UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Priscila Beatriz Schuster
Arte e Identidade no Espaço de Ensino
Canoas, 19 dezembro de 2011. 1
Priscila Beatriz Schuster
Arte e Identidade no Espaço de Ensino
Trabalho de Curso apresentado como prérequisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciada em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Me. Ana Lúcia Beck, Dr. Celso Vitelli e Me. José Giuliano.
Canoas, 19 dezembro de 2011.
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Dedico este trabalho a meus pais Ilário Henrique Schuster e Marguit Deufel Schuster, que estiveram sempre ao meu lado e que me apoiaram durante todo o processo sem medir esforços para que eu chegasse até aqui. 3
Agradeço aos professores Ana Lúcia Beck, Celso Vitelli e José “Nico” Giuliano, pelo dedicado acompanhamento durante os Estágios, e aos professores Jurema Röers Trindade e Renato Garcia dos Santos por todo apoio e pelos momentos vividos durante cada disciplina. Agradeço à equipe diretiva do Colégio Estadual Monte Alverne pela acolhida e em especial à professora Márcia Dreissig pelo apoio prestado durante a prática de ensino. Agradeço também aos alunos do 3º ano A pelos momentos vividos e pelo carinho com que me receberam. À professora Márcia Vogt pelos favores prestados. Muito obrigado a todas as pessoas que de alguma forma participaram desta conquista, especialmente à minha família e aos meus queridos colegas com quem sempre pude contar. Finalmente, agradeço a Deus pela realização deste sonho. 4
“Saber não basta; precisamos aplicar o conhecimento. Desejar não basta; precisamos realizar.” Leonardo da Vinci 5
RESUMO O Trabalho de Curso “Arte e Identidade no Espaço de Ensino” foi desenvolvido durante o processo vivido nos Estágios Curriculares do curso de Licenciatura em Artes Visuais. Dentro deste processo foi elaborado um projeto de ensino, baseado em uma pesquisa sobre o tema identidade dentro da arte. Optei em trabalhar o conceito de Identidade, que é o conjunto de características próprias e exclusivas de algo ou alguém, o que nos diferencia das outras pessoas, é o que nos torna únicos em meio a um universo de características, culturas, gostos e crenças. Identidade é, sobretudo, a individualidade de cada ser humano que, junto com outros, formam uma sociedade, um grupo, uma cultura. Para desenvolver os conceitos envolvidos em tal tema, tomei por base as palavras de Stuart Hall e Kathrin Woodward, organizadas por Tomas Tadeu da Silva no livro “Identidade e Diferença – A Perspectiva dos Estudos Culturais”. Ainda, para desenvolver e aprofundar a pesquisa, pensando na arte relacionada à identidade, pesquisei vários artistas e sua produção de autorretratos, tendo como apoio os livros “501 Grandes Artistas”, organizado por Stefhen Farthing, e “Espelho de Artista”, da autora Kátia Canton, que traz um breve histórico da autorrepresentação na história da arte. A pesquisa realizada gerou um projeto de ensino intitulado ”Arte e Identidade”, que foi aplicado ao longo de 12 semanas, entre 15 de março e 07 de junho de 2011, todas as terçasfeiras à tarde, no Colégio Estadual Monte Alverne, distrito de Santa Cruz do Sul, na turma de 3º ano do Ensino Médio. O projeto justifica-se por permitir aos alunos o desenvolvimento da auto-expressão, do autoconhecimento, da criação e da crítica, assim como permite a percepção e valorização da arte e cultura locais. Durante a prática de ensino, procurou-se dar ênfase a trabalhos que desenvolvessem reflexões sobre temas relacionados à percepção e o desenvolvimento da identidade no contexto da cultura local, trabalhando inclusive com dois artistas locais, Antelmo Stoelbenn e Regina Simonis. No desenvolvimento do projeto objetivou-se aproximar a disciplina de Arte e as atividades desenvolvidas dos maiores interessados que são os alunos, levando-os a se identificarem e se relacionarem de alguma forma com a arte, auxiliando-os no descobrimento e desenvolvimento de sua subjetividade. Como apoio e guia durante a prática de ensino e para realizar as análises que constam neste TC aprendi muito com a autora Rosa Iavelberg através dos livros “Para Gostar de Aprender Arte” e “Ensino de Arte”. Trabalhar identidade com adolescentes ou préadolescentes foi muito interessante, pois a busca por uma identidade própria é muito evidente no Ensino Médio. Enfim, neste TC estão relatados os fatos mais importantes e os momentos mais marcantes ocorridos em sala de aula, e os resultados de um processo vivido por mim e pelos alunos, em que reflito sobre a interferência e colaboração do trabalho com identidade na formação de cada educando, assim como na formação do meu “eu”, da minha identidade, do meu ser como estudante, como professora e como eterna apaixonada por arte.
Palavras-chave: Arte. Autoconhecimento. Identidade.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 09 1. CONHECENDO O ESPAÇO DE ENSINO ............................................................ 17 1.1. DADOS GERAIS DA ESCOLA........................................................................... 18 1.1.1. A localização ................................................................................................... 18 1.1.2. O marco operativo ........................................................................................... 19 1.1.3. A filosofia da escola ........................................................................................ 20 1.1.4. As relações de poder....................................................................................... 20 1.1.5. Avaliação ......................................................................................................... 21 1.1.5.1. Recuperação ................................................................................................ 21 1.1.6. Conselhos de Classe....................................................................................... 22 1.1.7. Administração Escolar ..................................................................................... 22 1.2. OBERVAÇÕES SILENCIOSAS ......................................................................... 23 1.2.1. Primeira observação silenciosa ....................................................................... 23 1.2.2. Segunda observação silenciosa ...................................................................... 25 1.2.3. Terceira observação silenciosa ....................................................................... 28 1.2.4. Quarta observação silenciosa ......................................................................... 30 1.2.5. Quinta observação silenciosa .......................................................................... 33 1.2.6. Sexta observação silenciosa ........................................................................... 35 1.3. ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS............................................... 37 1.4. ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELA PROFESSORA ............ 41 1.5. ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELOS ALUNOS .................... 43 1.6. MOTIVOS DA DEFINIÇÃO DO TEMA DE PESQUISA ...................................... 45 2. ARTE E IDENTIDADE. .......................................................................................... 46 2.1. AFINAL, O QUE É IDENTIDADE ..................................................................... 47 2.2. E PERSONALIDADE ....................................................................................... 48 2.3. UMA FORMA DE AUTOCONHECIMENTO: O AUTORRETRATO ................... 49 2.3.1. Um pouco de história ... .................................................................................. 51 2.4. FRIDA KAHLO: UMA ARTISTA AUTOBIOGRÁFICA ....................................... 54 2.5. A RELAÇÃO ENTRE ARTE E CULTURA ......................................................... 56 2.6. MAIS ALGUNS CONCEITOS RELEVANTES ................................................... 57 2.6.1. Identidade Cultural .......................................................................................... 57 2.7. IDENTIDADE REGIONAL E IDENTIDADE NACIONAL ................................... 60 2.8. DOIS ARTISTAS LOCAIS ................................................................................. 61 2.8.1. Antelmo Stoelbenn .......................................................................................... 61 2.8.2. Regina Simonis ............................................................................................... 64 3. UM PROJETO DE ENSINO “ARTE E IDENTIDADE NO ESPAÇO DE ENSINO” 67 3.1. DADOS GERAIS DA ESCOLA E DA TURMA ................................................... 68 3.2. DADOS GERAIS DO PROJETO DE ENSINO .................................................. 68 3.2.1. Tema ............................................................................................................... 68 3.2.2. Justificativa ...................................................................................................... 69 3.2.3. Objetivo Geral ................................................................................................. 70 3.2.4. Objetivos específicos....................................................................................... 70 7
3.3. PRÁTICA DE ENSINO ....................................................................................... 72 3.3.1. Primeiro Encontro ............................................................................................ 72 3.3.2. Segundo Encontro ........................................................................................... 78 3.3.3. Terceiro Encontro ............................................................................................ 84 3.3.4. Quarto Encontro .............................................................................................. 91 3.3.5. Quinto Encontro ............................................................................................ 101 3.3.6. Sexto Encontro .............................................................................................. 106 3.3.7. Sétimo Encontro ............................................................................................ 113 3.3.8. Oitavo Encontro ............................................................................................. 118 3.3.9. Nono Encontro .............................................................................................. 122 3.3.10. Décimo Encontro ......................................................................................... 130 3.3.11. Décimo primeiro Encontro ........................................................................... 136 3.3.12. Décimo segundo Encontro .......................................................................... 141 3.4. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO .................................... 148 CONCLUSÃO.......................................................................................................... 149 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 159 APÊNDICES ........................................................................................................... 163 APÊNDICE 1: AVALIAÇÃO DE ALUNO ESTAGIÁRIO REALIZADA PELA PROF. MÁRCIA DREISSIG ................................................................................................ 164 APÊNDICE 2: QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELA DIRETORA PROFESSORA SÍLVIA BETRIS BENDER WERMUTH .................................................................... 165 APÊNDICE 3: QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELA PROFESSORA MÁRCIA DREISSIG ............................................................................................................... 167 APÊNDICE 4: QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS PELOS ALUNOS DO 3º ANO DO COLÉGIO ESTADUAL MONTE ALVERNE ............................................................ 169
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INTRODUÇÃO A cultura molda a identidade ao dar sentido à experiência e ao tornar possível optar, entre as várias identidades possíveis, por um modo específico de subjetividade. Kathrin Woodward
C
ultura e identidade estão relacionadas de modo que uma interfere na
formação da outra. Assim também a arte, por fazer parte da cultura, está relacionada à identidade. A subjetividade é o que nos permite ser o que somos, é o que nos molda e define nossos gostos, nossas opções, nosso ser, nosso “eu”. Este Trabalho de Curso (TC) é resultado do processo vivido nos Estágios Curriculares do curso de Licenciatura em Artes Visuais. Este processo iniciou-se no segundo semestre do ano de 2010, quando me inseri na escola para observar as aulas de Arte de uma turma do Ensino Fundamental e outra de Ensino Médio no período de 11 de agosto a 22 de setembro. A partir das observações silenciosas, desenvolvi um projeto para ser aplicado em ambas as turmas. A prática de ensino ocorreu no primeiro semestre de 2011, semanalmente às terças-feiras, no turno da tarde, entre os dias 15 de março e 07 de junho. O projeto buscou desenvolver com os alunos reflexões sobre temas como identidade e cultura. Por meio de atividades diversificadas foram proporcionados aos alunos momentos em que puderam expressar-se, mostrando principalmente sua individualidade por meio da arte e também trabalhando a sua subjetividade. Desta forma, o projeto “Arte: Identidade e Cultura Local” justifica-se por desenvolver nos alunos a auto-expressão, a criação e a crítica, assim como a percepção e valorização da arte e cultura locais, trazendo novas informações e conhecimentos sobre algo que faz parte do cotidiano deles, mas não é percebido como cultura e/ou arte. O projeto trouxe aos alunos um novo olhar sobre sua cidade e seu meio, destacando a arte presente nestes. O projeto “Arte e Identidade no Espaço de Ensino” foi baseado em uma pesquisa que buscou informações que servissem como ponto de partida para a elaboração dos trabalhos realizados. O processo de pesquisa iniciou-se no Estágio 1 quando, após realizar as observações silenciosas e analisá-las criteriosamente, optei por um tema central para pesquisar: Identidade. Em virtude do que foi concluído a partir das análises, o projeto objetivou permitir que os alunos se identificassem com 9
a disciplina e os conteúdos estudados, relacionando-se e identificando-se com ela, e, por meio da arte, trabalhando questões identitárias de cada educando sem esquecer da subjetividade de cada um. Por interessar-me pelo tema Identidade, a realização da pesquisa foi muito prazerosa, porém, percebendo a diversidade de rumos que um projeto relacionado à identidade pode tomar, devido à amplitude do tema, decidi optar por um caminho específico que se relacionasse ao tema central e aos objetivos pensados, e então pensei em trabalhar também com cultura local, assunto pelo qual me interesso muito. A partir da escolha do tema, o projeto começou a ser planejado, aula por aula, com muita pesquisa. Elaborei dois projetos com trabalhos diferentes sobre o mesmo tema, um para o Ensino Fundamental e outro para o Ensino Médio, observando atentamente a escolha das atividades a serem desenvolvidas em cada nível. Para a 7ª série do Ensino Fundamental, foram planejadas atividades mais lúdicas e mais diversificadas com a utilização de variados materiais e trabalhos em grupo ou dupla baseados nos aspectos da cultura local. Já para o 3º ano do Ensino Médio, as atividades foram em sua maioria individuais, foram realizados muitos desenhos e os trabalhos necessitavam maiores reflexões sobre aspectos subjetivos e identitários. Após as etapas de pesquisa e elaboração do projeto, chegou o momento de aplicá-lo com as turmas. O projeto “Arte e Identidade no Espaço de Ensino” foi desenvolvido no Colégio Estadual Monte Alverne com os trinta e quatro alunos da turma de 3º ano do Ensino Médio, e com os vinte e cinco alunos da turma de 7ª série do Ensino Fundamental, ambas no turno da tarde. A escola está situada no interior do município de Santa Cruz do Sul. Seus alunos, em sua maioria, moram em zona rural, distante da cidade, e cultivam características muito particulares da região, o que favoreceu o trabalho com a cultura local. Escolher uma das turmas em que o projeto foi desenvolvido para abordar neste Trabalho de Curso foi muito difícil, porque senti que os objetivos foram alcançados em ambas. Havia também o fato de que meu relacionamento com os alunos foi bom nas duas turmas e os resultados obtidos foram satisfatórios nos dois níveis. Apesar destas dificuldades, os critérios para a escolha de uma turma foram muito simples. Procurei refletir sobre ambas as práticas, pensando em qual delas eu havia oportunizado aos alunos maior aproximação com arte local e em qual delas o trabalho com identidade foi desenvolvido através de atividades que considerei mais 10
adequadas. Desta forma, optei por incluir no TC a prática realizada na turma de Ensino Médio. Trabalhar identidade com adolescentes ou pré-adolescentes é muito interessante. Ao mesmo tempo em que cada um busca sua maneira de se diferenciar de todos os outros, todos buscam características que os incluam em determinados grupos, e isso é muito evidente no ambiente escolar, principalmente nas turmas de Ensino Médio. Este foi um dos motivos que me fizeram optar pela prática realizada no 3º ano. Os alunos foram muito acolhedores e receberam com gosto as propostas de cada aula, e foi nesta turma que considero ter obtido os resultados mais significativos no que diz respeito à concretização daquilo que foi planejado para o projeto, como o trabalho com identidade e a percepção da cultura local. O assunto identidade interessou muito os alunos que perceberam a oportunidade de mostrar em seus trabalhos sua subjetividade, aquilo que eles são e o que eles gostam. Inicialmente, no Estágio 1, propus a mim mesma alcançar alguns objetivos como arte educadora na oportunidade de experimentar as ideias que eu tinha daquilo que seria melhor para a arte educação, e aproximar a disciplina de Arte e as atividades desenvolvidas dos maiores interessados, que são os alunos, levando-os a se identificarem e se relacionarem de alguma forma com a arte, auxiliando-os no descobrimento e desenvolvimento de sua subjetividade. Durante as observações silenciosas realizadas na escola, percebi que a arte estudada pelos educandos estava longe de ser algo que se aproximasse da realidade deles. Não devo deixar de afirmar aqui que as aulas propostas pela professora titular Márcia Dreissig eram muito interessantes e apresentavam conteúdos específicos da área, que desenvolviam diversas habilidades dos alunos, no entanto, não era o que eu buscava como professora de Arte. Ao perceber na turma a carência de uma identificação maior com aquilo que estava sendo estudado, decidi que desenvolveria um projeto que tivesse como tema e propósitos justamente a aproximação dos alunos à arte vista na disciplina, por meio de trabalhos com temas como identidade, identidade regional, cultura local e arte local. Para alcançar os objetivos propostos, ainda no Estágio 1, diversas atividades foram pensadas, sendo que uma em especial não poderia faltar: o autorretrato. Por meio deste e de outros trabalhos desenvolvidos durante o projeto, os alunos puderam desenvolver o autoconhecimento. Para desenvolver este 11
trabalho, pesquisei sobre vários artistas e sua produção de autorretratos, tendo como apoio os livros “501 Grandes Artistas”, organizado por Stefhen Farthing, e “Espelho de Artista”, de Kátia Canton, que traz um breve histórico da autorrepresentação na história da arte. Procurei ainda pesquisar sobre uma artista cuja obra é autobiográfica, Frida Kahlo. Obras desta artista foram visualizadas no primeiro encontro e a obra “As duas Fridas” foi trabalhada em uma atividade específica que desenvolveu os temas identidade e cultura local, uma vez que Frida, além de colocar em suas obras seus sentimentos e aspectos muito pessoais, expressava “seu fascínio pela identidade e pelas máscaras” e “manifestações visuais do orgulho nacional” (FARTHING, 2009, p.417). Além da pesquisa sobre artistas que fizeram autorretratos, procurei incluir no projeto artistas locais e, desta forma, incluí Regina Simonis, artista santacruzense que tem na cidade uma Casa de Artes em sua memória, e Antelmo Stoelbenn, santa-cruzense que trabalha com fotografias que registram e caracterizam a cultura local. Realizando estas pesquisas, decidi que seria muito significativo e importante para os alunos, que tivessem contato com algum artista. Seria interessante que os alunos tivessem a oportunidade de conversar com alguém que faz arte em seu município, para tirar dúvidas e sanar suas curiosidades. Antelmo foi o artista convidado que prontamente atendeu ao convite e proporcionou aos alunos um momento muito construtivo de conversa e visualização de seu trabalho com fotografia. Como o termo “identidade” foi o ponto de partida da minha pesquisa, Stuart Hall, Kathrin Woodward e Tomas Tadeu da Silva, através do livro “Identidade e Diferença – A perspectiva dos Estudos Culturais” contribuíram de forma significativa para a compreensão do tema, abordando assuntos relacionados à identidade e os aspectos culturais que constituem a sociedade. Identidade é o conjunto de características próprias e exclusivas de algo ou alguém. No caso do projeto elaborado, estudaram-se os conceitos de identidade e personalidade, tendo em vista o âmbito pessoal de cada indivíduo, tanto em seus aspectos físicos quanto psicológicos. Identidade é o que nos diferencia das outras pessoas, é o que nos torna únicos em meio a um universo de características, culturas, gostos e crenças. Identidade é, sobretudo, a individualidade de cada ser humano que, junto com outros, formam uma sociedade, um grupo, uma cultura.
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Desta forma, passei a pensar em arte e identidade no contexto da cultura local.
Seguindo
este
pensamento,
procurei
conceituar
cultura
buscando
embasamento no livro “O que é Cultura” do autor José Luiz dos Santos. Nesta busca, pude perceber a cultura como “preocupação contemporânea bem viva nos tempos atuais” (SANTOS, 1994, p.7). A cultura leva sempre em consideração a multiplicidade da existência, ou seja, as múltiplas identidades e suas relações, “diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos” (SANTOS, 1994, p.8). Pode-se, então, falar também em identidade cultural, abordando as relações que indivíduos ou grupos de indivíduos,
de
identidades diferentes estabelecem
entre
si por meio
de
características em comum como língua, religião, trabalho, esportes, festas e/ou outros. Essa identidade cultural pode ser muito evidente em grupos de adolescentes, por exemplo, que se unem através de uma ou mais características em comum, ou em grupos maiores, aí formados por diversos indivíduos pertencentes a um mesmo local que tem características próprias. Na percepção individual ou coletiva de identidade, o meio influencia os seres, uma vez que o mundo é invadido a todo o momento por modismos, inovações e características temporárias. De certa forma, a arte também caracteriza a cultura de uma localidade, município, estado ou país. Fazendo parte da identidade de cada local a cultura torna-se uma das principais características do homem. Realizando a pesquisa em Artes Visuais, mais especificamente sobre cultura local, procurei informações em sites como o da Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul, onde obtive informações sobre cultura, turismo e arte do município. Ressalto aqui outra atividade realizada por mim durante o processo de pesquisa, quando visitei vários lugares da região procurando aspectos relevantes que pudessem ser abordados no projeto e registrando tudo através de fotografias que foram utilizadas na apresentação de slides de uma das aulas. Foi um meio que encontrei para mim, como estagiária, mas também com indivíduo pertencente a uma sociedade, perceber a realidade que me cerca, destacar o que mais me chama a atenção e conhecer melhor o ambiente em que vivo. Durante essa atividade, incluí no roteiro uma visita à localidade onde se situa a escola, para conhecer as particularidades da cultura local mais familiares aos alunos, pois é muito importante que o professor conheça a realidade em que vivem seus educandos.
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Para me orientar na prática docente, fiz uso de livros como “Para gostar de aprender arte” e “Ensino de Arte”, da autora Rosa Iavelberg. Nestes livros, encontrei orientações tanto para a escolha do tema e planejamento do projeto quanto para a prática em sala de aula. Por meio de leituras como estas, tive embasamento para as análises realizadas. O projeto “Arte e Identidade no Espaço de Ensino” foi desenvolvido buscando trabalhar a temática por meio de atividades diversificadas e que valorizassem a expressão de cada aluno. Desta forma, o projeto foi dividido em duas partes: na primeira, do 1º ao 7º encontro, o trabalho foi mais direcionado ao tema identidade, através de autorretratos, releitura da obra de arte “As Duas Fridas”, e ilustração, sempre com trabalhos individuais. Na segunda parte, do 7º ao 12º encontro, as temáticas “Cultura” e “Arte Local” foram as mais desenvolvidas, através de atividades em grupo, como produção de livro de imagem sobre cultura local, produção textual individual sobre cultura e arte local, palestra com o artista local Antelmo Stoelbenn e interpretação de suas obras. Em momento posterior, realizaram-se desenhos baseados nas fotografias de Antelmo. Na prática, a divisão do projeto nas duas partes citadas foi imperceptível, pois a transição de uma temática para outra foi muito sutil. Isso se deve ao fato de que todos os assuntos abordados no projeto estão, de certa forma, relacionados entre si e durante todo o projeto aconteceram momentos em que as reflexões realizadas eram pensadas tendo em vista o projeto como um todo. Senti que os alunos gostaram das atividades planejadas e as desenvolveram com gosto, o que foi muito importante, pois desta maneira me mostraram que os objetivos inicialmente propostos estavam sendo atingidos e que o projeto acontecia da forma planejada. Uma reflexão maior sobre esta prática de ensino e o processo vivido durante o estágio encontra-se na conclusão, onde relato os resultados obtidos e os objetivos que foram alcançados. Este TC apresenta uma estrutura dividida em capítulos. No primeiro capítulo abordo as características do espaço onde foi realizado o estágio. Neste, encontram-se os dados gerais do Colégio Estadual Monte Alverne e suas principais características, relacionadas a avaliação, filosofia da escola e administração escolar. Ainda no mesmo capítulo estão os relatos das observações silenciosas realizadas na turma de 3º ano do Ensino Médio durante o Estágio 1 e as análises feitas a partir
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das observações e dos questionários aplicados com os alunos da turma e com a professora titular Márcia Dreissig. No segundo capítulo encontra-se a significativa pesquisa realizada também durante o Estágio 1, a partir do tema escolhido. Neste capítulo encontramse os conceitos mais importantes para a elaboração do projeto, tais como: identidade, personalidade, autorretrato como forma de autoconhecimento e sua presença dentro da História da Arte, a relação entre arte e cultura, alguns dados sobre a vida e obra da artista Frida Kahlo, importante para o desenvolvimento de algumas atividades relacionadas à identidade, identidade regional e identidade regional de Santa Cruz do Sul e ainda, dados dobre os artistas locais Antelmo Stoelbenn e Regina Simonis. O projeto e a prática de ensino constam no Capítulo 3, em que abordo os dados gerais do projeto “Arte e Identidade no Espaço de Ensino”, seguidos pela sequência de aulas desenvolvidas, descrevendo de forma detalhada o que foi planejado e relatando o que foi realizado. Neste capítulo estão também algumas considerações sobre a prática de ensino. Na conclusão do trabalho, escrevo sobre os resultados do processo vivido durante
a
prática
de
estágio,
analisando
criticamente
o
projeto
e
seu
desenvolvimento. Também falo sobre as características da turma que interferiram positivamente no desenvolvimento do projeto e sobre alguns fatores que interferiram de forma negativa, como o curto tempo de aula semanal, que foi de um período de 45 minutos, e o número elevado de alunos da turma, que impossibilitou o atendimento individual necessário a cada educando. Ainda na conclusão, relato um fato emocionante, talvez o mais marcante ocorrido em uma aula da primeira parte do projeto que trabalhou com a individualidade de cada aluno. Relato também falhas ocorridas no que diz respeito à avaliação dos alunos e à falta de um fechamento para o projeto. Finalmente, concluo refletindo sobre alguns termos em Artes Visuais e em Ensino de Arte usados em alguns momentos de forma equivocada. Estes termos, em sua maioria, referem-se a palavras como “criatividade” e “capricho”, muito utilizados de forma incorreta por professores para designar e qualificar os trabalhos produzidos pelos alunos. Enfim, neste TC estão relatados os fatos mais importantes, e os momentos mais marcantes ocorridos durante esse processo vivido por mim e pelos alunos. Nele, reflito sobre a importância do trabalho com identidade como fator 15
contribuinte para o desenvolvimento de cada educando e elemento que interferiu na formação de cada um dos envolvidos na prática, assim como na formação do meu “eu”, da minha identidade, da minha subjetividade e do meu ser como estudante, professora e como eterna apaixonada por arte.
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1. CONHECENDO O ESPAÇO DE ENSINO 1.1. Dados gerais da escola
Nome da escola: Colégio Estadual Monte Alverne. Entidade mantenedora: Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Rua: Dr. Pedro Eggler, nº1442. Fone: (0xx51)37041190. Localidade: Monte Alverne (3º Distrito). Município: Santa Cruz do Sul. Coordenadoria Regional de Educação: 6ª CRE Santa Cruz do Sul.
1.1.1. A localização O Colégio Estadual Monte Alverne está localizado no distrito de Monte Alverne, 3º Distrito de Santa Cruz do Sul, a uma distância aproximada de 170 km da capital do estado do Rio Grande do Sul e de 28 km relativamente à sede do município. O território do distrito é de 247Km². Colonizado por imigrantes alemães, cuja língua é falada até hoje, desenvolve a agricultura de subsistência em pequenas propriedades rurais. Pouco diversificado, desenvolveu-se essencialmente no cultivo da fumicultura, associada à criação de alguns suínos, bovinos e aves. A história do Colégio inicia com o Decreto de criação nº7675 de 07\01\1939, com o nome de Grupo Escolar Monte Alverne. Desde então, o Colégio recebeu diversos nomes, culminando com a Portaria da SEC nº00106, publicada no Diário Oficial de 14\04\2000, que o designa como Colégio Estadual Monte Alverne. A escola recebe alunos oriundos de escolas municipais e estaduais. A grande maioria deles, cerca de 75 %, vem de outros distritos, mas é na sede do 3º distrito que moram cerca de 85% dos alunos das séries iniciais. As demais séries recebem alunos de diversas localidades dos municípios de Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires. Em torno de 390 alunos, divididos em três turnos, freqüentam o Colégio, sendo que muitos saem cedo de casa e retornam tarde, permanecendo de 08 a 10 horas fora do lar.
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A grande maioria dos alunos é oriunda de famílias de pequenos produtores rurais. Com pouco poder aquisitivo, estas famílias tentam dar o máximo de educação possível, pois entendem o estudo como forma de “oferecer a seus filhos aquilo que eles não tinham, mas que consideram muito importante”. Há também
comerciantes,
funcionários
públicos,
trabalhadores,
autônomos,
empregados. Basicamente não há extremos. As famílias são de classe média baixa.
1.1.2. O marco operativo O Colégio se propõe a: Ser um todo fazendo uma caminhada conjunta, entre pais, alunos, funcionários e professores, tendo uma linha de trabalho interativa. Trabalhar os conteúdos visando uma afinidade com a realidade. Neste sentido, a Escola opta pela educação libertadora com base no relacionamento interpessoal, na consciência crítica, na participação efetiva e na formação integral de todos os sujeitos envolvidos no processo. Ter clareza de que a avaliação é um processo e como tal deve ocorrer diariamente. No planejamento do currículo, além dos conteúdos trabalhados, ter clara a metodologia usada, os valores permanentes e os níveis de exigência que devem ser delimitados. Ter professores com postura político-pedagógica com “tesão” pelo ensinar e persistência na prática das normas tomadas em conjunto (coletividade). Construir o conhecimento, aproveitando as experiências do aluno e levando-o a ser um sujeito do processo e não um mero receptor. Deve haver interação professor-aluno, aluno-professor. A ser democrático, aberto e participativo, oportunizando a todos a manifestação, dentro dos limites construídos pelo grupo, estabelecendo regras de convivência. Propiciar um ensino de qualidade, ou seja, oportunizar o crescimento de cada ser humano. Ser orientador e não dominador, incentivando sempre a busca do novo.
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A trabalhar uma educação voltada para a realidade, preparando o aluno para que ele tenha condições de desenvolver uma autonomia e servir ao bem estar da comunidade.
1.1.3. A filosofia da escola O Colégio Estadual Monte Alverne pretende ser um lugar de semear, cultivar e colher. Na integração da comunidade escolar, busca dinamizar um ser humano desenvolvido na sua dimensão global. A escola visa uma educação sólida e equilibrada pensando no espiritual, no físico e no intelectual de cada sujeito, e ainda no meio social em que o mesmo está inserido. O contexto de vida é o meio onde se desenvolve um ser que numa troca dinâmica de experiências atuais de uma educação libertadora, deve potencializar um sujeito que age com capacidade crítico-construtiva para a construção de um mundo com mais justiça social, com desejo de viver e testemunhar valores morais e éticos. A preservação do meio ambiente é vital para a própria sobrevivência do ser humano e deve ser meta de cada cidadão e sua defesa intransigente. A escola busca incentivar essa preservação. Lealdade, sinceridade e um compromisso com um mundo onde todos têm direitos e deveres iguais serão as linhas mestras do fazer pedagógico e da educação do colégio que busca a auto-realização e a felicidade das pessoas.
1.1.4. As relações de poder Na opinião dos professores, existem dificuldades em se conseguir um bom relacionamento com alguns alunos e em se observar regras e limites. O professor necessita construir, juntamente com seus educandos, regras claras de convivência (sempre em consonância com a Filosofia da Escola), pois a Escola entende disciplina como uma forma de organização, não como meio de controle de comportamento. Estas regras devem ser avaliadas periodicamente para que espelhem a realidade do Colégio. O professor precisa ter clareza do seu papel e da sua autoridade como educador.
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1.1.5. Avaliação A avaliação do desempenho do aluno tem como pressuposto, conforme a linha de ação do Colégio Estadual Monte Alverne, o processo construtivo do conhecimento. Neste sentido, a avaliação é entendida como processo inseparável do conjunto de atividades que integram o currículo da escola. Para o aluno, a avaliação tem a função de diagnosticar os aspectos qualitativos e quantitativos de seu progresso, o que envolve atitudes, habilidades, a construção e apropriação do conhecimento. Para o professor, este diagnóstico sobre o aluno servirá de parâmetro para a tomada de decisões que visem o sucesso do processo de ensino-aprendizagem. O Colégio entende por qualidade o atendimento à individualidade do aluno, aliado ao trabalho comprometido do professor e do aluno com a Proposta Político-pedagógica. Por quantidade, entende o volume do trabalho desenvolvido no Currículo por atividades nas disciplinas. Para os alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, os resultados são expressos a cada trimestre através dos seguintes conceitos: A – Está evoluindo no processo de construção do conhecimento; B – Está necessitando evoluir no processo de construção do conhecimento; C – Não está evoluindo no processo de construção do conhecimento. O aluno é considerado aprovado se obtiver conceito A ou B em cada trimestre. Para as Séries Finais e Anos Finais do Ensino Fundamental, e em todas as séries do Ensino Médio, os conceitos B são acompanhados, se necessário, de um parecer descritivo. O conceito C, obrigatoriamente, vem acompanhado de um parecer descritivo. O resultado das avaliações trimestrais é entregue aos pais ou alunos, em documento específico.
