Ampliando o olhar para a fotografia contemporânea

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

Luciane Raquel Bravo Pereira

Ampliando o olhar para a Fotografia Contemporânea

Canoas, 27 junho de 2012.


Luciane Raquel Bravo Pereira

Ampliando o olhar para a Fotografia Contemporânea

Trabalho de Curso apresentado como pré requisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciada em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Prof. Dr. Celso Vitelli, Prof. Me. José Carlos Broch e Profa. Ma. Ana Lucia Beck.

Canoas, 27 junho de 2012.



Agradecimentos Quero, neste momento, agradecer às pessoas que contribuíram direta e indiretamente para a realização deste Trabalho de Curso. Gostaria, em primeiro lugar, de lembrar o apoio dado pela minha família e, em especial ao Anderson meu marido que durante todo o tempo de curso esteve ao meu lado me incentivando e me apoiando. Ao meu filho Arthur pela paciência e companheirismo, dedicados a mim, durante toda a trajetória do curso. Aos Professores Celso Vitelli, José Giuliano, Jurema Trindade e Renato Garcia pelos momentos vividos em cada disciplina. E um agradecimento especial a minha orientadora Ana Lúcia Beck que me acompanhou nos estágios II, III e IV, e me incentivou a mergulhar nas profundezas do conhecimento de mim mesma, e de meus alunos. Sua dedicação, competência e excelência em primar pelo melhor me inspiram a ser uma profissional que não se contenta em permanecer na superfície, mas busca na profundidade do conhecer e aprender, a qualificação do Ensino das Artes neste país.


"A câmara é um instrumento que ensina a gente a ver sem câmara". Dorothea Lange


RESUMO

O presente Trabalho de Curso “Ampliando o olhar para a Fotografia Contemporânea” trata do processo vivido nos Estágios Curriculares do Curso de Licenciatura em Artes Visuais. A prática de ensino foi desenvolvida no Colégio Estadual José Candido de Godói, na cidade de Porto Alegre-RS, com alunos do 1º ano do Ensino Médio, com faixa etária entre 14 e 19 anos. Deparei-me com uma turma apática e indiferente a disciplina de Arte, sendo esta considerada por eles desnecessária ao Currículo Escolar. Constatei através das observações que uma proposta inovadora em arte, através da fotografia, poderia atrair os interesses da turma e despertar nestes alunos uma nova visão sobre a Arte, bem como mudar a postura coletiva e individual dos alunos em relação à disciplina. O tema partiu da reflexão sobre dialogar com os alunos a respeito da produção fotográfica contemporânea, destacando principalmente os processos artísticos recentes, que despertam o olhar para uma produção diversificada, para uma experiência estética e conteúdos relacionados à vida. Neste sentido, foram pesquisados vários artistas cujas propostas em arte e fotografias nos provocam a desenvolver um olhar mais observador e crítico para as imagens do cotidiano, e utilizam a fotografia como meio para o fazer artístico, acentuando características ficcionais, de memórias e narrativas como traços presentes nas obras contemporâneas. Foram escolhidos três artistas brasileiros: Avani Stein, Vik Muniz e Tom Lisboa, e quatro artistas americanos: Alexa Meade, Bárbara Kruger, Cindy Sherman e Nienke Klunder. O Projeto de Ensino contou ainda com o trabalho do Fotógrafo Pedro Karg, que foi o artista convidado para visitar a escola. Fui buscar respaldo em autores que contribuíram para uma melhor compreensão sobre o tema, como: Ana Mae Barbosa, André Rouillé, Charlotte Cotton, Philippe Dubois, Mirian Celeste Martins, entre outros, que sustentam o tema da pesquisa. O Projeto de Ensino foi centralizado na utilização da fotografia nas aulas de Artes, com a análise de imagens em sentido histórico e social com o objetivo principal de despertar o olhar dos alunos para a visualidade, a fim de desenvolver um olhar sensível, e um olhar observador e crítico para as imagens, e transformar a atitude de fotografar em uma experiência estética e significativa. Neste sentido, o Projeto de Ensino se justifica como uma excelente oportunidade para o professor tornar o espaço da sala de aula um espaço de intersecções e de vivências significativas em arte e fotografia. Durante a prática de ensino, se procurou dar ênfase a trabalhos que desenvolvessem a percepção e a sensibilidade visual dos alunos, assim como, refletirem e interpretar as imagens a partir de sua contextualização. No final do Projeto de Ensino, constatei que os objetivos foram atingidos satisfatoriamente. Os alunos já não eram os mesmos, pois mudaram de atitude frente à disciplina e ao Projeto de Ensino. As discussões, as análises de imagens e a produção fotográfica realizadas em aula aproximaram os alunos da arte, ao ponto de reconhecerem que Arte não é algo distante, ou seja, somente para museus e galerias, mas próxima de nossa realidade e do nosso cotidiano sendo necessária para nossa vida.

Palavras-chave: Arte. Imagem. Fotografia Contemporânea.


SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................ 7 CAPÍTULO 1

Reconhecendo o espaço de ensino................................................15 1.1. Caracterização do Espaço Escolar.......................................................................16 1.1.1. Histórico..............................................................................................................16 1.1.2. Caracterização da Escola ....................................................................................17 1.1.3. Administração Escolar ........................................................................................18 1.2. Observações Silenciosas......................................................................................19 1.2.1. Primeira Observação Silenciosa..........................................................................19 1.2.2. Segunda Observação Silenciosa..........................................................................21 1.2.3. Terceira Observação Silenciosa..........................................................................23 1.2.4. Quarta Observação Silenciosa.............................................................................24 1.2.5. Quinta Observação Silenciosa.............................................................................26 1.2.6. Sexta Observação Silenciosa...............................................................................28 1.3. Análise das Observações Silenciosas..................................................................30 1.4. Análise do questionário respondido pela Professora...........................................31 1.5. Análise dos questionários respondidos pelos Alunos..........................................34

CAPÍTULO 2

Pesquisa sobre o Tema nas Artes Visuais.....................................38 2. A relação da Arte com a Fotografia ...................................................................39 2.1. A incorporação da Fotografia pelas Vanguardas Históricas...............................42 2.1.1. Dadaísmo e Surrealismo.....................................................................................44 2.1.2. Pop Art................................................................................................................48 2.2. A Fotografia na Arte Contemporânea.................................................................51 2.2.1. Arte-Fotografia....................................................................................................52 2.2.2. A fotografia como narrativas cotidianas..............................................................53 2.2.3. A fotografia como narrativas que sensibilizam o olhar ......................................56 2.2.4. A Fotografia como narrativas de memórias e ficcional.......................................62

CAPÍTULO 3 Projeto de Ensino..........................................................................68 3.1. Dados Gerais da Escola e da Prática Educativa ................................................69 3.2. Dados Gerais do Projeto de Ensino ....................................................................69 3.2.1. Tema ...................................................................................................................69 3.2.2. Justificativa .........................................................................................................70 3.2.3. Objetivo Geral ....................................................................................................70 3.2.4. Objetivos Específicos..........................................................................................71 3.3. Prática de Ensino.................................................................................................72 3.3.1. Primeiro Encontro ..............................................................................................72 3.3.2. Segundo Encontro ..............................................................................................81 3.3.3. Terceiro Encontro ...............................................................................................91 3.3.4. Quarto Encontro ...............................................................................................104 3.3.5. Quinto Encontro ...............................................................................................110 3.3.6. Sexto Encontro .................................................................................................120 3.3.7. Sétimo Encontro ...............................................................................................130


3.3.8. Oitavo Encontro ................................................................................................141 3.3.9. Nono Encontro ..................................................................................................160 3.3.10. Décimo Encontro ............................................................................................169 3.3.11. Décimo primeiro Encontro .............................................................................179 3.3.12. Décimo segundo Encontro .............................................................................189 3.3.13. Décimo terceiro Encontro ..............................................................................200 3.3.14. Décimo quarto Encontro ................................................................................209

CONCLUSÃO...........................................................................................................219 REFERÊNCIAS .......................................................................................................228 APÊNDICE 1 ............................................................................................................233 APÊNDICE 2 ............................................................................................................235 APÊNDICE 3 ............................................................................................................237 APÊNDICE 4 ............................................................................................................240


INTRODUÇÃO

Este Trabalho de Curso (TC) é resultado do processo vivido nos Estágios Curriculares do Curso de Licenciatura em Artes Visuais. Este processo se iniciou com o Estágio I no primeiro semestre de 2011, quando foram realizadas as observações nas aulas de Arte no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, sob a orientação do Prof. Dr. Celso Vitelli e do Prof. Me. José Carlos Broch. No segundo semestre do ano de 2011, ocorreram os Estágios II e III, orientados pela Profa. Ma. Ana Lucia Beck. Durante o Estágio I, ocorreram as observações na Escola Estadual de Ed. Básica Professor Gentil Viegas Cardoso. A escolha desta escola se deve ao fato de que a mesma fica situada na Cidade de Alvorada/RS, na qual resido atualmente. Pessoalmente, também tinha o interesse em conhecer a realidade desta escola, pois ela é considerada a segunda maior escola do Estado do RS, com aproximadamente 5.000 alunos. Foram quatro encontros semanais com a turma nº 811 do Ensino Fundamental, composta por quarenta e dois alunos entre 13 e 17 anos. As observações também foram desenvolvidas no Ensino Médio no Colégio Estadual Cândido José de Godói, que fica situado na Cidade de Porto Alegre - RS. Neste colégio, ocorreram seis encontros semanais com a turma nº 117, composta por vinte e dois alunos com faixa etária entre 14 e 19 anos. Em ambas as turmas foram aplicados questionários que serviram de base para a construção do Projeto de Ensino. Durante as observações que antecederam a prática docente, constatei duas realidades distintas nestes dois grupos: as aulas de Artes não chamavam muito a atenção dos alunos do Ensino Fundamental. As atividades de produção que presenciei se limitavam ao desenho livre, e a professora titular nunca mostrava imagens para a fruição estética dos alunos ou apresentava assuntos pertinentes à realidade dos mesmos. Os encontros eram pouco atrativos, sendo o fazer artístico considerado como garantia de nota. Já no Ensino Médio, a realidade era bem diferente, pois a professora titular era uma excelente profissional. As aulas eram sempre ilustradas através de imagens para apresentar os conteúdos estudados, tendo a professora domínio sobre os temas apresentados. Todavia, faltava aproximar os temas discutidos à realidade dos alunos. O que importava para estes alunos não eram os conteúdos em si, mas o que estes representavam para as suas vidas. Alguns aspectos me chamaram a atenção durante as observações silenciosas realizadas com estes dois grupos. Notei que a 7


maioria dos alunos utilizavam nas aulas de arte e nos intervalos, celulares com câmeras digitais e câmeras digitais para fazer registros dos momentos vividos por eles na escola e fora dela. Constatei que a fotografia era uma linguagem usual entre os alunos, sendo utilizada por eles para postar suas imagens nas redes sociais como Orkut, Facebook,Tumblr e Flicker. Através da análise dos questionários aplicados, foi possível verificar o interesse dos alunos do Ensino Fundamental pela arte e pela fotografia. Percebi que estes alunos estavam abertos a conhecer novas linguagens artísticas, e interessados em ter uma experiência inovadora em Arte, diferente daquela a qual estavam acostumados. Já os alunos do Ensino Médio não demonstraram interesse em trabalhar com nenhuma linguagem artística, pelo contrário, achavam a disciplina de Arte desnecessária no Currículo Escolar. Após uma análise criteriosa das observações em sala de aula e dos questionários aplicados, elegi a fotografia como tema norteador do Projeto de Ensino. Neste sentido, se iniciou no Estágio I uma longa pesquisa sobre o tema fotografia, o que foi muito bom, pois contribuiu para ampliar o meu conhecimento intelectual e profissional a respeito desta linguagem artística. Ao iniciar a pesquisa, percebi que este tema era amplo e de grande complexidade histórica. Devido à amplitude do tema, decidi que o foco da pesquisa se concentraria na fotografia contemporânea, destacando principalmente os processos artísticos recentes, que despertam o olhar para uma produção diversificada, para uma experiência estética e conteúdos relacionados à vida. Para uma melhor compreensão do tema, foi feito um recorte histórico a partir das vanguardas artísticas até os dias de hoje. Foram destacados procedimentos artísticos utilizados por diversos artistas nestes movimentos, como também a variedade de procedimentos recentes, centrados em nosso conhecimento prévio de imagens, o que inclui releituras de fotografias muito conhecidas e desconhecidas do publico em geral, mas que despertam nossa consciência para a visualidade e para aspectos culturais e sociais. Para pensar no tema intitulado “Ampliando o olhar para a Fotografia Contemporânea” fui buscar respaldo em diversos autores, entre eles: Mirian Celeste Martins, que me ajudou a compreender que a fotografia superou o problema de ser ou não arte, abrindo espaço para propostas que sensibilizam o olhar. Neste sentido, foram pesquisados vários artistas cujas propostas em arte e fotografia nos provocam a desenvolver um olhar mais observador e crítico para as imagens do cotidiano. Dentre eles, podemos citar o artista contemporâneo: Caco Neves. O artista se apropria de imagens impressas e virtuais da mídia para produzir colagens manuais e digitais, com temáticas voltadas ao público jovem.

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Já o autor Phillipe Dubois nos desafia a pensar que a arte contemporânea é marcada em seus fundamentos pela fotografia e muitos artistas desenvolvem processos fotográficos inovadores. Neste sentido, a pesquisa conta com artistas que utilizam a fotografia como meio para o fazer artístico, acentuando características ficcionais, de memórias e narrativas como traços presentes nas obras contemporâneas. Foram escolhidos três artistas brasileiros: Avani Stein, Vik Muniz e Tom Lisboa, e quatro artistas americanos: Alexa Meade, Bárbara Kruger, Cindy Sherman e Nienke Klunder. O trabalho destes artistas é parte integrante da pesquisa desenvolvida no Capítulo 2 de forma muito mais ampla, e conta também com o trabalho do Fotógrafo Pedro Karg, jovem de 19 anos, que mora em Canoas, RS, e foi o artista convidado para visitar a escola de Ensino Médio. A partir da pesquisa realizada, foi elaborado um Projeto de Ensino para atingir tanto os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental, como os alunos do 1º ano do Ensino Médio. O Projeto de Ensino partiu da premissa de que para compreender a produção fotográfica contemporânea, bem como seus processos de criação e produção, temos que mergulhar no mundo das imagens, pois nada substitui a experiência de ver. Ver, comparar, elaborar conexões, estabelecer relações. Olhar para uma imagem e explorar suas potencialidades narrativas. Pensando assim, o Projeto de Ensino foi centralizado na utilização da fotografia nas aulas de Artes, com a análise de imagens no sentido histórico e social com o objetivo principal de despertar os alunos para visualidade e desenvolver um olhar sensível, e um olhar observador e crítico para as imagens, e transformar a atitude de fotografar em uma experiência estética através da consciência e manipulação dos elementos da linguagem fotográfica. Abordar a arte do nosso tempo na sala de aula requer, tanto do professor como do aluno, trabalho, empenho e, sobretudo, desconstruções. Pois, a produção artística contemporânea é considerada difícil de ser entendida. E muitas vezes, provoca e perturba o espectador a uma tomada de consciência das imagens e a uma experiência estética. Neste sentido, o Projeto de Ensino se justifica como uma excelente oportunidade para o professor tornar o espaço da sala de aula um espaço de intersecções e de vivências significativas em arte e fotografia. Pois o contato com a arte do nosso tempo provoca novos conhecimentos aos alunos, novas leituras de mundo e transformações de valores. A realização do projeto baseou-se na Abordagem Triangular, na qual a apreciação e leitura de obras, a contextualização e o fazer artístico sistematizaram a construção do conhecimento. Neste sentido, Ana Mae Barbosa (2009) me estimulou a desenvolver atividades afinadas com o cotidiano dos alunos. 9


A partir da escolha do tema, o projeto começou a ser planejado, as aulas foram elaboradas para ambas as turmas. Procurei desenvolver atividades diversificadas com a utilização de materiais impressos de revistas, jornais e fotografias, bem como a construção de imagens através de registros fotográficos. Ao iniciar a prática de ensino, percebi que os interesses destes grupos eram diferentes, e se tornou necessário alterar algumas aulas para atender às necessidades e interesses dos alunos. Como é possível verificar nos realizados das aulas aplicadas que seguem no Capítulo 3. A prática de ensino com os alunos do Ensino Fundamental ocorreu no segundo semestre de 2011, semanalmente às segundas-feiras, no turno da manhã, entre os dias 22 de agosto e 25 de outubro de 2011. Constatei que prática desenvolvida com os alunos do Ensino Fundamental se tornou mais fácil, pois os alunos se comprometeram com o Projeto de Ensino. Eles estavam abertos ao novo, a uma proposta de ensino que os envolvesse e que tivesse sentido para suas vidas. Ao oportunizar o contato com as obras de artistas contemporâneos, percebi que foi desvelado um mundo visual o qual eles não estavam acostumados a contemplar. Isto causou o aguçamento do olhar, bem como o estímulo e a análise crítica e reflexiva das obras. Estes fatos foram observados em algumas atividades que a meu ver contribuíram para uma aprendizagem significativa em arte, as quais destaco a seguir. Com este grupo foram desenvolvidas as atividades de colagens e fotomontagens. Procurei instigar os alunos através arte e da fotografia, observando principalmente o contexto social e cultural deles próprios. Para tanto, foram visualizadas as obras do artista Caco Neves, que traz em sua produção elementos do cotidiano dos jovens no contexto do mundo pósmoderno, destacando a influência da cultura de massas, a influência da tecnologia e como o jovem constrói sua identidade na atualidade. Estes elementos, destacados nas obras do artista, propiciaram reflexões por parte dos alunos e construções artísticas que revelaram a identidade individual de cada aluno, seus gostos, interesses, influências e crenças. A produção dos alunos me surpreendeu, pois embora nunca tivessem trabalhado antes com colagens, conseguiram realizar ótimas composições através das imagens, exploraram formas, cores e texturas, dando assim, novos sentidos para as imagens através de colagens e fotomontagens. As atividades desenvolvidas com este grupo também despertaram os alunos para perceberem que as imagens estão cada vez mais presentes nos espaços familiares e sociais, interferindo nas nossas opiniões e forma de agir e pensar. E que, ao estudar arte, o aluno

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aprende a olhar, sentir, perceber coisas que de alguma maneira passam despercebidas de sua visão. Também considero relevante destacar a atividade de fotopintura. A proposta instigou os alunos a encontrarem soluções plásticas para reconstruir ou desconstruir seus retratos. Esta atividade propiciou a discussão sobre a originalidade na fotografia e os recursos tecnológicos usados para retocar ou reconstruir as imagens fotográficas. A atividade estimulou os alunos a usarem a sua imaginação e sensibilidade visual para criarem novas imagens a partir da imagem original. Por fim, quero destacar as atividades de autorrepresentação e Arte-postal. Sem dúvida, estas atividades contribuíram de forma significativa para que os alunos pudessem vivenciar os processos em arte e fotografia de forma plena. Na produção da autorrepresentação, os alunos foram desafiados a criarem cenas ficcionais ou reais, com narrativas livres. A atividade foi desenvolvida individualmente e em grupos e se percebeu o interesse dos alunos pela produção fotográfica. Os alunos visualizaram as obras da artista Cindy Sherman, e foram instigados a refletir sobre o processo artístico da artista, bem como fazer leituras das obras. As autorrepresentações dos alunos foram diversificadas, e a maioria dos alunos decidiu criar personagens ficcionais para realizar seus registros, sendo a imaginação, auto-expressão e sensibilidade visual despertadas para o fazer artístico. Este exercício foi muito positivo, pois me aproximou do grupo, como também possibilitou que eles criassem com liberdade seus registros fotográficos e expressassem suas ideias. Também foi possível discutir sobre os processos artísticos contemporâneos em fotografia através das obras da artista Cindy Sherman. Percebi que a cada novo encontro os alunos se apropriavam do conhecimento em arte com mais sensibilidade e criticidade. O Projeto Arte-postal se inseriu neste Projeto de Ensino a partir de uma troca de idéias entre os acadêmicos do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA (Campus Canoas), durante o desenvolvimento da disciplina de Estágio I. A exposição do artista homenageado da 8ª Bienal de Artes do MERCOSUL, Eugênio Dittborn, despertou especial atenção dos estagiários, devido ao trabalho desenvolvido por este artista através da Arte Postal. Neste sentido, se objetivou estabelecer uma relação de troca de trabalhos desenvolvidos por estudantes, na disciplina de Artes, de escolas públicas do Rio Grande do Sul, na qual participei com ambos os níveis de ensino a partir das atividades artísticas que foram desenvolvidas nos Estágios II e III (segundo semestre de 2011).

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As trocas de correspondências entre as escolas propiciaram que as obras dos alunos fossem expostas no Santander Cultural, na exposição que homenageou o artista Eugenio Dittborn. Este evento foi considerado pelos alunos do Ensino Fundamental como algo distante da realidade deles, pois a maioria nunca tinha visitado um museu. Poder participar da exposição com seus autorretratos, aproximou mais os alunos da arte, valorizando ainda mais suas produções artísticas. A troca de correspondências entre as escolas possibilitou a este grupo a troca de experiências visuais, estéticas e críticas. O ápice desta proposta se deu quando os alunos foram visitar a exposição no Santander Cultural, eles ficaram encantados com o espaço físico e maravilhados em contemplar suas produções em um local tão imponente. Considerei, ao final do Projeto de Ensino, que estes alunos já não eram mais os mesmos, pois, foi notório perceber o quanto amadurecem em tão pouco tempo de convívio. Os resultados obtidos com esta turma foram satisfatórios, sendo os objetivos atingidos plenamente. Como disse anteriormente, estes alunos estavam abertos a uma proposta inovadora em arte que os estimulasse a reconhecerem a arte como conhecimento e expressão através da fotografia. Já a prática de ensino com os alunos do Ensino Médio ocorreu no segundo semestre de 2011, semanalmente às quintas-feiras, no turno da tarde, entre os dias 22 de agosto e 21 de novembro de 2011. Esta experiência foi diferente da que vivenciei com os alunos do Ensino Fundamental, pois, os alunos do Ensino Médio se mostraram resistentes e apáticos ao Projeto de Ensino. Até o sexto encontro, as aulas se tornaram angustiantes e desgastantes para mim, pois não conseguia aproximar os alunos do Projeto de Ensino. Me perguntava constantemente como despertar estes alunos para arte, como despertá-los ao Projeto de Ensino. Foi necessário reconhecer que nem todas as propostas foram ao encontro das necessidades e interesses destes alunos. Tornando-se necessário ocorrerem mudanças e adaptações no Projeto de Ensino a fim de instigar os alunos através da arte e fotografia. Para atingir os objetivos propostos, foram pensadas diversas atividades entre as quais destaco a intervenção fotográfica no espaço escolar e a visita do Fotógrafo Pedro Karg. A temática de intervenção no espaço escolar foi desenvolvida a partir das vivências dos alunos no contexto cultural e social. Neste sentido, os alunos puderam vivenciar o processo de intervenção fotográfica no espaço escolar, tendo como referência as obras do artista Tom Lisboa. É interessante ressaltar que, para chegarmos à produção artística das fotografias, o momento de apreciação e de contextualização foram fundamentais. Na contextualização 12


procuramos não apenas conhecer a obra e o artista, mas também estabelecer uma relação da imagem com o seu mundo. Na apreciação, propusemos aos alunos que fizessem uma interpretação do mundo que é revelado pela obra, buscando um crescimento cultural. Esse instante do aluno em relação à imagem é um momento dialético, no qual o aluno é estimulado a falar da imagem, é um diálogo pessoal com a obra, que exercita a percepção e melhora a sua bagagem cultural, ampliando assim a sua capacidade de expressão para seu fazer artístico. Procurando valorizar a bagagem de vida, o interesse e o gosto dos alunos, o espaço escolar foi o ponto motivador para a criação artística. O exercício oportunizou ressignificar o espaço escolar através de um olhar mais sensível, observador e crítico. Os alunos também se tornaram mediadores deste processo quando, ao realizarem a intervenção fotográfica, provocaram a comunidade escolar a perceber este ambiente de convívio diário com outros olhares. Os alunos reconheceram que a arte se relaciona com a vida, e produz experiências estéticas significativas. Como diz Hernandez, a intenção não é centrar-se no significado das imagens, mas em como significam. Assim, ao desenvolver a temática de intervenção fotográfica no espaço escolar, queríamos propor algo que tivesse relevância e influência, de fato, na vida dos envolvidos. Com a finalidade de aprofundar e instigar os alunos para um olhar mais sensível em arte, bem como conhecerem as diversas possibilidades de criação em fotografia, os alunos do Ensino Médio receberam a visita do Fotógrafo Pedro Karg. O contato dos alunos com as obras e a conversa com o artista foi enriquecedor, pois puderam conhecer como se deu o processo de criação das obras apresentadas. Ao trazer o artista para falar sobre o seu trabalho, percebi que os alunos ampliaram sua visão, a percepção e a sensibilidade quanto à arte e à fotografia. Posteriormente, os alunos realizaram um projeto individual em fotografia baseado nas dicas do Pedro. Constatei que, após as adaptações necessárias ao Projeto de Ensino, e ao observar atentamente os interesses dos alunos, eles se envolveram nas propostas de ensino com outras atitudes. Senti que os alunos gostaram das atividades planejadas e as desenvolveram com gosto, o que foi muito importante para mim, pois percebi que a sensibilidade, a flexibilidade e a empatia foram elementos necessários durante esta prática de ensino. No Estágio IV, optou-se então por aprofundar a reflexão sobre a prática de ensino vivenciada no Ensino Médio. Procurei refletir sobre ambas as práticas, pensando em qual delas eu havia oportunizado aos alunos uma aproximação efetiva da arte através da fotografia. Percebi que as atividades desenvolvidas com os alunos do Ensino Médio os sensibilizaram a desenvolverem um olhar mais observador e crítico para as imagens, bem como os tocou ao 13


ponto de reconhecerem a importância da disciplina para suas vidas. Esta turma foi sem dúvida um grande aprendizado e desafio para mim, pois, através deste processo, constatei erros e acertos cometidos por mim enquanto professora. Todavia, estes erros constituíram uma oportunidade para melhorar a prática de ensino, sendo necessário fazer ajustes e mudanças para tornar as aulas mais interessantes e motivadoras. Em função disto, constatei que deve haver por parte do professor uma constante observação dos alunos, a fim de perceber seus interesses e necessidades. Esta última consideração e outras são analisadas com mais profundidade na Conclusão do Trabalho de Curso, refletindo criticamente sobre os resultados obtidos no projeto e seu desenvolvimento. Falo da falta de interesse dos alunos pela disciplina de Arte no inicio do projeto, como também reconheço que nem todas as propostas de ensino foram ao encontro dos interesses dos alunos, sendo necessárias mudanças e adaptações ao Projeto de Ensino com a finalidade de aproximar os alunos do tema e de uma produção fotográfica significativa. Considerei a importância de perceber a realidade e interesses dos alunos para que o projeto de ensino os instigasse a uma aprendizagem significativa em Arte, sendo a relação entre o professor e o aluno fundamentais durante este processo de ensino e aprendizagem. Por fim, relato a construção de minha identidade docente desenvolvida durante a vivência de estágio.

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CAPร TULO 1 _________________________ Reconhecimento do Espaรงo de Ensino 15


1.1.

Caracterização do Espaço Escolar

Foto do Colégio Estadual Candido José de Godói. (Fonte: BRAVO, 2011)

1.1.1. Histórico Um breve relato histórico sobre a trajetória do Colégio Estadual Cândido José de Godói que fica localizado à Avenida França, 400 - Porto Alegre - RS, CEP: 90230-220 Fone: 51 3342-5717. Em 1954 surge no 4º distrito a Escola Normal 1º de Maio, cuja estrutura organizacional permite o funcionamento dos cursos Primário, Ginasial e Normal 2º Ciclo. Em 1958 pelo decreto número 8.803 de 11 de março, o Ginásio Estadual 1º de Maio passa a chamar-se “Ginásio Estadual Cândido José de Godói”, em homenagem ao centenário de nascimento do ilustre rio-grandense, por decisão de seu ex-aluno e então governador, Ildo Meneghetti. 16


Em 1966 graças ao esforço da comunidade, consegue um terreno e o prédio próprio foi inaugurado em 11 de abril, na Avenida França, número 300, bairro Navegantes. Em 21 de setembro recebe autorização para funcionamento do curso colegial secundário e, por força do Decreto Lei número 4.244, passa a denominar-se “Colégio Estadual Cândido José de Godói”. Em 1969 foram iniciados os cursos Ginasial e Colegial noturno, com freqüência mista, permanecendo o diurno, exclusivamente para adolescentes do sexo feminino. Em 1972 pelo parecer número 362 de 11 de dezembro, foi aprovado pela equipe de Estudo e Aprovação de Regimes Escolares, o colégio passou a receber alunos do sexo masculino em todos os cursos e séries do diurno. No dia 30 de março de 1978, foi inaugurado oficialmente, o novo prédio do colégio, a 2ª etapa com capacidade física para 14 salas de aula. Em 12 de junho de 1980, através da portaria número 28.384 de 10 de junho da Secretaria da Educação, o Colégio Estadual Cândido José Godói passa a denominar-se “Colégio Estadual Cândido José de Godói – Escola de 2º Grau.” No ano 2000 através da Portaria ATO/SE número 00307 de 11 de dezembro, publicada no Diário Oficial de 12 de dezembro, é alterado o nome da Escola para “ Colégio Estadual Cândido José de Godói. A escola atende alunos de diferentes classes sociais, porém a grande maioria é proveniente da classe-média baixa e oriundos de escolas públicas. Os alunos moram em diferentes bairros, distribuídos pelos municípios de Porto Alegre, Guaíba, Eldorado do Sul, Alvorada, Gravataí e Cachoeirinha. A filosofia do colégio consiste na construção do conhecimento, o educando deve ser crítico dinâmico, criativo, e responsável, interagindo na sociedade e vivenciando seus princípios éticos e morais.

1.1.2. Caracterização da Escola Atualmente a escola oferece ensino médio a uma população de aproximadamente 1.350 alunos nos três turnos escolares, trabalha em regime seriado. A idade dos alunos varia de 13 a 33 anos com predomínio na faixa de 16 a 18 anos. A escola oferece um ambiente agradável, o prédio é bem conservado, são 29 salas de aulas divididas por níveis de ensino, a escola também possui serviço de cozinha, laboratório de química, física, biologia, biblioteca, duas salas de vídeo, uma sala de 17


multimídia, uma sala de informática, e duas quadras de esportes, uma secretaria, sala do financeiro, sala dos professores, sala da Coordenação Pedagógica, sala da Direção, sala de Xerox, e um bar.

1.1.3. Administração Escolar O corpo docente da escola é formado por 70 profissionais e 11 funcionários, os quais são distribuídos entre os setores: secretaria, financeiro e limpeza. A atual gestão é composta por: Diretor: Victor Knewitz Vice – Diretor: Sandro Luiz Rogério Passos Coordenação Pedagógica: Maria da Graça Andrade Silveira Professora de Arte: Fabiela da Maia Dias

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1.2. OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS

1.2.1. Primeira Observação Silenciosa Data: 04/04/2011 Horário: 13:15 – 14:05 Turma: 117 Série: 1º ano – Ensino Médio Nº de alunos presentes: 20 Nº de alunos na chamada: 22 Escola: Colégio Estadual Candido José de Godói Rua: Avenida França, 400 – Porto Alegre/RS

No primeiro encontro com a Turma 117, a professora me informou que está trabalhando no 1º trimestre de 2011, conforme orientação dos conteúdos programados pela escola, os períodos da História da Arte que serão divididos em três tópicos: Arte Rupestre, Egito e Grécia. As aulas são teóricas e práticas. A aula inicia no primeiro horário da tarde, às 13h15min até as 14h05min, a professora convida os alunos a se dirigirem a sala de multimídia, neste percurso entre deslocamento e acomodação dos alunos na sala, já se passaram cinco minutos. Ao chegar à sala de multimídia, a professora me apresenta aos alunos e os comunica que estarei realizando algumas observações das aulas e no segundo semestre, farei a prática de ensino. A professora informa que irá mostrar algumas imagens sobre a Arte Egípcia, mas ao tentar ligar o equipamento de data-show houve um problema e, ela teve que chamar o técnico, este veio rapidamente e instalou o equipamento. A professora passou uma folha entre os alunos para verificar a presença, a fim de não perder mais tempo de aula. Ela inicia com o conteúdo sobre o Egito e comenta que foi uma das principais civilizações da Antigüidade. Sendo uma civilização já bastante complexa em sua organização social e riquíssima em suas realizações culturais, ela ressalta o fundamento ideológico da arte

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egípcia que é a glorificação dos deuses e do rei defunto divinizado, para o qual se erguiam templos funerários e túmulos grandiosos. Ela comenta que a religião invadiu toda a vida egípcia, interpretando o universo, justificando sua organização social e política, determinando o papel de cada classe social e, conseqüentemente, orientando toda a produção artística desse povo. Dentre as produções egípcias, a professora destacou a importância da escrita, da arquitetura sendo as pirâmides do deserto de Gizé as obras arquitetônicas mais famosas. Os monumentos mais expressivos da arte egípcia são os túmulos e os templos. Divididos em três categorias: Pirâmide - túmulo real, destinado ao faraó; Mastaba - túmulo para a nobreza; e Hipogeu - túmulo destinado à gente do povo. Os templos mais significativos são: Carnac e Luxor, ambos dedicados ao deus Amon. A professora também falou da pintura, destacando a importância da cor a lei da frontalidade e a ausência de profundidade. A aula foi expositiva e toda a parte teórica foi embasada pelas imagens mostradas pela professora. O tamanho das imagens e a qualidade das mesmas estavam ótimas, ela demonstrava domínio pelo conteúdo, assim como, trouxe algumas curiosidades através das imagens mostradas. Os alunos estavam organizados em fileiras e durante a aula expositiva ficaram atentos às imagens mostradas e à fala da professora. Após uns 20 minutos de exposição do conteúdo, a professora pergunta a eles sobre as possíveis duvidas ou questionamentos sobre o que foi apresentado, mas ninguém se manifestou. A professora propõe como atividade extraclasse para a próxima aula, trazer uma carta enigmática. Ou seja, inspirados na escrita egípcia os alunos deverão usar a criatividade para criar um código através de palavras, letras ou desenhos ilustrando um poema ou letra de música. Ao pedir está atividade os alunos reclamaram, dizendo ser difícil realizar a tarefa, a professora os informou que esta atividade faz parte do processo de avaliação dos mesmos e que vale ponto para a composição das notas do trimestre. Ao sinal do segundo período, os alunos vão para a sala de aula. A professora comentou que está turma é participativa e como as suas aulas são expositivas e dialogadas há uma boa troca entre os alunos, mas acredita que minha presença os tenha deixado tímidos. A turma 117 é composta no geral por alunos da faixa etária entre 14 e 19 anos, há mais meninos do que meninas e dividem-se em grupos de afinidades.

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1.2.2. Segunda Observação Silenciosa Data: 11/04/2011 Horário: 13:15 – 14:05 Turma: 117 Série: 1º ano – Ensino Médio Nº de alunos presentes: 18 Nº de alunos na chamada: 22 Escola: Colégio Estadual Candido José de Godoi Rua: Avenida França, 400 – Porto Alegre/RS Nesta segunda aula, ao chegar à sala de aula, a professora avisa os alunos que a aula será ministrada na sala de multimídia. Eles lentamente vão se organizando para sair, conversam bastante durante o deslocamento, a professora pede silêncio para que eles não atrapalhem as demais aulas. Eles entram na sala de multimídia e se organizam em fileiras um atrás do outro, mas os grupos por afinidades se formam e ficam próximos. A professora inicia a aula, destacando no quadro os momentos deste encontro, que será dividido por: 1º chamada, 2º entrega de trabalhos e 3º imagens sobre a Grécia. Ela faz a chamada e há apenas 18 alunos presentes. Em seguida, ela solicita que os alunos entreguem a atividade extraclasse solicitada no último encontro, que visava explorar as linguagens plásticas a fim de produzir uma carta enigmática. Apenas quatro alunos entregaram a carta. Ao entregar o trabalho à professora, eles solicitam que ela não mostre aos colegas sua produção. Dentre os trabalhos entregues, percebe-se que o desenho foi a linguagem escolhida pelos alunos para ilustrar os códigos da carta. A exploração do material plástico foi restrita ao uso de lápis de cor. A maioria usou folha de A4 e o uso do espaço na folha se concentrou no centro. Constatei que a professora ficou decepcionada com a turma, e dá uma chamada, para que eles participem e façam suas produções. Ela comunica à turma que quem não trouxe o trabalho, tem menos 1,5 na média. Os alunos perguntam se podem entregar na próxima aula a atividade e ela diz que não. A seguir a professora inicia com o conteúdo sobre a Arte Grega, ela utiliza o data show como recurso físico. Destaca neste período a arquitetura, escultura, pintura, cerâmica e

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mostra imagens de vários deuses mitológicos. As imagens têm excelente qualidade, assim como o tamanho das reproduções. Durante a exposição da professora à turma, no geral, aprecia as imagens, mas não faz nenhum questionamento ou comentário do que foi apresentado. Não manifestam nenhuma reação diante das imagens. Parecem indiferentes e apáticos diante das produções plásticas do período. Com exceção as três meninas que ficaram todo o tempo da aula conversando ou trocando bilhetes e tirando retratos uma das outras. Por várias vezes a professora teve que interromper a apresentação para pedir silêncio. Percebi que a maioria dos alunos porta câmeras digitais e celulares com câmeras na sala de aula, sendo estes recursos utilizados por eles para realizar registros na sala de aula e no pátio da escola. Faltando uns quinze minutos para finalizar a aula, a professora solicita que eles façam uma pesquisa sobre a mitologia grega. Pode ser um dos doze deuses do Olimpo, ou criaturas mitológicas. Deverão ilustrar o mito com uma linguagem plástica a ser entregue em 02 de maio de 2011. Os alunos perguntam como poderão desenvolver o trabalho, se devem entregar o texto escrito sobre a pesquisa, ela explica que não precisa entregar o texto, apenas pesquisar a fim de produzir e explorar o uso de diversos materiais plásticos.

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1.2.3. Terceira Observação Silenciosa Data: 18/04/2011 Horário: 13:15 – 14:05 Turma: 117 Série: 1º ano – Ensino Médio Nº de alunos presentes: 11 Nº de alunos na chamada: 22 Escola: Colégio Estadual Candido José de Godoi Rua: Avenida França, 400 – Porto Alegre/RS Neste terceiro encontro, como de costume, a professora espera uns 5 minutos até todos os alunos cheguem. Ao iniciar a aula, ela explica aos alunos que eles farão uma pesquisa sobre a mitologia grega, cujo objetivo é representá-la através de uma linguagem plástica a escolher. Como subsidio para a pesquisa, a professora trouxe alguns polígrafos dos deuses mitológicos, para os alunos escolherem qual Deus irão representar. Ela deixou os polígrafos sobre a mesa, lentamente, os alunos vão pegando o material. A maioria conversa sobre outros assuntos, e após alguns 15 minutos alguns começam a leitura do texto. Durante todo o período apenas um aluno fez um esboço da representação e mostrou à professora. Alguns alunos identificaram os vários deuses e os relacionaram com os jogos de vídeo-game e filmes. Houve certo interesse da turma, alguns perguntaram se poderiam usar algum software de computador para fazer a composição ou desenho. A professora listou no quadro a relação dos deuses, dos seres fabulosos e dos heróis. Também deu dicas para que os alunos explorassem diversos materiais para a composição do trabalho. Faltando alguns minutos para acabar a aula, ela perguntou se alguém teria alguma dúvida do trabalho, e os lembrou que este irá compor a nota do trimestre. Publicamente ninguém se manifestou, mas após a maioria sair, cinco alunos permaneceram na sala, e solicitaram maiores esclarecimentos de como usar os materiais.

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1.2.4. Quarta Observação Silenciosa Data: 25/04/2011 Horário: 13:15 – 14:05 Turma: 117 Série: 1º ano – Ensino Médio Nº de alunos presentes: 19 Nº de alunos na chamada: 22 Escola: Colégio Estadual Candido José de Godoi Rua: Avenida França, 400 – Porto Alegre/RS

Nesta quarta aula, ao chegar à sala de aula, a professora avisa os alunos que a aula será ministrada na sala de multimídia, e convida os alunos a se deslocarem até a sala. Os alunos se organizam lentamente, e ao sair da sala, fazem muito barulho nos corredores. A professora comentou que às vezes se arrepende de trazer propostas diferentes, pois os alunos não valorizam o empenho do professor, assim como, não há colaboração por parte deles. Durante o percurso, ela pede que eles façam silêncio, para não atrapalhar as demais turmas. Ao chegar à sala de multimídia, os grupos por afinidades sentam juntos, eles conversam muito, ao ponto da professora pedir que façam silêncio. Ela faz algumas observações sobre a turma, pergunta a eles o que está acontecendo, quanto a não realização dos trabalhos, a falta de interesse, assim como as constantes conversas e aparente apatia da turma em relação à disciplina. Ela propõe que eles façam suas observações, mas ninguém se manifesta, e imediatamente fazem silêncio. Ela faz a chamada e apenas 19 alunos estavam presentes. Ela disse que muitos não consideram a disciplina de Arte importante e, portanto, só aparecem para o segundo período de português. Ela ofereceu aos alunos o polígrafo sobre todo o conteúdo estudado no 1º trimestre, os alunos compram o material, pois a escola está sem xerox. Ela avisa que tudo que foi estudado está no polígrafo e, portanto, eles devem revisar o material para a semana de provas acumulativas da escola. Nesta aula, a professora trouxe diversas imagens sobre os diferentes deuses do Olimpo. Embora as imagens sejam de ótima qualidade, ela não destaca a fonte e nem o

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período da obra. Foram mostradas esculturas, pinturas e desenhos, a fim de que os alunos percebessem as diferentes formas de representação e olhares de como construir o trabalho. Notei que a maioria dos alunos não fez nenhum comentário sobre as obras mostradas, apenas uma menina comentou sobre o padrão de beleza das representações femininas. Dois alunos entregaram antecipadamente seu trabalho, eles utilizaram o desenho como forma de representação. Os materiais utilizados foram lápis de cor e folha A4.

