada a essa arte eurocêntrica, e sim a uma arte africana. Valorizar essa arte colabora na construção da identidade negra e resgata a auto-estima desse grupo. Não são tão poucos os brasileiros negros que se dedicaram às artes, nem é pequeno o valor artístico de suas produções artísticas. O museólogo e artista plástico Emanoel Araújo tem se dedicado ao resgate desses artistas, contribuindo assim para a nossa cultura brasileira.

Emanoel Araújo (Fonte: www.geledes.org.br)


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Araújo, 1976 (Fonte: www.itaucultural.org.br)

Em seus estudos no que se refere a contribuição do artista negro brasileiro, Emanoel Araújo faz a seguinte divisão:

Barroco e Rococó

Neste período podemos citar os pintores: Manuel da Cunha, Leandro Joaquim, Raimundo Costa e Silva, Manuel Dias de Oliveira, Francisco Pedro do Amaral, José Teófilo de Jesus, Veríssimo de Freitas, José Rodrigues Nunes, Antônio Joaquim Franco Velasco, Silvestre de Almeida Lopes, José Patrício da Silva Manso, Jesuíno do Monte-Carmelo e Jesuíno Francisco de Paula Gusmão.


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Imaculada Conceição. José Patrício da Silva Manso, 1777-1780. (Fonte: www.itaucultural.org.br)

Quanto a escultura temos: Antônio Franciso Lisboa, o Aleijadinho, Valentim da Fonseca e Silva (o Mestre Valentim), Francisco das Chagas, Bento Sabino dos Reis e Domingos Pereira Baião.


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A crucificação. Aleijadinho, 1796-1799. (Fonte: www.itaucultural.org.br)

Artistas do século XIX

Na Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, despontaram os maiores artistas negros do século XIX. Alguns desses artistas são os irmãos Timóteo da Costa (João e Artur), Estêvão Silva, Antônio Rafael Pinto Bandeira, Horácio Hora, Antônio Firmino Monteiro, Leôncio da Costa Vieira, Rafael Frederico, Emanoel Zamor, Benedito José Tobias, Francisco Manuel Chaves Pinheiro e Crispim do Amaral.


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Retrato de mulher. Benedito José Tobias, s/d. (Fonte: www.negroearte.blogspot.com)

Artistas do século XX e contemporâneos

São poucos os artistas negros ou descendentes de negros no Brasil contemporâneo no meio oficial das artes visuais. Eles surgem em regiões do país onde há, mais que em outras, uma certa classe média negra, como no Nordeste na Bahia, principalmente em Minas Gerais. No Rio Grande do Sul, entretanto, mesmo sendo minoria, os negros tem acesso à educação de forma igualitária aos demais habitantes, o que possibilitou também o surgimento de artistas plásticos negros. Alguns dos artistas plásticos importantes nesse período são: Abdias do Nascimento, Adão Pinheiro, Alcir Dias, Antonio Bandeira, Cesar Romero, Chico Diabo, Cosme Martins, Crispim Pinheiro, Daviran Magalhães, Delima Medeiros, Emanoel Araújo, Edísio Coelho, Edival Ramosa, Genilson Soares, Gervane de Paula, Gina Barcelos, Gutê, Heitor dos Prazeres, Hélio Oliveira, Iedamaria, Jamison Pedra, José Cláudio da Silva, José de Dome, José Igino, Juarez Paraíso, Justino Marinho, Lizar, Maria Adair, Maria Lídia Magliani, Messias dos Santos, Messias Neiva, Mestre Saul, Nuguetti, Otávio Araujo, Paixão, Ricardo de Ozias, Rubem Valentim, Rui Silva, Sérgio Amaro, Sérgio Vidal, Sinésio Brandão, Waldemberg e Wanderley Caramba.


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Brinquedo de armar. Maria Lídia Magliani, 1978. (Fonte:wwww.margs.rs.gov.br)

A trajetória artística e obras de alguns destes artistas, conferimos a seguir:

Rubem Valentim

Nasceu em Salvador (BA) em 1922 e faleceu em São Paulo em 1991. Autodidata, com suas pinturas de base geomética, tornou-se um nome importante nas artes plásticas brasileiras. "Minha linguagem plástico-visual signográfica está ligada aos valores míticos profundos de uma cultura afro-brasileira (mestiça-animista-fetichista)", dizia Valentim, que também morou no Rio de Janeiro e em Brasília, onde viveu durante 20 anos. "Com o peso da Bahia sobre mim - a cultura vivenciada; com o sangue negro nas veias - o atavismo; com os olhos abertos para o que se faz no mundo - a contemporaneidade; criando os meus signos-símbolos, procuro transformar em linguagem visual o mundo encantado, mágico, provavelmente místico que flui continuamente dentro de mim". Conforme depoimentos sobre sua arte no DVD “Rubem Valentim: geometria sagrada” (2001).


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Rubem Valentim (Fonte: http://omenelicksegundoato.blogspot.com)

Emblemas.Rubem Valentim,s/d. (Fonte: www.encuentroentredosmares.com)


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Abdias do Nascimento

Nascido no interior de São Paulo, na cidade de Franca em 1914. Conheceu descalço a vida rural e urbana daquele tempo ainda perto da escravatura. Trabalhava na cidade e brincava nas fazendas onde sua mãe prestava serviços, às vezes como ama-deleite. Desse tempo ficam as lembranças e desejo de liberdade. Como adulto, os vários talentos e formas de expressão de Abdias Nascimento voltam-se para o avanço da causa anti-racista. Na dramaturgia, poesia e pintura, no engajamento na luta internacional panafricanista e na atuação como deputado federal, senador e secretário de estado, desenvolve aspectos dessa luta, a que dedicou plenamente sua vida.

Abdias do Nascimento (Fonte: http://fefadepaula.blogspot.com)

Padê de exu. Abdias do Nascimento,1988 (Fonte: www.abdias.com.br)


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Mestre Didi

Deoscóredes Maximiliano dos Santos nasceu em 1917 em Salvador (BA). Escritor e escultor, cria objetos rituais desde criança tendo forte influência do culto aos orixás. Sua mãe, uma renomada ialorixá baiana, foi uma das responsáveis por sua formação religiosa. Seus trabalhos, de cunho ritual, são feitos com materiais naturais. Ancestralidade e visão de mundo africano se fundem com sua experiência de vida exprimindo-as em suas esculturas. Entre os anos de 1946 e 1989, publica livros sobre a cultura afro-brasileira, alguns com ilustrações de Caribé. Em 1966, contratado pela Unesco, viaja para a África Ocidental e realiza pesquisas comparativas entre Brasil e África. Entre as décadas de 60 a 90, participa como membro de institutos de estudos africanos e afro-brasileiros e como conselheiro em congressos com a mesma temática, no Brasil e no exterior. Em 1980, funda e preside a Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Asipá do culto aos ancestrais Egun, em Salvador.

Mestre Didi (Fonte: http://www.new.divirta-se.uai.com.br)


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Mestre Didi,s/d (Fonte: www.encuentroentredosmares.com)

Mônica Nador Há também artistas engajados no desenvolvimento de atividade que fogem da arte de museus e galerias. Este é o caso de Mônica Nador, artista que resolveu transformar os muros e as paredes das periferias ou regiões bem pobres no seu ateliê a céu aberto. O Jardim

Miriam

Arte Clube – JAMAC. Fundado em 2003 é uma

associação civil sem fins lucrativos onde também abriga o ateliê e a residência da artista plástica. Conforme dados do site oficial do projeto: Formado por artistas e moradores do Jardim Miriam, periferia da cidade de São Paulo, o JAMAC visa constituir-se como um núcleo gerador de ações artísticas, que tragam benefícios concretos para os moradores da periferia, desde a melhoria das habitações até o ensino de ofícios, a partir da apresentação de conceitos mais abstratos que promovam a ampliação da visão de mundo dos participantes, desenvolvendo a consciência crítica e trabalhando a noção de cidadania dos mesmos, utilizando-se do potencial transformador da arte. (www.jamacdigital.wordpress.com) O fato de citar esta artista em um texto que se propõe refletir sobre a arte negra brasileira se deve seu trabalho encontrar-se inserido em periferias. A partir da abolição da escravatura os negros foram residindo nas regiões periféricas das cidades. Portanto, pode-se afirmar que, A mesma situação se repetia nas cidades.[...] A exclusão racial não aconteceu apenas no âmbito do trabalho. Pode-se notar também que os negros foram excluídos geograficamente. Por conta de sua precária condição financeira, eles foram obrigados a residir em regiões periféricas das cidades, habitando cortiços e pequenas casinhas de aluguel nos bairros afastados do centro paulistano e favelas que surgiram nos morros cariocas.(MATTOS, 2007,p. 107)


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M么nica Nador (Fonte: http://www.onspeed.com.br)

Autoria compartilhada. M么nica Nador, 2011 (Fonte: http://autoriacompartilhada.wordpress.com)


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2.4. Simbolismo Adinkra

Em sua pesquisa sobre os símbolos Adinkra, Nascimento (2009) os definem como ideogramas que compõem um antigo sistema de escrita do povo ocã da África Ocidental, atualmente República de Gana e parte da Costa do Marfim. São mais de 80 símbolos que transmitem aspectos da história, da filosofia e dos valores socioculturais dos povos africanos. Portanto, adinkra são símbolos que representam provérbios, sendo ideogramas impressos, repetidamente, sobre tecidos.

Símbolo da autoridade, legitimidade, legalidade do estado e das façanhas heroicas. (Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com)

Símbolo da unidade na diversidade. (Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com)


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Símbolo do conhecimento, da aprendizagem permanente e da busca contínua do saber (Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com)

Símbolo da resistência e desafio às dificuldades. (Fonte: adinkra.org)

Constituem um código de conhecimentos referentes às crenças e a história do povo. A escrita de símbolos adinkra é um conjunto de sistema de valores. Inicialmente esses símbolos eram usados para enfeitar o vestuário destinado às cerimônias fúnebres. Posteriormente, os tecidos adinkra passaram a ser usados por


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líderes espirituais em rituais e cerimônias. Não eram usados no dia-a-dia, também pelo fato do tecido desbotar.