1.1.5.1. Recuperação Com relação à recuperação, a escola se posiciona da seguinte forma: a) Prover meios para a recuperação dos alunos com menor rendimento;
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b) Definir critérios para a recuperação, a qual deverá ocorrer, preferencialmente, paralela ao período letivo, conforme Art. 24, inciso V, letra E da Lei nº. 9394\96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional; c) As atividades pedagógicas da recuperação paralela serão documentadas e os pais terão conhecimento sobre sua aplicação. d) O professor aplicará técnicas diagnosticativas para perceber eventuais dificuldades na aprendizagem dos conteúdos em desenvolvimento.
1.1.6. Conselhos de Classe O Conselho de Classe tem por objetivo acompanhar o crescimento do aluno e da turma em relação aos objetivos e aprendizagens propostas e realizadas, bem como tomar decisões para qualificar o processo de ensino aprendizagem. Participam do Conselho de Classe: a Direção ou seu representante, a Supervisão Escolar, a Orientação Escolar, os professores e os alunos. O Conselho acontece a cada final de trimestre ou quando houver necessidade, e é realizado em três momentos: 1. Na turma, com participação do Professor Conselheiro – os alunos avaliam o trimestre como um todo. 2. Somente com os professores da turma, assessorados pelo serviço de Supervisão Escolar, da Orientação Educacional e Direção da Escola – análise do rendimento e comprometimento de cada aluno. 3. De forma individual em que aluno e professor analisarão os trabalhos realizados. Se necessário, durante cada trimestre, podem ser realizadas reuniões por série, com o objetivo de analisar o processo em andamento.
1.1.7. Administração Escolar Os órgãos que exercem a administração escolar são: o diretor, os vicediretores e o Conselho Escolar. A equipe diretiva é responsável pela organização do dia-a-dia da escola, e busca articular, viabilizar e, em conjunto com a comunidade escolar, concretizar a Proposta Pedagógica – Administrativa. Sua atuação não é apenas administrativa, pois abrange toda a linha de trabalho, oportunizando a interação de seus segmentos. 22
1.2. Observações silenciosas As observações silenciosas foram realizadas no segundo semestre do ano de 2011, portanto, os alunos estavam ainda na turma do 2º ano do Ensino Médio. A turma possuía um período semanal de Arte, com duração de 45 minutos.
1.2.1. 1ª Observação silenciosa Data: 11 de agosto de 2010. 29 alunos presentes No Dia do Estudante, após o recreio, é realizada uma homenagem da direção e Grêmio Estudantil da escola no saguão, ocupando 20 minutos da aula de Artes da turma. Após a fala da vice-diretora os alunos se dirigem à sala de aula, onde a professora encaminha os procedimentos para o resto da aula, explicando sobre a minha visita, e sobre o término do trabalho que será realizado na sala de Artes. A turma desce para a sala aos poucos, alguns ainda se sentam em bancos que ficam pelo caminho, esperando até o último aluno passar para então resolverem ir para a aula. Alguns chegam barulhentos, outros nem tanto. A maioria com seus materiais em mãos, apenas três sem material nenhum. Assim que entram na sala procuram uma revista para fazer recortes e se acomodam nas classes agrupadas. Nesta turma os alunos se misturaram mais, nos grupos ficaram meninos e meninas trabalhando juntos. A tarefa é criar uma releitura do quadro “Monalisa”, de Leonardo da Vinci utilizando a técnica de colagem de recortes de revistas, e inventar um título diferente para seu trabalho. Enquanto conversam entre si, os alunos vão produzindo rapidamente, alguns sem muita preocupação estética, poucos tentando várias possibilidades antes de colar. Uma menina questiona a professora se precisa colar tudo, pois tem vontade de deixar parte dos cabelos de sua releitura colados apenas na testa, e sobrepostos no corpo da mulher que está colada na sua folha, e a professora aprova sua idéia.
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O espaço da sala de Arte é pequeno, o que dificulta o trânsito dos estudantes e da professora, ficando difícil chegar à caixa de revistas que fica no fundo da sala. Um menino sai da sala sem autorização da professora e sem dizer para onde vai, e o fato em pouco tempo causa a curiosidade de seus colegas, sendo que três meninos se dirigem até a porta pra ver onde o menino está. Como não o avistam, voltam para seus lugares e continuam trabalhando. A professora circula pela sala. A turma está um pouco agitada e conversa sobre os jogos interséries que ocorrerão nos próximos dias, alusivos ao Dia do Estudante, fazendo combinações sobre o time que irá representar a turma, sobre quem será o capitão, quem será o goleiro e outras discussões referentes ao futebol. De toda a turma, três meninos não fizeram nada no pouco tempo de aula que restou para a turma (25 minutos). A aula terminaria às 16h25min, e às 16h22min a professora pede para todos organizarem a sala e guardarem seus materiais, mas a maioria já estava fazendo isso. Aquele menino que saíra da sala voltou apenas na hora do sinal, falando sobre os jogos. Ao ouvirem o sinal os alunos saíram e voltaram para a sala de aula, para aula de Matemática. A sala ficou mais ou menos arrumada, logo chega a próxima turma para aula de Arte.
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1.2.2. 2ª Observação silenciosa Data: 18 de agosto de 2010 28 alunos presentes O período inicia logo após o recreio. Quando a professora entra na sala de aula os alunos já estão sentados aguardando, pois eles têm a liberdade de ficar na sala durante o recreio. Um menino estava com um copo de refrigerante cheio na mão, e a professora solicita que ele se retire da sala para tomar a bebida na rua. A ele junta-se outro colega, que veio do saguão da escola e também estava tomando refrigerante. Após alguns minutos a professora os chama para dentro para poder iniciar a aula. Ela recolhe os trabalhos iniciados na aula anterior e que deveriam ter sido terminados em casa. Um dos meninos que estava entrando na sala após terminar a merenda pergunta se pode entregar na próxima aula, pois não fez o trabalho. Este aluno é o mesmo que saiu da sala na aula da semana passada e só voltou quando o período estava quase terminando, em função da organização para os jogos colegiais. Após recolher todos os trabalhos que os alunos trouxeram para entregar (releituras feitas com recorte e colagem), a professora os coloca sobre a mesa, e então começa a falar das dimensões da obra Monalisa de Leonardo da Vinci, pedindo para que um menino fizesse no quadro negro um retângulo com as mesmas medidas para os alunos terem noção do tamanho da obra. Notei que eles imaginavam que a obra fosse enorme. Mostrando uma reprodução de página inteira da pintura em um livro, ela fala dos mistérios que envolvem o tão famoso quadro, como o véu que envolve a mulher pintada e supõe que ela estava grávida, sobre a falta de sobrancelhas, sobre o sorriso que não mostra os dentes e sobre a semelhança de um autorretrato de Da Vinci com os traços do rosto da Monalisa. Um menino questiona sobre o valor estimado da obra, e a professora, olhando pra mim com ar de dúvida, diz ser muito caro, de valor inestimável. O mesmo aluno então pergunta onde está obra, tendo como resposta que está no Museu do Louvre, em Paris, na França. Sobre as semelhanças entre os traços da Monalisa e do artista, o mesmo menino fala: “Vai ver que ele se imaginou como mulher e quis se pintar assim, como se ele estivesse se vendo como mulher!” Todos os colegas riram dele. Os alunos recebem um texto em xérox sobre o Renascimento, e a professora pede para que leiam em voz alta, sendo que cada um teria que ler um 25
parágrafo. Um menino começa e assim rapidamente o texto foi lido, com interferências e comentários da professora. Ela fala sobre a técnica do sfumato, que é um sombreado de claro e escuro, fala sobre as várias camadas mais finas que fios de cabelo que formam a pintura. Os alunos devem colar a folha no caderno. A sala de aula da turma é apertada, por isso a professora não circula entre as classes. Dois meninos sentados em dupla no fundo da sala provocam risadas na turma por causa de suas gracinhas e comentários. Os meninos são os mesmos que terminaram a merenda fora da sala, e um deles é o que fez as colocações e questionamentos enquanto falavam sobre a Monalisa. Terminado o assunto sobre Renascimento, a professora escreve no quadro a palavra “Perspectiva”, e explica a tarefa da turma para o resto da aula. A turma deve sair da sala de aula e escolher uma parte da escola para desenhar com perspectiva, em um rascunho, pois provavelmente teriam que passar o desenho a limpo ou fazer correções mais tarde. Para esta tarefa restam apenas 20 minutos de aula. Os alunos já estavam ansiosos para saírem da sala, e o fazem de maneira apressada, descendo as escadas rapidamente e se espalhando pelo pátio da escola. Com folhas e lápis na mão, procuram lugares onde possam se sentar, em bancos, muros e até no chão. Iniciam então seus desenhos. Um menino que se sentou no saguão tem sua atenção chamada pela vice-diretora que diz já estar no limite com ele, pois ele falava alto, e é novamente um dos meninos da dupla dos fundos. Três alunos têm o auxílio da professora para desenhar a parte da frente da escola. Ela lhes dá algumas instruções e sai para ver como estão indo os outros. Uma menina sentou-se bem sozinha para desenhar, mais longe dos outros colegas, parecendo realmente precisar de calma, silêncio e concentração. Enquanto ela desenha dedicada à tarefa, duas meninas transitam pelo pátio ainda se decidindo qual parte da escola vão desenhar. Um dos dois meninos do fundo da sala pede uma borracha emprestada de sua colega, que nega o empréstimo dizendo que o menino é muito chato com ela. Então outra menina o empresta sua borracha. Os 28 alunos se espalharam demais, uns nos fundos de um lado, outros de outro, uns desenhando, outros olhando outra turma na Educação Física, outros na frente da escola e outros no saguão, o que dificultou o atendimento da professora a todos que precisavam. Um menino teve dúvidas sobre o que pode ou não 26
desenhar, porque a professora lhes disse que precisava ser uma construção para ter profundidade, e desta não poderiam desenhar a tabela de basquete ou a quadra de esporte. A professora está do outro lado da escola atendendo três meninas que lhe chamaram. As duas meninas indecisas que perambulavam no pátio da frente escolhendo um lugar para desenhar foram para os fundos da escola, onde fica a quadra de esportes, e até o momento pareciam não ter produzido nada. Porém os outros colegas, pelo menos a maioria, trabalhavam concentrados no que observavam e desenhavam, preocupados em como fazer a tal da perspectiva. Um menino se destacou muito no desenho, conquistando a admiração dos colegas que viam seu trabalho, feito nos 20 minutos de aula, com profundidade bem correta e muitos detalhes. Seus colegas já sabiam do seu gosto por desenho, por isso logo pediram para ele mostrar-lhes o resultado das observações daquela aula. Quando soa o sinal para o final do período, às 16h25min, os alunos ainda estavam espalhados pela escola. A professora vai rapidamente pegar seus materiais na sala de aula e sai para a próxima turma, sem combinações para a próxima aula, e sem fazer a chamada. Enquanto isso a turma volta calmamente para o próximo e último período que seria de matemática.
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1.2.3. 3ª Observação silenciosa Data: 25 de agosto de 2010 29 alunos presentes Neste dia os alunos aguardavam a professora do lado de fora da sala, pois não haviam ficado na sala durante o recreio. Assim que entram, sentam-se em seus lugares. Um menino termina rapidamente de tomar o refrigerante antes de entrar na sala. A professora explica sobre o questionário que eu trouxe e distribui as folhas para eles responderem, pedindo que escrevam respostas completas e sejam sinceros. Todos respondem, sem barulho, lendo atentamente cada questão. A mesma dupla de sempre, que senta no fundo da sala continua com as gracinhas. Percebo que alguns continuam sempre achando graça e não seguram o riso, já outros têm cada vez menos paciência com as brincadeiras, e acabam retrucando e às vezes discutindo com os meninos. Em geral, os que estão sentados mais à frente é que olham para trás com cara de brabos e de quem já não agüenta mais as besteiras. Aos poucos a turma vai terminando o questionário. Alguns fazem perguntas para a professora em relação aos materiais que a turma já utilizou em seus trabalhos artísticos, outros pareciam não entender o termo “linguagem” que constava na pergunta: “Com que linguagem você prefere trabalhar ”, sendo que havia opções para eles marcarem. A professora precisava explicar o que eram linguagens artísticas. Depois de responderem o questionário, os alunos deveriam terminar o trabalho iniciado na aula anterior, onde observaram uma parte do prédio da escola e desenharam em um rascunho. A professora explicou que eles tanto poderiam passar seus rascunhos a limpo como poderiam refazer o desenho em uma nova folha, e sugeriu que para isso utilizassem apenas o lápis 6B ou caneta preta, que daria um efeito bonito e diferente. Alguns alunos tiveram que sair da sala para terminar a observação do que desenharam, pois o tempo que eles tiveram na semana anterior para observar foi muito pouco, apenas 20 minutos. A maioria, porém, permanece da sala. Um menino pega uma folha em branco e inicia o seu desenho dentro da sala, sem observar nada, apenas vendo o que os outros estavam fazendo. Ele demora a iniciar seu desenho, alegando estar esperando uma régua emprestada. 28
Circulando pela sala percebo que existem trabalhos muito bons, mas que um número elevado de alunos não atingiu o objetivo da atividade que era a perspectiva, fazendo desenhos totalmente “chapados” no papel, e sem capricho, de qualquer jeito. Observei que para os que pediram ajuda a professora deu algumas instruções, e com o auxílio de uma régua, posicionando-a sobre o papel, apontava a direção das linhas de perspectiva que os alunos precisavam perceber e riscar. O primeiro aluno a terminar, um da dupla do fundo, no trajeto de volta para sua classe ajuda uma colega que não entendia como deveria prosseguir seu desenho. Ele parecia entender melhor a perspectiva. Enquanto a turma trabalhava, a professora sentou em sua cadeira observando todos de frente. Ela não fez a chamada novamente. Ao aproximar-se o horário do sinal ela pede que os alunos que não terminaram a atividade façam o restante em casa, porque agora a turma já tinha tido duas aulas para a atividade. Para a próxima aula nenhuma combinação, e ao som do sinal que aponta o final daquele período, alguns vaiam, tristes, e outros comemoram o final da aula de Arte. A próxima aula da turma seria Matemática.
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1.2.4. 4ª Observação silenciosa Data: 01 de setembro de 2010. 27 alunos presentes Assim que chegou à sala a professora começou a devolver os trabalhos dos alunos que estavam com ela para avaliação. Para isso ela contou com a ajuda de dois meninos, que enquanto entregavam os trabalhos aos colegas, olhavam um por um e opinavam sobre o que estava bom ou ruim. Dois meninos me mostraram os trabalhos que receberam, muito bonitos, era uma proposta para trabalhar vitrais, vazando folhas de desenho pretas e colando papel celofane colorido no verso. Observei que a dupla do fundo da sala, que só fazia bagunça, e que tinha acabado de me mostrar seus vitrais, estava em outro lugar, ainda em dupla, mas com suas classes bem na frente, e ao lado da professora. Eles me explicaram que a Orientadora decidiu que ali seria melhor para eles. As conversas e gracinhas continuam, a diferença é que eles não influenciam mais a turma toda. Finalizada a entrega dos trabalhos, a professora alerta sobre o final do trimestre, e que o trabalho a ser realizado naquela aula seria o último trabalho avaliativo do trimestre, e nas próximas aulas teriam o período para fazer os cartazes que servirão como recurso visual para a apresentação dos projetos que a turma terá que apresentar para os demais alunos do Ensino Médio. A professora salientou que ainda havia alunos devendo trabalhos. A turma, nesse trimestre, realizou cinco trabalhos avaliativos, e desses, uma menina entregou apenas um, e outro menino apenas dois. A professora comentou novamente sobre o final do trimestre, e citou os nomes de quem ainda precisava entregar algum trabalho. Após isso alguns alunos aproximaram-se da professora para saber exatamente quais trabalhos lhes faltavam entregar. Aconteceu uma pequena discussão por causa de um dos meninos da dupla bagunceira que estava a fazer gracinhas como sempre. Uma colega pede para a professora chamar alguém da equipe diretiva para dar um jeito na situação, pois talvez somente assim seu colega “calaria a boca”. O menino e a menina trocaram algumas palavras em voz alta, porém a professora interveio na discussão, pedindo para que parassem. A professora mostrou um livro com imagens de obras de Escher, falando sobre as perspectivas confusas e até surreais de suas gravuras e desenhos. Todos 30
olharam atentos para as imagens, deslumbrados com a complexidade da perspectiva que viram. A professora circulou pela sala segurando o livro e mostrando-o para os alunos. Depois deixou que o livro circulasse para que todos pudessem folhá-lo. Após falar sobre Escher, a professora mostrou a imagem de uma cadeira de design contemporâneo, de um livro de arte. Ao lado do livro com a cadeira contemporânea, segurou a reprodução de uma obra de Van Gogh, em que o artista pintou uma cadeira bem tradicional, com acento de palha. Com alguns comentários, ela fez com que a turma comparasse as duas cadeiras percebendo as características de cada uma, e depois disso perguntou qual delas era a mais moderna e qual a mais antiga, e ouviu duas opiniões diferentes. Então ela explicou que a contemporânea era bem mais elaborada que a cadeira da obra de Van Gogh, e que esta era mais simples, comum. A tarefa da turma: cada aluno deveria “inventar” uma cadeira, usando toda sua criatividade. A cadeira desenhada deveria ter algo de diferente. Quem não tinha terminado o trabalho da aula da semana anterior (de perspectiva), deveria primeiro concluí-lo para depois iniciar o trabalho da cadeira. A professora pediu para que eles utilizassem perspectiva e não desenhassem apenas o contorno. Dessa vez a sala pareceu estar mais organizada, e a professora até circulou entre os alunos. Os trabalhos da aula anterior, em geral, apresentaram bons resultados, a maioria esforçou-se para desenhar a escola, porém, alguns não apresentaram interesse, ou simplesmente não sabiam como desenhar usando perspectiva. Muitos trabalhos ficaram planos, sem profundidade nenhuma, com pouca informação e com pontos de vista confusos. Um menino terminou o desenho da cadeira em três minutos, mostrou para a professora dizendo estar pronto e pedindo para sair da sala para entregar um papel para outra professora e saiu, mas logo voltou. Ele tinha apenas feito o contorno de uma cadeira vista de perfil. Enquanto ele estava fora, a professora olhou seu trabalho, e assim que o aluno voltou lhe pediu para melhorar o desenho. Ele reforçou os contornos da cadeira e desenhou outra do lado, como se fosse o reflexo da primeira no espelho. O aluno justifica seu desenho dizendo que também ninguém entendia os grandes artistas, apenas eles mesmos se entendiam e entendiam suas obras.
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Muitos criaram cadeiras bem funcionais, com televisão, chuveiro ou vaso sanitário, em geral os trabalhos foram muito criativos. Um menino desenhou um sofá com um furo no meio do acento. Ao lado, na parede, desenhou um rolo de papel higiênico (muito bem feito!) e uma lixeira, esta feita sem tanto capricho quanto o rolo de papel, que foi elogiado pela professora quando ele mostrou seu trabalho a ela. Um período de aula passa sempre muito rápido, mal os alunos iniciaram a atividade e começaram a gostar e ouviram o sinal para o término do período. A professora pediu para eles terminarem o trabalho em casa e trazerem na próxima aula e saiu, despedindo-se da turma rapidamente, pois tinha que sair correndo para a próxima aula, com outra turma.
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1.2.5. 5ª Observação silenciosa Data: 08 de setembro de 2010. 29 alunos presentes Quando a professora chegou à sala, como sempre, ainda havia alguns alunos tomando refrigerante, pois a aula de Arte deles é no primeiro período após o intervalo. Os alunos devem ficar do lado de fora da sala de aula até terminarem a merenda. Dessa vez dois meninos, os de sempre, ficaram tomando refrigerante na rua. A professora explicou aos alunos que eles visitariam a Feira de Ciências que estava ocorrendo no saguão da escola, em consideração aos alunos da 5ª e da 8ª séries, que tanto tempo se dedicaram na elaboração da feira. A professora deixou bem claro que a turma não ficaria o período inteiro visitando a exposição, e que às 16h10min todos deveriam voltar para a sala de aula. Duas meninas e a professora ficaram encarregadas de avaliar três trabalhos cada uma, pois foi assim que funcionou o julgamento dos grupos participantes da Feira de Ciências para posterior premiação, cada turma visitante avaliaria nove trabalhos. Os alunos saíram da sala e desceram as escadas sem muita empolgação, se espalharam pela feira, dividindo-se para assistir a explicação das diversas experiências que estavam sendo apresentadas. Alguns alunos foram para um canto ou circularam pelo espaço sem prestarem atenção em nada, apenas estavam lá porque a sala estava trancada, outros, porém circularam pelo espaço escolhendo os trabalhos sobre os quais se interessavam mais, parando para ver o que estava sendo apresentado. Um menino parou para ouvir a explicação de um grupo que tratava de energia elétrica, porém, apenas perturbou o grupo com questionamentos bobos e desnecessários, com o intuito de atrapalhar e deixá-los mais nervosos do que já estavam. Às 16h10min alguns alunos começaram a voltar para a sala, mas a professora permaneceu no saguão por mais alguns minutos, vendo os trabalhos da turma de 5ª série que também participou da Feira de Ciências. Às 16h20min a turma regressou à sala de aula e iniciaram-se os comentários sobre a exposição e os trabalhos. Os alunos falaram sobre o trabalho mais interessante, que julgaram ser uma experiência sobre Pressões. Comentaram que alguns trabalhos foram muito mal apresentados, que houve pouco esforço por parte de alguns alunos da 8ª série. 33
A professora comentou que é bom valorizar todos os eventos que ocorrem na escola e a iniciativa das turmas. Como o tempo que restava até o final da aula era pouco, a professora o utilizou para fazer as combinações para a próxima semana, explicando que, como haveria Conselho de Classe na próxima quarta-feira, ela iria ceder a aula de Religião para que os alunos terminassem os cartazes para a apresentação dos trabalhos científicos que fariam para todo o Ensino Médio. Esse período foi solicitado pela turma, pois necessitam de um período onde possam se dedicar aos recursos, que devem ser pelo menos dois, para os trabalhos que estão fazendo em grupos. A professora também explicou que devido ao Conselho de Classe, na próxima semana, a turma terá que trabalhar sozinha em sala de aula, pois ela terá que participar do Conselho junto com os demais professores. Após as combinações a professora pediu para alguns alunos mostrarem as cadeiras desenhadas na aula anterior para os colegas, explicando o que eles criaram de diferente. O primeiro apresentou uma cadeira com várias tecnologias acopladas, como por exemplo, som, DVD e televisão de tela grande. Outra menina criou uma cadeira com guarda-sol, chuveiro e televisão, explicando ser uma cadeira para sentar na rua ao sol. Assim vários desenhos foram mostrados, em geral com formatos de cadeiras comuns, porém com adicionais que proporcionariam maior conforto e comodidade à quem nelas sentasse. Um menino esperava ansioso para mostrar seu desenho. Era aquele menino que desenhou uma poltrona com um furo no acento, papel higiênico preso na parede de um lado, lixeira e jornal de outro. A apresentação dele foi arrogante. O aluno apenas mostrou o desenho e disse para os colegas que não tivessem entendido olharem para o rolo de papel higiênico. Todos os desenhos foram feitos a lápis, e nenhum foi colorido. Nem todos entregaram seus trabalhos. Essa atividade, de mostrar aos colegas seus trabalhos, foi feita rapidamente, até porque o tempo para o final do período era curto. Logo se ouviu o sinal e a professora novamente saiu rapidamente para a próxima aula com o 3º ano.
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1.2.6. 6ª Observação silenciosa Data: 22 de setembro de 2010. 29 alunos presentes Minha observação silenciosa ocorreu com uma semana de intervalo em virtude da licença que a professora tirou. Eu estive na escola e fiquei com os alunos durante o período que deveria ser de Arte a pedido da equipe diretiva que precisava de alguém que ficasse na sala de aula com eles, acompanhando-os durante a aula que seria então destinada à leitura. Durante o período alguns alunos me entregaram trabalhos pendentes, temendo o final do trimestre, e pedindo para eu colocá-los no armário da professora. Nesta semana então, com o retorno da professora, realizei meu último período de observação silenciosa. Inicialmente a professora falou sobre as notas da turma no trimestre, dizendo que houve três alunos que tiraram C (reprovado), vários que tiraram B (precisa melhorar) e algumas exceções tiraram A (aprovado). Os alunos se assustaram, percebia-se em suas expressões a preocupação com as notas. Após o momento de susto, a professora explicou que a turma iria encerrar os trabalhos sobre Renascimento assistindo um documentário sobre o assunto. Enquanto a professora falava, podia-se ouvir um bate boca de uma menina com um menino, ela mandando-o sentar-se logo. A turma se dirigiu à sala de vídeo, que fica no térreo. Alguns falando alto, olhando para dentro das salas das outras turmas, outros mais comportados, rapidamente chegando ao destino. Todos se acomodaram da melhor maneira para assistir ao documentário, e a professora tentou ligar a televisão e o aparelho de DVD. Percebendo a dificuldade da professora em fazer o DVD funcionar, dois alunos foram ajudá-la, mas não tiveram sucesso. Como a professora já tinha outra atividade planejada e inclusive tinha o material necessário ao alcance, explicou aos alunos que o disco sempre tinha funcionado, e que não era velho, mas que naquele dia não estava funcionando e que talvez o problema fosse no aparelho de DVD. A professora então explicou a atividade prática que a turma deveria fazer. Distribui discos de isopor para todos e falou sobre xilogravura. A tarefa dos alunos naquele período era criar algum desenho sobre o disco de isopor para na próxima aula fazerem as reproduções com tinta têmpera. Os alunos questionaram quanto ao tema que deveriam obedecer no desenho. A professora então lhes deixou 35
escolherem se queriam tema livre ou limitar o desenho a um tema específico. A turma preferiu que todos desenhassem sobre o mesmo tema para poderem comparar os resultados. Optaram por criarem paisagens. Só então a turma voltou para a sala de aula. Já eram 16 horas. Todos acomodados em seus lugares refletiram sobre o que iriam desenhar e aos poucos iniciaram os desenhos. A professora pediu para que caprichassem nas texturas, caso contrário, as gravuras teriam apenas contornos. Assim que começaram os desenhos um menino saiu da sala por não tolerar o som do isopor sendo trabalhado, dizendo incomodá-lo muito. Ele então pegou seu disco e desenhou na porta da sala, com os braços bem esticados e bem de leve apertando o isopor para produzir o menor som possível. Aos poucos as matrizes foram ficando prontas, e a professora assustou-se com os resultados. Muitos estereótipos, desenhos totalmente infantis. A maioria fez as paisagens estereotipadas de sempre: montanha, sol, árvore, flor. Alguns desenharam só uma árvore, outros só uma flor, mas muito estereotipados. A professora ainda explicou que as matrizes deveriam ter mais detalhes, quanto mais, melhor, e alguns voltaram para complementar um pouco o que diziam estar pronto. Apenas um menino optou por algo que fugia da temática proposta, contudo, realizou um trabalho bem mais criativo que os demais. Ele criou uma espécie de mandala no disco de isopor, com formas bem abstratas, utilizando compasso e régua. Percebi que ele é muito caprichoso e perfeccionista. Em geral os trabalhos apresentaram muito contorno, estereótipos demais para uma turma de Ensino Médio, pouca textura e falta de criatividade. Todos entregaram os discos para a professora, que os guardaria na sala de Arte. Na próxima aula eles farão as gravuras com tinta tèmpera. Para isso terão que trazer algum trocado para ajudar a professora a pagar o pote de tinta que ela irá comprar. Assim, ao fim da aula, me despedi da turma dizendo voltar no próximo ano, e eles disseram que me esperariam então na turma de 3º ano.
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1.3. Análise das observações silenciosas
Analisando as observações silenciosas realizadas no 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Monte Alverne, percebi que apenas um período de 45 minutos por semana, para a maioria das atividades realizadas, é pouco tempo. As aulas de Arte, em sua maioria, requerem um tempo maior para a organização da sala e dos materiais a serem utilizados, pois conforme Rosa Iavelberg (2003), o cuidado e a organização dos materiais utilizados devem ser considerados como parte dos trabalhos das aulas de Arte. Assim como este tempo no início da aula é necessário, ao final também faz parte da aula organizar a sala e guardar os materiais utilizados. É necessário um tempo destinado a esta arrumação. Fazendo um cálculo, restam em média 35 minutos para a atividade a ser desenvolvida no período. Dependendo do trabalho, a turma precisa duas semanas para concluí-lo, ou ainda terá que finalizar a atividade em casa, sem as instruções necessárias que seriam dadas em aula pelo professor. A professora trabalhou com a turma na Sala de Arte apenas uma vez. Concluí que isso se deve pelo tempo que é perdido no deslocamento de uma sala para outra, pois se o tempo de aula já é pequeno, não se deve torná-lo menor ainda, e sim aproveitá-lo da melhor forma possível. Como a Sala de Arte não se diferencia muito da sala de aula, e possui classes e cadeiras iguais, a professora só os levou para aquela quando a atividade necessitaria de algum material que lá estivesse, como foi o caso dos trabalhos com recortes, em que os alunos utilizaram revistas para montar as releituras da “Monalisa”. O tempo curto exigiu que a professora se organizasse muito bem, planejando suas aulas de forma que os alunos não fossem prejudicados. Notei que, em cada aula, realizavam uma etapa da atividade, e a professora disponibilizou mais que um período para algumas atividades, a exemplo da observação do prédio da escola, onde os educandos foram instruídos a realizarem primeiro um rascunho e na aula seguinte puderam então finalizar o desenho. Contudo, muitas vezes os alunos tiveram que concluir seus trabalhos em casa. Em relação ao tema que estava sendo trabalhado no período em que observei a turma, que foi o Renascimento, percebi certa falta de interesse por parte de muitos. Não sei bem se isso se deve pelas atividades desenvolvidas a partir do 37
período artístico estudado, mas acredito que falar sobre Leonardo da Vinci com a turma foi o mesmo que falar de outro assunto distante qualquer, de uma pessoa que morreu há muito tempo, de pinturas que a própria professora revelou não saber se algum dia poderá ver de perto. Falar do Renascimento era falar de um tempo que já passou e que não tinha nada a ver com o cotidiano e com a realidade da turma. Considero também ter faltado um pouco de entusiasmo por parte da professora, que deveria tentar encantar seus alunos com o conteúdo em estudo. Notei que a turma não tinha noção nenhuma da importância do artista para a História da Arte e também para a Ciência, e que não faziam ideia do valor que uma obra de arte como a Monalisa tem para a arte, que em reais ou dólares, é incalculável. Só que eles saíram da escola naquele dia sem saber, sem essa noção, sem o conhecimento que poderiam ter adquirido naquela aula. Uma alternativa para trazer aos alunos um maior interesse pela arte estudada, seria trabalhar com artistas brasileiros, pois talvez estes fossem mais significativos na formação artística dos aprendizes de arte. Com isso não digo que se deva apenas ater-se aos artistas brasileiros, nem que se deva permanecer nos mais recorrentes, como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, que nos permitem trabalhar, na História da Arte, apenas com a Arte Moderna. Penso que talvez seja necessário procurar artistas brasileiros de características renascentistas, clássicas, neoclássicas ou outras, ou quem sabe tentar trabalhar com obras que estejam pelo menos expostas em algum museu brasileiro, mais próximas à realidade dos alunos. Através do estudo da história da arte brasileira (documentos acessíveis, próximos e mais ligados às nossas experiências), podemos chegar a aprofundamentos dos conhecimentos artísticos e estéticos significativos para nossa cidadania (IAVELBERG, 2003. p.15).