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1.2.5. Quinta Observação Silenciosa Data: 02/05/2011 Horário: 13:15 – 14:05 Turma: 117 Série: 1º ano – Ensino Médio Nº de alunos presentes: 13 Nº de alunos na chamada: 22 Escola: Colégio Estadual Candido José de Godoi Rua: Avenida França, 400 – Porto Alegre/RS

Neste encontro os alunos ficaram na própria sala de aula, pois a proposta da aula foi a entrega e apresentação dos trabalhados para a avaliação do trimestre. A professora saúda a turma e coloca no quadro quais serão os momentos da aula, enquanto isto, eles se organizam na sala. Alguns alunos estão finalizando os trabalhos a ser entregues. Após ela faz a chamada e chama cada um para entregar o trabalho e assinar a ata. Embora a turma tenha 22 alunos na chamada, apenas 13 estavam presentes, e todos entregaram seus trabalhos. Nos trabalhos entregues, percebe-se que a maioria dos alunos utilizou o desenho como linguagem. Alguns trabalhos plásticos foram muito bem elaborados, onde os alunos exploraram sua criatividade e capacidade criadora. Os materiais plásticos explorados foram lápis de cor e hidrocor. Percebi que alguns alunos literalmente fizeram cópias no computador do seu desenho, e apenas pintaram. A proposta era escolher um Deus ou mito grego. A professora comunicou à turma que não receberá trabalhos atrasados, pois este era o prazo final de entrega, portanto quem não compareceu à aula, não terá nota. A professora me concedeu 15 minutos para aplicar o questionário. Expliquei a turma o propósito de realizar o questionário, assim como, sua importância para uma proposta de ensino relevante as necessidades da turma. Fiquei a disposição dos alunos para tirar as dúvidas, o que de fato aconteceu com algumas questões. Após a entrega do questionário, a professora comunicou a turma, que no próximo encontro eles farão a revisão para prova do trimestre. Também criou certo ar de mistério, ao informar os alunos, que farão a partir do 2º trimestre um trabalho diferente. Os alunos ficaram agitados, e perguntaram o que seria. Ela 26


não falou nada, disse que será uma surpresa... A partir deste momento, ela solicitou a participação deles, para que falassem quais são os materiais plásticos utilizado no desenho. À medida que eles falavam, ela os listava. Foram listados muitos materiais, alguns alunos ficaram surpresos com alguns materiais, pois desconheciam, por exemplo: pastel seco e grafitão Após o sinal, a professora se despediu da turma e saiu.

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1.2.6. Sexta Observação Silenciosa Data: 09/05/2011 Horário: 13:15 – 14:05 Turma: 117 Série: 1º ano – Ensino Médio Nº de alunos presentes: 18 Nº de alunos na chamada: 22 Escola: Colégio Estadual Candido José de Godoi Rua: Avenida França, 400 – Porto Alegre/RS

Ao iniciar a aula, a professora aguarda uns 5 minutos até que todos cheguem. Ela informa à turma que a aula será na sala de multimídia e todos devem se deslocar até o prédio anexo. Ao chegar à sala de multimídia a maioria dos alunos se acomoda nas classes do fundo, entre seus grupos de afinidades. A professora faz a chamada rapidamente e inicia com a revisão dos conteúdos estudados ao longo do trimestre, onde foram abordados: Arte Rupestre, Arte Egípcia e Arte Grega. Ela apresenta, através de um Power point, todos os conteúdos e faz uma rápida revisão de tudo que foi estudado. Ao terminar a apresentação, a professora pergunta a turma se eles têm alguma dúvida, ou alguma questão que querem comentar. Ninguém se manifestou. A professora informa os alunos que na próxima aula será realizada a prova do trimestre, portanto, eles devem revisar o polígrafo, assim como, suas anotações. Faltando uns 20 minutos para acabar a aula, a professora disse à turma que ia adiantar o conteúdo para o próximo trimestre, eles irão trabalhar com desenho. Para tanto, ela passou um DVD do Arte na Escola sobre Desenho e Criação. Percebi, durante a apresentação do DVD, que a maioria dos alunos ficou atenta aos comentários sobre os artistas. A reação deles foi de admiração ao ver as produções em desenhos apresentadas. Palavras como: “demais, show e dez”, foram emitidas. Foi a primeira manifestação verbal quanto à arte, que assisti nesta turma ao longo das cinco observações anteriores. Embora a professora tenha sempre ilustrado suas aulas com as imagens dos períodos estudados, eles nunca haviam emitido nenhuma reação ou comentário. Fiquei surpresa com o interesse dos alunos pelo documentário e percebi o quanto o desenho despertou o interesse dos alunos. Creio que ao contrário das aulas anteriores, esta chamou mais a atenção dos alunos, por abordar um

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conteúdo próximo da realidade dos alunos e não distante, diferente dos encontros anteriores, em que foram apresentados conteúdos históricos e descontextualizados com a realidade dos alunos.

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1.3. ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS

Acompanhei uma turma de 22 alunos no ensino médio, no turno da tarde, sendo um período de aula por semana, que equivale a 50 minutos. A faixa etária dos alunos é de 14 e 19 anos. A professora leciona há um 1 ano e 6 meses, e disse que ama a sua vocação. Tem muitos sonhos e projetos que deseja implementar, a fim de estimular os alunos a reconhecer a arte como conhecimento. Constatei que as aulas da professora foram bem planejadas e elaboradas, com a utilização de recursos visuais para mostrar as imagens dos períodos históricos estudados. A maioria das aulas foram dialogadas e expositivas. A professora geralmente solicita a participação dos alunos. Todavia, não há por parte da turma um interesse ou comprometimento com a disciplina. Quase nunca expressam sua opinião, ou manifestam interesse pelos conteúdos estudados. Na maioria das aulas, havia muita conversa entre os grupos, o que atrapalhava o andamento da proposta da professora. Os conteúdos estudados até o 5º encontro foram os períodos históricos da Préhistória, Egito e Grécia. Notei que embora a professora tenha preparado ótimas aulas, não havia uma ligação dos conteúdos com o cotidiano dos alunos. As aulas se tornaram distantes da realidade destes jovens. Creio que este aspecto, foi o que mais comprometeu as aulas, pois falar do passado sem contextualizar com a realidade dos alunos, não os instiga a pensar e refletir sobre a arte, pois os conteúdos se tornaram estanques. Conforme Iavelberg (2003, p.12) “trazer os conteúdos da arte do ambiente de origem e cotidiano dos estudantes para a sala de aula é uma boa e motivadora escolha curricular”. Há necessidade de articular a partir da leitura das necessidades dos alunos, o modo de abordar os conteúdos trabalhados para que faça sentido. Dá mesma forma, a prática deve ser carregada de sentido, para que os alunos se sintam desafiados a explorar sua criatividade. A condição essencial da criatividade é a sensibilidade do ser. Aquele que cria se arrisca, mergulha de corpo e alma no experimento. Segundo Ostrower (1999, p.223) O professor desempenha um papel fundamental neste processo, do qual a partir de seu próprio entusiasmo, ele mobiliza os jovens, mostrando-lhes a magia e a beleza da arte, a aventura que existe na sensibilidade de cada um, nestas incursões ao desconhecido e nos misteriosos reencontros consigo mesmo. E o que de mais valioso ele poderia contribuir: em vez de mera informação, a formação do sensível.

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Durante as observações, notei que a maioria dos alunos não realiza as atividades plásticas, assim como não traz o material solicitado para sala de aula. E quando realizam, utilizam o desenho como linguagem. Todavia, os materiais são poucos explorados, sendo utilizados na maioria das vezes, apenas os lápis de cor. Mais uma vez, percebe-se que as atividades propostas não são carregadas de sentido ou interesse, se tornando o fazer artístico um fazer por fazer. Geralmente a professora propõe que eles façam as atividades em casa, o que não acontece, pois poucos retornam com os trabalhos realizados. A professora disse que um período de aula é curto para realizar as atividades práticas e teóricas, por isso, ela solicita que eles desenvolvam as atividades como extraclasses. Creio que esta prática não oportuniza aos alunos vivenciarem coletivamente o processo artístico e estético. Em arte há uma revitalização de saberes e um processo de aquisição de conhecimento pelo compartilhamento. Amorin e Corral afirmam que:

A Arte, então, trabalha com o fazer reflexivo, com a autonomia, com o processo de trabalho e a criação. Isso pressupõe que o indivíduo esteja consciente, atento, e seja responsável por cada etapa da aprendizagem, sua e do grupo ao qual pertence. Até porque a construção do conhecimento depende do entrelaçamento entre todos do grupo, numa relação dialógica e de cooperação (2004, p.135).

Outro aspecto a ressaltar, é que a produção dos alunos geralmente está vinculada a nota, tudo que eles produzem vale nota. A professora argumentou que não concorda com está prática, mas é obrigada a exercê-la, pois a escola exige notas. A avaliação é feita por meio de uma prova. Sem dúvida, esta turma precisa ser provocada, assim como, a Arte precisa ser contextualizada com a realidade dos aprendizes, para que está tenha sentido e seja significativa. A ação pedagógica do professor em sala de aula, conforme o encaminhamento metodológico, precisa propiciar a práxis artística (unidade entre a teoria e a prática artística), por meio de vivências e do entendimento histórico e teórico das experiências vivenciadas pelos mesmos. Uma característica marcante desta turma é a sua relação com a fotografia, em mais de um encontro, observei o interesse dos alunos por esta linguagem. A maioria dos alunos portava na sala de aula celular com câmeras digitais e câmeras digitais, geralmente utilizam estes recursos para registrar os momentos vividos por eles na escola e fora dela.

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1.4. ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELA PROFESSORA.

Este texto tem como objetivo analisar as respostas do questionário aplicado com a Professora Fabiela Maia, que leciona no Colégio Estadual Candido José de Godói, situado na Avenida França, nº 400, na cidade de Porto Alegre, onde acompanhei uma turma do 1º ano do ensino médio. A professora é Graduada em Licenciatura Plena em Artes Visuais pela ULBRA/RS, e leciona há 1 ano e 6 meses, cumpre atualmente uma carga horária mensal de 24h. Respondeu o questionário de forma clara e objetiva, sendo suas respostas coerentes com uma prática de ensino que pretende ser transformadora. A professora trabalha os conteúdos programáticos da escola, que prevê para o 1º ano do ensino médio, trabalhar a História da Arte. Ela disse que embora não tenha total autonomia sobre os conteúdos, tenta trabalhar com projetos a partir do 2º trimestre, pois já conhece mais os alunos e elabora projetos condizentes com o interesse e a realidade das turmas. É com o projeto que há uma mudança interna e externa. Todos se tornam implicados no desejo por uma causa, por uma idéia e a tarefa na ação, enfrentando o futuro que emerge do próprio processo (MARTINS, 2010, p.151). Buscar atribuir sentido ao que fazemos é dar significado ao momento de aprendizagem, é pensar o processo em construção no ensino da arte. Neste sentido, ao pensar em dar sentido a sua prática de ensino, a professora desenvolve uma metodologia de ensino com aulas expositivas e dialogadas, participativas e interrogativas. Constatei durante as observações que a professora explora muito bem os recursos físicos que a escola dispõe. Nesta escola, há uma sala de multimídia equipada com computador e projetor multimídia. A professora planeja suas aulas com o uso de muitas imagens para ilustrar e comentar os períodos da história da arte estudados. Percebe-se o quanto o uso deste recurso, assim como, a seleção e a qualidade das imagens tornam as aulas atrativas e participativas. Ela utiliza estes recursos para enriquecer suas aulas, pois percebe que os alunos precisam ver e perceber as diferenças nas imagens de cada período estudadas em história da arte. Segundo Ferraz e Fusari (1999, p. 59),

À medida que trabalhamos para desenvolver a percepção ajudamos a ver melhor, ouvir melhor, fazer discriminações sutis e ver as conexões entre as coisas. Isto nos leva a uma

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proposição para o ensino-aprendizagem de arte fundamentada na educação da percepção e do seu efeito sobre a constituição do pensamento artístico e estético.

Um aspecto a ressaltar quanto ao uso das imagens, é que a professora geralmente não informa a fonte, a dimensão, a autoria e período das obras apresentadas. “O conhecimento de diferentes produções, diferentes artistas/autores, épocas e países é visto como ampliação de referências, pois permitem outras perspectivas, outros modos de ver e fazer”. (MARTINS 2010, p.130). Durante as observações, notei que a maioria dos alunos não realiza as atividades plásticas, assim como, não traz o material solicitado para sala de aula. Geralmente a professora propõe que eles façam as atividades em casa, o que não acontece, pois poucos retornam com os trabalhos realizados. A professora disse que um período de aula é curto para realizar as atividades práticas e teóricas, por isso, ela solicita que eles desenvolvam as atividades como extraclasses. Creio que esta prática não oportuniza aos alunos vivenciarem coletivamente processos artísticos e estéticos. Em arte há uma revitalização de saberes e um processo de aquisição de conhecimento pelo compartilhamento. Assim, conforme Amorin e Corral (2004, p.135),

A Arte, então, trabalha com o fazer reflexivo, com a autonomia, com o processo de trabalho e a criação. Isso pressupõe que o indivíduo esteja consciente, atento, e seja responsável por cada etapa da aprendizagem, sua e do grupo ao qual pertence. Até porque a construção do conhecimento depende do entrelaçamento entre todos do grupo, numa relação dialógica e de cooperação.

A professora afirma que mescla teoria e prática nos conteúdos trabalhados em aula, mas o que constatei nas observações, é que a teoria foi mais explorada do que a prática, não havendo um equilíbrio. Falar em história da arte, sem contextualizar com a realidade dos alunos se torna um assunto distante e maçante. O trabalho enriquece quando há oportunidade de contemplar o conhecimento adquirido através das vivências dos alunos, conectando estes conhecimentos em questões artísticas e estéticas. Como afirma Irene Tourinho (2002, p.33), Cabe ao educador fazer perguntas que instiguem o olhar curioso, provocador de novos desafios, obtendo novas respostas, a partir de outras visões, de novas formas de olhar e, por esse motivo, ele deve sempre estar em busca de novos conhecimentos e recursos que facilitem a melhor compreensão do aluno acerca dos assuntos abordados em sala de aula.

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[...] o ensino da Arte na escola não está em busca de soluções. Está em busca de provações.

Acredito que a professora tem capacidade e plenas condições de elaborar aulas instigantes e provocativas, pois desempenha um papel de mediadora no pensar a arte. Todavia, precisa repensar sua prática de ensino, para que haja um equilíbrio entre a exploração dos conteúdos teóricos e o desenvolvimento das habilidades práticas. Ambos devem caminhar juntos, para que os alunos possam vivenciar e contextualizar o processo de criação em arte, refletindo sobre o mesmo. Também há necessidade de articular a partir da leitura das necessidades dos alunos, o modo de abordar os conteúdos trabalhados para que façam sentido. É através desse processo, que desenvolvemos o pensamento, a percepção e a crítica. Segundo a autora Teresinha Franz é necessário educar para uma compreensão crítica da arte.

[..] ideias como ensinar menos, porém com mais profundidade, associar o que se estuda com o mundo real do estudante [...] traçando um caminho para o que seria o seu ensino no século XXI, diz que os docentes devem selecionar vigorosamente, iluminar e interpretar o material e desafiar os alunos a pensar em profundidade. (FRANZ, 2003, p.162).

O texto da autora é apresentado por Fernando Hernández (2000) dizendo que, um ensino para a compreensão pode permitir aos estudantes situar (se diante do mundo e das maneiras de olhar para ele a partir de uma atitude de compreensão crítica. Para este autor, se educa para a compreensão da arte fazendo perguntas que problematizem a percepção da realidade, seguindo a indagar ao objeto da arte em questão, levando à reflexão (apud FRANZ, 2003, p.13) Creio que como educadores pós-modernos, precisamos de uma prática de ensino que possibilite os estudantes a entenderem os mundos sociais e culturais em que vivem, para que assim, a arte possa ser desvelada, assim como, a percepção e reflexão aprofundadas com a realidade do aluno.

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1.5. ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS PELOS ALUNOS

Foram aplicados questionários com os alunos do ensino médio com idades entre 14

e 19

anos

com a intenção

de sondar seu

repertório

visual

e cultural.

Os alunos têm apenas um período de arte por semana, que equivale a 50 minutos de aula. A escola fica localizada no Bairro Floresta em Porto Alegre, e atende um público bem diversificado, pois como fica num ponto central da cidade, também atende alunos da região metropolitana. A turma tem 22 alunos, mas apenas 13 alunos responderam ao questionário, sendo sete meninos e seis meninas. Percebi durante as observações que os alunos faltam muito as aulas, o que muitas vezes impossibilita a continuidade das atividades propostas pela professora. Foi perguntado aos alunos se eles consideram a arte e a disciplina de Arte importantes. A maioria dos alunos não considera a arte nem tampouco a disciplina relevante, considerando esta desnecessária ao currículo escolar e a vida profissional. Alguns alunos pensam que a disciplina deveria ser opcional, pois na opinião da maioria, as demais disciplinas são mais importantes para seu futuro. Para alguns alunos a disciplina serve para conhecer a cultura de outros povos. De acordo com o questionário aplicado a maioria dos alunos já visitou um museu ou exposições de arte. Percebe-se nas respostas que a maioria dos estudantes não soube identificar o local visitado. Foi perguntado se eles já haviam estudado algum movimento artístico ou artista plástico e se gostariam de conhecer pessoalmente algum artista. Constatei que a maioria dos alunos não conseguiu identificar em história da arte algum movimento artístico que tenham estudado, assim como nenhum artista. A maioria dos alunos gostaria de conhecer um artista e sua produção. Dentre as atividades que os estudantes mais gostam de fazer em arte, a grande maioria destacou o desenho. Os materiais plásticos mais citados segundo a preferência dos alunos foram: lápis de cor, giz de cera e guache. Dos treze questionários respondidos, oito alunos relataram que já tiveram uma experiência marcante em arte. Percebe-se entre os relatos que foram processos onde os alunos 35


tiveram que participar ativamente em diversas linguagens plásticas, como: escultura, cerâmica, desenho e teatro. Também foi perguntado aos alunos, sobre o assunto ou tema que gostariam de abordar nas aulas de arte. A maioria dos alunos não sugeriu nenhum assunto específico, e alguns disseram que gostariam de aprofundar o conhecimento na mitologia grega. Isto se deve ao tema que a professora havia trabalhado com eles, de fato, a abordagem foi rápida e sem aprofundamento do conteúdo estudado. Com o intuito de direcionar as perguntas ao tema de minha pesquisa, abordei uma questão sobre o uso da tecnologia, e que está nos possibilita a explorar e registrar as imagens do cotidiano de diversas maneiras. Perguntei aos alunos, quais são os recursos usados por eles para fazer estes registros. A maioria dos alunos disse utilizar a câmera digital, o celular e o computador. Sendo que maioria utiliza o computador e a internet para enviar e baixar imagens. Na questão sobre a infinidade de imagens que são divulgadas por meio de outdoors, cartazes, banners, enfim, a maioria dos alunos disse perceber as imagens, e que elas os estimulam a criatividade. Luciana Arslan e Rosa Iavelberg relatam que,

Se é difícil encontrar um museu em seu no bairro da escola, é fácil encontrar alunos que vêem televisão e outdoors próximos da escola. Todos os lugares, em maior ou menor grau, possuem monumentos e/ou seu próprio acervo – mesmo que temporário – de imagens. Preparar os alunos para ler essas imagens é ensiná-los a pensarem as imagens da arte (2006, p.24).

Conforme a citação das autoras, podemos pensar em várias alternativas que levem os alunos a desenvolverem olhares sensíveis e pensarem sobre arte. As imagens do cotidiano servem como um link para uma aprendizagem significativa e com sentido. Na última questão do questionário pedi aos alunos que fizessem uma interpretação da colagem do artista Caco Neves que é um brasileiro que trabalha com colagens manuais e digitais, e atualmente mora e trabalha nos Estados Unidos. Foi interessante a interpretação dos alunos a respeito da imagem mostrada, poucos conseguiram se deter na imagem e sua mensagem. A maioria das respostas foi rápida e sem sentido, isso demonstra que os alunos não refletiram sobre as mesmas, e não viveram a experiência estética.

Quando olhamos para uma imagem, e seguimos os diversos detalhes, as linhas, as cores, as formas desdobrando-se em semelhanças ou contrastes, e notamos ritmo de cada parte interligando-se com grandes ritmos de composição, e percebemos em tudo uma coerência e íntima razão do ser – vivemos uma experiência estética. Uma experiência artística. Ela se dá no âmbito da sensibilidade (OSTROWER 1999. p. 217).

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Vivemos em uma sociedade onde a imagem se faz presente maciçamente, e a velocidade e superficialidade à qual nosso olhar é exposto a estas imagens, pedem de certa forma um olhar sensível, em outro ritmo, para que nossa percepção e sensibilidade sejam aguçadas a olhar profundamente. Penso que está turma pode ter uma experiência marcante em Arte desde que sejam desafiados a pensar sobre a Arte a partir de seu repertório visual, usando como fio condutor as imagens do cotidiano e os recursos visuais que eles manipulam no dia a dia. Para que haja uma reeducação do olhar, e uma mudança na maneira de interpretar as imagens que lhes são expostas de forma crítica. A sala de aula torna-se o espaço propicio para refletir e analisar as imagens, tornando assim, um espaço para uma aprendizagem significativa, que instiga o aluno a ter outros olhares sobre a imagem.

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CAP�TULO 2 ___________________________ Pesquisa sobre o tema nas Artes Visuais Ampliando o olhar para a fotografia contemporânea

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2. A RELAÇÃO DA ARTE COM A FOTOGRAFIA Em seu surgimento não se pensava em fotografia como arte. Sontag (2006, p. 104).

Desde o surgimento da fotografia, na primeira metade do século XIX a relação entre a arte e a fotografia tem passado por constantes transformações e sido alvo de debates e controvérsias ao longo da história. Segundo Entler (2007) quando a fotografia surgiu no século XIX, conquistou rapidamente a atenção e a simpatia de muitos, mas teve de enfrentar duras críticas vindas de artistas que não reconheciam seu caráter estético. De acordo com o mesmo autor, a descoberta de Daguerre anunciada em 1839, causou estranhamento e surpresa. Isto se deve ao fato das imagens serem familiares, bem como traziam uma fidelidade com o real e uma riqueza de detalhes jamais vista nas pinturas renascentistas e que dificilmente as mãos de um pintor alcançariam. A fotografia, devido a sua relação direta com o real, encantou um grande número de pessoas e provocou a ira e a desconfiança de vários críticos e artistas. Dentre eles, o poeta e crítico francês, Charles Baudelaire, que foi considerado por alguns como o primeiro crítico moderno, pois além de desvalorizar a escultura em favor da pintura, atacou a fotografia por esta fixar imagens efêmeras como se fosse um espelho. Ele identificava a fotografia como fruto de um mero ato mecânico, desprovido da grandeza do gesto humano.

Charles Baudeleire,1864 Fonte: http://www.art.com.br

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De acordo com Entler (2007) ao criticar duramente a fotografia, Baudelaire acreditava que dava um grande passo para salvar a pintura de uma catástrofe. Portanto, a fotografia que aspirava adquirir estatuto de linguagem artística prestava contas à pintura. É claro que a grande preocupação de Baudelaire era o esquecimento da arte ocasionado pela mecanização e industrialização da fotografia. As reações contra a industrialização da arte se deram no século XIX. Benjamim (1996, p. 167) diz que mesmo na reprodução mais perfeita, falta um elemento, “o aqui e agora da obra de arte, sua essência única”, e é nessa essência que se desdobra toda a história da arte. Em sua essência a obra de arte sempre foi reprodutível. O que os homens faziam sempre podia ser imitado por outros homens. Essa imitação era praticada por discípulos, em seus exercícios, pelos mestres, para a difusão das obras, e finalmente por terceiros, meramente interessados no lucro. (BENJAMIM, 1996, p. 166)

Segundo Entler (2007, p.12) há de se entender a preocupação de Baudelaire, pois “pela primeira vez no processo de reprodução, a mão, peça fundamental na construção artística, era excluída de suas atribuições sendo superada pela fotografia, atribuições essas, que agora cabiam unicamente aos olhos.” É notório o impacto causado pela fotografia no campo das artes visuais visto que, pela primeira vez, a produção de imagens não seria resultado do trabalho artesanal do homem, mas fruto de uma nova relação dele com a máquina. Neste sentido, a fotografia libertou os artistas da prática exclusiva da criação, pois a imagem retida nos sais de prata revelava coisas impossíveis de serem vistas a olho nu desfazendo o mito da fidelidade da cópia pura e exclusiva da realidade. Segundo Argan (1992, p.79), “não há qualquer dificuldade em admitir os procedimentos estéticos da fotografia.” Pouco a pouco a pintura foi cedendo e tirando partido dos efeitos ópticos, tendo a sua narrativa contaminada e desconstruída por novas texturas plásticas. A nova técnica serve de instrumento de trabalho ao pintor, ajudando-o na escolha de novos planos e enquadramentos em ângulos até então nunca usados, substituindo as formas de enquadramento e de concepção clássica da composição. Pode-se dizer que a fotografia ajudou os pintores de “visão” a reconhecer a sua verdadeira tradição.

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Está aproximação entre a arte e a fotografia se tornou inevitável e influenciou pintores como: Edgar Degas e Toulouse que sem abdicar da pintura, utilizaram a fotografia como recurso para suas obras. Conforme afirma Argan: Degas e Toulouse utilizaram largamente materiais fotográficos, e para tanto não precisaram enfrentar qualquer problema teórico. Neste sentido, é correto afirmar que a fotografia contribuiu para aumentar o interesse dos pintores pelo espetáculo social. Os fotógrafos, por sua vez, mesmo se deixando guiar de bom grado pelo gosto dos pintores na escolha dos objetos, jamais pretenderam concorrer com a pesquisa pictórica (ARGAN, 1992, p. 81).

Edgar Degas. A estrela. Pastel. 1878 (Fonte: http://www.cgfaonlineartmuseum.com.br)

Toulouse-Lautrec. The Milliner, 1900. (Fonte: http://www.abcgallery.com.br)

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De acordo com Schwarz apud Fabris (2009, p. 72) se torna relevante à concepção de fotografia como arte, pois a fotografia é tão inventiva quanto à pintura, sendo que a fotografia não esta isenta de intuição pictórica e de percepção criadora, distinguindo uma da outra quanto à produção artística, tendo em vista que a pintura é criação em todas as etapas do processo e a fotografia se divide em dois momentos; o primeiro quando o artista cria a imagem estética e o segundo quando a câmera faz o trabalho de produção da imagem. Todavia, conforme Kossoy o artista-fotógrafo não fica isento na construção da imagem fotográfica, pois há um olhar e uma imaginação criadora que envolve o processo criativo.Kossoy (2009, p. 49) acrescenta: Há um olhar e uma elaboração estética na construção da imagem fotográfica. A imaginação criadora é a alma dessa forma de expressão; a imagem não pode ser entendida apenas como registro mecânico da realidade factual.

A libertação da fotografia dá-se, a partir do movimento fotossecessionista. Este movimento emergiu nos Estados Unidos, lançando sobre a fotografia uma nova estética, que se tornou responsável pelo ingresso da fotografia do século XX.

A passagem da fotografia pictórica, a fotografia moderna acontece nos Estados Unidos, por obra de Alfred Stiegliz fundador da Photo Secession, voltada para o progresso da imagem técnica, enquanto expressão artística dotada de especificidade e autenticidade próprias (FABRIS, 2009, p.188).

Segundo Fabris (2009), Alfred Stiegliz fundador da Photo Secession sugere uma nova compreensão da fotografia como linguagem regida por uma gramática que dialoga tanto com a informação quanto com a arte. Esta postura abre-se historicamente com as vanguardas históricas que foram importantes para construção desse novo estatuto da fotografia.

2.1.

A

Incorporação

da

Fotografia

pelas

Vanguardas

Históricas Desde as últimas décadas do século XIX, a história da arte assistia a profundas modificações e rupturas. Os modelos que vinham sendo valorizados desde a época do Renascimento Italiano pelas academias começavam a ser realmente questionados. Rouillé (2009), afirma que os artistas acompanhando as mudanças sociais, econômicas, políticas e filosóficas do mundo, passavam a desejar novas expressões artísticas. 42


O desenvolvimento das vanguardas europeias do Século XX está intimamente relacionado com os artistas da geração anterior, que abriram caminho para as gerações seguintes. Nesse período, a Europa estava diante dos progressos industriais, dos avanços tecnológicos, das descobertas científicas e médicas. Ao mesmo tempo, a disputa pelos mercados financeiros ocasionou a 1ª Guerra Mundial. O clima estava propicio para o surgimento das novas concepções artísticas sobre a realidade. E se tornou campo fértil para a fotografia. Neste período, surgiram vários movimentos como: Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo, Construtivismo chamados de vanguardas europeias. No entanto, vamos nos deter nesta pesquisa, especificamente sobre a influência do Dadaísmo e do Surrealismo na expansão da fotografia. Os vanguardistas que emergiram no início do novo século eram experimentalistas e queriam uma quebra radical com a tradição. A obra Fonte, de Duchamp, de 1917, sinalizou uma renovação nas discussões acerca da arte. Diante da impossibilidade da definição restrita do que é ou não arte, Duchamp possibilitou sua definição como tudo aquilo que é chamado arte. Ou seja, a arte é um ato de nominação ( ROUILLÉ 2009, p.295).

Marcel Duchamp.A Fonte, 1917. (Fonte: http://www.marcelduchamp.net)

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Duchamp introduziu na arte elementos do cotidiano que não foram feitos pela mão do artista. Porém, é interessante notar que ele não restringiu apenas aos objetos; o uso da imagem pronta, incluindo a fotografia, demonstra que arte está a serviço da mente e de tudo aquilo que dispomos ao nosso redor. De acordo com Rouillé (2009, p.295), embora os ready-made não sejam fotográficos, eles importam os traços mais característicos do processo fotográfico para a arte. Com os ready-made Duchamp introduz na arte o princípio de seleção-registro, próprio da fotografia, mas contrário ao funcionamento da pintura. Pela primeira vez, o contato físico não mais se fazia entre o artista e a tela, mas, fora disso, entre uma coisa e uma superfície fotossensível. Embora Marcel Duchamp não tenha praticado a fotografia, utilizou-a várias vezes com a colaboração de Alfred Stieglitz e, sobretudo, de Man Ray. A partir de Duchamp, o campo estava aberto como nunca às experimentações. As vanguardas romperam com a tradição da arte. Rouillé (2009) afirma que a fotografia participou desse processo e foi beneficiada por ele pelo fato de não mais importar os aparatos empregados na produção artística, mas sim o próprio ato de criar. Os artistas não utilizam mais as funções básicas do aparelho fotográfico, mas intervém no processo criativo através de seu pensamento, construindo um novo sentido no ato de fotografar, que já não só captar o real, mas captar o real e mudá-lo de acordo com sua necessidade artística. Assim, surgem os fotogramas e as fotomontagens.

2.1.1. Dadaísmo e Surrealismo

A maior parte das vanguardas vinculava-se a projetos de revolução política e ideológica. O Dadaísmo nasceu em Zurique em 1916 e foi disseminado na Europa, pretendia opor-se ao abstracionismo e a tradição, criar uma nova linguagem que não tivesse ligada à burguesia e renegar toda a razão e a lógica. A fotografia, incorporada às suas colagens, era manipulada como matéria bruta que articulava uma sintaxe com as cores e palavras. Na procura de uma nova linguagem mais imediata e que refletisse os novos tempos industriais, a fotografia adequou-se por ser uma representação criada através do mecânico e como uma renovação na criação da imagem que se alinhava com a atitude de fabricar objetos e não criar obras.

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Os materiais nobres foram substituídos por pedaços ou restos de materiais, jornais e revistas. Os dadaístas foram sem dúvida os primeiros a incorporar a fotografia à sua expressão plástica. Man Ray foi um dos fotógrafos mais importantes do século XX, mas também pintor e realizador cinematográfico. A fim de ir contra a arte pictórica do século XIX, Man Ray trabalhou principalmente com três gêneros de fotografia: retrato (obras mais conhecidas), paisagens e natureza morta. Porém, assim como outros artistas do dadaísmo, desenvolve seu trabalho com espontaneidade e originalidade, sempre provocando a sociedade presente e colocando a sua ideia sobre a arte e a cultura, principal mote do movimento dadá. Ao incorporar a fotografia às artes plásticas, o artista mostra-se experimentalista, desenvolvendo novas técnicas e seu aperfeiçoamento para o desenvolvimento de suas obras. Trazendo novos ares à fotografia, Man Ray busca o relevo e a impressão de terceira dimensão em suas fotos. Assim, cria a raiografia, técnica que consiste em tirar fotos sem câmera fotográfica. A execução dos fotogramas é "automática", pois não requerem câmara fotográfica para a sua realização, apenas qualquer fonte de luz sobre formas e objetos, a sua realização é instantânea e cada fotograma é único, pois é impresso diretamente em papel fotográfico, não possuindo por isso película negativa.

Man Ray. Rayograph,1923. (Fonte: http://sepia.no.sapo.pt)

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Apesar de seu aspecto inovador e original, suas obras não foram bem aceitas pelo público, provavelmente por estarem muito à frente da sociedade tão criticada pelos artistas dadaístas da época. Assim, após movimento dadaísta, em 1940, Man Ray, em Hollywood, se torna o fotógrafo de muitas celebridades. Suas obras tornam-se reconhecidas apenas na década de 60, com a Bienal de Fotografia de Veneza. A atividade Dadaísta se intensificou após a Primeira Guerra Mundial, quando os membros se dispersaram na Alemanha e em Paris. Foram os dadaístas alemães Georg Grozz, John Heartfield, Raoul Hausmann e Hannah Hoch, quem no final dos 1910, primeiro recorreu às fotomontagens, em uma reação à pintura, da qual denunciavam a abstração crescente, o vazio conceitual, e a ruptura com a realidade. Em uma perspectiva revolucionária os artistas se valeram das fotomontagens para tornar visíveis situações sociais e políticas. A artista Hannah Hoch se destacou por produzir fotomontagens que abordavam a experiência vivida pela mulher moderna. Os temas de suas fotomontagens é a Nova Mulher e sua luta para impor uma esfera feminina própria e legitimada. Ele se apropriou de imagens divulgadas na mídia, de mulheres belas, exóticas e subservientes, recortou-as e juntou-as para exigir a verdadeira condição fragmentada e destituída de poder.

Hannah Hoch,1919-1920 (Fonte: http://www.artbr.com.br)

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Segundo Dempsey (2003), a obra de Hoch prenuncia as obras das artistas contemporâneas: Barbara Kruger, Cindy Sherman e Nienke Klunder, como veremos a frente com a fotografia contemporânea. Outra grande vertente da vanguarda foi o Surrealismo, um movimento artístico e literário que surgiu primeiramente em Paris, nos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo, reunindo artistas anteriormente ligados ao Dadaísmo e, posteriormente, se expandindo para outros países. O Surrealismo foi por excelência a corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente. Neste movimento, a imaginação do artista pode se manifestar livremente, sem o freio do espírito crítico, o que vale é o impulso psíquico. Os Surrealistas aprofundaram a fotomontagem. Para Dubois (2006, p. 268), o Dadaísmo e o Surrealismo, com seu culto ao “surreal”, desenvolveram uma prática de associacionismo (metáfora, colagem, agrupamento, montagem). Marca física de uma presença, superfície abstrata e destacada de qualquer referência espacial, a foto é também um verdadeiro material, um dado icônico bruto, manipulável como qualquer outra substância concreta (recortável, combinável, etc.), portanto, integrável em realizações artísticas diversas, em que o jogo de comparações (insólitas ou não) pode exibir todos os seus efeitos. (DUBOIS, 2006, p. 268 - 269)

Segundo o autor os artistas dessas tendências buscavam a integração da imagem fotográfica, com suas características próprias, a imagem trazida de volta como objeto até mesmo de desejo, de vestígio e de ingrediente de uma composição qualquer. Max Ernst (1891-1976) foi um dos mais importantes representantes do Surrealismo. Uma de suas criações mais famosas é Uma Semana de Bondade, um conjunto de 184 obras criadas durante uma viagem de três semanas à Itália, em 1933. A série, apesar de não ter texto, pode ser lida como uma versão subversiva do Gênesis. As colagens são agrupadas por dias da semana.

Max Ernest, Colagens da série "Uma Semana de Bondade. (Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u724718.shtml

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Após o período de experimentações das vanguardas em que os limites entre os meios artísticos foram rompidos, a arte moderna veio reafirmá-los, enaltecendo a especificidade, o que levou ao desenvolvimento estanque da pintura, da escultura, da gravura e da fotografia delimitados como campos perfeitamente distintos. Assim conforme Costa (2002), “a partir da década de 1950 que arte viria restabelecer uma ligação explícita com o universo fotográfico”. Iniciada com a Pop Art que fez da apropriação de imagens e do princípio de reprodutibilidade suas estratégias artísticas fundamentais.

2.1.2. Pop Art

O modelo fordista da produção industrial em série e do consumo em massa rege a criação artística. Dentro dessa concepção de arte, a fotografia desempenha um papel principal e inédito o de ferramenta essencial de uma ação de despictorização da arte. Com a ajuda da fotografia e de procedimentos fotomecânicos, como a serigrafia, Warhol mina os valores canônicos da cultura erudita em prol dos valores canônicos da cultura de massa (ROUILLÉ, 2009, p.307).

Com a Pop Art que o conceito da multiplicação da imagem tem seu apogeu. Fazendo surgir na sociedade ícones da comunicação de massa, utilizando-se de materiais nãoartísticos, este movimento coloca em questão os conceitos tradicionais de arte. A repetição faz parte do conceito moderno de arte, repetição esta, levada aos extremos por Andy Warhol que isolava símbolos da cultura de massa e reiterava-os seguindo técnicas publicitárias evidenciando sua repetição obsessiva. A iconografia utilizada nos trabalhos pop indica uma crescente fascinação artística por gêneros ambíguos entre os domínios públicos e privados, sendo extraídas de jornais, revistas, cinema, campanhas publicitárias, da televisão, da fotografia, e dos quadrinhos. Um gosto cada vez mais insistente pela encenação e formalização do objeto de consumo, o estereótipo, o já pronto, o clichê, o cotidiano (flores, latas de sopa, Marilyn, Elvis).

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Marilyn Monroe. Andy Warhol, 1967. (Fonte: http://www.galeriehafenrichter.com)

Neste sentido, a arte já não depende de sua presença física diante do espectador, mas sim, de registros que sustentem sua credibilidade, e a imagem fotográfica desempenhou muito bem este papel. A imagem fotográfica possibilitou outra relação com o modo como a arte era vista. Dessa forma, o embate fotografia-pintura, como aconteceu no século XIX, esmorece diante das novas estéticas artísticas. Pois os novos dispositivos tecnológicos do século XX permitiram que a própria arte seguisse um caminho totalmente inovador. Dentro deste contexto, a imagem seja ela pictorial ou fotográfica passa a ter sentido como arte na amplitude de seu significado, em que a técnica é apenas um meio. O que importa mesmo é a mensagem, o conceito, a própria arte. De acordo com Gadelha (2007), na atualidade a fotografia se faz presente em diversos meios artísticos. Se inicialmente a trajetória da fotografia artística passava à margem do universo da arte, e, mesmo quando passou a ser admitida nos museus de arte moderna era relegada aos espaços anexos, e até na historiografia da arte em geral era estudada em capítulos à parte, hoje a situação é radicalmente distinta. Agora a fotografia tem presença garantida nas principais exposições e bienais, frequentemente ocupando lugares de destaque. Encontrou grande receptividade no mercado, sobretudo internacional, atingindo recordes nos leilões de arte, e é cada vez mais cobiçada por coleções públicas e particulares. Além disso, tem

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sido homenageada em grandes exposições temáticas, dedicadas inteiramente a dar visibilidade e produzir conhecimento sobre o meio.

De acordo com a autora de coadjuvante passou a protagonista, e não seria exagerado afirmar que a fotografia é a linguagem artística mais característica da pósmodernidade. Na realidade, o histórico do processo de inclusão da fotografia na arte se confunde com o próprio movimento de constituição do pós-modernismo.

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2.2. A FOTOGRAFIA NA ARTE CONTEMPORÂNEA

O diferenciam então as experiências das vanguardas da arte contemporânea? O que a define como contemporânea e não simplesmente continuidade desse olhar transgressor das vanguardas? Pretendemos

buscar

estas

respostas

analisando

as

obras

de

artistas

contemporâneos que utilizam a fotografia como meio para o fazer artístico, acentuando características ficcionais, de memórias e narrativas como traços presentes nas obras contemporâneas. Porém, antes de iniciar a observação da presença da fotografia na arte contemporânea, é necessário tentar entender a significação da própria arte no momento presente. As primeiras implicações referem-se à nomenclatura da arte atual e ao período no qual ela se insere. Há divergências quanto às nominações dadas à arte atual como contemporânea e ao período atual como pós-moderno. Segundo a definição mais comum (FERREIRA, 1975), a palavra contemporâneo, é “[...] aquilo que é do mesmo tempo, que vive na mesma época, portanto, quando falamos de arte contemporânea [...]”, estamos nos referindo à arte do momento atual, aquela que é realizada nos dias de hoje. Esta denominação foi utilizada como forma de diferenciação entre a arte realizada a partir da década de 1950 e o período anterior próximo, o da arte moderna. A palavra moderno introduz em seu significado o que é mais novo e atual. Quase um sinônimo da palavra contemporâneo. Em relação à arte, a distinção é clara e específica: moderno ou modernismo é o período artístico que antecede o período artístico contemporâneo e que engloba vários movimentos de vanguarda, abrangendo desde a metade final do século XIX até meados do século XX. Já contemporâneo refere-se à arte realizada a partir deste período até os nossos dias. Diante das possíveis abrangências nominais, Agnaldo Farias (2002) sugere-nos que a palavra contemporâneo foi dada para a arte desta época por falta de uma nomenclatura melhor, já que este foi um período constituído por um conjunto de manifestações dotadas de particularidades, reunidas sob a etiqueta simples e genérica de arte contemporânea. No entanto, as relações existentes neste conjunto de manifestações estão alicerçadas em alguns pontos emblemáticos da arte moderna, responsáveis pelo formato atual 51


da arte. Na verdade, toda modificação artística, nos diversos períodos históricos, está ligada, de alguma forma, a um percurso, que em alguns momentos mostra-se linear e, em outros, extremamente sinuoso. Com a passagem da arte moderna e da arte contemporânea, isso não foi diferente. A arte contemporânea foi e está sendo construída sobre patamares que ajudaram, tanto a formatar alguns conceitos inovadores, como a romper com algumas normas e valores. Falar de arte contemporânea é também falar de artistas e de momentos de ruptura; no entanto, esta não é uma tarefa fácil, e muito menos simples. Refletir sobre a arte atual é pensar sobre um conjunto de situações que ainda estão acontecendo, ao contrário de um momento já vivido e refletido. Assim como na arte, o mesmo vale para a fotografia contemporânea. Como defende Ronaldo Entler (2009), o termo “contemporâneo” não consegue dar conta desse processo em construção que, no entanto, já possui uma história de quase meio século. Para o autor parece que daqui a cem anos, leremos nos livros que a fotografia contemporânea foi um movimento ocorrido do Século XX para o XXI. De acordo com Entler (2009) a melhor solução para este problema é abandonar a temporalidade desta classificação e considerarmos, daqui para frente, a fotografia contemporânea como uma postura, assim não caímos no relativismo o que impossibilitaria uma reflexão sobre a produção recente.

2.2.1.

