Materiais alternativos: alternativas em arte e ensino.

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Carmen Elis de Oliveira Ribeiro

Materiais Alternativos: Alternativas em Arte e Ensino.

Canoas, 26 junho de 2012.


Carmen Elis de Oliveira Ribeiro

Materiais Alternativos: Alternativas em Arte e Ensino.

Trabalho de Curso apresentado como pré-requisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciado/a em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores: Estágio I: Prof. Dr. Celso Vitelli Prof. Me. Jose Carlos Broch Estágio II: Prof. Ma. Ana Lúcia Beck Estágio III: Prof. Ma. Ana Lúcia Beck Estágio IV: Prof. Ma. Ana Lúcia Beck

Canoas, 26 junho de 2012.


Resumo

Este Trabalho de Curso (TC) foi realizado a partir das observações e pesquisas realizadas durante os estágios, na Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Ruy Coelho Gonçalves, situada na Av. Valdir Rodrigues Soares, 785, no bairro COHAB, na cidade de Guaíba/RS. O Projeto de Ensino foi aplicado em uma 7ª serie do ensino fundamental e um 1º ano do ensino médio, em 7 encontros (14 aulas), ambas as turmas com a mesma professora titular. O tema de pesquisa “Arte e Lixo” se refere à Arte que utiliza materiais descartados pela sociedade (lixo), de formas variadas: como suporte, como material, etc. As implicações, relações e leituras que o trabalho com este material proporciona. A pesquisa foi realizada através dos autores E.H. Gombrich, Carol Strickland e Stephen Little que ajudaram-me a compreender como deu-se a introdução dos materiais de descarte social na Arte, rompendo com os materiais academicistas que eram utilizados até então. Através dos autores Vik Muniz, Roseli Ventrellla, Silvia Bortolozzo e Marta Dantas pesquisei artistas contemporâneos brasileiros que se utilizam destes materiais como forma de expressão. Procurei com a pesquisa trazer para os alunos referenciais de Arte através de Vik Muniz, que trabalhou com lixo para compor uma série de fotografias. Frans Krajcberg, que trabalha com restos de materiais recolhidos da natureza para fazer seus trabalhos de Arte e Bispo do Rosário que recolhia materiais descartados, cacarecos sem valor que transformava em arte dentro do manicômio onde era paciente e morava. O objetivo geral do meu projeto de ensino foi proporcionar para as duas turmas observadas conhecer artistas contemporâneos que trabalhassem com materiais alternativos. Observando e analisando de forma crítica os elementos dentro das obras e ampliando os conceitos de arte, resignificando materiais, buscando a sensibilização e a significação na construção do conhecimento teórico e prático da Arte. Trabalhei nas duas turmas o mesmo projeto de ensino, adaptando e flexibilizando-o as necessidades de cada turma. As metodologias aplicadas foram trabalhos individuais e em grupos, utilizando técnicas variadas como: desenho, frottage, colagem, pintura, Toy Art, Arte Postal, leitura de imagens, etc. Através de atividades teóricas e práticas, que buscaram significar a criação artística com materiais reciclados, relacionando-o ao universo de interesse do aluno. O TC versa sobre a prática de ensino com o Ensino Médio, em que tive mais dificuldades de aplicar o projeto, pois meus conceitos e planejamentos eram colocados em xeque e me levavam inúmeras vezes a repensá-los e a replanejar as aulas. Através da prática em sala de aula descobri que não basta planejar as aulas é preciso estar atento as respostas dos alunos ao planejado. Analisar os resultados e flexibilizar os planos quando necessário, a fim de se atingir os objetivos de ensino e aprendizagem.

Palavras-chave: Materiais descartados. Significar. Flexibilizar.


Dedico este trabalho a minha família e aos meus amigos que sempre me deram forças através do seu apóio e incentivo para enfrentar e superar as dificuldades que apareciam em meu caminho.


Agradeço a todos aqueles que tornaram a realização deste trabalho possível: os professores da Ulbra, os colegas do curso de Artes Visuais, a escola Dr. Ruy Coelho Gonçalves onde fiz os estágios, os alunos da turma 104 e 72 e a professora Ledi Kercher. Agradeço especialmente a prof. Ma. Ana Lúcia Beck, que me orientou incansavelmente na realização deste trabalho.


“Somos arquitetos da nossa própria estrada e seremos conhecidos pela influência que projetamos naqueles que nos cercam” (XAVIER, 2009, p.91).


Sumário

INTRODUÇÃO .....................................................................................................9 CAPITULO I - 1. Conhecimento do Espaço de Ensino ........................................14 1.1. Dados gerais da escola ................................................................................15 1.2. Observações silenciosas ..............................................................................16 1.2.1. Dados gerais da turma ........................................................................16 1.2.2. Observações Gerais ...........................................................................16 1.2.3. Observações silenciosas das aulas 1 e 2 ...........................................17 1.2.4. Observações silenciosas das aulas 3 e 4 ...........................................18 1.2.5. Observações silenciosas das aulas 5 e 6 ...........................................20 1.3. Análises das observações silenciosas .........................................................22 1.4. Análise do questionário respondido pela professora ....................................24 1.5. Análises dos questionários respondidos pelos alunos .................................26 1.6. Motivos para a definição do tema: “Arte e Lixo” ..........................................28

CAPÍTULO II - 2. Arte e Lixo ................................................................................29 2.1. Vik Muniz......................................................................................................35 2.2. Frans Krajcberg ............................................................................................41 2.3. Bispo do Rosário ..........................................................................................45

CAPÍTULO III – 3. Projeto e Práticas de Ensino de Artes Visuais .......................50 3.1. Dados gerais da Escola e da Turma em que foi realizada a prática com o Ensino Médio ...................................................................................................51 3.2. Dados Gerais do Projeto de Ensino .............................................................51 3.2.1. Titulo ...................................................................................................51 3.2.2. Justificativa .........................................................................................51 3.2.3. Objetivo Geral .....................................................................................52 3.3. Prática de Ensino .........................................................................................53 3.3.1. Primeiro Encontro (aulas 1 e 2) ..........................................................53 3.3.2. Segundo Encontro (aulas 3 e 4) .........................................................60 3.3.3. Terceiro Encontro (aulas 5 e 6)...........................................................71 3.3.4. Quarto Encontro (aulas 7 e 8) .............................................................83 3.3.5. Quinto Encontro (aulas 9 e 10) ...........................................................93 3.3.6. Sexto Encontro (aulas 11 e 12)......................................................... 104 3.3.7. Sétimo Encontro (aulas 13 e 14)....................................................... 110

CONCLUSÃO .................................................................................................... 117 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 126


APÊNDICES ...................................................................................................... 129 Apêndice 1 - Copia da avaliação de aluno estagiário realizada pela professora da escola de estágio ......................................................................................... 130 Apêndice 2 - Copia do questionário respondido pela coordenação da escola 131 Apêndice 3 - Cópia do questionário respondido pela professora da escola de estágio............................................................................................................... 132 Apêndice 4 - Cópias de 5 questionários (mais significativos) respondidos pelos alunos................................................................................................................ 134


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Introdução Este Trabalho de Curso (TC) é produto das questões com que me deparei no decorrer dos estágios realizados na Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Ruy Coelho Gonçalves, situada na Av. Valdir Rodrigues Soares, 785, no bairro COHAB, na cidade de Guaíba/RS. A escola foi fundada em 25 de abril de 1980, e atende hoje 1.060 alunos no ensino fundamental e médio, conta com 66 professores e 12 salas de aula. Ela está inserida em uma comunidade carente de classe social baixa e classe média baixa, atendendo alunos em três turnos de aula. O Trabalho de Curso versa sobre a turma 104 do Ensino Médio. Nesta turma encontrei mais desafios através dos problemas que aconteciam em sala de aula e que me levavam a muitos questionamentos e reflexões sobre minha prática de ensino. Logo, optei por esta turma para o TC, por ela ter representado um desafio a mais às minhas certezas, me desestruturando dentro do meu planejamento e assim,

proporcionando

que

eu

encontrasse

meu

caminho

de

ensino

e

aprendizagem. Para os estágios foram feitas observações silenciosas nas aulas da turma 72, 7ª série do ensino fundamental e da turma 104, 1º ano do ensino médio. As duas turmas com a mesma professora titular, Ledi Kercher. As observações silenciosas do ensino fundamental e do ensino médio e as análises destas observações, as análises dos questionários respondidos pela professora titular, respondidos pela direção da escola e respondidos pelos alunos ajudaram-me a pensar e planejar os estágios. Através da pesquisa feita com os alunos percebi a pouquíssima referência em arte que eles tinham. Os alunos se referiam aos trabalhos de artesanato que faziam como o que conheciam de arte (citam, por exemplo, puff de garrafa PET como o que conhecem como arte). A partir daí procurei por referenciais dentro da arte que trabalhavam o mesmo tipo de materiais que estes alunos (materiais descartados pela sociedade), em seus trabalhos. O tema de pesquisa “Lixo e Arte” foi pensado para o projeto a partir da solicitação da professora titular em continuar seu projeto de utilizar materiais baratos e recicláveis, com um cunho de preservação ambiental e atendendo as necessidades da comunidade que era carente. Com o enfoque de arte a partir de


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materiais descartados pela sociedade (lixo), optei por artistas Brasileiros e Contemporâneos: Vicente Jose de Oliveira Muniz, conhecido como Vik Muniz (1964), Frans Krajcberg (1921) e Arthur Bispo do Rosário (1909 – 1989). As obras destes artistas apresentam diferentes composições com materiais variados, provenientes do descarte da sociedade. Ao longo da História da Arte se percebe que muitos artistas se utilizaram deste tipo de material (lixo), para expressar suas idéias sem necessariamente levantarem a bandeira de preservação ambiental e reciclagem de lixo. Para a pesquisa deste tema utilizei autores como: E. H. Gombrich, Stephen Little e Carol Strickland que me ajudaram a entender o contexto histórico, em que os artistas passam a inserir em seus trabalhos materiais que rompem com o academicismo e abrem as portas da experimentação de novas idéias na arte. Vik Muniz, Roseli Ventrella, Silvia Bortolozzo e Marta Dantas são autores que ajudaram-me a conhecer o trabalho de Vik Muniz, Frans Krajcberg e Bispo do Rosário. Vik Muniz, como autor de sua biografia, “Reflex Vik Muniz de A a Z” fala de sua própria trajetória na Arte com materiais inusitados. Roseli Ventrella e Silvia Bortolozzo ajudaram-me a conhecer melhor o trabalho de Frans Krajcberg, que resgata restos de florestas queimadas ou derrubadas e que em suas mãos voltam a ganhar vida, transformadas em Arte/denúncia pela preservação ambiental, ao denunciar a devastação das florestas Brasileiras. Marta Dantas, autora através da qual pesquisei Bispo do Rosário, que trabalhava com peças descartadas pela sociedade, consideradas lixo, dentro de um manicômio onde morava. Direcionei a pesquisa para os trabalhos destes artistas em que o lixo aparece como material de trabalho de forma temática ou como suporte. A pesquisa também se realizou através de sites da internet, que me ajudaram a entender melhor o tema de pesquisa e conhecer melhor o trabalho destes artistas que trabalham, direta ou indiretamente, com o lixo descartado pela sociedade. Dentro do projeto, o uso de materiais descartados pela sociedade era o meio de aproximação dos alunos com a Arte. Os alunos já trabalhavam com estes materiais em aulas de Arte, confeccionavam objetos decorativos e utilitários. Ao relacionar o trabalho desenvolvido em sala de aula com o conteúdo social, econômico e político que o trabalho com este material tem potencializado e nas


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leituras de imagem que ele possibilita, os alunos tiveram diante de si muitas possibilidades de ver, de forma crítica, os elementos que compunham as obras, repensar e relacionar ampliando assim os conceitos que tinham do que era Arte. Era importante trazer para o trabalho com materiais reciclados significação e valores de fruição poética. Assim, possibilitar aos alunos através do conhecimento do trabalho de artistas que se utilizavam deste tipo de material, estabelecerem relações através das leituras das obras com estes materiais e das idéias e conceitos que este tipo de arte passa a englobar. O objetivo geral do meu projeto de ensino foi proporcionar para as duas turmas observadas conhecer artistas contemporâneos que trabalhassem com materiais alternativos. Observando e analisando de forma crítica os elementos dentro das obras e ampliando os conceitos sobre a arte, resignificando materiais, buscando a sensibilização e a significação na construção do conhecimento teórico e prático em Arte. Busquei com este objetivo despertar e sensibilizar para os valores sociais e estéticos da Arte, desenvolvendo a observação, a análise e a capacidade crítica dos alunos através da leitura de obras de arte e de seus próprios trabalhos. Ao proporcionar a aproximação com o trabalho de artistas como Vik Muniz e Frans Krajcberg, os alunos perceberam a reciclagem como uma como uma forma de preservar e valorizar a natureza, despertando assim a relação de preservação da natureza e reaproveitando materiais. A prática do Projeto de Ensino em Artes visuais contou com 7 encontros (14 aulas) com o ensino fundamental e 7 encontros (14 aulas) com o ensino médio, com as análises e considerações sobre as aulas ministradas.Trabalhei o mesmo projeto nas duas turmas (ensino fundamental e ensino médio), adaptando-as às necessidades e particularidades que encontrava no decorrer da aplicação do projeto. Ao trabalhar com o ensino médio propostas já trabalhadas no ensino fundamental consegui ter uma noção da metodologia que funcionava e da que não funcionava, possibilitando assim corrigir, mudando o que se fazia necessário, fosse à proposta de trabalho, nos materiais pedidos ou em minha postura com a turma. Com as duas turmas o trabalho foi desenvolvido dentro de atividades práticas e teóricas. A flexibilidade no planejamento e na aplicação do planejado deve ser sempre pensada quando percebemos que as coisas não estão funcionando como se espera, ou nos deparamos com outras possibilidades não pensadas para o projeto, mas muito


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importantes para não serem devidamente aproveitadas naquele momento. Na turma 72 do Ensino Fundamental os alunos se interessaram pelos artistas apresentados, emitindo opiniões e críticas favoráveis ou desfavoráveis aos trabalhos apresentados destes artistas, identificando os materiais trabalhados por eles e posteriormente relacionando estas idéias aos seus trabalhos atendendo os objetivos propostos no projeto. Eles estavam muito dispostos a aceitar o que era novo para eles, a ver, a conhecer e interagir. As propostas de trabalho foram bem aceitas, e em seu desenvolvimento trabalhamos com materiais alternativos e tradicionais na execução dos trabalhos. O Projeto Arte Postal em que os alunos trocaram seus trabalhos de Arte, (através dos correios) com outras escolas possibilitou

aos

alunos

ampliar

seu

entendimento

das

possibilidades

de

comunicação que a Arte proporciona. Os alunos concluíram que ao ver uma obra, cada pessoa passa a traçar suas próprias significações de acordo com os objetivos propostos. Na a turma 104 de Ensino Médio os alunos gostaram de conhecer os trabalhos dos artistas, que eram desconhecidos para eles. Ao assistir o filme/documentário “Lixo Extraordinário”, muitos alunos se emocionavam, gostaram dos trabalhos que viram e se mostraram muito curiosos sobre as obras de Vik Muniz. Mas, ao ver os trabalhos do Krajcberg houve muito estranhamento. Alguns alunos não conseguiam ver valor no trabalho do artista. Conseguiram ler nas obras apresentadas formas e materiais, mas havia dificuldade em fruir e poetizar os trabalhos que viam, pois as relações que faziam tinham a ver com a utilidade da obra. Muitas vezes a turma colocava em xeque o que era apresentado a eles levando-me a repensar meus conceitos e planejamentos. Em seus trabalhos práticos com materiais alternativos e tradicionais, conseguiram de forma parcial relacionar seus trabalhos a partir de uma idéia que lhes desse um significado . Ver no objeto criado algo além do objeto, ver que suas idéias poderiam ser representadas pelo trabalho que desenvolviam foi aos poucos sendo entendido. Os alunos concluíram durante as leituras, construção e montagem dos trabalhos do projeto de Arte Postal, o conceito de que ao ver um trabalho de arte, as pessoas fazem uma leitura do trabalho que se relaciona com os conhecimentos, interesses e vivencias destas pessoas, sendo então a obra aberta a múltiplas interpretações . Trabalhei o desenvolvimento da expressão criativa dos alunos através de trabalhos práticos individuais e em grupos. Usando técnicas de trabalho variadas


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como Toy Art, frottage, colagem, pintura, trabalhos tridimensionais e bidimensionais, Arte Postal, leitura de imagens e desenho. Através de seus trabalhos os alunos buscaram significar a criação artística relacionando-a ao universo de seu interesse. Despertando e sensibilizando o aluno para os valores sociais e estéticos na Arte. Os alunos de ambas as turmas conseguiram alcançar a maioria dos objetivos que tinha proposto no projeto. Os alunos leram as obras apresentadas, criticaram, refletiram, fizeram os trabalhos propostos e nós aprendemos neste processo. Eles aprenderam sobre arte eu aprendi sobre ensino. A prática do ensino bem orientada nos leva a refletir e entender nosso papel dentro deste processo que deve ser de constante pesquisa, reflexão e mudança. Com o enfoque de Arte a partir de materiais descartados pela sociedade, planejei trabalhar com Vik Muniz, Frans Krajcberg e Bispo do Rosário. Mas, trabalhei em sala de aula apenas com Vik Muniz e Frans Krajcberg. Ao optar trabalhar com o Projeto Arte Postal (em homenagem ao artista Chileno Eugênio Dittborn, durante a 8ª Bienal do Mercosul 2011), dentro da prática de estágio, precisei mudar meu projeto e não houve tempo hábil para trabalhar com Bispo do Rosário. A Arte postal foi trabalhada como técnica de exercício em sala de aula e proporcionou aos alunos socializar através da troca de trabalhos de Arte com outras escolas, ampliando as fronteiras do fazer e entender a Arte. O Projeto Arte Postal, idealizado pelos colegas Ricardo John e Carol Flores, enriqueceu o projeto ao possibilitar aos alunos verem a Arte como mediadora de idéias e um meio de comunicação, valorando os trabalhos por eles realizados e suscitando discussões enriquecedoras em sala de aula. A

conclusão

traz

os

aspectos

considerados

relevantes

no

desenvolvimento de minha prática com o Ensino Médio, meus erros e acertos vivenciados dentro da prática e as reflexões que fiz a partir da prática do estágio. A prática mostrou-se difícil, pois trouxe muitos questionamentos para os quais eu não tinha me preparado. Eu tinha uma percepção equivocada do que acontecia nas primeiras aulas ministradas. Fui percebendo aos poucos o que precisava melhorar, refletindo minha prática e flexibilizando meu planejamento. Descobri durante a prática em sala de aula, que todo o planejamento para as aulas não tinha me preparado para eu lidar com o meu emocional. A reflexão de que minha postura em sala de aula era a principal responsável pelas respostas pouco satisfatórias que recebia dos alunos e levou-me a redirecionar as aulas para atingir os objetivos propostos em meu planejamento. As considerações sobre a prática estão mais


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desenvolvidas na conclusão.

Capítulo I 1. Reconhecimento do Espaço de Ensino


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1.1. Dados gerais da escola

A Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Ruy Coelho Gonçalves, localizase na Av. Valdir Rodrigues Soares, 785, no bairro Coab, na cidade de Guaíba, RS/ 92500000. Tania Hass Massena é a atual diretora da escola, tendo como vicediretora Marilene Lamb e supervisora pedagógica Eveline Anjos. Fundada em 25 de abril de 1980, atende hoje 1.060 alunos no ensino fundamental e médio, conta com 66 professores e 12 salas de aula. A escola está inserida em uma comunidade carente de classe social baixa e classe média baixa, atendendo alunos em três turnos de aula. A proposta pedagógica da escola é a formação dar-se como um todo, compreender a cidadania como participação social e política. Faz parte das normas disciplinares conversa com os alunos; quando os casos são mais sérios se faz atas, sendo que o pior problema disciplinar enfrentado pela escola são as agressões. Não existe uma sala específica para a aula de Artes, as aulas são desenvolvidas em salas ambiente, onde cada professor é responsável por sua sala, mas a escola oferece uma sala multimídia, onde o docente pode agendar seu uso com antecedência de uma semana, tendo disponíveis datashow, retroprojetor e televisão. Na escola não há professores com formação universitária em Artes Visuais. Todas as aulas de artes são divididas entre os professores de diversas áreas de formação como Química, Geografia, História, Português, que compõem o quadro de funcionários da escola. Em uma convivência saudável com a comunidade a escola abre suas portas para os pais participem em datas comemorativas das festividades e atividades apresentadas ou expostas pelos seus alunos.


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1.2. Observações silenciosas

1.2.1. Dados gerais da turma

Escola: Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Ruy Coelho Gonçalves. Professora: Ledi Maria da Silva Kercher. Turma: 104 com 34 alunos (as). 2 períodos das 13h e 15min e às 14h e 45min. Dias observados: 05/04/11, 12/04/11 e 19/04/11.

1.2.2. Observações gerais

A entrada dos alunos é organizada em filas no pavilhão próximo a sala, no início das aulas e após o recreio, o que não impede que eles entrem desorganizados e agitados. Os alunos têm idade média de 14 - 17 anos, sendo 13 meninas e 21 meninos na turma 104. A escola trabalha com salas ambiente, ou seja, cada sala é de um professor por determinado período para desenvolver suas disciplinas, os alunos é que mudam de sala ao final dos períodos, não havendo sala própria para Artes. É uma sala agradável, com armários para guardar materiais, a professora preocupa-se em mantê-la com enfeites e ornamentos artesanais feitos por ela. A professora Ledi formada em História, trabalha na escola Ruy Coelho e além de Arte, ministra aulas de História, Sociologia, Filosofia e Religião.


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1.2.3. Primeira observação silenciosa das aulas 1 e 2

Dia 05/04/11 - turma 104. Os alunos entraram agitados, falando alto e fazendo barulho para organizarem-se em seus lugares. A professora pediu que sentassem, fizessem silêncio e me apresentou como a estagiária Carmen que iria observá-los em algumas aulas, que estuda para ser professora de Artes. A turma passou a se organizar em grupos para fazerem o trabalho proposto pela professora em aula anterior, um Puff de garrafas pet. A maioria dos alunos trouxe os materiais solicitados. A professora pediu atenção e comentou com os alunos as dificuldades que teve em realizar este trabalho na outra turma, que tinha sido péssimo, que esperava deles uma aula melhor. Explicou para eles como cortar as garrafas pet, como encaixá-las e uni-las com fita adesiva. Pediu que guardassem os gargalos cortados que utilizariam e m aula posterior para fazerem flores. A professora deixa que os alunos trabalhem à vontade, só pediu que não bagunçassem. Alguns ficaram em pé outros permaneceram sentados, conversam muito, planejando seus puffs. Em um grupo a aluna trouxe suas garrafas cortadas e encaixadas. Dentro dos grupos a colaboração é variada, uns cortavam as garrafas, outros as seguravam para encaixá-las e colá-las com a fita adesiva. Os grupos formados variaram de 4,5 e 6 alunos, duas alunas ficaram meio isoladas sem participar de nenhum grupo, mais tarde entraram em um grupo e passaram a trabalhar no puff. Tem grupo só de meninas, só de meninos e alguns de meninas e meninos. A professora vai orientando os grupos por etapas, num passo a passo meio fora de compasso, uma vez que os grupos estão em diferentes momentos de confecção de seus trabalhos.

Em alguns momentos da aula pediu aos alunos que

baixassem o volume. A aula transcorreu em uma agradável bagunça produtiva, com a professora circulando por entre os grupos, conversando e orientando sobre os procedimentos na construção do puff. Um grupo de meninas que trouxeram as garrafas já montadas estão com


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o trabalho bem mais adiantado que os outros, em fase de acabamento; trouxeram também a capa para o puff já costurada sobre medida. Os alunos de outras salas ficaram na porta olhando o trabalho e conversando com os alunos. As 14h e 25min a maioria dos grupos já estava com os seus puffs montados faltando apenas finalizar com a capa, que fariam em casa. Os alunos deverão terminar os puffs em casa que irão ficar expostos na escola, de forma permanente para uso dos alunos. Dei uma circulada pelos grupos, todos fizeram o trabalho com excelente acabamento. Os puffs ficaram ótimos. A professora fez a chamada enquanto os alunos trabalhavam em seus puffs. Nos grupos em que os alunos que terminaram seus puffs começam a guardar seus materiais e arrumar as classes no lugar. A professora pediu ajuda para alguns alunos para guardarem seus puffs em outra sala, mas alguns puffs ficaram na sala. As 14h. e 41min. já não há mais atividades, os alunos conversam, saem da sala na ausência da professora, usam o celular, se empurram; quando a professora voltou

mandou eles sentarem-se e fazerem silêncio. Avaliou os

resultados da aula como “muito bom”, que todos participaram e que isso não era surpresa para ela, que todos estavam de parabéns e já tinham nota 10 pelo trabalho.