A professora despertou minha atenção com sua postura perante os trabalhos
dos
alunos,
valorizando
os
pequenos
detalhes
que
passaram
despercebidos até pelos próprios alunos\artistas. Sempre com ética e sabedoria, analisou as produções dos alunos elogiando, aconselhando e oferecendo incentivo. Notei que a professora soube enfrentar sabiamente um dos desafios citados por Mirian Celeste Martins (1997, p.74): “[...] um reolhar mais sensível sobre a produção dos seus educandos, superando o „respeito espontaneista‟ que tudo aceita, e
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buscando tornar ainda mais significativa a sua produção como expressão de pensamento”. Sempre procurando falar sobre o que estavam produzindo, a professora conversou muito com seus alunos, avaliando as atividades realizadas e assim concluindo-as de forma que os educandos compreendessem para que e porque faziam tais atividades, sempre relacionadas a um conteúdo específico dentro da arte. A apropriação do conhecimento ocorre, de certa forma, quando instigamos nossos alunos a perceber com mais clareza sobre o quê e como estamos trabalhando em arte, verificando o que aprendemos (MARTINS,1997, p.79).
Em todas as aulas os alunos usaram muito suas capacidades, explorando sua criatividade para desenvolverem as atividades, pois a professora apostou nas propostas pedagógicas em que os educandos precisam interpretar e criar. Não houve artesanato, nem decoração para datas comemorativas, muito menos desenhos mimeografados e\ou xerocados para pintura. Em suas aulas, ela proporcionou diversas situações diferentes, com atividades em ambientes diversos, como sala de aula, Sala de Arte, observação no pátio da escola e até uma tentativa, frustrada, de mostrar um vídeo. Tais atitudes, em parte, constituem características da Escola Nova, [...] que via o aluno como ser criativo, a quem se devia oferecer todas as condições possíveis de expressão artística, supondo-se que, assim, ao “aprender fazendo”, saberiam fazê-lo, também, cooperativamente, na sociedade (FERRAZ; FUSARI. 1999, p 32).
A presença de estereótipos em alguns trabalhos é inevitável, e foi mais visível na atividade em que a professora apenas limitou os alunos a criarem uma paisagem, daí pra diante a criatividade seria dos próprios educandos. Fiquei assustada com alguns desenhos que pareciam ser de crianças da Educação Infantil. Talvez este seja um aspecto que necessite ser mais bem trabalhado com a turma, bem como a falta de vontade e interesse de muitos, que fazem qualquer coisa só por fazer. Um trabalho de desestereotipização se faz muito necessário, porém as propostas da professora são interessantes, variadas e cabíveis à arte-educação que deve acontecer nas escolas. Os educandos é que necessitam ser encantados com a 39
disciplina. Considero que a partir do momento em que forem cativados, passar達o a se interessar mais e as aulas de Arte acontecer達o de forma a melhorar ainda mais a arte-educa巽達o da escola.
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1.4. Análise do questionário respondido pela professora
A professora da escola onde realizei minhas observações silenciosas é licenciada em Educação Artística – Habilitação Artes, por isso, dá muito valor à disciplina que leciona. Ela acredita na importância da arte e considera que é nessas aulas que os alunos descobrem e desenvolvem potencialidades, se tornam mais sensíveis e aprendem a dar mais valor à cultura. Em uma de suas respostas, ela comenta que procura trabalhar com os três eixos, sendo eles: fazer, apreciar e contextualizar, ou seja, baseia-se na Metodologia Triangular proposta por Ana Mae Barbosa. Segundo Rosa Iavelberg (2003, p.10): “Aprender arte envolve a ação em distintos eixos de aprendizagem: fazer, apreciar e refletir sobre a produção social e histórica da arte, contextualizando os objetos artísticos e seus conteúdos”. A professora por duas vezes cita a oportunidade de sensibilizar seus alunos com a arte. Ela acredita nisso por gostar muito do universo artístico, e é isso que pode tornar suas aulas mais atrativas aos educandos que consequentemente tornam-se mais sensíveis e abertos ao que a professora lhes ensina. Sobre isso, Iavelberg (p. 12) diz: “É necessário que o professor seja um „estudante‟ fascinado por arte, pois só assim terá entusiasmo para ensinar e transmitir aos seus alunos a vontade de aprender.” Sobre a dinâmica da sala de aula, percebi que a professora varia trabalhos em grupos e individuais, porque considera importante que os educandos aceitem as opiniões dos colegas. A atividade em grupo é importante, pois estimula o convívio e a socialização entre os alunos da turma, podendo assim reunir várias ideias e pontos de vista em um mesmo trabalho. A ação artística também costuma envolver criação grupal: nesse momento a arte contribui para o fortalecimento do conceito de grupo como socializador e criador de um universo imaginário, atualizando referências e desenvolvendo a sua própria história. A arte torna presente o grupo para si mesmo, por meio de suas representações imaginárias. O aspecto lúdico dessa atividade é fundamental (Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Fundamental, 2000, p.49).
Em virtude do mês em que o questionário foi respondido (Agosto), ela respondeu que naquele momento trabalhava com o Ensino Fundamental, 41
especificamente 5ª e 6ª séries, o tema Folclore, que tem sua data no referido mês, ou seja, ela envolveu uma data comemorativa em sua aula. Porém, notei que as demais séries trabalhavam com conteúdos bem distintos, como por exemplo, o Renascimento e a Arte Moderna, e isso me levou a crer que talvez os conteúdos sejam planejados de forma que coincidam com o que as turmas aprendem em cada ano nas outras disciplinas, como a Semana de Arte Moderna de 22 em História e Literatura, ou Renascimento na disciplina de História. Esse aspecto pode facilitar a compreensão e contextualização do conteúdo a ser assimilado. Percebi também que, sendo os conteúdos bem distintos e específicos em cada série, os mesmos não se tornam repetitivos e não fazem parte de um senso comum que acompanha os educandos ao longo de sua trajetória escolar. Sobre o trabalho com folclore no mês de agosto, acredito que esteja dentro do que deve ser trabalhado em Artes, pois apesar de ser uma data comemorativa, podem-se trabalhar a cultura de determinados locais e características que identificam diversos grupos, enriquecendo a cultura do nosso país. A avaliação feita pela professora é participativa, gradual e contínua, ela diz avaliar o processo, verificando a participação, o interesse, o envolvimento, a produção de cada um e a responsabilidade com os materiais e entrega dos trabalhos. Avaliando o processo, acredito que a docente valorize mais todo o desenvolvimento do trabalho do educando, percebendo as fases pelas quais o aluno passou até chegar aos resultados obtidos, pois: [...] o ato avaliativo não pode ser uma simples mensuração de produtos finalizados. Isso porque nem sempre o resultado de um trabalho em arte reflete os procedimentos e as motivações presentes em seu surgimento (FERRAZ; FUSARI, 1999, p.123).
Percebi também que a professora procura se atualizar visitando exposições de arte, e que procura, dentro do possível, proporcionar este momento a seus alunos também, para que os mesmos tenham contato com arte. A visitação a exposições é sempre válida, sinto que a atitude pode fazer com que os alunos se sensibilizem ainda mais com este universo tão amplo e rico chamado “arte”. Se a professora assim fizer, e utilizar todos os materiais disponíveis na escola, além das pesquisas e materiais particulares, acredito que fará a diferença junto com seus educandos. 42
1.5. Análise do questionário respondido pelos alunos
Através dos questionários respondidos pelos alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual Monte Alverne, constatei que a maior parte deles, cerca de 85%, dizem gostar de arte, considerando-a interessante, divertida e criativa. Eles ressaltaram ainda a arte como forma de se expressar, consideram-na parte da cultura e destacam as belezas que podem ser feitas em arte. Percebe-se que os educandos veem a arte como algo belo, somente isso, mas [...] se tratando do belo na arte, a obra de arte é o objeto de percepção e pode ser definido como algo que contém um significado. Deve haver uma relação transcendental, psicológica, experimental e imagística entre o expectador e a obra. Para se entender a origem da arte deve-se conceber a expressão atual da arte através do entendimento dos povos, desde os primitivos. Já para se entender a essência da arte, há que se estudar com os olhos internos, aquilo que não está visível e que não é reconhecido pelo intelecto (TRINDADE, 2010, p.7).
Talvez falte aos educandos um melhor entendimento dos conceitos de arte, discussões sobre o belo e o feio e sobre estética, e maior percepção de obras de arte, pois eles limitam-se à idéia do belo (bonito) e talvez considerem feio e errado aquilo que aos seus olhos pareça estranho ou diferente. Ao mesmo tempo, estes alunos percebem a arte ao seu redor, o que me deixou admirada. É fantástico constatar que muitos percebem a arte da música e do teatro, a arte do design dos objetos, arte em fotografias e em coisas antigas. O distrito onde reside a maior parte dos alunos possui construções muito antigas, fantásticos exemplos de arquitetura, esculturas, afrescos e pinturas em quadros, e tudo isso foi citado pelos alunos, que consideram tudo isso arte. A pergunta foi elaborada justamente com este propósito, de levar os alunos a perceberem a arte existente próxima a eles, inclusive em suas próprias casas. Em relação aos materiais citados em resposta à questão sobre os materiais com os quais costumam trabalhar, os mais citados foram lápis e papel para desenho, tinta e pincel para pintura e tesoura e cola para recortes e colagens. A linguagem mais citada entre as preferidas dos educandos foi pintura, preferida por 60% da turma; em seguida constam desenho e colagem, também muito citadas. Apenas um aluno citou outras linguagens: desenho computadorizado, desenho gráfico e
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fotografia, e isso se deve ao fato do mesmo estar fazendo um curso de informática em turno oposto, como ele próprio me informou. Na escola já foram realizadas oficinas relacionadas à arte, das quais alguns alunos já participaram, porém, no momento, não ocorria nenhuma oficina e por isso ninguém participa atualmente de cursos ou oficinas artísticas, há apenas o menino que cursa informática. Alguns ressaltaram a vontade de poder participar, porém, talvez para estes a única oportunidade seja na escola, gratuitamente, e infelizmente a escola não disponibiliza mais de profissionais destinados a ministrar oficinas. Através das respostas obtidas pelo questionário, aliadas às observações silenciosas, constatei que o desempenho da turma nas aulas de Arte é regular. Falta muitas vezes interesse nos assuntos abordados e dedicação às atividades propostas. Todos os alunos responderam que a turma realiza exposições de seus trabalhos na sala de aula ou pelos espaços da escola. Eu pude visualizar uma delas na parede da Sala de Arte. Isto é muito significativo para a motivação e empenho dos alunos, que recebem incentivos e apoio de quem vê as exposições. Para os alunos, a experiência de realizar uma exposição de seus trabalhos não parece empolgá-los como deveria e isso se deve ao modo com que são organizadas as exposições, sem critérios, sem elaborações e planejamento, quando a exposição é apenas colar os trabalhos na parede. Porém, no caso de realizar uma exposição dos trabalhos dos alunos [...] é interessante que as crianças vivenciem todo o processo também vivido pelo artista e a instituição que os expõe. Curadoria, convites, livro de assinatura, monitora, nos caso das artes visuais. [...] Também vale a pena pensar como expor, pois o foco é o processo de cada aluno e não o processo do professor. Às vezes separar por atividade apenas enfatiza as atividades e não o processo e a produção de cada criança. E todos os alunos devem ter trabalhos expostos, do mesmo modo que todos são atuantes num espetáculo cênico ou musical (MARTINS, 1997, p.80).
Sobre a importância do ensino da Arte na escola, os educandos consideram uma oportunidade de adquirir novos conhecimentos, ter contato com culturas diferentes, lidar com a emoção, criatividade e expressividade. Alguns pensam no futuro em que poderão ser artistas profissionais, outros citaram o descobrimento de dons ou a disciplina como uma forma de desenvolver a mente. A arte proporciona tudo isso e mais, é cultura, conhecimento, curiosidade, ciência, expressão, sentimento, passado, presente e futuro. 44
1.6. Motivos da definição do tema de pesquisa
A definição do tema que levaria à pesquisa em Artes Visuais foi resultado da combinação de um interesse pessoal por assuntos relacionados à identidade, autorretratos, arte e cultura local e das análises das observações silenciosas e dos questionários respondidos. No Ensino Médio é muito evidente a busca por uma identidade própria, a busca por destaque, por reconhecimento. Isso é decorrente da fase em que se encontram os alunos deste nível de ensino, eles são adolescentes que estão em plena formação da sua identidade. Neste sentido, o tema escolhido busca, por meio da arte, promover a identificação dos alunos com sua produção artística e mais, procura mostrar e valorizar a arte que está próxima e faz parte do cotidiano dos alunos. Com este intuito, defini que faria minha pesquisa relacionando três grandes questões: arte, identidade e cultura local. Identidade em virtude da necessidade de identificação dos alunos com os conteúdos estudados na disciplina. Cultura por considerar de extrema importância que tenhamos todos consciência sobre nossa própria cultura, a cultura do nosso ambiente e saibamos sobre a arte local. Arte produzida no passado e no presente por pessoas que nasceram, viveram e pertenceram a esta mesma cultura e dela passaram a fazer parte. O aspecto da cultura local foi escolhido como forma de contextualizar o aprendizado relacionado à identidade e arte. Assim, foi dada ênfase aos aspectos identitários e artísticos e o contexto foi criado relacionando-os com cultura.
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2. ARTE E IDENTIDADE O diferente é o outro, e o reconhecimento da diferença é a consciência da alteridade: a descoberta do sentimento que se arma dos símbolos da cultura para dizer que nem tudo é o que eu sou e nem todos são como eu sou. Homem e mulher, branco e negro, senhor e servo, civilizado e índio... o outro é um diferente e por isso atrai e atemoriza. É preciso domá-lo e, depois, é preciso domar no espírito do dominador o seu fantasma: traduzilo, explicá-lo [...] Por isso o outro deve ser compreendido [...] O outro sugere ser decifrado, para que os lados mais difíceis de meu eu, do meu mundo, de minha cultura sejam traduzidos também através dele, de seu mundo e de sua cultura. Através do que há de meu nele, quando, então, o outro reflete a minha imagem espelhada e é às vezes ali onde eu melhor me vejo. Através do que ele afirma e torna claro em mim, na diferença que há entre ele e eu. Carlos Rodrigues Brandão
2.1. Afinal, o que é Identidade
O termo „identidade‟ possui diversos conceitos, cada um de acordo com a área que o conceitua. Segundo o Dicionário Aurélio, identidade significa “conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa”. Então, podemos também dizer que a identidade de cada um é formada por diversas particularidades e características que permitem a um indivíduo sentir-se como sujeito único, tomando consciência de si mesmo. Essas particularidades e características abrangem a história de vida, personalidade, expectativas para o futuro, sonhos, anseios e fantasias; são os termos e gírias utilizados, a opinião e forma de pensar, o modo de se vestir, o local de origem, a etnia, etc. Cada vez mais se pensa na identidade como forma de diferenciar o “eu” do “outro”. Podemos dizer que a identidade é relacional, pois necessita de outra identidade, diferente, que forneça condições para que ela exista. A identidade de alguém, então, também pode ser definida por aquilo que a pessoa não é. “A identidade é marcada pela diferença, mas parece que algumas diferenças [...] são vistas como mais importantes que outras, especialmente em lugares particulares e em momentos particulares” (WOODWARD, 2007, p.11). Quando falamos em identidade, podemos falar em identidade social, cultural, visual e nacional. Para Stuart Hall (2002), existem, ainda, três concepções muito diferentes de identidade, a saber: 47
Concepção do sujeito do Iluminismo – concepção individualista do sujeito, baseada na concepção de pessoa humana como indivíduo centrado e unificado, dotado de consciência, razão e ação. O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa. Concepção do sujeito sociológico – o sujeito era formado na relação com outras pessoas. A identidade preenche o espaço entre o „interior‟ e o „exterior‟, ou seja, entre o pessoal e o público. Concepção do sujeito pós-moderno – não existe mais uma identidade fixa, que seja essencial ou permanente. “A identidade torna-se uma „celebração móvel‟: formada e transformada
continuamente
em
relação
às
formas
pelas
quais
somos
representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 1987, apud HALL, 2002, p.13). Ainda pensando em identidade na pós-modernidade, podemos dizer que: [...] as identidades não são nunca unificadas; que elas são, na modernidade tardia, cada vez mais fragmentadas e fraturadas; que elas não são, nunca, singulares, mas multiplamente construídas ao longo de discursos, práticas e posições que podem se cruzar ou ser antagônicos. As identidades estão sujeitas a uma historicização radical, estando constantemente em processo de mudança e transformação (SILVA, 2007, p.108).
2.2. E personalidade
De acordo com Alfredo Fierro (1997, apud LEHENBARUER et alli, 2007, p.123), personalidade é: Um conjunto de processos e de sistemas comportamentais, intimamente relacionados entre si, definidos principalmente pelos seguintes elementos: o fato de que, na mesma situação ou em situação semelhante, diferentes indivíduos reagem e se comportam de maneira diferente; o fenômeno, complementar ao anterior, de que em momentos e situações diferentes as pessoas manifestam algum tipo de regularidade e estabilidade em sua maneira de se conduzir; a realidade da unidade do sujeito de se conduzir em suas diferentes atividades psicológicas e de comportamento; o fato de que este sujeito é verdadeiramente agente, ativo e não apenas reativo diante de estimulação ou pressão externa...-ou o “eu”, ou “de si próprio”para nos referirmos a certas classes de condutas relativas seja ao autoconhecimento (autoconceito e auto-estima), seja ao reconhecimento interpessoal na apresentação da própria identidade nas relações sociais.
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O termo “personalidade” designa um conjunto de características psicológicas de um indivíduo, que determinarão a individualidade do mesmo, sua maneira de agir, pensar e sentir. Podemos também pensar em personalidade como um conjunto de características que se destacam em alguém, e sua formação faz parte de um processo único, individual para cada um de nós. Sabe-se que muito se usa a expressão “não ter personalidade”, que apenas quer dizer que não há características que se sobressaiam no que diz respeito ao modo de pensar, agir e sentir daquela pessoa, como se a personalidade dela dependesse exclusivamente do que os outros pensam, sentem e fazem. Apesar de ser um conceito relacionado ao âmbito psicológico, a personalidade está relacionada com o corpo e os processos de desenvolvimento dos seres humanos, determinando o relacionamento do indivíduo com o ambiente no qual está situado. Assim, a personalidade é influenciada culturalmente pelo meio no qual a pessoa vive.
2.3 Uma forma de autoconhecimento: o autorretrato.
Eu pinto autorretratos porque sou a pessoa que conheço melhor. Frida Kahlo
“Autorretrato é uma forma de registro em que o modelo é o próprio artista. O retratado é quem se retrata” (CANTON, 2001, p.3). O autorretrato é uma forma de se descobrir, de representar a si mesmo, de demonstrar personalidade e caráter através de um desenho, pintura, objeto, fotografia ou outra linguagem. Um autorretrato apresenta a maneira como o autor\artista se percebe, e nem sempre mostra a imagem real da pessoa, mas sim como ela se enxerga. Dessa maneira, o autorretrato não precisa, necessariamente, ser a imagem de um rosto, pode ser a representação de qualquer outra parte do corpo ou qualquer objeto que tenha para o artista algum significado, ou que nele se encontre uma forma de identificação, uma maneira de se perceber naquilo que foi representado. O autorretrato funciona para representar a maneira que o artista se vê ou como quer que o vejam.
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Se analisarmos a história da arte, veremos que muitas vezes os artistas projetaram suas próprias imagens em telas ou papéis, em sua maioria como uma forma de autorreflexão. Quase sempre apresentando o rosto do artista, muitas destas imagens são angustiantes e frias, pois o semblante do artista aparece sério, muito raramente esboçando um sorriso. Alguns artistas ainda se utilizaram de autorretratos para registrar momentos marcantes em suas vidas, evidenciando sofrimento, defeitos físicos e até mutilações. O exemplo mais marcante que temos desta representação é o “Autorretrato com orelha enfaixada”, do artista Vincent Van Gogh, pintado em 1888, ano em que o próprio artista cortou sua orelha em um momento de crise.
Van Gogh, “Autorretrato com orelha cortada”, 1888. (http://www.theartwolf.com/articles/50-impressionist-paintings.htm)
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2.3.1. Um pouco de história... A autorrepresentação sempre existiu, mas tomou várias formas diferentes e foi sofrendo alterações ao longo do tempo. O autorretrato é uma forma de satisfazer o desejo do ser humano de marcar sua presença no mundo. Já na PréHistória, homens e mulheres deixavam suas marcas dentro das cavernas, registrando ali suas identidades. Colocando as mãos na parede e soprando pós coloridos sobre elas, marcavam o interior das cavernas, locais protegidos onde esses registros ficaram gravados para a posteridade. No final da Idade Média, o artista Giotto di Bondone se incluiu entre os homens retratados na parede da Capela Arena, em Pádua, na Itália, em um mural que ele mesmo pintou entre 1304 e 1306, chamado “Juízo Final”. (CANTON, 2001). Assim como Giotto, outros pintores se incluíram em meio a outras figuras nas obras encomendadas. Essas obras normalmente retratavam fatos históricos, e nelas os artistas pintavam seus autorretratos como se fossem personagens de tais fatos. As obras levavam outros nomes e não eram consideradas oficialmente como autorretratos de seus criadores. Outros pintores se faziam ainda passar por outras figuras, sendo capazes de pintar seus autorretratos como se fossem deuses. Caravaggio, por exemplo, pintou a si mesmo como o deus do vinho, ou seja, como Baco.
Caravaggio, “Autorretrato como Baco”, 1593 – 1594. (http://obelogue.blogspot.com/2008/09/ars-longa-vita-brevis-hipcrates antese_12.html)
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A popularidade do autorretrato se deu na época do Renascimento, que vai aproximadamente do século XV ao XVII (CANTON, 2001). Nesta época o ser humano se tornava o centro de todas as preocupações. Ainda não existia fotografia, então os pintores eram contratados para registrar a imagem de pessoas importantes. A partir disso, os artistas começaram a pintar suas próprias imagens, pois também almejavam deixar sua imagem gravada para o futuro, sentir-se importantes como seres humanos e como profissionais. Em seus autorretratos, podiam expressar o que sentiam internamente, seus pensamentos e todas as suas emoções, além de usarem estas pinturas como forma de estudo e aperfeiçoamento da técnica de pintura. O primeiro artista renascentista a fazer uma série de autorretratos foi Albrecht Dürer. Em 1500 o artista pintou o “Autorretrato com casaco de peles”, em que, de barbas e cabelos longos, sua imagem se parece com a de Jesus Cristo. Dürer acreditava que um artista, quando chegava a ser um verdadeiro mestre, tinha tanta importância quanto à de Deus ou Jesus (CANTON, 2001).
Albrecht Dürer, “Autorretrato com casaco de peles”, 1500. (http://obelogue.blogspot.com/2011/02/o-carteiro-exceptuando-o-cabelo-estilo.html)
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Mas foi Rembrandt Van Rijn o artista que pintou o maior número de autorretratos da história da arte, foram cerca de cem. O artista registrou diferentes fases de sua vida, vivendo diferentes emoções, apresentando diversas expressões e demonstrando muita sensibilidade através de pinturas e desenhos. Em seus autorretratos podem-se perceber as mudanças na forma como o artista pintava ao longo de sua trajetória artística, notar a evolução de sua técnica e a mudança das pinceladas. Ele fazia essas auto-imagens para investigar as particularidades de cada ser humano.
Quererão saber que espécie de pessoa eu fui. (Rembrandt).
Rembrandt, “Autorretrato aos 55 anos”, 1661. (https://luciaadverse.wordpress.com/category/arte-2/)
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Rembrandt, “Autorretrato aos 23 anos”, 1629. (https://luciaadverse.wordpress.com/category/arte-2/)
2.4. Frida Kahlo: uma artista autobiográfica
Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón nasceu em 6 de julho de 1907 em Coyoacán, no México, e faleceu no dia 13 de julho de 1954 (FARTHING, 2009, p. 416). Teve uma vida intensa. Iniciou sua trajetória artística no período de recuperação após ser gravemente ferida em um acidente de ônibus, tendo a pintura como passatempo já que estava parcialmente imobilizada pelo gesso. Ela começou a pintar para aliviar a dor de sua vida permeada de sofrimentos: passou por abortos, mutilações, traumatismo e mais de 15 cirurgias. Frida foi mulher do muralista mexicano Diego Rivera e a mais importante pintora mexicana do século XX. Autodidata, conquistou seu espaço individual sendo reconhecida por sua personalidade forte e pelos temas pouco comuns de suas pinturas, que agradavam muito outros artistas, em especial os surrealistas. Seu espaço ultrapassou a pintura e foi marcado também por um forte ideal político, pois a artista foi símbolo do feminismo e da liberdade, integrando o partido comunista mexicano.
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A produção total da artista chega perto de 150 pinturas, em estilo naif mexicano, mostrando a visão que Frida tinha da vida. “Entre 1926 a 1954 ela buscou inspiração nas experiências de sua vida mais íntimas, muitas vezes dolorosas” (FARTHING, 2009, p.417). Tendo feito inúmeros autorretratos neste período, evidenciou “seu fascínio pela identidade e pelas máscaras, e as paisagens mortas podem ser interpretadas como manifestações visuais do orgulho nacional” (FARTHING, 2009, p. 417). O México demorou a reconhecer as obras de sua artista. A primeira exposição de Frida em seu país natal aconteceu em 1953, um ano antes de sua morte, porém, 14 anos antes, ela já havia exposto suas obras em Paris e Nova York, sendo a primeira artista mexicana que expôs suas obras no Museu do Louvre. Entre muitos e interessantíssimos autorretratos está um duplo autorretrato intitulado “As duas Fridas”, pintado no ano de 1939.
Frida Kahlo, “As Duas Fridas”, 1939. (http://www.artigonal.com/educacao-artigos/as-duas-fridas-1939-frida-kahlo-1286612.html)
Esse duplo autorretrato foi criado à época da separação de Frida Kahlo e Diego Rivera. À direita, a artista veste roupas tradicionais do México, representando a mulher que Rivera amava. Ela segura um retrato dela
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ainda criança e expõe o coração por inteiro. À esquerda, traja um vestido de casamento em estilo colonial; o coração está partido e goteja sangue sobre a saia. Segundo a própria Frida, essa tela representa a “dualidade” de sua personalidade (FARTHING, 2009, p. 417).
2.5.
A relação entre arte e cultura
Existem várias maneiras de entender o que é cultura. Podemos pensá-la como “tudo aquilo que caracteriza a existência social de um povo ou nação, ou então de grupos de interior de uma sociedade” (SANTOS, 1994, p.24). Também podemos pensar na cultura como o “conhecimento, as ideias e crenças, assim como as maneiras como eles existem na vida social” (Idem), pois não é possível imaginar tais aspectos sem nos referirmos à sociedade à qual se referem. Desta forma, se torna fundamental que conheçamos a realidade cultural da qual fazemos parte para que possamos entender seu sentido, pois Cada realidade cultural tem sua lógica interna, a qual devemos procurar conhecer para que façam sentido as suas práticas, costumes, concepções e as transformações pelas quais estas passam. É preciso relacionar a variedade de procedimentos culturais com os contextos em que são produzidos. [...] Entendido assim, o estudo da cultura contribui no combate a preconceitos, oferecendo uma plataforma firme para o respeito e a dignidade nas relações humanas (SANTOS, 1994, p.8).
O termo cultura pode estar associado a diversos sentidos. Muitas vezes, é associado a estudo, capacidade, formação, educação. Também se fala em cultura para se referir à festas, cerimônias, lendas, crenças, vestimenta, culinária, idioma e outros aspectos que dizem respeito às tradições de um povo. Ainda, podemos falar em cultura também quando nos referimos à arte, teatro, pintura, dança, música, escultura, monumentos ou outras manifestações artísticas. Através da arte, podemos perceber certos aspectos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social, seu modo de vida, suas crenças, seus valores, sua tradição. A arte, como forma de linguagem, é capaz de transmitir significados que nenhuma outra linguagem seria capaz de expressar, portanto, não conhecemos totalmente a cultura de um país sem conhecer sua arte. Ana Mae Barbosa, no artigo Arte, Educação e Cultura (2009, p.3), ressalta que:
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Através da poesia, dos gestos, da imagem, as artes falam aquilo que a história, a sociologia, a antropologia etc., não podem dizer porque elas usam um outro tipo de linguagem, a discursiva, a científica, que sozinhas não são capazes de decodificar nuances culturais. Dentre as artes, a arte visual, tendo a imagem como matéria-prima, torna possível a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos. [...] eu diria que a arte capacita um homem ou uma mulher a não ser um estranho em seu meio ambiente nem estrangeiro no seu próprio país. Ela recupera o estado de despersonalização, inserindo o indivíduo no lugar ao qual ele pertence.
A arte nos proporciona a oportunidade de, percebendo a diversidade cultural, vivenciá-la, possibilitando que nos reconheçamos no processo criativo. Pela arte podemos incorporar a pluralidade existente na cultura e dela fazer parte. A arte não pode ser separada da realidade social, cultural, econômica e política de um país, pois ela desempenha papel fundamental na junção da sociedade, principalmente para os jovens, para os quais a arte tornou-se forma compreensível de comunicação, de identificação, de identidade. A arte é parte da cultura e se relaciona com ela, visto que A cultura é a totalidade dos sistemas de significação através dos quais o ser humano, ou um grupo humano particular, mantém sua coesão (seus valores e identidade e sua interação com o mundo). Esse sistemas de significação, usualmente referidos como sendo sistemas modeladores secundários (ou a linguagem da cultura) englobam não apenas todas as artes (literatura, cinema, pintura, música, etc.), as várias atividades sociais e padrões de comportamento, mas também os métodos estabelecidos pelos quais a comunidade preserva sua memória e seu sentido de identidade (mitos, história, sistema de leis, crença religiosa, etc.). Cada trabalho particular de atividade cultural é visto como um texto gerado por um ou mais sitemas (A. SHUKMAN, 1986, p.166 in SANTAELLA, 1996, p. 26).
Neste sentido, podemos concluir que arte e cultura possuem sua ligação e que cultura faz parte da arte assim como arte faz parte da cultura.
2.6.
Mais alguns conceitos relevantes:
2.6.1.
Identidade Cultural
Fazem parte da identidade cultural as relações entre indivíduos e entre grupos de indivíduos que possuem características em comum como língua, religião, trabalho, esportes, festas, artes e outros. 57
O processo de mudança conhecido como globalização exerce um impacto sobre a identidade cultural. A sociedade atual sofre mudanças constantes, rápidas e permanentes na medida em que o mundo é interconectado. A diversidade cultural que o mundo apresenta hoje, as múltiplas e flutuantes identidades em processo contínuo de construção, a defesa do fragmentário, das parcialidades e das diferenças, trouxeram, como corolário, uma volatilidade das identidades que se inscrevem em uma outra lógica: da lógica da identidade para a lógica da identificação. Da estabilidade e segurança garantidas pelas identidades rígidas, à impermanência, mutabilidade e fluidez da identificação (OLIVEIRA, 2009, sem página).
