Primeiros passos rumo à aprendizagem da arte abstrata

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

André Mendonça Pinto dos Santos

PRIMEIROS PASSOS RUMO À APRENDIZAGEM DA ARTE ABSTRATA

Canoas, 20 de Dezembro de 2010


André Mendonça Pinto dos Santos

PRIMEIROS PASSOS RUMO À APRENDIZAGEM DA ARTE ABSTRATA

Trabalho de Curso apresentado como prérequisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciado em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Dr. Celso Vitteli (Estagio I), Me. Jurema Trindade (Estágios II e III) e Me. Ana Lúcia Beck (Estágio IV).

Orientadora: Profª Me. Ana Lucia Beck

Canoas, 20 de Dezembro de 2010


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Aos colegas, pela compreensão; aos professores, pela doação e paciência; aos intérpretes, pela constante e imprescindível presença. Aos meus pais, WALDIR e SILVANA, e aos meus avós, PARIMÉ e ANGELA, cujo amor por mim se traduz nas inúmeras vezes, no decorrer desses cinco anos, em que vieram do Amazonas até aqui, apenas para mitigar a minha saudade. À minha irmã querida SÍLVIA, que muito orou e ora por mim. Se um artista precisa de inspiração, a minha vem de vocês. Ao meu companheiro nessa aventura, fiel escudeiro por quase quatro anos, meu irmão de sangue, coração e fé. Muito obrigado, RODRIGO, pelo desprendimento, tolerância e alegria que você se dispôs a compartilhar comigo, tão longe da nossa casa. A DEUS, artista supremo que tem pintado minha vida com as cores do amor e da fé, permitindo que eu contemple, diariamente, a obra de arte mais bela que existe: sua criação. A Tí, meu Deus, toda a honra e a glória!


Tudo posso naquele que me fortalece. Filipenses, 4.13


RESUMO

O presente trabalho se desenvolveu a partir do Estágio de Observação Silenciosa feito na Unidade de Ensino Especial Concórdia, na cidade de Porto Alegre, com alunos do 1º ano do Ensino Médio. As observações me levaram à escolha do tema A Arte Abstrata como pesquisa, sobre o qual me baseei para criar o meu projeto de ensino, intitulado Primeiros Passos Rumo à Aprendizagem da Arte Abstrata. Minha intenção foi trabalhar com um assunto que envolvesse e despertasse nos alunos não só a obrigação, como também o interesse e o prazer de aprender. Esses alunos, por serem surdos, têm a atenção facilmente dispersiva - que é uma das característica dos portadores de surdez – e procurei captá-la para mim com o uso das cores, linhas e formas marcantes da pintura abstrata, facilitando, dessa maneira, a aprendizagem. O objetivo específico do meu projeto foi contribuir para uma boa formação educacional de crianças surdas que sonham, mais que tudo, com uma profissão que promova sua integração e inclusão na sociedade, garantido-lhes o direito natural de cidadania. Durante as aulas desenvolvidas no Estágio III, com uma turma de 12 alunos, em 12 encontros realizados no período matutino, usei recursos audio visuais (informática e cinema) para mostrar artistas e obras famosas do movimento abstracionista, e desenvolvi atividades como pinturas abstratas e não figurativas, com variados materiais, para que os alunos conhecessem, na prática, as técnicas mostradas e, a partir disso, desenvolvessem sua criatividade, percepção artística e senso crítico. A obra das professoras Maria Heloísa C. De T. Ferraz e Maria F. De Rezende e Fusari, Metodologia do Ensino de Arte, muito me auxiliou na elaboração do meu projeto, bem como as explanações de Mel Gooding e Dietmar Elger, sobre o abstracionismo. Num modo geral, os encontros foram muito proveitosos, com pontos positivos e negativos, que me deram exata noção de onde acertei e onde falhei. Também tive que lidar com situações imprevistas que poderiam ter sido melhor utilizadas por mim, mas que certamente me serão de grande valia, em experiências futuras. Essas e outras percepções me conduziram a reflexões importantes sobre meus planos de carreira dentro da profissão de educador, no campo artístico. Palavras-chave: Abstracionismo – Influências – Contribuições


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8 1. A ARTE ABSTRATA ........................................................................................... 11 1.1 Referencial Teórico .......................................................................................... 11 1.2 Origem .............................................................................................................. 11 1.3 Estilo ................................................................................................................. 12 1.3.1 O Abstracionismo Informal .......................................................................... 13 1.3.2 O Abstracionismo Geométrico ..................................................................... 14 1.3.3 O Expressionismo Abstrato ou Não Figurativo .......................................... 15 1.4 Movimentos Precedentes: Fauvismo, Cubismo, Expressionismo ..................................................................................................... 16 1.4.1 Fauvismo ....................................................................................................... 16 1.4.2 Expressionismo ............................................................................................ 18 1.4.3 Cubismo ......................................................................................................... 19 1.5 Arte Abstrata no Brasil .................................................................................... 22 2. PRIMEIROS PASSOS RUMO À APRENDIZAGEM DA ARTE ABSTRATA ....... 26 3. DIÁLOGO COM A ESCOLA ............................................................................... 32 3.1 Identificação ..................................................................................................... 32 3.2 Histórico ........................................................................................................... 32 3.3 Análise dos Questionários .............................................................................. 33 3.4 Análise das Observações Silenciosas ........................................................... 36 4. PRÁTICA DE ENSINO......................................................................................... 38 4.1 1º Encontro ....................................................................................................... 39 4.2 2º Encontro ....................................................................................................... 44 4.3 3º Encontro ....................................................................................................... 48 4.4 4º Encontro ....................................................................................................... 51 4.5 5º Encontro ....................................................................................................... 53 4.6 6º Encontro ....................................................................................................... 56


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4.7 7º Encontro ....................................................................................................... 59 4.8 8º Encontro ....................................................................................................... 61 4.9 9º Encontro ....................................................................................................... 64 4.10 10º Encontro ................................................................................................... 69 4.11 11º Encontro ................................................................................................... 73 4.12 12º Encontro ................................................................................................... 75 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 83 APÊNDICES ............................................................................................................ 86 ANEXOS........................................................................................................................

8.1 CD Anexado 8.1.1 Apresentação em PPT (Power Point) 8.1.2 Versão do TC em PDF 8.1.3 Materiais relativos ao Estágio II


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INTRODUÇÃO

Ao iniciar a disciplina Estágio 1, vi-me diante da necessidade da escolha do tema para pesquisa e aplicação futura ao projeto de ensino que deveria desenvolver. Sem qualquer experiência na área de ensino, vali-me da indicação do professor da cadeira, Dr. Celso Vitelli, que me explanou alguns assuntos para apreciação e escolha. Nesse período, comecei o estágio de observação silenciosa na Escola Concórdia, em classes do ensino fundamental (5ª série) e médio (1º ano). Durante o estágio, pude observar que os alunos eram irrequietos e de difícil concentração. Esses são comportamentos característicos de pessoas surdas. Digo isso por experiência própria. Aliás, acho necessário fazer um esclarecimento sobre o uso que faço da palavra surdos. Me contraponho à designação de “deficiente auditivo”. Para os surdos, deficiente auditivo é o ouvinte que ouve pouco. Não é o meu caso: sou surdo, nunca escutei. A sociedade foi levada a pensar que o termo “deficiente auditivo” é a forma mais educada de chamar a pessoa surda. Na verdade, isso nos é desagradável, porque desenvolvemos uma cultura própria, da qual nos orgulhamos. Conseguimos, inclusive, fazer com que a nossa linguagem, a LIBRAS, fosse reconhecida como língua, no mesmo nível do português, inglês, francês, e inserida pelo MEC no currículo de cursos universitários.


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Por esse motivo, em todo o meu trabalho usarei o adjetivo correto ao falar sobre meus alunos: surdos. Retomando

o

fio

da

meada,

também

constatei

que

a

escola

disponibilizava aos alunos e professores excelente material audio visual, com projetores, telas, salas especiais para projeção e informática, bem como toda sorte de material didático para aulas práticas. O propósito de concentrar a atenção dos alunos e aproveitar a aparelhagem da escola foram os fatores que me levaram à escolha do abstracionismo como tema da minha pesquisa, ou seja: projetei ensinar aos alunos algo que unisse o estudo ao prazer, já que considero a pintura abstrata um assunto estimulante, cujas formas e cores mexem com o nosso imaginário. Objetivei familiarizar a criança surda com uma percepção artística desvinculada da imagem, voltada para o imaginário e a visão pessoal da obra e, dessa forma, estimulá-la ao estudo da arte abstrata, em seu contexto histórico, e desenvolver sua criatividade, concentração, havilidade motora e reflexões sobre a arte de um modo geral. Dou enfoque especial, na minha pesquisa sobre arte abstrata, às obras de Mondrian e Kandinsky, expoentes do abstracionismo informal e geométrico. Como paralelo, usei o Cubismo de Picasso, o Fauvismo de Matisse e o Action Painting de Pollock. Consultei vários sites da internet e livros sobre arte, tais como os de Mel Gooding e Dietmar Elge, onde achei particularidades sobre os pintores que usei como foco do projeto. O resultado dessa pesquisa consta no Capítulo 1 desse trabalho. De posse desse material, elaborei o meu projeto de ensino de arte abstrata para crianças surdas, constante no Capítulo 2. A escola a mim indicada foi a Unidade de Ensino Especial Concórdia, da ULBRA, localizada em Porto Alegre, à Av. Dr. João Simplício de Carvalho, nº 600. É uma escola particular, voltada à educação de surdos, do Ensino Fundamental ao Ensino Médio. As aulas são ministradas por professores ouvintes e surdos, todos usando LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), bem como os funcionários e a direção da escola. Essas e outras informações fazem parte do Capítulo 3. No Capítulo 4, relato a aplicação do projeto de ensino e reflexões sobre trabalhos realizados pelos alunos. Teço considerações sobre erros, acertos e


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objetivos alcançados, questões observadas, problemas enfrentados, modificações realizadas e análises das produções dos alunos durante o Estágio 3, nos 12 encontros com o 1º ano do ensino Fundamental. Na Conclusão, discorro sobre alguns fatos positivos e negativos ocorridos quando da aplicação do meu Projeto de Prática de Ensino, como a participação da turma, o interesse demonstrado quanto ao assunto e às atividades propostas, os imprevistos e estratégias usadas para transpô-los, as oportunidades perdidas para um melhor desempenho à frente da turma, e, finalmente, a satisfação de ter, pela primeira vez, conseguido transmitir a outros alunos surdos um pouco do que aprendi no curso de Artes Visuais, como aluno e também surdo. Aliás, pela importância que esse Curso teve, tem e terá na minha vida, tanto na parte profissional como – maior ainda – na pessoal, gostaria de abrir um parênteses para falar um pouco sobre isso. Sou de Manaus, capital do Amazonas, para onde estarei retornando imediatamente após minha formatura. A minha vinda para cá, em 2006, foi motivada exclusivamente pelo sonho de concluir uma faculdade, após ter tentado por três anos, na minha cidade, e desistido frente às dificuldades intransponíveis encontradas: falta de intérpretes, despreparo dos professores e incompreensão dos próprios colegas com a minha surdez. A maioria das pessoas vêem o fato dessa locomoção para cá, com o propósito único de estudar, com um certo espanto. Mas prá mim e minha família, a descoberta da estrutura disponibilizada pela ULBRA/Canoas à inclusão de alunos portadores de deficiências, foi a realização de um sonho conjunto, sempre perseguido. Conviver com pessoas que encaram a surdez com normalidade (como os colegas), respeitando minhas limitações (como os professores) e se doando para ajudar na compreensão dos assuntos ensinados (como os intérpretes), somado ao fato de eu poder, enfim, concluir o curso superior de Artes Visuais, fez valer a pena a ausência da família e dos amigos, o abandono do emprego e a troca dos acostumados 37 graus da minha cidade pelos sofridos muitos graus abaixo, daqui. Vou sentir saudades. Mas posso continuar dizendo, como Fernando Pessoa: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Agora, é realizá-los!


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1. A ARTE ABSTRATA

1.1 REFERENCIAL TEÓRICO

Arte abstrata ou abstracionismo é um estilo artístico moderno em que o formato tradicional de paisagens e o realismo são deixados de lado. Literalmente, abstrair significa afastar-se, separar. Janson (2007) exemplifica dizendo que o artista que se puser a pintar dez maçãs descobrirá que nenhuma delas é semelhante; no entanto, talvez ele não possa levar em consideração todas as diferenças: até mesmo a representação mais cuidadosa dos pedaços da fruta está sujeita a algum tipo de abstração. Desse modo, a abstração faz parte da criação de qualquer obra de arte, quer o artista saiba disso, quer não. Segundo Elger (2009), toda arte é abstrata, no sentido de que toda arte se envolve no mundo e nos aspectos abstratos dele para nos apresentar um objeto ou acontecimento que aviva ou ilumina nossa apreensão do mundo.

