Caroline lauermann tc o que isso quer dizer

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Caroline Leszczynski Nunes Lauermann

O que isso quer dizer?

Canoas, 27 de novembro de 2013. 0


Caroline Leszczynski Nunes Lauermann

O que isso quer dizer?

Trabalho de Curso apresentado como prérequisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciada em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Drª. Rejane Reckziegel Ledur, Ma. Ana Lúcia Beck e Me. Renato Garcia dos Santos.

Canoas, 27 de novembro de 2013. 1


Resumo

O presente Trabalho de Curso apresenta o estágio desenvolvido na escola Celina Westphalen Weissheimer, localizada na Estrada da Branquinha, na cidade de Viamão, com os alunos da turma 71, do sétimo ano do ensino fundamental. O tema definido a partir da análise das observações foi “Conceitos, Linguagens e Manifestações Artísticas Contemporâneas” porque nas observações feitas percebi que na maioria das aulas não havia envolvimento dos alunos com o conteúdo e por isso considerei importante falar de questões contemporâneas que instigassem a reflexão visando estimular a participação dos alunos. Além disso, após analisar os questionários respondidos pelos alunos, percebe-se que a grande maioria da turma afirma não sentir emoção frente a uma obra de arte e desconsidera a qualidade artística de obras que não possuem um realismo fotográfico. Isso reafirma a importância de abordar conceitos que permeiam a produção artística contemporânea e contribuir com questões que incentivem os alunos a buscar relações mais significativas com a arte. Os principais autores consultados, além de Ana Mae Barbosa que elucida a respeito da importância do trabalho com a imagem e Paulo Freire que orienta minha caminhada docente foram: Ferreira Gullar, Anne Cauquelin e Katia Canton. O principal objetivo do projeto foi estimular a reflexão acerca de conceitos que permeiam a produção artística e as interpretações das obras de arte na contemporaneidade e busquei diversificar as metodologias contemplando atividades práticas e teóricas visando o fazer artístico, o conhecimento e a apreciação. Como resultado deste trabalho posso citar a positiva mudança de postura dos alunos frente às obras expostas nas aulas, comentários progressivamente mais relevantes, além do significativo envolvimento nas propostas das aulas. Palavras-chave: Arte Contemporânea, reflexão, participação.

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Sumário Introdução......................................................................................................................5 Capítulo 1 Reconhecimento do Espaço de Ensino........................................................................12 1.1 Dados gerais da escola..........................................................................................13 1.2 Observações silenciosas........................................................................................14 1.2.1 Primeira observação silenciosa..........................................................................14 1.2.2 Segunda observação silenciosa.........................................................................16 1.2.3 Terceira observação silenciosa..........................................................................17 1.2.4 Quarta observação silenciosa............................................................................19 1.2.5 Quinta observação silenciosa.............................................................................21

1.3 Análise das observações silenciosas.................................................................23 Capítulo 2 Conceitos, Linguagens e Manifestações Artísticas Contemporâneas...................26 Capítulo 3 Projeto e Prática de Ensino em Artes Visuais.......................................................40 3.1 Dados gerais da escola e turma em que foi realizada a prática de ensino.......41 3.2 Dados gerais do Projeto de Ensino..................................................................42 3.3 Prática de Ensino.............................................................................................44 3.3.1 Primeiro encontro.........................................................................................44 3.3.2 Segundo encontro.........................................................................................58 3.3.3 Terceiro encontro..........................................................................................71 3.3.4 Quarto encontro............................................................................................83 3.3.5 Quinto encontro............................................................................................94 3.3.6 Sexto encontro............................................................................................110 3.3.7 Sétimo encontro..........................................................................................118 3.3.8 Oitavo encontro..........................................................................................138 3.3.9 Nono encontro............................................................................................144 3.3.10 Décimo encontro......................................................................................163 Conclusão............................................................................................................172 Referências..........................................................................................................183 Apêndice 1...........................................................................................................186 Apêndice 2...........................................................................................................188 3


Apêndice 3...........................................................................................................191 Apêndice 4...........................................................................................................194 Anexo 1................................................................................................................200 Anexo 2................................................................................................................203 Anexo 3................................................................................................................209 Anexo 4................................................................................................................222

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Introdução

Este trabalho de curso visa organizar minha trajetória acadêmica dos estágios no curso de licenciatura em Artes Visuais, na Universidade Luterana do Brasil. Durante o estágio I, no primeiro semestre de 2012, foi realizado o contato com as escolas escolhidas para realização do estágio, realizadas observações e análises para definição do tema de pesquisa. No segundo semestre de 2012 foi realizada a prática de ensino nas turmas de ensino fundamental e médio e por fim, no segundo semestre de 2013, sistematizo o trabalho, reunindo a experiência como docente em Artes na turma escolhida. O trabalho é composto pelo capítulo 1 que corresponde ao reconhecimento do espaço de ensino, capítulo 2 que trata do tema da pesquisa realizada e o capítulo 3 que contém o projeto e a prática de ensino. O que me impulsionou a buscar o contemporâneo e linguagens, movimentos e conceitos que valorizassem mais a participação e interação do público foi a falta de envolvimento que percebi na maioria das aulas de ambas as turmas observadas. Constatar que 70% dos alunos (do ensino médio) não conseguem nomear acertadamente o tipo de imagens que costumam trabalhar em aula me fez buscar uma linha de pesquisa focada nas possíveis interpretações e reflexões acerca da arte, a produção artística e seus significados. Questões que basicamente só fazem sentido se o trabalho é focado na participação dos alunos porque jamais existirá reflexão se não houver envolvimento na proposta por parte dos alunos. Alunos que em sua grande maioria (fundamental e médio) afirmam não sentir emoção frente a uma obra de arte podem ser incentivados a adquirir maior interesse pela arte se o trabalho em aula estiver focado na busca de uma interação com a arte. A exploração de conceitos que permitem diversas relações e interpretações encontra território fértil nos tenuosos caminhos da arte contemporânea e pode incentivar que os alunos busquem relações mais significativas com a arte. O que também foi crucial para reafirmar a importância de um trabalho focado em obras contemporâneas foi 63% dos alunos do ensino fundamental e 65% dos 5


alunos do ensino médio marcarem a obra renascentista “Santa Catarina de Alexandria” de Rafael como a que eles consideram boa obra de arte. Verificar esta escolha dos alunos diante das opções que eu havia selecionado não me causou total estranhamento porque acredito que a maioria das pessoas que não possuem certo conhecimento a respeito de algumas questões artísticas contemporâneas considere a qualidade de uma obra pelo seu realismo fotográfico. Esta constatação me fez conduzir o projeto buscando o entendimento e a compreensão das poéticas que inspiraram a produção das obras selecionadas, mas em contrapartida me fez perceber a necessidade de também incentivar uma relação com a arte que não dependa apenas de uma compreensão na esfera inteligível para estimular nos alunos uma autonomia na relação com a arte. Após essas considerações, a pesquisa que realizei foi focada nos movimentos Neoconcretismo, Arte Conceitual e Pop Arte porque a abordagem das experiências e questionamentos explorados por estes movimentos possibilitou considerar questões como a participação do espectador com a obra e a força e o apelo popular que as imagens possuem. Ter a intenção de valorizar obras contemporâneas fez com que eu lançasse um breve olhar para a história da arte visando diferenciar os contextos e intenções envolvidas a fim de salientar seus discursos. Detive-me em artistas que produziram obras que possuem um discurso que é tão ou mais importante do que a forma visual final para dar base a um discurso conceitual formulado com a intenção de combater o antigo pensamento de aceitação de uma arte exclusivamente acadêmica. Para isso selecionei Nelson Leirner, Siron Franco, Claudio Tozzi, Helio Oiticica, Rubens Gerchman, entre outros. Minha pesquisa é permeada por questionamentos e por assuntos relacionados à Arte Contemporânea como a sugestão que as imagens possuem e as diversas interpretações das obras de arte. Para abordar estas questões os principais autores consultados foram: Ferreira Gullar, Lúcia Santaella, Ana Mae Barbosa, Katia Canton e Anne Cauquelin. Percebo que minha pesquisa não é focada neste ou naquele conceito, linguagem ou manifestação e sim na relação humana com a arte e nos discursos advindos da necessidade de teorizar a respeito das produções artísticas e seus possíveis sentidos, significados e intenções. 6


O tema que escolhi para o projeto é “Conceitos, linguagens e manifestações artísticas contemporâneas” porque abordei nas aulas reflexões relacionadas à intencionalidade das obras de arte, a valorização de diferentes obras e poéticas e a respeito das possibilidades interpretativas diante da arte que podem ser encaixadas na parte de conceitos. Com a intenção de diversificar as aulas expus diferentes linguagens como: Assemblage, pintura, performance, xilogravura, instalação e apropriação. Além das manifestações artísticas vinculadas ao Neoconcretismo, Arte Conceitual e Pop Arte. Tendo como justificativa o fato de que os alunos estão inseridos em uma sociedade acostumada com tantos estímulos visuais onde se torna praticamente impossível que as imagens não sejam absorvidas sem serem refletidas, torna-se crucial promover propostas que visem refletir e entender a imagem como possuidora de uma intenção comunicativa. Considerando também a dificuldade encontrada pra entender e apreciar as obras de arte contemporâneas é necessário contribuir com o desenvolvimento de pessoas que consigam ter o princípio da reflexão, a prática de interpretar e a habilidade de relacionar pontos de vista. Alunos que em sua maioria assinalaram não sentir emoção frente a uma obra de arte podem ser incentivados a ampliar a concepção e o entendimento sobre a arte explorando conceitos, linguagens e manifestações artísticas contemporâneas. O objetivo geral do projeto de ensino é focado em proporcionar o desenvolvimento de uma postura contemplativa e crítica diante das linguagens contemporâneas da arte com o intuito de estimular a reflexão acerca de conceitos que permeiam a produção artística e as interpretações das obras de arte na contemporaneidade. A prática no ensino fundamental foi realizada na Escola de Ensino Fundamental Celina Westphalen Weissheimer localizada na Estrada da Branquinha em Viamão na turma 71, de sétimo ano, no segundo semestre de 2012. A faixa etária dos alunos desta turma varia entre 12 e 14 anos. Esta prática de ensino foi desenvolvida em oito encontros de um período e dois encontros de dois períodos que foram realizados no turno da tarde em dias da semana e períodos diversos devido a alterações constantes no horário da turma. A escola onde foi realizada esta prática de ensino atende em

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média 350 alunos, distribuídos em 14 turmas nos turnos manhã e tarde advindos de famílias que possuem uma condição socioeconômica baixa e média. A prática no ensino médio foi realizada na Escola Estadual de Ensino Médio Farroupilha localizada na Avenida Senador Salgado Filho em Viamão na turma 109 que corresponde ao primeiro ano do ensino médio com alunos com faixa etária de 15 e 17 anos. Esta prática de ensino foi desenvolvida em dez encontros de um período e um encontro de dois períodos realizados no turno da tarde, na maioria das vezes no primeiro período, durante o segundo semestre de 2012. Ambas as práticas de ensino foram desenvolvidas tendo em vista os mesmos objetivos e propostas. O que varia de uma prática para outra é a cobrança a respeito dos assuntos abordados. Na turma de ensino médio foi exigido um grau maior de compreensão e a elaboração melhor na produção dos trabalhos. Na turma do ensino fundamental a prática também foi focada na busca pela compreensão sobre os conteúdos, mas muitos assuntos foram explorados de uma forma introdutória e adquiriram um caráter inicial por considerar a idade dos alunos da turma e o quanto era novidade para este grupo trabalhar assuntos da arte sistematicamente. Os principais objetivos das aulas de ambas as práticas de ensino são aqueles relacionados à busca pela reflexão e pelo interesse sobre as questões abordadas. Entre os objetivos específicos que acompanharam a elaboração das aulas planejadas estão: Desenvolver a capacidade de refletir acerca das obras apreciadas para se posicionar com argumentação pessoal, conhecer a vida e a obra da artista Vera Chaves Barcellos visando despertar o interesse pela Fundação desta artista e a valorização de um espaço local destinado à exposição de arte contemporânea, estimular a fruição e a compreensão das obras selecionadas com o intuito de desenvolver a prática interpretativa assim como valorizar e enriquecer a experiência estética de cada aluno, etc. O que determinou que eu escolhesse a prática no ensino fundamental para compor o trabalho de curso foi considerar que com a experiência no ensino fundamental consegui obter ou quem sabe perceber mais momentos, situações e reflexões interessantes. Talvez isso se deva, muito provavelmente, ao fato de eu já fazer parte a sete anos do corpo docente da escola onde foi feita a prática de ensino do 8


fundamental. Acredito que os alunos já me conhecerem como professora da escola facilitou os diálogos em aula, e isso possibilitou reflexões que considero preciosas em virtude de que desde o início do projeto a maior proposta sempre foi incitar a reflexão. Também fiquei mais satisfeita com a prática realizada com a turma do ensino fundamental porque pude perceber que os alunos demonstravam certa curiosidade diante das propostas, diferente da postura que percebi na maioria das observações silenciosas. Sempre preferi turmas barulhentas, mas que produzem do que o silêncio apático e sonolento de quem não se interessa por aquilo que está se desenvolvendo em aula. Pesquisar sobre Arte Contemporânea fez que eu me deparasse com uma incrível diversidade de possibilidades de abordagens e isso me motivou a expor um pouco desta diversidade no projeto desenvolvido, inclusive nas questões interpretativas. Foi abordado o ponto de vista do público, do artista e houve uma aula que assistimos o documentário sobre a artista Vera Chaves Barcellos na qual foi comentado a respeito da crítica de arte. Aproveitei para incentivar a autonomia interpretativa porque neste documentário foi citada a possibilidade de uma obra de arte se tornar algo diferente daquilo previsto pelo artista, assim aproveitei para afirmar que todas as opiniões são válidas e, portanto os alunos não precisavam ter receio ao falar sobre uma obra. Foi este pensamento que gerou certa insatisfação após a visita à exposição Julio Plaza: Construções poéticas e mesmo que eu tenha considerado bastante produtivo que os alunos pudessem ter contato com uma Instituição destinada à exposição de Arte Contemporânea localizada na própria cidade, achei que a condução do mediador podia ter favorecido mais a interação dos alunos com as obras expostas. A pertinência do trabalho com manifestações artísticas contemporâneas se deve ao fato de que os alunos têm o direito de conhecer questões conceituais que norteiam muitos trabalhos contemporâneos. Foi na busca pelo envolvimento dos alunos com estas questões que os questionamentos acabam norteando o projeto e incentivando minha pesquisa. As perguntas acompanham tanto a pesquisa quanto o projeto e não acredito que encontrar respostas certas seja superior à capacidade de elencar diversas possibilidades.

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Observar os aspectos da realidade na escola e na turma antes da prática docente é importante para que se consiga desenvolver uma proposta que de fato seja significativa para determinado grupo de alunos. No caso deste trabalho um dos aspectos que considerei mais relevante para definir o tipo de proposta que seria desenvolvida foi a observação das respostas dos alunos a partir do questionário aplicado e objetivando intervir na maneira como os alunos olham para a arte a pretensão era contribuir na ampliação de seus pontos de vista para contemplar a formação de educandos mais críticos e reflexivos. Julgar apropriado buscar o envolvimento dos alunos para que eles possam se identificar como protagonistas do processo de ensino/aprendizagem fez que eu identificasse minha prática de ensino com a tendência pedagógica progressista de Paulo Freire que considera o conhecimento como uma forma de intervir no mundo. Pretender contribuir com uma mudança de pensamento dos alunos frente à arte contemporânea não é tão palpável quanto pretender uma evolução gráfica, por exemplo. Portanto, mensurar o progresso da turma da prática de ensino que relato neste trabalho torna-se possível na medida em que é observado o envolvimento e a postura dos alunos frente às propostas de aula. Sendo assim poderei afirmar que onde há participação é inevitável que haja aprendizagem e os resultados alcançados nesta prática, portanto, não se estabeleceram apenas no registro escrito ou nos trabalhos produzidos pelos alunos. Sem dúvida os alunos conheceram outras possibilidades artísticas e foram encorajados a pensar a arte numa dimensão que vai além da superficialidade, assim não consigo visualizar os resultados alcançados distante da própria prática em si. Posso afirmar que ter uma pergunta como título do projeto não é sinal de que pretendia encontrar uma resposta, mas buscar a diversidade de abordagens e principalmente a diversidade de pontos de vista. Em diversas aulas é explicitado para os alunos esta questão a respeito do quanto é relativo, pessoal e questionável uma interpretação e um julgamento de alguma obra de arte. Não selecionei um recorte específico para o trabalho porque pretendi ampliar a visão dos alunos e promover o contato com diversas questões da Arte Contemporânea para quem sabe encorajar futuros contatos que estes alunos podem ter com a arte.

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Enfim, pretendo que este trabalho exponha que a prática de ensino desenvolvida foi calcada na diversidade de interpretações e considero ter sido relevante a explícita busca pela interação e envolvimento dos alunos.

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CapĂ­tulo 1

Reconhecimento do Espaço de Ensino

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1.1 Dados gerais da escola

O presente estágio foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Celina Westphalen Weissheimer, localizada na Estrada Luis Pinto Chaves Barcellos, 599, na cidade de Viamão. A escola iniciou seu funcionamento em 2006 com turmas de 1ª a 4ª séries e em 2010 teve seu primeiro grupo de formandos. Atualmente atende 375 alunos distribuídos em 7 turmas no turno da manhã e 7 turmas no turno da tarde. O espaço físico interno é composto por dois prédios onde se encontram as salas de aula, banheiros, biblioteca, refeitório, secretaria, sala dos professores, sala da direção, sala da supervisão e laboratório de informática. A escola possui uma área externa não muito extensa onde há uma pracinha e uma quadra aberta.

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1.2 Observações silenciosas

1.2.1 Primeira observação silenciosa

Aulas 1 e 2 Data: 12/04/2012 Professora titular: Nara Luiza dos Santos O sinal para começar a aula tocou às 12h55min, mas os alunos entraram em sala às 13h10min. porque a professora estava procurando a chave da sala. Assim que entramos eu expliquei para turma sobre as observações que precisava fazer para meu estágio e depois a professora começou a aula perguntando se alguém da turma tinha visto pela escola algum cartaz sobre alguma data comemorativa daquela semana. Alguns da turma responderam que sim, tinham visto que era a semana do livro e dia do Monteiro Lobato. Então a professora falou que a tarefa da turma seria... Um aluno completou a frase dizendo “inventar uma história”, daí a professora continuou dizendo que a tarefa da turma não seria inventar uma história e sim inventar a capa do livro de alguma história. Continuou explicando que era pra fazer de conta que o autor do livro tinha pedido para que eles fizessem a arte da capa de uma história e que só eles sabiam por enquanto e que eles precisavam criar uma capa que chamasse atenção para leitura desta história. Disse que era para eles escolherem um tipo de letra interessante e que escolhessem também uma ilustração que chamasse atenção dos leitores para a história do livro. Cada um recebeu duas folhas de ofício para que se errassem em uma pudessem fazer na outra. Os alunos começaram a produzir as capas individualmente, mas conversando e trocando ideias constantemente com os colegas que sentavam próximos. Vários alunos chamaram a professora para perguntar como faziam e pedir uma explicação melhor, e a professora foi indo de mesa em mesa orientando aqueles que chamavam. Teve três alunos que não fizeram nada do trabalho, 14


eles não ficaram conversando nem perturbando, mas não produziram nada, a professora perguntou para um deles se não iria fazer e o aluno fez uma careta e se espreguiçou na cadeira. Quando bateu para o segundo período, alguns já tinham terminado e a professora solicitou que trocassem as capas com algum colega e que na outra folha fizessem o final da história, escrevendo a parte final e também fazendo o desenho. Alguns já tinham usado a outra folha para rascunho da capa, portanto a professora passou folhas novamente para quem precisava.

A professora ficou

caminhando pelas classes auxiliando as trocas de alguns que ainda não tinham trocado com nenhum colega. Quando passou pelas classes daqueles três meninos que não tinham feito nada da primeira proposta ela cobrou que fizessem então dois destes começaram a fazer ficando apenas um ainda completamente parado dizendo que estava com sono e dor de cabeça. Os alunos foram escrevendo e mostrando para professora que foi lendo e mostrando os erros de português para que arrumassem. Houve muitos erros principalmente de letra maiúscula em início de frase e organização das frases para que fiquem compreensivas, ouvi a professora comentar para vários alunos que tinha muito “e” nas frases e que era para que eles fizessem as frases mais curtas colocando ponto final mais vezes para melhorar a estrutura do texto. Alguns só escreveram e foram cobrados para que também desenhassem o final da história. Às 14h10min alguns já tinham terminado e ficaram conversando tornando a sala mais agitada, o aluno que não estava fazendo nada neste momento dormia com a cabeça deitada nos braços e alguns se trocavam novamente os trabalhos para ler o que o colega tinha escrito sobre sua capa. Os alunos foram entregando os trabalhos para professora e ficaram conversando até o sinal tocar às 14h25min.

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1.2.2 Segunda observação silenciosa

Aulas 3 e 4 Data: 26/04/2012 Professora titular: Nara Luiza dos Santos A professora dirigindo-se a mim comentou que na aula passada tinham assistido alguns vídeos e que todos tinham achado interessante uma das animações que era com sombras de mãos. Ela então pediu atenção de todos para ler uma poesia com o título “Mãos”. Todos ouviram atentos e ao término da poesia a professora escreveu no quadro os questionamentos contidos no final da poesia: Existem mão e mãos. As tuas quais são? De quem são? Para que são? E disse que era para eles fazerem um desenho com o contorno das mãos. Solicitou que fizessem grupos e disponibilizou em sua mesa folhas coloridas e brancas para que escolhessem e pegassem. Rapidamente eles formaram grupos e já foram pegando as folhas, mas começaram a pedir orientações sobre o que era e como era pra fazer. Como a maioria não tinha entendido, ela explicou novamente e foi passando nos grupos para dar orientações e exemplos. Os grupos faziam o trabalho com bastante interação e conversa descontraída e amigável. No final do período alguns já haviam terminado e ficavam apenas conversando, as conversas ficaram mais altas e alguns começaram a implicar e fazer brincadeiras de mau gosto com colegas. Às 15h foram para o lanche no refeitório, apenas alguns ficaram na sala, os que lanchavam retornavam para sala e ficavam conversando até o sinal tocar às 15h10min. para o recreio. Na volta do recreio a professora abriu a sala, esperou todos acomodarem-se e disse que era para terminar o trabalho e que havia tempo para todos fazerem com bastante criatividade. Os alunos que já haviam terminado ficaram livres apenas conversando. Às 15h45min. todos já haviam terminado e ficaram conversando, a professora chamou alguns alunos para ajudar a fixar com fita crepe os trabalhos na parede do lado de fora da sala, enquanto os outros ficaram esperando tocar o sinal para troca de período. 16


1.2.3 Terceira observação silenciosa

Aulas 5 e 6 Data: 07/05/2012 Professora titular: Aline Andreoli Às 13h40min. tocou o sinal e entramos na sala, que agora é no corredor principal da escola. A professora deu boa tarde e chamou um aluno para ajudar a buscar a televisão e o dvd que fica na sala dos professores bem próximo a sala. Ligaram a televisão e a professora pediu para um aluno chamar a supervisora porque não estavam conseguindo ligar o dvd. Conseguiram ligar e antes de iniciar o filme a professora salientou que era um curta de 22 minutos chamado “Vista minha pele” e que era pra prestar bem atenção porque ao final ela iria perguntar quem vestiu a pele de quem e disse que eles fariam um trabalho de artes sobre o assunto. Todos assistiram bem atentos e depois do filme a professora fez algumas perguntas relacionadas ao filme. Alguns alunos juntos iam respondendo as perguntas, depois foi solicitado que um por vez falasse sobre o filme e justificasse o nome. Quatro alunos deram suas opiniões e após isso ela ficou falando e explicando sobre discriminação, escravidão e preconceito, durante suas explicações às vezes indagava a turma pedindo a opinião sobre determinado assunto, mas mesmo sem muito retorno dos alunos ela continuava a falar, a impressão que deu é que ela queria ouvir dos alunos determinada resposta que não foi dita e então ela continuava a explicar sobre discriminação. Falou sobre leis, consciência negra, cultura afro, religião e cotas raciais por 40 minutos. No ínicio da explicação os alunos estavam atentos, mas depois podese observar que a maioria já não prestava muita atenção, um aluno no fundo da sala começou a fazer ruídos e piadinhas para interferir e alguns outros grupinhos falavam conversavam, então a professora percebendo os barulhos em aula falava cada vez mais alto, ao meu ver, na tentativa de chamar a atenção da turma. Às 14h45min. ela passou uma folha para os alunos escreverem seus nomes para que depois ela 17


passasse para o caderno de chamada e disse que era pra esperar o lanche. Ficaram todos conversando até às 15h. quando então todos desceram para o lanche, a professora fechou a porta e ficou esperando bater o sinal para o recreio no refeitório com alguns que lanchavam, os outros já estavam no pátio.

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1.2.4 Quarta observação silenciosa

Aula 7 Data: 11/06/2012 Professor titular: Leonardo Costa Dias O professor é novo na rede municipal de ensino, foi nomeado e designado para a escola há duas semanas, sendo que já tinha ministrado duas aulas anteriores com esta turma. Assim que entramos na sala ele disse que a turma deveria colaborar porque estava sem voz. Disse que faria a chamada e antes de começar uma aluna perguntou se deveriam apresentar os trabalhos de artes que tinha sido pedido na aula anterior. O professor pediu para esperar porque ele explicaria após a chamada. Depois da chamada, de pé disse para turma que trabalhariam na aula um pouco da presença cênica necessária para teatro e que o objetivo era que todos conseguissem fazer o que ele estava fazendo naquele momento, falando alto e bom tom para que todos pudessem ouvir. Então disse que um por vez apresentaria na frente da sala e perguntou o que a turma seria no momento em que um colega estivesse apresentando. Alguns responderam que a turma seria a plateia. Aí o professor falou sobre como seria a postura adequada de uma plateia, sobre a atenção e a concentração que eles deveriam ter com o intuito de entender o que esta sendo falado no suposto palco. Alguns falaram antes dele completar a frase sobre a postura da plateia que o necessário seria o silêncio e o professor questionou sobre o fato de em casos de cenas engraçadas se a plateia não poderia rir, concluindo que o silêncio então as vezes é rompido em casos de comédia. Em seguida uma aluna se prontificou de começar a apresentar, foi até a frente das classes e mostrou o desenho que tinha feito. Ela disse que escolheu fazer o desenho de um vestido porque gostava de moda e pretendia ser estilista. 19


Outros alunos foram expondo os trabalhos que tinham feito em casa, indo um por vez na frente da sala. Pôde ser verificado que a pergunta que foi feita na aula passada era o que significava arte para cada um e que a partir deste questionamento era para eles produzirem um trabalho usando qualquer linguagem que mostrasse o que eles gostavam e consideravam arte. Teve uma aluna que fez história em quadrinhos, uma que escreveu uma letra de música, outra que apenas colocou para tocar no celular um trecho de uma música do Legião Urbana, etc. Depois que oito alunos dos 20 que estavam presentes, apresentaram os trabalhos que tinham feito o professor pediu para que fizessem um círculo entre as classes para fazerem um jogo. Logo que formaram o círculo ele já começou dizendo: Era uma vez uma borboleta réptil que saiu de sua caixa e foi para Nova Zelândia. Disse que era para o próximo da roda continuar a história, mas houve certa resistência. Ele disse que a história não precisava ter lógica nenhuma, que eles podiam falar sem medo inventando qualquer coisa porque o objetivo era ser rápido. O professor começou de novo outra história, de um macaco albino que queria ser cantor e foi para Califórnia, desta vez o próximo da roda continuou e quase todos participaram contribuindo com uma parte que desse continuidade para a história. A turma se divertiu porque muitas vezes surgiam partes engraçadas, algumas vezes o professor precisou chamar a atenção pedindo que colaborassem ouvindo a história, mas a maioria da turma interagiu muito bem. Quando a história chegou nele novamente, ele finalizou a história e comentou que já tinha observado fazendo esta atividade em outras turmas que sempre quando alguém não sabe o que falar, acaba matando o personagem e isso gerou muita graça porque realmente tinham matado o personagem da história deles várias vezes inclusive. O professor começou mais uma história, mas logo em seguida deu o sinal para acabar a aula.

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1.2.5 Quinta observação silenciosa

Aula 8 Data: 18/06/2012 Professor titular: Leonardo Costa Dias O professor entrou, fez a chamada e perguntou se alguém tinha trabalho para apresentar. Disse para os alunos que não tinham apresentado o trabalho na aula passada que aceitaria no máximo até a aula que vem. Dois alunos se manifestaram para mostrar os desenhos que tinham feito e explicaram sobre o que gostavam. O professor fez uma retomada sobre a postura de uma plateia e afastou as classes mais para trás delimitando um espaço para o palco. Falou sobre a presença de palco que o artista deve ter, conversando sobre a necessidade de desenvolver a consciência de que quando faz uma cena, está mostrando para a plateia alguma coisa, portanto precisa se colocar no palco de forma que a plateia consiga ver o que esta fazendo, não ficando de costas, por exemplo, a não ser que a intenção seja esta. A maioria da turma escutou com atenção as explicações do professor e alguns participaram fazendo comentários ou perguntando alguma coisa. Então o professor disse que fariam um Jogo de improvisação teatral em que um aluno entraria em cena no espaço delimitado para o palco e deveria fazer alguma coisa sustentando essa ação até a interação de outro colega que entraria para interagir com o primeiro. Cada um assim deveria inventar uma ação e sustentá-la em um ambiente imaginado, articulando sua ação com os colegas. Ele explicou que quando tivessem no palco cinco alunos, estes sairiam e começaria outra cena com outros alunos até que todos participassem. Os alunos ficaram um pouco confusos e ficaram fazendo perguntas. O professor chamou um aluno e disse para ele fazer como se estivesse lavando as mãos, depois chamou outro e perguntou onde este que estava lavando as mãos poderia estar. O aluno respondeu que ele estava no banheiro então o professor disse para ele fazer outra coisa que interagisse com isso, por exemplo, batendo na 21


porta porque queria entrar. Assim eles fizeram e o professor foi chamando os próximos. Teve alguns alunos que interagiram mais e outros que não interagiram tanto, mas no geral toda a turma participou da atividade. Desenvolveram este jogo de improvisação em que encenavam ações com o professor fazendo alguns comentários e auxiliando com algumas ideias até tocar o sinal para acabar a aula.

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1.3 Análise das observações silenciosas

A turma observada teve aulas de artes durante as observações feitas, com três professores diferentes, as duas primeiras professoras não tinham formação na área de artes, portanto as atividades que desenvolviam nas aulas na maioria das vezes correspondiam a outras áreas do ensino. Na primeira e segunda aula observada a professora pretendendo fazer um trabalho interdisciplinar relacionou o trabalho feito com a semana do livro, falou de Monteiro Lobato, pediu que fizessem capas de livros e propôs que escrevessem o final da história a partir desta capa criada. Esses dois períodos de artes focados em atividades de português e literatura fez um aluno no questionário aplicado posteriormente citar Monteiro Lobato como o nome de obras vistas em aula, demonstrando a confusão com relação aos conhecimentos de artes que ocasiona aulas ministradas por professores que não têm formação para esta área de ensino. O que podemos salientar então nas quatro primeiras aulas observadas é a falta de proposta para dois períodos de aula, onde alguns alunos realizavam o que havia sido proposto em apenas um período e ficavam sem ter o que fazer no restante do tempo. Isso acabava gerando entre os alunos conversas e brincadeiras às vezes inadequadas como forma de ocupar o tempo ocioso principalmente na terceira e quarta aula onde a proposta de inventar figuras com as mãos além de não ser suficiente para ocupar o tempo destinado à aula não demonstrava ter objetivo definido. Na quinta e sexta aula foi a professora de português que assumiu os períodos de artes para completar sua carga horária na escola e assim a aula continuou afastada de ser uma aula de artes. O assunto que ela abordou em aula era bastante interessante, mas ela não desenvolveu com os alunos nenhuma atividade. Poucos alunos participaram expondo opiniões depois do curta assistido e extensivamente a professora falou sobre o assunto sem sequer tentar perceber ou percebendo e não se importando que a turma já não estava prestando atenção ao seu discurso sobre o assunto. Saliento aqui a necessidade de que é fundamental para que haja aprendizagem o desenvolvimento de aulas que sejam significativas para os alunos e 23


que busquem envolver a turma nos conteúdos que precisam ser abordados. Neste sentido o autor Moacir Gadotti em seu livro Boniteza de um sonho, contribui acerca de reflexões sobre o papel que o professor atualmente deve exercer construindo significados com seus alunos para que a aprendizagem possa ir além da mera transmissão de conhecimentos. O novo profissional da educação precisa perguntar-se: por que aprender, para quê, contra o quê, contra quem. O processo de aprendizagem não é neutro. O importante é aprender a pensar, a pensar a realidade e não pensar pensamentos já pensados. Mas a função do educador não acaba aí: é preciso pronunciar-se sobre essa realidade que deve ser não apenas pensada, mas transformada (GADOTTI, 2008, p.69).