Na percepção individual ou coletiva de identidade, o meio influencia os seres, uma vez que nosso mundo é invadido a todo o momento por „modismos‟, inovações e características temporárias. No passado, as identidades eram mais estáveis, pois não havia tanto contato entre culturas diferentes. Hoje, as pessoas acabam interagindo mais, entre si e com outros grupos. As distâncias foram encurtadas, os acontecimentos se espalham em tempo real, tudo isso devido ao fenômeno chamado globalização. Agora, temos uma diversidade cultural muito maior, pois novas identidades culturais vão surgindo por meio de mesclas e junções de particularidades de diversas culturas. A Interculturalidade, que é a interação entre as diversas culturas, deve ser a proposta de uma educação que se interessa no desenvolvimento cultural, e seu objetivo deve atender às necessidades de se conhecer a cultura local, as outras culturas que juntas constituem a nação e ainda as culturas pertencentes a outras nações, que juntas formam essa diversidade cultural presente no mundo contemporâneo. A cultura de determinada sociedade é formada por diversas características do local e está diretamente ligada à identidade do mesmo. Religião, língua, costumes, hábitos, crenças, folclore, culinária, trajes, música, festas e eventos, arte e artesanato são formadores da cultura. “[...] a cultura é um exercício, necessariamente crítico, de aproximações e estranhamento, mas sempre um poderoso fator a reunir as pessoas e gerar identidades comuns” (SCHÜLER, BORDINI, 2004, p.9). Podendo sofrer mudanças com o tempo, a cultura é sinônimo de movimento. À ela são adicionados elementos, bem como algumas características 58
são perdidas em virtude de diferentes fatores que modificam e fazem adaptações às identidades culturais. Surgem novas ideias e ideais, se agregam novas culturas, ocorre a miscigenação, muito comum na contemporaneidade, onde o mundo se comunica o tempo todo. As mudanças ocorrem devido a este contato com outras culturas. A arte também caracteriza a cultura de um estado ou de um país, fazendo parte da identidade de cada local, e a cultura se torna uma das principais características do homem.
2.6.2.
Identidade regional e identidade nacional
O Brasil é conhecido como um dos países com maior diversidade cultural do mundo. Seus 26 estados mais o Distrito Federal apresentam diferentes realidades econômicas, sociais e culturais. Isso se deve ao fato de que o país foi colonizado de diferentes formas e por colonizadores de variadas origens. Há ainda as diferenças climáticas devido à grande extensão territorial do Brasil, que também acabam interferindo na cultura de determinadas regiões. Todos estes fatores influenciam e fazem parte da formação de identidades regionais. A diferenciação regional se dá através da identificação dos ancestrais fundadores do local e de sua história construída desde então, bem como através do reconhecimento
de
personagens
históricos,
heróis,
língua,
folclore
local,
características arquitetônicas, monumentos, fatos marcantes, e da própria paisagem natural. A identidade regional faz parte de uma identidade maior, a nacional, pois qualquer região sempre faz parte de um todo. Aqui, formamos a brasilidade, uma identificação sociocultural que é o espelho do povo brasileiro. Voltando para a identidade regional, o estado do Rio Grande do Sul é um ótimo exemplo, que não se limita ao chimarrão, bombachas e churrasco. O estado localiza-se no extremo sul do país e faz divisa com outros dois países, o Uruguai e a Argentina, e sua história foi definida por conflitos históricos. O entendimento destes conflitos é fundamental para o entendimento da formação da cultura e da identidade do estado. O conflito mais lembrado é a Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, um motivo de orgulho para os gaúchos. 59
As diversas culturas que compõe o estado são responsáveis pela língua, costumes, religiões, culinária, tradições e folclore. Mas as diferentes etnias formadoras da cultura gaúcha não podem ser separadas da mesma, pois as culturas dos imigrantes europeus, dos indígenas e dos negros compõem, agora, subculturas de um todo que é a cultura rio-grandense, e fazendo parte dela, formando juntas a rica e diversificada cultura gaúcha que faz parte de uma identidade maior, a identidade nacional brasileira.
2.7.
Identidade regional de Santa Cruz do Sul
Ninguém pode ser um bom brasileiro, se não honrar sua herança cultural. Bento Munhoz Rocha
O município de Santa Cruz do Sul, onde se localiza o Colégio Estadual Monte Alverne, e onde reside a maioria de seus estudantes, foi colonizado por imigrantes alemães. Os descendentes destes imigrantes não esqueceram de onde vieram seus antepassados e cultivam a língua e cultura que eles trouxeram consigo. Em muitos lares a língua e bens culturais continuam presentes e destacam a região. Conforme a professora Lissi Bender Azambuja (2009, p.8), os imigrantes alemães: “Com os conhecimentos trazidos cultivaram o solo e contribuíram significativamente para o desenvolvimento social, cultural, bem como para o estabelecimento do comércio e da indústria em nossa terra”. Os conhecimentos aos quais a professora se refere são: o saber ler e escrever (na língua alemã), tocar música e cantar, e ainda habilidades profissionais. Os referidos conhecimentos foram postos a serviço do desenvolvimento local. A música, o canto e a vida em comunidade, bem como a religiosidade foram muito importantes para que os imigrantes enfrentassem as dificuldades encontradas quando aqui chegaram, e hoje são patrimônio cultural da coletividade santa-cruzense. Valores como a solidariedade, auxílio mútuo, a compreensão do cultivo da terra como fator dignificante da vida e o reconhecimento da importância da
60
educação foram fundamentais para não sucumbirem em meio à mata virgem nos primeiros tempos. Os alemães também foram responsáveis pela vinda de costumes como árvore de Natal e Papai Noel, e ainda coelho da Páscoa e seus ovos coloridos, costumes antes desconhecidos no Rio Grande do Sul. Hoje, em muitos lares santa-cruzenses e da região ainda se fala a língua alemã, passada de geração em geração para que não se perca. O sotaque alemão predomina em grande parte da população do município, principalmente no interior. A música típica alemã predomina nos bailes do interior, onde bandas típicas animam festas de “Kerb”, quermesses e outras comemorações. Grupos de Dança Folclórica Alemã cultivam a dança típica e divulgam a tradição em todo o estado e no município, principalmente durante a Oktoberfest, considerada uma das maiores festas alemãs do mundo e a maior do Estado no gênero. A gastronomia típica predomina na mesa de grande parte das casas, onde se come muita cuca, embutidos como linguiça e salame, chucrute, pratos a base de batata, bolinhos, massa caseira, requeijão (Käs-Schmier), e se bebe cerveja caseira (Spritzbier). Também se adotaram costumes gaúchos muito difundidos na região, como o churrasco de domingo e o chimarrão que já se tornou hábito da maioria dos descendentes de alemães no Rio Grande do Sul. “[...] houve no âmbito das tradições um intercâmbio de ambas as partes. Não somente os alemães absorveram costumes brasileiros, mas o ambiente brasileiro também se modificou com a presença dos imigrantes” (TORNQUIST, 1999, p. 18).
2.8.
Dois artistas locais
2.8.1. Antelmo Stoelbenn Antelmo Paulo Stoelbenn é um artista santa-cruzense, que reside em Linha Santa Cruz, interior do município. Ele não possui formação acadêmica na área artística, mas realizou alguns cursos relacionados ao cinema, fotografia e artes plásticas. Autodidata, declara seu interesse pela arte desde muito cedo, mas reconhece que é nos últimos anos que mais tem se dedicado à sua arte, 61
participando de diversas exposições por toda a região. A arte, porém não é a profissão do artista, que trabalha no ramo de reparação automotiva desde 1986. É fotógrafo amador há 15 anos, já participou de diversos concursos na área, nacionais e internacionais, tendo recebido algumas premiações. O artista é sócio-fundador do Clube “Amigos do Cinema” e do Clube da Fotografia de Santa Cruz do Sul, sendo muito atuante na sociedade santa-cruzense. Antelmo trabalha com fotografia e pintura, mas também faz experimentações com escultura, música (toca saxofone), literatura (poeta) e cinema (curta-metragem). Suas fotografias são o retrato da cultura local, pois contam a história de Santa Cruz do Sul através de seus prédios históricos, marcos arquitetônicos e belas paisagens interioranas. Antelmo também modifica suas fotografias digitalizando-as, e cria efeitos diferenciados embelezando ainda mais sua arte.
“Blumen Haus”, fotografia de Antelmo Stoelbenn. (http://www.santelmo13@blogspot.com)
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“Casa Franz”, fotografia de Antelmo Stoelbenn. (http://www.santelmo13@blogspot.com)
“Bender Haus”, fotografia de Antelmo Stoelbenn. (http://www.santelmo13@blogspot.com)
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2.8.2. Regina Simonis Para obter referências e informações sobre esta artista local, procurei realizar uma pesquisa no principal jornal do município, em que encontrei um encarte sobre Regina Simonis, datado de 07 e 08 de agosto de 2010. O artigo intitulado “Para lembrar de D. Regina” foi escrito por Emanuelle Dal-RiNascida e encontra-se no encarte Magazine do Jornal Gazeta do Sul, nas páginas 4 e 5. Nascida em 1900, no município de Santa Cruz do Sul, Regina Simonis estudou no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Tendo ingressando em 1927, Regina foi uma das primeiras alunas do educandário e investiu naquilo que mais gostava de fazer: desenhar e pintar. Como desde meados do século XIX a pintura brasileira sofria influências da pintura oficial francesa, que trazia como padrão estético o Neoclassicismo, e idealizava a moral encontrada na Antiguidade Grega por representar um mundo idealizado, controlado pelo homem e guiado pela razão, o Instituto de Belas Artes não fugia a essa regra. Regina permaneceu seis anos no curso de pintura, orientada pelo mestre europeu Francisco Pelichek, que fora consagrado na época como o melhor professor da área. Em 1933 Regina se diplomou, chamando a atenção de todos so expor suas obras no Theatro São Pedro, na Exposição Anual do Instituto de Belas Artes. A então artista recebeu reconhecimento no jornal Folha da Manhã, em 1933, que se referia à exposição no Theatro São Pedro, e que havia apenas uma obra reproduzida como forma de ilustrar a reportagem: uma natureza morta de Regina Simonis. Na década de 30, Regina retornou a Santa Cruz do Sul e passou a dedicar-se a pintura e ao cuidado de seus pais idosos. Após o falecimento de ambos, já nos anos 40, a artista passou a dedicar sua vida à pintura. Regina procurava “em cada obra, em cada pincelada, a materialização colorida da sua concepção de um ideal artístico” (DAL-RI, 2010, p. 5). Segundo sua sobrinha Eugênia Simonis, 81 anos, a artista retratava a própria alma nas telas. Regina teve conhecimento ainda em vida e lutava como poucas pelo desenvolvimento da arte na região. A artista foi reconhecida, formal e oficialmente pela sociedade santa-cruzense no ano de 1995, quando um prédio antigo, onde antes funcionou o Banco Pelotense, recebeu o nome de Casa das Artes Regina 64
Simonis. O prédio é considerado por muitos o mais belo de toda a região e foi cedido em 1994 para a Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul pela Secretaria da Fazenda do Estado. Em 2000 foram iniciadas as obras de restauração do prédio, com apoio da Universidade de Santa Cruz do Sul e com recursos captados pela Lei de Incentivo à Cultura do Governo do Estado. Em outubro de 2002 o acervo de Regina Simonis (15 telas e 20 estudos em crayon mais o diploma do curso realizado por ela) foi doado por um empresário à Associação Pró-Ensino de Santa Cruz do Sul (Apesc) por meio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC). Em 2005 foi inaugurada a exposição permanente dos trabalhos de Regina, e desde então, está aberta para visitação na Casa das Artes Regina Simonis. Em 6 de dezembro de 1993 a artista recebeu da Câmara de Vereadores o título de Cidadã Honorária de Santa Cruz do Sul pelos relevantes serviços prestados à comunidade do município. Regina pintou até 1996, seu último ano de vida, “transformou a arte e as flores nas razões de sua existência” (DAL-RI, 2010, p.5). No dia 11 de junho de 1997, na data do seu aniversário, foi inaugurada a Sala Regina Simonis, na Casa de Artes que também leva seu nome, e este passou a ser o espaço dedicado às obras desta artista.
Sem Título, Regina Simonis. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
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Regina Simonis, Sem título, 1934. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Regina Simonis, Sem título, sem data. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Casa das Artes Regina Simonis desenhada por Alceo da Costa em 2003. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
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3. UM PROJETO DE ENSINO
Arte e Identidade no Espaço de Ensino
3.1. Dados gerais da escola e da turma
O projeto “Arte e Identidade no Espaço de Ensino” foi desenvolvido durante 12 semanas, entre março e junho de 2011, na turma de 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Monte Alverne, situado na localidade que leva o mesmo nome, no interior de Santa Cruz do Sul. As aulas ocorreram sempre no turno da tarde, todas as terças-feiras. Foram 12 encontros de 1h/a, que se iniciavam às 14h35min e terminavam às 15h20min, ocorrendo após a aula de Geografia e antes do intervalo. A turma era formada por 34 alunos que tinham entre 17 e 18 anos. A professora titular é licenciada em Educação Artística e a escola possui uma sala destinada às atividades realizadas nas aulas de Arte.
3.2. Dados gerais do projeto de ensino
3.2.1. Tema O projeto “Arte e Identidade no Espaço de Ensino” desenvolve discussões sobre três grandes questões: arte, identidade e cultura. Desta forma, o presente projeto tem como tema central a identidade pessoal de cada indivíduo, neste caso os alunos, relacionada à cultura na qual cada um está inserido. É uma tentativa de aproximar a arte estudada ao cotidiano de cada educando, instigando a percepção de cada aluno como parte integrante e constituinte de uma cultura própria do local onde vive, leia-se aqui o município de Santa Cruz do Sul, em especial o distrito de Monte Alverne, onde se localiza a escola. Desta forma, o projeto foi elaborado especificamente para ser aplicado nas turmas observadas no Colégio Estadual Monte Alverne, visto que suas atividades foram planejadas levando em consideração 68
o perfil dos alunos das turmas, suas características e os aspectos que formam a cultura da região. A localidade onde se situa a escola cultiva ainda diversos aspectos da cultura alemã e é muito rica no que diz respeito à arte, que pode ser encontrada nos afrescos de casas antigas, na arquitetura de prédios históricos e mesmo nos monumentos que podem ser vistos por todo o município. Assim, a cultura local também se integra ao tema do projeto. Visando desenvolver uma relação entre identidade e cultura por meio da arte, tem-se um projeto que desenvolve vários aspectos de três temáticas que se relacionam e se completam. Destacando aspectos da arte e da cultura local, e ainda trabalhando a individualidade de cada educando, como forma de valorização da identidade e personalidade tem-se o projeto “Arte: Identidade e Cultura Local”.
3.2.2. Justificativa A identidade é um aspecto relevante na fase em que se encontram os estudantes do Ensino Médio. Na adolescência inicia-se um processo de descobrimento da identidade e forma-se uma cultura própria em relação à moda, estilos de vida, valores, hábitos e preocupações. Os adolescentes necessitam formar grupos, ou se juntar a grupos aos quais se identificam. Por isso, é necessário que os estudantes encontrem na arte elementos com os quais possam se identificar, e que descubram sua cultura, valorizando-a ainda mais, para que com ela convivam e dela façam parte. O projeto “Arte: Identidade e Cultura Local” surgiu a partir de reflexões sobre as características da turma notadas durante as observações silenciosas e descritas também na análise das observações. Neste período, pode-se notar a deficiência do ensino de Arte da escola no que diz respeito à cultura e arte locais e ainda a vontade dos alunos de perceberem a arte estudada mais próxima à sua realidade. O projeto ainda leva em consideração a cultura da comunidade e do município onde a escola se situa, com uma rica história e características bem peculiares de uma região de origem germânica que cultiva ainda hoje o sotaque e a língua alemã, e os costumes vindos da Europa, tradições de um povo com uma identidade bem particular. Além disso, o distrito de Monte Alverne, situado em Santa 69
Cruz do Sul, e seus arredores, possuem muitas construções antigas em diversos estilos além do germânico, típicos exemplos de um povo com muito conhecimento que deixou aos seus descendentes uma cultura artisticamente muito rica. Pensando em tudo isso, o projeto “Arte: Identidade e Cultura Local” justifica-se
por
buscar
desenvolver
nos
alunos
a
auto-expressão,
o
autoconhecimento, a criação e a crítica, assim como busca mostrar a cultura e arte locais para que desta forma os alunos passem a valorizá-las e percebê-las como constituintes de uma cultura própria do lugar onde vivem. O projeto ainda propõe discussões sobre identidade, individualidade e subjetividade, sendo assim muito importante na construção e formação de cada um dos envolvidos nesta prática.
3.2.3. Objetivo geral Valorizar a cultura e a arte local, apreciando obras de arte e conhecendo elementos constituintes da identidade regional e da cultura, instigando os alunos a conhecerem a si mesmos para que a partir disso reconheçam a arte local e se reconheçam como integrantes de uma sociedade que tem sua cultura. Conhecendo a si mesmos os alunos trabalharão com subjetividade, personalidade e identidade próprias, expressando-se por meio da arte.
3.2.4. Objetivos específicos Conhecer e desenvolver formas de representar a si mesmo; Perceber-se como ser único que se relaciona com os outros formando a sociedade; Conhecer a si mesmo e aos colegas; Integrar a turma; Observar e analisar autorretratos produzidos ao longo da História da Arte por diversos artistas; Perceber e valorizar a arte produzida na região; Conhecer, reconhecer, apreciar e valorizar a cultura local; Conhecer artistas locais e suas obras; Desenvolver o senso crítico; 70
Expressar ideias por meio de imagens; Instigar a auto-express達o; Promover o autoconhecimento.
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3.3. PRÁTICA DE ENSINO
3.3.1. Primeiro Encontro Data: 15 de março de 2011.
Conteúdos: Introdução ao projeto; O autorretrato e sua trajetória na História da Arte; Apreciação de obras de arte; Artistas que fizeram autorretratos: a artista local Regina Simonis, o gaúcho Iberê Camargo, e os brasileiros, como Tarsila do Amaral e Vik Muniz, entre tantos outros de variados períodos e origens; Diversas formas de fazer autorretratos.
Objetivos: Introduzir o projeto apresentando justificativas e objetivos; Conhecer autorretratos ao longo da história da arte e da arte local, apresentando obras produzidas a partir do ano de 1433, caso do autorretrato de Jan Van Eyck (FARTHING, 2009, p.30), até autorretratos contemporâneos que foram feitos com outras técnicas e\ou outras linguagens, como a fotografia; Conhecer 52 artistas, visualizando seus autorretratos, e a arte que cada um produziu; Discutir sobre a intenção de um artista ao fazer um autorretrato; Pensar em formas de autorrepresentação.
Metodologias: Aula expositiva dialogada.
Dinâmica: 1. Esta primeira aula acontecerá na Sala de Vídeo, onde se encontra o Datashow. Primeiramente, me apresentarei e também falarei sobre o tema central do projeto, 72
justificando a escolha e explicando o funcionamento de um Projeto de Ensino. Falando sobre os motivos que a levaram a escolher tal temática, apresentarei os objetivos gerais que pretendem ser alcançados até o final do estágio; 2. Em seguida, explicarei a forte presença de autorretratos no universo artístico, iniciando um diálogo com os alunos referente ao que eles conhecem sobre autorretrato. Após, iniciarei a apresentação de slides com imagens de autorretratos realizados desde 1433, comentando principalmente os autorretratos feitos por artistas locais e contemporâneos, para aproximar o assunto abordado à realidade vivida pelos educandos atualmente. Os comentários e observações feitos por mim serão referentes principalmente à diversidade de formas, cores, técnicas e materiais utilizados nos autorretratos apresentados; 3. Pedirei a todos para que observem bem os vários exemplos que serão apresentados, pois na próxima aula cada um criará seu autorretrato. Os alunos deverão fazer anotações para facilitar a atividade prática. Poderão anotar nomes de artistas para efetuarem posteriores pesquisas, bem como deverão observar as técnicas e materiais utilizados nas obras apresentadas, que servirão de exemplos para seus trabalhos. 4. Durante a apresentação, irei estimular os alunos a debaterem sobre a produção dos
artistas
apresentados
e
apontarem
as
características
existentes
nos
autorretratos; 5. Após a apresentação dos slides, será realizada uma conversa sobre outras formas de autorretratos, como por exemplo, a não necessidade de aparecer a imagem do rosto do artista. 6. Finalizando, explicarei que na próxima aula cada aluno fará o seu autorretrato, podendo para isso, durante a semana, revisar as anotações feitas durante a aula e pesquisar sobre os artistas citados e comentados. Os alunos poderão escolher a técnica e o material a ser utilizado para realizar a atividade. Contudo, eles deverão fazê-la em sala de aula na próxima semana. 7. Ao final de todas as explicações, os alunos serão conduzidos de volta à sala de aula.
Recursos: Datashow, slides com imagens de autorretratos, giz e quadro para eventuais anotações.
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Avaliação: Participação ativa na aula; Atenção durante a apresentação de slides; Questionamentos realizados.
Realizado Minha recepção na primeira aula do projeto de estágio foi muito positiva. A professora titular me acompanhou até a sala da turma e me apresentou aos alunos que não me conheciam. Eu já havia percebido a presença de novas carinhas na classe, e isso aconteceu devido à junção das duas turmas de segundo ano diurno do ano anterior, que neste ano formam juntas o 3º ano A. A partir desse breve momento de apresentação no qual a professora titular Márcia Dreissig estava no controle da turma, chegou a minha hora. Já era tempo de realizar tudo o que estava planejado, escrito e organizado no papel. Encarei a experiência como uma oportunidade de perceber se aquilo que eu planejara funcionaria ou não. E, neste primeiro encontro com a turma, funcionou. Após minha apresentação, expliquei aos educandos que teríamos que nos dirigir até a Sala de Vídeo, onde já se encontrava, pronto para uso, o Datashow. Pedi para que todos levassem uma folha de caderno e caneta para fazerem anotações sobre o que considerassem necessário e então nos dirigimos até a outra sala. Eu havia tomado o cuidado de reservar com antecedência a sala e o material que utilizaria no primeiro dia do meu estágio. Chegando com antecedência à escola, e com o auxílio da professora titular em um período livre, liguei o notebook e o Datashow para testar o CD no qual estava gravada a apresentação de slides com todo o material da primeira aula. Assim, quando levei os alunos até a Sala de Vídeo, o material já estava pronto para a conversa inicial. Após todos os alunos se acomodarem, o que levou certo tempo, uma vez que algumas meninas haviam saído para resolver um problema de outra disciplina, pude iniciar de fato a aula. O primeiro assunto conversado na aula foi uma espécie de justificativa para a escolha do tema do projeto. Expliquei o funcionamento de uma Licenciatura em Artes Visuais, destacando alguns pontos como a liberdade que tive na escolha do assunto que abordaria em meu estágio. Falei também do valor que a 74
turma deve dar a um profissional formado na área de Arte, pois pelas experiências de outros acadêmicos a mim relatadas, e por comentários nas disciplinas cursadas na universidade, sabe-se que o Ensino de Arte nas escolas ainda é deficiente e não devidamente valorizado, apesar da disciplina já ter conquistado um maior espaço no ensino. Contei a todos que não esperava encontrar uma professora formada em Artes na escola, mas compartilhei com eles minha felicidade de tê-la ao meu lado, me apoiando. Explicando a escolha do tema, falei da minha vontade em trabalhar com artistas locais, valorizando a cultura e a identidade regional, para fazer com que todos percebam a presença da arte não somente na Europa, não apenas em museus e não somente produzida por artistas que já faleceram, ou que mesmo vivos, estão muito distantes. Falei também da minha intenção em partir da individualidade de cada um deles, trabalhando o tema “identidade” e suas subjetividades, e partindo deste conceito individual, chegar num pensamento coletivo, levando-se em conta as relações existentes entre indivíduos em uma sociedade, perceber e estudar a cultura local, valorizando-a através de sua arte, pois Estudar as particularidades de cada região e estabelecer relações com contextos comunitários próximos e distantes produz motivação para aprender, promove a educação ética, a cidadania, as práticas de inclusão social e amplia a visão crítica sobre questões do cotidiano no tempo e no espaço (IAVELBERG, 2003, p.22).
Após essa introdução ao assunto escolhido para iniciar o projeto, questionei os alunos sobre o que eles entendem pela palavra “autorretrato”. Obtive algumas respostas, todas relevantes. Então, iniciei a apresentação de slides com uma imagem de um provável autorretrato de Jan Van Eyck, nascido em 1390 e falecido em 1441, na Bélgica (FARTHING, 2009, p.30). Expliquei aos alunos que antes disso já se fazia uma espécie de autorretrato, pois se refletirmos um pouco, na Pré-História homens e mulheres já desenhavam suas identidades com a marca das mãos dentro das cavernas, pois “Na verdade, o autorretrato sempre acompanhou o ser humano em seu desejo de deixar uma marca de sua própria imagem, mesmo depois da passagem de sua vida” (CANTON, 2001, p.3). Minha intenção era a de que os educandos tivessem uma noção da vasta produção de autorretratos feitos ao longo da História da Arte, iniciando no ano de 1433, ainda antes do descobrimento do
75
Brasil, até chegar à contemporaneidade visualizando autorretratos de Vik Muniz, por exemplo. No decorrer da apresentação das imagens dos autorretratos, pude notar que a maioria dos alunos fazia anotações em seus cadernos e observavam atentamente os diferentes autorretratos de diversos artistas dos quais eles nunca tinham ouvido falar. Pude ver em seus rostos expressões das mais diversas, algumas vezes de espanto com a imagem que viam, estranhamento com os nomes diferentes, admiração com o realismo fotográfico de algumas pinturas, e eventualmente sorrisos de pura graça ao se depararem com expressões e vestimentas diversos em certos autorretratos, como por exemplo, “O homem desesperado”, de Gustave Courbet, pintado em 1877 (FARTHING, 2009, p.208). Solicitei então que eles continuassem a fazer as anotações, pois estas seriam importantes para a realização da próxima atividade. Sugeri que anotassem os nomes dos artistas cujos autorretratos haviam chamado atenção, para que os alunos pudessem pesquisar mais sobre os mesmos e visualizar outras de suas obras, para auxiliar na composição de seus próprios autorretratos. A professora titular assistiu a aula sentada junto com os alunos, e por vezes balançava a cabeça positivamente, concordando com o que eu falava. Um momento muito gratificante para mim foi quando mostrei a imagem de um autorretrato da artista local Regina Simonis, e vi que os alunos se admiraram da imagem que viam. Enquanto todos a visualizavam, expliquei a origem da artista, que nasceu a poucos quilômetros da vila onde se localiza a escola, mesmo local de onde se originam alguns educandos ou parentes deles. Foi notável a admiração e o orgulho de todos ao saberem desta artista. Prossegui mostrando mais imagens que aos poucos se tornavam mais recentes, até chegarmos aos autorretratos contemporâneos, como os dos brasileiros Vik Muniz e Alexandra Pescuma, e da alemã Anja Schrey. Conforme chegávamos nestes artistas, o final da aula se aproximava, então eu acelerei um pouco o ritmo de apresentação das imagens. Notei o interesse dos alunos ao visualizarem o autorretrato de Pescuma, uma fotografia contemporânea. Isso talvez se deva ao fato da proximidade com o universo que eles experimentam atualmente, que possibilita ainda mais a manipulação da imagem. Destaquei o uso desta técnica, explicando que eles poderiam também trabalhar com fotografia em seus autorretratos, contudo, não poderiam apenas usar uma fotografia comum como uma foto 3x4 para apresentar 76
como trabalho final. A idéia é justamente que eles elaborem algo diferente, usando variados meios para chegarem a um resultado final. Por isso a apresentação de vários exemplos de autorretratos, pois “O uso de mais de um meio pode gerar imagens muito mais interessantes e significativas, que levem o(a) aluno(a) a elaborar seu pensamento artístico e a trabalhar com ele de forma consistente” (PIMENTEL, 2002, apud BARBOSA, 2002, p.116). Considero que a visualização das imagens foi fundamental para a execução da próxima atividade. Visualizando cada imagem, todos puderam analisar os diversos modos de se fazer um autorretrato, tendo a oportunidade de, ao invés de olhar apenas para uma imagem, analisar criticamente vários exemplos, e registrar na memória e no papel o que lhes chamou atenção e lhes servisse como base para seus próprios autorretratos. Neste contexto, é importante desenvolver-se a competência de saber ver e analisar a imagem, para que se possa, ao produzir imagens, fazer com que ela tenha significação tanto para o(a) autor(a) quanto para quem vai vê-la. Assim, é preciso conhecer a produção artística visual contemporânea, valorizar nossa herança cultural e ter consciência da nossa participação enquanto fruidores e construtores da cultura do nosso tempo (PIMENTEL, 2002, apud BARBOSA, 2002, p. 114).
Antes de retornar com os alunos à sala de aula, dei algumas dicas e instruções para a próxima aula. Pedi para providenciarem o material que fosse necessário para a produção de seus autorretratos, bem como que pesquisassem durante a semana sobre as imagens e artistas que julgaram importantes, pois a escolha do material, a pesquisa, a reflexão sobre a melhor forma de se representar determinado tema através de uma imagem fazem parte do processo artístico. Expliquei também que os alunos que tivessem folhas de tamanho A3 deveriam trazêlas e que para quem não tivesse, eu providenciaria. Os alunos retornaram à sala de aula calmamente, sem fazerem barulho, atitude admirável, mas também esperada, visto que já são alunos maduros, cursando o 3º ano do Ensino Médio. Chegando na sala, conversei um pouco com a turma sobre o desenvolvimento da aula, perguntando se tinham gostado, e se já haviam surgido idéias para os autorretratos, quando alguns responderam que sim. Abri um espaço para dúvidas, e fui questionada se seria permitido fazer um autorretrato representando-os mais novos ou mais velhos. Respondi que sim, poderiam fazer o autorretrato da forma que desejassem, desde que fosse um autorretrato. 77
3.3.2. Segundo encontro Data: 22 de março de 2011.
Conteúdos: Autorretrato; Novas formas de representar a si mesmo através da arte; Identidade; Autoconhecimento; Desenho e pintura.
Objetivos: Refletir sobre identidade, personalidade e arte, através de questionamentos como: “Quem sou eu ”, “Do que eu gosto ”, “O que eu represento ”, “O que há de melhor em mim ”, “O que posso usar para representar a mim mesmo ” e “Como tudo que me rodeia influencia a mim e minhas atitudes ”; Representar a si mesmo por meio de desenho, pintura e/ou outra linguagem, partindo dos questionamentos e reflexões realizados, e dos exemplos apresentados na aula anterior; Utilizar variados materiais na criação dos autorretratos; Identificar marcas pessoais na maneira de desenhar e pintar.
Metodologias: Aula expositiva dialogada, prática individual (autorretrato).
Dinâmica: 1. Esta atividade será realizada em sala de aula, pois o deslocamento até a sala de arte não se faz necessário nem viável para um período. Inicialmente a professora irá falar
sobre
questões
relativas
à
identidade
e
personalidade,
fazendo
questionamentos aos alunos, atenta a pontos significativos comentados neste momento, buscando levar os mesmo a um debate aprofundado que envolva toda a turma;
78
2. Será proporcionado um espaço para que os alunos falem sobre si, sobre suas preferências, suas características, seus anseios, dúvidas, desejos, e sobre personalidade; 3. Inspirados na conversa inicial, os alunos deverão criar seus autorretratos, utilizando para isto os materiais escolhidos e providenciados por eles. No autorretrato, cada um deverá usar sua criatividade na escolha da imagem que criará. Poderá ser a imagem de um objeto, uma composição abstrata ou algo que o aluno goste de fazer. O uso da imagem do rosto, nesta turma, ficará a critério de cada educando; 4. No final do período, será realizada uma pequena conclusão da prática, através de uma conversa entre os alunos, onde os mesmos poderão opinar sobre a experiência e comentar sobre seus autorretratos. Se algum aluno não concluir a atividade nesta aula, poderá concluí-la na semana seguinte, onde a professora lhe disponibilizará um tempo para que o faça.
Recursos: Giz e quadro para eventuais anotações, materiais trazidos pelos alunos para desenho e pintura, folhas tamanho A3 providenciadas pela professora.
Avaliação: Realização da atividade; Organização do trabalho e dos materiais; Criatividade no uso de materiais e técnicas; Uso do espaço da folha; Originalidade.