Vários sistemas de escrita percorrem a história africana quanto ao surgimento da grafia e o adinkra é um deles. Na verdade, a grafia nasce na África com os hieróglifos e seus antecessores. Sobre a origem desta simbologia,

De acordo com a história oral, o conjunto dos adinkra tem origem numa guerra que o rei dos asante – Asantehene – Osei Bonsu moveu contra o rei Kofi Adinkra de Gyaaman, hoje uma região da Costa do Marfim. O rei Adinkra teve a audácia de copiar o gwa, banco real do Asantehene e símbolo da soberania e do poder do Estado. Assim provocou a ira do Asantehene, que foi à luta. Vencida a guerra, os asante dominaram a arte dos adinkra, passando a ampliar o espaço geográfico onde impunham sua presença. Antes disso eram patrimônio dos malam e dos denkyira, povos da África ocidental que desenvolveram a técnica no passado remoto. Trata-se, então, de um antigo sistema africano de escrita. A importância desse fato é incomensurável porque a ciência etnocentrista européia negou que a África tivesse história alegando que seus povos nunca criaram sistemas de escrita. (GÁ e NASCIMENTO, 2009, p. 22/23)

Ainda com base nos estudos de Nascimento (2009), os adinkras representam ideias expressas em provérbios. Além da representação grafada, são esculpidos em madeira, ferro, estampados em adereços e tecidos. Muitas vezes são associados a realeza, identificando soberanos ou linhagens. Assim, o conceito de escrita vai além da noção que temos de letra grafada. No século XVII foi levado ao império Ashanti por um homem que havia ido ao reino vizinho e trouxe o primeiro tear e símbolo. A partir daí a tarefa de tear e estampar passou a ser masculina. Hoje isso mudou, a estamparia é feita por mulheres, porém o tear continua sendo tarefa masculina. A tinta usada era extraída de uma árvore, kuntunkuni e a clara de ovo ajudava no brilho. Além de serem usados na estamparia, também eram entalhados nos bancos dos imperadores Ashanti. Atualmente, ainda que as pessoas utilizem diferentes símbolos para representar sentimentos particulares, cabe ao imperador uma estampa exclusiva. Os tecidos adinkra são usados pelos ganeses em diversas ocasiões, como casamento e batismo, por exemplo. Além de serem utilizados sobre tecidos, também são aplicados nas paredes, adornos, logotipos e em cerâmicas.


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O momento é de restabelecimento de conexões com nossas origens. Africanos espalhados pelo mundo são herdeiros de uma civilização que deu origem à escrita, astronomia, matemática, engenharia, medicina, filosofia e ao teatro.

O conhecimento e o desenvolvimento estão ligados à história da África. A lei 10.639/03, que trata da história e cultura afro-brasileira , bem como a história da África e dos africanos, tem como objetivo levar este conhecimento até então distante da população. Através dela há uma recuperação de identidade brasileira, pois a falta de referências sobre essa história e cultura significa ignorar nossas raízes africanas. “Os estudos africanos deixaram de ser exclusivamente uma demanda do movimento social negro para se tornarem uma necessidade de toda a sociedade.” (GÁ e NASCIMENTO, 2009, p. 14). Importante ressaltar que desconhecer o valor da cultura africana na construção da identidade do povo brasileiro colabora para a baixa autoestima, impedindo o acesso às oportunidades e a luta pelos seus direitos.


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CAPร TULO 3 Projeto e Prรกtica de Ensino em Artes Visuais


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3.1. Dados gerais da escola e turma da prática Escola Estadual de Ensino Médio Caetano Gonçalves da Silva Diretora: Conceição Sachs da Silva Endereço: Rua Dom Pedro, 790 – Centro – Esteio / RS Turma: 9 A - terceiro ano/ EJA Professora referência: Fabiana Rebelatto

3.2. Dados gerais do Projeto de Ensino Título do projeto: Arte e cultura africana e afro-brasileira: conhecer para respeitar Tema: Formação cultural brasileira Justificativa: Desde janeiro de 2003 existe a lei 10.639 que tornou obrigatório no currículo escolar o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas públicas e privadas do país. A identidade cultural de uma nação é constituída através das inter-relações culturais, portanto se faz necessário que o professor leve para a sala a preocupação com a diversidade cultural, pois a escola é um, dos vários espaços existentes na sociedade, em que os indivíduos de diferentes culturas se inter-relacionam. Objetivo geral: Proporcionar o conhecimento de determinadas manifestações artísticas africanas e afro-brasileiras, reconhecendo a presença africana no Brasil, identificando as manifestações culturais deste povo e sua influência na formação cultural brasileira.


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3.3. Prática de Ensino 3.3.1. Primeiro Encontro Aulas 1 e 2 Data: 22/09/2011 TEMA: Continente africano CONTEÚDO: Apresentações iniciais. Apresentação do projeto das aulas, conhecimentos sobre o continente africano. ATIVIDADES: Redação sobre conhecimentos pessoais dos temas propostos pela professora; Interpretação de texto e vídeo; Confecção de livro de imagens OBJETIVOS: Conhecer o continente africano e sua cultura; Estabelecer relações entre o conhecimento popular e o conhecimento científico; Expressar-se oralmente e por escrito. Ler e interpretar texto; Debater as ideias principais do texto; METODOLOGIA: Aula expositiva, apresentação de vídeo, questionário escrito e atividades individuais.

MATERIAIS E RECURSOS Computador, projetor multimídia, papel cartaz, folhas A3 e A4, papel vegetal, lápis de desenho, mapa do continente africano e fotocópias com texto de Rubem Alves.

AVALIAÇÃO: A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e envolvimento dos alunos com as atividades propostas e conforme o alcance dos objetivos propostos.


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PLANEJADO Iniciarei me apresentando e pedirei que os alunos se apresentem, falando seu nome e a expectativa em relação as aulas. Conversarei sobre o trabalho que desenvolverei com a turma durante o estágio, formação cultural brasileira, dando ênfase a herança africana e sobre a 8ª Bienal do Mercosul comentando sobre o trabalho de Arte Postal. Perguntarei sobre a possibilidade de visita à Bienal (casa M) pois, se aceitarem realizar o trabalho de Arte Postal, os mesmos estarão expostos neste espaço. Após as conversas e apresentações, entregarei uma folha onde os alunos responderão o que sabem sobre África; Ver; Olhar. Assistiremos ao documentário Janela da Alma no qual são entrevistados artistas, intelectuais e pessoas ditas comuns da Europa e do Brasil, com diferentes dificuldades de visão que vão desde a miopia à cegueira. Os depoimentos discorrem sobre ver, não ver e ver de maneira diferente, única. Ao término do mesmo conversaremos sobre o que foi respondido na folha e o que assistiram no vídeo. Entregarei o texto de Rubem Alves “A complicada arte de ver”. Conversaremos sobre o que foi lido, principalmente sobre o que é ver e o que é olhar. No quadro, irei colocar as definições sobre ver e olhar. Irei propor a realização de um Livro de Imagens onde, durante as aulas serão colocados os trabalhos, fotos ou escritos sobre as atividades. O formato do livro será do continente africano. Entregarei papel vegetal com o contorno do continente africano, em dois tamanhos. Cada aluno irá contornar o tamanho escolhido, em papel cartaz e em folha A3ou A4, esta será a capa e a primeira folha do trabalho. Para a próxima aula pedirei os seguintes materiais: lápis,tinta( preto, azul, vermelho, amarelo e branco) rolo para pintura,pincel; EVA, bandejas de isopor, radiografias antigas (lavadas com água sanitária), quadro em MDF, revistas velhas, cola, tesoura, argila, jornais, papel cartaz, lápis de cor e caneta hidrográfica. REALIZADO Ao chegar na escola procurei a supervisora para organizar a sala de vídeo onde passaria o documentário. Esta me encaminhou para a secretária que buscou o projetor multimídia para conectar ao notebook. Porém as caixas de som não


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funcionaram, então organizamos a televisão e o DVD. Penso que com o projetor seria melhor visualizar o filme já que a sala de vídeo é ampla e os alunos tendem a sentar-se no fundo da mesma. Ao sinal de início do segundo período, 19h 20 minutos, perguntei pela professora titular, mas ela não estava, pedi que a orientadora me acompanhasse até a sala de aula. Solicitei a chamada e ela falou que não estava pronta, me orientou a passar uma folha para que os alunos assinassem. Chegando à sala de aula a vice-diretora estava entregando uma folha para que os alunos pintassem. A orientadora a chamou dizendo que eles teriam aula comigo. Entrei, me apresentei e pedi que guardassem a atividade pois ela não seria utilizada. Estavam presentes na sala 20 alunos. Perguntei quantos haviam na turma, responderam que este módulo havia iniciado na quarta-feira, 21/09, portanto um dia antes e 25 pessoas compareceram a aula. Desta forma deduzi que na turma há 25 estudantes, mas é necessário esperar a listagem oficial para que eu possa me programar com o número exato de alunos. Conversei com a turma sobre o estágio, o que trabalharemos nos seis encontros e a temática do meu trabalho. Ouvi, ao fundo, um aluno falar “Finalmente vamos ter aula de Artes” outros, próximos disseram “ Ainda bem que não é a Fabiana” se referindo a professora titular que é formada em Biologia e , na escola dá aula de Ciências e Artes. Perguntei se havia interesse da turma em ir a 8ª Bienal do Mercosul e se alguém já havia ido nesta edição em algum dos locais onde acontece a exposição. Mostraram-se bastante empolgados com a possibilidade de visita e ninguém foi visitar o evento. Quando perguntei se alguém havia visitado alguma exposição de arte, apenas um aluno levantou o braço, dizendo que foi com a escola no Margs em 2009, não soube dizer o nome da exposição. Entreguei uma folha onde os alunos responderam o que sabiam sobre África, Ver e Olhar. Ressaltei que as palavras não estavam relacionadas entre si, deveriam responder isoladamente sobre cada um dos termos. Enquanto respondiam, coloquei no quadro os materiais necessários para as próximas aulas e o nome do projeto de estágio. Li a relação dos materiais, expliquei que deveriam lavar as radiografias com água sanitária, os quadros de MDF poderiam ser do tamanho que desejassem e farão parte do trabalho de conclusão do meu estágio. Fiz um breve comentário sobre o tema “Identidade Brasileira”. Recolhi as folhas e encaminhei a turma até a sala de vídeo.