1.2 ORIGEM A arte abstrata surgiu no começo do século XX, na Europa, a partir das experiências das vanguardas européias, que recusam a herança renascentista das academias de arte. O processo de abstração não era consciente e controlado até o Renascimento, quando os artistas analisaram pela primeira vez as formas da natureza em termos de entidades matemáticas. Cézanne e Seurat revitalizaram essa abordagem e a exploraram posteriormente; eles são os ancestrais diretos do movimento abstracionista na arte do século XX. Entretanto, seu verdadeiro criador foi Picasso, seguido por Kandinsky que, com um grupo de artistas de Munique denominado Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), deu um passo ousado na direção da pintura figurativa, na Alemanha. Outro artista que ganhou grande destaque no cenário da arte abstrata do começo do século XX foi o holandês Piet Mondrian.


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Segundo Gooding (2002), no abstracionismo as obras abandonam o compromisso de representar a realidade aparente e não reproduzem figuras nem retratam temas. O que importa são as formas e cores da composição. Na escultura, os artistas trabalham principalmente o volume e a textura, explorando todas as possibilidades da tridimensionalidade do objeto.

1.3 ESTILO Para Elger (2009), uma pintura abstrata pode ser definida como aquela cujas formas e cores não possuem relação direta com as formas e cores das imagens da realidade visual. Segundo Gooding (2002), a forma de Van Gogh, por exemplo, possui fascinante poder expressivo, inclusive nas próprias pinceladas impulsivas, que se sucedem em

mágicos

movimentos ondulatórios,

com os quais

nos fala

eloqüentemente de seus ardentes e doloridos sentimentos. Nas considerações de Gooding (2002), Kandinsky observou, entre outras coisas, que uma forma e uma cor vermelha, sem qualquer representação das realidades visuais, isto é, sem conteúdo, pode despertar ou comunicar as mesmas sensações e sentimentos quando reproduz o telhado de uma casa, a saia de uma camponesa ou o manto de um antigo soldado romano. Pode sugerir sentimentos de calma ou de agitação, energia ou brandura, movimento ou imobilidade, etc., com a mesma eloqüência das formas figurativas. Observou ainda Kandinsky que as formas e cores abstratas se dirigem mais à percepção sensível do que à percepção intelectual. Desse modo, mesmo um analfabeto pode sentir e não entender uma pintura abstrata, pois ali nada existe para 'entender' no sentido comum desta palavra. Desta forma, sentida por todas as pessoas, independentemente de seus níveis culturais, dizia Kandinsky ser a pintura abstrata linguagem por excelência universal de comunicação e que, diante de um quadro abstrato, a sensibilidade de cada um reage com liberdade, à sua maneira, peculiar, ao passo que na pintura figurativa a sensibilidade fica presa ou dirigida pelo que está realisticamente representado (Gooding, 2002). Elger (2009) comenta a rápida difusão do abstracionismo, dominando, em pouco tempo, a pintura contemporânea e constituindo-se numa numerosa e


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diversificada escola. Na sua rápida difusão, dividiu-se em duas tendências características: o abstracionismo informal e o abstracionismo geométrico. Alguns escritores defendem ainda, nessa divisão, a inclusão do expressionismo abstrato ou não figurativo.

1.3.1 O Abstracionismo Informal Segundo Geiger (2003), no abstracionismo informal, as formas e cores são criadas impulsivamente, no livre curso da emoção, com absoluto predomínio do sentimento. Em contato com o real ou com a natureza, o pintor informal abstrato expressa emoção em lugar de representar uma imagem criada ou composta intelectualmente. Nas

considerações

de

Geiger

(2003),

muitos

abstratos

pintam

abstratamente diante da natureza, apenas evitando imitar, copiar ou descrever seus aspectos. Procuram, ao contrário, sugerir, evocar, aludir, fixando impressões gerais ou particulares de ritmos da natureza. O abstracionismo informal seria uma revolta do espírito contra a precisão mecânica da vida moderna, contra o culto do racionalismo e da exatidão da civilização industrial. Seria uma espécie de romantismo moderno. Alguns abstratos puros entendem que, embora não partindo ou não se inspirando na natureza, o artista pode encontrá-la, quando expressa e comunica ritmos de vitalidade. Em defesa do abstracionismo informal também se alega que o quadro figurativo reproduz o mundo exterior; o quadro abstrato, o mundo interior do artista - as linhas e cores adquirem virtudes poéticas, verdadeiramente musicais, porque não representam as qualidades materiais da realidade física, mas as realidades do mundo psíquico do artista (GEIGER, 2003).

Os melhores exemplos de abstracionismo informal se encontram em grande parte das obras do próprio Kandinsky, que mais tarde teria uma fase geométrica.


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Figura 1: Pequenos Prazeres, Kandinsky, (1913) (Fonte: Blog A Busca pela Sabedoria, 2010)

1.3.2 O Abstracionismo Geométrico No abstracionismo geométrico, as formas e as cores estão submetidas à disciplina geométrica. Em lugar de expressar estados emocionais, os abstratos geométricos expressam estados ou valores intelectuais. As obras mais rigorosamente representativas dessa tendência são as do holandês Piet Mondrian, criador do neoplasticismo ou concretismo. Segundo estudiosos, enquanto o abstracionismo informal significa, por sua impulsividade e emotividade, rebelião contra a precisão e rigor lógico dos processos mecânicos da civilização industrial, o abstracionismo geométrico significaria, de modo especial, a sublimação da nova sensibilidade humana criada pela mecanização.


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Figura 2: Composição A, Piet Mondrian, (1920) (Fonte: Site Zazzle)

1.3.3 O Expressionismo Abstrato ou Não Figurativo Segundo Cavalcanti (2001), na década de 1930, muitos pintores europeus famosos mudaram-se para os Estados Unidos, entre eles Max Ernst, Hans Hofmann, Fernand Léger, André Masson, Piet Mondrian. Esses artistas fixaram-se em Nova Iorque e influenciaram muitos jovens pintores norte-americanos. Em 1943, um encontro de mestres europeus e pintores norte-americanos produziu o movimento mais significativo da pintura moderna dos EUA: o Expressionismo Abstrato. O Expressionismo Abstrato, segundo Cavalcanti (2001) foi um movimento que floresceu em Nova York a partir de 1940 e acabou exercendo forte influência sobre a Europa nas décadas de 50 e 60 desse século. Foi o primeiro movimento que seguiu o caminho inverso do tradicional: em vez de seguir da Europa para a América, foi da América para a Europa. Conforme

Cavalcanti

(2001),

as

principais

características

do

Expressionismo Abstrato eram a revolta contra a pintura tradicional, a liberdade e a espontaneidade.


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O Expressionismo Abstrato representou um método de pintura que privilegiava a rapidez da execução, a espontaneidade e condenava a premeditação. Uma pintura em que o essencial está na expressão da individualidade, da subjetividade do pintor. Para eles, essa manifestação só poderia ser exclusivamente individual se o autor o fizesse de maneira livre, gestual, sem projeto prévio. Os pintores mais conhecidos do expressionismo abstrato são Arshile Gorky, Jackson Pollock, Philip Guston, Willem de Kooning, Clyfford Still e Wassily Kandinsky. Jackson Pollock foi um dos artistas americanos mais influenciados por Masson.

Figura 3: Detalhe da pintura nº 1, Pollock (1948) (Fonte: Blog Kaleidoskopein, 2010)

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MOVIMENTOS

PRECEDENTES:

FAUVISMO,

CUBISMO,

EXPRESSIONISMO 1.4.1 Fauvismo Segundo Cavalcanti (2001), o Fauvismo é considerado o movimento fundador da arte moderna na França e suas principais características são a exaltação das cores puras e quentes, a atenuação de profundidade, a abolição da perspectiva linear, a interpretação arbitrária dos meios-planos de luz e sombra (que


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são substituídos por cores justapostas) e a rejeição dos elementos intelectuais da pintura. Normal achar cores diferentes das normais neste movimento, tais como pessoas com rosto verde, árvores com troncos vermelhos, etc... Seus precursores foram Henri Matisse e Albert Marquet. Este movimento inspirou-se em Seraut, Gaugin, Vincent Van Gogh (este principalmete em sua fase colorida) e da fase construtivista de Cézanne.

Figura 4: Mulher com Chapéu, Matisse (1905) (Fonte: Blog Arte é Duca)

O Fauvismo é um movimento heterogéneo. Apesar de revelarem certas coincidências formais, os artistas desta corrente desenvolveram uma interpretação pessoal das qualidades expressivas da pintura. Em comum, encontramos a mesma vontade de representação livre da natureza através da utilização de cores puras, da acentuação linear do desenho e da diluição do efeito de perspectiva. Para Matisse, a perspectiva seria a "perspectiva do sentimento", nas quais os planos se aproximavam. Cavalcanti (2001) afirma que na França o Fauvismo dispersou-se em 1908, quando seus principais artistas deixaram de expor juntos. Braque se junta a Picasso e fundam o Cubismo, que tem princípios totalmente diferentes ao Fauvismo. Derain aproximou-se do Naturalismo. Dafy desenvolveu um Fauvismo atenuado, Vlaminck abandonou as cores quentes, para executar paisagens dinâmicas. Rouault seguiu um caminho que levou ao expressionismo. Matisse foi o mais fiel ao movimento (CAVALCANTI, 2001).


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O Fauvismo, segundo Cavalcanti (2001), foi o primeiro movimento a romper totalmente com a arte renascentista.

1.4.2 Expressionismo O Expressionismo foi um movimento cultural que se manifestou nas artes visuais, no teatro, na literatura e no cinema. Desenvolveu-se nas artes plásticas e na arquitetura no final do século XIX. Segundo Bueno (2008), o Expressionismo caracteriza-se pelas formas artísticas que exprimem de forma livre e subjetiva os sentimentos do artista em relação à realidade. Usa de cores violentas e de pinceladas vincadas nas pinturas e, nas esculturas, formas agressivas e texturas rudes. As primeiras manifestações, segundo o autor, foram obras do pintor holandês Vincent Van Gogh, marcante pelas cores e texturas, e do pintor francês Toulouse-Lautrec. Os pintores Edvard Munch e James Ensor representaram outro momento da estética expressionista com temas dramáticos, obsessivos, e formas e cores violentas.

Figura 5: A noite estrelada, Van Gogh (1889) (Fonte: Blog Experimentalidades)


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Figura 6: O grito, Munch (1893) (Fonte: Blog Gira Mundo Gira Eu Girassol, 2007)

Segundo Bueno (2008), várias correntes se formaram, no movimento expressionista: em 1905, o grupo A Ponte (Die Brücke), que buscava, na arte, a expressão direta, emotiva e violenta da realidade social e política daquele período; em 1912, o grupo, “O cavaleiro azul” (Der Blaue Reiter), formado pelos pintores Wassily Kandinsky e Franz Marc, além de artistas alemães, suíços e russos, constituindo um novo período de afirmação do Expressionismo, mais ligado às manifestações do inconsciente e à atenção aos valores das cores e das formas; no período entre as duas guerras mundiais surge a corrente Nova Objetividade (Die Neue Sachlichkeit), cujos trabalhos denunciam uma atitude eminentemente satírica e de crítica social.

1.4.3 Cubismo Segundo Abujamra (2003), o Cubismo surgiu em Paris em 1907 e 1908, Os principais nome do Cubismo foram Pablo Picasso e George Braque.


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O nome dado ao novo estilo artístico deveu-se a um comentário depreciativo feito pelo crítico Louis Vauxcelles, que se referiu às obras de George Braque como “pinturas com cubinhos”.

Figura 7: Large Nude, Georges Braque (1908) (Fonte: Blog Art Info, 2010)

A origem do Cubismo representa o fim da etapa iniciada com o Impressionismo e o começo da arte moderna. Os cubistas passaram a representar os objetos com todas as suas partes num mesmo plano. É como se eles estivessem abertos e apresentassem todos os seus lados no plano frontal em relação ao espectador. Na verdade, essa atitude de decompor os objetos não tinha nenhum compromisso de fidelidade com a aparência real das coisas. Significava, em suma, o abandono da busca da ilusão da perspectiva ou das três dimensões dos seres, tão perseguidos pelos pintores renascentistas. Nas considerações de Plazy (2007), a primeira manifestação cubista ocorre em 1906-7 com a obra Les Demoiselles d'Avignon, de Picasso. Na análise de Janson e Janson, quando Picasso começou o quadro, ele deveria retratar uma cena


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de bordel, mas acabou sendo uma composição de cinco nus e uma natureza-morta. Os três nus à esquerda são distorções angulares de figuras clássicas, ao passo que os traços e corpos violentamente disformes dos outros dois têm todas as características bárbartas da arte primitiva. As figuras estão esquematizadas numa composição geométrica, onde as zonas de sombra são substituídas por linhas paralelas. São evidentes as influências exercidas pela arte ibérica e africana, que Picasso aponta como sendo as suas principais referências.