1.2.4. Segunda observação silenciosa das aulas 3 e 4

Dia 12/04/11 - turma 104. Novamente os alunos entraram agitados, falando alto e fazendo barulho para organizarem-se em seus lugares, colocando os puffs que trouxeram prontos de casa perto da porta. A professora saiu para guardar os puffs, deixando os alunos sozinhos. Aos poucos eles foram saindo da sala, ficando um mínimo de alunos, alguns na porta, outros no corredor, bagunçando, rindo, falando alto. A professora retornou a sala às 14h e 35min, a maioria dos alunos entrou com ela, os que demoraram e chegaram depois, ela não deixou que entrassem,


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fechando a porta. Pediu que todos se acomodassem, pegando o material solicitado na aula anterior para fazerem as flores de garrafa pet, e passou a explicar como deveriam fazer as flores. Os alunos se organizaram em grupos e passaram a confeccionar as flores, como alguns não trouxeram materiais, enquanto um recortava outro pintava e outro esperava para poderem fazer seus trabalhos trocando materiais entre eles, enquanto isso a professora passou a montar o seu puff, com materiais que trouxe. Os trabalhos começaram a ser desenvolvidos sem muita orientação, alguns alunos pediram para sair durante a aula por motivos variados, pegar água, lavar as mãos, pedir algum material emprestado. Os alunos recortaram suas flores de formas variadas, dentro das possibilidades que o gargalo de pet lhes dá. Um grupo de meninos que não trouxeram material para a pintura, fizeram flores muito criativas com recortes bastante diferenciados. A professora passou a circular por entre os grupos olhando os trabalhos e anotando quem trouxe o puff da semana anterior. Ela deu um prazo final para quem não trouxe. Um aluno disse um palavrão e a professora ignorou; voltando a fazer o seu puff. Enquanto trabalhava no seu puff, ela pediu aos alunos o material para a próxima aula: latinha, cola e tesoura, revista colorida ou encarte de loja. As 14h e 20min a professora saiu da sala, demorou uns 5 minutos para retornar, neste intervalo um aluno me pediu para sair e lavar as mãos, eu disse que devia esperar a professora e falar com ela. Um aluno dobra as pétalas de sua flor criando um novo formato e abrindo uma janela de possibilidades para seus outros colegas fazerem suas flores, que também passaram a dobrar as pétalas. Os meninos que não trouxeram material de pintura não quiseram pintar suas flores com o material de seus colegas. As 14h e 40min a professora saiu novamente, voltando dois minutos depois tornando a sair novamente. Alguns alunos continuam desenvolvendo seus trabalhos concentrados, outros aproveitam para sair da sala, alguns me disseram que iam lavar as mãos e pinceis. Alunos de outras salas chegaram à porta para conversar com os colegas; há uma debandada na sala, ouço bagunça no corredor. A professora voltou e os alunos entram para a sala, ela trouxe a notícia que a diretora pediu para que montassem um bolo simbólico de pet para o aniversário da escola, pediu então que alguns alunos lavassem as garrafas pet que


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havia trazido consigo para fazer o bolo. Enquanto isso muitos alunos já terminaram suas flores, alguns estão em fase de conclusão e a professora passou a confeccionar duas flores de pet. Os alunos retornam com as garrafas pet lavadas e passaram a ajudar a professora a confeccionar o bolo de garrafa, os outros alunos, ficaram soltos, conversando, saindo da sala, pintando, olhavam o movimento, guardavam seus materiais. De repente a professora pareceu se dar conta da debandada e disse: “Onde está o resto?” Mas voltou a confeccionar seu bolo, ignorando a situação. As 15h e 10min a professora saiu para buscar outros materiais para confeccionarem o bolo de pet. Quando retornou, 3 minutos depois, pediu aos alunos que guardassem seus materiais e juntassem o lixo do chão e pediu que alguns alunos ficassem no horário do recreio para ajudá-la a fazer o bolo. Às 15h e 22min a professora saiu para buscar TNT para forrar as garrafas do bolo pet, os alunos novamente se dispersaram. Alguns terminaram seus trabalhos, os meninos das flores criativas não as pintaram, alguns ainda pintavam suas flores, outros estavam sentados quietos nos lugares. A professora retornou às 15h e 27min sem o TNT e desistiu de fazer o bolo no recreio, pediu que os alunos organizassem a sala para a próxima turma e terminou a aula. Não fez a chamada, pois estava sem óculos.

1.2.5. Terceira observação silenciosa das aulas 5 e 6

Dia 19/04/11 - turma 104. A aula começou às 2h e 25min, 25 minutos foi o tempo que levaram os alunos para entrarem e acomodarem-se e a professora para guardar em seu armário, o material que estava em cima de sua mesa. Vieram hoje 29 alunos, 11 meninos e 18 meninas. A professora perguntou aos alunos quem havia trazido os materiais solicitados: revista, encartes de loja, cola, tesoura e latinhas. Foi perguntando diretamente a alguns alunos se eles haviam trazido o material para fazer o trabalho.


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Em seguida a professora começou a explicar o trabalho para os alunos em meio as conversas que foram diminuindo aos poucos para ouvirem as explicações. A professora ensinou aos alunos como cortar as folhas e enrolar os canudos que depois seriam usados para encapar as latas e caixinhas que trouxeram. Também salientou que se tratava de um trabalho individual, mas que os alunos poderiam se organizar em pequenos grupos para compartilharem os materiais. Os alunos se organizaram em grupos de afinidades, e passaram a enrolar as folhas coloridas de encartes de revistas, reclamando de dificuldades para desenvolverem o trabalho proposto. A professora passou a ir de grupo em grupo para ensiná-los como enrolar as folhas enquanto conversava com os alunos sobre assuntos variados. Alguns alunos foram até ela perguntar como enrolar, queixandose de inabilidade. Os alunos conversavam entre eles sobre quem fazia melhor o canudo, exaltando as qualidades dos seus em comparação ao resultado dos outros em alto volume. A professora pediu que eles falassem mais baixo; no que foi atendida. A maioria

dos

alunos

permaneceram

sentados

em

seus

lugares

enquanto

trabalhavam. Uma aluna passou a ensinar suas colegas próximas a fazerem os canudos enrolando as folhas. Nos grupos os alunos riam, conversavam, e faziam seus trabalhos em graus variados de dificuldade. A professora sentou-se e passou a recortar flores em EVA, uma aluna se aproximou da professora queixando-se de cólica e começou a conversar sobre o seu namorado. Os outros alunos passaram a circular pela sala, a pedir para irem ao banheiro, alguns perguntaram para a professora quantos canudos deveriam fazer e a professora explicou que deveriam medir na lata a quantidade que eles já tinham feito e calcular o que faltava. Os alunos estavam em diferentes estágios do trabalho, a professora pediu que os terminassem em casa e os trouxessem na próxima aula de artes para ela avaliar. Ela deu mais algumas explicações de como cortar e colar os canudos nas latas.


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Às 15h e 5min a professora pediu para todos guardarem seus materiais, organizarem suas classes, juntarem a sujeira do chão, pois eles iriam responder um questionário para a professora Carmen e pediu que eu explicasse. Falei que era um questionário para saber o que eles gostavam de fazer em Arte e o que conheciam e pensavam que não tinha uma resposta certa, que deveriam escrever o que eles pensavam, mas deveriam responder tudo, pois este questionário era muito importante, pois iria para a Universidade, onde seria estudado e serviria como base de um projeto de aula. Durante o preenchimento do questionário respondi a algumas dúvidas. Todos responderam em silêncio e foram terminando aos poucos e entregando, demoraram mais ou menos 15min em média pra terminarem de responder. Logo após a professora liberou-os para o recreio.

1.3. Análise das observações silenciosas

Com formação em história, a professora Ledi Maria da Silva Kercher leciona na escola Rui Coelho Gonçalves, as matérias de Arte, Sociologia, Filosofia, Religião e História. Esta é uma situação muitas vezes vista e discutida em nosso curso de graduação em Artes Visuais, onde não há um professor com formação em Arte na escola e professores com formação em outras áreas, passam a ministrar as aulas de Arte, sem que tenham conhecimentos necessários que só poderia ser alcançado com uma formação específica. Na falta desta formação a professora Ledi trabalha o que entende como sendo Arte. Os alunos por sua vez perdem por estarem dispostos a aprender e não terem acesso ao conhecimento de Arte além do artesanato executado de forma gratuita. Por outro lado, a professora traz para seus alunos técnicas interessantes de artesanato como a reciclagem, construindo puffs de garrafa pet, flores de garrafa pet, lata encapada com canudos de papel; mas falta em seu projeto de trabalho traçar uma relação entre reciclagem, artesanato e a arte, seja com artistas que trabalhem esses materiais, como suporte ou ponto de partida para o estudo dos


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inúmeros movimentos da Arte.

Os alunos estão bastante envolvidos na execução

dos trabalhos, trazem os materiais e participam da aula, este potencial poderia ser melhor desenvolvido dentro de uma proposta que fosse mais consistente e em sintonia com a arte. Transformar o ensinar/aprender arte em projetos, criando situações de aprendizagem através de seqüências articuladas continuamente avaliadas e replanejadas e não como atividades isoladas, pode se converter numa postura metodológica eficaz. (MARTINS, 2005, p.72).

A utilização das aulas de Arte como utilitária na decoração da escola, principalmente por se tratar do período em que a escola completou 29 anos, foi nítido, sendo pelo menos quatro aulas a de puffs e flores direcionadas a este propósito. Para Martins, Picosque e Guerra, 1998, p.13. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Arte: “São características desse novo marco curriculares reivindicações de identificar a área por arte (e não mais por educação artística) e de incluí-la na estrutura curricular como área com conteúdos próprios ligados à cultura artística, e não apenas como atividade.

Os materiais solicitados, na maioria das vezes, são trazidos para a confecção dos trabalhos, que não são terminados em sala de aula. Ainda que sobre tempo, os alunos passam a se dispersar ou perder o interesse, esse momento é nitidamente visível. É como se a motivação inicial se perdesse dentro da execução, sem um propósito maior que o de criar um objeto utilitário sem um aprendizado real da arte e seus intrincados significados que poderiam proporcionar uma satisfação maior e também outros conhecimentos. É a construção do objeto pela construção, sem significações posteriores. É preciso abrir espaço para que se possa desvelar o que pensa, sente e sabe, ampliando sua percepção para uma compreensão do mundo mais rica e significativa. Desvelar/ampliar e propor desafios estéticos são como uma poção mágica, pó de pirlimpimpim, na possível experimentação lúdica e cognitiva, sensível e afetiva do poetizar, do fruir e do conhecer arte. (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA; 1998, p.130).

A professora tem um ótimo relacionamento com seus alunos, que trabalham dentro de uma bagunça produtiva, quando formam grupos não há uma organização física das classes, alguns apenas viram-se para traz. A turma pareceume homogênia, nas idades e no desenvolvimento e interesse dos alunos. A professora não os obriga a ficarem quietos e sentados, podem se movimentar e conversar contanto que não passem dos limites, quando eles tentam passar estes


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limites ela impõe sua autoridade, ainda que algumas situações ela pareça ignorar, para não ter que intervir.

1.4. Análise do questionário respondido pela professora

A professora Ledi Maria da Silva Kercher é formada em história, leciona na escola Rui Coelho Gonçalves, as matérias de Arte, Sociologia, Filosofia, Religião e História. Disse-me que mesmo sem uma formação formal em Arte adora fazer trabalhos manuais, e que a maior dificuldade que enfrenta em dar aulas de Arte é dos alunos não trazerem os materiais, ainda que neste ano tenha se surpreendido com o interesse dos alunos, trazendo material e participando das aulas. Outra dificuldade que cita é o fato de alguns alunos não gostarem da matéria de Arte. Segundo a resposta do questionário, a professora Ledi diz que planeja suas aulas seguindo o projeto da escola e planeja os conteúdos de acordo com o nível da turma. Ela tem trabalhado com a preocupação de usar materiais baratos por se tratar de uma comunidade carente, sendo que neste ano está trabalhando dentro de um projeto de reciclagem. Ela tem o apoio da escola para desenvolver seus projetos, mas sente falta de interesse dos outros professores em preservar os trabalhos que confeccionam nas aulas. Sente-se recompensada por seu trabalho ser reconhecido e incentivado pela coordenação assim como pelos pais de seus alunos, que gostam dos trabalhos desenvolvidos por seus filhos nas aulas de Artes. Acho que a maior dificuldade da professora Ledi, ao contrário do que ela pensa não são os alunos não trazerem os materiais ou não gostarem de aulas de Arte, e sim, a falta de uma formação específica na área de Arte, que lhe daria suporte para desenvolver trabalhos mais significativos de ensino aprendizagem. Apesar da falta desta formação são inegáveis seus esforços em descobrir aulas que interessem seus alunos, dentro das suas possibilidades de entendimento do que é Arte. A escola dá apoio as aulas de Arte que de certa maneira, serve a seus propósitos de decoração da escola em datas comemorativas, segundo a professora agradam também aos pais que mostram os trabalhos dos filhos.


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Nessa concepção tradicional de educação, o que vale sempre é o produto a ser alcançado: é mais importante o resultado dos trabalhos do que o desenvolvimento dos alunos em arte. Isso ficava (e fica ainda) evidente pela preocupação com as mostras dos trabalhos em finais de períodos escolares [...] (FERRAZ; FUSSARI, 2009, p.45).

A professora Ledi não nota diferenças entre as turmas 72 e 104, acha que cada turma desenvolve o trabalho de acordo com seu alcance. Ainda que a professora não note diferenças entre as turmas uma sétima e um primeiro ano do segundo grau, elas existem e vão além da capacidade de execução dos seus trabalhos de artesanato. Começa com a diferenciação na maneira com que trata as duas turmas, e a resposta que recebe dos alunos que percebem o interesse e a falta de interesse do professor pela aula. A arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados que não podem ser transmitidos por meio de nenhum outro tipo de linguagem, tal como a discursiva ou científica. Dentre as artes, as visuais, tendo a imagem como matéria-prima, torna possível a visualização de quem somos, de onde estamos e de como sentimos. (BARBOSA, 2008, p.99).

O projeto de reciclagem idealizado pela professora Ledi, carece de substância que o viabilize num contexto de ensino/aprendizagem dos conteúdos de Arte, em verdade as aulas que observei eram aulas de artesanato, com a construção de objetos pela construção com finalidades decorativas, sem significações posteriores que o vinculasse aos conhecimentos de Arte que não fosse a intenção da professora de estar ensinando Arte. Ensinar arte significa articular três campos conceituais: a criação/ produção, a percepção/análise e conhecimento da produção artístico-estética da humanidade, compreendendo-a histórica e culturalmente. Esses três campos conceituais estão presentes nos PCN-Arte e, respectivamente, denominados produção, fruição e reflexão. (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p.13).

Essa falta de formação de professores na área de Arte é uma realidade muitas vezes discutida em nossas salas de aula de graduação em Artes Visuais na universidade, onde professores com formação em outras áreas passam a ministrar as aulas de Arte, é a realidade da professora Ledi, que ministra aulas segundo seu conhecimento limitado em Arte, acumulando aulas como Sociologia, Filosofia e Religião, aonde também não tem formação específica.


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1.5. Análise dos questionários respondidos pelos alunos

Apenas uma aluna entregou o questionário sem responder as questões. A maioria dos alunos disse gostar da disciplina de Arte, por ser uma aula criativa em que podem fazer coisas diferentes. Quando indagados sobre quais as atividades que mais gostaram de realizar, a maioria respondeu que o que mais gostaram de fazer foi a atividade de construção dos puffs de garrafas pet. Uma aluna respondeu que não gostava da disciplina de Arte e de fazer os trabalhos propostos. Quanto à participação dos alunos na escolha dos assuntos a serem trabalhados pela professora em sala de aula é relativo, alguns dizem que participam, outros que não, no que deduzo que essa consulta por parte da professora acontece em algumas ocasiões, não sendo algo rotineiro para a turma. Durante as aulas observadas não houve este tipo de consulta. Quando os alunos respondem o que é arte, variam nas respostas, dizendo ser uma forma de expressão, de serem criativos, de desenhar coisas, é cultura, é o puff. Não tendo uma resposta mais elaborada e sólida sobre o que é Arte. Para os alunos o local onde está a Arte é nos desenhos, nos quadros, em todos os lugares, no puff, o reconhecimento de locais próprios para a exposição da Arte, como museus e galerias é respondido por apenas 4 alunos. Na pergunta sobre os tipos de Arte que conheciam, dois alunos responderam listando alguns movimentos artísticos, para minha surpresa 10 alunos responderam com a palavra, “Mona Lisa”, o restante enumerou técnicas de trabalho como desenho, pintura, puff de pet, e 3 alunos não responderam. Para grande parte da turma para ser um artista é necessário ter talento, ser criativo, e se eles fossem artistas fariam desenhos, pintura, coisas diferentes, trabalhos com reciclagem e uma menina respondeu que faria obras da vida real. Ao escolher uma imagem para falar sobre ela, 14 alunos escolheram a primeira figura, desenho de um homem tocando violoncelo e 8 alunos a segunda ,


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fotografia de Sebastião Salgado onde aparecem 3 pés, eles descrevem as figuras com poucas palavras sem utilizarem-se de um vocabulário próprio para à Arte ou demonstrarem algum conhecimento de leitura de imagens. Ao pensar nos diferentes ensinamentos proporcionados pelas imagens como, por exemplo, o que é ser bonito, feliz e bem sucedido, considero que é de fundamental importância que o professor leve para a sala de aula diferentes imagens. Desta forma, ele poderá possibilitar aos alunos um momento de reflexão sobre esses artefatos culturais, uma vez que as imagens nos ensinam mesmo que, num primeiro momento, nos não percebamos esses ensinamentos. (BARBOSA; CUNHA, 2010, p. 287).

A professora não trabalha leitura de imagem com os seus alunos, logo os alunos não conhecem artistas ou movimentos, como formas de Arte citam “Mona Lisa”, resultado provavelmente de algum trabalho anteriormente desenvolvido ou apenas conhecimento de cultura geral, (o quadro de Leonardo da Vince Mona Lisa, aparece no livro de história adotado pela escola), sendo a Mona Lisa uma das obras de Arte mais citadas pelos meios de mídia, não tendo essa citação de ”Mona Lisa”, necessariamente relação com as suas aulas de Arte. A tecnologia existente hoje fez com que obras de arte se reproduzissem fantasticamente. Mona Lisa, por exemplo, existe apenas no Museu do Louvre, em Paris, mas hoje vemos “Mona Lisas” espalhadas aos milhares, aos milhões pelo mundo. (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p. 76).

A turma 104 pareceu-me não ter conhecimento de Arte, tem um conhecimento restrito a técnicas de desenho, pintura e artesanato que se misturam a fragmentos de conhecimentos sobre Arte acumulados pelos anos escolares ou de cultura geral, que não estabelecem relações entre si e que não são partilhados por todos. Não trabalham leitura de obras de Arte o que é demonstrado pela falta de um vocabulário artístico que vá além do rudimentar, não distinguindo detalhes mais significativos em sua observação ou um fruir poético o que é coerente ao tipo de aulas de Arte que têm em sua escola. O contato freqüente com a produção cultural é, pois, uma das perspectivas do ensino da arte na atualidade. Autores, estudiosos, artistas e educadores têm enfatizado a importância de estudos e trabalhos em sala de aula com obras visuais, sonoras, teatrais espetáculos, danças etc.(FERRAZ; FUSSARI, 2009, p.75).


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1.6. Motivos para definição do tema: “Arte e Lixo”

A professora Ledi, titular das duas turmas que observei, tem sua formação acadêmica em História e por não conhecer a Arte e seus meandros, limitase a trabalhar com seus alunos artesanato, dentro de um projeto de utilizar materiais baratos e recicláveis, com um cunho de preservação ambiental e atendendo as necessidades da comunidade que é carente. Visando adaptar meu projeto ao da professora titular, ao mesmo tempo sanar a carência dos alunos do conhecer e trabalhar arte, elaborei este projeto com o propósito de através de pesquisa, práticas, observações e análises, proporcionar ao aluno o contato com a arte. Ampliando conceitos de fazer e de ver a arte, resignificando materiais e dando espaço para que possam se expressar com criatividade dentro da liberdade que a Arte proporciona, através do conhecimento das obras dos artistas Vik Muniz, Franz Krajcberg e Bispo do Rosário que se utilizam de materiais alternativos para expressarem sua Arte.


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Capítulo II 2.

Arte e Lixo


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Encontramos Arte em muitos locais, sob muitas formas, dentro de intricados processos de criação e classificação, desenvolvida em uma infindável variedade de materiais que vão dos tradicionais aos inusitados. Materiais descartados pela sociedade, considerados lixo, vêm sendo usados por inúmeros artistas para expressarem-se na arte. Este tipo de material além de dar vazão aos processos criativos do artista, trazem agregados uma serie de questões ecológicas, sociais e políticas que têm recebido um olhar mais atento da sociedade contemporânea. Dentro de uma perspectiva planetária de uma nova consciência de preservação de recursos naturais antes vistos como infinitos, é necessário uma reciclagem do próprio ser humano, com uma nova forma de pensar, ver, sentir. Entender o meio em que vive, modificando seus hábitos para conter a destruição do planeta. A partir deste paradigma, ter um novo olhar sobre materiais que possibilitem a expressão da Arte dentro de um contexto ecológico. Ver o lixo não mais como algo sem utilidade, mas como uma fonte de energia, de criação. O que até pouco tempo seria descartado sem o menor problema, transformado em matéria prima ou suporte para desenvolverem-se inúmeras possibilidades dentro da Arte. É na procura por novas formas de expressão que muitos artistas contemporâneos atentos e sensíveis ao seu tempo e ao meio em que vivem, passaram a ver em materiais alternativos como o lixo e a reciclagem, uma forma


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importante de linguagem artística. Vivemos um momento em que o mundo entra cada vez mais em uma convulsão consumista sem precedentes de eletroeletrônicos, alimentos, bens materiais em uma busca incessante de ser reconhecido, saciado e feliz. A crescente desigualdade sócio-econômica, a massificação globalizada e a falta de individualidade, em contraste com calamidades naturais cada vez mais freqüentes, e o esgotamento de riquezas naturais, miséria e fome; refletem nosso contexto sócio-político-cultural. É claro que tudo isso sempre existiu, mas, pela primeira vez, começamos a ter consciência de que os recursos naturais podem acabar e que muitas das calamidades que enfrentamos são produzidas pela nossa falta de cuidado com nosso planeta. São as vozes dos Ecologistas, Cientistas, ONGs e Artistas que nos despertam para essa realidade. A mesma mídia que nos incentiva ao consumo desnecessário e desenfreado, também nos possibilita ver e conhecer Arte, fora dos tradicionais locais de apreciação como os museus e as galerias. A Arte está presente nos comerciais, na internet, na moda, nas novelas, nas revistas, etc. É principalmente na Arte contemporânea que vemos conceitos de preservação ambiental, de desperdício de riquezas, da valorização das pessoas, das relações políticas e econômicas sendo discutidos. Esse conhecer, ou tomar conhecimentos das idéias que a arte nos trás, ainda que de forma sutil, acaba criando em nós uma visão mais amplificada e aberta a novas formas e significações. Uma visão crítica, mas compreensiva dos diferentes caminhos da arte contemporânea permite apreciar seus vasos comunicantes e sua riqueza polifônica. [...] A importância adquirida, na formação do gosto, pelos meios de comunicação – os cartazes, a televisão – a irrupção de produtos de cultura popular, junto com as classes que lhes dão origem, obrigam a ampliar o campo da arte, não só a novos objetos e mensagens, mas a todas as atividades nas quais se realizam a produção, a circulação e o consumo do gosto, da fruição sensível e de sua elaboração imaginária (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p.16).

No Brasil o lixo produzido diariamente é de aproximadamente 100 mil toneladas de lixo/dia, mas segundo o site consultado (www.giarth.com.br), são reciclados menos de 5% do lixo urbano – valor muito baixo se comparado à quantidade de material reciclado nos Estados Unidos e na Europa (40%). No Brasil, 35% do lixo que vai para os aterros é composto por materiais que poderiam ser reciclados ou reutilizados. Portanto, quando não temos mesmo mais possibilidades de reaproveitar um produto, a alternativa é reaproveitar a matéria prima que o constitui e fazer uma reciclagem.


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Trabalhar dentro deste contexto de aproveitamento dos materiais do lixo, reciclando, reaproveitando, não é apenas contemporâneo é vital dentro e fora da Arte.

Dentro das possibilidades de utilização dos materiais encontrados no lixo

pode-se rever conceitos e dar novos significados ao conhecimento. O lixo como material de criação, ganha novas significações em seu encontro com a Arte desvelando e acessando seus códigos. Há de se pensar que a arte está em constante mudança de forma, de materiais e de temáticas que refletem o pensamento humano com seus prazeres, suas incongruências e seus conflitos, o que propicia que possamos revisitar o que já foi pensado e produzido e, ainda pensar a criação de ampliação do nosso próprio espaço de criação. (BARBOSA; CUNHA, 2010, p. 214).