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Na sala, grande parte da turma sentou-se nas últimas cadeiras. Durante a projeção do documentário algumas alunas conversavam em tom alto, o que acabou dificultando a escuta de alguns depoimentos. Me dirigi a estas alunas pedindo que, se desejassem poderiam conversar do lado de fora da sala para que não atrapalhassem os colegas. A conversa acabou e o DVD foi assistido com atenção. O tempo de duração do documentário é de 73 minutos e não foi possível assisti-lo até o final. Desliguei o aparelho de DVD faltando 10 minutos para o término. Perguntei se alguém gostaria de comentar o que foi assistido. Enquanto entregava o texto do educador Rubem Alves “A complicada arte de ver” alguns alunos falaram sobre o olhar seletivo , o olhar do falcão, citado pelo escritor José Saramago e a capacidade de “ver” com os outros sentidos que não a visão. Perguntei se alguém desejava fazer a leitura do texto. Como ninguém se pronunciou eu a fiz, mas antes de terminá-la fui interrompida pelo sinal do recreio (8h 40 minutos). Pedi que terminassem a leitura em casa e, na próxima aula, retomaremos o texto. Os alunos foram para casa pois o professor de Literatura, período que sucede a aula de Artes, não estava na escola.

ANÁLISE A ausência da professora titular e o fato da vice-diretora estar na sala de aula entregando uma atividade de pintura fez com que eu percebesse a falta de comunicação entre supervisão e vice-diretora. Senti um certo descaso com a turma ou talvez com a disciplina pois a atividade era totalmente inadequada para um terceiro ano do ensino médio. Em relação a fala dos alunos sobre a professora titular, que tem sua formação em outra disciplina, se percebe que suas atividades não estão satisfazendo os estudantes. Quando fiz as observações de suas aulas percebi que a Arte estava a serviço de sua disciplina de formação, Biologia, pois o que ela propunha eram atividades ilustrativas ao conteúdo de Ciências. Sobre a formação do professor de Arte Fusari e Ferraz (2001, p. 53) comentam,”no caso do professor de Arte, a sua prática-teoria e estética deve estar conectada a uma concepção de arte, assim como a consistentes concepções pedagógicas”. Sobre as respostas escritas na folha que entreguei em aula, foi possível observar que em relação a África há dificuldade de entendimento da palavra pois vários


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alunos escreveram se tratar de um país, enquanto que África é um continente. Apenas quatro escreveram se tratar de um continente que originou a espécie humana e encontramos várias culturas sendo que algumas delas influenciaram a cultura brasileira. As demais respostas ficaram nos esteriótipos vinculados nas mídias, como muita pobreza, miséria,lugares selvagens, alto índice de mortalidade, sub-desenvolvimento, baixa expectativa de vida e muitas doenças. Sobre Ver e Olhar as respostas confundiram-se, enquanto que o primeiro termo se refere a algo mais profundo, como diz o texto de Rubem Alves, “O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido”. O segundo se refere a algo mecânico. Conforme afirma Fusari e Ferraz (2001, p. 78),

Educar o nosso modo de ver e observar é importante para transformar e ter consciência da nossa participação no meio ambiente, na realidade cotidiana. Ver significa essencialmente conhecer, perceber pela visão, alcançar com a vista os seres, as coisas e as formas do mundo ao redor. A visualização ocorre em dois níveis principais. Um deles se refere ao ser que está vendo, com suas vivências, suas experiências. O outro é o que a ambiência lhe proporciona. Mas, ver não é só isso. Ver é também um exercício de construção perceptiva onde os elementos selecionados e o percurso visual podem ser educados.E observar? Observar é olhar , pesquisar, detalhar estar atento de diferentes maneiras às particularidades visuais, relacionandoas entre si.

Enquanto algumas respostas foram superficiais, uma em relação a Ver me chamou atenção “Enxergar o mundo de um jeito diferente, e que este diferente seja para mudar...” Nas respostas sobre olhar destaco “É apenas um gesto”, entendi a palavra gesto como algo que se faz instintivamente, sem grandes reflexões.

ENCAMINHAMENTOS No próximo encontro retomaremos as respostas dadas na folha com o que assistiram no documentário e leram no texto levado para casa. A atividade prática não foi realizada devido ao tempo, ficando para a próxima aula.


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3.3.2. Segundo Encontro Aulas 3 e 4 Data: 29/09/2011 TEMA: Continente africano CONTEÚDO: Arte africana ATIVIDADES: Ler e interpretar textos; Apreciação de Power Point sobre arte africana; Fazer capa do Livro de Imagens; Realizar atividade no Livro de Imagens OBJETIVOS: Debater as ideias principais do texto Conhecer a arte africana; Expressar-se oralmente, por escrito e plasticamente. METODOLOGIA: Aula expositiva, apresentação de CD Rom e atividade individual. MATERIAIS E RECURSOS Computador, projetor multimídia, papel cartaz, papel color set, folhas A3 e A4, papel vegetal, lápis de desenho e mapa do continente africano. AVALIAÇÃO: A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos objetivos propostos. PLANEJADO Darei início a aula entregando crachás de mesa com o nome dos alunos para que coloquem sobre a mesa. Retomarei a aula anterior comentando o documentário e o texto. Perguntarei se alguém gostaria de falar sobre o que foi visto ou lido. Explicarei o motivo dos nomes, assim como aprenderemos a ver o continente africano além do que a mídia divulga sobre o mesmo, eu gostaria de conhecê-los a começar chamando-os pelo nome. Comentarei sobre o agendamento da 8ª Bienal do Mercosul, dia 5/10 no Santander Cultural. Passarei uma folha onde colocarão o nome completo e o RG para enviar à organização da exposição. Colarei no quadro três cartazes com os seguintes títulos África, Ver e Olhar e sobre eles as respostas dadas no primeiro encontro. Entregarei para os alunos


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pequenos textos sobre os termos trabalhados. Após, faremos a leitura e comentaremos o conteúdo dos textos. Perguntarei o que os alunos sabem sobre arte africana. Levarei a turma até a sala de vídeo para apreciação de uma apresentação em Power Point sobre arte africana elaborada pela professora, onde serão mostrados exemplos da cerâmica, arquitetura e máscaras africanas.

(Fonte:http://ivanirh2m4.blogspot.com/2010/11/influencia-das-midias-na-educacao.html)

Entregarei papel vegetal com o contorno do continente africano, em dois tamanhos. Cada aluno irá contornar o tamanho escolhido, em papel cartaz e em folha A3 ou A4. Esta será a capa do trabalho. Como primeira atividade do Livro de Imagens irei propor que realizem dobraduras de máscaras em papel color set. Esta atividade será feita em papel A3 ou A4, conforme o tamanho do livro.

REALIZADO Assim que cheguei na escola a orientadora veio falar sobre a Bienal, dizendo que havia feito agendamento para todo o turno da noite no dia 27/10 e me perguntou em que data eu preferia ir com a turma de estágio, se 5/10, como eu já havia agendado ou a nova data. Preferi conversar com a turma e decidirmos juntos. Combinei que daria a data após a minha aula. Ao sinal de início do período, me dirigi à sala de aula e, no caminho, encontrei a professora Fabiana, titular da turma. Ela me olhou com espanto e falou: “Tu aqui?” Conversamos rapidamente e ela pediu para “dar uma palavrinha” com os alunos.


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Como ela não estava presente na aula anterior, se apresentou como professora titular e disse que eles teriam aula comigo até o dia 27 de outubro. Ressaltando no final “Vejam se vão conseguir a façanha de rodar em Arte.” Retomei o vídeo “Janela da Alma” e o texto de Ruben Alves, perguntei se alguém gostaria de fazer algum comentário. Um aluno disse que nunca havia parado para pensar na diferença de ver e olhar, que para ele até então, estas palavras tinham o mesmo significado. Após os comentários, coloquei na parede cartazes com as respostas dadas na aula anterior.

Trabalho da turma (Fonte: MARQUES, 2011)

Fiz a leitura de todas as respostas, a cada cartaz comentava a resposta e falava sobre o conceito. No cartaz sobre a África, mostrei o mapa do continente ressaltando a diversidade de cultura, religião e língua lá existentes. Comentei sobre os enganos que cometemos ao nos referir a este continente. O mesmo aconteceu nos dois cartazes seguintes. Enquanto falava, alguns alunos faziam anotações no caderno. Ao terminar perguntei se alguém gostaria de comentar sobre o que foi falado. Ninguém se pronunciou. Pedi à turma que fosse para a sala de vídeo. Perguntei aos alunos o que sabiam sobre arte africana. Comentaram que nunca estudaram ou viram algo sobre esta arte. Assistimos a uma apresentação em Power Point sobre Arte Africana.


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Alunos conhecendo a Arte Africana (Fonte: MARQUES, 2011)

Alunos conhecendo a Arte Africana (Fonte: MARQUES, 2011)

Durante a exibição da apresentação os alunos copiaram no caderno os conceitos sobre Arte Africana; Máscaras; Cerâmica e Arquitetura. Após a apresentação retornamos para a sala.