Figura 8: Les Demoiselles d’Avignon, Picasso (1907) (Fonte: Site My Space, 2010)

O CUBISMO evoluiu em duas grandes tendências: cubismo analítico e cubismo sintético No cubismo analítico a representação da realidade é tridimensional. Os volumes são apenas sugeridos, eliminando-se qualquer diferenciação com cores. Em muitas obras, são acrescentados papéis colados que permitem introduzir um maior valor das cores, tornando-se importantes auxiliares da expressão espacial.


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Figura 9: Violino e Pitcher, Georges Braque (1910) (Fonte: Blog Radeir, 2010)

A unidade do objeto, segundo Gooding (2002), na composição geométrica do espaço, constitui a principal orientação do período sintético. O objeto é representado no seu aspecto essencial e reduzido aos seus atributos específicos. Segundo

Elger

(2009),

uma

das

vertentes

do

cubismo

foi

o

abstracionismo, que surgiu em 1910.

1.5 ARTE ABSTRATA NO BRASIL Segundo Beuttenmuller (2002), o abstracionismo, em suas correntes geométrica, lírica e concretista, se espalha pelo Brasil nos anos 1950. Adquire um significado de atualização cultural, de progresso, antagonizando com o figurativismo da pintura local, oriundo da modernidade dos anos 1930 e 1940, marcada pelo tom nativista, social e realista.


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A década de 50 foi marcada, no âmbito social, político e econômico, por uma série complexa de transformações que insinuavam o perfil de um momento de uma nova modernidade, que forneceria um ambiente estimulante para o desenvolvimento de sugestões renovadoras nas artes. Nas considerações de Beuttenmuller (2002), a abstração surge com maior ênfase em meados dos anos 50. O curso de gravação de Iberê Camargo (1914) forma uma geração de gravuristas abstratos, na qual se destacam Antoni Babinski (1931), Maria Bonomi (1935) e Mário Gruber (1927). Outros impulsos vêm da fundação dos museus de Arte Moderna de São Paulo (1948) e do Rio de Janeiro (1949) e da criação da Bienal Internacional de São Paulo (1951). Entre os pioneiros da abstração no Brasil, destacam-se Antônio Bandeira (1922), Cícero Dias (1908) e Sheila Branningan (1914). Posteriormente, artistas como Flávio Shiró (1928), Manabu Mabe (1924), Yolanda Mohályi (1909), Wega Nery (1912), praticam a abstração informal. A abstração geométrica, que se manifesta no concretismo e no neoconcretismo também nos anos 50, encontra praticantes em Tomie Ohtake (1913), Fayga Ostrower (1920), Arcângelo Ianelli (1922) e Samson Flexor (1907).

Figura 10: Jardim Vermelho, Antonio Bandeira (1953) (Fonte: Site Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, 2001)


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Figura 11: Represa de Santo Amaro, Manabu Mabe, anos 50 (Fonte: Site Pintura Brasileira)

Figura 12: GeomÊtrico, Arcangelo Ianelli (1979) (Fonte: Site Galeria Espaço Arte)


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Figura 13: Bípede com elementos geométricos, Samson Flexor (1970) (Fonte: Site Escritório de Arte)


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2. PRIMEIROS PASSOS RUMO À APRENDIZAGEM DA ARTE ABSTRATA

O ensino de artes para a criança, independente se for surda ou ouvinte, é algo que contribui para a formação do seu imaginário, sua criatividade e relacionamento com o mundo. Nisto percebemos a importância do ensino de artes à criança de modo a estimular estes fatores em sua vida. Através da arte, podemos expor nossos sentimentos e cabe ao professor estimular as crianças a desenvolver seu perfil criativo. Também cabe ao professor conciliar estes saberes, afinal, tanto o professor quanto o artista têm bases em dois tipos de pensamentos bem distintos. Segundo Barbosa (1988, p. 11), a arte não só se modifica devido às alterações culturais, como também tem influência sobre esta. É preciso que os professores saibam que não é qualquer método de ensino da arte que corresponde ao objetivo de desenvolver a criatividade, da mesma maneira que é preciso localizar a Arte da criança no complexo mais totalizante da criatividade geral do indivíduo (BARBOSA, 1988, p. 89).

Conforme Ferraz e Fusari (2004, p.41), desde muito pequena a criança participa das práticas sociais e culturais de sua família, de seu meio, enfim dos grupos com os quais convive. Gradativamente, ela vai descobrindo o mundo físico, psicológico, social, estético e cultural que lhe é apresentado pelos adultos (e outras crianças) no dia-a-dia. Sendo assim, podemos dizer que a criança vai mudando e moldando seu modo de ver e perceber a vida e os acontecimentos que a envolvem durante sua vida. A cada dia ela irá moldando seu pensamento e, o ensino das artes poderá ajudá-la a ter uma nova visão e compreensão do mundo que a rodeia. Para isto, é fundamental o professor conhecer os assuntos da atualidade, os movimentos, seu contexto histórico e suas influências culturais na sociedade. Esse conhecimento permitirá ao professor desenvolver nos alunos a capacidade de perceber a relação existente entre a sua prática de ensino das arte e suas vivências fora da escola.


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Essa consciência pode nos ajudar a conhecer e reconhecer manifestações e interferências da arte em nossas vidas. Queremos ter oportunidades para perceber, analisar e conversar, por exemplo, sobre nossas escolhas de formas, cores, nossa admiração por certas músicas ou nosso gosto por certas cenas, objetos artísticos e pelas pessoas que as produzem (FERRAZ; FUSARI, 2004, p.18).

Como meu trabalho é específico com crianças surdas, encontrei no abstracionismo um vasto campo de oportunidades para mostrar um pouco da arte em seu contexto histórico, que muitas vezes é deixado de lado. Poder unir a teoria com a prática. Envolvê-los em atividades que lhes dêem liberdade de interagir com os materiais mais diversos, podendo aproveitar as cores de maneira livre, organizarse como indivíduo e como grupo, respeitando a individualidade do colega. Esses são fatores importantes para o aprendizado de cada criança. O papel da Arte na educação é grandemente afetado pelo modo como o professor e o aluno vêem o papel da Arte fora da escola. Daí a necessidade de um entendimento da teologia da Arte por parte do professor que, transmitindo informalmente aos alunos, dará boas razões para fazer Arte àqueles que usam materiais e criam imagens somente porque têm de fazêlo na escola, reduzindo desse modo a Arte a uma mera tarefa escolar agradável (BARBOSA, 1988, p.90).

Entendo que o estilo artístico adotado no abstracionismo é algo

estimulante, que pode ser trabalhado com os alunos e trazer ótimos resultado devido às suas formas e cores, permitindo a utilização dos mais diversos recursos visuais e materiais, sem contar os resultados que podem ser atingidos através do dinamismo desse conteúdo. Também é interessante proporcionar ao aluno trabalhar não apenas numa dimensão plana, mas sair do plano bidimensional para o tridimensional, mostrando ao aluno que a arte pode facilmente ser encontrada em nosso dia-a-dia. A arte abstrata se mostra como algo diferente, é um tipo de arte que provoca na criança o desejo de aprender, além de estimular sua criatividade, dando ao aluno uma nova percepção artística desvinculada da imagem, voltada para o imaginário e a visão pessoal da obra.


28 A arte abstrata dá ao espectador uma liberdade sem igual de resposta imaginativa, mas isto não quer dizer de modo algum que uma pintura ou escultura abstrata possa significar alguma coisa. Como Ronald Barthers observou, “não se criam significados exatos de qualquer modo (se duvidar, tente): o que controla o crítico não é o significado da obra, é o significado daquilo que ele escreve sobre ela” (GOODING, 2002, p.10).

Nesse caso, como todos os alunos são surdos e vivem em um mundo focado no visual, optei em montar meu projeto de ensino sobre o abstracionismo pelas inúmeras possibilidades de brincar com esse visual, unindo o prazer ao aprendizado. De início, planejei levá-los a visitas extraclasses, a museus ou exposições, para um contato mais direto com a arte. Caso isso não seja possível, pretendo fazer uso de projeções visuais, (filmes, PowerPoint, etc.) para motivar as aulas. Aliás, penso em projetar aos alunos, na minha primeira aula, um PowerPoint com um resumo dos principais aspectos do abstracionismo, fazendo um breve histórico do movimento e dos nomes que se destacaram. Uma vez que os alunos demonstrem interesse em conhecer mais da história e da vida desses artistas, apresentarei, no decorrer das aulas, mais detalhes sobre as obras de Kandinsky, Mondrian, Picasso, Matisse, Pollock, etc. Outra questão importante para o projeto é desenvolver a capacidade de criação dos alunos, conduzindo e estimulando esse processo, o que é muito compensador, para o professor. É possível perceber o modo como conseguem manifestar, através da arte, de forma muito expressiva, elementos cognitivos e afetivos interiorizados. A criança em atividade fabuladora ou expressiva participa ativamente do processo de criação. Durante a construção ela se coloca uma sucessão de imagens, signos, fantasias, que às vazes são mais considerados por ela no momento em que aparecem do que no resultado do trabalho. Estes fatos são muito importantes para o conhecimento da produção da criança e evidenciam o desenvolvimento de seu eu e do seu mundo (FERRAZ; FUSARI, 2004, p.56).

Conforme

Ferraz

e

Fusari

(2004,

p.55),

ao

acompanhar

o

desenvolvimento expressivo da criança percebe-se que ele resulta das elaborações de sensações, sentimentos e percepções vivenciadas intensamente. Por isso, quando ela desenha, pinta, dança e canta, o faz com vivacidade e muita emoção.


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É certo que nem todos os alunos serão profissionais de arte, mas devemos aproveitar esses momentos para mudar sua postura e visão com relação à arte. As crianças surdas são, normalmente, bem abertas à sociabilização, o que facilita a aplicação de atividades em conjunto. Segundo GAIO e MENEGHETTI, in Caminhos Pedagógicos da Educação Especial, Editora Vozes, p. 85, “as crianças aprendem a cooperar e não deixam de aprender quando dividem entre si suas tarefas, principalmente quando essa divisão é espontânea, baseada no interesse e nas possibilidades de cada aluno. A cooperação cria laços muito fortes entre os alunos e propicia interações que encorajam os menos habilitados.” Da espontaneidade e da interação com os colegas da turma, utilizando os mesmos recursos didáticos e realizando as mesmas atividades é que emerge o potencial de aprendizagem de cada criança, com ou sem deficiência (GAIO; MENEGHETTI, 2004, p. 88).

Sabemos que muitas vezes a arte é vista como algo que serve apenas para complementar horas escolares, sem se levar em conta a importância que ela pode ter para o desenvolvimento individual e coletivo do aluno. Ainda convivemos, no Brasil, com um ensino de arte nas escolas primárias e secundárias que valorizam a repetição de modelos vindos de fora do país, centrados nas representações convencionais de imagens. É a chamada “pedagogia tradicional”, que concentra o ensino e a aprendizagem apenas na “transmissão” de conteúdos reprodutivistas, desvinculando-se da realidade social e das diferenças individuais. (FERRAZ; FUSARI, 2004, p.31/32) Surgiu, no entanto, um movimento conhecido como “Pedagogia Nova”, fundamentada na Psicologia e na Biologia, que, segundo Ferraz e Fusari, dá ênfase à expressão afetiva, à preocupação com o método, com o aluno, seus interesses, sua espontaneidade e o processo do trabalho. Esse posicionamento se aproxima mais do espírito do verdadeiro educador, ao qual me alio. Sabemos das responsabilidades que cabem aos professores durante o ensino e aprendizagem dos conteúdos curriculares, mas também a escola tem um papel de suma importância. Esta deve proporcionar ao aluno o espaço adequado, bem como acesso aos materiais necessários para o desenvolvimento desta criança.


30 Na escola, os cursos de arte constituem-se em um espaço e tempo curriculares em que professores e alunos dedicam metodicamente à busca e aquisição de novos saberes especificamente artísticos e estéticos. A formação escolar pode e deve contribuir para que os alunos, a partir dessas vivências, desenvolvam, durante os cursos, novas habilidades e saberes básicos, significativos e ampliadores de sua sensibilidade e cognições a respeito dessas modalidades artísticas (FERRAZ; FUSARI, 2004, p. 19).