No âmbito da necessidade de proporcionar uma reflexão acerca da realidade o professor titular que assumiu a turma a partir da sétima aula parece corresponder as expectativas no momento em que ao responder o questionário afirma considerar as referências culturais dos alunos e utilizar o que os alunos ouvem e assistem nos meios de comunicação para relacionar com conceitos a serem desenvolvidos em aula. Este professor é formado em Teatro e deixou claro que suas aulas seriam voltadas para o desenvolvimento de atividades relacionadas especificamente ao Teatro. Mesmo assim, ao propor que a turma fizesse um trabalho sobre o que era arte possibilitou que outros tipos de manifestações artísticas fossem considerados visto que na apresentação desses trabalhos pode-se notar que não havia uma padronização e que foi permitida a diversidade no momento em que deveriam manifestar seus gostos pessoais. O equívoco seria relacionar a arte simplesmente ao gostar ou não, mas se houve uma constatação por parte dos alunos diante da diversidade do que cada um considerou como arte, isso pode auxiliar para inicialmente permitir uma noção de que arte vai além do gosto pessoal. O que também deve ser comentado é a mudança da turma na questão do envolvimento nas atividades na sétima e na oitava aula observada que embora tenha aqueles que não participam muito, a maioria dos alunos demonstrava-se atentos à proposta desenvolvida pelo professor. Esta questão, a meu ver, reafirma a importância de sempre buscar atividades que possibilite a participação dos alunos, pois não faz

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sentido desenvolver um trabalho sem que haja envolvimento daqueles que devem necessariamente ser os principais envolvidos no processo de ensino/ aprendizagem. Nos questionários respondidos por estes alunos pude notar algumas questões significativas como o fato de 63% deles marcarem a obra renascentista “Santa Catarina de Alexandria” de Rafael como a que eles consideram boa obra de arte. Verificar esta escolha dos alunos diante das opções que eu havia selecionado não me causa total estranhamento. Acredito ser bastante compreensível que a maioria das pessoas que não possuem certo conhecimento a respeito de algumas questões artísticas contemporâneas considere a qualidade de uma obra pelo seu realismo fotográfico. Por isso acredito que a preferência pela obra de Rafael ao invés das obras de Anita Malfatti, Siron Franco ou de Nelson Leirner, que era as opções disponíveis aos alunos no questionário, seja devido à falta de conhecimento das questões valorizadas na arte moderna e contemporânea. Percebo que os alunos valorizaram o realismo fotográfico porque ao justificarem a escolha que fizeram escreveram que consideraram boa aquela obra porque “tem detalhes reais”, porque “está como um desenho de verdade, tipo uma foto”, etc. Em várias justificativas pude perceber que esta escolha se deve ao fato de que esta é uma obra compreensível porque há na imagem semelhança com a realidade, nas cores, na perspectiva, etc. Isto, a meu ver, além de ser um indício de uma possível falta de repertório artístico da turma, porque nitidamente demonstram que não estão acostumados a trabalhar com conteúdos relacionados à disciplina de artes, também ressalta o quanto levam em consideração o fato de entender o que estão olhando. É como se os alunos relacionassem a qualidade artística com o fato de entenderem. Assim o que entendem pode ser bom e o que os alunos não conseguem definir exatamente o que é, por exemplo, torna-se ruim.

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Capítulo 2

Conceitos, Linguagens e Manifestações Artísticas Contemporâneas

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A arte é um fenômeno cultural e nós, como seres produtores de cultura, estamos destinados a produzi-la. Ela existe desde que se tem conhecimento do ser humano na terra e sempre existirá porque o ser humano tem necessidade de se expressar. O que modifica no decorrer do tempo são as maneiras e linguagens para que essa expressão aconteça. Se outrora a arte acadêmica se entendia ao olhar, ao menos a compreensão do que

se

tratava

compreensíveis

aquilo de

porque

imediato,

na

figurativamente

falando

contemporaneidade

a

ela arte

trazia

elementos

pode

confundir,

desestruturar conceitos historicamente consolidados e tornar difícil a organização das ideias em torno de uma concepção clara e unilateral. Essa inconstância nos obriga a questionar a respeito da legitimação da arte e gera um desconforto causado pelo fato de que cada vez fica mais difícil ter certeza a respeito de quais características e exatamente o que se deve considerar frente à arte. Em suma, no lugar de uma antiga certeza se instaurou a atual incerteza e a sensação de que, se tratando de arte, não se sabe ao certo o que aquilo pode significar, representar, querer dizer e, portanto torna-se difícil saber o que pensar e como se posicionar a respeito. A maioria das obras contemporâneas não expõe de imediato o que são. Não estamos aqui falando de abstracionismo, as figuras nas obras de arte que estamos abordando estão presentes, mas são signos que podem estar representando conteúdos distintos dependendo do contexto em que estão expostas. Por exemplo: Todos conhecem um parafuso e sabem de sua função, mas na obra de Claudio Tozzi ele não parece estar ali para exercer sua função habitual. O que ele estaria então representando? Qual relação o artista pretendeu fazer com o cérebro ali desenhado? Que desconforto isso nos causa? Por quê? São tantas as associações que podem ser feitas diante de questionamentos deste tipo que se conclui ser mais coerente considerar a arte como um ponto de partida e não como um ponto de chegada. A arte pode nos levar a inúmeras relações que conduzem a tantos caminhos quanto há de associações possíveis nas vertentes dos conhecimentos existentes. Dito isso, já se pode anunciar que diante do tema e abordagem que foram escolhidos qualquer consideração será insuficiente em virtude de todas as possibilidades que certamente não serão 27


consideradas devido à incapacidade de serem concomitantemente aprofundadas e elencadas em um singelo trabalho de pesquisa e, portanto não nos espantaremos ao chegar à conclusão com tantos ou mais questionamentos do que ao iniciar o trabalho. O que inevitavelmente encontramos foi a certeza do quão fantástico é poder mergulhar no universo artístico a fim de percorrer por entre seus meandros.

Claudio Tozzi, 1972. (Fonte: http://catracalivre.folha.uol.com.br/2012/03/galeria-monica-filgueiras-eduardo-machadorecebe-exposicao-papeis-6070/)

O que acontece na arte contemporânea é que muitas vezes para se chegar as desejadas respostas é preciso parar um pouco e pensar, coisa que hoje em dia há certa resistência em se fazer. Com certeza parece mais fácil dizer que isso não faz sentido ou apenas dizer gosto ou não gosto. É neste contexto que entra a figura do mediador em exposições, orientando e explicando o que é aquilo que estamos vendo. A mediação nas visitas a museus e galerias é uma intervenção positiva se for bem conduzida é claro, mas as pessoas não podem se resumir a escutar o mediador como se a obra tivesse sentido apenas com o respaldo de uma explicação para ela. Se assim acontecer perde-se o contato pessoal que se estabeleceria e as múltiplas interpretações possíveis que poderiam surgir. Como quem produz sentido é cada um que vê a obra, poderão surgir diferentes interpretações por vezes longe da ideia do que o artista “quis” mostrar, sem que estejam erradas. Pode parecer ambíguo defender duas ideias que se contrapõem: O tentar saber o que quer dizer tal obra e ao mesmo tempo deixar a obra proporcionar um sentido único muitas vezes diferente da intenção do artista. O fato é que interpretar uma obra é 28


um exercício que deve inevitavelmente passar pela pessoalidade do interpretante. Dessa forma ninguém pode nos dizer o que sentir, achar ou entender sobre alguma obra, apenas dar pistas ou provocar questionamentos, pois o interpretar envolve fazer relações mais ou menos assertivas de acordo com o grau de prática e contato com o universo da interpretação. Essa prática em interpretar pode se iniciar com uma mediação de alguém mais experiente, mas jamais desenvolveremos autonomia interpretativa tendo sempre alguém nos dizendo o que pensar sobre determinada coisa, é neste sentido que a mediação deve ser cuidada para não se tornar uma constante indução. O crítico de arte Fernando Cochiarale, ressalta a dificuldade das pessoas em compreender a arte produzida na atualidade: O problema é que essas pessoas usam um único verbo: Entender. Entender significa reduzir uma obra à esfera inteligível. Eu nunca ouvi ninguém dizer: Eu não consegui sentir essa obra. Como as pessoas tem medo de sentir, elas entendem, reduzem sua relação ao ato inteligível e, por isso, esperam pelo socorro do suposto farol da opinião daqueles que sabem: Historiadores, filósofos, críticos, artistas, curadores... (COCCHIARALE, 2006, p.14).

A imagem nos fala muito e em muitas línguas que transcendem as palavras. É possível tentar explicar uma imagem, mas toda explicação que se der jamais substituirá o ato de ver a imagem. Se apenas a explicação bastasse não seria necessário se fazer arte, não podemos deixar que entender o que se está vendo torne-se mais importante do que estabelecer essa relação intransponível com a obra. Segundo Barbosa (2010, p.99) “A arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados que não podem ser transmitidos por meio de nenhum outro tipo de linguagem, tal como a discursiva ou a científica”. Visando abordar este entender e também a defesa deste sentir e captar a transmissão desses significados implícitos na obra, que a série “O césio” de Siron Franco (1947) pode contribuir com o fato de que mesmo sem conhecer o que mobilizou o artista nesta produção, se lançarmos um olhar interessado para a obra veremos se tratar de alguma coisa ruim, alguma coisa tende a incomodar naquela série, ou seja, ela carrega indícios de que se trata de alguma tragédia. E podemos chegar a esta conclusão sem que alguém nos diga para pensar isso. Basta olharmos com atenção, 29


interesse e praticar o ato de interpretar. Se procurarmos alguma informação, esse sentimento fará sentido porque descobriremos se tratar de uma denúncia de um acidente com o elemento radioativo césio em Goiânia acontecido em 1987.

Siron Franco, 1987. (Fonte: http://cherryouth.wordpress.com/tag/siron-franco/)

Ao praticarmos essa leitura de imagem em obras atuais poderemos chegar à constatação de que a temática de uma obra é fundamental e muitas vezes determina a importância e o valor que ela tem. Visando a superioridade da intenção do artista, surge a arte conceitual na década de 60 que valoriza a importância das ideias em torno da obra e defende ser mais importante o conceito do que a própria obra de arte apresentada. Este termo, arte conceitual, foi usado pela primeira vez em 1961, pelo artista Henry Flynt, em atividades do Grupo Fluxus nos Estados Unidos e trazia esta questão da superioridade do campo das ideias. O que se pode inferir é que nenhum artista que segue a arte conceitual deixou de lado a produção de imagens, nem que sejam imagens compostas no campo mental do expectador. Exemplo disso é o artista Cildo Meireles (1948) que com o intuito de questionar e de polemizar sobre o falso suicídio do jornalista Herzog em 1975, no auge da ditadura militar no Brasil, carimbava a pergunta “Quem matou Herzog?” em notas de um cruzeiro, transpondo assim os limites dos lugares onde a obra pode estar. Fugindo de seus domínios, a ideia estava lançada, mas essa ideia tinha uma visualidade tanto material como mental. Assim pode-se dizer que na arte conceitual a imagem mental é 30


considerada. O que a obra proporcionará no espectador é levado em consideração e muitas proposições vão sendo surgidas em obras de artistas contemporâneos preocupados em querer propor situações, experiências, reflexões e imagens mentais.

Cildo Meireles, 1970. (Fonte: http://www.iuuk.com.br/?x=colunas-interna/perambulando-aide/carimbando-dinheiro-epintando-garrafa/5030)

Características de experimentação e de propor ao público momentos de contato sensorial encontra-se nas obras “Os penetráveis”, “Tropicália” e “Parangolé”, de Hélio Oiticica, artista que fez parte do movimento neoconcreto surgido no Rio de Janeiro. Esse movimento vinha justamente propor a participação efetiva do observador, resgatando sensibilidade, expressividade e subjetividade na obra de arte brasileira. A obra sem o espectador não fazia sentido, mas os objetos, cores e formas compunham toda uma visualidade crucial para aquela experiência do público com a obra.

Helio Oiticica, 1965. (Fonte: http://www.rioecultura.com.br/expo/expo_resultado2.asp?expo_cod=1612)

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Helio Oiticica, 1967 (Fonte: http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_obras&acao= mais&inicio=49&cont_acao=7&cd_verbete=2020 )

O artista quando realiza uma obra, inevitavelmente apresenta muito mais do que sua produção, lança um diálogo, propõe uma comunicação porque externa aquilo que é interno como, por exemplo, pensamentos e sentimentos. Considerando que o indivíduo é reflexo de um coletivo, uma produção artística é uma expressão individual, mas que revela muito do tempo e da sociedade que está inserida. Carregamos conceitos que vão sendo consolidados ao longo da vida no convívio com o outro e somos reflexo de uma sociedade que está em constante movimento e por isso a obra produzida pelo homem não pode ser interpretada separada do seu contexto. É esse contexto que modela, inspira e impulsiona o artista à produção

que carregará traços

de

personalidade

individual,

mas

resquícios

inseparáveis de cultura. O que expressamos é o que vivemos, é o que sentimos e pensamos na nossa relação com o mundo e se não considerarmos esses fatores, a análise de uma obra de arte corre o risco de ficar na superficialidade. Segundo Pignatari¹ “O olho não é um passivo captador biológico-perceptivo do real: há nele um fator cultural fundante do real” (PROCOPIAK, 2009, P.8). Portanto quando produzimos uma obra ao revelar, revelamos e é nesse contexto que a arte deve ser analisada. Todas as manifestações artísticas não podem ser vistas isoladamente porque elas surgiram rodeadas de fatos históricos e sociais que contribuem inevitavelmente para o seu surgimento. 32


Ao criar uma determinada obra, o artista se vale da matéria construída socialmente. Como parte da cultura, a arte é a maneira de indicar os caminhos poéticos trilhados por aquele grupo. Criar uma obra de arte vai além da utilização da linguagem (desenho, pintura, escultura), vai além do domínio técnico, porque criar uma forma demanda reflexão, conhecimento sobre o objeto. Além disso, a obra de arte comunica ideias. (PEREIRA, 2009, p.9).

A arte sob esse prisma existe como necessidade de expressar algo e pode servir como registro de uma determinada época ou situação vivida por um indivíduo ou grupo. Por isso é importante contextualizar a arte com o propósito de entendê-la e compreendê-la, pois em diferentes épocas a arte assumiu papéis e significados diferentes em função da sociedade em que estava inserida. Por muito tempo a arte serviu para representar o que estava sendo visto, servindo de captação de uma realidade, mesmo que idealizada. Assim acontecia que em movimentos artísticos anteriores à arte moderna a questão de dar a impressão de estar vendo uma cena real era o que caracterizava uma boa obra. Com o impressionismo essa questão de uma representação tão nítida da realidade muda. O importante passa ser a captação rápida de luz, cor e tons e a plasticidade da obra começa a ser explorada com pesquisas de cor. Pode-se também levar em consideração avanços tecnológicos como o advento da fotografia como sendo uma das contribuições para que a arte pudesse passar a se libertar da representação fiel da realidade e explorar outras possibilidades. Essa liberdade pode no princípio confundir o apreciador das obras de arte, como o cubismo que faz o público se deparar com imagens que definitivamente não são reais, mas sim uma representação do real mostrado pela pessoalidade do artista. Se antes a arte devia ser bela, com uma perspectiva bem feita e com os elementos bem distribuídos na tela, agora ela pode causar estranhamento. Com o movimento expressionista as possibilidades para a arte se expandiram no sentido de dar vazão a expressão humana. Surgem questões psicológicas e sociais do indivíduo como temas e justificativa para determinados traços na pintura. Por serem tão abrangentes as possibilidades do expressionismo, os artistas permitem-se desenvolver características próprias, exemplo disso é a infinidade de artistas com obras tão diferentes entre si que não seguem um padrão pictórico.

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Todo o movimento surgido, de alguma forma rompe com o anterior e inova em algum aspecto que antes não era explorado, mas no sentido de dar “voz” a questões individuais sejam de aflições pessoais ou sociais, o expressionismo se torna um marco por permitir a expressão que prioriza aspectos psicológicos e não apenas aspectos estéticos da obra. A partir do expressionismo movimentos artísticos com aporte teórico que fundamentam as obras dos artistas surgem concomitantemente em vários países, tornando muitas vezes tão importante a fundamentação e as ideias em torno daquele movimento quanto a obra em si. Exemplo disso são os movimentos envolvidos ao Futurismo, Dadaísmo, Suprematismo, Concretismo, Neoplasticismo, Surrealismo, etc. Rompendo com argumentações plásticas da obra de arte, Duchamp mexe de vez com questões sobre o que pode ser considerado arte, com os famosos ready-made que são objetos prontos em que ele acrescenta sua pseudo assinatura e expondo-os em lugar destinados a arte, torna-os obras. A arte então sai da tela e invade o espaço. Espaço que cada vez mais se torna difícil de determinar. O que a arte pode ocupar?

Duchamp, 1917. (Fonte: http://artemodernafavufg.blogspot.com.br/2009/05/marcel-duchamp.html)

Na contemporaneidade a determinação de que e quais materiais podem ser usados extrapola limites. O artista tem a liberdade de determinar como e com quais materiais fazer. Exemplo disso são as assemblages, vídeos instalações, manipulações 34


e apropriações de imagens, etc. São as mais variadas linguagens sendo utilizadas sem que se possa dizer que utilizar determinado material não seria válido como arte. O que então é válido como arte? Bastaria a intenção de ser? É claro que há um sistema impulsionando a produção e aceitação de determinadas obras e artistas, ditando assim o que é aceitável como arte, porém hoje se rompe com esse sistema limitado que há pouco tempo atrás ficava restrito a galerias de artes e marchands, sujeitando-se a aceitação ou não. O mundo em rede, caracterizado pela comunicação e tecnologia, em constante modificação permite uma divulgação e circulação de conteúdos de todos os tipos produzidos sem que se tenha um exato controle sobre eles. Ter acesso a produções artísticas recentes está mais fácil, assim como espaços informais para exposição destas produções também estão mais fáceis de se fazerem presentes na sociedade. O que então é determinante para ter valor como arte? Esses questionamentos não são respondidos

com

facilidade.

Artistas

podem

não

estar

sendo

reconhecidos

simplesmente porque estão mostrando o que o público não está querendo ver naquele momento. E assim como o modernismo que causou muito assombro e espanto (e ainda causa em alguns) em sua época, hoje a arte contemporânea pode chocar e incomodar muitos que ainda não se adaptaram a olhar e tentar entender ou apreciar e permitir-se sentir. O reconhecimento de boas obras, então por vezes não acontece em razão de uma resistência do público diante do novo, de uma incapacidade de lidar com o reflexo da realidade atual ou ainda pela difundida justificativa de não entender. Muitos ainda parecem desconhecer que arte também é uma linguagem e que as obras “dizem” sempre alguma ou várias coisas, e para que se tenha o entendimento do que elas dizem requer interpretação. Isso precisa ser ensinado e praticado. Eu acredito ainda que a história da arte, de qualquer ponto de vista que seja ensinada, tende a demonstrar que o objetivo de se fazer arte, como já sugeri, é comunicar algo a alguém. A força que impulsiona a arte não é a atividade exibicionista da pessoa que cria, mas, a resposta do público. Essa resposta pode ser de um atraso cruel – Van Gogh é um exemplo que é sempre citado. Mas, até que essa reação seja ativada, o trabalho de arte, enquanto realidade, não existe. (SMITH, 2010, p.38).

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O público tece suas opiniões pessoais do que é exposto como arte, mas muitas vezes não faz o diálogo necessário com a obra, ficando a mercê de mediadores que digam o que significa e por estar em algum espaço destinado à arte, considera como arte. O que não pode se perder neste processo é o ato de apreciar e tentar lançar sobre a obra um olhar curioso e inquietante que tenta significar. A arte contemporânea, alguns poderão dizer, é mais difícil porque requer certo esforço para estabelecer uma relação de “diálogo” com a obra e muitas vezes o público pode não estar disposto para essa “conversa”. Se no mundo contemporâneo somos estimulados por um bombardeio de imagens que assimilamos sem fazer sequer esforço, assimilar a arte pode parecer uma tarefa difícil para quem resiste em analisar. Para educar o olhar e enxergar além do estímulo de formas e cores é necessário estabelecer uma relação com o que se está vendo. Essa relação pode ser dificultada porque na contemporaneidade há um estreitamento entre arte e vida e os artistas cada vez mais acompanham as inovações tecnológicas e incorporam elementos do cotidiano, valendo-se deles para a produção de suas obras. Movimento artístico de vanguarda que se caracterizou com a incorporação de imagens do cotidiano foi a Pop Art que nos Estados Unidos trazia elementos da sociedade de consumo apoiando-se no crescente desenvolvimento tecnológico. O pioneiro no Brasil a incorporar temas e linguagens pop em seus trabalhos utilizando-se de símbolos da cultura de massa, é o artista Wesley Duke Lee (19312010) que foi um dos primeiros a realizar happenings no Brasil com “O Grande Espetáculo das Artes” em 1963. Influenciando aqui no Brasil artistas como Rubens Gerchman (1942 - 2008), Claudio Tozzi (1944) e Carlos Vergara (1941) o pop aparece refletindo a situação em que

o

país

encontrava-se

com

obras

que

se

engajavam

em

temáticas

predominantemente sociais e políticas, como nota-se nas obras abaixo.

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Rubens Gerchman, 1965. (Fonte: http://www.art-bonobo.com/artes/rubensgerchman/rubens01.htm)

Carlos Vergara, 1967. (Fonte: http://www.carlosvergara.art.br/novo/pt/anos1960/galeria.php)

É no contexto da ditadura que a arte aqui no Brasil na década de 60 manifestase gerando o que nomearam de A nova objetividade brasileira que uniu um grupo de artistas focados em criar e desenvolver expressões nacionais. Artistas que interessados em ir além da plasticidade da obra, e romper com a exacerbação racionalista desenvolveram trabalhos relacionados à arte experimental articulando arte e vida. 37


Assim a arte não pode ser considerada apenas imagem, pensamento ou apenas emoções. Ela chega como ideia em vanguardas artísticas, mas nunca se desvencilhando do campo das emoções propagada pelo modernismo, seja como o sentimento impulsionador para a criação, seja como sentimento desencadeado no espectador, a ideia, a emoção e a imagem, portanto estarão sempre presentes. A arte está sempre em constante movimento assim como está à sociedade. Quanto mais plural e globalizado se torna o mundo, mais múltipla será a arte. Numa sociedade onde o consumo desenfreado é amplamente estimulado se faz importante desenvolver a capacidade de interpretar o que se vê e além de interpretar ser capaz de refletir e questionar. E é neste aspecto que a arte contribui como treino para o olhar e desenvolvimento para capacidades perceptivas de entender o que está além do que é visto. Numa sociedade em que os meios de comunicação dominam os mercados, influenciando e direcionando o gosto das pessoas, em que a tecnologia permeia todas as áreas de conhecimento e também as relações humanas, em que o consumo aumenta a cada dia e dita os hábitos familiares e pessoais, a arte seria uma forma de ativar e de estimular as sensações, o potencial criativo e as emoções humanas (ZAGONEL, 2008, p. 29).

Pessoas capazes de refletir sobre os fatos sociais são pessoas capazes de transformar a realidade em que vivem sendo assim fundamental estimular o entendimento

das manifestações artísticas como forma de expressão, crítica e

intenção. Neste sentido o pensar sobre a intencionalidade das imagens favorece muito a questão de estimular a reflexão, provocando positivamente uma geração acostumada com imagens prontas e inquestionáveis de forma que sejam encorajados a sair da cômoda posição de meros espectadores que a maioria dos apelos midiáticos sugerem. A arte e a cultura são um meio de expressão humana, um meio de comunicação importante. O indivíduo expressa, por meio da arte, seus sentimentos, suas angústias, suas alegrias e se sente participativo na sociedade na qual está inserido. A arte proporciona atividades que permitem a inclusão, e por isso são meios de transformação social (ZAGONEL, 2008, p. 30).

Portanto considero que as aulas de artes podem e devem ser utilizadas para proporcionar além de momentos de expressão, momentos em que o desenvolvimento interpretativo do universo visual seja levado em consideração porque é trabalhando o 38


significado das imagens que torna possível desenvolver nos alunos habilidades de análise interpretativa que os conduzirão a adquirir autonomia de pensar no que estão sendo estimulados a considerar nas diversas esferas da vida e repensar suas escolhas de forma a promover possibilidades de transformação social.

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Capítulo 3

Projeto e Prática de Ensino em Artes Visuais

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3.1 Dados gerais da escola e turma em que foi realizada a prática de ensino

O presente estágio foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Celina Westphalen Weissheimer, localizada na Estrada Luis Pinto Chaves Barcellos, 599, na cidade de Viamão que iniciou seu funcionamento em 2006 com turmas de 1ª a 4ª séries e em 2010 teve sua primeira turma de formandos. A escola atende 375 alunos que estão distribuídos em 14 turmas sendo que 7 turmas no turno da manhã e 7 turmas no turno da tarde. O espaço físico interno é composto por dois prédios onde se encontram as salas de aula, banheiros, biblioteca, refeitório, secretaria, sala dos professores, sala da direção, sala da supervisão e laboratório de informática. A área externa possui uma pracinha e uma quadra aberta e o espaço para circulação é restrito. A filosofia da escola contemplada no PPP é: “Acreditamos em um processo de crescimento do educando onde ele seja capaz de exercer a cidadania, ter consciência crítica da realidade em que vive e buscar meios para desenvolver-se sendo participativo, ético, humano, autônomo, democrático, responsável e preparado para os desafios da vida, contribuindo, assim, para a transformação da sociedade”.

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3.2 Dados gerais do projeto de ensino

Título: O que isso quer dizer?

Tema do projeto: Conceitos, linguagens e manifestações artísticas contemporâneas.

Justificativa: Tendo em vista alunos inseridos em uma sociedade acostumada com tantos estímulos visuais em que imagens vão sendo absorvidas sem serem refletidas se faz necessário promover um incentivo no sentido buscar entender que toda imagem tem uma intenção comunicativa. Considerando também a dificuldade encontrada pra entender e apreciar as obras contemporâneas é necessário contribuir com o desenvolvimento de pessoas que consigam ter o princípio da reflexão, a prática de interpretar e a habilidade de relacionar pontos de vista. Alunos que em sua maioria assinalaram não sentir emoção frente a uma obra de arte podem ser incentivados a ampliar a concepção e o entendimento sobre a arte explorando conceitos, linguagens e manifestações artísticas contemporâneas.

Objetivo Geral: Proporcionar o desenvolvimento de uma postura contemplativa e crítica diante das linguagens contemporâneas da arte com o intuito de estimular a reflexão acerca de conceitos que permeiam a produção artística e as interpretações das obras de arte na contemporaneidade.

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Objetivos específicos: Desenvolver a capacidade de refletir acerca das obras apreciadas para se posicionar com argumentação pessoal. Viabilizar que os alunos familiarizem-se com o termo assemblage conhecendo algumas obras de artistas que utilizam diferentes tipos de materiais prontos em seus trabalhos. Proporcionar um momento de produção individual e contato com a materialidade das coisas que serão utilizadas para compor o trabalho a partir das informações obtidas sobre assemblage e tendo em vista a intenção previamente definida. Estimular a análise e uma percepção de que toda imagem publicitária foi produzida com uma finalidade e promover a reflexão para que os alunos consigam ampliar o entendimento a respeito de que todas as imagens produzem algum tipo de mensagem, mesmo que subjetiva. Conhecer a vida e a obra da artista Vera Chaves Barcellos visando despertar o interesse pela Fundação desta artista e a valorização de um espaço local destinado à exposição de arte contemporânea. Proporcionar a reflexão acerca do papel da crítica de arte e sobre a importância concedida as interpretações de quem supostamente se considera ter um maior conhecimento sobre arte. Estimular a fruição e a compreensão das obras selecionadas com o intuito de desenvolver a prática interpretativa assim como valorizar e enriquecer a experiência estética de cada aluno. Oportunizar que os alunos conheçam a Fundação Vera Chaves proporcionando que tenham um contato direto e mediado com as obras de arte de Julio Plaza. Promover o conhecimento sobre o Neoconcretismo, Pop Arte e elucidar a respeito de apropriações de imagens em composições de obras contemporâneas a partir da observação e análise da obra de Julio Plaza. Incentivar o desenho a partir da observação da obra de Julio Plaza propiciando a percepção das possibilidades de apropriação de imagens já existentes em uma experimentação gráfica. 43


3.3 Prática de ensino

3.3.1 Primeiro encontro

Aula 1 Data: 03/09/12 Horário: Das 16:10 às 16:55

Tema da aula: Avaliando as obras de arte.

Conteúdos: Noção cronológica a partir da linha do tempo com ênfase no Academicismo, Expressionismo e Arte contemporânea.

Lista de Atividades: Apreciação das obras selecionadas do Academicismo, Expressionismo, Arte contemporânea e Instalação. Registro na planilha com palavras que caracterizem como os alunos consideram cada obra apreciada e suas respectivas justificativas. Relato das palavras que cada aluno escolheu para avaliar as obras e refletir acerca das justificativas dadas. Fechamento com uma breve explanação mostrando uma linha do tempo.

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Objetivos: Refletir acerca das obras apreciadas e se posicionar com argumentação pessoal. Sintetizar como considera as obras apresentadas utilizando uma palavrachave. Argumentar por que escolheu determinada palavra para definir a obra expondo sua opinião para a turma. Refletir sobre as obras que foram avaliadas em aula e o período histórico em que foram produzidas propiciando a conclusão que o resultado da obra depende da intenção e contexto do artista. Propiciar uma noção cronológica do Academicismo até a Arte Contemporânea.

Metodologia: Leitura de imagens. Argumentações. Reflexão. Expositiva.

Materiais e recursos a serem utilizados: Reproduções coloridas tamanho A3 das obras selecionadas. Xerox de tabelas para registro das palavras-chave e justificativas. Painel impresso de uma linha do tempo da história da arte.

Avaliação: Será avaliado o envolvimento dos alunos ao analisarem cada imagem apresentada e a maneira como argumentam e justificam as palavras atribuídas. Se espera que sejam reflexivos e que façam comparações com as opiniões dos colegas.

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Planejado: No início da aula cumprimentar a turma, fazer uma breve apresentação e falar que o projeto que será desenvolvido baseasse na arte contemporânea e tem como foco a intencionalidade da obra de arte. Fazer a chamada e fixar as reproduções das seguintes obras: 1-“The Nut Gatherers” de William-Adolphe Bouguereau, 2-“É proibido dobrar a esquerda” de Rubens Gerchman, 3-“O grito” de Edvard Munch, 4-“O césio” de Siron Franco e 5-“Relevos espaciais” de Helio Oiticica. Ao ir fixando as imagens citar e escrever no quadro o nome da obra e o nome do artista e incentivar a turma a observar atentamente. Numerar as obras e explicar aos alunos que eles deverão apreciar e refletir sobre cada obra para que consigam argumentar sobre como consideram cada uma delas. Para essas considerações iniciais são previstos mais ou menos 10 minutos.

William-Adolphe Bouguereau, 1882. (Fonte: http://obviousmag.org/archives/2007/03/w_bouguereau.html)

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Rubens Gerchman, 1965. (Fonte: http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/exposicoes/2010/ea_6468/img8.asp)

Edvard Munch, 1893. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_(pintura)

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Siron Franco, 1987. (Fonte: http://cherryouth.wordpress.com/tag/siron-franco/)

Helio Oiticica, 1960 - 1963. (Fonte: http://www.grandmastolemycloset.com/2012_04_01_archive.html)

Após todas as imagens estarem expostas será proposta a atividade “Avaliando as obras de arte” que consiste em escolher para cada obra uma palavra-chave que expresse a opinião pessoal sobre aquela obra. Os alunos receberão xerox de uma tabela onde deverão preencher os nomes das obras e dos artistas, escrever palavraschave de acordo com o que acham de cada obra e articular uma justificativa para cada palavra escolhida. Será reforçada a explicação sobre a escrita das justificativas e incentivado que reflitam sobre o porquê de cada palavra escolhida. Para ajudar na reflexão para os alunos escreverem as justificativas será escrito no quadro: “Por que você considera que a palavra escolhida exprime e sintetiza sua opinião sobre a obra?” Na medida em que os alunos forem terminando de escrever será incentivado que 48


troquem os registros escritos para que constatem semelhanças ou diferenças nas considerações dos colegas e logo em seguida será incentivado que alguns alunos relatem para turma toda o que colocaram nos registros escritos para então ser promovido um debate de opiniões. Para estas atividades são previstos 25 minutos. Após esta atividade será mostrado um painel com uma linha do tempo da história da arte e explicado brevemente sobre as mudanças na arte no decorrer do tempo destacando que todas as manifestações artísticas não podem ser vistas isoladamente porque elas surgem rodeadas de fatos históricos e sociais que contribuem para o seu surgimento. Citando a obra de Bouguereau será comentado sobre o academicismo em que a busca por uma representação mais real possível era um ideal a ser atingido e característica de qualidade artística. Mostrando a obra de Munch será citado o modernismo onde há a valorização e busca por uma expressão própria, não necessariamente realista e falando da arte contemporânea onde há o surgimento da questão conceitual como prioridade para produção artística será citado as obras de Siron Franco, Oiticica e Gerchmann comentando sobre a intenção de cada artista com aquela obra. Para esta explanação são previstos 10 minutos.

Realizado: Ao entrar na sala, cumprimentei os alunos, me apresentei como estagiária da turma e disse que a partir desta aula eu desenvolveria um projeto que elaborei a partir das observações e questionários aplicados na turma no semestre anterior. Disse que o foco das aulas seria a arte contemporânea e que o título era “O que isso quer dizer?” e que a interrogação no título do projeto já dá indícios de que o trabalho é voltado à reflexão e que, portanto a participação e envolvimento deles seria fundamental. Como a pasta da chamada estava com o professor titular, eu passei uma folha para que cada um escrevesse o seu nome dizendo que depois eu passaria para o caderno de chamada. Nem todos os alunos ouviram minha breve apresentação com interesse (alguns continuaram conversando), acho que porque a maioria já me conhece e já 49


sabia que eu daria aulas de artes para eles, então eu não estava dizendo nenhuma novidade. Logo que passei a folha que serviria como chamada, comecei a fixar as reproduções das obras selecionadas no quadro e assim que eu ia colocando as imagens alguns alunos faziam comentários do tipo: “Ah! Esse eu já vi na internet.” “Esse eu conheço.” “Ai que coisa feia.” Deixei que fossem falando o que achavam enquanto eu ia colocando as imagens e de vez em quando eu olhava para a turma numa postura de diálogo para que percebessem que eu estava ouvindo e aprovando que comentassem porque acredito que desta maneira os alunos sentem-se mais motivados a participar e se envolver na aula. Às vezes, vemos o diálogo como um procedimento para melhorar a relação entre professores e alunos, ou entre os próprios alunos. Em outros casos, o diálogo é um método didático que permite superar as aulas expositivas e transformar a aprendizagem em um intercâmbio de pontos de vista que possibilite a construção de novas ideias e explicações (GARCÍA, 2010, p.77).