Arte-Fotografia

Após o advento da arte moderna, principalmente com as vanguardas históricas, que abriu espaços para um grande número de materiais durante o século XX, chega então o momento da fotografia ser considerada um dos principais materiais artísticos no início deste século. Atualmente, os processos tecnológicos ultrapassaram a ideia de imagem técnica mediada pelo aparelho e o processo criativo ganha valor no fazer fotográfico. Ao romper com o seu caráter mimético, ela supera o problema de ser ou não ser arte ou mero instrumento de registro. De acordo com Cotton, o mundo da arte acolhe a fotografia como nunca fez antes. Estamos vivendo um momento excepcional para a fotografia, pois hoje o mundo da arte a acolhe como nunca o fez e os fotógrafos consideram as galerias e os livros de arte espaço natural para expor seu trabalho. Ao longo de toda a história da fotografia, sempre houve quem a promovesse como uma forma de arte e um veículo de ideias, ao lado da pintura e da escultura, mas nunca essa perspectiva foi difundida com tanta frequência e veemência como agora. Atualmente, a aspiração de muitos fotógrafos consiste em identificar a “arte” como território preferencial de suas imagens (COTTON, 2010, p.7)

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Na atualidade, o artista contemporâneo busca romper como artista moderno, que focava sua obra na questão de uma gramatica abstrata, ligada ao culto da individualidade e a originalidade de sua obra. De acordo com Kátia Canton é exatamente na remoção desta trava modernista que o cenário artístico e cultural volta-se ao corriqueiro, ao ordinário. [...] muitos artistas sentem a necessidade de se aproximar da realidade e do público e retomam a ideia de narrativa. Eles passam a buscar uma produção que se relacione diretamente com os fatos da vida e deixam de se colocar numa posição transcendente, na qual a arte poderia se valer por si mesma, deslocada dos limites impostos pela vida real. (CANTON, 2009, p.26)

Conforme a autora, a produção artística contemporânea, se volta aos relatos do cotidiano, reflexos de um mundo gerado pela informação midiática e pela reprodutibilidade virtual. “Em vez de uma arte potente em si mesma, capaz de transcender os limites da realidade, a arte contemporânea penetra nas questões cotidianas, espelhando e refletindo exatamente aquilo que diz respeito à vida.” (Idem. p.35) A partir desta compreensão, apresentaremos a seguir a produção dos artistas brasileiros Avani Stein, Caco Neves, Pedro Karg, Tom Lisboa e Vik Muniz, bem como as produções das artistas internacionais Alexa Meade, Bárbara Cindy Sherman e Nienke Klunder, que se destacam na produção fotográfica contemporânea, por acentuar características ficcionais, de memórias e narrativas que despertam o nosso olhar para sensibilidade visual e questões cotidianas como traços presentes nas obras contemporâneas.

2.2.2.

A Fotografia como Narrativas Cotidianas

Bárbara Kruger é uma artista contemporânea norte-americana cuja obra permeia diversos campos entre eles o da arte pública, feminista e engajada. As características formais de suas obras se destacam pela linguagem visual direta através do design e publicidade, o que a torna facilmente inteligível e lhe atribui forte identidade visual. A arte de Barbara Kruger pode ser definida como fotomontagem em preto e branco muitas vezes como slogans (de vermelho forte). Ela utiliza fotografias retiradas da televisão, filmes, jornais e revistas como matéria-prima e, posteriormente, interfere sobre esse material, recortando, aumentando, distorcendo-o. A pseudo-inocência dessa nova imagem é quebrada pelo título de palavras extremamente acusatórias. Valendo-se da mistura de imagens publicitárias com frases de efeito, o trabalho de Barbara Kruger aproxima-se dos anúncios 53


publicitários e campanhas de propaganda política. Seu trabalho pousa sobre o tênue limite ente a arte e a provocação, o anúncio e o poder. No trabalho de Barbara Kruger, percebe-se, sobremaneira, uma crítica ao comportamento do mundo moderno, fortemente determinado por convenções sociais, e aos meios estereotipados pelos quais a cultura de massa influencia a sociedade. O discurso feminista sobre os direitos reprodutivos, que defende o aborto como escolha pessoal da mulher, é um tema central da obra da artista. As séries que apresentam esse conteúdo evidenciam o caráter politicamente engado e público de seu trabalho, por utilizar o objeto artístico como instrumento político e questionar o espaço da galeria e seu público alvo.

Barbara Kruger, Your body is a battleground. (Fonte: http://www.barbarakruger.com/art.shtml)

Seguindo a mesma concepção de representar as questões cotidianas, refletindo sobre as questões da vida, através da fotografia, o artista brasileiro Caco Neves se destaca por dominar a arte da colagem manual e digital. Apropria-se de fotografias, imagens digitais e impressas para suas composições. Embora seu trabalho seja publicitário, tem atraído muitos jovens com seus fragmentos como que dizendo que a fotografia tem esse poder, de criar significados através da imagem. Com avanço da tecnologia e a manipulação das imagens, podemos simular modelos do real, como se fossem fotos. Como reconhece Arlindo Machado, “O computador permite forjar imagens tão próximas da fotografia que muita gente não é capaz de distinguir

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uma imagem sintetizada com recursos da informática de outra registrada por uma câmera” (MACHADO, 2002, p.213-214).

Caco Neves, Série Cats, 2010. (Fonte: http://www.caconeves.net/)

Grande parte de suas produções são voltadas ao público jovem são fragmentos de imagens do cotidiano e imagens surreais, nas quais se destacam a cor, texturas e formas diversas. O artista tem a intenção de mostrar aos jovens o quanto somos influenciados pela cultura de massas, pela tecnologia e o quanto isto se reflete na formação da identidade do jovem na atualidade. Neste sentido, de acordo com Rouillé (2009) as imagens se libertaram das imposições estéticas de pureza e se misturam de forma desmedida às imagens de todas as origens, sejam artísticas ou não. Na atualidade as obras, adotam o princípio de reprodução, desestruturando contextos e sentidos históricos, e resultando em uma imagem desprovida de sentidos originais, sem estar presa a leis.

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2.2.3.

A fotografia como narrativas que sensibilizam o olhar

De acordo com (Samim, 2005), a imagem contém em si uma infinidade de significações que nos levam ao domínio da sensibilidade e da subjetividade. Uma fotografia diz muito, podendo evocar exatamente a magia e o mistério que se registra com a câmera. Na contemporaneidade perceber o outro com sensibilidade é uma possibilidade de reencontrar o olhar sereno. Segundo Entler (2009) “a possibilidade de deter o olhar sobre a imagem representa a chance de imprimir sobre ela uma certa dose de desejo e sentimentos, que ligará o sujeito a imagem de uma forma intensa e, talvez definitiva.” O Curitibano Tom Lisboa é um fotógrafo que inspira inovação e interatividade, e faz da fotografia o meio para suas intervenções urbanas. Suas produções envolvem de forma direta e indiretamente a cidade, ele a usa como pano de fundo para seus trabalhos e muitas vezes ele atua também como protagonista, suas intervenções permitem que o público interaja com seu trabalho, aproximando assim as pessoas com a cidade e criando diferentes pontos de vista. Sua obra provoca nos expectadores, novos olhares para os espaços urbanos, sendo estes muitas vezes despercebidos por seus habitantes. Segundo Peixoto (1998), é preciso pensar sobre o tipo de intervenção cabível à arte para facilitar o relacionamento com as cidades contemporâneas nas quais o espaço público está em crise.

Sendo a cidade uma confluência de várias comunidades, o sentido de uma intervenção urbana não é o de dialogar com uma comunidade específica. Por isso, a intervenção provoca reações diferentes em função das várias comunidades envolvidas. Além disso, ela não visa as pessoas como especificamente membros de uma comunidade apenas, mas, antes de mais nada, como habitantes de uma grande cidade, que também têm coisas universais em comum. Portanto, as reações são múltiplas (PEIXOTO, 1998, p. 163).

Segundo o autor, as intervenções artísticas contribuem para redefinir o espaço urbano, criando novas tramas com a arquitetura e o urbanismo e as situações sociais ao redor. Assim, o espaço urbano passa a ser o resultado das intervenções artísticas, não o “campo préorganizado, estabelecido para que isso se dê, caso a atividade artística tenha alguma força e alguma função.” Logo, para o autor, as intervenções temporárias no espaço urbano não são meras exposições coletivas, mas sim uma proposição de adequação e de experimentação do espaço.

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Série Absent Tom, Tom Lisboa, 1994. (Fonte: http://www.sintomnizado.com.br/absenttom)

A série “Absent Tom” foi realizada em Buenos Aires em 2008, na qual o artista revisita seus álbuns de fotografias e vai ao encontro de espaços que já percorreu. Realizada a intervenção sobre o espaço urbano com imagens em MDF na dimensão 20x25 cm. A fotografia novamente registra a imagem do porta-retratos junto ao cenário atual. A única diferente está apenas na fonte das imagens, cujas silhuetas foram apagadas. Algumas intervenções realizadas já permaneceram por meses e alguns anos nos locais, propiciando ao público que transita sobre estes espaços, o aguçamento do olhar. A seguir conheceremos a obra da artista Avani Stein. Na produção fotográfica contemporânea, não existem mais barreiras entre a pintura e a fotografia, na atualidade os artistas utilizam este recurso sem nenhum problema, a fim de aguçar o olhar e a sensibilidade visual dos expectadores. Podemos contemplar isso, na produção da artista gaúcha Avani Stein, ela desenvolve trabalhos de expressão pessoal em fotografia e sobrepõe elementos criptográficos às suas composições fotográficas. Fotografa pessoas ou cenas e depois de reveladas interfere com pintura sobre fotografia, criando novas formas e linhas a imagem apropriada. Para a artista, sua arte se faz no olhar, no deter-se, na busca de algo que as pessoas veem e não enxergam. Com sua intervenção a artista direciona o

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olhar do espectador para que esse se encontre com o seu. Ao fazer isso, a fotógrafa leva esse receptor de suas obras ao seu imaginário. No início de sua produção artística, Avani encobre o referente na procura de uma identidade estética, experimentando as possibilidades de intervenção plástica nas fotografias e fazendo das linhas da imagem que delineiam a representação bordas para a intervenção, como um desenho pronto no qual o preenchimento é feito pelo interventor. Nessa fase, a fotografia transformava- se praticamente em uma fotopintura. As intervenções através de sua técnica pessoal nas obras mais recentes são mais sutis, ainda que a fotografia continue sendo encoberta, agora principalmente pela pintura. Avani faz com que o observador atente para certos detalhes na imagem com cores e sua técnica pessoal. Sua linguagem, suas técnicas e o referente complementam-se e equilibram-se ao mesmo tempo em que o imaginário da artista é exposto ao espectador.

Foto/Pintura. Avani Stein , 1997 (Fonte:http://www.itaucultural.org.br)

A base dessa imagem é um retrato fotográfico. Porém, a fotográfa foi além da fotografia: ela usou técnicas de pintura para produzir uma nova imagem. Uma imagem que é 58


ao mesmo tempo uma foto e outra coisa. Ainda que a artista tenha pintado uma foto, ela conseguiu algo mais que isso: criou uma tensão entre aquilo que associamos como registro mecânico da realidade e o que atribui a imaginação e criatividade do artista. Ao olhar o retrato nos perguntamos, isto é uma foto ou uma pintura? Esse, retrato segundo a artista, é as suas coisas que desperta o olhar do espectador uma nova imagem. A fotografia e a pintura não são mais rivais. Elas podem ser combinadas de maneira a gerar uma imagem que tem a ver com as pesquisas estéticas das artes moderna e contemporânea. Pensando assim, as produções da artista norte-americana Alexa Meade de apenas 24 anos se destacam na fotografia contemporanea, pois à primeira vista, os trabalhos parecem quadros expressionistas. Mas ao olhar com mais atenção percebemos que se trata de muito mais do que isso, pois são instalações bem tridimensionais. Ao invés de usar telas planas, ela faz a arte sobre o próprio elemento retratado. Meade utiliza uma técnica própria, com tinta acrílica, o que faz com que a realidade pareça uma figura bidimensional, entre modelos e ambientes arquitetônicos. O processo se dá através de um trabalho fotográfico prévio, medindo a luz do ambiente e do objeto retratado, pintura dos componentes com cuidado, respeitando luz, cor da pele, detalhes e expressões, além de contar com as performances dos modelos ou, se preferir, das “obras de arte”. Segundo Alexa Meade, os modelos que ela utiliza são transformados em personificações da interpretação do artista, da sua essência. “Quando vemos uma fotografia ou vemos a instalação pronta, as pessoas que estão por detrás do trabalho desaparecem eclipsadas pelas suas próprias máscaras”.

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Alexa Meade (Fonte: http://alexameade.com/)

Alexa Meade (Fonte: http://alexameade.com/)

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Seguindo a mesma idéia de narrativas que sensibilizam o olhar, podemos afirmar que a produção do fotógrafo Pedro Karg, que é natural de Porto Alegre e tem 19 anos, nos impactam pela beleza das composições fotográficas, bem como pela sensibilidade do artista em criar suas obras. Pedro é um jovem talentoso que tem um estilo poético para criar suas produções em moda, sendo esta encarada como arte. Pedro é quem fotografa, faz o styling, e quem produz suas próprias criações. O fotógrafo trabalha com fotografia de moda, no entanto busca referências na arte para produzir e criar suas imagens. Pedro se uniu inicialmente a sua irmã Daniela Karg, artista visual e modelo de suas fotos, e, juntos, eles criaram imagens que despertam e sensibilizam o olhar. Na produção abaixo, os irmãos, usaram a obras de Gustav Klimt através de projeções.

Pedro Karg, Perene, 2011. (Fonte: http://www.flickr.com/photos/pedrokarg/)

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2.2.4.

A Fotografia como Narrativas de Memórias e Ficcional

De acordo com Cotton (2010), desde meados dos anos 70, a teoria da fotografia tem-se voltado para a ideia de que as fotos podem ser entendidas como processos de codificação e significado cultural. A análise pós-modernista tem oferecido maneiras alternativas de compreender o sentido de fotografias alheias aos preceitos das perspectivas modernistas. O modernismo considerava a fotografia em termos de sua autoria e dos desenvolvimentos estéticos e técnicos desse veículo. Já o pós-modernismo considerou a fotografia de um ponto de vista diferente, que não tinha a intenção de servir para construir um panteão de criadores fotográficos à imagem e semelhança dos nomes consagrados da pintura e da escultura. Em vez disso, o pós-modernismo examinou esse meio de expressão em termos de sua produção, disseminação e recepção, abordando atributos inerentes a ele, como sua possibilidade de reprodução, imitação e falsificação. Em lugar de indícios (ou da falta) de originalidade de um profissional ou da manifestação de um propósito autoral, as fotografias foram vistas como sinais que adquirem seu significado ou valor de sua inserção no bojo de um sistema mais amplo de decodificações sociais e culturais. Neste sentido, a fotografia contemporânea nasce dessa maneira de pensar. O que fica aparente quando vemos as imagens é que elas proporcionam experiências atreladas às imagens estocadas em nossa memória como: cenas de famílias, anúncios em revistas, cenas de filmes, fotografias de arte, pinturas e assim por diante. Estas fotos nos convidam a tomar consciência do que vemos, de como vemos e de como essas imagens disparam e moldam as nossas emoções e o nosso entendimento do mundo. A artista norte-americana Cindy Sherman (1954), atua construindo um portfólio de uma atriz que nunca existiu. Nas suas séries de autorretratos fotográficos ela constrói, reconstrói e descontrói a imagem do corpo feminino, presente em diversos contextos midiáticos como cinema, televisão, pintura, revistas de moda e pornográficas. Sherman apropria-se das imagens fabricadas pela sociedade de consumo e parodia os ídolos femininos produzidos pela indústria cinematográfica – Hollywood, pela publicidade e programas de TV, assumindo seus papeis, nas suas encenações fotográficas. A questão central do trabalho de Sherman é desvelar no universo das imagens midiáticas “o sujeito pós-moderno, conceitualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente, mas sim uma multiplicidade desconcertante e cambiante de

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identidades possíveis, com cada uma das quais o sujeito poderia se identificar-se ao menos temporariamente” (HALL, 2000, p.13). A característica ficcional se destaca na obra da artista Cindy Sherman, pois ao assumir mil feições ela não tem nenhuma. De acordo com Rouillé (2009) a perda da crença na realidade potencializa a invenção de outras realidades, a ficção caracterizada na fotográfica contemporânea. A potencialização das imagens dá-se através do imaginário, forjada entre a memória pessoal e coletiva que estas paródias do mundo representam. De acordo com Entler (2009) teremos então a surpresa de perceber que, ao inventar um mundo, essas ficções nos representam ainda mais profundamente.

Cindy Sherman.Untitled Film Still #21, 1978. (Fonte: http://masters-of-photography.com)

A concepção de imagem que guia Sherman nessa série é bem significativa em sua aparente singeleza. Explorando os contrastes luminosos propiciados pela fotografia em preto e branco, a artista propõe imagens bem definidas, tanto nas tomadas em interiores quanto naquelas realizadas em ambientes externos como a cidade de Nova Iorque, Long Island e o Sudoeste dos Estados Unidos. As diferentes personificações da mulher são captadas em poses deliberadas, como se ela estivesse olhando para a câmara ou interagindo com alguma presença no espaço delimitado pela composição. A artista Nienke Klunder é uma fotografa nascida nos Estados Unidos e vive atualmente na Grã-Bretanha. A característica ficcional também se faz presente na produção artística da fotografa. É conhecida pelos seus surpreendentes retratos fotográficos, séries e sequências provocadoras. O seu trabalho tem 63


uma abordagem multidisciplinar, no campo da escultura, desenho e instalações, em projetos individuais e coletivos. Trabalhando, sobretudo em sequências e séries, utiliza frequentemente o autorretrato para explorar temas de identidades e transformação. Nienke lida com a transformação continua da sua própria imagem, para criar trabalhos onde é patente sua crítica à sociedade baseada nas imagens e nas aparências. As suas “personagens” passam por metamorfoses que abrangem um vasto leque de significados, desde o estatuto social, a beleza, as diferentes etnias e raízes culturais ou, simplesmente, os estados de espírito. As metamorfoses patentes nos seus trabalhos podem envolver um sequência temporal retratando os vários passos dessa transformação, tal como fotogramas de um filme, como acontece na “Sequência 4” ou podem ser metamorfoses físicas que invocam diferentes “personas” tanto a nível estritamente físico como a nível cultural, psicológico, étnico ou social.

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Nienke Klunder, 2010. (Fonte: http://www.nienkeklunder.com)

Por fim, apresentaremos o trabalho do artista Vik Muniz (Vicente José Muniz), natural de São Paulo. Surpresa. Talvez este seja o modo como Vik Muniz convoca nosso olhar nas ilusões que cria. Nem sempre estamos atentos para ver como desenha um Rembrandt com pregos, ou florestas com linhas. Integram, em suas obras, linguagens artísticas diversas como o desenho, a pintura, a escultura e a gravura, mas é a fotografia que marca seu trabalho. São as fotografias, geralmente apresentadas ao público como séries, que registram as imagens de aparência realista produzidas com materiais inusitados como macarrão, fios de arame, pó, chocolate, açúcar, etc. Costuma dar às séries um nome com referência ao material utilizado: Imagens de Arame, de Terra, de Chocolate, Crianças de Açúcar, etc.

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Suas imagens são pacientemente compostas pelo desenho, pintura ou escultura com esses materiais perecíveis sobre uma superfície. Após serem fotografadas, são destruídas. As edições limitadas dessas fotografias são expostas como produto final. Encantado pela fotografia, seu trabalho conquista respeito, sendo exposto em diversos museus, galerias e mostras internacionais. Neles, inserido na estética contemporânea, recria imagens do mundo das artes, dos meios de comunicação e do cotidiano, investigando temas relativos à memória, à percepção e à representação de imagens. Segundo Vik Muniz “as imagens estão dentro de imagens que estão dentro de memórias”. De acordo com Muniz: Quero criar a pior ilusão possível que ainda possa enganar os olhos da média das pessoas. Algo tão rudimentar e simples que o observador pense: “Não acredito no que estou vendo, não posso estar vendo isto, minha mente é sofisticada demais para se deixar enganar por algo tão simples assim”. Ilusões tão pobres quanto as minhas tornam as pessoas conscientes das falácias das informações visuais e dos prazeres derivados de tais falácias. Estas ilusões são feitas para revelar a arquitetura da nossa concepção de verdade. Elas são meta-ilusões (MUNIZ, 2009, p.328)

Apropriação

de

imagens,

memória,

repertórios

revividos.

A

estética

contemporânea contracena com as ilusões fotográficas de Vik Muniz, surpreendendo-nos pela invenção e pelos procedimentos técnicos, convocando-nos a percorrer os labirintos das tramas de possíveis significações. Abaixo temos a recriação de Vik Muniz na obra intitulada o Marat (Sebastião), na qual o artista busca referência na arte, entre os catadores do Aterro Sanitário Jardim Gramacho.

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Vik Muniz, Marat (Sebastião),2009. (Fonte: http://www.vikmuniz.net/)

Ao concluir esta pesquisa sobre a fotografia contemporânea, foi possível perceber que desde a sua invenção, a fotografia foi reduzida durante muito tempo, ao seu dispositivo mecânico. No entanto, a fotografia contribuiu significativamente para que os artistas pudessem ficar livres da representação como realidade. Atualmente ela é considerada imprescindível nos processos artísticos, no qual muitos fotógrafos a identificam com “arte” que desperta para o um olhar sensível, através de narrativas de memórias, cotidianas e ficcionais, marcantes na produção artística contemporânea. Esta pesquisa, sem dúvida contribui muito para o meu crescimento intelectual e profissional, além de despertar uma paixão pela fotografia. Penso que há muito a ser pesquisado sobre este tema, pois é complexo e amplo. Este foi sem dúvida um pequeno ensaio, há muito a aprender e a compreender.

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CAPร TULO 3 ______________________________ Projeto e Prรกtica de Ensino em Artes Visuais

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3.1. Dados Gerais da Escola da Prática Educativa

O Projeto de Ensino “Ampliando o olhar para a Fotográfica Contemporânea”, foi desenvolvido durante 14 semanas, entre 22 de agosto e 21 de novembro de 2011, na turma 117 de 1º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Candido José de Godói, situada na Avenida França, nº 400, Bairro Navegantes em Porto Alegre. As aulas sempre ocorreram no turno da tarde, todas as quintas-feiras no último período, com encontros de 55 minutos cada, que se iniciavam 16h45min e terminavam às 17h30min. A turma era composta por vinte e dois alunos com faixa etária entre 14 e 19 anos. A Professora titular era licenciada em Artes Visuais.

3.2. Dados Gerais do Projeto de Ensino 3.2.1. Tema O tema do Projeto de Ensino trata a respeito da fotografia contemporânea, destacando principalmente os processos artísticos recentes, que despertam o olhar para uma produção artística diversificada, para uma experiência estética e conteúdos relacionados à vida. Neste sentido, o tema do Projeto de Ensino partiu da premissa de que para compreender a produção fotográfica contemporânea, bem como seus processos de criação e produção, temos que mergulhar no mundo das imagens, pois nada substitui a experiência de ver. Ver, comparar, elaborar conexões, estabelecer relações. Olhar para uma imagem e explorar suas potencialidades narrativas. Para uma melhor compreensão do tema, foi feito um recorte histórico a partir das vanguardas artísticas até os dias de hoje. Foram destacados procedimentos artísticos utilizados por diversos artistas nestes movimentos, como também a variedade de procedimentos recentes, centrados em nosso conhecimento prévio de imagens, o que inclui releituras de fotografias muito conhecidas e desconhecidas do publico em geral, mas que despertam nossa consciência para a visualidade e para aspectos culturais e sociais. Foram pesquisados vários artistas cujas propostas em arte e fotografia nos provocam a desenvolver um olhar mais observador e crítico para as imagens do cotidiano. 69


Dentre eles, podemos citar o artista contemporâneo: Caco Neves. O artista se apropria de imagens impressas e virtuais da mídia para produzir colagens manuais e digitais, com temáticas voltadas ao público jovem. Também foram pesquisados artistas que utilizam a fotografia como meio para o fazer artístico, acentuando características ficcionais, de memórias e narrativas como traços presentes nas obras contemporâneas. Foram escolhidos três artistas brasileiros: Avani Stein, Vik Muniz e Tom Lisboa, e quatro artistas americanos: Alexa Meade, Bárbara Kruger, Cindy Sherman e Nianke Klunder. Também foi apresentado o trabalho do Fotógrafo Pedro Karg, jovem de 19 anos, que mora em Canoas, RS, e foi o artista convidado para visitar a escola de Ensino Médio

3.2.2. Justificativa Vivemos hoje em um mundo rodeado por complexas imagens e pelo avanço da tecnologia. As imagens são essenciais para a nossa informação e conhecimento, contudo não somos capazes de ler todas essas informações que na grande maioria são absorvidas inconscientemente. Neste sentido, o ambiente escolar torna-se o espaço propício para que o aluno possa interpretar os sentidos e significados destas imagens. E uma boa oportunidade para ampliar e sensibilizar o olhar dos alunos para outras linguagens artísticas e a pensarem sobre a arte como parte de seu cotidiano. Ao promover uma aprendizagem e conhecimento através da fotografia contemporânea, consideramos ser esta uma excelente oportunidade para despertar os alunos para a produção artística recente, pois assim, estimulamos aos alunos uma tomada de consciência das imagens com temas relacionados ao cotidiano e a uma experiência estética.

3.2.3. Objetivo Geral O Projeto de Ensino tinha como objetivo principal despertar o olhar dos alunos para a visualidade, a fim de desenvolver um olhar sensível, e um olhar observador e crítico para as imagens, e transformar a atitude de fotografar em uma experiência estética através da consciência e manipulação dos elementos da linguagem fotográfica.

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3.2.4. Objetivos Específicos

• Aproximar os alunos da arte através da fotografia; • Reconhecer a arte como conhecimento e expressão; • Conhecer a produção de fotógrafos contemporâneos; • Apreciar e analisar imagens fotográficas, observando suas características; • Promover a contextualização das obras; • Imprimir intencionalidade ao fotografar; • Fotografar com criatividade a partir de um tema; • Instigar os alunos a um processo de educação visual, através do ver e observar; • Aguçar a percepção e sensibilidade visual através dos processos artísticos em fotografia;

Tornar o espaço da sala de aula um espaço de intersecções e vivências

significativas em arte.

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3.3. Prática De Ensino 3.3.1. Primeiro Encontro Data: 22/08/2012 Aula:1

Tema da Aula: Identidade

Duração da aula: 13h15min às 14h05min

Objetivos: ● Introduzir o projeto de ensino. ● Conhecer melhor os alunos, bem como propiciar uma aproximação entre a estagiária e a turma através da atividade. ● Apreciar e analisar as produções do artista Caco Neves. ● Aguçar a percepção visual, através das colagens de Caco Neves e das imagens impressas nos jornais e revistas. ● Investigar os critérios dos alunos para a seleção das imagens nas revistas e jornais. ● Construir uma colagem que descreva a sua identidade.

Conteúdos: ● Identidades. ● Vida e obra de Caco Neves. ● Leitura de imagens. ● Colagens.

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Metodologia: ● Aula expositiva dialógica, exposição de imagens e atividade individual.

Desenvolvimento da Aula: 1º momento: ● Apresentar o artista Caco Neves e algumas de suas produções que remetem as questões ligadas à identidade e adolescência. ● Instigar os alunos a interpretar as imagens através da leitura visual, observando suas características. ● Abordar a questão da identidade na adolescência. Conversar sobre a influência da cultura de massa sobre os jovens e como isto se reflete nas obras do artista.

Caco Neves, 2010 Fonte: http://www.caconeves.net/#261279/Semduble

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2º momento: ● Após apresentar o artista, desafiar os alunos a realizar um exercício de criação. Que consiste em extrair imagens e palavras de revistas e jornais atuais, com o objetivo de identificar: Como eu sou? Como eu me vejo? Do que eu gosto? Após a seleção das imagens, os alunos deverão criar composições através de colagens. As composições deverão ter sentido e significado e responder as questões pretendidas na atividade. ● Desafiar os alunos a observar a disposição das imagens na superfície, observando regras básicas como: equilíbrio, harmonia, contraste, espaço cheio e espaço vazio, dinâmica, ritmo, formas variadas, explorar cor e texturas. ● Neste primeiro encontro levarei todo o material necessário para a realização do mesmo. Será distribuído entre os alunos revistas e jornais, colas e tesouras para realizar a atividade individualmente.

3º momento: ● Após a conclusão da atividade, os alunos deverão fazer uma reflexão sobre o que foi realizado. ● Finalizar solicitando os materiais para a próxima aula.

Recursos: ● Revistas Jornais, tesouras, colas, papel A3, imagens, computador com projetor multimídia.

Avaliação: ● A avaliação se dará observando o envolvimento e interesse dos alunos. ● Verificar quais foram os critérios estabelecidos pelos alunos para a escolha das imagens. ● Observar se os alunos conseguiram explorar a percepção e a sensibilidade visual no fazer artístico. ● Verificar se os alunos exploraram a temática identidade.

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Realizado O primeiro encontro com a turma 117 do ensino médio, aconteceu no 1º período do dia 22/08, das 13h15min às 14h05min. Esta turma tem 23 alunos matriculados, mas apenas 11 alunos compareceram a esta aula. A professora titular me informou que a média de alunos que assistem à aula de Arte é de no máximo 15. A maioria dos alunos entra para a sala de aula apenas para o segundo período. Neste primeiro encontro, a professora titular permaneceu na sala e me reapresentou aos alunos. Ao iniciar o encontro, saudei os alunos e os informei que havia retornado a escola para realizar a prática de ensino por 12 semanas. Relembrei a turma que durante as observações silenciosas, realizadas em maio, foi aplicado com os alunos um questionário, que tinha por objetivo descobrir quais os interesses da turma em Arte. Tais como: materiais que gostariam de trabalhar, conteúdos e linguagens plásticas que preferem aprofundar, etc. Comentei que após uma análise dos questionários, constatei que a linguagem visual mais apropriada para trabalhar com a turma era a fotografia. Expliquei que não pretendia me aprofundar na questão histórica e nem técnica da fotografia, mas explorar os processos artísticos contemporâneos em fotografia. Com o objetivo de despertar a percepção e a sensibilidade dos alunos, bem como instigá-los a perceberem as imagens de forma crítica. Comentei que vivemos num mundo onde a imagem é latente. No dia a dia, somos bombardeados com imagens que têm diversas mensagens, e como nós as interpretamos, será que as percebemos, ou já estamos tão saturados de imagens que nem percebemos o significado e sentido destas? Comentei que ficaria muito feliz, se a partir de nossos encontros, eles começassem a ter outros olhares para as imagens de seu cotidiano e para as imagens que serão apresentadas nas aulas. Comuniquei que gostaria de conhecê-los melhor, e que minha proposta para este primeiro encontro era mostrar as produções do Designer Caco Neves. Caco trabalha com colagens manuais e digitais, e sua linguagem é voltada para o público jovem. Mostrei várias obras do artista e pedi que eles fossem relatando suas impressões a respeito do trabalho do artista. Bom, a princípio, ninguém comentou nada, apenas contemplaram as imagens. Perguntei se haviam gostado das obras do artista e o que mais chamou a atenção deles. 75


Eles comentaram que as imagens são bem elaboradas e mostram o quanto o jovem esta inserido no mundo virtual e tecnológico. Perguntei se haviam encontrado nas imagens elementos de identificação. Algumas meninas se identificaram com a moda e as redes sociais. Os meninos não comentaram nada a respeito. Pedi que identificassem alguns elementos visuais nas imagens, alguns alunos perceberam que a cor é predominante nas produções de Caco Neves. Também notaram o quanto ele explora texturas e cria novas formas com elas. Acharam estranho o uso de vários animais nas composições, principalmente na série gatos. Chegaram à conclusão que deve ser o animal favorito do artista. Após esta conversa, retomei com os alunos minha intenção de conhecê-los melhor, e que a melhor maneira para isto acontecer plasticamente seria através de um exercício de criação com colagens. Expliquei que o exercício consiste em extrair imagens e palavras de revistas e jornais atuais, com o objetivo de identificar: Como eu sou? Como eu me vejo? Do que eu gosto? Ressaltei que as imagens escolhidas deveriam responder estas questões. Também falei da importância de explorar cores e texturas, e que tentassem desenhar com a tesoura, criando novas formas. Distribuí as revistas e jornais à turma, o tempo restante era muito curto, aproximadamente uns 20 minutos. Eles reclamaram dizendo que não daria tempo de fazer nada. Comentei que poderiam iniciar a atividade nesta aula e finalizar no próximo encontro. Percebi que aos poucos se envolveram com a atividade proposta à medida que os incentivava. Um grupo de meninas ficou conversando sobre o final de semana, com quem ficou ou com quem saiu, enfim. Embora a turma seja pequena, parece que quando eles conversam o som reverbera na sala de aula, e acaba atrapalhando a concentração de todos. Pedi que realizassem a atividade com paciência e concentração, pois isto facilita o processo de composição de colagens. Durante o processo de construção das colagens, circulei pela sala de aula, e os orientei a trabalhar nas imagens, criando novas formas, pois percebi que os alunos estavam fazendo composições pobres, sem explorar cores e texturas, com imagens soltas no papel sem uma elaboração mais complexa. Como o tempo foi curto, apenas uma menina terminou a colagem, os demais não concluíram. Disse a eles, que no próximo encontro, faríamos uma análise do que foi realizado e que as colagens poderiam ser finalizadas em aula.

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A professora titular me disse que seria melhor os deixar levar as colagens para casa, pois assim alguns já trazem prontas. Não comentei nada, apenas ouvi, mas minha intenção é que eles trabalhem em aula. Talvez tenha que reavaliar isto nos próximos encontros. Dentre os 11 alunos presentes, apenas uma aluna entregou a colagem, e foi a que mais se envolveu com a proposta, pois assim que entreguei as revistas, ela começou a procurar as imagens e recortar. Demonstrou interesse e se concentrou para realizar a atividade. Percebi que ela captou muito bem a proposta, pois conseguiu unir as imagens criando novos sentidos, explorou formas, e cores. Criou novos elementos com texturas e soube aproveitar muito bem o espaço do papel, não deixando espaços vazios. Abaixo a colagem da aluna Ariane.

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Trabalho da aluna: Ariane. (Fonte: BRAVO, 2011)

Na colagem, a aluna conseguiu atingir parte do solicitado, que visava responder às questões: Quem eu sou? Como eu me vejo? Do que eu gosto? Sua composição reflete mais o que ela gosta e não sobre quem pensa ser. Neste aspecto, percebi que maioria dos alunos teve dificuldades em se descrever plasticamente, apenas destacaram o que gostam. Nota-se também a dificuldade dos alunos em pensar este processo criativo, pois de fato não são estimulados a pensar sobre o mesmo, apenas a fazer. Assim conforme afirma Martins (1998, p.128), Aprendemos a pensar sobre as coisas. Como interpretes do mundo, construímos interpretantes sobre ele. O que decoramos ou simplesmente copiamos mecanicamente não fica em nós. É um conteúdo momentâneo, por isso conhecimento vazio que no decorrer do tempo é esquecido. Não faz parte de nossa experiência

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Buscar atribuir sentido ao que fazemos é dar significado, é pensar o processo criativo. Penso que este é um grande desafio, pois o que me chamou atenção por parte da turma é a apatia e indiferença dos alunos. Constatei isto ao apresentar o projeto de ensino, pois não esboçaram nenhuma reação em poder trabalhar com uma linguagem tão presente no cotidiano deles. Para Lampert (2010, p.451), espera-se que a escola seja um espaço de criação de percepções, instauradora de sentido sobre o cotidiano. Conforme a autora, a escola deve propiciar

espaços para criação a partir da realidade do aluno. Penso que a fotografia é uma boa oportunidade para despertá-los para a Arte, para que percebam novas possibilidades de criação em arte. Pois a mesma faz parte do cotidiano dos alunos, seja através dos celulares ou de câmeras digitais, sendo acessório permanente entre os jovens. Ao analisar o que foi planejado e o realizado, tive dificuldade em realizar tudo, pois o tempo foi curto. O período de aula acabou sendo apenas 30 minutos de encontro. Este encontro acontece sempre às segundas-feiras no primeiro período, e os alunos chegam sempre atrasados. Percebi que eu me alonguei na apresentação do projeto aos alunos e corri na apresentação das obras do artista. Não oportunizando assim uma reflexão maior dos alunos sobre as produções de Caco Neves. E restaram apenas 20 minutos para os alunos iniciarem suas composições. Reconheço que não soube administrar o tempo, o que a meu ver comprometeu o desenvolvimento dos alunos. Nos próximos encontros, será necessário planejar o tempo de cada momento com mais atenção. Outro fato importante é que encontrei por parte dos alunos certa resistência à disciplina de arte, na verdade já havia percebido isto nas observações. O fato de muitos faltarem a esta aula especificamente, reflete a falta de interesse dos alunos pela disciplina. A maioria encara a aula de arte como um tempo de recreação, onde a conversa e a música podem rolar soltas. Creio que terei muitos desafios com esta turma, a fim de fazê-los sair da zona de conforto e total apatia para o pensar e refletir sobre a arte. Penso que o papel do professor não é apresentar soluções ou técnicas em arte, mas sim, trazer um problema para que os alunos possam refletir e solucionar plasticamente, a partir de elementos e situações relacionadas ao cotidiano deles. A atividade proposta foi uma boa oportunidade para iniciar este processo de construção do conhecimento em arte. Ao apreciar as obras do artista Caco Neves e realizar a 79


leitura visual, foi possível ampliar as referências estéticas dos alunos, bem como aguçar a percepção visual e a criticidade quanto ao conteúdo das imagens. No próximo encontro, entregarei aos alunos suas colagens para que possam finalizá-las, bem como pretendo elaborar um questionário para que os alunos possam pensar e refletir sobre a relevância da proposta.

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3.3.2. Segundo Encontro Data: 29/08/2012 Aula: 2 Tema da Aula Continuação Identidades

Duração da aula 13h15min às14h05min.

Objetivos: • Estimular o modo de ver e observar dos alunos através da apreciação de obras.

• Realizar com os alunos uma reflexão sobre o trabalho do artista Caco Neves. • Finalizar a colagem iniciada na aula anterior. • Sintetizar por meio de um questionário a ser aplicado pelo professor, tudo o que foi realizado nas aulas.

Conteúdos: • Identidades • Leituras de imagens • A obra de Caco Neves • Colagem Metodologia Aula expositiva dialógica, exposição de imagens e atividade individual.

Desenvolvimento da Aula: 1º momento:

• No encontro anterior, os alunos apreciaram as obras de Caco Neves e iniciaram suas colagens com o objetivo de responder através do trabalho plástico: Quem eu sou? Como eu me vejo? Do que eu gosto? 81


• Levarei as colagens realizadas pelos alunos do EF para que os alunos do EM possam ver e observar os detalhes plásticos das composições. Destacar a importância de dar novo sentido às imagens recortadas ao agrupar e unir a novas imagens. Trabalhar o espaço na folha, observando o equilíbrio na composição. Criar novas formas a partir de texturas e explorar as cores. Observar o ritmo, conexões e contraposições das colagens elaboradas.

Trabalho da aluna Gabriela do EF. (Fonte: BRAVO, 2012)

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Trabalho da aluna Camila do EF. (Fonte: BRAVO, 2012)

Trabalho da aluna Aline do EF. (Fonte: BRAVO, 2012)

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• Conversar com os alunos a respeito das colagens apresentadas, ressaltando a importância de construir colagens que respondam as questões pretendidas.

2º momento:

• Distribuir as colagens dos alunos para finalização do trabalho plástico. • Deixar a disposição dos alunos revistas e jornais para seleção das imagens. 3º momento: • No final da aula os alunos serão fotografados para a atividade que será realizada no próximo encontro.

• Após a conclusão da atividade, os alunos deverão fazer uma reflexão sobre o que foi realizado em aula conforme perguntas abaixo: - Em sua opinião, as escolhas de suas imagens para a construção da colagem refletem elementos de identificação, de expressão, de subjetividades, ou de sentido individual? Por quê? - Você acha que o resultado final atingiu o solicitado, ou seja, nesta colagem você conseguiu descrever: Como eu sou? Como eu me vejo? Do que eu gosto? - Que elementos visuais você explorou nesta colagem? (cor, texturas, linhas, formas, espaço, harmonia, equilíbrio, variedade, proporção, ritmo). Descreva como: - Descreva sua colagem em algumas linhas: - Esta atividade foi relevante para você? Por quê? - O que mais te chamou a atenção no trabalho do Designer Caco Neves?

Recursos: • Produções artísticas, revistas, jornais, tesouras, colas e papel A3. Avaliação: • A avaliação se dará observando o envolvimento e interesse dos alunos. • Verificar se os alunos conseguiram fazer as interpretações e leituras das obras apresentadas. • Observar se os alunos desenvolveram sua percepção e sensibilidade visual na construção de suas colagens.

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Realizado: O segundo encontro com a turma 117 do Ensino Médio ocorreu no dia 29/08, das 13h15min às 14h05min. Tivemos um período de aula. Antes da chegada dos alunos, preparei a sala de aula com uma grande mesa central nas quais foram expostas as colagens realizadas pelos alunos do ensino fundamental, na qual foi realizada a mesma proposta criativa. Minha intenção era que a turma tivesse contato com as obras e percebesse seus sentidos e significados, além de observar a dinâmica e o ritmo das colagens no suporte. Quando os alunos chegaram, inicialmente acharam estranha a disposição da sala de aula, queriam saber onde sentar. Informei-os que no primeiro momento todos iríamos discutir contemplar e analisar as colagens dos alunos do ensino fundamental. Propus a eles que percebessem como foram produzidas as colagens, bem como a escolha das imagens e sua construção no papel. O quanto às imagens ganharam novos sentidos ao serem agrupadas a novas imagens. Aos poucos os alunos foram se soltando, surgiram comentários do tipo: “Os pias fizeram trabalhos melhores que os nossos.” Outro disse:“Muito bala as colagens destes guris.” Pedi a eles que tentassem fazer a leitura de algumas colagens previamente selecionadas. Os alunos fizeram os seguintes comentários: “Ah, esse é bagunceiro.” Uma aluna disse: “Essa é patricinha.” O aluno Samir comentou: “Deu para perceber nas colagens que muitos alunos selecionaram imagens de identificação como: as redes sociais, tecnologias e interesses pessoais, a meu ver, eles tentaram se descrever.” Os alunos perceberam o quanto os alunos do EF exploraram o espaço no papel, a dinâmica nas composições, o uso de cores e a criação de novas formas e texturas. Também perceberam que muitas colagens têm sobreposições e ritmo nas disposições do suporte. Disse aos alunos que ao realizar uma leitura/interpretação a respeito de uma obra, não se trata apenas perguntar o que o artista quis dizer com aquela obra, mas o que nos interessa saber é o que esta obra nos fala hoje em nosso contexto. Portanto, deveriam fazer leituras neste sentido, tentando refletir no sentido que a obra nos fala hoje e que disse em outros contextos históricos e a outros leitores. Conforme (BARBOSA, 2002, p.18). Senti que foi necessário esse contato com as obras a fim de aguçar a percepção visual dos alunos e nutrir esteticamente o olhar a fim de provocá-los a pensar nas possibilidades de criação em arte. Conforme Cardoso (1998, p. 349) “A simples visão supõe e 85


expõe um campo de significações, ele, o olhar – necessitado, inquieto, inquiridor -, as deseja e procura, seguindo a trilha do sentido. O olhar pensa é a visão feita interrogação.” Segundo o autor, a visão nos possibilita um campo de significações e nos faz pensar o processo. O contato com as colagens dos alunos do ensino fundamental aguçou a percepção dos alunos, pois perceberam as infinitas possibilidades na construção com colagens, e o quanto o processo é rico. Nas observações realizadas no estágio I, percebi que as aulas da professora titular eram muito bem planejadas e sempre com imagens projetadas no computador com multimídia. Mas os temas eram muito distantes da realidade dos alunos, o que tornava as aulas poucos atrativas. Portanto, desperta-los para a arte é um desafio, pois a turma é apática, não demonstra interesse. Trazer assuntos pertinentes à realidade dos jovens, talvez seja o fio condutor para uma aprendizagem significativa em arte. Tivemos aproximadamente 20 minutos de conversa a respeito das colagens e análises. Após, entreguei aos alunos as suas colagens para que finalizassem. Distribui as revistas, jornais, colas e tesouras. Apenas uma aluna trouxe o material solicitado. Aos poucos e lentamente, foram se organizando nas classes. Como este é o primeiro período da turma, e a aula é na segunda-feira, alguns insistem em colocar a conversa em dia, contando todos os detalhes do final de semana. Preciso solicitar a todo instante que se organizem e não atrapalhem os colegas. Circulei bastante pela sala de aula, tirando duvidas e os estimulando a realizar a produção. Percebi que no geral a turma teve dificuldade em responder as questões solicitadas nas quais deveriam dizer: Quem eu sou? Como eu me vejo? E do que eu gosto. A maioria dos trabalhos plásticos apenas apresentou elementos do que eu gosto. Muitos alunos disseram que não conseguiram encontrar as imagens para se descrever, mas também não se comprometeram em trazer os materiais para criar suas composições. Algumas composições a meu ver foram pobres, pois apenas recortaram as imagens e não as agruparam a fim de dar nosso sentido e significado. Além de não ser trabalhado o espaço na folha, nem exploraram cores e texturas e novas formas. Todos os alunos finalizaram suas colagens. Ao observar o resultado plástico das colagens, percebi que quatro alunos conseguiram produzir ótimas composições, tanto plasticamente, como na exploração da temática. Percebi que eles conseguiram captar a idéia das colagens, que é unir fragmentos para elaborar novos sentidos. As imagens foram 86


agrupadas na superfície e novas formas foram criadas, bem como ao justapor, ou sobrepor os fragmentos das colagens, foi possível estabelecer ritmos, conexões e contraposições. Também exploraram cores e texturas. Dois alunos exploraram o fundo do papel de forma diferente, um aluno usou pastel seco preto para pintar o fundo. A outra aluna usou papel laminado como fundo da colagem. Esteticamente ficou diferente das demais colagens, isto possibilitou experimentar outros materiais, além de imagens.

