UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Magda Sinara Bertoni Birck
AS MUITAS MÁSCARAS QUE USAMOS
Canoas, dezembro de 2011.
Magda Sinara Bertoni Birck
As Muitas Máscaras que Usamos
Trabalho de Curso apresentado como prérequisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciada em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Dr. Celso Vitelli, Me. José Antônio Schenini Giuliano e Ma. Ana Lúcia Beck.
Canoas, novembro de 2011.
Dedico este Trabalho de Curso à minha família, que durante todo o tempo de curso esteve ao meu lado me incentivando e me apoiando e, principalmente, compreendendo minha ausência. Em especial, dedico este Trabalho à minha irmã Márcia que assumiu uma postura de irmã, amiga e mestra.
Agradeço a Deus por iluminar minha jornada e me ajudar a vencer os obstáculos. À minha mãe Aristotelina pelo carinho e incentivo nessa fase do meu curso de graduação e durante toda minha vida, cuidando de mim e de minha filha. À minha irmã Márcia e meu cunhado Jackson pelo apoio, confiança e amor e ao meu sobrinho Artur pelas palavras doces e reconfortantes. Ao meu marido Paulo e minha filha Paola pelo amor, dedicação, compreensão e pela presença constante durante toda essa fase sempre me cuidando e ajudando. Aos meus amigos de forma especial, à minha amiga Andrea Perottoni Drechsler Sander que sempre me incentivou e esteve disposta a ajudar colaborando com diversas tarefas. Aos meus professores Celso e Ana pelas orientações e conselhos, ao Nico pela amizade e o gosto pela escultura, a Renato e Jurema por todo conhecimento transmitido.
Educar é desenvolver a essência do ser, descobrir a sabedoria interior, cultivar o coração. Educar é muito mais do que traçar planos, estabelecer modelos, planejar provas. Educar é ter fé em poder mudar, é doar-se e também ensinar lições de otimismo, fé, esperança, amor e paz. Educar é acima de tudo oferecer em aula, a possibilidade de evolução da qualidade humana. “A verdadeira educação vem do coração”. PAULO FREIRE
RESUMO O presente Trabalho de Curso “As Muitas Máscaras que Usamos” trata da trajetória do meu Estágio Curricular em Artes Visuais. O Estágio ocorreu na Escola Estadual de Ensino Médio Boaventura Ramos Pacheco e a turma foi o terceiro ano do Ensino Médio/EJA. Deparei-me com uma turma numerosa, composta em sua maioria por adultos com opiniões formadas na qual dificilmente seria possível apresentar uma proposta sem que passasse pela avaliação crítica desses alunos. Em contrapartida mostravam-se inseguros em relação a suas próprias posturas diante de situações do seu cotidiano. Com essa situação nova e desafiadora nem todos os objetivos iniciais do Projeto (atrair os interesses de toda turma e despertar nesses alunos uma nova visão da Arte concomitante a uma nova postura individual e coletiva perante as aulas) foram atingidos, mas certamente houve um crescimento mútuo. O tema Máscaras se refere à utilização de máscaras ao longo da história e das máscaras sociais. Autores como Fayga Ostrower, Maria Felisminda de Rezende Fusari, Maria Heloísa Corrêa de Toledo Ferraz, Ana M. Bahia Bock, Odair Furtado e Maria de Lourdes Teixeira, entre outros, sustentam o tema de pesquisa. A partir da pesquisa sobre o tema Máscaras, foi elaborado um Projeto Educativo de Ensino que teve como justificativa estimular nos alunos a necessidade de adotarem uma postura articulada no tempo e no espaço, tomando consciência do ser incompleto que se é e da importância da busca permanente de conhecimento e vivências que possam ampliar os conhecimentos já adquiridos e promover um amadurecimento e verdadeiro crescimento do ser. As metodologias aplicadas foram à confecção de uma máscara de atadura gessada moldada no próprio rosto do aluno, a análise de imagens e atividades que proporcionaram aos alunos o entendimento do significado das máscaras históricas e sociais e a apresentação do filme Máscara da Ilusão do diretor Dave McKean. O Projeto Educativo de Ensino tinha como objetivos ampliar o conhecimento dos alunos referente à história das máscaras, levantando dados dos aspectos teórico-prático e estudando a obra de artistas surrealistas como Salvador Dalí e Marc Chagall; desenvolver no aluno a criatividade, a experimentação de materiais e técnicas, a observação e a concentração, a responsabilidade, o trabalho em equipe e a confiança; proporcionar a cada aula uma breve reflexão sobre as máscaras sociais no cotidiano de cada um; oportunizar aos alunos a realização de um produto artístico contemplando máscara, vestimenta e performance a ser apresentada aos demais alunos e professores da Escola no turno da noite. A abordagem do tema Máscaras proporcionou na verdade um desmascaramento de três questões: a Prática de Ensino como um todo, o que aconteceu comigo durante esse processo, incluindo as reflexões que surgiram após a Prática e as considerações sobre a realidade do Ensino no Brasil/EJA. Palavras-chave: Máscara. Arte. Educação.
SUMÁRIO SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 Reconhecimento do Espaço de Ensino...................................................... 15 1.1. Dados gerais da Escola Observada ...................................................................... 16 1.2. Observações Silenciosas ...................................................................................... 18 1.3. Análise das Observações Silenciosas .................................................................. 21 1.4. Análise do Questionário Respondido pela Professora ......................................... 22 1.5. Análise dos Questionários Respondidos pelos Alunos........................................ 24 CAPÍTULO 2 Pesquisa sobre Tema nas Artes Visuais .................................................... 25 2.1. As Muitas Máscaras que Usamos ........................................................................ 26 2.2. Máscaras Pré-históricas ....................................................................................... 27 2.3. Máscaras Africanas.............................................................................................. 28 2.4. Máscaras Egípcias ............................................................................................... 30 2.5. Máscaras Indígenas.............................................................................................. 31 2.6. Máscaras Esquimós ............................................................................................. 33 2.7. Máscaras Gregas .................................................................................................. 34 2.8. Máscaras Romanas .............................................................................................. 36 2.9. Máscaras Venezianas ........................................................................................... 38 2.10. Máscaras Renascentistas...................................................................................... 40 2.11. Máscaras Teatro Nô ............................................................................................. 41 2.12. Máscaras na Atualidade ....................................................................................... 43 CAPÍTULO 3 Projeto e Prática de Ensino em Artes Visuais ........................................... 45 3.1. A Arte na Educação como Representação Social ................................................ 46 3.2. Dados Gerais da Escola da Prática Educativa ..................................................... 48 3.3. Observação da Turma da Prática Educativa ........................................................ 50 3.4. Dados Gerais do Projeto de Ensino ..................................................................... 52 3.5. Prática de Ensino ................................................................................................. 54 3.5.1. Primeiro Encontro ....................................................................................54 3.5.2. Segundo Encontro ....................................................................................61 3.5.3. Terceiro Encontro ....................................................................................68 3.5.4. Quarto Encontro .......................................................................................72 3.5.5. Quinto Encontro .......................................................................................77 3.5.6. Sexto Encontro .........................................................................................82 3.5.7. Sétimo Encontro ......................................................................................89 3.5.8. Oitavo Encontro .......................................................................................97 3.5.9. Nono Encontro .......................................................................................105 3.5.10. Décimo Encontro ...................................................................................116 3.5.11. Décimo Primeiro Encontro ....................................................................122
3.5.12. Décimo Segundo Encontro ....................................................................130 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 143 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 157 APÊNDICE 1 ....................................................................................................................... 161 APÊNDICE 2 ....................................................................................................................... 163 APÊNDICE 3 ....................................................................................................................... 166 APÊNDICE 4 ....................................................................................................................... 169 ANEXO ................................................................................................................................ 175
INTRODUÇÃO
E
ste Trabalho de Curso é um relato das atividades e reflexões realizadas durante os estágios I, II, III e IV do Curso de Licenciatura em Artes Visuais. Surgiu a partir da elaboração do Projeto da Prática de Ensino
“As muitas Máscaras que usamos”, para vivenciar práticas nas modalidades de observação, planejamento e docência em turmas de Ensino Fundamental e Médio. Em 2005 realizei minha matrícula na disciplina de Estágio I, não tendo recebido naquela ocasião a orientação de que as disciplinas de estágio deveriam ser cursadas numa ordem sequencial, inclusive e após ter concluído determinadas disciplinas preparatórias. No decorrer do curso, procurei ter o cuidado de selecionar as disciplinas de acordo com a ordem sugerida pela matriz curricular. Contudo, observei ao longo da disciplina de Estágio I que não obteria um bom aproveitamento das demais disciplinas de Estágio em virtude da carência de meu embasamento teórico. Para o sucesso de um Estágio, considero fundamental o envolvimento numa proposta de ação na qual, através das observações, planejamento, avaliação e execução de situações práticas de sala de aula seja demonstrada a assimilação dos conhecimentos adquiridos durante o Curso de Artes Visuais. Com isso, cheguei à conclusão de que a opção mais adequada e produtiva seria cursar o maior número possível de disciplinas antes de efetuar a matrícula na disciplina de Estágio II, o que justifica as razões pelas quais meu trabalho está sendo apresentado diferente dos padrões atuais. Hoje, com maior experiência e embasamento teórico, percebo o quanto foi imaturo o planejamento realizado ao longo da disciplina de Estágio I (o planejado seria trabalhar com os alunos do Ensino Fundamental a Arte da caricatura na observação participativa e a História da Arte e um passeio ao Cubismo, passando pelo Surrealismo até a Arte Moderna no Projeto Educativo no Ensino Médio, a Escrita Hieróglifica na observação participativa e História da Arte - da Préhistória à Grécia Antiga no Projeto Educativo). Na disciplina de Estágio I, minha intenção era realizar a prática do Ensino Fundamental na Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Salgado Filho, em Gramado. A primeira visita a essa Escola ocorreu em 04/03/2005, com o objetivo de verificar a possibilidade da realização da prática docente em suas dependências. Contudo, com o passar dos anos, ficou claro que a realização dessa prática seria mais acessível e produtiva na escola 9
em que leciono há 15 anos (Escola Estadual de Ensino Médio Boaventura Ramos Pacheco); considerando o amplo conhecimento adquirido sobre a realidade daquela comunidade escolar. Assim sendo, em 2010/2, cinco anos após as observações realizadas no Estágio I, ingressei na disciplina de Estágio II. Para minha surpresa, os padrões e exigências da disciplina haviam sido totalmente alterados. Fez-se necessário realizar um novo trabalho de pesquisa e, conforme a orientação do Professor Celso Vitelli, a prática docente deveria ser realizada em uma turma na qual eu era professora titular. Esse procedimento foi utilizado com a intenção de ganhar tempo uma vez que todo o material produzido na disciplina de Estágio I (realizado cinco anos antes) deveria ser descartado e um novo planejamento deveria ser elaborado. Considerando os registros existentes ao longo da história, conforme pesquisa realizada no início da disciplina de Estágio II e também com base na experiência adquirida ao longo de minha trajetória como educadora, optei por abordar com os alunos o tema Máscaras movida principalmente pelo sentimento de fascinação que as máscaras exercem sobre mim. A partir dessa pesquisa foi elaborado um Projeto Educativo de Ensino que teve como justificativa estimular nos alunos a necessidade de adotarem uma postura articulada no tempo e no espaço, tomando consciência do ser incompleto que se é e da importância da busca permanente de conhecimento e vivências que possam ampliar os conhecimentos já adquiridos e promover um amadurecimento e verdadeiro crescimento do ser. Outro fator desencadeante na escolha desse tema foi a definição de máscara que está baseada na distinção de dois pólos, um positivo e outro negativo. Segundo Alcantara (2010), o primeiro aponta para a máscara teatral, adotada por contadores de histórias com o objetivo de dar mais vida às suas narrativas e rituais; geralmente permitindo acessar universos regidos pela imaginação ou dimensões espirituais invisíveis como muitos eventos próprios da Natureza, representando espíritos, deuses, antepassados, seres sobrenaturais e animais. O segundo tem por finalidade específica ocultar o rosto de seu usuário, impedindo seu reconhecimento. A utilização de uma máscara possibilita “transformar-nos” em outra pessoa, podendo assim adquirir uma personalidade mais forte e misteriosa, permitindo muitas vezes enfrentarmos mais facilmente uma nova realidade. Não raramente, utilizamos máscaras invisíveis, automatizadas e quase imperceptíveis, que nos auxiliam a enfrentar as mais diversas situações e a nos adequarmos aos diversos meios e cenários em que atuamos diariamente. Podemos afirmar que nessa distinção reside a dupla função da máscara, como incógnito e como segundo rosto. Podemos observar que existe aí uma relação de ambigüidade 10
da máscara com a identidade de seu portador, a qual se encontra ora apagada e anulada, e ora restabelecida (metáfora) dentro de um contexto sistematizado por valores invertidos (como o carnaval, por exemplo) ou dentro de um contexto que implica um jogo de convenções entre duas partes. O Projeto Educativo de Ensino tinha como objetivos ampliar o conhecimento dos alunos referente à história das máscaras, levantando dados dos aspectos teórico-prático e estudando a obra de artistas surrealistas como Salvador Dalí e Marc Chagall; desenvolver no aluno a criatividade, a experimentação de materiais e técnicas, a observação e a concentração, a responsabilidade, o trabalho em equipe e a confiança; proporcionar a cada aula uma breve reflexão sobre as máscaras sociais no cotidiano de cada um; oportunizar aos alunos a realização de um produto artístico contemplando máscara, vestimenta e performance a ser apresentada aos demais alunos e professores da Escola no turno da noite. As metodologias aplicadas foram a confecção de uma máscara de atadura gessada moldada no próprio rosto do aluno, a análise de imagens e atividades que visam proporcionar aos alunos o entendimento do significado das máscaras históricas e sociais e a apresentação do filme “Máscara da Ilusão”, do diretor Dave McKean. Entre os vários autores abordados na pesquisa apresento Fayga Ostrower em “Universos da Arte” que foi uma obra fundamental na realização da leitura e avaliação dos trabalhos realizados pelos alunos por ser uma importante contribuição no exercício de compreensão da arte. Maria Felisminda de Rezende Fusari e Maria Heloísa Corrêa de Toledo Ferraz na obra “Arte na educação escolar” contribuíram com a introdução do Tema em sala de aula por terem como abordagem o ensino e a aprendizagem de arte com foco na educação estética e artística (aspectos importantes dentro da temática Máscara, assim como nas produções individuais dos alunos). Ana M. Bahia Bock, Odair Furtado e Maria de Lourdes Teixeira em “Uma introdução ao estudo de psicologia”, oportunizaram uma introdução ao estudo da Psicologia, que é apresentada em seus vários aspectos (história, abordagens teóricas, temas básicos, áreas de conhecimento, entre outros). A disciplina de Estágio II foi uma batalha entre o tempo e a prática, pois além da pesquisa e elaboração do Projeto de Ensino ocorriam paralelamente na Escola as comemorações referentes ao cinquentenário da Escola Estadual de Ensino Médio Boaventura Ramos Pacheco, tendo sua culminância em uma Mostra de Arte intitulada “Impressões”. Essa mostra organizada por mim em parceria com as professoras das disciplinas de História, Ciências e Língua Portuguesa, tinha como objetivo proporcionar aos visitantes um passeio aos 11
cinco períodos da história, desde a Pré História até a Contemporaneidade, em suas diversas formas de expressão. Para finalizar as atividades foi organizada uma noite de encerramento, na qual seriam apresentadas à comunidade escolar diversas performances dentre elas danças, teatro e um desfile; contando com a participação de alunos da Escola e de outras instituições como, por exemplo, um grupo de danças típicas do Uruguai, que abrilhantou ainda mais a noite. Uma dessas performances pode ser considerada a culminância da minha Prática de Ensino, onde os alunos da sétima série do Ensino Fundamental realizaram um desfile de máscaras para toda a comunidade escolar. Na prática de ensino referente à disciplina de Estágio III tudo indicava que a execução das tarefas pertinentes a essa disciplina seria mais tranquila, uma vez que a pesquisa já havia sido realizada e a proposta estava claramente definida. Optei então por realizá-la com uma turma da EJA (Educação de Jovens e Adultos) na mesma escola onde trabalho (Escola Estadual de Ensino Médio Boaventura Ramos Pacheco), no turno da noite. A turma tinha como titular da disciplina de Artes a professora Lisiane Silveira, que prontamente me acolheu. Realizei uma aula de observação e o que parecia ser fácil revelou-se um grande desafio. Apesar da diversidade dos temas disponíveis na disciplina de Artes e da importância de cada um deles para o desenvolvimento do aluno como um ser crítico, sensível e conhecedor de sua história, a escolha do tema Máscaras manteve-se nessa prática. Essa escolha foi tranquila e segura e tornou-se possível abordar com os alunos as teorias sobre a confecção e simbologia das máscaras ao longo da história. Um fato que desperta o interesse e admiração é de que as máscaras podem ser mágicas e/ou protetoras (nestes casos utilizados por diversos povos ou tribos durante a realização de importantes rituais sagrados dentro de cada cultura) ou lúdicas (utilizadas principalmente em bailes e festas populares). Enfim, imaginária ou não, a máscara pode servir para ocultar a face podendo revelar a verdadeira essência do homem. Conforme Recinella (2008), seu uso pode ainda objetivar esconder uma personalidade cotidiana para assumir as qualidades da personagem que ora representa. Nas primeiras aulas da prática observou-se que não bastaria trabalhar apenas a história das máscaras e que seria necessário abordar um assunto mais amplo que são as máscaras sociais e tudo o que elas representam no nosso cotidiano. Considerando que a máscara possui uma finalidade transformadora, as máscaras sociais podem ser definidas como as atitudes assumidas nos diferentes espaços e situações da sociedade contemporânea. As relações de poder entre os “personagens” originam a sua máscara social. Esta máscara não precisa ser efetivamente um objeto físico para colocar no rosto, mas sim uma canção, uma 12
palavra, uma atitude, ou até mesmo um acessório cênico. Dentro desse contexto, e considerando a necessidade da grande massa em adequar-se ao meio em que vive, a utilização das máscaras sociais torna-se fundamental para muitos indivíduos na busca do reconhecimento e aceitação dentro do grupo social no qual estejam inseridos. O fato de vivermos num mundo no qual nos é reservado o direito de sermos nós mesmos apenas quando estamos absolutamente sozinhos e que a partir do momento em que somos desafiados a interagir com os demais, de uma forma consciente ou inconsciente vestimos uma máscara, seja ela ofensiva ou não, nos faz refletir sobre a real razão de existirmos e vivermos em sociedade e até que ponto somos conduzidos e influenciados pelo senso comum a desenvolver hábitos e atitudes. No Estágio IV optou-se então por aprofundar a reflexão sobre a prática de ensino com base no Ensino Médio, por ter sido essa uma experiência bastante desafiadora em virtude dos imprevistos e das emoções que permearam essa prática educativa, pois mesmo o planejamento não tendo ocorrido de acordo com o programado posso afirmar que todos nós nos superamos e a vivência obtida com essa turma trouxe grande contribuição para minha vida pessoal e profissional, deixando claro o quão fundamental é para um educador a empatia e a capacidade de flexibilizar suas propostas educativas, tendo a sensibilidade e o bom senso de não ignorar as dificuldades e limitações dos alunos para egoisticamente cumprir roteiro. Iniciou-se então uma nova etapa no processo, a qual num primeiro instante aparentava ser fácil e irrelevante segundo análise de tudo o que já havia vivenciado até então. Foi necessário um trabalho significativo e exaustivo para dar-me conta das questões que exigiam maior reflexão. Realizei inicialmente uma leitura de todos os textos correspondentes aos “realizados” na prática do Ensino Médio e durante essa leitura fiz uma nova análise aula por aula acrescentando ao longo dos relatos essas novas constatações. Ao apresentar para a orientadora de estágio essas novas análises, fez-se necessário uma reflexão mais explicita de cada aula e do projeto como um todo. Iniciou-se então um novo desafio, uma vez que já havia sido difícil fazer os realizados durante a prática do Estágio e reavaliá-los. Fazer uma segunda análise das reflexões parecia tarefa impossível. A resposta à minha dedicação e empenho foram mais que satisfatórias e por este ter sido um trabalho que superou as expectativas, indo além do esperado, é que se optou por não perder essas valiosas observações, as quais constam no corpo do trabalho sempre em forma de citação em bloco e entre colchetes. Mas o que parecia ser o ponto de partida para iniciar a conclusão perdeu esse enfoque e iniciou-se aí um novo movimento pelo qual agradeço a professora orientadora Ana Lúcia Beck que me 13
instigou e me levou ao limite do stress e da reflexão, na busca de novas respostas e análises. Graças a esse terceiro exercício, de confronto e comparação das análises anteriores me redescobri como educadora e indivíduo, e o fruto dessa atividade certamente foi um aprendizado duradouro e promissor. Após a análise dos realizados e após uma minuciosa reflexão dessas análises, elaborei uma tabela na qual criei quatro colunas: uma com o posicionamento pessoal, outra com o posicionamento dos alunos, uma terceira onde constavam os aspectos referentes ao desenvolvimento dos conteúdos, atividades e resultados e na última coluna outras questões pertinentes à prática de Estágio. A tabela foi construída a partir das minhas observações e foi fundamental para que eu conseguisse esclarecer quais pontos eram importantes na construção da conclusão. A tabela em questão consta como um apêndice diferenciado com relação ao formato do TC, que conforme orientação da professora orientadora, poderia ser uma fonte esclarecedora sobre a metodologia de análise empregada para o desenvolvimento reflexivo e crítico da conclusão do trabalho de curso. Feitos os esclarecimentos necessários, cabe salientar que o formato deste trabalho apresenta-se de forma diferenciada, não por decisão pessoal, mas porque os acontecimentos levaram a isso. Hoje percebo-me como uma educadora mais aprimorada e pronta para lecionar e proporcionar que meu aluno reflita e faça a diferença no meio em que vive. Através de certo sofrimento e de muita reflexão, foi possível amadurecer e perceber que, chegando ao final de todo esse processo a realidade acabou se revelando de forma muito diferente, principalmente no que se refere a mudança de visão em relação do papel do professor no processo de ensino-aprendizagem; sendo esse o mediador e não o único responsável pelo sucesso das aulas. Nas considerações finais deste Trabalho de Curso verifica-se que a abordagem do tema Máscaras proporcionou na verdade um desmascaramento de três questões: a Prática de Ensino como um todo, o que aconteceu comigo durante esse processo e as considerações sobre o Ensino no Brasil/EJA.
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CAPÍTULO 1 RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO 15
1.1. Dados gerais da Escola Observada
“O educador é aquele que não tem certezas, mas várias dúvidas. Não repete sistematicamente, cria, recria, inventa, arrisca sempre. Ser educador é arriscar, buscando novos métodos, novas relações, sempre almejando o construir, o saber pelo aluno no sentido de sua emancipação para a vida.” PAULO FREIRE
Na Escola Estadual de Ensino Médio Boaventura Ramos Pacheco a receptividade, o bom atendimento, a simpatia e a disponibilidade apresentada foram uma constante. Considerando que já leciono nessa Escola, a Diretora Sra. Cleudes Ana Monteiro Coelho autorizou prontamente a troca de turma com outra colega (04/04/2005) possibilitando a realização do estágio em uma turma onde não sou regente. Nessa ocasião foi entregue a carta de apresentação fornecida pela ULBRA - Universidade Luterana do Brasil. Após a definição de que as observações e a prática docente no Ensino Médio, seriam realizadas na Escola Estadual de Ensino Médio Boaventura Ramos Pacheco, organizou-se a seleção de turma e horários. No dia 04/04/2005, ocorreu a troca de turma com a professora Andréia Cristina dos Santos Colório na Escola de Ensino Médio. Considerando minha participação na elaboração do Plano Político-Pedagógico, solicitei uma cópia para releitura, assim como do Calendário Escolar. Mesmo já conhecendo a realidade da comunidade, a filosofia, a proposta e os objetivos da Escola, procurei adotar uma postura neutra e imparcial, detendo-me em aplicar basicamente os conhecimentos adquiridos no decorrer do curso de Artes Visuais. Na Escola a Orientadora Educacional afirma, conforme já previsto na LDB lei nº 9394/96 em seu artigo 64 sobre O.E., sobre a importância da existência de profissionais com sua formação em todas as escolas. Contudo, ainda não existe conscientização em ampliar o número desses profissionais, e nem em oferecer cursos e/ou troca de experiências. Acrescenta 16
ainda que são poucos os orientadores educacionais tanto na rede municipal quanto estadual. Esse fato foi possível confirmar na Escola de Ensino Fundamental, onde a orientação educacional é desenvolvida por uma profissional que desconhece a proposta dessa Lei. A concepção teórica que embasa a Prática Pedagógica da Escola é Dialética, e, segundo o Professor/Supervisor, ocorre uma relação entre a bagagem do aluno e as atividades em sala de aula. O planejamento, organizado pela equipe diretiva, é fundamental para um bom trabalho de ensino-aprendizagem. Nessa Escola, os professores possuem uma única metodologia, procurando realizar as atividades respeitando a individualidade de cada aluno, buscando sua integração à proposta do programa. Além das séries convencionais, a Escola também possui EJA (Ensino para Jovens e Adultos) no turno da noite. O sistema de avaliação ocorre através de observações, depoimentos e análises de resultados, tendo como instrumentos trabalhos, provas, projetos e participação em aula; sempre seguindo o regimento escolar.
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1.2. Observações Silenciosas
Observação Silenciosa ocorrida em 06/04/2005. A observação ocorreu nos dois últimos períodos, com duração de 50min cada um. Todos os alunos estavam presentes. A professora titular iniciou a aula cumprimentando os alunos com bom dia. Em seguida, apresentou, a já conhecida, professora como sendo a professora estagiária daquela turma. Relembrando os alunos que a troca de professores ocorrera para possibilitar com que a Professora Magda realizasse o estágio exigido pela ULBRA – Universidade Luterana do Brasil. A professora explicou os passos da aula: vídeo, formação de grupos, explicação do perfil egípcio e listagem de materiais para a próxima aula. Os objetivos do estudo também foram mencionados, lembrando os alunos que o estudo na disciplina de História era sobre o Egito e que as atividades em Artes seriam complementares, objetivando uma melhor aprendizagem. Todos os alunos foram convidados a deslocar-se para a sala de vídeo, onde iriam assistir a um documentário sobre o Egito. Durante a exibição do vídeo, a professora chamou várias vezes a atenção dos alunos para o perfil das imagens apresentadas na tela. Ao término do vídeo, já de volta à sala de aula, a professora titular solicitou aos alunos que formassem grupos de no máximo quatro pessoas. Sendo assim, surgiram cinco grupos de quatro alunos e um grupo de três alunos. Enquanto os grupos estavam sendo formados, a professora buscou na secretaria o retro-projetor. Com o equipamento já instalado apresentou aos alunos uma imagem egípcia – “A família real” – “Akhenaton e Nefertiti”, realizando com eles uma breve leitura da imagem, ressaltando a posição da cabeça, olhos, ombros, peito, tronco e pernas. Explicou que na próxima aula cada grupo deveria confeccionar uma imagem, nos moldes do perfil egípcio, em tamanho natural, utilizando um dos alunos como modelo. Com os alunos mais tranqüilos, a professora listou os materiais necessários para a realização
da
atividade,
entre
eles:
tecido
e/ou
retalhos,
colas
variadas
(quente/branca/colorida), tesoura e sucatas em geral. O papel pardo necessário para o trabalho, seria fornecido pela escola.