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Propus a realização de máscaras africanas através de dobradura e recorte de papel color set.

Aluno Alexandre fazendo a máscara (Fonte: MARQUES, 2011)

Nenhum aluno conseguiu concluir a máscara. Alguns preferiram levar para casa para terminar, enquanto outros deixaram com a professora para concluir na próxima aula. Ao terminar o período uma aluna comentou “A aula passa muito rápido! A gente nem vê o tempo passar.”

ANÁLISE Na conversa com a supervisora sobre a ida a Bienal em todos os momentos quando ela se referia à saída usava a expressão “passeio”. Isso me chamou atenção pois o significado de passear, me parece algo sem compromisso enquanto que a ida à Bienal deveria ser vista com objetivo de conhecer Arte, criar nos alunos o hábito de visitar exposições e também realizar trabalhos pós visita. Ferraz e Fusari (2001, p.143) comentam a importância do contato com a Arte,

Acreditamos, pois, que o contato direto (ou indireto, quando através de ilustrações, fotos etc) com as obras de arte brasileira contemporâneas, bem


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O espanto da professora titular ao me ver só reforçou o que eu havia observado na aula anterior, a falta de comunicação na escola se dá em vários setores. Pensei que os alunos achariam infantil colocar o nome em crachás, ainda que de mesa, mas para minha surpresa eles adoraram, inclusive uma aluna comentou “Eu sempre quis ter um...” Penso estar sendo muito bem recebido o tema que estou abordando em aula, pois os alunos estão participando, questionando e interagindo nas aulas. O grande problema que estou vendo nas aulas é o fator tempo. Hoje foi o segundo encontro e mais uma vez não consegui realizar o Livro de Imagens. Estamos indo para o terceiro encontro, portanto, metade do meu período de estágio. Conversarei com a turma sobre o cancelamento desta proposta. Na apresentação em Power Point todos alunos prestaram atenção, enquanto alguns faziam algumas observações a respeito das imagens mostradas. Ao realizarem a atividade da máscara, vários solicitaram ajuda para desenhá-la, enquanto que outros mostraram-se criativos nas formas dadas a elas. ENCAMINHAMENTOS No próximo encontro, combinarei que os 20 minutos iniciais da aula serão para conclusão da atividade (máscaras africanas).


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3.3.3. Terceiro Encontro Aulas 5 e 6 Data: 06/10/2011 TEMA: Rubem Valentim CONTEÚDO: Vida e obra de Rubem Valentim ATIVIDADES: Conclusão das máscaras africanas Apreciação de Power Point, com o artista plástico Rubem Valentim Análise de algumas obras Atividade plástica com papéis (cartaz e celofane) com as características da obra do artista OBJETIVOS: Conhecer a vida e algumas obras do artista plástico Rubem Valentim; Debater questões presentes no trabalho do artista. Realizar atividade plástica que remeta as características das obras de Rubem Valentim. METODOLOGIA: Aula expositiva, apreciação de Power Point e atividade em grupos. MATERIAIS E RECURSOS Computador, projetor multimídia, papel celofane, papel cartaz, tesoura, estilete e fita adesiva. AVALIAÇÃO: A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos objetivos propostos. PLANEJADO Iniciarei a aula retomando a atividade realizada na aula anterior, que não foi concluída. Pedirei que terminem as máscaras, para isso darei um tempo de aproximadamente 20 minutos. Irei recolher os trabalhos para expor nos corredores da escola. Dando continuidade a minha proposta de estágio, perguntarei quais artistas plásticos brasileiros os alunos conhecem. E artistas plásticos brasileiros que trabalham com a temática africana?


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Levarei os alunos para assistir a uma apresentação, elaborado por mim, sobre o artista plástico Ruben Valentin. Durante a projeção farei intervenções diante de alguns trabalhos do artista, como: O que as obras despertam em você? Como são as obras? O que lhe chamou atenção?

Valentim,1974. (Fonte: www.itaucultural.org.br)

Valentim, 1975. (Fonte:www.artenaescola.com.br)


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Irei propor atividade em trio usando formas geométricas desenhadas em papel cartaz, vazando as figuras com estilete e, no verso, colando papel celofane. Pedirei que os grupos se formem por afinidades (musical, religiosa, esportista...) e a partir disto elaborem um símbolo que represente o assunto escolhido. Primeiramente farão um rascunho e, depois passarão para a conclusão do trabalho. Após a atividade prática irão explicar o símbolo criado através de um texto.

REALIZADO Conforme encaminhei na aula anterior, iniciei a aula de hoje combinando que terminariam as máscaras e o tempo para isto seria de, aproximadamente, 20 minutos. Porém foi necessário um período (40 min) para concluir a atividade. Todos ficaram envolvidos com o trabalho. Enquanto concluíam eu organizava um varal para secar as máscaras. A medida que terminavam as penduravam.

Aluno Sonino pintando sua máscara. (Fonte: MARQUES, 2011)


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Algumas máscaras da turma no varal. (Fonte: MARQUES, 2011)

Perguntei à turma quais artistas plásticos brasileiros conheciam. Não souberam nomear. Alguns falaram de Van Gogh e Leonardo Da Vinci, porém nenhum brasileiro nem que trabalhe com a temática africana. Falei que a partir de hoje conheceriam alguns artistas plásticos brasileiros que têm como características em suas obras o trabalho com a temática africana. Nos dirigimos para a sala de vídeo, previamente organizada por mim antes de iniciar o período. Apresentei o artista Rubem Valentim e algumas de suas obras. Durante a apresentação, fiz as seguintes perguntas: O que as obras despertam em você? Como são as obras? O que lhe chamou atenção? Nas respostas, os alunos caracterizaram os trabalhos como: geométrico, simétrico e colorido (uso de cores fortes). Retornamos para a sala, escrevi as características dadas, no quadro. Solicitei que trabalhassem, no máximo, em trio. Escolhessem uma afinidade (musical, religiosa, esportista...) a partir disso criassem um símbolo, recortassem com estilete e, por último, colassem com fita adesiva o celofane. Após, escrevessem o significado do símbolo criado em uma folha de caderno para me entregar.


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Trabalho realizado pelo aluno Moacir. (Fonte: MARQUES, 2011)

Alunas Morgana e Camila (Fonte: MARQUES, 2011)


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ANÁLISE Os períodos da aula de Artes passam muito rápido. Os alunos aproveitam ao máximo o tempo, mas não estão conseguindo concluir as atividades propostas. Penso que, para dar conta do projeto de estágio vou precisar de mais encontros do que eu imaginava. Em relação as máscaras, alguns alunos não realizaram a atividade como foi proposta, pois as características observadas nelas não eram as que vimos nos materiais que levei (apresentação) para análise. Foi necessário retomar as imagens da apresentação para que os alunos criassem a estética de seus trabalhos. Ao iniciarem o esboço dos símbolos precisei chamar a atenção dos alunos para que conversassem e trocassem ideias de como seria a imagem do grupo. Sobre a questão das referências de imagens relata Martins (1998, p.136),

O olhar já vem carregado de referências pessoais e culturais; contudo, é preciso instigar o aprendiz também para um olhar cada vez mais curioso e mais sensível às sutilezas.[...] Nutrir esteticamente o olhar é alimentá-lo com muitas e diferentes imagens, provocando uma percepção mais ampla da linguagem visual; olar diferentes modos de resolver as questões estéticas, entrando em contato com os conceitos e a história da produção nessa linguagem.

ENCAMINHAMENTOS As atividades não foram concluídas neste encontro. Combinei com a turma que ficaria com os trabalhos para que na próxima aula eles fossem concluídas.


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3.3.4. Quarto Encontro Aulas 7 e 8 Data: 13/10/2011 TEMA: Mestre Didi CONTEÚDO: Vida e obra de Mestre Didi ATIVIDADES: Conclusão da atividade plástica a partir das obras de Rubem Valentim Apreciação de DVD sobre o artista plástico Mestre Didi Análise de algumas obras Criação de escultura com materiais naturais OBJETIVOS: Conhecer a vida e algumas obras do artista plástico Mestre Didi; Debater questões presentes no trabalho do artista; Fazer uma escultura com materiais naturais. METODOLOGIA: Aula expositiva, apreciação de DVD (Mestre Didi: arte ritual) e atividade em grupos. MATERIAIS E RECURSOS Televisão, DVD, papel celofane, papel cartaz, tesoura, estilete, fita adesiva, cola quente, flores secas, contas, arames, palha e cipó. AVALIAÇÃO: A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos objetivos propostos. PLANEJADO Entregarei os esboços recolhidos no encontro anterior, pedindo que se reúnam em grupos e deem continuidade no trabalho. Pedirei que concluam a atividade no primeiro período. Assistiremos, na sala de vídeo, ao documentário Mestre Didi: Arte ritual. Após, retomarei algumas obras mostradas no DVD para analisarmos. Farei os seguintes questionamentos: Estas imagens lhe causam que tipo de sensação?


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Como você vê a conexão entre estética e religião? Qual a importância dos materiais usados pelo artista em suas obras?

Mestre Didi, 2001. (Fonte: www.museuafrobrasil.org.br)


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Mestre Didi, 2001 (Fonte: www.museuafrobrasil.org.br)

Após conversa sobre as obras do artista pedirei aos alunos que se reúnam em grupos de, no máximo três pessoas. Representem, através de uma escultura, sua religiosidade utilizando materiais naturais. Os trabalhos serão recolhidos para exposição.

REALIZADO Iniciei a aula pedindo aos alunos que retomassem os símbolos criados na aula anterior e concluíssem a atividade. Dois alunos vieram conversar comigo sobre o trabalho, pois não estavam presentes na última aula, expliquei como deveriam proceder. Apenas uma dupla conseguiu concluir a atividade no primeiro período, os demais necessitaram dos dois períodos. Notei que alguns poucos apresentaram dificuldade na utilização dos materiais, principalmente o estilete. Também observei que houve frustação ao passar o símbolo criado para o papel cartaz, uma vez que criaram símbolos que na hora de vazar a figura não ficou como no rascunho.