Trabalho do aluno Moises. (Fonte: BRAVO, 2011)

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Trabalho da aluna Gabriela. (Fonte: BRAVO, 2011)

Quando o sinal tocou todos saíram e nem consegui distribuir um questionário com perguntas direcionadas sobre as composições. Percebo que eles querem fazer tudo correndo, para terminar logo, por isso, o resultado plástico acaba sendo insatisfatório, pois produzir colagem exige paciência e concentração para criar. Ao pensar em processos de aprendizagem, o convite de Larrosa é para: [...] parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (LARROSA,2004, p.160).

Esta citação expressa exatamente meu sentimento em relação a esta turma, na qual o automatismo impede os alunos de parar para olhar e cultivar a arte do encontro. Penso que isto reflete nossa sociedade na atualidade, da mecanização das atividades, das relações virtuais, do distanciamento, do estranhamento e indiferença. Todavia, reconheço meu automatismo também, pois fico ansiosa em conduzir às vezes 30 minutos de aula. Acabo correndo para tentar realizar o planejado. Quando na realidade, o tempo de cultivar a arte do encontro é dar-se tempo e espaço conforme Larrosa.

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Sem dúvida, esta questão torna-se um desafio pessoal, de parar para pensar e darse tempo e espaço a mim, e observar o ritmo da turma. No final do encontro, fotografei todos os alunos presentes. Expliquei a eles que no próximo encontro eles realizariam uma produção utilizando suas fotografias, criando novas imagens através da desconstrução ou reconstrução. Em princípio alguns alunos ficaram tímidos em posar para fazer os registros, mas expliquei a eles à intenção das fotos, que teriam utilizadas por eles na proposta do próximo encontro, e assim eles foram se soltando a experiência de se deixar fotografar. Fotografá-los foi uma experiência marcante, pois pude me aproximar dos alunos individualmente e quebrar as barreiras da timidez de ambas as partes.

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Abaixo o registro fotogrรกfico dos alunos da turma 117.

Alunos da Turma 117. (Fonte: BRAVO, 2012)

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3.3.3. Terceiro Encontro Data:12/09/2012 Aulas: 3 e 4

Tema da Aula: Foto pintura

Duração da aula: 13h15min às 14h55min

Objetivos da aula: ● Compreender o processo da foto pintura. ● Conhecer as produções das artistas Avani Stein e Alexa Meade. ● Ampliar as possibilidades de criação plástica através dos retratos dos alunos. ● Aguçar a percepção visual e ampliar o repertório visual dos alunos. ● Experimentar materiais diversos.

Conteúdos: ● Foto pintura.

• Leituras de imagens ● Obras de Avani Stein. ● Obras de Alexa Meade.

Metodologia: Aula expositiva dialógica, exposição de imagens e atividades individuais.

Desenvolvimento da aula: 1º momento: ● Apresentar a artista Avani Stein e sua produção artística. Destacar o processo da artista na construção de suas fotos pinturas e os materiais utilizados. Comentar que hoje a

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fotografia e a pintura não são mais rivais, mas podem ser combinadas a fim de gerar novas estéticas. ● Será apresentado aos alunos um power point com algumas imagens da artista Avani Stein e a definição e o processo da foto pintura. ● Ressaltar que na atualidade, este processo pode ser reinventado. Com uso de novos suportes e materiais diversos. Como no caso da artista Avani Stein, que utiliza tinta guache e materiais pontiagudos e abrasivos para criar texturas na própria fotografia.

Avani Stein, 2009. Fonte: http://avani.stein.sites.uol.com.br/

● Após analise das obras da artista Avani Stein, serão apresentadas também às obras da artista Alexa Meade, com a intenção de aguçar a percepção e ampliar o repertório visual dos alunos para que percebam as múltiplas possibilidades de criação em arte e fotografia.

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Alexa Meade Fonte: http://www.alexameade.com/portfolio.html

Alexa Meade Fonte: http://www.alexameade.com/portfolio.html

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● Perguntar aos alunos do que se tratam as imagens apresentadas. São pinturas, fotografias, ou o quê? ● Após as considerações dos alunos, comentar sobre o processo de criação da artista. ● A artista plástica norte-americana Alexa Meade não escolhe pessoas como modelo: ela pinta no próprio corpo de modelos, na pele e roupas, fazendo com que eles pareçam recém-saídos de um quadro, e logo os fotografa, seja num cenário natural ou num fundo também criado. Essa ambiguidade entre o verdadeiro e o falso é a essência de seu trabalho, que mistura pintura, fotografia, performance e instalação. ● Comentar com os alunos que no caso do trabalho de Alexa Meade, a fotografia torna-se o registro da obra. ● Perguntar aos alunos o que mais chamou atenção na obra da artista Avani Stein e Alexa Meade.

2º momento: ● Após a apresentação das obras das artistas, propor aos alunos um exercício de criação. ● A atividade consiste em desenvolver a partir de uma fotografia original, cópias que deverão ser transformadas em obras únicas através do desenho, com o uso de cores e texturas. Os alunos poderão construir ou desconstruir os seus retratos. ● O tamanho das imagens a ser trabalhada será 7x9 centímetros. Os alunos deverão realizar a atividade em cinco fotos.

3º momento: ● Conversar sobre o resultado final da atividade. Refletir sobre as seguintes questões: semelhanças e diferenças entre pintura e fotografia, como classificar obras que apresentam diversas técnicas simultaneamente. ● Verificar com os alunos como foi o processo criativo das fotos pinturas. Se através dos desenhos conseguiram construir ou reconstruir as imagens, qual foi o processo utilizado por eles, e o porque desta escolha. ● Ao final da aula, solicitar aos alunos os materiais para o próximo encontro.

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Recursos: ● Fotografia, xerox, cola, tesoura, lápis de cor, hidrocor, guache, pastel seco e computador com projetor multimídia, câmera fotográfica e celular com câmera digital.

Avaliação: ● Perceber o envolvimento dos alunos, através das discussões em grupo e no encaminhamento da atividade proposta. ● Os alunos deverão valorizar a sua produção pessoal, ou seja, se comprometer com a mesma. ● Explorar os elementos plásticos de forma imaginativa e sensível, através do desenho, e do uso de cores e texturas na construção das composições.

Realizado O terceiro encontro com a turma 117 do ensino médio, ocorreu no dia 12/09/2011, das 13h15min às 14h55min. Neste encontro tivemos duas aulas, pois a professora de Religião me cedeu o segundo período. Dado o sinal, os alunos foram chegando aos poucos. Saudei e turma e os informei que neste encontro o tema a ser trabalhado seria a foto pintura. Comentei que o processo de criação da foto pintura teve inicio com o fotografo Disderi e era obtida a partir de uma base fotográfica em baixo contraste - que tanto pode ser uma tela quanto uma imagem sobre papel - sobre a qual o pintor aplica as tintas de sua preferência, geralmente guache para o papel, e óleo para as telas.

Ressaltei que, na

atualidade, este processo pode ser reinventado, com novos suportes e materiais diversos. Apresentei aos alunos a artista Avani Stein e suas produções. Inicialmente mostrei as imagens e pedi que eles analisassem. Alguns comentaram que se tratava de uma pintura com muita sobreposição de tinta. Continuei mostrando as obras da artista e aos poucos os alunos perceberam que se tratava de uma fotografia com intervenções de materiais plásticos. Perguntei aos alunos, que aspectos plásticos das produções da artista chamaram atenção deles, uma aluna comentou: “Profe [sic], nunca vi este tipo de trabalho antes, nunca pensei que a gente podia pintar as fotografias.” outro aluno disse que “As imagens têm muita tinta, e a artista descaracterizou as fotos originais.” Aproveitei a colocação do aluno para falar sobre a desconstrução das imagens no processo criativo da artista.

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Comentei que ao descaracterizar a imagem original a artista explora sua imaginação criativa para criar novas imagens. A foto pintura nos possibilita experimentar com liberdade, criando intervenções na própria imagem. A artista utiliza diversos materiais em seu processo criativo, como: estiletes pregos, lixas e outros. Com toque de tinta acrílico, guache e nanquim. Processos de abrasão, criando efeitos pictóricos nas fotografias. Após as considerações dos alunos sobre a produção da artista Avani Stein, apresentei aos alunos as obras da artista Alexa Meade. Comentei com os alunos, que Alexa Meade é uma artista norte americana e tem apenas 24 anos de idade, e que seu processo artístico é diferente do de Avani Stein. Pedi que eles apreciassem as obras com calma, e descobrissem do que se tratava a produção artística, se era uma pintura, uma fotografia, ou o quê? Percebi que eles gostaram mais das produções desta artista, pois, demonstram interesse e ficaram atentos às imagens apresentadas. Mostrei uma seqüência de obras da artista que não evidenciam imediatamente o seu processo artístico, mas que trazem certo estranhamento e confusão ao espectador ao contemplar as mesmas. Percebi que ficaram em dúvida quanto ao trabalho da artista, a maioria da turma achou que se tratava de pinturas. E os demais, fotografia. Fui mostrando mais imagens até que eles perceberam que tratava de uma imagem em 3D. A partir do momento que eles descobriram o processo da artista, mostrei a sequência de obras da artista. Eles ficaram impressionados e comentaram que o trabalho da Alexa Meade nos faz questionar se a imagem é uma realidade ou uma pintura. Um aluno comentou que: “É impossível perceber de imediato do que se trata o trabalho da artista.” Uma aluna disse: “Se a gente olhar atentamente se percebe nas fotografias as pinceladas da artista.” Outro falou: “O quanto a artista explora o uso de cores fortes e vibrantes, e que isto torna as imagens impactantes.” Expliquei aos alunos que a artista resolveu quebrar os parâmetros da arte e abordar um novo conceito ao misturar pintura, fotografia, performance e instalação. Pois num olhar superficial acredita-se que são quadros expressionistas, mas quando contemplados com mais atenção percebe-se o jogo da tridimensionalidade combinado à camuflagem: não são imagens; são pessoas! Comentei com os alunos que o processo artístico da artista Alexa Meade é complemente diferente da artista Avani Stein, que faz intervenções nas fotografias. No caso da Alexa a fotografia torna-se o registro da construção artística, e nos faz pensar nas inúmeras possibilidades de criação em arte e fotografia. Após estes comentários, propus aos alunos realizar uma atividade de criação em foto pintura a partir de suas fotografias. Isto foi possível, pois, todos os alunos foram 96


fotografados no segundo encontro com o objetivo de realizar uma produção plástica em sua própria imagem. Expliquei aos alunos que o desenho poderá ser a linguagem plástica a ser explorada por eles na construção ou desconstrução de suas imagens. E que não deveriam ter medo de desconstruir as imagens, a fim de gerar novas estéticas, pois o fazer artístico nesta atividade visava explorar a percepção e imaginação criativa. Cada aluno recebeu seis fotos tamanhos 9x6cm em papel impresso, sendo uma foto original colorida e as demais com um tratamento em photoshop no qual utilizei 30% de opacidade para as demais fotos. Comentei que os materiais plásticos deveriam ser experimentados nesta atividade, a fim de criar novas texturas e explorar as cores nas composições. Distribui as fotografias aos alunos, e pedi que realizassem a atividade com calma e sem pressa, e pensassem em como criar as novas composições. As reações da turma ao receber as fotos foram diversas: as meninas não quiseram mostrar suas fotos aos colegas, pois comentaram que não estavam preparadas para fotografar no dia em que foram feitos os registros. Ou seja, não estavam com maquiagem e com roupa apropriadas, segundo elas. Já os meninos não se preocuparam com este aspecto estético. Apenas um dos meninos comentou o seguinte: “Fotos me deixam gordo.” Abaixo as fotos dos alunos realizando suas produções:

Foto dos alunos da Turma 117. (Fonte: BRAVO, 2012)

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Foto dos alunos da Turma 117. (Fonte: BRAVO, 2012)

Eles iniciaram a atividade, a maioria dos alunos não trouxe os materiais, distribui entre eles, lápis de cor, giz de cera e pastel seco. A turma se organiza na sala de aula em grupinhos, e isto atrapalha o andamento do trabalho, pois acabam não se concentrando na atividade e conversam sobre assuntos não pertinentes à disciplina. Por isso, circulo bastante pela sala, e procuro estimulá-los a realizar a atividade com concentração. Embora este seja o terceiro encontro, três alunos que não compareceram nos encontros anteriores estavam presentes nesta aula. Como não os fotografei, tive que os envolver em outra atividade. Mostrei a eles algumas obras do artista Caco Neves mostradas à turma no primeiro encontro. Expliquei a eles que Caco Neves realiza colagens com temas pertinentes à realidade dos jovens. Pedi que eles interpretassem as obras do artista e analisem os aspectos visuais das obras. Após, eles deveriam criar uma composição em colagens com o tema identidade. Os alunos trabalharam em grupo e compartilharam os materiais. Após esta orientação, retornei ao grande grupo, e percebi, que dos 15 alunos presentes, 3 optaram por desconstruir suas imagens. Os demais reconstruíram os retratos. Os alunos que desconstruíram suas imagens criaram novos elementos através do desenho, exploraram cores e texturas.

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Constatei que estes se dedicaram mais à atividade proposta sem pressa, e ao desconstruir os retratos deram asas a imaginação, sem receio do resultado final. A maioria dos alunos usou lápis de cor e giz de cera nas composições.

Conforme as imagens abaixo:

Trabalho do aluno Dionatan. (Fonte: BRAVO, 2011)

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Trabalho do aluno Marlon. (Fonte: BRAVO, 2011)

Os alunos que reconstruíram seus retratos ficaram presos ao contorno da imagem e não ousaram na criação com a inclusão de novos elementos. Realizaram a atividade proposta, mas limitaram-se a colorir. Percebo que a turma tem potencial para criar, mas têm preguiça de pensar o processo criativo. Querem se livrar logo da atividade, e poucos se comprometem com a mesma. Abaixo trabalho do aluno Patrick:

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Trabalho do aluno Patrick. (Fonte: BRAVO, 2011)

Após a conclusão da atividade, propus aos alunos realizar uma reflexão sobre tudo que foi realizado por eles. Perguntei a eles quais critérios estabeleceram para desconstruir ou reconstruir as imagens. Um aluno comentou que: “É mais fácil reconstruir as imagens com linhas, cores e texturas.” Percebi que esta foi à ideia da maioria dos alunos, pois muitos concordaram com a colocação do colega. Perguntei por que ao reconstruir as imagens não exploraram mais as texturas na construção das composições. Uma aluna respondeu: “Ah, sora [sic], dá trabalho criar cinco imagens diferentes.” Mostrei à turma os trabalhos dos alunos que desconstruíram as imagens. Comentei que os alunos conseguiram explorar a atividade de forma criativa, pois ao criar novos elementos, as imagens se tornaram obras únicas, completamente diferentes da foto original. A reação da turma ao mostrar os trabalhos dos colegas foi: “Bah [sic], que show!”, uma menina comentou: “Só podia ser o Dionatan, ele sabe desenhar.” Disse à turma 101


que o processo criativo em arte não requer ser um exímio desenhista, mas dedicação e persistência. Realizar as atividades com pressa, velocidade, não oportunizará uma experiência artística satisfatória, mas diminuir o ritmo poderá fazer diferença. Após fazer estas considerações, perguntei à turma quais são as semelhanças e diferenças entre a pintura e a fotografia. Um dos alunos comentou que: “A pintura tenta retratar o real e a fotografia faz o registro da realidade.” Falei que o seu comentário estava excelente, e que ele pegou a ideia, da qual já havíamos falado anteriormente. Comentei que com a foto pintura eles poderiam, a partir de um registro real, criar novas possibilidades na imagem fotográfica. Os incentivei a realizar esta atividade novamente em casa, em registros feitos por eles, a fim de explorar este processo criativo novamente. Ao final da aula, me despedi da turma e saí. Constatei que o fato de serem dois períodos de aula facilitou muito para a realização do planejado. Pois consegui administrar melhor o tempo, dando o devido tempo aos alunos para apreciação, fruição e discussão das obras e para o fazer artístico. Creio que a dinâmica desta aula foi satisfatória, pois as metodologias escolhidas oportunizaram a participação verbal dos alunos e apreciação das obras no qual os mesmos fizeram comentários sobre as produções apresentadas tanto plasticamente como visualmente. Penso que os conteúdos selecionados contribuíram para a expansão do conhecimento dos alunos em arte, ao conhecer o processo artístico da foto pintura, os alunos puderam perceber que os processos artísticos contemporâneos em fotografia nos dão muitas possibilidades de criação, além do registro fotográfico. E isto pode ser contemplado nas obras das artistas Avani Stein e Alexa Meade. Todavia, o resultado da aula poderia ser melhor tanto plasticamente quanto no comprometimento dos alunos com a atividade proposta. Embora todos tenham realizado a atividade, houve por parte dos alunos pressa em concluir a produção e pouco envolvimento com a mesma. Assim conforme afirma Vitelli (2002, p12), As propostas de trabalho em arte necessitam de um tempo maior de envolvimento, para que o aluno possa desenvolver o seu processo artístico. Mas o que se percebe, é que eles estão fazendo um trabalho velozmente, e envolvendo-se o mínimo possível. Muitas vezes apenas preocupados com a pontuação da atividade.

Dentre os critérios elencados no item avaliação de meu planejado, destaquei a importância do envolvimento dos alunos, através das discussões em grupo e no encaminhamento da atividade proposta. A meu ver, as discussões no grande grupo, ocorreram 102


de forma positiva, pois muitos alunos fizeram ótimas contribuições através de comentários e analises das obras das artistas apresentadas. No entanto, poucos alunos valorizaram a sua produção pessoal, ou seja, se comprometeram com a mesma. Percebo que as conversas nos grupos atrapalham a concentração da turma para a realização das atividades. Penso que a atividade poderia ser mais explorada por eles, com a inclusão de novos elementos plásticos de forma imaginativa e sensível, através do desenho, e do uso de cores e texturas na construção das composições. Muitos se limitaram apenas a pintar as imagens. E alguns poucos se aventuraram a criar composições mais elaboradas, sem o receio de incluir novos elementos nas imagens. Estou repensando novas propostas de aulas para esta turma, principalmente no que se refere à sensibilização do olhar, a fim de provocar uma percepção mais ampla da linguagem fotográfica e visual. Ao apresentar processos artísticos com múltiplas possibilidades de criação, espera-se que os alunos tenham sua percepção e repertório visual aguçados. Ao trazer artistas cujos processos artísticos são contemporâneos, pretende-se através de outras fontes, que não sejam museus ou artistas europeus, ampliar a experiência estética dos alunos, para outros olhares em fotografia, para que os mesmos tenham uma experiência transformadora em arte. No próximo encontro, pretendo explorar com a turma o processo artístico de fotomontagens, com uma temática pertinente a realidade dos jovens na atualidade. A proposta visa explorar a percepção e a sensibilidade visual dos alunos, bem como sua capacidade crítica ao conhecer os movimentos artísticos e os seus principais artistas.

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3.3.4. Quarto Encontro Data: 19/09/2012 Aulas: 5 e 6

Tema da aula: Fotomontagens

Duração da aula: 13h15min às 14h55min.

Objetivos: ● Destacar alguns movimentos artísticos que contribuíram para a expansão da fotografia. ● Conhecer as fotomontagens de Hannah Hoch. ● Conhecer as obras da artista Barbara Kruger. ● Construir uma composição que retrate a realidade dos jovens na atualidade. ● Desenvolver a criticidade, a criatividade e a percepção visual.

Conteúdos: ● Dadaísmo e Surrealismo ● Hannah Hoch ● Leituras de imagens ● Arte Conceitual ● Barbara Kruger

Metodologia: Aula expositiva dialógica, exposição de imagens e atividades individuais.

Desenvolvimento da aula: 1º momento: ● No primeiro momento será apresentado aos alunos o tema para este encontro – 104


Fotomontagens. ● Comentar com os alunos que a fotografia está diretamente ligada aos processos históricos da arte. As fotomontagens foram uma técnica usada pelos Dadaístas e Surrealistas para expressar a luta contra a guerra e a violência. No qual o resultado foi além do protesto, pois se descobriu a existência de novas linguagens de expressão. ● Com as fotomontagens, os artistas começam a utilizar e reconhecer materiais antes desconhecidos, como a própria fotografia e os materiais impressos. ● Apresentar aos alunos um power point sobre o Dadaísmo e Surrealismo e sua importância para a expansão da fotografia. Pretende-se nesta apresentação, destacar algumas características dos movimentos e seus principais artistas. ● Apresentar as fotomontagens de Hannah Hoch.

Cut with the kitchen knif , Hannah Hoch, 1920. (Fonte: http://intenseart.blogspot.com/2011/03/analise-de-obras-e-artistas.html)

● Apresentar as obras da artista Barbara Kruger. ● Comentar que Kruger tem como maior característica a força conceitual de suas obras, abordando temas como: consumismo, capitalismo e feminismo. Por ser uma artista influenciada pela geração pós-modernista, Kruger tenta em suas obras instigar a reflexão entre seus observadores assim como trabalhar para que suas obras tenham sempre uma essência crítica aos paradigmas de sua época. 105


● Sua arte possui um estilo característico que seria a fotografia em preto e branco e fontes específicas, imitando propagandas, além de transmitir em suas obras temas de grande relevância. ● Barbara Kruger tornou-se conhecida pelas suas fotomontagens feministas compostas por figuras e “slogans” provenientes do mundo da publicidade. Seus suportes são diversos como: outdoors, fotomontagens, camisetas, sacolas, pôster, tudo para divulgar as mensagens de sua arte.

Barbara Kruger, 1983 (Fonte: http://www.artnet.com/artists/barbara-kruger/past-auction-results)

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Barbara Kruger, 1983 (Fonte: http://www.artnet.com/artists/barbara-kruger/past-auction-resultsl)

2º momento:

● Após analisar e discutir as produções das artistas, desafiar os alunos a criar uma fotomontagem com um tema pertinente à realidade dos jovens. ● A temática precisa responder à seguinte questão: o que faz a cabeça do jovem na atualidade? ● A atividade consiste em se apropriar de imagens impressas da mídia, nas quais os alunos deverão selecionar imagens relacionadas ao tema escolhido por eles. ● Os alunos deverão observar as disposições das imagens na superfície, criando novas formas ao unir os fragmentos das imagens. Trabalhar o espaço, simetria, assimetria, equilíbrio e formas.

3º momento: ● Analisar com os alunos o resultado final das composições, e os critérios da escolha das temáticas. ● Solicitar os materiais para o próximo encontro.

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Recursos: Revistas, jornais, cola, tesoura, computador com projetor multimídia. Câmera fotográfica.

Avaliação: ● A avaliação se dará ao perceber o envolvimento dos alunos, através das discussões em aula e no desenvolvimento da atividade proposta. ● Serão avaliados os critérios para escolha do tema para a composição da fotomontagem e a escolha das imagens, observando os aspectos visuais da construção. ● Verificar se os alunos exploraram sua percepção e sensibilidade visual, bem como a criticidade para o fazer artístico.

Realizado O quarto encontro com a turma 117 do ensino médio, ocorreu no dia 19/09/2011, das 13h15min às 14h55min. Neste encontro tivemos duas aulas, pois a professora de Religião não compareceu à escola, e pude antecipar uma aula. Dado o sinal, os alunos foram chegando e se organizando nas classes. Saudei a turma e os informei que neste encontro o tema a ser apresentado seria fotomontagens. Conforme combinado no encontro anterior, os alunos deveriam realizar uma pesquisa sobre os movimentos artísticos Dadaísmo e Surrealismo, destacando suas principais características e artistas. Dentre os 15 alunos presentes, apenas 3 alunos realizaram o solicitado. Disse à turma que a minha intenção ao solicitar a pesquisa, era que eles já tivessem um conhecimento prévio dos movimentos artísticos para oportunizar maior discussão entre o grupo. Apresentei aos alunos o tema para o encontro – a fotomontagem. Introduzi o tema à turma dizendo que a fotografia esta diretamente presente nos processos históricos da arte. Comentei com a turma que as fotomontagens foram criadas no contexto da Primeira Guerra Mundial com os Dadaístas alemães Raoul Hausmann e Hanna Hoch como manifestações contra a guerra e violência. Mas o resultado acabou indo além do protesto, pois os artistas descobriram novos mundos de linguagens através da técnica da fotomontagem, e reconheceram novos materiais e combinações.

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Apresentei aos alunos um power point com as principais características do Dadaísmo e Surrealismo e seus principais artistas. Comentei com à turma que o Dadaísmo nasceu como movimento de oposição à I Guerra Mundial e se dedicou à destruição de valores vigentes tanto na vida quanto na arte. Entre os alvos dos ataques Dadaístas se destacam os burgueses que identificavam a arte como objeto de mercadoria, sendo a mercadoria riqueza e a riqueza

autoridade e poder. O

Dadaísmo rejeitava este sistema capitalista, como também rejeitava todas as experiências formais e técnicas anteriores. Comentei que o Dadaísmo com sua ideia de libertação da arte torna-se palco de experiências que permitem uma reflexão sobre a fotografia e sua condição de representação do real. Destaquei o artista Marchel Duchamp e o fotografo Man Ray. Mostrei aos alunos algumas obras Marchel Duchamp: Mictório Invertido de 1917, L.H.O.O.Q de 1919 e a Roda de Bicicleta de 1913. Perguntei aos alunos se conheciam as obras de Marchel Duchamp e quais as suas impressões sobre elas. A maioria dos alunos disse que conhecia as obras de Marchel Duchamp. Alguns alunos relataram suas impressões, uma aluna disse: “Profe [sic] se hoje em dia é difícil considerar um mictório arte, imagina como foi a reação das pessoas quando virão isto no museu.” Outro aluno comentou: “Acho que a intenção dele era chocar as pessoas.” Disse aos alunos que os ready-meade partem, como a fotografia, de coisas completamente feitas, para convertê-las em obras de arte, ao final de um duplo processo de seleção e registro. Os ready-meade são uma transformação simbólica, onde tudo não é arte, mas tudo pode transformar-se em arte, ou tornar-se material de arte, desde que inserido em um procedimento artístico. Mostrei aos alunos algumas obras dos artistas Surrealistas, como, Miró, Salvador Dalí, René Magritte e Max Ernst. Percebi que os alunos conheciam a maioria dos artistas apresentados. Eles disseram que as obras eram fantásticas. Perguntei a eles porque as consideravam fantásticas. Eles comentaram que os artistas exploravam a pintura de forma não convencional, nas quais se percebe imagens irracionais, como se fossem ilusões. Disse aos alunos que eles tinham razão em fazer estas interpretações a respeito das obras, pois os Surrealistas queriam explorar a psique humana, englobando áreas até então negligenciadas da vida como o sonho e o inconsciente. Comentei que a partir dos movimentos artísticos de vanguarda, a fotografia ganha uma maior importância e se inclui nas pesquisas artísticas, sendo o Dadaísmo e Surrealismo os principais agentes dessa evolução, pois estes movimentos foram pioneiros na utilização da 109


fotografia, incorporando-a às técnicas de colagem e fotomontagens. Mostrei aos alunos as obras de Hanna Hoch, e pedi que eles interpretassem as obras da artista. Alguns alunos interpretaram a obra Cut with the kitchen knif como: “Parece que ela fiz mostrar o homem no controle das máquinas.” Outra aluna disse: “Acho que tanto o homem como a mulher parecem estar numa atitude de igualdade.” Comentei que a artista explorava em suas obras questões ligadas à mulher e o seu espaço na sociedade. Perguntei aos alunos sobre os aspectos visuais da obra da artista, o que chamou a atenção deles. A maioria dos alunos conseguiu perceber que a artista utilizava revistas e jornais para compor suas colagens. Alguns comentaram sobre a beleza das composições da artista: “Algumas obras embora pequenas são legais pela disposição das imagens.” Outro disse:“Em algumas colagens o espaço do papel não foi todo coberto.” Uma aluna comentou: “As obras maiores têm muitos detalhes, e ela trabalha tanto a distância como a aproximação das imagens.” Após estas considerações, disse aos alunos que também gostaria de mostrar a eles o trabalho de uma artista contemporânea que utiliza fotomontagens em suas composições fotográficas. E que a intenção de mostrar a eles a artista Barbara Kruger, é que eles percebam que o processo de fotomontagem pode ser reinventado através de vários suportes. No caso da artista, ela utiliza outdoors, fotomontagens, camisetas, sacolas, pôster, tudo para divulgar as mensagens de sua arte. A artista utiliza a linguagem de veículos da mídia com um estilo característico de assinatura, fotos em preto e branco com fontes específicas. Suas temáticas são de relevância social, nas quais aborda questões sobre a violência, a saúde publica, e a discriminação. A artista não trabalha somente com criação de imagens (em muitos casos ela fotografa, grava e imprime), como também se apropria de imagens, nas quais lhes atribui novos sentidos através do uso de frases de efeito. Mostrei as obras da artista, e comentei que muitas vezes a artista utiliza espaços urbanos ou museus para expor suas obras. Perguntei aos alunos quais suas impressões sobre as obras da artista, o que mais chamou atenção deles. Uma aluna disse: “Ah, sora [sic], nem parece colagem, é bem diferente.” Outro disse: “Ela explora muito as imagens publicitárias, parece que são anúncios.” Comentei com a turma que a fotografa Barbara Kruger, era publicitária e designer, e de fato suas obras tem características publicitárias. E que a artista encontrou na linguagem agressiva e autoritária da propaganda uma forma de criticar e questionar a própria propaganda.

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Após estas considerações, propus aos alunos um exercício criativo de fotomontagem, que consiste em criar uma composição com a seguinte temática: o que faz a cabeça do jovem? Sugeri que os alunos realizassem a produção individualmente, e que a mesma deveria ser produzida num papel A5. Na construção da composição os alunos deveriam observar os aspectos visuais da colagem, como: o agrupamento das imagens e a seleção de imagens pertinentes à escolha do tema. Os alunos deveriam desenvolver sua poética pessoal na construção da fotomontagem, observando o ritmo e formas. Percebi que a maioria dos alunos teve dificuldade em encontrar um tema. Alegaram que as revistas disponíveis em aula não tinham imagens suficientes. Comentei que embora eles tenham sido avisados dos materiais para este encontro, ninguém trouxe nada, portanto, deveriam rever as revistas e jornais disponíveis. Expliquei que a proposta propõe a reflexão de um tema atual, a fim de pensarem numa produção plástica que responda esta questão. Os lembrei de que as fotomontagens tinham a intenção de fazer as pessoas pensar, portanto, o tema escolhido por eles, deveria ter a mesma característica. Neste encontro, eles iniciaram suas fotomontagens, poucos conseguiram terminar suas composições. Percebo que embora a proposta seja atual, com o propósito de elaborar uma temática que não está isolada da realidade dos alunos, ou seja, instigando-os a pensar, poucos se comprometeram com a mesma. O processo de pensar no tema e selecionar as imagens pertinentes demanda tempo e paciência. Tempo que os alunos não querem perder, ou seja, investir. Dos 14 alunos presentes, apenas 8 entregaram suas composições. As temáticas exploradas pelos alunos foram: moda, dinheiro, esportes, amizades, viagens, sexo, tecnologia, beleza e música. Um aluno me entregou a sua fotomontagem realizada no Photoshop, ele disse que tem facilidade para usar programas de imagens. Ele comentou que gostaria de realizar as suas colagens no computador, pois tem um vasto banco de imagens, e que isto facilita na seleção. Considerei a questão do aluno, mas não o incentivei, pois a professora titular havia me dito que a sala de informática da escola estava com muitos equipamentos danificados. E que ela pessoalmente, gostaria que eles desenvolvessem o processo manualmente, pois segundo ela, eles têm preguiça de pensar e realizar o fazer artístico. Esta questão me deixou preocupada, pois era nítido o interesse da turma, pela tecnologia, me senti engessada diante das dificuldades físicas da escola. No entanto, percebi que alguns alunos conseguiram realizar a proposta plenamente, pois além de explorarem um tema pertinente à realidade dos jovens conseguiram elaborar ótimas composições plásticas, nas quais as imagens criaram novos sentidos aos 111


serem agrupadas e unidas. Além de explorar cores e formas, alguns utilizaram palavras e optaram por colorir o fundo do suporte. Constatei que os alunos que não entregaram as fotomontagens são que maior dificuldade em pensar e elaborar plasticamente as composições. Propus que estes concluíssem a atividade em casa. Percebi que alguns alunos encontram dificuldade na disposição das imagens sobre o suporte, deixando-as soltas, sem unir ou criar uma aproximação para que os elementos ao serem aproximados possam ganhar novos sentidos. Abaixo, algumas produções dos alunos, Marlon, Ariane e Moises.

Trabalho do aluno Marlon. (Fonte: BRAVO, 2011)

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Trabalho da aluna Ariane. (Fonte: BRAVO, 2011)

Trabalho do aluno MoisĂŠs. (Fonte: BRAVO, 2011)

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Ao analisar todo o planejado e o realizado, percebo o quanto esta aula foi cansativa para mim, e consequentemente para os alunos, no sentido de ter muito conteúdo. Embora eu não tenha me aprofundado nas questões históricas dos movimentos artísticos, toda a explanação e apresentação das artistas acabaram tomando mais tempo do que eu imaginava. O fato de serem dois períodos neste encontro ajudou muito, mas acabei deixando apenas 40 minutos do segundo período para a realização das fotomontagens. Creio que isto prejudicou os alunos, pois o processo de selecionar as imagens nas revistas e jornais leva tempo. A dinâmica alternou entre exposição dialógica dos conteúdos através de apresentação multimídia e discussões no grupo, mas percebo que os alunos não têm muita paciência para ficar mais de 20 minutos concentrados. O encontro exigiu muita conversa até que os alunos fossem se soltando e relatando suas impressões sobre os movimentos artísticos e as produções dos artistas do Dadaísmo e Surrealismo e a produção contemporânea. Penso que as metodologias propiciaram a participação dos alunos nos debates e nas interpretações das obras apresentadas, pois tentei conciliar a exposição dialógica e procurei ouvir com atenção os alunos e dei alguns retornos às questões levantadas por eles. Percebi que a primeira parte da aula, envolveu mais os alunos, através das discussões e análises dos movimentos artísticos. Percebo que me equivoquei ao planejar tantos conteúdos para o encontro, pois em apenas um período, seria impossível vencê-los. Embora fossem necessários para a compreensão e ampliação do conhecimento dos alunos em arte, deveria ter planejado de outra forma. Todavia, os conteúdos oportunizaram conhecer a expressão artística de fotomontagem e os alunos puderam compreender o contexto histórico e social na qual esta expressão foi criada. Além de perceber este mesmo processo de forma inovadora com a artista Barbara Kruger. Mais uma vez os alunos foram instigados a pensar nas muitas possibilidades de criação em fotografia. Dentre os objetivos definidos, a maioria foram contemplados ao longo da aula, nos quais os alunos puderam conhecer os movimentos artísticos e sua contribuição para a expansão da fotografia. A apreciação das obras das artistas Hanna Hoch e Barbara Kruger, oportunizaram a ampliação do repertório visual e a fruição das obras. E os alunos puderam desenvolver a sua criatividade e criticidade ao compor uma fotomontagem com um tema pertinente à realidade dos jovens. 114


Penso que a produção plástica dos alunos foi satisfatória em parte, pois percebo duas realidades nesta turma. Uma boa parte da turma participa e produz e a outra parte não se envolve e não se compromete com a disciplina. Dentre os alunos que participam das aulas, a produção plástica foi satisfatória, pois atingiu o solicitado. Eles captaram a ideia da colagem e conseguiram realizar ótimas composições. Já entre os alunos que não se envolvem com a disciplina, a produção foi pobre e limitada, pois não foram explorados os elementos a fim de unir e criar novos sentidos e significados para a composição. A meu ver, a proposta foi relevante e atual, pois visava desenvolver a percepção visual dos alunos, seu senso estético na construção das composições e ampliação das habilidades já existentes, oportunizando uma ponte entre o fazer e refletir. Conforme Pimentel (2010, p.211) “não basta apenas propor e desenvolver atividades; é preciso desenvolver o pensamento artístico, diversificando-as, contextualizando-as, motivando a curiosidade e investigação.”

Ao longo dos encontros, tenho tentado desenvolver o pensamento artístico dos alunos através da investigação de diversas possibilidades de abordagem da produção artística em fotografia. Nesse viés, pretende-se que os alunos possam revisitar o que foi produzido e pensado por eles para que consigam ver, significar e refletir. No item avaliação de meu planejado, ressaltei a importância do envolvimento dos alunos nas discussões em grupo e no envolvimento da atividade proposta. Alguns alunos participaram e fizeram ótimas contribuições. Mas com relação ao envolvimento na atividade proposta, metade da turma se comprometeu com a mesma. Os demais ficaram enrolando, ou fazendo de conta que estavam produzindo. Também ressaltei na avaliação os critérios estabelecidos pelos alunos para a escolha dos temas, se foram pertinentes e condizentes com à realidade dos jovens, bem como a escolha das imagens e a construção das fotomontagens. Neste aspecto, todos conseguiram eleger temas e selecionaram imagens pertinentes a realidade dos jovens. Devido à falta de tempo, não foi possível realizar com a turma uma avaliação do que eles realizaram, bem como, os critérios estabelecidos por eles para escolha dos temas e o resultado das construções plásticas. No próximo encontro será encaminhada com os alunos a produção individual do autorretrato.

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3.3.5. Quinto Encontro Data: 26/09//2012 Aula: 7

Tema da aula: Autorretrato

Duração da Aula: 16h45min às 17h30min

Objetivos da aula: ● Compreender o conceito de autorretrato nas artes visuais. ● Valorizar o autorretrato como forma de expressão artística. ● Apreciar e analisar imagens fotográficas, observando suas características estéticas. ● Desenvolver a percepção e a sensibilidade visual. ●Instigar os alunos a pensar na construção de seus autorretratos.

Conteúdos: ● Autorretrato na história da arte. ● Autorretrato de artistas contemporâneos: Cindy Sherman, Nianke Kunder, Caco Neves e Vick Muniz.

Metodologia: ● Aula expositiva e atividades individuais.

Desenvolvimento da aula: 1º momento: ● No primeiro momento será apresentado aos alunos um power point sobre o autorretrato ao longo da história da arte.

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● Comentar com os alunos que o autorretrato sempre acompanhou o ser humano em seu desejo de registrar a própria existência. ● Ressaltar aos alunos que essa busca pela auto-imanem foi tomando formas diferentes no decorrer do tempo. Podemos entender o autorretrato como um espelho do artista. Nele se espelha e se reflete sua imagem e a imagem de seu mundo, de sua época, de seus valores. ● Comentar que com a invenção da fotografia o processo se tornou muito mais ágil, pois não era mais necessário encomendar os serviços dos pintores. Segundo Argan (1992, p.78), com a difusão da fotografia, muitos serviços sociais passam do pintor para o fotógrafo. ● Perguntar aos alunos o que difere o retrato do autorretrato. 2º momento:

● Reapresentar aos alunos as produções de alguns artistas apresentados ao longo do projeto de ensino que também exploraram o autorretrato em suas produções como: Cindy Sherman e Nianke Kunder e comentar que no caso destas artistas o autorretrato busca muitas vezes a representação de si como um outro distante, por vezes fictício, evocando uma concepção de identidade como encenação. Conforme Fabris, 2004, p.58.

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Cindy Sherman, Untitled Film Still #21,1978. (Fonte: http://masters-of-photography.com/S/sherman/sherman_21_full.html.)

● A artista Cindy Sherman vem produzindo obras em que se percebe a desconstrução do individuo, na qual busca encanar-se em diversos personagens usando recursos simbólicos e retóricos, de maneira que sua própria identidade é questionada.

Nienke Kunder, The Community, 2003-2005. (Fonte: http://www.nienkeklunder.com/project.php?section_project_id=51)

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● No trabalho da artista Nienke Klunder, suas produções também têm o mesmo desdobramento ficcional, a artista retrata em suas fotografias a questão da identidade da mulher na sociedade contemporânea, como também etnias e estereótipos femininos.

Caco Neves (Fonte: http://www.caconeves.net/)

● O autorretrato também se faz presente nas produções do artista Caco Neves, o artista utiliza a fotografia e imagens impressas e digitais para realizar suas colagens. O processo se dá através de uso de software específico para criação de arte ou através do processo manual de colagens. O artista explora muito a questão da identidade do jovem e as influências da sociedade contemporânea como mídia, redes sociais e tecnologia. ● Mostrar também os autorretratos de Vick Muniz nos quais o artista brinca com estados de humor, explorando ao máximo, numa atitude performática, suas expressões faciais, capturadas em autorretratos fotográficos.

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Vick Muniz, autorretrato. (Fonte: http://www.vikmuniz.net/)

● Comentar que Vick Muniz é consciente da diferença existente entre o olhar fotográfico e o olho humano, contudo, faz da imagem fotográfica a etapa final de sua produção estética: “O mundo é plano” (MUNIZ, 2007 p. 19).

Vick Muniz, autorretrato (Fonte: http://www.vikmuniz.net/)

3º momento: ● Após a apreciação e discussão sobre os autorretratos dos artistas, propor à turma a produção individual de seu autorretrato. Os alunos deverão eleger um dos artistas apresentados como referencial plástico para seu trabalho. Na composição do autorretrato, deverão utilizar elementos de identificação para representa-los. ● Cada aluno irá produzir seu autorretrato a partir de sua fotografia, a imagem pode ser desconstruída, ou poderão inserir novas imagens de identificação. 120


● O autorretrato deverá ser composto no papel A5 com gramatura 220 e no formato horizontal.

Recursos: ● Computador com projetor multimídia, câmera fotográfica, papel A5, cola, tesoura e materiais variados, fotografias, revistas e jornais.