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Os últimos vinte minutos de aula ficaram livre para que os alunos pudessem combinar sobre os materiais. Nesse período, a professora mostrou alguns livros e revistas com imagens egípcias como complemento e inspiração ao trabalho. Na medida em que as imagens circulavam pela sala de aula, os alunos percebiam o perfil apresentado, e o quanto se diferenciava das imagens atuais. Observação Silenciosa realizada em 13/04/2005. A observação ocorreu nos dois últimos períodos, com duração de 50min cada um. Quatro alunos estavam ausentes. A professora titular iniciou a aula cumprimentando os alunos com bom dia, instalou o retro-projetor e apresentou novamente a imagem da família real egípcia. Em seguida, solicitou a formação dos grupos e conferiu os materiais apresentados pelos alunos. A maior parte dos grupos providenciou todos os itens listados na aula anterior. Os grupos com deficiência de material buscaram apoio, com os demais colegas. A professora apresentou uma nova lâmina, que consistia em duas figuras humanas, uma de frente e outra de perfil, ambas contornadas em preto. Com o auxílio de uma caneta vermelha, dividiu-se nas duas figuras a cabeça, o tronco e as pernas. Por fim, foi assinalado com um x na cabeça e pernas da imagem de perfil e outro x no tronco da imagem que estava de frente. Os alunos foram convidados a ficar de pé, procurando assumir a posição da imagem final. A tarefa não foi realizada com sucesso devido à dificuldade da maioria em deslocar totalmente o corpo para frente, ficando com as pernas em perfil. Assim, professora e alunos, concluíram que o perfil egípcio não representa-nos como realmente somos. A professora distribuiu, a cada grupo, dois metros de papel pardo e explicou o que deveria ser feito: colocar o papel no chão; escolher um aluno para deitar-se de costas sobre o papel, permitindo a um colega traçar o contorno do corpo com o auxílio de uma caneta; recortar a silhueta desenhada no papel e fixá-la na parede; colocar outro papel no chão. O mesmo aluno deveria deitar-se de lado deixando as pernas um pouco afastadas, permitindo a um colega traçar o contorno do perfil com o auxílio de uma caneta; recortar e fixar ao lado da silhueta anterior; olhar e comparar as duas figuras. Em seguida, fazer dois traços horizontais: um na altura da cintura e outro na altura do pescoço das duas figuras. Recortar, separando as três partes do corpo; unir a parte correspondente ao peito da silhueta em posição frontal às pernas da silhueta de perfil; e a cabeça do corpo de perfil ao tronco correspondente ao corpo 19
em posição frontal; colar as três partes, e a figura do colega com perfil egípcio estará concluída; utilizando os tecidos e/ou retalhos e as sucatas, confeccionar a vestimenta da figura construída, imitando as roupas de Akhenaton ou Nefertiti. Por já conhecer os alunos, durante a atividade solicitei que respondessem a primeira parte do questionário com vinte perguntas, podendo sanar as dúvidas que por ventura fossem surgindo. A segunda parte seria respondida no final da observação participativa. As meninas apresentaram mais habilidade no manuseio das sucatas, sempre preocupadas com o acabamento. Já os meninos, mais agitados, apresentaram dificuldade de concentração. Apesar das diferenças a aula foi tranqüila. A professora solicitou ao término da aula, que os perfis concluídos fossem entregues e, caso necessário, poderiam concluir a atividade em casa e entregar na próxima aula.
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1.3. Análise das Observações Silenciosas
As observações silenciosas no Ensino Médio ocorreram nos dias 06/04/2005 e 13/04/2005, no turno da manhã, na turma 13, correspondente ao 1º Ano do Ensino Médio. O trabalho da professora segue uma tendência contemporânea, tendo a sala de aula organizada conforme a preferência dos alunos e a necessidade da atividade (duplas grupos ou individual). Não ocorreu cópia de texto. Os alunos receberam uma foto-cópia do conteúdo a ser trabalhado. As atividades práticas são realizadas em folha A4, A3, isopor, papel pardo, enfim, de acordo com o exigido pela proposta, sempre sem margem. Alguns aspectos foram observados nas aulas dessa professora: * A professora explicou os objetivos do estudo; * O diálogo foi valorizado; * A turma era parcialmente tranqüila. A professora utilizou palavras de reforço positivo no convívio com seus alunos, lembrando sempre que todos possuem as mesmas capacidades. Era comum alunos comentando não saber que material utilizar, da dificuldade em desenhar determinada parte do corpo humano e até mesmo em trabalhar com certos materiais. A professora demonstrou preocupação em despertar a dúvida e estimular a criatividade dos alunos, importando-se com a qualidade da aprendizagem. No relacionamento professor x aluno, foi observado, com freqüência, senso de humor, atenção, valorização e interesse pelas dúvidas e questionamentos dos alunos. Isso também refletiu no relacionamento aluno x aluno, que era respeitoso e solidário. A Escola possui ampla biblioteca e inúmeros recursos audiovisuais. A professora utilizou vídeo, retro-projetor e livros. É oportuno citar, algumas características específicas da turma: a turma composta por 24 alunos, sendo 23 freqüentes, 13 do sexo masculino e 10 do feminino. Foram observadas somente as aulas da professora Sra. Andréia Cristina dos Santos Colório (Artes). Nas aulas observadas, a maior parte da turma manteve-se tranqüila e concentrada nas atividades propostas, apresentando um relaciona mento respeitoso e amigável com a professora e de coleguismo.
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1.4. Análise do Questionário Respondido pela Professora
Na Escola de Ensino Médio, a primeira conversa com a professora Sra. Andréia Cristina dos Santos Colório, da disciplina de Artes do EJA (turno: noite), foi agradável, pois ela demonstrou simpatia e satisfação com a realização da prática docente em suas aulas; não criando empecilho sobre a troca de turno e turma. Em seguida foram definidas, as datas, a turma e o conteúdo a ser abordado durante a prática docente (Egito - hieróglifos), deixando a critério da estagiária a metodologia a ser utilizada. Nas conversas informais, assim como na entrevista escrita, a professora titular informou que o planejamento sempre faz parte de sua prática pedagógica e acrescentou, ainda, que sem ele não ocorre ensino-aprendizagem. Na maioria das vezes os alunos participam e gostam das dinâmicas aplicadas em sala de aula. Sua metodologia de avaliação é flexível uma vez que os alunos são avaliados, a cada aula, pelo seu rendimento, responsabilidade e pontualidade; não exigindo atividades extraclasse. Quanto à bibliografia utilizada para o planejamento, a professora, embora formada em Pedagogia pela FACCAT, citou vários autores e títulos; entre eles “Maravilhas da Arte” de Pierre Belvés e “História crítica da Arte” de Sheldon Cheney. A professora procura realizar um trabalho concomitante com a disciplina de história, e o mais atual possível. Para isso, dispõe da Internet, bibliografia existente na biblioteca e conversas informais com a estagiária de Artes. Como recursos auxiliares, são utilizados o retro projetor e o episcópio para a melhor visualização de imagens. Nas aulas externas, os alunos participaram com entusiasmo, interesse e boa capacidade de concentração. Em sala de aula foram apresentadas lâminas com imagens. Com isso, todos puderam concentrar-se na explicação. As perguntas que surgiram foram esclarecidas no ato pela professora, que demonstrou conhecer o conteúdo trabalhado. Também foi possível observar que a professora titular tinha planejamento escrito de suas aulas, utilizando o espaço disponível em sala de aula para movimentar-se. A cada instante, instigava os alunos a participar e interagir na leitura e na atividade prática. Assim, todos os alunos demonstraram entendimento sobre o tema proposto.
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A concepção teórica que embasa a prática dessa professora é a Metodologia Triangular, que mesmo sendo considerada eficiente não deve ser utilizada em demasia, e sim, aleatoriamente conforme clientela e atividade.
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1.5. Análise dos Questionários Respondidos pelos Alunos
A elaboração do questionário para os alunos foi criteriosa, organizada e responsável, visando motivar os alunos a participar das aulas, possibilitando-os a vivenciar novas experiências e aprendizagens. A tabulação dos dados e as observações realizadas anteriormente deram subsídios para o desenvolvimento de um plano de ação coerente e eficaz, contribuindo para que o estágio propicia-se momentos de interação, reflexão e crescimento mútuo; objetivando desenvolver nos alunos uma consciência mais crítica, através de experiências individuais e em duplas, oferecendo-lhes condições para transformarem a realidade onde vivem. O gráfico a seguir, apresenta as preferências dos alunos no que se refere a ARTES. Cabe salientar que quatro alunos faltaram na data em que o questionário foi aplicado.
Sondagem da Realidade Ensino Médio 18 16 14 12 10 8 6 4 2
Preferencia
Obra de Arte
Período História
Cor
Textura
Outros
Lapis Cor
Canetinha
Giz Cera
Lápis 6B
Outras
Rasgado
Lisa
Aspera
Outras
Rosa
Laranja
Azul
Preto
Não Sabe
Outros
Grécia
Egito
Outros
Monalisa O Pensador
Des/Pin.
Pintura
Desenho
0
Material
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CAPÍTULO 2 PESQUISA SOBRE TEMA NAS ARTES VISUAIS 25
2.1. As Muitas Máscaras que Usamos
“Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo [...] Quando quis tirar a máscara estava pregada à cara.” FERNANDO PESSOA
Persona, palavra originária do latin, é o que designa Máscara, utilizada com o objetivo de definir as qualidades do ser a que representa. Dá-se assim também a origem da palavra pessoa que utilizamos atualmente. A definição de máscara está baseada na distinção de dois pólos, um positivo e outro negativo. Segundo Alcantara (2010), o primeiro aponta para a máscara teatral, adotada por contadores de histórias para dar mais vida às suas narrativas e rituais (geralmente elas permitiam acessar universos regidos pela imaginação ou a dimensões espirituais invisíveis como muitos eventos próprios da Natureza, representando espíritos, deuses, antepassados, seres sobrenaturais ou rosto de animais). O segundo tem por finalidade específica ocultar o rosto daquele que a está usando, impedindo o reconhecimento desse usuário. A utilização de uma máscara possibilita “transformar-nos” em outra pessoa, adquirindo a princípio uma nova personalidade, mais forte e misteriosa, o que permite enfrentarmos qualquer realidade que se possa apresentar. Não raramente, utilizamos máscaras invisíveis, quase imperceptíveis, que nos auxiliam a enfrentar as mais diversas situações e a nos adequarmos aos diversos meios e cenários em que atuamos diariamente. Podemos afirmar que nessa distinção reside a dupla função da máscara, como incógnito e como segundo rosto. Podemos observar que existe aí uma relação de ambigüidade da máscara com a identidade de seu portador, a qual se encontra ora apagada e anulada, e ora restabelecida (metáfora) dentro de um contexto sistematizado por valores invertidos (como o carnaval, por exemplo) ou dentro de um contexto que implica um jogo de convenções entre duas partes. Ao longo da história da humanidade, as máscaras foram utilizadas com fins distintos, condizentes com a cultura e a religiosidade do povo que as adotava. Contudo, não existia uma explicação específica a respeito dessa utilização. Veremos então como isso ocorreu e como eram compreendidas essas ferramentas de ilusão e dissimulação.
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2.2. Máscaras Pré-históricas
A princípio, utilizar uma máscara significa deixar de lado uma personalidade cotidiana para assumir as qualidades do ser que ela representa. Essa descoberta deve-se ao homem primitivo e ficou gravada nas paredes das cavernas na idade da pedra. O mais antigo registro da utilização de máscaras que se tem notícia foi deixado nas paredes da caverna de Lascaux, na França, retratando caçadores mascarados com cabeças de animais. Imagina-se que com isso o homem pré-histórico acreditava adquirir as forças destes animais e assim garantir o sucesso de sua caçada. Caverna de Lascaux – uma das mais importantes cavernas decoradas do período paleolítico, possivelmente habitada desde 15 mil anos antes de nossa era. Fica em Montignac, na França, e foi descoberta em 1940. Com o propósito de se preservar as pinturas existentes, em 1963 foi suspenso o acesso ao público. Suas paredes são ricamente decoradas com figuras de cavalos, cervos, cabras, felinos e outros animais. Apesar da simbologia desses registros ser desconhecida, pode-se supor a necessidade já existente no homem pré-histórico de se comunicar e de registrar para futuras gerações sua realidade cotidiana, ainda que através de desenhos primitivos.
Imagem pré-histórica da Caverna de Lascaux. (Pinturas Rupestres, 2010)
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2.3. Máscaras Africanas
As máscaras desempenharam, em muitas civilizações, o papel de instrumentos principais em rituais sagrados, enfatizando a espiritualidade de determinado povo. Eram utilizadas como elementos decorativos, que representavam deusas e gênios. Sua principal função seria representar o rosto dos vencidos, assim como a crença da transfusão espiritual. A máscara africana não traduzia a emoção do indivíduo, não era o retrato do homem que teme, que combate, que morre, mas sim o próprio temor, a própria guerra, a própria morte. As máscaras usadas em rituais primavam pela intensa expressividade, apresentando feições distorcidas com tamanhos proporcionalmente maiores do que os normais, e serviam como mediação entre a esfera sobrenatural e a natural. Elas só podiam ser produzidas com autorização do chefe religioso, por um escultor iniciado na magia através de um rito de purificação. Essas máscaras podiam ser constituídas de cobre, madeira ou marfim, sendo que nem todas as madeiras eram utilizadas na fabricação dessas máscaras, considerando-se as qualidades negativas atribuídas a determinadas plantas, nas quais habitariam os espíritos malignos que poderiam comprometer a eficácia da máscara. Estas crenças chegaram ao Brasil através dos escravos e serviam para garantir a adaptação do indivíduo à comunidade. A arte africana inspirou Picasso a criar o movimento cubista, o qual recebeu a influência das distorções do entalhe africano, destinadas a mostrar simultaneamente aspectos múltiplos de um objeto. As técnicas cubistas expressam intensas emoções e conflitos internos. O quadro “Les Demoiselles d'Avignon” representa o ponto de transição da fase de influência africana para o puro Cubismo. Esse quadro é uma obra de ruptura, uma das poucas obras que, sozinha, alterou o curso da arte; os cinco nus do referido quadro têm anatomia indistinta, olhos tortos, orelhas deformadas e membros deslocados.
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Máscara Africana e fragmento de um desenho de Pablo Picasso (Arteando, 2010)
O quadro Les Demoiselles d'Avignon de Pablo Picasso (Arteando, 2010)
Máscara em Madeira. Procedência: República Democrática do Congo. (Espaço Educar, 2010)
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2.4. Máscaras Egípcias
Apesar da evolução humana as máscaras continuaram presentes em praticamente todas as civilizações. Em algumas culturas, sua provável origem está na pintura corporal feita em rituais primitivos. Esta conotação mágico-religiosa apareceu no Egito, onde as máscaras faciais (feitas com metais e pedras preciosas) eram confeccionadas para os mortos, objetivando auxiliá-los na arriscada passagem para a vida eterna, segundo crença popular existente na época. No auge da civilização egípcia (Egito antigo), a máscara mortuária fazia parte do processo de mumificação e significava a paralisação, a impossibilidade de mudar, o cessar do aprimoramento; podendo ainda acarretar riscos para quem não tivesse atingido sua elevação espiritual. As máscaras funerárias egípcias mais célebres foram as de Toutankamon e a de Agamémnon, trazida de Micenas. A civilização egípcia também utilizava máscaras em situações que exigiam mais que simples habilidades humanas, como para propiciar a cura de doenças ou evitar o perigo de acidentes.
Máscara Mortuária de Tutankamom. (Rafael, 2011)
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2.5. Máscaras Indígenas
A utilização de máscaras é uma prática importante e presente em diversas comunidades indígenas no mundo todo. Os índios norte-americanos nativos do noroeste dos EUA usavam máscaras numa cerimônia anual para chorar por seus mortos. Os homens representavam os fantasmas dos mortos com máscaras pintadas e decoradas com penas e ervas. Já os nativos do sudoeste dos Estados Unidos (como por exemplo, os Hopi e os Zuni), utilizavam máscaras em solenidades destinadas a homenagear seus entes queridos que partiram para o mundo dos mortos. Segundo Santana (2009) na Ásia, em várias tribos primitivas, elas eram assumidas tanto em ritos espirituais quanto na realização de matrimônios (com o objetivo de unir os casais); sendo também utilizadas por índios mais velhos em cerimônias de cura, para expulsar entidades negativas; ou ainda em rituais de passagem, momentos marcados pela transição da infância para o mundo dos adultos. No Brasil, Garcez e Oliveira (2003) afirmam que a arte permeia todos os aspectos da vida das inúmeras tribos indígenas desde a chegada dos portugueses por aqui. Todos os utensílios e objetos de uso cotidiano confeccionados pelos índios brasileiros apresentam a constante preocupação desse povo com a questão estética, ou seja, suas produções estavam impregnadas de um desejo de fazer coisas bonitas e agradáveis aos olhos. A arte plumária indígena e a pintura corporal atingem grande complexidade em termos de cor (obtidas através do uso de diversos pigmentos vegetais), desenho e utilização de materiais como pedras, resinas, sementes, cascas de árvores, ossos, dentes, conchas, madeira e penas, entre outros; sendo estes materiais considerados sagrados. Podemos afirmar que a arte indígena reflete a busca do prazer estético e de comunicação por meio da expressão visual. As tribos primitivas utilizavam máscaras simbolizando animais (pássaros e insetos) e forças da natureza, como raios, chuvas e trovões em suas cerimônias. A confecção destas máscaras era de caráter coletivo. Com efeito prático, a pintura corporal espanta os insetos e defende a pele dos efeitos do sol. Contudo, a conotação mágica e religiosa de afastar maus espíritos nas práticas indígenas de pintura corporal e facial e na utilização de máscaras, tinha um destaque especial. Outro papel importante das máscaras e da pintura corporal dentro da cultura indígena era assumir uma visão como sinal de guerra, procurando dar ao guerreiro um aspecto desumano e 31
feroz para intimidar o adversário. Assumiam também com frequência uma função protetora, normalmente contra o mal e em torno das crenças das forças sobrenaturais, ou seja, a relação com o mundo oculto dos espíritos que através da magia permitia abrir as portas para um outro mundo. Haviam também as máscaras usadas pelos índios nas cerimônias de iniciação, culto à fertilidade e outras manifestações religiosas. Contudo, podemos afirmar que, acima de tudo, essa é uma forma de expressão que pode ser “lida”, pois revela intenções pacíficas ou guerreiras, sentimentos, emoções, situações festivas ou circunstâncias religiosas, importância social, entre outras mensagens elaboradas com capricho e minúcia.
Máscara Indígena (Cyro, 2010)
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2.6. Máscaras Esquimós
A arte esquimó foi cultivada em certas zonas desde os tempos paleolíticos. Possui tradição de geração em geração. Numa pequena região da desembocadura do Yukon, as máscaras esquimós representavam espíritos visionados pelos pajés. Elas são silhuetas de animais e homens em marfim, madeira, concha e pedra. Algumas eram enfeitadas com penas, pois os esquimós achavam que as penas captavam a passagem dos fantasmas. Segundo Nassif (2010), as máscaras também tinham características simbólicas, como podemos verificar nas tribos de esquimós no Alaska. Eles acreditavam que cada criatura possuía dupla existência e que poderia assumir a forma humana ou animal de acordo com o seu desejo. Seguindo essa premissa, as máscaras eram produzidas com feições duplicadas (uma de um animal e outra de um humano). Em determinados momentos de algumas cerimônias festivas, a máscara exterior era suspensa revelando a outra criatura até então oculta.
Máscara Esquimó (Nassif, 2010)
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2.7. Máscaras Gregas
No mundo ocidental os antigos gregos foram pioneiros no uso das máscaras, adotadas nas festas dionisíacas, realizadas em homenagem a Dionísio, divindade responsável pelo vinho e pelos rituais de fertilidade. Nessas ocasiões, todos dançavam, cantavam, se embriagavam e realizavam orgias, evocando a presença desse “deus” através do emprego da máscara. A Grécia foi também o berço do Teatro, modalidade artística que recorria constantemente ao encantamento das máscaras que surgiam como elementos figurativos. Os atores ao ressuscitarem seus personagens mortos consideravam-se protegidos pelas máscaras que, segundo a crença existente na época, poderiam evitar a perigosa incorporação desses mortos. Atualmente ainda se vê este hábito perpetuado no Japão. A civilização grega, segundo Jansen (1952) teve seu apogeu no séc. V a.C., período no qual o teatro também havia se desenvolvido a partir dos rituais das festas dionisíacas. Nasciam aí as apresentações das tragédias e comédias gregas. A máscara acompanha a mesma evolução passando de ritualística para teatral. Algumas delas tinham características de deuses, semideuses, reis e heróis das tragédias. Eram confeccionadas em barro, madeira, couro, cortiça e adornadas com pinturas e cabeleiras. No séc. V a.C., elas foram aperfeiçoadas e sua execução passou a ser confiada a escultores. Ela possuía diferentes funções quando utilizada na dramaturgia, tais como aumentar a proporção da face do ator assim como acentuar os traços mais expressivos, para que todo o público pudesse assimilar o caráter e o sentimento do personagem. É importante ressaltar que o teatro grego era realizado a céu aberto, e para um público numeroso que ocupava a arquibancada escalonada em torno da orquestra circular. Portanto, não bastava apenas buscar a aparência e a expressividade, mas também o recurso técnico. Com o objetivo de ampliar a voz do ator, no local destinado aos lábios era feita uma abertura exagerada na máscara com a colocação de lâminas de metal no seu interior como se fosse um megafone, oportunizando uma maior propagação da voz para que o ator pudesse se fazer ouvir por todo o anfiteatro. Este mesmo tipo de máscara foi usado no teatro romano, que surgiu no séc. III a.C. por influência grega. Essas máscaras eram desproporcionais ao tamanho do corpo humano, exigindo desta forma a confecção de um figurino todo específico (inclusive botas de saltos altos) para acompanhar a proporção estética. Há indícios de que teria sido Téspis o primeiro ator da história do teatro ocidental a
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usar uma máscara para fins dramáticos, porém não se pode afirmar com clareza por citarem os nomes de se seus contemporâneos Haerili e Phrynicus.
Máscaras Gregas (Portal Atrevinventos, 2008)
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2.8. Máscaras Romanas
Assim como na antiga Grécia, as máscaras também eram usadas em Roma para festivais e teatros. Com a queda do Império Romano, as máscaras caíram de desuso. Os primeiros cristãos atribuíram o uso de máscaras a cultos pagãos e praticamente proibiram seu uso, tornando-as quase ilegais. Na América, elas desembarcaram junto com os europeus que para lá se transferiram, para serem utilizadas como brinquedos infantis, em bailes ou outras festas. Os romanos, segundo Lindomar (2007) ao se apropriarem de diferentes elementos da cultura grega, absorvem o uso da máscara em seu teatro denominando-as “persona” (daí a origem da palavra personagem, destinada a figura representada na peça teatral pelos atores. Ator, palavra originária de hipócrita (do grego hypokrités), ou seja, aquele que tem várias faces por causa do uso constante de máscaras) e “larvas”. Estas denominações não eram apenas para o objeto cênico “máscara”, mas também para indicar as características expressivas e físicas da personagem. No teatro romano era comum a utilização de mais de uma máscara em cena, onde de acordo com a expressão, derivada da ação, trocava-se de larvas. O uso das máscaras nem sempre teve conotação mágica ou teatral, pelo contrário, esses objetos tiveram função protetora em algumas civilizações, como a grega e a romana. Segundo Giannini (2010) entre os anos de 700 e 675 a.C., o exército grego era bem equipado por capacetes com máscaras protetoras. O exército romano também os utilizava nas batalhas e ainda havia máscaras especiais para desfiles. Durante 650 anos, em todo o Império Romano, os gladiadores fizeram uso destes capacetes nos circos romanos para encenar com feras para o público. É importante lembrar que o “elmo” pode ser considerado máscara se o classificarmos como máscara de guerra. Na Idade Média, a máscara passa a ser mais utilizada nas festas profanas, não deixando de fazer parte dos “mistérios”, forma de espetáculo fomentado pela igreja dominante com o intuito de propagar seus dogmas. Mas é no Renascimento que a máscara adquire novas características, primeiro pelas “farsas” apresentadas nos castelos, onde a nobreza as usava como forma de nivelar os convidados presentes, fazendo parte do próprio traje, segundo pela retomada do teatro popular em toda a Europa com a Commédia Dell’Arte.
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Mรกscara Romana (Giannini, 2010)
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2.9. Máscaras Venezianas
As máscaras venezianas não se limitavam a ser utilizadas no Carnaval. Durante largos períodos, ao longo do ano, eram comumente usadas em vários fins: pelos jogadores de cassinos para não serem reconhecidos pelos seus credores; para se visitar mosteiros incógnitos ou para participar de festas e banquetes. No séc. XVIII em Veneza, o uso da máscara tornou-se um hábito diário para homens, mulheres e crianças. Os rostos eram ocultados com uma meia máscara que cobria apenas os olhos e o nariz. A utilização de máscaras trazia, naturalmente, uma grande permissividade, uma vez que a pessoa não era reconhecida (algumas máscaras eram concebidas até mesmo para disfarçar a voz). Com isso, viu-se a necessidade da proibição do uso das máscaras fora de datas religiosas ou de ocasiões especiais; assim como o transporte de armas. Mais tarde, também foi proibida a utilização de máscaras em cassinos. Contudo, para que essa proibição fosse respeitada, fez-se necessária a criação de uma lei, a “Lei de Doge”, objetivando pôr fim a esse hábito por considerá-lo prejudicial ao trabalho da polícia, dificultando a identificação dos criminosos que atuavam constantemente pelas vielas da cidade. O Carnaval (com duração de um mês, onde os foliões invadem as ruas e salões com luxuosas fantasias e as mais belas máscaras), era a época em que os venezianos podiam infringir todas as regras. Identidade pessoal, posição social e sexo passavam para segundo plano. Os palácios eram abertos a festas e concertos ao mesmo tempo em que a nobreza e o povo misturavam-se nos grandes pontos de encontro da festa - as praças da cidade. Os mascarados venezianos usavam geralmente não apenas uma máscara mas um traje completo, que incluía um manto, por vezes um véu, e outros adereços. Havia trajes específicos, como a bauta, composta de véu ou manto negro, um tricórnio preto e uma máscara branca, muito popular. Era traje obrigatório para as damas que iam ao teatro, mas as “raparigas” em idade de casar estavam proibidas de utilizá-lo. Este traje também poderia ser utilizado por homens. Outro traje popular, a moretta, era utilizado pelas mulheres quando se deslocavam a conventos – modelo composto por uma máscara de veludo preto que se mantinha na sua posição mordendo uma pequena patilha, o que impedia as mulheres de falarem quando usavam a máscara. A maschera de vesta era própria das mulheres de camadas sociais mais 38
baixas, sendo constituída por um simples lenço ou chale pequeno revestido com gaze e atado em redor da cabeça. Sendo o Carnaval uma época permissiva, muitas mulheres nobres também utilizavam essa máscara. Segundo Giannini (2010), para festejar o Carnaval, os jovens venezianos juntavam-se em grupos, identificáveis por suas meias coloridas e ricamente bordadas. Cada grupo tinha o seu nome e preparava à sua maneira os festejos de Carnaval. Existiam em Veneza, entre 1487 e 1565, mais de 20 desses grupos. Ainda hoje a tradição dos trajes ricos e sofisticados, assim como as máscaras e pinturas cuidadosamente preparadas, perduram em Veneza.
Máscara Veneziana (Portal Artiloka, 2011)
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2.10.
Máscaras Renascentistas
Passado muito tempo de uso de máscaras em diversas civilizações, com os mais diferentes propósitos, a Idade Média marcou seu desaparecimento quase por completo, conservando-se o uso apenas em festas religiosas; tendo seu retorno no teatro Renascentista, com a redescoberta da comédia. Foi como o renascimento de uma arte. Na Itália, os personagens estereotipados da comédia latina transformaram-se em tipos nacionais e provincianos da Commedia dell’Arte, surgida na Sicília, que arrasava as aspirações mais nobres do homem de ascender a um mundo melhor. A comédia mostrava assim a faceta ridícula de tudo o que era institucionalizado e admirado, inclusive criticando os poderosos através da caricatura. Por isso as máscaras da Commedia dell’Arte, ao contrário do teatro clássico, apesar de serem muito intensas, não remetiam a uma expressão em particular, estavam sujeitas a interpretações diversas. Fundamental então era o trabalho corporal do ator, como se fosse um suplemento para a máscara, expressando o que ela por vezes não podia. Muitas destas máscaras segundo Lindomar (2007), eram feitas em couro fino, costuradas na roupa branca, sendo as mais conhecidas as dos personagens Pierrot, Colombina, Pulcinela e Arlequim. A Commedia dell’Arte inspirou o carnaval de Veneza, na Itália, que incorporou as máscaras, agora cobrindo apenas metade do rosto, deixando à mostra a expressão da boca. Algumas foram simplificadas a uma singela faixa de veludo, em geral, negra. Estas máscaras primavam pela delicadeza e eram inspiradas nos personagens da comédia. Em Veneza e até em Florença, as máscaras passaram a fazer parte da indumentária feminina, como forte elemento de sedução. Até hoje a produção de máscaras em Veneza é tradicional e lucrativa.
Máscara Renascentista (Teatro Renascentista, 2009)
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2.11.
Máscaras Teatro Nô
Segundo Giannini (2010), o teatro NÔ é uma tradicional arte dramática japonesa, repleta de simbolismo e refinamento, que já tem mais de 600 anos. Resultante da combinação de canto, dança, declamação, instrumentos e indumentária, o NÔ é um espetáculo de máscaras por excelência. São basicamente três os tipos de máscaras, dos quais se originaram outros tantos: máscaras de divindades sobrenaturais, de anciãos e de mulheres. Seu apelo é primitivo, abrupto, forte e ao mesmo tempo sutil e lírico. Estas máscaras têm o poder de estabelecer contato entre homens e deuses. Na verdade, esta peça é bem mais que um figurino, é uma parceira do ator, que lhe confere forças ocultas, mágicas. Vestir a máscara é um ritual em si. O ator, já com a roupa do personagem, observa a máscara que logo será seu rosto. Quando a veste, o artista passa a ser o personagem, pois colocar a máscara significa injetar nela corpo e alma, com os quais ela passa a viver. Nestas máscaras, o ator tem a visão limitada por estreitas aberturas e só consegue ver o chão através das fossas nasais existentes no objeto, orientando-se espacialmente através dos pinheiros e pilares do palco. As mais antigas, criadas em Muromati, eram verdadeiras obras-primas. Segundo Giannini (2010), eram esculpidas em madeira e recebiam a pintura de rostos de jovens e mulheres de expressão neutra, enriquecidas por recursos sutis. Um deles era a diferença entre os dois lados do rosto. Quando o protagonista sofria um conflito, o público via a face direita entristecida, tão logo fosse solucionado esse conflito, a face esquerda, alegre, era mostrada aos espectadores. Se o ator olhasse para baixo, os lábios da máscara pareciam cerrados, indicando melancolia; olhando para cima, os lábios ficavam entreabertos, apresentando um sorriso. Os olhos das máscaras femininas tinham pupilas quadradas, dando ar de doçura. Enfim, são detalhes que propiciam a gradação das expressões. A confecção dessas máscaras requer grande habilidade e, hoje, apesar de haver muita aprendizes, há pouquíssimos escultores que produzem para os grupos profissionais. Mesmo com tanta riqueza, a arte NÔ por pouco não foi extinta, já que ela esteve por muito tempo associada ao xogunato (regime feudal existente no Japão até a idade moderna). Grupos isolados no Brasil ainda mantêm a tradição do Teatro Nô e suas máscaras.