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Aluna fazendo o trabalho. (Fonte: MARQUES,2011)

Aluno concluindo a atividade. (Fonte: MARQUES,2011)


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Alunos realizando o trabalho (Fonte: MARQUES,2011)

Atividade realizada pelos alunos Bárbara, Jerri e Luiz. (Fonte: MARQUES, 2011)

Solicitei aos alunos que terminavam a atividade escrevessem o significado do símbolo criado. Os textos criados explicavam de modos mais diversos, alguns tinham cunho religioso “Nosso símbolo representa o cálice da igreja católica, onde o padre coloca em um cálice o vinho que representa o corpo e o sangue de Jesus.”; musical “A ideia foi criar cifras estilizadas, opostas umas as outras, criando uma forma


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diferenciada...” e também existencial “Este símbolo foi criado com a intenção de representar a vida em seis etapas: gestação, nascimento, crescimento, aprendizado, amadurecimento e envelhecimento.” Uma dupla usou o Salmo 128, porém não o explicou. Também em um caso não houve fundamentação no texto, pois apenas escreveram que em seu trabalho havia figuras geométricas inspirados nas obras de Rubem Valentim. Recolhi as atividades para avaliar e expô-las nos corredores da escola. Ao sinal do recreio alguns alunos saíram da sala e o professor de Português pediu licença para deixar seus materiais na mesa. Concordei e, ao ver alguns alunos concluindo o trabalho, comentou “Que bonitinhos, fazendo trabalhinhos!” Ninguém comentou nada e ele se retirou para o intervalo. ANÁLISE Durante a atividade observei que grande parte da turma estava empenhada em realizá-la da melhor maneira possível. Fui solicitada em vários momentos, algumas vezes para opinar, outras para analisar os símbolos. Notei que houve dificuldade no recorte com o estilete, uma vez que nesta atividade o uso da motricidade fina é grande e exige dos alunos algo que deveria ter sido desenvolvido na infância. Ao pedir que explicassem, através de texto, seus símbolos imaginei que reclamariam, porém, para minha surpresa, isto não aconteceu. Em vários momentos espero uma reação da turma que não acontece devido a maturidade da mesma, isto é bastante positivo. No geral esta atividade escrita serviu como reflexão para a prática. Foi positivo realizá-la uma vez que os alunos não fizeram um trabalho apenas por fazer, mas o fundamentaram, trocando ideias entre si. Apesar de ter chamado atenção para que tivessem alguns cuidados como centralização da imagem e estética, alguns trabalhos foram entregues sem o devido cuidado. Notei imagens onde se nota o traçado do lápis a falta de cuidado em relação a ocupação do espaço na folha e a falta de harmonia no uso das cores. Sobre a fala do professor de Português, penso que foi totalmente inadequada, tanto no tom irônico, quanto ao fato de infantilizar os alunos. Hoffmann (2003, p.7) questiona o papel da escola, Seria o papel da escola preparar indivíduos para a nova organização do mundo do trabalho, formando sujeitos competentes, competitivos e consumidores? Ou possibilitar o acesso e o desenvolvimento de saberes e de competências necessárias para inserção dos aprendentes como cidadãos críticos, participativos, propositivos numa sociedade


79 em transformação? A escola deve treinar os alunos para a seleção do vestibular ou prepara-los para a vida, para além do mercado?

Trabalho realizado pelos alunos Elisângela e Ismael. (Fonte: MARQUES, 2011)

ENCAMINHAMENTOS Solicitei aos alunos, que ainda não o fizeram, devido as faltas, que entreguem os trabalhos (máscara e símbolo) na próxima aula. Combinei que na próxima aula assistiremos ao DVD sobre o artista plástico Mestre Didi.


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3.3.5. Quinto Encontro Aulas 9 e 10 Data: 20/10/2011 TEMA: Mestre Didi CONTEÚDO: Vida e obra de Mestre Didi ATIVIDADES: Conclusão da atividade plástica a partir das obras de Rubem Valentim Apreciação de DVD sobre o artista plástico Mestre Didi Análise de algumas obras Criação de escultura com materiais naturais OBJETIVOS: Conhecer a vida e algumas obras do artista plástico Mestre Didi; Debater questões presentes no trabalho do artista; Fazer uma escultura com materiais naturais. METODOLOGIA: Aula expositiva, apreciação de DVD e atividade em grupos. MATERIAIS E RECURSOS Televisão, DVD, papel celofane, papel cartaz, tesoura, estilete e fita adesiva, cipó, palha, flores secas e búzios. AVALIAÇÃO: A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos objetivos propostos.

PLANEJADO Entregarei os esboços recolhidos no encontro anterior, pedindo que se reúnam em grupos e deem continuidade no trabalho. Pedirei que concluam a atividade no primeiro período. Assistiremos, na sala de vídeo, ao documentário Mestre Didi: Arte ritual. Após, retomarei algumas obras mostradas no DVD para analisarmos. Farei os seguintes questionamentos:


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Estas imagens lhe causam que tipo de sensação? Como você vê a conexão entre estética e religião? Qual a importância dos materiais usados pelo artista em suas obras?

Mestre Didi, 2001. (Fonte: www.museuafrobrasil.org.br)

Mestre Didi, 2001 (Fonte: www.museuafrobrasil.org.br)


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Após conversa sobre as obras do artista pedirei aos alunos que se reúnam em grupos de, no máximo três pessoas. Representem, através de uma escultura, sua religiosidade utilizando materiais naturais. Os trabalhos serão recolhidos para exposição.

REALIZADO Ao me dirigir para a sala encontrei, no corredor, a professora titular de Arte. Ela me perguntou se eu estava fazendo a chamada. Respondi que havia pedido algumas vezes a lista tanto para ela quanto para a supervisora e, como não recebi, em todos os encontros passava uma lista para os alunos assinarem. Ela pediu que eu entregasse as listas para passar para a chamada. Hoje não foi possível usar a sala de vídeo e, fiquei sabendo pela supervisora que em cada andar há uma televisão e um aparelho de DVD itinerante, sendo que a sala onde o armário com estes equipamentos fica guardado fica ao lado da minha turma. Pedi a um aluno que buscasse o armário e, assistimos ao DVD “Mestre Didi: arte ritual” na sala de aula. O DVD faz parte de uma coleção “O mundo da arte” do Instituto Arte na escola.

Alunos assistindo DVD. (Fonte: MARQUES, 2011)


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Durante a exibição os alunos ficaram atentos, porém não fizeram perguntas. Ao final do documentário perguntei o que haviam achado e como caracterizariam as obras do artista. Os alunos responderam que nunca ouviram falar do Mestre Didi e, quando eu falei, na aula anterior sobre ele, alguns imaginaram se tratar de um capoeirista. Gostaram das esculturas apresentadas, caracterizando o trabalho: colorido, utiliza materiais orgânicos, cultura afro-brasileira está presente no seu trabalho assim como a religiosidade. Solicitei que se organizassem em grupos e elaborassem uma escultura que representasse sua religiosidade, utilizando os seguintes materiais: cipó, palha, búzios, contas e flores secas.

Alunas realizando o trabalho. (Fonte: MARQUES, 2011)

Durante a atividade os alunos envolveram-se com os materiais disponibilizados, principalmente a palha.


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ANÁLISE Durante a exibição do DVD, notei que uma aluna sentiu-se incomodada por ter imagens de orixás e ela ser de uma religião que não admite cultos de matriz africana. Ao propor a atividade ela não entendeu a proposta e disse: “Se tiver que fazer estes santos eu não vou fazer”. Expliquei que cada grupo irá elaborar uma escultura que represente sua religiosidade. Penso ser importante que no espaço escolar possa ser um espaço para dialogar com as diferentes religiões. Sobre isso, Pereira (2007, p.51) diz, A inserção de elementos referentes às culturas indígenas e afrodescendentes, por exemplo, nos currículos escolares brasileiros tem um sentido político relevante, já que oferece aos docentes e discentes a oportunidade, por um lado, de pensar a realidade social brasileira a partir de sua diversidade cultural e, por outro, de realizar uma revisão crítica dos conteúdos até então considerados oficiais.

O trabalho apresentado por este grupo, além de usar os materiais disponibilizados, também elaborou um origami. Fizeram uma ave e acrescentaram na escultura. Os demais trabalhos representavam algumas cruzes e dois grupos representaram orixás.

Trabalho dos alunos (Fonte: MARQUES, 2011)


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3.3.6. Sexto Encontro Aulas 11 e 12 Data: 27/10/2011 TEMA: 8ª Bienal do Mercosul CONTEÚDO: Visita a Bienal ATIVIDADE: Ida ao roteiro “Geopoéticas” nos Armazéns do Cais do Porto. OBJETIVOS: Visitar uma exposição de Arte; Refletir sobre fronteiras, migração e subversão de símbolos nacionais; METODOLOGIA: Visitação mediada a uma exposição de Arte. MATERIAIS E RECURSOS Ônibus AVALIAÇÃO: A avaliação será feita de acordo com a participação e envolvimento dos alunos e conforme o alcance dos objetivos propostos.

PLANEJADO A aula se dará em um espaço diferente, pois os alunos visitarão a uma exposição de Arte. O roteiro de visitação será Geopoéticas, no Armazém 5 do Cais do Porto. Pedirei aos alunos que prestem atenção às explicações dos mediadores e, questionem, sem receio. Combinamos que a saída será 18h e 30 min.