Como já me referi na Introdução, a Escola Concórdia conta com um privilegiado aparato de ensino, com professores preparados, recursos pedagógicos dos mais modernos disponibilizados aos alunos, sem falar na infra estrutura do prédio. Não é à toa que está qualificada como uma das melhores escolas para surdos do Brasil. É inegável que o material didático é importante para o bom resultado de um projeto de ensino. Do lado do professor, o que faz a diferença é o modo como este planeja as atividades e como seleciona o material didático, de forma que possam servir a objetivos mais amplos e importantes do que treinar, estereotipar e encurralar o aluno no caminho que o professor estipulou como o único que pode chegar à verdade, ao certo, ao desejado (GAIO; MENEGHETTI, 2004, p.88)

O professor deve tratar esses materiais segundo o encaminhamento de sua aula, de tal maneira que ajudem a concretizar os conhecimentos referentes à arte. Em qualquer idade a criança tem capacidade para vislumbrar as variantes formais, estruturais e cromáticas existentes no mundo do qual ela participa. Uma conversação interessante sobre essas nuances favorece os aspectos perceptivos e esse processo dinâmico auxilia a compreensão de formas, imagens, símbolos, idéias (FERRAZ; FUSARI, 2004, p.49).

Isto também é papel do professor, saber como conduzir uma aula, de modo que ela venha ser agradável e proveitosa, onde o professor consiga a atenção dos alunos bem como o respeito, os estimulando a participar e se interessar em aprender cada dia mais e reconhecer a arte nos mais diversos espaços de suas vidas. É necessário que se estabeleça uma ponte entre o trabalho prático da Arte como processo de desenvolvimento individual e pessoal e o trabalho de ver e apreciar a Arte como produto da atividade do artista. Na Educação, os modos de ver a Arte de dentro e de ver a Arte de fora se completam. Devemos, portanto, educar os estudantes em Arte e através da Arte, possibilitando-lhes não só o fazer artístico mas também o contato programado com a obra de arte adulta (BARBOSA, 1988, p.113).


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Para melhor aproveitamento da aula bem como do conteúdo exposto, o professor necessita conhecer e reconhecer as especificidades de cada idade, deve saber organizar seus conteúdos pensando na idade de seus alunos e respeitando as diferenças que cada idade apresenta. E saiba também propor atividades que propiciem vivências de ensino e aprendizagem dos mesmos, considerando tanto os mais simples como os mais complexos. Para isso o professor deve estar atento às características da faixa etária, interesses e “direitos” culturais artísticos de seus alunos, no mundo contemporâneo (FERRAZ; FUSARI, 2004, p. 20).

Sabemos que por vezes as escolas não possuem condições, o que prejudica consideravelmente o desenvolvimento da criança. Conforme FERRAZ e FUSARI (2004, p.19), o trabalho com a arte na escola tem uma amplitude limitada, mas ainda assim há possibilidades dessa ação educativa ser quantitativa e qualitativamente bem-feita. Sendo assim, o objetivo da arte na escola é estimular o aluno a ser participante da sociedade em que ele está inserido, que ele possa pensar, criar e sentir o mundo que o cerca e expressá-lo não somente por palavras, mas por outras linguagens que devem ser aprendidas e vivenciadas primeiramente na escola, até que possam reconhecê-las de modo particular em seu dia-a-dia.


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3. DIÁLOGO COM A ESCOLA

3.1 IDENTIFICAÇÃO Nome: Colégio Especial ULBRA Concórdia Ano do estágio: 2010 Turma: 110 – 1º ano do Ensino Médio Nº de alunos: 12 Período do Estágio: 12 encontros semanais de 50 minutos cada Turno/Período: Matutino – 2º período Professora Titular: Mirian Bulsing

3.2 HISTÓRICO O Colégio da ULBRA Especial Concórdia está localizado na Zona Norte de Porto Alegre, à Av. Dr. João Simplício Alves de Carvalho, 600, Bairro Jardim Ipiranga. É especializado na educação de Surdos, e oferece ensino desde a Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Tecnológico. As aulas são ministradas em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) que é utilizada por todos os funcionários da escola. Faz parte da rede de escolas particulares da ULBRA, embora quase 80% dos seus alunos sejam bolsistas do Estado. Oferece uma educação integral, fundamentada em princípios cristãos, valorizando o ser humano em sua totalidade, respeitando e incentivando os direitos e deveres dos surdos de participar de forma efetiva na sociedade. Originou-se em 1966, de um ato de benemerência praticado pela esposa do pastor da igreja luterana da Rua Lucas de Oliveira, Naomi Warth, que, ao acolher no sótão da igreja algumas crianças surdas no intuito de evangelizá-las, percebeu a necessidade de continuar com um trabalho educativo em prol dessas crianças,


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numa linguagem que lhes fosse própria, a então língua de sinais, hoje LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Em 1993, sem poder mais sustentar essa obra, pelo tamanho que havia atingido, Naomi Warth procurou a ULBRA, que decidiu encampar o trabalho da missionária, transformando-o no que hoje é o Colégio Concórdia. A estrutura administrativa da escola é formada pela diretora Hiltrud Elet, coordenadora Paula Giuliano de Azevedo, supervisora Reciane Rodrigues e orientadora pedagógica Gladis Titom. Na estrutura pedagógica conta com um quadro de 20 professores que atendem 130 alunos, nos três turnos, matutino, vespertino e noturno (curso técnico). Possui 10 salas de aula, além de salas especiais de projeção, biblioteca, brinquedoteca, artes, laboratório de biologia e química, laboratório de informática, clínica de fonoaudiologia, teatro, ginásio e praça de recreação. Além desses ambientes, mantém uma peça composta de sala, quarto, cozinha e banheiro onde funciona o Programa de Pais, que procura, sob a orientação do Serviço de Psicologia do Colégio, dinamizar a relação escola/família e auxiliar os familiares de alunos vindos do interior do Estado ou de Estados vizinhos, na busca de um relacionamento saudável e significativo com os seus filhos surdos. Oferece, ainda, um serviço de Pastoral que atua junto à Comunidade Escolar, buscando desenvolver os valores cristãos, prestando também solidariedade e assistência às famílias Conta com o apoio de uma Clínica de Fonoaudiologia, onde podem ser realizadas avaliações audiológicas, indicação de próteses auditivas, bem como atendimento clínico específico, aos alunos que desejarem. Os planos de aula são elaborados pelos professores e supervisora da escola. O sistema de avaliação consiste de conceitos: P (em processo), S (suficiente), B (bom), MB (muito bom) e PS – plenamente satisfeito. A média para aprovação é S. A avaliação é feita através de provas e trabalhos.

3.3 ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS

1. Alunos


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Em minhas avaliações na turma do ensino médio, constatei que a maioria dos alunos têm e tentam manter um bom relacionamento. Percebi em suas respostas que dão muito valor a poder conversar e em manter contato com os outros surdos. Muitos falam sobre trocar idéias, em poder ajudar aos outros e em se conhecer, dizem que “é muito bom”. Um aluno falou que a turma é bem unida, outro aluno citou os nomes dos colegas que mais gosta. Mas da mesma forma que constatei na turma do Ensino Fundamental, alguns alunos não concordam. Quatro deles dizem que a turma não tem união e que falta conscientização. Um disse que consegue ter um bom relacionamento com apenas alguns colegas. Enquanto outro sugeriu que através do ensino de artes, talvez possa finalmente acontecer esta união na turma. Quando perguntei aos alunos se tinham alguma sugestão para as aulas, poucos responderam, muitos deles colocaram que não sabiam ou simplesmente deixaram em branco. Aqueles que responderam opinaram por desenhar e pintar quadros. Mas uma resposta me surpreendeu, um aluno disse que gostaria de saber mais sobre os artistas famosos e os anos que eles viveram. Nas escolhas pelos materiais que preferiam, os alunos demonstraram gostar mais do lápis e papel, com doze votos. Depois deste material, os alunos optaram pelo trabalho com gesso, tendo este quatro votos. Poucos falaram sobre os demais materiais como argila, carvão sobre o papel e guache. Houve um aluno que não opinou. Outro aluno sugeriu que fosse mostrado mais vídeos durante as aulas. Os alunos declararam sua fluência em LIBRAS e demonstraram a satisfação que sentem em poder ter este contato com os colegas surdos e sua língua materna. Apenas dois alunos disseram não ter boa fluência. Um aluno comentou que a LIBRAS tem mudado e ficando diferente a cada dia. De todos os alunos, apenas cinco recebem ajuda nos trabalhos em casa e dois recebem ajuda apenas da mãe. Cinco alunos dizem não receber nada de ajuda, entre eles um diz que se sente muito sozinho, mas precisa se esforçar par conseguir vencer. Metade dos alunos relataram que acham importante aprender a História da Arte, falando da importância cultural no aprendizado. Mas a outra metade disse não gostar de estudar a História da Arte, que não tem interesse, mas tem paciência pois é necessário estudar. Talvez isto ocorra por não se sentirem estimulados durante as aulas. Seis alunos disseram não se interessar nas imagens que são


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mostradas durante as aulas. Os demais responderam positivamente. Um aluno falou que gosta das artes sobre o corpo humano, outro relatou gostar de desenhos e alguns disseram gostar de artes diferentes. Quanto ao modo de trabalhar, se individual ou em grupo, apenas um aluno respondeu preferir trabalhar sozinho. Três alunos gostam de trabalhar das duas maneiras. Dois alunos não responderam enquanto os demais preferem realizar os trabalhos em grupos. Na questão referente à visita ao museu, apenas três alunos nunca foram ao museu. Os demais alunos foram e demonstraram gostar muito da visita. Alguns disseram que já foram várias vezes. Nos questionários constatei que os alunos já demonstram interesse em fazer uma faculdade e muitos já sabem o que querem estudar. Entre os cursos citados, o que mais se destacou foi informática. Tendo também os cursos de química, física, matemática, arquitetura, educação física, etc. Alguns alunos deixaram claro sua indecisão em relação ao curso a realizar e três alunos disseram não ter interesse em continuar os estudos, sendo que um deles declarou não saber como ingressar na faculdade.

2. Professora Em relação ao questionário respondido pela professora, pude constatar que realiza seu trabalho buscando sua realização profissional e pessoal, apesar das dificuldades e obstáculos encontrados na profissão. Trabalha tentando estimular os alunos a participar das aulas utilizando para isso brincadeiras, jogos, filmes e realizando muitas atividades práticas durante as aulas, o que faz com que os alunos assimilem melhor o conteúdo. Da mesma forma, aproveita dos meios culturais existentes para ajudar no desenvolvimento e interação dos alunos com a arte. Ela também oportuniza aos alunos de escolherem alguns assuntos e temas com o fim de estimulá-los a identificar seus interesses, interagir com seus colegas e se expor, comunicando suas idéias. Das questões realizadas, a única com resposta negativa foi em relação ao uso de vídeo durante as aulas.


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A professora avalia os alunos de forma criteriosa, sem deixar de levar em conta as especificidades de cada um, reconhecendo a importância do uso da LIBRAS na educação dos surdos. Com relação à comunidade e à família, é mantido contato com estes através de diálogos frequentes em reuniões, palestras, etc. A professora conclui dizendo que se sente realizada profissionalmente em sua atuação na educação destes alunos especiais.

3. Diretoria da Escola A direção da escola não admitiu responder ao questionário formulado pelo estagiário. O fato foi comunicado ao professor do estágio I, Celso Vitelli.

3.4 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS Durante este período em que fiz minhas observações silenciosas em uma turma do Ensino Fundamental e uma do Ensino Médio, percebi que os alunos gostam das aulas, pois são para as crianças uma oportunidade de interagir e conversar, o que para os surdos é fundamental em sua vivência. A professora tem muita alegria ao dar a aula, ainda que às vezes eles demonstrem um certo desinteresse pelas atividades. As atividades propostas pela professora são muito visuais e práticas, o que combina perfeitamente com a cultura surda. Percebi também que os alunos se dispersavam várias vezes, exigindo muito da professora para mantê-los atentos às aulas. Penso que isto aconteça pelo fato da aula ser um momento em que os alunos aproveitam para interagir com seus semelhantes, já que muitas vezes, esta comunicação não acontece tão fluentemente em casa com a família. Este é outro fator muito importante proporcionado pela escola para o aluno surdo, a possibilidade de troca com seus iguais em que a língua pode se desenvolver. Apesar disto a professora sabe intervir na aula de maneira que os alunos façam seus trabalhos e também se sociabilizem sem perder o foco da aula. A professora é muito exigente. Segundo Vygotsky:


37 A criança nasce dotada apenas de funções psicológicas elementares (reflexos, atenção involuntária). Com o aprendizado cultural, parte dessa funções básicas transforma-se em funções psicológicas superiores típicas do homem. Essa evolução acontece pela elaboração das informações recebidas do meio que são intermediadas, explicita ou implicitamente, pelas pessoas que rodeiam a criança, carregando significados sociais e históricos (LEHENBAUER; HAYDÉE, 2007, p. 48).

