Formas da Beleza: padrões e representações na arte

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Mariana Schnorr Thomas

Formas da Beleza: Padrões e Representações na Arte

Canoas, 25 de junho de 2012.


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Mariana Schnorr Thomas

Formas da Beleza: Padrões e Representações na Arte

Trabalho de Curso apresentado como prérequisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciado/a em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Dr.Celso Vitelli, Me. José Carlos Broch e Ma. Ana Lúcia Beck.

Canoas, 25 de junho de 2012.


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Dedico este Trabalho de Curso à minha família, que desde sempre me apoiou nesta jornada. Em especial à minha querida mãe, Adriana, pelo incentivo à arte e por abrir mão de um sonho para possibilitar ele a mim.


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Agradeço ao meu amado companheiro Alexandre, que possibilitou a concretização deste sonho, a formação do Curso de Artes. Aos meus amigos e familiares, que de alguma forma também contribuíram, principalmente nos momentos difíceis. Aos meus professores do Curso, em especial à Ma. Ana Lúcia, que, durante estes quatro anos, possibilitou grandes aprendizagens, permitindo um gosto ainda maior pela educação e pela arte.


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RESUMO O Trabalho de Curso “Formas da Beleza: Padrões e Representações na Arte”, surgiu do estudo de questões relacionadas entre beleza e arte. Para isso, foi realizada uma pesquisa sobre este tema, com o suporte dos livros dos autores Umberto Eco e José Carlos Odone. A partir destes autores, foi constatado que beleza e arte já foram palavras sinônimas em tempos passados, como na época renascentista. Com a origem da arte moderna até os dias de hoje, o belo não está mais presente na arte como antes. Este Tema de Pesquisa fundamentou um Projeto de Ensino desenvolvido na Escola Gomes Jardim de Canoas com uma turma do Ensino Médio. Esta turma foi a 108 em que incialmente foram realizadas observações silenciosas e mais tarde, o desenvolvimento do Projeto e da Prática de Ensino. A Justificativa do Projeto de Ensino se baseia na percepção e análise da questão da imagem pessoal, em que o educando poderá desenvolver algum conceito ou ideia sobre o assunto da beleza. Com isso, poderá ajuda-lo na sua questão como indivíduo próprio, podendo criar o seu estilo, sem a preocupação em seguir padrões impostos pela sociedade. Já o objetivo geral é estimular os jovens a perceberem de que forma dão importância para sua aparência externa, a partir do que a mídia desde a infância impõe para eles. Deste modo, devem estabelecer critérios próprios de aparência externa e de individualidade, contribuindo para a reflexão crítica consciente do assunto da beleza na sociedade. Além disso, pensar nas obras do artista Eugênio Dittborn e nas produções pós-modernas no geral, não como expressão de beleza e sim como crítica social, sem a necessidade de representação do belo. As principais atividades desenvolvidas com a turma 108 foram no início relacionadas com a questão da beleza e de seu contexto na sociedade. Para isso, foram realizadas atividades como visualização de vídeo, debate e produção de imagens com recorte, colagem e interferência nas mesmas com desenho e pintura. Após, as atividades foram direcionadas para o subprojeto Arte Postal em que os educandos realizaram uma saída de campo para a Oitava Bienal do Mercosul. Desta forma realizam reflexões, análises e uma atividade com pintura e colagem a partir das obras do artista chileno Eugênio Dittborn. Finalizando o TC, está a conclusão com as análises e reflexões dos encontros com a turma 108. Esta, que se desenvolveu principalmente a partir de desvios que ocorreram durante os encontros. Desvios como postura adequada em sala de aula, além do momento de planejamento das aulas.

Palavras-chave: Arte. Beleza. Desvios.


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SUMÁRIO

Introdução................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1. Reconhecimento do espaço de ensino.............................................. 15 1.1. Dados gerais da escola.................................................................................. 16 1.2. Observações silenciosas................................................................................ 18 1.2.1. Primeira observação silenciosa...................................................................... 18 1.2.2. Segunda observação silenciosa..................................................................... 20 1.2.3. Terceira observação silenciosa...................................................................... 22 1.2.4. Quarta observação silenciosa......................................................................... 24 1.2.5. Quinta observação silenciosa......................................................................... 26 1.2.6. Sexta observação silenciosa.......................................................................... 27 1.3. Análise das observações silenciosas............................................................. 28 1.4. Análise do questionário respondido pela professora...................................... 31 1.5. Análise do questionário respondido pelos alunos.......................................... 33 CAPÍTULO 2. As Formas da Beleza: três momentos na história da arte.................. 35 2.1. Noções de belo............................................................................................... 36 2.2. Mídia e atravessamentos................................................................................ 40 2.3. Três momentos da beleza na arte.................................................................. 45 CAPÍTULO 3. Projeto de Ensino “Formas da Beleza”............................................... 56 3.1 Dados gerais da escola e da turma............................................................... 57 3.2. Dados gerais do projeto de ensino................................................................. 57 3.2.1. Tema.............................................................................................................. 57 3.2.2. Justificativa..................................................................................................... 58 3.2.3. Objetivo Geral................................................................................................. 58 3.2.4. Objetivos específicos...................................................................................... 59 3.3. PRÁTICA DE ENSINO.................................................................................... 60 3.3.1. Primeiro encontro............................................................................................ 60 3.3.2. Segundo encontro.......................................................................................... 68 3.3.3. Terceiro encontro............................................................................................ 75 3.3.4. Quarto encontro.............................................................................................. 82 3.3.5. Quinto encontro.............................................................................................. 90 3.3.6. Sexto encontro................................................................................................ 96 3.3.7. Sétimo encontro............................................................................................ 104 3.3.8. Oitavo encontro............................................................................................. 112 3.3.9. Nono encontro.............................................................................................. 124 3.3.10. Décimo encontro................................................................................ 138 Conclusão................................................................................................................ 150 Referências............................................................................................................. 162 Apêndices................................................................................................................ 164


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Apêndice 1: avaliação do aluno estagiário realizada pela professora titular........... 164 Apêndice 2: questionário respondido pela diretora da escola................................. 166 Apêndice 3: questionário respondido pela professora titular.................................. 169 Apêndice 4: questionários respondidos pelos alunos do 1 o ano da escola estadual gomes jardim........................................................................................................... 172


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INTRODUÇÃO

A busca e idealização da beleza é algo constantemente presente ao longo dos tempos nas diferentes culturas do mundo. Seu conceito e “gostos” diferenciamse entre as pessoas, porém, costumeiramente, seguem-se padrões de beleza. Na arte, esta busca e representação do belo também foram constantes em tempos passados, sendo que hoje em dia as diversas formas de arte não tornam comum esta busca. No entanto, para muitas pessoas, a relação entre beleza e arte ainda é muito presente. Por este e por outros motivos que serão apresentados, a relação entre beleza, arte e estética foi o tema escolhido para este Trabalho de Curso. Trabalho repleto de dúvidas, surpresas e ao seu final, grandes mudanças. Iniciarei apresentando o Tema de Pesquisa que compreende o segundo capítulo do TC. Para compor este, parti de uma ideia que eu já vinha desenvolvendo há algum tempo conforme o que eu percebia que influenciava na vida das pessoas no geral. Esta questão é da autoimagem, que nos dias de hoje está preocupando as pessoas, em virtude dos altos índices de procura por procedimentos estéticos. Dentre estas pessoas, estão os jovens em formação de identidade, sendo alvos fáceis de influenciar. Influenciáveis principalmente a seguir padrões de beleza predeterminados. Já a relação do tema com a arte é algo que envolve muitos fatores, dentre eles o fato de que a forma como a beleza é representada na arte modifica-se ao longo da história por razões diversas. Em função disso, realizei o recorte de três momentos na história da arte em que a forma de representação do belo é diferenciada. De primeiro instante, selecionei a época renascentista em que a estética do período era voltada para os ideais clássicos com exaltação do belo. As figuras humanas eram representadas de forma idealizada como os deuses mitológicos, além de serem compostas com perfeita simetria e harmonia das formas. O artista que melhor caracteriza este período é um dos gênios italianos, Leonardo Da Vinci. O segundo recorte compreende o período entre as duas Grandes Guerras Mundiais de 1900-1950. Sendo que por este e outros motivos, muitos artistas expressionistas da época não veem a necessidade de retratar o belo em função de


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que o que ocorre à volta deles ser exatamente o oposto. Nas obras de arte as figuras humanas aparecem deformadas e diante disto, o belo representado no período moderno é totalmente oposto da época renascentista. Um exemplo disto é o artista alemão George Grosz que deforma as figuras humanas representando as consequências das Guerras: alcoolismo, suicídio, prostituição, etc. Após 1950, início da Pop Arte e terceiro período escolhido, o movimento torna-se uma “antiarte” do expressionismo, justamente por retratar com cores vivas e formas definidas a nova cultura de massa voltada para os padrões de consumismo e de beleza. Constituindo estes temas em suas obras está o artista inglês Andy Warhol. Para auxiliar neste tema de pesquisa, me baseei em dois principais autores, dentre eles Umberco Eco, grande pesquisador na área de beleza e estética. O mesmo apresenta as visões da população sobre beleza e feiura ao longo da história, inclusive relacionando com a arte. Outro autor que serviu como suporte foi Odone José Quadros que em seu livro “Estética da vida, da natureza e da arte”, abordou diferentes filósofos e pensadores, contribuindo na formulação do conceito sobre beleza, estética e arte. O primeiro capítulo do TC é constituído pelo reconhecimento do espaço de ensino, sendo que a Escola em que foi aplicado o Projeto foi a Escola Gomes Jardim de Canoas. Conforme a realidade da mesma e dos educandos, a maior parte dos alunos é composta por uma classe desfavorecida, sem ambições e comprometimento com o estudo, além da indisciplina e do comodismo. Condizente com isso está o estado de má conservação do colégio, dificultando o uso de espaços físicos e recursos que possibilitem uma educação de qualidade. A partir destas situações, estabeleci alguns procedimentos para o meu projeto de ensino, como o uso de recursos e espaços físicos combinados com o que a escola oferecia. Após o reconhecimento do espaço de ensino, duas turmas desta mesma escola foram selecionadas para realizar observações silenciosas. Uma das turmas era a 81 do Ensino Fundamental que contava com 24 alunos. Já a turma do Ensino Médio foi a 108, sendo também composta por 24 alunos. Durante as observações silenciosas no Estágio I, pude formular ideias conforme o que apresentavam as turmas que observei, percebendo fatos e situações que seriam convenientes aplicar com aqueles estudantes da Escola Gomes Jardim. Com o auxílio dos questionários aplicados com as turmas, decidi


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realmente escolher o tema já pensado para a minha pesquisa para também aplicar no projeto de ensino: a beleza e relação dela com a história da arte. Optei por este tema ao perceber que o assunto era frequente durante conversas paralelas que surgiam entre os educandos enquanto realizavam as atividades. Além disso, nas respostas dos questionários e em outros diálogos, percebi uma preferência dos alunos pela arte figurativa, muitas vezes desprezando a arte abstrata. Assim, explicar estas mudanças estéticas ocorridas ao longo da história da arte poderia permitir que estes jovens mudassem sua visão sobre a arte não figurativa, compreendendo o seu significado e até modificando os seus gostos por obras de arte. A partir destas ideias sobre o belo, esbocei o meu Projeto de Ensino baseando-me nos principais elementos da pesquisa sobre a beleza, com atividades relacionadas com os três períodos selecionados e com os artistas principais de cada período. A justificativa do Projeto consistia na reflexão sobre este assunto, em que o mesmo poderia contribuir na formulação de uma crítica consciente do educando sobre a questão da beleza. Se desta forma, percebendo e analisando a questão da imagem pessoal, ele poderia desenvolver algum conceito ou ideia sobre o assunto. Com isso, poderia ajudá-lo na sua questão como indivíduo próprio, podendo criar o seu estilo, sem a preocupação em seguir padrões impostos pela sociedade. Já o objetivo geral do Projeto, era estabelecer critérios próprios de aparência externa e de individualidade, contribuindo para a reflexão crítica consciente do assunto da beleza na sociedade. Alguns dos objetivos específicos eram estabelecer uma ideia crítica consciente sobre a função da beleza na sociedade e debater a respeito dos padrões e estereótipos de beleza, se os mesmos afetam ou não a vida das pessoas. Depois de esboçado o meu Projeto de Ensino, apliquei-o nos estágios II e III com as turmas nas quais eu havia realizado as observações silenciosas no estágio I. Durante a realização do estágio II, foram surgindo imprevistos que acabaram modificando o meu esboço do Projeto de Ensino sobre a beleza e a relação com os três momentos da história da arte. Assim, os três períodos acabaram sendo vistos em apenas uma aula, pois um dos principais motivos que impediram esta realização foi o Projeto Arte Postal, do qual falarei nos seguintes parágrafos. Em função deste, a relação da beleza com a arte acabou se distanciando e o trabalho com os artistas apresentados na pesquisa não foi desenvolvido acabou não


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alcançando os resultados esperados inicialmente. Desta forma, no terceiro capítulo do TC consta o Projeto de Ensino e a Prática de Ensino com as alterações que foram realizadas ao longo do seu desenvolvimento. Outra alteração que surgiu no Projeto de Ensino foi o acréscimo de imagens de obras da artista Rachelle Aotman, visto que estas não estão no capítulo de pesquisa. Este desenvolvimento dos estágios II e III foi bastante semelhante, visto que o projeto aplicado era o mesmo nas duas turmas (81 e 108) e estas tinham idades próximas. Contudo, eu já era professora titular da turma 81 e por isso conhecia melhor o grupo, sendo que assim pude introduzir melhor o assunto do Projeto, com mais antecedência. Além disso, o auxílio na elaboração dos trabalhos pelos educandos foi diferenciado, pois esta turma pode desenvolver melhor as atividades práticas em comparação com a turma do ensino médio. Isto em virtude de que eu já sabia das particularidades de cada estudante, conhecendo seus desafios, limitações e habilidades. Outra diferença nas duas práticas foi que a turma 81 realizou duas saídas de campo, uma a mais que a turma 108. Pois como eu já era professora da turma, a saída já estava planejada há mais tempo para a Fundação Iberê Camargo. Desta forma, o passeio permitiu que os alunos tivessem também o conhecimento de um artista e de seu trabalho em distinção da outra turma, contribuindo para uma relação diferenciada com a estética das obras. Assim aprenderam que o artista gaúcho Iberê Camargo não se preocupava com a representação da beleza nas suas obras. A partir disso, a realização da prática com a turma do Ensino Fundamental acabou sendo mais tranquila que a com o Ensino Médio por eu ter o conhecimento e o convívio com o grupo. A partir da ocorrência de determinadas situações nos dois estágios, optei, após estes finalizados, em escolher este último para a análise no estágio IV. Esta escolha deu-se em função de que a prática de ensino com a turma 108 do Ensino Médio foi cheia de dificuldades, desafios, imprevistos e o principal: era uma turma que eu não era a professora titular, ou seja, não os conhecia antes das observações silenciosas, permitindo novas descobertas e ao final de tudo, o reconhecimento de que muitas coisas deveriam ter ocorrido de forma diferente. Digo isto, pois iniciei aquele estágio bem confiante de que seriam encontros excelentes, com momentos recheados de aprendizagens significativas e situações que promoveriam o gosto pela arte naqueles estudantes. Conforme as observações silenciosas, percebi que o tipo de aula que os alunos estavam tendo não era da forma mais correta, pois


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sempre faziam o mesmo tipo de atividade, limitando o processo de aprendizagem. Além disso, a própria professora admitiu para a turma que a partir das minhas aulas, seria tudo diferente e melhor. Isso fez com que eu criasse uma expectativa muito grande com relação à turma e impediu que eu percebesse os grandes problemas que estavam surgindo durante os encontros quando iniciei as práticas. Em virtude disso, apenas ao final dos encontros é que consegui perceber que o projeto não havia sido conforme as minhas expectativas e que surgiram muitos desvios, tornando o projeto de ensino um tanto superficial. Na metade dos encontros com a turma 108 decidi participar do projeto Arte Postal, promovido por dois colegas do Curso de Artes Visuais e no qual participaram mais da metade da turma dos estagiários. O Projeto surgiu em meio à ocorrência da Oitava Bienal do Mercosul, contemplando as obras do artista homenageado, o chileno Eugênio Dittborn. O mesmo compunha nas suas obras o envio delas pelo correio para diferentes regiões do mundo. Desta forma, o projeto do qual participei consistia no envio dos trabalhos dos alunos para troca com diferentes escolas. Para seu fechamento, a exposição no mesmo local em que estavam as obras de Dittborn, a Fundação Santander Cultural. Quando entrei neste projeto, acabei direcionando o restante das aulas para ele, distanciando-as do projeto inicial sobre a beleza e a arte. Em virtude disso, os encontros com o Ensino Médio foram no início voltados para a questão da beleza física e ao final direcionou-se para a arte postal juntamente com as obras do artista homenageado na Oitava edição da Bienal do Mercosul. Em virtude disso, a ideia inicial da justificativa e do objetivo geral serem voltados à beleza e concepção estética, acabou mudando para o assunto da Arte Postal e da 8a Bienal do Mercosul. Com isso, foi acrescentado no objetivo geral do projeto o pensar nas obras do artista chileno Eugênio Dittborn e nas produções pós-modernas no geral, não como expressão de beleza e sim como crítica social, sem a necessidade de representação do belo. Outros objetivos específicos também surgiram como compreender o processo de produção da arte postal e refletir se a arte pós-moderna possui ou não a necessidade de representar o belo devido ao contexto em que se vive atualmente. Outro fator que influenciou na mudança do planejamento dos encontros durante a realização da prática, foi a questão da postura passiva que apresentei ao longo dos encontros. Não tive o domínio da turma quanto à questão do comportamento indisciplinado que os alunos apresentavam e pouco fiz para que


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aquilo mudasse, permitindo que estes momentos acabassem prejudicando o andamento das aulas. Muitas atividades de desenho, recorte e colagem não foram bem desenvolvidas, pois faltou um melhor planejamento e aprofundamento do assunto, dificultado durante as práticas pelo comportamento inadequado da turma. Contudo, surgiram momentos interessantes de aprendizagem como o debate bastante discutido pela turma sobre a beleza e a importância do assunto para a sociedade. Além disso, o uso de espaços físicos diferenciados e recursos não antes utilizados, como a sala de vídeo, Datashow e a saída de campo, possibilitaram uma nova forma de aprender os conteúdos, tornando as aulas mais atrativas para os estudantes. Estas e outras questões estarão mais bem apresentadas na conclusão deste TC. Após concluídas as etapas dos estágios II e III, acabei mudando minha ideia sobre os desafios de uma sala de aula, compreendendo a importância de formular e sequenciar bem as aulas, permitindo uma melhor organização dos encontros, além de uma postura adequada frente às questões comportamentais dos alunos. Os estágios propiciaram um grande amadurecimento de ideias e questões educacionais, permitindo uma visão melhor qualificada e esclarecida sobre o ensino de artes.


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CAPÍTULO 1. RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO


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1.1. Dados gerais da escola observada Nome: Escola Estadual de Ensino Médio José Gomes de Vasconcelos Jardim Endereço: Av. Santos Ferreira, 2985. Canoas-RS Fone: (51) 3452 1053 Coordenadoria Regional da Educação: 27a CRE Canoas

A Escola Estadual de Ensino Médio José Gomes de Vasconcelos Jardim localiza-se na Avenida Santos Ferreira 2985, no bairro Estância Velha em Canoas. É uma escola com idade de pouco mais de meio século, em que grande parte de sua estrutura física encontra-se danificada. Abriga mais de dois mil alunos, funcionando nos três turnos, além de contar com cerca de 50 professores. Quanto à avaliação dos educandos, o calendário escolar se divide em três trimestres, sendo que no primeiro e no segundo trimestres, a avaliação é realizada numa escala de 0 (zero) a 30 (trinta) pontos com média 18. Já no terceiro trimestre, a avaliação ocorre numa escala de 0 (zero) a 40 (quarenta) pontos. No final, é necessário totalizar no mínimo, 60 pontos. Para somar estes quarenta pontos ao fim do 3 o trimestre, é realizada a cada ano na escola no mês de outubro, uma Feira Multidisciplinar. Os alunos organizam-se por grupos em suas turmas e desenvolvem um trabalho que será apresentado a partir de um tema estipulado pelos professores. Nesta Feira, é envolvida toda comunidade escolar, no intuito de valorizar a pesquisa e o trabalho dos educandos, visto que estes apresentam para todas as pessoas que estiverem interessadas em assistir os seus trabalhos. Estes, que correspondem à oito pontos e para esta avaliação, é formada uma equipe de professores avaliadores da turma. Diversos critérios são avaliados e ao final, forma-se uma média a partir das notas que cada professor considerou. O Projeto Político-Pedagógico do colégio foi formulado a partir do suporte teórico da obra do Prof. Adelar Hengemukle, “Gestão de Ensino e Práticas Pedagógicas”, além de outros autores. Uma das pretensões do PPP é engajar e comprometer todos os integrantes da comunidade escolar. No entanto, segundo o PPP, a maior parte dos integrantes da comunidade local é pertencente à classe dos


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menos favorecidos. Com isso, demonstram descomprometimento, desinteresse, descaso, ausência das atividades escolares, comodismo, indisciplina e falta de ambição. Existem muitas partes da escola em mau estado de conservação, com portas estragadas, vidros de janelas quebrados, paredes pichadas e cadeiras e classes quase inutilizáveis. Em todas as salas de aula ainda utiliza-se quadro negro, alguns em péssimo estado. Uma destas causas é a progressiva perda da autonomia econômicofinanceira e pedagógica da escola, que fica cada vez mais a mercê da desassistência do poder público estadual. Há por outro lado, a parte cultural e atrativa da escola. Uma destas é a realização da Feira do Livro da escola, sendo que esta ocorre desde 2008. No ano de 2011 a Escola foi notícia na mídia devido à professora vice-diretora da escola, Márcia Carol. Pois esta é escritora e lançou seu primeiro livro infantil. Na feira, além disso, foram realizadas apresentações musicais e exposições de trabalhos artísticos. Na parte de Artes, já foi realizada há alguns anos atrás, segundo a diretora Cristiane, uma exposição de pinturas e desenhos de artistas locais. Além disso, por meio de uma seleção feita pelos professores do colégio, o aluno que mais se destacou em habilidades plásticas ganhou gratuitamente um curso de desenho da Fundação Cultural de Canoas, e a escola foi notícia na Televisão.

Parte frontal da Escola Gomes Jardim. Fonte: THOMAS, 2011.


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1.2. Observações silenciosas 1.2.1. Primeira Observação silenciosa Data: 22 de março de 2011.

Entrei na sala da turma 108 no terceiro período do turno da tarde. A professora Almeír me apresentou à turma dizendo que eu já era professora do ensino fundamental e comentou que eu sim era da área, não ela. Dirigi-me ao fundo da sala e a professora solicitou silêncio, explicando em seguida as disciplinas do dia. A turma ainda teria um período de Literatura, Educação Artística e já haviam tido um de Português com esta mesma professora. Notei que se organizam pelos cantos da sala em duplas, trios e apenas um aluno no meio da sala. Fazendo uma pequena revisão, na última aula viram o conteúdo sobre a Arte na pré-história, os períodos neolítico e paleolítico. Estes em que os homens descobriram o fogo e aos poucos foram se aprimorando, sendo o início da arte, conforme a professora dizia. Neste momento da explicação apareceu na porta a monitora da escola interrompendo a aula. Explicou para a turma que não tinha bebedor, tendo os alunos que trazer garrafinha e que a água da torneira não era aconselhável. “Deixando um pouco de lado a pré-história, a humanidade evolui e agora iriam estudar as antigas civilizações, como a Egípcia”, diz a educadora. Pergunta também o que os alunos conheciam sobre os Egípcios e estes responderam: “pirâmides e faraós”. Neste instante, um estudante faz uma “pose” representando uma imagem egípcia e a professora explica que na arte deste povo, isso faz parte da “Lei da frontalidade”. Trata-se de uma questão religiosa representar as pessoas

e que os artistas não podiam

de frente. Alguns alunos pareciam interessados e

comentavam durante uma breve explicação da professora. Nisto, ela começou a passar um resumo no quadro e em seguida, interrompeu sua escrita para dizer que não havia gostado muito de como estavam sentados, pois conversavam demais. Disse que preferia como estavam sentados no período anterior, em que estavam mais separados.


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Contei 24 alunos na sala e a maioria parecia estar copiando, exceto alguns que conversavam baixo. A professora interrompeu mais uma vez sua escrita e disse para a turma se organizar e falar com a vice-diretora para resolver a questão de falta de ventiladores, pois estava muito quente naquele dia e alguns queixavam-se do calor. Aquele comentário deixou a turma um pouco agitada. Continuou dizendo que aquele era um pequeno resumo e que ainda veriam mais sobre a arte, como pintura e escultura. Salientou a questão da escrita egípcia, que era bem desenvolvida e que desta maneira garantiu o registro dos seus costumes e que por isso não se perdeu sua cultura. Perguntou à turma se sabiam sobre a religiosidade deste povo, o que havia de relação com a mumificação, já que haviam comentado anteriormente. Ninguém soube responder. A professora Almeír então explicou sobre questões de vida pós-morte, citando como exemplo Michael Jackson, artista que após sua morte, foi embalsamado. Dando seguimento à aula, foi passada uma atividade no quadro para os alunos “relaxarem”. A docente desenhou um pequeno “retângulo” no quadro para explicar que dentro deste espaço em seus cadernos, os alunos fariam um desenho referente ao assunto estudado no dia. Observei que a professora deu uma circulada pela sala observando os desenhos que estavam surgindo e fazendo comentários. Aproveitando, perguntei para ela se os alunos somente utilizavam caderno com linhas para estes desenhos e ela explicou que sim. Geralmente, ela passava um “resuminho” e após realizavam um desenho referente a este pequeno texto no caderno. No fim do trimestre, ela analisava os cadernos e comentou que aí muitos se “davam mal”. Não reparei na utilização de imagens para a produção dos desenhos. Faltando dez minutos para acabar a aula, a professora fez a chamada e havia certa conversa, sendo solicitado silêncio. Solicitei permissão para ver os desenhos que estavam fazendo e observei que a maioria fazia “pirâmides”. Algumas eram mais simples, com apenas um triângulo e outras mais elaboradas. Chamou-me a atenção um aluno no canto da sala, que estava sem caderno, fazendo um belo desenho na classe de um mangá. Já estava na hora do recreio e a professora lembrou aos alunos que teriam aula de Literatura com ela após o recreio.


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1.2.2. Segunda Observação silenciosa Data: 29 de março de 2011.

Entrei pontualmente no terceiro período juntamente com a professora na sala da turma 108. Assim que ela entrou, logo falou que retomariam o assunto da aula passada e que seria passado no quadro um resumo. Após fariam um desenho sobre este. A turma se encontrava melhor distribuída (desta vez) pela sala. Enquanto apagava a escrita que estava no quadro negro, a professora fez comentários sobre o assunto que era da aula passada, de Espanhol, contando algumas estórias. Lembrou que no início do ano foi falado sobre os materiais para as aulas de Arte. Ela não exigiria caderno de desenho, mas teriam que ter seu caderno (pautado) sempre organizado a cada fim do trimestre. A avaliação seria a partir deste caderno, que deverá ter os resumos e os desenhos, sem folhas soltas. A professora começou a passar no quadro um resumo sob o título “As pirâmides do Egito”. Enquanto isso, os alunos conversavam bastante, dando muitas “risadinhas” e por isso, foi chamada a atenção deles. Percebi que alguns colegas pediam silêncio para os que conversavam, lembrando que devem ter respeito com a professora. No assunto do quadro se encontrava uma palavra chamada “Djaser” e um aluno pediu como se pronunciava corretamente. A professora titular não soube responder e perguntou se eu sabia. Respondi que não tinha certeza. O resumo que a discente passava era feito na hora, a partir do mesmo livro da aula passada. Conforme os estudantes terminavam de copiar, a educadora ia explicando o assunto. Uma de suas falas era sobre “construção faraônica”, uma expressão que significa hoje “grandes construções”. Comentou que seria interessante de verem alguma “filmagem” que mostrasse imagens da Arte Egípcia e que daria uma pesquisada na Escola. Na atividade seguinte os alunos “mais habilidosos” deveriam representar uma “esfinge” e segundo a professora, quem fosse menos habilidoso poderia representar a três Pirâmides. Os estudantes disseram que já tinham feito estes desenhos na aula passada. A educadora então comunicou que deveriam fazer a


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representação de alguma “construção faraônica” do mundo de hoje. Citou exemplos como o “Cristo” ou a “ponte de Florianópolis”. Para realizar o desenho, foi oferecido como visualização o livro que foi utilizado pela professora nos resumos. Visto que na observação passada os alunos sentiram-se incomodados por eu querer ver seus desenhos, decidi não visualizá-los. Apenas uma aluna sentada perto de mim quis mostrar seu desenho, que era uma representação do “Cristo”. Perguntou o que eu achava da imagem e eu respondi que estava bom, mas que faltava a barba e os cabelos compridos do “Cristo” original. Faltando uns sete minutos para o fim da aula, a discente fez a chamada e novamente tinha muitas conversas e risadinhas, pois havia um aluno novo. Percebi que a professora não se incomodava muito ou se estressava com isso, fazendo pequenos e calmos comentários. Depois da chamada, a discente foi passando pelos alunos para observar o que estavam fazendo. Uma aluna comentou que precisa ver uma imagem para desenhar e a educadora lembrou-se do livro ou que ela poderia “imaginar”. Explicou também que quem não tinha muita habilidade para desenhar, poderia escrever sobre a “construção faraônica”. Após ver um belo desenho de um aluno sobre o assunto, que em seguida foi inclusive mostrado à turma pela educadora, ela comentou que geralmente os “guris” tinham mais habilidade para o desenho. Na hora certa, os estudantes foram liberados para o recreio e saíram educadamente.


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1.2.3. Terceira Observação silenciosa Data: 05 de maio de 2011. Pontualmente no terceiro período entrei com a professora e solicitei permissão a ela para aplicar o questionário. Expliquei para a turma que uma das etapas do estágio era um questionário para conhecer melhor os alunos. Falei que poderiam responder atrás da folha ou em uma de caderno para entregar junto e quem tivesse dúvida, era só perguntar. Assim que começaram a responder, notei que surgiram piadinhas em relação à pergunta de que sexo os alunos eram. A turma parecia concentrada respondendo e quando surgiram dúvidas referentes à gramática, solicitavam ajuda para a professora Almeír, já que a área dela é a da linguística. Questionaram como se escrevia “da Vinci” e “Van Gogh” e o que significava “Artes Visuais”. Hoje pareciam faltar alguns alunos e estes se distribuíam pelos cantos da sala, ninguém sentava ao meio. Em menos de dez minutos três alunos já haviam respondido as doze questões. E cinco minutos depois, a maioria já havia terminado. Para estes que estavam prontos, foi passada uma atividade no quadro para expressarem o tema da Feira do Livro que acontecerá na próxima sexta-feira e sábado na Escola. Neste momento surgiram conversar sobre esta Feira do Livro que era sobre Música e Leitura. Fariam um desenho no caderno e não precisariam entregar. Notei que alguns alunos no fundo da sala ouviam música sem fones de ouvido e muitos mexiam em seus celulares. A professora estava sentada em sua cadeira lendo algo. Minutos depois a educadora passou pelos alunos para ver suas produções e fazia comentários positivos em relação a elas. No fundo da sala estavam expostos alguns cartazes sobre diferentes temas: Folclore, Literatura e Língua Estrangeira. Alguns destes cartazes tinham desenhos e alguns alunos observavam de vez em quando estes desenhos. Quando restavam dez minutos para encerrar a aula, muitos já estavam com os cadernos fechados e conversando. Metade da turma parecia fazer as atividades rapidamente e a outra se prolongava mais.


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Novamente no fundo da sala os estudantes ouviam música e desta vez, estava mais alta. A professora perguntou se havia algum celular ligado e responderam que “alguém estava ligando” e ficou por isso mesmo. Quando a turma saiu para o recreio, restava apenas na sala uma aluna concentrada e sentada sozinha, ainda respondendo ao questionário. Esperei alguns minutos até ela terminar.


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1.2.4. Quarta Observação silenciosa Data: 12 de maio de 2011.

Quando eu e a professora entramos na sala de aula, estavam todos os alunos sentados e aguardando. Apenas como de costume, conversavam bastante e gargalhavam também. Uma aluna me perguntou se eu tinha lido os questionários e o que eu havia achado. Respondi que algumas respostas estavam muito boas, mas que muitos também apenas foram monossilábicos, respondendo apenas “sim” e “não”. Outra estudante ouviu a conversa e justificou que algumas perguntas ela não havia compreendido muito bem e eu novamente lembrei que se tivessem dúvidas, era só ter me perguntado. Neste instante a professora iniciou sua aula dizendo que hoje começariam outro assunto e que seria a Arte Grega. Perguntou inicialmente o que os alunos sabiam sobre os Gregos, sobre a arte deles. Alguns lembraram dos Templos e da Mitologia. Dando continuidade, a docente explicou que a arte grega tinha muito a ver com a mitologia, com a crença em várias deuses que tinham os gregos. Além disso, falou também que tinham excelentes esculturas e uma grandiosa arquitetura, assim como os Egípcios. Depois desta breve explicação, foi passado no quadro um pequeno resumo sobre a Arte Grega. Observei que a turma se comportava e agia como das outras vezes, sem muitas alterações e que a dinâmica da aula era sempre bastante parecida. Após acabar o resumo no quadro, a professora explicou mais algumas coisas em relação ao “movimento”, aos jogos olímpicos que os gregos foram os pioneiros nas Olimpíadas e que valorizavam muito o corpo humano. Pediu para que representassem como atividade no caderno, o homem em movimento. Notei que alguns alunos pareciam queixar-se de que era muito difícil representar a figura humana e principalmente em movimento. A professora sugeriu então que algum aluno poderia servir como modelo, que assim poderiam observar e que facilitaria na hora de desenhar. Mesmo assim, alguns alunos foram relutantes, protestando que seria mais difícil ainda. Eles então decidiram fazer “por conta”, com a aceitação da professora.


