UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Andréia Porto de Fraga
Do corpo ao corpo: representações do feminino na Arte e na Publicidade
Canoas, 13 de julho de 2011.
Andréia Porto de Fraga
Do corpo ao corpo: representações do feminino na Arte e na Publicidade
Trabalho de Curso apresentado como pré-requisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciado/a em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Me. Ana Lúcia Beck e Dr. Celso Vitelli.
Canoas, 27 de junho de 2011.
ATA DE AVALIAÇÃO
Dedico este trabalho a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para sua realização, transmitindo fé, determinação, paciência, coragem e amor. Sem a contribuição de vocês ele não seria possível!
Existem situações na vida em que é fundamental poder contar com o apoio e a ajuda de algumas pessoas. Para a realização deste Trabalho de Conclusão, pude contar com várias. A eles confiro meus agradecimentos: À professora Me. Ana Lúcia Beck, orientadora deste trabalho nos Estágios 2, 3 e 4, pelos seus conhecimentos e capacidade de fazer seus alunos saírem da zona de conforto; Ao professor Dr. Celso Vitelli, orientador deste trabalho no Estágio 1, pelos seus conhecimentos, sua atenção e sua boa vontade; A todos os professores do Curso de Artes Visuais que de alguma forma contribuíram para o meu crescimento.
RESUMO O presente Trabalho de Curso apresenta a pesquisa que teve como tema central, “as diferentes formas de representar o corpo feminino na história da arte e seus desdobramentos na publicidade”. O tema escolhido se refere às diferentes formas que os artistas usaram para representar o corpo feminino ao longo da história da Arte e questiona se de alguma forma estas representações influenciaram no modo de ver a imagem da mulher na publicidade e consequentemente na sociedade. Contribuíram para a compreensão e elaboração do tema desta pesquisa alguns autores, entre eles estão, Jorge Domingos Veríssimo, Humberto Eco e Silvana Mota Ribeiro. No referencial teórico, além do tema central foram abordados os seguintes assuntos: a imagem da mulher na publicidade; o belo e o feio em Arte e também os conceitos de publicidade e propaganda. O trabalho mostra também o projeto de ensino que foi composto por aulas expositivas, dialogadas e práticas. Seu tema foi o mesmo do trabalho de pesquisa e teve como justificativa a importância de se conhecer o passado para compreender melhor o presente, em que a publicidade cada vez mais faz parte do nosso dia-a-dia e junto com ela suas imagens que nos bombardeiam com diferentes intenções, e muitas vezes fazem com que queiramos ser iguais ou parecidas com elas. Seu objetivo foi oportunizar aos alunos o estudo sobre as diferentes formas de representar o corpo feminino na história da Arte, além de propor que eles refletissem se de alguma forma elas influenciaram nos modos de pensar o corpo da mulher na publicidade. As práticas de ensino foram realizadas na Escola Técnica Estadual Marechal Mascarenhas de Moraes em Cachoeirinha, com a 7ª série do ensino Fundamental, turma 72, cedida pela professora Márcia Inácio, faixa etária entre 13 e 17 anos e também com a 1ª Série do Ensino Médio, turma 14, cedida pelo professor Paulo César da Silva, a faixa etária dos alunos era entre 15 e 18 anos. O projeto de ensino foi desenvolvido em 7 encontros (14 aulas), que ocorreram do dia 16/09/10 ao dia 28/10/10. Com ambas as turmas foi realizado o mesmo projeto, a única diferença foi que com a 7ª série construímos um Fanzine e com a 1ª série do ensino médio elaboramos um livro de imagens. A prática de ensino escolhida para fazer parte do Trabalho de Conclusão foi a do ensino médio, porque seu desenvolvimento foi mais difícil, mas ao mesmo tempo engrandecedor. As considerações finais mostram as dificuldades encontradas, as superações de algumas delas e os resultados alcançados. Assim como o alcance do tema do Projeto de Ensino, a percepção da ligação entre o tema e os objetivos do projeto, o que ele acrescentou aos alunos e o mais importante, a experiência pessoal após a Prática de Ensino. Palavras-Chave: Representação. Corpo. Mulher.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................8 1. DO CORPO AO CORPO: REPRESENTAÇÕES DO FEMININO NA ARTE E NA PUBLICIDADE..........................................................................................................12 1.1. A mulher na Pré-História .................................................................................12 1.2. A mulher Egípcia ..............................................................................................13 1.3. A mulher Grega ................................................................................................14 1.4. A mulher Romana.............................................................................................16 1.5. A mulher Renascentista...................................................................................17 1.6. A mulher Neoclássica ......................................................................................19 1.7. A imagem da mulher na publicidade ..............................................................20 1.8. Padrões e critérios de beleza ..........................................................................21 1.9. O papel do Observador....................................................................................22 1.10. A mulher erótica e disponível .......................................................................23 1.11. A mulher no ambiente familiar ......................................................................26 1.12. O belo e o feio em Arte ..................................................................................29 1.13. Sobre conceitos de publicidade e propaganda ...........................................31 1.13.1. Publicidade ..................................................................................................31 1.13.2. Propaganda..................................................................................................32 2. O USO O TEMA ESCOLHIDO EM SALA DE AULA............................................34 2.1. A imagem da mulher na publicidade ..............................................................39 3. RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO.................................................43 3.1. Dados gerais da escola observada.................................................................43 3.2. Observações silenciosas.................................................................................44 3.2.1. Observações 1 e 2 .........................................................................................44 3.2.2. Observações 3 e 4 .........................................................................................47 3.2.3. Observações 5 e 6 .........................................................................................49 3.3. Análise das observações silenciosas ............................................................51 3.4. Análise do questionário respondido pelo professor.....................................52 3.5. Análise dos questionários respondidos pelos alunos..................................54 3.6. Motivos da escolha/definição do tema de pesquisa em Artes Visuais........55
4. PROJETO E PRÁTICA DE ENSINO EM ARTES VISUAIS..................................56 4.1. Dados gerais da escola e turma em que foi realizada a prática de ensino .56 4.2. Dados gerais do Projeto de Ensino ................................................................56 4.3. Prática de Ensino .............................................................................................58 4.3.1. Primeiro Encontro .........................................................................................58 4.3.2. Segundo Encontro ........................................................................................64 4.3.3. Terceiro Encontro..........................................................................................73 4.3.4. Quarto Encontro Aulas .................................................................................80 4.3.5. Quinto Encontro ............................................................................................85 4.3.6. Sexto Encontro ..............................................................................................95 4.3.7. Sétimo Encontro..........................................................................................103 4.4. Considerações sobre a prática de ensino....................................................109 CONCLUSÃO .........................................................................................................112 REFERÊNCIAS.......................................................................................................120 APÊNDICE 1: Cópia da Avaliação de Aluno Estagiário realizada pelo professor da escola de Estágio .............................................................................................122 APÊNDICE 2: Cópia do questionário respondido pela diretora da escola de Estágio.....................................................................................................................123 APÊNDICE 3: Cópia do questionário respondido pelo professor da escola de Estágio.....................................................................................................................124 APÊNDICE 4: Cópia de cinco questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio ..................................................................................................125
8
INTRODUÇÃO O presente Trabalho de Curso teve como tema de pesquisa “as diferentes formas de representar o corpo feminino ao longo da história da Arte e seus desdobramentos na publicidade. Este tema já tinha sido definido antes de eu ir para as observações silenciosas, pois havia iniciado uma pesquisa sobre ele na disciplina de História da Arte/ Pré-História até o Séc. XV. Como o assunto me interessou muito, e continuei ao longo do curso pesquisando sobre ele e pensando nas possíveis atividades para realizar com os alunos, o professor orientador de estágio I, Celso Vitelli, sugeriu que eu apenas aperfeiçoasse os estudos que eu já tinha feito. Resolvi complementá-los acrescentando os períodos artísticos Renascentista e Neoclássico, e também adicionando o assunto da imagem da mulher na publicidade. Para que toda esta estrutura fosse possível, contribuíram para a compreensão e elaboração do tema desta pesquisa alguns autores, entre eles estão, Jorge Domingos Veríssimo, Humberto Eco e Silvana Mota Ribeiro. Jorge Domingos Veríssimo e Silvana Mota Ribeiro abordam como o corpo da mulher é representado e interpretado pela sociedade nas campanhas publicitárias. Humberto Eco contribuiu para que entendesse melhor como ocorreram as transformações na maneira dos artistas representarem o corpo feminino ao longo da história da Arte. Os principais artistas usados para a exemplificação das transformações na maneira de representar o corpo feminino foram Praxíteles, Rafael Sanzio, Leonardo da Vinci, Jacques Louis David, Pierre Auguste Renoir e Pablo Picasso entre outros. Estas questões referentes à pesquisa encontram-se no primeiro capítulo do trabalho. No que diz respeito ao projeto de ensino, no estágio 2 e 3, a orientadora Ana Lúcia Beck, sugeriu que eu acrescentasse mais dois períodos artísticos que não estão contemplados no tema de pesquisa, o Impressionismo e o Cubismo. O projeto de ensino foi composto por aulas expositivas, dialogadas e práticas. Seu tema foi o mesmo do trabalho de pesquisa. Ele teve como justificativa a importância de se conhecer o passado para compreender melhor o presente, em que a publicidade cada vez mais faz parte do nosso dia-a-dia. Junto com ela suas imagens nos bombardeiam com diferentes intenções, e muitas vezes fazem com que queiramos ser iguais ou parecidas com elas. Seu objetivo foi oportunizar aos alunos