Avaliação: ● Participação e envolvimento dos alunos durante a apresentação do conteúdo. ● Observar como os alunos organizam o espaço do suporte na composição do autorretrato. ● Verificar se os alunos elaboram novas formas e texturas, bem como elementos de identificação. ● Como expressam seu pensamento visual através do pensar/sentir e criar do desenvolvimento do processo criativo.

Realizado

O quinto encontro com a turma 117 do ensino médio ocorreu no dia 26/09/2011, das 16h45min as 17h30min. Tivemos um período de aula. Informei que a proposta para este encontro era conhecer a produção do autorretrato na história da arte. Comentei com a turma que o autorretrato sempre acompanhou o ser humano em seu desejo de registrar a própria existência. Desde a pré-história, os homens deixaram suas marcas das mãos sobre as paredes de cavernas. A noção de auto-imagem tem acompanhado a busca humana de registrar a sua passagem pela vida. Comento que antigamente as pessoas eram retratadas através da pintura, e que a arte tinha a função de representação fiel da realidade antes da fotografia. Uma pessoa, para conseguir um retrato, precisava posar para um pintor durante horas até que ele estivesse concluído a obra, os pintores tinham o oficio de realizar retratos e vistas de paisagens. Disse à turma, que partir do Renascimento, o ser humano passou a ser o grande foco das preocupações da vida e do imaginário dos artistas. E o retrato se tornou o gênero 121


mais popular da pintura utilizado na ausência da fotografia, para representar pessoas, famílias nobres e burguesas. Perguntei aos alunos se era prática comum em suas famílias realizarem registros fotográficos. A maioria dos alunos disse que sim, inclusive alguns relataram que os pais tinham álbuns com os principais acontecimentos na família, como nascimentos, casamentos, formaturas e viagens. Apresentei aos alunos um power point com vários autorretratos de artistas ao longo da história da arte. Iniciei com os primeiros autorretratos nos quais destaquei alguns artistas, tais como: Sandro Botticelli, Leonardo da Vinci, Rembrandt, Caravaggio e Velasquez. Perguntei à turma quais suas impressões sobre os autorretratos apresentados, o que mais a chamou atenção deles, e quais aspectos visuais perceberam nas obras dos artistas e se já conheciam algum dos artistas apresentados. Uma aluna comentou: “Profe [sic] conheço os trabalhos dos artistas, mas não os seus retratos, o que mais me chamou a atenção é que todos se retrataram sérios.” Outro aluno disse: “É profe [sic] os retratos são escuros e sombrios.” A maioria dos alunos disse conhecer as obras dos artistas Leonardo da Vinci, Rembrandt e Caravaggio. Disse à turma que os artistas do período do Renascimento se caracterizaram por suas inovações técnicas e novos estilos para representar a realidade, nas quais se destacaram as pinturas a óleo sobre tela que possibilitaram o aumento de opção de cores, o uso da perspectiva, dando peso e profundidade à forma; o uso de luz e sombra; e composições piramidais na pintura. Apresentei à turma os autorretratos do Século XIX, entre os quais destaquei os seguintes artistas: Cézanne, Picasso, Matisse, Gauguin, Degas, Munch, Manet e Van Gogh. Pedi que os alunos relatassem suas impressões a respeito dos autorretratos deste período. Os alunos fizeram vários comentários: “Bah, profe [sic] bem diferente este estilo de pintura, parece mais leve.” Outro disse: “Dá pra perceber que os pintores não estavam preocupados em fazer um desenho certinho.” Outra aluna comentou: “Eles usavam mais cores do que o período anterior.” Disse à aluna que ela tinha razão em perceber que a cor se destacou neste período, pois durante o século XIX havia várias tendências artísticas com estilos diferentes. E os artistas exploravam muita cor, tonalidades e manchas. Para finalizar a apresentação, mostrei alguns artistas contemporâneos que exploraram a temática do autorretrato em suas obras, tais como: Andy Warhol, Chuck Close, Francis Bacon, e David Hockney. Mais uma vez, perguntei à turma quais foram suas 122


impressões dos autorretratos apresentados. Um aluno comentou: “Ah, profe [sic] prefiro estes autorretratos, pois parecem mais soltos, os artistas não se preocuparam em fazer tudo certinho.” Outra aluna disse: “Eles parecem mais expressivos.” Comentei com os alunos que com a chegada da fotografia muitos críticos chegaram a pensar que seria o fim da Arte, já que com a fotografia simplificava a forma de realizar retratos deixando-os prontos bem mais rápido do que na pintura, como afirma Charles Baudelaire no livro de Cecilda Teixeira Costa (2004) Arte no Brasil 1950-2000: “Essa indústria, ao invadir os territórios da arte, tornou-se sua inimiga mortal (p.52)”. Na verdade os fotógrafos não desejam invadir os territórios da arte, mas possibilitou aos artistas novas alternativas de criação e expressão através da fotografia, e esta acabou por se unir a arte manifestando uma nova linguagem. Disse aos alunos que a busca pela auto-imagem foi tomando formas diferentes no decorrer do tempo. Podemos entender o autorretrato como um espelho do artista. Nele o artista se espelha e reflete sua imagem e a imagem de seu mundo, de sua época, de seus valores. Após estas considerações, retomei com a turma alguns artistas já apresentados nos encontros anteriores. Disse à turma que os artistas Caco Neves, Cindy Sherman e Nianke Kunder também exploraram em suas produções o autorretrato. No caso das artistas Cindy Sherman e Nienke Klunder o autorretrato busca muitas vezes a representação de si como um outro distante, por vezes fictício. Os alunos comentaram que se identificaram muito com o trabalho da artista, Nianke Kunder, pois a artista consegue trabalhar com as questões de identidade da mulher na sociedade contemporânea de forma irônica e divertida, levando o espectador a pensar no significado das imagens. Perguntei à turma o que diferencia o retrato do autorretrato. Alguns alunos fizeram os seguintes comentários: “Ah, profe [sic], o retrato é uma foto qualquer, e o autorretrato é a nossa imagem.” Outra aluna disse: “No retrato a gente consegue captar várias pessoas, e no autorretrato é um único registro.” Disse aos alunos que se entende por autorretrato um retrato do sujeito feito por ele mesmo: o objeto é o próprio fotógrafo, e o fotógrafo é o próprio objeto. Como aponta Annateresa Fabris é preciso estar ciente do fato de que “quando se opõe o retrato ao autorretrato, esquece-se freqüentemente que todo retrato é também virtualmente o autorretrato do retratado, que se reconhece nele, permitindo-lhe assegurar-se da própria identidade [...].” (2004, p. 51) Vista sob este ângulo, a encenação característica do gênero “retrato” pode ser 123


percebida a partir do momento em que o indivíduo é retratado, quando este o pré-fabrica sua imagem. Continuei apresentando os artistas, e passei a comentar sobre as obras do artista Caco Neves nas quais ele utiliza a fotografia e imagens impressas e digitais para realizar suas colagens. O artista explora muito a questão da identidade do jovem e as influências da sociedade contemporânea como mídia, redes sociais e tecnologia, sendo o autorretrato tema recorrente em suas produções. Os alunos comentaram que o artista explora muito a linguagem, interesses e gostos dos jovens e que isto chamou a atenção deles, além de explorar cores e formas dinâmicas e surreais. Por fim, mostrei também os autorretratos de Vick Muniz nas quais o artista brinca com estados de humor, explorando ao máximo, numa atitude performática, suas expressões faciais, capturadas em autorretratos fotográficos. Comentei que Vick Muniz é consciente da diferença existente entre o olhar fotográfico e o olho humano, contudo, faz da imagem fotográfica a etapa final de sua produção estética. Também mostrei algumas obras do artista nas quais realiza pinturas com materiais perecíveis (açúcar, molho, caviar, chocolate, geléia) ou cria retratos juntando minúsculos objetos sem colá-los (soldadinhos de plástico, cristais),Vick Muniz lida com a questão do efêmero em seus trabalhos. Não havia apresentado o artista Vick Muniz para esta turma. Perguntei se conheciam as obras do artista, a maioria dos alunos disse conhecer as produções do artista, principalmente a obra que apareceu na novela da Rede Globo “Passione” em 2010. Percebi que os alunos gostaram muito de ver os autorretratos com materiais inusitados do artista. Alguns comentaram: “Bah, profe [sic] os resultados que ele alcança com estes materiais é excelente.” Outro aluno disse: “O trabalho dele é bem fácil de entender, e dá vontade de ver de perto.” Como esta primeira parte do encontro foi extensa, e só tivemos um período, não foi possível encaminhar a proposta de construção do autorretrato dos alunos. Nos minutos finais do encontro, expliquei à turma, que eles poderiam escolher um dos artistas apresentados como seu referencial artístico para a construção do autorretrato, ou seja, aquele artista com que mais se identificaram ao longo do projeto. Disse à turma que deveriam pensar nos elementos plásticos da composição, e eleger imagens de identificação. Percebi que a turma não entendeu muito bem a proposta, mas ninguém perguntou nada, pois estavam eufóricos para irem embora, pois haviam planejado sair para comer um

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cachorro quente antes de retornar para suas casas. Não deu tempo nem de comentar sobre os materiais para o próximo encontro. Dado o sinal, os alunos saíram. Ao realizar a análise crítica sobre o planejado e realizado, já tinha consciência de que o tempo seria curto para expor todo o conteúdo proposto. Todavia o que diferenciou este encontro é que não me aprofundei nos movimentos históricos, pois apresentei rapidamente através das imagens o quanto a representação do autorretrato se modificou ao longo da história da arte. Dei um enfoque maior aos artistas contemporâneos apresentados durante o projeto de ensino, pois meu interesse era de que os alunos pudessem rever as produções dos artistas com a temática do autorretrato e eleger um dos artistas como seu referencial artístico para a construção do seu autorretrato, bem como repensar nas produções e perceber que com a invenção da fotografia o processo artístico se diversificou com muitas possibilidades de criação em arte. Creio que a dinâmica e a metodologia da aula propiciaram a participação dos alunos durante a apresentação das produções artísticas, pois os alunos puderam expressar suas impressões e opiniões a respeito das obras apresentadas. A apreciação das obras ampliou o repertório visual dos alunos e provocaram alguns alunos a fazerem leituras das obras. Constatei que alguns alunos se dispersaram durante a apresentação do conteúdo, sendo necessário algumas vezes parar e pedir silêncio à turma para poder ouvir os comentários dos colegas. Embora não tenha sido possível iniciar a produção plástica do autorretrato com os alunos, penso que todo o conteúdo exposto foi necessário para que os alunos pudessem ampliar seu repertório visual e perceber o quanto a temática do autorretrato é significativa. E desenvolver seu pensamento crítico e a percepção visual a cerca das produções apresentadas. No próximo os alunos irão finalizar a produção individual do autorretrato.

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3.3.6. Sexto Encontro Data: 03/10/2012 Aula: 8

Tema da aula: Continuação do Autorretrato

Duração da Aula: 16h45min às 17h30min

Objetivos da aula: ● Valorizar o autorretrato como forma de expressão artística. ● Desenvolver um olhar sensível, observador e crítico perante a produção. ● Desenvolver a percepção e a imaginação criativa através do processo de produção plástica do autorretrato.

Conteúdos: ● Autorretrato

Metodologia: ● Aula expositiva e dialogada, apreciação de obras e atividades individuais.

Desenvolvimento da aula: 1º momento: ● No primeiro momento será apresentada aos alunos, a produção plástica dos alunos do EF, que realizaram a mesma proposta de autorretratos com recortes, colagens e fotografias. Ao mostrar estas produções, pretende-se oportunizar aos alunos uma experiência estética e análise das produções.

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Trabalho da aluna Fernanda do EF. (Fonte: BRAVO, 2012)

Trabalho da aluna Camila do EF. (Fonte: BRAVO, 2012)

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Trabalho da aluna Gabriela do EF. (Fonte: BRAVO, 2012)

● Entregar aos alunos suas fotografias para que possam utilizar a imagem na composição do autorretrato. ● Comentar com os alunos que o autorretrato será realizado em um papel A5, com gramatura 220 e deverão utilizar o sentido horizontal do suporte. Ainda não comentei com a turma a respeito da BIENAL, mas a idéia é enviar esta produção para o Projeto Arte Postal, por isso o sentido do autorretrato será na horizontal e não na vertical.

2º momento: ● Os alunos deverão realizar a produção plástica do autorretrato, no qual deverão incluir elementos de identificação. Deverão explorar o espaço no suporte, bem como a organização espacial dos elementos na superfície. ● Incentivar os alunos a explorarem os elementos visuais e formais tais como formas, cores e texturas, equilíbrio, harmonia, simetria e assimetria. 3º momento: ● No último momento, faremos a avaliação do resultado final das composições. 128


● Saber qual foi a relevância da atividade para os alunos.

Recursos: ● Câmera fotográfica, papel A5, cola, tesoura e materiais variados, fotografias, revistas e jornais.

Avaliação: ● Observar o envolvimento e comprometimento dos alunos com a atividade proposta. ● Observar quais foram os critérios estabelecidos pelos alunos para selecionar as imagens. ● Verificar se os alunos desenvolveram sua percepção visual e a imaginação criativa na realização da composição. ● Verificar se os alunos elaboram novas formas e texturas. ● Observar se os alunos conseguiram interpretar as imagens apresentadas.

Realizado O sexto encontro com a turma 117 do ensino médio ocorreu no dia 03/10/2011, das 16h45min as 17h30min. Tivemos um período de aula. Ao entrar na sala de aula, saudei a turma e comentei com os alunos que, conforme combinado no encontro anterior, seria realizada a composição dos autorretratos. Perguntei a turma se haviam pensado e planejado suas composições, bem como se haviam escolhido algum artista como referencial artístico para a composição do autorretrato. Percebi que a turma não pensou e nem planejou a composição, alguns disseram que não tiveram tempo, e outros reconheceram que esqueceram o combinado. Neste encontro havia um aluno novo, perguntei a ele o seu nome e se havia sido transferido para a escola. Percebi que os demais alunos ficaram rindo e comentaram que o aluno Matheus é turista na escola, só retorna quando se aproxima a data de fazer rematrícula para garantir a sua vaga. O aluno estava sentado no fundo da sala de aula, convidei-o a participar do encontro mas ele recusou, disse que gostava de outro tipo de arte. Perguntei a ele de que tipo de arte gostava. Ele afirmou gostar apenas de música. Perguntei qual era o seu 129


estilo musical, ele disse que gostava de rock metal. Disse a ele que seria uma excelente oportunidade para expressar seus gostos musicais e interesses através da composição plástica do autorretrato. Ele era bem-vindo a construir o seu percurso de pensar, criar e sentir. O aluno não demonstrou muito interesse, optou em ficar no seu canto, isolado dos demais alunos da turma. Bom, como percebi que não havia interesse por parte do aluno, e que os demais alunos estavam ali apenas assistindo a cena para ver o desfecho final, encerrei o assunto e retornei à turma. Disse a eles que as nossas aulas devem sempre nos levar a ter um encontro com a arte, no qual se pretende construir trajetórias que propiciem múltiplos olhares para as imagens que são apresentadas a fim de despertar leitores sensíveis e autônomos, pois o ensino/aprendizagem em arte é construído por todos. Levei para este encontro as produções dos alunos da 8ª série do ensino fundamental da escola de Alvorada onde faço estágio, pois os alunos realizaram a mesma proposta dos autorretratos. Distribuí os autorretratos sobre as mesas e convidei a turma para apreciar e comentar as composições. Eles se amontoaram ao redor das mesas para ver as imagens. Perguntei a eles quais suas impressões/interpretações sobre as composições e que aspectos visuais chamaram sua atenção. Os alunos fizeram os seguintes comentários: “Profe [sic] muito show os trabalhos dos alunos, dá pra ver que eles se puxaram.” Comentei que de fato a turma se envolveu e se comprometeu com a proposta e que a mesma teve muito significado para os alunos, pois puderam explorar através da composição do autorretrato suas subjetividades, expressão e elementos de identificação. Outro disse “Eles optaram por colagens e isto teve bom resultado, pois tem muita cor e texturas.” Outro disse: “Dá pra perceber profe [sic] em muitas imagens a influência das redes sociais e os gostos pessoais dos alunos.” Outra aluna comentou: “Bah, profe [sic] a maioria dos alunos usou o espaço do papel, poucos deixaram espaços vazios.” Disse à turma que a maioria dos alunos conseguiu usar o espaço do suporte com equilíbrio e harmonia, e que muitos exploraram novas formas e selecionaram imagens de identificação. Após estas considerações, encaminhei com a turma a realização da atividade. Disse a eles que a proposta era individual para que cada um pudesse pensar na sua representação elegendo elementos de identificação, bem como explorar sua imaginação criativa e a sensibilidade visual através da seleção das imagens. Comentei que havia trazido as fotos dos alunos e quem quisesse usá-las na composição estavam à disposição da turma. Expliquei que a composição seria realizada no papel A5 no sentido horizontal. A maioria dos 130


alunos optou por usar suas fotografias na composição. Nenhum aluno trouxe os materiais para realizar a proposta, tivemos que usar as revistas e jornais disponíveis na escola. Distribui os materiais sobre uma grande mesa para que os alunos pudessem selecionar suas imagens. Mais uma vez comentei com a turma a respeito da importância de unir as imagens selecionadas ou dispor as imagens no suporte de forma que o equilíbrio e a harmonia sejam evidentes. Constatei que poucos alunos se envolveram com a proposta, havia muita conversa nos grupos. Alguns ficaram folhando as revistas e nada selecionaram e outros preferiram ler as reportagens. Muitos reclamaram dizendo não ter encontrado nada nas revistas, nenhuma imagem com que se identificassem. Disse a turma que eles poderiam explorar cores e texturas e que poderiam criar novas formas com a tesoura, pois o resultado plástico é surpreendente. Alguns alunos perguntaram se poderiam desconstruir a sua imagem, disse que sim, que poderiam explorar a questão da identidade ficcional como vimos nas produções da artista Nianke Kunder. Os alunos acharam interessante e desconstruíam parte de suas imagens. Dos 15 alunos presentes neste encontro, apenas 7 realizaram a composição de seus autorretratos. Constatei que parte da turma estava apática à proposta, sem demonstrar interesse e envolvimento com a mesma. Circulei bastante pela sala de aula, e dei algumas orientações aos alunos, pois alguns preferiram pegar uma imagem inteira e ir compondo em cima desta com outras imagens. Procurei não interferir nas escolhas dos alunos, apenas os orientei a observarem as imagens selecionadas. Percebi que a produção plástica dos alunos que realizaram seus autorretratos com recorte e colagem teve uma evolução considerável com relação as colagens realizadas nos primeiros encontros. Nos primeiros encontros os alunos tiveram dificuldades em explorar as imagens na superfície do suporte, deixando as imagens soltas sem unir umas às outras a fim de dar novos sentidos, sendo muito comum os alunos selecionarem imagens estereotipadas. Constatei que neste encontro os alunos conseguiram explorar melhor e espaço no suporte. Se percebe nas composições uma assimetria nos elementos compostos, equilíbrio e harmonia. A maioria dos alunos conseguiu explorar o espaço do suporte, agrupando as imagens, inseriram texturas, exploraram cores e formas variadas, bem como elementos de identificação, de expressão, e de subjetividade. Durante o processo de construção dos autorretratos, alguns alunos se envolveram no processo construtivo, pois não participaram dos grupinhos de conversas, e se detiveram em selecionar as imagens e dispor de forma dinâmica os elementos no suporte. Alguns alunos

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preferiram desconstruir parte de sua imagem, com a inclus達o de novos elementos. Abaixo algumas imagens.

Trabalho do aluno Dionatan. (Fonte: BRAVO, 2011)

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Trabalho do aluno Samuel. (Fonte: BRAVO, 2011)

Trabalho do aluno Patrick. (Fonte: BRAVO, 2011)

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Ao realizar a análise crítica e reflexão sobre a aula aplicada, constatei que na primeira parte do encontro, a turma se envolveu com a proposta, sendo possível apreciar as produções plásticas dos autorretratos, interpretar as imagens e atribuir sentido. Através do compartilhamento foi possível perceber os aspectos visuais e estéticos das produções apresentadas. Penso que a dinâmica, a metodologia e os conteúdos selecionados contribuíram para provocar a leitura e a percepção das obras. Sendo possível aos alunos relatar suas impressões sobre as mesmas. Dentre os objetivos definidos, foi proposto valorizar o autorretrato como forma de expressão artística e desenvolver a percepção e a imaginação criativa através do processo de produção plástica do autorretrato. Estes objetivos não foram atingidos por toda a turma, apenas pela metade, pois nem todos os alunos se envolveram com a proposta. Percebi que quando propus a realização da atividade prática alguns alunos inventaram desculpas para não realizarem a proposta, dizendo não ter encontrado as imagens, sendo que estes alunos não colaboraram com nenhum material. Alguns preferiram ficar conversando nos grupos ou folhando as revistas para matar tempo. Também percebi que alguns alunos ficaram reclamando que não queriam realizar a atividade com recorte e colagem, pois já haviam realizado atividades com estes materiais anteriormente. De fato os alunos já haviam realizado propostas com recorte e colagem, inclusive mostrei a eles suas primeiras produções nas quais percebi a dificuldade da turma em agrupar as imagens, organizar as imagens no suporte e explorar a percepção e sensibilidade visual. Constatei neste encontro que a turma estava indiferente a proposta, talvez em virtude dos materiais, não sei de fato. Embora tenha dado liberdade para que eles planejassem e pensassem em como construir seus autorretratos, percebi que os alunos não tiveram iniciativa e nem sugeriram outras possibilidades de criação. Sendo necessário encaminhar a proposta com os materiais disponíveis. Com relação à produção plástica dos alunos que realizaram a atividade, foi possível perceber que os alunos desenvolveram sua percepção visual e a imaginação criativa na realização da composição, pois selecionaram imagens de identificação, expressão e subjetividade. Também exploraram cores sendo possível perceber que algumas obras se destacaram pela escolha de cores fortes, algumas misturadas e outras chapadas. Os alunos exploraram mais a organização do espaço e agruparam as imagens, explorando texturas e

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formas. Estas foram organizadas nas extremidades e no centro das composições, de maneira espontânea e outras distantes. Ao realizar esta temática do autorretrato tinha por objetivo desenvolver o olhar investigativo, a criatividade e o desenvolvimento do pensamento estético dos alunos. Pois, a criação do autorretrato contribuiu para a reflexão da identidade e a contextualização em arte. Creio que alguns alunos conseguiram captar a proposta, pois selecionaram elementos de identificação, relacionando imagens de seu contexto diário. Conforma Rossi (2010, p.339) “ao entrar em contato com produções artísticas de modo significativo, o aluno amplia sua capacidade critica, estabelecendo uma relação de aprendizagem com arte”. Percebi que os alunos que se comprometeram com a proposta puderam fazer análises significativas sobre suas produções e conseguiram associar o pensar ao fazer. Comentaram que tiveram que pensar na representação com imagens e elementos com os quais se identificam e dispor estas imagens na superfície de forma dinâmica. Com relação aos próximos encaminhamentos, pretendo fazer algumas modificações nos próximos planejados com a turma, pois sinto a necessidade de explorar e desenvolver com a turma a percepção visual a imaginação criativa e a sensibilidade visual dos alunos. Me parece que parte da turma parou/estacionou em desenvolver o seu processo construtivo em arte. No próximo encontro será encaminhado com os alunos o tema de autorrepresentação, nos quais se pretende apresentar alguns fotógrafos contemporâneos que utilizam a fotografia como representação ficcional.

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3.3.7. Sétimo Encontro Data: 10/10/2012 Aula: 9 Tema da aula: Autorrepresentação

Duração da Aula: 16h45min às 17h30min.

Objetivos da aula: ● Definir retrato e autorrepresentação na fotografia. ● Conhecer os elementos da linguagem visual, a partir da linguagem fotográfica. ● Desenvolver a experiência estética através da linguagem fotográfica. ● Conhecer a produção das artistas Cindy Sherman e Nianke Kunder. ● Apreciar e analisar imagens fotográficas, observando suas características.

Conteúdos: ● Arte conceitual. ● Obras de Cindy Sherman. ● Obras de Nienke Klunder. ● Leituras de imagens

Metodologia: ● Aula expositiva dialógica. ● Exposição de imagens. ● Atividades individuais e coletivas.

Desenvolvimento da aula: 1º momento: ● Discutir com os alunos os processos artísticos contemporâneos no qual o fotógrafo planeja a cena a ser fotografada. 136


● Conversar sobre a importância da arte conceitual e seus reflexos para a fotografia. ● Será apresentado um power point aos alunos de algumas das séries da artista Cindy Sherman. ● Série Unitiled Film Stills de 1977.

Cindy Sherman, Untitled # 6, 1977 (Fonte: http://www.cindysherman.com/)

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● Série History Portraits, de 1989 a 1990

Cindy Sherman, Untitled # 225, 1990 (Fonte: http://www.cindysherman.com/)

● Série Sex Pictures de 1992.

Cindy Sherman, Untitled # 264, 1992 (Fonte: http://www.cindysherman.com)

● Em 2004, ela apresenta a série chamada Clowns.

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Cindy Sherman, Untitled # 424, 2004. (Fonte: http://www.cindysherman.com/)

● Após as considerações dos alunos, apresentar a artista Nienke Klunder que é conhecida pelos seus retratos fotográficos e suas séries e sequenciais. ● A artista trabalha a questão da identidade e a auto-expressão, abordando as questões: Quem eu sou? Quem quero ser? Como me mostro aos outros? ● Nienke lida com a transformação continua da sua própria imagem, para criar trabalhos onde é patente sua crítica à sociedade baseada nas imagens e nas aparências. As suas “personagens” passam por metamorfoses que abrangem um vasto leque de significados, desde o estatuto social, a beleza, as diferentes etnias e raízes culturais ou, simplesmente, os estados de espírito.

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Nienke Klunder, Sequencie 3, 2010. (Fonte: http://www.nienkeklunder.com)

● Na sequência acima, Nienke retrata tanto a transformação física como emocional de uma mulher, oscilando entre a elegância e o glamour de um traje de noite e o desespero da pobreza de uma sem teto. ● Conversar com os alunos a respeito das representações criadas pelas artistas Cindy Sherman e Nienke Klunder e qual a relevância das produções na fotografia contemporânea.

2º momento: ● Propor aos alunos a atividade de criação que consiste em elaborar cenas com personagens criados pelos alunos. 140


● Os alunos deverão trabalhar em grupos para compor as cenas, fazer a produção e o registro fotográfico da cena. ● O exercício criativo requer que os alunos desenvolvam a sensibilidade visual a postura, a expressão facial e gestual. ● Explorar roupas, maquiagens, penteados e acessórios para compor seu personagem. ● Deverão criar no mínimo dois personagens ou uma série de sequencias fotográficas. ● Observar a luz para realizar o registro fotográfico, o enquadramento e o foco da cena.

3º momento: ● Conversar sobre o resultado final. Perguntar sobre a relevância da atividade, bem como, os critérios adotados para a composição da cena. ● Analisar a relevância deste estilo de fotografia na atualidade. ● Solicitar o material para o próximo encontro.

Recursos: ● Computador com projetor multimídia. ● Câmeras fotográficas ou celulares. ● Roupas, maquiagem e assessórios para compor as cenas.

Avaliação: ● Será avaliado nesta aula o processo criativo dos alunos na construção das cenas. A produção e pós-produção das composições. ● Perceber se os alunos exploraram a sensibilidade e criatividade na proposta. ● Avaliar a participação e o envolvimento dos alunos na proposta. ● Os aspectos técnicos do registro fotográfico.

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Realizado

O sétimo encontro com a turma 117, ocorreu no dia 10/10/2011, das 16h45min às 17h30min. Tivemos um período de aula. Saudei a turma e comuniquei que neste encontro mostraria a eles as obras de duas artistas que são referências na fotografia contemporânea. Comentei com a turma que na atualidade a teatralidade é um dispositivo bastante utilizado na fotografia, principalmente após os anos 80, nos quais os artistas começaram a questionar as noções de realidade e ficção. Disse à turma que isto se aplica à técnica explorada por Cindy Sherman e às suas discussões referentes às inúmeras identidades criadas por ela. Sherman tem forte influência da arte conceitual, que é uma forma de expressão artística. A fotografia conceitual é uma técnica e uma modalidade que visa realçar a ideia da composição dos elementos fotografados e não dar ênfase somente em um determinado elemento da composição. Comentei com a turma que na Arte Conceitual o público é obrigado a deixar de ser apenas um observador passivo, pois o entendimento da obra de arte não é mais direto, o público precisa pensar. Apresentei aos alunos um Power point com as produções de Sherman, na qual a artista produz a série “Untitled Film Stills” abordando a questão do estereótipo feminino da mulher da década de 50. Mostrei à turma várias imagens desta série e percebi que muitos alunos ficaram em dúvida se as imagens apresentadas eram a própria Cindy Sherman. Perguntei a eles a respeito de suas impressões sobre as imagens apresentadas. Uma aluna comentou: “As fotos dela parecem cenas de filme.” Outra disse: “Como ela consegue se transformar, nem parece à mesma pessoa nas fotos.” Uma aluna disse: “Profe, [sic], é um estilo diferente de fotografia, nada que a gente esta acostumada a ver.” Notei que os alunos demonstraram interesse em conhecer as produções da artista, bem como fizeram comentários pertinentes às composições apresentadas. Comentei com a turma que a artista utiliza vários elementos para compor seus personagens, como maquiagens, próteses de silicone, unhas postiças, próteses de dentes, perucas, e roupas apropriadas. Ressaltei que a artista realiza todo o processo artístico sozinha, ela produz as cenas, cria os personagens e fotografa, através de um mecanismo de disparo automático. Também disse que no trabalho de Cindy Sherman se percebe a desconstrução do indivíduo. Na série “Untitled Film Stills” Sherman busca encarnar-se em diversos

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personagens usando recursos simbólicos e retóricos, de maneira que sua própria identidade é questionada. Disse à turma que eles conseguiram captar o sentido das imagens apresentadas. Mostrei aos alunos as séries “History Portraits”, de 1989 a 1990, na qual a artista reinterpreta vários quadros históricos da arte. Os alunos comentaram que era um estilo completamente diferente do anterior. Um aluno disse: “Muito show estas fotos, profe [sic], até confunde a gente, pois parecem pinturas”. Outra aluna disse: “Pois é, foi esta a impressão que eu tive, muito bom”. Comentei com os alunos que ao reinterpretar as obras, a artista quis causar este estranhamento, o qual nos traz certa dúvida se é uma pintura ou fotografia. Apresentei aos alunos a série “Sex Pictures” de 1992, na qual Cindy apresenta duas mudanças notáveis em suas fotografias: ela deixa de ser a modelo nas imagens, passando a utilizar manequins como personagens e usa como referências filmes de horror e suspense, suas fotos passam a ser mais sombrias e obscuras. Ao apresentar esta série, os alunos tiveram diversas reações, alguns ficaram chocados com as imagens, outros caíram na risada, pois acharam os manequins horrorosos. Os alunos fizeram vários comentários, uma aluna disse: “Que coisa horrível profe [sic], estas fotos são muito chocantes.” Outro disse: “Este manequins não são nem um pouco sensuais, são pavorosos.” Uma aluna disse: “Esta série nem parece da artista, é bem diferente.” Um aluno perguntou: “Pois é Profe [sic] por que ela fez estas fotografias?” Comentei com a turma que a artista quis provocar os americanos com esta série, a fim de fazê-los pensar a respeito da importância da liberdade de expressão. Os alunos comentaram que com certeza a artista chocou o público com esta série, e que na opinião deles as produções não têm muita expressão estética, pois são muito sombrias, pois a artista optou por cenas escuras. Mostrei a última série de Sherman chamada Clowns, que apresenta cores fortes e contrastantes. Nela a fotógrafa se transforma em palhaços com maquiagens e feições tristes ou obscuras, contrastando a imagem comum dos palhaços. Pedi aos alunos para relatarem suas impressões a respeito das imagens. Um aluno disse: “Bah profe [sic], esta artista é bem eclética.” Pedi ao aluno para que enriquecesse o seu comentário. Ele disse: “Ah, profe [sic], quando falo que ela é eclética, é porque ela reinventa em cada série vários personagens, desde mulheres comuns a situações absurdas.” Parabenizei o aluno pelo comentário, e disse à turma, que esta é justamente a intenção da artista, causar um estranhamento no espectador. Outro aluno comentou: “O legal do trabalho desta artista é que ela retrata coisas antigas e coisas da atualidade.” Comentei que a arte contemporânea é uma fusão entre o antigo e o novo, e que exige do público que contempla as obras uma reflexão e integração nos processos cognitivos.

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Após estas considerações, apresentei aos alunos a artista Nienke Klunder. A artista trabalha a questão da identidade e a autoexpressão, abordando as questões: Quem eu sou? Quem quero ser? Como me mostro aos outros? Comentei que a artista, assim como Cindy Sherman, também têm o mesmo desdobramento ficcional, a artista retrata em suas fotografias a questão da identidade da mulher na sociedade contemporânea, e estereótipos femininos Nienke lida com a transformação continua da sua própria imagem, para criar trabalhos onde é patente sua crítica à sociedade baseada nas imagens e nas aparências. As suas “personagens” passam por metamorfoses que abrangem um vasto leque de significados, desde o estatuto social, a beleza, as diferentes etnias e raízes culturais ou, simplesmente, os estados de espírito. Apresentei aos alunos um power point com as produções de Nienke Klunder. E pedi aos alunos que fossem relatando suas impressões e interpretações a respeito das obras apresentadas. Os alunos fizeram os seguintes comentários: “Profe [sic], muito legal as fotos dela, pois são personagens comuns.” Outro disse: “O diferencial no trabalho desta artista, é a expressão facial, ela consegue se transformar explorando poucos recursos.” Uma aluna comentou: “Gostei muito dos personagens étnicos.” Outra disse: “Profe [sic] o que eu percebi, é que ela vai de um extremo ao outro, explorando a beleza e a feiúra.” Perguntei aos alunos se já tinham visto este tipo de produção fotográfica antes e o que acharam. A maioria dos alunos disse que não, mas que acharam muito interessante este tipo de produção, pois conseguiram interpretar as temáticas exploradas pelas artistas. Percebi que os alunos se envolveram bastante durante as apresentações das obras das artistas, e isto foi muito bom, pois oportunizou o entendimento da autorrepresentação. Esta primeira parte da aula demandou um investimento maior no tempo, e acabaram nos restando apenas 10 minutos de aula. Comentei com os alunos a respeito da proposta para o encontro, no qual havia planejado realizarmos as produções fotográficas. Mas acatei a sugestão dos alunos de realizarmos a prática no próximo encontro. A partir deste encontro os alunos começaram a entender que a fotografia que almejava trabalhar com eles, não era apenas realizar um bom enquadramento, observar a luz, a nitidez e o contraste, não apenas a questão técnica da fotografia em si. Mas também, explorar a sensibilidade e criatividade artística de cada um através do processo fotográfico. Muitos alunos comentaram que achavam que iriam fazer fotos para postar em suas redes sociais, as famosas fotos de “boquinha” segundo as meninas. Nesta ocasião disse aos alunos que ficaria muito feliz de ver os registros realizados por eles nas redes sociais para que eles 144


pudessem perceber as reações de seus amigos aos registros deles. Se estes registros causassem algum estranhamento, impacto ou apreciação já estava ótimo para o início do processo construtivo de cada um. Conversamos nos minutos finais a respeito dos materiais para o próximo encontro, percebi que a turma ficou bem empolgada em pensar na criação de seus personagens. Disse a eles que a proposta é de que possam criar uma série com três imagens diferentes. Sendo que eles deverão definir se irão criar personagens ficcionais ou cenas da própria realidade, nas quais deverá ser explorada a expressão facial, recursos para as composições de cena, como roupas, acessórios, maquiagens, perucas, enfim. Também lembrei a turma sobre a importância de realizar os registros fotográficos, por isso deveriam trazer as câmeras digitais ou celulares com câmera digital. Dado o sinal, nos despedimos e os alunos saíram. Ao realizar a reflexão sobre o planejado e realizado, constatei que o tempo investido na apresentação do tema foi necessário para a compreensão dos alunos sobre o mesmo. Eu havia planejado para o encontro a apresentação do tema e o fazer artístico, mas percebi que a turma se envolveu com as obras apresentadas, expressando suas opiniões e interpretando as mesmas. Percebi que não deveria acelerar o processo, pois os alunos estavam fazendo comparações e associações importantes. Portanto, percebo que valeu a pena investir apenas na apresentação da temática, para que os alunos pudessem assimilar as propostas das artistas Cindy Sherman e Nienke Klunder. Foi interessante, pois os próprios alunos reconheceram que precisavam de mais tempo para o fazer artístico, no qual seria necessário investir um bom tempo entre a preparação das cenas e as composições. Creio que a dinâmica e os conteúdos selecionados para o encontro contribuíram para o processo de sensibilização dos alunos. A nutrição estética permitiu ampliar a sensibilidade e a capacidade crítica dos alunos. Penso que isto ocorreu de forma positiva, pois os alunos tiveram seu olhar sensibilizado e também puderam expressar sua visão crítica a respeito das obras das artistas. Segundo Martins (2010, p.130): “O objetivo maior da nutrição estética é provocar leituras que possam desencadear um aprendizado em arte, ampliando as redes de significação do fruído”. Ao atribuir sentido e construir conceitos, os alunos tiveram um encontro em arte no qual desenvolvi o papel de mediadora deste processo construtivo. Através das apreciações das obras, foi possível desafiar os alunos a interpretarem com profundidade as imagens e promover acesso a artistas vivos e contemporâneos.

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Sem dúvida, a produção verbal dos alunos foi muito rica e isto fez toda a diferença, pois fizeram ótimas elaborações e construíram significações e sentido para as obras apresentadas. O encaminhamento para o próximo encontro será a realização do fazer artístico, no qual espero que os alunos possam participar ativamente através de suas criações. Espero que os alunos possam explorar sua imaginação criativa, sua percepção visual e aguçar sua sensibilidade visual.

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3.3.8. Oitavo Encontro Data: 17/10/2012 Aula: 10 Tema da aula: Continuação da Autorrepresentação

Duração da Aula: 16h45min às 17h30min

Objetivos da aula: ● Conhecer os elementos da linguagem visual, a partir da linguagem fotográfica. ● Fotografar com criatividade a partir da elaboração de personagens e cenas criadas. ● Desenvolver a experiência estética através da linguagem fotográfica.

Conteúdos: ● Autorrepresentação

Metodologia: ● Aula expositiva dialógica. ● Atividades individuais e coletivas.

Desenvolvimento da aula: 1º momento: ● Propor aos alunos a atividade de criação que consiste em elaborar cenas com personagens ficcionais ou cenas da própria realidade deles. ● Os alunos poderão trabalhar em grupos ou individualmente para compor as cenas, fazer a produção e o registro fotográfico da mesma. ● O exercício criativo requer que os alunos desenvolvam a sensibilidade visual a imaginação criativa, sua percepção visual, e a expressão facial e gestual. 147


● Explorar roupas, maquiagens, penteados e acessórios para compor suas criações fotográficas. ● Deverão criar no mínimo uma série com três sequencias fotográficas. ● Observar a luz para realizar o registro fotográfico, o enquadramento o foco e a nitidez da cena.

3º momento: ● Conversar sobre o resultado final. Perguntar sobre a relevância da atividade, bem como os critérios para a composição da cena. ● Analisar a relevância deste estilo de fotografia na atualidade. ● Solicitar o material para o próximo encontro.

Recursos: ● Computador com projetor multimídia. ● Câmeras fotográficas ou celulares. ● Roupas, maquiagem e assessórios para compor as cenas.

Avaliação: ● Será avaliado nesta aula o processo criativo dos alunos na construção das cenas. Desde a produção à pós-produção das composições. ● Perceber se os alunos exploraram a sensibilidade, a imaginação criativa, a percepção visual, a expressão facial e corporal nas composições. ● Avaliar a participação e o envolvimento dos alunos na proposta. ● Observar os aspectos técnicos do registro fotográfico.

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Realizado

O oitavo encontro com a turma 117, ocorreu no dia 17/10/2011, das 16h45min às 17h30min. Tivemos um período de aula. Ao chegar à sala de aula, percebi que os alunos estavam eufóricos e ansiosos pela realização do encontro. Foi a primeira vez em que os vi tão estimulados para o encontro. A primeira coisa que me perguntaram foi se eles iriam fotografar, disse a eles que sim, que este era o objetivo do encontro. Perguntei à turma se haviam pensado e planejado em como realizar suas produções e seus registros fotográficos. A maioria dos alunos disseram que inventariam seus personagens na hora, pois segundo eles, poderiam explorar sua imaginação e criatividade. Expliquei rapidamente à turma a proposta do exercício criativo, no qual os alunos deveriam criar um personagem ficcional ou uma temática da realidade deles. O exercício criativo proposto tem por objetivo que os alunos possam explorar a sensibilidade, a imaginação criativa, sua percepção visual, a expressão facial e gestual. Os alunos poderão usar roupas, maquiagens, penteados e acessórios para compor suas criações fotográficas. E deverão criar no mínimo uma série de três sequencias fotográficas. Ao fotografar deverão observar a luz, o enquadramento e o foco e nitidez da cena. Após estas explicações, pedi aos alunos para deixarem todas as classes e cadeiras no canto da sala de aula, pois assim eles teriam mais espaço para criar suas composições. A movimentação de corpos foi grande na sala de aula, alguns alunos decidiram se arrumar no banheiro, e outros preferiam se arrumar na sala mesmo. Percebi que alguns alunos levaram alguns materiais como lenços, maquiagens e bijuterias. Eu levei para este encontro, perucas, óculos coloridos, echarpes, lenços, bijuterias e alguns tecidos coloridos. Ao perguntar à turma quem gostaria de começar suas sequencias fotográficas, percebi que alguns ficaram tímidos em iniciar as fotos individuais, então propus aos alunos iniciarmos com fotos em grupos. A maioria da turma topou, iniciamos algumas fotos em pequenos grupos. Percebi que os alunos foram se soltando, havia muita risada e conversas, eles trocavam ideias entre si, conversando a respeito de como compor seus personagens e que aspectos observar no registro fotográfico. Foi muito legal perceber que a turma se comprometeu e se envolveu na proposta, apenas uma aluna não se deixou fotografar, mas 149


participou ativamente em realizar os registros fotográficos. Alguns alunos optaram por criar personagens étnicos, outros exploraram a sua própria imagem, explorando a expressão facial e corporal e usando acessórios, maquiagens e roupas. Abaixo algumas fotos dos grupos.

Foto da turma 117. (Fonte: TEIXEIRA, 2011)

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Foto da turma 117. (Fonte: REIS, 2011)

Foto dos alunos Samir, Marlon e Samuel. (Fonte: DAMICO, 2011)

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Os três alunos acima foram os que mais se deixaram fotografar, e criaram várias sequencias fotográficas. De fato este encontro foi muito divertido e prazeroso, pois os alunos puderam se soltar e expressar sua imaginação criativa ao criar seus personagens livremente. Durante a realização dos registros, alguns alunos tiveram dúvidas sobre como compor seus personagens, disse à turma que eles poderiam optar em criar um personagem ficcional ou explorar sua própria imagem. Alguns alunos disseram que era difícil fotografar em frente à turma, pois sentiam vergonha. Comentei com a turma que este momento era livre para que eles fizessem suas escolhas e principalmente pensassem no processo construtivo do personagem ou de sua própria imagem, procurando aguçar sua percepção visual e sensibilidade nas composições. Percebi que os alunos ficaram pensando nas possibilidades de criação e ao ver que a maioria do grupo estava participando, também começaram a criar suas composições. Alguns alunos decidiram criar algumas sequencias com personagens ficcionais, eles exploraram a expressão facial e corporal, e fizeram uso de roupas, acessórios e maquiagens para suas produções. Na sequencia abaixo, os alunos criaram alguns personagens para suas composições, como a “A beleza revelada” com a aluna Ariane, o “pegador” com o aluno Marlon e o “maluco da 117” com o aluno Samuel.