Neste momento, o professor titular entrou na sala e perguntou se podia também assistir a aula e eu respondi prontamente que ele não só podia como deveria. Então comecei a escrever o nome das obras e dos artistas no quadro e pedi para uma aluna ir passando a tabela solicitando que já fossem escrevendo essas informações observando a numeração indicada no quadro. Depois que escrevi todos os nomes, expliquei a atividade pedindo que eles observassem bem cada uma das obras e que escolhessem uma palavra para caracterizar como consideravam essa obra. Continuei dizendo que precisavam justificar a escolha desta palavra e escrevi no quadro: “Por que você considera que a palavra escolhida exprime e sintetiza sua opinião sobre a obra?” A maioria começou a escrever e fiquei em silêncio por uns minutos, porém ao ir caminhando pelas classes, percebi que vários alunos estavam escrevendo palavras sobre o que viam na obra, por exemplo: amizade, desabafo, confusão e não palavras que expressavam a opinião deles sobre a obra. Na verdade, o que me ocorre agora é que todas as palavras que antes também estavam colocando, de certa forma também expressam opinião porque remete a alguma relação subjetiva que cada um faz ao ver a obra e, portanto a palavra “desabafo” usada anteriormente pela aluna Hellena, por exemplo, é mais expressiva em termos de opinião do que a palavra “foto” que escreveu 50


após minha intervenção. Não consegui imediatamente perceber e aceitar as palavras vindas de alguns alunos porque minha inicial intenção era que eles julgassem e avaliassem as obras, ou seja, eu estava interessada que me dissessem o que era bom e o que era ruim para o gosto de cada um, mas se essa era a minha intenção, vejo que seria mais contundente que eu tivesse sido mais direta e que tivesse perguntado exatamente isso, porém dessa forma eu acabaria também restringindo a atividade e se por um lado eu a tornaria mais direta e abreviada por outro, a deixaria reduzida. Então sublinhei a palavra opinião naquela pergunta que eu tinha escrito no quadro, reforçando que eles precisavam expressar a opinião sobre a obra; disse que eles tinham que avaliar como se fossem dar uma nota, mas, em vez de usar um número usariam uma palavra. Depois disso, alguns alunos mudaram suas palavras, mas alguns mesmo assim continuaram fazendo um pouco de confusão como aparace nas três primeiras palavras abaixo da tabela da aluna Hellena em que ela troca as palavras na tentativa de fazer uma avaliação, mas continua descrevendo o que vê na reprodução da obra como mostra as palavras: “foto”, “acumuladas” e “misturadas” que ela usou.

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Tabela preenchida pela aluna Hellena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Fora esta confusão de alguns alunos, a maioria da turma conseguiu escrever uma palavra avaliativa para cada obra depois da minha segunda explicação, como demonstro abaixo nos trabalhos dos alunos Jennifer e Cristian. É interessante observar que apesar de usarem palavras positivas, considerando como boa a obra número 1 de Bouguereau, em nenhuma das justificativas aparece o fato de ela ser uma pintura mais real de uma cena como motivo de ser uma boa obra. Neste sentido, apesar de não ter exposto sua opinião sobre como considera a referida obra, a aluna Hellena, ao colocar a palavra “foto” faz uma associação com uma cena fotográfica o que provavelmente ela considera como algo positivo. Outra observação a se fazer é a constatação de que a maioria avaliou o que considera ser a temática da obra para justificar sua opinião de como considera esta obra, ou seja, aparecem respostas como: “É bacana porque nessa obra tem duas meninas catando nozes.” Sobre isso até fiz algumas provocações do tipo: “Ah! Porque têm meninas catando nozes então é bacana. As obras que têm meninas catando nozes são boas...” Falei com tom de ironia, mas com respeito, é claro, 52


por que percebi que muitos alunos se referiam a temática vista para avaliar a obra. Essa característica é observada no estágio 2 dos estágios evolutivos da leitura da imagem que Michael Parsons refere-se em sua tese elaborada a partir de pesquisas onde identificou cinco estágios referentes a diferentes maneiras pelas quais as pessoas entendem e se relacionam com as imagens de uma obra de arte onde ao explicar sobre o segundo estágio, apresenta o exemplo: “o Renoir pode ser considerado um bom quadro porque representa um cão, e os cães são bonitos. Mas esta última observação sublinha agora uma característica própria do cão, e não os gostos do observador, ao contrário do que acontecia no primeiro estádio” (PARSONS, 1992, p. 40). Há também a incidência de vários alunos classificarem o “Césio” de Siron Franco ou “O grito” de Munch com uma palavra negativa por que consideram não ter sentido ou não ter entendido o significado. Sendo assim a explanação que fiz no final da aula foi interessante para começar uma reflexão sobre o fato de que cada obra tem sua intenção de ser, mesmo que não saibamos ou não entendamos o que ela está querendo dizer, ela tem um sentido e pode ser uma boa obra mesmo que eu desconheça esse sentido.

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Tabela preenchida pela aluna Jennifer (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Tabela preenchida pelo aluno Cristian (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Nenhum aluno negou-se a realizar a atividade, mas houve cinco alunos que nĂŁo preencheram toda a tabela, sendo que um deles, o FĂĄbio, avaliou apenas uma das obras expostas.

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Tabela preenchida pelo aluno Fabio (Fonte: LAUERMANN, 2012)

No momento em que percebi que alguns já tinham terminado solicitei que fossem trocando as tabelas para ler e comparar o que os colegas tinham escrito. Deixei que eles trocassem por alguns minutos enquanto os outros terminavam e isso serviu para que aqueles que ainda estavam fazendo se apressassem. Já eram 16h e 40min. e comecei a dizer o nome do artista e obra seguindo a numeração indicada no quadro pedindo que fossem dizendo as palavras que colocaram para cada obra que eu citava. Eles iam dizendo como consideravam as obras e às vezes eu perguntava: “Por quê?” E depois que liam a justificativa eu instigava com afirmações com o intuito de provocar que analisassem se era consistente aquele argumento que tinham escrito. Eu dizia, por exemplo: “É... Se eu não entendo o que é, então não é bom... Já que eu não entendi, então é uma obra feia!" Depois que eu fazia essas afirmações alguns reafirmavam dizendo: “Sim” ou “É claro”, mas, notadamente

com ar de ironia, acredito que

percebendo que aquele argumento não bastava para avaliar a obra. Percebi que eles gostaram desta parte de ir dizendo o que tinham escrito e também vi que alguns iam 56


terminando suas tabelas aproveitando o que alguns respondiam. Depois que proporcionei que alguns verbalizassem suas opiniões de todas as obras apreciadas disse que para finalizar a atividade eu iria falar rapidamente de cada uma delas. Assim eu encerrei mostrando um painel com uma linha do tempo e dizendo que toda obra era “fruto” de um tempo e de um lugar e que para que se considere como boa ou ruim é necessário ter em mente em que tempo esta obra foi produzida e com que intenção. Falei do Academicismo e daquele tipo de representação em que só era considerado como belo se fosse pintado de maneira mais real possível. Comentei que houve o movimento expressionista que valorizava o artista que conseguisse transmitir com sua obra além do real, uma expressão pessoal e que na contemporaneidade as possibilidades se alargaram de tal forma a permitir as mais diversas criações artísticas. Comentei sobre a obra de Rubens Gerchmann e de seu cunho político numa época de repressão, da catástrofe radioativa em Goiânia denunciada com a série “Césio” de Siron Franco e da intenção de uma proposição ao público na obra de Helio Oiticica. Não me aprofundei em nada, até por causa do tempo que me restava, mas considero ter proporcionado um bom fechamento da atividade porque pelas expressões nos rostos dos alunos e pelo silêncio penso que estavam bem interessados e atentos no que eu disse sobre cada obra. Deu o sinal para a saída e os alunos ainda tiveram que guardar suas coisas e me entregar as tabelas porque eu estava terminando a explanação sobre “Os relevos espaciais” e sobre considerar a experimentação do público como fundamental para a produção da obra. A maioria dos alunos esperou eu terminar de falar para guardar suas coisas, mas alguns guardaram e já levantaram quando ouviram o sinal tocar, então pedi que me entregassem as tabelas e disse que podiam ir saindo.

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3.3.2 Segundo encontro

Aula 2 Data: 13/09/12 Horário: Das 14:25 às 15:10

Tema da aula: As máscaras.

Conteúdos: Opinião: O que é bom e o que é ruim. Assemblage.

Lista de atividades: Recortar uma folha de ofício no formato de uma máscara escrevendo de um lado coisas que gosta e do outro lado coisas que não gosta em relação a tudo na vida. Andar pela sala ao som da música “Primavera de Vivaldi”, lendo o que os colegas escreveram nas máscaras do lado número um. Andar pela sala ao som da música “O fortuna de Carl Orff”, lendo o que os colegas escreveram nas máscaras do lado número dois. Troca de experiências. Leitura de imagens e debate sobre os possíveis materiais que podem ser usados para representar sua temática.

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Objetivos: Proporcionar um momento de interação entre os alunos no qual eles possam compartilhar suas opiniões pessoais a respeito de coisas que acham boas e coisas que acham ruins na sua vida. Tornar as leituras das máscaras mais performáticas utilizando o som da música com a finalidade de gerar um clima propício para que os alunos se movimentem em sala. Viabilizar que os alunos se familiarizem com o termo assemblage conhecendo algumas obras de artistas que utilizam diferentes tipos de materiais prontos em seus trabalhos. Estimular o debate a respeito de quais são as possibilidades de materiais que podem ser utilizados para representar a temática própria da sua máscara.

Metodologia: Trabalho prático. Dinâmica de grupo. Leitura de imagem e debate.

Materiais e recursos a serem utilizados: Folhas duplo ofício. Barbante. Músicas: Primavera de Vivaldi e O fortuna de Carl Orff. Aparelho de som. Reproduções coloridas tamanho A4 das obras selecionadas.

Avaliação:

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Espera-se que os alunos se envolvam na atividade demonstrando interesse pelo assunto abordado e que exponham suas ideias no debate sobre o uso de diferentes materiais para representar uma temática.

Planejado: Depois de cumprimentar os alunos e fazer a chamada, eu distribuirei uma folha de ofício e um pedaço de barbante para que cada um faça uma máscara. Explicarei que esta máscara terá dois lados e que cada um destes lados revelará um pouco do proprietário desta máscara. Direi que do lado número um deverá ser escrito o que gosta, suas alegrias e o que o faz feliz e que do lado número dois deverá ser escrito o que não gosta, o que o irrita e o que o inquieta. Orientarei para apenas recortar, escrever e colocar os cordões sem se preocupar muito com o acabamento ou decoração porque as máscaras apenas irão servir de ponto de partida para outro trabalho. Para ajudar na orientação sobre o que deve ser escrito nas máscaras, eu escreverei no quadro: Lado 1- O que me faz feliz? O que me faz bem? Que tipo de coisas, lugares ou pessoas eu gosto? Quais são minhas alegrias? Lado 2- O que me deixa triste? O que não me faz bem? Do que eu não gosto? Quais são minhas angústias e inquietações? Para estas atividades descritas acima são previstos 20 minutos. Quando a maioria dos alunos já tiver terminado suas máscaras, será explicado que deverão colocar as máscaras do lado número um e se movimentar pela sala lendo a escrita nas máscaras de alguns colegas ao som da música “Primavera” de Vivaldi. Os que ainda estiverem fazendo, serão estimulados a concluir rapidamente para integrarem-se ao grupo que estará se movimentando na sala. Depois de alguns minutos, será desligada a música e será solicitado que todos virem suas máscaras para fazer o mesmo feito anteriormente, porém com a música “O fortuna” de Carl Orff. Após o término da música de Carl Orff, será pedido para todos voltarem aos lugares e incentivado que alguns façam um breve relato sobre a atividade desenvolvida. São previstos 15 minutos para a dinâmica.

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Serão passadas então as obras: “Outono” de Ana André, “Reflexos” de Ana André, “Acciaio Blu” de Domenico Rotella, “Paisagem com onça” de Leda Catunda e “Suburbano II -Lençol vermelho” de Gilvan Lopes para que todos possam observar o uso de diferentes tipos de materiais e conversar sobre esta possibilidade utilizada por alguns artistas contemporâneos de incorporar elementos prontos em seus trabalhos que caracteriza o que se chama de assemblage. Então será solicitado que deem algumas ideias sobre quais elementos poderiam ser usados para representar a sua máscara ou a de algum colega. Será solicitado que pensem nas sugestões de materiais surgidas nesta conversa ou que procurem outras para trazer na próxima aula. Será lido um cartazinho que depois ficará fixado na parede da sala no qual está escrito: “Trazer na próxima aula de artes qualquer material para usar no trabalho que será feito em aula. Trazer materiais para representar o que gosta e o que te faz bem e também trazer materiais que considerar representar o que não gosta. (Aquilo que foi escrito nas máscaras).” Depois da leitura deste cartazinho, será avisado que esses elementos trazidos na próxima aula serão para produção de um trabalho prático. São previstos para este fechamento 10 minutos.

Ana André, 2005. (Fonte: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_v erbete=1041&cd_item=1&cd_idioma=28555)

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Ana AndrĂŠ, 2005. (Fonte: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_v erbete=1041&cd_item=1&cd_idioma=28555)

Domenico Rotella, 1955. (Fonte: http://comicsando.wordpress.com/2008/11/09/mimmo-rotella/)

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Leda Catunda, 2009. (Fonte: http://www.fortesvilaca.com.br/blog/arquivo/release-leda-catunda/)

Gilvan Lopes, 1960. (Fonte: http://acurandeira.blogspot.com.br/)

Realizado: Quando tocou o sinal para o terceiro período, fui até a porta da sala e tive que esperar uns cinco minutos até a professora que estava com a turma no segundo período sair. Assim que ela saiu, eu entrei, cumprimentei a turma e já comecei dizendo que a proposta da aula era que eles fizessem máscaras para que escrevessem de um lado o que eles gostavam e do outro lado o que eles não gostavam. Disse que eu ia 63


escrever no quadro para que eu pudesse explicar melhor, mas já era para irem recortando o formato da máscara e o buraco para os olhos. Entreguei as folhas para a aluna que estava sentada na minha frente já pegar uma e solicitei que fosse passando para os colegas irem pegando também. Então escrevi no quadro: “Lado 1- O que me faz feliz? O que me faz bem? Que tipo de coisas, lugares ou pessoas eu gosto? Quais são minhas alegrias?” E disse que era para responder a essas questões de um lado da máscara, e que este lado caracterizaria o lado bom desta máscara. Também escrevi: “Lado 2- O que me deixa triste? O que não me faz bem? Do que eu não gosto? Quais são minhas angústias e inquietações?” E da mesma forma falei que eles precisavam responder a essas questões no lado que caracterizaria o lado ruim da máscara, onde escreveriam as coisas que consideravam ruins. Já aproveitei para salientar que o mais importante seria a parte da escrita, que não era para se preocuparem com detalhes porque a máscara apenas serviria de ponto de partida para a elaboração de um trabalho. Comecei a cortar dois pedaços de barbante passando de classe em classe e percebi que havia alguns alunos desenhando uma máscara no papel. Relembrei a turma que eu tinha dito anteriormente para não se deterem muito na elaboração da máscara, que o mais importante seria que eles pensassem na escrita do que tinha sido solicitado, então peguei uma folha e mostrei para a turma como poderia ser feita rapidamente uma máscara. Recortei direto uma forma oval, dobrei para cortar os olhos e mostrei que deveriam ter cuidado para não fazer os buraquinhos para passar o cordão muito na ponta para que não rasgasse a máscara na hora de amarrar. Com a máscara que eu recortei, aproveitei para mostrar os dois lados que a máscara tinha (frente e verso) e reafirmei que deveriam responder aqueles questionamentos que eu tinha escrito no quadro, determinando qual seria o lado um e qual seria o lado dois desta máscara.

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Máscara feita por uma aluna (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Notei que a maioria dos alunos teve dificuldade em recortar as máscaras com a agilidade que eu havia solicitado, muitos inclusive me pediram auxílio na parte de cortar o buraco para os olhos ou para recortar os buraquinhos para o cordão, então precisei ir passando entre as classes e orientando ainda os que não tinham recortado. Todos os alunos demonstraram interesse na produção das máscaras, mas percebi que eles portaram-se como se fosse apenas esta a atividade de toda a aula. Pegaram as folhas, e ao invés de logo recortarem, a maioria ficou conversando sobre assuntos diversos como se fosse um momento de descontração. Eu ter dito no início da aula que a proposta era a confecção de máscaras sem mencionar que também faríamos a dinâmica, debate e apreciação de obras, pode ter contribuído para esta postura dos alunos, porém é também possível que seja porque, como já foi constatado nas observações feitas anteriormente, é costumeiro a turma ter nas aulas de artes um grande tempo livre, inclusive dois períodos, mesmo quando era para a execução de uma atividade que não necessitaria de tanto tempo disponível. Percebendo isso, eu reforcei que era preciso que não demorassem em fazer as máscaras porque o foco era 65


o registro de opiniões. Também comentei que eu daria aula para eles senão até o fim, quase até o fim do ano e que a nota do trimestre seria advinda dos trabalhos feitos nas minhas aulas. Falei: “Infelizmente tem aluno que só faz alguma coisa se vale nota, então sou obrigada a informar que todos estes trabalhos feitos em aula vão ser somados para compor a nota final.” Só agora percebo que eu deveria também, neste momento, ter falado sobre a dinâmica, até porque ajudaria no entendimento, que se movimentar pela sala lendo as máscaras dos colegas era uma atividade prevista e isso poderia ajudar para que eles desenvolvessem o entendimento do que havia por trás daquele fazer. Poderia ajudar na percepção de que certas vezes a materialidade de alguma coisa não tem tanta importância quanto seu sentido, que, afinal, é um dos conceitos que norteia a maioria das aulas porque tende a valorizar muito mais as ações, interações e proposições de aula do que o resultado propriamente dito de alguma produção. Seria uma boa oportunidade para fazer a turma identificar que o sentido era mais importante do que aquele fazer, o motivo de estarmos fazendo aquilo seria mais valorizado do que especificamente o que se produziu. Ou seja, eu poderia já nesta aula ter conduzido melhor para que os alunos já estabelecessem uma reflexão acerca de uma afirmação que permeia o projeto: A intenção da obra é mais importante do que propriamente a obra em si. Oportunizar reflexões acerca disso é um dos grandes objetivos de meu trabalho e com certeza eu poderia desenvolver essa atividade de maneira a aproveitar melhor a ocasião para abordar essa questão. O que aconteceu foi que os alunos demoraram mais tempo do que o previsto para envolverem-se de fato na confecção das máscaras e até que um número significativo conseguisse terminar, já havia passado mais tempo do que eu havia previsto, sendo assim eu já tinha percebido que após a dinâmica, deveria passar direto para a conversa sobre assemblage e a solicitação de materiais. Quando um grupo de alunos já havia terminado as máscaras, eu disse que uns ajudassem os outros amarrando as máscaras com o lado número um à mostra, ou seja, com a escrita das coisas que gostavam para fora, para que compartilhássemos o que cada um tinha escrito “lendo uns aos outros”. Expliquei que eu colocaria uma música que serviria para tornar o clima mais propício para a movimentação na sala e que era para eles irem fazendo a leitura das 66


máscaras dos colegas. Os alunos que haviam terminado suas máscaras fizeram o que eu havia proposto, porém sem muita interação porque eles liam a máscara de algum colega próximo e não se movimentavam para ler a máscara de outros mais distantes na sala. Enquanto alguns já estavam em pé fazendo as leituras, eu ia estimulando que os outros concluíssem e que se levantassem para se juntar ao grupo em pé. Consideraria muito positivo que todos conseguissem participar deste momento e que de forma performática (caminhando seguindo o ritmo da música, por exemplo) fizessem a leitura das máscaras dos colegas, mas se “o fazer” a máscara não era o mais importante do trabalho, eu deveria ter deixado isso bem claro, não apenas salientando a importância de os alunos exporem suas opiniões e sim o fato de que se movimentar com as máscaras caracterizaria o significado delas terem sido produzidas. Talvez houvesse uma participação mais intensa se eu tivesse salientado que o fundamental da atividade era o momento em que estaríamos vendo (lendo) o que a máscara do colega estava “querendo” dizer e especificado que o sentido de toda a produção estaria em fazer isso. Esse pensamento acerca da produção das máscaras encontra amparo nas reflexões registradas na teoria dos não-objetos escrita por Ferreira Gullar sobre algumas obras de artistas como Lygia Clark e Helio Oiticica na década de 1960: O espectador é solicitado a usar o não-objeto. A mera contemplação não basta para revelar o sentido da obra –e o espectador passa da contemplação à ação. Mas o que a sua ação produz é a obra mesma, porque esse uso, previsto na estrutura da obra, é absorvido por ela, revela-a e incorpora-se à sua significação (GULLAR, 2007, p. 99).

O que difere aqui é a questão espectador e obra, pois na atividade proposta em aula, para a máscara ter sentido, o solicitado a usar seria a própria pessoa que a produziu, porém o sentido se completaria apenas com a participação de mais pessoas usando suas respectivas produções em uma relação de “ler” uns aos outros, e esse era o caráter a ser salientado mesmo antes desta ação.

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Máscara feita pelo aluno Cristian (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Máscara feita pela aluna Estéfany (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Na máscara da maioria dos alunos é observada a falta de noção espacial de tamanho do rosto e da posição dos olhos. A maioria dos alunos fez o formato da máscara grande demais comparado ao tamanho do seu rosto, não que isso fosse relevante para o trabalho, mas me fez perceber que eu devo considerar que em uma turma de sétimo ano, eles ainda não têm algumas habilidades manuais bem desenvolvidas e que também alguns deles ainda são bem infantis, como pude constatar pelo que o aluno Cristian escreveu na máscara no lado referente ao que gostava: “Brincar de polícia ou ladrão.” Dois alunos apenas fizeram as máscaras com formato diferente do que eu tinha demonstrado: o aluno Cristian e a aluna Estéfany, que fizeram no formato de abóbora e morango respectivamente. Achei interessante eles terem criado formatos diferentes, mas vi o quanto eles têm dificuldade de concluir uma atividade focando no objetivo determinado para a atividade. Mesmo eu orientando várias vezes que a máscara em si não tinha grande valor, percebi que apenas a atividade de confeccioná-las poderia ocupá-los o período inteiro. Depois de um tempo fazendo as leituras do lado número um das máscaras com a música de Vivaldi, eu solicitei que trocassem o lado das máscaras e mudei para a música de Carl Orff. Neste momento quase todos os alunos já haviam concluído, mas nem todos se levantaram para se movimentar pela sala, alguns ficaram sentados mesmo lendo a máscara de algum outro colega. Quando acabou a música, pedi que eles se aproximassem e espalhei nas mesas a minha frente, as obras “Outono” de Ana André, “Reflexos” de Ana André, “Acciaio Blu” de Domenico Rotella, “Paisagem com onça” de Leda Catunda e “Suburbano II -Lençol vermelho” de Gilvan Lopes e perguntei o que viam em comum naquelas obras. Um aluno disse “mulher” e eu apontei para a obra “Outono”, afirmando que nem todas tinham mulher. Outro aluno disse pintura e então apontei para a obra de Domenico Rotella perguntando se achavam que aquela obra era uma pintura. Então fui apontando para cada obra e perguntando com o que eram feitas. Eles foram me dizendo, algumas vezes com certa incerteza na voz e depois de terem me dito todos os elementos que apareciam nas obras perguntei novamente o que tinha em comum e uma aluna conseguiu identificar que todas tinham “coisas coladas”. Foi interessante na 69


hora em que disseram que a obra de Leda Catunda era com tecido, um aluno passou a mão em cima para tentar sentir e diante do deboche de uns colegas eu fiz o comentário que o grande valor de ir a um museu ou outro espaço destinado a obras de arte seria justamente de ver a obra verdadeira e percebê-la realmente como ela é. Dei o exemplo brincando que se os guardas do museu não vissem e a gente pudesse passar a mão na obra, sentiríamos o material de que ela foi feita, que isso não era permitido porque acabaria estragando a obra, mas falei que seria muito mais interessante para poder perceber os materiais. Completei dizendo que ali na sala nós tínhamos apenas reproduções, ou seja, fotografias das obras, e passando a mão a gente não sentiria o material que compõe a obra verdadeira, apenas perceberíamos do que ela é composta. Ao dizer isso, falei que esta possibilidade de utilizar elementos prontos para a produção de obras é o que caracteriza o que se chama de assemblage e que seria isso que faríamos na próxima aula. Fiz a leitura do cartazinho que solicitava que trouxessem materiais na próxima aula que representassem as máscaras e como já era 15h e 05min. deixei que fossem lanchar.

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3.3.3 Terceiro encontro

Aula 3 Data: 18/09/12 Horário: Das 12:55 às 13:40

Tema da aula: Produzindo assemblage.

Conteúdos: Materialidade da obra. Assemblage.

Lista de atividades: Retomada e leitura das máscaras. Produção prática individual com diálogo sobre assemblage.

Objetivos: Refletir acerca das possibilidades de utilização de materiais para representar alguma temática. Proporcionar um momento de produção individual e contato com a materialidade das coisas que serão utilizadas para compor o trabalho a partir das informações obtidas sobre assemblage e tendo em vista a intenção previamente definida.

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Metodologia: Trabalho prático individual utilizando assemblage.

Materiais e recursos a serem utilizados: Materiais trazidos pelos alunos. Cola quente e fita crepe. Papelão e folhas brancas. Tintas acrílicas, guaches e pincéis. Botões, cordões e tecidos. Revistas.

Avaliação: Será avaliado o envolvimento dos alunos na produção dos trabalhos e verificado se os materiais escolhidos para a produção do trabalho foram coerentes com a temática que se pretendia retratar. Também será considerada a capacidade de o aluno argumentar sobre a escolha dos materiais assim como a capacidade de avaliar o resultado de seu trabalho.

Planejado: Cumprimentarei a turma, farei a chamada e disponibilizarei as máscaras que foram feitas na aula passada para que cada aluno pegue a sua para poder relembrar tudo o que foi escrito em cada lado. Será solicitado que os alunos mostrem o que trouxeram para representar cada um dos lados das máscaras e que digam como pretendem fazer o trabalho. Então eu disponibilizarei o material que a turma também poderá utilizar para a produção dos trabalhos que serão: cordões, botões, tecidos, tintas acrílicas, tintas guaches, revistas, cola quente e papelão. Tempo previsto: 10 minutos.

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Logo depois das orientações gerais para o uso dos materiais, será solicitado que iniciem as produções. Quando a turma já tiver começado suas produções, eu acompanharei a realização dos trabalhos incentivando que reflitam sobre questões como: “Por que esse determinado material pode representar o que escreveu nas máscaras?” “Que impressão pretende causar com esses materiais?” “Que cores pretende usar? Por quê?” Enquanto os alunos estiverem fazendo seus trabalhos, eu irei ajudando e orientando sobre a fixação dos materiais, sobre o tamanho do papelão a ser usado, a mistura de alguma tinta, etc. Também irei indagando de vez em quando sobre o porquê de estarem usando este ou aquele material e questionando sobre o que acharam do resultado obtido. Assim que os alunos forem terminando, os trabalhos serão fixados nas paredes da sala reunidos pela temática. Tempo previsto para a execução do trabalho: 35 minutos.

Realizado: Tocou o sinal, fui até a sala, cumprimentei a turma e fiz a chamada. Havia apenas onze alunos porque o dia estava muito chuvoso e a estrada onde fica a escola estava quase alagada. Pedi que me ajudassem a arrumar as classes em dois grandes grupos e enquanto arrumávamos já fui brincando: “É claro que vocês lembraram que hoje nós iríamos fazer o trabalho prático e que tinha que trazer algum material que representasse o que escreveram nas máscaras, né?!” A maioria dos alunos, após essa minha afirmação irônica, fizeram cara de espantados. Então eu continuei dizendo: “A proposta hoje é a produção de uma assemblage, na verdade, uma não; duas. Uma representando cada lado da máscara que vocês fizeram, e como eu tinha certeza que todos se lembrariam de trazer os materiais solicitados, eu trouxe diversos materiais que vocês podem usar.” Ao falar isso, já fui colocando as caixas em cima das mesas desses dois grupos e dizendo que tipos de materiais havia nas caixas: revistas, botões, missangas, lantejoulas, cordões, lãs, fitas, tintas, etc. Disse que começaríamos 73


representando as coisas que nos deixavam felizes e pedi que eles já fossem procurando os materiais que pudessem servir para representar aquilo que escreveram do lado número um da máscara. Ouvi um aluno dizer que nem lembrava o que tinha escrito na máscara, então eu disse que era por isso mesmo que eu as havia trazido e solicitei para eles fazerem a leitura para relembrarem-se dos registros. Peguei as máscaras na minha pasta e, espalhando-as em cima da minha mesa, solicitei que cada aluno pegasse a sua. Comentei que o suporte para o trabalho seria papelão e pedi que cada um pegasse o pedaço que achasse necessário para o seu trabalho, tomando cuidado para “eliminar” bem os vestígios caso tivesse alguma escrita no papelão que pudesse interferir no trabalho. Um aluno perguntou: “Como assim?” E eu expliquei novamente dizendo que era para representar o que tinha escrito na máscara utilizando algum material que considerasse mais indicado para representar aquilo que escreveu no lado um e no lado dois da sua máscara. Outro aluno perguntou se era no mesmo papelão e eu disse que seriam dois trabalhos separados, mas que poderíamos juntar na hora de pendurar para expor para que ficassem como as máscaras com dois lados. Reforcei que começaríamos pelo lado número um da máscara e pedi que já começassem a selecionar os materiais que usariam. Ao ver alguns indecisos e conversando diante dos materiais, eu disse que o trabalho deveria ser concluído neste período e uma aluna que já havia começado a pintar o seu perguntou: “Os dois?” Então, neste momento, percebi que seria muita “correria” produzir os dois trabalhos em um período e disse que realmente não daria tempo de fazer os dois, que era para ao menos terminar um e na próxima aula faríamos o outro. Na medida em que faziam os trabalhos, eu ia comentando ou incentivando a pensarem inclusive nas cores que usariam e percebi que algumas alunas estavam usando as palavras que tinham usado nas máscaras em vez de pensar em outra maneira para representar aquilo que tinham escrito. Então fui até o quadro e escrevi o seguinte: “Capacidade de representar alguma ideia utilizando coisas, objetos, cores, etc.” Chamando atenção da turma para o que eu tinha escrito comentei que o objetivo era que eles utilizassem outras maneiras para representar as máscaras, ou seja, outro tipo de linguagem além da escrita. Mas ao falar isso, me dei conta que o uso da palavra 74


também está presente em obras na contemporaneidade e completei dizendo que na verdade eu não desconsideraria o uso de palavras porque isso seria também uma possibilidade interessante e conflitante a ser explorada na arte contemporânea. Considero que mesmo que ao planejar a aula a minha intenção fosse a produção de assemblage e que meu objetivo fosse que eles utilizassem algum material para representar as palavras que escreveram, se a minha pretensão desenvolvendo um projeto focado na arte contemporânea é proporcionar que os alunos sejam estimulados a refletir sobre a produção e intenção das obras de arte contemporânea eu não posso deixar de valorizar e de permitir que hajam produções que diferem de alguma maneira do solicitado. Porque, afinal de contas, o que é a arte senão uma constante quebra de paradigmas? A atitude destas alunas de escrever as palavras nas suas produções traz uma questão interessante para se pensar a respeito do fato de que se a finalidade da produção seria “dizer” o que se escreveu de um lado da máscara, porque não dizer logo escrevendo o que gostaria de dizer? Esta questão pode ser utilizada para trazer a abordagem de princípios distintos presentes em duas manifestações artísticas contemporâneas: a arte conceitual e o neoconcretismo. Ao citar a arte conceitual, me remeto a alguns trabalhos de artistas como Julio Plaza e Cildo Meireles onde se encontra o uso da palavra e ao que ela pode provocar no espectador como elemento principal, ou seja, comunicação direta, mas nem por isso, menos subjetiva. E o neoconcretismo que traz argumentações onde a obra de arte seria uma representação dela mesma em uma auto significação onde ela própria se bastaria. Esses princípios distintos podem ambos ao seu modo ser utilizados para problematizar essa produção de assemblage a partir das máscaras. Um deles contestando a procura de algum material para representar o que já está dito com a palavra e o outro que questiona porque a produção precisaria significar algo se ela pode ser produzida para simplesmente ser algo e representar a si própria. Essas questões não foram exploradas com os alunos, apenas as utilizei aqui porque são conceitos que fazem parte das referências que utilizei para fundamentar o projeto e estou citando com a única intenção de conflitar minha própria prática docente e as utilizo para, inclusive rever a condução dada à atividade.