REALIZADO Ao chegar à escola, por volta das 18h e 15 min, os ônibus já estavam nos esperando, assim como alguns alunos. Devido ao horário, não foi possível esperar a chegada de mais alunos, pois iríamos pela BR 118 em um horário de muito movimento. Deveríamos estar no Cais às19h e 30 min. Dos três ônibus, inicialmente agendados, um


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foi dispensado pois a Supervisora fez um levantamento, durante a semana, de quem iria a exposição. Da turma que faço estagio, foram 5 alunos. No total foram 67 alunos. Na exposição, durante as explicações da mediadora os alunos interagiam perguntando e respondendo aos questionamentos.

Ida à Bienal (Fonte MARQUES, 2011)


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Orientações da mediadora (Fonte MARQUES, 2011)

Apreciação da obra do artista Duke Riley (Fonte MARQUES, 2011)


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Apreciação do trabalho da artista Manuela Ribadeneira. (Fonte:MARQUES, 2011)

ANÁLISE A ida à 8ª Bienal do Mercosul estava agendada desde o início do estágio. Inicialmente iríamos no dia 05/10 apenas um ônibus, porém a Supervisora da escola conseguiu agendar três ônibus para todo o turno da noite em outra data. Após conversar com os alunos e professores ficou decidido que todos iriam no agendamento feito pela Supervisora, 27/10. Durante as explicações da mediadora os alunos interagiam perguntando e respondendo aos questionamentos. Algumas vezes olhavam com estranheza as obras, mas a medida que era explicado mudavam suas expressões. Arslan (2006,p. 41) comenta a respeito disso, A dificuldade de interagir com produções artísticas visuais pode ter origem, entre outros fatores, na ausência de museus, galerias, oficinas e casas de cultura em algumas regiões. O interesse em estudar ou apreciar arte surge também pelo relacionamento com a linguagem artística. Sem acesso a equipamentos culturais a população pode não desenvolver hábitos, valores, atitudes na relação com a cultura, nem é capaz de construir o olhar crítico sobre as produções artísticas visuais[...]


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3.3.7. Sétimo Encontro Aulas 13 e 14 Data: 03/11/11 TEMA: Símbolos CONTEÚDO: Simbologia Adinkra ATIVIDADES: Apreciação de uma apresentação em Power Point sobre símbolo Adinkra; Pesquisa sobre provérbios brasileiros e africanos; Criação de símbolo a partir de um provérbio. OBJETIVOS: Conhecer a história dos símbolos adinkra e seus significados; Pesquisar provérbios brasileiros e africanos; Criar símbolos a partir de provérbios. METODOLOGIA: Aula expositiva, apreciação de Power Point e atividade em grupo. MATERIAIS E RECURSOS Computador, projetor multimídia, fotocópias, papel canson A4, lápis, caneta para retroprojetor, acetato e estilete AVALIAÇÃO: A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos objetivos propostos. PLANEJADO Iniciarei a aula na sala de vídeo, onde projetarei, no computador, uma apresentação em Power Point sobre Simbologia Adinkra. Após, entregarei fotocópias de símbolos adinkra, com seus significados. As folhas circularão entre todos os alunos para que conheçam alguns símbolos. SÍMBOLO ADINKRA BASEA DO NO CORPO HUMANO Um estilo particular de penteado do herói guerreiro. Símbolo da bravura.


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(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

SÍMBOLO ADINKRA BASEADO EM FORMA ABSTRATA O elo ou a corrente. Estamos ligados tanto na vida como na morte. Aqueles que partilham relações consangüíneas nunca se apartam. Símbolo das relações humanas, da unidade, interdependência, fraternidade e cooperação.

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

SÍMBOLO ADINKRA BASEADO EM OBJETO FEITO PELO HOMEM Espadas cerimoniais de Estado O grande general que se aposenta sempre tem uma espada real do descanso. Símbolo da autoridade, legitimidade, legalidade do Estado e das façanhas heróicas.


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(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

SÍMBOLO ADINKRA BASEADO NA VIDA VEGETAL Semente da árvore wawa. Ela é forte e resistente como a árvore wawa. Símbolo da força física, resistência e perseverança.

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

SÍMBOLO ADINKRA BASEADO EM CORPO CELESTIAL Filha do céu. Cria do ser supremo, dependo Dele e não de mim mesma. Minha luz é o reflexo da Dele.


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(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

SÍMBOLO ADINKRA BASEADO EM ANIMAL Compartilham um só estômago, porém brigam pela comida. Símbolo da unidade na diversidade e advertência contra as brigas internas quando existe um destino em comum.

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

Ao terminar a apreciação, pedirei que leiam e escolham um provérbio brasileiro ou africano que circulará em folhas fotocopiadas entre os alunos. A partir do provérbio escolhido os alunos irão criar um símbolo que represente seu provérbio. REALIZADO A partir da aula de hoje a turma ficou reduzida, pois o projeto EJA permite avanços trimestrais. Portanto, agora são 12 os alunos da turma. Destes, apenas dois


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foram à Bienal. Perguntei sobre suas impressões diante das obras. Um aluno disse ter achado legal, diferente. Enquanto outra aluna falou que nunca tinha ido a uma exposição e adorou. Pensou que iria ver quadros e o que viu a deixou surpresa. Quanto ao local, a beira do Guaíba, achou encantador, principalmente o por do sol. Os demais alunos não foram por diversos motivos.

Comentei com a turma que na aula de hoje conheceriam a simbologia adinkra. Nos dirigimos à sala de vídeo. Durante a projeção, alguns alunos comentavam sobre os símbolos, dizendo que o fato dos homens ganeses criarem estampas é interessante, pois, a princípio esta atividade parece ser feminina. Conversamos sobre alguns símbolos mostrados e retornamos para a sala. Sentaram-se em grupos e criaram seus símbolos, relacionando com os provérbios apresentados.

Símbolo criado por alunos. Provérbio africano: “Uma mentira estraga mil verdades.” (Fonte: MARQUES, 2011)


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Símbolo criado pelos alunos. Provérbio africano“É a água calma e silenciosa que afoga o homem.” (Fonte: MARQUES, 2011)

Ao terminar a criação dos símbolos, pedi que copiassem o desenho no acetato e, com estilete, recortassem o símbolo.

ANÁLISE A conversa inicial, sobre a visita à Bienal foi importante, principalmente para os alunos que não foram porque não tiveram interesse. As impressões da aluna que participou da atividade deixou curiosos alguns colegas. É importante contato com arte, pois “o objetivo maior de uma nutrição estética é provocar leituras que possam desencadear um aprendizado de arte ampliando as redes de significação do fruidor” (MARTINS, 1998, p. 140). A princípio havia pensado no roteiro do Santander Cultural onde há obras do artista chileno Eugênio Dittborn, houve possibilidade de irmos, inclusive com agendamento. Porém a Supervisora da escola agendou para todo turno da noite em outra data e em outro roteiro, e esta nova data foi melhor acolhida por professores e alunos do turno. Havia pensado em uma atividade onde os alunos trocariam entre si seus trabalhos, lembrando a arte postal de Dittborn.


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Os

símbolos

criados

ficaram

interessantes,

não

houve

desenho

estereotipado, a atividade foi pensada e conversada em conjunto. Dos três grupos que se formaram, apenas um conseguiu recortar o acetato. Para escolher o provérbio, houve leitura dos mesmos após mostrar os símbolos adinkras. Após a leitura, os grupos escolheram um provérbio e criaram o desenho que melhor o representasse.

ENCAMINHAMENTOS

Para a próxima aula, os dois grupos que não recortaram o acetato o farão para concluir esta etapa do trabalho. Pedi aos alunos que tragam os quadros de MDF que solicitei na primeira aula. Sugeri que tragam um quadro grande por grupo, para a atividade.


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3.3.8. Oitavo Encontro Aulas 15 e 16 Data: 10/11/11 TEMA: Mônica Nador CONTEÚDO: Vida e obra da artista plástica Mônica Nador ATIVIDADES: Conclusão da atividade da aula anterior. Apreciação de uma apresentação em Power Point da vida e obra da artista plástica Mônica Nador. Elaboração de um esboço para aplicação de símbolos, criados pelos alunos, em um quadro de MDF. Responder a uma avaliação das aulas de Artes e auto-avaliação OBJETIVOS: Conhecer a vida, a obra e o trabalho desenvolvido nas periferias do mundo pela artista Mônica Nador; Elaborar um quadro com símbolos; Realizar avaliação escrita das aulas de Artes; Fazer auto-avaliação por escrito. METODOLOGIA: Aula expositiva, apreciação de Power Point sobre a artista plástica, atividade em grupo e registro escrito. MATERIAIS E RECURSOS Computador, projetor multimídia, quadros de MDF, areia colorida, cola, pincel, acetato, jornais e estilete. AVALIAÇÃO: A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos objetivos propostos.

PLANEJADO Iniciarei, entregando os símbolos criados na aula anterior, os acetatos e os estiletes. Ao terminarem a atividade, iremos à sala de vídeo para que conheçam a artista Mônica Nador e o trabalho desenvolvido no JAMAC (Jardim Miriam Arte Clube).


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M么nica Nador (Fonte: www.estadao.com.br)

Sem t铆tul,1996M么nica Nador (Fonte: http://www.paraduncan.blogspot.com)


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Projeto Paredes Pinturas – JAMAC (Fonte: http://afonsopost.blogspot.com)

Retornando à sala de aula, os alunos irão se reunir em grupo. Farão um rascunho pensando em como organizar o símbolo no quadro, tendo como referência o trabalho desenvolvido no JAMAC, no projeto Paredes Pinturas. A partir disso, colocarão o acetato no MDF, passarão cola e, em seguida, a areia colorida. Após concluírem a atividade, entregarei um questionário de avaliação das aulas de Artes e, depois uma auto-avaliação.