Associar um problema social à prática em sala de aula na aprendizagem de Arte, construindo o conhecimento, sensibilizando e ampliando a leitura que temos de mundo nos possibilita pensar criticamente, criando e repensando conceitos e preconceitos que encontramos na sociedade em que vivemos, levando-nos a novas concepções e entendimentos de nossa própria existência, e à interação que temos com o mundo contemporâneo, torna o ensino/aprendizagem em Arte uma experiência intensa e rica. Materiais alternativos como o lixo, e materiais reciclados é um tema relativamente novo no campo da Arte, pouca ou quase nenhuma literatura específica em torno do tema se encontra, sendo necessário apoiar-se na internet, em ONGs e Sites que tem nesta bandeira de preservação/reciclagem, abertura para Artistas mostrarem seus trabalhos Artistas reconhecidos dentro do seu meio, que expõem em galerias, museus, artistas desconhecidos que fazem de sua Arte-reciclagem um meio de sobrevivência, chamam a atenção para esta temática, que tem sido abraçada pelos jovens, mais conscientes e abertos para o novo. Os trabalhos de artesanato com reciclagem de lixo têm seu valor e vemos em grandes quantidades na internet, nas ruas, nas escolas, como fonte de renda, mas a Arte que tem o lixo como temática, fonte de inspiração, ou matéria prima vemos e conhecemos pouco. Alguns artistas têm em sua trajetória essa preocupação com a ecologia, a reciclagem de lixo, o uso de materiais alternativos, mas sem necessariamente adotarem essa temática em sua Arte. Na história da Arte, alguns artistas se destacaram justamente por trazer para a Arte materiais alternativos que entravam em choque com os conceitos


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academicistas do que era Arte com “A” maiúsculo. Foi no período modernista que os artistas passaram a procurar e agregar elementos em sua arte que rompessem com a arte tradicional, questionando o que era a Arte. Segundo Gombrich (2004), quanto mais próximos chegamos ao nosso tempo, mais difícil é distinguir modas passageiras de realizações duradouras. Artistas que neste período faziam experimentações rompendo com a arte tradicional e utilizando materiais alternativos, não receberam muito de sua atenção. [...] Kurt Schwitters (1887-1948), a quem eu considerava apenas um dos amáveis excêntricos do início da década de 1920. Colando bilhetes usados de ônibus, recortes de jornais, trapos e outros refugos, Schwitters compôs buquês divertidos e de bom gosto. Quando se recusou a usar a tinta e a tela convencionais sua atitude foi associada a um movimento extremista que começara em Zurique durante a I Guerra Mundial. (GOMBRICH, 2004, p.600).

Kurt Schwitters (madeira, metal, papel, pregos) (fonte: www.escafandro.org)

Neste trabalho de Kurt Schwitters (1887-1948), podemos ver uma riqueza de materiais oriundos do descarte social como pedaços de madeira, restos de objetos de metal, recortes de papel, pregos, etc. Essa junção que ele faz cria um contexto onde o lixo vira Arte, numa proposta de uso de materiais alternativos que fazem eco a muitas propostas de artistas contemporâneos que também se utilizam do lixo e da reciclagem de materiais em suas obras. Segundo Strickland (2004),


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Schwitters percorria as ruas de Hanover pesquisando as sarjetas em busca de coisas caídas, como passagens de ônibus botões e tiras de papel e colava estes materiais em combinações que ele chamava de merz. Influenciados e influenciando o movimento conhecido como Dadaísmo, Jean Arp (1886-1966), Marcel Duchamp (1887- 1968) e Kurt Schwitters são alguns ícones dentro da história da Arte que já usaram materiais alternativos que poderiam ser considerados lixo na composição de suas obras, mas sem que o lixo fosse o signo que norteasse os seus trabalhos, talvez porque não havia ainda a consciência da necessidade de preservação ecológica e reciclagem do lixo. Duchamp criou uma bomba-relógio estética com seus ready-mades – objetos industriais ou cotidianos que assinou como se fossem de sua autoria, exibindo-os em galerias de arte. O mais famoso de deles, Urinol, foi assinado pelo artista como “R Mutt”. Com os ready-mades, Duchamp expressou seu repúdio a habilidade artística e às categorias tradicionais da arte. Sua intenção foi tornar as pessoas conscientes que as definições e os padrões pelos quais julgamos as obras são impermanentes e, seguramente, secundários em relação à arte. (LITTLE, 2010, p.111).

Marcel Duchamp,Bicycle Wheel, 1917 (Fonte: www.freakiumemeio.wordpress.com)

Ao pegar um objeto do cotidiano e colocá-lo para apreciação como objeto de arte, Duchamp revolucionou nossa forma de ver e pensar a Arte. Questionou a função do artista e trouxe materiais considerados sem valor para a arte.


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Estes artistas não tinham preocupações com o destino do lixo, em fazer reciclagem, eles viam nestes objetos novos caminhos para sua expressão. E ao buscar novos caminhos trouxeram liberdade para a Arte. Segundo Little o modernismo foi o movimento que englobou as muitas manifestações de arte de vanguarda que desafiavam o Naturalismo e o academicismo em favor das experimentações O amplo movimento do modernismo abarcou todos os ismos de vanguarda na primeira metade do século XX. Embora diferentes modernismos fossem por vezes incompatíveis (ou até antagônicos), todos rejeitavam o domínio do Naturalismo e do Academicismo em favor da arte experimental. (LITTLE, 2010, p.98).

Dentro da busca por novas formas e materiais alternativos para expressarem a Arte, Vik Muniz, Frans Krajcberg e Bispo do Rosário são artistas contemporâneos brasileiros, que têm trajetórias muito diferentes entre si, mas que procuraram cada qual a seu modo, investigar formas de ver a Arte e se expressarem através de materiais inusitados, instigantes, provocadores dentro de propostas variadas e muito particulares. Usar em sala de aula mais de uma referência artística para trabalhar, possibilita à ampliação das percepções do fazer Arte. Para Martins, Picosque e Guerra, a pluralidade de referências permite outras perspectivas, podendo mudar a forma de se pensar não só artisticamente. Velázques fazia parte do contexto cultural de Picasso e se converteu em referência para sua compreensão, tanto da obra em si quanto da própria linguagem visual.Hoje, modelos – sempre no plural – são vistos como ampliação de referências, pois permitem outras perspectivas, outros modos de pensar e fazer. Quando são muitos, diferentes e até opostos ou contraditórios, essas referências podem provocar um rearranjo no pensar, não só artisticamente. (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p.140).

Dentro do trabalho de Vik Muniz, Frans Krajcberg e Bispo do Rosário procurei enfatizar o uso de materiais considerados descarte social, que estes artistas passaram a incorporar em sua Arte, de forma variada e com diferentes conotações que se relacionavam aos interesses desta pesquisa.

2.1. Vik Muniz


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Vicente José de Oliveira Muniz ou Vik Muniz, informa no livro de sua autoria “Reflex Vik Muniz de A a Z”(2007) que nasceu em São Paulo em 1961, é desenhista, escultor, pintor, gravador e fotografo. Radicado em Nova Iorque há 30 anos, tem seu trabalho reconhecido internacionalmente. Ele fez sua primeira exposição em uma galeria de Arte, como artista plástico contemporâneo, com esculturas que usavam como suporte matérias como jornal, arame, cola criou objetos imaginários que brincavam com o humor tais como: Crânio de Palhaço, Joystick Achanti, Máquina de Café Pré-colombiano. Vik Muniz passa a se interessar por fotografia quando para difundir a imagem de seu trabalho foi contratado um fotografo profissional. As imagens feitas pelo fotógrafo ficaram tão perfeitas, que segundo Vik Muniz, elas poderiam substituir suas esculturas funcionando como o próprio objeto. Ele percebe então que a representação do seu trabalho através do registro fotográfico é tão importante quanto a obra registrada. Decide então fazer ele mesmo as fotografias para que estas captem a sua identidade. Ele fotografa suas obras sem ter nenhum conhecimento das técnicas de fotografia, em um impulso. Por um lado, as imagens eram tão reais que pareciam funcionar como se fossem os próprios objetos, a ponto de poder substituí-los. Por outro lado, as esculturas nelas representadas já não pareciam minhas – era como se tivessem sido criadas e produzidas pelo fotógrafo que tirou os retratos. Abismado com essa sensação, fui a um negociante de aparelhos eletrônicos na 14th Street e comprei a primeira câmera que tive em minha vida, uma Minolta semidescartável com foco fixo, e voltei à galeria para fotografar novamente as obras. Tirei as fotos sem tripé, com filme errado, luz errada, a abertura e velocidade erradas (MUNIZ, 2007, p.19).

No livro “Reflex Vik Muniz de A a Z” (2007), Vik Muniz fala que a partir desta experiência, repensou seu trabalho e seus objetivos. Mas é em 1990 que ele passa a trabalhar com fotografias de forma efetiva como produto final de seu trabalho. O trabalho de Vik Muniz está centrado no registro fotográfico de suas idéias e experimentações para a Arte. Utilizando-se de técnicas variadas trabalha temas importantes dentro da sociedade como: a criança de rua, os catadores de lixo, a reciclagem, o trabalho escravo, o consumismo, etc. Ele torna visíveis aos nossos olhos imagens que já olhamos sem ver, cegos de nossa sensibilidade. Em termos gerais, nós, artistas, fazemos arte para poder comprovar a materialização de uma idéia, testá-la no mundo material e somente no fim transformá-la de novo em estímulos visuais que fazem a conexão entre nós


37 e o mundo em que vivemos (MUNIZ, 2007, p.22).

Como fotógrafo, Vik Muniz têm trabalhado com a composição de imagens com materiais inusitados e algumas vezes perecíveis, que são cuidadosamente montados sobre uma superfície e posteriormente fotografados. Dentre seus principais materiais estão alimentos (doce de leite, catchup, açúcar, caviar, frios, chocolate, geléia, manteiga de amendoim), papel, computadores, lixo, gel para cabelo, poeira, diamantes, confetes, etc. Suas séries de fotografias têm edição limitada e são o produto final do seu trabalho, que vai para galerias e museus, e é comercializado internacionalmente. Entre seus trabalhos de maior destaque estão as releituras de obras importantes dentro da História da Arte. Utilizando-se de alimentos fez releituras da Mona Lisa de Leonardo da Vinci, com geléia e manteiga de amendoim, da Última Ceia de Leonardo da Vinci com açúcar, fios, arame e xarope de chocolate, etc. Fotografou na ilha de St. Kitts, no Caribe, crianças que eram filhos dos trabalhadores das plantações de açúcar e recriou essas fotografias com açúcar sobre papel preto, tornando a fotografar essas reproduções como resultado final do trabalho, que ficou conhecido como “Crianças de Açúcar” e lhe trouxe muita notoriedade. A radiosa infância daquelas crianças vai certamente ser transformada, pelo açúcar, em açúcar; os resíduos de sua gloriosa infância estarão presentes no açúcar que nós vamos consumir.Comprei papel preto e diversos tipos de açúcar. Procurei então copiar os instantâneos das crianças com açúcar peneirado por cima do papel, e fotografei os desenhos [...]. Ao pensar em todos os esforços que fiz durante todos aqueles anos, esta foi à primeira vez que sentir estar fazendo algo realmente importante e novo (MUNIZ, 2007, p.60).

Vik Muniz também trabalhou com earthworks, criação de imagens com intervenções na natureza como: “Imagens nas Nuvens” que compõe uma série de fotografias em que um avião de publicidade desenha, com fumaça, o contorno de nuvens no céu, e Vik Muniz trabalha a captação destas imagens em fotografias. Earthworks são uma forma de estabelecer uma relação dualista entre o ambiente e suas representações, de animar interativamente o mapa com um ambiente simbólico que muda constantemente (MUNIZ, 2007, p. 160)

Recentemente participou do documentário Lixo extraordinário, que tem início com a idéia de que quase tudo pode se transformar em Arte e, portanto, que também as pessoas poderiam se transformar com a Arte. Recriam com os objetos descartados como lixo, no aterro do Jardim Gramacho/RJ, obras famosas da história


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da Arte com a colaboração dos catadores do local que são as personagens do filme documentário e personagens na releitura de quadros famosos da História da Arte. Vik Muniz trabalhou com materiais diretamente selecionados pelos catadores de lixo que trabalhavam no aterro. Estes materiais foram agregados sobre a projeção de imagem sobre uma imensa lona branca. Sob a orientação de Vik Muniz e alguns dos catadores participaram da montagem destas imagens feitas de lixo.

Lixo sobre lona (Fotografia). (fonte: www.revista fotografica.com.br).

Podemos observar na imagem acima as texturas que se formam a partir das muitas composições feitas com o lixo. Quando observamos atentamente somos surpreendidos ao reconhecer objetos como: pneus, latões, bombonas, etc. Objetos que resgatados do lixo criam uma dinâmica de beleza e reflexão. É lixo reciclado pela Arte. Mais que evidenciar o lixo como um material provocador e repleto de significações através da Arte, ao trazer os materiais catados no lixo até nossas casas pela televisão, revistas, jornais, internet, levando para o cinema, para as salas de aulas aos museus, livros, galerias e as salas dos muito ricos, que podem adquirir obras deste artista famoso e valorizado pela mídia, trás até nós também, resgatando


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do lixo como se fosse uma quinquilharia qualquer, a figura marginalizada do catador reciclador de lixo, suscitando toda uma serie de questões e discussões que envolvem nossas concepções do que é importante, e necessário para preservar a nossa humanidade, nosso planeta, a vida.

Lixo sobre lona (fotografia). (Fonte: www.revistafotografia.com.br).

Na figura da catadora de lixo que vemos retratada nesta obra, a questão social da valorização da figura, quase invisível aos nossos olhos, da pessoa que vive do nosso lixo. Torna-se evidente a preocupação do artista em resgatar a dignidade destas pessoas, de discutir a importância do trabalho dos catadores de lixo dentro das engrenagens da sociedade. Esta obra poderia ter sido feita com qualquer material, ao usar intencionalmente o lixo, não podemos ignorar sua existência, estamos em frente a um amontoado de lixo e é arte. Se lixo pode ser transformado em arte, seria o lixo verdadeiramente lixo, o que estamos colocando fora? As significações que podemos absorver de uma obra de arte, em que o lixo é material e é significado, nos chamam


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para um rever de atitudes e pensamentos referentes à nossa própria forma de pensar, nos chama a responsabilidade.

Lixo sobre lona( fotografia), Marat (Sebastião). (Fonte: www. peregrinacultural.wordpress.com).

Nesta obra vemos a imagem do catador de lixo Sebastião, numa composição de releitura da obra “A morte de Marat”, 1793, de Jacques-Louis David. A imagem é composta por trapos, guarda-chuva estragados, garrafas PET, pneus, tampa de privada, etc. No filme/documentário “Lixo extraordinário”, Sebastião, um dos líderes da comunidade de catadores, pousa para fotografia, dentro de uma banheira velha, usando panos e recriando a cena do quadro “A morte de Marat”. È com base nesta fotografia que mais tarde a obra é projetada em uma grande lona no chão e os catadores sob a orientação de Vik Munis passam a montar a imagem de grande dimensões com o lixo catado e selecionado por eles mesmos. Mas a questão do lixo não é uma questão simples e ao ligar um líder comunitário representando um revolucionário assassinado, Vik Muniz tece uma teia de conotações políticas. Ele quer que as pessoas pensem nas questões do lixo que


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poluem e desgastam a natureza, nas questões sociais das pessoas que trabalham com o lixo. O que as levou a trabalhar com o lixo? Quem são estas pessoas? Ele nos leva a uma reflexão sobre nossas próprias questões, de nossa atuação dentro da sociedade como geradores de mudanças. Vendo com novos olhos, temas que não vemos, que nos fogem à percepção, revisitando grandes mestres da Arte, usando materiais surpreendentes, criando novas formas que nos fazem repensar nossos conceitos e preconceitos, Vik Muniz faz de seu espaço na Arte um caminho para o novo dentro da Arte Contemporânea.

2.2. Frans Krajcberg

Frans Krajcberg nasceu na Polônia em 1921, naturalizou-se brasileiro e hoje reside em Nova Viçosa na Bahia. Sua obra serviu como ferramenta de revolta e denúncia sobre os danos causados por queimadas e desmatamentos no Brasil nos séculos XX e XXI. Segundo Ventrella e Bortolozzo (2007), Krajcberg viveu os horrores da Segunda Guerra Mundial quando lutou no exército Polonês contra a Alemanha nazista. Perdeu toda sua família, dizimada com outros milhões de judeus, nos campos de concentração. Krajcberg estudou engenharia na Polônia e Artes na Alemanha e em Paris. Marc Chagall, que conheceu em Paris, o incentivou a viajar para o Brasil onde desembarcou aos 27 anos. Chegou ao Rio de Janeiro sem emprego, sem dinheiro, sem falar uma palavra em português, com a cara, a coragem e sua sensibilidade. Quando chegou ao Brasil, Krajcberg era um pintor abstrato e sua pintura acaba sendo influenciada pelo impacto que a exuberância da natureza Brasileira tem sobre a sensibilidade do pintor. É no Brasil que se encontra e reencontra o caminho para sua Arte e para a vida, através do contato direto com a natureza. Eu nasci neste mundo chamado natureza, mas foi no Brasil que ela me provocou um grande impacto. Eu a compreendi. Aqui eu nasci uma segunda vez, tomei consciência de ser homem e de participar da vida com minha


42 sensibilidade, meu trabalho, meu pensamento. Eu me sinto bem assim (KRAJCBERG, apud VENTRELLA; BORTOLOZZO, 2007, p.45).

Suas primeiras esculturas utilizam-se de madeira de cedros mortas coletadas de uma derrubada. Passa a viajar pela Amazônia e o Pantanal Matogrossense documentando em fotografia os desmatamentos e recolhendo matéria prima para suas obras dos restos de árvores das queimadas e derrubadas, troncos calcinados e raízes. Em seu trabalho o artista busca fazer intervenções nos restos que coleta de árvores remanescentes das queimadas e derrubadas no processo de ocupação das florestas Brasileiras. Pinta suas esculturas usando cores fortes como o vermelho, laranja, amarelo e o preto, cores que para Krajcberg estão presentes nas queimadas. Denunciando as agressões sofridas pela natureza. “A mais de 40 anos venho trabalhando, lutando e denunciando os crimes de destruição. Depois de todo este tempo acompanhando a destruição maciça da natureza em nosso país, ouvindo poucas vozes em sua defesa, criei, com minha revolta a minha obra.” (KRAJCBERG apud VENTRELLA; BORTOLOZZO, 2007, p.31).

Em seu processo de trabalho raízes, cipós e caules de palmeiras coletados de queimadas e derrubadas são matéria prima, trabalhadas de diferentes formas na criação de esculturas que buscam o aproveitamento deste material. [...] o artista cria uma série de esculturas nas quais utiliza roncos de palmeiras calcinadas encontradas nesta floresta. Para realizá-las Krajcberg corta as palmeiras ao meio, retira o miolo e aproveita a casca. Posteriormente une as duas metades produzindo as esculturas. Algumas são decoradas com padrões geométricos, outras com raízes e cipós e um terceiro tipo de escultura emprega raízes-escoras de plantas do mangue e cipós enrolados como se fossem frutos com gravetos na base (VENTRELLA; BORTOLOZZO, 2007, p.64).


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Pigmento natural sobre caules de palmeiras. (fonte: www.itaucultural.org.br).

A pesquisa e utilização de elementos da natureza, em especial da floresta amazônica, e a defesa do meio ambiente, marcam toda a trajetória de sua obra. No trabalho de Krajcberg as cores não vêm de tintas comuns. Os pigmentos que usa em seu trabalho foram coletados da natureza, em Minas Gerais, onde pesquisou pigmentos naturais retirados da terra e dos minérios. Todas as minhas cores vêm de Minas e tenho uma grande reserva em Nova Viçosa. São terras que apanho no chão ou pedras que quebro com martelo e as trituro mais ou menos finas de acordo com o que quero produzir (KRAJCBERG apud, VENTRELLA; BORTOLOZZO, 2007, p.66)

Ao fazer uso de pigmentos naturais, krajcberg evidencia o caráter ecológico de sua obra, na utilização do que a natureza tem a oferecer, sem que o Homem tenha que destruir seus recursos para satisfazer suas necessidades. O pigmento natural tem sido utilizado desde a pré-história, extraídos da terra ou de plantas por inúmeros povos, que incorporam as cores em suas manifestações culturais. Além de Krajcberg, Carlos Vergara é outro artista contemporâneo brasileiro que encontrou nos pigmentos naturais, uma fonte inesgotável de cores para sua Arte. Os pigmentos naturais retirados de minerais vêm sendo empregados desde a pré-história tanto em pinturas quanto em objetos utilitários. Essa técnica de pintura está sendo resgatada por artistas contemporâneos que, com a crescente conscientização ecológica, buscam como Krajcberg, uma reutilização de materiais naturais. (VENTRELLA; BORTOLOZZO, 2007, p.36).

Frans krajcberg é um artista contemporâneo engajado na causa da preservação da natureza, o qual põe em evidência dentro da sua criação artística. Obra e causa se conjugam em um único elemento que se faz Arte, uma Arte que é indignada, se revolta diante da devastação de florestas. Segundo krajcberg as árvores retorcidas lembram os corpos calcinados que tinha visto na guerra e denunciar a violência contra a vida tornou-se uma meta em sua vida.


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Tronco calcinado. (Fonte:www.rfi.fr).

Em seu trabalho Krajcberg, utiliza os materiais de formas variadas de acordo com o que deseja trabalhar, buscando sempre expressar a vida das formas que encontra na natureza muitas vezes devastada pela ação do homem em nome do progresso e da economia. Krajcberg diversifica seus materiais agrupando-os, sobrepondo-os ou fundindo numa única peça as estruturas vegetais coletadas em várias regiões do Brasil: madeiras de Minas Gerais, cipós da Amazônia e raízesescoras do mangue [...] (VENTRELLA; BORTOLOZZO, 2007, p.68).

Flor do mangue, madeira. (Fonte: www.navevazia.com).


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Em Flor do mangue podemos ver a união de vários restos de madeira trabalhados, esculpidos, pintados e agrupados em uma única peça. Ao ver a obra não fazemos idéia de que cada galho presente nesta escultura é o resto de madeira queimada ou derrubada que o artista juntou, trabalhou, cuidadosamente projetou e encaixou formando esta escultura. Existe uma profunda pesquisa das formas criadas pela natureza que o artista reformula em releituras através dos materiais que resgata de queimadas e desmatamentos. Artista e militante pela preservação da natureza, Frans Krajcberg pesquisa, registra e denuncia em sua obra todo o seu sentimento de amor a natureza e a profunda tristeza pelas devastações causadas pelo homem à natureza. Usando a Arte como caminho para divulgar sua luta, acredita em um futuro onde os homens serão mais conscientes de sua dependência intrínseca da natureza. Existe hoje uma consciência mundial em favor do meio ambiente. Graças a ela, reforça-se a idéia de que a sobrevivência da humanidade depende diretamente da sobrevivência do planeta. Essa dependência não é só de ordem física. Ela é também uma fonte de inspiração espiritual, que nos permite antever um tempo infinito e dar maior sentido à vida (KRAJCBERG apud VENTRELLA; BORTOLOZZO, 2007, p.72).

2.3. Bispo do Rosário

Segundo Marta Dantas (2009), Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba no SE em 1909. Em 1925, mudou-se para o Rio de Janeiro. Trabalhou como, marinheiro, pugilista, lavador. Negro, pobre e louco (esquizofrênico paranóide), foi interno da Colônia Juliano Moreira, no Rio onde permaneceu cerca de 50 anos (quase ininterruptos - quando tinha melhora em seu quadro de esquizofrenia, era liberado da instituição) até sua morte em 1989. Durante um surto em 1938, acreditou ter visto anjos descendo a terra. Ocasião em que ele teria recebido a incumbência de organizar e de recriar o universo para apresentar a Deus no dia do Juízo Final. O que resultou em seu recolhimento para uma instituição de alienados.


46 [...] Natal de 1938 foi marcante para Bispo, pois um grupo de anjos lhe apareceu e lhe comunicou o que não deveria ser mais segredo: ele havia sido eleito pelo Todo-Poderoso, e sua missão na terra consistia em julgar os vivos e os mortos e em criar o mundo para o Dia do Juízo Final. [...] guiado por imagens e vozes saiu em peregrinação mística pela cidade (DANTAS, 2009, p.30).

Foi no diálogo que se estabeleceu entre sua loucura e a necessidade de se expressar, que Bispo do Rosário passa a criar sua obra como interno da instituição Colônia Juliano Moreira. Usa em seus trabalhos objetos descartados, recolhidos do lixo e sucata, assim como objetos do seu cotidiano, canecas, lençóis e jalecos velhos, linhas azuis que obtinha desmanchando o tecido dos uniformes, pedaços de pau, cordões, objetos plásticos, madeira de caixa de frutas, vassouras e rodos, papelão, fios de varau e outros materiais diversos obtidos por ele com outros internos. Todo material por ele encontrado é transformado e ganha um novo significado ao ser por ele agregado a sua criação de arte. Não recebia o papel, a tinta e o carvão, mas desfiaria o próprio uniforme para conseguir a matéria bruta de sua arte. Não obteria estímulo de monitores e terapeutas, mas obedeceria ordens do além para construir o mundo em miniaturas. Se aquilo era delírio, expressão primitiva ou arte, o tempo se encarregaria de decifrar (HIDALGO apud DANTAS, 2009, p. 32).

Esses objetos coletados eram agregados em uma linguagem própria para criar brinquedos, assemblages, estandartes, faixas e mantos, em que borda passagens de sua vida, lembranças e palavras que são resquícios de sua vida anterior à internação, dentro da necessidade de classificação e reorganização do mundo e a resignificação de seu próprio ser em busca de sua razão.

Canecas de alumínio sobre suporte de madeira. (fonte: www.artesvisuaisnaescolaclasse4).


47 Reunidos sobre rígida simetria, seringas, êmbolos e agulhas se alinhavam numa inusitada assemblage. Até a sucata médica era reciclada por Bispo. [...] sem nuca ter posto o pé em uma galeria de arte, tinha a antena voltada para a vanguarda dos anos 60 (HIDALGO apud DANTAS, 2009, p. 35).