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M谩scaras do Teatro N么
(Giannini, 2010)
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2.12.
Máscaras na Atualidade
Atualmente as máscaras ainda são utilizadas em festas tradicionais como nos bailes Venezianos, no Halloween (dia das bruxas) e no Carnaval; assim como acessório em diferentes manifestações culturais (da mesma forma como ocorria em tempos remotos). Também estão presentes em determinadas práticas esportivas e profissionais, como na esgrima e na apicultura, onde o apicultor assim se protege do ataque das abelhas. As máscaras utilizadas hoje no carnaval brasileiro chegaram por aqui no século XIX, encarregadas de expressar mitos, críticas sociais e ironia em relação às dificuldades cotidianas. Essas máscaras de cunho artístico que exploram tão bem o imaginário encontraram no Brasil outras aqui existentes de caráter ritualístico e mágico-religioso introduzidas pelos cultos africanos. Ao observarmos a cultura de alguns povos e tribos, que ainda hoje mantêm suas tradições ritualísticas, percebemos exemplos vivos do quanto o uso da máscara possui um valor distinto no cotidiano dessas culturas. Para esses povos a máscara ainda desempenha uma função mágica e ritualística simbolizando, na maioria das vezes, seres que possuem a capacidade de proteger os seus usuários de ataques inimigos ou do desconhecido, livrando-os de doenças e proporcionando a vitória nas guerras. Para muitos desses povos, a máscara também tem como objetivo homenagear seus deuses, buscando a bênção para semeadura e colheita, assegurando a subsistência de toda a coletividade. Em todos os continentes, principalmente na área abaixo da linha do equador, encontramos culturas que preservam o uso da máscara em seus rituais sagrados. Outra forma atual de ocultarmos algumas de nossas faces e/ou nos adequarmos as situações cotidianas é através do uso de “máscaras sociais”. São as atitudes sociais que precisamos assumir nos mais diferentes tempos e espaços da sociedade contemporânea. De acordo com Brecht (2007), as relações de poder entre os personagens causam o ‘gestus’ (refere-se às atitudes sociais nas inter-relações dos personagens). O gestus brechtiano, ou melhor, a máscara social do personagem, não precisa ser efetivamente um objeto para colocar no rosto, mas uma canção, uma palavra, uma atitude ou um acessório cênico. A palavra ‘gestus’ originou-se na teoria da Gestalt (teoria da psicologia iniciada no final do século XIX na Áustria e Alemanha, que possibilitou o estudo da percepção, que estaria além dos elementos fornecidos pelos orgãos sensoriais). Para Moura (2005):
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As máscaras representam as marcas da inquietação humana, da apreensão de sentidos dilemáticos das formas sensíveis, as quais guardam o poder do apelo desmitificador, a partir de suas raízes, dissolvendo ou confirmando imagens convencionais cristalizadas. O uso das máscaras pode dar forma aos sonhos, aos medos e às fantasias, podem ainda retratar medos ou manipular forças contraditórias das origens, que serão completadas com visões humanas e artísticas, permitindo extrair, através delas e de seus diversos usos, um novo real. Transformar o lógico ou o ilógico no sensível, o racional em intuitivo, através da criação artística - mágica sagrada ou profana - este é o papel da arte: ajudar o homem a superar-se, por isto a máscara, sendo também representação artística, não deve ser apenas uma “fabulação”, mas sim um renascimento original , fixando, sobre as marcas do tempo, os sinais da identidade do homem e de seu grupo, pela referência de sua situação no mundo, uma vez que, o inventar e o criar implicam a revalorização da ordem cosmogânica, a partir das fontes que assumem o grau de intensificação mágicosimbólica, desde que estas fontes não sejam desfiguradas. A fonte e a força da criação dos povos, por meio da arte, e o desejo de superar-se, sem perder as marcas profundas da identidade do ser, interligam-se em segmentos, redimensionando aspectos transcendentes e a intimidade do universo humano, neste ponto se dá um modo antigo de relação entre mitos e símbolos cósmicos, onde não se sabe quem é mais poderoso, se é a realidade ou se é a imaginação. Felizmente alguns grupos isolados ainda guardam vestígios de uma época que está-se esgotando, permitindonos contar esta história.
Apesar da evolução pela qual vem passando a humanidade, onde muitas culturas e tradições foram se enfraquecendo e até se extinguindo, as máscaras ainda são um acessório importante em nossa sociedade. Atualmente o folclore em geral resgata um pouco de todas estas máscaras, com o objetivo de caracterizar personagens e relembrar a história de uma comunidade. O folclore brasileiro, movimentado e plástico, utiliza as máscaras justamente para manter tradições. É uma espécie de memória histórica, que garante ainda o exercício da fantasia. O teatro também tem recriado as máscaras cada vez com mais freqüência. Para o homem de hoje, as máscaras deixaram de ter um sentido puramente mágico para assumir uma função de disfarce psicológico, possibilitando o anonimato, ou seja, é como se ele pudesse esconder sua verdadeira face e adquirir total liberdade em um mundo tão complexo.
O Baile das Máscaras (Moura, 2005)
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CAPÍTULO 3 PROJETO E PRÁTICA DE ENSINO EM ARTES VISUAIS 45
3.1. A Arte na Educação como Representação Social
“A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam.” AUGUSTE RODIN
Considerando os registros existentes ao longo da história, conforme já mencionado no Capítulo 2, e também com base na experiência adquirida ao longo de minha trajetória como educadora, abordar com os alunos e tema máscaras além de despertar o interesse pelo desenvolvimento de trabalhos manuais e oferecer a oportunidade de expor um assunto de vasta bagagem cultural e de forte peso ainda na sociedade contemporânea; trabalhar com a produção artística concreta dos adolescentes e adultos e mediar a leitura e a apreciação crítica das imagens produzidas e estudadas, contextualizando-as histórica e politicamente; será oportunizado aos alunos a livre expressão de sua criatividade, emoções e percepções do meio no qual estão inseridos. Podemos perceber a Arte como pura expressão, feia ou bela não importa, pois o conceito de beleza é muito relativo podendo se modificar de acordo com as percepções e experiências pessoais de cada indivíduo. Sendo assim, considerase que, o gosto e a sensibilidade para apreciar a arte variam de pessoa para pessoa, de idade para idade, de região para região, de sociedade para sociedade, de época para época. Assim, as manifestações artísticas trazem a marca do tempo, do lugar e dos artistas que as criaram, pois refletem essa variação no conceito de beleza e na função do objeto artístico (Oliveira, 2002, p.12).
Esse conceito é perfeitamente aplicado na utilização das máscaras ao longo da história, onde cada povo ou civilização caracterizava e utilizava suas criações de acordo com suas crenças, conceitos e valores. As diversas manifestações de Arte que encontramos no cotidiano têm a função de transpor fronteiras, encantar, provocar reflexões, admiração, inquietação e até mesmo proporcionar prazer e emoção. Seja ela uma obra de Arte exposta em um Museu ou uma produção cinematográfica disponibilizada na TV. Se a Arte é produto de um ato criativo (expressão) e a cada instante ela corresponde, direta ou indiretamente, aos anseios da sociedade em que aparece, pode-se afirmar que toda a criação artística constitui num resultado 46
da atividade do homem. Conforme Coli (1981, p.64), “a idéia de arte não é própria a todas as culturas e que a nossa possui uma maneira muito específica de concebê-la, como exemplo cita o modo como nos referimos a arte africana, a qual para eles não passa de instrumentos de culto, de rituais, de magia, de encantação.” O que Coli e Oliveira pensam é que a Arte é universal, intrínseca ao ser humano, ao longo de sua história. Seria, por ora, uma definição de amplitude excessiva, pois aponta a atividade ou expressão humana chamada de “Arte”, sem mostrar nada que efetivamente a identifique. Na disciplina de Artes, é oferecida aos alunos a oportunidade de expressar-se, de trabalhar em grupo, trocar experiências, assimilar e internalizar novos conhecimentos, de sentir, de questionar, de refletir e conscientizar-se de seus próprios sentimentos e emoções. Concomitante a estas oportunidades, o aluno será sensibilizado a manter uma postura adequada, respeitando a individualidade e a visão do outro, contribuindo para propiciar momentos de crescimento mútuo, estando aberto a feedback e a possíveis e/ou necessárias mudanças.
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3.2. Dados Gerais da Escola da Prática Educativa
A Escola Estadual de Ensino Médio Boaventura Ramos Pacheco foi fundada em vinte e seis de setembro de 1960, como Grupo Escolar Boaventura Ramos Pacheco, contando com 56 alunos. A escola está situada na Rua Augusto Bordim, no 721 - Bairro Floresta, no município de Gramado/RS. A turma escolhida para o desenvolvimento do trabalho foi um terceiro ano do Ensino Médio/EJA, do turno da noite, composta por 30 alunos. Atualmente a escola oferece os cursos de Ensino Fundamental, Ensino Fundamental - 9 anos, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos para o Ensino Fundamental e Médio; contando com 750 alunos, 45 professores e 9 funcionários. A maioria dos alunos reside no bairro onde a escola está inserida, no qual predomina a classe média, possibilitando que grande parte dos alunos adquira os materiais solicitados. A escola, de modo geral, é organizada, limpa e tem uma estrutura acolhedora. Em nível de recursos materiais, disponibiliza: Biblioteca; Sala de Artes, Laboratório de Ciências, Quadra Poliesportiva, Sala de Informática e Áudio-visual, Refeitório e Sala de Instrumentos Musicais (Banda Marcial). A proposta metodológica, construída coletivamente, apóia-se nas três dimensões básicas do desenvolvimento cognitivo: a lógica, a perceptivo-motora e a sócio-afetiva. Considerando a interligação das três dimensões vemos que o sujeito apropria-se dos conhecimentos e saberes através da interação consigo mesmo, com outros sujeitos e com os objetivos do conhecimento. O sujeito aprende pensando, compreendendo ativamente, agindo sobre o objeto do conhecimento. Assim, o conhecimento é elaborado e modificado pelo sujeito. Não é algo automático que fica como uma cópia idêntica do modelo exterior da mente e não coloca o sujeito como mero espectador, expondo-o a atitudes receptivas e reprodutivistas diante de um saber pronto. Para compreender isto melhor a escola apoiou-se nos estudos de Piaget, Vigotsky, Wallon e Paulo Freire que elucidam a prática pedagógica de sala de aula e nos dão suporte para que não caiamos nas armadilhas dos “achismos” em educação. A postura do professor modifica, radicalmente ao estudar estas teorias, pois seu olhar volta-se ao ‘como seu aluno aprende’ e não só ‘como ele deve ensinar’. 48
A avaliação caracteriza-se como um processo contínuo, participativo, cumulativo e interativo, envolvendo todos os segmentos da comunidade escolar. O ato educativo é percebido como um todo, onde ensino e aprendizagem ocorrem simultaneamente, onde avaliação e recuperação fazem parte desse processo. Resulta tanto de um acompanhamento contínuo e sistemático pelo professor como de momentos específicos de formalização do processo na escrita de textos, da expressão oral, na resolução de problemas identificados no dia a dia, na resolução de questões dissertativas e objetivas em prova escrita, na participação ativa nas aulas, na realização de exercícios e temas, na disciplina e assiduidade nas aulas. A receptividade da escola com os estagiários é muito boa, o que facilita o desenvolvimento dos projetos propostos. Considerando minha longa caminhada nessa Escola e a qualidade do trabalho que venho realizando com os alunos; a Diretora Sra. Cleusa Tissiani autorizou prontamente a realização do estágio. Para formalizar essa prática, foi entregue a carta de apresentação fornecida pela ULBRA - Universidade Luterana do Brasil. Para finalizar, considero oportuno mencionar o comentário da Diretora Sra. Cleusa, no que diz respeito à avaliação. Segundo ela, a avaliação permeia todo o processo ensino-aprendizagem, interligando os diferentes momentos da ação pedagógica. O processo é dinâmico, participativo, sistemático e objetivo. Citou ainda que as reuniões de formação e o espírito de equipe são bastante incentivados. Os alunos são tratados com afeto, porém sem esquecer a importância de estabelecer limites.
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3.3. Observação da Turma da Prática Educativa
A observação silenciosa no Ensino Médio/EJA ocorreu no dia 14/03/2011, no turno da noite, na turma E9, correspondente ao 3º Ano do Ensino Médio. O trabalho realizado pela professora titular a disciplina de Artes (Lisiane Silveira) segue uma tendência contemporânea, tendo a sala de aula organizada conforme a preferência dos alunos e a necessidade da atividade (duplas, grupos ou individual). As atividades práticas são realizadas com materiais diversos, de acordo com a necessidade da proposta a ser trabalhada (folha A4, A3, isopor, papel pardo, entre outros). Nas conversas informais, a professora titular informou que o planejamento sempre faz parte de sua prática e que, apesar dos alunos não trazerem sempre o material, participam e gostam das atividades propostas em aula. Sua metodologia de avaliação é flexível. No relacionamento professor/aluno foi observado, com freqüência, senso de humor, atenção, valorização e interesse pelas dúvidas e questionamentos dos alunos. Essa postura acabava refletindo no relacionamento aluno/aluno, que também era respeitoso e solidário. A Escola possui ampla biblioteca e diversos recursos audiovisuais, tendo sido utilizado pela professora titular na ocasião da observação o data show (projetor multimídia). Outro aspecto que chamou atenção foi o fato da professora explicar os objetivos do estudo e valorizar o diálogo utilizando palavras de reforço positivo no convívio com seus alunos, lembrando sempre que todos possuem as mesmas capacidades. A professora demonstrou preocupação em despertar a dúvida e estimular o senso crítico dos alunos, importando-se com a qualidade da aprendizagem. A professora titular iniciou a aula cumprimentando os alunos. Em seguida, apresentou-me para a turma como sendo a professora estagiária que iria desenvolver a Prática Educativa nas próximas doze semanas. Nesse momento foi esclarecido aos alunos que essa troca de professores devia-se ao fato da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA exigir tal procedimento para a conclusão de graduação da Professora Magda Birck. Todos os alunos foram convidados a deslocar-se para a sala de vídeo, onde iriam assistir a um vídeo sobre Bienais e Arte Contemporânea. Nesse momento a professora titular explicou os passos da aula e os objetivos do estudo. Durante a exibição do vídeo, a professora titular chamou várias vezes à atenção dos alunos para o que estava além das imagens
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apresentadas na tela, reforçando com a turma sobre as mensagens que os artistas pretendiam transmitir através de suas obras. Observando-se os comentários efetuados pelos alunos a respeito das obras projetadas no vídeo, foi possível identificar uma grande curiosidade da turma em relação aos materiais utilizados pelos artistas e a razão para tais representações. Quanto a postura dos alunos, ficou claro que a maioria da turma respeita a figura do professor, uma vez que durante as explicações mantiveram-se atentos e concentrados, observando com interesse as explicações da professora titular. Através da observação silenciosa foi possível perceber uma grande sintonia na relação professor/aluno e aluno/aluno. A grande maioria dos alunos participou da aula demonstrando interesse e curiosidade sobre o conteúdo e a proposta de trabalho (análise de imagens).
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3.4. Dados Gerais do Projeto de Ensino
Título do projeto: As muitas máscaras que usamos Identificação da Escola: Escola Estadual de Ensino Médio Boaventura Ramos Pacheco, Rua Augusto Bordim número 721, Bairro Floresta, Gramado/RS Professora titular da turma: Lisiane Silveira Série: terceiro ano do Ensino Médio/EJA Turma: E9
Tema do projeto Máscara, utilizada com o objetivo de definir as qualidades do ser a que representa. Dá-se assim também a origem da palavra pessoa que utilizamos atualmente. A definição de máscara está baseada na distinção de dois pólos, um positivo e outro negativo. O primeiro aponta para a máscara teatral, adotada por contadores de histórias com o objetivo dar mais vida às suas narrativas e rituais; geralmente permitindo acessar universos regidos pela imaginação ou dimensões espirituais invisíveis como muitos eventos próprios da Natureza, representando espíritos, deuses, antepassados, seres sobrenaturais e animais. O segundo tem por finalidade específica ocultar o rosto de seu usuário, impedindo seu reconhecimento. A utilização de uma máscara possibilita “transformar-nos” em outra pessoa, podendo adquirir uma personalidade mais forte e misteriosa, permitindo muitas vezes enfrentarmos mais facilmente uma nova realidade. Não raramente, utilizamos máscaras invisíveis, automatizadas e quase imperceptíveis, que nos auxiliam a enfrentar as mais diversas situações e a nos adequarmos aos diversos meios e cenários em que atuamos diariamente. Podemos afirmar que nessa distinção reside a dupla função da máscara, como incógnito e como segundo rosto. Podemos observar que existe aí uma relação de ambigüidade da máscara com a identidade de seu portador, a qual se encontra ora apagada e anulada, e ora restabelecida (metáfora) dentro de um contexto sistematizado por valores invertidos (como o carnaval, por exemplo) ou dentro de um contexto que implica um jogo de convenções entre duas partes. 52
Considerando os registros existentes ao longo da história, abordar com os alunos o tema máscaras, além de despertar o interesse pelo desenvolvimento de trabalhos manuais e oferecer a oportunidade de expor um assunto de vasta bagagem cultural e de forte peso ainda na sociedade contemporânea, possibilitou trabalhar com a produção artística concreta de adolescentes e adultos, medindo a leitura e a apreciação crítica das imagens produzidas e estudadas, contextualizando-as histórica e politicamente.
Justificativa Apesar da diversidade dos temas disponíveis na disciplina de Artes e da importância de cada um deles para e desenvolvimento do aluno como um ser crítico, sensível e conhecedor de sua história, a escolha em abordar o tema máscaras foi bastante tranqüila e segura. Desenvolver com os alunos o tema máscara, além de despertar o interesse pelo uso de diferentes materiais e oferecer a oportunidade de expor um assunto de vasta bagagem cultural e de forte peso ainda na sociedade contemporânea, estimulou nos alunos a necessidade de adotarem uma postura articulada no tempo e no espaço, tomando consciência do ser incompleto que se é e da importância da busca permanente de conhecimento e vivências que possam ampliar os conhecimentos já adquiridos promovendo um amadurecimento e verdadeiro crescimento do ser. Durante esse trabalho será desenvolvido o estudo do tema associado com aulas práticas, objetivando integrar a Arte com a utilização e simbologia das máscaras ao longo da história.
Objetivos gerais a) Ampliar o conhecimento dos alunos referente a história das máscaras, levantando dados dos aspectos teórico-prático; b) Desenvolver no aluno a criatividade, a experimentação de materiais e técnicas diferentes, a observação e concentração, a responsabilidade, o trabalho em equipe e a confiança; c) Oportunizar aos alunos a realização de um produto artístico contemplando máscara, vestimenta e um desfile a toda comunidade escolar; d) Trazer o trabalho e a realidade vivenciada por um artista local para a sala de
aula, ampliando os conhecimentos dos alunos.
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3.5. Prática de Ensino
3.5.1. Primeiro Encontro Aula 1 Data: 21/03/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivos: 1- Instigar os alunos a relatarem suas percepções e relações entre o vídeo com fotografias de Bennett (2002), intitulado “Faces of the World”. Contendo imagens de pessoas de diferentes etnias; 2- Proporcionar diálogos e reflexões entre os alunos, questionando-os sobre as questões sociais e políticas da sociedade em que vivem.
Conteúdos: - Leitura de imagem; - A história das máscaras através dos tempos.
Metodologia: - Aula expositiva e dialogada com apresentação de vídeo.
Recursos: - Projetor multimídia e computador.
Desenvolvimento: A aula será iniciada mediante apresentação da proposta de trabalho previamente desenvolvida com o intuito de abranger todas as aulas no decorrer de doze semanas. Nesse 54
momento, será apresentado aos alunos o seguinte planejamento: duas aulas serão utilizadas para a explanação teórica do tema; cinco aulas serão utilizadas para a confecção das máscaras bem como a apresentação de artistas e de modelos de máscaras já existentes; duas aulas serão disponibilizadas para a exibição do filme “Máscara da Ilusão” e as três aulas finais serão utilizadas para pintura e ornamentação das máscaras. Após a chamada os alunos serão encaminhados para a sala de projeções onde será apresentado um vídeo com as mais diversas faces de povos do mundo todo e suas diferentes culturas. Esse recurso objetiva despertar nos alunos diferentes olhares, novas percepções sobre a diversidade das máscaras sociais. Ao término das apresentações será definida com os alunos a atividade da próxima aula. Seleção de imagens do vídeo “Faces of the World” (2002):
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Recortes do vídeo introdutório na abordagem do tema Máscaras (Bennett, 2002)
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Realizado Conforme planejamento realizado, a aula foi iniciada com a explanação do projeto educativo de ensino e de como seria abordado o tema máscaras. [Nessa aula ocorreu o segundo encontro com os alunos, uma vez que a apresentação formal havia sido realizada na semana anterior. Naquela ocasião foi apresentado aos alunos o planejamento elaborado para o andamento das aulas, possibilitando a eles um primeiro contato com as atividades e conteúdos que seriam propostos no decorrer da prática de estágio. A direção da escola julgou conveniente a realização de uma pré-apresentação da professora, considerando o fato de que os alunos da EJA costumam apresentar certa resistência no que se refere a novas propostas e algumas mudanças. Sendo assim, esta pré-apresentação possibilitou a esses alunos um prazo de uma semana para acomodarem o fato de conviver temporariamente com uma professora nova na turma, antes do início efetivo das aulas previsto para o dia 21 de março. Mesmo tratando-se de um tema novo a ser trabalhado por uma professora também desconhecida, a maioria da turma recebeu com entusiasmo e interesse a proposta, conforme poderemos perceber no andamento das demais aulas. Considerando que a alguns anos eu havia trabalhado com a EJA avaliei que uma nova experiência com esse grupo de alunos seria tranquila. Contudo, logo após concluir o processo de observação constatei que não seria simples assim. Os alunos eram desconhecidos, com métodos próprios para realizar os trabalhos e o comportamento de alguns alunos nas aulas de Artes não me agradou. Fiquei nervosa e talvez não tenha deixado uma boa impressão no primeiro contato. A turma que trabalhei havia sido indicada como sendo uma das mais participativas, mas infelizmente não foi exatamente essa a impressão que tive. No primeiro encontro a indiferença de alguns alunos me incomodou muito, afinal a proposta da EJA é formar profissionais capacitados para as diversas áreas de trabalho, pessoas com maior senso crítico e capacidade de responder com dinamismo aos estímulos recebidos. Porém, a sensação obtida foi de que esses alunos almejavam apenas a aquisição de um diploma. Diante dessa primeira impressão, julguei conveniente esclarecer o quanto seria importante que eles focassem toda sua atenção e energia na realização dos trabalhos propostos em aula, uma vez que as questões pessoais deveriam ser momentaneamente isoladas com o objetivo de não interferir no desenvolvimento e produtividade das atividades. Reforcei que as palavras chave seriam dedicação e disciplina. Transmitido esse primeiro e importante recado surgia outro desafio ainda maior, o de elaborar com muito cuidado as tarefas objetivando a motivação e o envolvimento dos alunos; principalmente daqueles mais desinteressados. Esse movimento de elaboração das aulas e a preocupação com o envolvimento e satisfação de todos diante das atividades me fez refletir sobre o quão importante e desafiador é o papel do professor. Importante porque poderá desencadear no aluno a admiração ou aversão por determinado conteúdo, o que também poderá repercutir em suas escolhas na vida pessoal; e desafiador porque lidamos com pessoas, com uma trajetória única de vida onde seus interesses estão permanentemente sendo alterados. Diante desse cenário cabe ao professor apresentar uma proposta atrativa e que não entre em conflito com os interesses e valores de seus alunos. Realmente se não estivermos preparados cognitivamente e fortalecidos emocionalmente dificilmente será possível dar conta disso tudo. Considerando tratar-se de uma experiência pessoal de estágio e movida pelo desejo de que tudo desse certo superei dificuldades e fui além do que deveria, pois não medi esforços para que tudo desse certo. Para isso foram providenciados os materiais de apoio o que exigiu diversos deslocamentos até o comércio de ataduras e farmácias. Para melhor organização do material e da sala de aula, além do preparo emocional é claro, optei por chegar na escola com uma hora de antecedência, durante todo o período do estágio, o que exigia um grande desprendimento e agilização de questões pessoais para cumprir com esse propósito. Também foram providenciadas diversas sucatas, roupas e outros materiais de que dispunha em minha residência para que os alunos pudessem ter uma variedade razoável de opções, que os auxiliariam ainda mais durante o trabalho de criação das máscaras. Enfim, meu envolvimento foi grande e acredito que caso tivesse deixado por conta dos alunos todo o processo, o resultado do trabalho teria deixado muito a desejar. Precisei parar e respirar fundo várias vezes, fazendo vistas grossas a muitos comportamentos desagradáveis, sem considerar as faltas não justificadas acompanhadas por incansáveis questionamentos sobre como realizar as tarefas solicitadas nas aulas em que não estiveram presentes.]
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Em seguida os alunos foram encaminhados à sala de projeções para assistirem as apresentações sobre máscaras em PowerPoint. Antes das apresentações, cada aluno foi instruído a pegar uma folha para anotar o que considerasse mais significativo nas imagens (formato, acessório, cor, material ou algum comentário pertinente ao assunto). Como introdução ao primeiro vídeo, intitulado “Faces of the World”, foram feitos alguns comentários sobre as máscaras sociais utilizadas, com o objetivo de oportunizar aos alunos um momento de auto-reflexão concomitante ao conhecimento pré-existente. Embora não houvesse planejado, foi apresentado um segundo vídeo com uma música de Ernesto Cortazar, “Dancing Way”, e textos de Carlos Drumond de Andrade. Essa prática caracteriza-se, fundamentalmente, por oferecer alternativas que levem o aluno a compreender o ser humano na sua integridade, desenvolvendo maior capacidade de autoconhecimento e, consequentemente, ao conhecimento das pessoas que o cercam. Podemos dizer que a compreensão das diferenças dos indivíduos nos capacita a compreender a sua humanidade mais profunda, possibilitando-nos eliminar muitas de nossas perplexidades e obter uma postura mais dinâmica e produtiva. Na disciplina de Artes é oferecida aos alunos a oportunidade de expressar-se, de trabalhar em grupos, trocar experiências, assimilar e internalizar novos conhecimentos, sentir, de questionar e de refletir. Juntamente com estas oportunidades, o aluno deverá manter também uma postura adequada, respeitando a individualidade e a visão do outro para ser igualmente respeitado, procurando propiciar momentos de crescimento mútuo. Durante a apresentação de ambos os vídeos, os alunos se mostraram tranquilos e até participativos, trazendo alguns depoimentos referentes aos textos de Carlos Drumond de Andrade. [Os depoimentos e acréscimos de alguns alunos me fizeram perceber que não bastaria trabalhar apenas o tema “máscaras” isoladamente. Se fazia necessário também abordar um assunto mais presente no cotidiano de todos. Foi quando optei por explorar alguns aspectos sobre o tema “máscaras sociais”. Um dos alunos iniciou comentando sobre o quanto é difícil não usarmos máscaras nas diversas situações da vida. Esse breve relato abriu um debate na turma, mostrando claramente a necessidade e a possibilidade de se ir além do planejado. Outro aluno confessou possuir dificuldades em controlar suas emoções, conduzindo-o a situações de conflito e discussões tanto na intimidade do lar como no ambiente de trabalho. Reforçou ainda que muitas vezes a jornada cansativa acaba esgotando nossas capacidades de tolerar as frustrações e dificuldades da vida, levando-nos a “explodir” em diversos momentos; o que além de gerar um grande desconforto interno acaba magoando e afastando pessoas queridas e próximas a nós. Esse desabafo acabou despertando um sentimento de empatia na turma. Com isso uma aluna sugeriu a possibilidade de estudarmos e discutirmos melhor sobre esse assunto no decorrer das aulas. Tal sugestão foi prontamente aceita por tratar-se de algo que inquietava a todos em sua vida cotidiana, e que também possibilitaria rever atitudes e refletir melhor sobre o comportamento adotado diante das
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diversas situações vividas; proporcionando quem sabe uma mudança de comportamento e na forma de pensar. Foi neste momento que percebi o quanto essa prática de estágio seria diferente e que mexeria muito comigo,talvez por me identificar muito com tudo o que foi escrito acima. E na medida em que os alunos falavam e comentavam sobre suas vidas eu também ia realizando uma reflexão sobre a minha vida e nem sempre as constatações obtidas me agradavam. Estou concluindo o curso universitário e ao invés de certezas e segurança, talvez possua uma visão distorcida da minha profissão e da postura adotada perante a vida. Profissionalmente acredito acima de tudo na disciplina e constantemente procuro aliar regras e boas condutas ao estudo da Arte. Contudo, isso nem sempre proporciona aulas agradáveis para os alunos e tudo o que eu quero é que meus alunos se divirtam, aprendam e amem a Arte como eu a amo. Sendo assim, sinto-me fracassar em muitos momentos o que de certa forma é positivo por fazer com que eu nunca me acomode, buscando sempre algo diferente e inovador. Sobre minha vida, posso resumidamente dizer que está em constante mudança, seja de humor ou de atitudes. A faculdade que até pouco tempo não era um projeto muito claro revelou-se um agradável, porém cansativo objetivo. E agora tão próximo de sua conclusão apresenta-se como uma meta alcançável. O que lamento é que esse processo de análise crítica esteja iniciando um pouco tarde demais. Sempre pensei que aos 37 anos seria mais madura e segura, sendo assim sinto-me um pouco frustrada. Foi possível perceber que meus constantes e velhos conflitos internos vieram à tona durante esse estágio, e que a luta contra meu pessimismo foi uma batalha complicada e constante durante a prática.]