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Foto da aluna Ariane. A beleza revelada (Fonte: TEIXEIRA, 2011)

Fotos do aluno Marlon. SequĂŞncia 2: O pegador (Fonte: DAMICO, 2011)

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Fotos do aluno Samuel. Sequência 3: O maluco da 117. (Fonte: SOUZA, 2011)

Percebi que a maioria dos alunos realizaram os registros fotográficos através de celular com câmeras digitais, apenas uma aluna levou uma câmera digital. Foi ótimo ter vários alunos fotografando, pois os alunos puderam compor suas cenas, e os próprios colegas fizeram os registros; tínhamos em vários espaços da sala de aula alguém fotografando e se deixando fotografar. Comentei com a turma a respeito de observar alguns aspectos básicos ao fotografar como a luz apropriada na composição da cena, o enquadramento, o foco e a nitidez das imagens fotografadas. Alguns alunos comentaram que geralmente usam o disparador automático das câmeras digitais ao fotografar e que nunca observaram estes aspectos básicos, mas acharam interessante observar isto, pois torna o olhar mais sensível ao registro. Embora tenha sido apenas um período de aula, foi suficiente para realizar a proposta, pois os alunos conseguiram se envolver plenamente. Nas sequencias fotográficas a abaixo, os alunos optaram por criar alguns personagens como a “A mística” com a aluna Letícia, “ A mulher além do véu” com a aluno Paula, o “big boss” com o aluno Heber o “pensador maluco” com o aluno Samir e a “mulher além do véu”

com a aluna Paula. Na maioria das sequencias os alunos exploraram a

expressão facial e corporal, além de acessórios para compor seus personagens.

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Fotos da aluna Letícia. Sequência 4: A Mística. (Fonte: REIS, 2011)

Fotos da aluna Paula. Sequencia 5: A mulher além do véu. (Fonte: DAMICO, 2011)

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Fotos do aluno Heber. Sequência 5: O big boss. (Fotos: DAMICO, 2011)

Fotos do aluno: Samir. Sequência 6: O pensador maluco. (Fotos: SOUZA, 2011)

Nesta turma ocorreu um fato curioso, pois quando propus esta proposta para a turma a aluna Letícia tinha cabelos no tom avermelhado, e após a realização da autorrepresentação apresentei aos alunos os resultados das fotos e comentei com a aluna, o quanto a beleza de seu rosto se ressaltou com a peruca preta Chanel. Bom, para minha surpresa, a aluna compareceu no próximo encontro de cabelos pretos. Perguntei a ela se a proposta a influenciou a pintar os cabelos, ela disse que sim, pois se gostou mais de cabelo pretos. Percebi que os alunos da turma também fizeram comentários sobre a mudança visual da colega, de que de fato ela ficou mais bonita com cabelos pretos. Este fato foi marcante para mim, pois ressaltou o quanto a opinião do professor pode estimular o aluno, como também a mesma palavra pode destruí-lo. Dizem que as nossas 156


palavras são como flechas, que quando lançadas ao ar não temos como recuperá-las. Consciente desta realidade, na qual estou experimentando e construindo minha identidade docente, espero fazer diferença na vida dos aprendizes através de minhas palavras e propiciar momentos de aprendizagem e reflexão do processo criativo.

Foto da aluna Letícia (antes). (Fonte: BRAVO, 2011)

Foto da aluna Letícia (depois). (Fonte: BRAVO, 2011)

No final do encontro, percebi que os alunos ficaram muito satisfeitos com os resultados fotográficos. Uma aluna comentou: “Profe [sic] esta foi a melhor aula que tivemos até agora, pois a gente pode se divertir e criar ao mesmo tempo.” Outro aluno perguntou: 157


“Profe [sic] vamos fazer novas sessões de fotos?” Respondi que pretendia fazer novas propostas com fotografia, nas quais eles poderiam criar e explorar a sensibilidade visual e a percepção visual em seus registros. Antes dos alunos saírem, perguntei para a turma qual foi a relevância da atividade para eles, bem como a importância deste estilo fotográfico na atualidade. Alguns alunos fizeram os seguintes comentários: “Ah, profe[sic], eu achei muito legal fazer as fotografias, pois foi uma proposta diferente que tivemos que pensar em como criar os personagens, e exploramos muitas coisas como a criatividade e a imaginação, foi muito 10.” Outra aluna disse: “Profe [sic] pelo o que a senhora mostrou nos trabalhos das artistas Cindy Sherman e Nienke Klunder, este tipo de foto é bem comum entre os artistas, a gente que desconhecia. Acho que é uma proposta super válida, pois faz o público pensar no que o artista quer dizer com aquela imagem.” Agradeci aos alunos pelos comentários, e disse que todos os processos artísticos em arte devem nos levar a ter um encontro conosco mesmos, despertando nossa sensibilidade, nossa imaginação e nossa percepção sobre nossa realidade. A maneira como nos envolvemos com a proposta faz toda diferença, seja através da fotografia, ou do fazer artístico manual. Sem dúvida a experiência foi significativa para os alunos, pois puderam imprimir intencionalidade ao processo criativo, sendo possível criar e fotografar com um olhar investigativo os temas elaborados por eles. Conforme o relato dos próprios alunos, a experiência jamais seria esquecida por eles, pois participaram do processo ativamente, e este teve sentido e significado. O resultado do encontro foi excelente, muito além do que imaginava, e isto me fez pensar o quanto o processo de ensino em arte, deve ser dinâmico. Cabe a nós levarmos a arte para a sala de aula como conhecimento e expressão, e oportunizar uma produção artística diversificada, com um conteúdo relacionado com a vida dos alunos, no qual se almeja uma experiência estética significativa. Dado o sinal, os alunos saíram. Percebi que eles saíram satisfeitos deste encontro, pois alguns comentavam sobre suas fotos e o resultado final. Ao realizar a análise crítica sobre a aula aplicada, percebo o quanto esta proposta me aproximou dos alunos. Através do contato verbal, foi possível conhecer mais os alunos, seus interesses e gostos, além de trocar ideias e informações sobre a proposta aplicada. De fato este encontro foi muito prazeroso, pois os alunos demonstraram interesse e total comprometimento com a proposta. E este foi o grande diferencial do encontro, pois eles estavam interessados em criar e explorar a linguagem fotográfica.

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Creio que a dinâmica e a metodologia aplicadas, oportunizaram a participação e o envolvimento de todos os alunos, sendo os objetivos planejados alcançados, pois os alunos puderam explorar, no desenvolvimento da proposta, a sensibilidade visual, a imaginação criativa, sua percepção visual, a expressão facial e gestual em suas composições. A participação verbal dos alunos foi muito positiva, pois fizeram ótimas contribuições, sendo que foi possível perceber que houve por parte deles o entendimento da proposta. A produção fotográfica dos alunos a meu ver foi excelente, pois eles não tiveram medo de criar, inventar e ousar. A maioria dos alunos conseguiu criar sequencias fotográficas, nas quais foi possível perceber a criação de personagens ficcionais ou utilização da própria imagem explorando a expressão facial e corporal. Creio que esta proposta foi significativa para os alunos, pois oportunizou ver, contextualizar e fazer sendo possível ter um encontro com a própria arte. Os alunos foram provocados a manejarem e conhecerem a linguagem fotográfica de modo a desenvolverem um olhar sensível e crítico tanto para a criação dos personagens, como para o próprio registro fotográfico. Creio que este encontro também provocou aos alunos a pensar afinal o que é realidade? E o que é verdade em arte? Sendo possível na atualidade dialogar com fotografia tradicional e a fotografia contemporânea. É notório o interesse dos alunos pela fotografia, por isso, pretendo antecipar à vinda do Fotógrafo Pedro Karg a escola, para que ele possa apresentar seu trabalho e dar algumas orientações sobre fotografia.

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3.3.9. Nono Encontro Data: 24/10/2012 Aula: 11

Tema da aula: Fotógrafo Pedro Karg

Duração da Aula: 16h45min às 17h30min.

Objetivos da aula: ● Conhecer o trabalho do fotógrafo Pedro Karg. ● Aguçar a percepção e a sensibilidade visual dos alunos através da apreciação das produções fotográficas. ● Provocar leituras estéticas que possam desencadear um aprendizado em arte. ● Ampliar o repertório visual dos alunos através da fotografia. ● Conhecer algumas técnicas básicas para o registro fotográfico.

Conteúdos: ● Fotografia ● Leitura de imagens ● Técnicas fotográficas

Metodologia: ● Aula expositiva e dialogada e apreciação de obras através do computador com multimídia.

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Desenvolvimento da aula: 1º momento: ● Apresentar aos alunos o fotógrafo Pedro Karg, e disponibilizar o tempo de 40 minutos para que o fotógrafo possa apresentar seu trabalho e dar algumas dicas de fotografia para a turma.

Fotógrafo Pedro Karg (Fonte: KARG, 2011)

● Pedro Karg irá apresentar à turma algumas de suas produções fotográficas em moda, tais como Futurismo, Jessie, L’obscurité, Náttura e Rosa Mística.

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Pedro Karg, Produção fotográfica: Futurismo e Jessie. (Fonte: http://www.flickr.com/photos/pedrokarg/)

Pedro Karg, Produção fotográfica: L’obscurité, Náttura. (Fonte: http://www.flickr.com/photos/pedrokarg/)

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Pe dro Karg, Produção fotográfica: Rosa mística. (Fonte: http://www.flickr.com/photos/pedrokarg/)

● Oportunizar entre a turma e o fotografo uma reflexão sobre as produções e os aspectos visuais explorados nas composições.

2º momento: ● Realizar com a turma uma reflexão sobre a importância de desenvolver outros olhares para a fotografia contemporânea. ● Oportunizar um tempo de discussão sobre as possibilidades de criação fotográfica.

Recursos: ● Câmera fotográfica e computador com multimídia.

Avaliação: ● Observar a participação e o envolvimento dos alunos durante o encontro. ● Verificar se os alunos fizeram a leitura e a análise das produções. 163


● Perceber o que os alunos acharam mais interessante no trabalho do fotógrafo. ● Analisar se a turma teve o seu olhar aguçado para a sensibilidade visual em arte.

Realizado

O nono encontro com a turma 117 do ensino médio ocorreu no dia 24/10/2011, das 16h45min as 17h30min. Tivemos um período de aula. Neste encontro, tivemos um convidado especial, o fotógrafo Pedro Karg. Convidei o Pedro, pois ele é um jovem talentoso que tem um estilo poético para criar suas produções em moda, sendo esta encarada como arte. Pedro é quem fotografa, faz o styling, e quem produz suas próprias criações. Este jovem, além de extremamente brilhante no que faz é encantador e aberto a desafios. Ele nunca havia encarado uma sala de aula com adolescentes, e, ao receber o convite, não hesitou em colaborar com sua experiência a fim de desafiar a turma a ter outros olhares para a fotografia contemporânea. Ao chegar à sala de aula, apresentei o Pedro à turma e comentei com os alunos que eles teriam a oportunidade de conhecer pessoalmente um fotógrafo talentoso, que busca na arte referências de criação. Disse à turma que ele iria apresentar seu trabalho e dar algumas dicas de fotografia. Passei a palavra para o Pedro. Ele conversou com a turma de forma informal e espontânea, relatou aos alunos como foi o seu primeiro contato com a fotografia, e a sua trajetória de criação em moda. Apresentou à turma suas produções Futurismo, Jessie, L’obscurité, Náttura e Rosa Mística, os alunos ficaram admirados com a criatividade e qualidade das produções, principalmente ao saber que o fotógrafo faz toda a criação, fotografa e realiza a pós produção. Os alunos fizeram alguns comentários a respeito das composições fotográficas: A aluna Carolina disse: “Bah, muito show o teu trabalho, principalmente a produção das cenas, são cenas vibrantes e o uso da cor é predominante.” A aluna Paula disse: “Eu gosto muito de fotografia de moda, mas os estilos destas fotos são diferentes, pois faz a gente se deter nos detalhes da produção.” O aluno Samir perguntou: “Antes de saber que a modelo das fotos era tua irmã, deu pra perceber que existe entre vocês uma cumplicidade no trabalho, isto ajuda na realização das fotos.” O Pedro comentou que criar com a sua irmã facilita muito o processo, pois ambos não têm medo de ousar e criar com liberdade. Mas disse 164


que já fez ensaios com outras modelos, e o diferencial é ter um olhar sensível e se deixar levar pela intuição e pela emoção. O Pedro contou alguns detalhes das produções, como cenários e materiais inusitados que utiliza para compor suas fotos, e destacou a importância de desenvolver um olhar sensível e a percepção visual do todo ao criar. Percebi que este aspecto abordado pelo Pedro foi muito marcante para os alunos, pois puderam perceber em suas criações materiais simples nos quais os resultados foram surpreendentes, sendo a sensibilidade e a imaginação criativa elementos essenciais no processo construtivo do fotógrafo. Este aspecto provocou os alunos a pensar em temas diversos nos quais poderiam explorar a criatividade e a sensibilidade visual ao fotografar. Os alunos sugeriram alguns temas nos quais poderiam explorar, como: fotos abstratas, nos quais seria possível trabalhar vários aspectos visuais, como cor, textura, linhas, contraste e nitidez, fotos de paisagem e fotos de cenas do cotidiano deles. O Pedro comentou que embora se concentre mais na fotografia de moda, nada o impede de elaborar outros temas para fotografar, pois a fotografia nos dá liberdade para tal. Ele ressaltou que no inicio da carreira não se importava com as questões técnicas da fotografia, pois queria experimentar e criar coisas novas. Ele estimulou os alunos a experimentarem, e ousarem, dizendo que não importa a marca e o tamanho da câmera digital, mas que ao manipular os recursos da câmera por mais simples que seja, poderiam ter bons resultados. Percebi que os alunos ficaram admirados com a idade do fotógrafo, pois ele tem apenas 19 anos e a faixa etária da turma é de 16 a 19 anos. Este fato surtiu um efeito muito positivo, pois no geral a turma tem uma baixa auto-estima, não sendo muitas vezes valorizados pelos professores das demais disciplinas. Tenho tentado trabalhar este aspecto com a turma, valorizando suas ideias e produções. Constatei que a maioria da turma ficou atenta durante a apresentação das produções e comentários do Pedro Karg. Perguntei à turma o que mais chamou a atenção deles no trabalho do Pedro. A aluna Bianca disse: “Profe [sic] a produção Náttura foi a mais impactante para mim, pois ele explorou muito as cores e o resultado ficou ótimo.” O aluno Moises disse: “O que mais me surpreendeu é que ele tem a nossa idade, e já é reconhecido pelo trabalho que faz, muito show.” A aluna Gabriela comentou: “Pra mim, o que mais se destaca no trabalho do Pedro é a sua sensibilidade, pois a gente percebe que ele cria com a alma e o coração”. A aluna Ariane

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disse: “O trabalho dele é o máximo, pois ele não tem medo de ousar ao aliar arte, moda e teatro nas fotos.” Após estes comentários, o Pedro disse que com o passar do tempo, sentiu a necessidade de estudar e aprofundar o seu conhecimento em fotografia para aprimorar sua técnica. Ele comentou que gostaria de deixar algumas dicas técnicas à turma, mas ressaltou que, em primeiro lugar, os alunos deveriam experimentar a fotografia de forma prazerosa, para aos poucos irem observando a luz nos registros, o contraste entre luz e sombra principalmente ao fotografar em dias ensolarados e nublados. Comentou a respeito de observar foco e o zoom ao realizar os registros, bem como a distância e a aproximação do fotógrafo ao fotografar uma pessoa ou paisagem. O tempo foi curto para realizar tudo que havíamos planejado inclusive a parte prática da fotografia, na qual pretendíamos levar os alunos para o pátio para fotografar, mas o tempo se esgotou e não foi possível realizar. No final do período, os alunos se despediram do Pedro, e parabenizaram-no pelo trabalho desenvolvido. O Pedro comentou que o encontro foi muito rápido e que gostaria de dar muitas dicas e mostrar toda a sua produção fotográfica, mas que esperava ter provocado os alunos a perceber, apreciar e analisar as imagens fotográficas com um olhar mais atento aos aspectos visuais que elas contêm, pois o que caracteriza sua produção é a influência da arte. Notei que as meninas se interessaram e se identificaram mais com o trabalho do Pedro do que os meninos. Inclusive ficaram mais atentas aos aspectos visuais das imagens, relatando suas impressões. Alguns meninos demonstraram certo preconceito com relação ao estilo fotográfico, inclusive fizeram algumas piadinhas e comentários entre eles, sendo necessário em alguns momentos pedir silêncio à turma para que o Pedro pudesse falar. Isto atrapalhou um pouco, mas o Pedro não se abalou; embora estivesse muito nervoso, isso não o impediu de dar o seu recado à turma. Pretendo na próxima aula fazer uma avaliação com a turma a respeito do encontro e realizar uma reflexão sobre a importância de desenvolver outros olhares na fotografia contemporânea. Também oportunizar um tempo de discussão sobre as possibilidades de criação fotográficas na atualidade. Minha atuação neste encontro foi de mediadora do processo de ensino e aprendizagem em arte, no qual procurei ampliar o conhecimento dos alunos através do contato com artista e sua obra. Penso que a aprendizagem foi significativa para todos os envolvidos no processo. Os alunos tiveram uma experiência nova, pois nunca haviam tido contato com um artista pessoalmente e sua obra, e isto oportunizou novos olhares para a 166


fotografia na atualidade. E despertou o interesse e curiosidade deles pela fotografia artística. Para mim o encontro foi muito marcante, pois me fez perceber a necessidade de uma construção contextualizada do conhecimento em arte, ou seja, aproximar a arte dos alunos a fim de aprimorar as percepções dos educandos para que possam desenvolver sua percepção e criticidade visual. Penso que o encontro também propiciou aos alunos desenvolverem múltiplos olhares para a fotografia contemporânea. Através da apreciação das obras, os alunos puderam interpretar as imagens, fazer associações de forma dialógica e crítica. Despertando um olhar consciente, diferenciado do ver espontâneo, pois, segundo Buoro (2002, p.63), Uma das funções centrais do ensino da arte na escola deveria ser esta: a de construir leitores sensíveis e competentes para continuar se construindo, adquirindo autonomia e domínio do processo, fazendo aflorar, desse modo, ao toque do próprio olhar, uma sensibilidade de ser-estar-viver no mundo.

Creio que o professor torna-se mediador no processo do ensino em arte, ao propiciar visibilidades diversas, no qual se espera despertar nos alunos um olhar sensível para a arte. O contato com as produções do Pedro Karg aguçou a percepção e a sensibilidade visual dos alunos, pois a dinâmica e as metodologias aplicadas contribuíram para a apreciação visual das obras e a participação verbal dos alunos. Inserir a percepção numa proposta investigativa é abordar uma vasta temática em arte longe de ser esgotada e pensada. Penso que o tempo poderia ter sido maior para poder apreciar as imagens com calma e promover mais diálogos com a turma e o fotógrafo, bem como realizar a prática em fotografia no pátio da escola. No final do encontro, percebi que alguns alunos sentiram o desejo de realizar a prática em fotografia. Inclusive sugeriam que ele retornasse à escola, todavia, isto não foi possível devido aos compromissos do mesmo. Os objetivos e conteúdos selecionados foram contemplados ao longo do encontro, sendo possível ampliar o repertório visual dos alunos e provocar leituras estéticas a fim de desencadear um aprendizado em arte. O resultado da aula pode ser percebido através da participação verbal dos alunos, nas quais fizeram ótimas elaborações a respeito das composições, bem como relataram suas impressões visuais sobre as mesmas. Creio que foi uma experiência marcante para turma conhecer um jovem artista que produz fotografia e arte de modo tão singular, com sensibilidade visual e imaginação criativa presentes em suas produções.

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Penso que este encontro propiciou aos alunos um encontro com a arte, sendo o ver, pensar e sentir elementos instigantes para uma maior compreensão da percepção visual tão comentada em aula. Espero que os alunos tenham compreendido que a poética do ato criador exercido em sala de aula denota pensar o processo artístico com reflexão e liberdade, no qual se almeja desenvolver um olhar sensível através da arte. No próximo encontro será necessário encaminhar a análise sobre o encontro realizado, e uma reflexão sobre a importância de desenvolver outros olhares para a fotografia contemporânea.

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3.3.10. Décimo Encontro Data: 31/10/2012 Aula: 12 Tema da aula: Arte Postal

Duração da Aula: 16h45min às 17h30min.

Objetivos da aula: ● Conhecer a arte postal. ● Conhecer o trabalho de Eugenio Dittborn, artista homenageado da 8ª Bienal do MERCOSUL em 2011. ● Aguçar a percepção e a sensibilidade visual dos alunos através da montagem e remontagem dos painéis coletivos e apreciação das obras do artista Eugenio Dittborn e das produções recebidas.

Conteúdos: ● Arte Postal ● Obras de Eugenio Dittborn ● Leitura das imagens.

Metodologia: ● Aula expositiva e dialogada, apreciação de obras e atividades coletivas.

Desenvolvimento da aula: 1º momento: ● No primeiro momento da aula, farei uma avaliação com a turma sobre o encontro anterior e uma reflexão sobre a importância de desenvolver outros olhares para a produção fotográfica contemporânea. ● Apresentar aos alunos o Projeto Arte Postal e seu propósito. 169


● Propor à turma montagem do painel coletivo de suas produções. ● Entregar à turma o envelope com os trabalhos remetidos por outra escola. Os alunos deverão apreciar os trabalhos e fazer uma analise das imagens recebidas. ● Os alunos deverão estabelecer os critérios para a montagem e remontagem dos painéis e sua organização espacial. Feito isto, deverão fazer o registro escrito dos critérios estabelecidos pela turma para a remontagem do painel e fotografar os painéis.

2º momento: ● Apresentar aos alunos um power point sobre arte postal. ● Comentar a respeito do artista homenageado na 8ª Bienal do MERCOSUL, Eugênio Dittborn. ● Comentar que se pode abordar o trabalho de Dittborn desde três pontos de vista: estratégico, material e iconográfico.

Eugênio Dittnorn. (Fonte: http://www.bienalmercosul.art.br/componentes/7)

3º momento: ● No último momento, será feita uma avaliação com a turma sobre a composição dos painéis. Pretende-se instigar os alunos a pensar na relevância da arte postal na atualidade.

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Recursos: ● Computador com projetor multimídia e câmera fotográfica.

Avaliação: ● A avaliação se dará observando o envolvimento e interesse dos alunos. ● Avaliar se os alunos conseguiram interpretar as composições recebidas, bem como se exerceram um olhar crítico e sensível. ● Observar os critérios estabelecidos pela turma para a montagem e remontagem dos painéis. ● Observar a organização espacial utilizada pelos alunos nas montagens.

Realizado O décimo encontro com a turma 117 do ensino médio ocorreu no dia 31/10/2011, no horário das 16h45min às 17h30min. Tivemos um período de aula. Saudei a turma e comentei que pretendia, no primeiro momento da aula, realizar uma avaliação do encontro anterior, no qual os alunos puderam conhecer o fotógrafo Pedro Karg e sua produção fotográfica. Perguntei aos alunos qual foi a relevância do encontro. Os alunos fizeram os seguintes comentários: A aluna Ariane disse: “Ah, profe [sic] a aula foi muito legal, pois o Pedro nos mostrou que para criar é preciso ter um olhar sensível e aberto a novas possibilidades de criação.” A aluna Gabriela disse: “Profe [sic] o encontro foi muito bom, pois ele nos estimulou a expressar nossos sentimentos e emoções através da fotografia.” A aluna Bianca comentou: “Pois é profe [sic] a aula foi show, pena que os guris desta turma não sabem apreciar a arte.” Este comentário gerou confusão e discussão entre os alunos, pois os meninos não gostaram nem um pouco do comentário da colega. Tive que pedir para as partes se acalmarem e fazer comentários pertinentes ao encontro. O aluno Patrick disse: “Ah, profe [sic] eu não sou obrigado a gostar de foto de moda, eu gosto de outros tipos de fotografia.” Perguntei ao aluno do que gostava, ele disse: “Gosto de fotos de bandas musicais, esportes e mulheres bonitas.” Perguntei a ele se para este tipo de fotografia não era necessário ter um olhar sensível sendo o trabalho entendido como objeto artístico. Ele disse: “Ah, acho que sim.” Disse à turma o seguinte: Com certeza temos preferências e gostos pessoais, mas 171


isto não nos impede de contemplar uma fotografia de moda e reconhecer o que todo fotógrafo deveria fazer em suas composições, que é desenvolver uma poética pessoal no seu percurso criativo. E que as fotos produzidas exigem o observador a pensar nos elementos visuais desta composição, e ter o seu olhar aguçado pela mesma. Disse a eles que o Pedro desperta nos observadores novos olhares para a fotografia, por meio de narrativas artísticas. Comentei com a turma que teremos mais quatro encontros nos quais os alunos poderão desenvolver a sua poética pessoal em fotografia, ou seja, poderão construir trajetórias pessoais, sendo o olhar sensibilizado através da criação em arte. Bom, neste encontro havia três alunos que nunca haviam comparecido às aulas, mas que retornaram à escola para garantirem a sua vaga. Percebi que os alunos estavam a fim de polemizar o encontro, então decidi encerrar o debate e encaminhar a proposta da arte postal e para as montagens dos painéis. Perguntei à turma se tinham ouvido falar sobre arte postal. Os alunos disseram que nem sabiam do que se tratava. Comentei que a arte postal se caracteriza por ser um meio de expressão livre, no qual envelopes, telegramas, selos ou carimbos postais são alguns dos suportes. Os artistas utilizam, principalmente, técnicas como colagens, fotografia, escrita ou pintura. A única limitação real à utilização de diferentes técnicas e suportes é a possibilidade de envio dos trabalhos pelo correio Disse à turma que a arte postal surgiu no contexto da guerra fria e da ditadura militar, e que os artistas começaram a trocar correspondências entre si como forma de expressão artística. Comentei com a turma que estava ocorrendo na cidade de Porto Alegre a 8ª Bienal do MERCOSUL, que é uma exposição que acontece a cada dois anos. E neste ano, o artista homenageado é um chileno chamado Eugenio Dittborn que trabalha com pinturas Aeropostais. Perguntei se alguém já havia visitado a Bienal e se conheciam o espaço Santander Cultural. Os alunos disseram que conheciam o espaço Santander Cultural, mas que ainda não tinham visitado a Bienal. Mostrei à turma algumas imagens das obras do Dittborn e comentei que o artista trabalha em suas obras a questão do estratégico, material e iconográfico. Destaquei que estratégico significa que as pinturas Aeropostais residem no fato destas viajarem como cartas que se desdobrarem como pinturas em seu destino. Disse à turma que o material significa o processo construtivo do artista, que se resume aos seguintes procedimentos: tingir, alinhavar, costurar, bordar, imprimir, desenhar, enxertar e dobrar. E, por fim, comentei que o artista aborda vários temas como o acidente de viagem e a interrupção do trajeto – o naufrágio, a catástrofe aérea; o envoltório como veículo de transição 172


entre dois territórios – o envelope, o berço, a mortalha; o rosto humano; os manuais escolares de desenho; a publicidade arcaica; as caricaturas e outras formas de desenho (o de crianças ou esquizofrênicos), nos quais não haja uma plena consciência e o desenho seja feito quase que de maneira involuntária; as gravuras históricas, a notícia jornalística, a matéria policial; a imagem de pintores posando como pintores. Perguntei à turma suas impressões e interpretações sobre as obras do artista, os alunos acharam interessantes as dimensões das obras e constataram que ao dobrar as produções o artista fica livre para trabalhar com as dimensões que quiser. Os alunos comentaram que as produções são difíceis de entender, pois tem que ter noção do acontecimento histórico e do enredo da obra. Comentei com a turma que a obra do artista reflete a transterritorialidade, na qual resgata suas memórias de viagens. Disse à turma que muitas vezes temos a ideia que a arte deve representar somente a beleza e temas suaves, todavia, a arte também representa a angústia, a dor, a tristeza, temas de protestos e denúncias para que o observador tenha o seu olhar despertado para o contexto da obra e a intenção do artista. Os alunos fizeram os seguintes comentários: O aluno Samuel disse: “Bah profe [sic] pior, esta é a ideia que eu tenho, de que a arte deve mostrar coisas bonitas, e quando nos deparamos com este tipo de obra, a gente tem dificuldade para achar que é arte.” A aluna Ana Carolina disse: “Agora que a senhora explicou a intenção do artista, dá pra entender o que ele queria passar, mas se eu fosse ver estas obras em outro lugar e ninguém me explicasse, eu não entenderia e ia achar tudo muito feio.” Disse à turma que precisamos desmitificar esta ideia de que a arte para ser arte deve ser bela. Comentei que este conceito já foi muito reproduzido no passado, mas na atualidade o que vale é a intenção do artista, no qual deve provocar no observador uma estranheza ao contemplar a obra. Também disse que a arte é uma revolução, ou seja, deve mexer com as nossas concepções e conceitos e nos levar a pensar nas intenções do artista e descobrir outras verdades sobre a obra. Após esta apresentação, e comentários mostrei à turma algumas produções realizadas por eles ao longo dos encontros. Levei as composições das fotopinturas, as fotomontagens e os autorretratos. Disse à turma que eles teriam a oportunidade de expor suas produções no espaço Santander Cultural. A princípio os alunos ficaram duvidosos e descrentes. Expliquei à turma a proposta do Projeto Arte Postal no qual 15 escolas do RS estão envolvidas. Após estas explicações, perguntei à turma se gostariam de participar do projeto e qual das produções realizadas por eles, gostariam de enviar. As reações dos alunos foram 173


diversas. Alguns comentaram que os trabalhos não estavam bons para serem expostos no Santander. Outros disseram que deveriam escolher o trabalho que mais gostaram de realizar. Foi um bom tempo de debate entre os alunos, até que chegaram ao consenso de participar da exposição com as produções das fotopinturas, pois segundo eles, foi a produção que mais gostaram de realizar, pois, puderam desconstruir as imagens e explorar cores e texturas. Entreguei aos alunos as fotopinturas e expliquei que eles deveriam compor um painel coletivo com as placas, e que as mesmas não deveriam ser presas umas nas outras, mas apenas agrupadas segundo os critérios estabelecidos pela turma para a organização espacial do painel. Os quatro alunos novos não quiseram participar da montagem do painel, pois disseram que não haviam produzido nada, e não iriam participar da exposição. Não foi possível envolver este grupo durante o encontro, pois foi notória a falta de interesse dos mesmos. Os demais alunos da turma participaram da proposta, percebi que eles tiveram dificuldade para definir quais os critérios para a montagem. Discutiram as propostas por uns 10 minutos, até chegarem à conclusão que montariam o painel de acordo com a organização da turma na sala de aula. Pedi à turma que fizessem a montagem do painel e que escrevessem no papel quais foram os critérios estabelecidos por eles para esta composição. Os alunos disseram que a ideia surgiu devido aos grupinhos organizados na sala de aula, e que este foi o critério para a composição. Perguntei se não gostariam de enriquecer o texto com outros argumentos, mas eles disseram que assim estava bom. Feita a montagem na parede da sala de aula, os alunos fizeram o registro da composição. Abaixo o painel coletivo da turma.

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Foto da turma 117. Montagem do painel coletivo. (Fonte: BRAVO, 2011)

Faltando uns 10 minutos para acabar o encontro, entreguei à turma as produções da Escola Estadual de Ensino Médio Ildefonso Simões Lopes, que fica localizada na BR101, Km 99, em Osório/RS. Comentei com a turma que os alunos que enviaram as composições passaram pelo mesmo processo que eles haviam acabado de vivenciar, e que agora eles fariam a remontagem das placas recebidas. Percebi que os alunos ficaram agitados e eufóricos ao verem as produções. O aluno Samir comentou: “Profe [sic] a ideia das trocas entre as escolas foi muito legal, pois assim estamos trocando experiências plásticas.” Achei o máximo a sua colocação, pois além de valorizar a experiência da arte postal, o aluno esta ampliando o seu vocabulário em arte. As produções recebidas circularam bastante pela sala de aula, todos puderam apreciar inclusive o grupinho de novos alunos. Perguntei a eles a respeito de suas impressões sobre as composições. Eles fizeram os seguintes comentários: O aluno Dionatan disse: “Bah, profe [sic] estes desenhos estão bala, coisa de profissional.” O aluno Heber comentou: “Muito bons os trabalhos, dá pra perceber que eles fizeram desenhos do mesmo espaço físico.” Comentei que ele tinha razão em fazer esta observação, pois os alunos fizeram desenhos de observação da escola. Disse que a escola fica localizada na zona rural de Osório, e que os 175


alunos desenharam o morro da Borrúsia e os arredores da escola. A aluna Ariane comentou: “Ah, por isso tem tantas árvores e morros, dá pra perceber que os alunos se detiveram nos detalhes e embora tenham desenhado as mesmas coisas, ou desenhos não ficaram iguais.” Perguntei à turma quais critérios iriam estabelecer para a remontagem do painel. A remontagem foi mais tranqüila, e os alunos resolveram espalhar as placas no chão da sala de aula. Eles disseram que decidiram compor o painel cercado pelas árvores, pois para a turma as árvores representam a vida. Abaixo a remontagem do painel.

Foto da turma 117. Remontagem do painel coletivo. (Fonte: BRAVO, 2011)

Como o tempo se esgotou, mostrei rapidamente para a turma a foto da montagem original do painel recebido, eles acharam a organização espacial muito parecida com a que haviam montado. Dado o final, todos saíram. Não foi possível neste encontro fazer uma análise com os alunos das montagens dos painéis montados por eles, e nem uma discussão a respeito da prática da arte postal na atualidade, bem como saber dos alunos a relevância em participar do Projeto Arte Postal.

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Ao fazer a análise crítica e reflexão sobre a aula aplicada, percebo que este encontro foi um pouco tumultuado e agitado, pois tínhamos muitas coisas para debater, decidir e ver. Após a aplicação da aula, sinto que deveria ter divido o encontro em dois, para que os alunos pudessem ter mais tempo para apreciar e fazer as leituras das obras. Fiquei pressa no meu planejamento pensando no prazo de envio das correspondências, pois este já estava praticamente esgotado. Mas mesmo com tantas coisas para decidir, apreciar e debater, os alunos foram participativos e fizeram ótimas contribuições. Penso que a dinâmica de debates facilitou muito para que os alunos pudessem expor seus pontos de vistas sobre as questões levantadas no encontro. Como também promoveu uma reflexão no qual foi possível desmistificar a ideia dos alunos em considerar a arte somente como algo belo. A metodologia os conteúdos e os objetivos foram contemplados ao longo do encontro, pois os alunos conheceram a que é arte postal, e vivenciaram este processo através do envio e recebimento das produções. Falar da teoria e experimentar o processo de arte postal na prática foi muito significativo para os alunos, pois percebi que eles valorizaram as suas produções ao saberem que as mesmas seriam expostas num espaço cultural tão conceituado, como também valorizaram os trabalhos recebidos. Penso que o encontro oportunizou aos alunos terem a sua percepção e a sensibilidade visual aguçadas através da apreciação, leituras e montagens das obras. Além de desenvolverem o senso estético e crítico dos alunos durante o processo construtivo. Percebi que também se sentiram importantes durante o processo, pois tiveram total autonomia para estabelecerem os critérios da montagem e remontagem dos painéis. A produção dos alunos durante o encontro foi dinâmica, pois oportunizou espaços de discussões e reflexões verbais na qual o pensar o processo construtivo mais uma vez foi enfatizado e vivenciado. A proposta instigou os alunos a desenvolverem o seu olhar curioso e sensível às sutilezas das obras. Assim, conforme afirma (CARDOSO apud MARTINS, 2010, p. 126), A simples visão supõe e expõe um campo de significações, ele, o olhar – necessitado e inquieto, inquiridor – deseja e procura, seguindo a trilha do sentido. O olhar pensa, é a visão feita interrogação.

Penso que os alunos conseguiram estabelecerem critérios significativos para comporem seus painéis, bem como os resultados estéticos foram interessantes, principalmente a montagem do painel da turma, pois é a imagem deles que aparece nas composições. Ao estabelecerem o critério de compor a partir da organização espacial da turma, eles deram um 177


significado real para o painel. Como também perceberam o quanto a turma é fragmentada em pequenos grupinhos. No próximo encontro, pretendo encaminhar com a turma a proposta de intervenção fotográfica no espaço escolar, na qual será possível desenvolver o censo crítico e estético, bem como a percepção visual e a sensibilidade criativa ao fotografar.

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3.3.11. Décimo Primeiro Encontro Data: 07/11/2012 Aula: 13

Tema da aula: Intervenção Urbana

Duração da Aula: 16h45min às 17h30min

Objetivos da aula: ● Estimular o modo de ver e observar dos alunos através de apreciação de obras e por meio do registro fotográfico. ● Desenvolver a percepção e sensibilidade visual e a imaginação criativa através da intervenção fotográfica no ambiente escolar. ● Conhecer as obras do artista Tom Lisboa.

Conteúdos: ● Ver e observar ● Fotografia ● Obras de Tom Lisboa ● Intervenção urbana

Metodologia: ● Aula expositiva e dialógica, apresentação de imagens e atividades coletivas.

Desenvolvimento da aula: 1º momento: ● Conversar com os alunos a respeito da importância de ver e observar. Segundo Ferraz e Fussari (2009, p.76) “Educar o nosso modo de ver e observar é importante para transformar e ter consciência da nossa participação no meio ambiente, na realidade cotidiana”. 179


● Explicar aos alunos que ver significa conhecer, perceber pela visão as coisas e formas do mundo ao redor. E observar é olhar, pesquisar, detalhar, estar atento às particularidades visuais, relacionando-as entre si (FERRAZ e FUSARI, 2009, p.76). ● Uma educação do ver, observar, significa reconhecer as características do próprio cotidiano. ● Estes aspectos serão ressaltados na primeira parte do encontro, na qual se pretende estimular os alunos a reconhecer a importância de aprimorar o seu modo de ver e observar, a fim de explorar a sua percepção e sensibilidade visual.

2º momento: ● No segundo momento, se pretende sondar os conhecimentos prévios dos alunos a respeito da temática de intervenção urbana. Explicar que a intervenção urbana é sempre uma possibilidade de explorar assuntos do cotidiano das pessoas e a partir deles criar uma discussão. A intervenção trata de desacomodar o olhar cada vez mais viciado e anestesiado dos dias atuais. ● Apresentar as obras do artista Tom Lisboa.

Tom Lisboa, Série Absent Tom (Fonte: http://www.sintomnizado.com.br/absenttom)

● Na série Absent Tom, o artista realiza uma intervenção no espaço urbano, na qual permite que o público interaja com a sua obra, aproximando as pessoas à cidade e 180


criando diferentes pontos de vistas. O artista atua muitas vezes como protagonista nas obras, e resgata a sua memória visual do espaço urbano através do registro fotográfico.

Tom Lisboa, Série Mirando (a) (Fonte: http://www.sintomnizado.com.br/mirando.htm)

● Na série Mirando (a) o artista captura da internet imagens de pássaros as quais emoldura e pendura em árvores criando um curioso contraste entre o que seria realidade e o que seria representação.

Tom Lisboa, Projeto Cinematográfico. (Fonte: http://www.sintomnizado.com.br/cinematografo_release.htm)

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Tom Lisboa, Projeto Cinematográfico. (Fonte: http://www.sintomnizado.com.br/cinematografo_release.htm)

● O projeto cinematográfico é uma intervenção que tem no espectador seu principal agente e a cidade como cenário, e participar dela como diretor/observador significa estabelecer com a cena enquadrada um novo tipo de relação. O observador é instigado a perceber uma pintura através do olhar. 3º momento: ● Propor à turma a avaliação do espaço escolar para a realização da intervenção fotográfica. ● Os alunos deverão escolher o melhor local na escola para realizar a sua intervenção. ● Neste encontro os grupos irão apenas escolher o local e fazer o registro fotográfico do mesmo. A intervenção no espaço escolar será realizada no próximo encontro, após a revelação das fotos em tamanho 30x50. ● A atividade deverá ser realizada em grupos. Os grupos deverão justificar por escrito quais foram os critérios estabelecidos por eles para a escolha deste local, bem como quais resultados esperam obter com esta intervenção.

Recursos: ● Computador com projetor multimídia.

Avaliação: ● Observar a participação e envolvimento dos alunos durante as discussões propostas. 182


● Verificar se os alunos desenvolveram sua percepção e sensibilidade visual e a imaginação criativa na apreciação das obras e na atividade proposta. ● Observar quais foram os critérios estabelecidos pelos alunos para a escolha dos locais para realizar a intervenção fotográfica.

Realizado O décimo primeiro encontro com a turma 117 do ensino médio ocorreu no dia 07/11/2011, das 16h45min às 17h30min. Tivemos um período de aula. Ao entrar na sala de aula, saudei a turma e encaminhei com os alunos a proposta para o encontro. Comentei com a turma que gostaria de discutir com eles dois aspectos importantes para a visualidade: a arte de ver e observar. Iniciei a discussão com uma frase de Rubem Alves (2004) que defende que “o ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.” Segundo o autor “há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem” (ALVES, 2004, p.19). Lancei à turma o argumento do autor e perguntei se isto seria possível. Esta frase gerou diferentes pontos de vista na turma, alguns concordaram com a opinião do autor e outros discordaram. Durante as discussões sobre o assunto, os alunos expressaram suas opiniões: A aluna Bianca disse: “A profe [sic], concordo com o autor, pois o nosso olhar é viciado, somente enxergamos o que nos interessa.” A aluna Letícia completou: “Pior é que é verdade, a gente nem se dá conta disso, só olhamos o que nos toca.” O aluno Dionatan comentou: “Ah, eu não concordo com a primeira parte da frase, pra mim o ato de ver é natural.” A opinião do aluno fez com os demais alunos tentassem explicar para o colega qual foi a intenção do autor ao fazer esta afirmação. Não interrompi as explicações e colocações dos alunos, deixei que chegassem as suas próprias conclusões. Após trocarem ideias e opiniões entre si, concluíram que o autor está correto em sua colocação, pois segundo eles necessitam educar o seu olhar a fim de observar e ver além dos limites de seus interesses. Disse aos alunos que se a pessoa consegue realmente ver na sua essência, aprende a conhecer e perceber através de suas experiências e vivências. Mas, ver não é só isso. Ver é também um exercício de construção perceptiva nos quais os elementos selecionados e o percurso visual podem ser educados através de propostas que agucem o nosso olhar.