Dentro de seu trabalho as palavras têm uma importância que vai além do seu sentido denotativo, bordadas em profusão em faixas de miss, nos estandartes e nos mantos, elas são símbolos dentro da construção artística de sua obra, dentro de códigos que se organizam e são trabalhados em busca de uma estética harmônica, significativa e de fé. As linhas utilizadas nos bordados vêm de uniformes e lençóis velhos que Bispo cuidadosamente desmanchava para transformar em material para trabalhos como Manto de Apresentação; neste trabalho podemos ver a transformação dos fios por ele coletado em bordados que guardam em si significados, traçam relações em sua trama e nos convidam a fruir. O caráter subversivo de sua escrita não se revela apenas o uso de materiais nada convencionais – o tecido, a agulha e a linha - reminiscência e recriação do artesanato de sua terra; ele também está presente na utilização da linguagem. Da mesma forma que manipulava os materiais, Bispo manipulou as palavras, ou seja, como substâncias mágicas (DANTAS, 2009, p. 133).

Manto de Apresentação, s.d., tecido, fio e corda. (fonte: www.itaucultural.org.br).


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Bispo do Rosário passou a criar suas obras de forma intuitiva, pois nunca teve uma educação formal em Arte, acesso ou contato com as produções de outros artistas, sendo sua obra original e surpreendente dentro das circunstâncias em que surge, trabalhando os elementos de forma harmônica dentro de suportes diferenciados, carregados de significados e sentidos místicos dentro de sua loucura de cumprir a missão designada por Deus de reconstruir o mundo.

Veleiros, madeira, tecido e bordados. (fonte: www.artesvisuaisnaescolaclasse4). Bispo não desenhou, não pintou, nem esculpiu. Nenhuma dessas atividades expressivas tradicionais das “belas artes” foi usada por ele. Mas bordou, costurou, pregou, colou, talhou ou simplesmente compôs a partir de objetos já prontos. Nenhum dos materiais “dignos” das artes foi manipulado por ele; suas obras nasceram de coisas que recolhia por onde andava ou que adquiria no mercado negro do hospício. Na sua maioria, objetos sem vida útil, detritos, sucatas de toda espécie (DANTAS, 2009, p.84).

Em 1980, o jornalista Samuel Wainer Filho apresenta no Fantástico, programa da Rede Globo de televisão, uma reportagem sobre o descaso com que eram tratados os doentes em manicômios. Durante a reportagem conhece Bispo do Rosário e descobre sua obra, apresentando ambos ao Brasil. A certa altura da reportagem Samuel pediu licença ao morador de um quarto-forte, entrou e mostrou pela primeira vez ao mundo, em cadeia nacional, o universo de Arthur Bispo do Rosário: estandartes, assemblages, veleiros, faixas de misses, objetos domésticos sujeitos a uma razão estética. Bispo foi reconhecido e apresentado ao Brasil num dos programas de maior audiência. (SILVA, 2004, p.242)

Com a repercussão da reportagem, Bispo do Rosário participa da coletiva “As Margens da Vida” realizada no MAM/RJ. É sua primeira exposição, e seu trabalho é reconhecido pela crítica e passa a chamar a atenção.


49 Em 1982, o museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de janeiro expôs parte de sua obra, em uma mostra intitulada À margem da vida, que reuniu trabalhos de internos de outros hospitais, de presidiários, de menores infratores e idosos. [...] Frederico Morais, na época coordenador de artes deste museu, ficou impressionado com o que viu. Aos olhos da crítica, ele era um artista e sua obra estava à altura das obras de vanguarda (DANTAS, 2009, p. 46).

Seu trabalho ganha dimensão, sendo conhecido e reconhecido após sua morte em 1989, em uma exposição organizada por Frederico Morais, que leva a obra de Bispo do Rosário à luz da razão ao conhecimento do grande público. A exposição apresenta pela primeira vez o conjunto da obra de Bispo do Rosário, possibilitando o conhecimento e a compreensão da obra deste Artista que morreu desconhecido e alienado da sociedade. Segundo o crítico de arte Frederico de Morais à obra de Bispo do Rosário transitava com naturalidade e competência pela arte contemporânea. Em alguns textos que escreveu sobre Bispo, o crítico de arte Frederico Morais afirmou: “Sua obra transita [...] com absoluta naturalidade e competência, no território da arte mais contemporânea” (MORAIS apud DANTAS, 2009, p. 112).

Bispo do Rosário têm sido enfocado em filmes de curta e médiametragem; em livros, peças de teatro, na tentativa de se desvendar e assim compreender o artista e sua obra dentro de sua ótica de loucura. Em 1989, foi fundada a Associação dos Artistas da Colônia Juliano Moreira, que visa a preservação de sua obra, tombada em 1992 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural - Inepac. Sua produção está reunida no Museu Bispo do Rosário, localizado na antiga Colônia Juliano Moreira, onde viveu. Criando Arte a partir dos restos da sociedade, em uma época em que não havia preocupação com o meio ambiente, com o destino do lixo e não se falava em reciclagem, Bispo do Rosário reciclou e recriou o seu mundo, deixando uma vasta obra. Seu trabalho é ao mesmo tempo muito particular e universal, surpreendente pela variedade de objetos, riqueza de detalhes e cores que são cuidadosamente organizados, sem em nenhum momento ter pensado em ser um artista, criando apenas para cumprir sua missão de fé.


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Capítulo III 3.

Projeto e Prática de Ensino


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3.1. Dados gerais da escola e da turma de estágio

Escola: Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Ruy Coelho Gonçalves. Professora: Ledi Maria da Silva Kercher. Turma: 104 com 34 alunos (as). Dois períodos das 15h e 45min e às 17h e 15min Dias observados: 05/04/11, 12/04/11 e 19/04/11.

3.2. Dados gerais do projeto de ensino

Público alvo: alunos do Ensino Médio. Período: 2/2011 Número de encontros: 7 encontros. Duração: 1h e 10min.

3.2.1. Título: “Arte e Lixo”

3.2.2. Justificativa

A professora Ledi, titular das duas turmas que observei, tem sua formação acadêmica em História e por não conhecer a Arte e seus meandros, limita-se a trabalhar com seus alunos artesanato, dentro de um projeto de utilizar materiais


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baratos e recicláveis, com um cunho de preservação ambiental e atendendo as necessidades da comunidade que é carente. Visando adaptar meu projeto ao da professora titular, ao mesmo tempo sanar a carência dos alunos do conhecer e trabalhar arte elaborei este projeto com o propósito de através de pesquisa, práticas, observações e análises, proporcionar ao aluno o contato com a arte. Ampliando conceitos de fazer e de ver a arte, resignificando materiais e dando espaço para que possam se expressar com criatividade dentro da liberdade que a Arte proporciona, através do conhecimento das obras dos artistas Vik Muniz, Frans Krajcberg e Bispo do Rosário que se utilizam de materiais alternativos para expressarem sua Arte.

3.2.3. Objetivo geral

Conhecer

artistas contemporâneos que trabalham com materiais

alternativos, observando e analisando de forma crítica, os elementos dentro das obras e ampliando os conceitos de fazer e entender a arte, resignificando materiais, buscando a sensibilização e a significação na construção do conhecimento teórico e prático da Arte.


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3.3. Prática de Ensino

3.3.1. Primeiro Encontro

Aulas 1 e 2 - Data: 01/09/2011 Tema: Vik Muniz, repensando materiais. Conteúdos: Arte contemporânea, Vik Muniz. Atividades: Assistir trechos do filme/documentário Lixo Extraordinário. Discussão crítica e análise de imagens. Escolha dirigida de materiais a serem usados em aula prática. Objetivos: Despertar e sensibilizar para os valores sociais e estéticos da Arte. Desenvolver a observação, análise e a capacidade de crítica. Conhecer a vida e obra do artista Vik Muniz. Ver a reciclagem de materiais como uma forma de preservação e valorização da natureza. Metodologias: Apreciação de filme, leitura de imagens, discussão crítica e aula expositiva. Recursos/técnicas: Sala de áudio visual, filme/documentário “Lixo Extraordinário” com direção de Lucy Walker, folhas, TV, DVD. Avaliação: Será considerada a participação dos alunos após a apreciação do filme/ documentário “Lixo Extraordinário”, comentando o que perceberam no filme, o que gostaram, porque acham que ele escolheu este tema para trabalhar, sobre as imagens, suas colocações, críticas e análises, evidenciando o interesse dos alunos


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pela Arte de Vik Muniz e os materiais que usa dentro de suas leituras de mundo.

Planejado: A aula terá início com a locação dos alunos para a sala de áudio visual da escola. Após os alunos se organizarem em sala de aula, falarei sobre o filme/ documentário “Lixo Extraordinário”, do qual irão apreciar trechos, sobre o artista Vik Muniz que aparece no filme, e suas obras, de forma breve. Solicitarei aos alunos que escrevam em um pedaço de papel em branco, que será distribuído a eles, o que lhes chamar a atenção durante a apresentação do filme, pensamentos, relações que possam fazer a partir do filme de forma livre. Após o filme, os alunos serão incentivados a falarem sobre o que viram, o que sentiram, como pensam a arte, dentro de uma proposta de discussão crítica e análise das imagens vistas no filme como um todo. - Qual a temática abordada pelo filme? - O que motivou o artista a trabalhar com o lixo e as pessoas do aterro de lixo? - Em que situação as pessoas que aparecem no filme vivem? - Que conhecimento as pessoas que trabalhavam no aterro de lixo tinham do que era Arte? - O que os alunos entendem do que é Arte? - Qual o papel da arte dentro da sociedade? - Como as pessoas passaram a se ver depois de participar deste projeto de Arte? - A Arte pode mudar as pessoas e a sociedade? Em que sentido? - Vocês se sentem mudados quando assistem a um filme como este? - Já tinham pensado no destino do lixo de suas casas? - Qual a força da Arte? Os alunos poderão também ler o que escreveram no pedaço de folha que receberam e comentar. Abrirei espaço para que os alunos pensem em materiais alternativos que poderíamos trabalhar na próxima aula na criação de um trabalho individual, em que faremos um Toy Art (brinquedo de adultos). Será proposto a eles que captem materiais diversos (caixa de cartão


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multicamada, tampas de garrafa, papel colorido, retalhos de tecido, pedaços de EVA, canudos de refrigerante, plástico, etc.), cola, tesoura, agulha, linha, tinta entre outros materiais que os alunos achem interessantes para trabalhar na próxima aula. Realizado: Nesta aula, juntamente com a professora titular, eu me dirigi à sala de audiovisual para ligar os aparelhos e me organizar, alguns minutos antes do horário da aula. Os alunos foram encaminhados para a sala de aula pela pessoa encarregada de organizar a entrada dos alunos após o recreio. A aula começou com um atraso de 10 min. devido à demora dos alunos para subirem após o recreio e se acomodarem na sala. Enquanto se acomodavam, alguns alunos queriam saber que filme iriam ver, respondi que veríamos um filme sobre arte. Um aluno comentou que nunca havia estado na sala de áudio visual. Pedi aos alunos que estavam mais afastados que se sentassem mais perto da TV, no que não fui atendida. Insisti no pedido e então alguns se dirigiram mais para frente, mas seis meninas ficaram bem afastadas. Durante o filme duas delas, vieram para mais perto, ficando quatro meninas mais isoladas no canto. A professora Ledi, professora titular da minha turma de estágio, reapresentou-me para a turma, falando que eu iria estagiar com eles, dando as aulas de Arte. Alguns alunos começaram a reclamar em tom de brincadeira, dizendo que ela não gostava deles, o que gerou certa bagunça, logo dispersa pela professora Ledi que lhes disse que ela tinha me dado esta turma por ser uma turma com a qual ela gostava bastante de trabalhar. Iniciei minha aula dizendo que eu iria passar um filme/documentário chamado “Lixo Extraordinário”, e que este filme era sobre o trabalho de um artista muito famoso, Vik Muniz. Vários alunos disseram que nunca ouviram falar nele. Falei então dos lugares na TV aberta em que ele tinha aparecido, como na abertura da novela que passou na Rede Globo “Passione”, no programa do Jô Soares, que a propósito apareceria no início do filme, no Fantástico, assim como em outras mídias como revistas, jornais, internet. Alguns alunos lembraram-se das obras na abertura da novela “Passione”, e as reconheceram quando passaram no filme. Distribui para os alunos pedaços de folhas de ofício colorida e pedi que escrevessem nele sobre o filme, podia ser um pensamento, uma frase do filme, o que eles quisessem para comentarmos ao final


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da aula. Falei aos alunos que não iria passar o filme todo. Por ser um filme longo, passaria apenas algumas partes. Iniciei o filme na entrevista com o Jô Soares até a exposição no MoMA. Quando apareceram as obras do artista expostas no museu, falei aos alunos do que eram feitas (Mona Lisa de geléia e manteiga de amendoim, Pollock de calda de chocolate, etc.). Os alunos pediram para ver de novo, e eu repassei as cenas onde as obras apareciam para eles apreciarem. Eles gostaram muito destes trabalhos. Um aluno perguntou como a calda de chocolate ficava parada, lhes expliquei que era uma fotografia, que este artista monta cenas, formas e depois as fotografa, e que este era o processo de trabalho que ele desenvolvia. Não quis me estender mais na resposta, mas achei importante ir respondendo algumas questões que foram aparecendo no decorrer do filme, elas eram importantes, pois ampliavam o entendimento dos alunos e suas curiosidades. Apesar de ter um tempo curto para desenvolver a aula, resolvi ir comentando mais as colocações dos alunos durante a exibição do filme, respondendo as perguntas que iam aparecendo, voltando o filme em algumas cenas. Algumas respostas as perguntas que faziam tinham mais sentido se respondidas enquanto viam as cenas, se respondidas após o filme acho que perderiam parte do interesse e do sentido. No próximo trecho, Vik Muniz já aparecia no aterro de lixo, falando de suas primeiras impressões do local e das pessoas. Nestas cenas aparecem catadores em meio ao lixo, junto com urubus o que causou comoção e o mesmo tipo de comentários feitos pela turma 72 ao vê-las. - Gente, deve ser muito fedido! - Aqueles pássaros são corvos? - São urubus, sora! - Eles não ficam doentes, assim no lixo?

Passei para o próximo trecho, em que o Vik Muniz passa a fotografar as pessoas que serão personagens de seu trabalho e estas pessoas dão depoimentos de como foram parar ali, trabalhando no aterro de lixo e falando sobre como é a vida deles. Nesta parte os alunos ficaram bem ligados, quietos, alguns que até então estavam meio dispersos, prestaram mais atenção. Quando apareceu a mulher que cozinha para os catadores, em meio ao lixo e à lama, muitos alunos demonstraram nojo, pena e incredulidade.


57 -Eles pegam a comida do lixo? - É do lixo mesmo? - Ai, Mas é sujo!

Respondi que sim, e repassei novamente a cena, em que a cozinheira falava como chegavam até ela os produtos que usava para fazer comida para os outros catadores, e o que ela preparava com estes mantimentos. Passei para o trecho seguinte quando em seu estúdio, Vik Muniz escolhia e produzia as fotos para o trabalho que iria desenvolver com os catadores. Os alunos ficaram encantados com a maneira como eram construídos os retratos, à medida que os próprios catadores iam colocando o lixo sobre as sombras projetadas das fotografias. Os alunos, após assistir às cenas da casa de leilões em Londres, quando o quadro “Marat, Sebastião”, foi leiloado por 28 mil libras, ficaram admirados com o valor alcançado e queriam saber se o dinheiro tinha sido dado aos catadores. Disselhes que sim e que isso apareceria no final do filme. O trecho do filme, em que os catadores de lixo vão pela primeira vez em uma exposição de arte, e se vêem nas obras expostas, causou comoção e burburinho entre os alunos. Alguns alunos ficaram emocionados com a reação dos catadores. Ainda que eu tenha escutado um „terminou?“, de um dos alunos que ou não queria demonstrar emoção ou já estava cansado do filme. Encerrei o filme, com o Vik Muniz visitando as pessoas com quem ele havia trabalhado e as presenteando com uma cópia de sua fotografia, e a emoção destas pessoas ao receber estas fotografias em que tinham sido modelos. Terminada a apresentação do filme, perguntei se eles tinham gostado do filme.

Houve muita bagunça, uns respondendo que sim, outros perguntando se

poderiam ir embora, se tinham que escrever o nome no papel que eu distribui, que horas eram, etc. Foi difícil eles se aquietarem novamente, o que aconteceu parcialmente. Tentei pescá-los para um debate sobre as idéias do filme, dizendo: - Viram quanta coisa se pode fazer com o lixo? - O que chamou a atenção de vocês no filme? Os alunos deram respostas curtas que se perdiam em meio às conversas paralelas, e ao barulho. Não consegui que os alunos se interessassem em participar da conversa.


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O debate não aconteceu, penso que poderia ter encaminhado o debate de outra forma, voltando a questões do filme em que eles manifestaram interesse, deixando as perguntas no ar por mais tempo ou achando algo que envolvesse o interesse deles e os trouxesse para a conversa. Como os alunos não têm o hábito de conversarem sobre suas idéias, de travar este tipo de diálogo em sala de aula, a timidez e talvez o medo de ser alvo das brincadeiras dos colegas os reprime. Dentro da sala de aula, os alunos formam um conjunto que responde e reage de acordo com os códigos de conforto do grupo. Escutar o que estavam dizendo, capturar o interesse deles, teria facilitado a condução de um diálogo mais significativo, que quebrasse o medo da exposição ao colocarem suas idéias, medo que, segundo os autores Martins, Picosque e Guerra, faz parte do comportamento do jovem, sendo resultante de sua história, da sua identidade em construção. O medo de se expor, a preferência pela repetição das formas conquistadas, a busca de modelos ou da ótica de outros, o sentimento de incompetência, a obediência ou abandono de tarefas sem significado. Esses são comportamentos vividos pelo jovem, fruto de sua própria história, com implicações na construção de sua identidade problematizada também como produtor (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p.115).

Nos pedaços de folha que distribui no início da aula e recolhi no final, tive um retorno mais consistente, os alunos expressaram sentimentos, solidarizando-se com a situação dos catadores, vendo no trabalho do Vik Muniz uma forma de falar da situação destas pessoas, tornando-as visíveis para a sociedade. - Vik é muito criativo, faz sua arte de coisas bem diferentes, gosta de cenas fortes e de mostrar a realidade. - Eu achei muito interessante, porque ele aproveita todo o tipo de lixo, mostrando que lixo pode virar luxo, uma arte. - Achei legal porque o cara faz arte com quem é esquecido pelo mundo. - Eu achei muito digno a mulher falar que preferia estar ali no lixão, que estar em Copacabana se prostituindo. - Nós vimos que mesmo naquelas condições elas são alegres e felizes e o melhor, eles se orgulham do que fazem.

Durante a apresentação do filme, houve momentos diferentes de apreciação. No início do filme, eles estavam mais excitados e não se concentravam muito e falavam alto. À medida que o filme evoluía para os momentos em que os catadores de lixo faziam depoimentos sobre como haviam chegado até o trabalho no lixão, notei que houve um momento de muito silêncio e compenetração, perguntas e burburinhos diminuíram muito e os alunos olhavam o filme, mergulhados em total


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atenção. Na parte do filme em que os catadores começam a trabalhar nas obras do Vik Muniz, os alunos voltaram a perguntar e a fazer pequenos comentários de admiração pelo tamanho das obras, pela forma como foram realizadas pelos materiais que eram colocados formando os desenhos. E eles queriam saber se os catadores sabiam desenhar, como eram feita a projeção, o que faziam com as coisas depositadas sobre o desenho depois que terminavam. Fui respondendo a estas questões baseada no que eu sabia do filme ou tinha pesquisado sobre ele. Quando por fim o filme terminou, pareceu-me que houve uma explosão de energia, com todos os alunos se movimentando, falando entre si, em uma desordem muito difícil de conter e mais difícil ainda de abrir espaço para um debate. Foi como se todo aquele momento em que se concentraram no filme em silêncio, nesse momento tivesse que ser compensado com barulho. Pedi que se acalmassem, pois a aula ainda não tinha terminado, no que fui atendida parcialmente. Senti frustração em não conseguir envolvê-los em uma discussão. Eles estavam envolvidos pelo filme, mas não achei o caminho para chegar até eles, para que falassem sobre suas idéias. Foi um momento muito ruim, em que eu me senti perdida. Na parte final da aula, após pedir várias vezes silêncio, para que eu pudesse falar, fui atendida parcialmente, o suficiente para me fazer ouvir. Falei para eles que na próxima aula, usando materiais recicláveis e materiais tradicionais como cola tesoura, tinta etc. criaríamos um brinquedo. Expliquei o que era Toy Art (brinquedo para adultos), mostrei para eles algumas reproduções e falei dos materiais que foram usados para fazê-los, tentei envolvê-los para pensar em que tipos de materiais poderiam usar para confeccionar os nossos. Conseguimos conversar e planejar os materiais para trazer na próxima aula, em meio a muitas conversas paralelas. Logo após eu encerrei a aula e dispensei os alunos.


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3.3.2. Segundo Encontro

Aulas 3 e 4 - Data: 08/09/2011 Tema: Vik Muniz, repensando materiais. Conteúdos: Arte contemporânea, Vik Muniz. Toy Art. Formas tridimensionais. Atividades: Trabalhar materiais alternativos com tradicionais em trabalho prático individual de Toy Art. Apresentação dos trabalhos realizados. Objetivos: Desenvolver a auto-expressão através da criação de um trabalho em Toy Art. Despertar o sentimento de preservação da natureza, reaproveitando materiais, mesclando materiais reciclados com materiais tradicionais. Desenvolver a observação, análise e a capacidade crítica. Significar a criação artística relacionando-a ao universo de interesse do aluno. Metodologias: Aula expositiva dialogada, trabalho de criação individual, leitura de imagem segundo Edmund Feldman. Recursos/técnicas: Materiais diversos: caixa de cartão multicamada, tampas de garrafa, papel colorido, retalhos de tecido, pedaços de EVA, canudos de refrigerante, plástico, palitos, papelão, cola tesoura, tinta entre outros materiais que os alunos tragam. Avaliação: Será considerada a participação dos alunos no desenvolvimento do seu trabalho individual durante a aula, bem como as associações que irão formaram a partir do filme/documentário “Lixo Extraordinário” e a utilização de materiais de


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reciclagem, na execução de seus trabalhos e ao falarem dos mesmos.

Planejado: Os alunos serão organizados em grupos de 4 a 5 alunos, para compartilharem materiais, durante o desenvolvimento do seu trabalho que é individual. Os alunos terão uma breve explicação sobre o que é Toy Art, (brinquedos para adultos), que será desenvolvido como técnica de trabalho. Os alunos poderão usar diversos materiais na confecção de seus brinquedos. Mostrarei aos alunos a reprodução de alguns brinquedos produzidos com papel, plástico, tecido, metal, etc.. Vik Muniz discute com o seu trabalho questões políticas, sociais, econômicas, busca a valorização do ser humano, mostrando que a Arte tem a capacidade de nos ensinar e promover novas formas de ver, perceber, refletir, sentir, nos sensibilizando para estas questões que são importantes para a sociedade. Nesta aula, a partir de uma caixa multicamadas ou outra forma que os alunos tenham interesse em trabalhar, iremos criar brinquedos, que façam voz ao que quiserem expressar dentro de questões sociais, pessoais, políticas, suas reflexões e relações. Usando uma base, que pode ser, por exemplo, uma caixa de cartão multicamada, os alunos agregarão materiais solicitados em aula anterior na construção de seu trabalho, que terá como desafio, criarem a partir dos materiais que trouxeram um brinquedo. Os alunos terão liberdade para explorar materiais alternativos e materiais tradicionais em suas criações bem como sua criatividade. Após finalizarem seus trabalhos, os alunos poderão avaliar e apreciar os trabalhos, falando de suas criações, o que buscaram dizer com seu brinquedo, sobre a escolha dos materiais e formas utilizadas no seu trabalho.


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Toy Art:

Brinquedos com caixas multicamadas e materiais variados (arame, plรกstico, tecido, etc.). (Fonte: www.customilk.blogspot.com).

Brinquedos confeccionados em tecidos variados. (Fonte: www.madametrapo.com).


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Brinquedos montados com papel達o. (Fonte: www.designcoletivo.com).

Brinquedos com materiais variados, caixas , latas, papel達o. (Fonte: blogdebrinquedo.com.br).

Brinquedos feitos com o papel達o de dentro do papel higi棚nico. (Fonte: www.ecoblogs.com.br).


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Realizado: Os alunos mais uma vez entraram agitados na sala após o intervalo, falando muito, rindo alto. Pedi que fossem sentando e se organizando em grupos de 4 alunos. Tive que falar várias vezes a mesma coisa pois é muito difícil esta comunicação quando estão assim tão exaltados, cheios de adrenalina. À medida que se organizaram e sentaram, perguntei quem trouxe o material para nós fazermos o brinquedo. Somente oito alunos levantaram a mão no total de 20 alunos que compareceram neste dia. A professora Ledi, titular da turma, que tem acompanhado minhas aulas na sala, pediu licença para mim e deu uma bronca nos alunos. Disse-lhes que trazer o material faz parte da nota, que quando solicitados eles tem que trazer, os professores não tem obrigação de trazer material para eles fazerem os trabalhos e que ela iria anotar os nomes de quem não trouxe o material, e que estes alunos já teriam desconto em sua nota final. Logo após a professora Ledi falar, ficou um silêncio absoluto. As relações que se estabelecem entre o professor e os alunos tem muito a ver com a formação deste professor e com a forma com este vê este aluno. Segundo Damião, a forma como o professor vê seu aluno se reflete na maneira como ele vai se relacionar com este. A forma com que o professor se relaciona com o aluno (...) tem a ver com a forma como o professor encara e como vê o aluno enquanto sujeito (...) se o professor encara o aluno como um sujeito epistêmico ou como um sujeito pedagógico (DAMIÃO apud RAMOS, 2010, p.148)

Fiquei chocada com aquela bronca repentina, me senti como um dos alunos, talvez reminiscências dos vários professores autoritários que tive desde que entrei na escola. O professor gritando em sala de aula não é uma coisa nova, vem desde muito tempo e sua validade é muito discutível, assim como usar o desconto da nota como forma de coação. Apesar de ter achado esta intervenção da professora titular excessiva e descabida, achei que deveria falar qualquer coisa sobre ela. Decidi continuar a aula do ponto em que tinha parado, iguinorando o clima ruim e tentando trazer os alunos novamente para o tema da aula. Voltei a minha aula, relembrando os alunos o filme/documentário “Lixo Extraordinário” que haviamos assistido na aula anterior. Perguntei se lembravam de que assunto o filme tratava e os alunos disseram:


65 - Do lixo! - De um artista que fez uns quadros com lixo reciclado. - Dos catadores no lixão, da pobreza e de arte com lixo. - Das pessoas que trabalhavam com lixo e que fizeram uns quadros de lixo com um artista.