Realizado O início do período do Ensino Médio é marcado para as 14h35min. Sempre estou em frente à sala da turma, junto com a professora titular na hora certa, porém o professor que tem o período que antecede a aula de Arte ainda está na sala. Este professor leva certo tempo até sair da sala, enquanto isso tenho que aguardar do lado de fora. Quando ele sai, finalmente posso iniciar minha aula. 79
Como todos já sabiam a atividade que faríamos naquele período, perguntei se todos tinham pensado na sua maneira de fazer seu autorretrato, e se haviam providenciado os materiais necessários. Todos balançaram a cabeça positivamente, e percebi que alguns tiravam fotos de suas mochilas. Alguns alunos, meninos e meninas, trouxeram suas fotos, em diversas idades, o que me surpreendeu. Questionei-os sobre o que pretendiam fazer com as fotos, explicando que eu não gostaria que simplesmente colassem uma foto ou o xérox dela sobre a folha A3, e os alunos concordaram que trabalhariam suas idéias. A
professora
titular
havia
solicitado
aos
alunos
da
turma
que
providenciassem folhas A3 para os trabalhos durante o ano, mas como estamos ainda no início do semestre, ninguém havia comprado as folhas. A escola se situa no interior do município de Santa Cruz, então o deslocamento dos alunos até a cidade para comprar o material se torna mais difícil, por isso, conversando com a professora titular, eu providenciei as folhas A3, para um melhor resultado dos trabalhos, e para que os alunos tivessem esta experiência de trabalhar sobre um suporte maior. Optei por deixar livre a escolha da técnica e do material utilizado no autorretrato devido à necessidade deste trabalho refletir a identidade de cada um, pois, segundo o PCN (2000, p.40): “A personalidade do artista é ingrediente que se transforma em gesto criador, fazendo parte da substância mesma da obra”. A maioria dos alunos optou por trabalhar baseando-se em suas fotos, seja utilizando em seu trabalho uma cópia ampliada da mesma, seja apenas observando a imagem fotografada para fazer um desenho semelhante no papel. Esta questão se tornou muito interessante na turma, pois os alunos queriam ver as fotos dos colegas. Pude perceber também a curiosidade de alguns perguntando aos outros como pensavam em fazer seus autorretratos, o que gerou uma troca de experiências e sugestões entre a turma. Esta troca foi construtiva, por isso permiti que os alunos dialogassem e trocassem ideias e sugestões que acrescentassem ao que foi pensado e pesquisado durante a semana, pois o conhecimento de arte envolve [...] a experiência de fazer formas artísticas e tudo que entra em jogo nessa ação criadora: recursos pessoais, habilidades, pesquisa de materiais e técnicas, a relação entre perceber, imaginar e realizar um trabalho de arte (PCN - ENSINO FUNDAMENTAL, 2000, p.43).
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Durante a aula, todos os alunos se portaram bem. Alguns demoraram até iniciar o trabalho, dando a desculpa de que não trouxeram foto como alguns outros colegas. A estes alunos expliquei que a foto foi escolha de alguns e não regra da atividade, e que, portanto, deveriam pensar em outra forma de fazer seus autorretratos, então eles iniciaram um desenho. Duas meninas optaram por trabalhar com imagem digital, utilizando programas de modificação e aperfeiçoamento de imagens, como o Photoshop, por exemplo. Estas meninas trouxeram seu notebook e pediram minha autorização para utilizá-los, explicando o que desejavam fazer. Permiti o uso do computador em sala de aula, porém solicitei que imprimissem o trabalho para me entregar, assim que o mesmo estivesse pronto. Outra menina utilizou o notebook para visualizar suas fotos e escolher uma para basear-se na produção de seu autorretrato. Esta aluna me pediu ajuda na escolha de uma foto, e me mostrou várias de seus arquivos. Observei uma que achei muito bonita e comentei que ela parecia uma noiva, imaginando ser uma foto de sua festa de 15 anos. Cometi um erro com este comentário, uma gafe na verdade, pois nesta hora fiquei sabendo que a menina de fato já é casada. Desculpei-me e expliquei que não sabia deste detalhe porque no ano passado, quando observei a turma no 2º ano A, ela pertencia ao 2º ano B, e como este ano juntaram as duas turmas formando um 3º ano só, eu não conhecia todos os alunos. Foi um fato que me fez perceber ainda mais a importância das observações que nós, estagiários, fazemos em sala de aula antes de elaborar e aplicar o projeto. É de extrema importância que conheçamos o perfil de nossos alunos e as características gerais da turma. Este assunto foi abordado na reunião pedagógica da escola, da qual participei no dia 26 de março, quando a diretora da escola comentou que os professores precisavam refazer seus Planos de Trabalho, dando ênfase ao diagnóstico da turma. A diretora comentou que muitas vezes temos turmas de mesma série com necessidades diferentes, e para que um professor tenha sucesso em seu trabalho, precisa estar ciente destas necessidades e procurar atendê-las dentro dos conteúdos e trabalhos que pretende realizar. Participar desta reunião foi para mim um momento de construção e absorção de conhecimento, ouvindo as experiências e fatos relatados, pude também refletir sobre minha prática docente. Durante a aula, notei que alguns alunos apresentaram dificuldade de trabalhar sobre um suporte de tamanho maior do que A4. Circulando pela sala, eu ia explicando que a ocupação da folha deveria ser adequada ao seu tamanho, e que, 81
por isso, alguns teriam que trabalhar bem o fundo de seu autorretrato, uma vez que estavam fazendo desenhos pequenos demais para o tamanho da folha. Uma menina fez a cópia ampliada de uma foto de sua infância e, além de continuar a imagem da fotografia na folha, explicou-me que trabalharia sobre o xérox com colagem e pintura. Alguns meninos fizeram cópias de suas fotos e colocaram a imagem sob a folha A3 e tentaram desenhar, copiando-a. Falei para estes meninos que até poderiam iniciar o trabalho desta forma, afinal o combinado foi que a escolha da técnica ficaria sob responsabilidade dos alunos, mas que teriam que trabalhar muito bem a imagem após desenharem, com pintura e fundo. Eles de imediato perceberam a dificuldade de enxergar a imagem da cópia da fotografia, em preto e branco, embaixo da folha sulfite, e acabaram riscando apenas elementos básicos como o contorno da imagem, deixando os detalhes para desenhar observando a foto. Nesta aula percebi que estava alcançando um objetivo proposto pelo Projeto de Ensino no que diz respeito à esta atividade: notei que cada aluno, buscando solucionar algumas questões referentes à técnica e estética de seus autorretratos, desenvolveu e aguçou o ato da criação, utilizando de sua criatividade para buscar meios de se representar, quase que como colocando-se no papel, partindo na maioria dos casos de uma imagem da infância, ou de algum tempo atrás, e nesta imagem colocando o que de mais importante consideram e vivem neste momento. Sobre isto, McDonald, apud Barret (1979, p.73), diz que “Arte e educação em Arte trata, sobretudo, da criação e da criatividade.” “Que cegueira está nos envolvendo”, escreve o professor Kuiper, “que nos impede de ver que a necessidade de criar, de desenvolver o novo a partir do velho, é a fundamentação do Universo”. A partir desta minha percepção sobre o uso das fotografias na produção do autorretrato, posso dizer que foi mais uma forma encontrada pelos educandos para representar momentos importantes e imagens que de alguma forma significam muito para cada um deles, atendendo assim ao pedido de que os autorretratos devessem representar cada um deles, na forma que eles considerassem importante. Em relação à escolha das fotografias, pretendo fazer questionamentos na próxima aula, quando os alunos concluirão a atividade e apresentarão seus trabalhos para os colegas, ou quando eu devolver os autorretratos, já avaliados. Ao final da aula, combinei com os alunos de que eles poderiam terminar seus autorretratos na próxima aula, pois observei que a atividade foi muito produtiva, e que em um período de 45 minutos, pouco se consegue fazer. Fui questionada 82
sobre a possibilidade de adiantar o trabalho em casa, e respondi que preferia vê-los fazendo o autorretrato para poder auxiliá-los, mas que em todo caso, se alguém achasse que não iria terminar na próxima aula, poderia então fazer parte do trabalho em casa.
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3.3.3. Terceiro encontro Data: 29 de março de 2011.
Conteúdos: Continuação dos autorretratos iniciados na aula anterior; Novas formas de representar a si mesmo através da arte; Identidade; Autoconhecimento; Desenho e pintura.
Objetivos: Refletir sobre identidade, personalidade e arte, através de questionamentos como: “Quem sou eu ”, “Do que eu gosto ”, “O que eu represento ”, “O que há de melhor em mim ”, “O que posso usar para representar a mim mesmo ” e “Como tudo que me rodeia influencia a mim e minhas atitudes ”; Representar a si mesmo por meio de desenho, pintura ou outra linguagem, partindo dos questionamentos e reflexões realizados, e dos exemplos apresentados na aula anterior; Utilizar variados materiais na criação dos autorretratos; Identificar marcas pessoais na maneira de desenhar e pintar.
Metodologias: Prática individual (conclusão do autorretrato).
Dinâmica: 1. Inspirados na conversa e no trabalho iniciados na aula anterior, os alunos deverão continuar seus autorretratos, utilizando para isto os materiais escolhidos e providenciados por eles e as folhas A3 onde já iniciaram o trabalho. No autorretrato, cada um deverá usar sua criatividade na escolha da imagem que criará. A maioria utilizou fotos como base para o autorretrato, isto ficará a critério dos alunos.
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2. No final do período, será realizada uma pequena conclusão da prática, através de uma conversa entre os alunos, onde os mesmos poderão opinar sobre a experiência e comentar sobre seus autorretratos.
Recursos: Giz e quadro para eventuais anotações, materiais trazidos pelos alunos para desenho e pintura.
Avaliação: Realização da atividade; Organização do trabalho e dos materiais; Criatividade no uso de materiais e técnicas; Uso do espaço da folha A3; Originalidade.
Realizado Quando cheguei à sala da turma, novamente o professor que tinha o período anterior estava na sala. Aguardei do lado de fora até que ele saísse. Alguns alunos estavam parados na porta, me aguardando. Um aluno tentou me enganar, dizendo que não havia trazido o autorretrato, e que havia esquecido completamente da atividade, mas a professora titular o desmentiu, me dizendo que ele inclusive tinha mostrado como estava ficando seu trabalho para ela. Assim que entrei na sala, todos se acomodaram para que eu pudesse iniciar a aula. Após cumprimentá-los, perguntei se todos haviam trazido os autorretratos iniciados na aula anterior para concluir a atividade nesta aula. Todos trouxeram os autorretratos, alguns bastante adiantados, quase prontos, outros com bastante coisa para concluir. Duas meninas que faltaram na aula anterior iniciaram o autorretrato neste período. Elas não tinham folha de tamanho A3, então a professora titular ofereceu folhas A3 que ela tem guardadas na Sala de Artes, assim as meninas poderiam fazer seus trabalhos em folhas de mesmo tamanho dos demais colegas. Todos começaram logo a trabalhar. Eu circulei pela sala para verificar o andamento da atividade, dar sugestões e auxiliar os alunos em suas dúvidas. Muitos me chamavam para mostrar como estava ficando o autorretrato, outros chamaram 85
para pedir sugestões e fazerem questionamentos em relação a alguns detalhes de desenho da figura humana. Sempre procuro explicar que meu objetivo com a atividade é o de que os alunos expressem sua identidade por meio de autorretrato, e esta será expressa por meio das escolhas que eles mesmos fizerem, não pela sugestão da professora. Em relação às dúvidas sobre o desenho da figura humana, dou exemplos fazendo alguns desenhos no quadro ou em outras folhas de papel, nunca interferindo diretamente no trabalho dos alunos. Grande parte das dúvidas se dá no momento de desenhar mãos, nariz e boca. Através da visualização de alguém desenhando uma dessas partes, os alunos se encorajam a desenharem em seus autorretratos, sem temerem o resultado e, pensando assim, aceitam seu trabalho e percebem que foi a melhor forma que encontraram para desenhar tais partes da figura humana, visto que seu esforço é grande na busca de um desenho que se pareça com o real. Os alunos fazem comparações com meus desenhos, e eu explico que estes são meus desenhos, mas que cada um tem seu jeito de desenhar, que todos nós temos nossas individualidades e que se estiverem fazendo o melhor possível, alcançarão com êxito a atividade. Uma menina solicitou algumas revistas para interferir com colagens em seu autorretrato. A professora titular emprestou a chave da Sala de Artes para que a aluna fosse buscar algumas revistas de recorte. Influenciadas pala idéia da menina, outras que estavam próximas também procuraram imagens que pudessem colar em seus autorretratos. Os alunos olhavam os trabalhos uns dos outros, diziam se estava ficando parecido ou não e, em clima de brincadeira, riam dos trabalhos de alguns, como no caso de um menino magrinho que fez em seu autorretrato uma pessoa toda forte e musculosa. Os meninos riram do fato, mas o aluno levou na brincadeira e riu com eles. O clima dentro da sala é muito agradável, todos se respeitam e se dão bem. A turma é muito unida, e até agora não notei nenhum comportamento inadequado, pelo contrário, são todos muito maduros. Em relação aos trabalhos realizados, pude perceber que cada um seguiu sua ideia, baseando-se em uma cultura visual presente em seu cotidiano e formada desde a infância. Cada um escolheu sua forma de se representar, uns optando por características mais caricatas, outros se aproximando mais da realidade. Foi interessante ouvir os critérios e as justificativas para a escolha das fotos, no caso de 86
quem as utilizou. Um menino, o mais loiro da turma, escolheu uma foto de quando era criança, onde ele era mais loiro ainda, e orgulhosamente exibiu a foto, mostrando-se, como ele mesmo chamava, de “coisinha mais linda e fofa” e, baseando-se nessa foto, fez seu autorretrato. Isso demonstra que o fato de fazer um autorretrato remeteu os alunos a momentos e imagens registradas em sua memória e significantes em suas vidas, que fazem parte de sua história e de sua formação como indivíduos pertencentes à uma sociedade, exemplos da cultura visual que eles possuem. Sobre isso, Hernández diz que [...] um objetivo de uma educação para a compreensão da cultura visual, que, além disso, estaria presente em todas as áreas do currículo, seria explorar as representações que os indivíduos, segundo suas características sociais, culturais e históricas, constroem da realidade. Trata-se de compreender o que se representa para compreender as próprias representações (2000, p.136).
Alguns educandos associaram seus autorretratos à imagem de mangás, ou a outros personagens da televisão, algumas meninas interferiram em seus trabalhos com recortes sobre moda, o que exemplifica que os trabalhos e as imagens produzidas pelos alunos sempre sofrem influência do meio, da cultura visual que eles possuem, e refletem suas características sociais, culturais e históricas. Isso significa que, diante da cultura visual, não há receptores nem leitores, mas construtores e intérpretes na medida em que a apropriação não é passiva nem dependente, mas interativa de acordo com as experiências que cada indivíduo tenha experimentado fora da escola. Daí a importância, a posição de ponte que a cultura visual exerce: como campo de saberes que permite conectar e relacionar para compreender e aprender, para transferir o universo visual de fora da escola (do aparelho de vídeo, dos videoclipes, das capas de CD, da publicidade, até a moda e o ciberespaço, etc.) com a aprendizagem de estratégias para decodificá-lo e transformá-lo na escola (HERNÀNDEZ, 2000, p.136).
Os autorretratos que foram concluídos nesta aula foram entregues a mim, devidamente identificados. Alguns ainda não conseguiram terminar seus trabalhos. À estes solicitei que terminassem em casa e trouxessem prontos para me entregar na próxima aula. De forma geral, os autorretratos foram muito bem feitos, e seguiram a proposta de reflexão sobre questões como “Quem sou eu ”, “Do que mais gosto em mim ” e “Como posso representar a mim mesmo por meio da arte ”. Nos trabalhos foram utilizados materiais diversos, então em alguns se tem apenas desenho com lápis e colagem, e a cor foi acrescentada com lápis de cor e/ou giz de cera. 87
Com utilização de cópias de fotografias ampliadas, foram feitos belos e significativos trabalhos. O uso da cor ou de outra interferência como colagem, foram opções dos alunos que deram outra aparência ao trabalho. O autorretrato da aluna Rosimeri, por exemplo, foi feito a partir de uma fotografia dela, no entanto, a aluna manifestou a vontade de interferir no desenho com colagem, sem acrescentar cor na sua imagem com uso de lápis de cor. Considero que talvez ela pudesse ter trabalhado mais com o lápis 6B, criando efeitos de luz e sombra no rosto, mas o colorido da colagem realçou o trabalho.
Autorretrato da aluna Rosimeri. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Assim como o trabalho de Rosimeri, o autorretrato de Jaqueline Agnes também tem colagem, porém utilizada de outra forma, como parte do plano de fundo do autorretrato. Ao contrário de Rosimeri, Jaqueline não utilizou uma foto sua no desenho de seu rosto, por isso podemos notar alguns problemas em relação a desenho da figura humana, bem como à utilização do lápis 6B, que deveria ter sido melhor aproveitado para criar efeitos de luz, sombra e profundidade na imagem do rosto.
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Autorretrato da aluna Jaqueline Agnes. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
O aluno Tiago me apresentou seu autorretrato no início da aula, querendo me entregar, dizendo que estava pronto. O fundo de seu trabalho estava preenchido muito suavemente em um tom de verde claro. Eu conversei com este aluno, explicando que talvez fosse melhor que ele escurecesse a tonalidade do fundo, para dar mais ênfase à sua imagem, pois faltava contraste no trabalho. Partindo de uma cópia ampliada de uma foto sua, colocada sob a folha de sulfite, Tiago fez os traços básicos do contorno de sua imagem, e os detalhes ele fez olhando para sua foto, bem como acrescentou cor à roupa de acordo com as cores da foto. A cadeira de vime na qual ele estava sentado na foto foi pintada em um tom de amarelo que não havia destacado no fundo verde claro. Ouvindo meu conselho e o de uma colega que lhe disse ser “meio óbvia” a necessidade de o fundo ser mais escuro, ele iniciou um processo de escurecimento da cor verde clara, usando lápis 6B, porém, seu jeito de pintar é muito suave, o que impediu que o contraste entre imagem e fundo ficasse mais evidente. Em relação à pintura inicial, o resultado final ficou muito melhor.
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Autorretrato do aluno Tiago. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Fiquei muito feliz e realizada com o resultado dos trabalhos da turma. Considero que os objetivos foram alcançados e que não tive problemas com a turma ou com a execução da tarefa. Durante o período, todos trabalharam interessados na tarefa, não tive problemas disciplinares e o rendimento da turma foi bom.
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3.3.4. Quarto encontro Data: 05 de abril de 2011.
Conteúdos: Vida e obra de Frida Kahlo (a identidade pessoal e regional presente em suas obras); Ressignificação da obra “As duas Fridas”, de Frida Kahlo;
Objetivos: Conhecer elementos significantes da vida de Frida Kahlo; Perceber a forte identidade presente em suas obras, tanto pela personalidade e força das representações dos quadros como a identidade regional também presente em suas obras, em seus vestidos, nas paisagens e personagens folclóricos típicos de seu país de origem; Desenvolver um novo olhar perante obras de arte, mais investigativo, observador e crítico; Criar uma composição que tenha como título “Os(as) dois(duas) (nome do estudante)”, que será uma forma de ressignificação da obra; Refletir sobre a identidade e individualidade de cada pessoa; Pensar na identidade regional presente na localidade e no município onde os alunos vivem, bem como na cultura local.
Metodologias: Aula expositiva dialogada, prática de ressignificação da obra analisada.
Dinâmica: 1. Primeiramente, relembrarei algumas obras de Frida Kahlo, já vistas na apresentação de slides sobre autorretrato, na Aula 1, estimulando os alunos a debaterem e questionarem sobre a artista e suas obras, direcionando a conversa à questão da identidade pessoal e regional presente nas imagens de Frida e também prestando atenção na cultura representada nas obras visualizadas; 91
2. Após essa conversa, o momento será direcionado para a obra “As duas Fridas”. Mostrarei uma reprodução da obra para que seja feita uma leitura da imagem, onde os alunos farão comentários e interpretações. Farei anotações relevantes no quadro; 3. Ainda baseados na obra, os alunos deverão relacionar com suas vidas, e os acontecimentos marcantes que lhes permitiriam perceber duas formas de serem eles mesmos; 4. Partindo dessa relação e observando os itens anotados no quadro, os alunos deverão fazer uma ressignificação da obra, que receberá o nome de “As(os) duas(dois) ...(nome do aluno)”; 5. Não será possível que os alunos concluam a atividade nesta aula por isso, terão na próxima aula tempo para finalizarem o trabalho. Recursos: Giz e quadro, reprodução da obra “As duas Fridas”, folhas A4 e material de desenho trazido pelos alunos.
Frida Kahlo, “As duas Fridas”, 1939. (http://www.philia.zip.net)
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Avaliação: Realização da atividade com interesse e dedicação; Uso adequado dos materiais; Originalidade; Relação do desenho com a obra analisada.
Realizado Neste dia, quando cheguei à sala da turma, o professor que tem o período antes da aula de Arte já havia saído. Assim, não precisei esperar até ele sair, nem os alunos puderam sair da sala e esperar até que eu entrasse, como normalmente faziam. Assim que entrei na sala, todos sentaram em seus lugares para que eu pudesse iniciar a aula. Comecei falando sobre o que iríamos fazer naquele período, explicando que naquela aula novamente faríamos um autorretrato, mas que este seria uma releitura de uma obra de arte. Comentei sobre a vida da artista Frida Kahlo, sobre seus problemas de saúde relacionados à paralisia infantil e o acidente que afetou sua coluna. Também expliquei que Frida foi casada com o muralista mexicano Diego Rivera e que ambos viveram aventuras extraconjugais (FARTHING, 2009, p.416,417). Citei vários aspectos da vida da artista que influenciaram suas obras. Muitos se lembraram de algum destes fatos por causa das explicações que eu já havia dado propositalmente na primeira aula do estágio, quando mostrei diversos autorretratos de Frida, sabendo que mais tarde relembraríamos suas obras. Concluímos que a obra de Frida Kahlo foi muito influenciada por suas vivências, por isso, para entender sua obra se fez necessário conhecer um pouco de sua vida. Penso que é interessante dialogar com os alunos sobre a vida do artista quando esta se relaciona com as obras e quando temos fatos relevantes de sua vida para contar, caso contrário, se tornaria perda de tempo falar sobre o casamento da artista, data de nascimento e outros dados se estes não fossem fundamentais para a compreensão de toda a obra de Frida.
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Seus autorretratos tinham uma função primordial em sua vida, a de funcionar como um espelho vivo de sua alma. [...] Frida criava por meio de seus autorretratos um espelho próprio, um olhar que tinha a função de autossustentação e reconhecimento de si mesma (LEVINZON, 2009, p.58).
Após o momento de conhecer aspectos sobre a vida da artista, chegou o momento de interpretar uma de suas obras, o quadro chamado “As duas Fridas”, pintado em 1939, e que se encontra exposto no Museu de Arte Moderna da Cidade do México (FARTHING, 2009, p.416). Mostrei aos alunos uma reprodução da obra em tamanho A4, que foi a que consegui. Para facilitar a visualização da imagem, propus uma dinâmica diferente, na qual a imagem da obra era passada de aluno em aluno, para que cada um citasse uma característica formal ou interpretativa da obra. Com esta dinâmica, notei um maior esforço dos educandos para citarem alguma característica, eles observaram muito mais a reprodução da obra, pois tinham que falar sobre ela algo que os colegas ainda não haviam dito. Isso levou os alunos a fazerem suposições e interpretações relativas a cada característica observada. Diversas características formais também citadas, desde o plano de fundo e o chão terroso, até as cores dos vestidos, seus cortes e decotes, os tecidos, o sangue, os cabelos e a sobrancelha grossa e escura, característica do olhar marcante da artista. Após esta leitura realizada pelos alunos, eu falei um pouco sobre a obra, citando interpretações e leituras encontradas em vários livros, que falam que este duplo autorretrato representa a dualidade de sua personalidade, que a personagem da direita veste roupas tradicionais mexicanas e representa a mulher que Diego amava, segurando um retrato dele ainda criança e expõe o coração por inteiro. Já a personagem da esquerda, que segura uma tesoura, traja um vestido de casamento em estilo colonial, seu coração está partido, ferido e gotejando sangue sobre a saia branca (FARTHING, 2009, p. 417). Feita a leitura da obra, passei a explicar a proposta da atividade daquela aula: cada um teria que fazer um trabalho intitulado “Os(as) dois(duas) (nome do\a aluno\a)”. Expliquei que seria um duplo autorretrato, mas que não necessariamente teriam que desenhar seus rostos novamente. Pedi para que pensassem em suas vidas, em acontecimentos marcantes e em características que lhes permitissem perceber duas formas de serem deles mesmos. Os alunos consideraram a idéia complexa, uma vez que teriam que se representar de duas formas diferentes. Tentei ajudá-los explicando que poderiam pensar na relação passado\presente, ou 94
presente\futuro, ou ainda pensar em quem são agora e o que desejam ser no futuro, como imaginam que serão fisicamente, o que almejam e quais são seus planos. Percebi que muitos se colocaram a refletir sobre estas questões, alguns até demoraram a iniciar o trabalho, pensando bem no que fariam, mas outros de imediato começaram a desenhar. Eu circulei pela sala para auxiliar os alunos e tirar suas dúvidas. Muitos me questionavam sobre como poderiam fazer seu trabalho. Eu perguntava se eles já haviam pensado em alguma coisa e, ouvindo suas idéias, dava-lhes dicas de coisas nas quais deveriam pensar e explicava como deveriam proceder. Uma grande maioria dos alunos optou por dividir a folha A4 ao meio, dobrando-a, para ter a medida exata da metade da folha e em cada uma das metades fazer um desenho. Optei por trabalhar em folha A4 nesta atividade por causa do tempo. Como a turma tem apenas um período por semana, fazer trabalhos em suportes maiores requer pelo menos dois períodos, assim, em suporte tamanho A4, seria possível que alguns terminassem naquele período. Os alunos me questionaram bastante nesta aula, pedindo sugestões a toda hora e até me perguntando se poderiam fazer o que estavam planejando. Considero que não cabe a mim dizer se os alunos podem ou não executar suas idéias, mas cabe a mim orientá-los, para que amadureçam essas idéias, fazendo com que exercitem sua criatividade, pois “O papel do professor é o de garantir oportunidades constantes para tais exercícios e apoiar os alunos em seus afazeres, levando-os à autonomia progressiva na execução das tarefas” (IAVELBERG, 2003, p.28). Valorizando essas idéias, valorizo o que meus alunos têm para oferecer e, mesmo tendo que auxiliá-los, para que repensem ou amadureçam a ideia inicial, é partindo do pensamento deles que eles chegam ao resultado final. É isso que eu busco no trabalho dos alunos, um reflexo de suas ideias, de seus pensamentos, a criatividade de cada um refletida no trabalho final. E é maravilhoso notar que cada um procura a sua marca, a sua identidade, dentro de sua ideia, para se diferir dos colegas, pois assim temos nos trabalhos a individualidade de cada aluno, expressa plasticamente num trabalho de Arte que pode ser visto por todos os colegas. Eu
sempre
procuro
prestar
atenção
em
cada
aluno,
em
seu
desenvolvimento, suas vontades, suas ideias, seus trabalhos e suas carências. Estes alunos estão situados em contextos diferentes, cada um com suas particularidades. A dedicação de uma menina que é filha de uma professora da escola é muito maior, 95
visto que sua mãe está sempre por perto e lhe proporciona mais oportunidades, disponibilizando mais materiais. O interesse daquele aluno que gosta de arte é diferente daquele que faz o que tem que ser feito apenas porque é mais uma disciplina do currículo escolar. O menino mais perfeccionista faz seus trabalhos muito meticulosamente, e cada detalhe é observado, diferente da menina que possui meios tecnológicos e os utiliza para realizar uma atividade artística quando permitido. Aquele aluno que trabalha na roça pensa diferente daquele que não trabalha e assim sempre temos turmas multiculturais, nas quais cada aluno pode contribuir com suas ideias para o desenvolvimento das aulas. Os alunos Encontram-se situados em um contexto sócio-cultural e são sujeitos coresponsáveis pelo processo de educação escolar em arte; incorporam uma história individual e social de produção artística e de entendimento estético nas várias modalidades de arte; apresentam potencialidades, objetivos e necessidades para diversificar e melhorar – avaliar e ser avaliados – em seu “fazer e entender” sensível-cognitivo em arte (FERRAZ, FUSARI, 1999, p.103).
Pensando nessas características de cada aluno, valorizo cada pensamento e sugestão que eles têm ou fazem e cada comentário realizado. Não pratico um “deixar fazer” sem critérios e avaliação, mas permito que realizem suas vontades, pois é ali que posso perceber as várias identidades que juntas formam a identidade da turma. Por isso, quando Ana quis desenhar, nesta atividade de releitura, seus olhos que foram de uma cor quando criança e que hoje são de outra, deixei que fizesse, pois eu havia sugerido que os alunos pensassem na relação passado x presente. Outra menina se desenhou como a estudiosa durante a semana e nos finais de semana, quando sai pra se divertir, ou seja, ela encontrou dois momentos que ocorrem no presente, mas que se diferem pelas características que ela tem que apresentar em cada uma das situações.
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Trabalho da aluna Ana. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
A aluna Ana utilizou em seu trabalho apenas lápis 6B e duas cores de lápis de cor. Trabalhou bem o uso do lápis, fazendo sombreados nos olhos e marcas de expressão no rosto. O resultado final ficou muito interessante. Outro trabalho que destaco é o do aluno Tiago, que também desenhou duas faces, mas foi um dos poucos que utilizou a folha no sentido vertical, o que causou um resultado curioso. Nota-se que uma face aparenta ser de criança, apesar da expressão forte causada pelos olhos e boca, ela sorri, e a outra, onde a boca apresenta os dentes mais juntos e formados, parece ser a maneira como o aluno se representou agora, um adolescente formado.
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Trabalho do aluno Tiago. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Em outros trabalhos, muitos alunos utilizaram símbolos, conjuntos de desenhos soltos que juntos formavam um dos lados do trabalho. Estes alunos procuraram mais imagens que simbolizassem o que queriam representar. Nestes trabalhos podemos visualizar corações, notas musicais e caretas, imagens que são muito familiares ao universo dos adolescentes, em seus cadernos, nos rabiscos das classes, e nas escritas feitas fora de hora no quadro da sala. Este foi o caso do trabalho da aluna Aline. Outros além de símbolos, fizeram uso da linguagem escrita para expressar dois lados, em sua maioria o da adolescência e o da infância.
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Trabalho da aluna Aline. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
De todos os trabalhos, um me chamou muito a atenção. É o da aluna Jaqueline Agnes, que fez um trabalho que lembra muito a obra de Frida Kahlo. Em seu trabalho, pintado com tinta e lápis de cor, vemos duas meninas de vestido, uma com expressão mais fechada e séria, usa um colete na cintura, semelhante ao colete usado por Frida. A outra menina, de vestido vermelho, traz um semblante feliz, e as duas seguram um coração onde está escrito “Esperança sempre”. O céu que aparece no fundo lembra o céu da obra “As duas Fridas”, e a posição das duas personagens, que vem a ser a representação da mesma pessoa, estão também posicionadas como as duas Fridas. Jaqueline me explicou que também teve que usar um colete, que até dois aos atrás era seu companheiro diário para corrigir um problema na coluna. Este trabalho me tocou muito e foi, para mim, a melhor ressimbolização que eu poderia ver naquela turma.
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Trabalho da aluna Jaqueline Agnes. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Quando se aproximava o final da aula, escrevi no quadro o material necessário para a próxima atividade, que deverá ser desenvolvida na próxima semana. Pedi para que escolhessem um texto, poesia, frase ou letra de música com o qual se identifiquem, e o trouxessem escrito em uma folha de caderno. Notei que todos copiaram a tarefa em seu caderno e assim ouvimos o sinal para o recreio.
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3.3.5. Quinto encontro Data: 12 de abril de 2011. Conteúdos: Desenho; Ilustração.
Objetivos: Escolher uma frase, letra de música, poesia ou outro texto significante para cada um; Perceber elementos centrais de um texto; Ilustrar o texto escolhido por meio de pintura e\ou desenho; Expressar sentimentos por meio de desenho e pintura.