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Comentei que o olhar sensível é o olhar pensante, afetivo, que reflete, interpreta e avalia, indo além do olhar comum. Procurando significados, diferenças, fazendo relações com o que conhece. Disse aos alunos que durante os encontros se pretendeu explorar o ver e o observar através das obras dos artistas, a fim de ampliar o repertório visual dos alunos para que pudessem ter experiências estéticas diferentes com as quais estão habituados a ver. Comentei também que as propostas de criação tiveram a intenção de despertar este olhar mais sensível e atento para a visualidade. Perguntei à turma se o ver e observar têm sido aprimorados por eles e como eles identificam isto no dia-a-dia. A aluna Ariane disse: “Ah, profe [sic], antes eu não percebia as imagens como agora. Agora eu consigo perceber as imagens na rua, e antes eu passava batido sem perceber os detalhes, notei que isto mudou pra mim.” O aluno Samir comentou: “Profe [sic], acho que, durante as aulas, nós fomos desafiados a ter um olhar consciente para as imagens, como bons observadores e perceber os detalhes e a mensagem das imagens. Como a senhora sempre diz: temos que ter outros olhares para as imagens, sair do olhar previsível e rotineiro.” Perguntei a ele se teve um aprimoramento visual ao desenvolver outros olhares para arte e a fotografia. Ele disse: “Sim, antes eu não analisava as imagens como os detalhes das cores, das formas, e a maneira que os artistas e os fotógrafos criam a obra, agora eu consigo perceber mais as coisas.” Comentei que fiquei muito feliz em saber que eles puderam perceber a importância destes aspectos, e, para reforçar estas questões com a turma, propus realizarmos uma dinâmica chamada tempestade de ideias, que consiste em expressar ideias através de palavras. Lancei à turma as duas palavras chaves ver e observar, e pedi que eles relatassem suas ideias e conceitos a respeito das mesmas. Como estava com o computador com projetor multimídia, foi possível projetar na parede as palavras ditas pelos alunos, esta dinâmica envolveu toda a turma, a maioria dos alunos colaborou com suas ideias e opiniões. A respeito das palavras ver e observar, os alunos sugeriram os seguintes significados, Ver: “Conhecer, perceber, enxergar e entender claramente”. Observar: “olhar atentamente, detalhar, e examinar”. Disse à turma que o ato de ver, quando aprimorado, nos permite observar melhor o mundo, e que um bom observador perceberá detalhes que poderão enriquecer sua experiência visual. A educação do olhar é destacada por Alves como uma das principais funções do professor, quando diz: 184


[...] porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver, eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar para os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. [...] Sua missão seria partejar “olhos vagabundos”. (ALVES, 2005, p. 25).

Esta primeira parte do encontro foi muito proveitosa, pois foi possível reforçar com a turma os aspectos básicos da visualidade e sondar a compreensão deles a respeito dos mesmos. Dei continuidade à aula, e disse que estas questões do ver e observar seriam explorados neste encontro através da proposta de intervenção urbana. Perguntei à turma se eles tinham conhecimento do que seria intervenção urbana em arte. Constatei que a turma desconhecia o assunto. Disse à turma que a intervenção urbana é uma possibilidade de explorar assuntos do cotidiano das pessoas e a partir deles criar uma discussão. Dei um exemplo prático: que tal observarmos o espaço escolar e perceber quais são os espaços mais frequentados pelos alunos, ou os espaços que precisam ser preservados ou talvez consertados. Perguntei à turma se não poderíamos explorar este assunto e talvez promover uma intervenção, visando impactar a comunidade escolar para alguns aspectos importantes. Os alunos fizeram os seguintes comentários: “Bah, profe [sic] o que não falta aqui é espaço para fazer isso, principalmente os banheiros da escola que estão sempre sujos.” Este comentário gerou muitos risos e concordância da maioria da turma. A aluna Ana disse: “Acho que os artistas fazem isto pra chamar a atenção da população para alguma coisa importante.” Disse à turma que a intervenção tem a intenção de desacomodar o olhar cada vez mais viciado e anestesiado dos dias atuais. Ou seja, tudo que havíamos comentado a respeito da importância de ver e observar é explorado pelos artistas nas intervenções, cuja intenção muitas vezes é provocar o observador a desenvolver uma percepção visual mais aguçada a respeito do lugar ou do espaço de seu cotidiano. Comentei com a turma que gostaria de mostrar a eles as obras do artista Tom Lisboa que realiza intervenções urbanas. Apresentei várias obras do artista, as quais os alunos puderam apreciar e fazer suas interpretações. À medida em que ia mostrando as imagens, percebi que os alunos gostaram do trabalho do artista, e no primeiro momento houve por parte da turma um estranhamento a respeito da série Absent Tom. Os alunos fizeram as seguintes perguntas e comentários: “Profe [sic], isto é uma pintura, ou é uma foto de outra foto?” Disse que a turma que deveriam observar os detalhes das imagens e tirar suas próprias conclusões. A aluna Bianca comentou: “Acho que é fotografia de outra foto, dá pra perceber que algumas imagens não são iguais, tem alguns detalhes diferentes.” Pedi a ela que descrevesse os detalhes que encontrou nas imagens. Ela disse: “Ah, dá pra ver na imagem da igreja, que a imagem maior tem grades, e a 185


imagem menor não tem, e na imagem de Buenos Aires o letreiro original era vermelho, e agora está pintado de azul.” As colocações da aluna provocaram várias discussões entre a turma, eles queriam saber qual era a intenção do artista com estas propostas. Disse aos alunos que o primeiro aspecto observado pelo artista nestas intervenções é resgatar sua memória visual.

Disse que o artista explora sua percepção e sensibilidade visual ao ver e observar

os elementos do cotidiano da cidade. E também permite que o público interaja com a sua obra, aproximando as pessoas com a cidade e criando diferentes pontos de vista. Perguntei se não haviam percebido algum elemento diferente nas imagens que houvessem chamado a atenção deles. A aluna Ana disse: “Ah, profe [sic] todas as imagens tem imagens de pessoas, mas elas foram apagadas.” Disse à turma que a observação da colega foi muito pertinente, pois, nesta série, o artista atua como protagonista em suas fotografias nas quais explora sua própria silhueta e as apaga, provocando no observador outros olhares para o espaço fotografado. Apresentei a série Mirando(a), esta serie foi muito apreciada pela turma, pois a maioria dos alunos disse gostar de pássaros. Eles queriam saber se o artista fotografou os pássaros em seu habitat natural e depois pendurou as molduras nas árvores. Achei muito válida a colocação da turma, e disse a eles que o artista seleciona as imagens na internet e depois realiza a intervenção. Comentei que não tinha certeza se o artista faz uma pesquisa detalhada a respeito do habitat real dos pássaros, ou se apenas seleciona as imagens aleatoriamente. Os alunos fizeram os seguintes comentários: O aluno Samir disse: “Profe [sic], muito show estas imagens, até nos confunde, pois parecem reais”. A aluna Bianca comentou: “Dá pra perceber que ele escolheu minuciosamente os locais da intervenção pra confundir o observador.” Disse à turma que a proposta do artista com esta intervenção é criar um curioso contraste entre o que seria realidade ou que seria representação. Por fim apresentei a série Projeto Cinematográfico. Os alunos acharam esta proposta bem interessante e constaram que o artista mais uma vez convida o público a participar da obra. Foi interessante ouvir suas discussões e opiniões a respeito da série. Eles comentaram: “Profe [sic] a proposta do artista é muito legal, pois aparentemente é algo simples, mas o resultado é fazer o público olhar”. Comentei com a turma que o artista dá ao espectador o papel principal nesta obra, que irá fazer a sua intervenção através da moldura. A cidade torna-se o cenário, como se fosse uma pintura através do olhar. Comentei com a turma que o artista utiliza a fotografia como meio para o seu fazer artístico, no qual provoca nos espectadores múltiplos olhares, ou seja, propõe um olhar

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sensível e atento aos elementos visuais do cotidiano, e não o olhar rotineiro previsível e repetitivo. Não foi possível encaminhar com a turma a proposta de avaliação do espaço escolar para a futura intervenção. Embora tenham nos restado apenas 10 minutos de aula, decidi deixar a prática para o próximo encontro para que os alunos possam desenvolver sua percepção e sensibilidade visual e a criticidade sem pressa e correria, a fim de promover um olhar atento e paciente para a criação artística. Portanto no próximo encontro será encaminhado o reconhecimento do espaço escolar para que os alunos escolham o local da intervenção fotográfica, no qual deverão justificar por escrito quais foram os critérios estabelecidos por eles para a escolha deste local, bem como quais resultados esperam obter com esta intervenção. Para a realização desta proposta, solicitei à professora de Literatura que me cedesse um período no dia 09/11 para a avaliação e registro do espaço pelos alunos, e outro no dia 16/11, para realizar a intervenção. Estes períodos são antes do intervalo dos alunos e isto facilitará a execução da proposta pela turma a fim de perceber as reações da comunidade escolar com a intervenção. Ao fazer a análise crítica e reflexão sobre a aula aplicada, constatei que o encontro foi muito proveitoso, pois foi possível realizar parte do planejado sem pressa, para que os alunos pudessem rever conceitos básicos sobre a visualidade. Creio que ao reforçar estas questões, os alunos puderam perceber o quanto aprimoraram o seu modo de ver e observar o mundo, o ambiente e a natureza. Ao dar ênfase na educação ao saber ver e ao observar espero que os alunos possam perceber as manifestações artísticas diariamente. Uma cena ali, um desenho, um cartaz, uma propaganda, uma fotografia, um apelo visual, enfim, fazer essas leituras e interpretações. Conforme Ostrower (2008, p. 90) “ quando o individuo se educa artisticamente, perpassa o seu tempo. Ele conhece o ontem, situa-se no hoje e projeta o amanhã. Inventando, modificando, integrando as possibilidades de seu meio.” Creio que foi possível perceber este aspecto na fala dos alunos, ao reconhecerem que tiveram o seu olhar estimulado, e puderam fazer conexões com o seu meio. Penso que a dinâmica e a metodologia do encontro propiciaram a participação efetiva da turma durante a aula, pois os alunos fizeram ótimas contribuições e interpretações a respeito das obras apresentadas. Constatei que os alunos se interessaram pelo o trabalho do artista, pois foram provocados através das imagens a pensar na intenção do artista ao realizar as intervenções urbanas. 187


Os objetivos e conteúdos foram contemplados em parte ao longo do encontro, no qual os alunos foram estimulados a explorarem sua percepção e sensibilidade visual, através das análises das obras. Não foi possível neste encontro realizar a atividade criativa, penso que a proposta requer um tempo maior para que os alunos possam planejar sua intervenção. A produção dos alunos durante o encontro foi dinâmica, pois foram oportunizados espaços para discussões e reflexões verbais nos quais os alunos puderam fazer associações e análises sobre as sutilezas das obras e rever conceitos importantes da visualidade. Penso que este encontro oportunizou aguçar os olhares, instigar o conhecimento e a percepção dos alunos, a partir das interfaces entre Fotografia, Imaginário e Memória, apresentadas nas produções do artista, e contribuíram sobremaneira para que os alunos pudessem perceber a importância da educação do ver e observar. No próximo encontro, pretendo encaminhar com a turma a proposta de intervenção fotográfica, na qual será possível desenvolver o censo crítico e estético, bem como a percepção visual e sensibilidade criativa ao fotografar.

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3.3.12. Décimo Segundo Encontro Data: 09/11/2012 Aula: 14

Tema da aula: Intervenção fotográfica no espaço escolar.

Duração da Aula: 13h15min às 14h05min.

Objetivos da aula: ● Desenvolver um olhar mais investigativo, observador e crítico ao realizar o registro fotográfico para a intervenção no espaço escolar. ● Explorar a percepção e a sensibilidade visual ao apreciar as obras e durante o fazer artístico. ● Fotografar com criatividade, a partir de um tema. ● Provocar nos alunos leituras que possam desencadear um aprendizado em arte. ● Conhecer o circuito de arte urbana – Artemosfera.

Conteúdos: ● Percepção e sensibilidade visual. ● Explorar os elementos básicos da fotografia. ● Intervenção urbana – Artemosfera.

Metodologia: ● Aula expositiva e dialógica, apresentação de imagens e atividades coletivas.

Desenvolvimento da aula: 1º momento:

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● No primeiro momento, comentarei com os alunos que esta ocorrendo na cidade de Porto Alegre, um circuito de arte urbana que vai mudar a paisagem da Capital e convidar o público a interagir com as obras expostas. ● Apresentar aos alunos algumas obras que já estão sendo instaladas na cidade conforme publicação no Jornal Zero de 31/10/2011.

Projeto de Leandro Selister para o muro da Mauá. (Fonte: http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/artemosfera/)

● Comentar com os alunos que o circuito Artemosfera veio bem a calhar com a proposta de intervenção no espaço escolar que os alunos estão desenvolvendo, por isso, trouxe a reportagem para promover um debate com a turma sobre a relevância da intervenção urbana nos grandes centros.

2º momento: ● Propor à turma o reconhecimento do espaço escolar para escolher o local de suas intervenções. ● A atividade deverá ser realizada em grupos. ● Os alunos deverão discutir o melhor local na escola para fazer seus registros fotográficos e realizar suas intervenções. 190


● Neste encontro os grupos irão apenas escolher o local e fazer o registro fotográfico do mesmo. A intervenção será realizada no próximo encontro, após a revelação das fotos na dimensão 30x50. ● O grupo deverá justificar por escrito quais foram os critérios estabelecidos por eles para a escolha deste local, bem como quais resultados esperam obter com esta intervenção.

3º momento: ● No final do encontro, pretendo conversar com os alunos a respeito da relevância da proposta. ● Verificar que aspectos da visualidade foram aguçados com esta proposta.

Recursos: ● Computador com projetor multimídia.

Avaliação: ● Observar o comprometimento e envolvimento dos alunos na atividade proposta. ● Verificar se os alunos exploraram sua percepção visual e imaginação criativa na atividade proposta. ● Verificar se o encontro promoveu leituras que possam desencadear um aprendizado em arte. ● Verificar quais foram os critérios estabelecidos pelos alunos para a escolha dos locais a fim de realizar suas intervenções. ● Observar se os alunos conseguiram trabalhar em grupos.

Realizado O décimo segundo encontro com a turma 117 do ensino médio ocorreu no dia 09/11/2011, das 13h15min às 14h05min. Tivemos um período de aula. Ao chegar à sala de aula, percebi que alguns alunos ficaram surpresos em me ver, pois não estavam no encontro anterior no qual expliquei à turma que solicitei o período para a 191


professora de literatura a fim de poder realizar a primeira parte do projeto de intervenção fotográfica no espaço escolar. Embora esta turma tenha 19 alunos matriculados, a média de alunos presentes nos encontros é entre 12 a 15 alunos. Bom, como este é o primeiro período da turma, muitos alunos chegam atrasados, mas iniciei o encontro com os alunos que estavam presentes. Percebi que eles estavam bem agitados e queriam sair imediatamente para fotografar o espaço. Como nem todos os membros dos grupos estavam presentes, expliquei à turma que, antes de realizar o reconhecimento do espaço escolar, gostaria de conversar com eles a respeito do circuito de arte urbana que está acontecendo na cidade de Porte Alegre, chamado Artemosfera. Perguntei à turma se tinham conhecimento deste evento artístico. Os alunos disseram que desconheciam o circuito de arte urbana. Levei para a sala de aula o segundo caderno do Jornal Zero Hora, publicado no dia 31/10/2011, e pedi para um voluntário ler a reportagem para que todos pudessem saber o que estava acontecendo na cidade. A aluna Gabriela se prontificou a ler a reportagem e depois o jornal circulou pela sala de aula para que os alunos pudessem apreciar algumas obras impressas no jornal. Também mostrei aos alunos, no computador com projetor multimídia, algumas obras que estão sendo produzidas para o evento, e lancei à turma a provocação do circuito: pode a arte tornar a cidade melhor? A princípio os alunos ficaram em silêncio, perguntei à turma se lembravam do conceito de intervenção urbana discutido no último encontro. Os alunos disseram que lembravam e aos poucos foram construindo suas ideias. Eles comentaram que a intervenção urbana explora assuntos do cotidiano das pessoas para promover discussões, e provocar o olhar dos espectadores. Mostrei novamente as imagens, principalmente a imagem do muro do Mauá, intervenção fotográfica do artista Leandro Selister. Perguntei à turma quais as suas interpretações e opiniões sobre obra. A aluna Gabriela comentou: “Acho que a intenção do artista foi chamar a atenção da população para a linda paisagem que há por trás do muro da Mauá.” A aluna Ariane disse: “Para mim ele quis despertar o olhar adormecido da população, pois a gente passa em frente todos os dias, e nem se dá conta da vista que poderia ser contemplada.” Perguntei novamente aos alunos se pode a arte tornar a cidade melhor. O aluno Samuel comentou: “Ah, profe [sic] acho que sim, pois faz com que as pessoas possam valorizar os espaços da cidade, além de resgatar a memória e o patrimônio da cidade.” O aluno Samir disse: “Eu acho super válido este evento, pois assim conhecemos os trabalhos dos artistas e nem precisa ir ao museu, pois a arte esta na rua para despertar o nosso olhar.” Parabenizei os alunos pelos comentários, e disse que trouxe este assunto para o encontro, pois 192


coincidentemente é a proposta que eles irão desenvolver através da intervenção fotográfica no espaço escolar. Comentei que a proposta tem o objetivo de aguçar a percepção e a sensibilidade visual e criticidade estética tanto do interventor da obra como do observador. Portanto, ao fazer o reconhecimento do espaço escolar, os alunos deverão observar estes aspectos, e escolher locais que provoquem o observador a pensar na intenção do grupo ao realizar esta intervenção. Após estas orientações, os alunos foram divididos em três grupos, percebi que eles estavam animados para realizar a proposta, alguns grupos já haviam combinado previamente os locais em que pretendiam fazer sua intervenção. Orientei a turma a reconhecer o espaço escolar por um período de 15 minutos para realizarem o registro fotográfico, após isto, deveriam retornar a sala de aula, e justificar por escrito quais foram os critérios estabelecidos por eles para esta escolha, bem como quais resultados esperam obter com a intervenção. Procurei não interferir no processo de escolha dos locais, deixei a critério dos alunos. Após uns 20 minutos, todos os grupos retornaram a sala, perguntei como foi o reconhecimento do espaço, que aspectos eles observaram. Eles estavam eufóricos com a atividade, alguns comentaram que ao fazer o reconhecimento do espaço escolar descobriram lugares que desconheciam na escola, como a casa do zelador que fica atrás dos prédios da escola. Outros comentaram que perceberam que muitas salas estão trancadas, principalmente os laboratórios, todos os três desativados e há uma sala de artes na escola que também esta desativada. Também perceberam que o prédio dois da escola é muito sombrio, pois fica isolado dos demais prédios. Orientei os grupos a fazerem as suas justificativas por escrito e entregar neste encontro o registro fotográfico junto com o texto. Os grupos se organizaram e aos poucos foram produzindo suas justificativas, percebi que esta proposta oportunizou entre os alunos discussões a respeito do processo construtivo. Foi muito bom vê-los envolvidos e comprometidos com a proposta. Enquanto eles produziam os textos, baixei as fotos no computador e disse à turma que mandaria revelar as fotografias na dimensão 30x50, e que no próximo eles deveriam providenciar o suporte para fixar as fotos, sugeri aos alunos um papelão grosso ou MDF. Após todos concluírem suas justificativas, perguntei aos grupos quais resultados esperavam obter com suas intervenções e que aspectos visuais foram aguçados ao realizarem esta proposta, bem como a relevância da proposta para os alunos. A aluna Paula comentou: “Bah, profe [sic] foi muito show este trabalho, pois a gente teve liberdade para escolher o 193


espaço e pensar no melhor ângulo da foto e no propósito da intervenção, espero que as pessoas sejam provocadas a olhar e pensar como eu fui.” O aluno Heber disse: “Acho que este tipo de trabalho faz a gente perceber a escola com outro olhar, aqui é nosso espaço de convívio diário e às vezes não o valorizamos.” O aluno Samir comentou: “Profe [sic] o trabalho fez a gente perceber os pequenos detalhes do espaço que circulamos diariamente, mas não notamos, acho que a proposta nos provocou a ver e observar estes detalhes e espero poder estimular os outros a perceberem os espaços também.” Disse à turma, que a primeira parte da proposta foi explorada e contemplada pela turma, pois ao realizar este exercício tiveram o seu olhar e sensibilidade despertados. Abaixo as fotos dos três grupos e suas justificativas para a escolha dos locais.

Foto dos alunos: Carolina, Diontan, Paula, Pedro e Samir. (Fonte: TEIXEIRA, 2011)

Justificativa do grupo: “Tivemos o nosso olhar aguçado e sensibilizado no momento em que tivemos que escolher o local e o melhor ângulo e o contraste para realizar o registro da imagem. Escolhemos esta imagem, pois muitas pessoas sentam embaixo desta árvore na quadra de esportes para aproveitar sua sombra, mas assim como nós, até então não havíamos percebido o quanto o seu formato é diferente e frágil, mas mesmo assim nos proporciona uma sombra suave.”

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Foto dos alunos: Ariane, Heber, Patrick e Pedro. (Fonte: SOUZA, 2011)

Justificativa do grupo: “Escolhemos a árvore do pau-brasil, pois é uma das árvores mais importantes na nossa cultura. Muitas vezes passa despercebida e poucos veem e percebem o valor que esta pequena árvore tem. Esperamos que as pessoas possam percebê-la e a valorizá-la.”

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Foto das alunas: Ana Carolina, Bianca, Gabriela e Samuel. (Fonte: REIS, 2011)

Justificativa do grupo: “Escolhemos esse lugar por causa dos mitos que têm a sua volta e por ser um lugar onde os alunos transitam bastante. Agente espera provocar a reflexão das pessoas ao verem o espaço vazio e perceber a sua beleza.”

Os mitos a que o grupo se refere, é que existe uma lenda na escola sobre este portão de ferro, dizem que era uma de uma antiga igreja no bairro, e as meninas que sentam embaixo dele não se casam. Ao analisar as produções fotográficas dos alunos, constatei que os grupos conseguiram explorar os elementos básicos da fotografia, como o enquadramento, o foco, luz e a nitidez das imagens. Percebi que os alunos conseguiram apreciar e analisar as imagens fotografadas, observando suas características visuais, buscando qualificá-las técnica e esteticamente. Creio que a proposta propiciou aos alunos desenvolverem a percepção e a sensibilidade visual e a imaginação criativa através do registro fotográfico para a intervenção no espaço escolar. Os alunos tiveram o seu olhar aguçado ao perceberem os espaços, bem como foram provocados a fazerem novas leituras sobre o local, sendo o mesmo valorizado e 196


reconhecido. Ao desenvolverem o duplo papel de interventores e observadores, tiveram que construir sentidos e significados para a proposta de intervenção, pois ao justificar suas escolhas foi necessário pensar no processo construtivo, e imaginar os novos significados que serão observados pelo público. Após a apresentação dos textos e das imagens, os alunos comentaram que acharam interessante o fato de que a maioria dos grupos escolheu as árvores da escola para fazer as intervenções. A aluna Gabriela fez o seguinte comentário: “Quando vim conhecer a escola o ano passado o que mais me chamou a atenção, é o quanto a escola é arborizada, pois a minha escola anterior não tinha uma única árvore no pátio, acho a nossa escola linda.” Já a aluna Bianca disse: “Pois é, embora tenham muitas árvores na escola, confesso que eu nem as percebia, a proposta me fez notar a beleza deste espaço.” Disse aos alunos que isto é reflexo de um olhar rotineiro, mas agora eles estão tendo a oportunidade de ampliarem os seus olhares para o espaço e perceberem suas peculiaridades. Após estão considerações, comentei com os alunos que o próximo encontro será após o feriadão da escola na quarta-feira no primeiro período, para que a turma possa realizar a intervenção no intervalo da escola. Disse aos alunos que é importante a presença de todos para acompanhar o processo da intervenção e perceber as reações do público. Notei que os alunos estavam cheios de expectativas quanto à intervenção, pois fizeram o seguinte comentário: será que as pessoas iram perceber e entender a intervenção? Disse aos alunos que a intenção é provocar e desacomodar os olhares, portanto será dada a oportunidade ao público para que isto aconteça. Dado o sinal, os alunos saíram. Ao fazer a análise crítica sobre a aula aplicada, constatei que o tempo foi suficiente para o desenvolvimento do planejado. Creio que a dinâmica e as metodologias escolhidas propiciaram a participação e acolhida das opiniões dos alunos. Penso que eles perceberam o quanto a opinião deles enriquece o encontro, além de promover a integração entre a turma. Posso afirmar que saí deste encontro muito satisfeita com tudo que ocorreu, pois a dinâmica da aula envolveu a todos. Penso que o encontro aguçou a percepção e a sensibilidade visual dos alunos, bem como a criticidade, pois ao tomarem conhecimento do circuito de arte urbana na cidade de Porto Alegre, puderam conhecer e vivenciar esta experiência na prática através da intervenção na escola.

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Para Larrosa (2002, p.24), a experiência é aquilo que “nos passa, o que nos acontece, o que nos toca”. Experiência não se confunde com informação e nem com trabalho. Não se é experiente porque se sabe sobre muitos assuntos como não se ganha experiência simplesmente com o trabalho. Experiência não é somente o saber que vem do fazer ou da prática. Experiência como algo que nos toque requer,

[...] um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempo que correm: requer parar para pensar, para olhar, para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar; para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (LARROSA, 2002, p. 24).

Penso que a experiência de fato tocou os alunos, pois ao desenvolverem o processo de reconhecimento do espaço escolar, bem como a escolha do local para intervenção, tiveram que parar para olhar, parar para pensar, perceber os detalhes antes despercebidos e dar-se tempo e espaço, a fim de ressignificar e valorizar a escola. Como seria bom se pudéssemos a cada encontro promover experiências nos quais o meio escolar e as relações que ali se estabelecem se tornassem mais significativas, haveria maior compreensão do que se olha, alcançando-se o ver. Para Pillar, “é só quando se passa do limiar do olhar para o universo do ver que se realiza um ato de leitura e reflexão” (Pillar, 2002, p.73). Creio que a atividade oportunizou que os alunos fizessem novas leituras do lugar, bem como os possibilitou ver. Isto trouxe muito significado para os alunos, e a leitura de imagens, a contextualização e o fazer artístico sistematizaram a construção do conhecimento. Ao analisar a produção fotográfica dos alunos, se pode perceber que eles observaram os aspectos básicos ao fotografar e fizeram ótimas justificativas textuais ao pensar e construir o processo de interferência no espaço escolar. As imagens fotográficas dos grupos, embora fossem imagens comuns, se tornaram significativas, pois os possibilitou ver e perceber os detalhes e peculiaridades da escola. Poder usar a fotografia como linguagem artística, possibilitou aos alunos expressarem e construirem ideias. Eles se sentiram protagonistas; autores com algo a dizer à comunidade escolar através da futura intervenção. Ao fazer esta análise me dei conta que esta proposta deveria ter sido realizada nos primeiros encontros, e não no final como a fiz. Embora as propostas anteriores sempre visassem aguçar a percepção e a sensibilidade visual dos alunos, bem como instigar a

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criticidade estética, constatei que esta proposta despertou o ver e os tornou observadores mais críticos, talvez assim mais preparados para o percurso que viria a seguir. São reflexões minhas deste percurso em docência artística, na qual se percebem alguns acertos, equívocos e erros. No próximo encontro, será encaminhada com a turma a realização da intervenção na escola, para tanto, solicitei o período da professora de Literatura para poder realizar a proposta no penúltimo encontro com a turma.

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3.3.13. Décimo Terceiro Encontro Data: 16/11/2012 Aula: 15

Tema da aula: Continuação da Intervenção fotográfica no espaço escolar.

Duração da Aula: 13h15min às 14h05min

Objetivos da aula: ● Explorar a percepção e sensibilidade visual durante o fazer artístico. ● Construir sentidos e atribuir significados ao realizar o processo criativo. ● Perceber as reações do público durante a intervenção. ● Realizar o registro fotográfico da intervenção.

Conteúdos: ● Percepção e sensibilidade visual. ● Intervenção na escola. ● Projeto pessoal de fotografia.

Metodologia: ● Aula expositiva e dialógica e atividades coletivas.

Desenvolvimento da aula: 1º momento: ● Entregar aos alunos as fotografias na dimensão 30x50. Os alunos deverão providenciar um suporte para fixar as fotografias. ● Orientar a turma a realizar a intervenção no primeiro período do encontro para que a exposição permaneça durante todo turno da tarde. ● Os alunos deverão escolher os espaços para suas intervenções. 200


● Durante o intervalo de 15 minutos da escola, os alunos deverão acompanhar as reações da comunidade escolar a intervenção e anotar as opiniões e ideias dos colegas, bem como conversar com os mesmos a respeito de suas impressões sobre o processo criativo. ● O desenvolvimento do processo e as fotografias deverão ser encaminhados pelos grupos à professora por e-mail no dia seguinte.

2º momento: ● No segundo momento do encontro conversarei com os alunos a respeito do projeto pessoal de fotografia que foi solicitado após o encontro com o Fotógrafo Pedro Karg. ● Saber dos alunos como está o andamento do projeto e repassar as diretrizes do mesmo. ● Cada aluno deverá elaborar uma temática de seu interesse em fotografia. ● Observar os seguintes aspectos técnicos apresentados em aula com o fotógrafo como: luz, sombra, foco, enquadramento, nitidez da imagem, uso ou não de flash. ● Deverão ser apresentadas três fotos com a mesma temática. ● Entregar as imagens em CD ou Pendrive, no dia 21/11. ● Entregar por escrito as seguintes questões:

1. Quais os critérios estabelecidos por você para escolha desta temática em fotografia. Justifique sua escolha? 2. Que aspectos técnicos observou ao fotografar? 3. Você teve o seu olhar aguçado ou sensibilizado ao desenvolver este exercício criativo? Como? 4. Este exercício criativo foi relevante para você? Justifique a sua resposta

3º momento: ● No terceiro oportunizar à turma uma reflexão sobre a proposta realizada.

Recursos: ● Câmeras digitais e celulares com câmeras digitais.

Avaliação: ● Observar o comprometimento e envolvimento dos alunos na atividade proposta. ● Verificar se os alunos exploraram sua percepção visual e imaginação criativa na atividade proposta.

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● Verificar se o encontro promoveu leituras que possam desencadear um aprendizado em arte. ● Os alunos deverão observar as reações da comunidade escolar à intervenção, e provocar os alunos a desenvolverem leituras significativas ao processo. ● Observar se os alunos conseguiram trabalhar em grupos.

Realizado O décimo terceiro encontro com a turma 117 do ensino médio ocorreu no dia 16/11/2011, das 13h15min às 14h05min. Tivemos um período de aula. Este encontro ocorreu numa quarta-feira, após o feriadão do dia 15/11. Ao chegar à sala de aula, saudei a turma e percebi que muitos alunos estavam ausentes, perguntei aos alunos pelos demais colegas e eles disseram que muitos estavam viajando. Neste encontro havia 10 alunos presentes de 19 matriculados. Entreguei aos grupos as fotografias, eles ficaram admirados com a dimensão das imagens, alguns alunos comentaram que seria impossível as pessoas não enxergarem as fotos. Para nossa surpresa o tempo estava fechado e com fortes pancadas de chuva. Isto comprometeu a primeira parte do planejado para a intervenção, pois havíamos planejado fixar as fotografias no primeiro período o que não foi possível devido à chuva. Percebi que os alunos ficaram decepcionados, pois queriam colocar suas fotografias nos espaços. Perguntei à turma se haviam trazido os suportes para fixar as fotografias, os alunos disseram que haviam esquecido devido ao feriadão, tivemos que improvisar com o que tínhamos. Um dos grupos conseguiu um pedaço de MDF com o zelador da escola, e os outros dois grupos usaram papelão e fita crepe que eu havia levado. Os alunos trabalharam na fixação das fotografias nos suportes por alguns minutos. Comentei com os grupos que deveriam pensar em como fixar as imagens nos locais. Eles disseram que só saindo no pátio para decidir como fixar as imagens, alguns alunos sugeriram pedras ou gravetos para colocar atrás das imagens. Disse aos alunos que a intervenção só seria realizada se a chuva parasse no intervalo para não comprometer as fotografias e o processo em si. Portanto, durante o primeiro período orientei os alunos para a intervenção e disse que eles deveriam estar atentos às reações dos observadores ao processo construtivo, e se possível deveriam conversar com as pessoas para mediar o processo e saber suas opiniões e interpretações sobre a intervenção realizada. Os alunos fizeram os seguintes comentários: O aluno Samir disse: “Profe [sic] no 202


nosso grupo só veio duas pessoas vai ficar difícil à gente conversar com as pessoas e perceber a reação do público.” Disse a ele que não deveria ficar tão preocupado, mas tentar administrar a situação naturalmente, afinal é um exercício de percepção e sensibilidade visual, sendo uma ótima oportunidade para aguçar os sentidos. A aluna Bianca disse: “Bah, profe [sic] tomara que a chuva pare, pois estou louca para ver as reações das pessoas.” A aluna Paula comentou: “Espero que as pessoas compreendam a intenção do trabalho, pois a ideia é bem legal, hoje eu consigo perceber a escola com outros olhos.” Disse aos alunos que a proposta é justamente desacomodar os olhares viciados a fim de perceber os espaços escolhidos, bem como despertar a percepção e a sensibilidade e a criticidade dos alunos ao espaço escolar. Após estas considerações, comentei com a turma que gostaria de saber como estava o andamento do projeto individual de fotografia dos alunos, que deverá ser entregue no último encontro do dia 21/11. Constatei que a maioria dos alunos não havia iniciado o seu processo construtivo, disse a eles que seria uma ótima oportunidade para eles explorarem a temática de seu interesse em fotografia. Alguns alunos perguntaram: “Profe [sic] a gente pode se fotografar, tipo elaborar a temática amizade?” Disse que a temática era livre e que apenas deveriam escrever quais foram os critérios estabelecidos por eles para a escolha do tema e fazer três registros com a mesma temática. Também deveriam escrever quais os aspectos técnicos em fotografia que observaram para fazer os registros, bem como se tiveram o seu olhar e a sensibilidade visual aguçada com a proposta e se o processo foi relevante para eles. Como muitos alunos estavam ausentes, disse à turma que enviaria a todos um email com as orientações da proposta para que todos pudessem realizar, mas que seria importante não deixar para fazer os registros na última hora. Os alunos comentaram que na próxima semana iniciam as provas finais da escola e que fariam os registros no final de semana. Disse à turma que as fotos poderiam ser entregues em CD ou no Pendrive. Comentei com a turma que na próxima segunda-feira dia 21/11, será o nosso ultimo encontro e que pretendia fazer com eles uma avaliação verbal dos encontros e solicitei aos alunos que trouxessem suas produções para que pudéssemos conversar a respeito do processo construtivo de cada um. Ao final do período, saí, pois os alunos tinham mais dois períodos antes do intervalo. Acertei com a turma que aguardaria na sala dos professores até o intervalo para ver se seria possível realizar a intervenção. Após esperar o tempo necessário, constatei que não daria para realizar a intervenção, pois a chuva continuava forte. Quando esta chovendo os alunos não vão para o pátio, pois é uma área aberta sem cobertura, geralmente permanecem

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nos corredores ou saguão da escola, e isto impediria que os alunos contemplassem as fotografias. Conversei com os alunos e eles sugeriram fazer a intervenção no dia seguinte, disse a eles que para mim não haveria problemas, mas que eu não poderia estar na escola devido a compromisso de trabalho. Combinamos que eles fariam a intervenção e me enviariam por e-mail o relato do processo, e as fotos da intervenção. No dia seguinte, conforme combinado, recebi no final da noite os relatórios dos alunos e as fotos da intervenção fotográfica. Dois grupos conseguiram realizar o processo, participaram da intervenção 9 alunos. O grupo três não pode realizar a intervenção, pois o aluno que ficou com a fotografia não compareceu à escola, fiquei sabendo que os alunos ficaram indignados com o colega, pois queriam muito participar da intervenção com a fotografia da árvore do pau-brasil. A intervenção foi realizada no intervalo de 15 minutos dos alunos, pois neste dia também choveu. Abaixo as fotos da intervenção na escola e os relatos dos grupos.

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Foto dos alunos: Carolina, Dionatan, Paula, Pedro e Samir. (Fonte: REIS, 2011)

O grupo um encaminhou suas impressões sobre a intervenção. Todos os membros do grupo estavam presentes, utilizamos a câmera da colega Bianca Reis, pois as fotos tiradas com celular ficaram pequenas e com péssima qualidade. A aluna Paula Teixeira fez o registro fotográfico da intervenção. Só tivemos 15 minutos para realizar o trabalho, a melhor maneira de fixar a imagem no local foi apoiando a foto no tronco da árvore. A principio ficamos um pouco receosos com as reações dos colegas com medo que o pessoal não entendesse o trabalho, mas assim que a imagem foi fixada no local, muitos colegas da escola foram ver o que estava acontecendo. Eles ficaram intrigados com as fotos distribuídas no pátio. Ficamos observando as reações dos colegas, eles queriam saber por que a gente colocou a foto, falamos que era um trabalho de artes que tinha o objetivo de despertar o olhar a partir do espaço da escola. O colega Samir perguntou o que eles acharam da proposta, eles disseram que acharam diferente, pois nunca haviam sido provocados a ver a escola através da fotografia. Alguns alunos notaram que a fotografia foi tirada na diagonal, pois nota-se na imagem a continuidade da parede azul à direita. E a posição em que foi posta permite que os alunos possam se deslocar a fim de perceber os outros ângulos. Também perceberam que a porta do corredor estava fechada na foto original e agora estava aberta. Eles também perceberam que o tronco da árvore era diferente, eles disseram que era torto, com curvas e frágil. Perceberam que a primeira foto tinha a sombra da árvore projetada na parede, e concluíram que provavelmente era um dia de sol. Eles acharam interessante o contraste da foto num dia ensolarado e ao ver a mesma imagem no dia nublado. Para o grupo, a proposta atingiu o seu objetivo de provocar o olhar dos colegas a fim de perceber os detalhes na imagem. O grupo comentou que a proposta teve mais sentido e significado para eles quando trocaram ideias e perceberam as reações dos colegas, pois

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notaram que assim como eles inicialmente não percebiam o espaço escolar, puderam dar oportunidade aos seus colegas a perceberem e verem a escola.

Foto dos alunos: Ana Carolina, Bianca, Gabriela e Samuel. (Fonte: REIS, 2011)

O grupo dois enviou suas impressões sobre o processo criativo. A melhor solução do grupo para fixar a fotografia, foi pendurá-la na própria grade com barbante. Esta decisão gerou no grupo algumas duvidas, pois alguns membros queriam colocar a foto no chão para chamar mais a atenção das pessoas ao passarem, mas como não encontramos nada para colocar atrás da foto, achamos melhor pendurar. Depois de fixar a fotografia no portão concluímos que o resultado ficou bacana, pois ao olhar de longe o conjunto da cena fotografada, elas parecem uma coisa só. Assim que a gente fixou a fotografia, vários colegas começaram a chegar para ver o que a gente estava fazendo. Deu um burburinho em torno da foto, pois eles acharam muito legal o resultado. Eles notaram várias coisas entre a foto original e o espaço real. Uma colega percebeu que na foto original tinha uma hortência azul pendurada na árvore e agora ela já secou. Perceberam que quando fotografamos a primeira vez, o dia estava claro, e a fotografia tinha bastante luz ao fundo. Perceberam que o nosso foco principal foi o portão e a árvore ao fundo. A colega Gabriela perguntou se a proposta os tocou de alguma forma. Alguns colegas disseram que foi muito show a ideia, pois muitas vezes sentam no banco abaixo do portão, e não percebem a beleza deste espaço. A intervenção despertou o olhar deles. O grupo concluiu que a atividade desacomodou os olhares adormecidos pela correria do dia a dia, e fez os colegas a perceberem o espaço escolar através do aguçamento do olhar.

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Ao realizar a análise crítica e reflexão da aula aplicada, constatei que os vários imprevistos foram um fator complicador para o sucesso da intervenção na escola. Embora os alunos que estavam presentes às aulas tenham demonstrado interesse e comprometimento com a proposta, a ausência dos demais alunos não permitiu a eles vivenciarem a experiência e comprometeu um grupo de realizar a sua intervenção. Eu fiquei chateada em não poder estar na escola quando a proposta foi realizada, pois gostaria de ter acompanhado o desenvolvimento da intervenção e ter realizado o registro de todo o processo, o que acabou não sendo feito pelos alunos, pois havia apenas uma câmera digital entre eles. Fiquei sabendo depois que os alunos priorizaram perceber as reações e as falas dos observadores e dar o devido retorno às perguntas que foram feitas durante a intervenção. Todavia, constatei através das produções textuais dos alunos que a proposta aguçou a percepção e a sensibilidade visual dos observadores ao apreciarem as intervenções, bem como provocou na comunidade escolar um estranhamento ao se deparar com as fotos, pois foi uma novidade, algo que despertou a curiosidade de todos. Ao instigar os observadores com a proposta, os alunos conseguiram provocar o aguçamento do olhar rotineiro e desatento ao espaço, e isto a meu ver foi de grande valia tanto para os interventores do processo, como para os observadores. Segundo (Barbosa, 2008) “o conhecimento em arte se dá de fato em atos experimentados.” Penso que os alunos que realizaram a proposta tiveram uma experiência marcante em arte, pois ao mediar o processo de intervenção, puderam ampliar suas impressões iniciais, e construir novos sentidos e significados ao ouvir as impressões e opiniões dos colegas da escola e promover aos mesmos novos olhares para este espaço muitas vezes despercebido pelos alunos. Creio que a proposta foi geradora de uma experiência, no sentido que (Larrosa,1996) propõe, como algo que se passa no sujeito, que o toca, que o afeta, pois oportunizou a ressignificar e valorizar o espaço escolar através do ato de ver e observar. Os alunos estão de parabéns por realizarem a proposta com autonomia e dedicação, espero que esta experiência tenha propiciado a todos uma aprendizagem em arte significativa e que os alunos possam refletir sobre a mesma. No último encontro, pretendo realizar com a turma a avaliação de todo o processo construtivo, para tanto, solicitei que os alunos levem suas produções plásticas para analisarmos as conquistas e avanços de cada um. Pretendo reapresentar as obras dos artistas que foram apresentados no projeto de ensino para dirimir quaisquer dúvidas e retomar 207


questões pertinentes à visualidade. Neste encontro, os alunos deverão entregar o seu projeto individual de fotografia com um tema livre, bem como a justificativa para a escolha deste tema, e quais aspectos visuais e técnicos em fotografia foram observados para a composição das fotos.

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3.3.14. Décimo Quarto Encontro Data: 21/11/2012 Aula: 16 Tema da aula: Avaliação do processo construtivo dos alunos.

Duração da Aula: 16h às 16h30min

Objetivos da aula: ● Reapresentar as obras apreciadas ao longo do projeto de ensino e retomar questões pertinentes à visualidade. ● Verificar quais foram os processos artísticos que aguçaram a percepção e a sensibilidade visual e a criticidade estética dos alunos. ● Analisar com os alunos quais foram as conquistas e avanços que eles alcançaram ao longo do projeto de ensino. ● Analisar o projeto individual de fotografia dos alunos.

Conteúdos: ● Apreciação de obras. ●Análise do processo construtivo. ● Percepção e sensibilidade visual. ● Fotografia

Metodologia: ● Aula expositiva e dialógica, apresentação de imagens e atividades individuais e coletivas.

Desenvolvimento da aula: 1º momento:

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● Propor aos alunos uma avaliação do projeto de ensino, para tanto, serão reapresentadas as obras dos artistas; na qual se pretende dirimir quaisquer dúvidas sobre as obras e analisar os elementos da linguagem visual, a partir da linguagem fotográfica.