Falei aos alunos que o artista era o Vik Muniz, e que em seus trabalhos com os catadores, ele levava à sociedade questões como o destino que é dado ao lixo, das pessoas que sobrevivem do trabalho com o lixo, do descarte social de pessoas e coisa tratados como lixo, do consumo de coisas, etc.Um aluno disse: -Tem muita coisa que botamos fora e que ainda pode ser usado, e dá para fazer muita coisa.

Disse aos alunos que ele estava certo, que ao criarmos nosso brinquedo com materiais reciclados e tradicionais, poderíamos ver na prática que podemos criar, mostrar o que pensamos e queremos dizer às pessoas. Falei a eles que eu havia levado alguns materiais para usarem, mas que não teria suficiente para todos eles e que por isso alguns alunos que não trouxeram material fariam seu trabalho em dupla. Distribui os materiais que havia levado, caixinhas de diversos tamanhos, retalhos de tecido, pedaços de papel colorido e EVA. Um grupo de 5 meninas levou tecido e material para costurar, queriam fazer seus brinquedos de tecido. Achei muito bom. Uma delas levou um brinquedo de tecido que era um chaveiro. Mostrei para a turma e disse-lhes que muitas pessoas compravam e colecionavam brinquedos. A Rochele fez seu brinquedo com retalhos de tecido. Ela passou a aula toda costurando de forma obstinada, pois queria terminá-lo na aula. Seu trabalho foi inspirado em uma das reproduções que lhes mostrei de brinquedos de tecido.


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Trabalho da aluna Rochele. (Fonte: RIBEIRO,2011).

A aluna Angélica também trabalhou com costura. Costurou retalhos de TNT, aplicou retalhos de feltro e uma flor de croché que trouxe pronta de casa. As cores que ela usou nos detalhes produziram um efeito muito bom no seu trabalho, deixando-o alegre e divertido.

Trabalho da aluna Angélica. (Fonte: RIBEIRO, 2011).


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A Giovana misturou em seu brinquedo caixas multicamada, retalhos de tecido, costura, colagem e dobradura, o que resultou em um trabalho com características próprias da criatividade desta aluna. Ficou muito boa a mistura de materiais que ela usou em seu brinquedo, o que deu a ele muita originalidade.

Trabalho da aluna Giovana (Fonte: RIBEIRO,2011)

Duas duplas de meninos que não levaram nada para fazer o trabalho, e a quem eu dei material me surpreenderam, pois apesar da relutância a princípio, aos poucos foram se envolvendo no trabalho e elaborando brinquedos bem criativos. Aliás, a turma toda me surpreendeu, pois achei que não tinham se interessado pela proposta de trabalho, uma vez que não trouxeram material, mas todos fizeram os trabalhos e demonstraram estar gostando, comentando seus trabalhos quando eu me aproximava. Diziam o que tinham planejado fazer e os materiais que iriam usar para realizá-lo. O aluno Shalon usou em seu trabalho inúmeros materiais como: caixa multicamadas, plástico, papel metalizado, recortes de revista, E.V.A., etc. na composição de seu brinquedo. Ele falou que foi montando seu brinquedo sem pensar em nada específico, ele foi juntando ao trabalho coisas e formas que lhe agradavam criando um brinquedo original.


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Trabalho do aluno Shalon (Fonte: RIBEIRO, 2011)

Durante a aula, alguns alunos faziam perguntas à professora titular sobre seus trabalhos. Ela pediu que eles perguntassem para mim. Enquanto atendia aos alunos, indo de grupo em grupo, percebi que são uma turma alegre e bem dinâmica, achando soluções criativas para a execução de seus trabalhos ao usarem materiais de formas diversificadas na formação de seus brinquedos. Durante a aula, eles fizeram muita bagunça conversando alto, brincado, dando risadas, discutindo ao mesmo tempo em que produziam seus brinquedos, por isso chamo-a de uma bagunça produtiva. Incentivei os alunos a fazerem coisa diferentes, colocando características que os diferênciassem como olhos assimétricos, vários braços, etc. Disse-lhes que quanto mais detalhes diferentes mais legal ficaria. Em alguns brinquedos dessa turma, percebi uma tendência de desenvolver somente a cabeça do brinquedo, sem se preocupar em criar o corpo. Quando questionei se não fariam pés, pernas e braços disseram que não precisava, que era um cabeção. Fotografei os trabalhos de quem tinha terminado e dos que ainda estavam


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fazendo. Pedi para aqueles que não terminaram seus brinquedos, que finalizassem em casa e trouxessem na próxima aula para que eu os visse e fotografasse. Perto do final da aula, pedi que guardassem o material, organizassem as classes e juntassem os materiais que tinham caido no chão. Disse aos alunos que só sairíamos quando todos tivessem arrumado as coisas. Arrumamos e saimos. Apesar da aula ter me preocupado muito no início, quando descobri que mais da metade dos alunos não havia tazido material solicitado, foi uma aula bem produtiva. Percebi que os alunos gostaram de desenvolver seus brinquedos, pois se dedicaram muito neste trabalho e, à medida em que os faziam se empolgavam e procuravam colocar mais detalhes nos trabalhos que iam mostrando e perguntando como estava ficando. Alguns alunos queriam saber onde encontrar Toy Art, anotaram os endereços para procurar na internet e para conhecer mais sobre o assunto. Quando falavam dos brinquedos que estavam fazendo, misturavam personagens de desenho infantil com personagens de filmes, dentro de seu universo pessoal. Ainda que não tenham um discurso engajado de significados mais profundos, relacionando ao trabalho que fizeram, conseguem significar a reciclagem como uma forma de consumo sustentável, necessária e importante dentro da sociedade e para a vida deles. A construção do conhecimento, relacionando e significando o que se aprende, é um processo de ensino e aprendizagem que ocorre bilateralmente. Eu aprendo com os alunos, e sou mediadora de informaçoes que acrescentarão ou não novas possibilidades para a aquisição do conhecimento do aluno. Só aprendemos aquilo que, na nossa experiência, se torna significativo para nós. Nessa perspectiva, ensinar – que etimologicamente significa apontar signos – é possibilitar que o outro construa sentidos, isto é, construa signos internos, assimilando e acomodando o novo em novas possibilidades de compreensão de conceitos, processos e valores (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA. 1998, p.128).

Dentro das significações que os alunos absorvem em sua trajetoria escolar, está a idéia de que o desenho que fazem está errado e que o desenho certo é o desenho esteriotipado que veem nas paredes da escola, nos livros pedagógicos, etc. Essa noção de que devem fazer um que atenda uma perspectiva de perfeição acaba inibindo, travando a originalidade do desenho da criança. Apesar de não ser


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objetivo especifico do meu trabalho discutir a estética do belo na Arte, achei que este paradigma do trabalho bom ter de ser o trabalho do esteriótipo bonitinho, deveria ser quebrado, para que eles possam desenvolver o seu trabalho com mais liberdade, para colocar e ver na criação outros conteúdos mais significantes. Admirando os estereótipos, as crianças querem imitá-los, copiá-los: dos murais, das cartilhas, das folhas mimeografadas que são obrigadas a colorir. Assim, aos poucos, vão desaprendendo o seu próprio desenho, perdendo a expressão individual e a confiança em seus traços, começando a achá-los “feios” e “mal feitos” (VIANNA, 1994, p. 6).

A Arte que estes alunos aprenderam até então na escola, tem a ver com o fazer coisas esteriótipadas, sendo o bonito a meta final. Na construção dos brinquedos, salientei enquanto falava com eles nos grupos, que não deveriam se preocupar se o brinquedo seria bonito ou feio, e sim, se era como eles queriam, se era original, se era imaginativo.


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3.3.3 Terceiro Encontro

Aulas 5 e 6 - Data: 22/09/2011. Tema: Construindo com a natureza. Conteúdos: Arte Contemporânea, vida e obra de Frans Krajcberg. Atividades: Assistira à apresentação que eu organizei, sobre Frans Krajcberg. Leitura de imagens segundo Edmund Feldman. Discutir as idéias para o desenvolvimento do trabalho de grupo da próxima aula. Objetivos: Conhecer vida e obra do artista Frans Krajcberg. Desenvolver a observação, análise e a capacidade de crítica. Reconhecer o tipo de material trabalhado pelo artista. Despertar o sentimento de preservação da natureza, reaproveitando materiais, mesclando materiais reciclados com materiais tradicionais. Despertar e sensibilizar para os valores sociais e estéticos na Arte. Metodologias: Aula expositiva dialogada, leitura de imagens segundo Edmund Feldman. Recursos/técnicas: Sala multimídia, computador, data show. Avaliação: Será considerada a participação dos alunos como espectadores e como leitores das obras apresentadas, descrevendo, analisando e interpretando o que vem nas obras, segundo os passos sugeridos por Edmund Feldman, bem como, suas colocações sobre os temas desenvolvidos pelo artista.

Planejado: Os alunos se dirigirão à sala de multimídia e, após se organizarem, assistirão em projeção, obras do artista Frans Krajcberg.


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Mostrarei algumas obras e farei perguntas como: - O que vocês estão vendo? - Que tipo de obra é? Descrevam: - Que material o artista usa para fazer esta obra? - O que esta obra sugere? - De onde ele tira o material que usa nestas obras? Aos poucos darei informações sobre quem é o artista de como são feitos os trabalhos concepções de arte, natureza, meio ambiente. Os estimularei a falarem sobre o que estão vendo, sobre os materiais que o artista usa nas esculturas e sobre de onde o artista tira seus materiais; através de perguntas como: - O que conhecem sobre preservação? - É importante a preservação da natureza? - A Arte pode ter haver com a preservação da natureza? - O trabalho do Frans krajcberg pode ser usado para denunciar as devastações na natureza? - A Arte é importante para a sociedade? - Já perceberam folhas e galhos secos caídos nas ruas e pensaram o que poderiam criar com eles? - Para falar da preservação da natureza, como fariam? Proporei aos alunos que na próxima aula façamos trabalhos usando materiais recolhidos da natureza, salientando que os materiais naturais devem ser recolhidos do chão, (provenientes de poda ou que caíram de plantas naturalmente e não arrancando das árvores e vegetação em geral). Neste painel irão fazer algo que represente o que o grupo pensa, sobre preservação da natureza e sua importância. Eles poderão se inspirar nas obras do Frans Krajcberg. Dividirei a turma em grupos de 4 alunos, para que combinem os materiais que devem trazer na próxima aula para compor seu painel. Irei até cada grupo, para ouvir o que querem fazer e quando precisarem dar sugestões aos alunos do que podem fazer como: carimbos, colagem e monotipia, explicado como se faz cada técnica e os materiais necessários.


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No final da aula será solicitado aos alunos que tragam para a próxima aula os seguintes materiais: cola, tesoura, galhos secos, folhas secas de árvores, sementes etc., material para pintura (tinta, pote, pincel, pano, jornal para por nas classes) e outros materiais que achem necessário. Realizado: A aula se realizou na sala de audiovisual, os alunos entraram e foram se acomodando pela sala, eles perguntaram se iriam ver um filme. Alguns alunos me avisaram que haviam trazido seus brinquedos para eu olhar. Desde o início foi uma aula tumultuada com muita conversa, com momentos onde eu tive que falar mais alto, para pedir que falassem um por vez, ou falassem mais baixo. Olhei os brinquedos, e falei aos alunos que eu tinha gostado muito dos brinquedos que eles fizeram, que estavam ótimos. Perguntei aos alunos o que achavam de na próxima aula todos trazerem os brinquedos que fizeram, para que nos podessemos olhá-los melhor e conversarmos sobre eles. Eles disseram que não precisava, que eu já tinha visto. Outros disseram que não queriam mostrar. Perguntei a eles porque não queriam mostrar, um respondeu que ele tinha ficado feio, outro que não sabia onde estava o dele e porque não, em uma profusão de respostas meio tumultuadas com todos falando ao mesmo tempo. Pedi a eles que se acalmassem, que não estava conseguindo escutá-los, e que eu queria escutar as opiniões deles. Perguntei se eles não tinham gostado dos brinquedos que eles tinham feito, eles disseram que sim. Mostrei aos alunos alguns dos trabalhos que foram trazidos nesta aula, como o brinquedo em tecido roxo, com formato de coração com mãos e pés. Perguntei se eles gostavam do trabalho.


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Trabalho da aluna Tauane. (Fonte:RIBEIRO, 2011).

Uns dissseram que estava horrível, perguntei a um desses alunos que falou que estava horrível, porque ele achava isso. Ele disse que tudo era horrível. Falei que eu gostei, achei que ficou bom o trabalho de costura, os olhos de botões e que eu queria que eles falassem do que gostaram e do que não gostaram. Uma aluna disse que ele ficaria melhor se fosse mais claro, porque não dava para ver direito. Aproximei mais o brinquedo dela e ela falou que era muito escuro mesmo. Perguntei a autora se ela tinha gostado de fazer o seu brinquedo, ela disse que sim, mas não sabia costurar direito e que poderia ter ficado melhor. Mostrei outro brinquedo em caixa multicamada e perguntei o que viam de legal naquele trabalho, entre muitas conversas paralélas, ouvi que era o coringa, que a roupa e o cabelo estavam legais, perguntei e o resto, disseram que estava bom também. Perguntei aos alunos o que estava bom, um aluno disse tudo professora. Perguntei se gostaram das cores que ela tinha usado em seu brinquedo, uma aluna respondeu que sim, que ela achou muito show. Outro disse que deveria fazer agora o Batman.


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Trabalho do aluno Jonatan. (Fonte:RIBEIRO, 2011).

Disse a eles que poderíamos trazer os trabalhos na próxima aula, e ver o que cada um tinha feito de bom em seus brinquedos. Como a bagunça tomou conta da sala, com todos falando ao mesmo tempo, pedi

novamente que fizessem

silêncio. Propus que votássemos quem queria e quem não queria, levantando as mãos. Ninguém quis. Como eu tinha mais alguns trabalhos para ver, terminei de vê-los, fotografando e mostrando para a turma, uma aluna não queria que eu mostrasse seu trabalho para a turma. Um aluno queria saber se valia nota. Disse que toda aula tinha uma avaliação, que a soma dos trabalhos e participação nas aulas, as colocações que faziam, resultava em uma nota final. Após terminar de olhar os brinquedos, falei a eles que nesta aula fariamos uma leitura de imagem, segundo Edmund Feldman que propunha que ao olharmos um obra de arte, seguissemos alguns passos: 1) Descrião, onde se descreve o que se consegue ver; 2) Análise, quando pensamos sobre o que vemos, as cores, formas, materiais, expessura, tamanho; etc.; 3) Interpretação quando pensamos sobre o que a obra nos sugere; 4) Julgamento, que não iríamos fazer. Não tinha terminado de falar e um aluno já perguntava porque não


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fariamos o julgamento. Respondi a ele, que para o julgamento necessitariamos de um conhecimento mais técnico sobre arte, portanto faríamos só os primeiros três passos. Mostrei aos alunos a primeira obra do Frans Krajcberg, Flor do Mangue. Deixei esta imagem exposta por algum tempo para que eles começassem a assimilar suas formas. Os alunos começaram a falar sobre a escultura, fazendo comentários e perguntas como:. - O que é isso? - É um uma coisa toda de ferro. - Parece uma árvore preta. - É um coqueiro!

Perguntei:- Porque um coqueiro? - Tem aqueles cocos ali do lado. - Não é coqueiro, aquilo são porongos.

Falei aos alunos que as bolas poderiam ser cocos, porongos, sementes, etc. Quando vemos uma obra de arte, cada um faz uma leitura da imagem que tem haver com o que conhece. Falei que o nome da escultura era Flor do mangue, e o nome do artista que tinha feito esta escultura era Frans Krajcberg, e disse-lhes alguns dados biográficos do artista. Quando lhes disse que era uma escultura em madeira, os alunos se admiraram, acharam que parecia mais com ferro, por ser muito lisa. Expliquei que o artista esculpia e lixava a madeira até atingir o efeito que ele desejava para formar a escultura, e neste caso ele deixou bem liso, encaixado suas partes. Uma aluna perguntou como ele encaixava os pedaços, pois ao olhar a escultura se via uma coisa inteira, não se percebia emendas. Disse-lhe que não sabia exatamente como ele fazia os encaixes, mas acreditava que eram como nos móveis de madeira, se encaixava uma parte na outra e se usava alguma coisa para fixar como cola ou pregos. Passei para a próxima escultura, e pedi que eles descrevessem o que viam. Eles disseram que pareciam uns galhos de árvore, retorcidos que nas extremidades apareciam bolas pequenas, as bolas pareciam frutas, outros acharam que pareciam flores. Também perceberam que neste trabalho aparecia, por trás da escultura, uma sombra que delineava um dos lados da escultura. Uma aluna falou que parecia feito de barro.


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Disse-lhes que era feita de madeira. Perguntei que cores eles viam, disseram que era só uma, o marrom, uma aluna disse que apareciam vários tons de marrom, e as bolas nas pontas eram marrom escuro, a turma concordou com ela. Falei aos alunos que o próximo passo da leitura de imagem, segundo o Edmund Feldman, era dizer o que pensavam sobre a obra, o que ela lhes sugeria, que eles poderiam falar o que pensavam. Os alunos disseram: - Ele gosta de galhos. - Ele gosta muito das árvores.

Perguntei: - Vocês gostam do que vêem? - Eu acho bonito. - Eu também posso pegar uns galhos e fazer uma escultura.

Falei aos alunos que este artista era apaixonado pela natureza. Ao ver as queimadas, feitas para limpar terras para a criação do gado e plantações, e as derrubadas de árvores feitas pela indústria madeireira, onde florestas inteiras eram dizimadas, ficou chocado. Krajcberg passou então a usar em suas esculturas galhos, sementes, cascas, cipós, a pegar os restos das árvores que ficavam no local, que não queimavam totalmente por serem muito grandes, e as árvores deixadas para trás, perdidas, pela indústria madeireira. Os alunos queriam saber por que ele usava estes materiais. Perguntei o que eles achavam que motivava o artista a usar estes materiais, eles disseram: - Porque ele é louco professora. - É fácil, é só pegar, não paga nada.

Perguntei: - Será que é só por isso? - Eu acho que quer reciclar as árvores. - Fazer arte assim é fácil, tu pega uma árvore, pinta e tá pronta.

Disse aos alunos, que as esculturas eram compostas por mais de uma árvore, ele juntava vários pedaços de árvores e trabalhava nelas, esculpindo e depois as encaixava para formar a escultura. Fui mostrando outras imagens e fazendo a leitura delas com os alunos, durante este processo, em que conversávamos, havia bastante conversas paralelas na sala de aula. Pedi várias vezes silêncio, para que eu pudesse escutá-los e ser ouvida. Procurei circular pela sala, aproximando-me de quem estava falando,


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perguntando diretamente sua opinião sobre a obra, assim como também me aproximava dos que estavam muito quietos, para saber o que pensavam. Em outra imagem, onde apareciam vários troncos de palmeiras, pintados perguntei aos alunos o que viam. Os alunos disseram: - Um monte de lápis professora. - São vários coqueiros que ele pintou. - Parecem pincéis, com aqueles cabelos nas pontas.

Falei que eram caules de palmeiras, e que na ponta de cima estavam às raízes dessas plantas. Perguntei aos alunos quais as cores que eles viam nesta escultura, eles enumeraram as cores da escultura amarelo, laranja, vermelho, preto, e acrescentaram as outras cores que apareciam na fotografia, azul e muito verde. Disse a eles que eram apenas as cores que apareciam nas esculturas, o amarelo, o laranja, o vermelho e o preto; o azul e o verde faziam parte do cenário da fotografia. Falei a eles que o amarelo, o laranja, o vermelho e o preto estavam sempre presente nas esculturas do artista, separadas ou todas juntas. Uma aluna queria saber por quê. Perguntei o que estas cores lembravam a eles. - MacDonald‟s professora.

Após muitas risadas, até minhas. Perguntei a eles quais as cores do fogo. Eles falaram as cores e logo fizeram à conexão, que o artista usava as cores do fogo, porque as árvores vinham das queimadas. Perguntei:- Vocês achavam que as esculturas deste artista podem servir para falar das queimadas e preservação da natureza? - Sim, nos percebemos que são árvores e as cores lembram o fogo. - Acho que lembram um monte de coisa. - Ele demonstra que ama a natureza

Perguntei:- A natureza é importante? - Claro, precisamos dela para viver. - A água, as árvores, os animais, tudo é importante. - Sem água tudo pode acabar.

Perguntei:- Então a Arte pode ser usada para alertar as pessoas, informar? - Acho que as pessoas se informam na internet, no “Jornal Nacional”. - Pode sim, nos valorizamos mais a natureza quando vemos como ficam bonitas as esculturas das árvores estragadas que ele usa.


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Na sequência da apresentação, viram também o ateliê e a casa na árvore do artista, eles queriam saber como o artista tinha conseguido fazer a casa, se a árvore que sustentava a casa crescesse, a casa ficaria mais alta. Com as imagens do Krajcberg no ateliê, admiraram-se ao ver o tamanho da obras, em comparação com o artista ao lado. Eles queriam saber como o artista fazia para carregar e levantar as árvores que trabalhava. Disse-lhes que ele tinha uma equipe que lhe o ajudava, e usava também máquinas como tratores, usava cordas e escoras para conseguir erguer as árvores e trabalhar nelas. Uma aluna queria saber se ele realmente trabalhava nas esculturas ou só tinha as idéias e os outros que faziam. Expliquei que ele trabalhava nas esculturas, mas que tinha uma equipe que o ajudava. Os alunos também queriam saber se alguém comprava as esculturas dele, disse-lhes que sim, bancos, empresas e colecionadores de Arte. Foi uma aula difícil de ser dada, a todo o momento eu pedia silêncio, que baixassem o volume ou falassem um por vez. Em alguns momentos tive que levantar a voz para ser escutada. A ausência da professora titular na sala de aula, deixou os alunos com a sensação que tinham liberdade para bagunçar, mais que em outros dias. No entanto foi uma aula proveitosa, os alunos conseguiram descrever os trabalhos em suas cores e formas e atribuíram significados figurativos as formas das obras, dentro de seu universo de conhecimento, acharam que as obras pareciam: intestinos, coqueiros pincéis, lápis, seres místicos, etc. Ficaram surpresos com as possibilidades que a madeira dava ao artista, principalmente na obra Flor do Mangue, a qual eles acreditavam que seria de metal. Os alunos se interessaram bastante sobre as técnicas de trabalho do artista, queriam saber detalhes de como ele trabalhava. Eles conseguiram relacionar o trabalho de Krajcberg com preservação da natureza, mas Frans Krajcberg dividiu a turma, uns gostaram muito das esculturas dele, das formas que ele criava, do uso das cores para lembrar o fogo, relacionandoas às queimadas. Outros alunos não gostaram das esculturas, considerando um trabalho muito simples e de fácil execução, dizendo que eles poderiam fazer algo assim facilmente. Após a apresentação, pedi aos alunos que formassem pequenos grupos de 4 a 5 alunos para que pudessem combinar os materiais que trabalharíamos na


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próxima aula. Os alunos demoraram em se organizar em grupos, disse a eles que eu ia anotar os participantes de cada grupo e o que eles iriam fazer na próxima aula, e só terminaria a aula após todos tivessem combinado o que iriam fazer e trazer, isso fez com que eles se organizassem mais rápido. Falei a eles que deveriam compor um painel, usando materiais naturais como: folhas de árvore, galhos, cascas, sementes, areia, etc. Passei a ir de grupo em grupo para explicar melhor o que faríamos, perguntando o que eles queriam trabalhar, fiz sugestões de técnicas como colagem e carimbos, e que materiais precisariam para realizá-las. Logo após terminei a aula.

Obras de Frans Krajcberg:

Flor do Mangue, s.d. (Fonte: www.navevazia.com).


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Escultura com galhos e sementes, s.d. (Fonte: www.bolsadearte.com).

ImpressĂŁo em folha de papel japonĂŞs,s.d. (Fonte: www.itaucultural).


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Escultura em madeira, s.d. (Fonte: www.itaucultural)

Conjunto de esculturas com caules de palmeira e raizes, s.d. (Fonte: www.navevazia.com).