9
o estudo sobre as diferentes formas de representar o corpo feminino na história da Arte, além de propor que eles refletissem se de alguma forma elas influenciaram nos modos de pensar o corpo da mulher na publicidade e consequentemente na nossa sociedade. E também possibilitar aos alunos alargarem seu leque de conhecimentos sobre história da Arte e obras de Arte, exercitar a leitura e reflexão de imagens e instigar a criatividade e o fazer artístico deles através das atividades propostas. Para a realização das aulas expositivas e dialogadas foi utilizado o recurso de apresentação em Power Point, usei também muitas imagens de diferentes obras artísticas. A maior preocupação foi levar para os alunos atividades diferentes das que eles estavam acostumados a fazer, por isso, escolhi confeccionar com eles um livro de imagens, pois não conheciam esse tipo de trabalho. Nele foi abordada a questão de como as representações corporais femininas sofreram modificações até chegar ao “padrão” corporal atual, fazendo com que se adaptassem a diferentes culturas e às influências do tempo. Diante dessa perspectiva da sociedade e do tempo como fator relevante na transformação da representação da mulher foi visto no desenvolvimento do projeto como isso ocorreu desde a pré-história até o Cubismo e se de alguma maneira influenciou na sua imagem publicitária. A respeito dos estágios, gostaria de ressaltar a dificuldade inicial em aceitar a troca de professores nos estágios 2 e 3. Mas com o passar do tempo esta resistência foi diminuindo até eu compreender que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, pois cada professor, assim como qualquer ser humano, tem visões diferentes sobre um mesmo assunto. Isso me fez reavaliar o projeto de ensino e também buscar novas alternativas para complementá-lo, o que contribuiu muito para o meu aprendizado. As práticas de ensino foram realizadas na Escola Técnica Estadual Marechal Mascarenhas de Moraes em Cachoeirinha, com a 7ª série do ensino Fundamental, turma 72, cedida pela professora Márcia Inácio, faixa etária entre 13 e 17 anos e também com a 1ª Série do Ensino Médio, turma 14, cedida pelo professor Paulo César da Silva, a faixa etária dos alunos variava entre 15 e 18 anos. O projeto de ensino foi desenvolvido em 7 encontros (14 aulas), que ocorreram do dia 16/09/10 ao dia 28/10/10. Com ambas as turmas foi trabalhado o mesmo tema e recursos materiais. Para as aulas teóricas foi utilizado apresentações em Power Point, vídeos
10
e textos sobre o assunto. Com a 7ª série foi construído um Fanzine que é uma revista que se faz sobre algum assunto ou pessoa de quem somos fãs. Nele conteve representações femininas de diferentes períodos artísticos, representações de mulheres que eles eram fãs e os motivos pelos quais eles eram fãs delas. Como trabalho final foi realizado uma desconstrução da imagem feminina vista na publicidade feita com recorte e colagem inspirados nos trabalhos da artista Hana Höch. Com a 1ª série do ensino médio foi elaborado um livro de imagens. Os alunos puderam expressar em seus livros as diferentes representações femininas vistas em aula, mas não precisava ser necessariamente a mulher, poderia ser também o que eles tinham achado mais interessante na sua representação. Eles também criaram a partir de algumas obras, produtos que eles achavam que elas poderiam vender Assim como o ensino fundamental, eles também realizaram o trabalho de recorte e colagem. O projeto de ensino juntamente com as aulas realizadas encontra-se no quarto capítulo. Uma vez finalizada a prática de ensino, escolhi colocar no Trabalho de Curso a experiência desenvolvida com o Ensino Médio porque a achei mais difícil, mas ao mesmo tempo engrandecedora, pois eles fizeram com que buscasse diferentes alternativas (metodologias) para que a qualidade dos nossos encontros melhorassem, tornando-os mais interessantes e proveitosos. Esta questão encontase no terceiro capítulo. Após a experiência de prática de ensino, foi possível fazer algumas considerações referentes ao tema e ao objetivo do projeto de ensino, se foram alcançados ou não e também o quanto o alcance do tema e os objetivos estão interligados e um interfere no outro, suas metodologias, sobre o trabalho plástico dos alunos e o que julgo mais importante, a minha experiência adquirida. A questão que considero mais significativa após realizar esta prática de ensino, bem como a própria graduação como um todo, foi perceber que a sala de aula é um lugar onde trocamos conhecimentos e experiências, podendo ser comparado a um termômetro que mede o quanto somos capazes de nos recriar a cada dia buscando subsídios para que professor e aluno não percam o entusiasmo tanto de aprender quanto de ensinar. Mas observei que devido a minha ansiedade e a falta de flexibilidade em lidar com certas situações, ainda não me sinto
11
completamente preparada para a doc锚ncia. Mas acredito que em um futuro pr贸ximo vai ser diferente, pois consegui perceber o que pode ser melhorado.