Avaliação de Artes A partir dos conteúdos desenvolvidos nas aulas de Arte, responda: 1- O que acrescentou no teu conhecimento sobre a arte e a cultura africana e afrobrasileira? 2- O que destacarias das aulas? 3- O que poderia ter sido melhor? Em relação aos materiais e as técnicas desenvolvidas nas aulas, o que tens a considerar? Auto-avaliação 1) De que forma eu participei das aulas de Arte? 2) O que eu aprendi? 3) Em relação aos trabalhos em grupo eu ...


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REALIZADO Ao início do período entreguei as imagens da aula anterior para que os grupos concluíssem a atividade. Os dois grupos que precisavam terminar suas atividades foram rápidos nos trabalhos, cerca de 15 minutos. Nos dirigimos à sala de vídeo, onde projetei a apresentação da biografia da artista e o trabalho desenvolvido no JAMAC. Os alunos falaram da importância para a auto-estima dos moradores das periferias, pois suas casas ficaram mais bonitas com as pinturas. Voltamos à sala de aula e os grupos se reuniram para elaborar um esboço do trabalho a ser aplicado nos quadros de MDF. Assim que terminaram o projeto, passaram a executar a atividade com o acetato, a cola e a areia colorida

Alunos realizando o trabalho. (Fonte: MARQUES, 2011)


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Enquanto realizavam a atividade eu fui até o corredor para expor trabalhos de alunos que entregaram após os prazos. Ao retornar, observei que um grupo fez o trabalho diferente do que haviam planejado. À medida que concluíam a atividade entregava a avaliação e a autoavaliação, para que respondessem. Quanto aos critérios para avaliar Arslan(2006, p. 84) diz, Os resultados das avaliações devem expressar suas conquistas e esforços, a persistência, a dedicação à aprendizagem e a postura criadora. A avaliação não pode ser sanção de caráter expiatório, mas uma maneira de informar estudantes e professores sobre o desenvolvimento da aprendizagem, para que possam ajustar seus processos, Nesse sentido, avaliar tem caráter formativo e informativo.

ANÁLISE Na atividade proposta para hoje os alunos a realizaram com empenho e dedicação, comentaram o desapontamento de ser a última aula. A um grupo utilizou a areia de maneira diferente da que haviam programado. Inicialmente haviam pensado em usar duas cores, porém ao colocar a areia houve divergência entre alguns integrantes do grupo que queriam usar todas as cores, o que acabou acontecendo. O resultado não ficou bom, devido ao uso excessivo da cor. O grupo não pensou na harmonia.

Trabalho dos alunos. (Fonte: MARQUES, 2011)


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Trabalho dos alunos. (Fonte: MARQUES,2011)

Um grupo quis usar a cor azul, embora eu tenha comentado que o fundo escuro impediria a visualização da imagem. Sugeri que preenchessem a figura com areia. Porém, o grupo preferiu deixar apenas o contorno. O resultado não ficou bom.

Trabalho dos alunos (Fonte: MARQUES, 2011)


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O terceiro grupo seguiu o planejado e teve como resultado do trabalho uso de cor e espaço adequados a proposta. Em relação a avaliação de Artes os alunos escreveram, na pergunta 1, que as atividades acrescentaram, principalmente por muitos não terem tido em anos anteriores aula de arte, o conhecimento obtido sobre o continente africano também foi marcante. Um aluno escreveu que “não imaginava a riqueza deste continente”. A variedade dos trabalhos e dos materiais foi o que destacaram na pergunta 2. O trabalho dos artistas apresentados durante o estágio também foi lembrado nesta questão. Em minhas análises destaquei, várias vezes, o fato do tempo ser pouco para concluir as atividades. O mesmo aconteceu nas respostas da questão 3, sobre o que poderia ter sido melhor, ressaltaram que “quando a atividade estava boa, ela terminava” . Gostaram muito dos materiais utilizados nas aulas, destacando a variedade de técnicas. Quanto a auto-avaliação os alunos colocaram-se participativos, grande parte disse ter aprendido mais nas semanas em que eu dei aula que nos últimos anos nas aulas de Artes. Sobre os trabalhos em grupo alguns alunos disseram sentir dificuldade em aceitar a opinião dos colegas diante dos trabalhos propostos.

ENCAMINHAMENTOS A cola, utilizada no trabalho, não secou. Combinei com a turma que, na próxima semana, retornaria à escola para expor os quadros e, após algumas semanas eles poderiam retirar os quadros.


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CONCLUSÃO

Apesar de ser professora há alguns anos, foi importante e significativo este momento de prática, pois em todos os encontros, após elaborar a aula, havia o momento de reflexão do que foi desenvolvido. Neste momento, eu analisava a teoria e como ela foi aplicada, podendo rever minha prática. Agora, refletindo sobre todos os encontros do estágio, observei que outras propostas deveriam ter sido seguidas diante de alguns resultados obtidos. Esse processo de ação/ reflexão contribui para desenvolver melhor minhas aulas. Hoje vejo que minha metodologia está melhorando a partir deste processo. Consigo elaborar uma aula, aplica-la e refletir sobre o que foi trabalhado e tentar melhorar na aula seguinte. Claro que nem sempre os resultados são o esperado, mas diante de adversidades consigo me sair melhor devido aos momentos de reflexão. É necessário que o professor saia da pretensa detenção do saber e repense sua prática, revendo a metodologia que aplica nas aulas. Quando o aluno não alcança o objetivo proposto, nem sempre a dificuldade é de aprendizagem. Pode haver dificuldade de ensinar, daí ser importante a análise da aula para refletir a partir do que foi alcançado dentro do que foi programado. Durante minha prática de estágio, pude observar outras questões que nortearam o trabalho que desenvolvi. A organização escolar, quando presenciei alguns fatos na escola que penso acabaram interferindo na minha prática. A metodologia, que é a maneira como o professor organiza, orienta e desenvolve as atividades, visando a compreensão de determinados conteúdos o desenvolvimento de certas competências. A importância da disciplina tanto em relação à maneira como os alunos veem a Arte, como os professores se relacionam com a mesma. E a interdisciplinaridade entre a arte e as diversas possibilidades de trabalho com as demais disciplinas trabalhadas na escola. Em relação à organização escolar, observei em vários momentos, que a equipe diretiva da escola em que realizei o estágio tinha dificuldade em dialogar. Foram várias as situações em que eu precisava saber onde poderia expor os trabalhos dos alunos e precisava perguntar para várias pessoas da equipe até obter uma resposta. Também em relação aos materiais, como TV e DVD, por exemplo, até que alguém


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respondesse, falava com algumas pessoas. Senti, na escola, vários fatos que pareciam não estar bem esquematizados, quando o assunto se referia ao humano, havia uma certa desordem. Em vários encontros, constatei que colocava na organização escolar a dificuldade de desenvolver o que havia programado, porém me dei conta de que possuo um certo preconceito em relação às escolas estaduais e o trabalho desenvolvido por elas. A minha vida profissional sempre se deu em municípios e penso que há melhor administração visto a proporção dos mesmos em relação ao alcance da Secretaria Estadual de Educação e as escolas que administra. Por outro lado, existe minha vivência como estudante que se deu em escola cuja mantenedora era a SEC e tive várias passagens marcadas negativamente. Portanto, carrego o olhar de aluna frustrada em alguns períodos da vida escolar. No meu primeiro contato com a turma de estágio, Educação de Jovens e Adultos, os alunos receberam uma folha com desenhos para pintar, pois não havia professora titular e a pessoa que estava com eles não sabia que eu iniciaria meu estágio naquele dia. Percebi que a atividade proposta era inadequada para alunos do último ano do ensino médio. Assim que me apresentei e falei sobre a proposta de estágio, esta foi bem acolhida e alguns deles falaram do desejo em relação às aulas de Arte. Ao mesmo tempo que fiquei satisfeita com a receptividade, também fique preocupada em corresponder à expectativa deles. Isso fez com que eu me cobrasse mais ao programar as aulas e, nos encontros que seguiram, percebi o prazer na realização dos trabalhos. Porém agora, refletindo sobre o que programei, penso que algumas atividades poderiam ter sido desenvolvidas ou propostas de outra forma. O assunto que desenvolvi na prática partiu de uma lei e da necessidade, que eu observei, de se trabalhar a cultura brasileira. Dois artistas escolhidos, Ruben Valentim e Mestre Didi, têm em sua temática de trabalho a religiosidade de matriz africana. Eu percebi o incômodo deste assunto, principalmente com alunos que são de religião que tem uma visão fechada de outras religiões que supõem serem “do mal”. Isso ficou evidente na aula 4, quando propus a criação de uma escultura que abordasse a religiosidade. Este fato me alertou para o papel do professor de intermediar relações em sala. O quanto devemos ser profissionais, levando os alunos a refletirem sobre os assuntos sem tomarmos partido ou posição diante deste tipo de questão.