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3.3.4. Quarto Encontro Aulas 5 e 6 – Data: 29/09/2011. Tema: A natureza, como inspiração e fonte de materiais para a arte. Conteúdos: Arte contemporânea, artista Frans Krajcberg. Formas bidimensionais e tridimensionais. Desenho, pintura e colagem. Atividades: Divisão dos alunos em grupos de 4 a 5 alunos para fazerem um trabalho em grupo. Apresentação dos trabalhos, falando de suas idéias ao fazerem o trabalho. Objetivos: Despertar o sentimento de preservação da natureza, reaproveitando materiais, mesclando materiais reciclados com materiais tradicionais. Despertar e sensibilizar para os valores sociais e estéticos na Arte. Construir um trabalho com materiais alternativos (naturais) e materiais tradicionais. Desenvolver a observação, análise e a capacidade de crítica. Metodologias: Trabalho em grupo, aula prática e expositiva dialogada. Recursos/técnicas: Cola, tesoura, cordão, folha A3, galhos, folhas secas de plantas, sementes, cascas e outros materiais que os alunos achem interessante trabalhar. Avaliação: Os objetivos serão alcançados com construção do trabalho em grupo, que deverá ser criado a partir de uma idéia do grupo, que relacione o material natural com seus interesses, a participação dos componentes do grupo na execução do trabalho colocando suas idéias, observando as formas, cores e materiais, bem como a apresentação do trabalho aos colegas dos outros grupos quando falarão sobre suas idéias.


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Planejado: A aula terá início com a organização dos grupos de 4 a 5 alunos. Após os alunos se organizarem em sala de aula, em seus grupos, falarei aos alunos que neste trabalho eles deverão pensar em alguma idéia relacionada ao tema natureza e trabalhar este aspecto dentro do trabalho prático. Lembrarei que o Frans Krajcberg quando usa restos de árvores de desmatamentos e queimadas para fazer suas obras, tem uma intenção. Quando vemos o trabalho dele, gostamos ou desgostamos, relacionando a leitura do que vemos na obra com algo que se relaciona com o que o nosso universo de conhecimentos e interesses. Pedi aos alunos que, ao realizar o trabalho, eles partam de uma intenção que relacione o material natural que trouxeram com os que eles pensam sobre a natureza. Neste trabalho deverão observar em sua construção as cores usadas, o material, às formas que usarão para transmitir suas idéias sobre a natureza. Durante a aula, darei assistência aos alunos indo de grupo em grupo, verificando e ajudando quando necessário no andamento do trabalho. Após o termino irão mostrar seu trabalho aos colegas para que façamos a leitura do mesmo, em grupo.

Realizado: Assim que os alunos entraram na sala de aula, pedi que fossem se organizando nos grupos que foram formados no final da última aula. Como sempre houve demora em se organizarem, e muito barulho. Nesta aula só três meninas não trouxeram os materiais solicitados para fazer os trabalhos. Falei para eles que neste trabalho a intenção deles para o trabalho era tão importante quanto à prática. Disse-lhes que quando vemos uma obra de arte, sempre a relacionamos com o que conhecemos, a partir daí criamos uma idéia sobre a obra que nem sempre é a idéia que o artista teve ao fazê-la. Na leitura que fazemos da obra do artista, gostamos ou desgostamos de acordo com nosso universo de conhecimentos e interesses. Neste trabalho, deveriam partir de uma intencionalidade, relacionando o material natural que iriam usar com algo que fosse do interesse deles. O trabalho poderia ser sobre o que pensam sobre preservação da natureza, o que eles acham importante nesta questão, ou outro assunto que lhes interessasse. Passei a ir de grupo em grupo orientando os trabalhos, conversando


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sobre as idéias que eles tinham para fazer o trabalho. Alguns grupos demoraram em chegar num consenso, outros rapidamente se decidiram e começaram a fazer o trabalho. O grupo do Mateus, onde estavam os mais bagunceiros da turma, foi um dos primeiros a terminar. Com muitos galhos, raízes, montaram uma árvore onde as folhas eram de papéis de bala. O trabalho deles tinha a ver com o excesso de lixo no planeta, com árvores nascendo misturadas com o lixo. Achei o trabalho bem interessante, pois conseguiram relacionar os trabalhos do Vik Muniz com o lixo e o trabalho do Krajcberg com as esculturas de árvores, condensando-os, dentro da visão deles. Neste trabalho, ainda que de forma inconsciente e subjetiva, o grupo conseguiu relacionar e entender a arte como uma leitura do mundo, que nos possibilita compreender e expressar através dela nossos próprios pensamentos e sentimentos.

Trabalho dos alunos: Matheus, Guilherme, Junior, Patrick, Bruno (Fonte: RIBEIRO, 2011)

Um dos grupos fez o desenho de uma árvore estereotipada, e preencheram o desenho com pedaços de folhas de árvores. Perguntei a eles qual a intenção do trabalho? Eles disseram que era uma árvore da natureza. Falei que tudo


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bem, mas o que queriam dizer com a árvore, qual era a intenção que eles estavam colocando neste trabalho. Eles então me perguntaram, ao mesmo tempo em que afirmaram, que estava feia. Disse-lhes que não, na verdade estava um desenho estereotipado. Expliquei que desenho estereotipado era quando desenhávamos algo sem observar de verdade como eram os detalhes, usando uma imagem pronta. Voltei a perguntar qual a intenção que eles tinham para o trabalho, disseram então que não sabiam ainda. Disse-lhes que o grupo deveria pensar o que queriam com este trabalho e a partir daí pensar nas formas, cores, etc. para realizar o trabalho. Mais tarde quando fui novamente até o grupo, tinham colocado galhos colados no caule e acrescentaram uma frase ao trabalho: “A natureza não precisa ser bonita para ser bela.” Uma das meninas do grupo disse-me que a árvore tinha ficado feia, mas que eles tinham pensado em dizer com ela, que na natureza tudo era bonito, até o feio. A preocupação deles estava em uma questão de estética, que não cabia ao trabalho, que não estava feio, tão pouco bonito, era um estereótipo de uma árvore. Falei ao grupo que o trabalho não estava feio, estava como eu já tinha falado antes, preso a um estereótipo do que seria uma árvore. Um desenho padronizado, de formas padronizadas e que na verdade não existia uma árvore como aquela na natureza. Nas escolas vemos estereótipos de desenhos em todos os lugares, eles estão fortemente integrados às escolas, que com eles intencionam tornar o ambiente de ensino mais agradável, incentivar os alunos, agradar os pais. A criança desde cedo aprende que o seu desenho não é adequado, e o adéqua copiando os estereótipos que estão em seu ambiente educacional. Maria Letícia Vianna fala de como somos impregnados pelos estereótipos, tão presentes nas escolas. Sempre os mesmos, enfadonhamente repetidos, eles estão em todos os lugares, mas principalmente nas escolas. É lá onde podemos apreciar a maior quantidade deles; é onde melhor podemos acompanhar seu desenvolvimento. Os vemos nos murais, nas janelas nas portas nas paredes, nos materiais didáticos, nos trabalhos das crianças... A escola parece o habitat natural dos estereótipos, um terreno fértil onde vicejam e se reproduzem à exaustão, sob o pretexto ou a ilusão de tornar a aprendizagem mais atraente, agradável, interessante para a criança. Todos gostam e as crianças aprendem desde cedo a amar os estereótipos (VIANNA, 1994, p.5).

Achei que este grupo poderia ter trabalhado melhor o material, explorando


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possibilidades e se permitido criar. Realizar o trabalho a partir de um pensamento mais estruturado foi um desafio para eles, que se acostumaram a realizar os trabalhos práticos da disciplina de artes como tarefas, de forma automática, como quem cumpre o dever para receber uma nota. Os alunos trabalharam mais as formas no trabalho para sair do estereótipo e acrescentaram a frase: “A natureza não precisa ser bonita para ser bela.”

Trabalho dos alunos: Suelen, Vanessa, Daniel. (Fonte: RIBEIRO, 2011)

Um dos grupos fez a representação de uma pessoa, a partir das folhas de árvores e galhos em uma colagem, foi o grupo que mais demorou em decidir como compor o trabalho. Disseram que neste trabalho queriam colocar o ser humano como um ser da natureza, tiveram dificuldade em decidir como realizar o trabalho, optando por uma forma simplificada na representação de um ser humano formado por folhas e galhos. Apesar de ser um trabalho simples, foi um trabalho em que o grupo pensou muito no que queriam representar, passaram bastante tempo


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discutindo o que fazer e procurando um significado para o trabalho.

Trabalho dos alunos: Tauane, Taise, Angélica, Katery (Fonte: RIBEIRO, 2011)

Neste trabalho pedi especificamente que os alunos partissem de uma intencionalidade, relacionando o material extraído da natureza que estavam usando com algo que fosse importante para eles, que estivesse dentro do seu interesse. Queria que eles conseguissem criar relações com os materiais, representando suas idéias. No processo de trabalho que iniciei com este grupo, tenho me preocupado em que eles conheçam alguns artistas e obras de arte, deixando algumas vezes de me preocupar com o que os alunos têm a dizer em seus trabalhos. Quis nesta aula colocar em evidência que a arte pode ser um instrumento de comunicação, que a Arte pode dizer e fazer pensar questões que são importantes para o artista, possibilitando a nós, como leitores das obras, ampliarmos nossa visão para questões ainda não pensadas, repensar e conhecer outras formas de ver. O objeto de arte com construção humana e como recorte do mundo do artista, possibilita muitos modos de ver e tem a função de ampliar para outros olhares leitores possíveis visibilidades nele contidas (BUORO, 2000, p.54).


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Um dos grupos queria falar sobre a maconha. Uma das meninas falou-me que ela achava que a maconha deveria ser liberada. Perguntei onde entraria isso no trabalho. Ela disse-me que a maconha era uma planta, que era da natureza. Eu disse a ela que era também uma droga, proibida pela lei. Ela colocou que deveria ser liberada, assim como outras drogas como o cigarro e o álcool. Falei que por trás das drogas havia dependentes, traficantes e crimes. Outro componente do grupo disse-me que se cada um pudesse plantar em sua casa sua maconha não seriam necessários os traficantes. Fiquei preocupada com o que eu deveria dizer a eles, se poderiam ou não fazer um trabalho onde falassem sobre as idéias que tem sobre este assunto. Falei a eles que entendia que eles se interessavam por este assunto e queriam expressar o que pensavam, mas neste trabalho eu gostaria que eles trabalhassem uma idéia que fosse menos polêmica. Drogas legalizadas ou não eram um problema dentro da sociedade, o uso era proibido e nas escolas onde se faziam palestras sobre os problemas que elas causavam. Discutir suas idéias quanto à legalização da maconha, seria mais adequado com pessoas que tem conhecimento mais aprofundado do assunto, o que não era meu caso. Senti-me completamente despreparada para discutir com os alunos este assunto e principalmente em me posicionar com relação a este episódio. Não tenho nenhuma capacitação que me dê segurança para tratar deste assunto com os alunos. Não sei como este assunto é tratado e visto dentro da escola. Para Silvestre, é necessário capacitar os professores para lidar com a realidade das drogas nas escolas com segurança e sem preconceitos. A capacitação e o treinamento dos professores da escola permitem dar ao tema “droga” uma perspectiva mais realista e isenta de preconceitos, a fim que percebam que não existe “escola sem drogas”, trabalhem a auto-estima de seus alunos, adquiram segurança para abordar os problemas que surgem, respondam aos questionamentos dos pais e alunos e melhorem a comunicação com seus alunos (SANTOS, 2004, p.89).

Em seu trabalho, o grupo fez uma colagem com folhas e galhos, onde colaram umas folhas que lembravam as formas das folhas da cannabis e escreveram: Legalize Já! Preserve o que há! Falei a eles que o trabalho estava com uma estrutura de trabalho de ciências, ou cartaz. Que faltava mais composição na sua colagem. Era como uma redação com as palavras meio soltas. Que no trabalho deveriam se preocupar com


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as formas dentro do espaço.

Trabalho dos alunos: Jonatan, Lucas, Melissa, Aline. (Fonte: RIBEIRO, 2011).

Ao final da aula, pedi aos grupos que mostrassem aos colegas o que tinham feito, e falassem de suas idéias ao fazerem o trabalho. Em contrapartida, os outros grupos deveriam dizer o que gostaram no trabalho. Um dos grupos ainda finalizava seu trabalho quando começamos as apresentações. A princípio ninguém queria começar, mas depois a coisa fluiu. Alguns demonstraram bastante timidez em apresentar os trabalhos, outros foram mais desenvoltos. O grupo do Mateus foi o primeiro a apresentar seu trabalho. Ele falou dos materiais que tinha usado no trabalho e me perguntou o que eu via. Eu lhe disse que deveria perguntar aos colegas. Ele perguntou aos colegas: - O que vocês estão vendo? - Um monte de galhos velhos. - Parece uma árvore com plástico presas nos galhos. - Eu gostei, ficou bala.

Outros trabalhos foram sendo mostrados, os grupos falavam sobre os trabalhos, os materiais ou o que tinham pensado ao fazê-lo, e os outros grupos comentavam o que achavam, se gostavam, do que gostavam ou não, etc. O trabalho com o “legalize já”, causou um pouco de alvoroço. O grupo


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falou que em seu trabalho a intencionalidade era falar que a maconha era da natureza, e seu uso deveria ser repensado, tinha pessoas que a usavam como remédio. Na turma alguns fizeram sinal de positivo, disseram é isso ai! Lembrei de uma conversa informal com minha professora orientadora de estágio, em que se falava do filme “Natureza Selvagem”, que nem tudo que era da natureza era bom. Então falei aos alunos que a natureza assim como a vida tinha vários lados. A natureza podia produzir vida e morte, remédios e venenos. Não querendo abrir espaço para discutir a Cannabis, perguntei a eles o que pensavam da estrutura do trabalho. Eles disseram: - Eu não gostei.

Perguntei: - Do que não gostou? - Não sei... Do jeito que ficou colado, assim pelo meio. - Ficaram estranhos esses galhos dos lados.

Disse a eles que certos elementos como a cor, a forma, a linha, etc. dependendo onde se colocavam, davam a sensação de peso. Que os galhos davam essa sensação de peso nos lados deste trabalho. As outras apresentações dos grupos foram bem rápidas, estávamos em cima da hora de ir embora, e muitos alunos estavam ansiosos em ir. Achei que poderia ter explorado um pouco mais as apresentações dos trabalhos, fazendo a leitura das imagens de forma mais detalhada. No entanto, queria fazer a apresentação dos trabalhos dentro desta aula. Achei que se deixasse para a próxima aula, quebraria um pouco o envolvimento dos alunos com o trabalho. Optei então por fazer uma apresentação rápida ao final da aula. Após a última apresentação, encerrei a aula. Acho que os objetivos foram alcançados. Houve envolvimento dos alunos com o trabalho, eles trabalharam suas criações pensando os materiais que iriam usar e tentando relacionar a algo que estivesse dentro de seus interesses. Ao falar de suas criações, falaram dos materiais e colocaram suas idéias trabalhadas na criação. Quanto à plasticidade dos trabalhos, alguns alunos têm certa dificuldade em sair dos estereótipos, ficando presos a formas que carecem de expressão. Alguns trabalhos apresentaram características de “cartaz de aula de ciências”, sem ser este objetivo no trabalho. Eles apresentaram dificuldade em trabalhar o espaço


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que tinham para criar na folha A3, tendo um dos grupos optado por trabalhar com uma criação tridimensional, figurativa. Demonstraram resistência a trabalhar formas mais abstratas, tentando criar ou ler nas imagens formas figurativas. Segundo Gooding (2002), a arte abstrata nega muitas daquelas possibilidades de interpretação oferecidas por imagens figurativas; ela exige em vez disso um esforço da imaginação, uma resposta criativa. Talvez a falta de interação com a arte, o pouco contato que tem com a arte abstrata os tenha, também, levado a não gostar das obras do Krajcberg apresentadas na última aula, quando constatei que parte da turma não gostou do trabalho deste artista.


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3.3.5. Quinto Encontro

Aulas 09 e 10 - Data: 06/10/2011 Tema: Ampliando nossas fronteiras do fazer e entender a Arte. Conteúdos: Arte contemporânea, Eugenio Dittborn. Desenho, pintura, colagem, monotipia. Atividades: Aula expositiva dialogada sobre Eugenio Dittborn e seu trabalho. Apresentação do projeto a ser realizado com outras escolas e a Bienal do Mercosul 2011. Trabalho de criação individual de técnicas mistas com monotipia, misturando materiais alternativos com tradicionais. Objetivos: Conhecer o trabalho do artista contemporâneo Eugenio Dittborn. Despertar e sensibilizar para os valores sociais e estéticos na Arte. Construir um trabalho com materiais alternativos e materiais tradicionais, já utilizados em outras aulas para fazer um trabalho individual. Socializar através da troca de trabalhos de Arte com outras escolas, ampliando as fronteiras do fazer e entender a Arte. Metodologias: Aula prática de criação individual, e aula expositiva dialogada. Recursos/técnicas: Folhas secas de árvores, sementes, cascas de árvores, galhos, sucata e outros materiais que os alunos achem interessante trabalhar, folhas de papel reciclado A5, tinta, pincel, pano, pote para água, jornais para forrar as classes, lápis de cor, grafite, lápis de cera, pastel seco. Avaliação: Os objetivos serão alcançados com a participação dos alunos ao trazer materiais para utilizar no seu trabalho, compondo e elaborando um trabalho e utilizando para isso materiais alternativos e materiais tradicionais, observando as


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formas, cores e texturas do trabalho.

Planejado: Após os alunos se organizarem em sala de aula, falarei sobre o artista contemporâneo Eugenio Dittborn, e de seu trabalho de forma breve. Explicarei o projeto a ser realizado em conjunto com outras escolas, para homenagear este artista junto com a Bienal. Pedirei aos alunos que através de técnicas mistas, monotipia, pintura, desenho, etc. com os materiais que optarem em trazer, utilizando para a composição do trabalho elementos da natureza, material de sucata e materiais tradicionais. Os alunos irão elaborar uma imagem para representar o que pensam sobre a questão dos materiais alternativos que usamos nos trabalhos, e de como pensam o futuro, o seu futuro, o futuro da natureza, o futuro do mundo, etc. Após distribuir as folhas A5, explicarei que a folha deve ser usada no sentido paisagem, na execução dos trabalhos. Circularei pela sala, dando apoio as necessidades dos alunos durante o processo de trabalho, explicando como realizar cada técnica, e a utilização dos materiais.

Eugenio Dittborn – Arte Postal:

Papel Kraft, desenho, costura e impressão, envelope. (Fonte: www.iniva.org).


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Tecido, colagem, desenho, impressĂŁo. (Fonte: www.tate.org.uk)

Papel Kraft, impressĂŁo, colagem, desenho e textos. (Fonte: www.ugallery.com).

Realizado: Nesta aula compareceram apenas 13 alunos, 12 meninas e 1 menino de um total de 29 alunos. Eles tiveram os perĂ­odos anteriores vagos e a maioria foi


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embora. Eu esperava que alguns alunos tivessem ido embora, mas não pensei que seriam tantos. Os alunos mesmo me disseram que eu deveria dispensá-los, pois a maioria já tinha ido embora. Isso me desanimou, mas pensei imediatamente que deveria animar os alunos e a mim, afinal a aula não poderia ser adiada. Falei a eles que esta aula seria especial, pois faríamos um trabalho que mandaríamos para outra escola. Não poderíamos fazê-lo outro dia, pois havia um prazo para realizá-lo e mandá-lo para a outra escola. Expliquei para eles o projeto do qual participaríamos. Nesta aula iríamos fazer um trabalho individual utilizando os materiais que tinham trazido, mais os materiais que eu tinha levado para compor imagens que tinham a ver com o que eles pensavam sobre as questões de reciclagem de materiais, preservação da natureza, e o futuro deles e do planeta. Comecei conversando com eles se eles gostavam de usar materiais alternativos para compor os trabalhos que fazíamos na sala de aula e se achavam que era importante reciclagem, preservação da natureza. Fiz uma breve retrospectiva do que tínhamos trabalhado. Eles disseram: -Temos que reciclar até a natureza. - É que o mundo vai acabar, de tanto lixo jogado. - As pessoas nem se importam, jogam o lixo em qualquer lugar. - Podemos fazer arte com coisas que estão no lixo. - Fazendo nossos trabalhos com estes materiais, estamos ajudando, usando coisas que seriam lixo.

Falei a eles que quando usamos materiais alternativos em nossos trabalhos, além de estarmos contribuindo para a preservação da natureza, podemos chamar a atenção das pessoas para as formas alternativas de ver as coisas ao nosso redor. Uma aluna disse: - Eu nunca tinha pensado que o lixo poderia ser usado para fazer arte.

Nas Bienais, os artistas contemporâneos usam muitos materiais diferentes para discutir suas questões de interesse. Brinquedos, areia, vídeos, lixo, água, palha, objetos, etc. Nesta Bienal de 2011, Eugenio Dittborn seria um dos artistas que iria expor seus trabalhos e seria homenageado pela Bienal. Falei sobre a biografia dele de forma breve e mostrei a reprodução de algumas obras aos alunos. Falei que os trabalhos eram grandes painéis em papel, tecido ou lona, que eram dobrados e enviados pelo correio em envelopes para os locais de exposição.


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Eles chegaram assim para serem expostos na Bienal. Na exposição era colocado o painel e ao lado os envelopes com os endereços dos locais por onde o trabalho tinha passado. Mostrei para eles algumas reproduções dos trabalhos do Dittborn e pedi que dissessem o que estavam vendo nos trabalhos. Eles perceberam um Homem enforcado e perguntaram se era mesmo. Disse-lhes que sim. Nas obras deste artista, apareciam muitas imagens que faziam referências à morte. Eles falaram dos rostos, que apareciam bastante nos trabalhos e pareciam rostos de índios. Em outros trabalhos, apareciam rostos desenhados que pareciam desenhos de crianças. Falei aos alunos que este artista se apropriava de imagens. Alguns desenhos eram de crianças mesmo, ele ia juntando imagens que conseguia de diversas formas, como através da internet e essas imagens formavam o painel, o artista trabalhava estas imagens colando, costurando, desenhando, etc. Seu trabalho transitava entre fronteiras, sendo levado pelos correios de cada país por onde passava, levando sua arte a diferentes lugares. Nosso trabalho iria também transitar, ultrapassar as fronteiras da escola, iria para outra escola e para a Bienal levando em suas imagens o que vocês pensam sobre as questões que envolvem a utilização de materiais alternativos, as alternativas que temos de ver as coisas, o mundo e o futuro de outras formas. Disse-lhes que deveriam pensar quais questões eram importantes para eles, dentro desta temática que trabalhávamos de usar materiais alternativos, reciclagem, preservação, o futuro, como eles se viam e pensavam seu futuro. Conversando com eles sobre o trabalho que iríamos fazer, sobre o projeto e a Bienal, pensei em fazer uma mesa grande, onde todos trabalhassem juntos, para que se criasse um ambiente mais interessante para a realização do trabalho. Achei que precisava proporcionar algo que fosse interessante, diferente para envolver e atrair os alunos para realizarem seus trabalhos. Falei a eles que iríamos fazer uma grande mesa no centro da sala, onde todos trabalhariam. Pedi que me ajudassem a arrumar as classes. Distribuímos folhas de jornal sobre as classes e os materiais. Juntos na mesa, os alunos se descontraíram e passaram a trabalhar se divertindo, conversando. Uma aluna disse-me que nunca tinha trabalhado assim em uma mesa tão grande na sala de aula, que estava gostando muito. Aos poucos eles foram se descontraindo, seus primeiros trabalhos foram mais formais e contidos, nas formas e cores que colocavam nos trabalhos, se


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permitindo experimentar e fazer algo bem “louco”, segundo eles mesmos, à medida que faziam outros trabalhos. Alguns alunos falavam de suas idéias e perguntavam o que eu achava. Uma aluna perguntou-me: - Posso fazer um deserto? Acho que com tantas queimadas, terremotos e temporais o mundo no futuro será um deserto.

Respondi que sim, contanto que não me entregasse à folha em branco, sem fazer nada com ela. Outros alunos queriam fazer um planeta todo poluído, o fim do mundo, etc. Nos primeiros trabalhos que fizeram, percebi uma certa rigidez, com aquele medo de errar. Pedi que fizessem um segundo trabalho que se soltassem mais e não se preocupassem em errar. As idéias foram muitas, e eles trabalharam conversando entre si e comigo, assuntos sobre a Bienal, sobre reciclagem, sobre arte, sobre amor, sobre a novela com informalidade enquanto faziam seus trabalhos. Todos os alunos trabalhando juntos, se vendo, e vendo o que faziam em seus trabalhos proporcionou um momento muito bom de integração da turma, de compartilhamento de materiais e idéias, com os alunos conversando sobre o que estavam fazendo e sobre os resultados que obtinham. Alguns alunos se empolgaram e partiram para outros trabalhos. Percebi que a cada trabalho eles iam ficando mais soltos e à vontade para experimentar mais os materiais. Uma das alunas disse-me: - Vou fazer um trabalho bem louco, bem de artista, sora [sic].

A Jully, em seu primeiro trabalho, que rasgou e botou fora, começou fazendo nuvens azuis e grama verde. Pedi que ela colocasse também em seu trabalho os materiais naturais e as texturas de sucata, que com esses materiais ela poderia criar formas diferentes para fazer nuvens. Disse-lhe que não se preocupasse em fazer formas certinhas, ela poderia usar formas e cores que levassem à idéia do que ela queria sem que ficasse óbvio. Para Gooding, as imagens abstratas exigem um esforço intelectual maior em sua execução e em sua interpretação, levando o criador e o público a uma interpretação mais criativa. [...] a arte abstrata nega muito daquelas possibilidades de interpretação oferecidas pelas imagens figurativas; elas exigem em vês disso um esforço da imaginação, uma resposta criativa (GOODING, 2002, p.12).


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A Jully elaborou uma lista azul como representativa do céu, e foi abstraindo as formas, chegando a uma solução bastante interessante de abstração para representar suas questões de futuro.