Citaram questões atuais vivenciadas por eles mesmos, e demonstraram interesse no estudo da personalidade humana, percebendo que isso pode levar a compreensão do ser em sua totalidade. [Não foi fácil motivar os alunos e mais difícil ainda foi identificar quem estava motivado ou não. O único recurso que foi possível utilizar em relação aos alunos que permaneceram quietos foi a leitura corporal. Porém analisar os sinais do corpo é ao mesmo tempo desafiador e incerto, porque o ser humano pode manipular seus sentimentos e expressões corporais. Visto que a maioria dos alunos são adultos e que ao chegarem à escola estão vindo de uma jornada de trabalho onde certamente diversos são os assuntos particulares pendentes, a expressão pode ser manipulada inclusive inconscientemente dominada pelos problemas e pelo cansaço. Sendo assim, nesse primeiro momento, não ficou muito claro se a proposta apresentada aos alunos foi recebida com entusiasmo e interesse por todos, da mesma forma que fica difícil prever como seria a participação e experiências práticas, buscando despertar nesses alunos aparentemente cansados e desmotivados o gosto pelo saber e a alegria em realizar uma atividade prática que poderia ser percebida como uma oportunidade de expressar sentimentos, tendo inclusive função terapêutica. Se foi difícil interpretar os alunos, mais difícil ainda foi me controlar. Tenho facilidade em me expressar e minha linguagem corporal às vezes me denuncia e prejudica. Sendo assim, precisei exercitar constantemente meu autocontrole e vigiar muito minhas expressões faciais, tarefa essa bastante difícil de realizar para alguém de origem italiana.]
De modo geral, personalidade refere-se ao modo relativamente constante e peculiar de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo. A identificação tende a ser ampla e acaba por incluir habilidades, atitudes, crenças, emoções, desejos, o modo de comportar-se e, inclusive, os aspectos físicos desse mesmo indivíduo. A definição de personalidade engloba também o modo como todos esses aspectos se integram, se organizam, conferindo peculiaridades e singularidade a cada um. Segundo Bock (1999), a unidade de análise é o indivíduo total, e não o processo de percepção, de aprendizagem em si. O que interessa é o indivíduo que percebe que aprende e como esses processos relacionam-se entre si e com todos os outros. Nesse sentido, esta área de conhecimento da Psicologia é a mais ampla que as demais e sobrepõe-se a várias coisas, 59
que se “especializaram” no estudo de um processo específico, como, por exemplo, a Psicologia da Aprendizagem. Ao término das apresentações foram definidos com os alunos os materiais a serem utilizados na próxima aula dando-se ênfase à importância na escolha desses materiais, uma vez que o produto dessa atividade, ou seja, a máscara confeccionada, será o elemento principal de um desfile oferecido à comunidade escolar, objetivando enfatizar o contexto teatral [O objetivo seria realizar uma apresentação das máscaras com a mesma conotação utilizada no teatro grego, onde elas possuíam diferentes funções e ao entrarem em cena possibilitavam ao seu usuário assumir diante da plateia uma identidade diferente do que costuma ser (como ocorre com as máscaras utilizadas pelos super-heróis, por exemplo). Ao utilizar a máscara o aluno estará representando um personagem escondendo assim sua verdadeira personalidade.]
Os alunos deverão também utilizar uma vestimenta construída por eles que complemente sua máscara. [Nesse instante os alunos perceberam claramente que teriam muito trabalho e estudo pela frente. Esse fato agitou a turma, principalmente no que se refere ao sair da sala de aula e apresentar a toda a comunidade escolar da EJA sua produção pessoal. Foi possível perceber nesses alunos certa dose de constrangimento, timidez, insegurança e até mesmo certo receio em se expor para o grande grupo; uma vez que no momento do desfile esses alunos estariam sujeitos a análises e críticas, além de estarem no centro das atenções. Mas novamente esses sentimentos angustiantes despertaram nesses alunos a compreensão de que essa tarefa deveria ser realizada com máximo empenho e dedicação, não deixando de lado o prazer e a satisfação de apresentar um trabalho digno de apreciação ou até mesmo repulsa, mas que independente do sentimento e reação originada, causaria algum tipo de impacto em seus expectadores durante a performance final. É curioso perceber timidez em adultos, considerando o fato de que a maioria comanda suas vidas, trabalha fora e precisa se expressar sem o auxílio de um responsável. Contudo, para mim também ficou a dúvida de como os demais alunos e professores da escola iriam reagir diante da performance apresentada por essa turma. O fato de estar sujeita a críticas e análises me deixa apreensiva e também curiosa.]
Dos trinta alunos que compõem a turma, seis não compareceram na aula.
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3.5.2. Segundo Encontro Aula 2 Data: 28/03/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivo: 1- Oportunizar aos alunos o acesso a novos conhecimentos no que diz respeito à
diversidade das máscaras desde a pré-história até a atualidade; 2- Conhecer as simbologias e funções do uso das máscaras de acordo com as
crenças e os costumes dos povos.
Conteúdos: - Leitura de imagem; - A história das máscaras através dos tempos.
Metodologia: - Aula expositiva com apresentação de vídeo.
Recursos: - Projetor multimídia e computador.
Desenvolvimento: Com o auxílio do programa PowerPoint, serão apresentadas aos alunos as teorias disponibilizadas sobre a confecção e simbologia das máscaras ao longo da história, utilizando como ilustração a apresentação de diversas imagens. Após a chamada, encaminhar os alunos para a sala de projeções. Antes das apresentações, cada aluno será instruído a pegar uma folha para anotar o que considerar mais significativo nas imagens (formato, acessório, cor, material, etc). Em seguida, será apresentado um breve conceito ilustrado sobre as diferentes máscaras 61
utilizadas ao longo da história por diversas civilizações. Ao término das apresentações, definir com os alunos os materiais a serem utilizados na próxima aula. Seleção de algumas imagens do Power point “As muitas Máscaras que usamos”:
Imagens de máscaras ao longo da história (Projeto de Ensino, Capítulo 2)
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Realizado Conforme planejamento realizado, a aula foi iniciada dando continuidade à explanação do projeto educativo de ensino e de como seria abordado o tema máscaras. [Conforme relato anterior, alguns alunos adotaram uma postura participativa enquanto outros não. Objetivando promover uma auto-reflexão, seguida da expressão verbal sobre o conteúdo produzido através desse exercício, a turma foi desafiada a responder aos seguintes questionamentos: O que é a Arte para você? E o que é máscara? É comum surgir como resposta na questão relativa a Arte o nome de uma obra correspondente a algum artista famoso. Contudo, os alunos dessa turma surpreenderam com suas respostas. Nenhum deles citou uma obra específica e sim vários conceitos. Por intermédio das respostas foi possível identificar que essa experiência de estágio seria bem mais complexa e significativa (Complexa e significativa no sentido de agregar aos conhecimentos já existentes nos alunos, reconhecer suas habilidades e ampliá-las, despertar a importância de uma consciência crítica quanto ao aspecto político e social em relação ao mundo em que vivemos e vivenciar situações práticas demonstrando autocontrole, autoconfiança e criatividade.) do que aquela vivida no ensino fundamental. Na verdade as atividades propostas não seriam um desafio apenas para os alunos, mas também para mim que senti a necessidade de buscar maior embasamento teórico, assim como um fortalecimento emocional para atender de maneira satisfatória as necessidades e expectativas daquela turma. Uma coisa é dar aula para alunos que nunca questionam e que aceitam tudo o que o professor lhes oferece pelo simples fato desse conteúdo muitas vezes ser uma novidade, outra bem diferente é atender a um grupo mais maduro, com maior experiência de vida tanto no aspecto pessoal como profissional, onde as verdades deixam de ser absolutas e os questionamentos e julgamentos permeiam a relação professor-aluno. No instante que li as respostas sobre a Arte e máscaras, percebi que o conteúdo desenvolvido com os alunos do ensino fundamental no estágio II não seria o suficiente. E isso foi bom porque só assim pesquisei atividades diferentes e apresentei novas propostas. Certamente esse novo cenário foi desafiador e impulsionou-me a sair da zona de conforto na busca de mais conhecimento, reflexão e aprendizagens.]
Com o objetivo de oportunizar aos alunos um momento de auto-reflexão concomitante ao conhecimento pré-existente, solicitou-se que cada um respondesse a duas questões utilizando como base suas próprias percepções: a) O que é arte para você? Muitas foram às respostas, porém as palavras que mais se repetiram foram: • • • • • •
Expressão Sentimento Cultura Imaginação Criatividade O Diferente
Considera-se que a arte é um fenômeno sociocultural e que está relacionada com a totalidade da existência humana. Mantém ainda íntimas conexões com o processo histórico e possui a sua própria história; dirigida por tendências que nascem, desenvolvem-se e morrem correspondentes a estilos e formas definidas. Segundo Nunes (2008), com um foco de convergência de valores religiosos, éticos, sociais e políticos a Arte vincula-se à religião, à 63
moral e à sociedade como um todo; suscitando problemas de valor, tanto no âmbito da vida coletiva como no da existência individual, seja esta a do artista que cria a obra de arte, seja a do contemplador que sente os seus efeitos. Com essa pequena amostragem, podemos concluir que os alunos possuem uma clara noção sobre o que é a arte, pois a arte pode ser definida por diversos conceitos e apresenta várias funções na sociedade e na cultura, tais como: interpretar o mundo; provocar emoção e reflexão; expressar o pensamento e a visão do mundo do artista; explicar e refletir a história humana; questionar e até protestar a realidade; representar crenças e homenagear deuses, idéias, pessoas, entre muitas outras. Segundo Oliveira, A experiência estética que a arte proporciona é uma forma de felicidade muito especial porque é transformadora. Ela nos modifica pela emoção que proporciona. Para interagir e apreciar a arte, usamos: experiências anteriores; percepção; habilidades comunicativas; visuais e espaciais; informações; sensibilidade; imaginação. Assim, quanto mais desenvolvermos essas capacidades, competências e habilidades, mais nos aproximaremos do mundo da arte (OLIVEIRA, 2002, p.20).
b) O que é máscara? As respostas foram igualmente diversas tais como na primeira questão. • • • • • • • •
É uma forma de se esconder Objeto para se disfarçar Faz parte do folclore Dupla personalidade Mostra o verdadeiro eu Nossas atitudes com todos Objeto decorativo Várias faces que podemos ter
O grande filósofo alemão Emmanuel Kant (2002) costumava dizer a seus alunos: “Não lhes pretendo ensinar tal ou qual sistema filosófico, mas ensinar-lhes a aprender a filosofar por si próprios, a formar uma opinião própria”. [A teoria de Kant fornecia a seus alunos subsídios para buscarem o conhecimento através de suas experiências pessoais e conceitos formados através de um conjunto de teorias e percepções, tornando o processo educativo mais dinâmico e responsável, desmistificando um pouco a figura do educador como o detentor do saber e da verdade absoluta. E foi baseada nessa linha de pensamento que optei por trabalhar com essa turma a questão das máscaras sociais. Estimulando os alunos ao exercício da auto-reflexão, aonde os automatismos conduzidos pelo senso comum perderiam espaço para opiniões pessoais mais críticas e transparentes em relação à forma como cada um percebe e interage com o mundo, foi possível perceber um importante movimento de amadurecimento da turma. Durante esse processo era importante que cada um mantivesse o foco em seu propósito e em suas opiniões, não permitindo a manipulação e a intervenção externa, sendo cada um inteiramente responsável por suas emoções e atos no decorrer desses encontros. Se buscarmos agir de acordo com nossa consciência e não apenas para agradar aos outros, respeitando com coerência e ética nossos conceitos e valores, certamente seríamos mais felizes, realizados e
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viveríamos em paz. Acredito que instigando os alunos a pensar sobre estas questões mais íntimas e da forma como elas atuam na interação desses indivíduos com o mundo, seja possível desenvolver neles a capacidade de observarem seus atos e opiniões prévias com um novo olhar, o que levará a uma produção plástica consciente e significativa além de um progresso e amadurecimento pessoal. Proporcionar tal liberdade nos leva por caminhos desconhecidos mas mesmo assim optei por correr esse risco. A grande maioria da turma escolheu por fazer e participar, mas houve também quem não foi assíduo e quem não realizou as tarefas. Um aluno em especial me chamou a atenção. Ele comentava que não teria tempo para realizar nenhuma pesquisa ou tarefa em casa e curiosamente também era resistente para realizá-las em sala de aula. Quando recebia material emprestado trabalhava quieto sem interagir com a turma e não concluía a tarefa na aula seguinte. Com isso acabou não confeccionando a máscara e ao ser questionado sobre sua postura respondia que não tinha tempo para estudar. Optei então por lembrá-lo de que ali era uma Escola e que por excelência era o local destinado para o estudo e ampliação de conhecimentos e habilidades, e que uma vez estando ali ele deveria aproveitar esse precioso tempo para trabalhar. Foi nesse momento que ele respondeu estar ali apenas para responder a chamada e que embora tivesse consciência sobre tudo o que eu havia dito, neste momento era isso que ele queria fazer. Confesso ter ficado “desarmada” e sem argumentos diante desse triste relato. Por isso, volto a comentar que proporcionar uma aula primando pela liberdade dos alunos tem dois lados, e a situação específica desse aluno (que pouco compareceu e nada produziu) despertou em mim um sentimento de fracasso enquanto educadora; mesmo tendo consciência de que essa foi uma escolha pessoal dele.]
E o que é filosofia? A primeira indicação vem da etimologia – o estudo da origem e da evolução das palavras. A expressão filosofia vem de uma associação dos termos gregos philia (amor, amizade) e sophia (sabedoria) e significa literalmente “amor pelo saber”. Não que o filósofo seja um sábio, com certezas e verdades absolutas, mas sim alguém que está constantemente à procura do conhecimento. Daí a ligação da arte com a filosofia, são as imagens da pintura, da poesia, da dança ou do cinema que às vezes guiam os conceitos, permitindo assim que se levantem questões para as quais não há respostas prontas, nos instigando a pensar. A parceria entre a filosofia e a arte faz com que seja possível analisar temas importantes e complexos da cultura e da existência. O que nos remete analisar as respostas dos alunos sobre o que é uma máscara, essa dimensão misteriosa ao redor de nós e em nós. Dentre as opções apresentadas, a quinta alternativa (“Mostra o verdadeiro eu”) foi a de maior escolha. Com isso surge uma inquietação sobre as razões motivadoras que levaram grande parte dos alunos a conceituar máscara como sendo um mecanismo utilizado pelas pessoas para mostrar o seu verdadeiro eu. Essa inquietação pode ser parcialmente saciada se partimos do pressuposto de que muitas vezes somos forçados pelo meio, ou pela própria cobrança interna que exercemos sobre nós mesmos, a representar um papel em nosso meio social e até na intimidade de nosso seio familiar. Esse fato deve-se a necessidade apresentada pelo ser humano de viver em sociedade e buscar constantemente a aprovação e o reconhecimento de seus semelhantes. Com isso, a máscara traria para seu usuário uma sensação de liberdade, sem que fosse necessário se mostrar abertamente e decepcionar aos demais. Sendo assim, a máscara pode ser considerada 65
um eficiente objeto para traduzir os verdadeiros sentimentos e desejos de alguém, sem que essa pessoa precise se expor e sofrer as consequências, nem sempre agradáveis, dessa exposição. Segundo Feitosa, A definição de verdade como adequação do discurso às coisas é antiga e remete a Aristóteles. Na Metafísica (Livro IX, 10), Aristóteles diz que um juízo é verdadeiro quando une, na proposição, o que está unido na realidade, ou separa, na proposição, o que está realmente separado. Uma coisa não é branca porque se afirma com verdade que é assim, mas se afirma com verdade que é assim, porque ela é branca. A verdade é, assim, a adequação ou a correspondência entre o juízo e as coisas. Essa definição pressupõe a crença em uma realidade estática e homogênea (FEITOSA, 2009, p.45).
Ou a realidade é única ou existem muitas realidades. Também pode-se considerar que a realidade é uma dimensão objetiva, concreta e absoluta, independente das interpretações humanas ou ainda do contexto histórico ou social em que se vive. Já o “relativismo” considera que não existe uma única realidade e sim, muitas. O homem faz interpretações e apresenta diferentes posturas conforme a relação histórica, espacial, cultural e social, enfim, torna-se tolerante a alteridade. A arte moderna e a contemporânea seguem a linha do relativismo, porque retratam as diversas possibilidades de ampliar e alterar nossas visões e interpretações do mundo, e consequentemente modificar nossas ações, métodos e objetivos. As perguntas “O que é arte para você?” e “O que é máscara?” tiveram por objetivo avaliar qual a opinião e o conhecimento de cada aluno referente ao tema abordado, podendo assim, ao final do projeto, verificar se houve ou não um crescimento e aprimoramento do aprendizado. Assim que todos escreveram suas respostas, foram encaminhados à sala de projeções para assistirem a apresentação formulada em PowerPoint sobre máscaras. Conforme planejado, antes da apresentação cada aluno foi instruído a pegar uma folha para anotar o que considerasse mais significativo nas imagens. Como introdução foi realizada breve abordagem sobre as máscaras sociais. Segundo Brecht: [...] essas podem ser definidas como as atitudes que precisamos assumir, nos diferentes espaços e situações da sociedade contemporânea. As relações de poder entre os personagens originam a sua máscara social. Esta máscara não precisa ser efetivamente um objeto para colocar no rosto, mas sim uma canção, uma palavra, uma atitude, ou até mesmo um acessório cênico (BRECHT, 2007).
Com base nestas abordagens, pretendo com esse trabalho instigar nos alunos a necessidade de adotarem uma postura articulada no tempo e no espaço, tomando consciência 66
do ser incompleto que se é e da importância da busca permanente de conhecimento e vivências que possam ampliar os conhecimentos já adquiridos; pois o mundo e o homem estão em constante interação. Ao iniciar a apresentação “As muitas máscaras que usamos”, os alunos foram relembrados para observarem as imagens com atenção a fim de se identificarem com algum elemento; podendo esse ser utilizado posteriormente na criação de sua própria máscara. Ao término da apresentação foram definidos com os alunos os materiais a serem utilizados na próxima aula, enfatizando-se sobre a importância na escolha desses materiais uma vez que o produto dessa atividade, ou seja, a máscara confeccionada será o elemento principal de um desfile oferecido à comunidade escolar, objetivando dar ênfase ao contexto teatral. Os alunos deverão também utilizar uma vestimenta, elaborada por eles que complemente sua máscara. Dos trinta alunos que compõem a turma, dez não compareceram na aula.
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3.5.3. Terceiro Encontro Aula 3 Data: 04/04/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivo: 1- Oportunizar aos alunos a confecção de máscaras de atadura gessada, utilizando como molde o próprio rosto; 2- Trabalhar a criatividade dos alunos exercitando suas sensibilidades.
Conteúdos: - Técnica da máscara gessada; - A história das máscaras através dos tempos.
Metodologia: - Aula expositiva, dialogada e prática.
Recursos: - Imagens de tipos diferentes de máscaras, touca plástica, vaselina líquida, atadura gessada, tesoura, água, bacia, sabonete, caixa de sapato e jornal.
Desenvolvimento: Primeiramente introduzir a proposta da aula explicando de maneira geral como cada aluno deverá proceder para confeccionar sua própria máscara apresentando, nesse momento, os materiais necessários para a realização da atividade. Em seguida, auxiliar individualmente cada um, de acordo com o grau de dificuldade apresentado. Conforme já informado, serão disponibilizadas seis aulas para a confecção das máscaras, considerando o 68
número de alunos matriculados. As atividades deverão ser finalizadas dez minutos antes do término da aula, a fim de que os alunos possam organizar a sala e guardar as máscaras confeccionadas. Para a confecção de uma máscara gessada, são necessários os seguintes passos: Primeiro: colocar uma touca plástica no cabelo para protegê-lo do gesso. Segundo: aplicar vaselina líquida no rosto para evitar a aderência da atadura ou até uma reação alérgica na pele. Terceiro: medir a distância de uma orelha a outra e recortar duas faixas de atadura gessada de acordo com a medida obtida. Destas faixas, recortar pedaços pequenos, para serem aplicados um a um no rosto. Quarto: em uma bacia com água, mergulham-se um a um os pedaços de atadura gessada, deixando-os bem encharcados. Quinto: a atadura deve ser alisada a cada pedaço e faz-se necessário aguardar alguns instantes até que a mesma demonstre estar parcialmente seca. Aplica-se então a segunda camada, seguindo o mesmo princípio. Sexto: assim que as duas camadas estiverem unificadas e se desprendendo do rosto, é chegado o momento de retirar a máscara. Sétimo: após a retirada, o aluno deve lavar seu rosto com água e sabonete. Oitavo: finalizado o processo, a máscara irá repousar para secagem completa em uma cama de jornal acomodada dentro de uma caixa.
Realizado Conforme planejamento realizado, a aula foi iniciada com a explanação dos passos a serem seguidos para a confecção das máscaras. Considerando o fato de que todos desejavam produzir suas máscaras de imediato, o que tornaria inviável o bom andamento da aula em virtude do número de alunos da turma, foi proposto um sorteio. Coube aos alunos formarem duplas e escreverem seus nomes em um papel. Em seguida, a professora realizou o sorteio de cinco duplas para iniciarem essa atividade, ficando as demais duplas para as aulas seguintes. As classes foram agrupadas em formato quadrangular, tornando possível a circulação e observação de todos em relação ao aluno que atuava como “modelo” na atividade de construção da máscara. Foi possível observar uma agitação exacerbada dos alunos nesse momento que antecedia a criação de sua própria máscara. Alguns manifestaram medo, outros euforia, contudo, percebeu-se que a maioria recebeu com empolgação a atividade proposta. Os dez alunos sorteados iniciaram sua criação. Enquanto cinco deles atuavam como modelos, suas duplas correspondentes assessoravam o trabalho. Passamos a vaselina líquida no rosto dos cinco alunos modelos e iniciamos a fixação dos pequenos pedaços de 69
atadura gessada molhada no rosto de cada um. Ao término da primeira camada, esperamos alguns instantes para uma prévia secagem, repetindo na sequencia a segunda e terceira camada. Ao concluir a secagem da última camada, a máscara se soltou naturalmente do rosto de cada aluno. Nesse momento aqueles que estavam assessorando guardaram as máscaras em caixas de papel enquanto os modelos lavaram os rostos. Cada aluno possui uma caixa identificada com seu nome. Essas caixas ficam guardadas na sala de Artes, tornando possível que as máscaras estejam à disposição para pintura e demais atividades. Alguns passos se colocam como desafios para a educação de jovens e adultos. Temos hoje uma diversidade de projetos, de propostas, de programas resultantes do rompimento com a padronização. Segundo Soares (2002), estamos em um período de transição entre o antigo ensino supletivo, marcado pelo aligeiramento do ensino, e uma nova concepção de educação expressa pelo direito e por uma educação de qualidade. É cada vez mais comum jovens e adultos reivindicando seus direitos. São três as funções estabelecidas para a EJA (2009): a função reparadora, que se refere ao ingresso no circuito dos direitos civis, pela restauração de um direito negado; a função equalizadora, que propõe garantir uma redistribuição e alocação em vista de mais igualdade de modo a proporcionar maiores oportunidades, de acesso e permanência na escola, aos que até então foram mais desfavorecidos. Por último, a função, por excelência da EJA, que é a função qualificadora, correspondente as necessidades de atualização e de aprendizagem contínuas, próprias da era em que nos encontramos. Porém, não houve o cuidado em fixar a idade mínima para o ingresso nos cursos de EJA. O fato de o ensino supletivo passar para educação de jovens e adultos faz com que, a cada dia, aumente o número de adolescentes freqüentando os cursos de EJA o que contribui para a desistência dos jovens e, principalmente, dos mais adultos, o que justifica as várias faltas na escola ocasionando por vezes a desistência permanente. [Quando o projeto de estágio foi criado e a proposta estabelecida parecia igualmente encantadora e desafiadora, onde a princípio todos os alunos iriam participar. Parecia que o alto índice de faltas existentes até então na disciplina estaria próximo a acabar. Imaginava-se que os métodos utilizados na disciplina estavam ultrapassados e que uma prática concreta, fundamentada com boa apresentação de imagens e a utilização de recursos visuais interessantes seria a combinação perfeita para atingir 100% do público em aula. Contudo toda essa expectativa estava equivocada. São diversas e bastante fortes as razões que levam as faltas na EJA, indo muito além das propostas apresentadas em aula. Esses alunos recebem forte influência do mundo externo, onde as preocupações e tarefas cotidianas pesam muito no momento de optar entre o descanso e aconchego do lar e a escola. Pude observar com essa experiência que as propostas em sala de aula, por mais prazerosas e informativas que sejam, correm sério risco de perderem a preferência quando competem com aspectos importantes da vida real, onde muitas vezes o cansaço físico e mental e as necessidades pessoais falam mais alto, muitas vezes afastando o aluno da EJA do ambiente escolar. Em contrapartida aqueles que conseguem superar suas dificuldades e desmotivações, aproveitam muito os momentos e as propostas oferecidas em sala de aula. Isso também foi
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identificado durante essa experiência de estágio e são estas constatações positivas que nos motivam a seguir adiante nessa difícil e gratificante tarefa de educador. Analisando o objetivo da EJA, o qual é atender alunos que por alguma razão acabaram interrompendo seus estudos no período usual, ou ainda que não tiveram a oportunidade de realizá-lo no período adequado; é possível compreender melhor os motivos que levam alguns alunos a não corresponderem as expectativas dos professores e deles próprios. Alguns estão na EJA por indisciplina e repetência e isso reforça o caráter excludente que essa modalidade de ensino apresenta, tanto na visão dos próprios alunos como na sociedade em geral. Sendo assim, temos um público eclético e singular e por isso a preocupação em elaborar atividades bastante atrativas a ponto de despertar no aluno o desejo pelo saber, sendo a escola como um local prazeroso para se estar e de certa forma recuperar o tempo perdido.]
Dos trinta alunos, seis não compareceram à aula. Conforme planejado, finalizou-se a atividade das máscaras dez minutos antes do término da aula, a fim de que os alunos pudessem organizar a sala, guardar as máscaras confeccionadas e, no caso daqueles que serviram como modelos, realizar sua higiene pessoal.
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3.5.4. Quarto Encontro Aula 4 Data: 11/04/2011 Duração: 50 min
Planejado
Objetivo: 1- Oportunizar aos alunos a confecção de máscaras de atadura gessada, utilizando como molde o próprio rosto; 2- Trabalhar a criatividade dos alunos exercitando suas sensibilidades.
Conteúdos: - Técnica da máscara gessada; - A história das máscaras através dos tempos.
Metodologia: - Aula expositiva, dialogada e prática.
Recursos: - Imagens de tipos diferentes de máscaras, touca plástica, vaselina líquida, atadura gessada, tesoura, água, bacia, sabonete, caixa de sapato e jornal.