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Acredito que se nesta aula eu fosse deter-me na exploração de questões como essas, apenas causaria confusão para uma turma que recém está começando a ter contato mais sistematizado com a arte contemporânea. Não deixei de abordar com os alunos a respeito de questões também bastante reflexivas, mesmo que informalmente e, às vezes, individualmente com os questionamentos que ia fazendo durante as produções dos trabalhos sobre cores, impressão que o trabalho causaria no espectador, a intenção e os resultados alcançados, etc. Como há de minha parte a intenção de, acima de tudo, valorizar a produção artística, é preciso salientar o princípio que: “A arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados que não podem ser transmitidos por meio de nenhum outro tipo de linguagem, tal como a discursiva ou a científica” (BARBOSA, 2010, p.99). Sendo assim, mesmo querendo dizer alguma coisa com o trabalho feito e tendo discussões contemporâneas pertinentes sobre o sentido e finalidade da arte é esse caráter de arte como exclusiva linguagem que não deve ser esquecido no momento da produção artística. Porque, afinal de contas, o que pretendemos transmitir com aquela determinada produção é a arte e ressaltar a necessidade da presença dela no nosso meio. Este foi o enfoque dado quando durante os trabalhos comentava com os alunos a respeito da materialidade da obra. É esta materialidade da obra que clama seu espaço entre a gente ou é a gente que precisa da sua presença no nosso espaço? Não pretendia obter resposta dos alunos e tampouco responder a eles essa pergunta. Apenas tinha a intenção de lançar alguns pensamentos para incentivar que a produção dos trabalhos adquirisse certo caráter reflexivo e com isso valorizar a relação deste fazer. A escrita constatada em alguns trabalhos são todas de nomes de banda ou música, como “Ponto Fraco” e “Cone Crew” verificado abaixo nos trabalhos fotografados. A música aparece representada em quase todos os trabalhos das alunas que estavam presentes nesta aula, porém de formas diferentes, quatro usaram palavras, três usaram notas musicais e uma fez a representação de um disco com papelão recortado. Quando alguns alunos já estavam quase terminando suas produções, eu comentei que era para eles cuidarem na hora de assinar seu nome para que essa assinatura não interferisse muito na obra produzida. Falei que a assinatura 76


deveria ser discreta ou atrás e isso dificultou para que eu pudesse identificar quem produziu o trabalho depois de ter fotografado porque muitos preferiram escrever atrás. Na medida em que iam terminando, eu já fotografava e pedia que eles fossem colocando na estante que tem no fundo da sala porque não teria como eu fixar na parede os trabalhos com as tintas ainda molhadas. Sobre os trabalhos produzidos, também se pode notar que, se tratando de finalização, os meninos deixaram um pouco a desejar porque três dos quatro meninos presentes na aula não fizeram com tinta a cobertura completa da superfície que escolheram para fazer o trabalho ou não se preocuparam em cortar o papelão do tamanho adequado para suas produções.

Trabalho feito por uma aluna (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Trabalho feito pela aluna Rafaela (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho feito por um aluno (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Trabalho feito pelo aluno Cleiton (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Considero que a atividade foi produtiva porque de fato eles manusearam e se envolveram no trabalho procurando elementos que pudessem ajudá-los a representar aquilo que foi proposto. Fora a falta de acabamento constatada em alguns trabalhos, o que talvez possa ser em virtude do pouco tempo, os trabalhos foram desenvolvidos de forma satisfatória. Achei interessante o trabalho da aluna Milene porque usou a tinta apenas para pintar o fundo e para dar forma aos elementos do trabalho ela usou pedaços de lã e lantejoula, explorando, portanto a proposta de representar usando materiais e não apenas a tinta. Neste trabalho se percebe nitidamente dois dos três elementos que essa aluna pretendia representar: a música e internet. O terceiro elemento formado com pedaços de lã vermelha, amarela e verde pode representar o reggae, música gaúcha, a tradição gaúcha ou o Rio Grande do Sul. Acredito que, pelas características desta aluna e do grupo de alunos que normalmente se relaciona, a intenção dela provavelmente era representar uma cultura reggae.

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Trabalho feito pela aluna Milene (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Dentre as coisas que gosta, a aluna Paula destacou em seu trabalho apenas a música. Representou o nome da banda que gosta e um disco feito de papelão. Cheguei a propor que esta aluna pegasse um cd de verdade que eu havia levado, mas ela preferiu fazer. Acho que a intenção dela talvez não era destacar qualquer portador de música, por exemplo o cd, da sua banda preferida. Talvez o que ela pretendeu foi representar um disco vinil e considerar também um resgate do que é antigo e que ela considera positivo. Ou também pode ser que mesmo com o incentivo e a aceitação da possibilidade de usar coisas prontas, esta aluna ainda tenha ficado resistente, ou quem sabe com certo receio, de fazer esse uso. Digo isso porque muitas vezes, eu mesmo em outras aulas, antes do estágio com esse grupo de alunos já abordei de forma transversal com outros conteúdos a questão do resgate e valorização do artesanal, das pequenas produções e da cultura local como forma de resistência a uma demasiada industrialização e padronização do consumo. Portanto talvez essa aluna tenha preferido fazer a representação do disco em vez de utilizar algo pronto, buscando essa valorização do fazer com as próprias mãos.

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Trabalho feito pela aluna Paula (Fonte: LAUERMANN, 2012)

A aluna que fez o trabalho com a imagem do planeta, não utilizou nenhum material além da tinta, mas seu trabalho adquiriu uma visualidade interessante porque foi o único a meu ver que obteve aspecto de unicidade. A aluna não ficou tentando representar as diversas coisas que gostava e que havia escrito na máscara, escolheu uma imagem que pudesse contemplar tudo, ou quem sabe selecionou uma das coisas que escreveu e focou apenas nisso. Acredito que a imagem que escolheu contempla tudo que pode ter escrito na máscara. Visto que todas as coisas boas e ruins existem e adquirem sentido porque estamos inseridos em um lugar que constantemente tecemos nossas relações de gostos e desgostos. Acho que essa imagem acaba adquirindo mais do que uma dimensão mundana devido ao contraste do fundo preto com os vários pontos brancos, representando o universo. O significado adquire uma profundidade reflexiva porque transmite um sentimento de amplitude. Mesmo que não se consiga entender claramente qual era a intenção desta aluna ao representar o planeta, considerei o trabalho bastante interessante até porque afirmei que eles deveriam explorar a capacidade de representar o que escreveram utilizando outra linguagem, mas em nenhum momento eu disse para os alunos que eles precisavam ser claros e diretos.

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Trabalho feito por uma aluna (Fonte: LAUERMANN, 2012)

O que me surpreendeu e que considero negativo foi o fato de que nenhum aluno lembrou que deveria levar algum elemento que representasse as máscaras e mesmo que eu já esperasse que muitos esquecessem, e por isso levei bastante material, não achava que seriam todos. Isso pode ser o reflexo de uma falta de engajamento dos alunos em atividades de uma disciplina que normalmente não é levada a sério pelos alunos por não ter aquela cobrança tão grande de notas como há em outras disciplinas da escola ou também pelo fato de que ainda não estão acostumados com esse tipo de trabalho. Quando acabou o período, demoramos mais uns minutinhos para terminar de organizar os materiais, mas a professora do próximo período foi atenciosa em aguardar uns instantes na porta da sala.

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3.3.4 Quarto encontro

Aula 4 Data: 24/09/12 Horário: Das 16:10 às 16:55

Tema da aula: Produzindo assemblage.

Conteúdos: Materialidade da obra. Assemblage.

Lista de atividades: Retomada e leitura das máscaras. Produção prática individual com diálogo sobre assemblage.

Objetivos: Refletir acerca das possibilidades de utilização de materiais para representar alguma temática. Proporcionar um momento de produção individual e contato com a materialidade das coisas que serão utilizadas para compor o trabalho a partir das informações obtidas sobre assemblage e tendo em vista a intenção previamente definida.

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Metodologia: Trabalho prático individual utilizando assemblage.

Materiais e recursos a serem utilizados: Materiais trazidos pelos alunos. Cola quente e fita crepe. Papelão e folhas brancas. Tintas acrílicas e pincéis. Botões, cordões e tecidos. Revistas. Reproduções tamanho A3 das obras selecionadas.

Avaliação: Será avaliado o envolvimento dos alunos na produção dos trabalhos e verificado se os materiais escolhidos para a produção do trabalho foram coerentes com a temática que se pretendia retratar. Também será considerada a capacidade de o aluno argumentar sobre a escolha dos materiais assim como a capacidade de avaliar o resultado obtido em seu trabalho.

Planejado: Cumprimentar a turma, fazer a chamada e disponibilizar novamente as máscaras feitas. Desta vez será solicitado que relembrem o que haviam escrito no lado número dois da máscara para representar no trabalho as coisas que não gostam. Perguntarei se alguém se lembrou de levar algum tipo de material e também já direi que estariam disponíveis aqueles mesmos materiais nas caixas e que cada um já poderia ir selecionando o que usaria. Tempo previsto: 10 minutos. Logo depois de novamente orientar para um melhor e mais organizado uso dos materiais, será solicitado que iniciem as produções. Quando a turma já tiver começado 84


suas produções eu escreverei no quadro: “Por que esse determinado material pode representar o que escreveu no lado número dois da máscara?” “Que impressão pretende causar com esses materiais?” “Que cores pretende usar? Por quê?” Depois de escrever essas perguntas no quadro, será chamada a atenção da turma para que realizem o trabalho pensando na resposta para aquelas perguntas. Também fixarei no quadro, para que sirvam de inspiração, as obras: “Outono” de Ana André, “Reflexos” de Ana André, “Acciaio Blu” de Domenico Rotella, “Paisagem com onça” de Leda Catunda e “Suburbano II -Lençol vermelho” de Gilvan Lopes. Enquanto os alunos estiverem fazendo seus trabalhos, eu irei ajudando e orientando sobre a fixação dos materiais, sobre o tamanho do papelão a ser usado, a mistura de alguma tinta, etc. Também irei indagando de vez em quando sobre o porquê de estarem usando este ou aquele material e questionando sobre o que acharam do resultado obtido. Assim que os alunos forem terminando, os trabalhos serão colocados em lugar onde possam ficar secando até a próxima aula. Tempo previsto para a execução do trabalho: 35 minutos.

Realizado: Tocou o sinal, fui até a sala, cumprimentei a turma e fiz a chamada. Relembrei que na aula passada tínhamos feito os trabalhos que representavam aquilo que gostávamos, e disse que a proposta agora seria produzir assemblage que representasse aquilo que nos angustia e o que nos aflige, ou seja, representar o que não gostamos. Enquanto estava fazendo essa breve explicação inicial para relembrálos rapidamente sobre o trabalho e também para orientar sobre a atividade, justamente alguns daqueles alunos que não estavam no último encontro não fizeram silêncio para prestar atenção, continuaram com algumas conversas paralelas. Mesmo assim, concluí a explicação para aqueles que prestavam atenção e logo já solicitei que começassem a separar o material que gostariam de utilizar para representar o lado número 2 da máscara. Pedi para os alunos abrirem as caixas e disse que podiam mexer no carrinho que eu tinha levado porque todas as coisas e materiais que tinha ali poderiam ser 85


utilizados nos trabalhos. Pedi que um aluno colocasse água no pote para lavar os pincéis e disponibilizei jornal para que eles colocassem em cima da classe para fazer as pinturas. Solicitei, então que pegassem suas máscaras e pedi para relerem o lado número dois, referente às coisas de que não gostavam, tendo a intenção de focar nas possibilidades de retratar o que haviam escrito. Na medida em que os alunos começavam a fazer os trabalhos, alguns daqueles alunos que estavam conversando enquanto eu explicava começaram a pedir para os colegas explicação sobre o trabalho. Deixei que alguns colegas explicassem para aqueles que perguntavam enquanto fui fixando no quadro a reprodução das obras: “Outono” de Ana André, “Reflexos” de Ana André, “Acciaio Blu” de Domenico Rotella, “Paisagem com onça” de Leda Catunda e “Suburbano II -Lençol vermelho” de Gilvan Lopes. Já havia mostrado estas obras em uma aula anterior para que os alunos considerassem e pensassem em algumas das diversas possibilidades de materiais que podem ser utilizadas em uma obra. Também pretendia que pudesse servir de incentivo para eles trazerem para aula algum material e que inspirasse as produções individuais. Porém, admito que não relembrei os alunos na aula passada sobre que eles ainda deveriam trazer materiais para usar nos trabalhos porque continuaríamos com as produções de assemblage. Muitas vezes a sequência do trabalho pode estar implícita de forma óbvia no pensamento do educador, mas não necessariamente explicitamente clara no entendimento dos alunos. E assim, dei sequência nas produções dos trabalhos apenas com os materiais que havia levado para sala de aula, sem contar com nenhum elemento próprio e diferenciado vindo dos alunos, como inicialmente havia previsto. Expliquei para os alunos que havia selecionado aquelas obras tendo em vista estas questões a respeito dos diferentes tipos de materiais. Disse que visava poder exemplificar e mostrar modelos para um ponto de partida para a produção de assemblage. Apontando para as obras salientei mais uma vez que elas poderiam servir de exemplo para exemplificar as possibilidades de uso e dos tipos de materiais que poderiam ser agregados à tela. Mesmo eu tendo elucidado a respeito de diferentes possibilidades de uso de materiais, acredito que o pouco tempo de um período tenha corroborado para que a maioria dos alunos se restringisse ao uso das tintas. E foi em virtude deste curto tempo disponível que também reconheço que nesta aula me limitei a 86


deixar que cada um fosse produzindo do seu jeito sem muitas interferências da minha parte durante as produções. Depois desse meu breve comentário sobre as obras, expliquei mais uma vez sobre a proposta da aula e disse que nós tínhamos apenas aquele período para concluir o trabalho e que era preciso que eles não demorassem na produção para que pudéssemos ainda guardar as coisas antes de acabar a aula. Teve um aluno que começou a fazer o trabalho apenas depois que fui até o lugar onde ele estava sentado e solicitei que participasse. Os outros alunos se envolveram logo na produção e concluíram com mais agilidade do que na aula anterior. Quando todos já estavam fazendo seus trabalhos, eu escrevi no quadro: “Por que esse determinado material pode representar o que escreveu no lado número dois da máscara? Que impressão pretende causar com esses materiais? Que cores pretende usar? Por quê?”

Turma 71 (Fonte: LAUERMAN, 2012)

Vários alunos usaram palavras em seus trabalhos, mas a maioria utilizou apenas uma palavra entre outros elementos o que a meu ver tornou o trabalho mais criativo. A forma de distribuição destes elementos também interferiu no resultado final para apreciação, como no trabalho da aluna Hellena em que a palavra “não” 87


centralizada lembrando uma onomatopeia com os outros desenhos ao redor ficou visualmente mais agradável de olhar. E o trabalho de um aluno que usou apenas o cigarro como um desenho identificável e uma forma espiralada ao lado que preencheu o vazio e deu um equilíbrio visual no trabalho. Neste trabalho a palavra “rock” que o aluno escreve fazendo o uso de reticências, pode estar expressando que existem mais coisas além daquilo que ali está representado que lhe desagrada e assim tornou-se um trabalho além de visualmente interessante, também instigante. O contrário acontece com o trabalho da aluna Milena em que a maneira como organizou os desenhos não valorizou a palavra escrita e nem tornou interessante visualmente a composição de sua produção.

Trabalho feito pela aluna Hellena (Fonte: LAUERMAN, 2012)

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Trabalho feito por um aluno (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho feito pela aluna Milena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Trabalho feito pela aluna Amanda (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Bastantes alunos, assim como a Amanda, continuaram usando palavras numa tentativa de, talvez, conseguir deixar mais claro o que estavam querendo representar. Na aula passada comentei sobre o uso da palavra e considerei este uso como uma possibilidade comentando a respeito de algumas obras em que a palavra se faz presente. Nesta aula deixei os alunos mais livres nas suas representações e não interferi com

muitas explicações,

apenas ia fazendo alguns comentários e

considerações sobre o uso das cores e sobre o pensar naquilo que eles pretendiam retratar. Reconheço que até poderia ter proposto que fossem mais ousados com relação à materialidade das coisas, porque os alunos poderiam ter explorado e utilizado mais possibilidades de materiais que tínhamos disponível na sala ou até quem sabe no pátio da escola. Por outro lado, já me justificando, saliento que o pouco tempo me deixou limitada e assim optei como em muitas aulas, em evitar a exploração de determinado conteúdo em prol de tentar não se distanciar muito do cronograma das aulas. Não considero que este fato possa ter tornado as aulas superficiais, pois a opção de não permanecer mais tempo na exploração dessas possibilidades de uso de materiais foi tendo em vista o contato com outras linguagens artísticas que ainda pretendia possibilitar e respaldada na intenção de evitar que os conteúdos se tornassem enfadonhos. Todos os alunos se envolveram satisfatoriamente na proposta de aula e o que também colaborou para que eles se detivessem mais no uso das tintas foi o fato de 90


nenhum aluno ter levado material para utilizar na produção. O aluno Cleiton, por exemplo, utilizou exclusivamente a tinta para representar aquilo que não gostava, e a aluna Stéfani, que exceto por um pequeno pedaço de lã colado no contorno de seu coração partido também utilizou basicamente tintas. Acabaram ambos deixando um pouco de lado a outra proposta que era focada em experimentar a utilização de outros tipos de materiais para compor a obra.

Trabalho feito pelo aluno Cleiton (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho feito pela aluna Stéfani (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Talvez o fato de termos partido da escrita, usado exemplos de assemblage para enfim fazer uma produção tenha deixado restrito um discurso sobre a obra como produto de arte em si. Visto que a intenção da aula era uma produção com um sentido específico para elucidar sobre o fato de que a argumentação e o discurso podem não só anteceder a obra como serem mais cruciais do que a produção em si, ficou um pouco de lado uma discussão sobre a experiência estética, embora admita que ela poderia ser determinante para se atingir uma determinada impressão que inclusive poderia favorecer e reafirmar o sentido do trabalho. Espero que depois de os trabalhos estarem expostos possamos falar nem que seja brevemente sobre a impressão que eles causam e instigar na turma outras questões como: Qual é a necessidade de que o espectador perceba claramente a intenção que tivemos ao produzir os trabalhos? Seria importante a apreciação dos trabalhos unicamente com experiência de fruição? Será possível classificar o que seria mais importante: A primazia de uma ideia ou a experiência estética frente a uma obra? Ou ainda: É realmente necessário responder a essas perguntas para se justificar a arte? A arte ensina justamente a desaprender os princípios das obviedades que são atribuídas aos objetos, às coisas. Ela parece esmiuçar o funcionamento dos processos da vida, desafiando-os, criando para novas possibilidades. A arte pede um olhar curioso, livre de “pré-conceitos”, mas repleto de atenção. (CANTON, 2009, p.12 e 13).

Por não contemplar esse princípio da obviedade é que a arte torna-se tão encantadora. Afinal de contas, ela permite que façamos nossas relações e que teçamos nossas opiniões frente ao outro com relações e opiniões talvez distintas e nem por isso determinando quem está longe da verdade. Podemos nos dar conta que são infinitas verdades ou quem sabe curiosos pontos de vista que vão surgindo de acordo com o grau de atenção a ela dispendido. A respeito de gostos pessoais lembro também de ter comentado com a aluna Joana, enquanto ela produzia seu trabalho que ao olhar para o trabalho dela eu jamais o consideraria como negativo porque gostava de chuva e da cor preta, e que uma interpretação feita por mim, por exemplo, seria exatamente inversa à intenção que gerou a produção do trabalho. Pensar nessa questão é um passo, mesmo que pequeno, para despontar a reflexão e aceitação acerca das possíveis ambiguidades de 92


interpretações e opiniões tanto na arte como na vida. No trabalho desta aluna também acontece o uso de outro material além da tinta apenas singelamente aplicado no cabelo da figura que ela desenhou para se representar, mas nem comentei com ela a respeito disso porque preferi destacar a respeito desta ambiguidade de interpretação. Elogiei o trabalho até para poder afirmar que mesmo tendo uma proposta clara e uma intenção ao produzir os trabalhos, eles não precisariam ser explicitamente óbvios. O trabalho artístico não carrega a obrigação de ter que revelar sua original e real intenção de ser.

Trabalho feito pela aluna Joana (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Os alunos que terminavam o trabalho colocavam no chão para que eu pudesse tirar foto e depois deixavam na estante junto com os outros trabalhos. Os primeiros a terminarem os trabalhos atrapalharam um pouco porque ficaram conversando e brincando, então quando quase todos já haviam terminado, pedi que eles ajudassem a guardar as coisas enquanto eu tirava as fotos dos últimos trabalhos. Eles conseguiram organizar quase todas as coisas antes do sinal tocar e deixei que ficassem conversando enquanto eu colocava as coisas no carrinho que eu havia levado.

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3.3.5 Quinto encontro

Aula 5 Datas: 08/10/12 Horário: Das 16:10 às 16:55

Tema da aula: Desvendando o subjetivo mundo da publicidade.

Conteúdos: Obra do artista Nelson Leirner. Publicidade. Subjetividade.

Lista de atividades: Leitura de imagem da foto de reprodução da instalação de Nelson Leirner. Análise de alguns materiais publicitários. Produção de cartazes em grupos com as análises dos materiais publicitários.

Objetivos: Desenvolver a capacidade de refletir acerca da intenção de uma produção contemporânea articulando relações com a realidade. Estimular a análise e a percepção de que as imagens publicitárias são produzidas com uma finalidade.

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Compartilhar opiniões com os colegas sobre o que pode ser identificado de subjetivo nas imagens publicitárias analisadas, produzindo um cartaz com o registro dessas conclusões.

Metodologia: Leitura de imagem. Expositiva dialogada. Trabalho em grupo.

Materiais e recursos a serem utilizados: Reprodução colorida tamanho A3 da instalação de Nelson Leiner. Imagens impressas de campanhas publicitárias e embalagens de produtos. Tiras de papel. Cola. Papel pardo.

Avaliação: Espera-se que os alunos participem falando suas interpretações sobre a obra exposta e analisem as imagens publicitárias conseguindo chegar ao entendimento acerca do propósito das imagens em propagandas.

Planejado: Cumprimentarei os alunos, farei a chamada e fixarei a imagem da instalação de Nelson Leiner. Comentarei sobre as assemblages que vimos nas aulas anteriores e direi que objetos prontos também podem ser utilizados em uma composição pensada em determinado ambiente e se caracterizar como instalação que é outra linguagem usada na arte contemporânea. Explicarei que a imagem exposta trata-se de uma 95


fotografia de uma instalação feita pelo artista Nelson Leiner e solicitarei que olhem atentamente para que me digam o que acham que significa a obra. Num primeiro momento, estimularei que os alunos citem os elementos que identificam na obra e logo depois solicitarei que me digam o que acham que aqueles elementos organizados daquela maneira podem representar. Duas questões serão abordadas: A primeira questão é que podemos dizer sobre o que a imagem daquela obra nos faz pensar, ou seja, a interpretação própria e a outra questão é dizer o que cada um acha que o artista quis mostrar com a obra, ou seja, a intenção do artista. Expondo para a turma que essas duas questões abordadas são válidas na hora de analisar uma obra de arte, eu deixarei que eles façam seus comentários por alguns minutos. Tempo previsto: 20 minutos. A partir dessa leitura de imagem, será proposto que os alunos façam relação com a realidade pensando sobre o consumo, propaganda, mídia, etc. Explicarei que nas propagandas e embalagens de produtos é comum o uso de subjetividade com imagens e slogans que são produzidos com a intenção de persuadir um público alvo. Direi que estas propagandas e embalagens acabam sendo associadas a mensagens que incentivam o consumo do produto em questão e atingem o público alvo muitas vezes sem que as pessoas percebam. Salientarei que, acima de tudo, a intenção da publicidade e da propaganda é incentivar o desejo para o consumo do que está sendo divulgado. E que esta subjetividade se refere ao que não está prontamente declarado, ao que é subentendido e não explicitado claramente. Após fazer essas explicações, eu distribuirei impressões coloridas de campanhas publicitárias e de embalagens de produtos para os alunos e solicitarei que se reúnam em grupos de no máximo cinco alunos. Direi para os alunos analisarem aquelas imagens e pedirei para eles escreverem nas tiras de papel que distribuirei a conclusão sobre o que pode estar subentendido naquelas imagens de publicidade e propaganda que receberam. Solicitarei que colem as imagens e as conclusões que escreveram no papel pardo para que possamos expor na parede da sala de aula. Tempo previsto: 35 minutos.

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Nelson Leirner (Fonte: http://imediata.org/?p=550)

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Realizado: O sinal para trocar de período não tocou porque tinha faltado luz na escola. Como a turma estava na biblioteca, fui até lá avisar para a professora que estava com eles que já estava no horário da troca de período. A professora liberou os alunos e fomos para a sala de aula. Algumas mesas na sala de aula estavam organizadas em grupos e como eles já estavam começando a recolocá-las nos lugares eu disse que eles poderiam deixar as mesas do jeito que estavam. Quando todos já tinham se acomodado, pedi que a turma me dissesse o que tínhamos feito nas últimas aulas. Eles falaram que fizeram máscaras e que representaram o que gostavam e o que não gostavam. Então eu perguntei o que eram os trabalhos que eles tinham produzido. Uma aluna disse que eram trabalhos sobre o que tinham escrito na máscara e outro aluno falou que era o trabalho que representava o que eles gostavam e o que não gostavam. Eu perguntei se eles lembravam como eram as obras que eu havia mostrado e o que elas tinham em comum. Alguns falaram sobre a boneca que tinha em uma das obras e de outras “coisas”. Então eu perguntei 98


como se chamava este tipo de obra em que os artistas utilizavam elementos prontos como as que tínhamos visto e qual era, afinal, o nome do trabalho que tínhamos feito e sua principal característica. Como nenhum aluno respondeu, eu falei que se eles tivessem levado para aquelas aulas aquilo que eu tinha pedido que levassem talvez se lembrassem do tipo de trabalho que era, pois não se tratava apenas de representar o que tinham escrito nas máscaras ou apenas de trabalharem com tinta. Uma das questões principais era a utilização de qualquer elemento pronto para compor o trabalho e que isso era característica de uma linguagem que os artistas contemporâneos também utilizam chamada assemblage. Precisei interromper por um momento essa conversa inicial porque, a pedido do professor titular de artes, vários alunos da outra turma começaram a entrar e largar no chão da sala os instrumentos da banda da escola que eles usam para as aulas de música e a turma ficou eufórica achando que eles tocariam. Quando o professor entrou na sala e me viu, disse que tinha errado (provavelmente querendo dizer que tinha esquecido que eu daria aula), que era falha dele e pediu desculpas. Ele deixou ali no chão mesmo os instrumentos e foi sentar em uma classe no fundo da sala. Os alunos ficaram perguntando se eles poderiam tocar. Então eu falei sobre a necessidade de que eu cumprisse as atividades planejadas

seguindo

um

cronograma

e

a

importância

da

atividade

que

desenvolveríamos naquela aula para que o assunto que estávamos trabalhando tivesse uma continuidade. Os alunos aceitaram meu pedido, mas a turma ficou bastante agitada depois disso e foi difícil conseguir a concentração de todos durante as explanações referentes aos conteúdos da aula. Mostrei a imagem da instalação de Nelson Leirner e disse que ali também havia a presença de coisas prontas como em uma assemblage, mas por ocupar um determinado espaço, ou seja, ser instalada em um lugar era nomeada como instalação. Destaquei a afirmação de que a obra do artista era a presença daqueles elementos organizados em um espaço, em uma exposição e que, portanto o que eu estava mostrando não era a reprodução da obra e sim a fotografia da obra que estava instalada em um local específico para que fosse vista daquela maneira como estava colocada lá e não “para ser pendurada, por exemplo, em uma moldura ou na parede como aqui está”. 99


Primeiro pedi que cada um fosse me dizendo alguma coisa que conseguia identificar na fotografia daquela instalação e no momento que eu ia passando para mostrar mais de perto, os alunos iam citando os elementos: “Latas, bandeira, embalagens, carrinho de supermercado, lixo, etc.” Deixei que cada um dissesse o que estava vendo e depois disse que gostaria que alguns falassem sobre o que aquela obra comunicava a eles, o que aqueles elementos organizados daquela maneira transmitiam, ou seja, ao verem a obra, no que pensavam. Fui chamando alguns alunos para dizerem sobre o que eu havia proposto e precisava várias vezes chamar atenção de outros que ao mesmo tempo conversavam. Teve um aluno que citou “recicláveis” e comentei que podia dar essa impressão de se tratar de reciclagem porque nitidamente percebe-se que o artista em sua obra utilizou-se de embalagens e latas vazias, mas salientando o fato de que estas embalagens estavam dentro de um carrinho de supermercado e perguntando o que é que fazíamos com este tipo de carrinho, alguns citaram “compras”. Depois que alguns falaram sobre as ideias que a obra transmitia a eles como, por exemplo, a ideia de “compras” e de “reciclagem”, eu disse que tinha outra questão que poderia se levar em consideração em uma análise de uma obra, que seria a intenção do artista. Perguntei o que eles achavam que o artista quis mostrar e o que consideravam ser a intenção do artista ao produzir esta instalação. Então fui direcionando a imagem e pedindo que alguns falassem sobre isso. Os comentários que surgiram foram: “Quis mostrar que o Brasil está cheio de lixo.” “Que estamos comprando muito.” “Compras.” “O lixo que produzimos.” Fui até o quadro e escrevi a palavra “compras” e levantei a questão se precisamos realmente de tudo que compramos. Falei que tem uma coisa que muitas vezes está extremamente relacionada ao nosso ato de comprar e que é o papel da publicidade: Propaganda. Escrevi no quadro, abaixo da palavra “compras”, as palavras “publicidade”, “propaganda”, “mídia” e “subjetividade”. Um aluno perguntou o que era mídia e eu na hora não disse meios de comunicação que acho que seria uma resposta mais clara e direta. Falei que na televisão, por exemplo, não transmitem apenas programação, que no intervalo das programações são veiculadas propagandas que são usadas para divulgação de uma marca. Como eu fiquei em dúvida sobre a eficiência da 100


minha explicação, complementei que isso acontecia no rádio também e já conduzi o assunto para a última palavra da listinha que eu tinha escrito no quadro. Perguntei se alguém sabia o que era subjetividade, e todos disseram que não. Então mostrei algumas das imagens de propagandas e produtos que eu tinha levado e perguntei qual era a intenção da publicidade daquelas marcas em fazer as letras daquelas cores, a escrita daquele jeito e por que na propaganda usavam determinadas imagens ou slogans. Quando mostrei a propaganda do refrigerante Dolly, alguns alunos começaram a cantar uma musiquinha do comercial e aproveitei para comentar também sobre as músicas relacionadas às marcas, perguntando qual era a intenção dessas musiquinhas nas propagandas. Uma aluna falou “é pra grudar na nossa cabeça” e outra aluna falou “é chamar atenção”. Eu então fiz as perguntas: “Por que eles querem que a musiquinha grude na nossa cabeça? Por que eles querem chamar a nossa atenção?” Nenhum aluno respondeu então falei: “Querem chamar nossa atenção para que a gente...”, e uma aluna enfim completou a frase dizendo “compre”. Então eu disse que isso era subjetividade, uma coisa que estaria escondida, não claramente exposta, tanto que eles tinham demorado a se darem conta da real intenção da musiquinha, por exemplo. Porém agora percebo que o certo seria que eu não tivesse feito referência à subjetividade e sim a um poder de sugestão que é a grande busca da publicidade. Acredito que este seria um termo que se encaixaria melhor naquilo que eu pretendia abordar nesta aula e, portanto, um dos objetivos seria: Compartilhar opiniões com os colegas sobre o que pode ser identificado de sugestivo nas imagens publicitárias analisadas, produzindo um cartaz com o registro dessas conclusões. Visto isso, o tema da aula seria mais assertivo se fosse: Desvendando o sugestivo mundo da publicidade. Então mostrei as outras imagens e disse que a proposta era que eles olhassem com atenção aquelas imagens e que tentassem perceber a intenção de cada elemento, cor, slogan, etc. escrevendo essas informações na tira de papel que eu distribuiria. Como a turma estava um pouco mais agitada do que normalmente neste dia, optei por não pedir que fizessem as análises em grupo. Distribui as imagens e as tiras de papel e alguns alunos disseram que não tinham entendido. Expliquei mais uma vez dizendo que tendo em vista que aquelas marcas queriam vender, qual seria o motivo de elas terem usado aquelas imagens para 101


fazer a propaganda? Percebi que muitos alunos ainda estavam confusos e ainda tive que explicar individualmente para alguns. Talvez eles tenham custado para entender o assunto que estava sendo abordando na aula porque estavam muito agitados e desconcentrados ou quem sabe este assunto seja complexo demais para pretender que alunos de sétimo ano do ensino fundamental compreendam em uma aula. Mesmo que o assunto seja complexo e que eu tenha me deparado com uma ligeira confusão na explicação dos conteúdos, considero que não poderia deixar de abranger este assunto durante o projeto porque este é um assunto que permeia muitos conceitos e linguagens nas manifestações artísticas contemporâneas. Vivemos diariamente cercados por imagens e precisava destacar em alguma aula a respeito da importância de analisar e entender o quanto somos induzidos pelas imagens das propagandas. Entender que o nosso consumo é, sim, bastante induzido por imagens de propaganda é um caminho para conseguir se livrar dessa indução. Como Paulo Freire afirma no livro Pedagogia da autonomia “Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele” (FREIRE, 1996, p. 31). Esta é uma reflexão que Paulo Freire tece acerca de uma busca pela consciência e aceitação deste condicionamento como um meio de lutar contra ter que ser determinado. Com o objetivo de que os alunos pudessem ter consciência da presença de uma intenção na produção das imagens também no “mundo” da publicidade, pretendia instigá-los a refletir sobre o poder que as imagens têm em nossas vidas. Assunto também explorado pelos artistas da Pop Art que se valeram de imagens da sociedade de consumo em suas produções. Acredito ser importante desenvolver com os alunos a percepção que todas as imagens podem ser analisadas e que às vezes precisamos pensar em buscar o entendimento da intenção de uma imagem como forma de escapar da indução articulada pelos sugestivos mecanismos elaborados que tentam conduzir nossas vontades. Percebo que foi mais fácil para a maioria dos alunos falar sobre as obras de arte que foram apresentadas até então, do que falar sobre as imagens de publicidade e propaganda desta aula. Parece que fica difícil conseguir desassociar aquela imagem da 102


marca referida, fazendo uma análise das formas, cores ou mensagens sem que o produto seja lembrado, o que reforça a meu ver o domínio da propaganda na mente dos jovens. É isso que percebo quando o aluno Fábio cita apenas que o salgadinho é bom.

Trabalho feito pelo aluno Fábio (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Essa questão pode também ser observada no comentário do aluno Cristian em que ele na verdade apenas reforça exatamente o que esta marca pretende, que seria chamar atenção para um nome próprio de alguém ao invés do nome da marca, pretendendo simular assim uma relação que dá a ideia de ser interpessoal.

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Trabalho feito pelo aluno Cristian (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Considerei interessante o trabalho da aluna Jennifer, porque ela se posiciona criticamente e constata a presença de uma mensagem de felicidade com o logotipo da marca. O aluno Denílson também escreve sobre a felicidade que está sendo sugerida pelo slogan da Coca-cola, dizendo inclusive que a marca pretende indicar que se alguém está triste pode alcançar a felicidade ao tomar o refrigerante.