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Como eu estava muito curiosa para ver os desenhos que estavam surgindo, pedi permissão para observá-los. Como da primeira vez, muitos não se sentiram a vontade para me mostrar e alguns escondiam o desenho no caderno com os braços. O pouco que pude ver foi de alguns “bonecos palitos” e algumas observações por parte dos alunos de modelos em capas de caderno. Apenas um ou dois alunos pareciam ter um domínio maior na criação da figura humana. A professora também percorreu a sala observando os trabalhos e dando estímulos para os alunos não se preocuparem e fazerem o que conseguissem. Em seguida, ela sentou-se e fez a chamada. A turma inteira estava presente. Pouco tempo depois, estava na hora do recreio e os educandos saíram animados.


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1.2.5. Quinta Observação silenciosa Data: 19 de maio de 2011.

Hoje no início da aula, um senhor entrou na sala para fazer propagandas de cursos de Informática. Falou em torno de quinze minutos e distribuiu para a turma cupons para preencherem, que estariam concorrendo a alguns prêmios. Notei que não pareciam interessados nos cursos, mas nos cupons para sorteio sim. Depois que o senhor saiu, a professora pediu para a turma preencher rapidamente os cupons e para o líder da turma recolher para ela poder em seguida iniciar a aula. Os alunos estavam um pouco agitados e encontrava-se distribuídos pela sala de forma desorganizada: alguns sentados sozinhos outros em duplas e alguns em trios (estes, que mais conversavam). Enquanto preenchiam, a professora aproveitou para fazer a chamada e poucos alunos faltavam no dia. Após uns cinco minutos, foi iniciada a aula: a professora relembrou o assunto da aula passada sobre Arte Grega e disse que continuariam sobre ela e que hoje seria mais especificamente sobre a Arquitetura Grega. Antes de explicar sobre ela, passaria um resumo no quadro para copiarem. Depois que copiaram o resumo, a discente falou sobre as colunas gregas, como a Dórica e a Jônica, sobre os seus significados e as diferenciou por meio de seus capitéis, mostrando pequenas imagens em seu livro. Como faltava pouco tempo para acabar a aula, pediu para os alunos desenharem estas colunas e que na aula seguinte ela explicaria a coluna Coríntia. Alguns alunos queixaram-se por não terem régua e que seria difícil fazer as colunas. A professora disse para não se preocuparem, que poderiam fazer como conseguissem. Muitos ainda pediram para ficar com o livro da professora para poderem ver melhor, pois não tinham entendido muito bem as formas da coluna Jônica, que representava o feminino. Os estudantes naquele dia pareciam estar com muita preguiça e como já era o final da aula, nem se preocuparam muito em fazer os desenhos, dizendo para a professora que fariam em casa. Ela pareceu não gostar muito, mas deixou, cobrando que na próxima aula queria ver todos os desenhos feitos.


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1.2.6. Sexta Observação silenciosa Data: 26 de maio de 2011.

A aula hoje começou uns sete minutos mais tarde porque a professora de Espanhol pediu um tempinho a mais para os alunos finalizarem uma prova que estavam terminando. Após isso, a professora de artes Almeír entrou na sala e em seguida pediu a atenção dos alunos para explicar a aula do dia. Hoje os alunos veriam um novo assunto: Mosaico. A educadora explicou que o Mosaico era feitos pelos Gregos, mas principalmente pelos Romanos, que utilizavam pedras preciosas, para decorar palácios e templos. Disse que é uma arte milenar e que inclusive atualmente existem alguns exemplos de Mosaico em Igrejas e Calçadas, como a de Ipanema no Rio de Janeiro. Um aluno não compreendeu muito bem o que era Mosaico, como era a sua forma. A docente tentou desenhar então no quadro negro, pequenos quadradinhos coloridos formando uma imagem não figurativa. Como de costume, a professora passou um resumo no quadro para os alunos copiarem. Enquanto copiavam, foi feita a chamada, em que apenas uma aluna faltava no dia. Depois de uns dez minutos, a professora explicou a atividade que fariam: um desenho feito de “quadradinhos” como o Mosaico, que poderia representar o que quisessem. Os estudantes refletiram um pouco e começaram a surgir os primeiros traços. Uma aluna queria desenhar uma estrela e precisava do compasso para isso, mas ninguém o tinha para emprestar a ela. Passei pelos alunos para ver os desenhos e observei que surgiram formas variadas, desde figurativas e estereotipadas até não figurativas, porém, bem elaboradas. Alguns coloriram seus desenhos fazendo contrastes bem interessantes. Enquanto faziam seus desenhos, comentavam sobre a prova de Espanhol, que estava um pouco difícil e faziam comparações entre suas respostas. Faltando em torno de cinco minutos para o recreio, os discentes já começavam a guardar seus materiais e conversavam animadamente.


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1.3. Análise das observações silenciosas Nas observações do ensino médio foi possível constatar aulas muito repetitivas, seguindo sempre a mesma metodologia e gerando assim uma turma “apática”. Não é novidade que os professores de outra área deem aula de Artes e que a imagem da aula de Educação Artística ser uma aula menos importante seja conhecida há tempos. Até mesmo quem é da área com o tempo pode acabar ficando no tradicionalismo, que assim parece ser mais fácil. A professora que eu observei em todas as seis aulas utilizava um mesmo livro em que fazia seu resumo na hora e após passar este pequeno resumo, pedia para os seus alunos fazerem um desenho sobre o conteúdo. E não serão apenas estas seis aulas, segundo a própria professora, durante os trimestres ela utilizará a mesma metodologia para no fim analisar os cadernos dos alunos. Ela inclusive sentiu-se incomodada com as minhas observações e destacou no primeiro dia que eu era professora de Artes e ela não. Um dos motivos talvez para estas atitudes em sala de aula referentes à Educação Artística se resume ao que diz Sandra Richter (1999, p.22), Talvez, o maior preconceito a ser enfrentado na escola diga respeito ao próprio termo arte. Termo tão desgastado nas tradições e rotinas escolares que termina por criar obstáculos à percepção do que acontece ou poderia acontecer se a arte deixasse de ser concebido como revelação, fruto da inspiração ou do gênio criador, justificada por caráter excepcional das obras a partir de um modelo histórico idealizado e descontextualizado de seus modos de produção e recepção em cada grupo escolar.

Aparentemente as aulas de Arte parecem ser vistas como aulas fáceis, onde são realizadas técnicas para a produção de trabalhos para a decoração em geral da própria escola e principalmente, em datas comemorativas. Isto se percebe a partir de depoimentos dos meus próprios colegas da educação, tanto professores, quanto diretores e supervisores. Ficando evidente assim na hora da escolha de quem dará as aulas de Educação Artística da escola, geralmente professores de Português com sobra de carga horária. Entretanto, é fato de que o problema não está só na desvalorização das aulas de Arte e sim, na própria escola.


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A escola, cada vez mais atrelada a padrões tecno-racionais de uma sociedade de consumo, parece feita apenas para a disicplinarização homogeneizadora dos corpos infantis e para a sistematização cristalizadora de ideias e não para a formação de valores sensíveis e ampliação de capacidades de agir no mundo no qual se vive, enquanto recursos operacionais para o complexo devir que é viver. (RICHTER, 1999, p.23)

E é nesse momento em que a escola se encontra desatualizada, com alunos sem vontade de estudar nesta sociedade consumista como explica Richter, é que as aulas de Artes devem entrar como formadoras de valores para os alunos, como facilitadoras e ampliadoras de suas expressões artísticas, de suas sensibilidades e criatividades para uma visão diferenciada de mundo e de comportamentos sociais, preocupando-se não só com aparências e sim com o lado mais humano e solidário. Richter (1999) ainda sugere que a arte tem origem na celebração coletiva, em que surge da reunião de pessoas para dançar, cantar e adorar. “[...] Neste sentido, a arte não é apenas um dos modos de fazer humano, mas um limite exemplar de toda ação criadora, a marca humana do fazer.” (p.24). Um ponto a favor da professora da turma 108 foi o de que ela passou aos seus alunos conteúdos sobre História da Arte, como a Arte Egípcia, a Arte Grega, dando ao menos uma ideia de artes de outros povos e até mesmo fazendo pequenos links com a arquitetura do Brasil, ou pessoas famosas que os alunos conhecem. Porém, estes assuntos eram passados superficialmente, durando no máximo duas aulas. Percebi, pelos conhecimentos limitados dos alunos, que faltava um aprofundamento, uma sequência de aulas, utilizando projetos, pois conforme Martins (1997), projetos são processos contínuos que refletem uma postura fundamentada numa concepção de educação que valoriza a construção do conhecimento e assim facilitaria muito mais a construção do conhecimento dos alunos ou ainda: Transformar o ensinar/aprender arte em projetos, criando situações de aprendizagem através de sequências articuladas continuamente avaliadas e planejadas, e não como atividades isoladas, pode se converter numa postura metodológica eficaz. (MARTINS, 1997, p.72)

Outro ponto que achei monótono e limitado é que sempre ao final dos resumos, os alunos fazem um desenho com lápis, borracha e a mesma folha com


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linhas do caderno, inclusive dentro de um pequeno retângulo, ou seja, limitando o espaço para a criação dos traços e expressão dos alunos. Poderiam ter surgido diferentes técnicas e criações, como por exemplo, na última aula foi passado o assunto “mosaico”, que poderia ter sido proposto um trabalho com recorte e colagem de papéis coloridos, algo muito simples. Outra carência foi a de referências, de imagens. Os alunos recebiam o assunto só através de textos, percebi que na hora de criar os desenhos, necessitavam de algo para observar, para se basearem e tirarem ideias para os seus desenhos. Diante disso, a maioria da turma criava apenas desenhos estereotipados, algo consequente, em função de os estudantes não terem imagens para visualização. A criança precisa descobrir como perceber e acumular, em seu cérebro, imagens da natureza e da arte, e como usá-las criativamente, reconstruindo, selecionando e enfatizando o que lhe parece mais significativo, e então produzir formas com a visão de coisas de sua própria personalidade individual. (FERRAZ apud MUNRO, 1956, p.9)

Eram poucos os alunos que conseguiam fugir dos estereótipos, os outros em geral, conversavam bastante e não pareciam muito interessados em aprender o assunto, ouviam a professora, faziam comentários, mas de forma muito passiva e sem entusiasmo.


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1.4. Análise do questionário respondido pela professora No questionário que fiz com a educadora, suas respostas foram breves, com pouco aprofundamento, sendo que assim, a análise de suas respostas ficou limitada. A primeira pergunta foi sobre o conhecimento da professora ou relação com a arte. Como eu já havia constado nas observações é apenas da leitura de livros da História da Arte. Em minha opinião, um professor que dará aulas de uma disciplina que não é a sua formação, deve pesquisar e aprofundar-se muito além do básico, pois justamente são assuntos que geralmente não são de seu conhecimento que serão tratados em Arte e que são sim, importantes. Além disso, nas belas palavras de Renata Sant’ Anna em seu livro “Saber e ensinar Arte Contemporânea” (2009, P.5), Considerando a importância do ensino da arte no sistema educacional brasileiro, pensamos ser indispensável o trabalho do professor, pois introduzir as crianças no universo das artes significa garantir sua presença na construção de um mundo que reconhece na cultura a fonte de seus valores essenciais.

O aprofundamento de um professor no que ele apresentará em sala de aula deve ser constantemente atualizado, mas sabe-se que a arte, por ser muitas vezes considerada inferior em uma escola, não leva esta importância nos momentos de aprimoramento do docente. Na questão sobre a utilização ou não de Plano de Estudo, ela alega que não o utiliza, pois não é a sua área e que não o faz. Porém, segundo a supervisora da Escola, existe um plano de estudo para todos os professores de Artes seguirem, atualizado neste ano de 2011. Conforme Iavelberg (2003, P.25), O currículo precisa ser concebido como um projeto em permanente transformação, no qual a visão de educação e o papel da escola são constantemente reorientados, segundo os avanços teóricos e práticos dos temas e das questões a ele conectados.

Outro ponto importante nas aulas de Arte que são a utilização de imagens para referência aos alunos, a docente responde que não utiliza imagens em aula, mesmo que a escola disponha de material em vídeo. Seu método de avaliação é a participação em aula e as expressões através dos desenhos, pois para ela, “a arte é expressão de pensamentos e


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sentimentos”. Acredito que da forma como o faz, os alunos não tenham muita liberdade pra expressão de sentimentos e pensamentos, já que na maioria das aulas fazem o mesmo tipo de desenho dentro de um retângulo. Segundo Martins (1997), esta expressão de pensamentos dos alunos deve ser desafiada e construída com intervenções do professor e que a ampliação do pensar artístico seja instigada. Recordo-me quando a educadora passava observando o trabalho dos alunos apenas assentia com a cabeça, não questionando ou intervindo na produção do educando. Martins (1997) mostra que há muitas possibilidades de intervenções como a simples mudança do espaço físico, o uso de diferentes suportes ou a mudança da postura corporal. Em algumas situações, o desempenho da professora mostra-se positivo quando ela responde que algumas vezes levou seus alunos para exposições de artes e que já realizou trabalhos interdisciplinares. Conforme Iavelberg (2003), essa função de acesso às instituições culturais e museus garante um futuro melhor de acesso à cultura pra todos e o papel da arte na vida dos indivíduos e na sociedade. Além disso, a autora continua que “fazer a mediação entre o público e a obra é ensinar arte, apresentar objetos artísticos e também educar com arte”. Quando questiono quais são os conteúdos trabalhados que os alunos mais se interessam, a resposta que surge são os assuntos mais atuais, como “Arte Moderna”, “Grafite” e “Música”. Ou seja, temas que fazem parte do cotidiano dos alunos e que por sua vez, geram um maior interesse. Porém, creio que quando estes assuntos são apresentados na sala de aula, não há muito suporte teórico da docente, em função dela mesma responder que seu conhecimento na área é apenas de livros de História da Arte. Concluindo a análise do questionário da professora, percebo que de uma maneira geral, não é fácil lecionar uma disciplina que não é da sua formação, somando fatores como a situação atual dos professores estaduais, mal remunerados e à expectativa dos alunos, que possuem pouca bagagem e conhecimento estético cultural, levando assim às aulas monótonas e repetitivas.


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1.5. Análise do questionário respondido pelos alunos No dia em foi aplicado o questionário com os alunos do Ensino Médio, mais da metade da turma respondeu rapidamente, por meio de respostas curtas e na maioria, monossilábicas. Os estudantes que se deteram pouco mais para responder, apresentaram respostas satisfatórias, facilitando assim a análise dos pensamentos e visões destes jovens sobre a arte. Os dezenove alunos têm idades entre quatorze e dezoito anos, sendo treze rapazes e seis moças. Uma das primeiras perguntas era se a arte teria alguma importância futura para a vida deles ou alguma ligação com a música, teatro ou a dança. Quatorze alunos, ou seja, muito mais da metade respondeu que não. Destas, duas ainda acrescentaram que a arte não tem importância alguma. Por outro lado, cinco alunos responderam que sim, associando à dança. A partir das duas repostas que falam que a arte não tem importância, acredito que uma das primeiras coisas a fazer-se no Estágio, é mostrar para estes jovens a verdadeira importância que a arte tem hoje, tanto na escola, quanto na vida. A importância e a riqueza da arte vêm exatamente da sua capacidade de reunir todas as dimensões humanas - a emotiva, a racional, a mística, a corporal. O tipo de experiência que a arte é capaz de proporcionar é único, e não pode ser substituído por nenhuma outra área do conhecimento humano. Isso significa que sem a arte nosso entendimento do mundo e também de nós mesmos fica, empobrecido. Conhecer e entender a arte produzida pelo grupo cultural a que pertencemos é fundamental na construção da nossa identidade. Por outro lado, o contato com a arte de outras culturas dá oportunidade de perceber o que temos de singular, e também amplia nossa visão do mundo (PEDRALVA, 2007, www.anasra.blogspot.com).

Quando a pergunta foi sobre o que se lembravam das aulas de arte, grande parte respondeu que gostava e lembrava-se do desenho, dos efeitos que se pode dar ao desenho como luz e sombra. Visto isso, o desenho para esta turma, deve ter um significado diferenciado pela aceitação que já apresenta. A assimilação parcial de teorias sobre a aquisição do desenho é comum: portanto, cabe aos educadores lutar pela não deformação de conceitos sobre arte em seu ensino, pois é fundamental que se possa aprender de forma atualizada, ou seja, em correspondência com o pensamento sobre desenho, com fontes na história da linguagem, chegando aos modos mais contemporâneos de sua conceitualização em nossa época, considerando a variedade dessas manifestações nas culturas (IAVELBERG, 2003, p. 85).


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Outros educandos disseram que se recordavam da arte renascentista, da arte do Egito e sobre a história de artistas famosos. Quanto aos materiais que gostariam de utilizar, a resposta da grande maioria foi a tinta, além de quererem conhecer assuntos novos, como Grafite e Mangá. Igualmente, o que recordam, são os assuntos da arte anterior ao século XX, evidenciando um mínimo conhecimento da Arte Moderna e Contemporânea. Seus contatos com exposições de arte e museus é bastante limitado, a maior parte apenas conhece o Museu da PUC e apenas dois alunos conhecem o MARGS (Museu de Arte do Rio Grande do Sul). Porém, onde mais percebem a arte no seu dia-a-dia, é nos muros grafitados da cidade. O grafite para esta turma aparece como um assunto constante, pois veem no seu cotidiano e muitos respondem que gostariam de aprender mais sobre o tema. Sant’ Anna (2009) fala sobre os “museus à céu aberto”, de que desde os tempos mais remotos os artistas locais utilizam este espaço como inspiração para suas produções artísticas. Respondendo à outra questão sobre sua produção individual, muitos sustentam que se inspiram da própria imaginação pra criar seus trabalhos. Conforme Iavelberg (2003, p.96), “a observação é importante e inegável da cultura e da interação com desenhos de outros na edificação dessa linguagem e a influência dos contextos socioculturais e educativos”. Nas avaliações, quase todos concordaram em dizer que o mais importante a ser avaliado é o envolvimento e o processo do educando nas atividades artísticas. Somente um aluno achou que o resultado final dos trabalhos é o mais importante. O conhecimento de artistas é bem básico, como Leonardo da Vinci e Pablo Picasso. De forma ampla, as respostas dos discentes para as perguntas relacionadas à estética e seus relacionamentos com suas próprias imagens, foram superficiais, parecendo demonstrar que imagem para eles não é importante e que o que vale é a aparência interior. Quando li estas respostas, pensei em desistir do assunto, da Arte e Estética, pois aparentemente não era uma questão problemática para estes alunos do primeiro ano. Porém em conversa posterior com a professora titular, ficou aparente que nas respostas, não queriam demonstrar insegurança quanto à sua aparência, e ficou assim decidido que seria um bom assunto.


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CAPÍTULO 2. AS FORMAS DA BELEZA: TRÊS MOMENTOS NA HISTÓRIA DA ARTE


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2.1. Noções de belo Questões que envolvem a razão e a emoção são e sempre foram uma incógnita para as pessoas. Uma delas, que perturba muito as pessoas, é a questão da autoimagem: até que ponto devemos chegar para ficarmos satisfeitos com a nossa aparência ou para “agradar os outros”? Esta questão vem atingindo principalmente os jovens, alvo principal da mídia em função de estarem em um período de formação de caráter, de identidade e em constante busca e definição de si mesmos. A questão da razão, da emoção, da beleza e da arte pode ser vista através de Kant, um dos maiores filósofos que pensou sobre o conceito de Estética (julgamento e percepção do que é belo e feio). No livro “A História da Feiura” de Humberto Eco, este escritor cita Kant ao desenvolver a relação entre beleza, arte, razão e emoção na época renascentista:

A beleza até então era algo que a razão não poderia compreender, a arte era quem transpunha o incognoscível absoluto e pelos símbolos trazia o ideal para o real. O que tornava a arte apreciável até então era o prazer do deleite com o belo, a influência moral que exercia sobre natureza humana (KANT apud ECO, p. 19, 2007).

Isto mostra que há grande ligação entre os elementos da razão, da emoção, da beleza e da arte. Sendo que a arte era utilizada no renascimento para mostrar para as pessoas o belo idealizado trazido para a realidade. A associação da arte com a beleza era o principal ponto de ligação. E, até hoje, a maioria das pessoas procura encontrar em uma pintura ou escultura algo agradável e bonito para apreciar. Mas antes de ver a questão da beleza representada na arte, presumo que é importante observar alguns pontos referentes ao modo estético como eram vistas as pessoas em alguns períodos da história. Um grande autor que se aprofunda nas questões do belo e do feio ao longo dos tempos é Umberto Eco. Em entrevista concedida a um repórter de um programa de televisão, Eco fala que existem pontos de vista diferentes com relação a estas concepções de estética: uma, que as “bruxas” de antigamente foram provavelmente consideradas feias já por não terem feições tão perfeitas, mas principalmente por suas maldades serem associadas a isto. Seguindo com Eco, mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial, os judeus, povo massacrado pelo nazismo, acabou sendo associado à


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feiura pela população em geral, porque eram inimigos dos alemães e precisavam ser repugnados pelas pessoas justamente por serem adversários. Desta forma, mesmo que os judeus possuíssem uma aparência agradável, seriam vistos com outros olhos pelos nazistas.

Figura 1: “charge antissemita”, 2010. (Fonte: http://veradextra.blogspot.com)

Na charge acima está representada a figura de um judeu da forma que geralmente são representados nas charges: feios, com nariz grande, barbudos e de óculos. Além disso, conforme indica Henitags (2010), os judeus frequentemente são associados à figura de um polvo como forma de conspiração judaica global em que estendem seus tentáculos ao redor do mundo para tentar controlá-lo. Também é possível observar que o judeu segura um machado e uma arma de fogo simbolizando a maldade que geralmente associam as pessoas a este povo. Desta forma, a imagem exterior das pessoas foi interpretada e associada à feiura por fatores morais e de comportamento, como as bruxas citadas por Eco (2007) que faziam maldades, e que assim determinaram o modo como eram vistas pela sociedade. Quanto a esta questão moral, o autor Quadros cita em seu livro Estética da vida, da natureza e da arte, o filósofo Sócrates. Segundo este, o que importava era a beleza interior das pessoas, a moral: “Alguém pode até ter um corpo privilegiado, mas que mesmo assim será feio se alimentar dentro de si maus


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sentimentos e mau caráter” (QUADROS, 1981, p.23). Para a questão da beleza interior, pode-se levar em consideração alguns ditos populares como: “Depois dos quarenta, cada um tem a cara que quiser”, ou “Nós somos a nossa própria terra: nossa tarefa é a de ará-la”. (QUADROS, 1986, p.25). Com isso, o autor enfatiza a questão de que as pessoas devem ter bom comportamento e alimentar bons sentimentos dentro de si, pois desta forma serão considerados bonitos. Acredito que hoje em dia esta questão da beleza interior não é levada muito em consideração em função de a mídia apresentar, por exemplo, em novelas e filmes, vilões com certo charme e beleza sem associar a beleza com a bondade. Se por um lado os autores anteriormente citados com suas percepções de beleza e feiura associadas ao interior das pessoas, ou seja, a razão e a emoção que influenciam na beleza atribuída às pessoas, houve outro filósofo que considerou o contrário. Este, afirma ter encontrado uma “solução” para o “problema” da beleza física: Policleto fez um estudo da anatomia humana e de suas proporções, determinando em padrões aritméticos a beleza física que deixou por escrito em um cânone. Assim estaria solucionando o “problema da beleza” como uma simples questão matemática (QUADROS, 1981, p.21). E desta forma, estaria dizendo que as pessoas que não correspondessem a estes padrões não seriam consideradas belas. Isto me faz pensar que Policleto mostra exatamente o oposto de Quadros, que a questão da beleza resume-se apenas em padrões e medidas corporais, não importando o caráter da pessoa. Quadros também apresenta uma interessante lista de autores e de seus conceitos referentes ao belo: para Platão, o belo é o esplendor do verdadeiro, para Aristóteles, o belo está no acordo da ordem com a grandeza, já para Kant, o belo é o que agrada universalmente sem conceito. Voltaire, com muito sarcasmo e pessimismo, dizia que o belo, para o sapo macho, é a sapa fêmea e, segundo Victor Hugo, o belo é a forma, prova estranha e inesperada de que a forma é o fundo. Já por uma visão religiosa, “o belo, separado de Deus, é o Satan”, segundo Lamenais. O conceito de cada autor, em diferentes épocas, nos mostra que a concepção de belo muda ao longo dos tempos e corresponde a visões diferentes para cada pessoa. Na arte, a concepção de beleza muda, pois, segundo Eco, “qualquer forma de feiura pode ser redimida por uma representação artística fiel e eficaz” (2007, p. 20). Este autor apresenta ainda três fenômenos: o feio em si, o feio formal


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(bem pintado) e a representação artística de ambos. Pois, geralmente associamos a arte com a beleza, sendo a arte algo prazeroso de se contemplar, assim como algo belo. Entretanto, há obras bem pintadas, porém com uma temática não muito agradável. Exemplo disso é a obra “Os Retirantes” do artista brasileiro Candido Portinari. Esta obra pode ser bela porque possui qualidades nas questões formais da arte, porém, as sujeitos nela apresentados não são considerados belos. Desta forma, na temática da obra há a representação de algo não agradável para a sociedade: pessoas na miséria e com uma aparência não saudável. Neste caso, mesmo que o artista conseguiu representar um realismo semelhante, esta realidade apresenta um desconforto para quem a vê, pois expõe um fato cruel para a sociedade brasileira, a seca, a pobreza e a miséria.

Figura 3: Portinari, 1944. (Fonte: www.artefemerides.com)

Com 23 anos, Candido Portinari já começa a ser reconhecido no cenário das artes com algumas premiações e conforme Manuel Bandeira que acompanhava desde cedo os trabalhos do jovem artista, “a sua técnica é larga e incisiva. Apanha bem a semelhança e o caráter dos modelos” (BANDEIRA apud FABRIS, p.06). Por meio desta fala pode-se notar que Portinari consegue retratar com bastante semelhança o que observa, sendo bom retratista. Incluindo nestes retratos o interior das pessoas, no caso, o sofrimento dos retirantes. Na citação seguinte há a descrição da pintura “Os Retirantes” de Portinari.


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Um grupo de retirantes não é simplesmente um conjunto de figuras morenas ou negras, com tais ou quais traços fisionômicos, imersas nesta ou naquela luz. É algo mais do que isso: é a miséria, a angústia, uma infinidade de sentimentos, de fatos impalpáveis, mas que o pintor tem que transformar em cores, em ritmos. É a outra realidade, a realidade vista pelo olho do espírito como diriam os hindus. A capacidade de ver essa realidade através dos fenômenos, de constatar a essência sob as aparências, é que tem feito Portinari o pintor moderno mesmo quando pinta os retratos cem por cento parecidos (MARTINS apud FABRIS, 1990 p. 21).

Desta forma percebe-se que Portinari não retrata simplesmente as pessoas a partir do que vê exteriormente, mas que consegue, por meio dos efeitos das suas pinturas, produzir uma história, um passado de sofrimentos e de angústias por quais passaram estas pessoas. Seu traço deformado e as cores acinzentadas contribuem para a ideia do caráter social que possui a obra. No caso desta pintura, pode-se afirmar que segundo as classificações de Eco, trata-se de algo não belo, porém “bem pintado formalmente”.

2.2. Mídia e atravessamentos A cultura ocidental é marcada há tempos, principalmente a partir do século XX, pela questão da aparência externa e de suas formas para conseguir ter e manter uma boa aparência física. Grande parte disto surge com a mídia, os avanços tecnológicos e o consumismo. Algumas dicas que aparecem na televisão, em jornais e revistas, são apresentadas ao modo de se cultivar uma boa saúde, com a prática de uma alimentação saudável e da prática de exercícios físicos. Porém, por vezes, surgem outros meios mais profundos para se conseguir um corpo desejável: a cirurgia plástica.

Entendida como consumo cultural, a prática do culto ao corpo coloca-se hoje como preocupação geral, que perpassa todas as classes sociais e faixas etárias, apoiada num discurso que ora lança mão da questão estética, ora da preocupação com a saúde (CAMARGO, www.brasilescola.com).

Sabemos que o nosso povo, a nossa cultura, geralmente é associada pelos estrangeiros ao carnaval, juntamente com o futebol, as festas, o sexo e as drogas. O povo brasileiro é também reconhecido pela sua beleza, sendo o segundo país onde mais são realizadas cirurgias plásticas. Porém, as mulheres brasileiras


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são também consideradas as segundas no ranking com problemas de insatisfação física, perdendo apenas para as japonesas (PALAZZO, 2003). E esta prática da cirurgia plástica se torna cada vez mais comum, fazendo com que muitas pessoas percam sua identidade, transformando-se em uma massa homogênea, seres iguais exteriormente e que por isso, tornam-se igualmente vazias por dentro. Os jovens, que estão em uma fase de busca de identidade, são facilmente influenciados por aquilo que parece ser mais atrativo para eles. Os meios de comunicação, aproveitando-se desta situação, tentam manipular as pessoas desde a infância para consumirem produtos que “beneficiem” a sua imagem. Esta que, na maioria das vezes, é algo importante para ser aceito no mundo, principalmente no mercado de trabalho. E este consumo e busca desenfreada pela imagem perfeita vem gerando fortes consequências atualmente, desde paranoias, até doenças mais graves. Nos casos mais graves, a obsessão do corpo destrói a vida social, profissional ou escolar dos sujeitos. Convencidos da sua feiura, eles se escondem num leque que vai desde se recusar a tirar a camisa até se trancar em casa. Abandonam estudos e carreiras para passar o tempo treinado. Sacrificam casamentos e relações amorosas. Não são raras as tentativas de suicídio (CALLIGARIS apud VITELLI, 2001, p.1).

Por meio desta citação é possível perceber as situações de gravidade que muitos jovens podem chegar devido à insatisfação física. Acredito que um dos maiores fatores que contribuem para esta situação sejam a mídia e a imposição por meio dela dos padrões de beleza E não é só na adolescência que a beleza e os padrões estéticos são impostos, na própria infância ela já aparece. Sendo que para as meninas, há mais de meio século, a Barbie, boneca loira de olhos claros, alta e magra, é a preferência e a idealização de beleza de meninas e até de mulheres. A boneca demonstra encanto e fascínio sobre o público alvo, com uma beleza perfeita e encantadora, fazendo com que muitas meninas queiram ser a “Barbie”.


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Imagem 4: “Barbie”, 2011. (Fonte: http://blogger-diovana.blogspot.com)

Apresentando este assunto de idolatria e idealização através da boneca, o pintor norte americano Mark Ryden mostra de forma muito interessante e até cômica esta situação em que chegam muitas meninas. O artista é influenciado pelo surrealismo e em suas obras estão contidas muitas referências aos simbolismos e fanatismos. Na imagem a seguir é possível observar-se a idolatria da boneca Barbie, como símbolo de admiração e de adoração pela beleza que possui a boneca. Nesta obra, chamada “Saint Barbie”, a boneca é envolta por uma luz “áurea” de “santa”, tornando-se um ícone de beleza suprema.


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Imagem 5: Ryden, 1994. (Fonte: www.markryden.com)

A partir desta imagem, nota-se que desde a infância há uma grande pressão nas crianças à questão da aparência física. Desde cedo, meninas possuem como exemplo de beleza seus próprios brinquedos. Estes as acompanham diariamente, servindo como meio de descobertas e aprendizagens do mundo que as rodeia. Isso mostra a grande influência que um padrão de beleza pode exercer sobre as pessoas, começando no início de suas vidas. Além dos brinquedos, os desenhos animados são também grandes influenciadores do universo infantil. Pois, igualmente apresentam padrões de beleza, como lindas princesas que são felizes com seus belos príncipes encantados, mostrando para as crianças, que quem não tiver a beleza, não serão felizes com seu príncipe ou princesa. Os contos de fadas como “A Bela e a Fera”, ou “A princesa e o sapo”, sintetizam a relação entre beleza, amor e felicidade apenas após em que o encanto é quebrado e a criatura masculina que antes era horripilante, transforma-se


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em uma bela pessoa pronta para o final feliz com a sua bela princesa. Desta forma, há a concepção de que a felicidade somente será possível se houver a beleza.

Imagem 6: “A princesa e o sapo”, 2011. (Fonte: blogdassolteiras. wordpress.com)

No caso do clássico “A princesa e o sapo”, o casal somente poderá ser feliz após a encantadora princesa beijar o grotesco sapo. Assim ele se tornará um belo príncipe para então se casarem e viverem felizes para sempre. Visto por outro ângulo, a beleza se mostra necessária e não apenas como desculpa da mídia, no documentário “A sobrevivência do mais belo” (1999). Neste, ter beleza e buscá-la é apresentado como algo que faz parte do biológico humano, uma espécie de instinto para a reprodução, sendo que ela sempre foi almejada ao longo dos tempos por diferentes culturas. Um ponto interessante segundo este vídeo é a ideia de que a beleza é usada para a própria proteção e sobrevivência do ser humano. Exemplo disto são os bebês que possuem olhos grandes, mãos e pés pequenos, para que assim pareçam mais bonitos. Com isso, o documentário apresenta que os bebês irão fascinar ainda mais seus pais. Assim, estes poderão cuidar ainda mais de seus filhos. Porém, também é apresentado no vídeo que bebês menos bonitos são menos cuidados. Além disso, um bebê já possui desde o início a capacidade de identificar pessoas mais bonitas se comparadas com outras menos belas, sendo isto demonstrado através de uma pesquisa.


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Acredito que isso demonstre a busca pela beleza de muitas pessoas, principalmente a de mulheres. Visto que elas geralmente são as escolhidas pelos homens pela sua aparência, uma vez que sua função mais simples e primitiva seja a reprodução.