Metodologias: Aula expositiva dialogada e prática individual.
Dinâmica: 1. Inicialmente, irei explicar a atividade destacando as principais intenções da mesma; 2. Se for necessário, os alunos terão tempo para concluir a atividade de releitura da obra “As duas Fridas”, iniciada na aula anterior; 3. Em seguida os alunos poderão iniciar a ilustração, em folhas de papel A3; 4. O texto escolhido deverá aparecer dentro do trabalho, em alguma parte da ilustração ou em destaque, como o aluno desejar; 5. A atividade será realizada na Sala de Arte, que se localiza ao lado da Sala de Aula do 3º ano; 6. Explicarei, no final da aula, a atividade que será desenvolvida nas próximas aulas, solicitando que os alunos providenciem uma foto em que apareçam em algum lugar da cidade de Santa Cruz do Sul, lugar este que deve ser representativo para a cidade. O aluno que não possuir câmera fotográfica poderá desenhar o local escolhido ou usar uma foto tirada há mais tempo, antiga inclusive.
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Recursos: Folhas de papel A3 trazidas pela professora, materiais para desenho e pintura providenciados pelos alunos, bem como os textos a serem ilustrados, escolhidos por cada um.
Avaliação: Organização dos materiais; Realização da atividade com interesse e dedicação; Cumprimento da tarefa de trazer o texto solicitado na aula anterior; Pontualidade na entrega da atividade; Relação entre texto e ilustração.
Realizado Normalmente chego na sala assim que dá o sinal de troca de aulas. Como neste dia houve uma troca que fez com que eu estivesse em sala nos dois primeiros períodos, com a turma do Ensino Fundamental na qual realizo estágio, cheguei após o sinal para a terceira aula no Ensino Médio, devido ao tempo que se leva para sair de uma sala e se deslocar até outra. Os alunos estranharam o fato e me questionaram sobre onde eu estava. Expliquei que estava com a 7ª série nas duas primeiras aulas. Nesta semana experimentei a correria que é sair de uma turma e ir imediatamente para outra. O transtorno é grande e não há tempo para muita organização, eu guardei meu material na mochila da maneira mais rápida para ir logo para a outra aula, e no caminho entre uma sala e outra, organizei os materiais da próxima aula. A diferença entre uma turma e outra foi ainda maior pelo fato de eu sair de uma turma de Ensino Fundamental e ir para o 3º ano do Ensino Médio, pois as características das turmas são bem diferentes. Recuperado o fôlego, iniciei imediatamente as atividades com a turma. Expliquei que naquele período iríamos fazer uma ilustração. Para isso, precisaríamos dos textos escolhidos e trazidos por cada um. Todos trouxeram os textos, alguns escolheram letras de música, outros poemas e poesias, outros pensamentos e versinhos apaixonados típicos de adolescentes na faixa etária em que se encontram os alunos da turma, entre 16 e 18 anos.
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Minha intenção é explicar os conceitos e aplicações de ilustração na próxima aula, quando os alunos irão concluir a atividade, para haver comparações entre o resultado dos trabalhos deles e o que de fato se conceitua como ilustração. Gostaria de primeiro verificar a expressão pessoal que os educandos irão mostrar em seu trabalho, não se preocupando somente com a tarefa de “ilustrar”, mas inserindo no desenho suas escolhas visuais. Cabe também ao professor tanto alimentar os alunos com informações e procedimentos de artes que podem e querem dominar quanto saber orientar e preservar o desenvolvimento do trabalho pessoal, proporcionando ao aluno oportunidade de realizar suas próprias escolhas para concretizar projetos pessoais e grupais (PCN – Arte – Ensino Fundamental, 2000, p. 50).
Nesta aula, expliquei o que os alunos deveriam fazer: ilustrar o texto escrito que trouxeram, e na ilustração, colocar o texto, em alguma parte do desenho ou em destaque. Enfatizei que o texto e a ilustração deveriam estar relacionados, ou seja, a ilustração poderia acompanhar, explicar, interpretar, sintetizar ou acrescentar informações ao texto escrito. Alguns alunos me mostraram os textos que trouxeram, inclusive muitos me perguntaram como poderiam ilustrar aquilo que estava escrito, então eu pedia para que eles lessem novamente, tentassem interpretar aquilo que leram, e então pensassem na ilustração, em alguma forma de expressar com imagem aquilo que estava escrito. Aos poucos, após refletirem sobre os textos, os alunos começaram seus desenhos. Os trabalhos foram iniciados em folhas A3, pois considerei o espaço de uma folha A4 pequeno para ilustração e texto juntos na mesma folha. Durante a aula eu circulei pela sala, auxiliando os alunos no que necessitavam e respondendo a dúvidas, que foram poucas. A maior parte dos questionamentos estavam relacionados a pedidos e sugestões sobre como fazer um desenho sobre o que estava escrito, ou pedidos de permissão para desenharem o que haviam pensado. Procurei não interferir nas ideias iniciais que cada aluno teve, mas quando necessário, fiz sugestões para aperfeiçoar tais pensamentos, e os alunos, sempre compreensivos e abertos a opiniões, sempre me ouvem com atenção e pensam sobre aquilo que eu lhes disse.
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Enquanto todos trabalhavam, aproveitei para fazer anotações sobre os autorretratos que iria devolver para os alunos naquela aula. Alguns alunos, muito curiosos, queriam saber sobre sua avaliação antes de eu entregar seu trabalho, e propositalmente vinham até a classe onde eu estava sentada para perguntar qualquer coisa ou apenas para espiar as notas. Percebendo isso, decidi concluir as anotações na Sala dos Professores, no tempo que me restava, após o intervalo de recreio. Observando os textos escolhidos pelos alunos, nota-se que são reflexos da cultura jovem que permeia a vida destes adolescentes. Em sua maioria, são letras de músicas que tocam muito no rádio, de artistas que fazem sucesso neste momento e fazem parte do mundo dos adolescentes, letras que em geral falam sobre amores, desilusões, alegrias e sonhos, sentimentos muito vividos por eles. Os textos escolhidos fazem parte do meio social no qual vivem os adolescentes, e são elementos aos quais eles se apegam. São tantas as variáveis que aconteceram para a geração de adolescentes de hoje que podemos comentar mais a simultaneidade que a causalidade dos seus comportamentos. Hoje os adolescentes são muito apegados ao seu social, seus amigos, seus programas, suas viagens [...] (TIBA, 2005, p. 36).
As
interpretações
dos
alunos
surpreenderam.
Os
educandos
demonstraram capacidade de sintetizar, absorver elementos principais do texto e até onde eu pude visualizar nesta aula, souberam expressá-los de maneira muito criativa através de imagem. Algumas alunas solicitaram revistas para recorte pois gostariam de interferir com colagens em seus trabalhos. Pedi que uma delas pegasse a chave da Sala de Artes com a professora titular, que estava junto comigo em sala de aula, e então ela poderia buscar algumas revistas disponíveis naquela sala. Essas meninas normalmente se utilizam de colagem em seus trabalhos, mas nunca somente isto, sempre fazem desenhos e pintam as imagens. Permiti que novamente elas fizessem uso de colagem porque o desenho não era dirigido, o que eu procurei era que eles colocassem sua expressão nos trabalhos, e para isso poderiam usar materiais diversos. Na próxima aula, quando os alunos irão concluir os trabalhos, levarei outros tipos de materiais para colorir, como giz de cera, grafite, carvão vegetal, giz
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pastel seco e oleoso, para que eles tenham a oportunidade de experimentar novos materias. Finalizada a aula, recolhi os trabalhos para que os alunos continuem na próxima semana e pedi que trouxessem novamente seus materiais de desenho e pintura. Sempre saímos todos juntos da sala, pois a aula termina quando começa o intervalo. Tenho que aguardar todos saírem da sala para trancá-la e ir para a Sala dos Professores. Muitas vezes os alunos se oferecem para me ajudar a carregar as coisas ou trancar a sala, isto me ajuda muito, pois sempre carrego muitos trabalhos dos alunos e materiais diversos.
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3.3.6. Sexto encontro Data: 19 de abril de 2011.
Conteúdos: Continuação da aula anterior. Desenho; Ilustração.
Objetivos: Escolher uma frase, letra de música, poesia ou outro texto significante para cada educando; Perceber elementos centrais de um texto; Ilustrar o texto escolhido por meio de pintura e\ou desenho; Expressar sentimentos por meio de desenho e pintura.
Metodologias: Aula expositiva dialogada e prática individual.
Dinâmica: 1. Os alunos deverão concluir nesta aula a atividade de ilustração de texto escrito, iniciada na aula anterior; 2. O texto escolhido deverá aparecer dentro do trabalho, em alguma parte da ilustração ou em destaque, como o aluno desejar; 3. A atividade poderá ser realizada na Sala de Arte, que se localiza ao lado da Sala de Aula do 3º ano; 4. Eu explicarei no final da aula a atividade que será desenvolvida nas próximas aulas, solicitando que os alunos providenciem uma foto em que apareçam em algum lugar da cidade de Santa Cruz do Sul, lugar este que deve ser representativo para a cidade. O aluno que não possuir câmera fotográfica poderá desenhar o local escolhido ou usar uma foto tirada há mais tempo, antiga inclusive.
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Recursos: Folhas de papel A3 trazidas pela professora, materiais para desenho e pintura providenciados pelos alunos, bem como os textos a serem ilustrados, escolhidos por cada um.
Avaliação: Pontualidade na entrega da atividade; Organização dos materiais; Realização da atividade com interesse e dedicação; Relação entre texto e ilustração; Originalidade.
Realizado Nesta semana, quando cheguei à sala da turma, todos aguardavam sentados dentro da sala, ao contrário das outras vezes, quando eu encontrava alguns alunos sentados no banco ou em pé no corredor em frente à sala. Cumprimentei os alunos e entreguei as folhas dos trabalhos iniciados na aula anterior para que os eles concluíssem a atividade. Alguns consideraram seus trabalhos prontos, e queriam me entregar, para não precisar fazer nada durante a aula, mas eu analisava os trabalhos e pedia para que acrescentassem informações no desenho, pois concluía que faltavam elementos na ilustração. Após esclarecer as dúvidas iniciais de alguns alunos que me pediam sugestões ou me perguntavam se seus trabalhos estavam ficando bons, escrevi no quadro o conceito de ilustração, sua origem e seus usos. O que escrevi no quadro não foi extenso, procurei resumir e escrever apenas o principal, para todos terem claro o conceito do que estavam fazendo naquela aula. Depois que escrevi, pedi para que os alunos parassem um pouco de desenhar e prestassem atenção na explicação que eu daria. Falei um pouco sobre o que é uma ilustração, para que serve e que o ato de ilustrar teve sua origem nas iluminuras. Os alunos prestaram muita atenção, e me ouviram em silêncio. Através desta explicação, os alunos puderam verificar se o trabalho que estavam fazendo se relacionava com o conceito de ilustração. Os educandos concluíram que sim, pois seus desenhos completavam e\ou estavam relacionados ao texto escrito que eles haviam escolhido. 107
As técnicas utilizadas nos trabalhos foram as mais variadas. Eu havia levado alguns materiais diferentes para os alunos experimentarem, como giz pastel oleoso e seco, giz de cera, carvão vegetal e grafite. Alguns ficaram curiosos pelos materiais, mas os utilizaram de maneira imprópria. Foi o caso do aluno Leonardo, que discretamente escolheu algumas cores de giz pastel seco e coloriu seu desenho como se estivesse utilizando lápis de cor, esfregando o giz com força e sem utilizar o dedo para espalhar a coloração, dando mais suavidade à pintura. Como a turma é muito grande, só percebi o que ele estava fazendo quando já havia pintado boa parte do desenho. Talvez eu devesse ter explicado sobre o uso dos materiais quando os mostrei para a turma, mas de qualquer forma, Leonardo pegou o giz pastel escondido. Ainda assim, mesmo considerando no momento uma falha acontecida, penso que foi a maneira que Leonardo escolheu para acrescentar cor ao seu trabalho, desta forma, foi uma expressão própria do aluno. Percebo que é impossível o professor controlar tudo que acontece na sala de aula em turmas com tantos alunos. Torna-se difícil atender a todos, e falhas acabam acontecendo, muitas vezes sem o conhecimento do professor.
Trabalho do aluno Leonardo. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
O desenho feito por Leonardo ficou muito bom e apresentando noção de perspectiva, mas o texto não aparece no desenho, nem atrás da folha, o que dificulta o entendimento da ilustração que o aluno fez. Em relação às cores e à forma como 108
foram acrescentadas, procuro considerar que foram opções do aluno que expressam seu gosto pessoal, ou seja, suas características e sua identidade. A livre escolha das técnicas, materiais e formas de ilustração permitiu que os alunos colocassem suas propostas no desenvolvimento da atividade, utilizando seus recursos e valorizando suas preferências dentro do que já foi aprendido e trabalhado nas aulas de arte. Assegurar momentos para o aprendiz produzir considerando suas próprias proposições e escolhas é essencial. Mesmo quando o professor trabalha seguindo uma proposta curricular determinada pela escola, deve manter encontros nos quais as crianças desenvolvam e criem suas propostas, combinando os recursos técnicos e conceituais que aprenderam em seus projetos individuais (ARSLAN; IAVELBERG, 2006, p.73).
Desta forma, surgiram trabalhos com colagem, como o da aluna Nadini. Ela não fez desenhos, apenas escolheu imagens que pudessem ilustrar a música que ela trouxe e colou-as na folha. Não houve preocupação em relação à organização das imagens, a não ser no que diz respeito à posição de cada uma, sempre colada ao lado da estrofe à qual a imagem está relacionada. Observa-se que a letra da música foi colada na folha, mas eu havia solicitado que os alunos escrevessem o texto, com suas letras. Contudo, considerei que o trabalho atendeu à proposta estabelecida, e é uma ilustração.
Trabalho da aluna Nadini. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
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Outro trabalho que destaco é o da aluna Ana, que trouxe como texto a tradução de sua música preferida, chamada „Umbrella‟. O desenho está muito bem feito, e a pintura parece completar a sensação que a letra da música transmite, mais escurecida no lado onde ainda chove, clareando na direção onde o sol brilha. Como sempre Ana atendeu aos objetivos propostos para a atividade, assim como a maioria dos alunos conseguiu alcançar com êxito o objetivo de ilustrar um texto com criatividade, originalidade e expressão. Alguns alunos fizeram isso com mais dedicação, outros com pouco ou quase nenhum interesse.
Trabalho da aluna Ana. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Observando todos os trabalhos, pode-se notar que os adolescentes utilizaram frases ou letras de música que estão presentes em seu dia-a-dia, fazem parte do mundo e do tempo por eles vivido. Muitas das letras de música são do jovem cantor Luan Santana, artista que é sensação do momento, admirado e idolatrado por muitas adolescentes. Uma frase que me chamou atenção foi a do aluno Vanderlon: “Não jogue lixo no planeta”. Se analisarmos esta frase, podemos perceber que pertence também ao momento vivido pelos alunos, quando tanto se fala em preservação, poluição e catástrofes ambientais. Muitos dos alunos colocaram em suas ilustrações sentimentos, expressando amores e paixões,
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desejos e anseios, dúvidas e inquietações adolescentes. As ilustrações foram parte de [...] aprendizagens de um fazer criador com autoria, que possibilite a construção de imagens\síntese, [...] alegorias, metáforas aproximativas, nos quais uma imagem é, também, um corpo de ideias, uma posição política sobre o contexto, um recorte ético sobre valores, um mapa de sentidos sobre algo que se aprendeu. Não conseguiremos dialogar com a dor, a ignorância, a falta, o destino, o acaso, a incompletude, nem com a alegria, o jogo, a festa, o júbilo, sem acesso à criação de imagens. Os mitos, os ritos, as imagens constituem um mundo imaginal, onde as imagens de arte se incluem. Neste mundo, natureza e cultura se interconectam, construindo um universo simbólico que é a própria base da socialidade estrutural, onde estão as células do coletivo humano (PILLAR, 1999, p.124).
Poucos alunos não conseguiram concluir a atividade nesta aula e pediram para terminar o trabalho em casa. Como boa parte da atividade já estava feita, permiti que eles concluíssem a atividade em casa, com a condição de que me entregassem na próxima aula. No final do período, reservei um tempo para falar sobre a próxima atividade que iríamos realizar. Comentei com os alunos que teriam que formar duplas, e como a organização das classes da sala já está em duplas por causa do espaço, sugeri que permanecessem nesta organização. Os alunos concordaram. Julguei ser necessário que os alunos fizessem o Livro de Imagens em duplas, já que essa atividade necessitaria de mais tempo em sua execução, pois requer que cada página seja trabalhada. Desta forma, o trabalho em dupla fará com que se necessite de menos tempo para a atividade, pois quando organizados, os alunos saberão trabalhar de forma que os dois participem na produção do livro. Devemos acrescentar que o trabalho coletivo requer uma proposta de grande fôlego. Não é qualquer coisinha que deve ser proposta ao grupo. O volume de trabalho deve ser tal que à empresa fica muito difícil de ser empreitada por uma pessoa só (NOGUEIRA, GODOY, 1994, p. 100).
Falei que cada dupla deveria escolher um assunto relacionado à cultura local. Para isso, expliquei à turma que havíamos chegado à metade do projeto, e que a partir daquela aula passaríamos do individual de cada aluno, da identidade trabalhada através dos autorretratos, para o coletivo, aqui simbolizado pela cultura e identidade local. Conversamos um pouco sobre as características de nossa cultura, e aos poucos limitei os alunos a falarem sobre o município onde residem e as
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características de sua cultura. A partir dos comentários que surgiram, pedi que pensassem em um assunto para abordarem no Livro de Imagens. Mostrei aos alunos um Livro de Imagens feito por mim na disciplina de Projetos de Ensino em Arte, para a turma adquirir uma noção do que vem a ser o tal livro que deveriam fazer. Os alunos olharam curiosos para o livro, e aos poucos ideias foram surgindo. Algumas duplas me perguntaram se poderiam fazer a atividade sobre o assunto no qual estavam pensando, e todos os assuntos estavam adequados aos critérios explicados anteriormente. Aconselhei os alunos a pesquisarem sobre os assuntos escolhidos, buscando informações e imagens sobre os mesmos durante a semana que viria. Também pedi para trazerem na próxima semana as folhas necessárias, de acordo com o planejamento de cada dupla, e outros materias úteis para desenho e pintura. Em meio a estas combinações, terminou a aula. Esperei até que todos os alunos saíssem da sala, pois sempre tem alguns que demoram, e só então pude trancá-la e fazer o intervalo.
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3.3.7. Sétimo encontro Data: 26 de abril de 2011.
Conteúdos: Livro de imagem; Cultura local e identidade regional.
Objetivos: Criar um livro utilizando apenas imagens; Pensar nos elementos que constituem nossa cultura e nas principais características da identidade regional; Utilizar formatos não convencionais nas páginas do livro; Fazer uso de variadas técnicas; Trabalhar em duplas (interação entre alunos).
Metodologias: Aula expositiva dialogada, prática em duplas de confecção de livro de imagem.
Dinâmica: 1. Inicialmente irei falar sobre cultura, e sobre aspectos referentes à cultura local e identidade regional, estimulando os alunos a participarem da conversa e citarem características de nossa cultura; 2. Após o conversa sobre cultura, irei explicar a atividade que irá ser desenvolvida nesta e na próxima aula. Falarei sobre os critérios para execução e organização de um livro de imagem. Mostrarei um exemplo de livro de imagem feito por mim para que os alunos visualizem e manuseiem. Também mostrarei imagens de outros livros, produzidos na disciplina de Projetos de Ensino em Arte, pelos colegas da minha turma. 3. Antes dos alunos iniciarem a atividade, cada dupla deverá escolher um tema referente à cultura local e dizê-lo a mim, que anotarei no quadro para que os temas não se repitam. 113
4. Os alunos deverão iniciar a atividade utilizando materiais pensados durante a semana e solicitados previamente; 5. Sempre que necessário os educandos deverão fazer questionamentos. Eu irei circular pela sala supervisionando a atividade, fazendo observações e esclarecendo dúvidas; 6. A atividade não será finalizada em um período, portanto, os alunos poderão concluí-la na próxima aula.
Recursos: Materiais trazidos pelos alunos, solicitados na aula anterior, exemplo de livro de imagem feito e trazido pela professora.
Avaliação: Organização dos materiais solicitados; Originalidade no formato das páginas; Tema escolhido; Variação de técnicas nas páginas do livro;
Realizado A aula deste dia me deixou muito satisfeita. Gosto de entrar na sala da turma, pois sempre sou recebida com muitos sorrisos e consequentemente chego sorrindo também. Entrei na sala cumprimentando os alunos e percebi que todos pareciam curiosos pela atividade que realizaríamos naquela aula. Alguns alunos organizavam sobre suas classes os materiais pesquisados durante a semana. Coloquei meus materiais sobre a mesa do professor e questionei os alunos se haviam trazido os materiais solicitados na aula anterior. Eu havia pedido que trouxessem folhas para as páginas do livro de imagens e recortes, figuras ou fotografias sobre o assunto escolhido pelas duplas a ser abordado no livro. Alguns alunos relataram não terem encontrado muitas imagens. Eu lhes expliquei que num livro de imagens são utilizadas várias técnicas e não apenas colagem. Falei que deveriam desenhar e pintar, bem como variar as técnicas nas páginas do livro. Expliquei também que, caso não encontrassem imagens, ainda poderiam utilizar fotografias em seu trabalho. 114
Novamente eu havia levado meu livro de imagens, feito na disciplina de Projetos de Ensino em Arte, para que os alunos pudessem visualizar e manusear um exemplo. Antes de entregar o livro para os alunos manusearem, eu mostrei todas as páginas, explicando as técnicas utilizadas e falando do formato do livro. Enquanto eu mostrava meu livro, falei sobre os critérios que a turma deveria obedecer na produção de seus livros, como a escolha de um formato não convencional, e a variação e utilização de técnicas em cada página. Entreguei meu livro para uma dupla da frente, para que eles olhassem e passassem adiante. Enquanto o livro ia passando pelas duplas, eu passei para verificar os assuntos que eles haviam escolhido. Me surpreendi com a escolha de alguns, como por exemplo de uma dupla que escolheu abordar em seu livro a vida e obra da artista local Regina Simonis. Sugeri que primeiramente os alunos pensassem no formato do livro, para depois trabalharem nas imagens. Um menino pediu para pegar a caixa de recortes na Sala de Artes, e eu lhe entreguei a chave para abrir a sala e procurar as revistas. Não levo os alunos para trabalharem na Sala de Arte pois considero que um período de 45 minutos é pouco tempo, o que torna inviável o deslocamento até outra sala, levando em conta o tempo que se levaria para ir até a sala e o tempo que é necessário para organizar a Sala de Arte e voltar para a Sala de Aula. Sempre que necessário, permito que os alunos busquem materiais disponíveis na outra sala, pois estes só enriquecem o resultado final. Inicialmente, a dificuldade maior dos alunos foi utilizar um formato que não fosse convencional. A maioria tinha a idéia de dobrar as folhas A4 ao meio e neste formato fazer seu livro. Com a regra do formato, eles tiveram que elaborar alguma forma, que fosse relacionada ao assunto abordado no livro, o que os deixou intrigados e pensativos. Muitos iniciaram um desenho em folha de rascunho, para ter este como molde para desenhar e recortar todas as páginas. Alguns ficaram ainda mais preocupados, pois os formatos que haviam escolhido dificultavam a montagem do livro e a colocação de imagens, pois o espaço da folha se tornava irregular, ou pequeno para as imagens. A estes alunos expliquei que poderiam utilizar qualquer formato não convencional no livro, e que haviam formas de encaixar imagens em qualquer um dos formatos escolhidos, mas em alguns a colocação de imagens seria mais fácil, e em outros esta tarefa seria mais complicada, mas não impossível.
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Após a dificuldade de escolha do formato, surgiu a dificuldade de não poder utilizar palavras escritas no livro, e sim apenas imagens. Os alunos me questionavam se seria possível que alguém entendesse um livro que tivesse apenas imagens e eu lhes perguntava se haviam entendido sobre o que se tratava o meu livro de imagens, que eu havia lhes mostrado. Quando eles responderam positivamente, expliquei que bastava que eles pensassem em imagens e formas que pudessem expressar o que eles queriam dizer. Pedi que procurassem o essencial dentro do assunto que abordariam, e a partir deste essencial, elaborassem suas páginas. Esta dificuldade ocorreu porque todos estamos acostumados a falar e \ou escrever, estamos presos à linguagem verbal apesar de estarmos cercados de outras formas de linguagem. Acontece que muitos se esquecem que pode haver comunicação sem que haja palavra escrita ou falada. Quando falamos em linguagem, logo nos vêm à mente a fala e a escrita. Estamos tão condicionados a pensar que linguagem é tão-somente a linguagem verbal, oral ou escrita e, do mesmo modo, que ela é a única forma que usamos para saber, compreender, interpretar e produzir conhecimento no mundo, que fechamos nossos sentidos para outras formas de linguagem que, de modo não-verbal, também expressam, comunicam e produzem conhecimento (MARTINS, PICOSQUE, GUERRA, 1998, p. 36, 37).
A tarefa de criar um livro de imagens é justamente para que a turma possa refletir sobre a prática de utilizar outra forma de linguagem, que está tão presente na contemporaneidade, na mídia, por exemplo, sem deixar de se comunicar. “Nossa penetração na realidade, portanto, é sempre mediada por linguagens, por sistemas simbólicos” (MARTINS, PICOSQUE, GUERRA, 1998, p. 37). Apesar das dificuldades iniciais em escolher um formato não convencional e em não poderem utilizar a linguagem verbal no livro de imagens, os alunos empenharam-se muito na procura de imagens. Além das revistas onde puderam recortar o que achassem importante para seu trabalho, a escola dispõe de jornais da região, de edições não ultrapassadas, em média de uma ou duas semanas atrás para recorte, e dali os alunos puderam retirar muitas imagens e informações relativas aos assuntos abordados, uma vez que os livros precisavam tratar da cultura local e os jornais todos tratavam de assuntos relacionados à região. Durante a aula, procuro valorizar as ideias que os alunos trazem, quando eles consideram inviável aquilo que pensaram, eu mostro que é possível. Os 116
educandos pedem muito minha opinião, e eu sempre os motivo a colocarem em prática suas ideias, principalmente em atividades em que eles é que têm que criar dentro de uma proposta mais ampla, pois É o professor quem promove o fazer artístico, a leitura dos objetos estéticos e o refletir sobre arte a fim de que o aluno se construa como sujeito governado por si mesmo, interagindo com os símbolos de sua cultura (ARSLAN; IAVELBERG, 2006, p.8).
Há momentos nas aulas em que aproveito um questionamento de um aluno para esclarecer dúvidas da turma toda e há ainda momentos em que os alunos opinam sobre determinados assuntos. Isso é muito importante, inclusive na prática artística, quando o aluno manifesta sua opinião e mostra sua criação, que reflete sua trajetória artística. É o que aconteceu na produção dos livros de imagens, e que eles escolheram os assuntos que desejavam abordar, dentro de uma temática maior proposta por mim. No livro, cada dupla escolheu as imagens, desenhos e técnicas que gostariam de utilizar, pensando em toda trajetória artística por eles vivida no período escolar. “O aluno sente-se bem ao manifestar seus pontos de vista e mostrar suas criações artísticas, estruturando uma imagem positiva de si mesmo como conhecedor e produtor de arte” (ARSLAN; IAVELBERG, 2006, p.8). O período desta aula passou muito rápido, os alunos trabalharam do começo ao fim. Quando o final se aproximou, guardaram e organizaram os jornais e revistas que haviam buscado fora da sala de aula. Alguns alunos, que estavam sentados do lado de fora da sala com seus notebooks, pesquisando sobre os assuntos escolhidos, retornaram à sala e organizaram seus materiais. Todas as duplas iniciaram seus livros, mas precisarão de mais um período, pelo menos, para concluir a atividade. Eu expliquei que dependerá de como eles trabalharão na próxima aula, e só na próxima semana veremos se aquele período será suficiente ou se será necessária mais uma aula para a conclusão dos livros.
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3.3.8. Oitavo encontro Data: 03 de maio de 2011.
Conteúdos: Continuação da aula anterior. Livro de imagem; Cultura local e identidade regional.
Objetivos: Criar um livro utilizando apenas imagens; Utilizar formatos não convencionais nas páginas do livro; Pensar nos elementos que constituem nossa cultura e nos principais aspectos da identidade regional; Fazer uso de variadas técnicas nas páginas do livro.
Metodologias: Prática individual de produção de livro de imagem.
Dinâmica: 1. Os alunos deverão continuar a confecção do livro de imagem iniciada na aula anterior; 2. Sempre que necessário os educandos deverão fazer questionamentos. Eu irei circular pela sala supervisionando a atividade, fazendo observações e esclarecendo dúvidas; 3. No final da aula irei verificar se há necessidade de disponibilizar mais um período para que os alunos concluam esta atividade.
Recursos: Livros de imagem iniciados na aula anterior, para serem concluídos nesta aula, caixa para recortes disponível na escola, materiais diversos trazidos pelos alunos.
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Avaliação: Organização dos materiais solicitados; Originalidade no formato das páginas; Tema escolhido; Variação de técnicas nas páginas do livro.
Realizado Planejei para esta aula concluir a atividade iniciada na aula anterior. Um período de 45 minutos quase nunca é suficiente para a maioria das atividades realizadas na disciplina, o que faz com que os trabalhos se estendam para duas ou três semanas. É o que aconteceu no caso do livro de imagens, que foi iniciado na aula anterior e que eu já imaginava que não seria concluído nesta aula. Como a atividade requer mais tempo e dedicação, pois cada página é um trabalho diferente, considerei importante disponibilizar tempo em sala de aula para a realização de toda a atividade. Propus que esta atividade fosse realizada em duplas justamente por causa da questão temporal, pois aí dois alunos trabalhando no mesmo livro fariam a atividade em menos aulas. Logo que entrei na sala de aula, pedi que os alunos continuassem seus livros, para não perdermos tempo. Perguntei se alguém tinha dúvidas e várias duplas me chamaram para mostrar como estavam ficando seus livros e pedir sugestões. Muitos alunos estão habituados a pedir permissão para executar suas ideias, e eu sempre os escuto explicando seus planos e peço que façam um experimento, executem seus planejamentos, para ver no que vai dar. Por vezes, sugiro alternativas ou acrescento sugestões que possam enriquecer seus trabalhos. Na maior parte do tempo, fico circulando pela sala, e sou chamada a todo o momento, muitas vezes por mais de um aluno ao mesmo tempo. Sempre peço para que me aguardem até que eu possa atendê-los. Penso que a turma é muito grande, são 34 alunos que necessitam de atendimento, por isso aproveito alguns questionamentos e esclareço a turma toda para essas mesmas dúvidas não surgirem posteriormente, mas ainda assim, os alunos me chamaram o tempo todo para auxiliálos na atividade.