2º momento: ● Analisar com os alunos as suas produções plásticas e identificar os avanços e conquistas que cada aluno conseguiu alcançar.

3º momento: ● Os alunos deverão apresentar ao grupo seus projetos de fotografia individual, e justificar a escolha do tema, e quais aspectos visuais e técnicos em fotografia foram observados para a composição das fotos. ● Me despedir da turma.

Recursos: ● Computador com projetor multimídia.

Avaliação: ● A avaliação se dará observando a participação e envolvimento dos alunos durante as discussões propostas. ●Verificar quais foram os artistas e obras que mais impactaram os alunos nos aspectos visuais e com relação à temática desenvolvida. ● Analisar os avanços dos alunos com relação à análise e interpretações das obras. ● Perceber os avanços estéticos dos alunos através de suas produções plásticas.

Realizado O décimo quarto encontro com a turma 117 do ensino médio ocorreu no dia 21/11/2011, das 16h às 16h30min. Tivemos pouco menos de 30 minutos de aula. Neste dia fui avisada pela professora titular que o encontro seria antecipado uns 45 minutos antes do previsto, e teríamos apenas 30 minutos de aula, pois os representantes dos CPERS Sindicato estavam na escola para conversar com os professores a respeito das modificações que ocorrerão no ensino médio em 2012. 210


Ao chegar à sala de aula, tive que aguardar a professora de Literatura sair da sala. Percebi que os alunos estavam agitados com a alteração de horários e eu também fiquei agitada, pois havia planejado fazer o encerramento com os alunos em mais tempo. Todavia, tive que readaptar meu planejado, pedi aos alunos que deixassem todas as suas produções plásticas sobre as mesas para conversarmos a respeito das mesmas. A maioria dos alunos disseram ter esquecido de trazer as produções, apenas cinco alunos trouxeram. Neste encontro estavam presentes apenas 11 alunos, perguntei pelos demais alunos da turma, os alunos disseram que agora o pessoal só vem para as provas finais. Bom, como a maioria dos alunos não trouxe as produções, propus à turma apresentar rapidamente um power point com as principais obras dos artistas apresentadas durante o projeto de ensino. Comentei com a turma que gostaria de ouvir suas opiniões a respeito dos aspectos visuais explorados pelos artistas, bem como suas temáticas. Nesta apresentação foram reapresentadas à turma as obras dos artistas: Caco Neves, Barbara Kruger, Avani Stein, Alexa Meade, Cindy Sherman, Nienke Klunder, Pedro Karg e Tom Lisboa. À medida que ia mostrando as obras, os alunos foram identificando os artistas. Durante a leitura das imagens realizada pelos alunos, percebi que eles abandonaram algumas ideias simples do ponto de vista do desenvolvimento estético, demonstrando crescimento e compreensão estética das obras. Por exemplo, em vez de afirmar que os artistas representam ou sentem ao produzir as obras, começaram a mencionar as intenções dos artistas em usar a fotografia como meio de expressão de ideias. Sobre as imagens de Caco Neves surgiram falas como: “O artista quis explorar a questão da identidade, consumismo e a influência das redes sociais sobre os jovens.” Os alunos comentaram que se identificaram muito com o trabalho do artista, pois ele explora elementos do cotidiano deles para criar suas colagens. Das obras de Barbara Kruger comentaram: “A artista usa imagens da publicidade para explorar os temas sobre o consumismo, capitalismo e feminismo.” Os alunos comentaram que o que mais se destacou para eles no trabalho da artista foram as denuncias sobre violência doméstica e violência infantil. Os alunos não se lembravam das obras da artista Avani Stein, mostrei as obras novamente e eles associaram as produções de fotopinturas realizadas no terceiro encontro, eles comentaram que gostaram muito de realizar as fotopinturas, pois tiveram liberdade para construir e desconstruir suas imagens e escolheram este trabalho para enviar para a exposição no Santander Cultural. Sobre a artista Alexa Meade o aluno Samir comentou: “Ah, sora [sic] esta é minha artista favorita.” Perguntei por que, ele disse: “Foi a partir desta artista que consegui entender o que a senhora 211


queria que a gente compreendesse – ver e perceber os detalhes da obra, a provocação e a intenção da artista.” Disse à turma que a experiência estética em arte deve provocar uma percepção mais ampla da linguagem visual, a fim de que possamos olhar diferente e perceber os detalhes e as intenções do artista, e que eu ficava muito feliz em constatar que eles conseguiram perceber isto nas obras apresentadas. Eles continuaram comentando suas impressões sobre as obras dos artistas. A respeito das artistas Cindy Sherman e Nienke Klunder, os alunos foram unânimes em afirmar que jamais esquecerão as fotografias das artistas, pois, segundo os alunos, as obras das artistas se destacam ao abordarem questões atuais da sociedade. A aluna Gabriela comentou: “Ah, profe [sic], a artista Nienke Klunder retrata as muitas faces da mulher na sociedade. Isto me marcou muito, pois ela não tem medo de se mostrar feia nas fotos, ela tem uma ideia e vai representar esta imagem para que as pessoas percebam a sua intenção.” Eles comentaram que desconheciam o conceito de fotografia ficcional, e que ao conhecerem as produções das artistas puderam perceber o quanto este estilo tem sido comum na atualidade. Também comentaram que a aula de autorrepresentação foi muito marcante para eles, pois tiveram a liberdade de explorar a criatividade e a sensibilidade visual através da produção dos personagens e do registro fotográfico. A aluna Bianca disse: “Profe [sic], quando a senhora disse que o projeto ia ser sobre fotografia, pensei que a gente ia poder tirar fotos para colocar no Orkut, Facebook, Flicker ou Thumber, mas depois da aula de autorrepresentação, percebi que ia ser muito além das minhas expectativas, pois a gente teve que deixar de lado as nossas preferências pessoais para ir além das fotos tradicionais e corriqueiras. As aulas me fizeram ver e perceber as imagens com mais sensibilidade.” O aluno Samuel complementou: “Pois é profe [sic], eu coloquei as fotos que eu fiz de autorrepresentação no Facebook e bombou, os meus amigos acharam show os personagens que eu criei.” Após o comentário do Samuel, a maioria dos alunos admitiram que também postaram suas fotos, e que estas fizeram sucesso na rede. Disse aos alunos que isto era ótimo, pois mostraram algo diferente, por isso fez tanto sucesso. Também mostrei as produções fotográficas do Fotógrafo Pedro Karg, os alunos comentaram que o trabalho do artista é excelente e que o mesmo tem muita sensibilidade ao realizar suas produções. Para os alunos as produções do artista refletem a sua ligação com arte, eles comentaram que foi ótimo poder conhecer um artista pessoalmente, e que o encontro os instigou a fazerem vários experimentos em fotografia. Por fim, comentamos sobre as produções do artista Tom Lisboa, todos os alunos sem exceção comentaram que este trabalho foi o que mais aguçou a percepção e a 212


sensibilidade visual e criticidade dos alunos, pois, segundo eles, a proposta do artista os levou a analisar, refletir e pensar no processo de fotografia e arte. E ao vivenciarem a intervenção na escola, o processo teve mais sentido e significado, pois eles puderam constatar que os colegas da escola também não percebiam os espaços, e que a proposta provocou os alunos a perceberem estes espaços. Percebi que de fato a proposta da intervenção no espaço escolar teve muito significado para os alunos, pois fizeram leituras interessantes do processo construtivo, bem como puderam contextualizar o mesmo através do fazer artístico. Acredito que esta proposta fez com que eu alcançasse alguns dos principais objetivos do ensino da arte: A educação pela arte tenta o desenvolvimento de sensibilidade, imaginação, criatividade do ser humano, possibilitando-lhe ainda um crescimento em termos de visão estética, emocional e intelectual do seu mundo (MOSQUERA, 1976, p.101).

Infelizmente o tempo foi curto para fazer uma análise profunda com os alunos a respeito de seus avanços e conquistas, como também não foi possível apresentar publicamente as produções individuais em fotografia. Os alunos me entregaram as imagens e suas justificativas por escrito. Abaixo algumas fotos dos alunos que desenvolveram o projeto pessoal de fotografia.

Foto da aluna Ariane. Temática: Porto Alegre (Fonte: SOUZA, 2011)

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A aluna Ariane escreveu a seguinte justificativa para escolha de sua temática. “Acho Porto Alegre uma cidade bonita mesmo precisando de melhorias tem muitos lugares e pontos que as pessoas não dão valor. As fotos foram tiradas num final de tarde, e estava nublado, acho que as fotos não ficaram muito boas. Tive o meu olhar aguçado, pois eu vi os lugares de um jeito que não tinha visto antes, passei por ali várias vezes, mas nunca havia percebido esses lugares como agora. A proposta foi relevante, pois passei a olhar de outra forma, passei a ver como tem lugares que nem percebemos a sua beleza.”

Foto da aluna Carolina. Temática: árvores. (Fonte: KRUG, 2011)

A aluna Carolina escreveu a seguinte justificativa para escolha de sua temática. “A minha escolha em árvores se deu porque as acho bonitas, e acho importante valorizar o meio ambiente. Procurei observar a luz ao fotografar, pois o dia estava nublado. Tive o meu olhar aguçado ao fotografar, pois busquei ver a imagem de ângulos diferentes. O exercício foi bom, pois pude perceber e por em prática as dicas que aprendemos em aula com o Pedro Karg.”

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Foto da aluna Bianca. Temática: Parque Germânia. (Fonte: REIS, 2011)

A aluna Bianca escreveu a seguinte justificativa para escolha de sua temática. “Escolhi o Parque Germânia por que eu acho lindo. Os meus critérios para a escolha deste local foram a beleza do lugar, os detalhes do lago e é um lugar que eu costumo ir muito.Ao realizar este exercício pude perceber aspectos do local que nunca havia percebido antes. Ao fotografar prestei a atenção na luz, pois foi num final de tarde. Foi maravilhoso fotografar pois estava apenas eu e a câmera. O exercício foi muito bom e divertido, pois todo mundo no parque ficou me olhando e talvez pensando porque ela esta tirando foto do nada de ninguém. Amei fotografar.”

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Foto da aluna Ana Carolina. Temática: Amizade (Fonte: TEIXEIRA, 2011).

A aluna Ana Carolina escreveu a seguinte justificativa para escolha de sua temática. “Escolhi a amizade como temática para minha fotografia, nesta foto estão as colegas Paula, Gabriela e Bianca. Ao escolher este tema quis fazer uma homenagem para as minhas amigas, pois a saudade já começa a bater, as aulas logo irão acabar. Ao fotografar observei a luz e a nitidez da imagem. Foi muito legal fotografar, acabamos fazendo várias fotos. Achei a proposta super relevante pois pude experimentar a câmera fotográfica e fotografar sobre diversos ângulos e perceber as cores e contrastes das imagens.”

Considero que a produção textual dos alunos foi fundamental para minha percepção do que os alunos compreenderam a partir do encontro com o Fotógrafo Pedro Karg, bem como me oportunizou ler o que os alunos construíram em conhecimento durante as aulas do projeto. Ao analisar as produções fotográficas dos alunos, constatei que a maioria das temáticas apresentadas foram elaboradas a partir de cenas do cotidiano dos alunos como: a Escola Godoy, a cidade de Porto Alegre, o Parque Germânia, as amizades, os autorretratos e composições com diversos materiais de interesses pessoais dos alunos. As fotos que foram tiradas com os celulares apresentam falta de nitidez nas imagens e problemas nas cores. Já as fotos que foram tiradas com câmeras digitais apresentam uma boa resolução. Os alunos puderam imprimir intencionalidade as imagens fotografadas e fotografar com criatividade. Também exploraram elementos fotográficos como cores, tonalidades, contrastes, e enquadramento. De acordo com os relatos dos alunos constatei que o exercício aguçou a percepção e a sensibilidade visual dos alunos, pois puderam perceber os detalhes dos locais

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fotografados, bem como desenvolver a criatividade ao fazer registros sob vários ângulos diferentes. Creio que estas experiências fotográficas e o reconhecimento da possibilidade de serem autores por meio da fotografia interessaram e mobilizaram os alunos, levando-os a exercitarem o olhar observador e crítico para a visualidade. Com esta atividade, concluí meu projeto de ensino no 1º ano do Ensino Médio. Acredito que alcancei os objetivos inicialmente propostos e que, mesmo tendo feito mudanças ao Projeto de Ensino elaborado no Estágio I, este se tornou relevante e instigante para os alunos. No final do encontro me despedi da turma e disse que foi um prazer e uma alegria estar com eles por 16 encontros, nos quais aprendi muito. Os alunos deixaram seus e-mails para futuros contatos. Ao finalizar este estágio, houve de minha parte dois sentimentos, entre eles o alivio em conseguir finalizar a prática, e tristeza por deixar a turma, pois no meu íntimo fiquei com aquela sensação de que, eles poderiam ir além do que foi alcançado até aqui. A prática de estágio no Ensino Médio foi de extrema importância, contribuindo para o meu crescimento como estudante. Sem dúvida esta turma foi um grande desafio para mim, pois não havia no inicio interesse e envolvimento dos alunos com a disciplina, e demonstravam total apatia ao projeto de ensino. Ao analisar o processo de estágio, puder perceber que os alunos foram aos poucos demonstrando maior respeito e interesse pela disciplina de Artes. Penso que usar a fotografia como linguagem artística para expressar e comunicar ideais e aguçar a percepção e a sensibilidade visual dos alunos, e a criticidade estética, foi decisivo para esta mudança. Pois, em muitos momentos, os alunos sentiram-se protagonistas, autores e criadores com algo a dizer. Talvez este projeto tenha lhes permitido desenvolver uma nova percepção de sua realidade, pois muitas coisas de seu cotidiano, foram (re)vistas e (re)conhecidas por meio da arte. O Projeto de Ensino oportunizou aos alunos espaços de intersecções para que pudessem expressar suas ideias, assim como foram explorados aspectos de sua identidade e subjetividades sendo estimulados a desenvolver um olhar, sensível, observador e crítico para as imagens e um fazer artístico que tivesse sentido e significado para eles. Creio que compete ao professor propiciar novos modos de ver a fim de despertar um olhar sensível através da arte. Se espera despertar nos alunos um olhar consciente, diferente do ver espontâneo, pois segundo Buoro (2002, p.63), 217


Uma das funções centrais do ensino da arte na escola deveria ser esta: a de construir leitores sensíveis e competentes para continuar se construindo, adquirindo autonomia e domínio do processo, fazendo aflorar, desse modo, ao toque do próprio olhar, uma sensibilidade de ser-estar-viver no mundo.

Espero ter contribuído para a ampliação do conhecimento dos alunos em arte, bem como para que os alunos desenvolvam a sua poética pessoal em arte e fotografia, sendo o interpretar, significar, contextualizar e pensar práticas constantes desta trajetória. Refletir sobre este processo vivido se faz necessário. Questionar a minha prática educativa para tentar fazer melhor da próxima vez, requer uma reflexão profunda. No estágio nos deparamos com situações que não conseguimos controlar e cometemos erros. Penso que ao longo do estágio foram cometidos muitos erros, enganos e alguns acertos. Medos e angústias floresceram, todavia, os venci ao reconhecer que pouco sabia e precisava me dedicar e me empenhar mais para fazer diferença aos alunos a fim de tocá-los através da arte.

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CONCLUSÃO

Ao optar por trabalhar com os alunos o tema: “Fotografia Contemporânea”, meu objetivo principal era, despertar o olhar dos alunos para a visualidade, a fim de desenvolver um olhar sensível, e um olhar observador e crítico para as imagens, e transformar a atitude de fotografar em uma experiência estética através da consciência e manipulação dos elementos da linguagem fotográfica. Também objetivava promover uma aprendizagem significativa e duradoura através da arte e fotografia. Ao refletir sobre a prática de ensino desenvolvida no Estágio, foi possível perceber os resultados obtidos neste processo. Neste sentido, posso afirmar que o estágio com o Ensino Médio se tornou um grande aprendizado e desafio para mim, pois, no que se refere à prática de ensino, o conceito pré-existente de minha parte vislumbrava uma experiência fácil, dinâmica e atual que seria amplamente aceita e executada pelos alunos. No entanto, ao iniciar as aulas, me deparei com a seguinte realidade: alunos desmotivados e desinteressados pela disciplina de Artes sendo esta considerada desnecessária para o currículo escolar. Ao apresentar o Projeto de Ensino aos alunos, imaginei que eles demonstrariam interesse em trabalhar com a fotografia, linguagem tão presente em seu cotidiano. Mas, para minha surpresa, os alunos não demonstraram interesse. Pelo contrário, deixaram muito claro que não estavam interessados em novidades e trabalhos que exigissem demais deles. A indiferença dos alunos para com o Projeto de Ensino me deixou insegura quanto ao desenvolvimento da proposta, pois eu a considerava inovadora e apropriada à realidade dos alunos. A incerteza e o medo permearam a elaboração das aulas, e fiquei em dúvida se deveria iniciar as aulas com a realização dos registros fotográficos a partir de temas específicos, ou iniciar o processo de sensibilização do olhar através das imagens. Percebi que a indiferença dos alunos às aulas de Arte seria um desafio a ser vencido. Por isso, optei trabalhar primeiramente o processo de sensibilização e fruição dos alunos com a disciplina, pois precisavam valorizar a Arte e perceber a sua importância para a vida. Pensando assim, o Projeto de Ensino foi centralizado na utilização da fotografia nas aulas de Artes, com a análise de imagens em sentido histórico e social, bem como na produção de imagens fotográficas. Também se oportunizou olhar, vivenciar, familiarizar-se, conhecer e pensar sobre a arte contemporânea, através da fotografia.

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Todavia, constatei durante a prática de ensino que nem todas as propostas foram ao encontro dos interesses dos alunos. Isso me fez perceber o quanto o professor deve estar atento à realidade da turma, para que no futuro estes erros não sejam cometidos novamente. Do 4º ao 6º encontro, propus aos alunos que refletissem sobre a produção fotográfica contemporânea a partir das obras dos artistas Bárbara Kruger e Caco Neves. Os alunos foram estimulados a apreciar, refletir e interpretar as obras. Percebi que os alunos não estavam acostumados a pensar e contextualizar as obras, sendo neste caso, instigados não apenas a conhecer a obra e o artista, mas também a estabelecerem uma relação da imagem com o seu mundo. Propus o exercício de recorte e colagem, pois o mesmo possibilita que os alunos se tornem mais observadores das imagens que os cercam, percebendo os conteúdos e detalhes das imagens que circulam na mídia. Todavia, poucos alunos se envolveram e se comprometeram em realizar as composições com colagens, sendo o resultado plástico pouco expressivo. Percebi que a maior dificuldade da turma era realizar o processo manual da atividade, pois selecionar as imagens demanda tempo e paciência, bem como recortar, colar e dispor as imagens no suporte requer concentração. Porém, eles tinham dificuldade de se concentrar, e realizavam as atividades rapidamente. A falta de interesse dos alunos pelo fazer artístico me fez pensar no que realmente interessava estes alunos a fim de serem estimulados ao processo criativo. No entanto, não havia me dado conta de que a realidade da turma era o mundo tecnológico, e que as propostas com colagens foram demasiadamente repetitivas e cansativas para eles, pois realizaram este processo várias vezes. Infelizmente, só fui perceber que a cultura da mídia e da tecnologia era o que realmente despertava o interesse da turma, quando um aluno me pediu para realizar a sua fotomontagem com o uso do programa Photoshop. O estágio me fez perceber que o professor precisa entender o contexto em que o aluno esta inserido, para além dos muros da escola. Neste caso, incluem-se aqui as tendências digitais, a fim de integrá-las no contexto da sala de aula, para que a escola seja um espaço de trocas e percepções sobre o cotidiano, conforme Jociele Lampert: os estudantes vivenciam mundos digitais e tecem redes sociais que se configuram em correntes de proliferação e imagens, onde se identificam por meio de subjetividades a construção de identidades. O local de significação dessas imagens deve ser percebido como um local de intersecções (2010, p.450). Percebo que faltou contextualizar o fazer artístico à realidade e aos interesses da turma. Eu acreditava que eles iriam gostar e se identificar com as atividades de colagens por se tratar de temas relacionados à realidade dos jovens. Neste caso, os alunos construíram uma 220


fotomontagem sobre o tema “o que influência o jovem na atualidade”, assim como construíram os seus autorretratos com imagens impressas da mídia. Entretanto, diante do desinteresse dos alunos, procurei refletir e analisar o que estava diante de mim, quase que gritando, mas eu não conseguia enxergar, me sensibilizar. A turma estava totalmente inserida na cultura da mídia, da tecnologia, pois alguns alunos portavam na sala de aula notebooks, ipods e celulares com câmeras digitais. Na maioria das vezes, utilizavam estes recursos para mostrar seus retratos aos colegas e jogar. Portanto, se o projeto de ensino visava aproximar os alunos da arte através da fotografia, deveria antecipar o contato dos alunos com a fotografia digital a fim contemplar os interesses da turma. Considerei as atividades com colagens relevantes e importantes para a sensibilização do olhar dos alunos, no entanto, reconheço hoje que a aprendizagem poderia ter sido mais atrativa se tivesse utilizado tanto o processo criativo da colagem quanto o recurso tecnológico. Pois assim, talvez as primeiras aulas tivessem sido mais participativas e internalizadas pelos alunos. Neste sentido, foi necessária a adaptação do projeto de ensino para atingir os interesses dos alunos. Pensando assim, o planejamento inicial teve que ser repensado e modificado. Sendo este um constante processo de ir e vir do professor, o qual exige paciência e flexibilidade sempre, pois problemas levantados e questões expostas pelos alunos podem modificar a trajetória daquilo que estava traçado. No entanto, considerei uma oportunidade para abrir novos espaços de aprendizagem, sem perder de vista a essência do Projeto de Ensino. Em função disto, a partir do 7º encontro, ocorreram várias mudanças no planejamento e na prática de ensino. Sendo explorado com os alunos o ver, contextualizar e fazer, a partir da produção fotográfica contemporânea, sendo os alunos provocados a refletirem sobre processos artísticos, realizarem leituras e criarem composições fotográficas. Mostrei aos alunos as produções das artistas Cindy Sherman e Nienke Klunder. Percebi que a atitude dos alunos para com estas aulas foi bem diferente dos encontros anteriores, pois se interessaram em conhecer o processo artístico das artistas e fizeram ótimas leituras sobre as produções apresentadas. Inicialmente as produções fotográficas causaram certo estranhamento nos alunos, pois desconheciam este estilo de fotografia, as quais consideraram cenas de filmes antigos e não fotografias. Mas, à medida em que apreciaram e discutiram sobre os processos artísticos, perceberam que as artistas

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impactaram o público, abordando questões relacionadas ao papel da mulher na sociedade, aos estereótipos femininos, bem como ao estatuto social e à beleza. Ou seja, a partir desta aula, propus aos alunos uma aula mais interativa, sendo os alunos desafiados a criarem cenas ficcionais com temas livres através de maquiagens, roupas e acessórios, e realizarem o posterior registro fotográfico das cenas explorando a expressão, gestos e a imaginação criativa. A proposta foi muito bem recebida pela turma, todos os alunos se envolveram e participaram ativamente. As imagens foram registradas por eles com celulares e câmeras digitais. Penso que este encontro foi um dos mais marcantes para a turma, pois puderam imprimir intencionalidade ao processo criativo, tendo sido possível criarem e fotografarem com olhar observador e crítico as cenas elaboradas por eles. Logo, a proposta de autorrepresentação foi geradora de aprendizagem e contextualização, pois estimulou os alunos a postarem seus registros nas redes sociais como Orkut, Facebook e Flicker, com o objetivo de obterem retorno de seus amigos virtuais quanto à produção fotográfica realizada por eles em sala de aula. A ação dos alunos rendeu muitos comentários e interpretações, e gerou um espaço para intersecções, pois os alunos puderam trocar experiências e dar sentido e significado à proposta de ensino. Ficou claro para mim o interesse dos alunos pela produção fotográfica, sendo que senti necessidade de ampliar e aprimorar os conhecimentos dos alunos para esta linguagem. Por isso, promovi na escola um encontro com Fotógrafo Pedro Karg, que é natural de Porto Alegre. O encontro foi marcante para os alunos, pois nunca tinham tido a oportunidade de conhecer pessoalmente um artista e sua obra. O encontro oportunizou novas leituras sobre a produção fotográfica, sendo possível perceber que os alunos foram abandonando algumas ideias simples do desenvolvimento estético, demonstrando crescimento na sua compreensão das obras apresentadas. Também foi possível discutir aspectos técnicos da fotografia, a composição da imagem, a sensibilidade e a percepção visual no processo criativo. Percebi que os alunos se sentiram desafiados a criar com liberdade e ousadia, dando assas à imaginação e à criatividade a partir deste encontro. Esta mudança refletiu-se de maneira positiva no processo criativo da turma, pois o fazer artístico não foi mais considerado por eles apenas garantia de nota ou obrigação. Passaram a valorizar e ter gosto por suas produções. Também foi possível estabelecer diálogos sobre os processos artísticos em arte e fotografia e compartilhar ideias a respeito das questões cotidianas que a fotografia explora na atualidade, muitas vezes refletindo aquilo que diz respeito à vida. Percebi que estes aspectos, tratados na sala de aula, despertaram o 222


interesse dos alunos ao Projeto de Ensino. Neste sentido, percebi que o Projeto de Ensino tinha compromissos ainda maiores, de aproximar os alunos da Arte através da fotografia e relacionar o aprendizado à vida. Outra questão importante a se considerar durante o processo de estágio, se refere a construir propostas que estimulassem os alunos ao tema do projeto de ensino e por conseqüência uma produção fotográfica significativa. Acredito que aulas de Artes causaram inicialmente nos alunos certo desconforto, pois as atividades exigiam observação e reflexão para terem um bom resultado. Durante as observações realizadas no estágio I, notei que os assuntos tratados nas aulas de Artes não chamavam a atenção dos alunos. Nas poucas atividades de produção que presenciei, eles demonstravam dificuldade em dar sentido ao fazer artístico, e realizavam as atividades com rapidez sem pensar no processo criativo. Todavia, a minha proposta era exatamente o caminho inverso desta, ou seja, interessava-me o fazer reflexivo para que os alunos se apropriassem da aprendizagem com sentido, possibilitando novas percepções nas aulas de arte. A partir desta perspectiva, as propostas desenvolvidas do 10º ao 14º encontros tinham por objetivo provocar outros olhares nos alunos para a produção fotográfica contemporânea, refletindo o quanto estes processos estão ligados a contextos atuais e principalmente à vida. Desmistificando a idéia de uma arte distante e incompreensível. Neste sentido, as produções dos alunos deveriam ter a mesma conotação, ou seja, desenvolver produções que tivessem sentido e significado para eles, que os sensibilizassem a perceber a arte em seu cotidiano. Para tanto, trabalhei com os alunos o processo criativo de intervenção no espaço escolar. Sem dúvida, estes últimos quatro encontros foram os melhores. Constatei que a turma estava mais aberta ao tema do projeto de ensino, sendo possível trocar ideias espontaneamente. Notei que os alunos ampliaram seu vocabulário estético, e a nutrição estética

permitiu

a

eles

fazerem

análises

mais

elaboradas

e

significativas.

A proposta do encontro 10º visava conhecer e interpretar as obras do artista Tom Lisboa que produz intervenções fotográficas em espaços urbanos. As obras do artista instigaram os alunos a pensarem no processo construtivo, bem como a compreenderem que a arte contemporânea propõe desafios à inteligência e à imaginação sendo necessário que os leitores articulem seu conhecimento estético, artístico e cultural. Também foi possível discutir que atualmente não se trata de perguntar o que o artista quis dizer com esta obra, mas o que esta obra nos diz aqui e agora em nosso cotidiano. As propostas do artista geraram muitas discussões entre os 223


alunos, sendo possível reconhecer o quanto precisamos ser desafiados e impactados pela arte para sermos sensibilizados a ver e observar o que está a nossa volta. Os alunos puderam perceber o quanto nossa visão é muitas vezes passiva às imagens que nos cercam. O exercício de ver e observar o espaço escolar sensibilizou os alunos a perceberem os detalhes deste espaço, bem como a reconhecê-lo como espaço de convívio e ressignificá-lo após a experiência vivida no 11º ao 14º encontros. Conforme dito anteriormente nos realizados, a proposta passou por várias etapas até o resultado final, que foi muito produtivo. Pois, ao instigar a comunidade escolar com a proposta, os alunos da turma 117 conseguiram provocar o aguçamento do olhar rotineiro e desatento de seus colegas ao espaço, e isto foi de grande valia tanto para os interventores do processo quanto turma quanto aos observadores. Pois, ao mediarem o processo de intervenção, os alunos da turma puderam ampliar suas impressões iniciais quanto ao processo criativo e ao espaço escolar, sendo possível construir novos sentidos e significados ao ouvir as impressões e opiniões dos colegas da escola sobre a intervenção fotográfica. Os alunos se sentiram protagonistas, autores com algo a dizer à comunidade escolar, promovendo novas percepções para este espaço muitas vezes despercebido. Ao contextualizar a prática com a realidade dos alunos, foi possível perceber o real interesse dos alunos pela proposta e a autonomia no desenvolvimento da mesma. Percebo que houve um crescimento dos alunos, pois, ao instigar o espírito critico e a sensibilidade visual dos alunos para as imagens, eles conseguiram prestar atenção à esteticidade cotidiana da escola e ver os detalhes, os vestígios e sentidos das imagens com outros olhares. Esta última produção foi considerada pelos alunos como estimuladora ao olhar sensível, através dela foi possível refletir sobre o processo fotográfico e desenvolver um olhar observador e crítico frente às imagens. Ao ler a produção textual dos alunos ao final do Projeto de Ensino, pude concluir que estes alunos tiveram um significativo encontro com a Arte, e que esta já não era mais vista por eles como desnecessária e sem importância, pois passou a ter sentido quando eles vivenciaram e contextualizaram a arte através da fotografia em seu cotidiano. Neste sentido, posso afirmar que o Projeto de Ensino atingiu plenamente os objetivos propostos, os quais almejavam despertar e sensibilizar os alunos para a Arte através da fotografia, e desenvolver nos alunos um olhar sensível, observador e crítico para as imagens. Creio que a proposta de ensino foi geradora de uma experiência no sentido que (Larrosa 1996, p.63-64) propõe, como algo que passa no sujeito; que o toca, que o afeta. 224


Acredito que estes alunos já não eram mais os mesmos no final do Projeto de Ensino, pois, através de suas atitudes, foi possível perceber o real envolvimento deles com a disciplina. Esta de fato os tocou e os afetou a pensarem na produção fotográfica contemporânea com outros olhares. Concluíram que se faz necessário um novo olhar sobre a arte na atualidade, livre das ideias antigas, pois esta reflete questões ligadas à vida, a reflexão e ao aguçamento do olhar observador e crítico. Outro fator importante que aprendi durante este processo de estágio trata da importância da relação entre o professor e o aluno e o vínculo que se constrói entre eles durante a prática de ensino. Desenvolver uma relação afetiva com os alunos em tão pouco tempo de estágio torna-se um grande desafio para o professor. No entanto, quando pretendemos deixar marcas positivas nos aprendizes, todo o esforço é válido para tornar este espaço de convivência um lugar de vida que marcará tanto o professor, quanto o aluno. Procurei durante a prática de ensino estimular a construção de um conhecimento coletivo, participativo, instigando a discussão, as trocas e valorizando as experiências e ideias dos alunos, como vimos acima. Os primeiros encontros foram decisivos para eu conhecer a turma. No entanto, como foi dito anteriormente, a falta de interesse dos alunos pelas propostas os distanciou da disciplina e consequentemente de mim. Diante desta realidade, foi necessário repensar o planejamento inicial e adequar o Projeto de Ensino aos interesses e realidades dos alunos. Também foi necessário, a cada novo encontro, estabelecer uma nova aproximação com os alunos, a fim de conhecê-los melhor. Percebi através deste contato com os alunos que o professor amplia também o seu processo de conhecimento no contato com o novo, com o diferente, com as idéias e pensamentos dos alunos que são, naturalmente, diferentes dos seus. Isto se tornou positivo, pois os alunos perceberam que eu estava interessada em conhecê-los como pessoas, valorizar e reconhecer suas ideias e produções. Quando ocorreram as mudanças no planejamento a fim de aproximar os alunos ao Projeto de Ensino, percebi que os alunos trabalharam motivados e com interesse nas propostas que se seguiram. As aulas se tornaram mais interessantes e foi possível construir relacionamentos de diálogos com os alunos, e uma relação duradoura. Torna-se necessário que o professor crie espaços de trocas, através do diálogo informal, visando construir uma relação de vínculo com o aluno. Sendo necessário muitas vezes driblar os contratempos e o pouco tempo que temos na sala de aula.

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Após esta experiência vivida, penso que o futuro professor deve estar atento aos gostos e preferências dos alunos, visando possibilitar um diálogo entre o aluno e a Arte. E, por fim, o último fator a ser considerado se refere à construção da minha identidade docente. A prática de estágio é sem dúvida uma experiência marcante na vida do estagiário, pois existem muitas expectativas, anseios e dúvidas com este novo ambiente que é a escola. Nela, almejamos construir nossa identidade docente, construir espaços de convivência com os sujeitos da aprendizagem, e, através de uma prática significativa, desempenhar o papel de mediadores entre o conhecimento e a realidade da sala de aula. Ao refletir sobre este processo, é necessário reconhecer os erros e os acertos. Penso que os erros me ajudaram a desconstruir ideias pré estabelecidas como a de que o planejamento inicial contemplaria plenamente os interesses dos alunos. Fui ingênua, pois a prática de estágio, assim como o desenvolvimento de qualquer projeto de ensino, é um constante ir e vir, sendo constituído por movimentos de mudanças. As mudanças foram necessárias, pois me fizeram amadurecer como pessoa, estudante e futura docente. Pois, ao tentar sensibilizar os alunos para a disciplina de Arte e para o Projeto de Ensino, eu tive que me sensibilizar a ver e observar a realidade dos alunos, e reconhecer que algumas propostas não estavam aproximando os alunos da arte. Os erros me ajudaram a perceber o quanto fui insensível às necessidades iniciais da turma. Contudo, não os considero como fracasso, pois, ao refletirmos sobre nossas ações, descobrimos que os erros também consistem em acertos. Neste caso, foi possível voltar atrás e mudar a trajetória inicial do Projeto de Ensino para motivar os alunos e tornar os encontros mais interessantes. Conforme Mirian Celeste Martins (1997, p.72): “Um projeto gerado, pode ser transformado durante sua concretização, na medida em que novas ações precisem ser inseridas a fim de que os objetivos possam ser alcançados. O Projeto de Ensino neste ponto de vista foi além dos objetivos propostos, pois a prática de ensino me ensinou a perceber que cada aluno tem interesses próprios, ritmos diferentes e o tempo de cada um deve ser respeitado. Felizmente, as observações dos acontecimentos me fizeram compreender que devem haver mudanças no sujeito que atua para que haja crescimento intelectual e pessoal para ele e seus alunos. Penso que, numa prática futura, continuarei a observar as realidades e interesses dos alunos constantemente, tornando o espaço da sala de aula contextualizado às necessidades dos alunos. Acredito que o papel do professor é motivar o aluno a ser uma pessoa mais 226


sensível, observadora, crítica e construtora de um conhecimento e aprendizagem que façam sentido para ele, através de novas leituras de mundo e transformações de valores. Tornando, dessa maneira, o aprendizado algo inteiro, que modifica tanto o aluno quanto o professor.

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APร NDICE 2 _________________________ Questionรกrio respondido pela Supervisora da Escola.

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Estagiária: Luciane Bravo Professor/a orientador/a: Celso Vitelli Ano/semestre: 2011/1 Questionário com a Supervisão da escola Colégio Estadual Candido José de Godói – Ensino Médio Nome da Supervisora: Maria da Graça Andrade Silveira

1) Qual a proposta educacional (filosofia) da escola? O Colégio Estadual Cândido José de Godói tem como filosofia de trabalho a crença de que o conhecimento universal deve ser socializado na escola como um direito de todos. A construção deste conhecimento deve embasar-se numa prática educativa participativa, fundada em valores como solidariedade, justiça social, honestidade, responsabilidade, ética, cidadania, respeito às diferenças e ao meio ambiente. 2) Qual o contexto sócio-político e econômico da comunidade escolar? Grande parte dos alunos é oriunda da cidade de Porto Alegre, mas a escola também recebe muitos alunos da região metropolitana. O contexto econômico dos alunos é considerado como classe média. 3) Qual a relação da escola com a comunidade em que se situa? Qual a participação dos pais e familiares dos alunos na vida escolar? Atualmente a escola não se envolve com a comunidade local, pois o bairro mudou muito, antigamente havia muitas residências no entorno da escola. Na atualidade há muitas empresas e comércios, o que não oportuniza um envolvimento entre a escola e o seu entorno. A participação dos pais na vida escolar dos alunos é pouco freqüente. Eventualmente quando chamados pela escola, é que aparecem.

4) A escola está inserida em alguma tendência pedagógica que oriente os trabalhos e planos de estudos elaborados na mesma? Nas práticas desenvolvidas, predominam as tendências Liberal Tradicional e também a Liberal Renovada Progressivista. Assim, temos propostas que visam ao desenvolvimento do educando, salientando os aspectos culturais e colocando-o como sujeitos do processo de aprendizagem, destacando o saber fazer, como também, práticas que ainda estão muito centradas nas capacidades individuais e nos aspectos específicos das disciplinas. 5) A equipe escolar se encontra quantas vezes no ano para realizar o planejamento escolar? Duas vezes ao ano para realizar planejamentos. 6) Em sua opinião, qual a importância da disciplina de Arte na escola? Penso que a disciplina é importante para que se explore o potencial criador do aluno.

7) A escola dispõe de materiais para o ensino de Arte, tais como: livros de Arte em geral e de artistas, reprojetor, computador com projetor multimídia, TV, som, vídeo e outros? A escola possui uma biblioteca com alguns exemplares sobre a história da arte, reprojetor, TV, sala de vídeo e sala de multimídia.

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APร NDICE 3 _______________________ Questionรกrio respondido pela professora titular

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Estagiária: Luciane Bravo Professor orientador: Celso Vitelli Ano/semestre: 2011/1 Questionário com o Professor da escola Colégio Estadual Candido José de Godói – Ensino Médio Nome completo? Fabiela da Maia Dias 1) Você é formado em Arte? Sim. Qual Universidade? Universidade Luterana do Brasil 2) Dá aula há quanto tempo? Um ano e meio. 3) Qual a sua carga horária na escola? 24h 4) Você utiliza alguma metodologia de ensino em Arte na aplicação de suas aulas? Faço uso de aulas expositivas e dialogadas, participativas e interrogativas. Trabalho com imagens impressas e projetadas, pesquisas, leitura de texto, sites de apoio e trabalhos práticos. 5) Como são selecionados os conteúdos trabalhados para desenvolver seu planejamento? Com base nos conteúdos programáticos oferecidos pela escola – História da Arte. 6) Os conteúdos trabalhados contemplam aspectos teóricos e práticos das artes?De que maneira os desenvolve? Tento mesclar teoria e prática. A partir do 2º trimestre trabalho com projetos de ensino. 7) Que autores você utiliza para auxiliá-la na elaboração e fundamentação de suas aulas? Utilizo na elaboração e fundamentação de minhas aulas os seguintes autores: E.H.Gombrich, Fayga Ostrower, Carol Astricklend e John Boswell e Mirian Celeste Martins. Utilizo livros diversos, revistas, catálogos e pranchas para pesquisa visual. 8) Como você percebe o interesse dos alunos pelos conteúdos trabalhados? Alguns alunos demonstram interesse pelos conteúdos trabalhados, participando ativamente das aulas. 9) Como seleciona obras e autores para as aulas e como são apresentados? Seleciono para a nutrição estética, obras e autores de acordo com o conteúdo trabalhado em cada aula, apresentando-as em forma impressa (livros, pranchas e imagens produzidas em formato A3) ou projetada (apresentação em Power point com o auxilio do multimídia). 10) Além da sala de aula, que outros espaços você utiliza para realizar exposições de trabalhos dos alunos? Utilizo o saguão da escola.

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11) Quais são os materiais envolvidos no processo de ensino aprendizagem? Os alunos costumam trazer os materiais solicitados? Os materiais envolvidos no processo de ensino e aprendizagem são bastante variados, costumo sempre solicitar materiais recicláveis e alternativos, lápis de escrever, carvão, material para colorir (lápis de cor, caneta, hidrocor, giz de cera) cola, tesoura, papel colorido, tecido, barbante, folhas de ofício rascunho, recortes de revistas, tintas, pinceis, papeis de gramaturas e formatos diversos, etc. A maioria dos alunos não traz os materiais solicitados para aula. 12)

Quais são as técnicas artísticas que os alunos já experimentaram? Ainda não fizemos muitas produções, ainda estamos nos conhecendo e estou aos poucos percebendo as necessidades deles.

13)

Costuma realizar saídas de campo com os alunos? Quais lugares são freqüentados e como é a participação/envolvimento dos alunos? Não costumo levar os alunos para saídas de campo.

14)

Como é o processo de avaliação da disciplina de Arte? Através da observação diária, dos trabalhos práticos individuais ou em grupos e “prova acumulativa” exigida pela escola.

15)

O estagiário de Artes Visuais, desde que previamente combinado, terá liberdade de escolher o projeto de ensino em sua prática no segundo semestre? Sim, sem problemas. Mas o estagiário deverá elaborar uma prova do conteúdo trabalho, pois é uma exigência da escola. 16) Além da sala de aula, que outros espaços você utiliza para realizar exposições de trabalhos dos alunos? Utilizo o saguão da escola.

17)

Quais são os materiais envolvidos no processo de ensino aprendizagem? Os alunos costumam trazer os materiais solicitados? Os materiais envolvidos no processo de ensino e aprendizagem são bastante variados, costumo sempre solicitar materiais recicláveis e alternativos, lápis de escrever, carvão, material para colorir (lápis de cor, caneta, hidrocor, giz de cera) cola, tesoura, papel colorido, tecido, barbante, folhas de ofício rascunho, recortes de revistas, tintas, pinceis, papeis de gramaturas e formatos diversos, etc. A maioria dos alunos não traz os materiais solicitados para aula.

18)

Quais são as técnicas artísticas que os alunos já experimentaram? Ainda não fizemos muitas produções, ainda estamos nos conhecendo e estou aos poucos percebendo as necessidades deles.

19)

Costuma realizar saídas de campo com os alunos? Quais lugares são freqüentados e como é a participação/envolvimento dos alunos? Não costumo levar os alunos para saídas de campo.

20)

Como é o processo de avaliação da disciplina de Arte? Através da observação diária, dos trabalhos práticos individuais ou em grupos e “prova acumulativa” exigida pela escola.

21)

O estagiário de Artes Visuais, desde que previamente combinado, terá liberdade de escolher o projeto de ensino em sua prática no segundo semestre? Sim, sem problemas. Mas o estagiário deverá elaborar uma prova do conteúdo trabalho, pois é uma exigência da escola.

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APÊNDICE 4 ______________________________ Questionários respondidos pelos alunos do Colégio Estadual Candido José de Godói.

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Questionário 1

Continuação...

241


242


Questionário 2

continuação... 243


244


Questionário 3

Continuação... 245


246


Questionário 4

Continuação... 247


248


Questionรกrio 5

249


Continuação...

250


251


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