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Trabalho feito pela aluna Jennifer (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Trabalho feito pelo aluno Denílson (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Toda imagem da publicidade pode ser interpretada e pensada de forma a decifrar a quem ela se destina e qual mensagem está querendo transmitir. Eu poderia ter facilitado o entendimento sobre essa questão se de repente tivesse escrito isso no quadro finalizando com uma pergunta do tipo: “O que esta imagem está querendo transmitir?” Digo isso porque percebi que na turma há alguns alunos que são inseguros e que na hora de realizar alguma atividade sempre querem a confirmação do que é para ser feito e também há aqueles que são dispersos e que não prestam atenção no momento em que estou fazendo a explicação da proposta, sendo que em ambos os casos a escrita da proposta da aula no quadro facilitaria bastante. Talvez seja assertivo falar também que os alunos em geral dão maior importância para a atividade quando esta não é apenas falada. Uma coisa que eu poderia ter aproveitado foi um comentário que uma aluna fez sobre o slogan usado pela Pepsi. Ela comentou que o “pode ser” da propaganda da Pepsi era uma coisa que realmente acontecia quando as pessoas iam comprar 106


refrigerante. Este slogan advém de uma propaganda que foi bastante veiculada nos meios de comunicação há pouco tempo atrás e representava alguém indo comprar refrigerante e o garçom dizia: Só tem Pepsi. Pode ser? Na encenação desta propaganda se percebe uma nítida alusão ao que realmente identificamos acontecer quando ao pedir um refrigerante em um bar, por exemplo, Coca-Cola,

o garçom

oferece alguma marca similar à que foi pedida, neste caso, a Pepsi. Assim como as técnicas e os conteúdos escolares, as tecnologias e as mensagens expressas pelas mídias também são submetidas a um prévio trabalho de seleção. A partir de critérios do mercado, procura-se escolher informações, narrativas ou saberes pelos quais a sociedade de certa forma se interessa. Em outras palavras, para se conquistar audiências ou um público consumidor fiel a seus produtos, a cultura das mídias deve se preocupar em exercer um trabalho contínuo de escuta, deve estar aberta a travar diálogos com seu público (SETTON, 2010, p.108).

Visto isso, poderia ter salientado sobre o constante “diálogo” com a vida das pessoas em que a publicidade se ancora. Destacando que um dos principais objetivos da propaganda é fazer sentido na vida das pessoas com uma narrativa que proporcione a impressão de sermos os protagonistas, poderia ter conduzido para uma reflexão sobre que o viés modelador da produção da propaganda encontra-se na teia de relações do público alvo.

Trabalho feito por uma aluna (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Embora eu possa considerar que a maioria dos trabalhos feitos atingiu o objetivo com os alunos tendo identificado ao menos uma mensagem positiva que teria o propósito de estimular a compra daquele produto anunciado na imagem daquela publicidade, fiquei um pouco insatisfeita com a aula porque percebi que a minha apropriação deste conteúdo ainda era um pouco superficial e que eu deveria ter estudado mais sobre esta temática para conduzir melhor as reflexões acerca do assunto. Verificando que não é novidade a intenção que as mídias têm de exprimir uma ideia, percebo que o desconhecido está em como estas ideias são digeridas de acordo com o mundo pessoal de cada um. Portanto, faço a constatação de que seria mais coerente se eu tivesse feito referência a essa busca de tentar revelar como é que se manifesta em cada um esse estímulo da publicidade. Percebendo agora mais claramente que é esse o enfoque de cunho realmente subjetivo deste conteúdo vejo que o correto seria estimular a percepção de que é essa reflexão que muitas vezes não acontece na relação produto/consumo/consumidor. Quando a maioria dos alunos já tinha escrito nas tiras de papel, solicitei que fossem colando no papel pardo junto com a imagem e disse que os que já haviam colado poderiam sair para o lanche. O desenvolvimento desta aula oportunizou que eu fosse tecendo reflexões conjuntamente com os alunos acerca do assunto da aula, acredito que a riqueza do diálogo e as relações não autoritárias em torno de um conhecimento podem sempre proporcionar uma antítese e uma nova tese. Esse crescimento em torno de um conhecimento só é possível se aceitamos que há um momento de instabilidade. Ouso dizer que na verdade é nesta instabilidade, a partir da incerteza, no ato de desconstruir é que se concebe um conhecimento mais fundamentalmente sólido. Portanto afirmo que minha ideia sobre o conteúdo que abordei em aula adquiriu agora uma profundidade bem maior do que antes. Concluo com o pensamento: “Mais importante do que saber é nunca perder a capacidade de aprender” (GADOTTI, 2008, p.70) que advêm de uma das máximas do educador Paulo Freire e que me serve de inspiração na minha caminhada docente porque a ideia de que o educador enquanto ensina também aprende acompanha o meu entendimento de que para ser professor é preciso 108


desenvolver a capacidade de ser humilde e assumir-se enquanto ser em constante aprendizado.

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3.3.6 Sexto encontro

Aula 6 Datas: 26/10/12 Horário: Das 14:25 às 15:10

Tema da aula: Vera Chaves Barcellos e a crítica de arte

Conteúdos: Vida e obras de Vera Chaves Barcellos. Crítica de arte e mediação nos museus.

Lista de atividades: Assistir ao documentário “Imagens em migração: Uma exposição de Vera Chaves Barcellos” com a duração de vinte e seis minutos. Relatos. Explanação sobre interpretação e julgamento de obras de arte, crítica de arte e mediação em museus.

Objetivos: Conhecer a vida e a obra da artista Vera Chaves Barcellos visando despertar o interesse pela Fundação desta artista e a valorização de um espaço local destinado à exposição de arte contemporânea. Oportunizar que alguns alunos comentem sobre a produção artística de Vera Chaves Barcellos e/ou assuntos referentes ao documentário assistido viabilizando contrastar percepções individuais e comentários distintos. 110


Proporcionar a reflexão acerca do papel da crítica de arte e sobre a importância concedida às interpretações de quem supostamente se considera portador de maior conhecimento sobre arte.

Metodologia: Exposição do documentário. Aula expositiva dialogada.

Materiais e recursos a serem utilizados: Documentário “Imagens em migração: Uma exposição de Vera Chaves Barcellos”. Data show. Note book.

Avaliação: Espera-se que os alunos assistam ao documentário com atenção e que possa ser observado algum interesse vindo dos alunos pelas obras da artista Vera Chaves Barcellos. Espera-se também que os alunos demonstrem envolvimento durante a explanação e diálogos sobre crítica de arte.

Planejado: Logo depois dos cumprimentos e chamada, já iniciarei o documentário pedindo que todos prestem bem atenção para que consigam fazer comentários posteriormente. Tempo previsto: 30 minutos. Depois de assistir todo o documentário “Imagens em migração: Uma exposição de Vera Chaves Barcellos”, eu incentivarei que alguns alunos comentem sobre o que

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consideraram interessante ou que destaquem algum assunto referente às questões abordadas no documentário. Quando alguns alunos já tiverem falado, eu comentarei sobre as duas questões que foram abordadas na aula passada referentes às maneiras diferentes de analisar uma obra. Relembrarei que a primeira questão seria: Analisar alguma obra falando sobre o significado que esta obra pode ter para a gente e ao que ela pode nos remeter. A segunda questão seria: Analisar o que consideramos ser a intenção do artista e o que acreditamos ser o propósito que ele teve. Então, farei referência a uma parte do documentário em que a artista cita o papel da crítica de arte. Abordarei a questão de analisar alguma obra de arte de acordo com a opinião e a interpretação de pessoas que se presume que têm um conhecimento consistente sobre o meio artístico: críticos de arte, curadores, mediadores, etc. Depois de ter comentado sobre os mediadores em museus que, principalmente na arte contemporânea, orientam o público nas visitações e contribuem com explicações sobre as obras, incentivarei que eles reflitam sobre até que ponto devemos considerar que estas pessoas “detêm” a verdade. Afirmarei que não se pode negar o conhecimento que pessoas como os críticos e mediadores têm sobre as obras de que falam por provavelmente terem uma formação específica em artes e devido a isso merecem respeito em suas considerações, mas salientarei que o que não pode acontecer é deixar que o contato do público com a arte fique limitado e dependente apenas do intermédio e veredito dessas pessoas. Farei a leitura, então, de um trecho do livro de Fernando Cochiaralle sobre a arte contemporânea e pedirei que reflitam a respeito disso: O problema é que essas pessoas usam um único verbo: Entender. Entender significa reduzir uma obra à esfera inteligível. Eu nunca ouvi ninguém dizer: Eu não consegui sentir essa obra. Como as pessoas tem medo de sentir, elas entendem, reduzem sua relação ao ato inteligível e, por isso, esperam pelo socorro do suposto farol da opinião daqueles que sabem: Historiadores, filósofos, críticos, artistas, curadores, etc. (Cocchiarale, 2006, p.14).

Para os relatos e explanação depois do documentário o tempo previsto é: 15 minutos.

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Realizado: Antes de dar o sinal para começar o período, eu fui até a biblioteca da escola e já deixei as cadeiras, a televisão e o aparelho de DVD preparados para passar o documentário “Imagens em migração”. Quando tocou o sinal, eu fui até a sala de aula e chamei a turma pedindo que eles fossem para a biblioteca porque assistiríamos um documentário. Quando todos já tinham se ajeitado nos lugares disponíveis, eu solicitei que prestassem bastante atenção para que pudéssemos absorver o máximo de informação possível do documentário que tinha apenas vinte e seis minutos de duração e que, portanto não era muito tempo. Falei também que gostaria que eles entendessem para que no final pudéssemos comentar. Escrevi em um quadro branco fixado na parede ao lado da televisão o nome da artista em questão e iniciei o documentário. Durante o documentário, a maioria da turma ficou atenta e em silêncio. Apenas algumas vezes alguns alunos começavam a conversar um pouco e quando continuavam e eu percebia que a conversa era sobre assuntos que não condiziam com o momento, eu ficava olhando com feição de desagrado por alguns instantes para estes alunos que estavam conversando e isso os fazia silenciar. Precisei fazer isso umas três vezes com duplas ou trios distintos de alunos para manter o silêncio na turma durante a exibição do documentário. Em algumas partes do documentário, os alunos às vezes falavam alguma coisa que estava sendo mostrada, considerando legal, estranho ou manifestando que não tinham entendido, e eu apenas fazia uma breve intervenção, esclarecendo alguma questão com a intenção de ajudar no entendimento dos processos de produção das obras mostrados no documentário. Uma das partes do documentário que na hora os alunos se manifestaram considerando legal foi quando a artista estava mostrando sua obra impressa em placas de acrílico que ficavam em um suporte que permitia modificálas de posição. Uma das partes do documentário que tive que dar uma rápida explicação foi quando a artista falava sobre sua obra “Epidermic”, porque teve um aluno que comentou não ter entendido. Então expliquei que era como se o corpo carimbasse o papel e aquele papel “carimbado” era digitalizado e ampliado. 113


Quando acabou o documentário, eu falei sobre que a artista Vera Chaves Barcellos havia fundado o primeiro espaço, da cidade de Viamão, destinado à exposição de arte. Para evitar que os alunos ficassem confusos com a palavra fundação, falei: “O único museu de Viamão” com o intuito de que todos entendessem sobre o que me referia. Quando falei isso, percebi o espanto dos alunos e já imaginava o total desconhecimento da presença de uma fundação destinada à arte na cidade. Então, expliquei onde ficava, disse que era aberta ao público e que justamente por ser um local infelizmente ainda desconhecido é que pretendia levá-los para fazer uma visitação no final das nossas aulas. A turma demonstrou-se bastante empolgada e pude perceber que ficaram curiosos em conhecer a fundação e a artista Vera Chaves Barcellos. Incentivei que alguns alunos comentassem sobre o que tinham considerado interessante ou que destacassem algum assunto referente às questões abordadas no documentário e os alunos foram falando sobre as obras que lembravam. Os alunos falaram sobre as obras que acharam interessantes, mas nenhum aluno fez referência a algum tipo de comentário sobre as questões artísticas mais reflexivas ou questões conceituais abordadas no documentário. Depois de alguns comentários, eu perguntei se eles recordavam-se das duas questões que tínhamos abordado na aula passada referentes às maneiras diferentes de analisar uma obra. Falei que na aula passada, diante da instalação de Nelson Leirner, eu pedi que primeiramente eles analisassem a obra falando sobre o que ela significava para cada um e que depois eu tinha pedido que eles analisassem a obra dizendo sobre o que consideravam ser a intenção do artista e o que acreditavam ser o propósito que ele teve. Então falei que agora eu incluiria outra questão que havia sido abordada no documentário, e perguntei: “Que comentário a artista fez a respeito de quando aquela obra dos nadadores foi exposta? Ela falou que teve alguém que escreveu elogiando a obra e que inclusive atribuiu um significado para a obra que ela nem mesmo havia pensado. De quem ela falou?” Uma aluna respondeu que ela havia falado sobre um crítico de arte, eu elogiei e disse que era justamente papel dos críticos de arte tecer ideias e opiniões a respeito de alguma obra e que o julgamento e a interpretação dessas pessoas que supostamente têm um conhecimento maior do que o nosso é 114


deveras muito importante no meio artístico. Porém, salientei que seria péssimo que as pessoas dependessem apenas dos críticos para elaborarem suas opiniões acerca de uma obra de arte. Eu interrompia as explicações, vez que outra, para pedir a colaboração de alguns alunos que conversavam, mas a maioria da turma estava atenta. Citei que cada vez é mais comum notar que as pessoas quando vão visitar um museu, principalmente quando se trata de arte contemporânea, ficarem dependendo que os mediadores do museu expliquem o significado de determinada obra. Uma aluna, então, perguntou quem eram os mediadores e expliquei que são aquelas pessoas que provavelmente são formadas ou estudantes de artes que foram contratadas para explicar ao público sobre as obras ali expostas. A aluna disse: “Ah sei! Mas não sabia que o nome era esse.” Ao continuar minha explanação, comentei que não havia nenhum problema ouvir as explicações dos mediadores sobre alguma obra, muito pelo contrário, que isso até na verdade era positivo, pois era uma forma de conhecer e entender a arte. Mas salientei que o impróprio era quando as pessoas ficam dependentes apenas dessas explicações para ter o contato com a arte. Disse que eu leria para eles um trecho retirado de um livro sobre arte contemporânea que justamente falava sobre isso e li o trecho que eu tinha selecionado a respeito da crítica de arte do livro “Quem tem medo da arte contemporânea?” Depois que eu fiz a leitura, perguntei o que eles tinham entendido e um aluno disse “que as pessoas são preguiçosas e não querem pensar”. Eu considerei o comentário e complementei dizendo que o contato com a arte não pode se dar exclusivamente pelo ato de entender. Quando fiz essa consideração, deu o sinal para acabar o período e eu disse que continuaríamos essa reflexão na próxima aula. Faço uma avaliação positiva da postura da turma durante o documentário, porque na maioria do tempo eles permaneceram atentos e demonstraram interesse pelas obras da artista, que era uma intenção que permeava o objetivo de despertar o interesse pela Fundação Vera Chaves Barcellos. Também considero positivo o espanto demonstrado pelos alunos quando falei do museu em Viamão porque isso gerou curiosidade em saber sobre a existência da 115


Fundação Vera Chaves Barcellos em Viamão, instigando o interesse na possibilidade de uma futura visitação junto com a turma. Infelizmente, devido a conversas paralelas, ainda preciso pedir algumas vezes a colaboração dos alunos principalmente durante as explicações, mas acredito que isso não impede que os objetivos sejam atingidos porque além de incentivar o interesse pela artista em questão e pela fundação, consegui iniciar uma reflexão acerca da crítica e mediação na arte, inserindo assim um novo ponto de vista nas argumentações a serem abordadas com a turma referentes ao projeto que está sendo desenvolvido. Abordar a questão sobre alguém dizer algo sobre determinada obra que não necessariamente refere-se àquilo que o artista pretendeu mostrar com aquela obra é uma reflexão que deve ser lançada em aula caso haja pretensão de se contribuir na formação de habilidades voltadas à leitura visual dos alunos. Acredito que se essa permitida, digamos assim, incoerência não for tratada claramente, corre-se o risco de termos alunos sempre buscando o óbvio, falando o que já foi dito, nunca se encorajando a buscar novas e inusitadas interpretações pessoais. Ou seja, teremos alunos inseguros e sempre dependentes que alguém diga o que significa aquilo que veem. Essa reflexão que pretendi conduzir encontra certa referência no chamado “coeficiente de arte” que, segundo Cristina Freire, foi usado por Duchamp para se referir à relação de proporções quase matemáticas na criação de uma obra: Essa fração seria resultante da relação entre o que o artista desejou manifestar e ficou latente na obra, de um lado, e aquilo que o observador apreende do trabalho, mas que não foi deliberadamente intencionado pelo artista, de outro (FREIRE, 2006, p. 35).

Com essa abordagem pretendo, além de estimular a reflexão sobre as distintas interpretações e julgamentos da arte, tentar encorajar que os alunos desenvolvam autonomia e que articulem interpretações pessoais sem que tenham medo de se aventurar neste universo artístico. “É dever do educador apresentar uma útil seleção de possibilidades.” (BARBOSA, 2010, p. 39) E são justamente essas múltiplas possibilidades na elaboração e análise artística que podem desenvolver um teor filosófico no ensino da 116


arte e vislumbrar a possibilidade do enriquecimento de uma capacidade reflexiva oportunizando que a aprendizagem se torne mais abrangente.

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3.3.7 Sétimo encontro

Aulas 7 e 8 Data: 09/10/12 Horário: Das 13:40 às 15:10

Tema da aula: O conceitual na arte.

Conteúdos: Obra “Testarte” da artista Vera Chaves Barcellos. Obra sem título de Julio Plaza. Arte conceitual.

Lista de atividades: Leitura de imagem de duas obras da série “Testarte” de Vera Chaves Barcellos e de uma obra sem título de Julio Plaza. Explicação sobre arte conceitual. Sorteio de temáticas. Registro escrito das ideias surgidas nos grupos. Trabalho de colagem em grupo.

Objetivos:

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Estimular a fruição e a compreensão das obras selecionadas com o intuito de desenvolver a prática interpretativa assim como valorizar e enriquecer a experiência estética de cada aluno. Promover o conhecimento sobre a Arte Conceitual e o entendimento sobre suas características a partir da análise das obras selecionadas e outros exemplos. Proporcionar um diálogo em grupo para contrastar ideias distintas ou identificar pensamentos similares sobre determinada temática a fim de definir os conceitos que serão utilizados para o trabalho de colagem. Expressar as ideias que surgiram no grupo com um trabalho de colagem que visa oportunizar que os alunos, inspirados nas obras de Vera Chaves Barcellos e de Julio Plaza, sintam-se propositores de uma reflexão referente à temática do grupo.

Metodologia: Leitura de imagem pela via de acesso iconográfica. Aula expositiva dialogada. Trabalho em grupo.

Materiais e recursos a serem utilizados: Duas reproduções tamanho A3 da série “Testarte” de Vera Chaves Barcellos. Reprodução tamanho A4 da obra sem título de Julio Plaza. Palavras impressas: Consumo, poluição, beleza, violência, cidade e futuro, para sorteio. Folha para registro escrito. Revistas. Tesouras e colas. Folhas duplo ofício.

Avaliação: 119


Espera-se que os alunos participem da aula com comentários e que demonstrem interesse pelos assuntos abordados sobre crítica de arte, mediação nos museus e arte conceitual. Com o trabalho em grupo, espera-se que realmente conversem sobre o assunto referente à temática sorteada e que demonstrem interesse na produção do trabalho.

Planejado: Cumprimentarei os alunos, farei a chamada e relembrarei sobre o documentário assistido na aula anterior, fazendo uma retomada sobre crítica e mediação em arte. Tempo previsto para este momento inicial: 10 minutos. Fixarei no quadro duas imagens da série “Testarte” de Vera Chaves Barcellos e uma imagem de uma obra sem título de Julio Plaza. Pedindo que os alunos observem, encorajarei para que falem livremente sobre algo que gostariam de considerar sobre as obras. Depois que alguns alunos tiverem falado, eu conduzirei para que seja analisado o que poderia estar simbolizando a imagem daquelas obras, o motivo dessas imagens terem sido escolhidas por esses artistas, ou seja, uma leitura de imagem pela via de acesso iconográfica. A partir disso, farei uma explanação sobre arte conceitual e algumas de suas características. Direi que nesta tendência, voltada para o conceitualismo, o que se valoriza é a primazia das ideias e não tanto o aspecto estético da obra e justamente essas são as características que podem ser encontradas nessas obras analisadas. Darei alguns exemplos de obras conceituais como “Quem matou Herzog?” de Cildo Meireles e “Trouxas ensanguentadas” de Artur Barrio explicando um pouco sobre que essas obras produzidas em um contexto de ditadura militar no Brasil, assim como tantas outras desse período, tiveram intenções que podem ser consideradas questionadoras por provocarem uma intervenção de cunho social e político, além de emergirem como rompimento de paradigmas estéticos da arte. Tempo previsto para leitura de imagem e explicação sobre arte conceitual: 30 minutos.

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Então será feito um sorteio de seis temáticas para serem exploradas em um trabalho em grupo: Consumo, poluição, beleza, violência, cidade e futuro. Direi que num primeiro momento faremos um registro escrito e que depois faremos um trabalho de colagem, explicando que o objetivo é que o trabalho tenha um discurso conceitual. Direi que deverá expressar as ideias e opiniões do grupo sobre o tema sorteado, solicitarei que o grupo primeiro converse sobre os assuntos que surgirem referentes à temática sorteada para registrarem as ideias que surgirem em uma folha e que somente depois comecem a procurar as imagens que considerarem úteis para compor o trabalho. Explicarei que não é necessário que cheguem a um consenso, ou seja, não é preciso que todos tenham a mesma opinião sobre o assunto. O trabalho que será feito pode justamente tentar mostrar esses diferentes pontos de vista, então darei a sugestão de que o papel que foi distribuído para o registro seja passado entre o grupo e que um por vez escreva uma ou duas linhas sobre o que acha do assunto e que depois estes registros sejam lidos para todos. Reforçarei a informação de que este trabalho de colagem deverá ser feito em um período e direi que todos do grupo deverão colaborar para compor uma imagem tamanho A3, com recortes de revistas e de jornais que justapostas em uma montagem não apenas transmitam a mensagem, ou as mensagens que o grupo registrou, mas que estimulem o espectador a responder perguntas mentais, a pensar a respeito de determinadas coisas ou a fazer opções e escolhas. Salientarei que abaixo da colagem que os grupos produzirem, deverá constar algum registro escrito parecido com o que foi lido na obra “Testarte” de Vera Chaves Barcellos. Depois dessas explicações, eu deixarei que conversem sobre o assunto por alguns minutos para que façam os registros escritos, logo depois já disponibilizarei as revistas e solicitarei que comecem com o trabalho. Tempo previsto: 50 minutos.

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Julio Plaza, 1976. (Fonte: http://gramatologia.blogspot.com.br/2009/09/encarte-lei-seca.html)

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Vera Chaves Barcellos, 1976. (Fonte: educativo.fvcb@gmail.com)

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Vera Chaves Barcellos, 1976. (Fonte: educativo.fvcb@gmail.com)

Realizado: Tocou o sinal para iniciar o período, fui até a sala de aula, cumprimentei os alunos e fiz a chamada. Relembrando os alunos do documentário sobre Vera Chaves Barcellos que assistimos na aula passada, perguntei se eles lembravam-se de uma parte em que a artista comentou sobre o papel da crítica de arte falando sobre o comentário de um crítico que elogiou sua obra e atribuiu significados que nem mesmo ela havia pensado. Alguns sacudiram a cabeça afirmativamente e eu então instiguei se isto estava certo: 124


“Dizer algo sobre uma obra diferente daquilo que o artista teve em mente para produzila?” Percebi que alguns alunos ficaram em dúvida com minha pergunta, então completei que havia várias possibilidades de analisar uma obra e que dentre essas possibilidades não havia o certo e o errado e que era por isso que eu havia lido aquele trecho de um livro sobre arte contemporânea que questiona uma relação com a arte que dependa unicamente do intermédio de uma mediação. Disse que eu até tinha ficado na dúvida se deveria ler para eles aquele trecho que critica a mediação em museus, visto que pretendia levá-los para verem uma exposição de arte em que justamente haveria uma mediação. Aproveitei para falar sobre a data e as autorizações para a visitação à Fundação Vera Chaves Barcellos e afirmei que obviamente eles deveriam prestar bastante atenção na mediação durante a exposição e que isso estava longe de ser considerado errado porque provavelmente a pessoa que está no papel de mediador, falando sobre determinada obra, tem um conhecimento sobre o que está falando e com certeza aprenderemos muito ouvindo. Porém, disse que o questionamento que tinha levado era com a intenção de refletir o fato de uma relação com a arte acabar se reduzindo a apenas ouvir explicações. Reforcei que proporcionar essa reflexão era o motivo de eu ter abordado com a turma essa questão e fiz um apelo para que todos se encorajassem a tecer suas próprias impressões e ideias acerca de uma obra. Afirmei que não havia motivos para ter medo de uma errônea interpretação, porque é de novas relações pessoais que a cada momento a arte é refeita. Neste momento provoquei com a pergunta: “Se apenas ficássemos sempre aceitando o que era dito como certo, possível e existente, por acaso descobriríamos coisas novas?” Perguntei ainda: “Será que tudo já foi inventado? Tudo já foi dito e descoberto? Quem vai inventar e descobrir coisas novas? Thomas Edison, Santos Dumont, Salvador Dali?” Falei esses nomes aleatoriamente, completando apenas com a informação de que já haviam morrido e mesmo que provavelmente não soubessem quem especificamente haviam sido aqueles a que me referi, entenderam o sentido das minhas provocações porque ao final alguns responderam “nós”. Concordei com a resposta e completei dizendo: “Aqueles dispostos a pensar e ousar ir além.”

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Fixei no quadro duas obras da série "Testarte” de Vera Chaves Barcellos e expliquei que na FVCB não iríamos ver as obras da artista, e sim a exposição Julio Plaza. Disse que uma das obras que faz parte da exposição eu pretendia ter conseguido imprimir para mostrar à turma, mas como tive problema com a impressora, expliquei que faria uma imitação para eles poderem ter uma ideia do que se tratava essa obra e também para poderem refletir sobre alguns conceitos que iria abordar. Ao dizer isso, peguei um palito de fósforo, acendi e deixei que apagasse logo. Em seguida fixei este palito com um pedaço de fita crepe em uma folha A3 e olhando para turma eu disse: “Pronto. Está é a obra!” Quando fiz isso teve uma aluna que disse: “Ah, isso eu também faço!” Então eu disse que era muito interessante essa questão e que a arte contemporânea por ser feita muitas vezes com poucos elementos ou de maneira simples, propõe muitos questionamentos inclusive trazendo uma reflexão do que afinal poderia ser considerado arte. Ao falar sobre isso eu disse que citaria exemplos de obras consideradas conceituais que também mexeriam com questões como essa. Citei “Quem matou Herzog?” de Cildo Meireles e “Trouxas ensanguentadas” de Artur Barrio e expliquei um pouco sobre que essas obras produzidas em um contexto de ditadura militar no Brasil tiveram intenções que podem ser consideradas questionadoras por provocarem uma intervenção de cunho social e político, além de emergirem como rompimento de paradigmas estéticos da arte. Expliquei então que a questão que gostaria de abordar era referente ao que poderiam estar significando os elementos identificados nas obras ali expostas, quais pensamentos aquelas obras remetiam e poderiam estar simbolizando e salientei que justamente a profundidade dessas ideias é que tornavam essas obras valorizadas no meio artístico. Complementei dizendo que obras como essas que tinham o conceito e as ideias como principais norteadores para sua produção poderiam ser caracterizadas como conceituais. Então pedi que dissessem o que imaginavam que significava a obra de Julio Plaza e uma aluna disse que o artista queria queimar a obra, perguntei porque e ela disse que o fósforo simbolizava o fogo. Outra aluna disse que o artista queria “fazer a gente pensar”, mas quando perguntei sobre o que o artista queria que pensássemos, ela não soube completar a resposta. Outro aluno disse que o artista poderia ter feito 126


essa obra para ver se iriam mesmo considerar arte, se as pessoas por considerarem ele um artista aceitariam tudo que fizesse. Eu completei dizendo que poderia se tratar, então de uma provocação sobre o que as pessoas consideram arte ou sobre quem deve dizer o que é afinal arte. Eu completei com outras provocações do tipo: “A propaganda me diz que tal coisa é boa e que vai me deixar feliz, então aceito como verdade e compro? Ou, todos dizem que o azul é bonito e por isso também tenho que achar o azul bonito e não posso querer o vermelho?” Depois que fiz essas provocações uma aluna fez o comentário “nós precisamos ter opinião própria e pensar pela nossa cabeça” o que me deixou bem animada porque pude perceber nesse comentário uma autonomia crítica que gostaria de ter percebido na aula em que abordei a publicidade e a propaganda como possuidores de um forte apelo sugestivo. Os alunos demonstraram-se bem participativos e contribuíram com vários comentários bastante pertinentes durante minhas explicações e, quando acabou a aula, pela primeira vez fiquei pensando que seria interessante que eu tivesse um gravador para não esquecer os diversos comentários dos alunos. Peguei uma das reproduções da série “Testarte” por vez e aproximei de um aluno pedindo que lesse em voz alta, depois fui chamando alguns alunos para que dissessem o que achavam e eles foram bem participativos. Alguns alunos responderam a pergunta contida na obra, uma aluno citou alguns lugares onde achava que talvez aquelas fotografias tinham sido feitas, outra aluna disse que “fazer a gente pensar” era o propósito daquela obra e o comentário que considerei mais reflexivo foi o da aluna Hellena que relacionou a obra com um momento artístico que a artista poderia estar passando e disse que a obra estaria representando esta busca por uma nova expressão onde a artista se via fazendo escolhas e as vezes indecisa em permanecer como estava ou descobrir novas possibilidades. Acredito que o fato de ter dois períodos juntos e, portanto um tempo mais confortável para o diálogo possa ter contribuído para uma participação mais satisfatória, mas, sinceramente, suponho ter sido relevante minhas explicações e espero que o desenvolvimento do projeto tenha contribuído para proporcionar o entendimento de que podem existir diversos pontos de vista, diferentes tipos de análise e principalmente conseguir despertar o interesse dos alunos em tecer suas próprias relações com a arte. 127


A respeito dos momentos de argumentações discorridas durante a aula sobre a arte contemporânea e sobre a relevância de uma ruptura de alguns padrões estéticos, posso dizer que mesmo que uma aluna tenha se manifestado diante da “simplicidade” da obra de Julio Plaza, pude perceber que a maioria dos alunos considerou interessante que as obras de arte tivessem um caráter inusitado na maneira de representar algo ou no seu discurso e, portanto fiquei satisfeita em diagnosticar que a maioria foi capaz de perceber que a simplicidade de uma obra pode levar a riquíssimas interpretações contrapondo-se a algo dado prontamente e de imediato sem que se precise refletir. Durante minhas explicações sobre essas questões, teve uma aluna que inclusive citou a obra “É proibido dobrar à esquerda” de Rubens Gerchmann, dizendo considerar mais interessante porque provoca uma reflexão, do que uma obra mais acadêmica como a obra de Bouguereau que eu estava mostrando para exemplificar esta ruptura na estética da qual eu falava. Por último, temos o critério mais inusual: a ideia de que a obra de arte deve ser saboreada, que requer para isto uma concentração de significados que advêm de sua complexidade. A obra para ter qualidade estética deve ter o poder de sumarizar múltiplos significados. Daí se conclui que uma obra de significado único, evidentemente percebido à primeira olhada, não tem a qualidade estética de saboreo para o espectador. Ele a deglute de imediato (BARBOSA, 2010, p. 44).

É nesse critério, mais inusual a respeito de uma análise do objeto artístico proposta por Samuel Messick e Philip Jackson, que considero encontrar o mote da abordagem que viso promover porque considero que “o saboreo” advêm do poder de sumarizar da obra, da sua condensação que implica a possibilidade do observador exercitar sua capacidade de criar múltiplas interpretações” (BARBOSA, 2010, p. 45). Quando tocou o sinal para o nosso segundo período, eu me apressei em explicar o trabalho de colagem e disse que o trabalho que faríamos seria inspirado na obra “Testarte”. Fiz o sorteio das temáticas e disse que o trabalho seria com imagens de jornais e revistas, mas salientei que o mais importante não seria a colagem em si e sim as proposições pensadas pelo grupo porque a intenção era que o trabalho tivesse um discurso conceitual. Expliquei que em primeiro lugar o grupo deveria conversar um pouco sobre as ideias que surgissem sobre o tema e que depois eles deveriam registrar na folha que eu distribuiria o que haviam conversado. Eu disse que não era necessário 128


que todos do grupo tivessem a mesma opinião sobre o assunto porque o trabalho poderia justamente tentar mostrar uma divergência de ideias em torno do tema e, portanto disse que minha dica era que passassem a folha para que todos do grupo escrevessem. Alguns alunos não focaram em conversar sobre a temática, então eu disponibilizei as revistas e propus que eles já começassem a recortar imagens que pudessem servir para o trabalho. Disse que teríamos apenas aquele período e que todos do grupo deveriam ajudar. Apenas o grupo da temática sobre consumo que teve o registro escrito por dois alunos, os outros grupos preferiram que apenas um aluno escrevesse. No geral considero que os registros escritos ficaram muito superficiais e embora os grupos sobre a violência e sobre a poluição tenham escrito demonstrando uma criticidade um pouco maior, minha pretensão era que os alunos conseguissem elaborar uma reflexão um pouco mais significativa sobre cada assunto. Aqueles que mais se distanciaram da proposta na parte escrita foi o grupo sobre o consumo porque o registro escrito não teve consonância com o sentido que eu pretendia que a palavra consumo tivesse e, portanto, percebo que é sempre necessário disponibilizar tempo para conseguir proporcionar um atendimento mais individualizado que possa sanar eventuais equívocos.