2.3. Três momentos da beleza na arte Representar a beleza na arte teve diferentes aspectos, visões e ideias ao longo dos tempos. Cada olhar e representação de uma época da história da arte surge em meio aos contextos históricos de cada período, geralmente relacionados aos avanços tecnológicos e às grandes Guerras. Na história da arte, conforme olhar e interpretação própria, decidi selecionar em três grandes a maneira como a arte e os artistas tratam a beleza nas obras, mudando completamente o seu sentido em tempos distintos. Achei interessante fazer esta divisão, pois contempla de forma mais abrangente a história da arte e a maneira como é retratada a beleza. Esta beleza geralmente pode ser identificada na forma como estão representadas as figuras humanas. Além disso, percebo que muitas pessoas ainda esperam contemplar a beleza nas obras de arte, sendo isto de certa forma uma visão de uma arte que hoje já não é mais assim. A partir disto, surge a crítica e o pensamento contra a arte moderna e a contemporânea, visto que muitos indivíduos alegam que também saberiam fazer aquele tipo de arte, por exemplo, “rabiscar” uma tela. Visto isso, há uma desvalorização da arte que não representa os padrões acadêmicos de beleza. De início, considero importante o modo como era vista a beleza na época renascentista, período que compreende a Europa de 1330 a 1530, que segundo Roehrs (2007), marca uma renovação cultural e artística. No renascimento artístico, a beleza e a arte estavam intimamente ligadas, em que as obras de arte produzidas eram essencialmente belas para contemplação e admiração pelas pessoas. Tudo se deve à volta dos ideais clássicos da época greco-romana, pois a beleza estava na harmonia e proporção dos corpos, juntamente com sua simetria. Os modelos de beleza para os gregos eram ideais formados a partir de medidas proporcionais. A partir destas ideias, o artista italiano Leonardo Da Vinci (1452-1519), pioneiro na dissecação de cadáveres, desenvolveu grandes estudos dos detalhes do corpo


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humano. Uma de suas grandes obras é o homem vitruviano que apresenta o homem em medidas exatas e simetria perfeita.

Figura 7: Da Vinci, 1492. (Fonte: www.infoescola.com)

Conforme Rebouças (2009), na imagem do desenho acima, as posições dos braços e pernas expressam quatro posturas diferenciadas inscritas em círculo, sendo o centro da figura o umbigo e como inserção do conceito clássico e divino de beleza. Isto se deve ao fato de que Leonardo da Vinci aprendeu com seus mestres a utilização de cálculos matemáticos nas obras, em que estes cálculos representavam a harmonia das formas e da natureza, conforme a estética renascentista. Segundo Poincaré, “a harmonia das diversas partes, a sua simetria, seu feliz equilíbrio, é, tudo que dá unidade e nos permite ver claro o conjunto e ao mesmo tempo os detalhes” (POINCARÉ apud GUIDO, p. 65, 1969). Além disso, na época renascentista, começam a surgir os nus, antes proibidos pela Igreja no período medieval. Visto isso, a nudez representada geralmente seguia aos padrões de beleza da época. Muitos artistas também representavam os deuses mitológicos, visto que para a cultura grega, conforme indica Eco (2007), a arte via nos deuses o modelo da beleza suprema. Na obra “O


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nascimento de Vênus" de Sandro Botticelli, há a exaltação da beleza clássica da deusa Vênus, deusa do amor e da beleza.

Imagem 8: Botticelli, 1470. (Fonte: infoescola.com)

Nesta pintura não há uma representação da realidade e sim de figuras idealizadas como são os deuses mitológicos. Neste caso o artista até poderia utilizar modelos, porém insere um padrão de beleza clássica conforme a arte do renascimento. Mais tarde, no início do século XX, mais precisamente no período entre guerras, as vanguardas modernistas acabam com a relação entre beleza e arte não as representando mais nas obras de arte. Diante disto, há uma mudança drástica na concepção renascentista de beleza e arte, para a visão das vanguardas modernistas. O autor Max Ernst (ERNS apud BARBOSA, 2008) comentou que os dadaístas consideravam a beleza amarga porque estavam amargos com a sociedade que venerava a beleza. E, segundo a autora Ana Mae Barbosa (2008), a “Arte transformou-se em um meio de mostrar a feiura moral da sociedade que os havia posto a atravessar o inferno”. Além da influência das guerras e dos avanços industriais, a arte nesta época procura novas definições por não ter mais a necessidade de representar o realismo acadêmico. Isto em função de a fotografia fazer isto perfeitamente e com


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maior rapidez. A partir disto, os artistas estudam as questões formais da pintura, da escultura e novas formas de representação da arte surgem, fazendo com que o realismo acadêmico não se torne mais visível em uma obra de arte. Desta forma, as reações do espectador se tornam as mais diversas e sem relação com a admiração e prazer do belo, como antes na arte acadêmica e renascentista. Nas obras do artista George Grosz, o pintor alemão apresenta um mundo feio, doente e mentiroso, conforme suas próprias palavras. Grosz era de influências expressionistas e dadaístas, sendo contra o materialismo. Retratava em suas obras principalmente a sífilis, o alcoolismo e as drogas, conforme a imagem a seguir.

Imagem 9: Grosz, 1916. (Fonte: http://leoneracircense.blogspot.com)

Nesta obra chamada de “Suicídio”, o artista alemão exprime a crítica social e o drama psicológico que são características do Expressionismo e do Dadaísmo. Por meio da deformação de seu traço e das cores fortes e contrastantes, há a exaltação dos sentimentos de sofrimento e de dor. Caracterizando principalmente a arte dos artistas dadaístas e dos expressionistas, estão as figuras humanas deformadas, geralmente com membros desproporcionais em relação ao resto do corpo. Além disso, aparecem com uma


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aparência nem um pouco relacionada à beleza “padrão” das pessoas. Conforme Argan (1992, p.240), A deformação expressionista não é a caricatura da realidade: é a beleza que, passando da dimensão do ideal para a dimensão do real, inverte seu próprio significado, torna-se fealdade, mas sempre conservando seu cunho de eleição. [...] o feio não é senão o belo decaído e degradado e a condição humana para os expressionistas alemães é precisamente a do anjo decaído.

A representação artística destes artistas é conforme a visão que começam a ter da sociedade devido aos acontecimentos ligados à 1 a e 2a Guerra Mundial. Há também a industrialização que torna a representação artística perversa e feia. Desta forma, as figuras humanas começam a surgir desfiguradas a partir dos próprios sentimentos dos expressionistas. Sendo que uma de suas principais características é: “Deforma-se a figura para ressaltar o sentimento” (ARGAN, 1992, p. 241). Na pintura expressionista, os artistas utilizam geralmente cores ligadas à escuridão e com pouco brilho e luz. Os contornos nem sempre são nítidos e as pinceladas são muitas vezes visíveis e completamente diferentes das características da pintura renascentista. Outro artista que apresenta muitas destas características é o gaúcho Iberê Camargo. Apesar de não ser do período expressionista, este artista foi considerado por muitos críticos como sendo neoexpressionista, por possuir muitas características deste estilo. Porém o próprio Iberê dizia que não se enquadrava em estilos artísticos. Entretanto, ele dizia que a sua arte nascia da dor e do sofrimento e que toda grande arte provém destas características. Em suas obras, as pinceladas são visíveis com grossas camadas de tinta e com o uso de cores escuras. Segundo Iberê, Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida que é minha vida, a tua vida, é nossa vida, nesse caminhar pelo mundo. Sou impiedoso e crítico com minha obra. Não há espaço para alegria. Acho que toda grande obra tem raízes no sofrimento. A minha nasce da dor (CAMARGO,1998, p.8).

Conforme a imagem a seguir, é possível associar as características formais desta obra às das obras expressionistas, como cores escuras e pinceladas visíveis com grossas camadas de tinta. A própria temática também representa algo não belo.


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Figura 10: Camargo, 1992. (Fonte: deliriosacusticos. blogspot.com)

A imagem acima é da obra que faz parte da série “Tudo te é falso e inútil”. Por meio das pinceladas tortas e das cores escuras que Iberê utilizou, observa-se a imagem de uma figura humana distorcida e desproporcional. Creio que o uso das cores escuras e acinzentadas relacione-se com a dor e o sofrimento que influenciavam na produção artística do artista, conforme suas próprias palavras. Por meio destas características, as obras de Iberê Camargo assemelham-se às dos expressionistas, ambas sem a preocupação em retratar o belo. Por fim, na transição da arte moderna para a arte contemporânea, a partir de 1950, a Pop Art mostra como os meios de consumo e as mídias influenciam na vida das pessoas, numa cultura de massa, voltada para o consumismo e para a boa aparência, o que continua até os dias de hoje. Conforme indica Fabris (1996, p.96), “Após a Segunda Guerra Mundial secam as glândulas lacrimais do mundo”. Acredito que com esta frase a autora queira dizer que os novos artistas da Pop Art iniciam um processo de desumanização em que as pessoas aparentemente não se impressionam mais com os “terríveis” acontecimentos do mundo como as Grandes Guerras Mundiais.


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Diferente de como eram a maioria dos artistas do período moderno, que representavam toda dor e sofrimento que a sociedade passava com os acontecimentos históricos, a partir dos anos 50, não há mais esta preocupação na arte. Artistas com Warhol e Dubuffet começam a mostrar em suas obras uma nova estética com traços e cores totalmente opostos aos dos expressionistas: não há mais deformação e cores representando dor e sofrimento e sim traços precisos, mecanizados e cores vivas e chamativas como as vistas na publicidade. Desta forma, a Pop Arte surge como a “antiarte” do expressionismo (Fabris, 1996). Os artistas possuíam o intuito de aproximar a arte da vida, numa comunicação com o público por meio dos novos meios de consumo. As novas mídias, como o cinema, a televisão e a propaganda, acabam influenciando as pessoas na maneira de se vestirem e até de consumirem, surgindo assim novos padrões voltados para a própria imagem da beleza.

[...] foi o cinema de Hollywood que ajudou a criar novos padrões de aparência e beleza, difundindo novos valores da cultura de consumo e projetando imagens de estilos de vida glamorosos para o mundo (CAMARGO, www.brasilescola.com).

O artista Richard Hamilton retrata em uma de suas obras o interior de uma casa, apresentando os novos estilos e maneiras das famílias se portarem com os objetos que decoram a casa e que as pessoas começam a consumir. Hamilton realizou uma colagem utilizando imagens de anúncios de propagandas de jornais e de revistas. Desta forma, uniu a arte à cultura popular, na forma de aproximar os novos costumes das pessoas às novas formas de representação artística. Tudo isto ajuda a quebrar as barreiras da arte erudita com a popular.


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Imagem 11: Hamilton, 1956. (Fonte: tecnoartnews.com)

Na imagem da obra acima intitulada “O que é que torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?” é possível notar corpos definidos. Como o homem musculoso e a mulher exibindo seus belos seios. A partir disto, nesta colagem, há a exibição do que seriam os novos padrões de beleza física: corpos esculturais combinando com o belo ambiente de uma casa decorada com os produtos expostos nas propagandas. Há também na imagem os quadros representando a influência do cinema de Hollywood, outro meio que representava padrões de beleza por meio da imagem de artistas. Além das obras de arte serem feitas com cores vivas e contrastantes, muitas vezes sofriam influências das Histórias em Quadrinhos, como os contornos nítidos que fazia o artista Roy Liechtenstein. Além disso, estas histórias em quadrinhos também influenciavam os jovens da época. Tudo isto era utilizado com materiais que faziam parte deste novo consumismo, como os plásticos e os materiais descartáveis. Na próxima imagem há a representação de contornos nítidos e cores contrastantes que utilizava Liechtenstein. Uma nova maneira estética de representar as obras de arte, sem contornos irregulares e figuras deformadas como na estética expressionista.


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Imagem 12: Liechtenstein, 1964. (Fonte: portaldarte.com. br)

Creio que com a visualização destas imagens, os jovens possam identificar-se com muitas delas, visto que esta cultura de massa continua nos dias de hoje. As propagandas e as mídias ainda possuem forte influência nos costumes das pessoas, sendo que a concepção de beleza é associada aos ícones televisivos e que muitas vezes servem de modelos para as propagandas de produtos. A beleza relaciona-se com o consumo e está representada na arte com a Pop Art. Portanto, os jovens, que estão em constante mudança e adaptação do corpo, necessitam estar satisfeitos consigo mesmos, além de terem uma autoimagem que os faça sentirem-se seguros para também serem aceitos e inseridos em determinados grupos e contextos sociais. Diante disso, a mídia e a propaganda muitas vezes se apresentam como meios que exerçam influência e oferecem produtos e serviços para propiciar uma melhor aparência. Muitas vezes estes produtos e serviços são apresentados por pessoas bonitas e famosas. Além disto, geralmente estão dentro de padrões pré-estabelecidos de beleza, estimulando os jovens a sentirem-se atraídos por estas propagandas. Muitas vezes quando não conseguem atingir o ideal de beleza, os adolescentes acabam se frustrando e então começam a surgir com o tempo


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problemas mais sérios. Deste modo, creio que comentar, refletir e dialogar sobre os padrões de beleza e a influência da mídia possa auxiliar os jovens na definição do que é realmente importante para a sua autoimagem. Conforme Wolf,

O modelo de corpo ideal, tanto feminino quanto masculino sempre esteve presente em todas as sociedades, veiculado outrora através da arte, hoje isso ocorre principalmente através de meios de comunicação de massa. Há uma normatização da beleza e são estabelecidos os limites do normal, do aceitável e do estético. (WOLF apud CARAMASHI, 2006. www.scileo.br).

Esta relação da beleza com a arte pode também ser vista no período da Pop Art em que o principal tema abordado são os produtos de consumo, a mídia e a representação de pessoas famosas como nas obras de Andy Warhol.

Figura 13: Warhol, 1964. (Fonte: ocaiw.com)

A imagem anterior representa os ícones do cinema que influenciavam nos padrões de beleza da época, como a artista Marilyn Monroe. Esta que também se tornou clássica nas mãos de Warhol por meio da serigrafia. Nos dias de hoje,


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também é possível notar esta influência de ícones da mídia na vida das pessoas, conforme foi comentado no início da pesquisa. Seguindo assim, por meio da Por Art, estará sendo relacionado o assunto da beleza e uma de suas problemáticas com um movimento artístico muito importante na história da arte, visto que, segundo historiadores, ele inicia a era da arte contemporânea. Paralelo a isto, outros períodos da história da arte mostram como a noção de belo é vista e representada sobre outras formas devido aos contextos históricos e creio que o estudo destes auxiliará os jovens na compreensão e reflexão do tema associado à arte.


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CAPÍTULO 3. PROJETO DE ENSINO “FORMAS DA BELEZA”


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3.1. Dados gerais da escola e da turma O Projeto “Formas da Beleza” foi desenvolvido durante praticamente três meses, entre agosto e novembro de 2011 com a turma de Ensino Médio, 108. Este Projeto ocorreu na Escola Estadual Gomes Jardim, localizada na Av. Santos Ferreira em Canoas. Os encontros foram realizados no turno da tarde, em que variavam de uma ou duas aulas por encontro. Ao todo foram 13 aulas de cinquenta minutos cada e 10 encontros que geralmente ocorriam após o recreio da turma. A turma era composta por 24 alunos que tinham entre 14 e 17 anos. A professora titular era da disciplina de português e literatura.

3.2. Dados gerais do projeto de ensino 3.2.1. Tema

O Tema relaciona-se com beleza e concepções estéticas na arte. Durante a execução da Prática de Ensino, o Tema do Projeto de Ensino se direcionou primeiramente aos três momentos na história da arte, conforme o Tema de Pesquisa “As Formas da Beleza: Três momentos na História da Arte”. Estes Momentos são o Renascimento, o Expressionismo e a Pop Art, em obras de três artistas representando estes distintos momentos foram contempladas. Artistas como Leonardo da Vinci, George Grosz e Andy Warhol. Cada uma dessas obras possui características que a distinguem esteticamente, conforme o contexto histórico em que são inseridas. Cada um desses momentos da história da arte contempla uma característica diferente, em ora relaciona-se com o realismo belo, ora não. Em seguida, foi abordado o assunto que apresenta a preocupação que as pessoas possuem com a sua aparência física, focalizando a influência dos padrões de beleza nestas apreensões. Questões foram abordadas como “Qual é a importância que os jovens dão para sua autoimagem e até que ponto muitos indivíduos podem chegar para atingir determinados padrões de beleza”. Diante disto, houve a busca da reflexão do tema sobre o que é realmente importante ou não para


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a satisfação da pessoa com a aparência física. Para auxílio nestas reflexões, foram utilizadas imagens das obras da artista Rachelle Aotman. Após estas reflexões, o Tema encaminha-se para questões do subprojeto Arte Postal, contemplando as obras do artista homenageado da Oitava Bienal do Mercosul,

o

chileno

Eugênio

Dittborn.

Diante

desta

produção

artística

contemporânea, ocorreu a abordagem sobre a estética da sua obra, com reflexões se há ou não preocupação em retratar o belo.

3.2.2. Justificativa A beleza, algo mágico, hipnotizante e de grande fascínio, mas que pode se tornar em algo extremamente perigoso. Hoje em dia, é necessário ser belo para se conquistar muitas coisas e a busca pela beleza, quando se não a tem, pode chegar a consequências drásticas. Os jovens, alvo principal da mídia, em função da formação de caráter e identidade, são manipulados por imagens pulsantes de pessoas bonitas que conseguem o que querem porque são belas. Isto se mostra desde a infância com as bonecas e os contos de fadas, até a vida adulta, com as propagandas de produtos que beneficiam a aparência, deixando a pessoas mais jovens e atraentes. Refletindo sobre este assunto, o mesmo poderá contribuir para uma crítica consciente do educando sobre a questão da beleza. Se desta forma, percebendo e analisando a questão da imagem pessoal, ele poderá desenvolver algum conceito ou ideia sobre o assunto. Com isso, poderá ajuda-lo na sua questão como indivíduo próprio, podendo criar o seu estilo, sem a preocupação em seguir padrões impostos pela sociedade.

3.2.3. Objetivo Geral Estimular os jovens e perceberem de que forma dão importância para sua aparência externa, a partir do que a mídia desde a infância impõe para eles. Reconhecer na História da Arte, três momentos em como os artistas representam de forma diferenciada a beleza, segundo o que acontece na época em que viveram.


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Refletindo sobre este assunto, o mesmo poderá contribuir para uma crítica consciente do educando sobre a questão da beleza. Se desta forma, percebendo e analisando a questão da imagem pessoal, ele poderá desenvolver algum conceito ou ideia sobre o assunto. Com isso, poderá ajuda-lo na sua questão como indivíduo próprio, podendo criar o seu estilo, sem a preocupação em seguir padrões impostos pela sociedade.

3.2.4. Objetivos Específicos  Estabelecer uma ideia crítica consciente sobre a função da beleza na sociedade;  Debater a respeito dos padrões e estereótipos de beleza, se os mesmos influenciam ou não na vida das pessoas;  Refletir sobre a importância das obras do artista Eugênio Dittborn para a sociedade.  Dialogar sobre a relação do Projeto Arte Postal com as obras de Eugênio Dittborn.  Perceber se há representação do belo nas obras de Dittborn e se teria ou não a necessidade de expressar isto conforme o tema das obras do artista;  Compreender o processo de produção da Arte Postal;  Refletir se a arte pós-moderna possui ou não a necessidade de representar o belo devido ao contexto em que se vive atualmente;  Definir se a busca pela beleza é importante ou não para sua formação como indivíduo na sociedade ou apenas mais um número em meio à massa.


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3.3. PRÁTICA DE ENSINO 3.3.1. Primeiro encontro AULA 1 (50 minutos). Data: 23 de agosto de 2011. Horário: 15:50-16:40.

Conteúdos:  A representação da beleza por diferentes artistas em três momentos da história da arte.  Documentário “A sobrevivência do mais belo”.  Concepção de beleza para as pessoas de diferentes culturas.  Grau de importância que as pessoas dão para a sua aparência.

Lista de atividades:  Conversação sobre estética e imagem entre obras de arte e pessoas.  Observação de documentário.  Escrita das partes mais importantes observadas no vídeo.

Objetivos:  Verificar o conhecimento de visão de estética e de imagem que os alunos têm.  Estimular a visão crítica sobre o documentário assistido.

Metodologias:  Aula expositiva dialogada.  Projeção em Datashow de documentário.


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Recursos:  Sala de vídeo, DVD, televisão, caderno e lápis.

Avaliação:  Participação dos alunos durante a conversa inicial, com ênfase nas suas ideias, seus fundamentos e no que se baseiam.  Exposição de opiniões referentes ao documentário durante a sua exibição e se realizaram anotação das mesmas.

Planejado 1. Na sala de aula, a professora estagiária falará sobre a aplicação de seu estágio na turma, explicando brevemente o assunto que será desenvolvido no projeto que é “AS FORMAS DA BELEZA: três momentos na história da arte”. Explanará sobre o que é estética, o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte, como a arte apresenta a beleza por meio de estéticas diferentes em momentos da história distintos. 2. A partir disso, serão apresentadas três imagens de obras de arte que caracterizam períodos distintos da história da arte em que a beleza e a questão estética são representadas de forma diferente. A primeira imagem apresentada será a seguinte:


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Da Vinci, 1492. (Fonte: www.infoescola.com)

3. Nesta imagem, será explicada que no período da arte renascentista a preocupação dos artistas era em retratar a natureza humana, esta de uma forma bela, representando o realismo. Exemplo disso é o artista Leonardo da Vinci. 4. Após, será apresentada outra imagem:

Imagem 9: Grosz, 1916. (Fonte: http://leoneracircense.blogspot.com)


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5. Nesta imagem do período do modernismo, os alunos poderão perceber que ela diferencia-se totalmente da primeira imagem. Pois neste período, já havia sido inventada a máquina fotográfica e a arte por sua vez não necessitava mais representar o realismo. E muito menos uma realidade bela, visto que neste período ocorriam as grandes guerras e o mundo não era mais belo para os artistas modernistas. Diante deste fato, não havia mais motivo para a representação do realismo belo. 6. Por fim, será apresentada outra imagem do período da arte contemporânea:

Figura 13: Warhol, 1964. (Fonte: ocaiw.com)

7. Nesta imagem da arte contemporânea, a obra caracteriza a questão do consumismo em massa, tanto de produtos quanto de ícones da mídia. Diante disso, o artista Andy Warhol que por meio da serigrafia apresenta esta nova estética sem formas distorcidas como no expressionismo. 8. Após será direcionado o assunto mais para a preocupação das pessoas com a beleza, sobre qual é a importância que as elas dão para a sua aparência. A professora solicitará aos alunos suas opiniões, o que pensam sobre beleza, qual a sua importância e o que conhecem sobre a arte a respeito disso. Uma


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das perguntas será: “até que ponto devemos chegar para ficarmos satisfeitos ou para “agradar os outros”? Esta conversa terá o tempo aproximado de 15 minutos. 9. Após a conversa inicial, os alunos serão convidados a assistir um documentário na sala de vídeo, referente ao assunto tratado na conversa inicial que se chama: “A sobrevivência do mais belo”. Os educandos serão avisados para levar caderno e lápis para anotações de momentos e ideias que achem interessantes ou que discordem do documentário. 4. Durante trinta minutos será assistido o documentário “A sobrevivência do mais belo”, produzido em 1999 pela BBC. Serão feitas pequenas pausas durante a exibição para comentários e explicação de alunos e da professora estagiária. Durante as pausas serão feitos questionamentos como: “Será que a beleza é a força mais poderosa do mundo como apresenta o documentário?”; “A busca pela beleza faz parte do instinto humano?”; “O que vocês acham da associação de pessoas belas com cães com pedigree?”; “Quais suas opiniões sobre os artistas mais belos fazerem mais sucesso mesmo que não tenham talento que uma pessoa mais talentosa, porém com menos beleza?”. 5. Quando terminar a exibição do documentário, a aula terá terminado e os alunos deverão fazer um pequeno resumo sobre o que anotaram para trazer na aula seguinte.

Realizado Cheguei mais cedo na escola para checar o dvd, se tudo funcionaria. O áudio não funcionou e tive então de utilizar um aparelho de Datashow. Diante desta situação, percebi que é muito importante a checagem de todos os procedimentos e materiais previstos para a utilização em sala de aula para que não surjam imprevistos, pegando o professor de surpresa. A primeira aula realizada com a turma 108 do Ensino Médio ocorreu após o recreio. Devido a este fator, o tempo previsto para a aula não pode concretizar-se conforme o planejado. Até a turma estar completa dentro da sala de aula e acomodada, perderam-se em torno de dez minutos. Após a minha apresentação e uma breve fala sobre o assunto tratado, o tempo de duração do estágio e as avaliações, realizei a chamada para ir


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conhecendo os nomes dos alunos. Nenhum faltou neste dia, sendo a turma composta por dezenove alunos. Como no início do ano, a turma se organiza pela sala de forma disforme, com os cantos mais preenchidos com grupos de até cinco componentes, até alunos sentados isoladamente. Percebi que há muitos alunos recolhidos, apresentando certa timidez e baixo entrosamento e participação nas aulas. Visto que outros eram os opostos, muito extrovertidos e muitas vezes até atrapalhando as aulas. Enquanto eu fazia uso da palavra explicando sobre a Arte, a Estética e a relação entre elas com a beleza, alguns educandos conversavam e precisei chamar a atenção deles para fazerem silêncio. Falei sobre a preocupação que as pessoas têm com a imagem hoje em dia, além de suas buscas incessantes pela beleza que atingem praticamente todas as idades. Continuei explicando sobre a importância disto na escola, além destas relações entre beleza, estética e arte. Conforme a autora Biasoli (1997, p.102), [...] o ensino da arte deve ter como base a educação estética e a educação artística. A primeira deve propiciar a compreensão e o conhecimento dos legados culturais e artísticos da humanidade inseridos em um determinado tempo/espaço histórico-social, permitindo, também, ao aluno, unir o fazer e o refletir, ou seja, pensar o que faz.

Continuei introduzindo imagens de obras de arte para ilustrar três momentos da história da arte em que a estética modifica-se. Mostrei uma imagem de um desenho de Leonardo da Vinci, falando sobre a época renascentista em que a preocupação era com a realidade. Os alunos fizeram comentários sobre a obra e que gostavam de outras obras deste artista também. Após foi apresentada a reprodução de uma obra do artista George Grosz, em que após quinhentos anos, a estética modifica-se devido a alguns fatores como a invenção da fotografia, fazendo com que a função de arte de representar o realismo belo, acabasse. Os artistas então precisam buscar novas alternativas, surgindo as vanguardas modernistas como o expressionismo, período em que se encontrava a obra apresentada. Os alunos comentaram sobre a diferença das obras, de como uma era mais bonita do que a outra. Tornei a explicar então que esta diferença estética devia-se às mudanças ocorridas na história da arte. Estas que faziam com que a própria função da arte se modificasse.


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Estas novas experiências estéticas comprovam que a arte modifica-se profundamente, rompendo com os padrões acadêmicos e clássicos, antes considerados somente como arte associada ao realismo compreensível e muitas vezes, belo. Por fim, foi mostrada a imagem de uma obra do artista Andy Warhol. Os educandos reconheceram a imagem como sendo de uma artista famosa, porém não lembravam o nome dela. Expliquei que neste período da história da arte, as obras já eram diferentes das do período anterior, da arte moderna. Falei que na arte contemporânea a preocupação era outra, como os bens de consumo e os ícones da TV, como a que aparecia na imagem. Antes mesmo que os alunos pudessem comentar, surge na sala neste momento, a supervisora, interrompendo a aula. Ela passa um recado para os alunos a respeito do dia seguinte, em que os mesmos fariam um passeio para a Feira de Profissões. Este recado acabou deixando a turma bastante agitada. Sua fala durou em torno de cinco minutos e antes da supervisora sair, ela solicitou que a turma retornasse ao silêncio que estava quando ela entrou. Retornei minha fala avisando aos alunos que no dia de hoje veríamos um documentário que fala sobre beleza e toda importância que ela exerce sobre as pessoas e sobre o mundo. Expliquei que o documentário se chama “a sobrevivência do mais belo” e que fala justamente sobre isso, de uma forma apelativa como se somente o mais belo sobrevivesse. Disse que deveriam ter um olhar crítico sobre o documentário, não aceitando tudo o que fosse exposto sobre ele. Deveriam levar caderno e lápis para anotações sobre o que achassem interessante e o que discordassem, pois usariam estas anotações na aula seguinte. Os educandos separaram lápis e caderno e em seguida nos dirigimos para a sala de vídeo. Chegando lá, se acomodaram e após alguns instantes para a conversa cessar, o documentário começou a ser passado. Durante a exibição foram feitas pausas para comentários e questionamentos conforme o planejado. Inicialmente perguntei se eles achavam que a beleza exercia tanto poder assim, sendo uma das maiores forças do mundo conforme dizia o documentário. A maioria respondeu que não, sem maiores explicações e alguns disseram que sim, que tudo dependia de alguns fatores, de que muitas vezes a beleza é muito importante sim, pois muitas pessoas dependem dela para sobreviver.


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Enquanto passava o documentário, percebi que na maior parte do tempo os alunos estavam bem atentos e faziam anotações. Em outro momento que foi feita uma pausa e que gerou mais comentários, foi a respeito do talento associado ao sucesso. Uma mulher que faz seleção de pessoas para serem artistas foi entrevistada e nesta entrevista disse que às vezes a pessoa poderia ter menos talento que outra, mas se fosse mais bonita, seria a escolhida. Ou seja, pessoas menos belas, porém com mais talento que outras mais belas fazem mais sucesso que as outras. A turma dividiu-se nas opiniões, porém a maioria disse que este critério de escolha não deveria ser assim, porém concordavam que as pessoas mais belas sempre fazem mais sucesso. Acrescentei dizendo que alguns artistas brasileiros no início de sua carreira, mesmo sendo belos, sofreram muitas críticas devido à sua falta de talento. Em pouco tempo o sinal tocou, anunciando o final da aula, sendo que dos trinta minutos previstos para a exibição do documentário, apenas nove puderam ser observados. Após o sinal, alguns alunos pediram para continuar vendo na sala de vídeo, expliquei então que não era possível e avisei que na próxima aula continuaríamos com a observação do documentário e as anotações. Analisando esta primeira aula, concluí que a turma mostrou-se participativa e interessada. Entretanto, creio que com a fala da supervisora, eu me atrapalhado e esquecido de comentar um pouco mais sobre o assunto inicial. Durante a exibição do documentário,

os

educandos

prestaram

comentários quando eram solicitados.

atenção,

realizando

anotações

e


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3.3.2. Segundo encontro AULA 2 (50 minutos). Data: 30 de agosto de 2011. Horário: 15:50-16:40.

Conteúdos:  Documentário “A sobrevivência do mais belo”.

Lista de atividades:  Visualização do restante do documentário na sala de vídeo.

Objetivos:  Perceber os principais assuntos apresentados no documentário sobre a questão da beleza.  Anotar o que for mais importante e que acharem mais interessante sobre a questão da beleza.  Refletir e dialogar sobre o assunto assistido no documentário.

Metodologia:  Aula expositiva dialogada.  Visualização de vídeo.

Recursos:  Sala de vídeo, Datashow, caixas de som, caderno de anotações.


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Avaliação:  Será a partir da percepção dos educandos sobre os principais assuntos apresentados no documentário por meio das anotações que realizaram. Além disso, se participaram de diálogos abertos e meio as cenas do vídeo com opiniões claras e objetivas referentes ao tema da beleza.

Planejado 1. Será solicitado aos educandos que peguem as suas anotações para o término da visualização do vídeo sobre “A sobrevivência do mais belo”. 2. Em seguida, a turma se dirigirá para a sala de vídeo onde poderão observar o restante do documentário. 3. Novamente serão abertos espaços para diálogos e questionamentos referentes a alguns assuntos mais importantes expostos no vídeo que possam gerar algum debate sobre o tema da beleza. Assuntos como a questão de pais cuidarem melhor de filhos que são bonitos, visto que o documentário passa a ideia de que a beleza se associa a proteção. Além disso, outra parte que será comentada é sobre uma pesquisa realizada com bebês de seis meses que já conseguem distinguir uma pessoa bela de outra menos bonita.

Cena do documentário mostrando a pesquisa realizada com bebês. (Fonte: BBC, 1999).