Desenvolvimento: Primeiramente introduzir a proposta da aula explicando de maneira geral como cada aluno deverá proceder para confeccionar sua própria máscara apresentando, nesse momento, os materiais necessários para a realização da atividade. Em seguida, auxiliar individualmente cada um, de acordo com o grau de dificuldade apresentado. Na última aula 72
foi realizado um sorteio e cinco duplas foram escolhidas, sendo assim nessa aula os alunos já sabem quem irá fazer as máscaras. Pois os alunos que fizeram as máscaras na aula passada irão ser os modelos dessa aula. Antes de iniciar a confecção realizar o sorteio das próximas cinco duplas, totalizando até o final dessa aula dez máscaras já confeccionadas. O processo será o mesmo utilizado na aula 3. Primeiro: colocar uma touca plástica no cabelo para protegê-lo do gesso. Segundo: aplicar vaselina líquida no rosto para evitar a aderência da atadura ou até uma reação alérgica na pele. Terceiro: medir a distância de uma orelha a outra e recortar duas faixas de atadura gessada, de acordo com a medida obtida. Destas faixas, recortar pedaços pequenos, para serem aplicados no rosto um a um. Quarto: em uma bacia com água, mergulham-se um a um os pedaços de atadura gessada, deixando-os bem encharcados. Quinto: a atadura deverá ser alisada a cada pedaço e faz-se necessário aguardar alguns instantes até que a mesma demonstre estar parcialmente seca. Aplicar a segunda camada, seguindo o mesmo princípio. Sexto: assim que as duas camadas estiverem unificadas e se desprendendo do rosto é que se faz a retirada da máscara. Sétimo: após a retirada, o aluno deve dirigir-se ao banheiro para lavar seu rosto com sabonete. Oitavo: finalizado o processo, a máscara irá repousar para secagem completa em uma cama de jornal acomodada dentro de uma caixa.
Realizado Conforme planejamento realizado, a aula foi iniciada com a explanação dos passos a serem seguidos na confecção das máscaras. As classes foram agrupadas em forma de um quadrado, tornando possível a circulação de todos para observarem o aluno atuante de modelo para a confecção da máscara.
Antes de iniciar, os alunos novamente ficaram
ansiosos, mas assim que as primeiras ataduras são colocadas no rosto o inserto abre espaço a um momento de recolhimento, tranqüilidade e reflexão; oportunizando aos alunos uma experiência nova, bastante diferente das vivenciadas em seu cotidiano. [Foi interessante e animador observar os alunos durante essa atividade. Eram adultos agindo com o entusiasmo e a alegria de uma criança. O processo de confecção das máscaras foi a experiência mais descontraída de todo o projeto. Durante essa atividade os alunos conseguiram transpor as barreiras comportamentais determinadas por suas “máscaras sociais”, e se entregaram ao prazer e a liberdade de criação. Percebia-se através de seus comportamentos e feições uma descontração espontânea e contagiante, deixando claro de que naquele momento nenhuma preocupação ameaçava sua total entrega aos benefícios daquela experiência inédita. Uma das alunas mais
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animadas confessou que a muito tempo não se divertia tanto. Outro aluno comentou que gostaria de realizar essa atividade com seu filho, pois além de divertido seria uma oportunidade de estar mais presente na vida do menino. Com esse depoimento observa-se que através de uma simples atividade manual (Creio que a atividade de recortar uma atadura, molhá-la e colocá-la no rosto até cobrir toda a área desejada, seguida da espera necessária para que se finalize sua secagem, seja sim uma atividade manual simples. Porém, não perdendo com essa simplicidade o caráter prazeroso e até terapêutico.) podem surgir diversos aspectos emocionais que são ocultados e até mesmo desconsiderados na correria diária da vida agitada que levamos atualmente. Através dessa vivência foi possível constatar o quanto todos necessitamos de momentos descontraídos onde seja possível manifestar nossa criatividade e liberdade de ação, aliviando com isso as tensões e preocupações que permeiam nosso cotidiano. Tais necessidades acaba nos tornando bastante semelhantes, uma vez que todos possuímos sonhos e fragilidades ao longo da vida e o que constrói a individualidade de cada um é a forma como encaramos os desafios e quais as escolhas que tomamos perante eles. Sem dúvidas por mais que essa proposta tenha exigido dedicação e empenho, e que sempre existe uma inquietação a respeito de como será a aceitação da turma, perceber a alegria e o envolvimento dessas pessoas durante este processo de confecção das máscaras traz a certeza de que esse esforço valeu a pena, pois independente das dificuldades existentes foi possível atingir a turma como um todo, o que segundo alguns relatos auxiliou bastante para reduzir as tensões e preocupações naquele dia. Embora esse processo tenha sido o mais agradável para os alunos, pessoalmente considero o mais cansativo por ter exigido de mim um envolvimento bastante grande no que se refere a compra do material para a confecção das máscaras (cabe salientar que os alunos custearam a aquisição das ataduras gessadas), a organização da sala e o processo de secagem. O estresse e o cansaço realmente me levaram a um esgotamento físico e emocional considerável, e com isso prometi a mim mesma que tão cedo não voltarei a realizar prática semelhante. A diplomacia necessária para que tudo transcorra de maneira adequada é exaustiva. Por várias vezes me desestruturei e cheguei a chorar de tanto o nervosismo. Muitos foram os momentos de cansaço e aflição, mas estava exigindo dos alunos uma postura comprometida objetivando a perfeição, então desanimar e desistir era um luxo ao qual não deveria ter acesso naquele momento. Tal exigência interna talvez se deva ao fato de que na condição de concluinte do curso, julgava ser fundamental a apresentação de aulas fantásticas e inesquecíveis.]
Podemos fazer aqui uma analogia entre esse momento de reflexão com a colocação de alguns teóricos. Segundo Santos (2004) o mundo do tempo real, do just-in-time, busca uma racionalidade única, uma homogeneização empobrecedora e limitada, enquanto o mundo cotidiano abriga uma produção ilimitada de racionalidades, abrange várias temporalidades simultaneamente presentes, sendo o seu universo caracterizado por uma heterogeneidade criadora. De modo similar, Martins (2008) propõe que se busquem nos meandros do cotidiano os enigmas que apontem as saídas para uma ação transformadora, que se contraponha o ceticismo ao “desencanto de um futuro improvável de uma História bloqueada pelo capital e pelo poder” (p.51). Para o autor, o pequeno mundo de todos os dias é, também, “o tempo e o lugar da eficácia das vontades individuais, daquilo que faz a força da sociedade civil, dos movimentos sociais” (p.52). Pensando a relação entre o cotidiano e a temporalidade, Guarinello (2004), propõe que o cotidiano tem dois sentidos temporais complementares, englobando o repetitivo e o transformador, o duradouro e o instantâneo, o banal e o excepcional. O cotidiano não se reduz a uma esfera da vida, constituindo-se como um tempo, um presente, “como uma ponte que 74
liga passado e futuro” (p. 25-26), compreendendo em uma só unidade “a tensão entre a ordem e o movimento, entre a estrutura e a ação” (p. 25-26). Para o autor, o presente associado ao cotidiano não consiste em mera repetição do passado, mas em “um campo de restrições e possibilidades em aberto para projetos alternativos de futuro” (p.25-26). A professora monitorou todos os passos da confecção das máscaras. Passamos a vaselina líquida no rosto de todos e depois iniciamos a fixação dos pequenos pedaços de atadura gessada molhada no rosto de cada um. Ao término da primeira camada, esperamos alguns instantes para uma prévia secagem e repetimos a segunda camada. Ao concluir a secagem desta última camada, a máscara se soltou naturalmente do rosto de cada aluno. Nesse momento aqueles que estavam assessorando guardaram as máscaras em caixas de papel enquanto os modelos lavaram os rostos. Cada aluno possui uma caixa etiquetada com seu nome. Essas caixas ficam guardadas na sala de artes, tornando possível que as máscaras estejam à disposição para pintura e demais atividades. Conforme planejado, a atividade das máscaras foi finalizada dez minutos antes do término da aula, a fim de que os alunos pudessem organizar a sala, guardar as máscaras confeccionadas e lavar seus rostos. Dos trinta alunos, dez não compareceram à aula. Como forma de preservar a identidade de cada aluno, serão utilizados para sua identificação pseudônimos com nomes de temperos e condimentos na análise dos trabalhos. Esta escolha deve-se ao fato dessas especiarias realçarem o sabor dos alimentos proporcionando, muitas vezes, o surgimento de um novo sabor e aspecto para o prato no qual estão sendo utilizados. Suas cores vivas e marcantes tornam-se bastante condizentes com as possibilidades a serem apresentadas nas produções dos alunos. Podemos brincar um pouco fazendo uma analogia do resultado desses temperos e condimentos com a proposta desenvolvida nesse trabalho, é como se eles tivessem o poder de alterar, modificar e por que não dizer transformar a comida; assim como pode ocorrer quando utilizamos uma máscara. Imagens da confecção de algumas máscaras:
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Aluna Canela (Birck, 2011)
Aluna Sรกlvia (Birck, 2011)
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3.5.5. Quinto Encontro Aula 5 Data: 18/04/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivo: 1- Oportunizar aos alunos a confecção de máscaras de atadura gessada, utilizando como molde o próprio rosto; 2- Trabalhar a criatividade dos alunos exercitando suas sensibilidades.
Conteúdos: - Técnica da máscara gessada; - A história das máscaras através dos tempos.
Metodologia: - Aula expositiva, dialogada e prática.
Recursos: - Imagens de tipos diferentes de máscaras, touca plástica, vaselina líquida, atadura gessada, tesoura, água, bacia, sabonete, caixa de sapato e jornal.
Desenvolvimento: Iniciar a aula com o sorteio de cinco duplas, totalizando até o final dessa aula quinze máscaras já confeccionadas. O processo será o mesmo utilizado nas aulas 3 e 4. Primeiro: colocar uma touca plástica no cabelo para protegê-lo do gesso. Segundo: aplicar vaselina líquida no rosto para evitar a aderência da atadura ou até uma reação alérgica na pele. Terceiro: medir a distância de uma orelha a outra e recortar duas faixas de atadura gessada, de 77
acordo com a medida obtida. Destas faixas, recortar pedaços pequenos, para serem aplicados um a um no rosto. Quarto: em uma bacia com água, mergulham-se um a um os pedaços de atadura gessada, deixando-os bem encharcados. Quinto: a atadura deverá ser alisada a cada pedaço e faz-se necessário aguardar alguns instantes até que a mesma demonstre estar parcialmente seca. Aplicar a segunda camada, seguindo o mesmo princípio. Sexto: assim que as duas camadas estiverem unificadas e se desprendendo do rosto é que se faz a retirada da máscara. Sétimo: após a retirada, o aluno deve dirigir-se ao banheiro para lavar seu rosto com sabonete. Oitavo: finalizado o processo, a máscara irá repousar para secagem completa em uma cama de jornal acomodada dentro de uma caixa.
Realizado Conforme planejamento realizado, a aula foi iniciada com a explanação dos passos a serem seguidos na confecção das máscaras de mais cinco duplas. Os alunos foram encaminhados para o Laboratório de Ciências, onde a existência de uma pia com água e bancadas altas irão facilitar o trabalho a ser realizado, tornando possível a observação de todos os alunos modelos na confecção das máscaras. Antes de iniciar o trabalho, os alunos que já haviam passado pelo processo de confecção acalmaram os estreantes com alguns relatos das sensações experimentadas. A professora monitorou de perto cada etapa. Passamos a vaselina líquida no rosto de todos e depois iniciamos a fixação dos pequenos pedaços de atadura gessada molhada no rosto de cada um. Ao término da primeira camada, esperamos alguns instantes para uma prévia secagem e repetimos a segunda camada. Ao concluir a secagem desta última camada, a máscara se soltou naturalmente do rosto de cada aluno. Nesse momento aqueles que estavam assessorando guardaram as máscaras em caixas de papel enquanto os modelos lavaram os rostos. Vale salientar que na última aula uma das alunas optou por fazer apenas meia máscara, ou seja, do nariz para cima, objetivando prevenir uma possível crise de rinite alérgica. O fato agradou a todos e a partir dessa aula as demais máscaras confeccionadas seguiram o mesmo padrão (meia máscara). Apesar de a técnica ser a mesma para todos os alunos, o interessante é a diversidade no produto final; onde teremos máscaras inteiras com boca fechada e boca aberta e meia máscara. Devido a um problema alérgico (alergia de contato a pós e aromas), apenas uma aluna irá confeccionar sua máscara com materiais 78
alternativos (papelão, tecido, fita, etc). Apesar das faltas existentes, o grupo ainda se mostra interessado e já questiona quando poderão pintar suas máscaras, demonstrando ansiedade e comprometimento na finalização da atividade. Trabalhar com a EJA é, sem dúvida alguma, uma experiência ímpar e de grande satisfação. Além da constante troca de conhecimento e da facilidade em desenvolver as propostas em virtude da maturidade da turma, os alunos também contribuem para o aprendizado do professor através de suas experiências de vida. [No instante em que abro espaço ao meu aluno para ele debater a realidade que ele vivencia, possibilitando a ele uma compreensão crítica de sua situação (trabalhador-estudante) tornando-se assim uma pessoa que saiba se relacionar com outros e que consiga participar de forma ativa e cooperativa na sociedade, procurando transformá-la, torna-se impossível não aprender com esse aluno, porque ocorre uma troca de conhecimentos e vivências.]
É importante destacar que o sistema público de ensino brasileiro nunca observou um movimento de expansão visando a melhoria das condições de acesso da população à educação. O objetivo da ampliação dos cursos noturnos na sociedade brasileira é fornecer operários qualificados ao sistema industrial. A realidade do ensino noturno apresenta uma série de diferenças em relação ao ensino diurno. Os alunos, em grande parte, chegam à escola após uma longa jornada de trabalho, na maioria das vezes, cumprida em localidades extremamente distantes da escola ou de suas residências. Como é o caso de quatro alunas que saem pela manhã de suas casas e retornam a meia noite. Para essas alunas após o encerramento da aula às 22h30min, faz-se necessário o deslocamento de ônibus até suas residências, o que leva em torno de 1h30min. As quatro alunas têm filhos pequenos que ficam sob os cuidados de parentes ou amigos. Analisando suas realidades faz-se necessário um trabalho diferenciado a fim de impedir a exclusão social e o fracasso escolar, experiência essa já vivenciada por esses alunos no ensino tradicional. Mediante essa realidade, é fundamental compreender que o aluno matriculado nessa modalidade de ensino visa à obtenção de conhecimentos e de ascensão social, profissional, cultural e econômica. Como afirma Vigotski, (apud REGO, 1999), nossas características humanas são dadas pela interação com o meio físico e sociocultural. Assim, desde o momento em que nascemos, estamos aprendendo e nos inserindo em uma cultura. Isso quer dizer que, mesmo antes de ingressar na escola, onde recebemos a instrução formal, já possuímos uma série de conhecimentos. Os alunos não são tábulas rasas, em que o professor depositará todo o 79
conhecimento acumulado pela humanidade ao longo dos tempos. Nossos alunos já trazem consigo uma gama de saberes que, mesmo sendo informais, são significativos na realidade em que vivem. Considerando essa linha de raciocínio e desde que haja interesse por parte da escola e do corpo docente, torna-se viável oportunizar um ensino que caminhe de forma paralela a realidade desses alunos, objetivando melhores resultados no processo ensinoaprendizagem e no que se refere à inclusão desses alunos na vida escolar e no mundo social. O objetivo das aulas de artes é fazer com que o aluno compreenda de uma forma agradável que os movimentos criadores e criativos do ser humano oportunizam o encontro consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Com isso é possível desenvolver essa capacidade criadora a todo instante e a todo o momento com algo que lhe é natural, espontâneo, infinito. Dos trinta alunos apenas quatro não compareceram. Segue sequência de imagens da confecção da máscara do aluno Alecrim:
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Mรกscara do aluno Alecrim (Birck, 2011)
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3.5.6. Sexto Encontro Aula 6 Data: 25/04/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivo: 1- Apresentar aos alunos o filme “Máscara da Ilusão” Direção de Dave McKean.
Conteúdos: - Surrealismo; - Cinema.
Metodologia: - Aula expositiva e dialogada.
Recursos: - Projetor multimídia, computador e cd. FICHA TÉCNICA do filme Máscara da Ilusão: Diretor: Dave McKean Elenco: Stephanie Leonidas, Gina McKee, Rob Brydon, Jason Barry, Dora Bryan, Robert Llewellyn, Andy Hamilton, Stephen Fry. Produção: Simon Moorhead Roteiro: Neil Gaiman, Dave McKean Fotografia: Tony Shearn Trilha Sonora:IainBallamy Duração: 101 min. Ano: 2005 País: Reino Unido/ EUA Gênero: Ficção Científica Cor: Colorido Distribuidora: Não definida Estúdio: Jim Henson Productions / Destination Films 82
Desenvolvimento: Os alunos serão convidados a se dirigirem até a sala de projeções para assistirem o filme “Máscara da Ilusão” (Direção de Dave McKean/2005). Nesse filme pode-se observar o nível de evolução e aprimoramento dos efeitos tecnológicos, uma vez que por mais absurdos e extraordinários que pareçam seus personagens e os universos por eles habitados, somos perfeitamente capazes de crer que os atores estão em contato com eles. Uma das grandes “jogadas” de “Máscara da Ilusão” é que o filme se beneficia da imaginação do diretor Dave McKean e do co-roteirista Neil Gaiman para contar uma história que se passa em uma espécie de sonho. A protagonista é Helena (Leonidas), uma adolescente filha de artistas circenses, que se encontra na típica fase das incertezas e que necessita conquistar sua independência, não desejando mais seguir as ordens de seus pais. Quando sua mãe (McKee) adoece e precisa ser internada subitamente, Helena sente-se culpada por ter discutido com ela no dia anterior. Na noite em que sua mãe é submetida a uma delicada cirurgia, a jovem é misteriosamente transportada para um estranho mundo, que perdeu o equilíbrio entre seus reinos após a misteriosa fuga da princesa da Escuridão. Cabe a Helena, calçada com suas pantufas de coelho (uma clara alusão a “Alice no País das Maravilhas”), a missão de encontrar a chave que trará a paz de volta ao lugar. McKean fez com que os ambientes assumissem uma arquitetura surrealista e etérea, geometricamente exagerada, o que também se refletiu nos personagens. Para conceber algumas das criaturas, ele chegou até mesmo a tomar emprestado o estilo de animação pythonesca1 criada por Terry Gilliam, formando seus corpos com recortes e usando uma parte do rosto humano em suas faces. O roteiro de McKean e Gaiman se aproveita dessas possibilidades para nos apresentar a situações criativas, como a cena em que Helena aprende que deve xingar um livro para que ele se sinta inútil e volte voando para a biblioteca, transformando-se assim em um prático meio de transporte; ou a forma encontrada pela Rainha da Escuridão para ver tudo o que acontece no reino. Há ainda um idílico número musical, com a canção “Close to You”, que é ao mesmo tempo belo e assustador. “Máscara da Ilusão” é uma viagem fascinante por um mundo que há muito tempo não se via criado em um filme. É também uma combinação perfeita entre apreço artístico e um conto de fadas capaz de agradar a crianças e adultos. 1
Alusão a Monty Python, grupo cômico inglês.
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Realizado Conforme planejado os alunos foram encaminhados para a sala do vídeo a fim de assistirem o filme “Máscara da Ilusão”. Antes de iniciar o filme foi comentado sobre a ligação das imagens com o Surrealismo e orientado sobre a observação atenta das máscaras e trajes que iriam aparecer no filme, pois isso poderia servir de inspiração para o momento em que eles próprios terão que caracterizar suas próprias máscaras e criar seus trajes para o fechamento das aulas. Como a duração do filme é de 101 minutos e o período de artes é de 50 minutos a professora de Língua Portuguesa gentilmente cedeu uma de suas aulas para que os alunos pudessem assistir o filme por completo. Os alunos se mostraram interessados durante o filme e comentaram que de certa forma se identificaram com a história. Por se tratar de uma turma com vários adolescentes, dois citaram que o desejo de Helena (Stephanie Leônidas) de fugir do circo e viver uma vida comum, já havia sido uma vontade particular; objetivando fugir de suas realidades e iniciarem uma nova jornada rumo ao desconhecido. Outros citaram a beleza e a criatividade com que o filme foi apresentado e que Dark Lands é um lugar fantástico com seus gigantes, pássarosmacaco e esfinges perigosas. O que causou surpresa foi o fato de uma aluna que até então não havia participado ativamente das aulas e se mostrava indiferente, comentar que ela própria vive uma história parecida com a da protagonista. No filme, Helena está à procura da Máscara da Ilusão, um objeto extremamente poderoso que seria sua única esperança de escapar de Dark Lands; e a aluna comentou que apesar de jovem também se sente a procura de algo que um dia irá libertá-la do mundo ao qual se encontra aprisionada.
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Capa do filme Máscara da Ilusão (Santiago, 2010)
Com base nesses relatos concluí que o filme apesar de possuir uma história bem simples e de deixar espaço para um visual impressionante, foi produtivo e que a passagem da infância para a vida adulta nos desafia e mexe de uma forma diferente com cada um. No filme todos usam máscaras ao invés de rostos o que se parece muito com nossa realidade, porém as “máscaras” que usamos no cotidiano são disfarçadas por nós mesmos. Os livros rejeitados encontram um jeito original de voltar à biblioteca, mas o que parece ser apenas um sonho mostra-se uma jornada que mudará a protagonista para sempre. E assim acontece em nossas vidas, por vezes fatos que parecem insignificantes e fúteis para alguns acabam mudando vidas para sempre. O ideal seria destinarmos algum tempo no dia-a-dia para nos conhecermos melhor, anotando idéias e sensações a fim de esclarecermos para nós mesmos o porquê de sentimentos desconexos, emoções variáveis e ações contraditórias, visto que tal conhecimento nos auxiliaria a viver de forma mais serena e previsível. Segundo Hammed (1997), é preciso que os homens aprendam “que não vale a pena representar inúmeros papéis, como se a vida fosse um grande teatro”. É preciso retirar as máscaras, que a princípio dão certo conforto e segurança, mas que na verdade aprisionam por entre grilhões e opressões e acima de tudo ter consciência de seu papel perante o Universo. Imagens do filme:
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Cena do filme Máscara da Ilusão (Santiago, 2010)
Cena do filme Máscara da Ilusão (Santiago, 2010)
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Cena do filme Máscara da Ilusão (Santiago, 2010)
O visual do filme é impressionante, tanto os elementos usados (sobretudo gatos e máscaras), quanto à fotografia, acentuando as cores de modo que pareça um filme de época ou algo extraído direto de sonhos. Enquanto a história se passa no estranho mundo onírico, a imagem sempre dá impressão de falta de nitidez (mas sem prejudicar o visual), como se uma névoa fraca, mas constante, cobrisse nossos olhos. Exatamente como nos nossos sonhos.
Cena do filme Máscara da Ilusão (Santiago, 2010)
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Cena do filme Máscara da Ilusão (Santiago, 2010)
Cena do filme Máscara da Ilusão (Santiago, 2010)
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3.5.7. Sétimo Encontro Aula 7 Data: 02/05/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivo: 1- Desenhar uma máscara com base no filme “Máscara da Ilusão”. Direção de Dave McKean.
Conteúdos: - Surrealismo; - Máscara.
Metodologia: - Aula expositiva, dialogada e prática.
Recursos: - Folha A4, revista, papel crepom, papel laminado dourado, fita K7, serragem colorida, lã, lixa, casca de ovo, farelo de lápis, giz de cera, lápis de cor, cola, condimentos, temperos e imagens do Movimento Surrealista nas obras de Salvador Dalí e Marc Chagall.
Desenvolvimento: Será solicitado aos alunos que façam o desenho de um rosto representando uma máscara, tendo como ponto de partida as imagens do filme “Máscara da Ilusão” (Direção de Dave McKean/2005). Considerando que o filme apresenta em sua maioria imagens surreais, essa abordagem será instigada nos alunos, através da exploração do sonho e do irreal. Antes de iniciar a atividade, serão apresentadas aos alunos algumas imagens relacionadas ao Movimento Surrealista de Salvador Dalí e Marc Chagall trazendo para eles 89
além das imagens um breve relato da história desse movimento, tais como sua origem na França, que foi um movimento da literatura e das artes plásticas e que a obra de arte para os surrealistas não resulta de pensamentos racionais e lógicos e sim do resultado de pensamentos absurdos e ilógicos, como as imagens dos sonhos; daí a ligação desse movimento com o filme “Máscara da Ilusão”. Tanto no movimento surrealista quanto no filme os fatos relacionados com a realidade estão associados a elementos inexistentes na natureza, criando assim, conjuntos irreais. Na seqüência seguem as imagens de Salvador Dalí e Marc Chagall com suas respectivas leituras, as quais serão apresentadas aos alunos.
Salvador Dalí – O sono, 1937. (Arte, 2010)
Na imagem acima o pintor representa o sono como uma cabeça que lembra um enorme lençol, apoiada em muletas. No conjunto da tela há representações da realidade – casa, cachorro, figura humana feminina, barco – em um espaço indefinido. Considerando a ausência de lógica, a cena lembra imagens de um sonho.
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Marc Chagall – Por sobre a cidade, 1915. (Victorino, 2010)
Na tela de Chagall reconhecemos perfeitamente tudo o que está sendo apresentado, o aspecto fantasioso está no casal que voa sobre a cidadezinha. Após desenharem o contorno do rosto de formato livre, os alunos deverão colar os olhos, a boca e o nariz recortados de revistas. Em seguida pintar e representar uma máscara social, buscando uma ligação com suas experiências e sentimentos pessoais. Para isso poderão utilizar sucatas diversas (disponibilizadas pela professora) e no acabamento final agregar um aroma utilizando temperos e/ou condimentos (trazidos de casa pelo próprio aluno).
Realizado Conforme planejado, a aula foi iniciada com a explanação dos passos a serem seguidos na confecção do desenho de contorno de um rosto com base nas imagens do filme “Máscara da Ilusão” e nele acrescentar suas próprias experiências e impressões, representando as mais variadas máscaras sociais que utilizamos na atualidade. Para isso os alunos disponibilizaram de sucatas, condimentos e temperos. Objetivando enriquecer ainda mais o trabalho e proporcionar aos alunos um maior entendimento sobre o tema chave dessa atividade, foi realizado pela professora um breve comentário sobre a relação entre o comportamento humano que é constantemente alterado de 91
acordo com o conhecimento prévio de cada um. As percepções individuais e os estímulos recebidos do meio; podem muitas vezes ser imprevisíveis de acordo com o “estado de espírito”, o humor e até mesmo a ausência de pensamento lógico. Partindo dessa linha de raciocínio, é possível fazer uma analogia com o surrealismo que também pode ser considerado um movimento meio sem foco definido, sem direção pré-determinada, sem a exigência de seguir regras ou padrões pré-estabelecidos. Assim como no surrealismo o comportamento humano também não é determinado mecanicamente pelo seu suporte biológico ou geográfico e não há entre os humanos uma forma única de pensar e agir. Logo após essa breve explanação foram apresentadas aos alunos as imagens do Surrealismo, através das obras de Salvador Dalí e Marc Chagall. Alguns alunos comentaram que os artistas foram extremamente criativos e que conseguiram de forma ímpar representar o sonho e o irreal. Chamaram atenção para a capacidade que o ser humano tem de reinventar a forma de olhar o mundo e vivenciar certos fatos. Com isso torna-se pertinente citar o antropólogo Laplantine (1987, p.22), em sua obra Aprender antropologia, na qual sustenta que “o que caracteriza a unidade do homem é a sua aptidão praticamente infinita para inventar modos de vida e formas de organização social extremamente diversos”. O autor afirma ainda que Aquilo que os seres humanos têm em comum é sua capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar costumes, línguas, modos de conhecimento, instituições, jogos profundamente diversos; pois se há algo de natural nessa espécie particular que é a espécie humana, é sua aptidão à variação cultural (1987, p.22).
Sendo assim o surrealismo existente no filme está também inserido no cotidiano dos homens de uma forma menos aparente, ou seja, temos no inconsciente oprimido pelas regras da sociedade o objetivo do movimento surrealista que é transcender as barreiras e expressar o verdadeiro processo do pensamento, liberto do exercício da razão e de qualquer finalidade estética ou moral. Contudo não podemos esquecer que a moral, a ética e a bioética fazem parte da conduta humana constantemente no que diz respeito ao viver bem e que a consciência é o que nos distingue de todos os outros seres vivos. É a consciência que determina a identidade individual e, posteriormente, a social. É o sentimento de identidade, que engloba os estados corporais e mentais articulados entre o passado, presente e futuro. [Nessa aula percebi que embora os alunos apresentassem boa noção sobre Arte, desconheciam os movimentos artísticos no que se referem a suas características, finalidades e seus principais artistas. Confesso ter sido um desejo pessoal realizar com esses alunos um trabalho de pesquisa objetivando preencher essa lacuna e enriquecer ainda mais as aulas do estágio. Contudo, o fator
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tempo foi um limitador e infelizmente não se tornou possível esta prática. O fato é que o Surrealismo encantou os alunos e certamente poderia ter sido abordado de forma mais aprofundada e participativa, com a leitura de outras imagens e a apresentação de outros artistas. Consegui perceber que a sensação do grupo foi de que uma nova janela se abria diante de seus olhos, levando muitos a um processo de identificação com a liberdade e o leque de possibilidades transmitido por esse movimento artístico. O relato de um aluno descreve perfeitamente esse sentimento observado na turma. Segundo ele foi possível perceber que no Surrealismo não existiam regras, muito menos certo e errado e que isso o permitia experimentar na íntegra a verdadeira liberdade de expressão, tanto expressão artística como de sentimentos e conceitos mais íntimos. Salientou ainda que tal sensação é pouco vivenciada no convívio social, onde muitas vezes somos forçados a seguir um padrão incapaz de nos representar de maneira adequada e coerente. Realmente foi lamentável não ter conseguido aprofundar esse estudo, mas fico feliz pela oportunidade obtida de apresentar a eles um conhecimento novo, motivando-os a buscar mais informações a respeito desse assunto, de acordo com a disponibilidade e interesse de cada um. O filme exibido na aula 6 se encaixou bem na proposta, tendo sido positivamente comentado por vários alunos recebendo inclusive diversos elogios. Nenhuma crítica se fez presente, sendo que a proposta da heroína foi recebida com normalidade e mesmo o fato de ser um pouco longo e até mesmo cansativo também passou despercebido. Mediante tal comportamento da turma, ficam algumas dúvidas que gostaria de manifestar: será que os alunos não compreenderam nada (o que me faz pensar que não soube passar bem a proposta de reflexão) ou eles optaram por agradar a professora, passando a dizer o que eu gostaria de ouvir? Outro aspecto a ser analisado é correspondente ao movimento surrealista que, na minha opinião, não foi bem trabalhado com a turma. Culpo-me inclusive por isso; e analisando como os fatos ocorreram e na condição de concluinte do curso, considero lamentável ter ficado essa lacuna.]