Os alunos trabalham com materiais simples, mas as atividades propostas estimulam bastante a criatividade dos alunos. Eles têm muita liberdade para criar seus desenhos e colori-los. Também achei muito interessante quando a professora propôs o trabalho de pintura em figuras indígenas, podendo assim, interligar duas áreas do conhecimento, fazendo uso da interdisciplinaridade, algo novo e de muita importância na atualidade. Nas aulas em que os alunos podem pintar os painéis nas paredes, os alunos aprendem a trabalhar em grupo, a se organizar como equipe, a respeitar opiniões, tudo isto é de suma importância para o desenvolvimento do indivíduo. Faz também com que a criança aprenda a expor suas opiniões e que tenham coragem de demonstrar seu ponto de vista. A escola possui um ambiente adequado para as aulas de artes, pois a sala é própria para esta disciplina, tendo vários materiais que ela mesma dispõe aos alunos. Sendo um lugar em que as crianças podem expor seus trabalhos e todas as outras turmas podem visualizar também. Durante minha observações na escola especial para surdos, percebi que as crianças se sentem mais livres, mais a vontade, conseguem se desenvolver melhor, pude perceber alegria em seus rostos por estarem na aula. Enquanto na escola inclusiva, o que ocorre na realidade é uma exclusão. O aluno surdo faz parte de um grupo que possui uma cultura diferente, o que não ocorre nas demais deficiências. Por isso ele necessita de um ambiente em que possa utilizar sua própria língua e trocar suas vivências. Dentro da escola inclusiva, não há comunicação nem compreendimento completo do conteúdo passado pelo professor, o que traz prejuízos em relação aos demais alunos ouvintes. Isto faz com que o aluno se sinta desestimulado durante as aulas. Sendo assim, pude constatar que o ambiente escolar é capaz de proporcionar ao indivíduo surdo nas aulas de artes, momentos de interação, troca, desenvolvimento criativo, características estas que são fundamentais para crescimento social de cada um.


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4. PRÁTICA DE ENSINO

Nível Fundamental Série: 1ª Turma: 110 Escola/Localização: Colégio Especial ULBRA Concórdia Professora Titular: Mirian Bulsing Turno/Período: Matutino/2º período Duração: 12 semanas Tema: A Arte Abstrata Justificativa da escolha do tema: Optei por trabalhar com um assunto que envolvesse e despertasse nos alunos não só a obrigação, como também o interesse e o prazer de aprender. As crianças surdas têm a atenção facilmente dispersiva e busquei captá-la com o uso das cores, linhas e formas marcantes da pintura abstrata. Objetivo geral do projeto: Familiarizar a criança surda com uma percepção artística desvinculada da imagem, voltada para o imaginário e a visão pessoal da obra.

Objetivos específicos do projeto: Estimular o aluno ao estudo da arte abstrata, em seu contexto histórico. Desenvolver a criatividade, concentração, habilidade motora e reflexões sobre a arte, de um modo geral. Tirar proveito dos materiais de pintura, recursos visuais e de informática, disponibilizados pela escola aos professores.


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1º ENCONTRO:

Tema: A Arte Abstrata.

Conteúdo: Formato, linhas e cores.

Objetivos: Conhecer a obra de artistas abstracionistas e sua forma de expressão. O aluno vai aprender sobre arte abstrata: suas formas, linhas e cores. Vai fazer desenhos de sua livre escolha, partindo de uma imagem descritiva, quer real ou imaginária, para finalmente chegar ao abstrato. Os trabalhos serão feitos de forma individual e em conjunto, visando a socialização.

Metodologia: Expositiva dialogada.

PLANEJADO:

Aula expositiva sobre a História da Arte Abstrata, como introdução para a abordagem prática, quando os alunos trabalharão na criação de seus próprios desenhos. Os slides em Power Point vão mostrar uma definição simples do que é arte abstrata ou abstracionismo. Vou exemplificar com obras de dois grandes artistas: Henry Matisse (A Janela Azul) e Alfredo Volpi (Bandeirinhas). Em que época apareceu o abstracionismo e quando foi seu apogeu. Mais duas obras, do artista Mondrian (Árvores em flor) e de Kandinsky (Sobre as Pontas). Formas de arte abstrata: - geométrica (que não se importa com os sentimentos, mas com o intelecto). Obras de Piet Mondrian (Composição em Vermelho e Amarelo) e Roy Lichtenstein (Gold Fish Bowl on Table); - fauvismo (impulsos individuais expressando emoção, ritmo e cor). Obra do pintor francês Henry Matisse (La Desserte);


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- expressionismo (que utiliza cores fortes e imagens distorcidas), como mostram as obras de Edvard Munch (O Grito), Anita Malffati (O Japonês) e do pintor russo Mark Rothko (Violet, Green and Red); Como se chega ao abstrato, a partir de uma imagem descritiva, sem perder seu significado. A simplificação das formas; as novas maneiras de combinação de cores. Apresentação dos desenhos feitos por Roy Lichtenstein de “The Bull” (O Touro), mostrando a técnica usada pelo artista para abstrair a figura, em 4 fases.

Figura 14: Mastro de São Pedro, Volpi (1958) (Fonte: Museu Oscar Niemeyer)


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Figura 15: A Janela Azul, Matisse (1912) (Fonte: Site Flickr do Yahoo)

Figura 16: O Touro, Roy Lichtenstein (1923) (Fonte: Blog Se Já Se Viu!, 2010)

Recursos: Data show da escola para apresentação de slides em Power Point. Avaliação: Aferir o interesse dos alunos à apresentação feita, pela atenção demonstrada e perguntas formuladas.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Sendo esse meu primeiro contato com os alunos, resolvi fazer uma apresentação em PowerPoint sobre o que seria dado nessas aulas de Estágio. Assim, todos se reuniram no auditório da escola, para utilização do data show. Como o programa do meu pen drive era diferente do utilizado na escola, houve um pequeno problema para a iniciação expositiva, logo resolvido por um funcionário da escola, da área de informática. Tudo pronto, a professora titular, Mirian Bulsing, me apresentou à turma de 12 alunos, que se encontravam sentados, conversando. A chamada foi feita pela professora Mirian, confirmando a presença de 10 alunos. Abro aqui um parênteses para relembrar a condição especial dos alunos da Escola Concórdia: todos são surdos e a comunicação com e entre eles é exclusivamente através de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Essa condição deve ser sempre considerada, de vez que há uma inegável e reconhecida diferença na didática usada para alunos ouvintes e alunos surdos. Talvez o lógico seria poder iniciar este texto narrando que a história da educação para surdos começa como um desmembramento da educação geral, ou seja, ela seria uma especialização dos procedimentos do ensino destinado aos normais. Ela retrataria o momento em que a educação geral estaria sendo estendida àqueles que, por apresentarem certas deficiências orgânicas, necessitariam, para a obtenção do saber escolar, de alguns procedimentos específicos (SOARES, p. 105).

Embora um pouco nervoso, por ser a primeira vez que me via diante de uma sala de aula, aliado ao fato de que exatamente nesse dia estaria sendo avaliado pela professora Jurema, de Estágio II e III, dirigi-me em apresentação aos alunos, através de sinais que eram interpretados em Português para a professora Jurema, pela professora Mirian. Após a apresentação, comecei a explicação do conteúdo que estava no PowerPoint. Todos estavam bem atentos ao que eu ensinava. Houve uma boa participação dos alunos, com perguntas e opiniões sobre o tema. Para maior motivação, perguntei se algum deles gostaria de ir à frente, mostrar o que havia entendido. Um aluno aceitou a proposta e então pude perceber


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que ele realmente tinha compreendido o que eu havia explicado. Creio que pelo fato de eu também ser surdo, ajudou muito na interação com os alunos, os quais, por sua vez, se mostraram muito calmos e atentos, na aula. Isso me deu tranquilidade para terminar a exposição do conteúdo em tempo hábil. Ao término da aula, os alunos me saldaram com palmas, em Libras (Língua Brasileira de Sinais).


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2º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata Conteúdo: “O Touro”, desenhos de Pablo Picasso. “The Bull”, de Roy Lichtenstein “Natureza Morta com Vaso de Especiarias” I e II, pintura de Mondrian. Objetivos: Como chegar à abstração, partindo do figurativo descritivo. Conhecer o processo feito por Pablo Picasso em “O Touro” e as formas de abstracionismo usadas por Mondrian nas pinturas “Natureza Morta com Vaso de Especiarias” (I e II) e por Roy Lichtenstein em “The Bull”.

Metodologia: Expositiva dialogada e prática.

PLANEJADO: Farei a apresentação da obra de Pablo Picasso, “O Touro”, onde o artista, em 11 desenhos, demonstra como, partindo da figura de um touro perfeitamente composta, em sua forma descritiva, vai retirando da imagem todo o supérfluo até chegar a representar a mesma figura (o touro) em somente umas poucas linhas. Para que os alunos conheçam o processo de abstração usando figuras geométricas (diferente das linhas usadas por Picasso), mostrarei a eles a abstração em 4 fases feita por Roy Lichtenstein de “The Bull” (O Boi). Também mostrarei as pinturas de Mondrian, “Natureza Morta com Vaso de Especiarias I e II”, em que o artista usa principalmente as cores para abstrair de forma praticamente indistinguível a figura de um vaso sobre uma mesa. Os alunos poderão optar por fazer abstração de figuras escolhendo entre esses três processos: linhas, cores e figuras geométricas. Os desenhos farão parte de um mural exposto na escola, ao final do estágio.


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Figura 17: O Touro, Pablo Picasso (1945) (Fonte: Blog Wired Science, 2007)

Figura 18: Composição nº 2 – Composição em Linha e Cor, Pablo Picasso (1913) (Fonte: Blog Design(e) d’Ali(g)ne, 2009)

Recursos: cópias em folhas A4 dos desenhos de Pablo Picasso, imagens de Mondrian (fascículo 7), fotos, papel credex, lápis grafite e pincel atômico.

Avaliação: Com a prática, averiguar o entendimento do aluno também quanto a parte teórica ensinada sobre abstracionismo, suas formas e como fazer arte abstrata.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Ao chegar na sala de Artes, observei que os alunos já se encontravam sentados em torno de três grandes mesas, que são usadas para as aulas, ao invés de carteiras individuais, em razão de serem surdos e, dessa maneira, fica acessível a todos a comunicação através de sinais. Comecei a aula mostrando o material descrito no conteúdo e explicando sobre a forma de se fazer abstração a partir de uma figura descritiva. Assim que todos compreenderam, distribuí a cada um uma folha de papel, lápis e pincéis atômicos, e pedi que desenhassem livremente uma figura, e dela fizessem uma abstração, em três fases. No decorrer da aula, fui acompanhando o desenvolvimento dos trabalhos, orientando e auxiliando os alunos no que fosse necessário. Pude constatar que alguns compreenderam de maneira clara a proposta da atividade, pois executaram trabalhos excelentes, alcançando o objetivo proposto. Vale mencionar aqui a aluna Carolina, a qual demonstrou, além de um perfeito entendimento do assunto (abstração), também um dom especial para o desenho, como podemos constatar nas imagens abaixo:

Figura 19: Trabalho da aluna Carolina (descritiva) (Fonte: Santos, 2010)


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Figura 20: Trabalho da aluna Carolina (Abstração 1) (Fonte: Santos, 2010)

Figura 21: Trabalho da aluna Carolina (Abstração 2) (Fonte: Santos, 2010)

Parece haver pouco investimento na formação curricular básica em arte na escolarização do aluno com deficiência, em comparação com as propostas de trabalho em artesanato e atividades manuais em geral; às vezes o ensino de arte ganha espaços valiosos de caráter temporário ou experimental por meio de projetos e iniciativas públicas ou privadas. No entanto, tais iniciativas são condicionadas a verbas e projetos que se extinguem de uma hora para outra (BAPTISTA; CAIADO; JESUS, p. 222).

Durante essa atividade, percebi que a maioria deles se dedicou na realização da tarefa a ser executada. Alguns, porém, não conseguiram terminá-la, o que será feito na próxima aula. Embora haja constante comunicação (conversa) entre eles, a turma, no geral, é bem tranquila. Sem perceberem, chegou o fim da aula. Os alunos organizaram a sala e seus materiais e foram saindo um a um, calmamente. Alguns se despediram com um abraço.


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3º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata Conteúdo: “Pollock” - filme sobre a vida do maior pintor abstracionista da América. Objetivos: Conhecer sobre a arte não figurativa feita por Pollock Metodologia: Expositiva dialogada. Apreciação de filme.

PLANEJADO:

Os alunos se reunirão na sala de projeção, onde assistirão o DVD sobre a vida de Jakson Pollock, dito o maior pintor abstracionista da América. Ao final, promoverei um debate em conjunto sobre o filme.