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Realizado No dia de hoje, quando cheguei à escola, descobri que haviam marcado uma reunião pedagógica no último período, liberando os alunos mais cedo. A aula com o primeiro ano ainda aconteceria, porém era certo que os alunos iriam se encontrar mais agitados por ser o último período de aula do dia, como de costume. Conforme eu havia imaginado, a turma 108 realmente estava neste dia muito mais agitada, se comparada ao primeiro encontro. Chegando à sala, muitos alunos demoraram até entrar, atrasando até dez minutos. Como este era o segundo encontro apenas, sendo que eu não era a professora titular deles, decidi pegar mais leve e não dar uma grande advertência, como um professor normalmente faria, obedecendo às normas deste colégio. Creio que diante disto, seria necessária a presença da professora titular deles, que em nenhum dos encontros esteve presente, deixando a turma livre para o meu estágio. Depois que estavam todos dentro da sala, cumprimentei-os e pedi que fossem separando as anotações da aula passada enquanto eu realizava a chamada. Inclusive esta foi conturbada de realizar-se, tive que interrompê-la duas vezes, pois a conversa e a agitação da turma estava bem acentuada. Nas vezes em que solicitei silêncio, no momento os alunos pareciam atender, porém logo em seguida voltavam ao estado de agitação anterior. Comparando este início de aula com o primeiro encontro, a diferença está bem acentuada. E como a professora titular me disse para não deixar a turma muito livre que tomavam conta, pensei que este momento era a hora exata para “pegar firme” com eles. Finalizada a chamada, um aluno solicitou se a turma poderia levar todos os materiais para a sala de vídeo, pois após este período, iriam embora para suas casas. Respondi que sim e até que todos guardassem os materiais, ainda levou um bom tempo. Chegamos à sala de vídeo para ver o resto do documentário e notei que alguns meninos estavam fazendo um trabalho de outra disciplina, que outra menina ouvia nos fones uma música alta e que um pessoal do fundo mexia em seus celulares e conversava alto. Apenas algumas meninas na frente estavam calmas e pediam silêncio aos colegas. Fiquei parada um tempo em frente à eles esperando que se acalmassem e percebessem que eu gostaria de falar com eles. Então falei bem alto para ver se chamava sua atenção: “Pessoal, tenho uma boa notícia!”. Então notei que alguns desviaram a sua atenção para mim. Comecei então a dar a


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boa notícia, de que a exposição deles seria agora no Santander Cultural ao lado do artista homenageado desta edição, Eugênio Dittborn. Percebi que muitos surpreenderam-se, porém outros estavam meio “aéreos”. Perguntei se sabiam o que era o Santander Cultural e muitos responderam-me que não, outros disseram que era um Banco. Disse que sim, que antigamente era um Banco, porém agora era um dos principais espaços de arte contemporânea do Rio Grande do Sul e que abrigaria as obras do principal artista da Bienal deste ano e que as produções deles estariam neste mesmo prédio. Após isso, uma aluna falou que conhecia este espaço. Neste momento surgiram na sala dois alunos que no início da aula também haviam chegado atrasados do recreio. Como se tratava de um casal, a turma começou a fazer piadinhas. Perguntei aos dois onde estavam e disseram que estavam na biblioteca. Expliquei a eles que não poderiam fazer isso sem antes pedir permissão a mim. Os dois se acomodaram e pedi que os outros parassem com os comentários. Os alunos não fizeram mais perguntas a respeito da exposição, entendi isso como se eles ainda não tivessem muita noção do que significava aquilo. Como eu estava planejando para as próximas aulas me aprofundar um pouco neste assunto, não toquei mais nele. Porém após esta pausa, os alunos do fundo começaram novamente a falar alto e a mexer nos celulares e a aluna com o fone ainda olhava para baixo ouvindo sua música, nem um pouco interessada na conversa. Neste momento, fiquei um pouco irritada e solicitei que ela guardasse seus fones e disse que era falta de consideração o que estavam fazendo, que era apenas o segundo encontro e já estavam assim. Dito isto, ficou um silêncio “tenso”. Após isso, lembrei-me de que estava na sala com imagens do que usaria na aula seguinte para a produção prática. Mostrei para eles as imagens que eram produção minha e que tratavam do tema beleza, feiura, padrões, etc. Falei que deveriam pensar ao longo desta semana no que poderiam produzir na aula seguinte e que também poderiam trazer imagens de referência e materiais que gostariam de utilizar. Os alunos pareceram gostar dos meus trabalhos, pois disseram ser interessantes, principalmente a imagem que continha vários narizes, bocas, olhos e sobrancelhas. Creio também que pareceram gostar, pois era algo diferente do que conheciam e não tinham noção do que eu fazia, se eu sabia pintar, desenhar, etc. Percebi mostrar estas imagens foi importante para trazer mais proximidade entre quem as produziu e os alunos. Igualmente, cabe ressaltar o que diz Rosa Iavelberg:


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Trazer conteúdos de arte do ambiente de origem e do cotidiano dos estudantes para a sala de aula é uma boa e motivadora escolha curricular. Essa prática valoriza o universo cultural do grupo, dos subgrupos e dos indivíduos, incentiva a preservação das culturas e cria em cada um o sentimento de orgulho da própria cultura de origem e de respeito à dos outros, o que constitui condição fundamental para a construção de uma relação não preconceituosa com a diversidade de culturas.(IAVELBERG, 2003, p. 12).

Um educando solicitou se poderia trazer tinta e eu disse que era livre, que poderia usar qualquer material. Neste momento a turma parecia descontrair-se e começaram a perguntar minha idade, se eu estava noiva e apenas respondi o necessário para não dispersar a aula. Para não perder mais tempo, guardei as imagens e iniciei o documentário alguns minutos antes do que tinha parado na aula anterior. Em função do tempo que estava curto, realizei poucas pausas e, como os alunos estavam anotando, não os interrompi muito para que não perdessem a concentração. Iniciado o documentário, notei que as conversas pararam, porém nem todos estavam com os cadernos para as anotações. Enquanto imagens de mulheres bonitas eram observadas no vídeo, os meninos faziam comentários de admiração. Depois de passarem cenas de que os bebês nasciam com mãos pequenas e olhos grandes para que fossem bonitos e desenvolvessem por meio disso o instinto de proteção e amor nas mães, muitos também fizeram exclamações de “que lindo”, ou “que fofo!”. Na cena seguinte foi apresentada uma experiência com bebês de seis meses de idade e que já eram capazes de reconhecer beleza. Perguntei o que achavam disto e as opiniões pareciam dividir-se entre meninos e meninas. Os meninos diziam que sim, que os bebês já eram capazes, pois estes reconhecem suas mães e choram quando não gostam de alguém, deduzindo assim que este não gostar vinha da feiura da pessoa. As meninas disseram que isto não era possível, que eles não tinham esta capacidade, que não tinham nada na cabeça e apenas uma menina discordou, pois afirmou que quando um bebê vê uma pessoa feia ou mal arrumada ele começa a chorar. Percebi que aquelas respostas não tinham muito sentido, mas devido à idade dos alunos, procurei não discordar muito. A primeira parte do documentário havia se encerrado e eu passava para a segunda parte, aproveitei para perguntar a eles se tinham algo para falar e não ouvi resposta. Iniciei então a segunda parte. Nesta segunda parte, falasse sobre a criação de um rosto universal, que unia todas as raças. Perguntei a eles se isto era


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possível e as opiniões pareciam novamente dividir-se entre meninos e meninas. Os meninos disseram que este rosto era possível, pois há muitos que agradam e citaram exemplos de atrizes brasileiras. Já as meninas disseram que não, que em algum lugar com alguma cultura diferente isto não ocorreria. Do fundo da sala um aluno comentou que o rosto universal depende para cada pessoa. Acrescentei sua afirmação dizendo então que o belo é relativo e ele concordou. Neste instante no vídeo foi criado um rosto universal primeiro por um programa de computador, que um educando reconheceu como sendo de jogos vídeo game e muitos pareceram gostar do programa. Após, foi criado outro rosto universal por meio do desenho e que este rosto enquadrava-se para atrizes de raças diferentes e que fizeram sucesso em épocas diferentes como Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe e Halle Berry. Os alunos acharam bonitos os rostos e falei para eles que isto que o documentário queria provar, de que há sim este rosto universal, discordando assim de muitas opiniões. Nisto, um aluno levantou-se dizendo que alguém estava batendo na porta e que já estava quase na hora de ir embora. A pessoa que estava do lado de fora falou que estavam indo embora. Então os alunos começaram a guardar os materiais e sair. Falei alto para não irem saindo logo, pois queria dar um recado antes. Começaram a se lamentar, que queriam ir embora. Expliquei então rapidamente que não veríamos mais o fim do documentário, pois o que faltava não era tão importante e algumas meninas pediram para ver sim o fim na próxima aula. Comentei que isto atrasaria muito o andamento das aulas. Retornei a fala para o grande grupo avisando para trazerem as anotações para a aula seguinte, os materiais para o trabalho prático e que fossem pensando em possibilidades sobre o que fazer neste trabalho. Os educandos começaram então a retirar-se da sala antes mesmo do sinal tocar. Analisando este segundo encontro, notei-o como sendo não muito proveitoso. Este horário de período após o recreio acaba diminuindo a aula em dez minutos e o planejado para esta aula novamente não pôde realizar-se. A turma mostrou-se muito agitada com alunos totalmente alienados e desinteressados. No próximo encontro, darei mais ênfase a chamar a atenção e principalmente despertála nestes alunos despreocupados. Conforme Iavelberg (2003, p. 11), “apesar de que o gosto por aprender tenha raízes no universo do aluno, na maioria dos casos é a


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situação de aprendizagem que gera disposição ou indisposição”. Creio que a situação de aprendizagem que desenvolvi seja atrativa para os alunos e não geraria indisposição, sendo esta uma das explicações da autora pelo desinteresse destes alunos. O recurso vídeo por si só já é algo diferente, ainda mais exibido em telão de datashow, pois alguns alunos comentaram sobre isso em aula. Além disso, o tema apresentado no vídeo era de contexto atual, principalmente na vida dos adolescentes, visto que frequentemente realizam comentários a respeito disto.


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3.3.3. Terceiro encontro AULA 3 (50 minutos). Data: 06 de setembro de 2011. Horário: 15:50-16:40.

Conteúdos:  Padrão de beleza.  Visão de sua própria imagem.  Percepção da sociedade referente à importância da beleza nas pessoas.

Lista de atividades:  Debate sobre os assuntos apresentados no documentário “A sobrevivência do mais belo”.  Produção de imagem com recorte, colagem e pintura.

Objetivos:  Refletir e dialogar sobre o assunto assistido no documentário.  Pensar e criar seu próprio padrão de beleza.  Exercitar a crítica por meio do diálogo.  Expressar suas ideias por meio da atividade de recorte e colagem.

Metodologia:  Aula expositiva dialogada.  Trabalho prático individual.

Recursos:  Textos dos alunos criados sobre os assuntos expostos no documentário, folhas coloridas tamanho A5, revistas, tesouras, colas, canetinhas.


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Avaliação:  Participação no debate com comentários ligados ao assunto discutido. Reflexão sobre as situações polêmicas apresentadas no vídeo.  Criação de texto conforme os principais itens expostos no documentário.  Produção de imagem utilizando as ideias apresentadas no debate, utilizando as técnicas.

Planejado 1. Os alunos deverão pegar suas anotações que fizeram sobre o documentário para fazerem um debate sobre o assunto. 2. Será solicitado aos educandos que se organizem na sala formando um círculo com suas classes e cadeiras. A professora lançará algumas pautas para conduzir o debate como: “Beleza exerce poder?”; “Será que realmente somos programados para buscar a beleza?”; “Você concorda com os itens da beleza universal: pele boa e saudável, harmonia e proporção dos traços faciais?”; “Será que realmente os bebês menos bonitos são menos cuidados que os mais belos?”; “Os homens ou as mulheres dão mais importância para a aparência externa?”; “Existe um padrão de beleza universal de todos os tempos ou a mídia influencia as pessoas?”. 3. Este debate será conduzido pela professora, que deverá levar aproximadamente o tempo de quinze minutos, em que a participação constante com comentários estruturados dos educandos será avaliada. 4. Após o debate, será realizada uma atividade prática utilizando as técnicas de recorte, colagem e pintura. Nesta atividade será produzida uma imagem em uma folha tamanho A5. Nesta, os educandos deverão expressar ideias conforme o que viram no documentário “A sobrevivência do mais belo” e o que foi exposto no debate. Como suporte, será apresentada a imagem da obra da artista Rachelle Aotmann, em que a mesma produz obras que relacionam-se com uma das ideias do documentário. A ideia apresentada diz que “Pessoas bonitas, são como cães com pedigree”.


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Aotman, 1998. Fonte: (www.dogartdealer.com)

Realizado Logo no início da aula, conforme os alunos iam chegando, informava-os para irem formando um círculo com suas classes e cadeiras. A formação deste círculo foi tranquila e depois de formado o círculo, solicitei que pegassem as anotações sobre o documentário. Neste momento ouvi exclamações do tipo “ah, me esqueci” ou “ai, não tenho!” Poucos alunos tinham seus textos e eu não esperava aquelas respostas dos educandos, pois durante os encontros em que assistimos o documentário, eu havia observado que muitos alunos estavam fazendo anotações. Expliquei que falaríamos um pouco sobre o que foi visto no vídeo e que isto era uma avaliação deles para o fim deste trimestre, que era a participação no diálogo, juntamente com a entrega das anotações. Além disso, ainda seria feito um trabalho prático. Expliquei sobre estas avaliações e notas para os alunos, pois isto foi petição da professora titular, que me orientou a esclarecer bem isto, pois caso contrário, os alunos eram capazes de não fazer. Comentei com os educandos antes de iniciar o diálogo que este momento a seguir seria uma espécie de debate em que as ideias expostas poderiam ser controversas e que, portanto, cada aluno deveria respeitar a opinião do seu colega. Achei importante comentar isto com os educandos, pois não conhecia ainda muito bem o comportamento da turma e, conforme Soares (2010), antes de iniciar um debate, deve-se orientar os educandos que devem escutar com respeito os pontos


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de vista dos colegas e apresentar os seus também de modo respeitoso para não ofender o outro, sendo que a oposição é de ideias, não de pessoas. Iniciei então o diálogo perguntando primeiramente o que haviam achado do documentário assistido. Responderam no geral que sim, que foi bom. Dirigi-me então a uma aluna que havia dado mais ênfase a sua reposta perguntando por que ela tinha gostado. Creio que ela sentiu-se um pouco constrangida e não soube responder muito bem. Neste momento outro aluno deu sua opinião dizendo que achou meio ridículo e forçado, que as pessoas do documentário não importavam-se com a inteligência das pessoas. Alguns estudantes concordaram com ele. Continuei perguntando se eram homens ou mulheres que davam maior importância para a aparência e a maioria disse que eram as mulheres. Porém outros lembraram que hoje muitos homens dão também muita relevância para suas imagens como os metrossexuais. Citaram exemplos de atores que são deste tipo e alguns colegas que fazem a sobrancelha. Neste momento, os educandos mostraram certa noção sobre o assunto ao fazerem relações com atores que conheciam e era exatamente isto que eu estava esperando. Esta espera foi que o assunto fizesse parte de suas vidas, para poderem expor melhor as suas ideias referentes ao tema da beleza. A partir deste ponto do debate, a maior parte das falas dos alunos dirigiuse à questão do namoro, do amor, da escolha do parceiro e da parceira. Todos estes pontos que nem foram perguntados por mim, nem apresentados no vídeo, creio que sejam associações dos alunos pelo o que é mais importante para eles nesta fase de suas vidas. Constatei isso também por muitos educandos citarem exemplos de aparência e relação de seus próprios namorados ou namoradas. Por exemplo, disseram que o que importava era o interior das pessoas, seu caráter. Que não adiantaria ficar com pessoas bonitas, pois estas muitas vezes eram burras e até poderiam trair seu parceiro ou parceira. Deixei que comentassem bastante sobre isso, pois percebi que isto era uma das coisas que mais priorizavam suas vidas, o período da adolescência em que se escolhe o parceiro ou a parceira. Partindo de suas próprias realidades, creio que a compreensão e assimilação do tema proposto tenha sido mais clara para que se sentissem a vontade em expor suas opiniões. Ainda que isto tenha sido motivo para os alunos começarem a falar alto e paralelamente. Solicitei então silêncio para que continuássemos o debate.


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Após este tópico, falei sobre outro assunto exposto no documentário: os bebês mais belos que, segundo uma pesquisa, são mais cuidados por seus pais do que os bebês menos belos. Citei ainda exemplos dos bebês de propagandas de fraldas, perguntando aos alunos se para eles estes bebês eram ou não iguais aos bebês comuns. Disseram que não, que se tivessem um bebê não que correspondesse ao padrão de beleza dos bebês, ou seja, um bebê feio na propaganda da fralda, as pessoas não comprariam, pois elas iriam comprar somente pela beleza da criança. Aproveitei e questionei então se a mídia influenciava ou não nos padrões de beleza e muitos responderam que sim, que para estar na mídia precisa ser bonito. Porém outros alunos foram contra, estes disseram por exemplo, que a modelo Gisele Bündchen não é bonita e mesmo assim é uma das modelos mais famosas do mundo. Destes comentários, houve uma aluna que destacou-se pois falava numerosas vezes explicando tudo muito bem. Já havia percebido que ela era uma espécie de líder da turma e, todas as vezes em que ela falava, a turma se calava. A maioria de suas falas era a respeito de que não deveriam dar tanta importância para a beleza externa e sim mais para a interna. Perguntei então a ela qual era a importância que ela dava para a sua própria exterioridade. Ela disse que gostava de se arrumar, mas que não era para “se aparecer” e sim para seu bem estar, pois gostava de roupas confortáveis e que uma boa aparência a fazia sentir-se melhor. Houve também outro aluno que fez uso da fala inúmeras vezes, citando muitos exemplos. Porém em suas falas, notei certa confusão, tendo um posicionamento sobre o tema exposto não muito bem esclarecido. Pois no início ele explicou que foi contra o que era exposto no documentário, de que ele era contra. Porém, nos momentos a seguir, ele disse que existiam roupas e maquiagens que deixavam as pessoas mais bonitas e que não existiam pessoas feias e sim pobres. Pois com o dinheiro, tudo se resolvia. Neste ponto, muitos concordaram com ele. Continuou dizendo que as pessoas deveriam fazer cortes radicais em seus cabelos, mudar suas aparências com outras maquiagens e que estas pequenas coisas deixavam-nas mais bonitas. Uma colega sua complementou dizendo que não saía de casa sem maquiagem. Para finalizar, concluiu que é preciso ter sim beleza, que ela é fundamental, porém a pessoa não pode ser radical. Esta aluna foi a Amanda, que ao final do encontro entregou suas anotações, porém percebi que nelas não havia um posicionamento da aluna, faria apenas a anotação de tópicos que surgiram


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no documentário. Desta forma, a sua avaliação não terá tanto peso se comparada aos textos e comentários de outros educandos.

Anotações da aluna Amanda. (Fonte: THOMAS, 2011).

Em outro momento, um aluno foi muito aplaudido e elogiado pelos colegas quando disse que “o conteúdo que a pessoa deve ter é o sentimento”. Perguntei então qual sentimento e ele não respondeu. Entendi aqueles aplausos por ele ser um aluno de poucas palavras e gostei do entusiasmo da turma pelo colega ter falado. Eles mesmos disseram por ele, que os sentimentos eram principalmente o amor, a alegria, etc. Ocorreu novamente outro ponto de muitos aplausos.

Foi quando um

terceiro aluno disse que por experiência própria, que quando acaba o amor e a paixão logo no início, é quando a pessoa não tem boa personalidade. Caso contrário, a relação dura. Ultimou dizendo que não adianta escolher pessoas para namorar apenas por aparência. Estes comentários foram do aluno Maurício que, inclusive, escreveu um bom texto expondo de forma clara a sua opinião com relação à importância que a sociedade dá às pessoas mais belas, apenas em função da aparência.


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Texto escrito pelo aluno Maurício. (Fonte: THOMAS, 2011).

Neste texto é relevante destacar a ideia do educando ao escrever que a inteligência deve ser um ponto importante no mercado de trabalho e não somente a beleza. Ou seja, Maurício destacou um ponto que é o mercado de trabalho, mesmo este assunto não tendo sido proposto na aula ou mesmo discutido. Considerei o debate muito bom, pois os alunos envolveram-se, inclusive dando depoimentos próprios, além de exporem claramente suas opiniões a respeito da importância da beleza. Porém, não houve participação de todos os alunos, mesmo quando solicitei para cada um deles falar um pouco, houveram duas ou três alunas que nada falaram. Como eu os estava avaliando, no final do debate perguntei aluno por aluno se tinha algo para dizer, que poderiam inclusive analisar suas anotações. Esta atitude não foi muito produtiva, pois no geral diziam: “Ah, meus colegas já falaram tudo!” Olhei a hora e vi que faltavam apenas dez minutos para o fim da aula, então recolhi suas anotações e expliquei a atividade prática. Disse que seria numa folha de tamanho A5 para a exposição na Bienal e que nesta folha deveriam transformar suas ideias e visões sobre o assunto discutido em imagens. Estas poderiam ser de recortes e colagens, desenhos ou pinturas. Lembrei para eles as


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imagens que eu havia produzido e mostrado na aula anterior para dar ideias. Além disso, mostrei outras imagens da artista Rachelle Aotman, que produz em suas obras animais domésticos vestidos como pessoas. Lembrei da parte do documentário que fala que “pessoas bonitas são como cães com pedigree” e que aquelas imagens associam-se muito a esta fala. Passei rapidamente a imagem para eles verem de perto e distribuí as folhas A5. Como eram diversas opções de folhas coloridas, folhas de papel kraft e de papel jornal, deixei que escolhessem. Escolheram primeiro as folhas coloridas e as que sobraram foram as de jornal e as de kraft. Expliquei para eles que deveriam fazer em casa e que na sexta feira eu passaria na sala deles para recolher. Dito isto, solicitei que arrumassem suas mesas e cadeiras e logo em seguida, o sinal já tocou.


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3.3.4. Quarto encontro AULA 4 (50 minutos). Data: 27 de setembro de 2011. Horário: 15:50-16:40.

Conteúdo:  Importância da estética para as pessoas.

Lista de atividades:  Distribuição de textos criados pelos alunos.  Reflexão e reprodução de imagens.

Objetivos:  Repensar sua imagem produzida.  Recriar seu trabalho utilizando novas técnicas e materiais.

Metodologia:  Trabalho prático individual.

Recursos:  Imagens e textos criados pelos alunos, revistas, canetinhas, lápis de cor, folhas tamanho A5.

Avaliação:  Será em torno da qualidade estética na mudança de suas criações. Se os alunos exploraram os materiais disponíveis e se permaneceram apenas com as ideias antigas ou incluíram novas ideias. Além disso, será avaliada a utilização de mais técnicas explorando melhor o espaço das folhas.


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Planejado 1. No último encontro os alunos deveriam ter produzido uma imagem para que esta servisse como avaliação para o fechamento do trimestre. Porém devido a um debate, não sobrou tempo que fosse possível para a realização das produções. Diante disso, os alunos tiveram que produzir em casa, porém muitas imagens criadas não atingiram a qualidade estética esperada por mim. Visto isso, decidi que deveriam repensar e reproduzir suas imagens utilizando mais técnicas e tendo mais cautela na produção de seus trabalhos, cuidando principalmente as imagens recortadas. 2. No início da aula será explicado para os alunos que as imagens produzidas por eles após o último encontro irão para uma exposição, porém esta exposição segue algumas regras. Uma destas é identificar que criou a imagem na parte de trás da folha e não como muitos acabaram fazendo pela parte da frente. Será também dito para eles que muitos tiveram ideias excelentes e que devido a isto, deveriam explorar melhor estas ideais de forma plástica. Pois uma grande parte fez apenas recortes, deixando muitos espaços das folhas em branco e que deveriam recriar suas imagens, preenchendo mais os espaços das folhas.


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Trabalho da aluna Bruna Fonte: THOMAS, 2011).

3. Para poderem recriar seus trabalhos serão distribuídos os textos que fizeram no último encontro para utilizarem algumas ideias contidas neles. Além disso, a forma de recriar poderá ser recortando algumas partes contidas na folha que achem mais importante e interessante. Os discentes terão à disposição novas folhas para recriarem e pigmentos para explorarem. 4. Durante o momento das produções a professora auxiliará cada aluno com ideias e sugestões. 5. Depois de finalizado cada trabalho, os alunos deverão identificar seu trabalho na parte de trás da folha com lápis e, sendo que os trabalhos serão recolhidos.


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Realizado Como de costume, a turma 108 estava bastante agitada após o recreio e inclusive tive que chamar alguns alunos que estavam do lado de fora da sala. Até a turma se acalmar e fazer silêncio para eu falar, levou um bom tempo. Discorri para a turma que eu havia gostado dos trabalhos que haviam realizado em casa, contudo, existiam algumas regras para o formato das imagens que iriam para a exposição na Bienal. Expliquei que elas deveriam ser na forma horizontal e que a identificação com os nomes deveria ser na parte de trás da folha. Além disso, comentei que em alguns trabalhos poderia ser explorada melhor a organização espacial e o uso de técnicas diferenciadas, não apenas recorte e colagem, como executou a maioria. Os alunos não demonstravam reações e então continuei explicando que poderiam utilizar ideias dos textos que escreveram sobre o assunto “beleza e importância para as pessoas”. Li também para a turma uma reportagem que saiu na revista época sob o título: “Beleza no trabalho”, comentando sobre as diferenças salariais e as melhores oportunidades oferecidas para pessoas bonitas. Enquanto eu lia e comentava, algumas alunas pediam para ver as imagens dos famosos que apareciam. Após a leitura, entreguei a revista para que as alunas interessadas visualizassem e lessem melhor a reportagem. Continuei explicando para a turma que teriam à disposição alguns materiais para recriarem suas imagens: revistas, canetinhas, lápis de cor e giz de cera. Em seguida devolvi os trabalhos para os alunos juntamente com uma folha em branco de papel jornal ou papel kraft (os alunos escolhiam). Enquanto eu entregava, dava sugestões e possíveis mudanças para os trabalhos já realizados. Assim que receberam as folhas, os alunos se dirigiram para a mesa do professor e pegaram todas as revistas e alguns pigmentos para utilizarem nos seus trabalhos. Considerei importante este interesse no uso dos materiais, pois esperava que os alunos se sentissem um pouco incomodados em ter de refazer seus trabalhos. Creio que o incentivo inicial de dizer que muitos trabalhos estavam bons e as modificações necessárias que eram apenas pelas regras da Bienal, tenha influenciado o interesse dos alunos. Conforme Iavelberg, o incentivo que faz o professor pelo esforço do aluno é muito importante, pois o aluno se sente valorizado e mais preparado para a sua aprendizagem.


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Quando o aluno fala, escreve sobre arte ou faz seus trabalhos artísticos, realiza atos de autoria, com marca pessoal. Geralmente, é o professor quem valida as produções atribuindo-lhes qualidades na orientação das discussões coletivas ou na recepção das produções individuais, valorizando e incentivando os esforços dos aprendizes nos processos de construção de saberes cognitivos. (IAVELBERG, 2003, p. 11).

Muitos educandos olhavam as imagens das revistas e comentavam alto sobre artistas, suas aparências e sua vida pessoal. Percebi que a turma se dividia basicamente em três grandes grupos: um que ficava no fundo da sala e onde se concentravam os alunos que conversavam e riam mais alto. No centro da sala estava a maior parte da turma: as meninas, estas que estavam mais caladas e concentradas refazendo suas imagens. Por fim, restavam quatro alunos no canto da sala que conversavam menos ainda que as meninas. Refleti um pouco sobre estes agrupamentos, se eu deveria ou não separá-los e por fim optei por não, pois estes alunos apresentavam entrosamento com seus grupos e ajudavam-se na elaboração de seus trabalhos, ora com materiais, ora com sugestões ideias. A maioria da turma não tinha cola nem tesoura, sendo que eu possuía apenas uma cola e duas tesouras. Apesar da grande solicitação pelo material, a turma soube se organizar e um emprestava para o outro, mesmo que o colega não fizesse parte do seu “grupo”. Frequentemente eu passava pelos alunos para analisar como estavam indo suas produções e a maioria estava fazendo, apenas três alunos ainda folheavam revistas. Nestas passadas, os educandos aproveitavam para perguntar se seu trabalho estava certo. Um foi a aluna Bruna que inclusive perguntou como ela poderia recortar melhor as figuras humanas de seu trabalho. Expliquei para ela e no fim seu trabalho ficou assim:


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Trabalho da aluna Bruna (Fonte: THOMAS, 2011)

Este foi um trabalho que antes não estava bem recortado e apenas havia colagem na sua folha. A aluna acrescentou linhas coloridas e outras colagens de corações coloridos. Houve um trabalho que gostei bastante pela ideia apresentada e pela intervenção feita nas figuras.


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Trabalho da aluna Jhenifer. (Fonte: THOMAS, 2011)

Quando estava quase terminando o encontro, perguntei para os educandos se gostariam de terminar em casa ou na próxima semana. Responderam que no próximo encontro. Recolhi então seus trabalhos e muitos ainda não haviam terminado. Apesar disto, reconheci que realmente o tempo foi curto, pois os educandos não perderam tempo sem fazer nada e se empenharam nas execuções dos trabalhos. Diante disso, resolvi dar um tempo a mais para finalizarem no próximo encontro. Considerei muito importante este encontro, pois havia muita necessidade dos trabalhos serem refeitos, pois apresentavam no geral recortes mal feitos e “ideias vazias”. E o resultado foi satisfatório, pois houve empenho e dedicação por parte dos educandos.


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3.3.5. Quinto encontro AULA 5 (50 minutos). Data: 04 de outubro de 2011. Horário: 15:50-16:40.

Conteúdo:  Importância da beleza para as pessoas.

Lista de atividades:  Distribuição dos trabalhos criados pelos alunos.  Término dos trabalhos não finalizados.  Criação de crachá de identificação.

Objetivos:  Repensar a maneira de como foi produzida a sua imagem.  Recriar seu trabalho utilizando novas técnicas e materiais.  Finalizar seu trabalho com a utilização das técnicas que apresentem uma ideia interessante relacionada com o conteúdo.

Metodologia:  Trabalho prático individual.

Recursos:  Imagens e textos criados pelos alunos, revistas, canetinhas, lápis de cor, folhas tamanho A5, crachás de identificação.


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Avaliação:  Será em torno da qualidade estética e na mudança das criações. Se exploraram os materiais disponíveis e se permaneceram apenas com as ideias antigas ou incluiram novas ideias. Além disso, será avaliado o empenho dos alunos, se esforçaram ou não para concluir bem seus trabalhos.

Planejado 1. No início da aula serão redistribuídas as imagens dos alunos que precisam terminar, que são a maioria. Os alunos terão novamente disponíveis os materiais do encontro anterior. 2. O restante deverá preencher um crachá de identificação para colar atrás da sua folha. Neste crachá deverá conter ESCOLA, ENDEREÇO, TURMA, PROF. ESTAGIÁRIO e ALUNO. Estes itens serão escritos no quadro pela professora para que os alunos possam copiar. 3. Durante o término dos trabalhos os alunos serão auxiliados pela professora estagiária caso tenham dúvidas ou necessitem sugestões. 4. Assim que terminarem os trabalhos, deverão preencher também seu crachá de identificação para colar na sua imagem.

Realizado Hoje, após o recreio, cheguei à sala da turma 108 sozinha e até toda a turma chegar levou mais de dez minutos. Só assim pude iniciar a aula do dia. Em função destes atrasos após o intervalo do recreio, os encontros têm tido o tempo de quarenta minutos e não de cinquenta como é o normal das aulas. Visto isso, na maioria das vezes, o planejamento não pode realizar-se por completo e ainda há momentos em que são necessários alguns minutos finais para a turma organizar a sala quando há atividades práticas. Parei na frente da turma segurando os trabalhos que haviam feito na aula passada e aguardei um tempo até que tivesse sua atenção. Nisto, três alunos vieram me entregar seus trabalhos que haviam terminado em casa. Logo percebi que haviam utilizado a folha na vertical, diferente do solicitado. Outros perguntaram


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por suas folhas para terminarem nesta aula a atividade. Respondi que aguardassem um instante que eu logo devolveria. Me dirigi então para o grande grupo dizendo que neste encontro quem já estivesse pronto com seus trabalhos, faria o crachá de identificação para colar no verso da folha. Os outros terminariam seus trabalhos e expliquei para os alunos que entregaram-me as imagens anteriormente, que deveriam adequar seus trabalhos em uma folha utilizando o formato na vertical, pois estas eram as combinações da organização da exposição na Bienal. Os alunos apenas concordaram e pediram outra folha. Entreguei para eles a folha e nisto alguns estudantes requereram revistas para recorte e colagem. Solicitei que aguardassem, pois em seguida eu buscaria na sala dos professores. Enquanto eu devolvia os trabalhos para os alunos, entregava junto um pedaço de folha de ofício medindo 11 x 6 cm para que neste fossem colocados os dados de identificação da Escola e do Aluno. Algumas alunas perguntaram-me como era para fazer esta identificação e eu expliquei que em seguida colocaria um exemplo no quadro para saberem. Avisei à turma que iria rapidamente buscar as revistas na sala dos professores e em seguida retornaria. Na volta, quando estava aproximando-me da sala, pude ouvir a enorme barulheira que estavam fazendo. Entrei e avisei a turma que dava para ouvir as conversas do corredor e que deveriam diminuir o som da conversa, pois atrapalhará as outras turmas próximas. Entreguei as revistas para os educandos que solicitaram e logo em seguida escrevi no quadro os dados para os alunos copiarem. Após isto, solicitei silêncio para realizar a chamada e neste dia, uma aluna apenas não estava presente. Do lugar em que eu estava comecei a observar os estudantes. Notei que muitos estavam com fones de ouvido, sendo que é proibido na escola. A maioria conversava e poucos realizavam os trabalhos. Avaliando esta situação e os outros encontros, percebo que parte desta turma é realmente muito agitada e que outra parte do canto da sala é o contrário: muito calada. Propor atividades que se adequem a uma turma heterogênea como esta não é tarefa simples, é preciso estar sempre observando, revendo os planejamentos e as ações docentes. Conforme Martins e Guerra (1998, p. 167):


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A ênfase da ação docente é a observação. O olhar do educador deve estar centrado em vários aspectos e no grupo. Em grupos maiores é preciso planejar ainda mais essa observação, pois é quase impossível olhar todos ao mesmo tempo. Estar atento especialmente a um número menor de alunos, em rodízios de observação, pode facilitar a percepção das individualidades.