Trabalho 1 da aluna Jully (Fonte: RIBEIRO, 2011)

Trabalho 2 da aluna Jully (Fonte: RIBEIRO, 2011)


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A Julliana começou com um trabalho simples de impressão de folhas de plantas sobre o papel e, escutando o que eu falava com a Jully, partiu também para uma percepção diferente para o seu trabalho. Ela fez um trabalho que me surpreendeu, pois passou a bater em seu trabalho tinta preta com as folhas. O gesto foi muito expressivo, energético, de alguém totalmente tomado pela ação do fazer.

Trabalho 1 da aluna Julliana. (Fonte: RIBEIRO, 2011).

Trabalho 2 da aluna Julliana. (Fonte: RIBEIRO, 2011).


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Naquele momento havia uma comunicação entre a Juliana e seu trabalho que fugia ao apenas racional, era um momento de pura criação. A Arte nos fala por muitos caminhos, segundo Coli, ela enfeixa elementos que escapam do domínio racional, se comunicando através da emoção, do espanto, da intuição, etc. A razão está assim intrinsecamente presente no objeto artístico, mas a obra enfeixa elementos que escapam ao domínio do racional e sua comunicação conosco se faz por outros canais: da emoção, do espanto, da intuição, das associações, das evocações, das seduções (COLI, 2004, p.105).

O Primeiro trabalho da aluna Taise ela rasgou e botou fora, não tinha gostado do resultado. No segundo trabalho, ela misturou a impressão de um retalho de tecido rendado com a colagem do mesmo, junto a impressão de folhas de plantas. No seu último trabalho, partiu para a abstração. Colocou tinta sobre o papel, soprando para espalhar-la e comprimindo tecido sobre as tintas ainda molhadas, resultando um trabalho de cores misturadas em harmonias e contrastes, capturando algumas texturas dos tecidos que foram impressos sobre a tinta.

Trabalho 1 da aluna Taise (Fonte: RIBEIRO, 2011)

A Taíse procurou usar técnicas variadas dentro dos materiais que tinha a disposição de forma muito criativa. Ela foi pegando os materiais e brincando com eles, os descobrindo nas suas experimentações.


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Trabalho 2 da aluna Taíse (Fonte: RIBEIRO, 2011)

Os alunos passaram a procurar formas diferentes para colocar suas questões no trabalho, fugindo de formas mais fáceis e criando a partir dos materiais disponíveis. Ao terem oportunidade de fazerem mais de um trabalho, passaram a se sentir mais a vontade com os materiais e suas experimentações. Foi uma aula ótima, o número reduzido de alunos permitiu que eu pudesse acompanhar melhor os trabalhos. Os alunos usaram os materiais alternativos em seus trabalhos, que apareceram de forma subjetiva em algumas criações. Eles trabalharam as texturas e formas em seus trabalhos, e alguns alunos trabalharam as cores atribuindo significações a elas e ao que queriam representar. Alguns alunos também conseguiram abstrair as formassem seus trabalhos de forma muito natural. Em minha avaliação esta aula teve um resultado maravilhoso, não só pelas conquistas de meus alunos em conseguirem criar e desenvolver seus trabalhos de forma brilhante. Foi uma aula cheia de inesperados, a pouca quantidade de alunos, os alunos querendo ir embora, as decisões que tomei para mudar este sentimento desanimo dos alunos e meu. Mas o mais inesperado foi a vontade de criar dos alunos, que passaram a explorar não só os materiais mas também suas idéias e sentimentos dentro do trabalho. No aconchego da grande mesa, todos foram se sentido livres para fazer a arte acontecer. Essa entrega dos


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alunos ao trabalho, buscando novas formas para sua expressão foi inesperado e mágico. Não sei se a aula teria funcionado tão bem com a turma completa. Dar atenção a todos, ao mesmo tempo, não permite um olhar mais demorado sobre o que estão fazendo e muito se perde. São questões importantes do aluno que se perdem na pressa de dar atenção a todos. São perguntas, idéias, ações que não são ouvidas, vistas e entendidas. Na política pública de se colocar cada vez mais alunos dentro de uma sala de aula, o professor acaba ensinando em uma linha de produção. Em meio a numerosos alunos, muitas questões que seriam importantes para se desvelar os conhecimentos ficam perdidas. No final da aula pedi ajuda para organizar a sala, e dispensei meus 13 alunos.


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3.3.6. Sexto Encontro

Aulas 11 e 12 - Data: 20/10/2011. Tema: Ampliando nossas fronteiras do fazer e entender a Arte. Conteúdos: Arte contemporânea. Atividades: Diálogo sobre curadoria. Montagem em grupo de um grande painel, usando os trabalhos individuais (realizados na última aula), e os critérios dos alunos nesta montagem. Redação de um texto sobre os critérios adotados na organização do trabalho. Fotografar e endereçar o envelope para a outra escola participante do projeto. Objetivos: Despertar e sensibilizar para os valores sociais e estéticos na Arte. Desenvolver a observação, análise e a capacidade de crítica, organizando com os critérios do grupo um grande painel. Socializar através da troca de trabalhos de Arte com outras escolas, ampliando as fronteiras do fazer e entender a Arte. Promover a utilização de um vocabulário de Arte na formulação de um texto. Metodologias: Aula expositiva dialogada, trabalho em grupo de organização de um grande painel e redação feita em grupo de um pequeno texto sobre os critérios de montagem do painel.. Recursos/técnicas: Trabalhos individuais realizados na última aula, fita adesiva, envelope dos correios, máquina fotográfica, caneta e folha de caderno.


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Avaliação: Os objetivos serão alcançados com a participação dos alunos na organização em grupo de um grande painel, dando suas opiniões para a organização dos trabalhos feitos individualmente, e a participação na redação de um texto com suas opiniões, seus critérios e suas críticas para a organização dos trabalhos no grande painel.

Planejado: Após os alunos se organizarem em sala de aula, falarei sobre curadoria e as funções de um curador, os critérios que podemos utilizar para organizar nosso trabalho coletivo. Explicarei novamente o projeto a ser realizado em conjunto com outras escolas para homenagear Eugenio Dittborn na 8ª Bienal do Mercosul. Os alunos receberão seus trabalhos e poderão escolher qual dos trabalhos que eles fizeram fará parte do painel. Colocarei todos os trabalhos expostos em uma fileira horizontal na parte de baixo do quadro para que os alunos possam olhá-los. Escolheremos o primeiro trabalho que será fixado com fita crepe, e a partir deste, pedirei aos alunos que digam quem tem um trabalho que poderá ficar ao lado deste, se a turma concorda e qual o critério para ele ocupar aquela posição. Durante a montagem, poderemos mudar posições de acordo com os critérios da turma. A seguir, pedirei a um dos alunos que escreva o texto que a turma em conjunto irá compor, falando dos critérios decididos pela turma para a montagem do painel. Terminado o texto, fotografarei o painel que será desmontado, colocado no envelope do correio junto com o texto. Pedirei a um dos alunos que escreva o endereço da escola que receberá o texto no envelope.

Realizado: Após os alunos se acomodarem, comecei a falar para eles sobre o trabalho individual que tínhamos feito na aula anterior. Como muitos deles tinham faltado a essa aula, quando compareceram apenas 11 alunos, falei a eles sobre o projeto que estávamos desenvolvendo com outras escolas. Iríamos montar um painel com os trabalhos individuais que havíamos feito, e fazer um texto sobre os critérios para a montagem do painel. Estes trabalhos seriam remontados em outra escola e apreciados, sendo posteriormente enviados à 8ª Bienal do Mercosul.


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Alguns alunos que queriam participar do projeto e não vieram na última aula queriam saber se poderiam fazer o trabalho e trazer no dia seguinte para serem incluídos. Expliquei a eles que este trabalho seria enviado pelo correio no dia seguinte e nós precisávamos montar o painel e fazer o texto nesta aula para enviar, pois tínhamos um prazo para entregar para a outra escola participante do projeto. Logo, não haveria tempo para incluir o trabalho deles, mas eles poderiam participar ajudando a montar o painel e a escrever o texto. Perguntei a eles se sabiam o que era um curador, e o que ele fazia. Eles acharam o nome muito estranho, e arriscaram dizer que era algo relacionado à saúde, à cura. Expliquei a eles que curador era a pessoa responsável por organizar exposições de Arte em museus, galerias, etc. Para fazer a organização dos artistas e obras a serem expostas, seguiam alguns critérios determinados. Os critérios poderiam ser por materiais utilizados, pela temática das obras, pela forma, pelas cores, etc. Nesta aula faríamos um trabalho de curadoria com os trabalhos individuais que a turma tinha feito na última aula. Iríamos organizá-los da maneira que eles achavam que melhor ficariam expostos. Pedi a ajuda de alguns alunos e colamos os trabalhos em uma longa linha horizontal, com todos os trabalhos na parte de baixo do quadro. Disse a eles para escolherem um dos trabalhos expostos para ser o primeiro a ser colocado no painel. Após muito tumulto, com cada um escolhendo o que mais gostava, decidimos escolher por votação e iniciamos o painel. A escolha do trabalho a ser colocado no painel partia dos alunos, que apontavam os trabalhos e discutiam suas escolhas entre si. O principal argumento dos alunos era de que aquele trabalho era mais bonito. Disse a eles que este argumento eu não aceitaria, pois todos eram bonitos, cada um a seu modo e estilo. Pedi a eles que pensassem o que no trabalho fazia com que eles gostassem dele. Porque aquele trabalho era bonito aos olhos deles, e porque deveria ser colocado ao lado do outro trabalho. Deveriam associá-lo a partir de algum critério. Foram muito interessantes as colocações deles, referindo-se aos motivos para colocar determinado trabalho ao lado do outro. Geralmente eles justificavam a organização dos trabalhos. Geralmente eles justificavam a organização dos trabalhos dizendo que combinavam por terem colagem de folhas, pelas cores ou por terem características que eles viam como associativas.


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- A bagunça nos dois é igual. - Eles [os trabalhos] têm folhas grudadas neles, podem ficar juntos por isso. - Os com folhas podem ficar um do lado do outro. Em baixo colocamos os outros. - A gente pode colocar os que tem folhas só com tinta de baixo, combina. - Bem em baixo a gente coloca os mais feios sora [sic].

Painel organizado com os trabalhos individuais da turma 104. (Fonte: RIBEIRO, 2011)

Falei aos alunos que se não tinham feito o trabalho individual para o painel, pelo menos as idéias deles poderiam ser colocadas na organização do trabalho, como curadores das obras da turma deles. Eu queria saber a opinião de cada um para assim formar um painel que fosse de todos. Enquanto discutiam como deveriam ficar os trabalhos, os alunos iam até onde os trabalhos estavam para colocá-los onde achavam que deveriam ficar no painel. Ocorreram impasses quando não se chegava a uma decisão educada das partes que se insultavam dizendo “ô imbecil”, “seu idiota”, etc. Eu pedia silêncio de forma incisiva, e pedia uma votação. Quem concordava que aquele trabalho deveria ser colocado ali levantava a mão, depois os que não concordavam. No final sobrou um trabalho que a turma decidiu colocar em baixo, bem no meio. Decidir como organizar os trabalhos foi uma guerra, com cada um querendo fazer prevalecer sua opinião, enquanto outros ficavam quietinhos sem


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quase opinar. Passei a perguntar diretamente para os que estavam quietinhos que trabalho colocar no painel, na tentativa que eles participassem colocando o que pensavam. Diante da exuberância de alguns alunos que são mais comunicativos e tomam à liderança, alguns alunos preferem ficar mais de canto, sem opinar muito. Como muitos ali presentes tinham faltado na última aula, fiz questão que cada um desse sua opinião e assim participasse do projeto de alguma maneira. Após organizar o painel, falei a eles que precisávamos criar um texto com os critérios que tínhamos usado para montar o painel. Pedi que um dos alunos escrevesse em uma folha de caderno o texto que iríamos compor. Fui indo pela sala e perguntando aos alunos o que queriam falar sobre os critérios que eles usaram para montar o painel, suas formas, suas cores, suas texturas, etc. No início, foi muito difícil eles começarem a dizer alguma coisa. Sugeri que observassem o painel e pensassem sobre a questão. Fui dando espaço e tempo para que formulassem seus pensamentos. Procurei valorizar o que diziam escutando e processando suas idéias. Conforme Cabaj e Nicolic, para ser um bom professor que se comunica com seus alunos com eficiência, é necessário que este de tempo ao aluno para que ele processe as perguntas e escutá-los com paciência e atenção, dando assim espaço para que o aluno possa se expressar. Para sermos comunicadores eficazes, precisamos ter boas habilidades auditivas. Ser um professor que ouve bem na sala de aula implica duas coisas: propiciar ao aluno tempo de espera suficiente para processar as perguntas e demonstrar boa vontade em escutar o que eles tem a dizer. Os alunos não podem se exprimir se nós mesmos não somos pacientes e atenciosos (CABAJ, NICOLIC, 2001, p.221).

Juntando o que um falava com o que o outro pensava, aos poucos o texto foi ganhando forma, fui juntando as idéias, perguntando como colocar e ajudando a formar as frases. Deixar minha ansiedade em realizar o trabalho de lado, e esperar pacientemente que os alunos se manifestassem, foi compensador. Muitas vezes minha vontade de realizar esbarra no tempo que os alunos precisam para pensarem e exteriorizarem o pensamento. Ter consciência de que minha vontade de acertar pode levar-me ao erro de julgamento em minhas ações, é um caminho novo que trilho na tentativa de ser uma educadora mais consciente e perceptiva. Refletir sobre erros e acertos faz com que eu tenha mais segurança, e consiga ver outras possibilidades para o desenvolvimento das aulas. Achei as colocações que os alunos fizeram na leitura de seu painel eram


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pertinentes, adequadas e sensíveis. Eles puderam colocar com suas palavras como entendiam o painel que organizaram. Podemos dividir nosso painel em três partes: Na linha de cima ficam os trabalhos com colagem de folhas e tinta. Na linha do meio tem as impressões de folhas no papel. Na última linha é tudo que a gente viu misturado com a nossa imaginação. Os trabalhos chamam atenção pelas cores vivas e todos os trabalhos se relacionam com a natureza. Os trabalhos foram feitos com sentimento (TURMA104, 2011).

Em minha avaliação, a participação dos alunos na montagem do painel com os trabalhos individuais foi ótima, todos participaram opinando, votando ou mexendo na organização dos trabalhos. Na criação do texto com os critérios de montagem, a participação também foi muito boa, a maioria opinou sobre como colocar as frases que iam surgindo, com boas idéias ou piadas. O texto ficou a cara da turma e ultrapassou minhas expectativas que eram um pouco tímidas e temerosas, de uma participação pouco expressiva dos alunos. Fiquei satisfeita com o resultado e sensibilizada principalmente pela última frase do texto dita pela aluna Juliana: “Os trabalhos foram feitos com sentimento.” No final da aula os alunos fizeram perguntas sobre os trabalhos que iríamos receber para o trabalho da próxima aula. Eles ficaram muito curiosos com relação aos trabalhos da outra escola. Queriam saber se eu conhecia estes alunos, o nome da escola, se eles também trabalhavam estes materiais que nós trabalhávamos. Disse a eles que na próxima aula estas perguntas seriam respondidas. O sinal tocou e eu dispensei os alunos.


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3.3.7. Sétimo Encontro

Aulas 13 e 14 - Data: 27/10/2011 Tema: Ampliando nossas fronteiras do fazer e entender a Arte. Conteúdos: Arte contemporânea. Atividades: Apreciação dos trabalhos recebidos da escola participante do projeto de Arte Postal, percebendo as formas, as cores, as texturas, os materiais, etc. Montagem em grupo de um grande painel, usando os trabalhos individuais (recebidos de outra escola), e os critérios dos alunos nesta montagem. Fotografar e endereçar o envelope para a escola participante do projeto. Redação de um texto sobre os critérios adotados na organização do trabalho. Leitura do texto com os critérios para a montagem do painel segundo a turma que enviou o trabalho. Objetivos: Despertar e sensibilizar para os valores sociais e estéticos na Arte. Desenvolver a observação, análise e a capacidade de crítica, organizando com os critérios do grupo um grande painel. Socializar através da troca de trabalhos de Arte com outras escolas, ampliando as fronteiras do fazer e entender a Arte. Ver a Arte como veículo de comunicação, e propagação de idéias. Metodologias: Aula expositiva dialogada, trabalho em grupo de organização de um grande painel e redação feita em grupo de um pequeno texto. Recursos/técnicas: Trabalhos individuais recebidos da escola dentro do projeto Arte Postal, fita adesiva, envelope dos correios, máquina fotográfica, caneta e folha de caderno.


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Avaliação: Os objetivos serão alcançados com a participação dos alunos na organização em grupo de um grande painel com os trabalhos recebidos da escola participante do projeto de Arte Postal. A participação na redação de um texto com suas opiniões, seus critérios e suas críticas para a organização dos trabalhos no grande painel, a participação na remontagem do painel segundo a turma que enviou seus trabalhos e a leitura do texto recebido e suas colocações referentes ao trabalho que recebemos. Planejado: Após os alunos se organizarem em sala de aula, explicarei novamente o projeto a ser realizado em conjunto com outras escolas, para homenagear Eugenio Dittborn na 8ª Bienal do Mercosul. Mostrarei o envelope que recebemos da escola dentro do projeto de Arte Postal. Veremos os dados da escola como endereço, série e turma que está nos enviando seus trabalhos. Com a ajuda de alguns alunos, colarei os trabalhos em duas linhas horizontais para que façam a apreciação dos trabalhos. Pedirei que se aproximem dos trabalhos e observem os detalhes presentes no trabalho como linhas, formas, cores, tema, etc. Incentivarei que façam comentários sobre o que lhes chama a atenção e percebem nos trabalhos. Pedirei aos alunos que pensem, ao organizar o painel, no que os motiva a colocar os trabalhos juntos. Eles podem usar os critérios de cor, linhas, formas, texturas, temáticas para decidir a posições que cada trabalho ocupará. O primeiro trabalho a compor o painel partirá de um consenso da turma que terá liberdade de escolher e mudar o que for necessário durante a montagem do painel, sempre respeitando a decisão da maioria da turma. Deixarei que os alunos dirijam a organização do painel, fazendo interferências quando se fizer necessário. Pedirei aos alunos que escrevam em conjunto o texto sobre os critérios da montagem do painel, que será uma criação deles, sobre o que querem dizer sobre a forma como organizaram o painel. Terminado o texto, fotografarei o painel que será remontado conforme a turma que enviou organizou e faremos a leitura do texto que enviaram. Os alunos poderão comentar a organização feita pela outra turma e as muitas visões e interpretações que podemos ter de um mesmo trabalho. Logo após guardaremos o trabalho no envelope, junto com as duas


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cartas, a fotografia e com o envelope recebido e endereçaremos nosso envelope para a 8ª Bienal do Mercosul.

Realizado: Os alunos chegaram e aos poucos foram se acomodando. Alguns alunos queriam saber se eu havia trazido os trabalhos da outra escola do projeto Arte Postal. Disse que sim e mostrei a eles o envelope. Iniciei a aula lendo o nome e o endereço da escola que estava nos mandando seus trabalhos. Era a Escola Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva – Porto Alegre/RS de Porto Alegre, turma 102, 1º ano do Ensino Médio. Os alunos queriam ver a fotografia do painel. Disse a eles que nós primeiro iríamos ver os trabalhos, organizá-los com os nossos critérios e só depois iríamos ler o texto com os critérios da outra turma e ver a fotografia com a montagem do painel. Ver antes de fazer o nosso painel poderia nos influenciar a fazê-lo semelhante. Peguei os trabalhos enviados e os mostrei para eles. Eles se surpreenderam em ver os desenhos, esperavam que fosse um trabalho semelhante ao que desenvolvemos em sala de aula. Expliquei a eles que as escolas que participavam da Arte Postal trabalhavam temas e materiais variados. Os alunos da turma 102 que nos mandaram seus desenhos trabalhavam com desenho e haviam nos mandado seus autorretratos. Os alunos passaram a criticar de forma depreciativa os desenhos, achando que estavam mal feitos, dizendo que os fariam muito melhor. Disse a eles que o importante para quem se desenhava era capturar características próprias para se representar. Que desenhar-se não era fácil e deveriam olhar os desenhos como quem procura entender quem era aquela pessoa do desenho através das linhas do desenho. Deveriam observar nesses desenhos se havia cor ou não, se as linhas eram longas ou curtas, se os traços eram fortes ou fracos, qual parte do desenho tinha sido mais trabalhada, ou menos trabalhada, etc. Deveriam ver os elementos que formavam o desenho sem se preocupar em classificar se era um desenho bonito ou não segundo o gosto deles. Com a ajuda de alguns alunos colamos os desenhos no quadro em duas linhas horizontais na parte de baixo do quadro, para que todos pudessem observálos. Alguns alunos já estavam na frente do quadro vendo os trabalhos, solicitei que o


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restante da turma que permaneciam em seus lugares viesse até a frente para poderem ver os desenhos. Alguns alunos não queriam ir até a frente para ver os desenhos, disse a eles que como eram desenhos, deveriam ver de mais perto para perceber os detalhes. Eles responderam que estavam vendo os detalhes dali. Pedi então que falassem que detalhes viam com os colegas na frente deles. Muito relutantes se dirigiram até a frente para olhar os desenhos. Apesar de eu ter insistido com os alunos, para observarem os detalhes técnicos, a maioria dos alunos observava primeiro a beleza do desenho e de seu autor, fazendo observações como: - Este cara deve ser muito feio! - Este aqui só tem um lado da cara (referindo-se a um desenho de perfil). - Esta aqui parece comigo (referindo-se ao desenho de uma menina que a turma decidiu ser o mais bonito). - Este aqui é o “Tio da Família Adams” (referindo-se ao desenho que apresentava uma cabeça redonda sem cabelos).

Falei aos alunos que eles deveriam se ater aos detalhes de como o desenho tinha sido feito. Passei a apontar os desenhos e perguntar o que no desenho era mais marcante. Pedi que falassem o que lhes chamava atenção quando olhavam o desenho, o que se destacava. Aos poucos eles foram observando os desenhos e vendo nos traços outras coisas além do aspecto beleza. Os alunos perceberam que quase todos os autorretratos tinham olhos arregalados, a maioria dos desenhos apresentava apenas a cabeça, os desenhos que tinham pescoço e parte dos braços ficavam melhores, uns sorriam, outros não, só dois tinham outras cores, os outros usaram apenas a cor do grafite. Uns desenhos tinham linhas suaves, outros desenhos apresentavam linhas mais marcadas e os contornos eram bem definidos. Disse-lhes que eles deveriam montar o painel pensando em tudo que tinham observado, a partir de algum critério que a turma decidisse. Os alunos chegaram ao consenso de que, por se tratar de autorretratos de alunos de uma turma, eles os separariam por afinidades. Colocando em cada linha do painel os que eles acharam que tinham mais a ver uns com os outros. A montagem partiu dos alunos que discutiram e brigaram muito durante a montagem do painel. Falei a eles que poderiam montar o painel como desejassem, contanto que a decisão atendesse à maioria da turma que decidiria através de votação. Durante o trabalho, fiz intervenções a fim de colocar o trabalho novamente


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em foco, quando partiam para ofensas pessoais através brincadeiras e de comparações com os desenhos.

Painel organizado pela turma 104 com trabalhos individuais recebidos. Fonte (RIBEIRO, 2011)

Foi um momento muito divertido da aula. Alguns alunos escolhiam dois ou três desenhos e eu propunha votação à turma defendendo sua escolha com argumentos muito válidos como linhas traçadas fortemente ou linhas muito fracas e finas, formas usadas no rosto que se pareciam e argumentos engraçados que criavam estórias sobre o desenho, numa brincadeira lúdica. Eles diziam: - Nesta linha do painel vamos colocar só os alunos que matam aula. - Estes aqui são os preferidos da professora. - Este aqui tem que ficar com a turma dos CDF. Este é um crânio [referindose à cabeça grande apresentada pelo desenho].

Assim que terminamos o painel, pedi a um voluntário para escrever o texto que a turma iria compor. Um dos alunos bagunceiros se ofereceu brincando. Disse que poderia ser ele. Ele tentou desistir, dizendo que era brincadeira. Eu insisti que ele escrevesse e ele aceitou escrever o texto. Deixei a turma à vontade para compor o texto que foi sendo montado aos poucos com as idéias que os alunos davam. Perguntava a eles como deveria ser colocada a idéia dada e eles formavam as frases.


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Decidimos colocar os desenhos como se fosse uma turma na sala de aula, todos misturados, mas agrupados segundo afinidades. Afinidades de traços, formas no desenho do rosto, formas do desenho do cabelo, linhas mais fortes e linhas mais fracas. Achamos que ficou legal, no painel agrupamos as diferenças e semelhanças dos desenhos (TURMA 104, 2011).

Dar tempo para o aluno pensar e colocar suas idéias é uma tática que funciona. Eles levam um tempo para colocar em palavras suas idéias para o grupo, que por vezes é muito crítico. O tempo então, também é necessário para que tomem coragem de se expor ao colocar em seus pensamentos com relação a críticas do grupo. Dentro da crítica do adolescente, está a procura pela auto-afirmação e o reconhecimento pelos grupos de referência. Essa busca, segundo Krajner, leva o adolescente a atitudes combativas que fazem parte do seu desenvolvimento natural. São atitudes combativas com o objetivo de serem reconhecidos pelos grupos de referência: família, escola, amigos, sociedade, e sustentadas pela necessidade de auto-afirmação, tendência grupal, pensamento abstrato e crítico, radicalismo, desafio. Este movimento do jovem adolescente não é apenas agressão ou oposição à ordem, mas faz parte de sua caminhada em direção ao “ser” [“existir”, sentir-se valorizado e com personalidade] (KRAJNER, 2004, p.82).