Ao término da aula alguns trabalhos haviam sido concluídos e acabaram inspirando os demais alunos na busca de materiais e novas ideias para prosseguirem com suas criações na próxima aula. Esses primeiros trabalhos apresentados foram bastante comentados e apreciados pelos alunos.
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Trabalho do aluno Pimenta (Birck, 2011)
O desenho aqui analisado foi feito com base no filme “Máscara da Ilusão”, nas imagens do movimento surrealista e nas experiências e impressões do aluno. A imagem está centralizada onde mostra a preocupação com o espaço, e as formas resultantes são curvas e côncavas. Apresenta certa proporcionalidade e registra o que julga ser correto, ou seja, seguindo o solicitado pela professora o aluno criou um rosto com colagens de sucatas apresentando sobreposições nos itens básicos sem muita preocupação com o acabamento. A estampa e a cor do tecido utilizado como pano de fundo, destacam o desenho retratando o volume do rosto bem como o material de textura circular que representa a barba, a qual transmite a sensação de claro-escuro. Apesar das margens não estarem bem delineadas e fechadas, é possível reconhecer o desenho pela proximidade das colagens. Para Piaget (1982), “o desenho é uma representação, isto é, ele supõe a construção de uma imagem bem distinta da percepção”, pois, ao representar uma imagem bidimensional, crê-se que o desenho seja mais complexo que a imagem interiorizada do objeto. Então, a imagem mental não seria mais a imagem inicial do objeto quando este for representado 94
através da linguagem gráfica, pois o aluno também usará a interpretação em sua representação.
Trabalho do aluno Cravo (Birck, 2011)
O ato de desenhar é um jogo acrescido de muitas regras relacionadas ao olho, ao cérebro, à mão, ao instrumento, ao gesto e ao traço; desenvolvendo o aspecto operacional e o imaginário. A operacionalidade envolve o funcionamento físico, temporal, espacial, as regras; o imaginário envolve o projetar, o pensar, o idealizar, o imaginar situações. Nesse trabalho o aluno se valeu com abundância do imaginário. Conforme relato, seu exercício partiu das imagens relacionadas com o filme e o movimento surrealista, buscando retratar o fato de mesmo possuindo dois olhos, por vezes enxergamos o mundo com um só olho apenas; e que por essa razão sua máscara possuía apenas um olho. Como forma de protesto e também objetivando chamar a atenção dos colegas, esse mesmo aluno procurou representar um rosto masculino contrapondo o fato desse rosto apresentar lábios pintados. Com isso, ele buscou retratar a questão da diversidade cultural e social, presente naturalmente 95
em nosso dia-a-dia. Nos cantos inferiores do trabalho o aluno desenhou o símbolo yin-yang como forma de concluir sua mensagem que, segundo ele, chama a atenção para o equilíbrio que devemos ter diante das várias situações apresentadas a nós na vida cotidiana. Segundo Kandinsky (2000), a linha é resultante do deslocamento de um ponto e vai concretizar-se em direções e extensões. Assim, ela leva a ideia de movimento. Nesse trabalho as linhas finas e grossas se articulam expressivamente delimitando a forma do rosto. Os elementos utilizados e as cores escolhidas também chamam a atenção. No olho a cor verde (considerada uma cor fria), no nariz um tom de laranja (considerada uma cor quente), nos lábios algo que remete ao arco-íris (multicolorido) e como pano de fundo, dourado. Essa combinação produziu um equilíbrio no produto final que só foi possível através da proximidade das cores. Em outras palavras, notamos sensivelmente que: [...] o valor exato da cor dependerá do conjunto em que é vista. Dependerá, portanto, sempre de um contexto colorístico... Quando entra em combinação com outras cores (quer seja com tonalidades da mesma gama ou até com um fundo branco), cada cor recebe, dessa combinação determinadas funções espaciais, sendo redefinida a cada nova relação. Quer dizer, de acordo com as relações colorísticas, a mesma cor pode definir o espaço de maneiras diferentes (OSTROWER, 1983, p.235).
Conclui-se com essa proposta sobre a importância em proporcionar aos alunos atividades práticas, nas quais eles possam se expressar e se comunicar livremente. Com esse exercício, torna-se possível o autoconhecimento e a possibilidade de fazer uma autoanálise sobre os pontos positivos e os que precisam ser melhorados dentro de sua forma de agir e interagir com o mundo.
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3.5.8. Oitavo Encontro Aula 8 Data: 09/05/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivo: 1- Desenhar uma máscara com base no filme “Máscara da Ilusão”. Direção de Dave McKean.
Conteúdos: - Surrealismo; - Máscara.
Metodologia: - Aula expositiva, dialogada e prática.
Recursos: - Folha A4, revista, papel crepom, papel laminado dourado, fita K7, serragem colorida, lã, lixa, casca de ovo, farelo de lápis, giz de cera, lápis de cor, cola, condimentos e temperos.
Desenvolvimento: Inicialmente será solicitado aos alunos a continuidade dos desenhos e caracterizações iniciados na aula anterior reforçando sobre a importância para a representação de uma máscara, tendo como ponto de partida as imagens do filme “Máscara da Ilusão” (Direção de Dave McKean/2005). Considerando que o filme apresenta em sua maioria imagens surreais, essa abordagem será instigada nos alunos, através da exploração do sonho e do irreal. Após desenharem o contorno do rosto de formato livre, os alunos deverão colar os 97
olhos, a boca e o nariz recortados de revistas. Em seguida pintar e representar uma máscara social, buscando uma ligação com suas experiências e sentimentos pessoais. Para isso poderão utilizar sucatas diversas (disponibilizadas pela professora) e no acabamento final agregar um aroma utilizando temperos e/ou condimentos (trazidos de casa pelo próprio aluno).
Realizado Conforme planejamento prévio os alunos foram instruídos a dar continuidade aos desenhos iniciados na aula anterior, tendo como base o filme “Máscara da Ilusão” assim como as imagens relacionadas ao Movimento Surrealista dos artistas Salvador Dalí e Marc Chagall. Também foi reforçado pela educadora sobre a importância de cada um acrescentar nesse trabalho de criação suas próprias experiências e impressões, representando as mais variadas máscaras sociais que utilizamos na vida cotidiana. Assim que foram iniciadas as atividades práticas, os alunos se mostraram indecisos e até mesmo inseguros quanto ao desenho e o material a ser utilizado. Estes sentimentos devem-se ao fato do intenso desejo da turma de produzirem algo esteticamente bonito e que também pudesse representar sua leitura sobre os temas e propostas abordadas pela professora. Diante dessa situação, viu-se a necessidade de abordar os conceitos sobre Arte e o belo; que Arte é um conceito abstrato, ou seja, algo invisível aos olhos. Na verdade a Arte não existe, o que existe é o objeto que vemos. É algo que está inserido no objeto artístico, invisível, ao qual sentiremos através do inconsciente. Complementou-se ainda que a Arte é pura expressão, feia ou bela, não importa; pois o que é belo para uns pode não o ser para outros. Sendo assim, o que realmente importa é agradar a si próprio. Segundo Oliveira (2002): O gosto e a sensibilidade para apreciar a arte variam de pessoa para pessoa, de idade para idade, de região para região, de sociedade para sociedade, de época para época. Assim, as manifestações artísticas trazem a marca do tempo, do lugar e dos artistas que as criaram, pois refletem essa variação no conceito de beleza e na função do objeto artístico (OLIVEIRA, 2002).
As diversas manifestações de Arte que encontramos no cotidiano têm a função de encantar, de provocar reflexão, admiração e de proporcionar prazer e emoção. Seja ela uma obra de Arte, exposta em um Museu ou uma simples poltrona na sala de estar de nossa própria 98
casa. Porém, não são todos os objetos artísticos que têm uma utilidade prática, alguns servem apenas para estimular o pensamento, a percepção, para chocar ou ainda causar prazer estético ou certa inquietação. Se a Arte é produto de um ato criativo (expressão) e a cada instante ela corresponde, direta ou indiretamente, aos anseios da sociedade em que aparece; conclui-se que toda a criação artística constitui um resultado da atividade do homem. Coli (1981) menciona: A ideia de arte não é própria a todas as culturas e que a nossa possui uma maneira muito específica de concebê-la, como exemplo cito o modo como nos referimos a arte africana, a qual para eles não passa de instrumentos de culto, de rituais, de magia, de encantação (Coli, 1981, p.64).
Sendo assim, podemos concluir tanto com Oliveira ou Coli que a Arte é universal e intrínseca ao ser humano ao longo de sua história. Seria, por ora, uma definição de amplitude excessiva, pois aponta atividade ou expressão humana chamada de “Arte”, sem mostrar nada que efetivamente a identifique.
[Conforme citado no segundo encontro, obteve-se dos alunos diversas respostas mediante a pergunta “O que é Arte para você?”, dentre as quais se destacam: expressão, sentimento, cultura, imaginação, criatividade e o diferente. Contudo, mesmo com essa clara noção, foi possível observar que ao realizarem a tarefa proposta para esta oitava aula os alunos pareciam ter esquecido esses conceitos, concentrando-se apenas com a aparência e a beleza do produto final e se esse resultado agradaria ou não. É como se o mundo em que vivemos sufocasse a criatividade e a liberdade de expressão, comandando pensamentos e atitudes. Com isso, fica a sensação de que mesmo querendo realizar uma tarefa ou adotar determinado comportamento, somos forçados a pensar e agir de acordo com as expectativas alheias; objetivando quase que na totalidade das ocasiões, a aprovação das pessoas. Predominando sempre a busca do melhor, do mais bonito e não do que realmente importa, do que realmente nos faz feliz. Demorou certo tempo para que através da explanação sobre o verdadeiro e amplo significado da arte e citar alguns exemplos de obras de arte contemporâneas levando-os a uma breve reflexão do quanto essas obras demonstram que o artista estava liberto das expectativas e críticas do senso comum, para que os alunos se desprendessem dos padrões estabelecidos pela sociedade assim como de suas cobranças internas; tendo como preocupação única serem eles próprios na realização de seus trabalhos, exercitado a liberdade absoluta mesmo que apenas durante esse período de aula. Aprendi lendo Paulo Freire que ensinar não é apenas transferir conhecimentos e sim fornecer subsídios que tornem o aluno capaz de buscar e construir o conhecimento por si próprio. Felizmente tenho a sensação de ter alcançado isso durante essa aula. Demorou certo tempo, mas foi possível perceber que após detalhada explicação (por intermédio de diversos exemplos), aqueles alunos compreenderam que Arte é expressão e através dela experimentamos e vivenciamos situações relacionadas a nossa existência.]
Citei ainda que a disciplina de Artes nas escolas proporciona aos alunos a oportunidade de expressão, de trabalhar em grupo, de trocar experiências assimilando e 99
internalizando novos conhecimentos; de sentir, de questionar, de refletir e de se conscientizar sobre seus próprios sentimentos e emoções. Enfim, através dos exercícios oferecidos por essa disciplina, os alunos conseguem ampliar seu campo de visão e atuação no mundo, aumentando também seu senso crítico e a forma de interagir com todo esse universo interno e externo. Sendo assim, após essa breve explanação seguida de algumas reflexões sobre esse tema tão rico que é a Arte, deu-se continuidade ao processo de personalização das imagens já desenhadas. Segue abaixo algumas demonstrações dos trabalhos produzidos em aula e suas respectivas leituras.
Trabalho da aluna Açafrão (Birck, 2011)
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Trabalho da aluna Funcho (Birck, 2011)
Trabalho da aluna Colorau (Birck, 2011)
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Trabalho da aluna Coentro (Birck, 2011)
Podemos observar nestes trabalhos pouca diferenciação entre o fundo e o rosto. Esta evidência deve-se ao fato da semelhança entre a textura e as cores dos elementos visuais; não obstante o fato de terem sido utilizados materiais diversos em sua confecção. Segundo Ostrower (1983), as semelhanças nos guiam na leitura de uma imagem e nos direcionam quanto a trajetória manifestada na criação da obra. Também é possível observar que os alunos utilizaram traçados gráficos repetidos diferenciando-se em tamanho, direção, distância, cor e luz; que resultaram em sensações diversas de volumes, criando com isso algumas áreas expressivas. A forma como foram representadas as áreas na superfície do trabalho criou efeitos de maior ou menor movimento, seja pela linha apresentada ou material utilizado.
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Trabalho do aluno Cebola (Birck, 2011)
Já nesta produção o que mais chama a atenção é a cor aliada às diferentes texturas utilizadas. Segundo Trindade: A cor, elemento fundamental em qualquer processo de comunicação, merece uma atenção especial. É um componente com grande influência no dia a dia de uma pessoa, interferindo nos sentidos, emoções e intelecto; pode portanto, ser usada deliberadamente para se atingir objetivos específicos (TRINDADE e HEYDRICH, 2005).
Podemos verificar nesse trabalho a predominância de cores quentes. No disco das cores, elas apresentam ondas mais longas, sendo mais perceptíveis e alegres. Contudo, no trabalho em questão, a cor agregada a forma apresentam juntas um rosto triste e melancólico. Ao ser questionado sobre as razões que o levaram a produzir uma obra com essas características, o aluno Cebola justificou que apesar de gostar do calor e da alegria que as cores quentes lhe proporcionam, sente-se triste por estar residindo longe de sua terra natal; lugar esse onde o clima é agradável e quente, sendo o sol abundante na maior parte do ano. Considerando que o frio e a neblina da Serra Gaúcha o deprimem e entristecem, optou por retratar esse sentimento em seu trabalho. Com base nestas amostragens, pode-se concluir que os alunos resgataram através dessa atividade seu próprio processo expressivo, redescobrindo o lado lúdico no manuseio dos 103
materiais. Apesar da resistência e indecisão apresentadas inicialmente, conseguiram retratar suas próprias descobertas formais, espaciais e colorísticas; demonstrando estarem despreocupados com o resultado final da obra. A atividade possibilitou a esses alunos uma viagem interior, um exercício de total entrega e de livre expressão de seus sentimentos e percepções. Certamente o objetivo foi alcançado, pois além de todo o processo de criação, houve certamente uma maior compreensão da mensagem transmitida pelo filme “Máscara da Ilusão” e pelo movimento surrealista, através de uma maneira crítica e reflexiva.
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3.5.9. Nono Encontro Aula 9 Data: 16/05/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivo: 1- Trabalhar as máscaras exercitando a criatividade de cada aluno, respeitando suas individualidades; 2- Apresentar aos alunos imagens de máscaras tema das capas dos livros de Português do Projeto Araribá, utilizadas pela Editora Moderna na confecção de um calendário do ano de 2004.
Conteúdos: - Surrealismo; - Máscara; - Cor.
Metodologia: - Aula expositiva, dialogada e prática.
Recursos: - Tinta acrílica, stencil, miçangas, gregas, penas, cola branca, cola colorida, cola quente e o calendário do ano de 2004 da Editora Moderna.
Desenvolvimento: Considerando que a confecção das máscaras já foi concluída nas aulas anteriores e uma vez que todas estão totalmente secas, chega o momento da pintura. Com base no conhecimento teórico apresentado nas primeiras aulas e nas imagens disponibilizadas de 105
diversos modelos de máscaras (inclusive nesta aula), cada aluno poderá utilizar diferentes cores e materiais para concluir a pintura em sua própria máscara (os materiais são de responsabilidade dos alunos). Este será um exercício de total liberdade de expressão, proporcionando ao aluno a conclusão de um trabalho onde a criatividade, o bom senso e a dedicação serão observados e avaliados pela professora. Ficará a critério de cada aluno a funcionalidade de sua máscara, podendo ser utilitária ou não. Serão apresentadas aos alunos as imagens do calendário do ano de 2004 da Editora Moderna (disponibilizado pela professora), o qual apresenta imagens de máscaras que foram tema das capas dos livros de Português do Projeto Araribá deste ano. Segue seleção de imagens do calendário da Editora Moderna de 2004:
Dançarino de Pétala, Bali
Ornamental Chinesa
Tribal Africana
Cara-Grande Tapirapé Brasil
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Maia
Budha
Carnaval, New Orleans
Tribal Africana
Deus Asteca Xochipilli, México
Dançarina Pink Indiana
Imagens de calendário (Moderna, 2004)
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Realizado Conforme planejamento prévio, a aula foi iniciada com a explanação dos passos a serem seguidos para a pintura das máscaras. Os alunos foram convidados a apreciar as imagens do Calendário do ano de 2004, lançado pela Editora Moderna, com ilustrações das capas dos livros de Português do Projeto Araribá. As imagens despertaram a admiração de alguns ao mesmo tempo em que já foram inspirando outros. Os itens que mais chamaram atenção além da cor pura foram à simplicidade da forma e dos materiais utilizados. Em seguida, os alunos receberam orientação para dar início ao processo de personalização desse trabalho reunindo-se preferencialmente em duplas e/ou grupos, podendo até mesmo ocorrer produções individuais caso essa escolha fosse a mais produtiva. Providenciou-se, então, a organização da sala de aula onde as mesas foram totalmente forradas com jornal e cada aluno recebeu uma bandeja de isopor para apoiar os pincéis e colocar as tintas. Nesse momento, cada um organizou sobre a mesa de trabalho o material solicitado na aula anterior (cola; pano para limpeza dos pincéis; pincéis necessários para a pintura; diversos acessórios tais como: fitas, miçangas, sementes, penas, pedras entre outros). A sala de artes da Escola possui um estoque de sucatas o qual também foi oferecido aos alunos para a criação das máscaras. Cabe salientar que mesmo tendo sido disponibilizado esse material, diversos alunos tiveram a iniciativa de providenciar suas próprias tintas e sucatas nas cores de seu interesse. Organizado o material, aos poucos as máscaras foram criando nova vida. Primeiramente foi orientado pela professora o traçado em cada máscara de um esboço do desenho final, utilizando-se lápis preto. Esse processo foi importante, pois facilitou a pintura e permitiu ao aluno ter uma idéia de como ficaria seu trabalho final. Contudo, alguns optaram pela pintura direta, sem a utilização desse recurso. Segue esboço de pintura feito em folha de caderno e na máscara:
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Esboço da aluna Hortelã (Birck, 2011)
Máscara da aluna Hortelã (Birck, 2011)
O desenho realizado nas máscaras foi de proposição, onde os alunos apresentaram imagens com marcas pessoais, algumas figurações e outras abstrações. Os desenhos 109
realizados vão da abstração ao pré-simbolismo. Segundo Cavalcanti (1995), as formas abstratas, sem associação com significados projetados do universo da figuração, podem ser incluídas no repertório das imagens que são produzidas e interpretadas como tal quando aparecem em desenhos de outros produtores.
Máscara do aluno Alecrim (Birck, 2011)
Máscara da aluna Açafrão (Birck, 2011)
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Mรกscara da aluna Alho (Birck, 2011)
Mรกscara do aluno Cravo (Birck, 2011)
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Máscara da aluna Gengibre (Birck, 2011)
Máscara da aluna Salsa (Birck, 2011)
Os alunos não mediram esforços para caracterizar suas máscaras de maneira criativa e bastante peculiar. Nesse momento foi possível identificar total entrega na realização desse trabalho, assim como a imaginação rica e fértil desses jovens e adultos. Para ilustrar esse processo, pode-se mencionar o caso da aluna Colorau que teve a qualidade de sua 112
máscara comprometida em virtude de um problema na secagem do gesso. Contudo, o problema foi superado de forma bastante criativa, onde a respectiva aluna conseguiu recuperar sua máscara utilizando além da pintura a colagem de lantejoulas e acrescentando inclusive um piercing no nariz.
Máscara da aluna Colorau (Birck, 2011)
Máscara da aluna Colorau (Birck, 2011)
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Máscara da aluna Colorau (Birck, 2011)
Esse processo de criação e escolha do que pintar e de como usar as cores em suas máscaras foi descontraído, mas também repleto de ansiedade e tensão. Alguns alunos apresentaram muitas dúvidas e pareciam indecisos na escolha do que e de como fazer seu trabalho. Foram várias as perguntas sobre os possíveis materiais e cores a serem utilizados e de como aplicá-los nas máscaras. Na escolha das cores a serem utilizadas foi preciso uma identificação com o tema escolhido, para isso cada aluno precisou conhecer o que elas representam e qual a mensagem que eles pretendiam passar. Foi necessário relembrar que a partir das cores primárias pigmento mais o branco e o preto pigmento, eles poderiam produzir todas as cores, e que, cada cor produzida possui um significado. Segundo Werneck (2009) ler ou construir uma imagem significa também estar atento para a relação cromática existente no plano desta imagem. Por mais que o processo de construção da imagem seja intuitivo, devemos ter consciência das relações colorísticas para a efetivação de melhores resultados. Segundo a pesquisadora Ostrower (1983), o vermelho, o verde, ou qualquer outra cor pigmento, pode vir a ter significados múltiplos e até bem diversos, uma vez que a expressividade da cor dependerá das funções que desempenha. Quando entra em combinação com outras cores (quer seja com tonalidades da mesma gama ou até com um fundo branco), cada cor recebe dessa combinação, determinadas funções espaciais, sendo redefinida a cada nova relação. Quer dizer, de acordo com as relações colorísticas, a mesma cor pode definir o 114
espaço de maneiras diferentes. Podemos identificar algumas relações colorísticas fundamentais dentro do fazer pictórico. O conhecimento destas relações é essencial para a elaboração de uma imagem coerente com o conteúdo e expressividade almejados. Sendo assim, ter em mente a harmonia e conhecer os efeitos das cores, pode acrescentar e muito no produto final. Porém estas só terão sentido se aliadas àquele toque pessoal, ao gosto e ao estilo de cada um. A grande maioria dos alunos manifestou alegria durante esse processo, demonstrando interesse e preocupação com o resultado de seus trabalhos. [Cabe salientar que apesar de existir uma preocupação com o resultado final, nessa atividade os alunos conseguiram se soltar e ficou claro através das atitudes e escolhas que eles estavam se expressando de forma sincera e particular. Na medida em que alguns alunos concluíam o trabalho fazendo a apresentação para turma, os demais ficavam mais entusiasmados e procuravam deter-se ainda mais aos detalhes. Com isso, procurei trabalhar com eles a desinibição e valorização do diálogo. Para a avaliação foi considerado além do interesse, a organização, o comprometimento e o empenho para a realização da proposta solicitada, a participação de cada aluno e a forma como um colaborou com o outro, sejam através de sugestões ou por intermédio do empréstimo de materiais. Nesse momento eu consegui descansar. Quando vi os alunos com todos os materiais que havia sugerido e ainda muitos outros, respirei aliviada. Finalmente minha proposta não seria um fracasso. Foram aulas que para mim valeram a pena e conseguiram superar todos os momentos de dificuldades e angústia vividos anteriormente.]
A atividade foi finalizada dez minutos antes do término da aula, a fim de que todos pudessem organizar a sala e seus materiais, e guardar as máscaras na sala de artes. Assim a aula encerrou com uma empolgação além do esperado, os alunos motivados realizaram essa tarefa com máxima dedicação. Fizemos também a combinação dos materiais necessários para darmos continuidade ao trabalho na próxima aula.
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3.5.10. Décimo Encontro Aula 10 Data: 23/05/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivo: 1- Trabalhar as máscaras exercitando a criatividade de cada aluno, respeitando suas individualidades; 2- Apresentar aos alunos imagens de máscaras tema das capas dos livros de Português do Projeto Araribá, utilizadas pela Editora Moderna na confecção de um calendário do ano de 2004.
Conteúdos: - Surrealismo; - Máscara; - Cor.
Metodologia: - Aula expositiva, dialogada e prática.
Recursos: - Tinta acrílica, stencil, miçangas, gregas, penas, cola branca, cola colorida, cola quente e o calendário do ano de 2004 da Editora Moderna.
Desenvolvimento: Com base no conhecimento teórico apresentado anteriormente, enriquecido pela apresentação de diversos exemplos de máscaras utilizadas ao longo da história, cada aluno poderá utilizar diferentes cores e materiais para concluir o trabalho iniciado na aula anterior; 116
enfatizando-se que todos possuem total liberdade de expressão nessa atividade. Cabe salientar que serão avaliadas as linhas utilizadas, sejam elas articuladas expressivamente (grossas, finas, escuras, brilhantes, coloridas ou interrompidas) ou virtualmente (linhas não presentes porém completadas pela percepção humana, ou seja, induzidas), as texturas apresentadas ou insinuadas e a harmonia das cores. O valor exato da cor dependerá do conjunto em que é vista. Dependerá, portanto, sempre de um contexto colorístico... Quando entra em combinação com outras cores (quer seja com tonalidades da mesma gama ou até com um fundo branco), cada cor recebe dessa combinação determinadas funções espaciais, sendo redefinida a cada nova relação. Quer dizer, de acordo com as relações colorísticas, a mesma cor pode definir o espaço de maneiras diferentes (OSTROWER, 1983, p.235).
Sendo assim, além da linha, da textura e da cor apresentadas, serão avaliados também a dedicação e a harmonia aliados ao toque pessoal e ao estilo de cada um.
Realizado Conforme planejamento realizado, a aula foi iniciada com a retomada dos passos a serem seguidos para a pintura das máscaras, objetivando dar continuidade ao processo iniciado na aula número 9. Os alunos reuniram-se novamente em duplas, grupos ou até mesmo individualmente, para realizarem a pintura das máscaras. Providenciou-se, então, a organização da sala de aula onde as mesas foram totalmente forradas com jornais e cada aluno recebeu sua bandeja de isopor para apoiar os pincéis e colocar as tintas. Nesse momento, cada um organizou sobre a mesa de trabalho o material selecionado na aula anterior (cola; pano para limpeza dos pincéis; pincéis necessários para a pintura; diversos acessórios tais como: fitas, miçangas, sementes, penas, pedras, entre outros). Organizado o material, aos poucos os alunos foram dando continuidade à pintura já iniciada na aula anterior. Assim como nas demais aulas, esse momento foi igualmente repleto de euforia e descontração; certamente por se tratar de uma atividade de livre criação, onde a criatividade e a liberdade de expressão estão presentes. Contudo, a indecisão ainda era percebida em alguns alunos. Muitas eram as dúvidas quanto aos materiais a serem utilizados e quais desenhos realizar, por isso vários foram os questionamentos, principalmente sobre a cor apropriada. Objetivando auxiliá-los nesse processo, foi realizada uma breve abordagem sobre o tema “cor”, que está presente em todos os meios visuais de comunicação e expressão. Segundo 117
Fernandes (2008, p.31), “a difusão do conhecimento da cor poderá gerar novas e relevantes descobertas para o enriquecimento da experiência humana, da criatividade e da comunicação entre os homens”. A dificuldade apresentada em uma atividade de pintura talvez se deva ao fato de que na Escola as possibilidades de explorar e experimentar diversas tintas e instrumentos pictóricos sejam limitadas. É necessário que exista um diálogo entre cor e ação seja ao desenhar, modelar, colar, montar objetos, cenários, ambientes, painéis ou até mesmo ao criar fantasias. Sendo assim, a cor é o elemento que nos permite estruturar visualmente o mundo a nossa volta e sua utilização deveria ser introduzida já nas séries iniciais com maior intensidade, oportunizando a criança criar objetos e símbolos através de diferentes experiências. Assim teríamos maiores chances de contribuir para o desenvolvimento de adultos seguros e ousados, onde o medo do erro e da desaprovação alheia sede espaço para o prazer e a realização pessoal, pois na verdade o que de fato deve ser considerado no produto final é a satisfação e a sensação de tarefa cumprida não tendo como foco primordial a aceitação dos outros. [Conhecendo um pouco a realidade e limitações de cada aluno, pode-se considerar que provavelmente a aprendizagem mais significativa para essa turma tenha sido o despertar da consciência de que todos são capazes de produzir alguma coisa, cada um dentro do seu conhecimento e potencial. Por isso, o ritmo de cada aluno foi respeitado e teve-se o cuidado de planejar as atividades com organização, seriedade e responsabilidade para que todos pudessem estar à vontade no decorrer das aulas, em especial nos momentos do trabalho de criação.]