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Figura 22: Filme Pollock. Direção: Ed Harris. Atores: Ed Harris, Marcia Gay Harden, Amy Madigan, Jennifer Connelly. Sony Pictures Classics, 2000. DVD (117 min). (Fonte: Site Adoro Cinema)

Recursos: projetor de DVD e DVD

Avaliação: Será feita levando em conta a concentração dos alunos durante a projeção do filme, e a participação no debate, ao final.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Como a aula seria a projeção do filme “Pollock”, sobre a vida de Jackson Pollock, que é considerado o maior pintor abstracionista norte-americano, fomos para o auditório da escola. É uma sala grande, com cadeiras individuais dispostas em círculo, para que todos os alunos tenham uma visão uniforme do filme. Este é projetado numa lousa branca afixada na parede, por um aparelho posto sobre uma mesinha central. Expliquei aos alunos o objetivo daquela aula, pedindo atenção da turma. Todos os alunos estavam presentes, nesse dia. Alguns já haviam assistido o filme, mas a maioria não. Essa turma é bastante tranquila, têm facilidade em se concentrar, e se mantiveram atentos, até o término do tempo de aula.

Encaminhamento: No próximo encontro ocorrerá a continuação desta aula.


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4º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata Conteúdo: “Pollock” - filme sobre a vida do maior pintor abstracionista da América.

Objetivos: Conhecer sobre a arte não figurativa feita por Pollock

Metodologia: Expositiva dialogada. Apreciação de filme.

PLANEJADO: Continuar a projeção do filme “Pollock”, iniciado e não concluído na aula anterior.

Recursos: projetor de DVD e DVD

Avaliação: será feita levando em conta a concentração dos alunos durante a projeção do filme, e a participação no debate, ao final.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Dirigimo-nos ao auditório novamente, eu, a prof. Mirian e os alunos, para dar continuidade à projeção do filme, iniciada na aula anterior. A turma estava completa, demonstrando o interesse dos alunos na conclusão da história narrada na fita. Antes de ligar o projetor, avisei aos alunos que ficassem atentos nas cenas de pintura mostradas, pois a próxima seria uma aula prática, isto é: os alunos teriam a oportunidade de fazer uma pintura em tela, de sua própria autoria, nos moldes feitos por Pollock. Nesse dia, precisei advertir alguns alunos que insistiam em conversar enquanto o filme era passado. Como falam através de gestos, fica difícil controlar a atenção. Ao término da fita, perguntei a eles o que tinham achado. De modo geral, todos gostaram do filme. Um dos alunos falou que era fácil fazer pintura abstrata. Eu perguntei o porque e ele disse que era só “jogar” tinta e pronto! Daí eu falei que, na verdade, a arte de Pollock era não figurativa, que é diferente de abstracionismo. Expliquei que nas próximas aulas eles aprenderiam uma técnica de abstração de uma imagem e ele ia ver que a pintura abstrata sempre parte de descritivo. Os outros alunos ficaram brincando com o colega, mas não quiseram fazer outros comentários.


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5º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata

Conteúdo: Pintura não figurativa de Pollock

Objetivos: Identificar a pintura de Pollock

Metodologia: Expositiva dialogada. Prática.

PLANEJADO:

Continuar estimulando o interesse dos alunos na arte abstracionista (cujo primeiro passo foi dado com a projeção do filme). Como atividade, entregarei a cada aluno uma tela branca, pincéis e tintas, para que possam criar uma pintura nos moldes das feitas por Pollock: uma pintura não figurativa, segundo o autor Janson. A atividade, além de vivenciar o que foi visto no filme, vai motivar as aulas dadas ao 1º ano. Como se trata de jovens, a prática é o meio mais rápido de atingir a aprendizagem.

Recursos: 12 telas brancas, pincéis, tintas, solvente e jornais velhos.

Avaliação: aferir a aprendizagem através do resultado da atividade.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Dando sequência ao filme passado nas duas aulas anteriores, levei para esta aula 12 telas em branco para que os alunos pudessem expressar as experiências aprendidas com o filme sobre Pollock. Organizei a sala cobrindo as mesas com jornais, e distribuí os materiais aos alunos. Cada pegou sua tela e deu início à atividade. Fiquei surpreso com o que vi: os alunos realmente haviam prestado atenção e compreendido o filme, pois surgiram trabalhos maravilhosos. Também pude constatar a criatividade deles nas escolhas das cores. Alguns fizeram combinações das mais diversas formas e outros preferiram trabalhar com apenas uma cor, e nem por isso as pinturas perderam sua beleza.

Figura 23: Trabalho do aluno Jeferson (Fonte: Santos, 2010)

Figura 24: Trabalho do aluno Fernando (Fonte: Santos, 2010)

Figura 25: Trabalho da aluna Nicole (Fonte: Santos, 2010)

Figura 26: Trabalho do aluno Deividi (Fonte: Santos, 2010)


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Figura 27: Trabalho de aluno Guilherme (Fonte: Santos, 2010)

Os alunos que iam acabando o trabalho puxaram conversa comigo me perguntando sobre minha cidade, Manaus, e lhes expliquei um pouco sobre ela. Como esse é um assunto prioritário e comum à comunidade surda, eles quiseram saber se lá havia muitos surdos. Respondi que sim, como aqui; a diferença é que, aqui, os surdos têm seus direitos mais preservados pelo governo, e pela própria população. Aliás, o fato de eu ter vindo estudar aqui comprova isso. Eles ficaram muito admirados. Voltando ao assunto da aula: como as telas foram pintadas com tinta plástica, permanecerão na escola até que estejam secas e possam ser levadas para casa sem danificar. Esta atividade foi concluída num só dia. Tão logo terminaram seus trabalhos, os alunos, antes de saírem, me auxiliaram na organização da sala: guardamos as tintas, limpamos e guardamos os pincéis, e jogamos no lixo os jornais velhos que forravam as mesas.


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6º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata

Conteúdo: Desenhos Recorte Abstração

Objetivos: Aprender a abstrair uma imagem.

Metodologia: Expositiva dialogada. Prática. PLANEJADO:

1. Distribuir imagens aleatórias aos alunos. 2. Solicitar que observem as imagens com atenção. 3. Escolher um detalhe da imagem e recortar (4,0 cm x 2,0 cm), destacando da figura. 4. Colar o recorte no canto superior da folha branca de desenho para ser observado com atenção e ampliado. 5. Após finalizado, voltar à imagem inicial e observar o trabalho realizado. 6. Se houver tempo, pedir aos alunos para falar sobre o que observaram no trabalho realizado.

Recursos:

- revistas coloridas, imagens de obras coloridas (xerox); - folhas de papel ofício comum; - lápis preto; lápis de cor; giz de cera; pincel atômico; - tesoura; - cola.


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Avaliação: - aferir a aprendizagem usando o critério da coerência com o que foi pedido e o que foi realizado; - observar no desenho se o aluno atingiu o nível de abstração contida na imagem; - envolvimento na tarefa proposta; - postura do aluno no decorrer do trabalho.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Neste dia cheguei antes que dos alunos na sala de aula. Assim que todos estavam presentes comecei a explicar a atividade do dia, conforme exposto no desenvolvimento do Plano de Aula. Depois que terminei a explicação me certifiquei se todos haviam entendido claramente a atividade proposta e, então, dei início aos trabalhos propriamente ditos. Distribuí entre eles revistas para que escolhessem livremente a figura de onde partiriam as abstrações. Conforme foram realizando a atividade, fui auxiliando os alunos em eventuais dúvidas que foram surgindo: a cor que poderia ser usada, uma vez que não havia lápis na cor correspondente; o tamanho do recorte; se deveriam usar toda a folha de papel ou só uma parte, etc. É notório, todavia, que nem todos os alunos possuem a mesma desenvoltura artística. Contudo, pude avaliar que houve compreensão uniforme da atividade proposta. Alguns escolheram gravuras difíceis, ou delas abstraíram partes difíceis. Nessa aula foi feita a 1ª abstração. Alguns alunos não terminaram de colorir, mas, como haverá mais um tempo de aula hoje, o trabalho não sofrerá solução de continuidade. Eis dois dos trabalhos, dos mais bem feitos:

Figura 28: 1ª Abstração feita pela aluna Carol. (Fonte: Santos, 2010)

Figura 29:1ª Abstração feita pelo aluno Deividi. (Fonte: Santos, 2010)


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7º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata

Conteúdo: Desenhos Recorte Abstração

Objetivos: Aprender a abstrair uma imagem.

Metodologia: Expositiva dialogada. Prática.

PLANEJADO:

Será dada continuidade à aula anterior, com nova abstração do desenho feito.

Recursos: - revistas coloridas, imagens de obras coloridas (xerox); - folhas de papel ofício comum; - lápis preto; lápis de cor; giz de cera; pincel atômico; - tesoura e cola.

Avaliação: - aferir a aprendizagem usando o critério da coerência com o que foi pedido e o que foi realizado; - observar no desenho se o aluno atingiu o nível de abstração contida na imagem; - envolvimento na tarefa proposta; - postura do aluno no decorrer do trabalho.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Nesse segundo tempo, dando continuidade à aula anterior, os alunos continuaram a pintar a 1ª abstração. Quando todos terminaram o trabalho, tirei foto dos desenhos e expliquei que eles novamente teriam que recortar uma “janelinha” nesse novo desenho, procedendo a uma segunda fase do processo de abstração, iniciado com a figura da revista. Eles estranharam e reclamaram que os desenhos feitos ficariam feios, sem um dos pedaços. Respondi que por isso mesmo eu havia fotografado todos, antes de serem recortados. Daí eles ficaram satisfeitos e cada um escolheu uma parte do desenho para ser ampliada, e recortou. Quando terminou o tempo de aula, os alunos já haviam terminado e entregue os trabalhos. Não houve tempo para tecer comentários a respeito desse novo desenho.

Figura 30: Trabalho pronto da aluna Carol. (Fonte: Santos, 2010)

Figura 31: Trabalho pronto do aluno Didier. (Fonte: Santos, 2010)


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8º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata Conteúdo: Desenhos Recorte Abstração Objetivos: Aprender a abstrair uma imagem.

Metodologia: Expositiva dialogada. Prática. PLANEJADO:

(continuação da aula anterior) - Dos trabalhos de abstração feitos na aula anterior, os alunos escolherão um detalhe da imagem, recortarão, e farão um novo desenho, ampliando novamente o recorte. - Com as três imagens prontas, observar que, mesmo uma tendo sido retirada da outra, formarão um desenho inteiramente diferente. Recursos: - revistas coloridas, imagens de obras coloridas (Xerox); - folhas de papel ofício comum; - lápis preto; lápis de cor; giz de cera; pincel atômico; - tesoura; - cola.


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Avaliação: - aferir a aprendizagem usando o critério da coerência com o que foi pedido e o que foi realizado; - observar pelo desenho se o aluno atingiu o nível de abstração contida na imagem; - envolvimento na tarefa proposta; - postura do aluno no decorrer do trabalho.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Avaliando os desenhos feitos nas duas aulas anteriores, decidi continuar a mesma atividade com os alunos, uma vez que agora estavam mais conscientes do resultado obtido com essa técnica de abstração. Assim sendo, eles novamente escolheram uma figura e partiram para uma nova abstração. A escolha das gravuras pelos alunos foi bem diversificada, contendo desenhos bem complexos. Dessa vez, eles não tiveram dúvidas e concluíram a primeira fase do trabalho mais rapidamente. Em seguida, passamos à 2ª fase: abstrair uma parte da primeira abstração.

Figura 32: 2ª abstração feita por aluna Nicole. (Fonte: Santos, 2010)

Figura 33: 2ª abstração feita por aluna Nicole. (Fonte: Santos, 2010)

O tempo de aula terminou antes que finaIizassem a atividade, mas, como me foi disponibilizado pela escola o próximo tempo, foi dado prosseguimento ao trabalho, que relatarei no realizado da aula 9ª.


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9º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata

Conteúdo: Desenhos Recorte Abstração

Objetivos: Aprender a abstrair uma imagem.

Metodologia: Expositiva dialogada. Prática.

PLANEJADO:

(continuação da aula anterior) - Dos trabalhos de abstração feitos na aula anterior, os alunos escolherão um detalhe da imagem, recortarão, e farão um novo desenho, ampliando novamente o recorte. - Com as três imagens prontas, observar que, mesmo uma tendo sido retirada da outra, formarão um desenho inteiramente diferente.

Recursos: - revistas coloridas, imagens de obras coloridas (Xerox); folhas de papel ofício comum; lápis preto; lápis de cor; giz de cera; pincel atômico; tesoura; cola.

Avaliação: - aferir a aprendizagem usando o critério da coerência com o que foi pedido e o que foi realizado; - observar pelo desenho se o aluno atingiu o nível de abstração contida


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na imagem; - envolvimento na tarefa proposta; - postura do aluno no decorrer do trabalho.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Essa aula foi sequência da anterior. Fiquei entusiasmado com o resultado da atividade de abstração através de “janelinhas”. Acho mesmo que, de todos os conteúdos dados, esse foi o que melhor atingiu o objetivo de fazer os alunos assimilarem o que seja a arte abstrata. Antes de findar a aula, todos entregaram seus desenhos e aproveitei o tempo restante para falar sobre o abstrato e o não figurativo.