12
1. DO CORPO AO CORPO: REPRESENTAÇÕES DO FEMININO NA ARTE E NA PUBLICIDADE Até chegar ao padrão corporal feminino atual, a mulher sofreu várias modificações, fazendo com que ela se adaptasse a diferentes culturas e às influências do tempo. Devido a esses fatores, conseqüentemente, desde a pré-história, a sua forma de ser representada também mudou. Diante dessa perspectiva da sociedade e do tempo como fatores relevantes na transformação da representação da mulher veremos como isso ocorreu ao longo dos tempos e como sua imagem passou a ser vista na publicidade.
1.1. A mulher na Pré-História Por ser um período que antecede a escrita, não foi registrado nenhum documento escrito, isso faz com que tenhamos pouquíssimas informações sobre as mulheres daquela época. As primeiras obras estão longe de serem belas. Os arqueólogos denominavam as estatuetas de Vênus, acreditando que elas correspondiam a um ideal de beleza do homem primitivo. Na realidade, como na pintura mágica, o artista talvez quisesse apenas ressaltar as características da fertilidade feminina: por isso acentuava-lhe os volumes.
13
Vênus de Willendorf, Pré-História. (Fonte: JANSON, 2001, p. 44)
1.2. A mulher Egípcia A representação da mulher egípcia nos retrata uma mulher elegante, as inclusas no povo eram retratadas com pele escura, até mesmo pela exposição contínua ao sol. Tinham vestimentas chamativas devido às fortes tonalidades dos tecidos, mas suas figuras nunca pecavam pelo excesso, pois conseguiam fazer um equilíbrio entre as cores. A mulher é representada de forma leve e magra, sua roupa cobre e descobre o corpo: seios redondos, altos quadris, longas pernas; o olho de frente, o rosto de perfil; o corpo de frente, as pernas e os braços de lado.
14
Autor desconhecido: Nefertiti - Esposa de Aquenaton, 14 a.C. (Fonte: JANSON, 2001, p. 98)
1.3. A mulher Grega A arte grega se inspira no corpo feminino e lhe consagra verdadeiro culto. A homenagem dos gregos à beleza se traduz pelo culto da forma, cuja perfeição se encontra nas linhas do corpo feminino. A mulher era considerada não pelas virtudes morais, mas antes pelas qualidades físicas. Os cretenses tinham horror à gordura, por isso procuravam, através de práticas de rigorosos exercícios físicos, manter um corpo esguio e bem proporcional. Qualquer sacrifício valia para ter uma cintura fina e músculos rijos. As mulheres usavam roupas que se destacavam pelo jogo de cores, corpetes justos, decotes generosos, braços nus, saias amplas com babados, sandálias bordadas ou sapatos de salto e cabelos magnificamente trabalhados, com belos laços e cachos. Na obra “AS DAMAS DE AZUL” (Palácio de Cnosos – Creta), podemos observar grandes olhos negros cercados de azul, mechas sobre a testa, cabelos caindo sobre a nuca é ela que abre as portas da Grécia conforme seus livros de história.
15
O culto ao corpo, acima de tudo, retrata em suas obras sempre mulheres com uma beleza “ideal”. Um exemplo disso é o escultor Praxíteles ao retratar “Afrodite”, a Deusa do Amor, ele buscava a harmonia formal: Graça na postura, suavidade nos contornos e proporção nas formas.