Segundo Kandinsky (2000, pg.85) “cada cor suscita um movimento, uma temperatura, um som musical e um estado de espírito”. Após essa reflexão o trabalho transcorreu em um clima agradável e de empolgação, ficando para a próxima aula a combinação de que seria apresentado outro material para enriquecer essa abordagem sobre as cores. Imagens de algumas máscaras concluídas e suas respectivas leituras:
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Mรกscara da aluna Aรงafrรฃo (Birck, 2011)
Mรกscara do aluno Alecrim (Birck, 2011)
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Máscara da aluna Alho (Birck, 2011)
Máscara da aluna Canela (Birck, 2011)
A superfície curva e lisa da máscara é fechada o que proporciona visualizar com certa evidência os contornos das áreas, cuja organização criou efeitos de maior ou menor movimento. As linhas apresentadas são as mais variadas possíveis, que por intermédio dos contornos criaram texturas dando também a ideia de movimento. As texturas recebem 120
destaque, uma vez que ocorrem com maior diversidade. Algumas máscaras apresentam rugosidades, outras asperezas e suavidades, brilhos, opacidades e diferenciações possíveis de serem ou não percebidas pelo tato. As combinações das cores entre si apresentaram um resultado harmonioso equilibrando as tonalidades claras com as escuras. Enfim, as produções realizadas pelos alunos mostraram-se repletas de beleza e muita criatividade, e certamente conseguiram transmitira mensagem projetada por cada um. A atividade foi encerrada dez minutos antes do término da aula a fim de organizar a sala e levar as máscaras até a sala de Artes. Nem todos os alunos conseguiram concluir a pintura, ficando nesses casos a continuidade do trabalho para a próxima aula. As máscaras já finalizadas receberam uma camada de cola em ambas as faces, com o objetivo de tornar mais resistente a peça.
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3.5.11. Décimo Primeiro Encontro Aula 11 Data: 30/05/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivo: 1- Trabalhar as máscaras exercitando a criatividade de cada aluno, respeitando suas individualidades; 2- Apresentar aos alunos imagens de máscaras tema das capas dos livros de Português do Projeto Araribá, utilizadas pela Editora Moderna na confecção de um calendário do ano de 2004.
Conteúdos: - Surrealismo; - Máscara; - Cor.
Metodologia: - Aula expositiva, dialogada e prática.
Recursos: - Tinta acrílica, stencil, miçangas, gregas, penas, cola branca, cola colorida, cola quente e o calendário do ano de 2004 da Editora Moderna.
Desenvolvimento: Antes de dar continuidade ao trabalho de pintura e acabamento das máscaras, iniciado nas aulas 9 e 10, será apresentado aos alunos uma breve explicação sobre cor (através do disco cromático será novamente comentado sobre as cores primárias, secundárias, 122
terciárias e neutras; e ainda sobre as complementares, análogas, as tonalidades, temperaturas, contrastes, combinações, efeitos e significados). Após essa abordagem, com base no conhecimento teórico apresentado anteriormente que foi enriquecido com a apresentação de diversos exemplos de máscaras utilizadas ao longo da história, cada aluno poderá utilizar diferentes cores e materiais para concluir o trabalho iniciado nas aulas anteriores.
Realizado Conforme planejamento realizado a aula foi iniciada com a retomada do conteúdo sobre “cor” e suas diversas aplicações. Antes de dar continuidade a esse assunto, torna-se importante abordar algumas questões que envolvem a relação cor e mundo. Para MerleauPonty (1968), “O lugar da cor é onde o nosso cérebro e o universo se reúnem. Como o sentir que traduz uma ideia visual do mundo, individual e subjetiva interpretação da realidade, mas não o mundo físico em si”. Significa que a cor é uma sensação, uma informação, tendo como referência para sua abordagem a linguagem visual da comunicação e da expressão. A cor nos oferece inúmeras possibilidades de ser trabalhada como elemento criativo. Ao misturá-las obtêm-se resultados tranquilizantes, impactantes ou atrativos. Embora visíveis e gritantes a olho nu, muito além de crenças e misticismos, as cores na realidade não existem. Aliás, elas existem a partir do momento em que nosso cérebro as reinterpreta. O colorido é resultado de ondas eletromagnéticas que refletem ou absorvem diferentes cores de seu espectro. Portanto, além de depender da luz, as cores dependem também do olhar. Em cada lugar do mundo, por mais remoto que pareça,e em distantes períodos históricos, povos diferentes dedicaram-se a colorir o que não é natural. Após apresentar através do disco cromático as cores e suas tonalidades, temperaturas, contrastes, combinações, efeitos e mencionar alguns significados; os alunos organizaram-se novamente em duplas, grupos ou individualmente. As mesas foram protegidas com jornais e deu-se continuidade a pintura e aplicação de texturas iniciadas nas aulas 9 e 10, objetivando concluir a tarefa até o final desta aula. Nesse momento, já superada a indecisão manifestada anteriormente, o que realmente impulsionou a aula foi o desejo de cada um em ver sua máscara concluída. Aos
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poucos os alunos que finalizaram seus trabalhos foram inspirando aqueles que permaneciam retocando suas máscaras. Segundo Itten (1975) cabe ao professor o talento para reconhecer e desenvolver as habilidades naturais de cada aluno. Os diversos temperamentos e talentos individuais geram “uma atmosfera criativa que encoraja o trabalho original”. [Acredito ter sido possível nesse trabalho reconhecer as habilidades e também estimular a criatividade dos alunos. Em cada etapa chamava a atenção para uma pincelada a mais, ou um acabamento que poderia ser melhorado, ou ainda orientava a todos sobre a importância de se afastar o objeto para melhor identificar possíveis pontos de melhora. Através desse exercício muitas máscaras, a princípio consideradas finalizadas, receberam ainda retoques e alguns acessórios foram acrescentados. Os alunos foram orientados para a realização de uma avaliação coletiva, onde uns iriam avaliar os outros. Considerando a amizade existente entre esses alunos e o grau de maturidade já adquirido pelas experiências vividas, os conselhos foram bem aceitos e as críticas recebidas com tranquilidade; impulsionando ao movimento de conserto e até mesmo alteração de suas obras. Enfim, foi mais um momento gratificante e produtivo onde a autocrítica, a parceria e a descontração fizeram parte da prática.]
Itten complementa ainda que: O estudante deve ganhar autoconfiança de forma natural e eventualmente descobrir sua profissão. Trata-se de preparar e incentivar o estudante a atuar como um ser criativo autônomo, tendo o professor como “tarefa” “construir” o homem total – um ser criativo (1975, pg. 9).
A atividade de criação das máscaras, devidamente embasada em conceitos teóricos e na trajetória histórica do objeto máscara, iniciou um significativo movimento dos alunos no que se refere ao despertar para um novo olhar, aliado ao exercício de sua capacidade criativa e de total liberdade de expressão. Nesse processo de criação, assim como na interação do indivíduo com o mundo, são muitos os estímulos sensorial a que o aluno está submetido. Raios luminosos refletidos em muitos objetos; uma variedade de ondas de som que chega aos tímpanos; uma grande diversidade de odores; as roupas exercendo pressão em diferentes partes do corpo. Enfim, são muitos e variados esses estímulos e com isso podemos resumir que a aprendizagem é a atividade mais fundamental do homem e as diferenças individuais permitem que cada aluno tenha um comportamento único e por conseqüência uma produção única. Imagens de máscaras concluídas:
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Mรกscara da aluna Coentro (Birck, 2011)
Mรกscara do aluno Cravo (Birck, 2011)
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Mรกscara da aluna Funcho (Birck, 2011)
Mรกscara da aluna Gengibre (Birck, 2011)
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Mรกscara da aluna Hortelรฃ (Birck, 2011)
Mรกscara da aluna Salsa (Birck, 2011)
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Máscara da aluna Sálvia (Birck, 2011)
A arte em alguns casos funciona como uma terapia na vida das pessoas. Ela tem a capacidade de conectar o mundo interno do indivíduo com o meio ao qual está inserido. E nesse processo de movimento interno e externo, mecanismos como a imaginação, o simbolismo e as metáforas são utilizados como molas propulsoras para liberar e manifestar sentimentos, percepções e a leitura destes mundos. As diversas “máscaras” que utilizamos é uma das formas encontradas para nos comunicarmos em sociedade assim como em nossa individualidade. Sendo assim, a escolha de abordar esse tema foi de certa forma embasada na carência desses alunos em desenvolver uma atividade criativa, que possibilitasse sua livre expressão, sem limites para a imaginação e que também pudesse representar seus sentimentos e percepções. Com base nos relatos descritos e nas imagens apresentadas nesse relatório, certamente os objetivos propostos foram plenamente atingidos pelos alunos, pois além de todos os pontos anteriormente citados terem sido alcançados, as máscaras conseguiram retratar os sentimentos de cada um através da expressão facial associada à coerente utilização dos materiais disponibilizados, das texturas e da harmonia das cores. 128
Todo o processo de ensino-aprendizagem é repleto de incertezas e riscos. Isso porque mesmo planejando e buscando materiais diversos para tornar a aula atrativa, lidamos com algo incerto que é a forma como o aluno irá receber e acomodar determinada proposta internamente. Com esse projeto não foi diferente, a incerteza e o medo também permearam a elaboração das aulas mesmo após tantos anos de prática educativa. A escolha do tema poderia não ser bem aceito pelos alunos e a proposta de cada um confeccionar sua própria máscara poderia ser recebida com indiferença e até mesmo negação. Mas correu-se o risco e o resultado de todo esse esforço foi mais do que satisfatório. Tanto nas aulas teóricas como nas práticas, percebeu-se que um novo horizonte estava se abrindo para aqueles jovens e adultos e que existe um potencial bruto dentro de cada um para criar e inovar sempre. Talvez possamos até ousar em dizer que, com esta simples iniciativa, iniciou-se um processo de lapidação do potencial de cada aluno. A experiência concreta de criação das máscaras oportunizou em cada aluno um movimento interno, onde foi possível trabalhar a criatividade, a desinibição, a socialização, o senso crítico, a organização e a auto-análise. Analisando o resultado obtido nas respostas do questionário aplicado para a turma, pode-se afirmar que houve um significativo crescimento cultural (através do acesso ao conhecimento sobre a utilização e simbologia das máscaras ao longo da história, obtido nas exposições teóricas do tema); cognitivo (por ter proporcionado aos alunos um olhar mais crítico sobre suas percepções e construções e o quanto muitas vezes somos seduzidos pela aparência das coisas sem mesmo nos atentarmos com o real conteúdo das mensagens que nos são apresentadas); e social (obtido com o entrosamento da turma e o exercício de respeitar o ritmo e as limitações de cada um sem perder a própria identidade) desses alunos. Com isso pode-se concluir que os objetivos almejados no planejamento das aulas foram atingidos e a sensação de dever cumprido se faz presente para a educadora que ousou propor o estudo do tema máscaras. A atividade foi finalizada dez minutos antes do término da aula a fim de que todos pudessem organizar a sala e seus materiais. Cada aluno levou sua máscara para casa nesse dia com o propósito de dar-lhe o acabamento interno além de auxiliar na composição do figurino a ser utilizado na próxima aula. A máscara e o figurino serão utilizados pelos alunos da turma E9 durante uma performance que será apresentada para os demais alunos da EJA nas dependências da escola.
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3.5.12. Décimo Segundo Encontro Aula 12 Data: 06/06/2011 Duração: 50 min
Planejado Objetivo: 1- Apresentar para os alunos e professores do turno da noite as produções realizadas na disciplina de Artes através de um desfile de máscaras, devidamente acompanhado de trajes harmoniosos com os desenhos e pinturas utilizadas nas máscaras. Com essa proposta objetiva-se também valorizar o empenho de cada aluno em suas produções, bem como trabalhar a desinibição, espírito de equipe e criatividade.
Conteúdos: - Desfile de trajes e máscaras.
Metodologia: - Aula de apresentação e avaliação.
Recursos: - Trajes e máscaras produzidos pelos alunos; - Espaço físico interno da escola.
Desenvolvimento: As máscaras e seus respectivos trajes serão apresentados aos alunos e professores do turno da noite, durante o intervalo das aulas. Os alunos envolvidos no projeto das máscaras irão realizar um desfile associado a montagem de várias esculturas vivas para que assim possam apresentar suas produções, realizadas nas aulas de Artes durante o estágio da Professora Magda Birck. 130
No instante em que os alunos e professores entrarem no saguão interno da escola, encontrarão os alunos da turma E9 de pé, imóveis espalhados em diversos grupos. Na medida em que o público avança no ambiente os alunos iniciam uma caminhada pelo saguão, posicionando-se aleatoriamente. Passado alguns instantes os alunos do projeto das máscaras deslocam-se entre o público numa performance silenciosa.
Realizado Conforme planejamento realizado, a aula foi iniciada com a organização de cada aluno quanto ao figurino. Os alunos ainda na sala de aula se organizaram e vestiram seus trajes e máscaras, auxiliando-se mutuamente.
Imagem doaluno Alecrim (Birck, 2011)
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Imagem da aluna Colorau (Birck, 2011)
O aluno da EJA talvez por já estar inserido no mercado de trabalho e possuir, em sua maioria, idade avançada em relação a série que está cursando, chega à escola com uma expectativa imediatista aliada, muitas vezes, a uma vasta experiência de vida. Essa percepção ficou visível durante todo processo de execução e apresentação dos trabalhos para a comunidade escolar, pois percebeu-se uma grande preocupação dos alunos com a qualidade e o sucesso dessa proposta. Os alunos ao se vestirem para a apresentação auxiliaram-se mutuamente com ideias e muita boa vontade, o que possibilitou algumas reflexões a respeito de suas realidades e sentimentos, buscando em conjunto as soluções necessárias para cada dificuldade que se apresentava. Durante todo esse processo, ficou visível a importância de se compreender as necessidades dos alunos, buscando auxiliá-los no que for possível em momentos como esse, que normalmente é repleto de sentimentos positivos e negativos, permeados por um forte desejo de que o produto final do seu trabalho seja reconhecido e apreciado por todos os expectadores. Outro fator decisivo para o empenho dos alunos nessa proposta foi a total 132
liberdade de expressão, onde a criatividade fluiu normalmente em todos os estágios desse processo. Os trabalhos desenvolvidos por Paulo Freire já apontavam para essa necessidade, caso queiramos, realmente, promover uma educação significativa e renovadora, que vise à problematização da realidade e à formação de cidadãos críticos, os quais buscam construir competências para agirem sobre seu mundo e sobre a sociedade mais ampla de forma efetiva e crítica. [Todas as experiências vivenciadas trazem algumas contribuições para a nossa vida pessoal e profissional. Conforme citado anteriormente uma das maiores preocupações na prática do projeto era proporcionar aos alunos uma aprendizagem significativa e duradoura. Felizmente o resultado acabou superando essa expectativa, pois consegui também crescer como ser humano e como profissional da educação durante o convívio com esses alunos. Auxiliando-os a encontrar respostas para suas aflições e dúvidas, também estava exercitando essa capacidade em mim mesma para lidar com questões internas. Nesse último encontro a reflexão ocorrida diante das novas aprendizagens já não parecia uma realidade tão distante e sim uma possibilidade palpável através de uma educação mais humana e igualitária. Tudo indica que realmente foi realizado um bom trabalho com essa turma uma vez que o esforço, a responsabilidade, o interesse, o comprometimento e o amor por aquilo que estava sendo produzido foram identificados nesse processo. A maior satisfação é perceber nos gestos e olhares de grande parte dos alunos a certeza de que a experiência foi produtiva e marcante, onde trocas significativas ocorreram, amizades se fizeram e a atuação da professora estagiária fez a diferença. Não existe dúvida de que foram proporcionadas aos alunos oportunidades de exporem suas idéias e praticarem suas habilidades. Fica então a certeza de que mesmo durante pouco tempo foi possível participar da vida desses alunos e que muitas das colocações feitas em sala de aula fizeram-lhes refletir e repensar suas habilidades, conceitos e atitudes. Desejo sinceramente que essas impressões permaneçam ainda gravadas por muito tempo em seus corações e mentes. Movida pela ansiedade para que tudo desse certo, optei por colaborar com um material particular para enriquecer o processo de criação dos figurinos. Quando todos estavam com suas máscaras e trajes completos foi possível descontrair novamente, até porque nesse momento já havia sido criado um vínculo de afeto mais íntimo com aqueles alunos. Durante a performance todos nós estávamos de certa forma a vontade. Minha alegria só não foi completa porque ao término da atividade, já tendo retornado a sala de aula, eles simplesmente tiraram as roupas e deixaram jogadas em uma caixa. Uma das grandes decepções em relação ao comportamento dos adolescentes com que trabalho é o fato de não cuidarem das coisas alheias, e constatar que na EJA acontecia a mesma coisa me chateou bastante. Foi como se toda a minha disciplina e organização apresentada durante o estágio tivesse passado despercebida. Contudo, posso concluir que meu estágio foi, em termos pessoais, uma experiência satisfatória, e que apesar de não ter atingido todos os meus objetivos iniciais (principalmente por não ter conseguido trabalhar com aqueles alunos tudo o que tinha em mente, não tendo uma nova oportunidade para alterar o que já foi feito), houve um crescimento mútuo e que é necessário aprendermos a conviver com a frustração de não acertar sempre. Consegui perceber o quanto esses alunos puderam experimentar novas, e talvez inéditas experiências; o que certamente originou um crescimento pessoal para todos que realmente estiveram envolvidos nesse processo. Além disso, também foi possível admitir que a aprendizagem não depende apenas do desejo do professor para que tudo transcorra da forma mais organizada e produtiva possível, uma vez que desempenhamos nesse contexto apenas o papel de mediador.]
Segue imagens de alguns alunos já caracterizados:
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Imagem do aluno Cravo (Birck, 2011)
Close do aluno Cravo (Birck, 2011)
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Imagem da aluna Funcho (Birck, 2011)
Close da aluna Funcho (Birck, 2011)
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Imagem do aluno Pimenta (Birck, 2011)
Close do aluno Pimenta (Birck, 2011)
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Imagem da aluna Coentro (Birck, 2011)
Close da aluna Coentro (Birck, 2011)
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No momento em que todos os alunos estavam devidamente caracterizados e preparados para “atuar”, dirigiram-se ao saguão interno da escola e se posicionaram em grupos distribuídos de maneira aleatória, ocupando todo o espaço físico disponível onde formaram as primeiras esculturas vivas.
Alunos posicionados para iniciar a performance (Birck, 2011)
No instante em que os alunos e os professores (previamente comunicados sobre o que seria apresentado) entraram no saguão interno da escola, encontraram os alunos da turma E9 imóveis, distribuídos de pé pelo saguão da escola. Na medida em que o público adentrou no ambiente os alunos iniciaram uma performance silenciosa e constante que de tempo em tempo formava uma nova escultura, buscando a reorganização do espaço.
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Alunos im贸veis, observando quem passava (Birck, 2011)
Alunos posicionados na cantina da Escola encenando uma compra (Birck, 2011)
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Alunos posicionados na porta do refeitório da escola (Birck, 2011)
Os alunos participantes do projeto das máscaras novamente se deslocaram entre os visitantes, posicionando-se em frente ao palco para a formação de mais uma escultura viva estática. Sabe-se que para o sucesso no processo ensino-aprendizagem é necessário o conhecimento da realidade do aluno, considerando suas experiências prévias associadas aos conhecimentos construídos durante toda sua vida. A Arte é um dos meios de que dispõe o homem para captar e conhecer a realidade humano-social. Ou seja, a Arte como conhecimento da realidade pode nos revelar um pedaço do real, não em sua essência objetiva, tarefa específica da ciência, mas em sua relação com a essência humana. Há ciências que se ocupam de árvores, que as classificam, que estudam sua morfologia e suas funções; mas, onde está a ciência que se ocupa das árvores humanizadas? Pois bem; são precisamente estes os objetos que interessam à Arte (VÁSQUEZ, 1978, p. 35).
Parte-se da premissa de que educação, cultura, Arte e sociedade são na verdade diferentes faces de uma mesma moeda, e que cada vertente não pode ser analisada individualmente uma vez que qualquer reflexão a respeito de um desses temas reflete no outro. É possível fazer uma analogia dessa linha de raciocíneo com a adequação do trabalhador em seu ambiente de trabalho, onde seus valores pessoais precisam caminhar paralelamente com os valores da empresa, mesmo ocorrendo divergências, pois é fundamental encontrar-se um equilíbrio para que o vínculo empregatício se mantenha de forma saudável e satisfatória para ambos os envolvidos. Conforme explicita Kuenzer:
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compreende-se que a pedagogia capitalista, ao mesmo tempo que objetiva a educação do trabalhador que, ao vender sua força de trabalho como mercadoria, se submete à dominação exercida pelo capital, educa-o também para enfrentar essa dominação. À medida que esse trabalhador aprende a fazer frente às formas de disciplinamento impostas pelo capital, este vê-se forçado a rever seus modos de ação, criando novas formas de dominação. É no bojo desse processo pedagógico, o qual permeia as relações de produção, que vão sendo gestadas novas formas de organização do trabalho, novos padrões de relação, novas exigências de qualificação, novas ideologias. Essas formas, se representam movimentos de refuncionalização do modo de produção capitalista, também contém os germes de sua superação, na medida emque, por meio delas, os trabalhadores vão aprendendo a se organizar, a reinvidicar seus direitos, a desmistificar as ideologias, a dominar o conteúdo do trabalho, a compreender as relações sociais e a função que nelas eles desempenham (1989, p.11).
Ao finalizar esse projeto, conclui-se que o homem é um ser criativo por natureza e que essa característica humana está presente em todos os atos do cotidiano das pessoas, embora muitas vezes esteja oculta nos automatismo aos quais estamos condicionados. O indivíduo criativo é aquele que elabora alternativas inovadoras para circunstâncias inéditas. Ao educador cabe oportunizar que esse processo criativo seja aflorado e constantemente exercitado, podendo com isso proporcionar uma significativa sensação de bem-estar aos seus alunos através da manifestação de sentimentos que habitam nosso ser, mas que podem ser liberados, trabalhados e melhor acomodados; além da ampliação do senso crítico desses alunos. Outra probabilidade presente nesse exercício criativo é a revelação de talentos, a partir de projetos interdisciplinares simples porém significativos, que respeitem e valorizem as vivências subjetivas de cada um. É maravilhoso perceber que o projeto máscaras foi capaz de alcançar esse tipo de resultado, ou seja, trabalhar a criatividade permitindo com que todos entrassem em contato com seus sentimentos e percepções, desenvolver o senso-crítico, ampliar a capacidade de socialização e aumentar a auto-estima desses alunos.
Alunos e professora na imagem que celebra o encerramento do projeto (Birck, 2011)
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A receptividade dos visitantes e o encantamento com o resultado das produções individuais de cada aluno foi facilmente percebida pelos olhares atentos e curiosos de quem passava. O público interagia com os alunos mascarados, fazendo perguntas sobre sua criação e solicitando, em alguns casos, o empréstimo das máscaras mesmo que por alguns instantes, para que pudessem experimentar essa diferente e inusitada sensação de ter uma máscara em seu rosto. Sem dúvidas esse projeto exigiu muita dedicação e trabalho, não apenas da educadora que planejou as aulas e disponibilizou os materiais, mas também dos alunos que estiveram totalmente envolvidos desde o início da proposta. Com isso, pode-se afirmar que valeu a pena proporcionar a cada um desses alunos a chance de ampliar seus conhecimentos e de vivenciar momentos especiais em sala de aula e perante todo o grupo escolar. Momentos estes que estiveram repletos de alegria e muita satisfação. Sendo assim, agradeço à direção da escola que autorizou a realização do projeto de estágio e em especial a todos esses alunos que com dedicação, entusiasmo e muita cooperação permitiram a realização desse trabalho e que tanto contribuíram para minha satisfação e crescimento pessoal e profissional. Sinto-me honrada em ter vivenciado essa experiência tão especial e enriquecedora com todos eles.
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CONSIDERAÇÕES CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
o optar por trabalhar com os alunos o tema “Máscaras” meu objetivo principal era, além de abordar as questões teóricas deste tema, oportunizar a esses alunos uma vivência nova e motivadora.