Figura 34: Trabalho da aluna Nicole. (Fonte: Santos, 2010)

Figura 35: 1ª e 2ª abstrações feitas pela aluna Nicole. (Fonte: Santos, 2010)


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Lembrei o comentário feito por um aluno logo após termos assistido o filme sobre Pollock, de que “é fácil fazer arte abstrata: basta jogar tinta na tela e pronto”. Mostrei a eles a diferença entre o abstrato e o não figurativo: que o abstrato sempre parte de uma figura; já o não figurativo parte do imaginário, da emoção, de acordo com Jonson. Perguntei aos alunos se havia alguma dúvida sobre esse assunto e todos responderam que não. Assim sendo, encerrei a aula e, enquanto eles saiam, fiquei organizando os trabalhos e a sala.

Figura 36: Trabalho do aluno Deividi. (Fonte: Santos, 2010)

Figura 37: 1ª e 2ª abstrações feitas pelo aluno Deividi. (Fonte: Santos, 2010)


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Figura 38: Trabalho do aluno Eduardo. (Fonte: Santos, 2010)

Figura 39: 1ª e 2ª abstrações feitas pelo aluno Eduardo (Fonte: Santos, 2010)


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10º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata

Conteúdo: As cores na Copa do Mundo 2010

Objetivos: Pesquisar a diversidade de cores e símbolos das bandeiras dos países participantes da Copa do Mundo de 2010, na África.

Metodologia: Expositiva dialogada.

PLANEJADO:

Os alunos irão para a sala de informática pesquisar e montar a apresentação em Power Point sobre os países participantes das Copas do Mundo de 2010, com ênfase nos modelos e cores das bandeiras. A montagem e execução do Power Point é de responsabilidade dos alunos mas eu estarei à disposição para prestar auxílio. Ensaiar a apresentação a partir do que foi feito em Power Point. Apresentação no auditório das equipes do trabalho montado na sala de informática. Por ordem de sorteio: o Continente Europeu será representado pela equipe de cor amarelo; o Continente Africano, cor vermelha; o Continente Asiático e Oceania, cor azul; o Continente Americano, cor verde. Este trabalho é uma preparação para a aula seguinte, onde os alunos irão trabalhar as cores das bandeiras em estilo abstrato ou não figurativo.

Recursos: Projetor Multimídia


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Avaliação: Uma comissão julgadora formada por professores atribuirão pontos às apresentações dos trabalhos.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Como essa semana, no planejamento feito pela Escola Concórdia, haveria uma Gincana Cultural sobre a Copa do Mundo, com a participação de todos os alunos, decidi inserir essa gincana no meu plano como conteúdo para uma próxima aula, onde será trabalhado o não figurativo, usando as cores das bandeiras dos países participantes da Copa 2010. Os alunos foram divididos em equipes, e o 1º ano, comigo e a professora Mirian à frente, ficou sendo a equipe vermelha. As pesquisas foram feitas na internet, exclusivamente pelos alunos, uma vez que será avaliado pela comissão julgadora o desempenho e o trabalho em conjunto de cada equipe. Depois de coletado o material, a equipe vermelha preparou um power point e fez a apresentação no auditório da escola. Esse recinto é bem amplo, em forma semi-circular, com cadeiras confortáveis e em níveis diferenciados, permitindo uma completa visualização do que acontece no palco. Este, por sua vez, também é amplo e elevado. O sistema de som é perfeito, e nas laterais ficam posicionadas duas telas, que podem ser usadas, individual ou conjuntamente, para projeções, como foi feito hoje. Presentes todos os professores e alunos, cada equipe usou seu tempo para expor seu trabalho, sempre em Libras. A equipe do 1º ano (vermelha) conseguiu se diferenciar das demais por ter lembrado de incluir nos slides os sinais em Libras correspondentes aos nomes dos países participantes da Copa. Isso foi aplaudido e comentado, uma vez que os alunos são todos surdos. Tive oportunidade, ainda, de notar o perfeito entrosamento entre o corpo docente da escola, e o cuidado que têm de fazerem sinais, mesmo quando falam entre si, normalmente. Isso, para nós, surdos, é uma forma de demonstrar respeito e consideração para conosco.


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Figura 40: Mural feito pelos alunos do 1ยบ ano, em conjunto. (Fonte: Santos, 2010)

Figura 41: Imagem em Power Point feito pela equipe do 1ยบ ano (Fonte: Santos, 2010)


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11º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata

Conteúdo: As cores na Copa do Mundo 2010

Objetivos: Pesquisar a diversidade de cores e símbolos das bandeiras dos países participantes da Copa do Mundo de 2010, na África.

Metodologia: Expositiva dialogada.

PLANEJADO:

Encaminhamento: continuação da aula anterior.

Recursos: Projetor Multimídia

Avaliação: Uma comissão julgadora formada por professores atribuirão pontos às apresentações dos trabalhos.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

A aula foi uma continuidade da anterior, uma vez que a Escola Concórdia ainda estava realizando a Gincana Cultural sobre a Copa do Mundo. Quando os alunos estavam fazendo pesquisas sobre o assunto da gincana, falei para eles que imprimissem a página da internet mostrando o conjunto das bandeiras dos países participantes da Copa 2010, e trouxessem na próxima aula, pois seriam objetos de um trabalho de arte. Dessa maneira, criaria um vínculo entre a Gincana e o tema que estou desenvolvendo no Estágio III, que é a arte abstrata. Alguns ficaram bem curiosos como seria esse trabalho, mas continuaram pesquisando, e todos imprimiram a página referida, porque a atividade será individual. Após a apresentação dos PowerPoint das equipes, a comissão julgadora reuniu para decidir qual havia sido o melhor trabalho. A direção da escola convidou um juiz de futebol famoso aqui em Porto Alegre para fazer a entrega dos prêmios à equipe vencedora, que foi a amarela. Todos receberam um cartão amarelo ou vermelho com o autógrafo desse juiz de futebol, e também uma camiseta da seleção brasileira. O que mais me admirou foi o comportamento esportivo das outras equipes pois, embora cada uma torcendo por si, aceitaram e aplaudiram a escolha.


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12º ENCONTRO

Tema: A arte abstrata

Conteúdo: As cores da Copa do Mundo 2010.

Objetivos: Aprender o que é arte não figurativa.

Metodologia: - Expositiva dialogada. - Prática individual.

PLANEJADO:

Ligar o assunto pesquisado pelos alunos na Gincana Cultural sobre a Copa do Mundo (objeto das duas aulas anteriores), ao tema do meu estágio (arte abstrata), através de atividade prática, onde eles trabalharão as cores das bandeiras dos países participante da Copa para fazer desenhos não figurativos. Com essa atividade, pretendo dar ênfase ao que foi ensinado sobre a diferença entre arte abstrata e arte não figurativa.

Recursos: - papel para desenho; - lápis de cor e de cera; lápis preto; - borracha; - cola; tesoura.

Avaliação: - Aferir a compreensão dos alunos sobre a diferença entre arte abstrata e arte não figurativa, comparando essa atividade às anteriores. - Ainda seguindo as regras da gincana, será votado o melhor trabalho, levando em conta todo o conteúdo dado, e o aluno receberá um brinde.


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REALIZADO/REFLEXÃO:

Conforme havia planejado, usei as pesquisas feitas pelos alunos para a Gincana Cultura da Copa do Mundo, ocorrida na semana anterior, na Escola Concórdia, para uma aula prática usando o não figurativo, objetivando consolidar tudo o que foi ensinado sobre arte abstrata (tema do meu trabalho de estágio). Assim sendo, forneci a cada um deles uma folha de papel contendo o nome das cores de uma das bandeiras dos países participantes da Copa, e falei para fazerem um desenho, criando algo que representasse para eles aquele país, usando as cores da sua bandeira. Lembrei-os do filme que haviam assistido, e das explicações dadas sobre a arte não figurativa de Pollock. Rapidamente eles deram início à atividade, e depois cada um assinou a folha e colocou o nome do país correspondente. Na verdade, essa atividade não rendeu tanto como as outras, feitas sobre abstracionismo. Acredito que tenha faltado aos alunos a carga emocional necessária para a expressão do não figurativo. Mas acho que ficou bem patente a diferença entre os dois tipos de arte.

Figura 42: Trabalho não figurativo com as cores da bandeira de Camarões, feita pelo aluno Thilio. (Fonte: Santos, 2010)


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Figura 43: Trabalho nĂŁo figurativo com as cores da bandeira dos Estados Unidos, feita pelo aluno Didier. (Fonte: Santos, 2010)

Figura 44: Trabalho nĂŁo figurativo com as cores da bandeira da GuinĂŠ, feita pelo aluno Guilherme. (Fonte: Santos, 2010)


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CONCLUSÃO

A Escola em que estagiei foi a Concórdia, que é exclusiva para alunos surdos. A minha identificação com eles me direcionou a dar ênfase às aulas práticas, como meio mais eficaz de avaliar a aprendizagem da parte teórica dada, que foi sobre abstracionismo e os movimentos que o antecederam: expressionismo, cubismo e fauvismo. Além disso, tivemos vários encontros em que abordamos a arte não figurativa, a qual, a meu ver, é essencial para se entender a arte abstrata, propriamente dita. Assim sendo, investi em releituras de obras abstratas e abstrações de imagens usando métodos de cores, linhas e “janelinhas”, junto aos alunos. Achei importante, também, estimular a classe ao desenho livre, tanto abstrato quanto não figurativo. No primeiro encontro, em que ambas as partes (professor e alunos) se acham cheios de expectativas sobre o que vão encontrar pela frente, tanto em matéria de aprendizagem quanto de empatia um com o outro, decidi apresentar um Power Point sobre o assunto a ser dado durante o Estágio, feito de forma bem versátil e alegre, mostrando um breve histórico sobre o abstracionismo, abordando os movimentos que a esse se relacionam, como o expressionismo, cubismo e fauvismo, Meu esforço foi recompensado com o interesse demonstrado pelos alunos, que se mantiveram atentos durante toda a apresentação dos slides, comentando entre si as obras apresentadas e inclusive pedindo para repassar algumas imagens.


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Vale dizer, ainda, que esse primeiro encontro foi assistido pela professora Jurema Trindade, de Estágio II, e foi usado para avaliar minha atuação como estagiário. Percebi, logo nos primeiros encontros, que alguns alunos tinham mais habilidade para o desenho e a pintura, do que outros. Aqueles respondiam aos exercícios com maior entusiasmo, e esses outros ficavam remanchando, e geralmente não terminavam a atividade a tempo. No momento, não dei maior importância a esse fato, mas agora, avaliando minha postura pedagógica, vejo que deveria ter buscado outros meios de estimulálos como, por exemplo, apresentar a eles obras de artistas populares. Ao me limitar a Kandinsky, Mondrian, Picasso, Matisse e Pollock, por exemplo, fechei uma porta importante para a descontração e a improvisação que existe na obra de artistas como Volpi e outros. Caso tivesse trabalhado as obras de artistas mais populares e modernos com os alunos menos hábeis, talvez eles se desinibissem e se preocupassem mais com a capacidade de criação do que com a técnica. Devo esclarecer que incluí o nome de Picasso nesse trabalho, mesmo não sendo um artista abstrato, por causa de uma única obra sua, na qual, em 10 desenhos, mostra como abstrair a figura de um touro, através de linhas. Como é de fácil compreensão, usei-o como exemplo para atividade com os alunos. Outra parte importante observada durante o estágio foi quanto à questão da arte de Pollock. Devo confessar que iniciei meu estágio na convicção que a arte de Pollock era exemplo de abstracionismo, mas, ao apresentar os planos de aulas para a professora Jurema, esta me esclareceu que a arte de Pollock é, na verdade, não figurativa. Consultando algumas obras de autores conhecidos, pude constatar que há uma ambigüidade na definição da arte de Pollock. Para Elger, por exemplo, a arte de Pollock primeiro é descrita como Action Painting, “que representa a expressão artística dinâmica, empregada de forma espontânea e com o mínimo controle possível” (ELGER, 2004, p. 20/21). Mais adiante, ao se referir a pintores americanos que fizeram pintura abstrata, diz que “acima de todos Jackson Pollock, desenvolveram o seu trabalho abstrato a partir do Surrealismo e da “écriture automatique”. Nessa mesma página, coloca Pollock como um dos esplêndidos


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artistas dignos de nota entre os pintores abstratos da década de 1950 (ELGER, 2004, p. 24). Por sua vez, Gooding particulariza Jackson Pollock como uma das principais figuras do expressionismo abstrato (GOODING, 2004, p. 68).