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Algumas duplas foram bastante criativas na utilização dos materiais como tecidos, papéis variados, colas coloridas e com efeito tridimensional, e muitas imagens de recortes de revista. Os formatos escolhidos também foram bem diversificados e diferentes. A turma demonstra dedicação no desenvolvimento das atividades propostas e interesse nas técnicas apresentadas. Alguns alunos são bastante curiosos, desejam saber sobre diversos assuntos relacionados à arte e até sobre a cultura local. Como o livro de imagens que eles estão fazendo deve tratar sobre um assunto relacionado ao tema central que é a cultura local, alguns escolheram assuntos pelos quais se interessam e gostariam de saber mais. Com a proposta, tiveram que pesquisar sobre os temas escolhidos e alguns, não tendo achado muitas informações, vieram esclarecer suas dúvidas comigo. Foi o caso de duas meninas que escolheram fazer o livro sobre a artista local Regina Simonis. Elas relataram que não encontraram muitas imagens de suas obras na Internet, apenas algumas informações básicas. Eu lhes sugeri que fossem visitar a Casa de Artes Regina Simonis, onde encontram-se em exposição permanente várias obras e esboços da artista. Também pedi que as duas revisassem sua pesquisa, e a partir das informações pensassem em formas de representá-las com imagens. Além disso, conversei um tempo com a dupla, num bate papo bem informal, fornecendo dados que eu sabia sobre a trajetória artística da artista e o endereço do site da Universidade de Santa Cruz (UNISC), onde elas poderiam encontrar maiores informações. Nos trabalhos da turma, nota-se que os alunos possuem um entendimento sobre identidade regional, são esclarecidos quanto às características de sua região e percebem a cultura que os cerca, e isso é refletido em seus trabalhos, na diversidade dos temas abordados e na dedicação com que realizavam a atividade, pois, conforme Mosquera (1976, p.100): “A qualidade da ação humana está em íntima relação com os valores culturais, pois deles emana a estimulação para agir e criar”. Através desta atividade, consegui estimular muitos alunos a criarem, abandonando a falta de vontade que lhes dominava. Nas diversas técnicas empregadas, de colagem, desenho, pintura, dobradura e recortes, os educandos usaram de muita imaginação e criatividade na confecção de cada página do livro. Acredito que esta proposta fez com que eu alcançasse alguns dos principais objetivos do ensino de arte:
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A educação pela arte tenta o desenvolvimento de sensibilidade, imaginação, criatividade do ser humano, possibilitando-lhe ainda um crescimento em termos de visão estética, emocional e intelectual do seu mundo (MOSQUERA, 1976, p.101).
Os 45 minutos da aula não foram suficientes para que os alunos concluíssem a atividade, portanto, decidi que na próxima aula eles terão mais um período para terminar os livros de imagem. Acredito que valerá a pena, pois percebo o empenho da turma na procura de informações e materiais e sei que a atividade proposta requer mais tempo para sua realização. Expliquei então a todos que os livros deverão ser concluídos e entregues na próxima aula, pedi que organizassem a sala e guardassem os materiais pois logo iria acabar o período. A atividade gera muita bagunça na sala, em virtude da variedade de materiais utilizados, por isso disponibilizei os 5 minutos finais para que os alunos pusessem suas coisas em ordem.
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3.3.9. Nono encontro Data: 10 de maio de 2011.
Conteúdos: Continuação da aula anterior. Livro de imagem; Cultura local e identidade regional.
Objetivos: Criar um livro utilizando apenas imagens; Utilizar formatos não convencionais nas páginas do livro; Pensar nos elementos que constituem nossa cultura e nos principais aspectos da identidade regional; Fazer uso de variadas técnicas nas páginas do livro.
Metodologias: Prática individual de produção de livro de imagem.
Dinâmica: 1. Os alunos deverão continuar a confecção do livro de imagem iniciado na aula anterior; 2. Sempre que necessário os educandos deverão fazer questionamentos. Eu irei circular pela sala supervisionando a atividade, fazendo observações e esclarecendo dúvidas; 3. Finalizando a aula, abrirei um espaço para que a turma troque os livros entre si para visualizarem os livros dos colegas; 4. No final da aula, irei solicitar aos alunos que providenciem fotografias da cidade de Santa Cruz do Sul, para organizarmos uma exposição fotográfica sobre a cultura local; 5. Os alunos serão avisados que na próxima semana terão a oportunidade de conversar com um artista local.
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Recursos: Livros de imagem iniciados na aula anterior, para serem concluídos nesta aula, caixa para recortes disponível na escola, materiais diversos trazidos pelos alunos.
Avaliação: Organização dos materiais solicitados; Originalidade no formato das páginas; Tema escolhido; Variação de técnicas nas páginas do livro; Pontualidade na entrega do livro; Compreensão da proposta da atividade e dos objetivos a serem alcançados.
Realizado A aula deste dia foi destinada à conclusão da atividade de confecção dos livros de imagem. A turma já teve disponibilizadas duas aulas para a realização desta atividade, mas como não terminaram os livros, decidi que seria justo que eles pudessem concluir a atividade em aula, uma vez que criar e fazer um livro de imagens requer mais tempo para sua realização. Neste dia, a orientadora da escola, professora Rosania, havia me pedido a liberação de dois meninos para auxiliarem nos jogos do Ensino Fundamental, pois a função deles seria apitarem como juízes dos jogos. Ela escolheu dois alunos que tinham mais experiência neste tipo de coisa e perguntou-me sobre a possibilidade deles saírem da sala durante a minha aula. Eu expliquei a ela que o trabalho que a turma estava realizando era em duplas e que, como cada um dos meninos citados era de uma dupla diferente, restaria ao colega concluir a atividade. Observei ainda que as duas duplas que seriam separadas naquela aula, somente um membro estava trabalhando de fato na atividade e estes eram justamente os que teriam que se ausentar, então seria muito bom que os colegas das duplas tivessem que trabalhar sozinhos pois só assim teriam participação na atividade. Assim que entrei na sala de aula, pedi que eles começassem a trabalhar, pois nesta aula teriam que terminar os livros. A dupla dos meninos Leonardo e Ismael me entregou seu livro logo no início da aula, os dois haviam trabalhado em 123
conjunto e aproveitaram muito bem o tempo das aulas, por isso já haviam concluído a atividade. O livro da dupla tratava das características da cultura gaúcha que fazem parte da identidade regional. Quando eles me entregaram o livro, eu logo o folhei para verificar se poderiam acrescentar alguma coisa no trabalho, mas concluí que o trabalho estava de acordo com a proposta e bem acabado. Os dois alunos haviam seguido as dicas de preencher os espaços em volta das imagens que haviam colado no centro de algumas folhas de seu livro, utilizando outras técnicas, coloriram os espaços em branco e criaram desenhos em volta das imagens coladas. As demais duplas trabalharam de forma constante durante a aula inteira, para terminarem seus livros. Alguns alunos estavam muito empolgados com os resultados que estavam atingindo, tais como quando organizavam suas páginas nos formatos escolhidos e descobriam formas de prender uma página na outra. Uns se admiravam com os trabalhos dos outros, elogiavam os colegas, num entrosamento nunca antes por mim observado na turma. Os alunos se comunicavam, interagindo com os outros trabalhos e inclusive sugerindo novas ideias para outras duplas. A aluna Ana, que havia discutido com sua dupla, o menino Tiago, na aula anterior, porque ele não se dedicava como ela à atividade, novamente havia trazido muitos materiais para trabalhar em seu livro de imagens. Em virtude da conversa que tive com ambos no final da aula passada devido à um mal entendido entre os dois, Tiago passou a se dedicar mais na atividade, elogiando as ideias de Ana, desta forma os dois trabalharam em harmonia durante o período, ainda que na maior parte do tempo a aluna esteve distante de sua dupla porque utilizava um aparelho de cola quente que estava ligado na tomada que ficava do outro lado da sala. Ana trouxe tinta para pintar a capa do livro enquanto Tiago recortava outras páginas e trabalhava nelas. Ana até tentou pintar a capa, mas desistiu dizendo não conseguir pintar direito, então resolvi ajudá-la. Primeiro pedi que ela continuasse pintando e fui dando instruções, por vezes até peguei o pincel e lhe mostrei como trabalhar para que sua pintura ficasse semelhante às obras da artista sobre á qual tratava seu livro de imagens. Tiago e Ana fizeram o livro sobre a artista contemporânea local Márcia Marostega, e o resultado final ficou muito interessante. O trabalho está bem acabado, nele foram utilizadas várias técnicas como pintura com tinta e lápis de cor, colagem de tecido e papéis variados. Observando o livro de imagens da dupla, percebe-se que eles demonstram utilizar muita criatividade. Ambos são curiosos, e 124
fizeram experimentações que até então nunca haviam feito, conforme MOSQUERA (1976, p.17) “A curiosidade talvez seja o primeiro grande aspecto da pessoa criadora” O mesmo autor diz ainda que “A criatividade está na aplicação do que se descobriu”, e foi o que a dupla fez, inovando, ousando e experimentando na utilização dos materiais e técnicas em seu livro. O formato do livro é a forma do rosto característica das figuras humanas presentes nas obras de Márcia Marostega, e nas páginas do livro, variando materiais utilizados, podemos ver leituras que os alunos fizeram de várias características das obras da mesma artista, como o colorido utilizado, que lembra estamparia e tecidos, e os olhos das figuras, sempre arredondados. Posso concluir que o livro de imagens de Tiago e Ana é todo de releituras da obra de Márcia Marostega.
Capa do livro de imagens de Ana e Tiago. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
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Utilização de tecido na página do livro de Ana e Tiago. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Página do livro de Ana e Tiago. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Outro trabalho que destaco é o das alunas Fabiane e Jaqueline. O tema escolhido por elas foi a Casa de Artes Regina Simonis, e a grande dificuldade por elas encontrada foi criar a capa do livro. Após pensarem muito e ouvirem sugestões 126
minhas e de colegas, as meninas „emolduraram‟ a imagem do prédio, como se este também fosse uma obra de arte. O resultado ficou muito interessante e original. Em seu livro Fabiane e Jaqueline também utilizaram materiais diferentes como tinta e serragem, e fizeram desenhos e colagens nas páginas. Cada página tratava de uma obra da artista Regina Simonis, em que as meninas além de colarem imagens das obras, completavam os espaços com desenhos que iam ao encontro da temática de cada obra. Isso se percebe na página que tem a imagem de uma natureza morta pintada pela artista, em que as meninas completaram a página com desenhos de uma cozinha, dando a impressão de que o quadro estava fixo na parede desta cozinha.
Capa do livro de imagens de Fabiane e Jaqueline. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
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Página do livro de imagens de Fabiane e Jaqueline. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
De forma geral, todos os trabalhos ficaram muito bem feitos, os alunos se dedicaram na realização da atividade, alguns com mais interesse, outros com menos. Concluo que os objetivos propostos foram alcançados, os alunos refletiram sobre a cultura local e a identidade regional, bem como variaram as técnicas utilizadas, empregando todo o conhecimento por eles adquirido nestes anos de aulas de Arte. Também fizemos um trabalho de desestereotipização, quando todos tiveram que pensar em formatos não tradicionais para a confecção de seus livros. Sinto que a maioria dos alunos trabalhou com prazer durante todas as aulas dedicadas à esta atividade. Eles se divertiram com os materiais, se empolgaram cada vez mais conforme seus livros iam criando forma, usaram de sua criatividade e de intuição, e por muitas vezes pareciam crianças descobrindo materiais, fazendo experimentações, se divertindo com a arte. Não há pessoa mais criadora que uma criança pequena, que justamente brincando, cria todo um mundo de fantasia. Por isto poderia dizer que o grande mérito da arte é levar as pessoas a serem ainda crianças e remontá-las possivelmente aos primeiros estágios de pureza e intuição (MOSQUERA, 1976, p.21).
Ao final da aula, apenas três duplas não haviam concluído seus livros. Com essas combinei que teriam na próxima semana o último dia de prazo para 128
entregar a atividade. Os alunos concordaram e prometeram entregar os livros prontos na próxima aula. Antes que os alunos fossem liberados, solicitei o material que será utilizado na próxima aula, que ocorrerá em duas semanas, uma vez que na próxima eles terão aula de leitura. Pedi que trouxessem fotos que caracterizem Santa Cruz do Sul e sua cultura. Expliquei que quem não tiver foto poderá fazer desenhos ou ainda sair para fotografar algum ponto interessante de nossa cultura. Falei que as fotos serão utilizadas numa exposição que será organizada na próxima aula. Assim que ouviram o sinal, todos organizaram seus materiais e saíram apressados para o recreio.
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3.3.10. Décimo encontro Data: 24 de maio de 2011.
Conteúdos: Organização de exposição fotográfica; Arte, cultura e identidade locais;
Como vemos nosso município
Objetivos: Refletir sobre a presença da arte no município onde se situa a escola; Perceber a cultura local; Identificar características marcantes na arte, identidade e cultura locais; Produzir um texto a partir do que foi discutido; Destacar principais pontos conversados por meio da fotografia; Organizar uma exposição fotográfica.
Metodologias: Aula expositiva dialogada, prática individual de produção de texto, e prática coletiva na organização da exposição.
Dinâmica: 1. Inicialmente, irei solicitar aos alunos que mostrem as fotos trazidas. Será realizada uma breve conversa sobre a experiência fotográfica e sobre a cultura local percebida durante a busca das fotografias; 2. Os alunos deverão produzir um texto sobre o que foi discutido, dissertando sobre a cultura e identidade locais; 3. Em seguida, organizarei a turma para que todos participem da montagem da exposição. Cada aluno irá colar sua foto ou desenho sobre uma folha de cor preta, identificando-a com um título, nome de quem trouxe ou tirou a foto, o ano e local fotografado; 4. Após a organização e identificação das fotografias no biombo destinado à exposição de trabalhos, este será exposto em algum local da escola, definido pelos 130
alunos. A intenção é de que na próxima semana se juntem à esta exposição algumas fotografias do artista Antelmo Stoelben, que fará um debate com os alunos e mostrará seu trabalho na próxima aula; 5. Finalizada esta etapa, com todos os alunos de volta à sala, solicitarei que os alunos elaborem uma pergunta que gostariam de fazer para o artista que virá na semana seguinte.
Recursos: Fotografias ou desenhos de Santa Cruz do Sul trazidos pelos alunos, folhas pretas e biombo para exposição dos trabalhos.
Avaliação: Realização da atividade; Cumprimento da tarefa de trazer as fotografias já solicitadas com antecedência; Organização do material; Compreensão do conteúdo expressa através da produção textual; Relação dos textos produzidos com o projeto realizado.
Realizado A aula desta semana ocorreu em meio ao tumulto do dia em que aconteceram os Conselhos de Classe no Ensino Médio. Nos dois períodos que antecederam o período desta aula eu participei do Conselho de Classe que reuniu os professores que trabalham com o 3º ano para discutir sobre a postura da turma bem como os resultados das avaliações que determinaram o desempenho de cada um no primeiro trimestre do ano letivo. Os comentários em relação à turma foram bastante positivos, mas ainda assim a diretora considerou que houve muitas reprovações em relação ao número de alunos da turma, pois foram 12 alunos com nota C (reprovado) em pelo menos uma disciplina, em uma turma de 34 alunos. Quando entrei na sala da turma percebi que eles estavam sem professor naquele momento, ou seja, passaram dois períodos sem orientação nenhuma, apenas realizando a atividade que lhes foi proposta no início da aula. Achei a turma bastante calma, pois mesmo sem professor em sala de aula, trabalhavam sem bagunça e conversas altas. Iniciei minha aula pedindo que guardassem os materiais 131
que estavam utilizando e procurassem as imagens que eu havia solicitado na aula anterior e esperava que todos tivessem trazido. Neste momento me decepcionei com a turma, pois a maioria não trouxe nada, nem fotografia nem desenho ou qualquer outra imagem que pudesse ser utilizada na exposição que iríamos organizar. Os alunos me explicaram que haviam sido avisados que teriam conselho de classe com os professores naquela tarde e, portanto, não teriam aula a partir do terceiro período, que correspondia justamente ao período em que teriam aula de Arte. Entendi que realmente houve uma falha de comunicação e recolhi as poucas imagens que me foram trazidas por alguns alunos que pensaram que mesmo não tendo aula de Arte eu as recolheria em algum momento daquela tarde. O planejado era antes de organizar a exposição, que os alunos redigissem um pequeno texto sobre a cultura e a arte local. Solicitei que todos escrevessem um texto e escrevi no quadro alguns tópicos que deveriam ser abordados na redação. Desta forma pude realizar uma avaliação escrita com a turma, exigência da escola, que tem estabelecido em seu regulamento que todas as disciplinas devem fazer no mínimo uma avaliação escrita por trimestre. Os alunos receberam bem a proposta, mas assustaram-se um pouco com o fato de terem que escrever na aula de Arte, alegando não estarem na aula de Português. Acredito que a produção textual expressa o entendimento dos alunos em relação ao assunto abordado. Em um texto produzido por seu aluno sobre um assunto pré-determinado, o professor pode perceber as deficiências no aprendizado de cada um e suas falhas como educador, podendo assim rever algumas atitudes e\ou sua metodologia. Os alunos escrevem aquilo que compreenderam expressando ainda sua opinião sobre o conteúdo, desenvolvendo a criticidade e a formação de novas ideias. Considero que a produção textual foi fundamental para minha percepção do que os alunos absorveram do conteúdo abordado durante o projeto, bem como me oportunizou ler o que os alunos construíram em conhecimento durante as aulas do projeto. Em um texto sobre arte, seja produzido em uma prova, seja produzido em um trabalho de pesquisa, é fundamental que sejam percebidos o raciocínio, as ideias próprias, as interpretações e as relações que cada pessoa construiu sobre determinados assuntos, em vez da repetição ou cópia de textos lidos ou estudados. A correção de textos requer um professor\leitor construtivista, que saiba ver o que cada um aprendeu, como aprendeu, o que elaborou, o que sabe superficialmente, o que deformou, as ideias inadequadas às perguntas ou aos conteúdos estudados (ARSLAN, IAVELBERG, 2006, p.100).
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Dissertando sobre a cultura local e sobre a presença da arte ao seu redor, percebi que os alunos refletiram sobre as conversas realizadas durante o projeto, construíram conhecimento relacionado à cultura presente no meio em que vivem e passaram a perceber que a arte pode ser encontrada bem mais perto do que imaginavam. Enquanto produziam
seus textos, alguns alunos me faziam
questionamentos sobre alguns elementos culturais da região e sobre a arte local, relacionada aos monumentos e prédios históricos da região. Estavam todos muito curiosos sobre os aspectos relacionados à Catedral São João Batista, e me questionaram em relação ao estilo da construção. Expliquei-lhes que a catedral é um dos maiores templos da América Latina em estilo neogótico tardio (Fonte: site do município de Santa Cruz do Sul). Aproveitei o momento para falar um pouco sobre as pinturas existentes na parte interna da catedral e sobre os vitrais, que os alunos não sabiam no que consistem, mas quando lhes expliquei logo lembraram o que é e onde encontram. No texto da aluna Juliane Stumm, ressalto o seguinte trecho que demonstra a maneira que a aluna percebe arte em seu município: Esta cidade está repleta de arte, onde passamos nos deparamos com lindas obras de arte, um exemplo disso é a nossa Catedral (maior Igreja em estilo Neogótico da América Latina), que tem por nome São João Batista [...].
Nota-se que Juliane preocupou-se em ressaltar um aspecto da explicação que eu havia dado à turma durante a aula e que absorveu o conteúdo. Outro trecho que destaco é do texto da aluna Andresa Kolberg, que escreveu: Outro aspecto que chama a atenção é a capacidade de produzir, fazer pinturas, por toda a parte, por exemplo, em muros. A arte também é encontrada, principalmente, em igrejas, que possuem monumentos muito interessantes e chamativos aos olhos de quem passa.
Os alunos passaram a observar as igrejas de suas comunidades e a riqueza artística nelas presente. Muitas possuem ainda afrescos em suas paredes, e esculturas artesanais muito antigas de diversos santos. Estas características (afrescos e esculturas), também estão presentes nas muitas casas antigas ainda existentes e preservadas na região, em sua maioria construídas em estilo Enxaimel (ideal arquitetônico trazido pelos imigrantes alemães e adaptado aos materias 133
disponíveis na época). A aluna Sandi Peiter, em seu texto, mostrou perceber tais elementos presentes nessas casas antigas quando escreveu: Percebe-se que a arte está em nossa volta, em minha localidade há muitas casas antigas, pessoas ainda guardam objetos antigos como ferro de passar roupa, fotografias, pratos com bastante detalhes [...]
A aluna lembrou ainda de citar os pratos antigos pintados à mão que muitas pessoas, principalmente as de mais idade preservam expostos como parte de decoração de suas casas. O aluno Nycolas Gollmann, que é um daqueles que não costuma fazer nada em sala de aula, sempre alegando conseguir se concentrar melhor em casa, e tem muita dificuldade para fazer desenho, mostrou-se muito talentoso para escrever, apresentando um vocabulário muito rico e sabedoria na utilização das palavras. No final de seu texto, Nycolas lembrou do contraste da cultura existente na região, que preserva tradições cultivadas pelos antepassados de origem alemã com a modernidade que vem aos poucos desfazendo o que foi preservado: Porém, atualmente, infelizmente muitas dessas tradições estão se perdendo, devido ao fato de que muitas delas já não tem mais lugar no mundo moderno. Entretanto, esses costumes não são somente cultura, são arte, e devem ser preservados.
Os alunos levaram o período inteiro para terminarem seus textos e todos me entregaram no final da aula. Considero que a atividade de produção textual foi bastante significativa, pois os alunos puderam expressar seu entendimento em relação aos conteúdos abordados durante o projeto e eu pude diagnosticar se meus objetivos foram alcançados. Percebo que alcancei com êxito os objetivos propostos até aqui. Desde o início do projeto propus que cada aluno se descobrisse, a partir de sua singularidade, pertencente a um elemento mais amplo e rico chamado cultura local. Através da identidade trabalhada nos primeiros encontros chegamos à percepção do meio em que estamos inseridos. A educação artística no seu âmago coloca como principal esforço a singularidade de cada pessoa. É um princípio básico da boa educação pela arte que cada estudante observe e descubra por si suas próprias forças, inclinações, possibilidades e limitações (MOSQUERA, 1976, p. 101).
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Partindo do descobrimento de possibilidades e limitações, as atividades desenvolvidas possibilitaram aos alunos muita liberdade na escolha de materiais e outras decisões que precisaram ser tomadas na produção dos trabalhos. No estudo da cultura local, encontrei uma forma de “relacionar a escola com a comunidade em que vive o educando, para que ele se torne consciente da realidade que o circunda e da qual deve participar” (ZÓBOLI, 1990, p.125).
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3.3.11. Décimo primeiro encontro Data: 31 de maio de 2011.
Conteúdos: Conversa com o artista local Antelmo Stoelben;
Trajetória artística e formação do artista;
Processo de criação;
Filosofia de suas obras;
Intuito de seu trabalho;
Linguagens e técnicas de seus trabalhos;
Materiais que um artista utiliza.
Objetivos: Proporcionar contato com um artista local; Conhecer o trabalho desse artista; Perceber a importância de sua arte para o município; Questionar o artista sobre variados assuntos e curiosidades; Entender o processo de criação de um artista; Apreciar e valorizar a arte e cultura locais; Mostrar ao visitante as fotografias em exposição.
Metodologias: Roda de conversa com o artista local, aula expositiva e dialogada, mostra dos trabalhos dos alunos.
Dinâmica: 1. Com as mesas da sala organizadas em círculo, a turma receberá o artista para uma conversa mais informal, que fluirá de acordo com o interesse e questionamentos dos próprios educandos. Primeiramente, o artista será apresentado à turma e fará uma breve iniciação à conversa. Se ele se disponibilizar, mostrará imagens de suas obras em datashow;
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2. Os alunos deverão questioná-lo sempre que quiserem desde que suas perguntas sejam relevantes. O bate-papo poderá durar em torno de 40 minutos. Após o encerramento, agradecendo à visita do artista, os alunos o levarão para visitar a exposição de suas fotografias; 3. Após o momento de apresentação de trabalhos, os alunos voltarão para a sala de aula, onde seguirão com sua aula normal.
Recursos: Datashow, obras do artista.
Avaliação: Participação na conversa com o artista; Questionamentos realizados; Comportamento durante a palestra; Interesse nos assuntos abordados.
Realizado No dia e horário marcados, recebi o artista Antelmo Stoelbenn na escola, 15 minutos antes do horário de início do 3º período. Verifiquei na secretaria se a Sala de Vídeo estava disponível, caso contrário a atividade teria que ser realizada na sala de aula. Com a disponibilidade da sala confirmada, conduzi Antelmo até lá para que pudesse organizar o material que havia trazido para mostrar aos alunos. Ajudei-o a dispor suas fotografias em tamanhos relativamente grandes nas paredes da sala. Escoramos as fotos nas janelas, em cadeiras e deixamos algumas dentro da pasta na qual foram trazidas, pois eram muitas imagens e não havia espaço suficiente para colocar todas em exposição. Assim que ouvi o sinal dirigi-me até a sala da turma. Após cumprimentar os alunos, perguntei se haviam anotado a pergunta que eu havia pedido que elaborassem para fazer ao artista na ocasião. Poucos haviam pensado no que desejavam perguntar, então eu solicitei que todos fossem participativos na oportunidade que teriam de conversar com o artista e fizessem os questionamentos relacionados aos assuntos abordados. Expliquei aos alunos que este momento seria
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realizado na Sala de Vídeo, onde Antelmo os aguardava, e pedi que levassem caderno e caneta para fazer anotações que fossem necessárias. Os alunos se dirigiram educadamente até a outra sala. Eu fui a última a chegar, pois havia aguardado até que todos saíssem da sala para trancá-la. Notei que os alunos olhavam admirados para as fotografias expostas e percebi a curiosidade em seus olhares. Pedi que todos se acomodassem logo para darmos início à conversa. Apresentei o artista para a turma e passei a palavra para Antelmo. O artista iniciou sua fala explicando aos alunos sobre sua trajetória artística e sobre como surgiu seu interesse pela arte, que vem desde criança. Muito atuante no meio artístico santa-cruzense, Antelmo falou das diversas exposições das quais já participou e dos concursos fotográficos nos quais foi premiado. Fazendo experimentações também em outras linguagens como pintura, música, poesia e cinema, em sua palestra o artista falou do uso da tecnologia no meio artístico, e dos recursos dos quais se utiliza em suas fotografias, reforçando a ideia de que A sociedade contemporânea, com suas pesquisas e descobertas científicas, tecnológicas, traz inúmeras oportunidades no campo das imagens. Estas, enriquecidas com os novos meios , vêm complementar as experiências do desenho, da pintura, da gravura, escultura, arquitetura, e passam a ser produzidas também através de tecnologias eletrônicas, digitais, etc. em vista disto, convivemos hoje com outras linguagens visuais, audiovisuais, que têm especificidades próprias mas integram o universo da comunicação e das artes (FERRAZ; FUSARI, 2010, p.92).
Além de comentar sobre o uso de uma máquina fotográfica profissional, o artista explicou que iniciou seus trabalhos com uma câmera muito simples e de pouco custo e contou que venceu um concurso com uma fotografia tirada pela câmera de um celular, deixando claro a todos que se pode fazer boas fotografias com qualquer tipo de câmera, basta ser sensível e criativo. Notei que grande parte dos alunos se interessou muito sobre o assunto “fotografia” e nas formas de manipulação de imagem citadas por Antelmo. Talvez o interesse dos alunos tenha origem na utilização de diversos recursos de manipulação de suas próprias fotografias para publicação das mesmas em sites de relacionamento tais como Orkut e Facebook. Os alunos quiseram saber quais são os programas que o fotógrafo utiliza para manipular algumas de suas fotografias e ele citou alguns que os alunos anotaram em seus cadernos. O uso da fotografia está muito presente no cotidiano dos educandos, e conforme FERRAZ e 138
FUSARI é “Difundida por vários meios tais como cartazes, revistas, jornais, livros, documentos publicitários, ela é também um modo de registro da cotidianidade por parte de fotógrafos profissionais e amadores” (2010, p.93). Muito curiosos, alguns alunos começaram a apontar para algumas fotografias expostas na sala pedindo para que o artista falasse um pouco sobre a história daquela imagem. Para cada fotografia apontada ouvia-se uma história diferente e se falava em técnicas novas de captação de imagem, escolha do ângulo e manipulação digital. Apesar de terem perguntado sobre algumas fotografias específicas, os alunos não fizeram muitos questionamentos para Antelmo, então eu fui fazendo questionamentos para dirigir a conversa. Enquanto explicava, o fotógrafo mostrava imagens para exemplificar o que estava falando, ou então eu segurava as fotografias no alto para que todos os alunos pudessem visualizar. Considero que o artista foi muito esclarecedor em suas explicações, falou sobre diversos aspectos interessantes, sobre seu processo artístico, sobre sua história dentro da arte e especificamente sobre suas fotografias que são o registro da história e da cultura locais. Através do ato de fotografar prédios históricos e fatos pertencentes à identidade regional, o artista valoriza nossa cultura e a divulga em outros lugares através de suas exposições e concursos dos quais participa. Falando sobre cores, tonalidades, linhas, espaços, volumes, superfícies e texturas, que são “[...] registrados de maneiras diversas com mais nitidez ou menos nitidez, mais luminosidade ou menos luminosidade, dependendo da intenção, sensibilidade e criação de quem o fez” (FERRAZ; FUSARI, 2010, p.94). O artista veio acrescentar ao projeto informações interessantes relativas à técnica fotográfica e a tudo que é fotografado por ele. Percebi nos alunos interesse e satisfação em conhecer Antelmo, bem como admiração por seu trabalho. Ao final de sua fala, o fotógrafo agradeceu a oportunidade e disse estar muito satisfeito por poder divulgar a arte dentro de uma escola. Ocupamos todos os minutos disponíveis para o período de arte, os alunos saíram da sala apenas quando ouviram o sinal para o recreio. Alguns ainda esperaram para cumprimentar o artista e anotar seu contato. A aluna Nadini, que está desenvolvendo em seu projeto científico (que todos os alunos do Ensino Médio da escola precisam fazer), um trabalho sobre daltonismo, aproveitou a oportunidade para marcar uma entrevista com Antelmo, que é um fotógrafo daltônico.
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Para mim a experiência foi muito significativa, pois é importante que os alunos tenham este contato mais próximo com artistas e obras de arte e é muito gratificante poder oportunizar isso à turma. Como a escola está situada no interior da Santa Cruz, distante 28 km da sede do município é muito complicado levar os alunos para visitação a exposições que ocorrem na Casa de Artes Regina Simonis, então a alternativa é trazer as exposições e os artistas locais até a escola e foi isso que eu fiz. Após seu momento em sala de aula, Antelmo escolheu alguns de seus trabalhos para ficarem em exposição durante algum tempo no saguão da escola. Fui parabenizada pela diretora da escola, que conhece o artista, pela iniciativa. A satisfação da diretora foi ainda maior quando lembrou que no sábado seguinte haveria entrega de boletins na escola e que seria então uma oportunidade para os pais visitarem a exposição tanto das fotografias de Antelmo quanto dos trabalhos dos alunos do 3º ano e da 7ª série, que foram complementadas pelas fotografias expostas naquele dia, pois tinham relação entre si por tratarem de um mesmo tema que é a cultura local.
Antelmo Stoelbenn interagindo com os alunos. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Na semana seguinte, concluirei o projeto na turma realizando uma atividade prática baseada nas imagens visualizadas nesta aula.
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3.3.12. Décimo segundo encontro Data: 07 de junho de 2011.
Conteúdos: Conclusão do projeto “Arte e Identidade no Espaço de Ensino”; Conversa sobre o artista local Antelmo Stoelbenn; Cultura local; Elaboração de desenho baseado nas fotografias de Antelmo.
Objetivos: Finalizar o projeto “Arte: Identidade e Cultura Local”; Perceber nossa cultura local; Representar uma idéia por meio de desenho; Valorizar a arte e cultura local; Fazer uma avaliação do projeto como um todo.
Dinâmica: 1. Inicialmente, farei um debate com os alunos sobre a conversa com o artista Antelmo Stoelbenn, realizada na semana anterior; 2. Concluída a conversa, mostrarei novamente aos alunos 8 fotografias do artista que ficaram expostas na escola. Faremos uma leitura das imagens, observando a composição das mesmas, bem como realizando comentários relacionados à manipulação de imagem. Os alunos deverão realizar a atividade baseados nessa leitura. 3. Os alunos partirão da seguinte proposta: “Baseado no que o artista disse, visualizando suas obras, coloque-se no lugar de Antelmo e fotografe mentalmente o que você desejar. Desenhe sua fotografia, colorindo-a conforme sua imaginação”. 4. Se houver tempo, ao final da aula irei solicitar que os alunos escrevam o que acharam do projeto realizado, como forma de avaliação e conclusão das atividades realizadas.