Registro escrito do grupo da temática consumo (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Trabalho de colagem do grupo com a temática consumo (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Observei um distanciamento entre o registro escrito e o trabalho de colagem no grupo com a temática violência porque uma aluna do grupo escreveu uma reflexão focada em uma violência verbal e as colagens não pareceram se propor a elucidar essas ideias. A respeito disso posso considerar que o grupo não conversou apenas aquilo que registraram na escrita, provavelmente eles falaram sobre muitas outras formas de violência que não foram contempladas no registro. A fragilidade de uma formação voltada a desenvolver alunos que se expressam bem com a escrita pode ter 130


contribuido para que os grupos não tenham produzidos registros significativos e que dessem conta de todas as questões que provavelmente foram abordadas nas conversas durante o trabalho sobre as temáticas. Também nos grupos sobre o consumo e sobre a cidade percebi a elaboração de coisas distintas no registro escrito e na colagem o que me faz, portanto, considerar três opções: A primeira é que talvez os alunos não tenham entendido que a intenção do trabalho era que o registro escrito fosse um impulso criador para a composição da imagem e por isso talvez não tenham focado em articular a ideia registrada com o trabalho de colagem. A segunda opção é considerar a dificuldade encontrada em retratar e expressar uma opinião tramitando entre tipos diferentes de linguagem. E por fim, a terceira opção é a já citada dificuldade na escrita que nitidamente se percebe ao ler os registros dos grupos. Ao inferir sobre a dificuldade de tramitar entre o oral, o escrito e o artístico pode-se considerar que devido ao grau de exigência e o envolvimento com o conteúdo que esse processo requer, talvez essa dificuldade pode ser verificada quando a proposta envolve relações de conceitos que não estão prontos e que devem ser tramados por eles próprios. É um processo que exige dos alunos capacidades de relacionar/ comparar que não vejo serem suficientemente trabalhadas na escola. Não é algo simples e identifico que se trata de uma competência que precisa ser trabalhada durante toda a formação do educando e não em apenas uma aula. Reconheço que eu até poderia ter reservado um tempo maior para ajudar os grupos nesse processo, porém não me arrependo de ter utilizado o período anterior inteiro para os diálogos a respeito da arte conceitual porque justamente devido ao tempo disponível é que foi possível que tantos alunos contribuíssem com comentários bastante válidos para a discussão em que pude perceber um satisfatório envolvimento com o tão almejado teor reflexivo que se insere na justificativa da minha prática de ensino.

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Registro escrito do grupo da temática violência (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho de colagem do grupo com a temática violência (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Registro escrito do grupo da temática poluição (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Trabalho de colagem do grupo com a temática poluição (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Registro escrito do grupo da temรกtica cidade (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Trabalho de colagem do grupo com a temática cidade (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Considero como positiva a participação e envolvimento dos alunos tendo em vista o primeiro período, mas fiquei insatisfeita com o resultado das colagens porque ficaram parecendo apenas cartazes e não um trabalho artístico. Chego à conclusão de que eu deveria ter levado alguns exemplos de trabalhos feitos com colagens para que os alunos conseguissem visualizar o tipo de trabalho que eu pretendia que eles elaborassem e também, presumo que se a folha fosse um pouco menor evitaria que os alunos deixassem tantos espaços vazios ou que utilizassem o espaço como se fosse um cartaz. Como já estava no final do nosso segundo período de aula, certamente precisaríamos de outra aula caso eu fosse me deter em buscar com os grupos produções visualmente mais elaboradas, então priorizando uma sequência didática do 136


projeto, mais uma vez optei por aceitar o que foi desenvolvido naquela aula, mesmo sabendo que poderia ser mais bem explorado. A respeito disso, percebo que meu projeto em nenhum momento pretendia explorar um assunto e desenvolvê-lo ao máximo, proporcionando que os alunos se tornassem ao final das aulas grandes conhecedores de determinado conteúdo. Em cada aula abordava algum enfoque que de certa forma permeia a arte contemporânea. Abordando alguns conceitos, algumas linguagens e possibilidades tinha em vista despertar o interesse dos alunos pela arte, além de encorajar a reflexão e não a simples aceitação dos conceitos abordados. Com tudo isso pretendia que os alunos desenvolvessem autonomia e pudessem pensar acerca da arte contemporânea. Promovendo possibilidades, estimulava que os alunos saíssem de cada aula com ao menos uma certeza: é uma possibilidade. Isso me faz perceber que, vários conteúdos abordados nas aulas poderiam ser assuntos para serem explorados em várias outras aulas. Este fato, por um lado, muitas vezes me fez ficar insatisfeita porque via que determinados assuntos poderiam ser mais aprofundados, mas por outro lado tinha claro que esta não era a intenção do projeto. Não considero negativo desenvolver e focar em apenas um assunto, muito pelo contrário, acho mais produtivo deter-se na qualidade do que na quantidade. Mas pretendia ir além, proporcionar uma visão ampla e principalmente reflexiva. Não gostaria de reduzir o foco detendo-me em determinado conteúdo ou selecionando um recorte específico e sim pretendia ampliar a visão dos alunos para quem sabe encorajar os futuros contatos que estes alunos virão a ter com a arte.

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3.3.8 Oitavo encontro

Aula 9 Data: 21/11/12 Horário: Das 12:55 às 13:40

Tema da aula: Visita à Fundação Vera Chaves Barcellos.

Conteúdos: Obras do artista Julio Plaza.

Lista de atividades: Visita guiada pela exposição Julio Plaza: Construções poéticas.

Objetivos: Oportunizar que os alunos conheçam a Fundação Vera Chaves proporcionando que tenham um contato direto e mediado com as obras de arte de Julio Plaza. Incentivar que os alunos obtenham interesse na continuidade de um processo de fruição estimulando futuras visitas à instituição.

Metodologia: Leitura de imagem espontânea. Mediação.

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Materiais e recursos a serem utilizados: Ônibus de transporte. Obras da exposição: Construções poéticas de Julio Plaza.

Avaliação: Espera-se que, durante a visitação à exposição, os alunos demonstrem interesse em observar as obras e que além de permanecerem atentos às explicações da mediação, busquem interpretar e fazer relações de uma maneira pessoal.

Planejado: Farei a chamada pela lista de autorizações, embarcarei os alunos no ônibus e, durante a visita à exposição, solicitarei que os alunos prestem atenção nas explicações da mediadora. Incentivarei que observem as obras a fim de que consigam tecer relações e interpretações próprias para que, se quiserem, possam compartilhar com os colegas. Tempo previsto: 45 minutos.

Realizado: Quando tocou o sinal para começar o período, o ônibus já estava esperando na frente da escola e chamei os alunos para que eu pudesse fazer a chamada pela lista dos que haviam entregado as autorizações. Dois alunos que ainda não tinham entregado as autorizações vieram correndo me entregar, e então os adicionei na lista. Conferi a lista e junto com outra professora da turma, partimos em direção à Fundação Vera Chaves Barcellos. No ônibus, reforcei a explicação de que a exposição era de obras do artista Julio Plaza e que haveria uma mediadora ou um mediador que guiaria a visitação. Falei que eles ficassem bem atentos às explicações complementando que não gostaria que eles apenas ouvissem a mediação, mas que procurassem também observar as obras em busca de relações próprias. Quando estava dizendo isso, percebi que os alunos que 139


estavam sentados na parte de trás do ônibus não estavam prestando atenção porque alguns estavam conversando, então depois que terminei de falar, fui para o fundo do ônibus e repeti para os alunos que estavam mais atrás. Chegando à Fundação, pedi que os alunos deixassem as mochilas e lanches dentro do ônibus e, ao descermos, fomos recebidos pelo mediador que se apresentou para os alunos e nos encaminhou até a entrada da exposição onde fez uma explicação de algumas informações contidas no painel cronológico com a foto do artista Julio Plaza. Os alunos ficaram bem silenciosos e a maioria demonstrou interesse. Alguns alunos mais ansiosos se anteciparam em olhar o espaço e as outras obras ao redor já no momento em que o mediador fazia a apresentação inicial da exposição. O mediador disse então que primeiro todos ficariam juntos para fazer o percurso guiado porque ele iria comentar a respeito de algumas obras e falou que depois disso, eles iriam poder olhar livremente as obras que eles quisessem. Ao falar isso, ele pediu que os alunos confirmassem se todos prestariam atenção em silêncio e os alunos afirmaram que sim. O mediador foi conduzindo então os alunos e às vezes parava em frente a alguma obra dizendo o nome, a técnica utilizada e fazia algumas explicações teóricas a respeito de alguns conceitos artísticos em torno da obra referida. Ele fez comentários a respeito da Op Art, Movimento concreto, Arte postal, holografia, apropriação, etc. Durante algumas explicações do mediador, alguns alunos começavam a conversar por um momento e quando eu percebia que estavam muito dispersos, eu fazia alguma intervenção solicitando que mantivessem o silêncio. Não gostaria que eles se dispersassem conversando sobre outras coisas, mas com certeza não atrapalhariam se falassem a respeito do que estávamos vendo. Quando eu intervinha solicitando silêncio, na maioria das vezes, eu não dizia nada, apenas olhava para aqueles que conversavam e fazendo uma expressão de desaprovação, fazia o gesto de silêncio apontando para o mediador e para as obras que na hora estávamos observando. Pretendia evitar que se dispersassem, mas de forma discreta, sem expô-los e sem interromper o mediador que seguia as explicações e para isso as vezes eu me aproximava daqueles que conversavam para fazer essa intervenção. Mas agora, 140


pensando a respeito, considero que eu deveria, sim, ter interrompido um pouco a mediação e solicitado que os alunos participassem ou que perguntassem alguma coisa. Acho que eu fiquei esperando, pensando que o mediador reservaria um momento destinado

a perguntas, e como isso não ocorreu, fiquei um pouco frustrada neste

aspecto. É claro que esse fato não faz com que a visitação deixe de ter valor para o desenvolvimento do projeto e principalmente como contribuição para a formação dos alunos. Considero que proporcionar aos alunos um contato com a arte contemporânea em um espaço destinado à exposição de arte, tem um valor estimável e este é o maior objetivo pretendido de inevitável alcance desta proposta. Durante toda a visitação guiada, a maioria dos alunos manteve o silêncio, mas não participaram muito com comentários ou dúvidas, acredito que tenha faltado incentivo neste sentido por parte do mediador. Dentre os poucos comentários, teve um aluno que logo no início da visitação falou que parecia que em algumas obras as imagens se moviam, uma aluna disse que gostaria que fosse permitido mexer no livro “Poemóbile” e outra aluna exclamou que eles já tinham visto aquela obra em aula quando chegaram ao andar de cima e depararam-se com uma obra sem título feita com um palito de fósforo colado com fita crepe. Eu achei graça que todos foram para perto olhar essa obra quando a aluna salientou que era aquela obra que em aula eu havia reproduzido. Os alunos ficaram olhando com uma expressão de admiração parecendo não acreditar que realmente estava exposta uma obra daquele tipo. Eu fiquei apenas os observando e certamente deixei transparecer minha satisfação em vê-los parados por uns instantes contemplando uma obra como essa. O que estariam pensando? Eu não perguntei. Mas agora vejo que de repente eu poderia ter aproveitado esse momento para pedir que alguns alunos falassem o que eles pensavam a respeito. Afinal eu salientei que eles deveriam considerar as intervenções do mediador, mas deixei claro que também deveriam pensar a respeito das obras buscando uma interpretação pessoal. A partir desta atitude dos alunos, eu comprovo que ver uma reprodução de uma obra em sala de aula não substitui a relação de vê-la pessoalmente em um espaço específico destinado à arte, embora também possa considerar que o fato de eu ter apresentado a obra em aula certamente contribuiu para esse interesse. 141


Depois que o mediador passou com a turma por todas as obras, ele disse que os alunos podiam olhar novamente as obras que quisessem e então os alunos se espalharam pela exposição. Neste momento, percebi que teve alguns alunos que conversavam sobre as obras que novamente iam olhando, alguns que passavam olhando rapidamente as obras sem demonstrar muito interesse e outros que caminhavam pelo espaço conversando sobre outros assuntos. Para olhar um livro do artista que era preciso que colocassem luvas, um dos alunos por vez colocava as luvas, enquanto os outros que estavam juntos permaneciam em volta como se quisessem comprovar a experiência daquele colega ao manusear o livro. Até alguns alunos que viram o livro enquanto o colega manuseava quiseram colocar as luvas para poder pegar o livro. Considero que foi bastante produtivo eles conhecerem uma instituição localizada na própria cidade destinada à exposição de Arte Contemporânea e percebi que a maioria da turma achou interessante diversas obras que observaram. Porém avalio que a intervenção da mediação poderia ter sido mais provocativa e menos informativa porque pude constatar que depois de algum tempo os alunos já demonstravam estar cansados de ouvir tantas explicações teóricas e já não prestavam tanta atenção como no início da visitação. Não se pode esquecer que mediar implica a presença do sujeito fruidor como um todo. Isso significa não apenas provocar o seu olhar cognitivo, como também conscientizá-lo de todas as nuances presentes na obra ou em sua relação com ela; acima de tudo, promover um contato que deixe canais abertos para os sentidos, sensações e sentimentos despertados, para a imaginação e a percepção, pois a linguagem da arte fala e é lida por sua própria língua. Talvez seja esse o espaço do silêncio externo, com falas internas nem sempre traduzíveis (MARTINS, 1998, p.76).

A respeito disso, posso inferir que quando se tem uma intenção de promover um contato com a arte que vá além do entendimento formal e a pretensão de estimular que espectadores desenvolvam a capacidade de fruição, uma mediação deve ser conduzida de forma a proporcionar momentos que as palavras muitas vezes não conseguem traduzir e não são necessárias numa relação com o que se vê.

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Visita á exposição “Construções poéticas” de Julio Plaza (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Visita à exposição “Construções poéticas” de Julio Plaza (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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3.3.9 Nono encontro

Aulas 10 e 11 Data: 28/11/12 Horário: Das 13:40 às 15:10

Tema da aula: Produzir imagens interessantes que cativem o espectador.

Conteúdos: Neoconcretismo. Pop Arte. Obra sem título de Julio Plaza. Composição gráfica.

Lista de atividades: Explicação sobre as características do movimento Neoconcreto, Pop Arte e análise das obras selecionadas. Trabalho prático individual com as placas de isopor. Registro escrito da análise da imagem do trabalho produzido por um colega.

Objetivos: Promover o conhecimento sobre o Neoconcretismo, Pop Arte e elucidar a respeito de apropriações de imagens em composições de obras contemporâneas a partir da observação e análise da obra de Julio Plaza. 144


Desenvolver a capacidade de pensar na produção do trabalho evidenciando a preocupação em obter um resultado gráfico interessante utilizando o princípio de xilogravura com as placas de isopor e inspirando-se nos conceitos teóricos abordados. Analisar o trabalho produzido por algum colega demonstrando capacidade de refletir acerca da composição em geral, da qualidade visual ou da intencionalidade da imagem.

Metodologia: Aula expositiva. Trabalho prático individual com as placas de isopor. Leitura de imagem individual de um trabalho produzido por algum colega.

Materiais e recursos a serem utilizados: Reprodução colorida tamanho A3 da obra “Relevos espaciais” de Helio Oiticica. Reproduções coloridas tamanho A4 das obras “Parangolé” de Helio Oiticica, “Bichos” de Lygia Clark e obra sem título de Julio Plaza. Livros de Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e Carlos Vergara com obras da vertente Pop Arte. Placas de isopor, rolinhos de espuma, tintas plásticas coloridas, colheres de pau, cordão, palitos e prendedores.

Avaliação: Espera-se que os alunos demonstrem interesse pelas explicações e imagens apresentadas e evidenciem uma preocupação em produzir trabalhos que possam ser considerados graficamente interessantes utilizando o princípio de xilogravura com as placas de isopor.

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Planejado: Cumprimentarei os alunos, farei a chamada e fixarei no quadro as reproduções das obras “Parangolé” e “Relevos espaciais” de Helio Oiticica e “Bichos” de Lygia Clark escrevendo acima dessas obras “Movimento neoconcreto”. Fixarei uma obra sem título de Julio Plaza e escreverei acima as palavras “apropriação” e “paródia”. Colocarei os livros de Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e Carlos Vergara abertos nas páginas onde há imagens de obras que podem ser consideradas de vertente pop e escreverei “Pop Arte” próximo ao local onde eu colocar os livros. Tempo previsto: 10 minutos. Depois que as obras estiverem fixadas, eu começarei dizendo que eu faria as últimas explicações teóricas e reforçarei que todas as informações que até agora já tinham sido abordadas nas aulas estariam na avaliação que eles fariam na próxima aula. Salientarei que essa avaliação poderia ser feita em duplas, que seria objetiva (de múltipla escolha), com apenas uma questão dissertativa e que valeria como nota de recuperação para aqueles que não fizeram alguns trabalhos, portanto reforçarei que seria bom que todos fizessem com o intuito de obter nota máxima porque seria bem tranquilo acertar as respostas corretas. Depois disso, direi que antes da produção do último trabalho prático e para que possamos organizar uma exposição com esses trabalhos, pretendo abordar os últimos conceitos a respeito daquelas obras que havia exposto no quadro e completarei que minha intenção era que essas últimas explicações pudessem contribuir para a produção de trabalhos com uma forma visual atrativa. Então eu apontarei para as obras “Parangolé” e “Relevos espaciais” de Helio Oiticica e “Bichos” de Lygia Clark, lerei o termo “Movimento neoconcreto” e pedirei que observem para que percebam a intenção que esses artistas tinham em fazer com que o público participasse e se envolvesse na obra. Explicarei que a proposta para a exposição dos nossos trabalhos, a exemplo do Neoconcretismo, é desejar a participação do público, mas uma participação relacionada ao querer ver, despertar o interesse das pessoas que passam e propor que se desloquem para analisar o que está exposto. Direi que para as pessoas terem vontade de olhar e analisar as imagens que colocaremos em exposição gostaria que produzissem formas figurativas ou não figurativas com a principal intenção de produzir 146


imagens interessantes que chamem a atenção e despertem o interesse do público. Direi que para isso talvez sejam necessárias mais de uma tentativa na busca por formas interessantes que considerem que chamarão a atenção do espectador. Apontando para a obra de Julio Plaza, direi que também é possível que se apropriem de imagens de obras de arte já conhecidas e explicarei que Julio Plaza produziu aquela obra “juntando” obras dos artistas Victor Vasarely e Frank Stella com um personagem de história em quadrinhos. Mostrando algumas obras dos livros de Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e Carlos Vergara, direi que também faz parte da contemporaneidade o movimento chamado Pop Arte que justamente caracteriza-se por uma incorporação de elementos do cotidiano e da sociedade de consumo. Citarei que os artistas dessa vertente utilizam como temática os quadrinhos, cinema, ícones populares, acontecimentos ou imagens em evidência no momento e com isso acabam aproximando esses trabalhos artísticos do público. Tempo previsto: 30 minutos. Depois dessas explicações, eu comentarei que o trabalho que faremos será uma espécie de xilogravura, mas com placas de isopor e, portanto se alguém for usar alguma imagem já existente, essas imagens não precisam ser feitas tal e qual elas realmente são porque elas podem ser uma reinterpretação pessoal ou serem desenhadas com a intenção de reduzir os elementos e formas originais. Ao dizer isso, eu mostrarei dois exemplos prontos e já explicarei como será o processo de riscar com o palito na placa de isopor, passar o rolinho com tinta e esfregar a colher de pau para pressionar a folha no isopor. Tempo previsto: 5 minutos. Depois das orientações a respeito de como fazer o trabalho, direi que cada um poderá produzir mais de uma imagem até que fiquem satisfeitos com o resultado, desde que não excedam o tempo estipulado de trinta minutos. Pedirei que os alunos coloquem nome e pendurem no cordão que estenderei na sala para essa finalidade. Tempo previsto: 30 minutos. Quando eu perceber que a maioria já tiver feito ao menos uma imagem, comentarei que nos trabalhos que tínhamos feito até agora nas aulas anteriores havíamos tentado expressar através de imagens (pinturas, assemblages, imagens de revistas) algum pensamento que tínhamos escrito. Explicarei que também propus a 147


produção destas imagens com a intenção de inverter esse processo e solicitarei que troquem uma imagem que produziram com algum colega para analisar e escrever sobre essa imagem. Direi que depois que trocarem a imagem com algum colega eles devem escrever em uma folha separada o que vem à mente quando olham a imagem e devem identificar o nome do colega que produziu a imagem analisada. Para salientar a orientação desta atividade, eu escreverei no quadro: “Escrita de palavras ou frases que consideram caracterizar a imagem que estão analisando. Analisar formas, cores, composição das imagens, harmonia, intencionalidade, etc.” Tempo previsto: 15 minutos.

Helio Oiticica, 1960 – 1963. (Fonte: http://www.grandmastolemycloset.com/2012_04_01_archive.html)

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Helio Oiticica, 1965. (Fonte: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=856&titulo=Parangole:_antiobra_de_Helio_Oiticica)

Lygia Clark, 1960.

(Fonte: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/lygia-clark-da-pintura-aos-objetostridimensionais.htm)

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Julio Plaza, 1975. (Fonte: http://www.bolsadearte.com/oparalelo/a-poetica-de-julio-plaza)

Rubens Gerchmann, 1966. (Fonte: MAGALHテウS, 2006, P. 84)

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Claudio Tozzi, 1967. (Fonte: MAGALHテウS, 2007, P. 58)

Claudio Tozzi, 1967. (Fonte: MAGALHテウS, 2007, P. 60 e 61)

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Carlos Vergara, 1967. (Fonte: VERGARA, 2010, P. 128)

Realizado: Cumprimentei os alunos, fiz a chamada e fixei no quadro as reproduções das obras “Parangolé” e “Relevos espaciais” de Helio Oiticica e “Bichos” de Lygia Clark escrevendo acima dessas obras “Movimento neoconcreto”. Fixei uma obra sem título de Julio Plaza e escrevi acima as palavras “apropriação” e “paródia”. Também coloquei encostado ao quadro os livros de Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e Carlos Vergara abertos nas páginas onde havia imagens de obras que podem ser consideradas de vertente pop e escrevi logo acima: “Pop Arte”. Depois que as obras estavam fixadas, eu comecei dizendo que faria as últimas explicações teóricas e reforcei que todas as informações que até agora já tinham sido abordadas nas aulas estariam na avaliação que eles fariam na próxima aula. Disse que antes da produção do último trabalho prático e para que pudéssemos organizar uma 152


exposição com esses trabalhos, pretendia abordar os últimos conceitos a respeito daquelas obras expostas no quadro e completei dizendo que minha intenção era que essas últimas explicações também contribuíssem para a produção de trabalhos que obtivessem uma forma visual atrativa. Então, eu apontei para as obras “Parangolé” e “Relevos espaciais” de Helio Oiticica e “Bichos” de Lygia Clark, e falei sobre o Movimento Neoconcreto, ressaltando a preocupação dos artistas desse movimento em envolver o espectador em suas obras. Expliquei cada uma das obras dizendo o nome e suas características e pedi que observassem para que percebessem que essas obras tinham em comum essa intenção de fazer com que o público participasse e se envolvesse na obra, sendo que essa relação espectador-obra era o que completava o sentido e “criava” a obra. Apontando para a obra de Julio Plaza, disse que uma possibilidade que vários artistas contemporâneos utilizam é o que se pode chamar de apropriação, porque se apropriam de imagens já existentes. Como exemplo disso, falei que Julio Plaza produziu aquela obra “juntando” obras dos artistas Victor Vasarely e Frank Stella com um personagem de história em quadrinhos da Marvel. Alguns alunos falaram um pouco sobre alguns comentários do mediador diante desta obra e, confusos, disseram que o artista tinha feito esta obra por causa da guerra nos Estados Unidos. Então expliquei melhor especificadamente sobre o personagem Capitão América e disse que a história que o mediador havia falado era sobre este personagem que foi usado como um símbolo para realçar o poder americano para a população durante a segunda guerra mundial. Então outra aluna disse que na verdade aquele não era o Capitão América da Marvel porque o uniforme era diferente e estava faltando o escudo então brinquei dizendo que realmente aquele não era o Capitão América da Marvel, era do Julio Plaza e provoquei afirmando que o Mickey que eu desenhei no meu caderno era meu porque eu havia desenhado. Eu disse: “Tá certo que desenhei observando um desenho que já existe, mas eu fiz do meu jeito, então é meu!” E complementei falando que essa era uma ideia que também era levada em consideração no movimento artístico chamado Pop Arte e mostrando as obras dos livros de Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e Carlos Vergara, disse que naquelas obras podia-se observar também um tipo de apropriação, mas de elementos do cotidiano e da sociedade de consumo do país daquela época: 153


cinema, futebol, imagens conhecidas, fotografias de notícias de jornal (que proporcionava certo teor político), etc. Citei que os artistas dessa vertente utilizam como temática os quadrinhos, cinema, ícones populares, acontecimentos ou imagens em evidência do momento, com a intenção de aproximar esses trabalhos artísticos do público e torná-los mais populares. Quando disse que esse era o apelo “pop” daquelas obras, uma aluna se impressionou em saber que “pop” significava popular. Expliquei então que a proposta para os nossos trabalhos, a exemplo do Neoconcretismo, era desejar a participação do público, mas uma participação relacionada ao querer ver, despertar o interesse das pessoas que passam e propor que se desloquem para analisar o que está exposto. Disse que para que as pessoas tenham vontade de olhar e analisar as imagens que colocaremos expostas, gostaria que produzissem formas figurativas ou não figurativas com a principal intenção de produzir imagens atrativas que chamem atenção e despertem o interesse do público. Falei que para isso talvez fosse necessário que fizessem mais de uma tentativa na busca por formas interessantes que considerassem chamar atenção do espectador. Comentei que o trabalho que faríamos seria uma espécie de xilogravura, mas com placas de isopor, expliquei que na xilogravura o desenho é feito em placas de madeira e “riscado” com goivas afiadas e que por ser arriscada a utilização em sala de aula, imitaríamos este processo utilizando isopor e palitos. Ao dizer isso eu mostrei como deveria ser feito pedindo que todos prestassem atenção para que logo após, eles já começassem a fazer os seus desenhos. Depois das orientações, pedi que fossem pegando os materiais e fui auxiliando para que se organizassem com as tintas, rolinhos, isopores, etc. Salientei que eles poderiam produzir mais de uma imagem, se não tivessem ficado satisfeitos e pedi que fossem pendurando as folhas dos trabalhos com prendedores no cordão que eu colocaria na parede ao lado de fora da sala de aula. Na minha opinião, os alunos demonstraram estar bem empolgados com a técnica e não se dedicaram tanto no traçado do desenho, visto que muito rapidamente alguns alunos fizeram algum desenho e já começaram a passar tinta para ver a impressão no papel. Claro que estes que logo se apressaram em imprimir no papel não tiveram um bom resultado e precisei auxiliar vários alunos fazendo com eles a 154


constatação do que havia sido feito de forma equivocada. Dentre as tentativas frustradas, a maioria era problema no traçado do desenho que havia sido feito sem ter a profundidade necessária do traço, desta maneira eu orientava que limpassem a matriz e traçassem novamente o desenho para que as linhas ficassem mais marcadas. Houve

muito

desperdício

de

material

porque

aqueles

alunos

que

apressadamente fizeram desenhos precipitados, em vez de elaborarem melhor seus desenhos, pegaram outras placas de isopor mesmo sem antes consultar minha opinião. Não houve problema de falta de material porque havia o suficiente, mas isso explicita como no geral os alunos têm dificuldade em se concentrar, ter calma e manter o foco para elaborar alguma coisa que foi orientada. Exemplo disso foi que imediatamente depois da minha breve explicação demonstrativa de como se fazia o processo para gravar no papel, um aluno pegou o isopor, passou tinta no rolinho e já iria passar no isopor sem sequer ter feito o desenho, então precisei intervir demonstrando novamente, porque ele não havia entendido. Posso considerar isso um reflexo do imediatismo em que vivem, uma falta de disposição para a aprendizagem ou apenas falta de atenção? Ou quem sabe um pouco de cada um desses itens contribua para esta falta de foco constatada. É claro que nem todos os alunos foram precipitados e aqueles que permaneceram elaborando suas matrizes de isopor após eu ter organizado todos os materiais e estendido o cordão com os prendedores, puderam receber de minha parte uma atenção mais especial e então pude comentar sobre a possibilidade de produzir diferentes texturas, falar sobre a escrita invertida, o negativo e positivo no desenho, etc. Alguns alunos não produziram imagens que possam ser consideradas satisfatórias, mas a maioria destes alunos foi em busca de um resultado melhor. A maioria fez várias tentativas, mas mesmo assim muitos não conseguiram superar todas as dificuldades apresentadas na elaboração do trabalho. O que me faz inferir que este processo de desenhar na placa de isopor é mais um trabalho que também, assim como outros que desenvolvi neste projeto, pode ter uma continuidade em busca do aperfeiçoamento da técnica e de um melhor desenvolvimento de habilidades específicas para o desenvolvimento da atividade. Uma questão que poderia interferir no resultado das produções dos alunos de forma positiva seria considerar o uso de outro 155


tipo de tinta mais adequado para esse tipo de trabalho. Neste caso, em vez de usar tinta plástica, me parece que tinta óleo daria nas placas de isopor uma cobertura mais uniforme e, por conseguinte um melhor acabamento. No trabalho da aluna Milena, eu percebi que ela ficou insatisfeita com sua produção, principalmente em virtude da escrita invertida, mas ao produzir outro trabalho em busca de melhor resultado, ela resolveu simplesmente suprimir as palavras em vez de tentar superar essa dificuldade.

Impressão da aluna Milena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Impressão da aluna Milena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Muitos alunos usaram duas cores nas suas matrizes, o que eu achei que deu um resultado interessante, mas alguns não conseguiram unir bem a parte onde acontece a troca de cor e, como no trabalho da aluna Thainá, se percebe uma falha entre as cores usadas. Esta falha na impressão com duas cores também aconteceu devido ao fato de eu ter separado um rolinho diferente para cada cor e salientado bastante que os alunos deveriam cuidar para não manchar os rolinhos com outra cor para evitar ter que perder tempo lavando. Porém, na hora não me ocorreu de explicar que, para esses casos que os alunos usaram duas cores era inevitável que um dos rolinhos sobrepusesse a outra cor colocada na matriz e assim poderíamos inclusive ter explorado uma mistura de cores. Esta aluna, a Thainá, foi a única que usou uma forma não figurativa e valorizei sua tentativa de criar algo inusitado.

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Trabalho da aluna Thainรก (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho da aluna Estefany (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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Em alguns trabalhos os alunos usaram imagens que são comuns entre eles e que estão presentes em roupas e marcas como caveiras, corações alados, cupcakes, etc. e assim trabalharam com o sentido de apropriação de que eu havia falado e é muito interessante notar como essas imagens que podemos chamar de símbolos são importantes entre eles para que se sintam parte de um universo jovem e o quanto essas imagens aparecem quando é permitido que eles manifestem seus interesses. Isso corrobora com o conceito elucidado na declaração de princípios básicos da vanguarda que em 1967, quando escrito por artistas como Rubens Gerchmann, Carlos Vergara, Helio Oiticica e Lygia Clark acentuava que “a criação artística estava ligada ao lugar onde era produzida” (REIS, 2006, p. 27) sendo assim a arte sempre surgirá como “uma relação entre a realidade do artista e o ambiente em que vive” (REIS, 2006, p. 28), portanto os trabalhos dos alunos também expressaram inevitavelmente esses símbolos que são veiculados na publicidade, incentivados pelas mídias e expõem certo momento histórico consequentemente revelando um determinado contexto em que um grupo está inserido. Deixar emergir esses símbolos difundidos pela mídia não seria incongruente com a proposta de alguém que julga necessário desenvolver nos alunos a criticidade nas análises de imagens veiculadas pelos meios de comunicação? Por outro lado, como medida de entender e perceber o quanto estes símbolos estão inseridos no contexto dos jovens, deixa-los fluir e torna-los perceptíveis, seria uma maneira para podermos melhor observar a intensidade de suas influências. Considerando que essas imagens muitas vezes são usadas pelos alunos como forma de uma comunicação visual, proporcionar um espaço onde eles possam expressar essas imagens torna-se importante para que os alunos possam perceber e verificar a força que a imagem possui. Se as imagens são tão onipresentes no nosso cotidiano, não deveríamos ter mais tempo na escola destinado a trabalhos que contemplem discussões como essa? Agora percebo que mesmo trabalhando com a possibilidade de apropriação de imagens já existentes, unindo o apelo pop com a intenção de envolver um espectador com os trabalhos produzidos, deveria ter salientado mais a questão da força de sugestão que as imagens possuem e como somos constantemente influenciados e atraídos por essas formas que, sim, têm a intenção de chamar nossa atenção. Dessa maneira eu estaria 159


aproveitando para dar uma continuidade sobre o assunto que foi abordado na aula sobre publicidade e propaganda.

Trabalho da aluna Tauane (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho da aluna Hellena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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O trabalho do aluno Denílson é o que contém uma forma que pode ser considerada a mais sintética de todos os trabalhos e embora perceba-se que ele elaborou seu trabalho de forma rápida sem detalhar sua forma ou deter-se em cobrir toda a matriz com a tinta, considerei o resultado interessante porque o borrão azul dá uma ideia de uma continuidade além daquilo que está dentro do nosso campo de visão. Este aluno fez outras tentativas anteriores a esta e ele ter se resumido a apenas uma forma simples para apresentar como seu trabalho a meu ver reafirma sua insegurança e, por ser um aluno que se demonstra retraído durante as aulas, isso pode também evidenciar uma autoestima baixa reiterada pelo fato de ter colocado fora todas as impressões anteriores que ele fez ao invés de expor também suas tentativas frustadas como muitos alunos fizeram. Quando este aluno foi expor este trabalho, eu justamente comentei sobre o fato de que, neste caso, a tinta não tinha cobrido toda a matriz, proporcionando um resultado interessante e depois que eu disse isso ele lançou novamente um olhar sobre seu trabalho que considero ser um olhar de curiosidade talvez duvidando de minha afirmação.