Neste processo três vertentes surgiram: a Prática de Ensino como um todo, o que aconteceu comigo durante esse processo e as considerações sobre o Ensino no Brasil/EJA. De certa maneira a Prática de Ensino revelou que nestes três casos foi possível tirar a máscara. Pesquisando a respeito do tema e me deparando com a realidade dentro de cada aspecto consegui olhar o que estava por trás da máscara. Com isso, fazendo um projeto sobre “Máscaras” foi possível desmascarar alguns conceitos, conforme será abordado nessas considerações finais. Todas as experiências vivenciadas trazem contribuições para a nossa vida pessoal e profissional. Para que as contribuições desta Prática de Ensino fossem realmente relevantes concentrei minha energia em proporcionar aos alunos uma aprendizagem significativa e duradoura. Auxiliando-os a encontrar respostas para suas aflições e dúvidas, também estava exercitando essa capacidade em mim mesma, lidando paralelamente com questões internas. Mesmo antes de aprofundar os comentários conclusivos dessa Prática, posso afirmar que essa experiência de Estágio foi, em termos pessoais satisfatória, e que apesar de não ter atingido todos os objetivos iniciais (atrair os interesses de toda turma e despertar nesses alunos uma nova visão da Arte concomitante a uma nova postura individual e coletiva perante as aulas) houve um crescimento mútuo. No que se refere à Prática de Ensino, o conceito pré existente direcionava para uma experiência fácil, tranquila, enriquecedora e que seria amplamente aceita e executada pelos alunos. Essa foi a primeira máscara a cair, pois ao conviver com a turma durante a Prática Educativa me deparei com uma realidade um tanto diferente daquela imaginada. Nem todos os alunos mostravam-se motivados e receptivos com a proposta. Porém, é necessário aprendermos a conviver com a frustração de não acertar sempre. Sentimento difícil de ser aceito e trabalhado uma vez que busco em tudo aquilo que me proponho a excelência nos resultados aliada a uma doação total. Além do mais, a tolerância à frustração é algo que necessito ainda elaborar melhor internamente. 143
Mesmo com essas inquietudes e questionamentos, consegui perceber o quanto esses alunos puderam experimentar novas, e talvez inéditas, experiências. O que certamente originou um crescimento pessoal para todos que realmente estiveram envolvidos nesse processo. Além disso, minha visão sobre o papel do professor também modificou-se. Antes dessa experiência de Estágio, acreditava que o sucesso das aulas e a aprendizagem dos alunos dependia unicamente do esforço e desempenho do professor. Contudo, hoje percebo que essa visão é um tanto quanto ilusória uma vez que a aprendizagem não depende apenas do desejo do professor para que tudo transcorra da forma mais organizada e produtiva possível, sendo fundamental nesse processo o envolvimento e a disposição do aluno. No desenvolvimento desse Projeto a incerteza e o medo permearam a elaboração das aulas mesmo após tantos anos de Prática Educativa. A escolha do tema poderia não ser bem aceita pelos alunos e a proposta de cada um confeccionar sua própria máscara poderia ser recebida com indiferença e até mesmo negação. Mas correu-se o risco e, apesar das dificuldades encontradas durante o percurso, o resultado de todo esse esforço foi satisfatório. Tanto nas aulas teóricas como nas práticas, percebeu-se que um novo horizonte estava se abrindo para aqueles jovens e adultos e que existe um potencial ainda que bruto dentro de cada um para criar e inovar sempre. Mesmo existindo alguns alunos que se mostraram indiferentes, resistentes e até desanimados com as atividades, observou-se que em certos momentos eles também interagiram com os colegas, demonstrando certa movimentação com a turma e a proposta de ensino. Ao concluir este percurso, é chegada a hora de citar os aspectos mais relevantes e com isso faz-se necessário olhar para a pesquisa realizada no Estágio I, a Prática de Ensino em Artes Visuais efetuada nos Estágios II e III e refletir a partir dessa Prática, culminando assim uma trajetória de anos de estudo e aprendizagens. As orientações transmitidas ao longo deste semestre, na disciplina de Prática de Ensino em Artes Visuais IV, pela professora Ana Lúcia Beck foram o ponto de partida deste processo de reflexão sobre a Prática de Ensino em Artes Visuais I, II e III. Considerando que há alguns anos eu havia trabalhado com a EJA, avaliei que uma nova experiência com esse grupo de alunos seria tranquila por se tratarem de pessoas mais maduras e conscientes do seu papel como educandos dessa Modalidade de Ensino. Contudo, logo após concluir o processo de observação, constatei que não seria simples assim. Fiquei nervosa e talvez não tenha deixado uma boa impressão no primeiro contato, uma vez que ficou difícil ocultar dos alunos esse meu estado de espírito alterado. Tal fato despertou em 144
mim certa inquietude, então me questionei sobre as razões pelas quais esse nervosismo estava se manifestando, justamente depois de tantos anos de experiência em sala de aula; e a resposta me chegou de forma parcial. Nesse primeiro momento, considerei que o fato devia-se à situação de estar sendo avaliada através da disciplina de Estágio, mas, no decorrer da proposta, foi possível perceber que na verdade o que me abalou emocionalmente foi o fato de eu estar sendo desafiada a realizar um trabalho inovador com aquela turma tão peculiar, correndo o risco de ser analisada e avaliada por eles e pela professora orientadora, podendo receber de ambos um diagnóstico que não correspondesse com minha expectativa e desejo naquele momento. Certamente o único retorno que gostaria de receber no final do trabalho era o reconhecimento de todos e a possibilidade disso não ocorrer me desestabilizou. Diante dessa primeira impressão com os alunos, e objetivando me fortalecer perante a turma, julguei conveniente esclarecer o quanto seria importante que eles focassem toda sua atenção e energia na realização dos trabalhos propostos em aula, uma vez que as questões pessoais deveriam ser momentaneamente isoladas com o objetivo de não interferir no desenvolvimento e produtividade das atividades. Reforcei que as palavras chave seriam dedicação e disciplina (com essa atitude tentei demonstrar a eles o que realmente acredito ser fundamental para o sucesso de qualquer trabalho). Porém os depoimentos e acréscimos de alguns alunos me fizeram perceber que não bastaria trabalhar apenas o tema “Máscaras” isoladamente. Se fazia necessário também abordar um assunto mais presente no cotidiano de todos. Um dos alunos iniciou comentando sobre o quanto é difícil não usarmos máscaras nas diversas situações da vida. Esse breve relato abriu um debate na turma, mostrando claramente a necessidade e a possibilidade de se ir além do planejado. Outro aluno confessou possuir dificuldades em controlar suas emoções, conduzindo-o a situações de conflito e discussões tanto na intimidade do lar como no ambiente de trabalho. Reforçou ainda que muitas vezes a jornada cansativa acabava esgotando suas capacidades de tolerar as frustrações e dificuldades da vida, levandoo a “explodir” em diversos momentos; o que, além de gerar um grande desconforto interno, acabava magoando e afastando pessoas queridas e próximas. Esse desabafo acabou despertando um sentimento de empatia na turma. Com isso uma aluna sugeriu a possibilidade de estudarmos e discutirmos melhor esse assunto no decorrer das aulas. Tal sugestão foi prontamente aceita por tratar-se de algo que inquietava a todos em sua vida cotidiana, e que também possibilitaria rever atitudes e refletir melhor sobre o comportamento adotado diante das diversas situações vividas; proporcionando quem sabe uma mudança de comportamento e 145
na forma de pensar. Sendo assim, optei por explorar alguns aspectos sobre o tema “Máscaras Sociais”. Foi neste momento que percebi o quanto essa Prática de Ensino seria diferente e que mexeria muito comigo, tanto que oportunizou a visualização do que estava por trás da minha própria máscara. A medida em que os alunos falavam e comentavam sobre suas vidas, eu também ia realizando uma reflexão sobre a minha vida e nem sempre as constatações obtidas me agradavam. Estou concluindo o curso universitário e, ao invés de certezas e segurança, tenho dúvidas e insegurança, possuindo talvez uma visão distorcida de minha profissão e da forma como atuo profissionalmente, assim como da postura adotada perante a vida. Profissionalmente, acredito acima de tudo na disciplina e dedicação e constantemente, procuro aliar regras de boa conduta ao estudo da Arte. Sendo assim, quando me deparo com uma situação oposta ao que acredito e tento cultivar nos alunos em muitos momentos, sintome fracassar; o que de certa forma é positivo por fazer com que eu nunca me acomode, buscando sempre algo diferente e inovador. Porém, fica a angústia e a frustração por não ter conseguido alcançar meus objetivos primários dentro do contexto escolar. Sobre minha vida pessoal, posso resumidamente dizer que está em constante mudança, seja de humor ou de atitudes. A Faculdade, que até pouco tempo não era um projeto muito claro, revelou-se um agradável, porém difícil e cansativo objetivo. Agora, tão próximo de sua conclusão apresenta-se como uma meta atingível. O que lamento é que esse processo de análise crítica esteja iniciando um pouco tarde demais. Sempre pensei que aos 37 anos seria mais madura e segura, sendo assim sinto-me um pouco frustrada. Foi possível perceber que meus constantes e velhos conflitos internos vieram à tona durante esse Estágio, e que a luta contra meu pessimismo foi uma batalha complicada e constante durante a Prática. Não foi fácil motivar os alunos assim como identificar quem estava motivado ou não. Mais difícil ainda foi me motivar. Questionava-me muito se o trabalho realizado com a turma estava sendo produtivo e se realmente estava despertando e oportunizando a eles tudo aquilo que eu havia planejado. Com frequência percebia-me tomada por uma sensação de que nada estava dando certo e de que eles não estavam gostando das aulas. Eu sentia um vazio, uma dúvida e até mesmo certo desespero. Tais sentimentos pareciam bloquear minha mente. Em alguns momentos, sentia que estava por um fio para abandonar tudo e chorar, chorar muito até aquela angústia passar. Fiquei com medo de desistir de mais esse projeto, porque já fiz isso outras vezes na vida e a sensação de incapacidade e frustração é muito desagradável; ela deprime e me fez muitas vezes imaginar até que minha existência não fazia sentido algum. Confesso ter 146
reunido forças não sei nem de onde para não fraquejar e cumprir com mais esse propósito. Conciliar essa situação com minha vida pessoal também foi outro grande desafio a ser superado. Felizmente, consegui enfrentar todos os meus “fantasmas” e, mesmo tendo consciência de que nem tudo foi maravilhoso (até porque estava trabalhando com seres humanos que por natureza são imprevisíveis), tenho a certeza de que muitos e bons frutos foram colhidos através dessa experiência. Levando em consideração essa situação desafiadora, senti a necessidade de buscar maior embasamento teórico, assim como um fortalecimento emocional para atender de maneira satisfatória às necessidades e expectativas da turma. Buscando esse fortalecimento, procurei realizar constantemente meditação assim como a verbalização de frases e pensamentos positivos. Também busquei refúgio espiritual, tendo como um grande aliado nesse processo os preceitos da filosofia Espírita. Como forma de dividir os medos e angústias, busquei apoio nas conversas com diversas pessoas queridas, em especial com minha irmã que contribuiu de forma absoluta e imprescindível para o meu sucesso e minha postura diante das dificuldades. Procurei retirar as queixas do meu vocabulário e cultivar pensamentos e atitudes de humildade, coragem e perseverança. Embora durante esse processo tenha ocorrido um afastamento de muitas pessoas que infelizmente não compreenderam minha trajetória e objetivos, hoje vejo o mundo com outros olhos. Sinto-me mais forte, mais segura e amadurecida, pronta para enfrentar qualquer outro desafio profissional que se fizer presente em minha vida. Alguns de meus valores também mudaram, minha postura diante da vida está mais positiva e renovada, como quem sabe o que quer e como chegar lá. Enfim, considero que saí vencedora desse processo, pois apesar das dificuldades superei minhas próprias expectativas e amadureci. Pesquisei atividades diferentes e apresentei novas propostas estimulando assim os alunos ao exercício da auto-reflexão. Acredito ter instigado os alunos a pensar sobre estas questões mais íntimas e na forma como elas atuam na interação dos indivíduos com o mundo, tenha sido possível desenvolver neles a capacidade de observarem seus atos e opiniões prévias com um novo olhar, o que levou a uma produção plástica consciente e significativa além de um progresso e amadurecimento pessoal. Acrescento ainda que o ritmo de cada aluno foi respeitado e teve-se o cuidado de planejar as atividades com organização, seriedade e responsabilidade para que todos pudessem estar à vontade no decorrer das aulas, em especial nos momentos do trabalho de criação. Com isso, surgiu uma inquietação sobre as razões motivadoras que levaram grande parte dos alunos a conceituar em máscara como sendo um 147
mecanismo utilizado pelas pessoas para mostrar o seu verdadeiro eu. Essa inquietação pode ser parcialmente saciada se partimos do pressuposto de que muitas vezes somos forçados pelo meio, ou pela própria cobrança interna que exercemos sobre nós mesmos, a representar um papel em nosso ambiente social e até na intimidade de nosso seio familiar. Esse fato deve-se à necessidade apresentada pelo ser humano de viver em sociedade e buscar constantemente a aprovação e o reconhecimento de seus semelhantes. Fomos criados para viver em grupo, uma vez que ninguém progride intelecto ou emocionalmente vivendo isolado de seus semelhantes e é através dessa interação que nos sentimos como parte de um todo, mesmo que muitas vezes necessitemos representar alguns papéis utilizando certas “Máscaras”. Pretendi com esse trabalho estimular nos alunos a necessidade de adotarem uma postura articulada no tempo e no espaço, tomando consciência do ser incompleto que se é e da importância da busca permanente de conhecimento e vivências que possam ampliar os conhecimentos já adquiridos e promover um amadurecimento e verdadeiro crescimento do ser. Fazendo uma análise geral sobre a educação praticada atualmente em nosso país e sobre a realidade da EJA, ocorreu o desmascaramento de uma terceira questão. Podemos afirmar que existe um abismo entre dois mundos. Um deles é a realidade praticada pelas escolas particulares, onde os recursos pedagógicos e tecnológicos são cada vez mais abundantes e atraentes, fazendo com que o aluno de diferentes idades tenha recursos suficientes para um aprendizado prazeroso e de qualidade; onde a estrutura física e o preparo dos profissionais da educação colaboram para a realização das diferentes propostas e projetos. Em contra partida, encontra-se a rede pública de ensino que, exceto raras exceções, é composta por escolas decadentes com condições físicas precárias onde os alunos muitas vezes dependem da boa vontade dos professores, que, na ânsia de desenvolverem um trabalho digno e fazerem a diferença para aquele pequeno grupo, acabam se envolvendo além do horário de trabalho, desembolsando valores pessoais na compra de materiais e recursos não oferecidos pelo sistema responsável. Certamente essa realidade não se trata de uma constatação atual, uma vez que esses distintos modelos de ensino acompanham o desenvolvimento educacional do país ao longo das últimas décadas. Contudo, com a mídia auxiliando na propagação da informação e a desigualdade social cada vez mais estampada no cenário brasileiro, tal fato torna-se ainda mais visível e de fácil acesso. Nessa realidade distante do ideal em que se encontra o ensino público no Brasil está a EJA (Educação de Jovens e Adultos). Alguns passos se colocam como desafios para a Educação de Jovens e Adultos. Temos hoje uma diversidade de projetos, de propostas, de programas resultantes do 148
rompimento com a padronização. São três as funções estabelecidas para a EJA (2009): a função reparadora, que se refere ao ingresso no circuito dos direitos civis, pela restauração de um direito negado; a função equalizadora, que propõe garantir uma redistribuição e alocação em vista de mais igualdade de modo a proporcionar maiores oportunidades, de acesso e permanência na escola, aos que até então foram mais desfavorecidos e, por último, a função qualificadora (função por excelência da EJA), correspondente às necessidades de atualização e de aprendizagem contínuas, próprias da era em que nos encontramos. Porém, não houve o cuidado em fixar a idade mínima para o ingresso nos cursos da EJA. O fato de o Ensino Supletivo tornar-se Educação de Jovens e Adultos faz com que, a cada dia, aumente o número de adolescentes frequentando essa Modalidade de Ensino. Vários são os fatores que contribuem para a desistência dos jovens e, principalmente, dos mais adultos. Dentre eles estão: o ingresso na EJA de alguns adolescentes por indisciplina e repetência (o que reforça o caráter excludente que essa Modalidade de Ensino apresenta, tanto na visão dos próprios alunos como na sociedade em geral) assim como a tripla jornada vivenciada por grande parte dos alunos adultos (submetidos a cansativa rotina de trabalho, escola e ambiente familiar). Tal fato pode ser observado no alto índice de faltas não justificadas, e acabam por vezes ocasionando a desistência permanente desses alunos. O ensino noturno apresenta uma série de diferenças em relação ao ensino diurno. Os alunos, em sua maioria, chegam à escola após uma longa jornada de trabalho, muitas vezes cumprida em localidades extremamente distantes da escola ou de suas residências. Analisando essas realidades, faz-se necessário um trabalho diferenciado a fim de impedir a exclusão social e o fracasso escolar, experiência já vivenciada por esses alunos no ensino convencional. Frente a esse cenário, é fundamental compreender que o aluno matriculado nessa Modalidade de Ensino visa a obtenção de conhecimentos e de ascensão social, profissional, cultural e econômica. Considerando essa linha de raciocínio e desde que haja interesse por parte da Escola e do corpo docente, torna-se viável oportunizar um ensino que caminhe de forma paralela à realidade desses alunos, objetivando melhores resultados no processo ensinoaprendizagem no que se refere à inclusão desses alunos na vida escolar e no mundo social. O objetivo das aulas de Artes é fazer com que o aluno compreenda de uma forma agradável que os movimentos criadores e criativos do ser humano oportunizam o encontro consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Com isso, é possível desenvolver essa capacidade criadora a todo instante e a todo o momento com algo que lhe é natural, 149
espontâneo e infinito. Trabalhar com a EJA é, sem dúvida alguma, uma experiência ímpar e de grande satisfação, apesar dos desafios e dificuldades aqui relatados. Além da constante troca de conhecimento e da facilidade em desenvolver as propostas em virtude da maturidade da turma, os alunos também contribuem para o aprendizado do professor através de suas experiências de vida, pois no instante em que abre-se espaço ao aluno para debater a realidade que ele vivencia, possibilitando a ele uma compreensão crítica de sua situação (trabalhadorestudante) tornando-se assim uma pessoa que saiba se relacionar com outros e que consiga participar de forma ativa e cooperativa na sociedade procurando transformá-la; torna-se impossível não aprender com esse aluno, visto que ocorre uma troca bastante significativa de conhecimentos e vivências. Os alunos da EJA pertencem a um grupo que não dispõe do mesmo tempo e disposição presentes na idade escolar regular, ou seja, são jovens e adultos que por razões diversas não tiveram a oportunidade ou disposição para concluir os estudos nos anos regulares e que através de um grande esforço ou quem sabe em função de uma exigência familiar ou profissional, tentam recuperar o tempo perdido tendo muitas vezes como única alternativa possível a EJA. Partindo dessa realidade, o movimento de elaboração das aulas e a preocupação com o envolvimento e satisfação de todos diante das atividades me fez refletir sobre o quão importante e desafiador é o papel do professor. É bem verdade que atualmente o professor exerce fundamentalmente o papel de mediador do saber, pois mesmos os alunos mais carentes dispõem de alternativas tecnológicas para buscar informação neste mundo globalizado. Quando falamos em escolas particulares, onde existe à disposição dos alunos um laboratório de informática além de computadores disponíveis em suas casas com acesso a internet, esse fato torna-se ainda mais presente. É como se um véu existente sobre a figura centralizadora do saber que até então pertencia ao professor fosse dissipado, e as informações de todo o mundo estivessem à disposição do aluno mediante um simples “clic”. Não apenas os avanços tecnológicos são responsáveis pela mudança no papel do professor, mas também as mudanças da sociedade e do ser humano de maneira geral. Cada vez mais nos deparamos com crianças e adolescentes críticos e detentores de um saber que há alguns anos atrás sequer seria imaginado poder existir. Vivemos numa era em que não existem mais fronteiras para o pensamento e a busca de informação, fazendo com que o professor seja mais do que nunca o mediador entre esse bombardeio de conhecimentos e o aluno. Para acompanhar essa nova realidade, é preciso se manter atualizado e alimentar a sede pela busca de novos saberes.
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Nesse contexto, cabe ao professor apresentar uma proposta atual, atrativa e que não entre em conflito com os interesses e valores de seus alunos. É importante destacar que o sistema público de ensino brasileiro não costuma seguir um movimento de expansão visando à melhoria das condições de acesso da população à educação. O objetivo da ampliação dos cursos noturnos na sociedade brasileira, certamente é fornecer operários qualificados ao sistema industrial. Partindo dessa análise, acredito ser de extrema importância que os alunos possam encontrar na disciplina de Artes algo que possa ir muito além dessa expectativa. Essa disciplina deve oportunizar aos alunos expressarem suas angústias, medos e alegrias; que eles possam desenvolver também a habilidade de trabalhar em grupo e com isso trocar experiências, assimilando e internalizando novos conhecimentos. Além desses exercícios fundamentais para o desenvolvimento de um ser mais crítico e feliz, a disciplina também deve oportunizar que o aluno consiga acessar seus sentimentos, questionando antigos conceitos e padrões, refletindo sobre as mais diversas questões que permeiam sua existência individual e coletiva. Enfim, o objetivo maior da disciplina de Artes, através dos exercícios oferecidos, deveria ser possibilitar que os alunos conseguissem ampliar seu campo de visão e atuação no mundo, aumentando também seu senso crítico e a forma de interação com todo esse universo interno e externo. Sendo assim, torna-se fundamental oportunizar um ensino que caminhe de forma paralela à realidade desses alunos, objetivando melhores resultados no processo ensino-aprendizagem e no que se refere à sua inclusão na vida escolar e social. Considerando-se que a Arte é um fenômeno sociocultural e que está relacionada com a totalidade da existência humana, mantendo ainda íntimas conexões com o processo histórico e que possui a sua própria história; podendo ser dirigida por tendências que nascem, desenvolvem-se e morrem, faz-se pertinente citar como exemplo a teoria de Kant (2003) que fornecia a seus alunos subsídios para buscarem o conhecimento através de suas experiências pessoais e conceitos formados através de um conjunto de teorias e percepções, tornando o processo educativo mais dinâmico e responsável, desmistificando um pouco a figura do educador como o detentor do saber e da verdade absoluta. Analisando a prática educativa de acordo com a visão de Kant, identificou-se a importância de proporcionar aos alunos atividades práticas com a possibilidade de expressarem-se e comunicarem-se livremente. Através desse exercício, torna-se possível o autoconhecimento através de uma autoanálise sobre os pontos positivos e os que ainda precisam ser melhorados dentro de sua forma de agir e interagir com o mundo. Essa reflexão 151
nasceu a partir da minha Prática de Ensino a qual percebo hoje como sendo um processo importante para meu desenvolvimento pessoal e profissional. Aproveitando esse aprendizado obtido, comentei com os alunos que cada um deveria manter o foco em seu propósito e em suas opiniões, não permitindo a manipulação e a intervenção externa; sendo cada um inteiramente responsável por suas emoções e atos no decorrer desses encontros. Esse posicionamento conduziu os alunos a adotarem uma postura mais concentrada e responsável durante as aulas de Artes. As diversas manifestações de Arte que encontramos no cotidiano têm a função de transpor fronteiras, encantar, provocar reflexões, admiração, inquietação e até mesmo proporcionar prazer e emoção. Seja ela uma obra de Arte exposta em um Museu ou uma produção cinematográfica disponibilizada na TV. Se a Arte é produto de um ato criativo (expressão) e a cada instante ela corresponde, direta ou indiretamente, aos anseios da sociedade em que aparece, conclui-se que toda a criação artística constitui num resultado da atividade do homem. Segundo Itten (1975) cabe ao professor o talento para reconhecer e desenvolver as habilidades naturais de cada aluno. Os diversos temperamentos e talentos individuais geram “uma atmosfera criativa que encoraja o trabalho original”. Sabe-se que para o sucesso no processo ensino-aprendizagem é necessário o conhecimento da realidade do aluno, considerando suas experiências prévias associadas aos conhecimentos construídos durante toda sua vida. A Arte é um dos meios de que dispõe o homem para captar e conhecer a realidade humano-social, assim como manifestar seus sentimentos, emoções e percepções do mundo. Essa manifestação de sentimentos ocorre primeiramente por intermédio do nosso corpo. Porém, analisar os sinais do corpo é ao mesmo tempo desafiador e incerto, uma vez que o ser humano pode manipular seus sentimentos e expressões corporais. Visto que a maioria dos alunos são adultos e que chegam à escola depois de uma jornada de trabalho onde certamente diversos são os assuntos particulares pendentes, a expressão pode ser manipulada inclusive inconscientemente, dominada pelos problemas e pelo cansaço. Durante essa experiência de Estágio, minha trajetória profissional com alunos do ensino fundamental de certa forma me traiu. Uma situação é dar aula para alunos que nunca questionam e que aceitam tudo o que o professor lhes oferece pelo simples fato desse conteúdo muitas vezes ser uma novidade. Outra questão bem diferente é atender aos alunos da EJA, um grupo mais maduro com maior experiência de vida tanto no aspecto pessoal como 152
profissional, para o qual as verdades deixam de ser absolutas e os questionamentos e julgamentos permeiam a relação professor-aluno. O aluno da EJA talvez por estar inserido no mercado de trabalho e possuir, em sua maioria, idade avançada em relação a série que está cursando, chega à Escola com uma expectativa imediatista aliada, muitas vezes, a uma vasta experiência de vida. Essa percepção ficou visível durante todo processo de execução e apresentação dos trabalhos para a comunidade escolar, pois foi possível perceber uma grande preocupação dos alunos com a qualidade e o sucesso dessa proposta. Sentia-se naqueles alunos uma necessidade de compensar esse prejuízo através de uma boa performance por intermédio da apresentação de ótimas produções. Com base nessa percepção, pode-se concluir que os alunos resgataram através da atividade de construção de uma máscara (além dos demais temas abordados em aula durante o período de estágio) seu próprio processo expressivo, redescobrindo o lado lúdico no manuseio dos materiais. A atividade possibilitou a esses alunos uma viagem interior, um exercício de total entrega e de livre expressão de seus sentimentos e percepções. Certamente o objetivo foi alcançado, pois além de todo o processo de criação, houve também uma maior compreensão da mensagem transmitida por intermédio do filme “Máscara da Ilusão” e pelo Movimento Surrealista, através de uma maneira crítica e reflexiva. Sendo assim, a máscara pode ser considerada um eficiente objeto para expressar os verdadeiros sentimentos e desejos de alguém, sem que essa pessoa precise se expor e sofrer as consequências, nem sempre agradáveis, dessa exposição. Neste caso ao invés de ocultar, a máscara acaba revelando o verdadeiro “eu” de seu usuário. O processo de confecção das máscaras foi a experiência mais descontraída de toda a Prática de Ensino. Foi interessante e animador observar os alunos durante essa atividade. Eram adultos agindo com o entusiasmo e a alegria de uma criança. Durante essa atividade, os alunos conseguiram transpor as barreiras comportamentais determinadas por suas “Máscaras Sociais” e se entregaram ao prazer e à liberdade de criação. Percebia-se através de seus comportamentos e feições uma descontração espontânea e contagiante, deixando claro que naquele momento nenhuma preocupação ameaçava sua total entrega aos benefícios daquela experiência inédita. Através dessa vivência, foi possível constatar o quanto todos necessitamos de momentos descontraídos durante os quais seja possível manifestar nossa criatividade e liberdade de ação, aliviando com isso as tensões e preocupações que permeiam nosso cotidiano. 153
A atividade de criação das máscaras, devidamente embasada em conceitos teóricos e na trajetória histórica do objeto máscara, iniciou um significativo movimento dos alunos no que se refere ao despertar para um novo olhar sobre a Arte. Nesse processo de criação, assim como na interação do indivíduo com o mundo, são muitos os estímulos sensoriais a que o aluno está submetido e com isso podemos resumir que as diferenças individuais permitem que cada aluno tenha um comportamento único e por conseqüência uma produção única. A Arte em alguns casos funciona como uma terapia na vida das pessoas. Ela tem a capacidade de conectar o mundo interno do indivíduo com o meio ao qual está inserido. E nesse processo de movimento interno e externo, mecanismos como a imaginação e o simbolismo são utilizados como molas propulsoras para liberar e manifestar sentimentos, percepções e a leitura destes mundos. As diversas máscaras que utilizamos são uma das formas encontradas para nos comunicarmos em sociedade assim como em nossa individualidade. Com base nos relatos descritos e nas imagens apresentadas nesse relatório, certamente os objetivos propostos foram plenamente atingidos pelos alunos que realmente se envolveram no processo, pois, além de todos os pontos anteriormente citados terem sido alcançados, as máscaras conseguiram retratar os sentimentos de cada um através da expressão facial associada à coerente utilização dos materiais disponibilizados, das texturas e da harmonia das cores. Talvez possamos até ousar em dizer que, com esta simples iniciativa, iniciou-se um processo de lapidação do potencial de cada aluno. A experiência concreta de criação das máscaras oportunizou em cada aluno um movimento interno, através do qual foi possível trabalhar a criatividade, a desinibição, a socialização, o senso crítico, a organização e a autoanálise. Analisando o resultado obtido nas respostas das questões (O que é Arte? e O que é máscara?) apresentadas para a turma, pode-se afirmar que houve um significativo crescimento cultural, cognitivo e social desses alunos. Todo o processo de ensino-aprendizagem é repleto de incertezas e riscos. Isso porque mesmo planejando e buscando materiais diversos para tornar a aula atrativa, lidamos com algo incerto que é a forma como o aluno irá receber e acomodar determinada proposta internamente. Durante todo esse processo, ficou visível a importância de se compreender as necessidades dos alunos, buscando auxiliá-los no que fosse possível em momentos como esse, 154
que normalmente é repleto de sentimentos positivos e negativos, permeados por um forte desejo de que o produto final do seu trabalho seja reconhecido e apreciado por todos os expectadores. Outro fator decisivo para o empenho dos alunos nessa proposta foi a total liberdade de expressão, quando a criatividade fluiu normalmente em todos os estágios desse processo. No último encontro com os alunos a reflexão ocorrida diante das novas aprendizagens já não parecia uma realidade tão distante e sim uma possibilidade palpável através de uma educação mais humana e igualitária. Tudo indica que realmente foi realizado um bom trabalho com essa turma uma vez que o esforço, a responsabilidade, o interesse, o comprometimento e o amor por aquilo que estava sendo produzido foram identificados. É maravilhoso perceber que o Projeto de Ensino abordando o tema “Máscaras” foi capaz de trabalhar a criatividade permitindo o contato com sentimentos e percepções, desenvolvendo o senso-crítico, ampliando a capacidade de socialização e aumentando a autoestima desses alunos, asssim como a minha; além de ter transformado o projeto inicial que seria apenas trabalhar máscaras sem almejar o resultado obtido que foi o desmascaramento das questões aqui abordadas. Valeu muito cada experiência, desde as angústias, medos e incertezas até a sensação de bem-estar ao perceber que foi possível fazer a diferença para esse pequeno grupo de alunos. Ao finalizar esse projeto, conclui-se que o homem é um ser criativo por natureza e que essa característica humana está presente em todos os atos do cotidiano das pessoas, embora muitas vezes esteja oculta nos automatismos ao quais estamos condicionados, aliado aos boicotes que costumeiramente fazemos a nós mesmos. O indivíduo criativo é aquele que elabora alternativas inovadoras para circunstâncias corriqueiras. Ao educador cabe oportunizar que esse processo criativo seja aflorado e constantemente exercitado, podendo com isso proporcionar uma significativa sensação de bem-estar aos seus alunos através da manifestação de sentimentos que habitam nosso ser, mas que podem ser liberados, trabalhados e melhor acomodados; além da ampliação do senso crítico desses alunos. Outra probabilidade presente nesse exercício criativo é a revelação de talentos, a partir de projetos interdisciplinares simples porém significativos, que respeitem e valorizem as vivências subjetivas de cada um. Para finalizar gostaria de registrar aqui que sou imensamente grata a Deus pela oportunidade de vivenciar essa experiência de estágio que tanto contribuiu para meu aprendizado e amadurecimento pessoal e profissional. Cabe agradecer também a minha 155
professora orientadora Ana Lúcia Beck que tanto me auxiliou na confecção desse trabalho de curso me instigando a realizar profundas análises e reflexões as quais trouxeram respostas referentes a minha postura enquanto educadora e enquanto pessoa proporcionando um aprendizado duradouro e promissor. Agradeço também a todas as pessoas que de uma forma ou outra contribuíram para a conclusão de mais essa etapa, amparando-me nos momentos de dúvidas e angústias. Nesse momento final permito-me “abraçar-me”, pela força de vontade, coragem e determinação ao superar todas as dificuldades e seguir em frente. Posso afirmar que venci medos, tabus e obstáculos com essa experiência que jamais será esquecida.
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160
APÊNDICE 1 AVALIAÇÃO REALIZADA PELA PROFESSORA DA ESCOLA (2011)
161
162
APÊNDICE 2 QUESTIONÁRIO RESPONDIDO RESPONDIDO PELA DIRETORA DA ESCOLA DE ESTÁGIO (2005) 163
164
165
APÊNDICE 3 QUESTIONÁRIO RESPONDIDO RESPONDIDO PELA PROFESSORA DA DA ESCOLA DE ESTÁGIO (2005) 166
167
168
APÊNDICE 4 QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS RESPONDIDOS PELOS ALUNOS DA ESCOLA DE ESTÁGIO (2005) 169
170
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ANEXO TABELA CRIADA DURANTE O ESTÁGIO IV PARA ANÁLISE E REFLEXÃO DE TODAS AS AULAS (2011) 175
176