Observando também os trabalhos produzidos e os que ainda não foram, nota-se também que a produção artística desta turma pode ser mais explorada pelo fato de muitos trabalhos estarem com ideias um pouco “vazias”. Além disso, esta foi apenas a primeira atividade prática que tiveram e creio que nas próximas, os estudantes terão outras possibilidades para exporem o que sabem. Decidi ir até o grupo no fundo da sala que estava mais agitado. Observei que a maioria não estava fazendo seu trabalho e perguntei para eles como estava indo o andamento da atividade. Nisto, um dos alunos que estava finalizando seu trabalho disse que ajudaria o colega que não estava fazendo pois, segundo este, estava sem ideias. Perguntei para este aluno que estava sem ideias se já havia observado as revistas e ele respondeu que “mais ou menos”. Notei que ele havia recortado a figura de uma cantora famosa e indaguei que planos ele tinha para com aquela figura. O estudante não soube responder muito bem e pegou uma revista e começou a folhear. Percebi que ele sentiu-se um pouco incomodado com a minha “intromissão” e decidi então deixar o grupo terminar a atividade, já que pareceram recomeçar. Antes, avisei para eles que caso de dúvida, era só perguntar. Passei pelo centro da sala e constatei que as meninas e um menino que já haviam terminado seu trabalho no encontro anterior também já haviam preenchido seus dados e colado na folha. Perguntei para eles se eu poderia recolher as imagens e eles confirmaram. Avisei-os que aguardassem alguns instantes até que os colegas terminassem. Em seguida, me dirigi para o grupo do canto da sala que é o mais calado. Lá, percebi que as produções estavam ainda mais lentas e a conversa entre eles com certeza não foi o motivo. Como eu já havia notado, aquele grupo não se entrosa muito bem com o restante da turma, tanto é que estão sempre os mesmo três alunos no mesmo lugar da sala. Em função da timidez deles, tentei não parecer que estava esperando seus trabalhos já prontos, pois sei que o ritmo deles é diferenciado. Conforme Martins e Guerra (1998, p. 161),


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Teremos de ser cuidadosos com a diversidade de ritmos dos alunos, especialmente porque as ideias germinais de um projeto podem não ser do interesse maior de todos os alunos de uma classe. Alguns mergulharam logo nesse trabalho, outros vão aos poucos tomando contato com ela e se motivando. Se desistirmos antes de obter resultado, não permitiremos que os alunos mais arredios, resistentes ou mais lentos, tenham a oportunidade de serem envolvidos e iniciar o projeto de fato.

Avisei a eles que não importava se não conseguissem terminar hoje, já que poderiam finalizar com calma o trabalho em casa. Perguntei se tinham alguma dúvida ou queriam algum auxílio e responderam que não. Estavam faltando dez minutos para encerrar o encontro e surgiu na porta da sala um senhor dizendo que falaria sobre um curso de inglês. Como a supervisora da escola já havia me avisado sobre esta possível visita, convidei ele para entrar e solicitei a atenção dos alunos para aquele senhor. Enquanto o homem falava, notei que muitos educandos davam pouca importância para o que ele dizia e inclusive realizavam alguns deboches utilizando palavras em inglês. Como o homem entrou na brincadeira deles, não os reprimi. Quando o senhor finalizou a fala, apenas três estudantes se interessaram pelo curso. Diante disso, percebi que aquela turma necessita de um estímulo maior para interessar-se pelas coisas, pois na minha opinião, um curso de inglês é extremamente importante para o mercado de trabalho e também para a vida pessoal e social. Comentei isso com alguns alunos e eles disseram que não tinham tempo e nem dinheiro. Em seguida o sinal tocou e solicitei que a turma organizasse rapidamente a sala. O aluno que antes não tinha ideias para terminar o seu trabalho, veio entrega-lo já pronto. O resultado foi este:


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Trabalho do aluno Victor (Fonte: THOMAS, 2011)

Parabenizei o aluno, pois gostei do resultado. Ficou uma colagem muito interessante e bem elaborada. Este trabalho diferenciou-se dos outros, pois ele criou um fundo utilizando um recorte com formas que deram uma boa aparência para a imagem. O estudante agradeceu pelo elogio. Comuniquei para os estudantes que não haviam terminado ainda, que finalizassem em casa e que trouxessem no próximo encontro. Senti uma dificuldade maior neste encontro que foi em conciliar a diversidade de ritmos dos alunos. Alguns já haviam finalizado neste encontro e outros ainda precisavam terminar em casa. Além disso, determinados estudantes conversavam bastante e creio que esta falta de atenção e concentração venha atrasando seus rendimentos. Porém, alguns ainda não conversavam muito, mas também não conseguiam produzir no tempo do encontro. Talvez em suas casas, que seja outro espaço com sons, tempo e acesso a imagens e materiais diferenciados, possam produzir com maior facilidade. No entanto ainda há um empecilho que é a questão da conversa da turma: algo muito frequente e que geralmente atrapalha o andamento da aula. Como sou professora estagiária, me sinto incomodada em a cada instante solicitar silêncio, pois acredito que possam não gostar e partir daí, quando eu não tiver uma boa imagem vista por eles, ou seja, ser a “professora chata”, que só “enche o saco”, é que a aprendizagem deles possa decair.


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3.3.6. Sexto encontro AULA 6 (50 minutos). Data: 11 de setembro de 2011. Horário: 15:50-16:40.

Conteúdos:  Curadoria dos trabalhos dos alunos.

Lista de atividades:  Conversa e observação de imagens.  Seleção e organização de imagens para montagem de painel.  Fotografia da montagem.  Criação de texto explicativo referente aos critérios utilizados para a criação do painel.

Objetivos:  Selecionar e montar de forma criteriosa os trabalhos desenvolvidos pelos alunos.  Desenvolver texto que corresponda aos critérios utilizados para a escolha e montagem.

Metodologia:  Trabalho prático em grande grupo.  Trabalho teórico em grupos menores.

Recursos:  Trabalhos dos alunos, câmera fotográfica, quadro negro, giz, fita crepe.


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Avaliação:  Será feita a partir dos critérios que utilizarem para montar o painel e na criação do texto, se será composto pelos critérios de montagem.

Planejado 1. Será formada uma grande mesa com as classes onde estarão dispostas as imagens dos alunos. 2. Estes deverão aproximar-se das imagens e analisa-las. Após isto, deverão formar um painel organizando as imagens da maneira que acharem mais interessante para o público que as observar. Será mostrada como exemplo a seguinte imagem:

(Fonte: JOHN, 2011)

3. Após organizarem as imagens seguindo os critérios de curadoria, será tirada uma fotografia do agrupamento das imagens. 4. Em seguida os alunos deverão formar grupos para criar textos que expliquem os critérios utilizados para a montagem do painel. Estes textos poderão ser formados a partir de itens.


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Realizado Neste encontro, realizei logo no início a chamada da turma e mesmo com muitos faltando, a turma não aparentava estar em menor número devido à sua grande agitação. Tentei iniciar uma fala em frente ao grupo, contudo tive que pausá-la algumas vezes em função da conversa de certos alunos que estava bastante alta. Nestes momentos em que tive que interromper minha fala, olhava direto para os alunos que estavam conversando e eles logo percebiam o motivo e em algumas vezes, se desculpavam. Achei esta situação incômoda e até um pouco irritante, pois certas vezes que a conversa com a turma parecia fluir, novamente precisava ser interrompida em função de determinados alunos e de suas conversas e brincadeiras. Porém, tentei não parecer que estava irritada e tentei manter o bom humor, como no momento em que uma menina pegou um batom e começou a passar na boca de dois de seus colegas. Em vez de repreendê-los, perguntei se não poderia tirar uma foto deles e comentei ainda em tom de brincadeira: “Nossa, meninos passando batom!”. Após este comentário, um deles sentiu-se envergonhado e tapou a boca. Neste instante a atenção da turma dirigiu-se para eles e muitos caíram na gargalhada. Um dos meninos sentiu-se constrangido, mas a outra menina e o outro menino gostaram da brincadeira e da atenção da turma. Esta foi uma situação que no início foi chata, pois eu estava tentando explicar algo para eles, enquanto que alguns atrapalhavam a aula para passarem batom e darem gargalhadas. Todavia, como eu já havia chamado a atenção deles e não havia adiantado, pensei em agir de um jeito diferente, ao invés de recriminá-los pelo modo como estavam agindo, eu agi como se aquela situação fosse engraçada, o que na verdade era a intenção deles, chamar a atenção da turma pelo modo de como eram “engraçados” passando batom na boca dos meninos. Devido a isto, achei que seria interessante agir desta forma inusitada para ver a reação deles. Entretanto considero que isto foi um risco, pois a brincadeira poderia ser estimulada igualmente por esta atitude. Refleti sobre o caso e novamente perguntei-me o que eu estava fazendo de errado e o que eu deveria mudar para chamar a atenção destes alunos. Perguntei-me se os meus métodos não estavam adequados ou se o tema não era atrativo e, diante desta condição, encontro conformidade nas palavras de Martins e Guerra (1998, p. 159): “Não há métodos bons ou ruins, e, sim, métodos


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que pensam o aprendiz e o processo de ensino-aprendizagem de formas diferentes. Cada método é sempre recriado pelo professor, que na sua prática e teoria traça as suas opções metodológicas”. Percebo que grande parte da turma é participativa nos encontros e que ocorrem as exceções. É claro que estas devem ser pensadas e repensadas, não deixando as mesmas de lado, pois são importantes também, visto que interferem frequentemente no andamento das aulas. No encontro de hoje, a minha ação como professora foi repensada em um momento incomum em que alguns alunos passavam batom em uma hora imprópria. A atitude destes alunos foi recebida por mim não como um ato desrespeitoso e sim como algo divertido. O que eu estava tentando falar com a turma era sobre a lista de passageiros para a saída de campo na Bienal que deveriam preencher com seus nomes completos e documento de identidade. Como precisariam pôr o RG, me adiantei com a lista, mesmo que a saída fosse apenas para o dia primeiro de novembro. Fiz isto, pois muitos alunos geralmente não têm o RG em mãos. Os alunos fizeram algumas perguntas sobre horários, lanche e se precisariam pagar. Esclareci suas dúvidas e o assunto encerrou-se tranquilamente. Enquanto a lista passava, tentei novamente explicar um pouco a relação da Bienal juntamente com o local do evento a que iriam e a relação com os trabalhos que estavam produzindo. Novamente o diálogo foi um pouco complicado devido às conversas, entretanto decidi continuar falando para os estudantes que estavam interessados. Falei sobre a arte postal e o envio de cartas contendo obras de arte que o artista homenageado da Bienal, Eugênio Dittborn, realizava. Além disso, expliquei que o trabalho que os alunos haviam executado sobre a beleza, teria uma ideia parecida com a forma de envio pelo correio para exposições de arte que tinham as obras de Eugênio Dittborn. Sendo que os trabalhos dos educandos fazem parte do Projeto Arte Postal, em que enviam os trabalhos produzidos pelas turmas para diferentes escolas por meio do correio. No final, todos estes trabalhos são enviados para a Fundação Santander Cultural, local onde estão as obras de Dittborn. Peguei os seus trabalhos e os coloquei dentro de um envelope já preenchido com endereços e disse que este iria para uma Escola de Porto Alegre, onde os alunos visualizariam as imagens e fariam mais algumas coisas que em seguida eu explicaria. Continuei dizendo que eles hoje teriam que fazer um trabalho de curadoria dos próprios trabalhos. Perguntei se alguém sabia o que era um


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curador e um educando respondeu que era alguém que “cura”. Expliquei que apesar do nome, esta relação nada tinha a ver. Esclareci que um curador é alguém que seleciona e organiza uma exposição de arte, ou seja, eles mesmos fariam a organização e montagem dos seus trabalhos. Desta montagem, seria tirada uma foto que iria junto ao envelope para a outra escola. Além disso, deveria ser desenvolvido um texto explicando os critérios de escolha para a montagem. Como os alunos não esboçaram reações, perguntei se haviam entendido e aparentaram, pelos poucos que responderam, que sim. Diante disso, me dirigi para o fundo da sala e solicitei ajuda de dois alunos para organizarmos as classes juntas formando uma mesa. Espalhei os trabalhos dos discentes sobre ela e convidei a turma para que se aproximasse ao redor da mesa. Quando se aproximaram, perguntei como poderiam organizar as imagens de forma que o público que as visualizasse achasse interessante e tivesse vontade de as observar. No início, eles ficaram um pouco na dúvida sobre como fazer, então mostrei uma imagem com dois modelos de montagem. Disse para eles que não precisava ser necessariamente assim e aos poucos um dos alunos que nas aulas costuma sobressair-se pelo interesse e dedicação nos trabalhos, disse que a maioria tinha rostos. Diante disso, percebi que a observação dele estava começando no tema e pela semelhança dos trabalhos. Com o tempo, ele e outras colegas começaram a separar as imagens que mostravam as pessoas bonitas das feias. Questionei então o porquê desta separação e o educando explicou que estava com a ideia de fazer algo relacionado com o caráter, que os feios o tinham e os belos não. Elogiei sua ideia e perguntei para a turma se eles concordavam com a ideia e se tinham algum palpite. Uma aluna que tinha feito uma espécie de gráfico na sua imagem, sugeriu que também fosse feito um gráfico comparativo com todos os trabalhos. Falei que também era uma boa ideia e que eles tinham que entrar em um acordo e ver o que ficava melhor. Os alunos mais envolvidos começaram a dialogar e notei que os outros começaram a se afastar e a retornar para os seus lugares. Expliquei então para estes que era necessária a participação de toda a turma, que eles estavam sendo avaliados por isto também. Decidi falar sobre a questão da avaliação, pois notei que muitos nem voltariam para a mesa para ajudar e que talvez se preocupariam com a


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questão da avaliação. Porém isto não deu muito certo, pois apenas dois retornaram para auxiliar no trabalho. Retornei minha atenção para o grupo que estava organizando as imagens e eles estavam montando uma espécie de árvore. Disseram que a imagem que mostrava uma balança medindo o caráter das pessoas era uma espécie de semente, que nos troncos estavam as pessoas menos valorizadas pela sociedade, pois não possuem os padrões de beleza. Por fim, formando os frutos estavam os belos, que por fora significavam uma coisa, mas que por dentro muitas vezes poderiam estar podres. Fiquei maravilhada com a ideia deles e inclusive surpreendime, pois não havia passado pela minha cabeça a ideia de formar com os trabalhos uma imagem figurativa. Solicitei que escrevessem um pequeno texto explicando estes critérios de escolha e o significado da montagem, enquanto eu fotografava o que haviam montado. A montagem da árvore ficou assim:

Montagem dos trabalhos realizada pelos alunos. (Fonte: THOMAS, 2011)


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No centro da “copa da árvore” está uma imagem que diz “a beleza está nos olhos de quem vê”. Desde o início os alunos já haviam separado esta imagem e a que representa a “semente” como as norteadoras, ou seja, as ideias principais que guiam as outras. Eles explicaram que elas deveriam ter destaque na montagem, pois exerciam a ligação das ideias que mostravam a relação da beleza com a importância dela. Parabenizei os alunos e agradeci pelo excelente trabalho que realizaram. Chamei o restante da turma para verem o resultado final e solicitei que os próprios colegas que fizeram a montagem explicassem para os outros. O aluno que realizou principalmente a montagem foi quem explicou e os colegas pareceram gostar, pois também o elogiaram. Fiquei muito contente com o resultado da montagem, pois no início houve a situação da conversa que foi constrangedora, mas no fim aconteceu esta surpreendente montagem e fiquei muito satisfeita pelo empenho e dedicação dos alunos. Neste momento, toda a aflição que eu sentia pela falta de atenção de certos alunos foi substituída pela surpresa e pelo contentamento que os estudantes provocaram com a ideia da montagem. De forma inesperada, pois eu estava envolvida com os trabalhos e perdi a noção de tempo, o sinal soou. O texto explicativo ainda não estava pronto e era necessário que estivesse, pois deveria ser enviado o quanto antes para a outra escola, visto que na semana seguinte, não teriam aula. Recolhi rapidamente as imagens e perguntei se os alunos que o estavam escrevendo o texto não se importavam de terminar ele no outro período, pois eu solicitaria para a professora do mesmo. Decidi que só os que montaram o painel é que escreveriam o texto, para não prejudicar a aula da outra professora. Os discentes responderam que não havia problema. Perguntei para a turma onde estava a lista de passageiros da saída e uma aluna mostrou-me que estava sob uma classe. Percebi que poucos haviam assinado e lembrei-os que precisariam então assinar no encontro seguinte. Quando eu saí da sala, encontrei a professora na porta e expliquei a necessidade de estar pronto o texto ainda neste dia, pois ele deveria ir para outra escola por correio e na semana seguinte não teríamos encontro. A educadora respondeu que não havia problema. Após uns quinze minutos os alunos vieram ao meu encontro em outra sala de aula para entregar o texto que ficou assim:


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Trabalho escrito pelos alunos Igor, Stéfane e Caroline. (Fonte: THOMAS, 2011)

Agradeci-os pelo texto realizado e em seguida o analisei. Gostei de como separaram os elementos e os explicaram muito bem. Ficou um texto simples e curto, mas que está bem especificado. Acho importante a parte escrita ser desenvolvida pelos alunos também nas aulas de artes, pois exercita também o que estão pensando a respeito do assunto, servindo como modo de expressão. Além disso, muitos estudantes preferem a escrita como modo de expressão do que a atividade prática que geralmente envolve os trabalhos manuais como desenho, pintura, recorte, colagem, etc.


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3.3.7. Sétimo encontro AULA 7 (50 minutos). Data: 25 de outubro de 2011. Horário: 15:50-16:40.

Conteúdos:  Curadoria dos trabalhos realizados pelos alunos de outra escola, envolvidos na arte postal.  Bienal do Mercosul.  Artista homenageado da Oitava Edição da Bienal do Mersocul, Eugênio Dittborn.

Lista de atividades:  Conversa e observação de imagens.  Seleção e organização de imagens para montagem de painel.  Fotografia da montagem.  Criação de texto explicativo referente aos critérios utilizados para a criação do texto.  Diálogo sobre a Bienal do Mercosul e a produção artística do artista homenageado.

Objetivos:  Selecionar e montar de forma criteriosa um painel, relacionando as características dos trabalhos.  Desenvolver texto que corresponda aos critérios utilizados para a escolha e montagem.  Conhecer ou acrescentar informações sobre a Bienal do Mercosul, juntamente com a obra do artista homenageado.

Metodologias:  Trabalho prático em grande grupo.


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 Aula expositiva dialogada.

Recursos:  Trabalhos de alunos, câmera fotográfica, quadro negro, giz, fita crepe, imagem de obra.

Avaliação:  Será feita a partir dos critérios que os alunos utilizaram para montar o painel e na criação do texto, se este será claro, objetivo e composto pelos critérios de montagem. Além disso, será avaliada a participação dos alunos durante os diálogos, se opinaram e se manifestaram suas ideias quando foi solicitado ou não.

Planejado 1. Primeiramente as obras dos alunos da escola de Guaíba serão expostas para contemplação e diálogo sobre o que os educandos acharam das imagens. 2. Após isto, deverão formar um painel organizando as imagens da maneira que acharem mais interessante para o público que as observar, realizando um trabalho de curadoria. Quando formado o painel, será tirada uma fotografia do mesmo para envio junto aos outros elementos incluídos no envelope do correio. Estes outros elementos constituem-se de textos elaborados a partir dos critérios de montagem do painel e de trabalhos dos alunos. 3. Em seguida, deverão elaborar um texto explicando os critérios de montagem do painel de forma clara e objetiva. 4. Realizado o texto, será aberto um diálogo sobre a Bienal do Mercosul que deverá ser composto por relatos de experiências e conhecimentos que tiverem os estudantes. Conforme a base que tiverem, a explicação será mais detalhada. Incluso no assunto Bienal, estará a produção artística de seu último artista homenageado, o chileno Eugênio Dittborn. Será apresentada a semelhança de sua obra com as produções dos alunos no projeto arte postal. 5. Será apresentada a seguinte obra:


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Dittborn, pintura aeropostal (Fonte: www.iconograficos.estadao.com.br, 2011)

6. A partir desta imagem, os estudantes deverão fazer comentários sobre o que percebem nela. À medida em que forem informando, será explicado o motivo destas pessoas estarem nesta imagem e quem representam. A cor das formas ovais também deverá ser comentada, pois serve para dar importância à estas pessoas excluídas pela sociedade.

Realizado Normalmente chego sozinha até a sala de aula da turma 108 quando ocorre o sinal para o fim do recreio. Porém desta vez, achei estranho quando uma aluna que não costuma faltar me acompanhou até a sala e comentou algumas situações. Disse que preferia chegar antes na sala de aula para evitar confusões em casa, pois se a escola informasse seus pais sobre qualquer comportamento inconveniente, apanharia em casa de seu pai. Achei aquilo estranho devido ao fato de ela já ser uma garota maior de idade. Além disso, esta aluna costuma conversar pouco com seus colegas, relacionando-se mais com apenas um deles. Preferi não comentar muito o assunto sobre o que ela estava discorrendo, pois achei-o muito


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delicado e pensei em comentar com a orientadora da escola, profissional correta para este tipo de situação. Em seguida, chegou a maior parte da turma num grande agito. Assim que se acalmaram, lembrei-os da lista de passageiros para a saída de campo para a Bienal, uma vez que muitos ainda não haviam colocado o número da carteira de identidade, item necessário para realizar em a viagem. Ninguém havia se lembrado de trazer o número e então avisei-os que passaria na sala outro dia da semana para anotá-los e para entregar as autorizações. Eu já havia previsto esta situação de que poderiam esquecer, pois muitas vezes já demonstraram este tipo de atitude com materiais por exemplo. Por isso decidi passar a lista com três semanas de antecedência e mesmo assim, no último dia de aula que antecederia à saída de campo, eles ainda acabaram esquecendo-se. Após isto, mostrei para eles o envelope que continha os trabalhos dos alunos da Escola de Guaíba que viriam para cá antes de ir para o Museu Santander Cultural. Achei curioso quando os alunos disseram antes mesmo de eu mostrar os trabalhos de que estes estariam melhores que os seus. Pois eu pensava que estavam satisfeitos com os seus trabalhos e esta ideia me ocorria por eu ter gostado deles e inclusive os elogiado, mas não havia ainda questionado os estudantes sobre o que haviam achado realmente de suas produções. Conforme Iavelberg (2003, p.11), “o aluno precisa sentir que as expectativas e as representações dos professores a seu respeito são positivas, ou seja, seu desenvolvimento em arte requer confiança e representações favoráveis sobre o contexto de aprendizagem”. Mesmo eu tendo enaltecido suas produções de forma sincera, esta manifestação de alguns educandos não soou muito bem e apesar de no momento não ter me ocorrido a ideia de perguntar para a turma o motivo daquele comentário, penso que em outro momento esta situação deva ser revista. Continuei então o seguimento da aula. Retirei todos os trabalhos e os apoiei no quadro negro onde se colocam o apagador e o giz. Os educandos faziam pequenos comentários sobre como eram diferentes aqueles trabalhos e de que estavam bonitos. Expliquei para a turma que aquelas imagens relacionavam-se a um tema diferente do que eles haviam utilizado e que cada escola participante do projeto possuía um tema distinto. O que estavam visualizando no momento era sobre materiais alternativos. Alguns alunos quiseram ver de perto as imagens e muitos queriam tocá-las para sentir as diferentes texturas.


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Permiti que fizessem isso e, enquanto tocavam, comentavam sobre os materiais que foram utilizados, como por exemplo, galhos secos. Todas as imagens tinham aplicação de diferentes cores de tintas. Por meio da atitude dos alunos percebi que estavam calmos e interessados contemplando os trabalhos que continham muitas cores e texturas variadas. Acredito que eles tenham produzido poucas vezes imagens com aqueles materiais, pois, a partir dos questionários que responderam neste primeiro semestre para o estágio I, e conforme a minha análise dos mesmos, havia informações a respeito da vontade de utilizar principalmente a tinta. Além disso, por meio da observação das aulas e em conversas com a professora titular, esta situação ficou evidente. A partir disso, penso que seria importante utilizarem em algum dos próximos encontros este material. Expliquei então para o grupo que em seguida faríamos um trabalho de curadoria com estes trabalhos, assim como haviam feito com os seus no encontro anterior. Solicitei a dois alunos que me auxiliassem na montagem dos trabalhos utilizando a fita crepe. Um dos estudantes que veio me auxiliar é o aluno que ultimamente vem demonstrando maior interesse nas aulas e também habilidade e criatividade em seus trabalhos. Ele é uma espécie de líder da turma, por isso, logo foi dando seu palpite e vendo possibilidades em como montar os trabalhos no quadro. Perguntei à turma o que achavam e se tinham alguma ideia. Notei que confiavam na habilidade do colega, pois o estavam observando e não responderam à minha pergunta. Resolvi deixar o educando montando juntamente com o seu colega, pois queria mostrar aos demais educandos algo que os auxiliasse para ajudarem também na montagem. Li para a classe o texto que a outra turma havia feito a respeito da sua curadoria. Em seguida, mostrei a foto da montagem do grupo de Guaíba e um estudante opinou para fazermos igual como eles haviam feito. Expliquei que isto não seria possível, pois cada turma possui uma visão diferente e também não teria sentido e graça fazer a mesma coisa que a outra turma. O aluno pareceu compreender, não retrucando. Quando olhei para o quadro, observei que já estava surgindo o desenho de algo com as imagens que os dois estudantes estavam montando. Em pouco tempo, formou-se a figura de uma folha de árvore. Perguntei o significado daquela figura e o estudante explicou que era a relação com a natureza que representavam os trabalhos para ele, em função de estes também terem elementos da natureza em


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suas superfícies. Gostei do resultado final e indaguei a opinião da turma a respeito da montagem. Todos aprovaram e então foi decidido que aquela seria a montagem da turma 108. Como planejado, tirei a foto da montagem que seria enviada juntamente com os outros itens do trabalho ao destino final: a Fundação Santander Cultural.

Montagem realizada pelos alunos. (THOMAS, 2011)

Estava faltando agora a elaboração do texto explicando os critérios de montagem. Perguntei aos dois estudantes que a realizaram se não se incomodavam de fazê-lo, pois, em função da saída de campo no encontro seguinte, necessitava do tempo restante ao final desta aula para explicar um pouco sobre a Bienal. Enquanto o fizessem, poderiam acompanhar a explicação. Os dois concordaram e perguntaram se havia um mínimo de linhas. Expliquei que apenas não deveriam fazê-lo muito curto como por exemplo, de apenas três linhas. Decidi fazer isto pois, como o restante da turma não participou muito, não teria critérios o bastante para formular um texto e gostaria que tivessem alguma noção do que veriam quando fossem à Bienal. Primeiramente iniciei perguntando quem já havia visitado uma Bienal e para minha surpresa, quatro colegiais já haviam visitado. Surpreendi-me com este número em função de eu ter levado outras turmas dias antes e um número muito menor de alunos já terem visitado a exposição. Considerei este fato muito favorável


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e aproveitei para perguntar se gostariam de relatar como havia sido esta visita. Ninguém ainda havia visitado esta edição da Bienal, apenas edições anteriores. Um dos estudantes iniciou explicando que apenas lembrava-se de que foi na Usina do Gasômetro. Outra estudante disse que gostou muito e explicou várias obras que havia achado interessantes. Uma delas era a de um alce que estava dividido ao meio e outra de uma espécie de globo que refletia raios luminosos. Perguntei se ela lembrava de alguma mediação e do local em que havia sido esta exposição e a aluna respondeu que não se recordava muito bem, mas pelas características que ela descreveu, deduzimos ser o Santander Cultural. Diferente do último depoimento, uma educanda nos informou que quando foi, a principal obra que tinha era a de um labirinto e que era meio sem graça. A última declaração foi a de outra garota que havia ido com a escola e que gostou, porém não entrou em muitos detalhes. Agradeci pelos relatos e segui explicando o funcionamento e os locais em que ocorre a Bienal. Enquanto eu explicava, a turma se mantinha em silêncio e aquilo me agradou muito. Diferente dos outros encontros, neste, o grupo estava se mantendo mais atento e concentrado. E quando não compreendiam, perguntavam, como por exemplo, o significado de Mercosul. Após eu explicar isto, passei para a parte do artista homenageado, do qual veriam as obras no local em que iriam. Comentei que era um chileno que viveu no período da ditadura em seu país e que, para continuar desenvolvendo a sua arte sem ser preso pela ditadura, começou a desenvolver suas obras e colocando-as em envelopes e pelo correio para quem lhe interessava. Desta forma, mantinha a comunicação. Mesmo com o fim da ditadura, descobriu uma maneira de continuar a desenvolver a sua arte. Então perguntei aos alunos qual seria o tipo de obra e técnica que fazia este artista e que ia dentro dos envelopes. Alguns arriscaram dizendo ser sobre beleza. Informei-os que justamente por passar pela ditadura chilena, este artista criava estórias que tinham a ver principalmente com este tema e com as pessoas vistas de forma inferior pela sociedade. Mostrei a imagem de uma obra do artista Eugênio Dittborn e indaguei-os sobre o que viam naquela imagem. Ao invés de responderem o óbvio, de que se tratava de rostos de pessoas, tentavam ser mais subjetivos, falando da expressão das faces e de que pareciam marcas de dedões as formas roxas ovais na borda da imagem. No momento em que eu explicaria as dimensões da obra, o sinal tocou.


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Lamentei o sinal ter tocado naquele momento, pois não consegui explicar muito do que eu desejava e desta forma, poderiam sentir-se um pouco perdidos quando fossem fazer a saída de campo. Porém o lamento principal foi o de que desta vez a turma estava atenta e as explicações começavam a render e, infelizmente, o tempo de apenas um período, na maioria das vezes, torna-se muito curto. Apesar disto, despertar suas atenções e envolvê-los com o assunto foi muito gratificante e serviu para mostrar para estes alunos a verdadeira importância de uma aula de artes e de como ela pode aproximar-se de seus interesses e de experiências passadas, como a visita à Bienal. Diante disso, conforme afirma Iavelberg (2003, p.10): Os alunos devem aprender por interesse e curiosidade, e não por pressão externa. Isso não implica a não-diretividade, mas a proposta de conteúdos de ensino e o incentivo a cada aluno para navegar pelas relações que estabelece entre os conteúdos da aprendizagem, a própria cultura e a vida pessoal.

Este

interesse

e

curiosidade

ficaram

evidenciados

pelas

suas

participações durante a aula em que realizavam perguntas, comentários e dificilmente fugiam do assunto em conversas paralelas. Neste dia, em nenhum momento foi necessário chamar suas atenções ou simplesmente solicitar silêncio. Apesar de que no primeiro momento da aula, poucos alunos participaram da montagem do painel, acabei não forçando-os a interagir para não sofrerem a “pressão externa”, como afirma a autora Iavelberg. Entretanto, a segunda parte do encontro foi mais participativa, pois os educandos puderam relatar suas experiências e culturas vivenciadas, por meio das visitas que já haviam realizado na Bienal. Rapidamente recolhi os trabalhos que ainda estavam grudados no quadro e alguns alunos vieram me ajudar. Este gesto solidário deixou-me ainda mais satisfeita.


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3.3.8. Oitavo encontro AULA 8 e 9 (150 minutos). Data: 01 de novembro de 2011. Horário: 13:00-15:30.

Conteúdos:  Projeto Arte Postal.  Obras do artista homenageado da oitava edição da Bienal do Mercosul, Eugênio Dittborn.  Fundação Santander Cultural.

Lista de atividades:  Conversa e observação do prédio do Santander Cultural.  Conversa e observação de obras de arte do artista Eugênio Dittborn.  Conversa e observação dos trabalhos dos alunos envolvidos no Projeto Arte Postal.  Realização de oficina referente à exposição de Eugênio Dittborn.

Objetivos:  Conhecer as obras do artista Eugênio Dittborn.  Refletir e dialogar sobre as obras do artista e o tema nelas exposto.  Visualizar e fotografar os trabalhos dos alunos participantes do Projeto Arte Postal que estão expostos na Fundação Santander Cultural.

Metodologia:  Saída de campo para a Fundação Santander Cultural.

Recursos:


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 Ônibus, câmeras fotográficas.

Avaliação:  Será constituída a partir das reflexões e comentários dos educandos durante a visita mediada. Se os mesmos participaram das conversas com a mediadora expondo suas opiniões a respeito das obras e se mantiveram-se concentrados nestes diálogos, não dispersando-se do grupo. Além disso, se participaram da oficina ajudando o seu grupo a escrever um postal para algum membro da sua escola.

Planejado 1. A turma 108 se deslocará de ônibus até o Museu Santander Cultural para apreciar as obras do artista homenageado da oitava edição da Bienal, Eugênio Dittborn. 2. Lá, conhecerão o prédio histórico do Santander Cultural onde poderão apreciar a arquitetura e os itens ainda presentes desde a época em que era um Banco. 3. No local, serão conduzidos por um mediador que explicará as obras do artista. Durante a visita, deverão fotografar o que acharem mais interessante, além de comentarem o que acharam e compreenderam das obras. 4. Após a visualização das obras do artista, observarão os seus trabalhos que fizeram parte do Projeto Arte Postal e que foram enviados por correio até o Museu para exposição. 5. Se possível, será realizada uma oficina que é organizada pela parte pedagógica da Bienal para que possam desfrutar de uma atividade prática também durante a visita.

Realizado Para o encontro de hoje estava programada a visita à Fundação Santander Cultural com as turmas 81 e 108. Ambas participaram do Projeto Arte Postal e veriam seus trabalhos expostos no local visitado.