Trabalho do aluno Denílson (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Embora eu tenha considerado que os alunos foram muito ansiosos, e portanto a preocupação que eu gostaria que eles tivessem para elaborar o desenho tenha ficado em segundo plano, fiquei satisfeita com a aula porque todos foram bem participativos e agora pondero que a ansiedade dos alunos talvez esteja também relacionada com o interesse e curiosidade pela técnica apresentada. Portanto, não posso deixar de 161


reconhecer como positivo o envolvimento dos alunos com o trabalho prático, assim como valorizar o interesse que a maioria da turma demonstrou durante as explicações teóricas. Depois dos trabalhos práticos, eu pretendia que os alunos fizessem uma análise das formas, porém eu percebi que não haveria condições de propor que eles se envolvessem em mais uma atividade que iria requerer concentração em virtude do pouco tempo que tínhamos disponível e também porque muitos alunos ainda solicitavam minha orientação para maiores explicações sobre o trabalho até o final do período.

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3.3.10 Décimo encontro

Aula 12 Data prevista da aula: Dia 29/11/12 Horário: Das 14:25 às 15:10

Tema da aula: Desenho e apropriação

Conteúdos: Obra do artista Julio Plaza. Apropriação no desenho.

Lista de atividades: Desenho inspirado na obra de Julio Plaza. Conversa e avaliação do projeto desenvolvido.

Objetivos: Incentivar a realização do desenho a partir da observação da obra de Julio Plaza propiciando a percepção das possibilidades de apropriação de imagens já existentes em uma experimentação gráfica.

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Proporcionar um feedback da aprendizagem de forma que os alunos possam trocar informações e verificar entre os colegas o nível de compreensão sobre todos os conteúdos que foram abordados durante o projeto em um registro escrito.

Metodologia: Leitura de imagem espontânea. Trabalho gráfico individual. Trabalho avaliativo.

Materiais e recursos a serem utilizados: Reprodução tamanho A4 da obra de Julio Plaza. Giz pastel oleoso, folhas, tesouras e colas. Xerox do trabalho avaliativo.

Avaliação: Espera-se que os alunos se envolvam na atividade de desenho inspirados na obra de Julio Plaza e troquem informações articulando-se em duplas para realizarem a atividade avaliativa visando sistematizar os conteúdos abordados durante o projeto.

Planejado: Farei a chamada, fixarei a reprodução da obra sem título de Julio Plaza no quadro e explicarei que esta será a última aula e que no final da aula eu distribuirei um trabalho avaliativo. Salientarei que esta avaliação poderá ser feita em duplas, que será objetiva (de múltipla escolha), com apenas uma questão dissertativa que será onde eles vão expor sua a opinião a respeito do que foi desenvolvido durante o projeto. Eu falarei que valerá como nota de recuperação para aqueles que não fizeram alguns trabalhos e que eles poderão fazer em duplas.

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Então, distribuirei duas folhas para cada aluno explicando que eles deverão desenhar um fundo em uma das folhas como, por exemplo, o utilizado na obra de Julio Plaza e que depois eles deverão escolher um personagem, símbolo ou imagem que já existe ou que eles normalmente já desenham para fazer na outra folha, recortando e sobrepondo sobre o fundo feito anteriormente. Deixarei que façam seus desenhos e passarei dando algumas sugestões individuais que talvez possam ajudar para que os alunos obtenham um melhor resultado nos trabalhos. No final da aula, eu distribuirei a folha de avaliação para que eles façam em duplas e direi que eles podem me entregar na próxima semana porque mesmo terminando meu estágio, eu estarei no colégio na próxima semana para fechar as notas. Também aproveitarei para, informalmente, pedir que alguns alunos se pronunciem sobre o que aprenderam durante o projeto e se manifestem se houve alguma mudança na concepção que eles tinham sobre a Arte Contemporânea.

Julio Plaza,1975. (Fonte: http://www.bolsadearte.com/oparalelo/a-poetica-de-julio-plaza)

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Realizado: Cumprimentei a turma e disse que esta seria a nossa última aula, mas que eu estaria na escola na próxima semana porque eu entregaria hoje no final da aula um trabalho avaliativo, como eu já havia dito na aula anterior, para que eles fizessem em duplas ou trios e reforcei a informação de que essa avaliação valeria como recuperação para aqueles que não tinham feito algum trabalho. Fixei a reprodução da obra de Julio Plaza no quadro e disse que eles deveriam fazer um desenho inspirado naquela obra. Mostrando a parte da obra que Julio Plaza fez se inspirando nas obras de Victor Vasarely, disse que em uma das folhas eles deveriam fazer um fundo como aquele e na outra folha eles deveriam desenhar um personagem, símbolo ou imagem que já existe para recortar e sobrepor ao fundo feito. Distribuí as folhas, solicitei que começassem a fazer seus desenhos e disse que depois que tivessem colado era para eles escolherem no máximo duas cores para dar destaque a alguma parte do desenho a que eles pretendessem chamar a atenção. Mostrei os gizes pastéis oleosos que eu havia levado e deixei a caixa aberta em cima da mesa dizendo que depois era para eles pegarem as cores que quisessem para colorir uma pequena parte do desenho. Enquanto os alunos desenhavam, eu fui passando e dando algumas sugestões individuais para que eles pudessem obter um melhor resultado, mas não interferi nas ideias que eles manifestavam. Alguns alunos me perguntaram se eles podiam fazer determinado desenho, outros pediam minha opinião, se tinha ficado legal, e outros queriam que eu desse alguma ideia de desenho para que eles fizessem. Então, perguntei para esses que estavam indecisos sobre o desenho que fariam, se eles não tinham no caderno algum desenho que gostavam ou que costumavam desenhar e a maioria me respondeu que não. Isso me fez perceber que nesta turma são poucos os que têm o hábito de desenhar ou exercitar traçados e formas se apropriando de figuras existentes. Sendo assim, surgiram nos desenhos as mesmas figuras que já tinham sido usadas em trabalhos anteriores e que fazem parte de acessórios e marcas usadas por eles como caveiras, símbolo do infinito, bigodinho, etc.

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Desenho da aluna Hellena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Desenho da aluna Tauane (Fonte: LAUERMANN, 2012)

O trabalho do aluno Cleiton foi feito com o desenho do Zorro que ele observou em um cartaz da outra turma que estava na parede da sala de aula e a aluna Thainรก utilizou o Bob Esponja em seu trabalho por ser um personagem com formas bem simplificadas, mesmo sem ela ter o desenho deste personagem para observar, ela conseguiu se aproximar bastante do aspecto original deste personagem.

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Desenho do aluno Cleiton (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Desenho da aluna Thainรก (Fonte: LAUERMANN, 2012)

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O trabalho da aluna Ana Júllia foi feito com o personagem Pikachu, mas ela comentou que primeiro ela tinha pretendido fazer a Hello Kitty e como as colegas disseram que tinha ficado parecido com o Pikachu, ela terminou fazendo este mesmo. Uma das coisas que percebi propondo que fizessem primeiro o fundo para que depois fizessem a sobreposição do personagem, é que provavelmente de outra maneira o fundo atrás do desenho não teria ficado completo como o apresentado na maioria dos trabalhos.

Desenho da aluna Ana Júllia (Fonte: LAUERMANN, 2012)

A aluna Manoela desenhou a personagem Pucca que ela mesma considerou não ter ficado muito semelhante com a personagem original, mas esta aluna me disse que mesmo assim iria utilizar aquele desenho porque ela se identificava com essa personagem. Também me falou que fez um fundo com números para que fizesse sentido com o momento que ela estava passando, pois estava em recuperação em matemática. Elogiei dizendo que era interessante que ela estivesse produzindo um trabalho pensando em dar um sentido à ele e isso me faz perceber que eu poderia ter dado a sugestão de que os trabalhos fossem produzidos com a intenção de dizer alguma coisa sobre o momento que os alunos estavam vivendo e isso faria com que inclusive esta proposta tivesse mais consonância com o que vínhamos desenvolvendo no projeto.

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Desenho da aluna Manoela (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Quando os alunos foram me entregando os desenhos, eu fui distribuindo a folha do trabalho avaliativo salientando que eles me entregassem na próxima semana e então eles já foram conversando e manifestando com quem iriam fazer o trabalho. Eu já aproveitei para perguntar se eles consideravam que tinham aprendido alguma coisa com o projeto que tínhamos desenvolvido e se eles tinham mudado o pensamento a respeito da Arte Contemporânea. Um aluno se manifestou dizendo que conheceu obras de arte que não conhecia, outra aluna disse que ela começou a pensar algumas coisas que antes não pensava sobre arte e outra aluna, em tom de brincadeira, disse que não tinha aprendido nada. A brincadeira dessa aluna me fez perceber o quanto é difícil que os alunos não aprendam nada quando se desenvolve um projeto buscando constantemente a interação e a participação da turma. Muito provavelmente, cada um teve uma relação diferente com o conteúdo e os conceitos abordados talvez não tenham sido completamente elucidados. Posso parecer pretenciosa, mas me arrisco em afirmar que certamente nenhum aluno saiu deste projeto com as mesmas concepções a respeito da Arte Contemporânea que tinha quando iniciamos as aulas. Ora, a principal contribuição da Filosofia é criar obstáculos, de modo a impedir que as pessoas fiquem prisioneiras do óbvio, isto é, que circunscrevam a sua existência dentro de limites estreitos, de horizontes indigentes e de esperanças delirantes. A Filosofia não é a única que pode dificultar a nossa mediocrização, mas é aquela que tem impacto mais significativo nessa empreita, pois requer um pensamento e uma reflexão que ultrapassem as bordas do evidente e

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obriga a introduzir alguma suspeita naquilo que vivemos e acreditamos (CORTELLA, 2008, p. 151).

Sem a pretensão de ensinar Filosofia, mas com o objetivo de promover um rompimento de paradigmas e com a intenção de estimular que os alunos não se tornem restritos em aceitar uma única concepção de algo é que esse projeto acabou desenvolvendo proposições filosóficas, porque abrangeu atividades de análise, discussão e reflexão e não se reduziu a ter como foco apenas um ponto de vista. Portanto, afirmo que, ao ultrapassar as bordas do evidente, um desconforto foi gerado e, para sanar este desconforto, os alunos se depararam não com uma, mas com várias possibilidades de respostas o que me faz ponderar se a sabedoria está em respoder certo a uma pergunta ou está na capacidade de estabelecer diversas possibilidades de respostas.

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Conclusão

Pesquisar sobre Arte Contemporânea fez com que eu me deparasse com uma diversidade de enfoques que inicialmente eu desconhecia. Expor um pouco sobre toda essa diversidade foi o que eu imaginava contemplar no projeto. Queria proporcionar o desenvolvimento de uma postura contemplativa e crítica diante das linguagens contemporâneas da arte. Gostaria que os alunos adquirissem gosto pela Arte Contemporânea se interessando por suas possíveis poéticas e intenções. Com o intuito de estimular a reflexão acerca de conceitos que permeiam a produção artística busquei contrapor ideias conflitantes com os alunos, e ao mesmo tempo em que falava de uma possibilidade, expunha outra inversa. Assim foram as aulas que abordei a respeito das interpretações das obras de arte. Abordei o ponto de vista do público, do artista e, embora a questão da crítica de arte seja um assunto complexo para aprofundar em uma turma do ensino fundamental, achei importante trazer também essa questão, mesmo que superficialmente, para que os alunos pudessem ter ideia dos possíveis desdobramentos da arte. Este assunto sobre a crítica de arte foi citado no documentário que assistimos em uma aula e trouxe a possibilidade de uma obra se tornar algo diferente daquilo previsto pelo artista, o que me ajudou a afirmar que todas as opiniões são válidas e, portanto os alunos não precisavam ter receio ao falar sobre uma obra. Usei essa questão para incentivar a autonomia interpretativa. Queria incentivar que os alunos perdessem o medo do desconhecido. Queria encorajar que eles buscassem tecer relações e quem sabe novos significados, mas tendo consciência de que se trata de uma dentre outras possibilidades. A minha insatisfação após a visita à exposição Julio Plaza: Construções poéticas deveu-se a essa minha proposição de incentivar a autonomia porque considero que a condução do mediador não favoreceu a interação dos alunos. É claro que essa insatisfação da minha parte não impossibilitou que eu considerasse bastante produtivo a visitação porque foi oportunizado que os alunos conhecessem uma Instituição localizada na própria cidade 172


destinada à exposição de Arte Contemporânea, além de também possibilitar a extensão e ampliação dos assuntos abordados em aula porque alguns conceitos que foram explicados pelo mediador tinham consonância com alguns conteúdos do projeto. A questão da participação do espectador com a obra, por exemplo, abordada pelo mediador nas explicações a respeito das holografias e dos “Poemóbiles” encontra similaridade com os manifestos do movimento neoconcreto que citei no projeto e isso serviu de certo modo para uma ideia de continuidade e de relação da visitação com os conteúdos das aulas. É pertinente o trabalho com manifestações artísticas contemporâneas na medida em que se acredita que os alunos têm o direito de conhecer questões conceituais que norteiam muitos trabalhos contemporâneos. Os alunos têm o direito de terem contato com a arte atual e perceberem o valor que esta arte pode ter, mesmo que pareça “confuso” ou “estranho”, palavras que os alunos usaram na primeira aula para definir algumas obras contemporâneas que eu havia exposto. Tendo em vista esses direitos de aprendizagem e a receptividade da turma diante do assunto, acredito que o tema de pesquisa demonstrou ser importante para que o desenvolvimento do projeto pudesse alcançar o objetivo que era principalmente, envolver os alunos com os discursos da Arte Contemporânea. Pretendia desmistificar a arte. Por que ela deve ser algo inalcançável e distante da realidade? Os questionamentos nortearam não só a pesquisa como também o projeto. Escolhi uma pergunta como título do projeto para reforçar essa ideia de questionamento e participação. Uma pergunta só faz sentido na lógica de um diálogo e se existe alguém perguntando, supõe-se que exista alguém para responder. Sendo um projeto baseado na dialética e na participação, abordar movimentos que buscavam a participação do público com a obra e o estreitamento arte/ vida parece bastante assertivo. Na busca pelo envolvimento e participação dos alunos mais perguntas iam sendo formuladas e ironicamente o projeto foi finalizado com mais perguntas do que respostas. Isso me fez perceber que não formulei a pergunta que serviria de título do projeto para que ela fosse respondida. Do mesmo modo que não acredito que encontrar respostas certas seja superior à capacidade de elencar possibilidades.

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Com relação aos aspectos da realidade na escola e na turma que foram observados

diante da minha prática docente, algumas constatações importantes

contribuíram para meu amadurecimento enquanto profissional de ensino. Estas constatações foram surgindo como resultado de interações professor/ aluno/ objetivos/ realidade. Pude constatar que quando há proposta, os alunos envolvem-se. É claro que a proposta de trabalho advinda de uma observação e pesquisa com os próprios alunos possui mais chances de tornar-se envolvente porque o que é desenvolvido parte de algum interesse percebido naquela realidade, ou como no caso deste projeto, da falta de interesse em determinada questão em que se pretende intervir, de uma necessidade que se considera relevante para aquele grupo ou de uma seleção de conteúdos que se julga importante abordar. Enfim vejo que trabalhar com a metodologia de projetos, pode exigir um pouco mais do professor porque a pesquisa e o planejamento são indispensáveis, mas acredito que o resultado deste trabalho possui mais chance de se tornar produtivo. Identificando em Paulo Freire a defesa de uma prática docente baseada no fundamento epistemológico da tendência progressista que considera o conhecimento como uma forma de intervir no mundo, é irrefutável contemplar a formação de cidadãos capazes de atuar como protagonistas na busca de uma positiva transformação social. Assim posso dizer que o projeto tinha a aspiração de intervir na maneira como os alunos olham para a arte contribuindo na diversificação e ampliação de seus pontos de vista objetivando contemplar a formação de educandos mais críticos e reflexivos. Mesmo alcançando a maioria dos objetivos de cada aula, o projeto acabou se tornando inacabado (que pode soar uma incoerência) porque ao incentivar que os alunos pensassem a respeito dos movimentos e das obras selecionadas, eu no fundo não pretendia fazê-los, propriamente dito, apenas pensar, mas pretendia proporcionar que a reflexão desse embasamento servisse para um futuro agir, intervir e quem sabe uma futura atuação em prol da transformação da realidade em que vivem. Coisas que ao futuro pertencem. Estas são pretensões que não envolvem uma mudança tão visível como um progresso na execução do traçado de um desenho ou uma melhora em um trabalho pictórico. São aspirações que pretendem intervir no campo mental, que se focam em 174


uma mudança de pensamento. Mudanças de pensamento e melhoras na capacidade reflexiva não se obtêm de uma hora para outra. Elas se desenvolvem com o auxílio de um ambiente instigador e propostas que não sejam limitadas e reduzidas a um ponto de vista. Dito isso, afirmo não conseguir de forma palpável mensurar o quanto realmente os alunos aprenderam. Não tenho dúvidas do progresso do grupo frente à arte. Pude perceber que nos últimos encontros os alunos agiam com maior naturalidade frente aos assuntos das aulas e demonstravam mais confiança na maneira que falavam a respeito das obras trabalhadas. Verifiquei que gradativamente surgiam comentários mais pertinentes e maior adesão nas propostas e só posso concluir que se houve envolvimento, houve aprendizagem. Jamais desconsiderarei o progresso dos alunos pelo fato de não conseguir mensurar a real aprendizagem de cada um. As assertivas nas avaliações recolhidas após o encerramento do projeto podem ser um indicativo real de aprendizagem? Eu acredito que não. A participação nas propostas em aula é um indicativo mais significativo, a meu ver, do que o registro escrito que disponibilizei com a intenção de proporcionar um feedback dos conteúdos abordados no projeto. Acredito que a turma, no geral, compreendeu a maior parte dos conteúdos que foi abordado no projeto e não faço essa afirmação em virtude das respostas assertivas no trabalho avaliativo que distribuí na última aula porque o trabalho era em duplas e salientei que todos poderiam trocar informações sobre as respostas, mas embasado na participação deles no decorrer das aulas, nas participações orais e nas perguntas que faziam durante as explanações dos conteúdos, enfim acho que posso considerar que os resultados alcançados nesta prática não se estabeleceram apenas no registro escrito ou nos trabalhos produzidos pelos alunos. Como considero que uma das intenções mais relevantes da minha prática de ensino era proporcionar momentos de reflexão e contato com a arte contemporânea, posso considerar que alcancei, sim, um bom resultado. Os alunos sem dúvida conheceram outras possibilidades artísticas que antes não conheciam e foram encorajados a pensar a arte numa dimensão que vai além da superficialidade para que possam fugir do óbvio e de rotulações prontas ou impostas e por isso não consigo visualizar os resultados alcançados distante da própria prática, da ação, do desenvolvimento do projeto em si.

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A prática de ensino, em irrisórios períodos de 45 minutos, fez com que eu refletisse também a respeito de uma descarada hierarquia das disciplinas que vem sendo historicamente reproduzida e aceita, onde determinadas disciplinas são mais valorizadas do que outras em prol de algumas competências que são consideradas mais importantes e que devem, portanto, ter mais tempo do que outras para serem trabalhadas. Sobre as metodologias escolhidas posso destacar que algumas foram adequadas e outras nem tanto. Houve algumas aulas que percebi e constatei nas reflexões dos realizados que as atividades poderiam ter sido aplicadas considerando algumas adaptações, mas no geral sempre consegui vislumbrar o envolvimento dos alunos nas atividades. Houve aulas em que não fiquei plenamente satisfeita com os resultados, mas não houve aula sem a obtenção de resultados positivos. Com relação a isso posso comentar sobre a metodologia aplicada na aula a respeito do poder sugestivo da publicidade porque identifiquei a necessidade de uma adaptação no termo usado. Neste caso a palavra subjetividade, além de confundir os alunos, também não foi assertiva para definir o poder sugestivo que, na verdade, era o que eu pretendia abordar. Conclui a reflexão do realizado desta aula afirmando-me como ser em constante aprendizado e reiterando a importância de também aprender enquanto se ensina. Outra aula que identifiquei necessidade de certa adaptação foi na aula sobre Arte Conceitual, a participação dos alunos durante as explicações foi excelente, mas as colagens poderiam ter sido visualmente mais consistentes. A respeito das metodologias que considerei adequadas posso salientar que, fora estes dois casos citados, em todas as outras aulas a maior parte dos objetivos foram alcançados. Na maioria das aulas houve a constatação da existência de algumas questões que poderiam enriquecer o desenvolvimento do projeto como a presença dos objetos solicitados aos alunos na aula de produção de assemblage, um tempo maior disponível para propiciar uma possível performance na aula das máscaras, uma maior articulação da minha parte com a Fundação Vera Chaves Barcellos para possibilitar que a Fundação pudesse ter conhecimento do trabalho que eu estava desenvolvendo

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com a turma e assim promover uma mediação que também contasse com a interação dos alunos, entre outras. A proposta da primeira aula, de sugerir para os alunos analisar as obras que selecionei, por exemplo, é permeada por pelo menos três questões que de certa forma conduziram todo o projeto. Uma das questões que pretendi com a atividade desta primeira aula foi demonstrar a importância de um envolvimento com as imagens no intuito de tecer uma opinião até mesmo antes de alguém dizer alguma coisa sobre ela. Pretendia que os alunos já pudessem perceber que não é preciso esperar alguém falar sobre uma imagem para começar a formular hipóteses a respeito desta imagem, além da intenção de tentar perceber qual o juízo de valor que acompanha os alunos diante de obras de arte tão diferentes entre si. A segunda questão que não se dissocia da primeira é a intenção de estimular certa independência, mesmo que pequena e inicial, para os alunos se encorajarem a tecer opiniões sem que alguma coisa fosse lhes dado pronto. A última questão a ser salientada desta primeira proposta é o motivo que me levou a selecionar as obras apresentadas nesta aula. Possibilitar que após esta proposta, eu pudesse desenvolver uma retórica a respeito de alguns momentos distintos da história da arte abordando uma sucinta linha do tempo foi uma das intenções para separar exemplares de obras de alguns momentos que contrastassem bastante entre si para chegar às reflexões acerca da arte contemporânea. Não tentei proporcionar o entendimento de evolução, mas elucidar certo desencadeamento

e

abordar

a

relevância

da

contextualização.

Estimular

o

entendimento de que a arte por ser fruto de um tempo e de um lugar poderia ser vista de diversas formas de acordo com o posicionamento adotado, auxiliaria para chegar à ideia de que compará-las é um tanto inapropriado. Portanto a escolha das obras e da atividade inicial foi uma maneira que encontrei de problematizar essas questões e provocar uma percepção de que qualquer julgamento positivo ou negativo que atribuíssemos valeria como opinião pessoal, mas jamais seria suficiente para julgar uma obra como boa ou ruim. Sondar como os alunos se manifestariam diante de uma obra com um realismo fotográfico como um exemplar do academicismo de William-Adolphe Bouguereau e 177


outra com ares de rupestre como a de Siron Franco era o que eu tinha em mente ao contrapor estas obras. Apurar que tipo de estranhamento seria gerado e quais critérios os alunos usariam para qualificar uma obra melhor que a outra foram questões que considerei para a elaboração da atividade inicial e que de certa forma acompanharam várias provocações posteriores. Não parti do “O que isso quer dizer” para ficar nele, da mesma maneira que Paulo Freire afirma que não se deve partir da realidade do aluno para nela permanecer e sim para ir além. No desenrolar do projeto percebi o quanto essa pergunta se tornaria reducionista e banal se me empenhasse apenas em buscar meios de respondê-la. Portanto posso afirmar que o desenrolar do projeto encaminhou a constantes buscas. Durante as proposições em torno da arte contemporânea, percebi que na maioria das vezes a minha dedicação não estava na busca por respostas, mas na busca da diversidade de abordagens e principalmente na diversidade de pontos de vista. Posso citar que nas aulas que abordei questões interpretativas e leitura de imagem, os alunos puderam perceber o quanto é relativo, pessoal e questionável uma interpretação e um julgamento de alguma obra, porque sempre há vários pontos de vista. Busquei explicitar que a beleza e a qualidade artística na arte estavam muitas vezes ancoradas em conceitos e em discursos que talvez pudéssemos desconhecer e por isso selecionei o Neoconcretismo e a Arte Conceitual que mantém seu discurso em algo que está além da forma visual da obra. Queria que os alunos soubessem da existência de um discurso por trás da feitura de uma imagem. Queria que os alunos valorizassem e pensassem sobre essas propostas que fazem parte das obras contemporâneas, considerando-as. Em algumas aulas propus trabalhos que fossem focados na interação entre eles, ou na relação entre eles e os materiais como na aula das máscaras e das produções de assemblage porque a exemplo do Neoconcretismo gostaria de salientar a interação com a obra. Na aula sobre arte conceitual que já comentei acima, salientei que o principal era a discussão da temática que cada grupo recebeu e as ideias surgidas dali. Afirmei que o principal era que eles fossem propositores de uma reflexão referente à temática do grupo e ao salientar que isso seria mais valorizado do que o resultado visual da obra, de certa forma incentivei que eles não se detivessem na colagem. Eu esperava colagens visualmente mais interessantes, mas como havia destacado que o 178


principal valor estava na discussão entre o grupo e no registro sobre a temática, considerei o trabalho válido porque acredito ter conseguido proporcionar que os alunos vislumbrassem e tivessem contato com a proposta da arte conceitual de maneira acessível. Coincidindo com esse apelo conceitual, essa foi a aula que mais fiquei satisfeita com o comentário e participação dos alunos e acredito que esse envolvimento deve ser valorizado. Considero, portanto a obtenção de dois resultados bem nítidos nesta aula: O pleno sucesso da aula expositiva dialogada no primeiro período onde explicitamente percebi fluir nos alunos a motivação para uma prática interpretativa. E o resultado das produções em grupo, no segundo período, que não considerei satisfatórios porque visava produções elaboradas de forma mais consistentes, que remetessem às ideias do grupo. Todos os grupos produziram, mas a meu ver faltou uma criticidade que eu pretendia que eles explorassem. Eu gostaria que as temáticas que selecionei para os grupos, instigassem proposições mais problematizadoras. Notei teor maior de criticidade no trabalho do grupo com a temática violência, mas a visualidade da colagem podia ter sido mais elaborada. Cheguei a conclusão que propor a colagem em uma folha menor ajudaria para que as colagens atingissem um resultado estético mais interessante e ter levado imagens de trabalhos feitos com colagem para que servisse de exemplo para as produção dos alunos também poderia ter sido bastante válido. Lembro-me de até ter me referido à reprodução da obra de Domenico Rotella que mostrei na aula sobre assemblage que parecia ser feita com revistas ou cartazes de cinema, mas confesso que não me detive muito em interferir nas produções. Muitas vezes foi explicitando as controvérsias da arte que via brotar mais perguntas que também poderiam ser contempladas. Decidi não me deter em alguma resposta, escolhi abordar possibilidades diversas. Queria mostrar diversos enfoques e tantas questões interpretativas que podem girar em torno de uma obra de arte e pretendi deixar claro que estas não se esgotam. Em muitas reflexões dos realizados percebia que os conteúdos poderiam ser mais desenvolvidos e acabava sentindo a necessidade de justificar a minha escolha de não me aprofundar em determinada questão em prol da continuidade do projeto. Volto a dizer que não selecionei trabalhar com determinado conceito, pois em nenhum momento foquei em explorar um assunto e 179


desenvolvê-lo ao máximo, proporcionando que os alunos se tornassem ao final das aulas grandes conhecedores de determinado conteúdo. Em cada aula abordava algum enfoque que de certa forma permeia a Arte Contemporânea. Abordando alguns conceitos, algumas linguagens e possibilidades tinha em vista despertar o interesse dos alunos pela arte, além de encorajar a reflexão e não a simples aceitação dos conceitos abordados. Com tudo isso pretendia que os alunos desenvolvessem autonomia e pudessem pensar acerca da arte contemporânea. Promovendo o contato com diversas questões da arte, estimulava que os alunos saíssem de cada aula com ao menos uma certeza: é uma possibilidade. Isso me faz perceber que, vários conteúdos abordados nas aulas poderiam ser assuntos para serem explorados em várias outras aulas. Este fato, por um lado, muitas vezes me fez ficar insatisfeita porque via que determinados assuntos poderiam ser mais aprofundados, mas por outro lado tinha claro que esta não era a intenção do projeto. Não considero negativo desenvolver e focar em apenas um assunto, muito pelo contrário, acho mais produtivo deter-se na qualidade do que na quantidade. Mas pretendia ir além, proporcionar uma visão ampla e principalmente reflexiva. Não gostaria de reduzir o foco detendo-me em determinado conteúdo ou selecionando um recorte específico e sim pretendia ampliar a visão dos alunos para quem sabe encorajar e servir como base para os futuros contatos que estes alunos virão a ter com a arte. Ainda falando a respeito da pergunta que serviu de título para o projeto reflito se por acaso não é essa pergunta que sempre acabamos fazendo diante de todas as coisas da vida. É o nosso instinto tentar tudo entender? Ter tudo sob controle acho que é o desejo se não de todos, de uma grande maioria. Há uma tendência de se ver brotar o receio e o medo diante do que é desconhecido. Esse será que foi, de certa forma até inconscientemente, o meu desejo de conduzir por esse caminho as minhas pesquisas? O temor do desconhecido e o desejo de ter “tudo” sob controle? Retomando Paulo Freire, é necessário partir “da” e não ficar “na” e foi assim que aconteceu no caminho das aulas desenvolvidas do projeto. O que isso quer dizer muitas vezes foi substituído por questões: Quem diz o que significa? Quem tem autoridade e credibilidade para dizer o que significa? O significado atribuído por outrem é o mesmo significado que interpreto? E por fim, por que, afinal tenho que dizer o que isso quer dizer? Não há 180


possibilidade de não ser necessário dizer nada? O valor das coisas está na articulação dos significados que elas têm? Todos esses questionamentos para dizer que se pretendia a abordagem de um trabalho onde existisse a criticidade, a autonomia e acima de tudo o envolvimento e reflexão dos educandos, jamais poderia defender uma racionalidade demasiada contida nas entrelinhas de uma pergunta como “O que isso quer dizer?”. Se por um lado instiguei que os alunos buscassem entender a intenção de uma obra de arte, por outro lado sinalizei que não encontrariam apenas uma resposta. Focando em buscar a valorização do discurso que respalda e dá embasamento à produção de diversas obras de arte contemporâneas, também, em contrapartida, incentivei a busca por algo que muitas vezes não se explica. Ou seja, ao enaltecer o conteúdo discursivo das obras, deparei-me na necessidade de também contradizê-lo por vezes, cedendo à busca por uma forma visual que possibilitasse uma experiência estética por ela mesma, sem a necessidade de outra explicação. Foi necessário contrastar essas questões porque por mais que eu pretendesse contribuir na formação de alunos interpretantes, jamais poderia resumir a arte na esfera do inteligível e do explicável. Sempre haverá algo na arte visual que fugirá ao alcance das outras linguagens, senão sua existência seria injustificada. Esse princípio me incentivou nas últimas aulas a propor a busca por imagens que os alunos considerassem visualmente interessantes e que talvez ironicamente tenha proporcionado um contraste com a busca pela superioridade das ideias das aulas anteriores. Identifico que contrapontos nas reflexões proporcionadas nas aulas acompanharam o projeto desenvolvido e fundamentei a prática na diversidade de interpretações e nos diferentes pontos de vista. Por outro lado, justificando a busca pelo entender, temos o fato de que para que possamos nos apropriar de algum conhecimento e façamos relações de forma que possua significado efetivo em nossa vida, é necessário que consigamos estabelecer algum significado para o objeto de conhecimento em questão, senão de que maneira estabeleceríamos relação? De que maneira algo que está fora e alheio a mim pode encontrar paralelos com o subjetivo sem que de alguma forma passe pelo entender? Diante disso tudo o que posso afirmar é que a pergunta norteadora do projeto não pode jamais ter a intenção de ser respondida sem escapar do perigo de se tornar 181


reducionista demais diante de uma perspectiva de ensino baseada na tendência progressista libertadora e em uma concepção sócio crítica dos conteúdos. Desta maneira posso dizer que o pontapé inicial que impulsionou o projeto serviu literalmente de ponto de partida e a ironia é que todo o trajeto percorrido não conseguiu nos encaminhar para a resposta que moveu a caminhada, mas proporcionou novas considerações sobre a questão. Sinceramente não espero que tenha servido para sanar todas as dúvidas sobre as questões abordadas a respeito da arte contemporânea, mas sim para encorajar novas relações e reflexões diante de uma concepção que se fundamenta que a arte não está acabada, dada, explicada, terminada

porque

deve

constantemente

ser

ressignificada,

contextualizada,

reinterpretada e deve continuar sendo feita. Se a aprendizagem é um processo, sim, alcancei os objetivos. Desenvolvemos um processo e nos relacionamos com novos conhecimentos, mesmo que nem todos os conceitos que foram abordados em aula tenham sido plenamente consolidados. Todos tiveram a oportunidade de conhecer diversas possibilidades e um caminho para o conhecimento onde a valorização está na busca e na capacidade de questionamento, não na obtenção de uma resposta.

182


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185


Apêndice 1

Avaliação da aluna estagiária pelo professor titular

186


187


ApĂŞndice 2

QuestionĂĄrio respondido pela supervisora da escola

188


189


190


ApĂŞndice 3

QuestionĂĄrio respondido pelo professor titular

191


192


193


ApĂŞndice 4

QuestionĂĄrio respondido pelos alunos

194


195


196


197


198


199


Anexo 1

Grรกfico dos questionรกrios respondido pelos alunos

200


Você gosta das aulas de artes?

Nas aulas de artes costumam trabalhar com imagens?

Marque abaixo as imagens que considerar como boas obras de arte e justifique por quê?

Você já visitou algum museu ou exposição de arte?

Quais?

Você sente alguma emoção em frente a uma obra de arte?

201


Você prefere aulas teóricas, práticas ou mistas?