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Recursos: Fotografias de Antelmo Stoelbenn, materiais para desenho e pintura trazidos pelos alunos.
Avaliação: Compreensão dos motivos que levaram ao projeto; Expressividade no trabalho; Conhecimentos adquiridos sobre o artista estudado; Reconhecimento das obras apresentadas; Criatividade na realização do desenho, obedecendo aos critérios estabelecidos; Participação na conversa sobre a cultura local e regional, bem como nos demais assuntos levantados; Interesse nos temas abordados; Dedicação em sala de aula; Organização dos materiais e da sala de aula.
Realizado Os alunos esperavam ansiosos por minha chegada na sala de aula. Curiosos pela última atividade que desenvolveríamos no projeto, todos imaginavam que a atividade estaria relacionada ao trabalho do artista Antelmo Stoelbenn, com quem tiveram a oportunidade de conversar na semana anterior, durante um período inteiro. Alguns alunos me esperam sempre do lado de fora da sala, e sempre tenho que chamá-los para entrarem na sala de aula para que eu possa dar início às atividades. Neste dia expliquei que seria o último dia de aula do projeto, e os alunos ficaram sentidos com a notícia, mas queriam logo uma atividade para fazer. Coloquei as fotografias feitas por Antelmo expostas sobre o quadro, onde todos os alunos enxergassem. Realizamos então alguns comentários referentes às imagens. Os alunos manifestaram gosto por uma imagem em especial, que é a foto de uma janela branca situada em uma parede cor de laranja. Todos comentaram sobre a simplicidade da cena e a beleza da fotografia. Questionei-os sobre as cores presentes na imagem e desta forma fomos analisando a fotografia e as outras que 142
também estavam expostas. Além se surgirem conclusões e respostas, novos questionamentos surgiram, que poderiam ter sido feitos ao artista na semana anterior. De certa forma estes questionamentos estimularam os alunos a atribuírem significados e sentidos diferentes do que o artista provavelmente explicaria. Na leitura do que pode ser a obra, atribuímos a ela um sentido que ressoa significações em nós, “pois ao poeta cabe fazer com que na lata venha a caber o incabível”. Por ser metáfora, a obra não traz uma resposta; mas provoca em nós uma profusão de perguntas que nos faz extrair dela novos, diferentes e mais profundos significados do que nosso olhar contaminado pelo cotidiano vê sobre nós mesmo, o mundo ou as coisas do mundo (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA. 1998, p.44).
Após este momento, que ocorreu de forma muito breve, pois os alunos estavam ansiosos por desenhar, propus a atividade da aula, pedindo que desenhassem em uma folha de ofício aquilo que eles gostariam de fotografar se estivessem no lugar de Antelmo Stoelbenn, o artista local estudado. Pedi também que pensassem no uso da cor em seus trabalhos, já que Antelmo modifica suas fotografias por meio de softwares de edição de imagem. Expliquei que havia trazido materiais como giz pastel seco que ficam muito interessantes em trabalhos feitos com grafite, em que poderiam interferir com uma ou duas cores, criando um efeito diferente, semelhante ao de uma fotografia do artista, em preto, branco e vermelho, que estava exposta na sala. Inicialmente os alunos ficaram pensativos e pediram para que eu explicasse novamente a proposta. Após ouvirem a explicação iniciaram então seus desenhos, muito despreocupados. Orientei-os a pensarem antes de iniciar o desenho. Pedi que refletissem sobre todo o projeto desenvolvido, sobre a cultura local debatida e trabalhada nas aulas, pois as fotografias do artista estavam ligadas a este aspecto, representavam de certa forma uma identidade presente na região, retratavam aspectos importantes de nossa cultura. A partir disso, começaram a surgir ideias, algumas claramente relacionadas às fotografias do artista, como imagens de prédios históricos, casas, portas e janelas. Percebe-se que os educandos refletiram mais sobre o que desenhariam quando observaram melhor as fotografias expostas e se permitiram pensar sobre isso. O desenvolvimento da atividade ocorreu de forma tranquila, alguns iniciaram logo seu desenho, outros demoraram mais para começar a trabalhar. Todos utilizaram lápis, mas alguns não possuem lápis 6B, o que dificulta a técnica, pois o 143
uso de lapiseira marca muito o papel. A maioria dos alunos me mostrava seus desenhos conforme desenvolviam suas ideias. Para alguns eu sugeri modificações, para outros apenas pedi que continuassem na mesma ideia. Como a turma é muito grande, não foi possível atender todos os alunos, então nem cheguei a ver todos os trabalhos serem desenvolvidos. Tomei conhecimento de alguns apenas quando me entregaram a folha, já com o desenho e pintura feitos. Fiquei sentida pelo fato, pois percebo que estes trabalhos não foram bem desenvolvidos, e que estes alunos necessitavam de auxílio no desenvolvimento de suas ideias e até no ato de desenhar. Com isso, surgiram alguns desenhos estereotipados, de paisagens com coqueiros, sol e mar. Penso que isso não deveria acontecer, pois são alunos de 3º ano que possuem maturidade suficiente para desenvolver melhor um trabalho de desenho que expresse uma ideia.
Presença de estereótipos no desenho. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Nota-se neste desenho, a forte presença dos estereótipos quando se pede para que os alunos imaginem uma cena e criem um desenho. Com essa „liberdade‟, ou falta de limitações na atividade, inevitavelmente acabam surgindo trabalhos como este, pois o professor, em uma sala com 34 alunos, não consegue atender a todos em um período de 45 minutos. Sempre que possível alertei aos alunos sobre os uso de algumas técnicas e materiais, e procurei solucionar eventuais problemas, pois 144
conforme ARSLAN e IAVELBERG (2006, p.95): “Durante a elaboração de um trabalho, os alunos podem, às vezes, ficar aflitos com dúvidas e problemas. Nesses casos, o professor não pode apenas aguardar o resultado para fazer a avaliação, ele deve procurar resolver o problema naquele momento.” A turma solicitou muito minha ajuda e a toda hora vinham alguns educandos me mostrar como estavam ficando seus trabalhos, porém estes eram sempre os mesmos, o que me impedia de verificar os trabalhos dos demais alunos. Conforme os desenhos foram ficando prontos, era hora de iniciar a pintura. Quando fui questionada sobre a mesma, pedi que os alunos novamente observassem as fotografias de Antelmo expostas no quadro, verificando a presença ou ausência de muitas cores. Desta forma, os alunos começaram a fazer experimentações com giz pastel que eu havia trazido, em folhas de rascunho, para verem como se trabalhava com este material. Gostaram muito do resultado e das possibilidades de intervenção que se pode fazer com giz pastel num desenho feito com grafite. Fiz também uma demonstração no quadro, sobre uma folha branca, para que todos pudessem visualizar os resultados do uso de giz pastel seco, e a maioria acabou optando por utilizar este material. Destaco o trabalho da aluna Ana, que usou muito bem os materiais que possuía e também os que disponibilizei à turma. Seu desenho ficou bem elaborado, a proposta é interessante e a composição das cores foi muito bem feita.
Trabalho da aluna Ana. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
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Outro trabalho que considerei muito interessante foi o da aluna Jaqueline Agnes, que manteve no desenho outra técnica que ela utiliza sempre que possível, a colagem. O uso das cores nos trabalhos dela também é bem pessoal e, apesar de parecer às vezes inadequado, acabava resultando em belas composições. Neste trabalho, a flor e a borboleta são colagens sobre o desenho de fundo, inspirado nas fotografias de prédios antigos que Antelmo faz.
Trabalho da aluna Jaqueline Agnes. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
De forma geral, a maioria dos trabalhos ficou bem elaborada, a escolha dos elementos a serem desenhados lembra as fotografias de Antelmo e se relaciona à cultura local, grande tema desenvolvido no projeto. Os alunos gostaram muito de fazer uso de materiais diferentes que até então não conheciam, como giz pastel seco, por exemplo. Os critérios adotados na utilização das cores também foram interessantes, pois muitos utilizaram apenas uma ou duas cores em composições onde o preto e o branco predominavam, criando efeitos muito diferentes do que estavam acostumados a fazer.
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Alunos fazendo trabalho observando fotografias de Antelmo. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Aluna trabalhando com giz pastel disponibilizado na aula. (Fonte: SCHUSTER, 2011)
Com esta atividade, concluí meu projeto de ensino no 3º ano do Ensino Médio. Acredito que alcancei os objetivos inicialmente propostos e que, mesmo tendo feito pequenas alterações em algumas aulas, mantive o projeto elaborado inicialmente, elaborada no Estágio I e cumpri com minha promessa de levar um artista até a escola para conversar com os alunos. A turma sempre colaborou muito na execução das atividades, o que facilitou o desenvolvimento das aulas. Tive alunos maravilhosos, dos quais já sinto saudade. Foi uma experiência única e muito importante, de experimentação e novos conhecimentos agregados. Um período maravilhoso, de muito esforço e dedicação, do qual já sinto falta. 147
3.4. Considerações sobre a prática de ensino
A experiência docente é muito gratificante. Ao percebermos os resultados obtidos e o crescimento de cada educando podemos constatar o quanto o trabalho de um professor é importante. A prática de estágio no Ensino Médio foi de extrema importância, contribuindo para o meu crescimento como estudante e como profissional. Considero que os objetivos propostos pelo projeto foram alcançados e que não tive problemas em relação à aplicação das atividades propostas. Acredito que propus discussões construtivas e atividades instigantes em que os alunos criaram, se expressaram e se divertiram, fazendo uso de técnicas e materiais diversos. Os temas abordados pelo projeto, como identidade e cultura local, foram apreciados pelos alunos, que participaram ativamente dos momentos de debate e demonstraram interesse através dos trabalhos realizados. Fiquei muito satisfeita com o resultado das produções dos alunos e com a participação de todos nas atividades propostas. Refletindo sobre o fechamento do projeto, percebo que faltou um momento de avaliação final, tanto do que cada aluno construiu durante o período de estágio quanto do projeto como um todo, porém, penso que a conversa com o artista e a posterior atividade baseada nas fotografias de Antelmo Stoelbenn fizeram sua parte abordando os temas e conteúdos de todo o projeto e, de certa forma, concluindo as atividades. Continuo acreditando que os conteúdos estudados em sala de aula, em qualquer disciplina, devem estar associados à realidade dos educandos, pois isso motiva o aprendizado. Considero também que é fundamental que o professor goste do que faz e seja um apaixonado por arte, e que transmita isso aos seus alunos.
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CONCLUSÃO
O resultado de um processo Após a realização do estágio, o futuro professor deve estar ciente dos resultados obtidos, sejam eles positivos ou não. Neste aspecto, posso afirmar que o estágio com o Ensino Médio gerou bons resultados. O trabalho realizado foi fruto de um processo vivido por mim e pelos alunos, e neste processo, fomos todos vitoriosos. Os educandos alcançaram o objetivo geral do projeto de ensino que é valorizar a cultura e a arte local, apreciando obras de arte e conhecendo elementos constituintes da cultura da qual fazem parte. Por consequência, conheceram mais a si mesmos, percebendo-se como integrantes de uma sociedade que tem sua cultura, reconhecendo a arte local. Por meio de atividades direcionadas à exploração da individualidade de cada um, como no caso do autorretrato, os alunos desenvolveram também sua expressão, escolhendo seus próprios meios para chegarem aos resultados propostos. Através deste trabalho, os alunos desenvolveram e passaram a perceber o ato da criação, aguçando também sua curiosidade a respeito de materiais e técnicas, fazendo experimentações e buscando soluções para os desafios propostos. Nestes momentos, de solucionar problemas, encarar os desafios propostos e experimentar variados materiais é que muitos dos alunos utilizaram criatividade. Ali puderam perceber e executar a criação e, neste ponto, me sinto vitoriosa por ter desafiado os alunos a ponto de proporcionar momentos em que todos pararam para pensar no que fariam, questionaram e experimentaram, pois foi nestes momentos que houve criação. As ideias e propostas dos alunos foram muito valorizadas e sempre consideradas na avaliação. Não ocorreu um “deixar fazer” sem objetivos e critérios e sim a liberdade de escolha e expressão. Essa liberdade permitiu que os educandos mostrassem em seus trabalhos sua personalidade e suas preferências, muitas vezes demonstrando também a interferência que sofrem da cultura visual que os rodeia e mesmo assim expressando ainda muito de suas particularidades. Contudo, esta liberdade ou falta de limitações em algumas atividades facilitou o surgimento de alguns estereótipos que não foram corrigidos a tempo em virtude do grande número 149
de alunos da turma, mas que serviram para abrir um espaço em que comentei tal atitude. A liberdade de expressão foi ao mesmo tempo positiva e negativa, pois abriu espaço para que os alunos pudessem escolher de que forma chegariam aos resultados propostos, mas ao mesmo tempo foi caminho fácil para soluções simples por parte de alguns alunos. Nota-se que houve amadurecimento tanto por parte dos alunos quanto por minha parte. Ao final do projeto, os alunos apresentaram-se mais seguros em relação a seus trabalhos e expressaram de forma mais clara suas ideias. Os educandos foram mais persistentes e menos incrédulos com suas ideias e acreditaram mais no seu potencial. Com isso, ousaram mais e curtiram mais as últimas atividades. Acredito que, pelo tempo que passamos juntos, os alunos adaptaram-se melhor às metodologias das aulas, pois tiveram mais tempo para isso, e eu percebia a tempo coisas que eu podia adaptar ou melhorar no que diz respeito às metodologias e propostas. Isso contribuiu para o bom desenvolvimento do projeto. Os resultados do projeto me fazem acreditar mais no meu potencial e na minha capacidade como docente. Acredito que estou muito mais preparada para enfrentar os desafios da docência e os imprevistos que ocorrem. Assim como eu soube adaptar a metodologia inicialmente proposta ao material que eu tinha disponível, caso do 4º encontro, em que mudei a metodologia de leitura de imagem por causa do tamanho da reprodução da obra que eu tinha, acredito que saberei lidar com outros imprevistos que podem surgir durante as aulas. O estágio serviu para mim como uma experimentação daquilo que eu me propus como estudante de Licenciatura em Artes Visuais no Estágio 1. Através dessa experiência, vivendo a prática do ensino de arte, constatando acertos e reconhecendo erros, amadureci como pessoa, estudante e professora.
A turma como fator contribuinte para os bons resultados Por meio de todo o processo da prática de ensino percebo que o perfil da turma interferiu positivamente nos resultados alcançados. O comportamento dos educandos e algumas de suas atitudes contribuíram de maneira significativa para o bom desenvolvimento de cada aula e do projeto como um todo. Os alunos do Ensino Médio eram muito espontâneos e faziam cada atividade com interesse e dedicação. Houve certo estranhamento em relação à 150
metodologia utilizada em algumas atividades, casos em que os alunos pediam permissão para executar suas ideias. Penso que talvez esta seja uma característica das aulas do projeto elaborado com a qual os alunos não estavam acostumados, uma vez que a professora titular limitava as atividades propostas, estabelecendo critérios para a execução das atividades. Como no projeto desenvolvido um dos objetivos era de que os alunos expressassem sua arte e sua essência, a falta de regras específicas para a realização de alguns trabalhos, como o autorretrato, livro de imagens e releitura da obra “As duas Fridas” causou indecisão e dúvidas por parte de alguns alunos que vinham perguntar-me se poderiam fazer seus trabalhos da forma como tinham imaginado. Em todas as aulas, procurei considerar que não cabe a mim dizer se os alunos poderiam ou não realizar suas vontades e sim orientá-los para que amadurecessem suas ideias iniciais, aperfeiçoando seus trabalhos e melhorando o resultado final. Por outro lado, posso dizer que os alunos ousaram na utilização de alguns materiais e foram sempre muito curiosos, o que resultou em bons trabalhos. Através da visualização, no 1º encontro, de obras de diversos períodos da História da Arte, feitas com materiais diversos e mostrando diferentes técnicas, e do manuseio de exemplos do que fariam em cada aula, caso do livro de imagens (7º encontro), os alunos tiveram material suficiente para uma boa base em cada atividade. A turma foi muito participativa e interessou-se pelos temas abordados, mostrando-se também conhecedora de um dos grandes temas do projeto: a cultura local. Isso se pode perceber através dos textos sobre cultura produzidos em aula, em que os educandos demonstraram interesse e relação com cada assunto trabalhado, reflexo das muitas conversas e produtivos debates realizados durante as aulas. Os alunos da turma possuíam um entrosamento muito grande e interagiram uns com os outros. Desta forma, não foi difícil me inserir dentro do ambiente de sala de aula com a turma e fazer parte de seu cotidiano deles. Fui muito bem recebida pela turma, inclusive pelos alunos que ainda não me conheciam, e fui saudada com sorrisos e palavras de “Boa Tarde professora” todas as vezes em que entrei na sala. Muito interessados e participativos, os alunos traziam os materiais solicitados e foram bastante pontuais na entrega de cada atividade.
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Através de desafios propostos, como no caso do livro de imagens, os alunos depararam-se com problemas que foram facilmente solucionados e contribuíram para seu amadurecimento, acrescentando qualidade aos seus livros. No caso do 9º encontro, observei um grande entrosamento entre os alunos ao visualizarem o resultado das três semanas em que permaneceram trabalhando nos livros de imagem. Percebi que os alunos sentiram-se satisfeitos e admiravam-se com os trabalhos de alguns colegas, o que para mim foi muito satisfatório. Desta forma, posso dizer que de fato o perfil da turma, suas características e as individualidades de cada educando foram muito importantes no desenvolvimento do projeto e fatores relevantes na construção dos resultados obtidos, uma vez que a turma foi muito receptiva, participativa e dedicada em todas as atividades.
Muitos alunos, pouco tempo Talvez seja errado dizer que o número de alunos tenha interferido no atendimento que eu gostaria de ter dado à cada um mas não consegui. A questão é que o tempo de cada aula, de apenas 45 minutos, era curto para atender a todos os chamados dos alunos. Então, por algumas vezes, senti a necessidade de um tempo maior de aula em cada semana, para poder orientar melhor cada educando da forma como todos mereciam. A turma tinha trinta e quatro alunos e, em virtude disso, ocorreram alguns imprevistos, como utilização incorreta de materias disponibilizados por mim e presença de estereótipos em alguns trabalhos. O fato da experimentação dos materiais “ao modo dos alunos” particularmente no caso dos giz pastel seco não me preocupou tanto, mas reconheço que foi uma falha minha não ter orientado todos os alunos em relação à utilização deste material no momento em que apresentei as cores disponíveis ao grupo. Talvez o que eu esperava inicialmente dos alunos é que eles utilizassem o material da forma convencional, limitando o modo de uso. No entanto, o que ocorreu após esta “falha” minha foi a expressão de cada aluno. A experimentação foi positiva e os resultados expressavam aquilo que cada aluno optou para seu trabalho. O que mais me deixou sentida foi a presença de estereótipos em alguns trabalhos, o que não teria acontecido se eu tivesse alertado os alunos em relação a esta atitude através de uma breve conversa sobre o assunto.
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Tais características estiveram presentes em alguns trabalhos simplesmente pelo fato de eu não ter acompanhado alguns alunos durante a execução das atividades. O fato de a turma ter apenas um período semanal de Arte também interferiu no resultado de algumas atividades. Este foi o caso dos livros de imagem. Acredito que a tarefa tenha se estendido demais, o que fez com que os alunos acabassem entediados e enjoados com a mesma atividade sendo desenvolvida durante longo tempo, que durou quase um mês. Contudo, pude notar a satisfação dos alunos ao final das três semanas, quando perceberam os resultados alcançados por eles mesmos e pelos colegas. Apesar disso, os fatores citados neste item são elementos que precisam ser encarados por todos os professores, pois é muito difícil modificá-los. É necessário bom jogo de cintura para atender a todos os alunos que solicitam ajuda do professor, e é preciso que o docente saiba avaliar as reais necessidades destes atendimentos individuais, para que atenda quando realmente se fizer necessário, sem prejudicar ninguém. O curto tempo de um período é outro fator que não é possível modificar, mas é possível e necessário adaptar atividades e metodologias ao tempo disponível, pois somente desta forma haverá bom aproveitamento do tempo de aula de cada período. Considero ainda que os alunos da escola onde realizei o estágio tem sorte, se pensarmos que em muitas outras escolas da região os alunos do Ensino Médio só tem aula de Arte no 1º ano, enquanto no Colégio Estadual Monte Alverne eles desfrutam de aulas da disciplina durante três anos.
O fechamento do projeto Ao final de todo processo parece se fazer necessário uma conclusão, um fechamento de tudo que foi realizado, como forma de finalizar de fato tal vivência. Reconheço que o final deste projeto com o Ensino Médio ficou em aberto, como se faltasse algo para encerrar as atividades. Sinto que deveria ter realizado uma avaliação final de todo o processo, tanto através de uma atividade prática que englobasse os assuntos abordados quanto de um fechamento com a turma, em que se pudesse discutir e conversar sobre aspectos positivos e negativos do projeto e do tema abordado. Faltou um momento de avaliação em que se pudesse concluir sobre o meu desempenho e dos alunos, para todos termos claro o que realizamos e construímos durante o tempo em que trabalhamos juntos. Talvez uma avaliação dos alunos em relação ao estágio 153
também tivesse sido interessante, para eu ter maior noção do recebimento do projeto por parte de cada educando. Os alunos poderiam ter tido também um retorno ao final de cada atividade, talvez no momento de devolução dos trabalhos. Sinto que deveria ter realizado comentários ao final de cada trabalho, como forma de fechamento e conclusão daquilo que foi realizado e como avaliação do processo vivido. Isso seria interessante de se fazer, por exemplo, com os livros de imagens, que tiveram temas variados e apresentaram técnicas diversas em suas páginas. No dia em que todos os alunos entregaram os livros, deveriam também ter apresentado o trabalho para os colegas, falando sobre a proposta do tema escolhido, assim como aconteceu na produção dos fanzines, realizada no Ensino Fundamental. A apresentação dos trabalhos realizados também serviria como revisão e poderia ser feita ao final de cada etapa do projeto. Talvez porque eu tenha ficado muito atrelada ao tempo para a realização de cada atividade, estes momentos de avaliação e apresentação dos trabalhos não tenham sido oportunizados, mas deveriam, pois são momentos de retorno para os alunos e para o professor, em que todos podem tomar maior consciência do processo vivido e construir conhecimento por meio da análise daquilo que foi produzido. De qualquer forma, na última aula, conversamos sobre o projeto e citamos algumas questões abordadas, o que pode ser considerado como um fechamento. Também realizamos na última aula um trabalho baseado nas fotografias de Antelmo Stoelbenn que retratam a identidade cultural de Santa Cruz do Sul e, assim, os alunos pensaram neste aspecto, e consequentemente sobre outros assuntos abordados durante o projeto, o que não deixa de ser uma forma de concluir o processo que vinha acontecendo até então.
O que emocionou O termo estágio carrega consigo diversos sentimentos, ânsias, tensões, apreensões e expectativas. Estes sentimentos, durante a prática, dão lugar a outros, por vezes até mais agradáveis, de satisfação, realização e até emoção. Assim como ocorrem também momentos de tensão, preocupação e imprevistos, acontecimentos que o professor deve estar preparado para enfrentar. Dentre os diversos acontecimentos e sentimentos que permearam a prática, um dos fatos mais marcantes e emocionantes do estágio com o Ensino Médio se deu no 4º encontro, 154
no momento de entrega das releituras da obra “As duas Fridas” da artista Frida Kahlo. A proposta era de que os alunos criassem seu trabalho intitulado “Os(as) dois(duas) (nome do aluno)”. Para isso, deveriam pensar sobre suas vivências, sua individualidade e diferentes momentos marcantes em suas vidas, bem como refletir sobre a cultura local, uma vez que Frida também representava este aspecto em suas obras. A surpresa aconteceu quando a aluna Jaqueline Agnes entregou um trabalho em que representou duas meninas sentadas e segurando juntas um coração em que se podia ler as palavras “Esperança Sempre”. As meninas representadas no trabalho de Jaqueline eram a própria aluna, e uma das figuras usava um colete muito semelhante ao que a artista Frida Kahlo representou em outra de suas obras, intitulada “A coluna quebrada”, e que fez parte dos dramas vividos pela artista. Inicialmente meu pensamento foi de que a aluna se baseou nesta outra obra, que havia sido mostrada juntamente com outros autorretratos da artista no primeiro encontro, e no que eu havia conversado com os alunos sobre a vida e a obra de Frida Kahlo para fazer seu trabalho e, por isso, segui recolhendo os trabalhos. Quando retornei à mesa do professor para guardar os trabalhos recolhidos, Jaqueline veio até mim para explicar seu trabalho, procurando-o em meio à pilha de folhas. A menina então me explicou que havia se identificado muito com a história da artista e passou por caso semelhante quando, pouco tempo atrás, usou um colete para correção de problemas na coluna durante um longo período. O fato da aluna vir até mim para explicar seu trabalho me faz hoje refletir sobre o que aquilo poderia ter me mostrado naquele momento que eu não percebi. Os alunos ansiavam por apresentarem seus trabalhos para os colegas e eu não lhes ofereci esta oportunidade. Este
acontecimento
marcou
minha
experiência
de
estágio,
me
emocionando. Através dessa ocasião, percebi que de fato a arte engloba muito da vivência humana, por meio dela é que podemos expressar o que por palavras talvez seja difícil dizer. Naquele momento em que a menina me explicou seu trabalho, senti a realização de um dos objetivos do projeto, o de expressar as particularidades da vivência de cada educando. Hoje, refletindo sobre o acontecimento, percebo que desperdicei uma oportunidade para incentivar que cada aluno falasse aos colegas sobre seu trabalho, explicitando suas vivências da mesma forma que a aluna fez quando me explicou seu trabalho. Por meio desta atividade, os alunos demonstraram muito de si mesmos, com desenhos, técnicas, símbolos, traços e 155
cores e isso deveria ter sido apresentado ao grande grupo. Ainda assim, através desta atividade, senti que o projeto tomava a forma desejada e cumpria com o tema escolhido para ser abordado no projeto, que é a arte relacionada à identidade e a cultura local.
Mudando meus conceitos O desenvolvimento do projeto gerou uma oportunidade para que eu revisse alguns conceitos importantes dentro das artes que eu não tinha claros para mim inclusive durante a realização das aulas. Somente depois do processo vivido, percebo que as aulas de Arte são carregadas de conceitos e termos utilizados erroneamente pela maioria de professores e educandos quando é feita uma proposta ou quando a mesma é avaliada. Hoje, tenho mais claro alguns desses conceitos, percebo o que de fato eles representam e tenho consciência de que eles necessitam ser mais aprofundados, não teoricamente, mas na prática. Durante a realização do estágio e nas análises das aulas aplicadas, utilizei termos que hoje sinto que necessitam ser aprofundados. Percebo que a palavra “criatividade” é muito mais complexa do que as 12 letras que a compõem. Hoje sei que estou me equivocando quando digo que um trabalho é criativo e que devo, quando quiser me referir à elaboração e finalização de um trabalho artístico, considerar, conforme ARSLAN e IAVELBERG (2006, p.100) “as interpretações e as relações que cada pessoa construiu sobre determinados assuntos”, além de considerar outras características do trabalho. Usar a criatividade pode ser sinônimo da utilização de um material diferente, pode ser resultado de experimentações ou da dedicação aplicada ao trabalho, pode significar variação de formato e tamanho de um suporte, diferentes formas de representar a mesma coisa, o amadurecimento de uma ideia inicial ou a solução de um problema ou imprevisto ocorridos durante uma prática. Desta forma, acredito que não se deve avaliar a criatividade na elaboração de um trabalho e sim, deve-se ser mais específico e considerar o que de fato deveria ser alcançado na realização de determinada atividade. Quando eu achava que os alunos estavam soltando sua criatividade, caso do 7º encontro, na verdade eles estavam se libertando de regras pré-estabelecidas que permeiam as aulas de Arte. A criatividade, por muitas vezes, surgiu após o estranhamento dos alunos com algumas propostas e com a fuga a certas regras, técnicas e metodologias tradicionais nas aulas da disciplina. 156
Após o estágio é que se pode perceber o quanto utilizamos alguns termos erroneamente, quando propomos alguma atividade aos alunos, quando exigimos algo deles e mesmo quando avaliamos seus trabalhos. Por exemplo, quando um item a ser avaliado é o “capricho”, outro termo do qual me desfiz nas primeiras aulas, procurando outros elementos que pudessem abranger o que eu desejava expressar com a palavra. Concluo que é necessário que eu reflita mais sobre alguns desses termos, aprofundando seus sentidos, não apenas teoricamente, mas para que de fato eu perceba o que eles significam na prática em sala de aula.
A formação da minha identidade A formação docente é uma experiência em que é necessário compreender e analisar a própria experiência como professor sabendo reconhecer aspectos positivos e negativos do exercício do ensino da arte. A conclusão dos Estágios 2 e 3 me levou a questionamentos tais como: O que aprendi na escola Como me senti O que aprendi com os alunos e o que eles aprenderam comigo E o que aprendi de mim mesma A resposta destes questionamentos me faz concluir que a experiência docente foi fundamental na minha formação e contribuiu para formar quem eu sou hoje. A revisão e reflexão da minha vivência como estudante na escola e na universidade reflete na formação da minha identidade como docente, porque educação, experiência e vida estão muito relacionadas. O estudo da educação é o estudo da vida – por exemplo, das epifanias, rituais, rotinas, metáforas e ações cotidianas. Aprendemos sobre educação quando aprendemos sobre a vida, e aprendemos sobre a vida quando pensamos sobre a educação. Esta atenção à experiência e ao pensamento na educação como experiência é parte do que os educadores fazem na escola (CLANDININ; CLONALLY, 2000, apud OLIVEIRA; HERNÁNDEZ, p. 37).
A experiência de estágio, desde o planejamento e observação das turmas, inserção dentro do ambiente escolar, escolha e pesquisa do tema, planejamento das aulas e aplicação dos projetos desenvolvidos nas turmas de Ensino Fundamental e Médio fizeram com que eu amadurecesse muito como pessoa, como estudante e como docente. Exigindo de mim muito esforço, pesquisa e dedicação, o estágio mudou a percepção que tenho de mim mesma e contribuiu na formação da minha identidade como docente. Todo o processo vivido me faz encarar de outra forma a docência, com mais determinação e coragem. A preparação para o estágio fez de 157
mim uma estudante mais dedicada em busca do melhor a oferecer. A prática me fez apaixonar-me ainda mais pelo ensino da Arte e por tudo que se relacione à arte. O tema de pesquisa, neste ponto de vista, foi muito além dos objetivos inicialmente propostos. O projeto não desenvolveu apenas a individualidade de cada educando, interferiu na minha vida e na vida das pessoas com quem tive contato, tanto alunos quanto professores da escola onde realizei o estágio. Trabalhando identidade e cultura local no projeto, acabei por trabalhar com a minha identidade, exercendo minhas escolhas e colocando em prática aquilo que me proponho como ser humano, como docente e como eterna aprendiz. Hoje, percebo claramente o quanto sou feliz em tudo que faço e o quanto a arte faz parte de mim. Acredito que contribuí com a escola e com cada aluno, assim como a escola e os alunos são parte da minha identidade, parte do que eu sou e do que ainda serei.
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APÊNDICES 163
APÊNDICE 1: Avaliação de aluno estagiário realizada pela professora Márcia Dreissig
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APÊNDICE 2: Questionário respondido pela diretora da escola, professora Sílvia Betris Bender Wermuth
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APร NDICE 3: Questionรกrio respondido pela professora Mรกrcia Dreissig
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APÊNDICE 4: Questionários respondidos pelos alunos do 3º ano do Colégio Estadual Monte Alverne Questionário 1
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Questionรกrio 2
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Questionรกrio 3
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Questionรกrio 4
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Questionรกrio 5
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