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Antes de entrarmos no ônibus, recolhi as autorizações e doze alunos da turma 108 estavam presentes. Não pude permitir que um aluno desta turma nos acompanhasse, pois havia esquecido sua autorização. Visto isso, faltavam ainda seis estudantes. Esperamos durante algum tempo e passados dez minutos do horário previsto para a saída, avisei o motorista que poderíamos ir. A turma sentou-se no fundo do ônibus e manteve-se calma durante a ida. Conversavam e ouviam músicas, porém de uma forma que não perturbava os demais passageiros. O ônibus deixou-nos próximo ao prédio do Santander Cultural e tivemos que andar pela Feira do Livro de Porto Alegre até chegarmos ao destino. Durante este trajeto, alguns alunos perguntavam se poderiam olhar os livros, pois gostariam de aproveitar esta Feira para também conhecê-la. Expliquei que não seria possível em função do tempo e dei a sugestão de que poderiam conversar com a professora de português para trazê-los um dia. Gostei que se interessaram pela Feira do Livro, pois este interesse pela leitura é muito importante e qualifica muito o saber do educando. Chegamos ao Santander Cultural e veio ao nosso encontro uma senhora responsável pelas visitas mediadas, fazendo algumas perguntas e dando algumas orientações. Perguntou de que escola nós éramos e se os alunos sabiam o que veriam na exposição, ou sobre que artista ela era. Nesse momento os educandos entreolharam-se e apenas alguns murmuraram alguma coisa, não sendo possível a compreensão do que disseram. Creio que se sentiram um tanto encabulados para responder e, logo em seguida, expliquei para esta senhora que os trabalhos que estes alunos mesmos fizeram estavam expostos no Ateliê do prédio. Ela logo recordou-se do que se tratava e conversou um pouco com os alunos sobre a Fundação Santander Cultural, bem como as exposições e os acontecimentos culturais que ali ocorrem. Três alunos da turma 108 disseram que já haviam visitado o local. Conforme a conversa do encontro anterior, estes alunos tratavam-se dos que já haviam visitado edições anteriores da Bienal, conduzidos pelas Escolas em que estudavam antes desta atual. Em seguida, fomos encaminhados para a mediadora que nos conduziria nesta visita. Conversei com ela rapidamente se seria possível realizarmos uma oficina e visitarmos o local em que estavam expostos os trabalhos dos alunos e ela concordou. Segundo Iavelberg (2003, p.77), “cabe ao setor educativo dos museus


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construir propostas didáticas com abertura para a criação de práticas diferenciadas, as quais provenham das necessidades de distintos contextos culturais dos visitantes”. Em função da exposição dos alunos e de até então o setor educativo do museu não saber que a turma visitante era uma das que estava participando da exposição, foi extremamente necessário adequar a visita para dedicar um tempo para esta apreciação. Além disso, solicitei a oficina para que os alunos também pudessem expressar o que aprenderiam com esta visita, exercendo desta forma, uma atividade diferenciada e não apenas de contemplação e reflexão das obras de arte. Logo após, a mediadora se apresentou para a turma dizendo que seu nome era Lúcia e fomos conduzidos por ela até o centro do prédio. Lúcia então nos convidou para sentarmos no chão, formando um círculo. Este convite não foi muito bem aceito, pois a maioria dos alunos não queria sentar, alegando que o chão estava sujo. A própria orientadora do colégio que me acompanhava neste dia, também não estava à vontade para isso. Puxei então a frente, sentando-me no chão, sendo seguida por dois alunos. Ficamos sentados algum tempo e convidamos os outros para fazerem o mesmo. Após algum tempo, grande parte sentou-se, ficando apenas dois alunos em pé. Expliquei para a mediadora que a questão de sentar no chão não é costume para estes educandos, partindo daí o estranhamento. A mediadora Lúcia iniciou sua fala comentando sobre a arquitetura do prédio e em seguida um pouco sobre a vida e a obra do artista homenageado, Eugênio Dittborn. Os alunos estavam atentos e falavam pouco. E como estes sabiam do processo da arte postal em função do projeto de que participaram, a mediadora apenas comentou que a ideia de pôr em um suporte que fosse possível enviar pelo correio, surgiu a partir da ditadura, com o intuito de superá-la e, desta forma, o artista driblava o governo. Achei interessante esta fala, porém ela acabou se estendendo e estava ficando pouco confortável aquela posição sentada no chão, devido ao período que seguia a fala da mediadora, quando finalmente ela decidiu mostrar as obras do artista. Esta fala inicial da Lúcia tornou-se cansativa também em função do alto volume dos vídeos do artista, que dificultavam o entendimento do que ela dizia. Nos dirigimos à primeira obra para visualizarmos ela e percebi que chamou a atenção de um aluno da turma 108 o tamanho dos envelopes pois, foi justamente o comentário que o educando fez a respeito. Visto isso, esta é a


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diferença entre observar algo através de uma imagem reprodutiva e a original. No encontro anterior, eu havia mostrado a imagem dos envelopes em tamanho A4, mas é claro que desta forma não poderiam ter noção do tamanho real. Além disso, não se tratava de um envelope de tamanho normal, pois era muito maior. Notei também quando entramos no Santander que os educandos comentaram sobre o tamanho das obras, que eram muito grandes. As imagens das obras também haviam sido mostradas em uma folha A4 e as medidas delas (obras), foram justamente o que faltou explicar no encontro anterior com a turma, mas que em função do tempo curto não foi possível. A mediadora explicou sobre esta primeira obra e os alunos mantinham-se atentos, porém, como não quiseram fazer perguntas, partimos para a obra seguinte. Nesta segunda obra, os educandos estavam mais à vontade e participaram mais. Porém, Lúcia tomou a iniciativa de se sentar no chão novamente para apreciarmos a obra, contudo, vários alunos afastaram-se e foram para trás escorando-se em outro espaço. Solicitei que se aproximassem e após, foi explicado para eles que nesta obra o artista conta a estória de um naufrágio e que o vídeo próximo a ela possui relação com a obra. No vídeo apareciam imagens de um homem em uma praia representando Robinson Crusoé, um antigo personagem que havia sofrido um naufrágio. Nenhum estudante havia ouvido falar antes do personagem e, então, a mediadora perguntou o que os alunos fariam numa situação destas, se estivessem presos em uma ilha deserta. Os alunos da turma 108 dialogaram um pouco com a mediadora e uma aluna disse que tentaria se virar conforme o ambiente, já outro disse que não saberia sobreviver em uma ilha deserta, pois era muito difícil. A partir daí, muitos começaram a falar ao mesmo tempo, expondo as suas opiniões, sendo que elas se dividiam entre instintos de sobrevivência até como aproveitar a situação e se divertir na praia. Gostei que os educandos começaram a imaginar diversas situações, participando constantemente da conversa com a mediadora. Além disso, começaram por si mesmos a tentar compreender os outros itens da obra, como as frases nela contidas. Um discente disse que aquilo parecia ser francês e alguns ficaram em dúvida. Perguntei então se lembravam qual era a nacionalidade do artista e que prestassem melhor atenção nas palavras. Por fim, se deram conta de que na verdade aquilo era espanhol e começaram a rir do colega. Achei aquilo inconveniente e decidi interferir nos deboches dizendo que era apenas um palpite dele e que qualquer um poderia se


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enganar. Partimos então para a tradução das frases. Cada um dava o seu palpite, até que a mediadora traduziu completamente as frases. Estas tinham relação com as imagens expostas. Lúcia aproveitou para explicar que tudo isso se tratavam de apropriações, que o artista utilizava itens como imagens e textos para formar uma estória, mesmo que ele mesmo não os produzia, pois o artista se apropria de elementos que não são dele, mas mesmo assim os utiliza para produzir as obras. A turma continuou entretida e uma das alunas perguntou à mediadora o porquê da cor vermelha na obra. A intermediária explicou que no curso de mediadores haviam feito a mesma pergunta para o artista e que este devolveu o questionamento. Desta forma, foi evidenciado que cada expectador tem seu olhar e a sua interpretação. Aproveitando a pergunta, Lúcia solicitou que os alunos então dissessem o que achavam que representava esta cor. A educanda que havia feito a pergunta sobre o tom disse que representava a morte e, logo em seguida, seu colega associou o seu comentário com a figura de uma foice que aparecia também na obra e que desta forma, a pessoa que estava sofrendo o naufrágio, queria se matar. Percebi que a análise desta obra foi bem fundamentada e refletida pelos educandos, principalmente a partir de seus interesses em exporem as suas opiniões e em tirarem as suas dúvidas. Notei também que Lúcia sabia muito bem conduzir o diálogo com os estudantes, utilizando uma linguagem conveniente para o conhecimento dos alunos. Mesmo que eu estivesse de coadjuvante na mediação, o andamento da visita estava muito bom. A imagem a seguir é a da obra comentada anteriormente:


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Primeira obra vista pela turma do artista Eugênio Dittborn. (Fonte: THOMAS, 2011)

Logo após, nos dirigimos para o segundo andar para observar a terceira e última obra. A mediadora de imediato perguntou o que os estudantes observavam nesta obra. Eles responderam que itens visualizavam na imagem e Lúcia explicava os seus significados, como o homem morto pela ditadura chilena, fato marcante nas obras do artista. Em seguida, comentaram a respeito da ditadura, que ela tira a liberdade de expressão, conforme a aluna Sara.

Os alunos pareciam bem

concentrados no assunto e outro aluno, o Igor, fez uma interessante interpretação do desenho de uma jóia que aprecia na obra. Ele disse que imaginava uma pessoa usando a jóia, mas que de nada adiantava isso, se a pessoa estava em um deserto (elemento constituinte da obra). Ele também associou a cor da obra que era um amarelado, com o deserto e o ouro. Sua colega Sara também refletiu sobre o assunto e fez uma pergunta aos colegas, se o que mais vale é uma jóia ou uma vida. A mediadora aproveitou para perguntar aos alunos o que realmente tem valor? Após isso, outro educando ainda questionou sobre um antigo carro que visualizava na obra. Foi-lhe respondido por Lúcia que se tratava de um carro que recolhia corpos de mortos pela ditadura, como se fossem lixos jogados no chão. Notei que esta obra continha elementos mais profundos, como a morte e o valor que as pessoas dão para os objetos, ou seja, os próprios valores de um ser humano. Com isso, o envolvimento dos jovens com a obra foi muito interessante para


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aproveitarem o momento e refletirem sobre estas questões que fazem parte da vida. Achei muito propício a obra falar da questão do valor dos objetos de adorno para as pessoas, em função do assunto que venho desenvolvendo com as turmas no estágio ser sobre a beleza. Este tema gerou polêmica entre os alunos e, de maneira geral, até agora os discentes defendem o caráter e a beleza interior por serem, segundo eles, mais importantes, criticando desta forma as futilidades. A imagem a seguir é da terceira obra vista:

Terceira obra vista pela turma de Eugênio Dittborn. (Fonte: THOMAS, 2011).

Outra questão abordada foi referente às marcas que apareciam nas obras, pois quanto mais viajadas, mais salientes eram as dobras, sendo isto a própria memória da obra, segundo a mediadora. Ela também comentou que as marcas eram como as pessoas, que quanto mais anos de vida as pessoas têm, maiores são as marcas. Achei interessante este comentário e também pensei na relação dele com o tema da beleza. Pois muitas pessoas tentam esconder estas marcas com diferentes procedimentos estéticos e na verdade elas mostram as experiências e os saberes adquiridos nos anos vivenciados por aquela pessoa. No momento não tive a ideia de comentar sobre isso com as turmas, mas para o


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próximo encontro em que a saída de campo será refletida e analisada, poderá ser interessante expor estes fatos. Logo após, notei que os estudantes pareciam um pouco cansados, com alguns perguntando onde eram os banheiros e onde poderiam beber água. A mediadora percebeu isto e decidimos fazer um pequeno intervalo antes de visitarem suas produções no ateliê. Após o pequeno intervalo, nos dirigimos para o ateliê e lá se encontrava uma colega do curso de Artes Visuais, a Carolina. Ela nos orientou no local, mostrando aos alunos os seus próprios trabalhos expostos. A reação que tiveram foi muito empolgante, pois percebi satisfação em suas expressões e gestos, por meio das fotografias que tirei deles. O humor dos estudantes mudou completamente, pois comentavam e apontavam seus trabalhos com satisfação.

Exposição dos trabalhos dos alunos participantes do Projeto Arte Postal. (Fonte: THOMAS, 2011)

Ficamos algum tempo contemplando os trabalhos, pois cada educando tentava encontrar o seu em meio aos 400 expostos. Logo após, a mediadora sugeriu de os próprios alunos fazerem a mediação de suas produções. Um aluno da turma 81 decidiu fazer a mediação, porém ela acabou gerando um diálogo um pouco conturbado entre os alunos das duas turmas. Diálogo gerado a partir do trabalho do


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aluno Waldemar que continha colagens de um homem com seu carro novo e em um segundo plano, mulheres o admirando. O estudante comentou que quando um homem feio tem um carro novo e bonito, acaba se tornando “belo” para as mulheres, pois estas eram interesseiras. Logo em seguida, a mediadora opinou que nem todas as mulheres pensam assim e perguntou para as garotas do grupo o que achavam da afirmação do aluno Waldemar. As meninas da turma 108 retrucaram dizendo que não era bem assim, pois nem todas pensavam e agiam desta forma. O Waldemar explicou que expôs o que pensava a respeito da beleza e que com ele seria assim, compraria um belo carro, para ter belas garotas. Percebi que a maioria das alunas não gostou da afirmação do aluno, por ser um tanto radical em generalizar as mulheres desta forma, como se fossem todas interesseiras. Porém, gostei desta conversa, pois envolveu as duas turmas e os estudantes demonstraram a sua opinião a respeito de uma situação do tema da beleza que por vezes pode surgir, como por exemplo, em programas de televisão. Um educando da turma 108 também mediou o seu trabalho, falando sobre os ideais e padrões de beleza contidos na sua imagem. A colega Carolina da ULBRA também comentou que o trabalho dele foi muito discutido entre os seus alunos de estágio na Escola de Porto Alegre. Além disso, anteriormente, a Caroline havia explicado para os alunos da turma 108 que foram os trabalhos deles os analisados pelos seus alunos, e que eles discutiram muito sobre o tema da beleza. Além disso, a turma dela também havia gostado dos trabalhos da turma 108, pois continham ideias muito interessantes e polêmicas. Achei importante esta fala da Caroline com os alunos, pois os aproxima ainda mais do Projeto Arte Postal, a partir do relato dos seus discentes sobre o que acharam das produções dos outros educandos da outra escola, no caso da turma 108. Após as observações, partimos para a oficina. Ela se realizou no ateliê mesmo, pois lá havia uma mesa grande e materiais à disposição. A mediadora solicitou que os estudantes se organizassem em grupos e que fizessem um postal para enviar para alguém do colégio. As duas turmas se dividiram em quatro grupos, eu e a supervisora também recebemos um postal para enviar para a escola. Cada postal continha uma imagem de uma das obras observadas na visita de hoje, por isso a escolha da mediadora em selecionar as três obras analisadas. Perguntei aos educandos se poderia ver o que estavam escrevendo e alguns não queriam me


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mostrar. Respeitei a vontade deles, pois poderiam estar escrevendo algo particular para alguma pessoa. Juntamente com os trabalhos dos educandos, estavam no ateliê os textos e as fotografias dos painéis que fizeram dos próprios trabalhos e dos trabalhos dos alunos das escolas envolvidas no Projeto Arte Postal. Conforme finalizavam o postal eu solicitava que dessem uma olhada no que os alunos das outras escolas escreveram das suas imagens. Além disso, solicitei também que assinassem o livro de presenças. Conversei com Lúcia e ela disse que ainda teríamos quinze minutos até a visita acabar, então sugeri que poderíamos ver a parte do subsolo do prédio que possui alguns atrativos. Assim que os estudantes terminaram de assinar o livro de presenças, nos despedimos da colega Carolina e nos dirigimos para a parte do subsolo da Fundação. Enquanto descíamos as escadas, muitos estudantes tiravam fotos de si e do prédio. Com a turma bem dispersa, demos uma pequena olhada nos artigos do Museu da Moeda do Santander Cultural. Após isto, nos reunimos na porta do prédio e aguardamos alguns estudantes que estavam no banheiro. Quando estavam todos reunidos, nos despedimos e agradecemos à mediadora pela excelente visita. Quando saímos do prédio, pareciam todos muito animados, pois perguntavam se poderiam ficar mais e quando poderiam vir novamente. Fiquei muito contente com o ânimo das turmas e constatei que a visita foi muito importante e interessante para os alunos, pois fizeram algo inédito: ver suas próprias produções expostas em um Museu. Diante disso, percebo que o Projeto Arte Postal foi excelente para aproximar os alunos das obras de arte a partir de um envolvimento ainda maior: ter suas próprias obras expostas, bem como ocorre com os artistas. Ainda mais que a troca dos trabalhos entre as escolas também foi interessante para aproximar alunos com ideias e pensamentos diferentes, expostos com materiais e técnicas distintas. Pois, como a colega Carolina comentou no início, os seus alunos disseram que os trabalhos do colégio Gomes Jardim não foram tão criativos quanto os deles, pois fizeram apenas recortes e colagens. Porém, após algumas análises, puderam perceber que apesar de não terem uma técnica tão desenvolvida, expuseram ideias de um tema que é bastante discutido, pois divide muitas opiniões e assim envolve mais os estudantes, pois cada um possui um pensamento a respeito da beleza.


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A volta até a Escola foi tranquila. A turma 108 sentou-se novamente no fundo do ônibus e mostrou-se muito mais animada que na ida, pois cantavam alegremente e não apenas ouviam as músicas, como antes. Quando chegamos, perto das 16 horas conforme o previsto, solicitei que fossem todos para suas casas, em função de ainda ser horário de aula e assim, não ter problemas com a direção. A visita de hoje foi muito boa, pois não houve problemas e o principal de tudo foi a empolgação dos estudantes quando viram seus trabalhos expostos no Museu. Creio que não tinham ideia de como seria e experimentaram uma situação nova, a mesma de artistas expondo. Alguns até brincaram que cobrariam cachê. Desta forma, creio que tenham adquirido certo conhecimento em Arte por meio desta experiência e principalmente o gosto por apreciar obras de arte, com o possível desenvolvimento da compreensão estética. Segundo Iavelberg (2003, p.75), [...] o desenvolvimento da compreensão estética é saber apreciar objetos de arte com a propriedade que é possível a cada momento conceitual dos sujeitos que compõem o público de apreciadores. Ainda podemos supor que, quando o fazer arte está associado à apreciação, ela se enriquece e amplia os conhecimentos de arte do público.

Neste caso, o fazer arte associou-se à apreciação, juntamente com reflexões sobre a obra do artista que envolvia a produção artística dos educandos. Desta forma, enriqueceu suas experiências artísticas e culturais com distintas etapas que envolvem o produzir, o contemplar e o analisar arte.


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3.3.9. Nono encontro AULA 10 e 11 (100 minutos). Data: 08 de novembro de 2011. Horário: 14:50-16:40.

Conteúdos:  Imagens da saída de campo para a Fundação Santander Cultural.  Arquitetura da Fundação Santander Cultural.  Obras do artista homenageado da 8a edição da Bienal, Eugênio Dittborn.  Projeto Arte Postal.  Beleza e algumas relações como: o poder que a mesma exerce sobre as pessoas, a crescente busca dos homens pela beleza; a relação da beleza entre pais e filhos e a relação da beleza com as medidas corporais.

Lista de atividades:  Visualização de imagens sobre a saída de campo para a Bienal.  Reflexão e contextualização dos assuntos envolvidos na saída de campo, como a arquitetura do prédio, as obras do artista Eugênio Dittborn e o Projeto Arte Postal.  Realização de atividade prática em grupos envolvendo recorte e colagem.  Criação de estória sobre a atividade de recorte e de colagem.

Objetivos:  Avaliar o que foi e o que não foi positivo na saída de campo para a Fundação Santander Cultural.  Refletir sobre a importância das obras do artista Eugênio Dittborn para a sociedade.  Dialogar sobre a relação do Projeto Arte Postal com as obras de Eugênio Dittborn.  Compreender o processo de produção da Arte Postal.  Aproximar socialmente alunos que normalmente não possuem relação social, por meio de sorteio para formação de grupos.


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 Produzir estória sobre algum assunto do tema “beleza”, conforme a produção de estórias que fazia Eugênio Dittborn.  Realizar colagem de figuras segundo a estória produzida, podendo interferir nas figuras com recortes e desenhos.

Metodologias:  Aula expositiva dialogada.  Projeção em Datashow de imagens sobre a saída de campo para a Bienal.  Atividade prática em grupo com recorte, colagem e criação de estória.

Recursos:  Sala de vídeo, Datashow, computador, folhas coloridas tamanho A2 e A4, tubos de cola, recorte de figuras.

Avaliação:  Envolvimento no diálogo sobre a saída de campo, conforme os itens da mesma.  Participação dos educandos em seu grupo no processo de elaboração da imagem e da estória. Se ajudaram seus colegas com ideias referentes ao tema do grupo.

Planejado 1. No primeiro período, a turma irá para a sala de vídeo, onde visualizará as fotografias tiradas na saída de campo para a Bienal pela professora Estagiária. Para a visualização, será apresentado um Power Point contendo informações e as fotos da saída de campo. No início será feita uma avaliação sobre o que acharam da saída, expondo o que foi e o que não foi positivo. 2. A primeira série de fotografias expostas no Datashow será sobre a arquitetura do prédio, visto que foi comentada pela mediadora no dia da saída. Será feita uma comparação para mostrar as diferenças da arquitetura considerada “bela” do prédio, com o tipo de obras de arte expostas no interior do prédio. Desta forma, será explicado para os educandos a diferença em cada época da história da arte,


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em que as preocupações estéticas mudam. Tudo isto em função de alguns alunos terem esperado ver obras de arte “bonitas” para contemplar.

Fotografia da arquitetura do interior do prédio da Fundação Santander Cultural. (Fonte: THOMAS, 2011)

3. Após, será dialogado sobre o artista homenageado da Bienal, Eugênio Dittborn e a sua produção artística. Será comentado sobre o artista ainda estar vivo e desta forma poder auxiliar o curador da exposição José Roca, na montagem da mostra. 4. Após, serão apresentadas para os estudantes as etapas do Projeto Arte Postal, para que possam compreender melhor o seu processo. Este consiste primeiramente na elaboração das imagens e na curadoria das mesas. Em seguida, o envio para outra escola e o recebimento de trabalhos de outra escola. Destes trabalhos, a montagem de um painel expositivo e o envio por meio do correio para a Fundação Santander Cultural. Como culminância do Projeto, a exposição e visualização dos trabalhos dos alunos. 5. Na segunda parte do encontro, os alunos farão uma atividade prática em sala de aula envolvendo recorte e colagem. A atividade será relacionada com a Arte Postal e o tema beleza. Esta atividade será constituída em algumas etapas como: 6. Por meio de um sorteio envolvendo cores, serão formados grupos que cada um destes grupos terá um assunto para desenvolver relacionado com a beleza.


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A turma desenvolverá o assunto por meio da criação de uma imagem em tamanho A2 com recorte e colagem de figuras envolvendo o tema beleza. Juntamente com a produção da imagem, será elaborado um texto conforme o tema do grupo. 7. Para a formação dos grupos, cada estudante irá retirar de uma caixinha um pequeno papel de uma cor. Após, os alunos com os papéis das mesmas cores é que formarão os grupos. Os assuntos que terão que desenvolver serão: “Beleza é poder?”; “Beleza e a relação entre pais e filhos”; “Homens e a crescente busca pela beleza”; “O PESO da beleza”. Cada assunto será explicado detalhadamente para a turma. Além disso, cada um destes assuntos foi retirado dos diálogos e debates envolvidos pela turma nos primeiros encontros. Nestes, os educandos discutiram principalmente estes assuntos sobre a beleza mediante a visualização do documentário “A sobrevivência do mais belo”. 8. Depois de formados os grupos, um integrante de cada grupo deverá pegar um papel contendo o nome de um dos assuntos relacionados à beleza. 9. Em seguida, cada grupo receberá vários recortes de figuras referentes ao seu assunto, um tubo de cola, além de uma folha tamanho A2. Os estudantes poderão escolher as figuras que preferirem para fazer as colagens na folha A2, pois serão dadas as elas diversas opções de recortes de figuras, visto que se fossem escolher as imagens, demorariam muito tempo e não havia muito tempo para isto. Receberão também outra folha de tamanho A4 para desenvolver uma estória referente à colagem realizada. As folhas serão da mesma cor que os papéis coloridos que formarão os grupos. Desta forma, os grupos serão conhecidos pela cor que possuem e pelo seu tema. Exemplo: grupo azul que contém o tema da “Beleza e a relação entre pais e filhos”. 10. Será explicado para a turma que poderão interferir nas figuras recebidas com recortes ou desenhos, não necessitando utilizar todas elas. Além disso, a estória elaborada deverá ser segundo a interpretação de cada grupo referente às suas imagens produzidas.

Realizado Neste dia a temperatura estava muito alta e na sala da turma 108 isto piorava ainda mais devido ao sol que refletia direto no ambiente. Visto isso, cheguei


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na sala e como os alunos estavam um pouco cansados e desanimados devido ao calor, comuniquei à eles que iríamos para um lugar melhor onde não fizesse muito calor. Levei-os para a sala de vídeo onde tem ar condicionado. Logo que entraram na sala, comentaram que agora estava muito melhor do que antes e alguns até me agradeceram. Fiquei satisfeita em poder condicionar a aula para um local melhor e penso que quando há fatores externos que acabam interferindo no rendimento dos educandos, o professor deve encontrar maneiras para melhorar o atendimento aos seus alunos, ainda mais quando existem possibilidades. No caso da Escola, há a sala de vídeo com ar condicionado e mesmo assim, é pouco utilizada pelos professores. Estes alegam não saberem lidar com os equipamentos eletrônicos e que por isso não a utilizam. Creio que o ar condicionado tenha se tornando até mesmo um recurso pedagógico neste encontro como forma de facilitar a aprendizagem e o conforto dos educandos. Como os educandos perceberam que eu estava montando o Datashow na sala, perguntaram se veriam as fotografias da saída de campo realizada na semana passada para a Bienal. Concordei e antes de iniciar a apresentação em power point com imagens e frases do passeio realizado para a Fundação Santander Cultural, perguntei aos estudantes o que haviam achado da saída. Responderam no geral que gostaram, mas que a mediadora falava demais e isto era um tanto cansativo. Expliquei para eles que estas explicações faziam parte da função dos mediadores e que era dever deles fazerem de forma qualificada a mediação entre o expectador e a obra. Visto que, por vezes, essa conversa estende-se um pouco mais, para que o público tenha uma melhor compreensão a respeito da obra do artista. Os estudantes concordaram em parte, pois mesmo que esta fosse a função dela, não era necessário falar tanto de uma obra, pois poderiam ter visto mais obras que gostariam de ver. Após, iniciei a apresentação mostrando imagens do prédio do Santander Cultural, pois esta foi a conversa inicial com a mediadora Lúcia. Perguntei aos alunos o que haviam achado da arquitetura do prédio e, os estudantes que foram disseram que a acharam linda, principalmente os vitrais que refletiam diferentes cores no chão. Porém, dois alunos que não haviam ido, quando viram as imagens, disseram que ele era antigo e parecia mal assombrado. Relevei apenas o comentário dos que foram, pois os outros que disseram ser um lugar malassombrado são dois alunos que constantemente fazem brincadeirinhas e piadinhas


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infantis. Então comentei que era interessante a diferença entre a arquitetura do prédio histórico com os tipos de obras de arte expostas no prédio. Pois são obras de arte contemporâneas que não possuem a preocupação em representar o realismo figurativo belo, diferente do prédio do Santander Cultural, pois é um prédio de outra época e que apresenta sim uma certa beleza devido aos seus detalhes rebuscados e enfeites requintados. No caso das obras expostas, que são de Eugênio Dittborn, artista contemporâneo, a preocupação dele é com outra realidade, como a perda de identidade cultural de alguns povos, como os indígenas e da discriminação cultural. E que para isso, não era necessário que a obra de arte fosse bela como o prédio do Santander Cultural. Procurei enfatizar esta questão da diferença nas preocupações estéticas em épocas distintas da história da arte, pois como este é o tema principal de minha pesquisa e eu ainda não havia tido tempo de enfatizá-lo, considerei esta imagem do prédio propícia para mostrar a diferença dos tipos de preocupações estéticas aos alunos. Além disso, houve um momento em que uma aluna comentou que não gostou muito das obras do artista, pois não havia achado elas muito interessantes. Comentei então com a discente que muitas pessoas ainda esperam ver em uma obra de arte algo bonito para se contemplar e se admirar, mas que a partir da arte moderna no século passado, isso começou a mudar em função de diversos fatores como a industrialização, a máquina fotográfica, as guerras, entre outras coisas. E que representar o realismo e o belo, acabou perdendo a sua função devido ao contexto histórico. A aluna Stefane disse que mesmo assim gostou mais dos trabalhos que eles, os alunos fizeram, que as obras do artista. Comentei com ela que isso também era uma questão de gosto e que ninguém é obrigado a gostar das obras de um artista. Logo em seguida, a apresentação passou para a parte do artista homenageado da oitava edição da Bienal, Eugênio Dittborn. Mostrei uma fotografia atual do artista juntamente com uma frase sua que diz o seguinte: “Las pinturas aeropostales son ahora más visibles”. De imediato, a turma comentou sobre a aparência do artista, como ele era feio. Expliquei que ele tem atualmente 68 anos e perguntei se a turma saberia traduzir o que dizia a frase do artista. Alguns tentaram ler, mas não tinham domínio do espanhol, sendo que possuem uma aula semanal da matéria no colégio. Apenas compreenderam o início, que era “As pinturas aeropostais...”. Duas alunas perguntaram se eu não poderia ler então e traduzir o


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resto. Fiz isto e questionei os educandos sobre o que o artista quis dizer com aquela frase, sendo que a mediadora havia comentado sobre isto durante a visita. Como não souberam responder, lembrei-os que a ideia da arte postal, ou seja, envelopar as obras e mandar pelo correio, surgiu em meio à um período conturbado no Chile, que foi a ditadura. Ou seja, quando o artista mandava as obras pelo correio para determinadas pessoas, as obras não eram tão vistas, justamente para o governo não ter conhecimento delas. Porém passada a ditadura, as obras puderam ser mais vistas pelas pessoas justamente para mostrar os indivíduos discriminados pela sociedade, que são o alvo do artista em suas composições. Dito isto, uma educanda lembrou que gostaria de ter visto a obra que mostrava os desenhos dos esquizofrênicos e dos retratos falados dos procurados pela ditadura (discriminados pela sociedade). Pois eu havia mostrado esta imagem para a turma na aula anterior a visita à Bienal. Expliquei para a aluna que as obras vistas foram as escolhidas pela mediadora devido aos postais enviados à escola, que continham as imagens das mesmas obras. Dito isto, outra aluna perguntou se a escola já havia recebido os postais e respondi que ainda não. Achei bom que manifestaram interesse pelos postais que fizeram e por recordarem-se das obras que não viram na exposição. Depois de comentarmos sobre o artista Eugênio Dittborn, mostrei outra imagem do mesmo, porém nesta imagem está junto à ele, o curador geral da 8a Bienal, José Roca, ambos parecendo conversar no prédio do Santander Cultural. Perguntei à turma o que eles achavam que os dois estavam fazendo. Dois estudantes opinaram que eles estavam conversando sobre as obras do Eugênio. Falei que estava correto e fiz outra pergunta: se lembravam do que era um curador: o aluno Maurício recordou-se que é quem seleciona e organiza obras de arte em uma exposição. Respondi que estava correto e expliquei aos estudantes a diferença que era para um curador organizar uma exposição de um artista que já morreu, de um que está vivo, pois o que está vivo pode interferir na exposição do curador e ambos podem trocar ideias, montando desta forma juntos a exposição. Em seguida, começamos a observar a sequência de imagens das obras vistas com o auxílio da mediadora. Enquanto eram expostas as imagens, os educandos recordavam-se com detalhes dos elementos contidos e de seus significados em cada imagem. Creio que não seja necessário repetir estas falas, pois são semelhantes às que utilizaram na visita do encontro anterior. Contudo, enquanto comentávamos sobre as obras, três alunos conversavam constantemente


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sobre assuntos fora do contexto e de uma forma que atrapalhava o foco da aula. Solicitei algumas vezes que fizessem silêncio e, nestes momentos, sempre desculpavam-se, porém, retornavam a conversar e a atrapalhar novamente. Houve um momento em que seus próprios colegas acabaram se irritando e solicitando que fizessem silêncio também. E os três alunos acabaram se explicando que estavam comentando sobre filmes de terror e começaram a fazer perguntas sobre este assunto para mim. Outros colegas começaram a comentar também sobre filmes que viram e durante um tempo a aula saiu totalmente fora de foco. Permiti que comentassem durante alguns minutos para descontraírem, pois igual estavam com um humor diferente nesse dia em que faziam piadinhas e davam risadas de qualquer coisa. Como era uma turma bem descontraída, não me incomodei com suas atitudes de conversarem a todo instante, pois mesmo assim, não deixavam de participar das aulas. Deixei que o andamento do encontro fosse conduzido com calma, deixando que os educandos fizessem constantemente o uso da palavra. Percebi que faltava pouco para o início do recreio, então solicitei que encerrassem o assunto sobre os filmes para terminarmos a visualização das imagens. Em uma das imagens que era da obra que falava sobre um naufrágio, havia uma legenda escrito “ESTÓRIAS” e os alunos perguntaram se aquilo estava escrito corretamente. Perguntei se alguém sabia a diferença de ESTÓRIA para HISTÓRIA e alguns engraçadinhos responderam que era a letra “H”. Expliquei então a diferença para a turma, que ESTÓRIA refere-se à algo fictício, contado entre as pessoas e que HISTÓRIA refere-se à fatos históricos, que aconteceram realmente na história. Um aluno comentou que imaginava maios menos que era isso, apenas não tinha certeza. Achei importante este momento para explicar algo para os estudantes que não conheciam, mesmo que não fosse diretamente relacionado com a arte, há certas coisas que os estudantes devem saber. Após, quando estávamos observando a última obra vista no passeio, a aluna Sara que antes conversava constantemente com os seus colegas, comentou que as obras do artista pareciam um pouco abstratas, como se fossem um pouco complicadas de se entender. Comentei que cada um tem a sua visão e interpretação, conforme havia dito a mediadora e que o artista apenas se expressava. Nisto, outra colega comentou que também não havia entendido muito bem as obras. Falei então que seria muito mais complicado se não tivéssemos a mediação de Lúcia para explicar o significado de cada obra. E, diante desta


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situação, aconselhei os alunos para quando fossem à uma exposição de arte moderna ou contemporânea, procurassem o auxílio de um mediador, visto que ambas não possuem a preocupação em retratar o realismo figurativo e que desta forma, tornam um seu entendimento um pouco mais complexo. Por fim, observamos rapidamente as fotos das etapas do Projeto Arte Postal. Apresentei imagens deles mesmos produzindo os trabalhos que seriam envelopados e enviados para outra escola. A turma comentava sobre as fotografias, quando aparecia algum colega. Sendo que uns gostavam de se ver nas imagens e outros sentiam-se envergonhados. Durante a visualização destas imagens, alguns alunos se deslocavam até onde estava projetada a imagem pelo Datashow e tocavam na parede exposta, mostrando determinados colegas e fazendo observações. A turma parecia divertir-se com estes comentários e por isso, deixei que fizessem isso. Havia também imagens de quando realizaram a curadoria dos seus trabalhos e a dos trabalhos dos alunos da outra escola. A última fotografia apresentada foi a da exposição na Fundação Santander Cultural e a aluna Stefane fez uma boa pergunta: o porquê de os trabalhos não terem sido expostos como haviam sido montados na sala de aula. Sendo que a montagem que os alunos haviam feito era em forma de árvore e na exposição estavam todos os trabalhos postos usn do lado dos outros, sem critérios específicos para as suas colocações. Expliquei que não foi possível montar do jeito que fizeram a montagem na escola, devido ao espaço cedido para a exposição. Sendo que no início o objetivo era colocar todos os trabalhos em um espaço maior e desta forma poderiam ser postos conforme a montagem de cada turma. Em alguns instantes o sinal tocou para o recreio e os alunos saíram apressadamente. Para esta primeira parte do encontro, considerei a turma bem participativa, porém um tanto falante e agitada. Mesmo assim, foi possível conduzir o encontro de forma com o que estava no planejado. Além disso, foi importante rever as imagens e o funcionamento do Projeto Arte Postal, de forma que foi possível contextualizar o assunto e também foi o momento para os alunos exporem suas opiniões sobre o passeio e sobre o Projeto. Este momento inicial foi também uma forma de avaliação da saída de campo, uma retomada para ver o que realmente os alunos aprenderam. Visto desta forma, acredito que foi muito satisfatória a saída de campo, sendo que os aprendizes mostraram-se bem dispostos em comentar vários


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momentos do passeio, expondo as suas opiniões e mostrando o que aprenderam. Conforme Marins e Guerra (1998, p.179), É importante criar momentos para a avaliação, como forma de retomar o que acabamos de fazer. Através deles, conversaremos sobre o que aprendemos, avaliando o que foi ou não significativo, sintetizando a nossa apropriação do conhecimento.