Assim que terminamos o nosso texto com os critérios para a montagem do painel, peguei o texto que a turma 102 tinha mandado junto com seus desenhos e um dos alunos fez a leitura para a turma. Eles acharam interessante o critério adotado pela turma 102, que enviou o trabalho para nós, de colocar os trabalhos no painel à medida que eram terminados. Acharam que o critério que usaram para montar o nosso painel era melhor, os trabalhos se relacionavam por afinidades de linhas e formas. Eu mostrei a fotografia da montagem do painel que a turma 102 havia mandado e pedi voluntários para montarmos o painel como a turma havia montado. Eles montaram rapidamente. Ficamos um tempo observando como o painel tinha ficado. Os alunos comentaram: - Achei o painel deles muito mais legal que o nosso. - Mas o nosso texto está muito melhor que o deles. - O nosso painel observou os desenhos, o deles não, só foram colocando.

Falei a eles que não se tratava de uma competição para escolher o mais bonito. Nossa montagem do painel refletia nossos critérios, a forma como nós víamos os trabalhos. Quando alguém fosse montar o nosso trabalho ele ficaria do


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jeito que eles o viam, atendendo aos critérios deles. Os textos ajudavam a entender os critérios de cada turma nesta montagem, o que pensavam e observavam no trabalho. Eles concordaram que ao ler nosso texto ter-se-ia uma idéia do que tínhamos pensado ao montá-lo. Durante a aula os alunos participaram colocando o que pensavam enquanto montavam o painel. Deixei que eles manipulassem os trabalhos na formação do painel. Eles se apropriaram do trabalho, discutindo entre eles para defender suas escolhas que muitas vezes partiam de um gosto pessoal. Outros alunos conseguiam ver o conjunto, e a harmonia na composição do painel, colocando que um trabalho não poderia ser colocado por apresentar características de linhas ou formas que muito se diferenciavam dos outros, “não combinava”. Fiz interferências nas discussões e no andamento do trabalho quando achava que ela era necessária para que o trabalho não se perdesse do seu foco, com o intuito de apaziguar as partes em desentendimento e para colocar os alunos que estavam mais aparte do grupo, opinando sobre o trabalho. Dentro de toda a bagunça causada pelas discussões, conversas paralelas e brincadeiras, havia votações para se decidir qual trabalho colocar, havia critérios nas escolhas, havia interesse dos alunos pelo que faziam. Nesse processo de curadoria de meus alunos havia aprendizado. Na composição do texto foram criativos em colocaram seus critérios que refletiam o que eles tinham pensado e discutido durante a montagem do painel. Senti um pouco de tristeza por ser minha última aula e eu estar terminado o meu estágio, misturado a certo alívio de voltar a ter tempo para fazer minhas coisas. Foi um período de intensa aprendizagem. A realidade da sala de aula, em que temos de pensar e resolver na hora como agir e reagir baseados em tudo o que vimos e estudamos é difícil, mas compensador. Recolhemos os trabalhos, os organizamos, endereçamos o envelope e era hora de terminar a aula. Falei aos alunos que eu tinha aprendido muito com eles durante as aulas do meu estágio. Tinha gostado muito da turma, da forma como eles compravam as idéias dos trabalhos e participavam da aula, colocando sua criatividade para trabalhar. Falei que tinha sido muito bom, e que sentiria saudades deles. A professora Ledi falou algumas palavras de agradecimento para mim, me parabenizando pelas aulas e me desejando sorte em meu trabalho. Muitos alunos vieram me abraçar e a aula terminou.


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Conclusão O processo de estágio foi um momento de muitas descobertas e aprendizagem. A análise e a reflexão sobre minhas aulas ministradas levaram-me à compreensão do verdadeiro papel do professor diante de seus alunos que é de um mediador entre este e o conhecimento. Sair do pedestal de detentora do conhecimento e abrir-me para o aprendizado foi primordial para que eu começasse a entender o que acontecia no estágio e me apropriasse de meus alunos como fonte de conhecimento para meu aprendizado e autoconhecimento. Quando paro para analisar tudo que aconteceu no estágio, percebo o quanto estava cega e surda para tudo, principalmente para mim mesma. Nunca me vi como uma pessoa emocional e, a partir da reflexão sobre a prática, fui entendendo que minha postura emocional havia comandado muitas de minhas atitudes em sala de aula. Ter esta percepção, no entanto, não foi fácil nem rápido e demandou muita reflexão. Acredito que me ver como uma pessoa emocional foi o primeiro passo para perceber o que estava acontecendo em minhas aulas e trabalhar, a partir daí, buscando soluções para os problemas que passei a vislumbrar aos poucos. De modo geral, foi minha postura emocional que comandou minhas primeiras aulas. O que acontecia nas aulas era um reflexo de minhas atitudes, de meu nervosismo. Apesar de todo o planejamento teórico que eu tinha preparado para as aulas, eu emocionalmente não estava preparada e agi de forma equivocada em muitas situações práticas e teóricas em sala de aula. Sentia-me insegura e não conseguia conduzir a aula para os objetivos que tinha proposto no meu planejamento. Nos primeiros contatos meu medo de errar direcionava as aulas quando meu principal objetivo era, justamente, não errar. Principalmente nos encontros 1 e 2, eu não conseguia ter distanciamento do que estava acontecendo em aula para poder analisar e procurar alternativas. Percebia que algo errado estava acontecendo, mas neste momento achava que eram os alunos que não estavam se integrando às aulas. Eu colocava nos alunos a culpa por algo que eu não entendia porque motivo acontecia.

Mas o problema

também estava em mim, na forma como eu via a aula. Eu não conseguia


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desenvolver de forma integral o que planejava e isso me deixava abalada. Uma de minhas dificuldades era me ver como professora da turma. Viame como uma aluna dando aula para outros alunos. Percebo agora também que esta postura inicial atrapalhou muito minha forma de ver as aulas. Mas esta consciência de que eu estava errando em minha postura como professora da turma fez parte do meu processo de crescimento e aprendizagem. Até o segundo encontro (aulas 3 e 4), minha postura estava mais para aluna do que para professora. Demorei a assumir, como professora da turma, a responsabilidade pelo que acontecia na sala de aula. Aos poucos, percebi que o que os alunos alcançavam era resultado da forma como eu colocava as coisas. Não bastava planejar as aulas, era necessário perceber as reações e trabalhar em cima delas, repensando e replanejando a ação frente ao que acontecia no momento em que ocorria. A presença da professora titular em sala de aula era um lembrete para mim de que eu não era ainda professora e de certa forma esta situação causava em mim receios de errar. Por outro lado, sentia-me psicologicamente mais segura, não estava sozinha na sala com os alunos e, se errasse, me perdesse, tinha alguém para me ajudar. Quando me vi como professora responsável por aquela turma de alunos, fiquei sem saber que postura assumir. Eu não sabia se deveria agir de forma autoritária, ou ser complacente, ou ser eu mesma. Eu era a professora, mas que tipo de professora eu era, eu não sabia. Ainda estava me conhecendo. Emocionalmente, ainda procurava minha medida de como ser professora. Isso fica evidente no quarto encontro quando houve um questionamento sobre drogas (liberação do uso da maconha). Foi algo inesperado, eu não sabia o que dizer, como me posicionar. Essa situação inesperada durante a aula tirou-me dos eixos, eu não sabia que postura assumir naquele momento. Sem saber como levar o assunto, optei pela saída mais fácil. Redirecionei os alunos para o trabalho, deixando o assunto morrer, sem discutilo. Naquele momento, foi a melhor saída ou a única que eu via. Naquele momento dei-me conta que minhas reações diante da turma direcionavam o andamento da aula. Foi uma tomada de consciência que era eu a professora e as coisas dependiam de mim. Metodologicamente eu também tinha dificuldades para perceber o que estava acontecendo em sala de aula. Foi através das percepções dos erros que


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cometia que passei a entender o processo de ensino/aprendizagem por que passei. No primeiro encontro, quando propus um debate sobre as questões do filme/documentário “Lixo extraordinário”, fazendo perguntas sobre o filme, não consegui a participação dos alunos como tinha planejado, o debate não aconteceu. Não percebi naquele momento que era eu que não estava dando espaço para que os alunos se manifestassem. O pesadelo da aula não acontecer dentro do planejado tornou-se realidade e isso me paralisou, deixando-me sem saber como reagir. Ansiosa não conseguia perceber que atropelava os alunos com muitas perguntas e não dava tempo para que eles reagissem às questões que eu propunha. Apesar de ter alternativas, como pedir para os alunos para lerem o que tinham escrito (pedi que escrevessem durante o filme o que lhes chamasse a atenção) e puxar a aula por este ângulo, naquele momento até mesmo isso não aconteceu. Não valorizei o que os alunos tinham escrito, comentando o filme a partir, por exemplo, do que eles tinham escrito. Quando tentei retomar a aula, fiz isso de forma desarticulada, fraca e desinteressante, pois não conseguia ver o que estava acontecendo e reverter a situação promovendo assim que os alunos debatessem as questões do filme. No segundo encontro, poucos alunos trouxeram os materiais que havíamos combinado para a realização da aula prática. O fato dos alunos não trazerem os materiais para os trabalhos era resultado da falta de envolvimento com a minha proposta. Percebo hoje que em muitos momentos faltou aprofundar as conversas sobre o trabalho do artista, durante as leituras que fazíamos de suas obras. Quando partimos para os trabalhos práticos, atendendo ao cronograma que eu havia planejado, os alunos ainda não tinham as idéias amadurecidas sobre as questões que iriam trabalhar. Um pouco mais de tempo conversando sobre as questões de trabalho não apenas envolveria os alunos, mas traria qualidade ao ensino/aprendizagem. Mas minha preocupação em cumprir os tempos planejados para as aulas, não davam espaço para mim perceber que era necessário flexibilizar meu planejamento tendo em vista as necessidades dos alunos. Naquele momento, era preciso deixar os alunos exporem suas idéias e discutir o que estavam vendo e entendendo dos trabalhos que viam. Em contrapartida, ao fazerem o trabalho prático, comecei a dar-me conta que a turma tinha muito potencial, vontade e criatividade para executar os trabalhos. Eles gostavam de trabalhar com os materiais e construir os trabalhos. Mas eu ainda


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não sabia bem como lidar com eles, precisava dialogar mais com os alunos, vê-los com mais atenção. Dependia de mim escutá-los para encontrar os meios de chegar até eles e envolve-los. Incentivá-los colocando melhor para os alunos as questões que trabalhariamos e os materiais, despertando a vontade, o interesse e a curiosidade para a realização dos trabalhos práticos. Ter liberdade de usar os materiais da forma como quizessem na construção de seus brinquedos, causou nos alunos a princípio um certo estranhamento. Não sabiam o que fazer, queriam instruções. Aos poucos, passaram a experimentar formas, texturas e a criar seus brinquedos cheios de imaginação, trocando materiais entre si e falando de suas idéias para o trabalho. Entendi que era um momento de conquista para eles e para mim. Os alunos conquistavam espaço e liberdade para criarem a partir de suas idéias (antes eles trabalhavam com a construção de peças utilitárias de artesanato que eram criadas dentro de formas específicas) e naquele momento poderiam explorar as possibilidades dos materiais e de sua criatividade. Eu conquistava a alegria de ver a aula acontecendo, os alunos participando. Esta alegria me deu forças para ir em frente, procurar pelos meus erros e a partir deles repensar minhas aulas e minha forma de ver as aulas e a mim mesma. Senti neste momento que as coisas poderiam dar certo. Era só descobri o que motivava os alunos e replanejar, flexibilizando meu planejamento. A partir do terceiro encontro, passei a ver o que acontecia em sala de aula de forma mais tranqüila. Com isso, veio a percepção mais apurada da aula e dos mecanismos de funcionamento da mesma. Comecei a ver e escutar mais os alunos e assim a perceber questões que apareciam durante a aula. No terceiro encontro, percebi que a questão do trabalho plástico ser avaliado pelos alunos como bonito ou feio, segundo a percepção e os conceitos que tinham do que seria a beleza, vinha dos estereótipos que trabalhavam em sala de aula. Esta questão foi recorrente durante meu estágio, e apareciam sempre nas aulas. Muitas vezes ao fazerem a leitura de um trabalho, a primeira observação feita era com relação à beleza do trabalho analisado. Ver e valorizar formas que saiam dos estereótipos foi algo que tentei fazer, chamando a atenção dos alunos para as texturas nas misturas criativas de materiais, na utilização de formas diferentes na construção dos trabalhos pláticos dentro da proposta do projeto. Quando trabalhei Frans Krajcberg, alguns alunos questionaram o valor dos trabalhos que eles viam, isso me pegou de surpresa. Não havia pensado que as


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formas abstratas poderiam causar tanto estranhamento aos alunos. Não levei em consideração, durante meu planejamento para a aula, que o pouco ou quase nenhum contato que eles tinham com a Arte, poderia levá-los a questionarem as formas que viam como sendo ou não Arte. Reconhecer nas formas abstratas valores estéticos foi difícil para eles. Eles não tinham parâmetros de comparação a não ser a dos trabalhos de artesanato que eles faziam, em que reconheciam um valor utilitário. Tentei motivá-los a perceberem a riqueza de formas, linhas, texturas e cores, dentro das questões trabalhadas pela temática do artista e de todo o processo de pesquisa e criação pelo qual o material passava. Trazer mais artistas, com outros exemplos de trabalhos com materiais alternativos, teria suprido melhor a carência dos alunos de referências em Arte. Ao centrar o trabalho desta aula apenas em Frans Krajcberg, eu acabei por limitar os alunos a apenas um olhar quando na verdade eu queria expandir o conhecimento dos alunos e seus referenciais. Outra questão que percebi foi que, na dinâmica de sala de aula, uma metodologia que funcionava era a metodologia do diálogo, perguntar e esperar pela resposta, o que demorava, mas vinha. Hoje, ao analisar as aulas ministradas, parece-me algo idiota de se salientar, por ser tão obvia a necessidade de dar tempo aos alunos para reagirem às questões que se propõe a eles. Mas, em minhas primeiras aulas, eu não tinha a exata proporção da importância de se respeitar o tempo do aluno, e do que isto poderia permitir em termos de resultados. Encontrar a medida certa entre o tempo necessário para que este processo se realize é crucial para o sucesso de uma aula. No quarto encontro, ao ver que os alunos trouxeram materiais para fazer os trabalhos, fiquei satisfeita. Senti que estava começando a envolvê-los nas aulas. Porém, alguns alunos trouxeram materiais que não condiziam com o contexto a ser trabalhado, conversei com eles sobre o material, mas permiti que eles fossem usados. Isso me levou a entender que a metodologia para trabalhar Krajcberg tinha sido falha. Novamente havia faltado conversar mais com os alunos sobre o trabalho que faríamos e as questões de relação dos materiais. Relacionar o trabalho que estavam fazendo com uma idéia, dando ao trabalho sentido, era algo importante para os alunos entenderem a Arte como um veículo para suas idéias. Trabalhei esta idéia para que o trabalho não fosse mecânico e sim representasse as idéias deles sobre a reciclagem de materiais, o que era importante na visão deles, como relacionavam a reciclagem e a preservação


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da natureza e como representariam isso através da arte. Alguns grupos conseguiram fazer a representação de suas idéias. Em outros grupos, a construção do trabalho aconteceu sem que os alunos relacionassem o trabalho com alguma idéia. Acho que uma conversa mais aprofundada com os grupos os encaminharia a um resultado mais interessante para eles e para o trabalho. Faltou-me perceber estas dificuldades e trabalhá-las de forma mais direta com os grupos. Apesar disso, achei que o resultado dos trabalhos tinha sido bom, as discussões nos grupos sobre o trabalho proporcionaram aos alunos pensar a arte como uma idéia, não apenas como a realização de uma atividade prática e divertida. Os alunos criaram em cima de suas idéias. Ver os alunos discutindo as idéias que tinham e como representá-las no trabalho e depois apresentar os trabalhos falando de suas idéias para o grande grupo me trouxe muita satisfação. Acho que eles também se sentiram satisfeitos ao mostrarem aos colegas o que tinham feito, falarem sobre o trabalho e verem as reações dos colegas. Foi um momento intenso de ensino/aprendizagem para eles e para mim. Os alunos descobriram que seus trabalhos poderiam comunicar e representar suas idéias de uma forma poética, sem uma utilidade prática determinada a qual estavam acostumados. Eu passei e a entender que uma aula que começava errado poderia ser mudada a qualquer momento, replanejada e ajustada para atender à necessidade pedagógica dos alunos naquela aula. Aprendi com isso que qualquer planejamento pode ser repensado durante sua aplicação e mudado objetivando atender às necessidades ou a contornar as dificuldades que aparecem durante uma aula. No quinto encontro, me deparei com uma situação muito difícil. Ao chegar para a aula, descobri que a metade da turma tinha ido embora (os alunos tiveram os 3 primeiros períodos vagos). Os alunos que ficaram queriam ir embora também. Fiquei preocupada em como incentivar estes alunos que ficaram para realizarem o trabalho plástico do projeto Arte Postal que iria para a Bienal. Em poucos minutos, tive que repensar a abordagem e as estratégias para esta aula. Resolvi improvisar e, com a ajuda dos alunos, montamos uma grande mesa no centro da sala de aula. Essa simples mesa improvisada quebrou a rotina dos alunos, que se surpreenderam e gostaram da novidade. Sem que eu percebesse, estava realizando as aulas dentro de uma rotina, sem ousar. Seguia aulas mais tradicionais com os alunos sentados em grupos. Buscava uma zona de conforto para mim, ao optar por aulas tradicionais


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seguia um caminho conhecido, das tantas aulas tradicionais que tive durante minha formação. Ao mudar esta metodologia obtive resultados inesperados na participação dos alunos que se envolveram com muita intensidade na atividade proposta. Neste momento, consegui ver claramente o que acontecia e o que poderia fazer. Este ver e reagir resultou em uma aula ótima em que quem mais aprendeu fui eu. Dentro da dinâmica ensino/aprendizagem descobri que o inesperado e a flexibilidade dentro do plano podem proporcionar novos caminhos. Estar atento ao que acontece, avaliando e percebendo as respostas dos alunos, nos dá indicação de que estamos acertando e errando, possibilitando assim mudanças quando necessário. Percebi, neste dia, no envolvimento dos alunos com os trabalhos que os alunos tinham muito para dar, que o que eu tinha conseguido até então era pouco. Eles tinham uma riqueza e uma intensidade que eu não tinha visto até então, perdida em minhas questões de ministrar as aulas, atingir os objetivos, cumprir os horários, acabei me engessando e engessando meus alunos dentro destas questões. Acho que o medo de errar, de não conseguir fazer o estágio, acabou por me cegar e me ensurdecer. Faltou-me distanciamento e maturidade para conseguir ver estas questões como problemas que afetavam as aulas e assim encontrar caminhos que as solucionassem. Ter tempo de olhar o aluno de mais perto, perceber seus processos de construção, de pensamento, enriquece o processo de ensino e de aprendizagem, e coloca o professor em sintonia com os alunos. Mas para chegar a este entendimento foi necessário passar por todos os meus erros e acertos do meu estágio. Outra coisa que eu percebia em sala de aula e me incomodava era a bagunça dos alunos que a princípio me sinalizava que minhas escolhas metodológicas para a condução das aulas não estavam funcionando. Presa em minhas dúvidas e inseguranças, não consegui reagir de forma a reverter este quadro. Eu queria ser escutada, e não conseguia perceber o que os alunos queriam. Eram momentos difíceis em que eu não sabia bem como agir. Eu não conseguia atenção para o que eu queria falar e ao mesmo tempo não conseguia dar atenção e escutá-los.Mas, à medida que as aulas foram acontecendo, entendi que a bagunça fazia parte, era um resultado natural das discussões entre os alunos. Se por um lado a bagunça dos alunos algumas vezes atrapalhava a condução das aulas, em outras era resultado natural do andamento da mesma. Diferenciar as situações, ouvir e


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entender o que acontecia foi algo que só fui assimilando aos poucos dentro da sala de aula. Percebi que a bagunça, dependendo do contexto fazia parte da aula. Ela não sinalizava desinteresse dos alunos, poderia sinalizar inúmeras outras coisas como a simples necessidade de se comunicarem, de serem escutados. Comecei a tentar ver e escutar os alunos, como trabalhavam, o que faziam, sem me preocupar tanto com a ordem e o silêncio. Inconscientemente, talvez eu almejasse uma aula em que os alunos se sentassem quietinhos e só se mexessem ao meu comando, de forma organizada e silenciosa, mostrando o quanto minha aula era interessante. Dentro do que eu via a princípio como bagunça na realidade, havia interação dos alunos, comunicação e troca. Durante o sexto encontro, as discussões sobre os critérios adotados para a escolha dos trabalhos que iriam colocar no painel havia uma bagunça que era muito produtiva, mesmo assim em alguns momentos tinha de ser controlada, para a aula não perder o foco. Neste momento, a bagunça não me afetava, via ela como um processo natural dos alunos durante as discussões. Esta visão da dinâmica pela qual se desenvolvia a aula veio com meu próprio posicionamento ao encontrar a medida certa de estar atuando como professora da turma. De conseguir ver com mais clareza o processo de ensino e aprendizagem que se processava naquele momento em que a bagunça era um mero coadjuvante para o que estava acontecendo. Os alunos se apropriavam dos trabalhos, discutiam e produziam informação e conhecimento. Consegui ver que foi sempre meu medo de errar que me levou aos erros. Durante muito tempo eu só conseguia ver a mim em sala de aula. Os alunos se perdiam entre objetivos e planos. Foi necessário o distanciamento que este momento de reflexão me proporciona para ver em minha ação esses equívocos. Não é fácil se ver com olhos tão críticos, mas faz parte do crescimento de todo ser humano se analisar e se reestruturar para enfrentar a vida. Ao deixar os alunos se apropriarem do trabalho, apenas direcionando-os, as aulas ganharam muito em qualidade. Os alunos começaram a expor suas idéias com mais liberdade. Ao expressarem-se interagindo e construindo, a forma como viam os trabalhos plásticos e a montagem dos mesmos em um grande painel nas aulas 13 e 14, os alunos cresceram dentro do trabalho, colocando suas idéias para os colegas, discutindo e lendo os trabalhos de forma natural.


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Conhecendo melhor a dinâmica de minhas aulas e me conhecendo melhor, as aulas passaram a ser mais fluídas e mais flexíveis e muito mais produtivas. Dei-me conta que não tentei coisas diferentes, não ousei, optando por aulas mais tradicionais que emocionalmente pareciam mais seguras, menos arriscadas. Não há caminho para o aprendizado sem que se faça uma reflexão, se análise e olhe criticamente para perceber as deficiências dos alunos e as nossas e trabalhar a partir deste ponto, despojando-se dos pré-conceitos, dos medos para se seguir em frente e encontrar soluções. Quando passei a abrir mais as aulas, deixando os alunos se integrarem mais às questões, controlando minhas ansiedades e flexibilizando minhas aulas, as coisas passaram a funcionar de forma melhor. Os objetivos propostos no planejamento foram atingidos pelos alunos que fizeram leituras das obras dos artistas apresentados e de seus próprios trabalhos, observando, analisando e criticando os elementos dentro das obras fazendo relações e significando suas produções. Ampliando assim, o seu conhecimento teórico e prático em Arte. As reflexões me levaram ao entendimento de que existe uma medida para ser professora e ministrar as aulas. Se deixarmos os alunos muito soltos corremos o risco que eles se percam do foco de interesse das aulas. Mas, também, não podemos prendê-los demais não dando espaço para que façam suas próprias descobertas e experimentos de aprendizagem. O professor precisa perceber os momentos e ser um mediador para que o aluno chegue ao conhecimento e ao mesmo tempo estar aberto para aprender com o aluno dentro deste processo. A bagunça de sala de aula traz indícios dos interesses dos alunos, é também um momentos de escutar as idéias que circulam através do que os alunos falam. Encontrando a medida entre ser um observador em plena atuação, aprendendo em todas as oportunidades formas para chegar até o aluno e ao mesmo tempo não perder a condução da aula para que esta não se perca de seus objetivos. Meu grande aprendizado durante os estágios foi conseguir ver, ouvir, falar, perceber e descobrir como é importante estar atenta aos alunos, sintonizada com o que acontece na sala da aula e ter flexibilidade para mudar e aprender com os erros. Aceitar que erro, mas também acerto e que desta conjunção, nasce o aprendizado

foi

o

meu

caminho

para entender

todo este

processo

de

ensino/aprendizagem por que passei para metamorfosear-me saindo do casulo de aluna para ganhar asas de professora.


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Filme LIXO ESTRAORDINÁRIO, Filme/Documentário com direção:Lucy Walke e codireção de João Jardim e Karen Harley. Co produzido pelos estúdios 02 Filmes (,Brasileiro) e Almega Projects (Reino Unido), 2009. 1 DVD(99 min)..


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ApĂŞndices


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Apêndice 1 - Copia da avaliação de aluno estagiário realizada pela professora da escola de estágio.


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Apêndice 2 - Cópia do questionário respondido pela coordenação da escola.


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Apêndice 3 - Cópia do questionário respondido pela professora da escola de estágio.


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134

Apêndice 4 - Cópias dos 5 questionários (mais significativos) respondidos pelos alunos do Ensino Médio.


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