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Antes de desenvolver meu projeto de pesquisa, precisava saber o que os alunos sabiam sobre algumas questões que norteiam o assunto que desenvolveriam: a arte africana e afro-brasileira. Inicialmente, pedi que escrevessem e posteriormente conversassem, sobre o que eles sabiam a respeito da África, ver e olhar. Os alunos relataram diversas vezes a importância de fazer uma atividade em que pudessem refletir sobre alguns assuntos do dia-a-dia. A partir deste exercício, quando eu apresentava os artistas plásticos e seus trabalhos, senti a turma mais participativa e crítica nas questões que propunham análise. Faltou, da minha parte, fundamentar teoricamente os alunos, explicando objetivamente como teria que ser o resultado final da atividade. Explicar a importância da estética, do uso das cores e, até mesmo como usar os materiais que estavam disponíveis. Utilizei várias técnicas de trabalho porém, senti falta, no encontro 3 de um trabalho melhor estruturado na pintura. Neste dia as máscaras confeccionadas foram pintadas e deixaram a desejar no que se refere à aplicação das tintas. Alguns alunos demonstraram dificuldade em recortar. Trabalhar a motricidade fina em adultos é mais complicado do que em criança ou adolescente. Sobre minha prática, penso que uma das funções do professor é oportunizar acesso a ambientes como museus e exposições de vários tipos, e mostrar que o aluno pode transitar nestes meios. Assim como é importante o uso de tecnologias sejam utilizadas nas aulas para que se tornem mais atraentes. Porém, durante o estágio, levei a turma a uma das mostras da 8ª Bienal do Mercosul e poucos alunos foram à exposição, por diversos motivos. Ainda não faz parte do hábito de nossos alunos este tipo de saída. Devo ressaltar que é oportunizado e comentado com os alunos o quanto este tipo de atividade cultural nos enriquece, mas é triste ver que colegas professores, que fazem parte de uma elite cultural, não possuem este hábito e, muitos veem nesta saída escolar um passeio apenas para contar como dia letivo. Ao utilizar as diversas tecnologias disponíveis na escola, como projetor multimídia, DVD e notebook senti uma certa dificuldade em organizá-las, não por não saber do funcionamento, mas por problemas técnicos que são imprevisíveis e acabam atrapalhando o planejamento da aula. Constatei isto em alguns encontros, quando precisava de auxílio, ora para instalar os equipamentos, ora para pegar a chave das salas onde os mesmos estavam guardados. Os alunos gostavam do uso destas tecnologias, diziam que as aulas estavam dinâmicas. Por outro lado, penso nos professores que


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gostariam de utilizar estes materiais, mas as dificuldades que encontram para ter acesso aos mesmos devem ser desestimulantes. Talvez alguns não os utilizem por este fato. No 5º encontro fiquei sabendo da existência de uma televisão e de um DVD, que ficavam guardados em uma sala ao lado da minha. Estes materiais poderiam ser levados para a sala de aula, o que tornaria o tempo de deslocamento bem menor, uma vez que eu usava estes materiais em praticamente todos os encontros e, apenas no final do estágio, eu tomei conhecimento disto. Penso que os encontros anteriores teriam sido mais ágeis se eu soubesse disto anteriormente. No decorrer das aulas, percebi o crescimento dos alunos em relação ao uso dos materiais. Não tinham o hábito de usar tinta, estilete e régua, por exemplo. As técnicas de trabalho como recorte e colagem também não faziam parte do cotidiano escolar da turma. Foi necessário retomar a forma de utilizar os materiais e explicar exemplificando a atividade para que os trabalhos ficassem esteticamente bem elaborados. Os próprios alunos se deram conta das dificuldades que tinham em trabalhar com os materiais e como foram melhorando suas produções a partir da manipulação sistemática dos mesmos. Em vários momentos os alunos me surpreenderam em suas atitudes. Como por exemplo o episódio ocorrido no segundo encontro, quando entreguei crachás com os nomes, pois tenho dificuldade em gravá-los e, por não ter a lista dos matriculados, possuía o nome de quem estava presente na aula anterior. Houve cobrança sobre o não recebimento do nome e pedido para que eu o trouxesse na semana seguinte. Apesar da idade mais avançada, alguns alunos têm comportamento parecido com quem está no ensino fundamental. Quando não era possível concluir uma atividade em aula, perguntava se podiam levá-la para casa para que a terminasse. Imaginei que aqueles que levassem o material, trariam a atividade pronta. Porém isso nem sempre acontecia, várias atividades voltavam da mesma forma que foram. Devido à faixa etária dos alunos, me pareceu que o comprometimento seria maior. Também é importante ver que o aluno tem outras atribuições além de serem estudantes. Há na turma mães, pais, donas de casa, profissionais que trabalham o dia inteiro. Porém o professor não se deve ter uma visão assistencialista, e ficar penalizado pelas condições de vida do aluno, supondo que ele é incapaz de ter um tempo para o estudo além do espaço escolar. É preciso que o estudante, independente da idade e do nível escolar, se envolva com os estudos, aprimorando seus conhecimentos.


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Senti dificuldade no entendimento da continuidade de alguns trabalhos, como aconteceu nos encontros 3 e 4 quando deveriam recortar com estilete um acetato com o símbolo criado por eles. Eu deveria ter alertado quanto ao trabalho com este tipo de material. Não é uma atividade que estejam acostumados a fazer e eles não projetaram como seria o resultado neste tipo de material. Se eu tivesse levado um modelo, mostrando a atividade ao colocar o papel celofane, talvez tivessem visualizado seus trabalhos. Em alguns casos não houve uma projeção de como seria a atividade após a criação do símbolo. Algumas vezes o óbvio precisa ser dito, pois ele pode não o ser para todos. A avaliação é o resultado de um processo de trabalho que envolve a compreensão, produção, participação e envolvimento nas atividades, alcançando os objetivos propostos. Em minha prática, precisei lidar com duas turmas devido a organização das turmas da EJA. Há avanços nas turmas a cada trimestre e o período da minha prática se deu exatamente neste processo, portanto, faltando dois encontros para encerrar meu estágio a maior parte da turma avançou e outros alunos entraram para a turma. Penso que se a avaliação final com a turma de estágio tivesse sido feita pelo grupo que iniciou o processo e passou por todos os exercícios de reflexão, o resultado teria sido melhor pois teriam agregado todo o conhecimento adquirido no decorrer das aulas e aplicado no trabalho. Havia, de um lado, a avaliação que eu precisava entregar para a professora titular da turma, que era expressa através de notas. E também era necessário que eu avaliasse o trabalho que desenvolvi como resultado do meu estágio. Os momentos avaliativos eram angustiantes. Porém, pude perceber o crescimento dos alunos em relação ao que propunha e na utilização dos materiais e, consequentemente no resultado do trabalho. Em relação a minha prática que também deveria ser avaliada, penso que eram importantes, uma vez que em meio a tudo que precisava dar conta, também era a parada necessária para ver o que havia conseguido alcançar ou não. Atualmente, em alguns momentos da minha prática como professora, faço esta reflexão para conseguir alcançar meus objetivos. Noto em minha prática um crescimento profissional. Hoje, posso dizer que sou uma professora mais preocupada em avaliar, não somente os alunos, mas também a as aulas que planejo.


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A avaliação da turma, ao final do estágio, foi feita com base nas três últimas aulas. Devido aos avanços e, por ter tido praticamente duas turmas, creio que deveria ter solicitado a auto avaliação de ambas, para que pudesse ter a dimensão da aprendizagem nas aulas de Artes durante minha prática. Como resultado de todo o processo que desenvolvi, fiquei apenas com o da turma que menos tempo trabalhei. Desde as aplicações dos questionários com a professora e com os alunos, observei que as aulas de Artes, por parte da escola e da professora, eram ministradas por profissionais não habilitados que estavam a serviço de outra disciplina. Isso foi uma constatação. Em muitos momentos, os alunos demonstraram o desejo de ter aula de Artes com uma pessoa que realmente ministrasse uma aula bem elaborada, com propostas fundamentadas. Não quero ter a pretensão de achar que as minhas aulas foram maravilhosas, mas por fazer parte de um processo de conclusão do Curso de Artes Visuais, procurei propiciar aulas atraentes que fossem ao encontro do assunto que desenvolvi no meu projeto de pesquisa. Penso que tive como resultado a possibilidade de repensar minha prática pedagógica refletindo sobre a maneira de abordar e lidar com situações cotidianas que acabam interferindo no que foi planejado. Normalmente, os Projetos Políticos Pedagógicos das escolas contemplam atividades interdisciplinares, porém, em um estágio é muito difícil que isso ocorra, visto que o estagiário é quem está desenvolvendo suas atividades para obtenção de uma prática que o leve a um resultado. Por outro lado, é possível que as demais disciplinas da escola estabeleçam parcerias para trabalhar a partir de assuntos desenvolvidos. Na primeira aula, quando assistimos ao documentário Janela da Alma, poderia ter realizado um trabalho de parceria com a disciplina de Filosofia. Claro que naquele momento sequer cogitei esta possibilidade. Refletindo sobre a prática é que vi o que poderia ser feito além do que propus. Ao desenvolver o estágio, me deparei agora no papel de professora, portanto não queria repetir o que havia passado como estudante, momentos frustrantes e opressores. Meu período escolar, no ensino fundamental, ocorreu durante a Ditadura Militar, penso que isso influenciou muito a metodologia aplicada nas aulas por meus professores e, consequentemente minha memória afetiva em relação a este espaço de ensino. Em algumas situações, principalmente quando queria expor os trabalhos dos alunos, me dirigia até a vice-diretora para saber o local que poderia usar e ela


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perguntava se o material que utilizaria para colar iria manchar a parede. Agora, revendo algumas situações vejo o quanto minha história de vida estudantil influenciou minha história de vida profissional pois este período também era de aprendizagem. Ao elaborar esta conclusão, refletindo minha prática, vejo o quanto cresci profissional e pessoalmente. As situações vivenciadas fizeram com que eu passasse pela experiência com um nível de ensino até então desconhecido como professora. Também foi importante passar por situações que talvez eu não venha experienciar trabalhando com o Ensino Fundamental, pois são próprios do universo adulto. Desde as propostas de atividades com uso de materiais impossíveis de usar com crianças, como estilete, até os debates maduros com as experiências de vida trazidas pelos alunos. Trabalhar com o Ensino Médio me fez conhecer um aluno adulto, com outra perspectiva de vida e educação. Realizar as atividades para este educando me fez conhecer uma realidade que ha algum tempo eu tinha interesse em conhecer. Hoje, tenho maior interesse em trabalhar com este tipo de aluno, pois percebi que há maior interesse dele na busca do conhecimento. A partir das experiências deste estágio, passei a ser uma profissional mais interessada em planejar uma boa aula e preocupada com a metodologia para aplica-la de uma forma mais atrativa. Posso dizer que de tudo que vivenciei o que mudou em mim foi o amadurecimento e a consciência profissional.


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REFERÊNCIAS

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Imagens e leituras:

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