Creio que também a forma que criado o momento para avaliação tenha contribuído, visto que os educandos estavam em um ambiente agradável, sem o incômodo do calor e também a visualização das fotografias do passeio pelo Datashow, tenha favorecido para o exercício de recordação do que aprenderam. Além disso, seguindo com as autoras Martins e Guerra (1998, p. 181), “é extremamente interessante propor situações de avaliação nas quais os alunos possam também refletir sobre o que foi mais significativo e o que poderia ter sido diferente”. No caso do que poderia ter sido diferente, houve um diálogo em que os estudantes disseram que a mediação poderia ter sido conduzida de forma mais breve para poderem ter visto outras obras. Ou seja, foram oferecidos para eles vários momentos para colocarem o que foi e o que não foi significativo para a turma. Diante disto, creio que a avaliação que os estudantes fizeram do passeio foi bastante afirmativa, pois relataram que gostaram da saída. E a avaliação que faço disto tudo é em concordância com o que os educandos disseram que a mediação poderia ter sido mais rápida e dinâmica, pois eu mesma achei ela cansativa em alguns momentos, mas do restante foi muito boa. Na volta à sala para o segundo período do encontro, os alunos voltaram a ficar desanimados principalmente devido ao calor e perguntaram se não voltariam para a sala de vídeo. Expliquei que agora faríamos uma atividade prática e que não seria possível realiza-la na sala de vídeo, visto que lá não há classes. Como ainda faltavam alguns alunos, decidi adiantar-me e comecei a escrever no quadro negro parte da atividade prevista para a aula, quando, fora da sala, começou um tumulto. Saí da sala e vi que dois alunos estavam discutindo agressivamente, sendo que um deles era uma aluna da turma 108. Muitos discentes estavam ao redor deles tentando apartar e em pouco tempo apareceu a vice-diretora levando para a sua sala os dois alunos que estavam brigando. Fiquei pensando se eu não devia ter intercedido rapidamente na discussão, pois a aluna já deveria estar na sala de aula,


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visto que o sinal para o fim do recreio já havia tocado há algum tempo. Porém nem houve tempo para isso, já que logo apareceu a vice-diretora. Então apenas chamei o restante dos alunos para dentro da sala de aula. Perguntei para algumas meninas se sabiam o motivo da discussão e não souberam responder. Em alguns minutos surgiu a vice-diretora na sala solicitando a presença de dois alunos em sua sala. Percebi então que havia mais pessoas envolvidas. E como já faltavam mais alguns alunos naquele dia, a turma ficou em número reduzido sem a presença ainda dos três envolvidos na confusão. Intuí que isto dificultaria um pouco o desenvolvimento da atividade prevista para o momento. Mesmo assim, decidi proceder na atividade, visto que era um dos últimos encontros e era necessária a realização da atividade. Terminei de escrever no quadro negro e expliquei então para a turma o que fariam nesta aula: seriam formados quatro grupos de três integrantes por meio de um sorteio de cores. Após isto, cada grupo receberia um tema relacionado à beleza para desenvolvê-lo por meio da criação de uma imagem e de uma estória relacionada à mesma. Esta imagem seria formada em uma folha tamanho A2 de cor conforme à do grupo formado, com recortes, colagens, desenhos e pinturas para formar uma estória segundo o tema recebido. Além disso, esta estória formada seria escrita em uma folha para após ser dobrada e posta em um envelope juntamente com a folha A2. Desta forma, comuniquei à eles, fariam um trabalho semelhante ao que Eugênio Dittborn realiza, porém utilizando o tema da beleza. Falei que haveria também outros procedimentos, mas que seriam feitos na semana seguinte. Passei então pelos alunos com uma caixinha da qual cada um deveria retirar um pequeno papel de uma cor. Desta forma seriam formados os grupos e então distribuí pelos cantos da sala a localização de cada grupo composto pelas cores azul, vermelho, amarelo e verde. Para se unirem aos grupos, os estudantes não estavam muito dispostos e perguntavam se não poderiam eles mesmos formar os grupos. Expliquei que desta vez não, pois quase sempre sentavam-se na sala de aula perto dos mesmos colegas e agora, desta forma, poderiam se relacionar e até conhecer melhor seus outros colegas, por meio da realização do trabalho. Precisei ajudar os alunos para formarem os grupos, pois muitos estavam dispersos, conversando com colegas e mexendo em seus celulares. Algum tempo depois de finalmente formados os grupos, solicitei que um dos integrantes de cada grupo viesse até a minha mesa para pegarem um papelzinho. Neste, estava escrito o tema que desenvolveriam no seu grupo. O grupo verde pegou “Beleza é poder?”; o


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grupo azul ficou com “Beleza e a relação entre pais e filhos”; já o grupo amarelo ficou com “Homens e a crescente busca pela beleza”; e por fim o grupo vermelho ficou com “O PESO da beleza”. Em seguida, expliquei um pouco sobre cada tema, citando exemplos. Este momento foi bem participativo pelos alunos, pois também faziam comparações, lembrando-se de celebridades, como jogadores de futebol, quando expliquei o tema “Homens e a crescente busca pela beleza”. Ou também quando foi dito sobre o tema “Beleza e a relação entre pais e filhos”, os estudantes recordaram-se de quando o tema foi visto no documentário “A sobrevivência do mais belo”. . Além disso, todos estes temas selecionados foram os que acabaram sendo os mais discutidos e expostos pela turma ao longo dos encontros em que o tema da beleza era exposto. Logo após isto, distribuí imagens que eram relacionadas com o tema de cada grupo e junto às imagens, receberam um tubo de cola, visto que em muitas aulas os alunos não tinham este material e a folha tamanho A4 para desenvolverem a estória. Esperei algum tempo até que todos começassem a se organizar e decidi passar pelos grupos novamente para ver se precisavam de ajuda. Muitos não sabiam como desenvolver a estória e expliquei que poderiam criar qualquer coisa, desde que tivesse relação com o tema. O grupo vermelho que teve o tema “O PESO da beleza”, gostou bastante das imagens que tinham sobre as mulheres gordas e anoréxicas, comentando que eram interessantes as imagens. Além disso, expliquei para a turma que a colagem deveria ter relação com a estória desenvolvida, que não precisariam colar todas as imagens de qualquer jeito na folha. Poderiam utilizar critérios para colá-las e até modificar as imagens, recortando-as ou fazendo alterações com canetas coloridas. Decidi eu mesma entregar as imagens já recortadas em função do tempo, pois se disponibilizasse esta função para a turma, levariam um período a mais. Desta forma, entreguei várias opções de imagens referentes ao seu tema, sendo que teriam muitas escolhas para fazer na hora de compor o seu trabalho. Voltei para minha mesa para realizar a chamada e após isto fiquei observando os grupos, para ver se o objetivo dos educandos poderem se relacionar com os outros colegas daria certo. Em parte percebi que sim, porém havia ainda dois grupos em que apenas um ou dois alunos é que faziam as coisas. Os outros integrantes conversavam ou até mesmo pior, houve momentos em que precisei


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chamar suas atenções, pois saíam constantemente da sala e inclusive sem solicitar autorização. Decidi então passar novamente por cada grupo e orientá-los para que todos participassem e lembrei-os que a nota deste trabalho seria a última do trimestre e que ela não seria dada por grupo e sim cada aluno seria avaliado individualmente, visto que eu estava acompanhando o processo deles na realização do trabalho. Voltei para minha mesa e percebi que agora o andamento dos trabalhos começava a fluir. Porém, algum tempo depois, começou uma outra pequena discussão entre uma educanda de um grupo e um colega de outro grupo. Não percebi qual foi o real motivo da discussão e ambos começaram a se ofender. Intercedi no bate-boca solicitando que se respeitassem e parassem com aquilo. Mesmo assim, a aluna Stefane continuou, pois como o seu grupo tinha o tema sobre os homens e a busca pela beleza, ela começou a ler alto a sua estória, citando o nome do colega, como se ele fosse o personagem da mesma e, inclusive, homossexual. Apesar do objetivo da aluna ser de ofender o seu colega, não pude deixar de achar aquilo engraçado e de certa forma até criativo, pois precisei prender o riso. Quando ela terminou de ler a estória, notei que seu colega Carlos não havia manifestado reação e como ambos pararam, não falei mais nada. Contudo, nesta aula, a atividade realizada acabou sendo utilizada como forma de ofensa aos colegas. Ainda que, desde o início da segunda parte do encontro, os ânimos dos discentes estivessem alterados, sendo que os alunos chamados na vice-direção, não retornaram para a sala até o fim do período. Como foi a primeira vez que presenciei algo assim, decidi deixar a questão desta forma, pois percebi que os alunos não pareciam se incomodar muito com isto, além do mais, era uma brincadeira de início e o rumo que tomou a questão pela estória criada pelo grupo, foi positivo. Restando alguns minutos para o fim do encontro, solicitei que os grupos devolvessem os materiais para que eu guardasse e eles finalizassem no encontro seguinte. Um dos grupos disse que já havia terminado a sua colagem, porém ainda faltava terminar a estória.


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Trabalho do grupo “verde” que já havia finalizado a sua colagem. (Fonte: THOMAS, 2011)

Os demais grupos, amarelo e azul, ainda não haviam finalizado as suas colagens e o grupo vermelho nem havia feito ela, pois apenas estavam descrevendo a estória. Mesmo com a colagem finalizada do grupo que desenvolveu o assunto “Beleza é poder?”, o trabalho ainda não estava pronto. Visto que ainda teriam mais etapas no encontro seguinte. No encontro de hoje aconteceram algumas surpresas como as discussões, sendo que a turma mostrou-se bem animada na primeira parte do encontro e nunca antes no estágio eu havia presenciado algo parecido entre esta turma. Após o recreio é que os educandos mostraram-se menos dispostos e um tanto irritados. Creio que um dos fatores para isto tenha sido o calor acentuado. O rendimento para a atividade prática deixou um pouco a desejar e eu esperava um pouco mais de criatividade na colagem. O grupo apenas colou os recortes sem critérios, espalhados pela folha, sem modificá-los. Apesar de terem recebido as diversas figuras, os educandos tinham diversas opções para definirem um critério para a montagem da colagem, seguindo algo relacionado com o seu tema.


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3.3.10. Décimo encontro AULA 12 e 13 (100 minutos). Data: 22 de novembro de 2011. Horário: 14:50-16:40.

Conteúdos:  Arte Postal.  Colagem e texto.  Experiência com pigmento líquido.  Análise sobre os assuntos do tema beleza, vistos no encontro anterior.

Lista de atividades:  Término da colagem e da criação de estória.  Introdução de pigmento líquido no trabalho de colagem.  Apresentação das estórias e das imagens pelos alunos.  Análise das imagens.  Reflexão sobre o tema beleza.

Objetivos:  Criar uma forma diferenciada de utilizar o pigmento líquido no trabalho sem utilizar o pincel, conforme fazia o artista Eugênio Dittborn.  Finalizar o trabalho de colagem, pintura e estória, em que os três tenham relação uns com os outros.  Analisar o trabalho criado pelo colega relacionando-o com o assunto envolvendo o tema beleza.

Metodologias:  Atividade prática de colagem e pintura em grupo.


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 Atividade teórica de formulação de estória.  Aula expositiva dialogada.

Recursos:  Trabalhos dos alunos para terminar, pigmentos líquidos, envelopes, canetinhas e cola.

Avaliação:  Produção da imagem de colagem e de pintura condizente com o tema e a estória.  Uso do pigmento líquido de forma diferenciada no trabalho, sem a utilização de pincel.  Participação na análise de imagens dos trabalhos dos colegas, fazendo comentários que tenham relação com os assuntos que envolvem o tema da beleza.

Planejado 1. No primeiro período os alunos reformarão os grupos que formaram na aula passada, conforme as cores que foram sorteadas: azul, vermelho, amarelo e verde. Cada grupo, além disso, possui um tema relacionado à beleza e, à partir disso, receberão de volta os seus trabalhos para terminarem, conforme o tema que possuem. Deverão finalizar a colagem e a estória. 2. Após o término da primeira parte que é o término das atividades iniciadas no encontro anterior, introduzirão pigmento líquido em seus trabalhos, assim como Eugênio Dittborn realizava nas pinturas aerospostais. Porém, deverão fazer isto sem utilizar o pincel, pois era como o artista fazia. Deverão dobrar também a folha A2 podendo fazer isto com a tinta ainda molhada, para ver o tipo de interferência que a tinta faz no papel. Enfim, poderão encontrar diferentes formas para utilizar o pigmento líquido. 3. No segundo período dobrarão as imagens e colocarão junto com as estórias que produziram dentro de um envelope. Deverão preencher os envelopes com remetente e destinatário. Cada grupo mandará o seu envelope para o outro


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grupo, conforme a Arte Postal. Por exemplo, o grupo azul mandaria para o grupo amarelo, o amarelo para o grupo vermelho, este para o grupo verde e o verde por sua vez, para o grupo azul. O objetivo deste envio é que cada grupo, após, apresente o trabalho de seu colega. E como cada grupo não apresentará o seu, será interessante ver o ponto de vista ao analisarem o seu trabalho sendo exposto e apresentado por outros alunos. 4. Quando cada grupo receber o trabalho do outro grupo, deverão apresentar para a turma o trabalho deste grupo que receberam. Primeiramente, apresentarão a folha A2 com a colagem e a pintura. A partir disto, a turma deverá interpretar o que o grupo quis dizer com aquela imagem, relacionando com o assunto que tiveram sobre a beleza. Após a turma interpretar, um dos integrantes fará a leitura da estória do grupo, para que a turma perceba se a estória foi condizente ou não com a imagem. 5. Ao final das apresentações será feita uma breve revisão sobre os assuntos vistos durante os encontros de estágio e a professora estagiária entregará uma pequena lembrança aos educandos.

Realizado Como este era o último encontro, a minha expectativa para que tudo ocorresse bem, conforme o planejado, era ainda maior. Além disso, já brotava certo sentimento de saudade do convívio com a turma 108. Diante disso, decidi levar como agradecimento à turma uma lembrancinha contendo um chocolate com uma frase sobre a arte. Incialmente, solicitei que refizessem os grupos do encontro anterior para finalizar a primeira parte da atividade, que era a colagem das figuras e a criação da estória. Porém desta vez, os alunos que faltaram no encontro anterior estavam presentes e desta forma os grupos aumentariam. Antes havia três componentes e agora iriam para quatro a cinco integrantes. Não realizei sorteio como da outra vez para incluir os alunos nos grupos, mas, eu mesma espalhei os educandos com colegas que não costumavam sentar-se perto ou mesmo conversar. Expliquei para os novos integrantes dos grupos o funcionamento da atividade e em seguida os estudantes recomeçaram a atividade.


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Os quatro grupos necessitavam terminar as estórias e três grupos precisavam realizar toda a colagem. Os discentes estavam bem tranquilos, diferente dos tumultos que houve no encontro anterior. No entanto, parecia que em alguns grupos havia um certo silêncio “constrangedor”, pois como normalmente os integrantes deste grupo não se falavam, os que se juntaram ao grupo de hoje mantiveram-se calados e praticamente não opinaram, deixando os outros colegas finalizar o trabalho. Foi o caso da aluna Cintia, uma aluna muito tímida que juntou-se à um grupo de meninas e não percebi a sua participação em nenhum momento no trabalho do grupo. Em determinado momento perguntei ao grupo e à Cintia se ela estava participando no trabalho e os componentes do grupo ficaram calados. Expliquei então que todos deveriam ajudar e mesmo assim, creio que pelo o que observei desta aluna, a Cintia, ela mesmo assim, não tenha ajudado muito. Desta forma, não pude avalia-la da mesma forma que as suas colegas. Os grupos levaram pouco tempo para terminar as colagens e a escrita da estória, em torno de quinze minutos. Antes de finalizar uma das estórias, o aluno Igor veio mostrar o texto que estava desenvolvendo com o seu grupo. O tema de seu grupo era “o PESO da beleza” e os integrantes desenvolveram uma estória que falava de uma mulher que era magra e que gostaria de ser modelo. Mas para isso, precisaria emagrecer ainda mais e ficou anoréxica, sendo que no fim acabou morrendo. Comentei com Igor que a estória estava interessante e que se enquadrava no tema deles. Este grupo havia recebido diversas imagens de pessoas que ou eram obesas ou eram magras demais. Dito isto, o grupo acabou optando por utilizar apenas as figuras que apareciam as pessoas extremamente magras, no caso, anoréxicas. Percebo que desta forma, o grupo tenha analisado bem as suas imagens, criado uma estória sobre o tema que receberam e utilizado as imagens que eram relacionadas com a sua estória. Em determinado momento, uma das alunas, a Sara, me perguntou se eu havia recebido o postal que escreveram para mim na oficina que fizeram na saída de campo para a Bienal. Respondi que sim e que no fim da aula falaria sobre isso com a turma. Nisso, o seu colega Igor perguntou se eu não havia me emocionado com o que escreveram e respondi que sim. A turma havia escrito belas palavras em um postal, item da oficina que realizaram na saída de campo para a Fundação Santander Cultural. Mas decidi falar com eles sobre isso no fim do encontro, para não perderem o foco da atividade no momento.


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Após finalizada a escrita e a colagem, expliquei para a turma a segunda parte da atividade: perguntei se os educandos lembravam o que o artista homenageado da 8a Bienal introduzia em suas obras: alguns alunos responderam que eram imagens de figuras e algumas palavras . Respondi que estava correto e que era também o que eles continham nos seus trabalhos, pois tudo isso formava uma estória. Perguntei novamente se não havia mais algum material que Eugênio Dittborn utilizava, sendo que este material estabelece o nome das suas obras: pinturas aeropostais. A aluna Stefane rapidamente respondeu que era a tinta. Concordei com ela e questionei a turma sobre como o artista utilizava a tinta. Os educandos responderam que era por meio de pingos. Logo em seguida, perguntei novamente o motivo de Eugênio Dittborn não utilizar o pincel, como muitos outros artistas. Desta vez, não souberam responder. Expliquei então que era por que o artista é contra a técnica de utilizar o pincel para pintar figuras representando um realismo figurativo, ou seja, motivos em que apenas refletem algo que o expectador associa a algum objeto da realidade e não questiona o real motivo daquilo, ou não reflete sobre o mesmo. Desta forma, expliquei aos alunos, eles também deveriam utilizar a tinta, porém desenvolvendo diferentes formas de introduzi-la no papel, sem o iso do pincel. Poderia ser com pingos e dobrando a folha A2 para ver como ficava a tinta ou utilizar a tinta e esperar que secasse para só após dobrar a folha. Expliquei que era necessário realizar as dobras, marcando o papel, pois após, introduziriam o trabalho em um envelope juntamente com a folha da estória, para envio a outro grupo da turma. Relacionando desta forma, com a arte postal em que também enviaram trabalhos dentro de envelopes para outras escolas. Pouco tempo depois, passei por cada grupo perguntando se já tinham ideia de como introduziriam a tinta em seu trabalho. Além disso, já fui oferecendo os tubos de pigmentos líquido para ver que cor ou cores gostariam de utilizar. Optei por utilizar os pigmentos do tipo “Xadrez”, em função de serem diluídos em água e mais líquidos, desta forma secariam nos trabalhos mais rápido. Visto que no segundo período já era necessário que os trabalhos estivessem secos para serem colocados dentro dos envelopes, sem grudar. De início os grupos pegaram uma ou duas cores apenas de pigmento, mas após iniciarem os procedimentos, alguns optaram por introduzir várias cores. Acompanhei cada processo dos grupos e achei excelentes os resultados, pois cada


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grupo encontrou uma forma diferente de utilizar o pigmento. O grupo amarelo, por exemplo, de início havia usado duas ou três cores para fazer alguns riscos na folha apertando os tubos de pigmento, e um tempo depois quando me dei conta, pegaram mais tubos de pigmento e começaram a espalhar a tinta com as duas mãos por toda folha, em uma crescente empolgação. Os alunos pareciam divertir-se e disseram que não tiveram “jardim de infância”, alegando que parecia pintura de criança. Elogiei o seu trabalho, dizendo que havia ficado bem original e criativo. Além disso, expliquei para eles que o que vale é o envolvimento com o processo e não o resultado final, pois os estudantes pareceram gostar de usar a tinta e foi um momento descontraído. Como o tema do grupo era “Homens e a crescente busca pela beleza”, o grupo acabou se encaminhando para a questão do homossexualismo entre os homens. Por fim, ainda escreveram duas palavras “diferença” e “beleza”, sendo que o resultado foi este:

Pintura realizada pelo grupo “amarelo”. Componentes: Stefane, Sara, Andrei e Tainá. (Fonte: THOMAS, 2011).


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Mesmo que no fim o trabalho tenha ficado um pouco “esculhambado”, podem-se perceber as marcas dos gestos e expressões dos alunos. Ou seja, o tipo de envolvimento que tiveram com o trabalho, mostrando que tiveram empolgação e experimentaram diferentes cores e formas. Achei a imagem muito interessante e expressiva. O trabalho do grupo “vermelho” também foi produzido de forma diferenciada no momento de introduzir a tinta. Este era o trabalho que o aluno Igor veio mostrar o texto sobre a mulher magra que tinha o tema “o PESO da beleza”. Primeiramente os aprendizes colaram o texto na folha A4, sendo que este não era o enunciado. Mas após a técnica que utilizaram, o texto acabou ficando interessante daquele jeito colado na folha. Pois como produziram uma estória referente à mulher anoréxica, mas tinham também muitas imagens de mulheres gordinhas, o grupo deu ênfase para seu texto junto com as imagens das mulheres extremamente magras.

Trabalho produzido pelo grupo “vermelho”. Componentes: Igor, Patrine, Victor e Bruna. (Fonte: THOMAS, 2011).

No canto direito inferior da imagem está o texto destacado com a cor escura do preto e com uma luminosidade causada pela cor amarela. Junto ao texto estão as imagens que relacionam-se à estória. Para destacar o texto, o aluno Igor


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usou seu dedo espalhando a tinta com pequenos gestos verticais e logo foi seguido pela colega Patrine. O interessante é que o aluno já tinha a cor amarela junto ao seu outro dedo e a passava junto com a cor preta, dando um efeito contrastante. Ou seja, este educando possui uma certa noção de como utilizar as cores para criar efeitos e contrastes. Em outros momentos que conversei com ele, diversas vezes o educando manifestou a vontade de ser artista. No restante da folha ficaram as imagens das mulheres gordinhas e de outras figuras relacionadas com o tema do grupo. Os pingos espalhados pelo restante da imagem foram produzidos de forma quase “sem pensar”. O aluno Igor testou de uma forma que seria praticamente “jogar a tinta” e gostou do resultado: fez o procedimento em toda a folha. Este resultado também ficou interessante por ser diferenciado. Contudo, no momento em que o aluno realizava os respingos, muitos deles espalharam-se pela parede e por algumas cadeiras. Enquanto o grupo fazia os respingos eu havia percebido isso, porém não consegui solicitar que parassem, pois eu estava muito entusiasmada (juntamente com eles) e achei que interromper o processo seria prejudicar os alunos na sua experiência de “descoberta”. Já os grupos azul e verde também realizaram maneiras distintas de utilizarem a tinta. O grupo verde pingou tinta amarela por todo o seu trabalho e em seguida dobrou a folha, espalhando a cor por lugares da folha onde antes ela não estava. Alguns integrantes do grupo não gostaram que a tinta espalhou-se em cima das imagens. Expliquei que não tinha problema e que deveriam relaxar, pois isto era uma experiência e até quase uma brincadeira com a tinta. E que não importava se ficasse “feio” ou não ou até mesmo se borrasse as imagens ou não. O grupo azul espalhou a sua tinta com pingos de tinta roxa e também fizeram alguns desenhos de formas circulares com os dedos. Este grupo não quis dobrar a folha com a tinta molhada como o grupo verde e decidiram esperar o pigmento secar para dobrar o trabalho. Gostei que o processo escolhido por este grupo foi pensado por todos componentes até chegarem à uma conclusão. Ou seja, souberam trabalhar em grupo e respeitar a opinião do colega. Quando encerrou o período, fui para o recreio muito satisfeita. Sinceramente, foi uma surpresa a criatividade dos grupos, pois achava que todos fariam da mesma forma que fez o artista Eugênio Dittborn em algumas de suas obras: dobrá-las e após derramar a tinta com pingos que passassem nas dobras da imagem. Além disso, esta experiência com a tinta é algo que eu já planejava para a


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turma desde o início do estágio, como já havia comentado em outro realizado. Pois os alunos manifestaram esta vontade quando responderam os questionários aplicados no início do ano. Oportunizar a eles esta atividade foi muito satisfatório para mim e creio que para eles também, pois muitos pareceram se divertir brincando com a tinta e com as diversas maneiras de utilizá-la sem o pincel. No retorno à sala no segundo período, fui ver se já estavam secos os trabalhos e alguns ainda estavam um pouco molhados. Uma das alunas pegou o seu trabalho e tentou secá-lo no ventilador. Mesmo que nem todos ainda estivessem secos, decidi ir explicando a terceira e última parte do trabalho: os alunos dobrariam as imagens e as colocariam dentro de envelopes junto com a estória. Um grupo mandaria seu envelope para o outro grupo, preenchendo os campos de remetente e de destinatário. Por exemplo, o grupo azul mandaria para o grupo amarelo, o amarelo para o grupo vermelho, este para o grupo verde e o verde por sua vez, para o grupo azul. Expliquei detalhadamente estes processos de remetente e destinatário, pois os alunos disseram que nunca haviam preenchido uma carta antes. Achei aquilo um tanto curioso e achei bom poder mostrar para eles como se preenchia, visto que os aprendizes demonstraram interesse em realizar este processo. Passado algum tempo, os trabalhos estavam secos e os alunos puderam dobrá-los e enviar para os grupos. Cada grupo recebeu um envelope e deveriam apresentar o trabalho que receberam para a turma, se posicionando na frente do quadro negro. Alguns estudantes não gostaram muito da ideia, disseram que não gostavam de apresentar trabalho. Expliquei que era apenas segurar a imagem do grupo e depois um dos integrantes ler a estória produzida que é relacionada com a imagem. Primeiramente deveriam mostrar a imagem e perguntar para os alunos o que achavam que o grupo havia escrito de estória referente à imagem. Após isso, leriam a estória do grupo. Antes de iniciarem as apresentações, dois alunos sugeriram que os envelopes deveriam ser mandados para outra escola, pois teria mais graça. Expliquei que não seria possível em função do tempo ser curto. Primeiramente foi apresentado o trabalho do grupo verde pelos alunos do grupo azul. Perguntei à turma o que achavam que significavam aquelas imagens. Responderam que era sobre a beleza e os acessórios que a mulher utiliza, etc. Os alunos começaram a dialogar e acabaram falando sobre auto-estima, que a pessoa


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precisa ser ela mesma, tendo atitude e personalidade. O texto do grupo falava mais ou menos estas coisas. Não chegaram a desenvolver uma estória com personagens como eu havia notado que os outros grupos tinham feito. Mas desenvolveram bem o seu texto, falando sobre a importância que as pessoas dão hoje em dia para a aparência e que isto deveria mudar, pois o que importa é a beleza interior e os bons sentimentos de caráter e solidariedade, por exemplo. Neste caso em que o tema do grupo era “Beleza é poder?”, o grupo verde acabou não dizendo se a beleza exerce poder ou não, mas que ela não deve exercer poder sobre as pessoas e a sociedade. Este assunto eu havia tirado do documentário que assistiram nas primeiras aulas, “A sobrevivência do mais belo”. Como a turma fez um debate nos primeiros encontros sobre o filme, este grupo manteve a opinião que a turma no geral expressou sobre esta questão da beleza exercer ou não poder sobre as pessoas. E mesmo que já tivessem visto um pouco deste assunto, creio que tenha sido importante revê-lo e inclusive aumentar o repertório de opiniões e expressões feitas pelos próprios alunos nestes trabalhos. Segundo Marins e Guerra (p. 161, 1998): “alimentar os aprendizes com a ampliação de referências e diálogos que problematizam o projeto certamente os impulsionará a perseguir ideias, indo mais longe do que poderíamos prever”. No caso deste trabalho, os educandos tiveram as referências das figuras e tiveram que pensar na problematização do tema, que era se a beleza exercia ou não poder. Quando foi exposta a imagem do grupo azul que tinha o tema “Beleza e a relação entre pais e filhos”, a turma logo pensou que se tratava de um tema envolvendo a questão racial. Visto que, coincidentemente, havia várias imagens de crianças brancas e negras. Os alunos inclusive observaram que as crianças negras estavam manchadas de tinta e as crianças brancas não. Expuseram desta forma que os brancos são mais bonitos que os negros. Porém, quando o grupo amarelo leu a estória do grupo azul, tudo foi esclarecido e a turma compreendeu o real assunto, que se tratava da relação entre pais e filhos. Achei que a observação que a turma fez foi condizente com o que aparecia realmente na imagem, pois mesmo que o grupo tenha outro tema, creio que não conseguiram expressar-se muito bem conforme este tema e por isso a turma fez a observação sobre a questão racial. Desta forma, acabaram ajudando na positiva avaliação do grupo, visto que um dos critérios era formar a imagem condizente com o tema e a estória.


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No momento em que foi apresentada a imagem do grupo amarelo, os integrantes deste grupo disseram que era a imagem mais bonita de todos os trabalhos. Senti uma pontada de provocação por parte destes alunos aos outros, mas por outro lado gostei que mudaram de opinião, pois no primeiro encontro disseram que parecia pintura de criança. O texto que o grupo vermelho leu deste grupo era sobre a provocação que a aluna Stefane tinha feito ao colega Carlos na semana passada, insinuando que o colega fosse gay. Quando foi lida a estória, notei que Carlos não se importou muito e mesmo com o texto falando sobre um rapaz que discriminava homossexuais, mas que no fim se descobre gay é apresentado uma lição de moral, de que o julgamento que alguns fazem das pessoas pode acabar voltando para a própria pessoa que julga daquela forma. Como a arte serve como modo de expressão, creio que estes alunos aproveitaram a oportunidade para expressar o que sentiam e pensavam sobre estas questões, mesmo que elas não tenham sido abordadas de forma direta. Na apresentação do trabalho do grupo verde sobre o “Peso da beleza”, não houve muitos comentários, mas os colegas elogiaram a qualidade estética do trabalho. Terminadas as apresentações, elogiei todos os trabalhos da turma, dizendo que ficaram muito bons, pois desenvolveram a imagem condizente com a estória e souberam explorar bem os materiais. Os alunos agradeceram o elogio e concordaram, com uma pequena “modéstia”, de que realmente estavam bons. Desta forma, a avaliação que faço deste encontro é que ele foi positivo devido à criativa realização dos trabalhos dos educandos, desde a criação das estórias até a formação do trabalho de colagem e de pintura. Pois ambos tiveram relação com os assuntos propostos envolvendo o tema beleza. Além disso, fiz uma pequena fala de encerramento, dizendo que foi muito bom desenvolver o estágio com a turma, pois são um grupo muito animado e participativo. Alguns estudantes comentaram que eram muito bagunceiros e que incomodavam bastante. Expliquei que eu estava acostumada com isso, visto que eu tinha outras turmas do Ensino Fundamental que eram ainda mais agitadas. Fiz também uma pequena revisão dos assuntos sobre a Beleza e o Projeto Arte Postal que envolveu a Bienal, descrevendo um pouco de cada encontro e o objetivo deles. A turma manteve-se calma e atenta.


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Por fim, agradeci pelo postal que me enviaram e que continha uma escrita muito significativa para mim. Comentei que eu guardaria de recordação da turma. Solicitaram que eu lesse o seu conteúdo e, após eu fazer isto, bateram palmas.

Postal escrito por alunos da turma para mim. (Fonte: THOMAS, 2011)

Em seguida, entreguei a pequena lembrança para cada aluno e me despedi da turma, desejando um bom fim de ano. Antes de eu sair da sala, uma aluna me entregou uma trufa. Fiquei muito feliz com a afetividade da turma e satisfeita com o estágio desenvolvido com eles. Creio que pude oportunizar a eles situações e experiências novas, como o Projeto Arte Postal, em que realizaram a saída de campo e a exposição de seus trabalhos na Fundação Santander Cultural. Além disso, o tema sobre a beleza foi bem discutido e refletido pelos alunos em atividades práticas como recortes e colagens e até mesmo em teóricas, como debates e criação de textos. Conforme Martins (p. 81, 1997): A expedição ao mundo da arte, desejada e enriquecida pelos investimentos sensíveis de cada aventureiro, certamente deixará marcas. E o desejo de novas aventuras, atravessando outros territórios, já que para o ser humano não deveria haver fronteiras, mas apenas horizontes.