Qual o significado de Arte para você?

Com qual linguagem artística você mais se identifica?

*Pesquisa feita com os 19 alunos que estavam presentes na última aula das observações silenciosas.

202


Anexo 2

Avaliação entregue aos alunos na última aula

203


204


205


206


207


208


Anexo 3

Tabelas realizadas para construção da conclusão

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC.

PROFESSOR

ALUNOS

METODOLOGIA

RESULTADOS

OUTROS

Por já ser professora na escola onde a prática de ensino foi desenvolvida, me senti a vontade com os alunos e logo de início já falei claramente sobre o caráter reflexivo das aulas e sobre a importância da participação de todos nas propostas do projeto. A novidade para mim foi o fato de ali estar no papel de estagiária e com o professor titular junto observando as aulas. Acredito que um pequeno desconforto sempre é gerado quando se está sendo observada por um colega, mas não é nada que não se possa lidar com tranquilidade.

Os alunos, no geral, ficaram a vontade desde a primeira aula. Apenas poucos alunos não concluíram a atividade proposta, mas todos participaram. Um dos motivos que faz alguns alunos não concluírem alguma atividade pode ser a insegurança porque percebo que o receio de estar errado acompanha ainda muitos alunos. Considerando que os alunos que não preencheram toda a tabela da atividade podem estar demonstrando insegurança e receio de revelaremse errado, posso ponderar se essa dificuldade não revela certa aversão ao erro. Ainda existem muitas práticas escolares ancoradas na proposição de que há uma resposta certa que deve ser encontrada pelo aluno, e por isso o erro acaba assumindo um papel negativo que, portanto deve ser evitado. Estes fatos acabam certamente contribuindo para que os alunos ainda carreguem uma dificuldade quando se trata de expressar opinião.

A proposta de sugerir para os alunos analisar as obras que selecionei é permeada por pelo menos três questões. Uma das questões que pretendi com a atividade foi demonstrar a importância de um envolvimento com as imagens no intuito de tecer uma opinião até mesmo antes de alguém dizer alguma coisa sobre ela. Pretendia que os alunos já pudessem perceber que não é preciso esperar alguém falar sobre uma imagem para começar a formular hipóteses a respeito desta imagem, além da intenção de tentar perceber qual o juízo de valor que acompanha os alunos diante de obras de arte tão diferentes entre si. A segunda questão que não se dissocia da primeira é a intenção de estimular certa independência, mesmo que pequena e inicial, para os alunos se encorajarem a tecer opiniões sem que alguma coisa fosse lhes dado pronto. A última questão a ser salientada é o motivo que me levou a selecionar as obras apresentadas nesta aula. Possibilitar que após esta proposta, eu pudesse desenvolver uma retórica a respeito de alguns momentos distintos da história da arte abordando uma sucinta linha do tempo foi uma das intenções para separar exemplares de obras de alguns momentos que contrastassem bastante entre si para chegar às reflexões acerca da arte contemporânea. Não tentei proporcionar o entendimento de evolução, mas elucidar certo desencadeamento e abordar a relevância da contextualização.

Os alunos tiveram uma boa postura no decorrer da aula e durante a atividade proposta. O momento que os alunos mais ficaram distraídos foi no início da aula, durante minha apresentação, posteriormente nas propostas que apresentei, alguns participaram parcialmente, mas todos participaram e fiquei contente porque já pude perceber a disponibilidade da turma para o diálogo que é essencial para imbuir de significativo sentido a prática docente.

Quando propus a atividade de avaliar as obras de arte, eu tinha diversas intenções implícitas que agora consigo melhor elucidá-las como descrevi na metodologia, mas não consegui deixar plenamente explícito aos alunos, o que não significa necessariamente um problema porque fazem parte de uma elaboração docente que respalda a intencionalidade de uma seleção de conteúdos. Esta atividade que pode ser considerada um tanto limitada, na verdade carrega por trás uma função de posteriormente instigar algumas provocações sobre o julgamento da arte. O fato de que a maioria dos alunos julgou as obras com palavras que foram além do bom ou ruim, que era o que eu tinha em mente, confesso, porque inicialmente a tabela que eu havia elaborado reduzia-se a classificar as obras entre péssimas, ruins, regulares, boas ou ótimas, e por sugestão da orientadora de estágio alterei para palavras-chave sem ter, portanto modificado as minhas intenções porque a tabela não era apenas uma ferramenta para desenvolver a capacidade de refletir a respeito das obras apresentadas, mas sim uma atividade a ser aproveitada como estratégia de retórica posterior. Em virtude de que a atividade era originalmente um tanto fechada e foi alterada para deixar os alunos escolherem uma palavra- chave acabou

210


Estimular o entendimento de que a arte por ser fruto de um tempo e de um lugar poderia ser vista de diversas formas dependendo de diversos posicionamentos auxiliaria para chegar à ideia de que comparálas é um tanto inapropriado. Portanto a escolha das obras e da atividade inicial foi uma maneira que encontrei de problematizar essas questões e provocar uma percepção de que qualquer julgamento positivo ou negativo que atribuíssemos valeria como opinião pessoal, mas jamais seria suficiente para julgar uma obra como boa ou ruim. Sondar como os alunos se manifestariam diante de, por exemplo, uma obra com um realismo fotográfico como um exemplar do academicismo e outra com ares de rupestre como a de Siron Franco, além de apurar que tipo de estranhamento seria gerado e quais critérios usariam para qualificar uma obra melhor que a outra, foram questões que acompanharam a elaboração da atividade inicial.

proporcionando que eles pudessem “fugir” do tal juízo de valor que eu tinha em mente sem isso, no entanto ter interferido na sondagem e na problematização da contextualização posterior. Portanto os alunos acabaram dando respostas mais ricas e produtivas que deram margem para uma leitura de imagem mais ampla e subjetiva porque os alunos não revelaram apenas se consideravam boas ou ruins as obras expostas, mas revelaram associações que estavam fazendo ao olhar a imagem o que de forma alguma considero como algo ruim, mesmo que tenha divergido do que eu tinha em mente e mesmo que eu tendo demorado um pouco para perceber claramente que esta confusão, na verdade, não adveio dos alunos gerada pela falta de entendimento da proposta, mas sim pela ambiguidade do que eu tinha em mente e o que redigi como proposta.

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC.

PROFESSOR

ALUNOS

METODOLOGIA

RESULTADOS

Uma das coisas que considero como ponto negativo nas aulas de artes e que, de certa forma, passou a me acompanhar em todas as outras aulas foi o fator tempo, quer dizer, a falta dele. Durante a realização da primeira atividade planejada eu já havia percebido que o tempo não colaboraria para que pudéssemos realizar com todo o envolvimento pretendido todas as atividades previstas e, portanto atalhei algumas propostas que havia planejado. Terminei esta aula constatando a importância de salientar e deixar claro para os alunos, desde o início da aula o que se pretende naquele período. Percebo que expor os objetivos para os alunos proporciona transparência e credibilidade ao processo ensino/ aprendizagem, além de facilitar o empenho dos alunos em chegar aos objetivos propostos.

Os alunos envolveram-se na atividade de confeccionar as máscaras e percebo que acharam interessante a proposta. Acredito que o fato de eu ter solicitado aos alunos que fizessem as máscaras sem antes ter explicado a respeito de toda a proposta da aula corroborou para ocasionar uma postura descontraída da maioria dos alunos e contribuiu para gerar a falta de agilidade na conclusão das máscaras que, na verdade, não seria o principal foco desta aula. Percebi que os alunos realmente expressaram aquilo que gostavam e o que não gostavam na escrita das máscaras, mas deixaram a desejar na leitura das mesmas porque a minha pretensão era propor as leituras de uma forma mais performática o que na verdade não ocorreu.

No intuito de agilizar o processo de confecção das máscaras, propus que já fossem começando enquanto eu ia escrevendo no quadro as perguntas que indicariam que o trabalho partiria da manifestação de opiniões pessoais. Percebo que embora isto tenha ajudado a otimizar o tempo, também fez com que os alunos tivessem que começar algo sem saber ao certo o que exatamente era a proposta e talvez isto tenha ajudado a ocasionar uma postura um pouco mais distraída da turma diante desta proposta. Meu sentimento de insatisfação diante da maneira como ocorreu a performance faz com que eu repense a metodologia utilizada. O fato de que alguns alunos continuaram sentados concluindo suas máscaras pode ter deixado aqueles que estavam de pé mais tímidos para movimentarem-se pela sala. Por uma busca de unicidade deveria ter pensado em todos da turma realizando a performance juntos, mas em razão do tempo restrito acabei optando em propor a dinâmica enquanto alguns ainda faziam suas máscaras. Estas constatações fizeram com que eu tivesse noção do tempo que representa um período e percebesse que deveria reduzir os números de propostas de cada aula para não acabar priorizando a quantidade em vez da qualidade.

Os alunos realmente registraram o que gostavam e o que não gostavam e pude perceber que apesar de terem demorado mais tempo do que eu havia previsto em virtude de certa descontração na hora desta atividade, houve verdadeira entrega na proposta de buscar suas opiniões sobre seus gostos e desgostos. Esta mesma entrega não foi percebida na hora de movimentarem-se pela sala e acredito que um dos motivos para isso se deve ao tipo de metodologia utilizada para a dinâmica, além do restrito tempo que restava para que eu investisse em buscar a motivação dos alunos para uma performance mais elaborada. Quando chamei os alunos para mostrar as obras, fiquei satisfeita porque percebo que a maioria da turma tem no olhar certa curiosidade e olham para as imagens que apresento com interesse de quem não está acostumado a trabalhar em aula com reproduções de obras de arte. Considero recompensador poder proporcionar para os alunos momentos de ver e falar sobre arte. Confesso que o fato de um aluno ter passado o dedo em uma das reproduções quando foi comentado que a obra era feita com tecido me deixou contente, primeiro por julgar que isso demonstra interesse por parte do aluno e segundo porque pude abordar com naturalidade algo que não comentaria por considerar óbvio demais e que as vezes para alguns alunos não é. Mesmo tendo restado pouco tempo para esta última atividade, consegui proporcionar um breve momento de interação com as obras que apresentei e pude comentar sobre as diversas possibilidades de materiais de uma produção artística.

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC.

PROFESSOR

ALUNOS

METODOLOGIA

RESULTADOS

OUTROS

Fiquei um pouco decepcionada por nenhum aluno ter levado material para usar nas produções, mas como eu já contava com essa possibilidade, as produções puderam ser desenvolvidas porque levei materiais diversos em caixas de papelão. Porém os trabalhos que poderiam atingir um nível mais peculiar se os alunos tivessem trazido coisas que representassem as suas máscaras, acabaram ficando em torno do uso das cores das tintas. Isso não me deixou insatisfeita com as produções dos alunos porque eles se envolveram na aula, mas admito que poderiam ser mais exclusivos e inusitados.

Acho que é unanimidade a preferência por aulas práticas. É difícil encontrar alguma turma com alunos que não gostem de “colocar a mão na massa”. Muitos professores acabam evitando as aulas práticas por medo da bagunça que essas práticas podem gerar e os alunos vão sendo privados de desenvolverem habilidades plásticas por causa de uma apática e acomodada preferência de deixar tudo como está. Estou citando isso genericamente, mas realmente não observava nesta turma aulas prática com materiais de pintura, etc.

Durante a produção dos trabalhos pude ir conversando sobre algumas questões como a escolha para o uso das cores, a impressão que estas cores poderiam causar, etc. Esta interação pode ter sido facilitada em virtude de haver um número reduzido de alunos nesta aula. Lembro-me de ter inclusive comentado com um aluno a respeito da ambiguidade de uma impressão causada por uma cor, por exemplo, que para alguém pode significar alguma coisa e outra coisa distinta para outra pessoa. Falei que as opiniões deles não precisavam coincidir e que, portanto o que era bom para um poderia ser ruim para outro, sendo assim isso poderia acontecer também na hora de apreciar os trabalhos expostos. Enquanto produziam os trabalhos havia conversas paralelas, sem que isso atrapalhasse porque eu não estava explicando algum conteúdo para todos da turma e sim interagindo com eles hora conversando com um, hora conversando com outro. Considero ser esta a questão que contribui para a maioria dos alunos gostar de aulas assim e justamente esta mesma questão colabora para tantos professores evitarem essas aulas, pois nelas o distanciamento torna-se impossível e faz que o professor tenha que lidar com uma movimentação e interação difícil de ser exatamente prevista.

Todos os alunos fizeram suas produções e foi positivo o envolvimento deles durante a atividade. Houve colaboração inclusive na hora de arrumar a bagunça e foi bastante tranquilo trabalhar com diversos materiais. Duas coisas poderiam inferir para um melhor resultado nesta aula: Os alunos terem levado os materiais que eu tinha solicitado para compor o trabalho e mais tempo disponível para a produção prática.

A minha principal reflexão desta aula foi referente à proposição de representar o que havia escrito na máscara. Algumas alunas terem escrito palavras me fez inicialmente dizer que elas deveriam buscar outros meios de representar o que haviam escrito sem usar a linguagem escrita. Ou seja, pretendia trabalhar com uma transição de linguagens e a capacidade de diversificar uma representação/ opinião. Porém, haveria falta de consonância com uma proposta inspirada na contemporaneidade se por acaso eu desconsiderasse o que estavam produzindo em prol daquilo que eu imaginava que elas devessem produzir. Ao reafirmar para os alunos que eles deveriam tentar pensar em outras maneiras para representar o que haviam escrito lembrei que em alguns trabalhos de artistas contemporâneos a palavra é utilizada. A palavra nestas obras as vezes assume a posição de elemento principal e instigador por também adquirir uma subjetividade relacionada as variadas possibilidades de interpretação do mesmo jeito que ocorre em outras relações com diferentes elementos visuais de uma obra, por exemplo. Foi respaldando-me neste pensamento que considerei os trabalhos que continham palavras e dando exemplos de alguns artistas que utilizam a palavra como Julio Plaza e Cildo Meireles, afirmei que era válido a utilização da mesma.

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ALUNOS

METODOLOGIA

RESULTADOS

OUTROS

Nesta aula assumi uma postura mais tranquila com relação à aceitação do curto tempo, aceitei que a atividade de produção de assemblage adquiriu novos contornos porque os alunos mantiveram-se mais focados no uso das tintas.

Considero bastante interessante que as aulas sejam sempre focadas na busca de uma interação. Sou completamente contra aulas inertes e procuro sempre incentivar que os alunos fujam da apatia. Assim incentivo essa movimentação como forma de buscar o envolvimento nesta relação única que é estar em uma sala de aula em torno de objetivos, conteúdos e atividades em comum buscando, acima de tudo, o crescimento pessoal individualmente e coletivamente. Somos seres sociais e a escola é lugar onde deve haver a busca de proporcionar espaços para promover e conduzir esta interação de forma produtiva e positiva. Coloquei os materiais em várias classes e os alunos movimentavamse para buscar o que precisavam isso facilitou a relação e o envolvimento em aula. Precisei fazer uma solicitação extra para apenas um aluno que não estava produzindo porque todos os outros se envolveram de forma bem positiva na proposta da aula. Na hora das explicações sempre tem alguns que não se concentram nas explicações, mas na hora de começar o trabalho uns ajudam os outros reafirmando, portanto, a questão da importância das relações e interações em aula.

Ter novamente fixado as reproduções das obras selecionadas proporcionou uma reafirmação da aceitação de variados usos de materiais, mesmo que muitos alunos não tenham explorado essa possibilidade, considero que a arte envolve tantas alternativas que vislumbrá-las já é uma contribuição importante para o repertório visual dos educandos. Sobre a aula prática, reafirmo a consideração de que os alunos, em geral, gostam de aulas assim.

Os alunos não experimentaram muitas possibilidades de uso de materiais, mas empenharam-se na proposta de representar o que haviam escrito nas máscaras. Alguns trabalhos que os alunos fizeram o uso de palavras ficaram visualmente interessantes. E considero que aqueles alunos que utilizaram menos elementos na produção do trabalho, não se detendo em representar tudo que haviam escrito na máscara, souberam pensar melhor no espaço que tinham disponível e produziram trabalhos visualmente mais interessantes. Mas acho que o resultado mais positivo desta aula foi, realmente o momento destinado ao fazer. Uma relação entre uma proposta que deve ser considerada, colegas, materiais e possibilidades entre esses elementos.

Surgiu nesta aula uma questão que abordo novamente nas aulas posteriores ao documentário sobre Vera Chaves Barcellos. A busca em entender a obra e saber o que ela significa não deve superar uma relação com a arte afastada da esfera inteligível.

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Tinha em mente que esta aula seria uma aula tranquila, porque nas duas aulas anteriores as aulas foram essencialmente práticas e exigia uma maior mobilização de recursos, orientações individuais, movimentação, interação, etc. Porém nesta aula me deparei com dois principais imprevistos. Entre eles o que provavelmente contribuiu para que a turma ficasse mais dispersa foi o professor titular ter entrado na sala com os instrumentos musicais porque havia esquecido que eu daria aula. Outro imprevisto a se destacar foi certa falta de domínio do conteúdo de minha parte. Eu considerava que o conteúdo sobre o poder sugestivo da publicidade seria bem simples de abordar com os alunos, mas, no entanto, percebi dificuldade de conduzir que os alunos refletissem acerca disso.

Os alunos, devido ao fato dos instrumentos, obviamente ficaram interessados em tocar e isso pode ter dificultado que a aula e o entendimento dos conteúdos fluíssem de maneira mais tranquila. Tive, portanto mais dificuldade em motiválos para que se envolvessem no assunto que pretendia desenvolver. Minha impressão é que nesta aula os alunos envolveram-se mais por obrigação do que por estarem interessados no assunto e talvez por isso custaram a chegar em uma conclusão a respeito da intenção da propaganda. Também não descarto a hipótese a respeito da possibilidade de uma dificuldade na análise das imagens publicitárias ser devido a elas estarem tão intrincadamente relacionadas às verdades do dia a dia da maioria das pessoas, advindo disso a dificuldade em isolar criticamente os elementos destas publicidades para fazer uma análise destas imagens.

Contemplei três momentos para que a aula não ficasse enfadonha: Uma leitura da obra de Nelson Leirner, uma breve explicação sobre o assunto e uma parte mais prática.

Embora eu possa considerar que a maioria dos trabalhos feitos atingiu o objetivo com os alunos tendo identificado ao menos uma mensagem positiva que teria o propósito de estimular a compra daquele produto anunciado na imagem daquela publicidade, fiquei um pouco insatisfeita com a aula porque os alunos estavam mais dispersos do que o de costume.

. Acredito ser importante desenvolver com os alunos a percepção que todas as imagens podem ser analisadas e que às vezes precisamos pensar em buscar o entendimento da intenção de uma imagem como forma de escapar da indução articulada pelos sugestivos mecanismos elaborados que tentam conduzir nossas vontades.

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Nesta aula tive menos participação porque obviamente durante o documentário, evitei fazer muitas interferências. Fiquei contente quando percebi que o documentário havia despertado interesse da maioria dos alunos porque me fez estar segura de que quando eu comentasse sobre a Fundação Vera Chave Barcellos os alunos ficariam curiosos.

Alguns alunos não interagiram da maneira que eu gostaria, e precisei pedir colaboração algumas vezes, mas a maioria se envolveu satisfatoriamente no que havia proposto para esta aula. Fico satisfeita quando os alunos comentam alguma coisa relacionada ao assunto que está sendo abordado em aula, portanto gostei dos comentários, como “que legal”, “não entendi” ou “ai o que é isso” mesmo que ingênuos, que fizeram durante o documentário e outras participações que fizeram durante as explicações a respeito da mediação em museus.

Utilizei o documentário para que as explicações e os comentários mais teóricos não se resumissem às minhas explanações em aula. E considero que também precisava falar brevemente sobre crítica de arte para abordar claramente a questão das diversas possibilidades de interpretação de uma obra.

Acredito que o grande resultado desta aula foi a curiosidade que pude perceber nos alunos após saberem a respeito da Fundação Vera Chaves Barcellos. O interesse que demonstraram durante o documentário também foi interessante. Nunca há unanimidade, é claro. Sempre têm aqueles alunos que se dispersam mais facilmente e que conversam sobre assuntos alheios à aula, mas na maioria das aulas, grande parte dos alunos geralmente participa. Isso acaba proporcionando uma relação que pode ser considerada mais produtiva com os conteúdos abordados.

Vejo que expor no documentário e destacar uma interpretação feita por um crítico que difere da intenção do artista possibilitou a ampliação da visão a respeito das obras de arte. Acredito que possibilitei que os alunos percebessem a amplitude a respeito das interpretações da arte para que eles não ficassem restritos em tentar acertar uma resposta para a pergunta: O que isso quer dizer?

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Estava bastante empolgada no primeiro período porque percebi o grau de receptividade dos alunos naquele momento. Fiquei bastante a vontade em explicar o conteúdo conduzindo a explanação de forma aberta ao diálogo. Acredito que os exemplos que na hora foram surgindo encaixaram acertadamente no discurso e proporcionaram uma positiva participação dos alunos. Não havia planejado, por exemplo, pegar as reproduções das obras que tinha mostrado na primeira aula do projeto, mas acabei mostrando para elucidar um exemplo e isso proporcionou que alguns alunos já falassem de outras obras para fazer comparações e reflexões. Isso também proporcionou uma ideia de relação entre uma aula e outra e o sentido de uma continuidade entre as aulas.

Os alunos foram muito participativos, principalmente no primeiro período. Notei a turma bem interessada no que eu estava falando. Eles estavam atentos às minhas explicações e a explanação fluiu sem que eu tivesse que chamar atenção de alguns alunos como precisava fazer na maioria das aulas. Isso permitiu que muitos alunos também falassem e dessem suas opiniões. No segundo período, que era para a produção dos trabalhos em grupo, muitos alunos não focaram suficientemente na proposta e se distraíram conversando sobre outras coisas. Todos os grupos produziram, mas não se envolveram tanto nas produções como nas reflexões do período anterior.

Consegui explorar de forma satisfatória a metodologia expositiva dialogada porque expus o conteúdo, expliquei, dei exemplos e os alunos durante toda a abordagem do assunto participaram contribuindo com comentários pertinentes e reflexivos. Considero que a metodologia dos trabalhos em grupo foi interessante, mas deveria ter feito alguns ajustes tendo em vista uma qualidade nas produções.

Considero a obtenção de dois resultados bem nítidos nesta aula: O pleno sucesso da aula expositiva dialogada no primeiro período onde explicitamente percebi fluir nos alunos a motivação para uma prática interpretativa. E o resultado das produções em grupo, no segundo período, que não considerei satisfatórios porque visava produções elaboradas de forma mais consistentes, que remetessem às ideias do grupo. Todos os grupos produziram, mas a meu ver faltou uma criticidade que eu pretendia que eles explorassem. Eu gostaria que as temáticas que selecionei para os grupos instigassem proposições mais problematizadoras. Notei teor maior de criticidade no trabalho do grupo com a temática violência, mas a visualidade da colagem podia ter sido mais elaborada. Cheguei a conclusão que propor a colagem em uma folha menor ajudaria para que as colagens atingissem um resultado estético mais interessante e ter levado imagens de trabalhos feitos com colagem para que servisse de exemplo para as produção dos alunos também poderia ter sido bastante válido. Lembro-me de até ter me referido à reprodução da obra de Domenico Rotella que mostrei na aula sobre assemblage que parecia ser feita com revistas ou cartazes de cinema, mas confesso que não me detive muito em interferir nas produções.

Como já estava no final do nosso segundo período de aula, certamente precisaríamos de outra aula caso eu fosse me deter em buscar com os grupos produções visualmente mais elaboradas, então priorizando uma sequência didática do projeto, mais uma vez optei por aceitar o que foi desenvolvido naquela aula, mesmo sabendo que poderia ser mais bem explorado. A respeito disso, percebo que meu projeto em nenhum momento pretendia explorar um assunto e desenvolvê-lo ao máximo, proporcionando que os alunos se tornassem ao final das aulas grandes conhecedores de determinado conteúdo. Em cada aula abordava algum enfoque que de certa forma permeia a arte contemporânea. Abordando alguns conceitos, algumas linguagens e possibilidades tinha em vista despertar o interesse dos alunos pela arte, além de encorajar a reflexão e não a simples aceitação dos conceitos abordados. Com tudo isso pretendia que os alunos desenvolvessem autonomia e pudessem pensar acerca da arte contemporânea. Promovendo possibilidades, estimulava que os alunos saíssem de cada aula com ao menos uma certeza: é uma possibilidade. Isso me faz perceber que, vários conteúdos

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abordados nas aulas poderiam ser assuntos para serem explorados em várias outras aulas. Este fato, por um lado, muitas vezes me fez ficar insatisfeita porque via que determinados assuntos poderiam ser mais aprofundados, mas por outro lado tinha claro que esta não era a intenção do projeto. Não considero negativo desenvolver e focar em apenas um assunto, muito pelo contrário, acho mais produtivo deter-se na qualidade do que na quantidade. Mas pretendia ir além, proporcionar uma visão ampla e principalmente reflexiva. Não gostaria de reduzir o foco detendo-me em determinado conteúdo ou selecionando um recorte específico e sim pretendia ampliar a visão dos alunos para quem sabe encorajar e servir como base para os futuros contatos que estes alunos virão a ter com a arte.

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Na situação de visitar a exposição com a turma eu também acabei assumindo uma postura de expectadora. O mediador foi conduzindo a visitação e fazendo as explicações. Como eu não sabia exatamente como ele conduziria e não tinha o conhecimento de todo o conteúdo que ele iria abordar, não interferi com medo de atrapalhar a mediação.

O fato de sair da escola sempre deixa os alunos animados. Eles sempre gostam de passeios, mas, além disso, também percebi que os alunos estavam curiosos em conhecer a Fundação. Eles conversaram bastante no ônibus, mas durante a visitação da exposição, na maioria do tempo, manteram a concentração. Até gostaria que eles falassem mais sobre as obras apreciadas, mas a mediação não teve o direcionamento que incentivasse essa participação.

É uma aula que precisa de um tempo maior do que o tempo que se tem para o período de artes porque envolve deslocamento, mas definitivamente isso não deve ser encarado como um empecilho porque é uma excelente prática e deveria ser mais explorada em virtude de seu grande valor na formação de apreciadores e fruidores de arte. Foi uma legítima saída de campo porque proporcionou a ampliação de conteúdos que em aula estavam sendo abordados.

Oportunizar que os alunos conhecessem uma instituição localizada na própria cidade destinada à exposição de Arte Contemporânea foi um objetivo que incontestavelmente foi atingido. Proporcionar o contato direto e mediado com as obras na exposição possibilitou a extensão e ampliação dos assuntos que estávamos abordando em aula porque alguns conceitos que foram explicados pelo mediador tinham consonância com alguns conteúdos do projeto. A questão da participação do espectador com a obra, por exemplo, abordada nas explicações a respeito das holografias e dos “Poemóbiles” encontra similaridade com os manifestos do movimento neoconcreto que citei mais especificamente na aula seguinte e isso serviu de certo modo para uma ideia de continuidade e de relação.

Como eu não sabia a maneira que seria conduzida a mediação, eu apenas seguia com a turma, porém agora percebo que eu poderia, sem problema nenhum ter contribuído, principalmente instigando perguntas aos alunos que a meu ver foi uma das fragilidades da condução do mediador. Com medo de incomodar, talvez porque o mediador passou a impressão de possuir tanta segurança sobre aquilo que dizia que preferi não interferir, mas acho que além dos conhecimentos sobre o assunto os alunos poderiam ter explorado melhor a questão de interpretar as obras. Também há a possibilidade de que o mediador não tinha ideia que a arte contemporânea estava sendo abordada em aula com aquele grupo de alunos e neste caso, acreditava que os alunos não estariam à vontade para falar sobre essas questões. A respeito disso vejo que seria interessante se houvesse uma maior articulação da minha parte com a Fundação para possibilitar que eles pudessem ter conhecimento do trabalho que eu estava desenvolvendo com essa turma e de repente eu pudesse sugerir um enfoque na visitação complementasse ainda mais o projeto.

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Eu fiquei satisfeita de perceber os alunos já familiarizados com a metodologia de leitura de imagem e posso considerar que no momento em que eu ia fixando as imagens possivelmente alguns já buscavam analisá-las porque lançavam olhares atentos para cada uma delas. Consegui explicar três questões: A busca dos artistas neoconcretos por uma interação do público com a obra, a apropriação e a utilização de elementos populares na Pop Art. Abordagens distintas que busquei relacionálas entre si e explica-las de forma a facilitar e resumir o conteúdo teórico norteador da atividade proposta.

Nesta aula eu percebi que a turma já demonstrava uma postura diferente diante das imagens que eu fixava no quadro. Acho que eles olhavam mais interessados, talvez mais atentos às imagens porque sabiam que a aula que seguiria partiria das imagens ali fixadas. Os alunos se interessaram bastante pelo trabalho prático e se envolveram na proposta. Muitos alunos se atrapalharam um pouco com algumas experiências nas placas de isopor, mas acredito que seja devido a afobação de fazer com pressa sem a calma necessária para primeiro entender como funciona a técnica.

Com dois períodos destinados a essa aula, novamente obtive dois momentos. O primeiro momento foi destinado às últimas explicações teóricas. Expliquei de forma simples e resumida porque minha pretensão não era que eles soubessem tudo a respeito dessas manifestações artísticas e sim que pudessem ter em mente que essas questões abordadas embasavam uma linha de pensamento e norteavam o trabalho que produziríamos depois. O segundo momento foi destinado à prática e percebi que todos os alunos gostaram e se envolveram fazendo as produções.

Fiquei satisfeita com o envolvimento dos alunos durante as explicações teóricas. Achei interessante observar que pela postura dos alunos, parece que os conteúdos abordados já não faziam parte de algo desconhecido. Aquela complexidade que nas primeiras aulas sempre parecia pairar por entre as atividades propostas, já não existia. Ao menos era o que parecia. Pode ser que essa impressão seja devido a minha própria confiança e segurança diante do conteúdo tratado ou também devido a minha familiaridade com o grupo de alunos, mas não posso desconsiderar o inverso.

Agora percebo que mesmo trabalhando com a possibilidade de apropriação de imagens já existentes, unindo o apelo pop com a intenção de envolver um espectador com os trabalhos produzidos, deveria ter salientado mais a questão da força de sugestão que as imagens possuem e como somos constantemente influenciados e atraídos por essas formas que, sim, têm a intenção de chamar nossa atenção. Dessa maneira eu estaria aproveitando para dar uma continuidade sobre o assunto que foi abordado na aula sobre publicidade e propaganda.

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10º

Por ser o último encontro e porque para essa aula não planejei abordar nenhum assunto polêmico ou atividade que exigiria mais tempo, estava tranquila, principalmente com relação ao tempo. Digo isso porque durante o projeto na maioria das aulas “brigava com o tempo” porque percebia que as atividades que planejava poderiam ter melhor resultado se tivéssemos um tempo maior. De maneira nenhuma acredito que deveria simplificar as abordagens que trabalhei durante o projeto porque como já afirmei anteriormente, tinha a intenção de proporcionar aos alunos o contato com diversas linguagens, conceitos e questões que estão presentes na arte contemporânea. Eu jamais conseguiria alcançar esse objetivo se reduzisse a diversidade de abordagens do projeto.

Os alunos estavam receptivos. Todos produziram seus desenhos tranquilamente e iam mostrando para os colegas que estavam sentados próximos. Considero interessante essa relação de troca entre eles. Em muitas aulas percebi e considerei positiva essa interação. Eles são um grupo e não estão em aulas individuais, particulares. É impossível e não é necessário querer que os alunos comportem-se como se estivessem sozinhos. Não estão. Acho que essa questão de trabalhar coletivamente em vez de ser evitada deveria ser mais explorada em todas as disciplinas. Esse trabalho que propus nesta aula, por exemplo, era um trabalho individual, mas não era um trabalho produzido individualmente porque há trocas, há a relação e a interferência alheia. As considerações que cada aluno faz a partir dessas intervenções de seus pares e na relação com o professor é a parte dinâmica e inusitada que fazem parte de um currículo oculto que está sempre presente em todas as aulas. Longe de ser um problema, acho que esse dinamismo é o que enriquece cada proposta e é o que torna cada momento único e inigualável.

Em praticamente todas as aulas havia reproduções de obras fixadas no quadro que serviam como ponto de partida para proposta da aula. Nesta aula partimos de um conceito de apropriação a partir da obra de Julio Plaza. Propus que os alunos explorassem a visualidade com desenhos em uma experimentação gráfica apropriando-se de formas conhecidas. Queria explorar uma questão que entre os jovens é bastante usual: as imagens populares, os desenhos, os símbolos que são incorporados na arte contemporânea a partir do movimento Pop Art.

Percebo que mesmo sendo a última aula poderia ter complementado a proposta explorando também a questão de querer dizer alguma coisa com a produção. Propor que os alunos produzissem os desenhos querendo comunicar alguma coisa, como no caso do trabalho da aluna Manuela em que ela representou sua preocupação com a matemática seria bastante consonante com o projeto. É engraçado o que acontece quando refletimos a nossa prática docente. Por mais que se pense e se planeje uma proposta, parece que sempre surgem questões que poderiam ser contempladas no planejamento e que poderiam complementar o trabalho desenvolvido. Não acho que isso seja negativo porque se a perfeição não existe. Estamos eternamente buscando aperfeiçoar aquilo que fazemos. Deste modo, é evidente que tudo que se faz pode ser feito melhor se tivermos a humildade de nos aceitarmos em uma posição de constante busca.

Com a intenção de ultrapassar as bordas do evidente, acredito que no desenvolvimento deste projeto um desconforto foi gerado. Para sanar este desconforto, sempre estimulei que os alunos se deparassem não com uma, mas com várias possibilidades de respostas. A minha prática se fundamenta na busca e considero que a sabedoria não está em responder certo a uma pergunta e sim na capacidade de estabelecer diversas possibilidades de respostas.

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Anexo 4

Linha do tempo que foi ampliada e mostrada aos alunos

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(Fonte: http://www.ensinoarterede-eav.org.br/matApoio/linhaDoTempo/index.htm)

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