Mesmo

assim, continuei na intenção de projetar para os alunos o filme “POLLOCK”, no terceiro e quarto encontros, usando-o como estratégia para uma melhor diferenciação entre a arte abstrata e a action painting, No encontro seguinte, obtive um bom retorno dessas explicações nas pinturas em tela feitas pelos alunos, de arte não figurativa. Um dos melhores exemplos dessa atividade foram as pinturas feitas com as cores das bandeiras dos países participantes da Copa do Mundo. Pude observar que nesse tipo de arte, em que são usados apenas o sentimento e a emoção, os alunos demonstraram aptidões naturais

em

nível

homogêneo, isto é, os trabalhos não figurativos mostraram-se todos num mesmo nível de qualidade, diverso do que aconteceu quando a atividade proposta foi sobre abstração, quando alguns alunos sobressaíram mais que outros. Nos trabalhos que envolveram o abstracionismo, o assunto em que o interesse dos alunos se mostrou mais evidente foi o uso da técnica de “janelinhas” para abstrair uma figura descritiva. Esse processo se inicia com o recorte de parte de um desenho, de tamanho mais ou menos 2 X 2. Depois é feita uma ampliação do desenho constante nesse recorte, num tamanho normal de papel. Essa é a primeira abstração. Para uma segunda abstração, o procedimento será repetido, só que a partir da primeira abstração, e não da figura original. Essa técnica possibilita várias abstrações do desenho original, a ponto de se chegar apenas a uma tela sem qualquer linha, apenas com uma cor. Na primeira abordagem sobre essa técnica, não me saí muito bem nas explicações. Alguns alunos não entenderam e, ao invés de recortarem uma parte da figura aleatoriamente, escolheram um detalhe específico e, ao ampliarem esse detalhe, criaram, na verdade, outra figura figurativa, e não uma abstração, que era o meu objetivo. Na aula seguinte, eu mesmo preparei um trabalho usando o método de recortes e apresentei-o aos alunos, explicando a técnica, ao mesmo tempo. Percebi que a compreensão foi imediata, e eles se propuseram a continuar os trabalhos iniciados na aula anterior.


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Fizeram 3 abstrações e, depois de prontas, puderam compará-las com a figura original, ficando admirados com a diferença entre essa e o último desenho feito, percebendo que uma obra, se abstraída várias vezes, atinge um outro significado, inteiramente diverso daquele inicial. Os alunos ficaram muito entusiasmados com o resultado e mostravam seus trabalhos uns aos outros, comparando-os. Pediram para continuar fazendo uma quarta e quinta abstrações, mas eu lhes expliquei que a seqüência desse método resultaria numa tela vazia, com uma cor apenas. Na verdade, deveria ter permitido que continuassem nesse processo, para que eles tirassem suas próprias conclusões sobre o resultado, e aproveitado para discutir com os alunos o significado das imagens abstraídas,

que se tornam

inteiramente diversas da original. Numa outra situação, dispondo de maior tempo que o do estágio, poderia usar, além de desenhos e pinturas, a colagem, o gesso e a argila nas minhas aulas práticas. Essas foram as conclusões a que cheguei, após minha primeira experiência à frente de uma sala de aula. Tive, ainda, que lidar com imprevistos nesse meu estágio, porque, no planejamento da Escola Concórdia, havia uma semana de gincana sobre a Copa do Mundo, e me vi obrigado a adaptar o assunto das aulas ao assunto da gincana. Como os alunos teriam que pesquisar sobre os países participantes da Copa 2010, usei a atividade proposta pela escola para realizar atividades pertinentes ao meu estágio. Assim, objetivei usar as cores das bandeiras para que os alunos fizessem uma pintura, como atividade prática, na próxima aula . Senti-me pouco aproveitado nessas duas aulas, porque tive que sair do programa que eu havia feito para minhas aulas para me submeter às normas da escola, no caso, participar da gincana cujo assunto era inteiramente diverso do que eu estava ensinando. Como atividade prática, os alunos fizeram pinturas não figurativas usando as cores das bandeiras dos países participantes da “Copa do Mundo. No entanto, perdi uma excelente oportunidade de usar, para essa atividade, as pinturas de Volpi, famoso por suas “bandeirinhas”.


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A gincana também me impediu de cumprir meu propósito de terminar o estágio com uma exposição dos trabalhos feitos pelos alunos, nas aulas práticas, devido a proximidade do período de provas e das férias de julho. Mesmo assim, despedi-me dos alunos agradecendo a atenção que me dedicaram, e aproveitei para fazer uma retrospectiva de todo o assunto que havia abordado durante aquelas semanas: abstracionismo e sua relação com o objeto propriamente dito; o action painting (não figurativo), fruto da mente e dos sentimentos; as técnicas com o uso de linhas, cores e janelinhas. Com essa atividade, consegui fechar o elo de ligação da proposta de estágio com o conteúdo das aulas, ensinando sobre a arte abstrata propriamente dita, de Mondrian, Kandinsky e outros, e a action painting de Pollock, para dar um melhor diferencial. Continuando a auto avaliação, devo confessar que, em alguns encontros, senti grande dificuldade em manter a ordem na sala de aula. Alunos surdos ficam, a todo momento, se comunicando através de sinais, e é quase impossível para mim, que também sou surdo, controlar esse meio de comunicação. Precisei, algumas vezes, recorrer à ajuda da professora titular. Concluí, também, que o pouco tempo de convivência com os alunos (somente 12 encontros) impossibilita que se tenha um maior conhecimento sobre os interesses pessoais, aptidões e sensibilidade de cada um deles, que seria de grande ajuda ao professor na consecução dos seus objetivos. Apesar de tudo, a minha interação com a turma foi bastante satisfatória, creio eu, para ambas as partes. Digo isso pela reação dos alunos quando do encerramento das minhas aulas, assim como pelo retorno obtido

através das

atividades a eles propostas. Concluo ter, de um modo geral, atingido o objetivo proposto, não só de ensino como também na minha postura como professor, embora reconhecendo que tive, a meu favor, o fato de lidar com alunos que compartilhavam a minha realidade, a da surdez, gerando uma pré-disposição a um bom entrosamento, de ambas as partes.


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Bípede com elementos geométricos, Samson Flexor (1970). Disponível em: <http://www.escritoriodearte.com/detalharQuadro.asp?quadro=3901> Composição A, Piet Mondrian, (1920). Disponível em: <http://www.zazzle.com.br/mondrian_composicao_uma_grande_copia_do_cartaz_po ster-228075037534065614> Composição nº 2 – Composição em Linha e Cor, Pablo Picasso (1913). Disponível em: <http://designaline.wordpress.com/page/2/> Detalhe da pintura nº 1, Pollock (1948). Disponível em: <http://kaleidoskopein.wordpress.com/2010/04/22/23/pollock-number-one-1948/> Filme Pollock. Direção: Ed Harris. Atores: Ed Harris, Marcia Gay Harden, Amy Madigan, Jennifer Connelly. Sony Pictures Classics, 2000. DVD (117 min). (Disponível em: <http://www.pluhma.com/locadora/acervo.cgi?x=0037349> Geométrico, Arcangelo Ianelli (1979). <http://www.espacoarte.com.br/obras/1738-geometrico>

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Jardim Vermelho, Antonio Bandeira (1953). Disponível <http://www.bolsadearte.com/cotacoes/antonio_bandeira3.htm>

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Large Nude, Georges Braque (1908). Disponível em: <http://blogs.artinfo.com/modernartnotes/2010/11/the-response-to-matisses-bluenude/> Les Demoiselles d’Avignon, Picasso <http://www.myspace.com/somecallmemook> Mastro de São Pedro, Volpi <http://www.pr.gov.br/mon/exposicoes/volpi.htm>

(1907). (1958).

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Mulher com Chapéu, Matisse (1905). Disponível em: <http://arsducaest.blogspot.com/2009/09/empoto-turma-906-women-in-art.html> O grito, Munch (1893). Disponível <http://giramundogiraeugirassol.blogspot.com/2007_05_01_archive.html>

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O Touro, Roy Lichtenstein (1923). <http://sejaseviu.blogspot.com/2010_02_01_archive.html>

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APÊNDICE


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OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS

Observações 1 e 2 Turma: 1ª ano do Ensino Médio Data: 16/09/2009

Observei que ao chegarem à aula os alunos entram na sala com bastante calma, deixam suas mochilas no armário próprio para elas, lavam suas mãos com sabonete e álcool, depois sentam-se nos seus lugares. A turma possui um total de dezesseis alunos, entre 18 e 23 anos de idade. Todos usam o uniforme (que é obrigatório) na escola. Neste dia participaram quatorze alunos; dois faltaram. A sala onde acontecem as aulas do 1º ano do ensino médio é a mesma das demais turmas. Sendo assim ela se dispõe da mesma maneira. É grande, arejada, iluminada, tem ventiladores de teto, os móveis são de madeira e novos, Há três mesas grandes e cadeiras em bom estado. A sala possui também um quadro branco com pincéis, um armário onde são guardados os materiais e prateleiras para os trabalhos. Há uma estante onde ficam as mochilas, livros de arte e os trabalhos dos alunos. Percebi também que nas paredes têm quadros que foram doados pelos alunos para que haja na sala um acevo de artes. Vi ainda uma parede com painéis que os alunos do ensino médio pintam, a cada dois anos. A professora é a mesma da turma da 5ª série, sendo assim, a aula também é em LIBRAS. A proposta feita pela professora durante esta aula foi um trabalho realizado em decoupage. Os alunos deveriam pintar uma caixa de maneira livre usando sua criatividade. Os materiais utilizados para esta atividade foram: lápis preto, guache, pincel e a caixinha de madeira. Os alunos escolheram vários motivos, entre eles, flores, o rosto de pessoas, para a decoração das caixas. Esta atividade foi concluída no mesmo dia. Após o término, cada aluno pode levar sua caixinha para casa. Ao encerrar a aula, os alunos organizam a sala, as cadeiras, recolhem os papéis do chão e colocam no lixo. Então eles saem para o intervalo de maneira tranquila, onde se dirigem até o refeitório para lanchar.


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Observações 3 e 4 Turma: 1ª ano do Ensino Médio Data: 23/09/2009

Da mesma forma os alunos entram na sala todos os dias, são muito calmos, deixam suas mochilas no armário já determinado, lavam suas mãos com sabonete e álcool, depois sentam-se nos seus lugares. Neste dia todos os alunos participaram da aula, não houve faltas. A atividade proposta pela professora para este dia foi algo bem dinâmico. Os alunos tiveram que se organizar em grupos com quatro componentes e escolher o desenho para o projeto de um mural. Este mural era feito de madeira e cada grupo pode pintá-lo conforme a escolha do grupo. Esta atividade os ajudou a desenvolver um trabalho em equipe e estimular a criatividade dos alunos. Para esta atividade foram utilizados giz pastel para o fazer o desenho, pincéis e tinta guache. Durante esta atividade houve muita interação e troca entre os alunos, um ajudando o outro para que o trabalho fosse concluído. Os desenhos realizados pelos alunos foram muito criativos, entre eles, borboletas, motivos dos desenhos animados japoneses, pinturas abstratas, etc. Os trabalhos ficaram na sala para decoração desta. E assim se encerraram as atividades deste dia. Então ao término, os alunos organizaram a sala, as cadeiras, recolheram os papéis do chão e colocam no lixo. E saíram para o intervalo de maneira tranquila, onde se dirigem até o refeitório para lanchar.

Observações 5 e 6 Turma: 1ª ano do Ensino Médio Data: 07/10/2009

Hoje não foi diferente dos outros dias, os alunos entram bem calmos, deixam suas mochilas no armário já determinado, lavam suas mãos com sabonete e álcool, depois sentam-se nos seus lugares. Dos dezesseis alunos, três não compareceram à aula. Quando cheguei na turma para observação, a aula de Matemática ainda não havia acabado, eles estavam realizando uma prova, por isso a aula de Artes começou um pouco atrasada. Neste dia a professora avaliou e organizou as notas


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dos trabalhos feitos pelos alunos. Logo após apresentou um filme cujo título era “Renascimento Michelângelo”. Percebi que por vezes os alunos se dispersavam entre conversas, não dando atenção ao filme. A professora continuou explicando o filme e comentando sobre o conteúdo e os alunos puderam tirar suas dúvidas e interagir com a turma. Durante as aulas, percebi que a professora quase não utiliza a lousa, propondo atividades mais visuais e práticas para os alunos. Por fim, os alunos organizaram a sala, as cadeiras, recolheram os papéis do chão e colocam no lixo. E saíram para o intervalo de maneira tranquila, onde se dirigem até o refeitório para lanchar.

As observações foram feitas na UNIDADE DE ENSINO ESPECIAL CONCÓRDIA, endereço Av. Dr. João Simplício Aves de Carvalho, 600, em Porto Alegre. Essa escola é mantida pela ULBRA e atende apenas alunos surdos, proporcionando ensino desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Os dias das observações foram: 16/09, 23/09 e 07/10 no período da manhã, na turma do 1º ano do Ensino Médio. A disciplina em observação foi Artes, da cátedra da professora Mirian Bulsing.


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