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CONCLUSÃO Após o término do estagio III, sinto uma grande diferença na maneira de pensar o propósito desta experiência. Revendo a minha postura e métodos, percebo o quanto deixei a desejar durante o estágio. Pois, durante a prática deste, a ideia que eu tinha era de que tudo deveria ocorrer da melhor forma possível e que seriam momentos maravilhosos. Muito desta ideia e desejo surgiram em função de uma fala da professora titular da turma no primeiro encontro do estágio I. Como ela não era formada em Artes, comentou com os alunos que agora eles teriam aulas diferentes, visto que eu sim era da área de Artes. Diante disto, senti-me na obrigação de propiciar aulas maravilhosas aos alunos, fazendo coisas diferentes, desejando que ao final do estágio a turma lamentasse a minha partida. De todo modo, não foi apenas aquela fala que contribuiu para que eu formasse aquela ideia de “experiência maravilhosa”, mas também outros fatores. Senti muita preocupação e nervosismo nos momentos que antecediam as aulas, havia sempre muita expectativa e um medo de que algo desse errado. Porém, em nenhum momento duvidei da minha capacidade, visto que já sou professora há quatro anos. Assim, confiei no meu potencial, acreditando que a minha experiência em sala de aula era o bastante para atingir o desejado. Tudo isto está descrito nos realizados, nos quais em poucos momentos admiti que falhei. Entretanto, no momento de entrar em sala de aula e me deparar com problemas não esperados, a minha resposta foi passividade. Durante as aulas, não “bati de frente” com os problemas e apenas deixei que tudo fosse acontecendo, sem refletir sobre o que eu deveria fazer para sanar aqueles problemas. Não foi somente a prática, mas também o próprio projeto de ensino, a maneira como planejei as aulas e como as coloquei em prática de um modo superficial. Destes itens, faltou a parte da instigação e o desafio de promover que o aluno pensasse nos assuntos expostos. A turma teve apenas atividades “fáceis”, que executaram sem saber muito bem o que significava aquilo ou até mesmo como deveriam fazer. Hoje percebo que o estágio é uma experiência de aprendizagem e que mesmo eu já sendo professora, ainda há muito que aprender. Também, apesar de algumas situações negativas, ocorreram momentos que contribuíram para a


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aproximação do educando com o universo da arte e para uma profunda mudança em meu olhar sobre a educação e a arte.

O momento de planejar A base do projeto de ensino, que é o planejamento, é extremamente importante, pois é ele que guiará a execução das aulas, sendo uma estratégia de ação para atingir os objetivos pretendidos pelo professor. Diante disso, é fundamental que o planejamento esteja muito bem escrito, detalhado e refletido com uma sequência de aulas bem estruturadas. Porém, na própria questão da escrita, principalmente nos planejados, é que eu não segui da melhor forma as características recomendadas. Objetivos, avaliação e descrição do planejado deveriam ter sido revistas por mim em praticamente todos os encontros. Hoje analisando-os, percebo que, se em diversos momentos eu tivesse detalhado e refletido melhor as ideias dos planejados, pensando se estavam ou não adequados, o próprio resultado seria diferente. Sendo assim, muitos erros partiram deste principio, das lacunas no momento de planejar e especificar como seriam os encontros. Em muitos momentos, surgiram dúvidas e perguntas por parte dos alunos que eu não soube muito bem como responder. Dúvidas que ora faziam parte do assunto tratado em aula, ora não. O professor não é detentor de todo saber, porém dúvidas básicas que correspondiam ao projeto era minha obrigação saber responder.

Sendo

que,

se

o

planejado

estivesse

bem

aprofundado,

eu

provavelmente saberia como responder a estas dúvidas. Revendo os planejados dos primeiros encontros, percebo que, juntamente com as imagens que seriam exibidas para a turma, há pouca análise e relato das características das obras. Ou seja, a função e a ideia das imagens ficaram “soltas”, sendo pouco relacionadas com o objetivo da sua exibição. Neste mesmo planejado vejo também o tempo inadequado que deixei para cada atividade. Por exemplo, o tempo para a exibição e comentários sobre as imagens foi de apenas quinze minutos juntamente com a introdução ao projeto de ensino. Diante disso, hoje consigo perceber que este tempo é bastante curto e com certeza os objetivos do encontro não seriam atingidos.


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A partir desta inadequação do planejado, os objetivos e a avalição do segundo encontro acabaram ficando muito parecidos com os do primeiro encontro. Tudo isto em função da má previsão do tempo destinado para cada atividade. Em um dos últimos encontros, mais especificamente o nono, era fundamental que fosse analisada a relação do projeto arte postal com a beleza e a arte, tema do meu projeto. Sendo que eu acabei relacionando o projeto arte postal apenas com o assunto beleza, limitando a relação do tema do projeto com a arte. De um modo geral, vejo que esta foi uma grande falha nos planejamentos que repercutiu no todo do projeto, distanciando o assunto principal da arte. Nesta questão do ato de planejar, hoje percebo que ele deve ocorrer com muita reflexão, aprofundamento e percepção. O professor deve analisar o que é melhor para a sua turma, formulando atividades que correspondam à realidade dos alunos e é claro, se preparando muito bem para isso. Sendo assim, quando surgirem dúvidas dos educandos e situações inusitadas que podem ser aproveitadas e comentadas durante as aulas, o professor saberá mais facilmente como reagir e dirigir a aula. Logo, os objetivos da formação cidadã dos estudantes serão concretizados.

A passividade que gerou conflitos Percebi que em alguns momentos a minha postura e a minha voz firme como professora ativa e não como professora passiva deveria ter aparecido um pouco mais. Como era o meu estágio e a minha visão de que este período deveria ser “perfeito”, em muitos momentos eu agi com base neste pensamento. Assim, não me dei conta de que na verdade eu estava agindo de forma totalmente contrária ao que deveria ser a real postura de um professor. O medo de ofender os educandos, de chateá-los e de não os ter ao meu lado, contribuindo nas aulas, fez com que eu não tomasse atitudes que deveriam ter sido tomadas. Atitudes como rever questões de comportamento da turma e não apenas chamar a atenção deles, solicitando que parassem. Nem sempre uma simples solicitação resolve. Quando o incomodo torna a se repetir, algo deve ser feito. Nos primeiros encontros, como a turma percebeu que eu não estava agindo de maneira firme com eles, muitos alunos tomaram algumas “liberdades” que prejudicaram as aulas e eu acabei deixando que isso acontecesse. A questão do


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atraso ao voltar do recreio, por exemplo. Analisando hoje a situação e vendo como ela modificou os encontros de forma negativa, penso que a minha postura como professora deveria ter sido de agir com firmeza com os alunos. Ainda se preciso, solicitar o auxílio da orientadora ou da diretora da escola. A ideia de que a experiência teria que ser excelente me fez pensar que agindo com mais firmeza com a turma, na verdade seria um modo ofensivo que deixaria os alunos irritados e sem vontade de fazer as coisas. Em resumo, acabei sendo superficial diante destes problemas, muito em função da insegurança de que algo no projeto não ocorresse da forma prevista. Em um momento no segundo encontro em que a turma se encontrava muito agitada, decidi tomar uma atitude que hoje sei que não foi muito cabível. Foi no momento em que nos dirigimos para a sala de vídeo e alguns alunos chegaram bastante atrasados. Além disso, a maioria ouvia música e falava alto. Ou seja, uma difícil situação para se iniciar uma atividade. Ao invés de tomar uma postura firme e decisiva, eu decidi agir de outra forma. Acabei dando uma boa notícia para eles, tentando despertar suas atenções. No início, até pareceu dar certo, porém esta boa notícia era muito longa e deveria ter sido explicada em outro momento, pois se tratava da questão da participação deles no Projeto Arte Postal. Naquele instante, o tempo estava se esgotando e era necessário que o vídeo fosse assistido. Ou seja, tive uma atitude pensando em “agradá-los”, não me preocupando com o rendimento da aula e da aprendizagem dos alunos. Refletindo sobre isso, penso que o papel do professor não é o de agradar aos estudantes e de sempre ter aulas “perfeitas” que sejam do gosto da turma. É claro que a maioria dos encontros devem ser atrativos, mas nem sempre isto é possível e o educando também deve compreender e cooperar com esta situação, pois também se trata de uma questão de respeito ao docente. Na metade dos encontros do estágio, houve um deles, o sétimo, em que os alunos deveriam finalizar uma atividade prática e alguns ainda nem haviam iniciado. Eu perguntei o motivo e eles não responderam muito bem e eu acabei deixando por isso mesmo. Achei que eram adultos o suficiente para saber se é ou não necessário realizar uma atividade quando é solicitada pelo professor. O velho medo de incomodar eles e exigir algo do educando fez com que eu me distanciasse de muitos e não encarasse os problemas de frente.


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No encontro seguinte, tive uma atitude parecida com uma que já havia ocorrido nos primeiros encontros. A turma agia de forma indisciplinada e eu, para despertar novamente suas atenções, tive uma atitude contrária à de repreendê-los. Alunos passavam batom uns nas bocas dos outros durante a minha tentativa de explicação sobre determinado assunto. Como eu estava com uma câmera fotográfica, acabei tirando foto deles maquiados e o momento acabou ficando “por isso mesmo”. Eram alunos que estavam atrapalhando os que queriam prestar atenção e, agindo desta forma, não mostrei realmente para a turma se a atitude daqueles educandos era correta ou não. Como eu já estava cansada de apenas chamar a atenção deles e de solicitar silêncio, tive novamente uma postura passiva para não “ofendê-los”. Além disso, neste mesmo encontro, muitos alunos não participaram de uma atividade proposta e eu deixei outra vez “por isso mesmo”, pensando na questão de que eram maduros o suficiente para saberem que precisavam fazer as atividades. Diante disto, eu deveria ter feito alguma coisa para atrair estes alunos, não deixando eles fora da atividade, pois é fundamental que o educando desenvolva a sua criatividade, imaginação e sensibilidade para o seu exercício da cidadania. Outra questão que exemplifica o medo de repreender os estudantes e de que assim eles não participassem das aulas, ocorreu durante o quinto encontro. Houve um momento em que precisei me ausentar da sala de aula e apenas “confiei” no comportamento da turma para ficarem sozinhos. Porém, quando retornei à sala, percebi que não tiveram um comportamento adequado, pois conversavam alto e atrapalhavam a turma da sala ao lado. Como já era o quinto encontro e eu já tinha uma ideia de como era o comportamento da turma, penso hoje que eu não deveria ter deixado eles sozinhos. Quando o professor conhece a sua turma, ele deve saber como agir em determinadas situações frente às questões comportamentais dos alunos. Isto evita que situações incomodas ocorram. Partindo da análise destas situações de “passivididade” em muitos encontros, a partir de agora compreendo que a minha ideia de ser “boazinha” com a turma não é a forma mais adequada de conduzir uma aula. Visto que nestas situações o grupo acabou extrapolando e agindo de forma indisciplinada. Hoje sei que devo evitar este receio de ofender ou chatear os alunos, pois a postura firme do professor é importante para o bom desenvolvimento das aulas. Pois, agindo com firmeza, o professor mostra segurança e confiança para conduzir os momentos dos


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encontros com a turma, além de executar a mediação do aluno com o conhecimento de maneira consciente, crítica e social. A partir das falhas que surgiram nos planejamentos e da minha postura como professora, algumas consequências negativas surgiram ao longo das aulas. Consequências como falta de tempo para realizar as atividades e a principal de todas: um não aprofundamento do meu projeto de ensino. Nem sempre o tempo destinado para as diversas situações da aula se encaixará perfeitamente. Porém, durante a prática das aulas, o professor necessita se adequar à realidade da turma e ao seu rendimento. Além disso, o professor precisa perceber que durante o desenvolvimento de suas aulas, nem sempre as propostas do seu planejamento irão se encaixar conforme o tempo destinado a elas. Hoje percebo que a forma como destinei o tempo para certas atividades não foi muito adequado em algumas situações. Isto porque geralmente as atividades foram curtas demais e apenas expositivas, eu falava e os alunos pouco interagiam. Em virtude disso, a aprendizagem dos discentes não pode se concretizar conforme o desejado por mim. Nos primeiros dois encontros, foi prevista a visualização de um vídeo de trinta minutos. E nestes dois encontros esta visualização não foi totalmente concretizada devido a alguns imprevistos. O primeiro imprevisto é o já apresentado, a questão de no próprio planejamento eu não me dar conta de que o tempo previsto para a primeira atividade era curto demais. Assim não restaria muito tempo para o vídeo. O outro imprevisto foi o atraso dos alunos ao chegarem à sala de aula após o recreio. Visto que nenhuma providência foi tomada por mim para modificar o fato que inclusive se seguiu por mais encontros. E, como já se sabe, nenhuma providência concreta foi tomada para não “ofender” os estudantes. Sendo assim, eu deveria ter diminuído o tempo do vídeo e ter oportunizado mais a fala aos educandos para que pudessem ter uma melhor interação com as aulas. Em consequência desta má previsão no tempo das atividades do planejado, no terceiro encontro não foi possível realizar um exercício prático. Então, eu expliquei rapidamente como ele deveria ser realizado em casa. Aqui houve outro grande equívoco, pois esta foi a primeira atividade prática da turma que acabou sendo explicada de forma rápida e pouco detalhada, ainda por cima para ser feita à distância. Com certeza o resultado não seria dos melhores. Este foi outro momento


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em que faltou tempo para uma atividade e ela acabou sendo superficial, com poucos comentários e muitos resultados negativos. No encontro seguinte, conforme o esperado ocorreu o resultado “desastroso” e a atividade teve que ser refeita. Por um lado serviu para eu saber que atividades realizadas a distância devem ser bem orientadas e claras. Como se tratava de uma atividade que reunia diversas técnicas, além de envolver um assunto que é relativo, ou seja, a beleza, a atividade deveria ter sido realizada com o meu auxílio e orientação durante a sua execução. Novamente em função do tempo, acabei não planejando da forma mais correta uma atividade para a turma 108. Como o tempo era curto e os alunos fariam uma atividade de recorte e de colagem, acabei dando as figuras já recortadas para eles, sendo que os educandos apenas fariam a seleção das imagens. Com isto, não refletiram e não pesquisaram. A atividade ficou muito superficial e sem conteúdo. Ao invés disto, como o tempo era sucinto, eu deveria ter pensado em outra atividade que valorizasse a reflexão do educando. Revendo os encontros, vejo o surgimento de alguns assuntos polêmicos que poderiam ter sido melhor refletidos e dialogados no momento imprevisto em que surgiram. Porém, o meu despreparo nos planejamentos impediram isto. Não foram somente assuntos polêmicos que eu não soube muito bem como conduzir, mas também assuntos mais importantes que se relacionavam com o projeto, como a questão da beleza na escola. Foi um assunto que eu pouco oportunizei aos educandos para exporem as suas opiniões, limitando assim a reflexão sobre este conteúdo. Surgiu também a questão do belo ser relativo, um assunto apresentado no vídeo do segundo encontro e que pouco foi comentado. Fato que, inclusive, é um dos conceitos fundamentais do meu projeto de pesquisa. Penso que esta questão da melhor reflexão e comentário do professor com a turma sobre determinados assuntos deve ocorrer quando o professor estiver seguro e confiante para possibilitar um aprofundamento disto. Caso contrário, acredito que possa ser pior quando o docente não sabe muito bem do que está falando e acaba não conseguindo orientar e ensinar de forma precisa o seu alunado. No meu caso, faltou um pouco de preparo e pesquisa para que eu pudesse comentar melhor certos assuntos com a turma. Quando a saída de campo foi comentada com a turma no nono encontro, alguns assuntos de contextos culturais e sociais surgiram, sendo novamente pouco


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aprofundados por mim. Assuntos que se relacionavam com a temática do artista Eugênio Dittborn. Percebo que igualmente foi um despreparo meu ao não saber conduzir a conversa, também for falta de conhecimento. No quarto e no quinto encontros houve a proposta de realização de uma atividade prática, porém esta acabou não sendo muito bem orientada por mim. Em primeiro lugar esta atividade foi orientada para ser feita em casa e como eles não conseguiram desenvolvê-la muito bem, os estudantes tiveram que refazê-la durante a aula. Mesmo assim não conseguiram melhorar muito, ou seja, atingir os objetivos para aquele exercício. Revendo a forma como foi apresentada esta atividade, vejo que ela poderia ser orientada de forma mais clara e com mais exemplos, tais como apresentar obras de arte que exemplifiquem o conteúdo, mostrando aos alunos como artistas representaram a ideia de beleza na arte. Neste dia, apenas uma obra de uma artista foi apresentada e isso acabou sendo pouco para instigar ideias criativas na turma. Os educandos tiveram quase três encontros para a realização desta atividade e mesmo assim não conseguiram desenvolver bem o proposto. Faltou um aprofundamento e reflexão na atividade, fazendo com que o aluno pensasse melhor na hora de criar o seu trabalho. Tudo isso demonstra que faltou motivação e interesse para desenvolver ideias na elaboração das imagens. Se a atividade tivesse sido orientada de outra forma, com exemplos de obras de arte e questionamentos sobre a beleza e a arte, provavelmente surgiriam ideias mais criativas, com exploração de materiais e técnicas diferenciadas. No segundo momento do nono encontro, foi realizada uma nova atividade prática. Esta acabou se assemelhando muito com a atividade antes descrita. Pois, novamente, foram utilizadas as técnicas de recorte e colagem. Visto que, tirando a atividade da oficina na Bienal, foram realizadas apenas estas duas atividades práticas durante o estágio. Assim, creio que outra técnica deveria ter sido utilizada. No caso deste exercício, foi acrescentada a técnica com a tinta, material de interesse dos educandos, porém, ele deveria ter sido pensado de uma forma diferente, sem a repetida combinação com recorte e colagem. Além disso, as figuras já vieram recortadas, ou seja, praticamente prontas para a turma, sem propiciar a eles uma pesquisa e seleção de imagens. Outra falha no planejamento desta atividade foi a escolha do artista, pois acabei realizando muitas atividades em torno do mesmo artista, sem mostrar o trabalho de outros para enriquecer o conhecimento de produções artísticas pelos educandos.


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Em função destas situações que não foram muito positivas, não pude realizar da forma desejada o meu projeto de ensino sobre a beleza. Faltaram tempo e situações que oportunizassem maior reflexão sobre este tema, não deixando-o tão superficial. Hoje, amadurecendo minhas ideias, vejo que todas as ocasiões que não foram tão proveitosas, não passam de uma enorme lição de aprendizagem. Porém, o estágio não foi totalmente desastroso e surgiram situações de resultados interessantes. Destas situações positivas, cito o primeiro encontro em que consegui selecionar artistas e imagens do conhecimento dos alunos, contribuindo para uma melhor assimilação do assunto exposto na aula. Penso que é necessário utilizar elementos que possam fazer parte do universo do educando. Desta forma, no primeiro contato do aluno com o novo assunto, ele poderá de início realizar uma boa relação deste conteúdo com a sua realidade e a sua bagagem de conhecimento. Percebo

outro

bom

resultado

quando

assistimos

ao

vídeo

“A

sobrevivência do mais belo”. Neste documentário, um dos objetivos de assisti-lo era que os alunos se posicionassem criticamente quanto aos temas expostos no vídeo. Conforme as pausas executadas durante a exibição, houve a participação da turma, posicionando-se criticamente. A questão da postura crítica é fundamental para desenvolver no aluno uma postura consciente em frente às questões sociais. Sendo assim, ele não aceitará tudo que lhe é imposto, terá uma visão e uma ação mostrando personalidade e conhecimento sobre determinada questão. Visto isso, a escolha deste documentário foi positiva e serviu para a formação de opinião da turma. No terceiro encontro, ocorreu uma contextualização do assunto assistido no vídeo por meio de um debate. Noto que a seleção de um debate foi outra boa escolha, conforme a realidade da turma. Como são estudantes que gostam de conversar, o diálogo durante o debate desenvolveu-se muito bem, inclusive com a turma apresentando bons argumentos. Neste caso, foi possível realizar uma atividade que atraísse a participação dos alunos, sendo que deste modo eles puderam expor suas ideias a partir de suas próprias vivências. Assim conseguiram associar o assunto visto em aula com o que já conheciam, mostrando-se indivíduos analíticos e questionadores. Quando dei início ao projeto arte postal, no quinto encontro, acabei me desorientando na sequência das aulas. Senti ainda mais dificuldade de aproximar


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este projeto com o meu tema, visto que o próprio início do estágio não ocorreu muito bem. Isto em função dos planejados não se aplicarem nas aulas e também da minha postura passiva. Diante desta desorientação, trabalhei com poucos artistas e distanciei o foco do meu tema com o projeto de ensino. Quando finalizei todos os encontros, pensei que muita coisa não tinha sido positiva em função do projeto arte postal, que tomou muito tempo e que me fez distanciar dos objetivos iniciais. Porém, revendo muitas atividades realizadas no projeto arte postal, verifico que a maioria delas, hoje me surpreendem. Isto devido à forma como muitos educandos reagiram às atividades, apresentando ideias criativas. Uma destas foi a proposta da atividade de confecção de um painel com os trabalhos dos alunos. Apesar de nem toda turma ter participado desta atividade, os que participaram tiveram um bom desempenho, pois refletiram, dialogaram e conseguiram criar uma ideia original. Neste caso, creio que despertei nos alunos a vontade de participar de uma atividade inédita para muitos deles. Como por exemplo, na montagem do painel, ligada com a questão da curadoria. Apresentei exemplos de painéis no início da aula e os estudantes conseguiram desenvolver sua própria ideia de como montar de forma criativa painel. No sétimo encontro, os alunos mostraram-se entusiasmados durante um diálogo sobre a Bienal. Apresentaram vivências e revelaram-se interessados na saída de campo que fariam para a exposição. Neste encontro a turma causou-me admiração por conhecer a Bienal e também por se manter em silêncio enquanto eu falava, fazendo parte do diálogo quando eram questionados. Acredito que o fato de realizarem uma saída de campo os tenha motivado, situação que pouco tinha acontecido durante o ano. Propiciar situações novas, condizentes com o universo dos alunos, geralmente gera bons resultados. Neste caso, os alunos veriam seus próprios trabalhos na exposição, sentindo-se valorizados por meio disto. Com a visita à Bienal no oitavo encontro, pude notar que a preparação para esta saída de campo foi satisfatória, visto que os educandos faziam comparações com os tamanhos das obras referentes às imagens que viram anteriormente no sétimo encontro. Mostraram-se participativos e entusiasmados, dialogando com a mediadora e apreciando a exposição dos seus trabalhos. Além disso, consegui aproximar o projeto arte postal com o assunto do projeto de estágio sobre a beleza, juntamente com uma boa interação dos educandos.


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Percebi melhor esta interação e entendimento do projeto de forma mais acentuada no nono encontro, quando visualizamos as imagens da saída de campo e com os excelentes comentários que a turma fez sobre a mesma. Desta forma, os estudantes manifestaram a compreensão da visita à exposição, um momento de reflexão e aprofundamento sobre a arte postal. Após esta contextualização, foi proposto um trabalho referente ao modo como o artista Eugênio Dittborn produzia as suas obras. Oportunizei então a criação de um trabalho com tinta, sendo este bem aceito pelo grupo. Os alunos foram criativos e ousados na forma de utilizar os pigmentos, inclusive se divertindo em alguns momentos. Nesta atividade, formei grupos no intuito de acabar com as “panelinhas”, fato que observei ser bastante frequente na turma. Na maioria dos grupos funcionou o trabalho coletivo e apenas poucos alunos não conseguiram se entrosar muito bem. Desta forma, verifico que o mais positivo dos encontros foram as atividades relacionadas com a vivência da turma. Percebo também que funcionaram muito bem algumas atividades inéditas, como a saída de campo e o uso da tinta. Com estas ocasiões positivas, sinto-me satisfeita em ver que o projeto de ensino não foi totalmente desastroso e superficial. Surgiram atividades que foram assimiladas e compreendidas pela turma, o que fez com que o projeto não fosse apenas importante para o professor, mas principalmente tendo significado e importância para o aluno. Diante disso, analisando os encontros com o ensino médio, concluo que mesmo que em muitos momentos eu tenha falhado, a partir de agora compreendo que muitas coisas eu devo modificar com relação ao meu papel como professora. O princípio de planejar deve ocorrer de forma sequencial e aprofundada para que os objetivos possam ser atingidos e os imprevistos sejam melhor administrados. Além disso, a postura passiva com os alunos não é a forma mais adequada para conduzir as atividades em sala de aula. Ao invés disso, penso que uma postura firme que apresente ideias claras e objetivas pode permitir que situações de indisciplina não prejudiquem o bom funcionamento das aulas. Agir deste modo facilitará, penso, o meu desempenho em sala de aula, promovendo nos alunos a ousadia, a criatividade, a autoconfiança e a compreensão. Contribuindo assim um individuo que seja um diferencial na sociedade e que promova mudanças significativas.


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Compreender hoje minhas falhas é fundamental na formulação da ideia de que o estágio é uma experiência de aprendizagem. Por meio dele, aprendi que a teoria nem sempre é igual à prática e o quão significativa é esta prática para o desenvolvimento da ideia do papel de um professor. Pensando agora de forma distinta e abrangendo melhor muitas situações relacionadas com a prática de ensino, me sinto melhor preparada para encarar uma sala de aula. Além disso, enxergo esta sala de aula como um momento de desafios em que as minhas propostas, dinâmicas, metodologias e postura devem ser sempre analisadas para que haja uma boa educação. Desse modo, poderei assumir o papel de professora tendo em mente o melhor para os meus alunos, contribuindo na formação deles como bons cidadãos, capazes de enfrentarem situações de maneira crítica, consciente e social. Para o professor em exercício, o aprender com satisfação e orgulho de seu papel de estudante em formação permanente está ligado à consciência que adquire sobre as transformações constantes que ocorrem no conjunto de conhecimentos necessários para seu desempenho profissional. Não se trata de um ideário moral, mas ético, de conduta respeitosa, que, ao mesmo tempo, é acompanhada de um sentimento de identificação e entusiasmo que experimenta na profissão, ao promover a educação de crianças, jovens e adultos. O professor exerce, de fato, sua profissão quando pode participar como alguém que permanentemente cresce em sua ação profissional e colabora com ela (IAVELBERG, 2003, p. 62).


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REFERÊNCIAS A SOBREVIVÊNCIA do mais belo. Documentário. BBC, 1999. 1 DVD(52 min). ALMEIDA, Cláudia Z. de. ROSSI, Maria Helena W. Leitura de imagens na Educação Fundamental. Porto Alegre: Projeto, 2001. ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras. 1992. BARBOSA, Ana Mae. A arte é beleza?. Disponível em: ensinandoarteblog.com.br. Acesso em 23 de maio de 2011. CARAMASCHI, Sandro. Valorização de beleza e inteligência por adolescentes de diferentes classes sociais. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em 24 de fevereiro de 2012. CAMARGO, Iberê. Gaveta dos Guardados. Porto Alegre: Cosac Naify. 2010. CAMARGO, Orson. Mídia e o culto à beleza do corpo. Disponível em: www.brasilescola.com. Acesso em 28 de maio de 2011. CUNHA, Susana Rangel Vieira Da. Transformações nos saberes sobre arte e seu ensino. Porto Alegre: Projeto, 2001. ECO, Umberto. História da Feiura. Rio de Janeiro: Record, 2007. ENTREVISTA a Umberto Eco. Disponível em: www.youtube.com. Acesso em 26 de maio de 2011. FABRIS, Annateresa. Portinari, pintor social. São Paulo: Perspectiva. 1990. FERRAZ, Maria Heloísa; FUSARI, Maria. Metodologia do ensino de arte. São Paulo: Cortez, 1999. GUIDO, Ângelo. Símbolos e mitos na pintura de Leonardo da Vinci. Porto Alegre: Sulina. 1969. HENITAGS, Clemens. A FIFA saúda a poligamia e o antissemitismo do Qatar. Disponível em: olhonajuhad.blogspot.com. Acesso em 10 de fevereiro de 2012. IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed, 2003. LIPPARD, Lucy. A Arte Pop. São Paulo: Verbo, 1976. MARTINS, Mirian Celeste. Avaliação e planejamento: a prática educativa em questão. Instrumentos metodológicos II – Espaço Pedagógico: Série Seminários: Junho/1997.


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PALAZZO, Valéria Lemos. Distúrbio dismórfico corporal. 2003. Disponível em: www.gatda.psc.br. Acesso em 16 de janeiro de 2012. PEDRALVA, Heloísa. A importância da Arte. 2007. Disponível em: http://anasra.blogspot.com. Acesso em: 05 de junho de 2011. QUADROS, Odone José de. Estética da vida, da arte, da natureza. Porto Alegre: Acadêmica, 1981. REBOUÇAS, Fernando. O Homem Vitruviano. 2009. www.infoescola.com. Acesso em: 30 de maio de 2011.

Disponível

em:

RICHTER, Sandra. A arte e a dimensão poética do conhecer na infância. Porto Alegre: Projeto, 2001. ROEHRS, Jurema Trindade. Artes visuais do renascimento até o final do século XVII. Canoas: Ed. ULBRA, 2007. SANT’ANNA, Renata. Saber e Ensinar arte contemporânea. São Paulo: Panda Books, 2009. SEEHAGEM, Maria de Fátima. A beleza na arte. Disponível www.defatima.com.br. Acesso em 23 de maio de 2011.

em:

TOURINHO, Irene. Arte/educação como mediação cultural e social. São Paulo: Editora UNESP, 2009. VITELLI, Celso. Adolescência e arte: prática e estéticas culturais. Disponível em: www.ufrgs.br. Acesso em 23 de maio de 2011.


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APÊNDICES Apêndice 1: Avaliação do aluno estagiário realizada pela professora titular.


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ApĂŞndice 2: QuestionĂĄrio respondido pela diretora da escola.


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ApĂŞndice 3: QuestionĂĄrio respondido pela professora titular.


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Estagiário/a: Mariana Schnorr Thomas Professor/a orientador/a: Celso Vitelli Ano/semestre: 2011/1 Questionário para a professora da Escola Estadual de Ensino Médio José Gom es de Vasconcellos Jardim

1. Qual é a sua formação, conhecimento ou relação com a Arte? 2. O ensino de Arte hoje no Estado engloba Artes Visuais, Música, Dança e Teatro. O que você acha dessa quantidade de subdivisões para apenas um profissional lecionar? 3. Você costuma visitar exposições ou manifestações artísticas? Já levou alguma vez seus alunos? 4. Para suas aulas, foi disponibilizado um Plano de Estudo? Você o utiliza ou acha-o desnecessário? 5.

Na disciplina de Arte, o que é realmente importante que os alunos aprendam para se desenvolverem? Qual seria a principal contribuição que a Arte poderia ter na vida de um estudante?

6. Você percebe alguma bagagem, conhecimento cultural e estético dos alunos demonstrados por interesse em participações nas aulas? 7. Nas suas aulas são utilizadas imagens? Os discentes fazem algum tipo de leitura visual destas? 8. Os assuntos trabalhados possuem algum aspecto interdisciplinar, já fizeste algum trabalho em conjunto com professores de outras disciplinas? 9. A escola fornece algum tipo de material ou espaços diferenciados para você utilizar nas aulas de Arte? 10. Como é a avaliação que você geralmente utiliza? Ela envolve mais prática ou teoria? 11. Com os conteúdos que você trabalha, por qual (ais) assuntos os alunos demonstram um maior interesse?

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – Curso de Artes Visuais Av. Farroupilha, 8001 - Bairro São Luis - CEP 92450-900 - Canoas – RS Sala 20/Prédio 11 Telefone: (51) 3477 4000 - ramal 2261


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ApĂŞndice 4: QuestionĂĄrios respondidos pelos alunos do 1o ano da Escola Estadual Gomes Jardim.


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Estagiário/a: Mariana Schnorr Thomas Professor/a orientador/a: Celso Vitelli Ano/semestre: 2011/1 Questionário para os alunos da Escola Estadual de Ensino Médio José Gomes de Vasconcellos Jardim 1. Idade e sexo: 2. Na sua vida, a Arte terá alguma importância futura, sendo fundamentais suas aulas hoje? Por exemplo, se você gostaria de seguir carreira artística (Música, Dança, Teatro ou Artes Visuais)? 3. Das aulas de Arte que você teve até hoje, do que você lembra? O que achou mais interessante? Materiais que gostas de utilizar. 4.

Você lembra-se de algo relacionado à Arte que nunca aprendeu e gostaria de conhecer?

5. Costumas visitar Museus, Exposições e Galerias de Arte? Cite alguns que você conheça. 6. No seu dia-a-dia, onde você percebe mais a Arte? (Muros da cidade, mídia, etc). 7. Possui algum conhecimento de História da Arte? Cite algum e se você lembra-se de algum artista que aprendeu na Escola ou viu de outra forma (Televisão, jornal, internet, revista). 8. Quando você faz algum trabalho que envolva pintura, desenho, modelagem, etc, você se inspira em algum artista se por acaso lhe é mostrada alguma imagem anterior a este trabalho? 9. Você acha que numa avaliação de Arte de algum trabalho prático, deve ser avaliado o resultado final, ou seja, se o trabalho ficou ou não bonito, ou o professor deve avaliar o processo do aluno, seu envolvimento na atividade? 10. O que você acha dispensável aprender em uma aula de Arte? 11. Na sua concepção, a “beleza humana” é fundamental para refletir no tipo de vida que vai ter? Uma pessoa “feia” tem menos chances de se dar bem na vida, pela sua imagem? 12. Você acha que a sua aparência externa atrapalha um pouco nas coisas que você faz ou gostaria de fazer? Se pudesse, você mudaria seu corpo?

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