Autor desconhecido: As Damas de Azul (Creta), 1500 a.C (Fonte: LOPERA; ANDRADE, 1995, p. 35)
Praxíteles, 130 a.C. (Fonte: ECO, 2004, p. 16)
16
1.4. A mulher Romana Ao nascerem, as meninas romanas ficavam sob a custódia do pater familias, que tinha poderes de vida e de morte sobre elas. As filhas de famílias de elite estudavam literatura e música e aprendiam a tecer e fiar. Aos doze anos já estavam preparadas para o casamento. Fisicamente os homens tinham preferência por aquelas que tivessem cabelos louros, seios pequenos e quadris largos. As mulheres romanas rezavam com seus maridos e filhos, orientavam a limpeza da casa, a preparação das refeições e, ainda com o auxílio das criadas, se preparavam para recepcionar seus maridos. Por este motivo elas passavam por um pequeno tratamento de beleza diário. Mas elas não faziam isso só para os maridos, mas também para serem prestigiadas pelas outras pessoas. Por isso, os artistas sempre as representavam de forma impecável.
Autor desconhecido: Dama da época dos Flavianos, 90 a.C. (Fonte: JANSON, 2001, p. 265)
17
1.5. A mulher Renascentista No Renascimento, o cânone de produções greco-romano volta a determinar a construção da figura humana, voltando também o culto ao Belo. Na representação da mulher renascentista, “se compararmos diversas Vênus, perceberemos que em torno ao corpo feminino que se mostra desnudo desenrola-se um discurso antes complexo” (ECO, 2004, p.193). Como nas obras Leonardo da Vinci, “Mona Lisa” e “Dama com arminho”, ou em Rafael Sanzio, “As três graças”.
Da Vinci, 1503/1505. (Fonte: JANSON, 2001, p. 640)
Da Vinci, 1488. (Fonte: ECO, 2004, p. 192)
Considerado o maior pintor do Renascimento, Rafael Sanzio (1483-1520), aliando à harmonia à dramaticidade e empregando cores, formas e volumes com equilíbrio, representa a doçura, a grandeza e a perfeita harmonia em suas obras. Podemos constatar tais características, em uma de suas obras, “As três graças”.
18
Sanzio, 1500/1505. (Disponível em: http://br.geocities.com/discursus/archistx/caritace.html) Acesso em: 19 mar. 2010.
Na obra de Hans Baldung “As três idades da mulher e a morte”, vemos uma Vênus de pele branca que se destaca da escuridão do fundo, deixando evidente sua beleza física, apesar das imperfeições das formas comparadas aos padrões clássicos, tornando-se ainda mais realista. Observa-se que mesmo rondada pela morte, ela anuncia uma mulher renascentista que sabe se cuidar e mostrar o seu corpo.
Baldung, 1510. (Fonte: ECO, 2004, p. 194)
19
A mulher renascentista utiliza a arte da cosmética para se embelezar e cuida atenciosamente dos cabelos, tingindo-os de louro, o corpo é feito para ser enfeitado com objetos harmoniosos feitos em ouro. O Renascimento é um período de empreendimento e atividade para a mulher, que na vida da corte dita leis na moda e adequa-se ao fausto imperante, sem esquecer, no entanto, de cultivar a própria mente, participante ativa das belas artes e com capacidade discursivas, filosóficas e polêmicas (ECO, 2004, p. 196).
1.6. A mulher Neoclássica O Neoclassicismo é um movimento artístico que, a partir do final do século XVIII, reagiu ao Barroco e ao Rococó, e reviveu os princípios estéticos da antigüidade clássica, atingindo sua máxima expressão por volta de 1830. Não foi apenas um movimento artístico, mas cultural, refletindo as mudanças que ocorrem no período, marcadas pela ascensão da burguesia. Essas mudanças estão relacionadas ao racionalismo de origem iluminista, à formação de uma cultura cosmopolita e profana. A arte neoclássica busca inspiração no equilíbrio e na simplicidade, bases da criação na Antiguidade. As características marcantes são o caráter ilustrativo e literário, marcados pelo formalismo e pela linearidade, poses escultóricas, com anatomia correta e exatidão nos contornos, temas dignos e clareza. Na pureza das linhas e na simplificação da composição, buscava-se uma beleza deliberadamente estatuária. Os contornos eram claros e bem delineados, as cores, puras e realistas, e a iluminação, límpida. Tal e qual acontecia no Renascimento, porém as técnicas de pintura era mais elaboradas, o que propiciava um realismo indescritível às obras neoclássicas.
20
Jacques, 1798/1799. (Disponível em: www.1st-art-gallery.com/Jacques-Louis-David/Madame-Raymond- DeVerninac-1798-99.html) Acesso em: 19 mar. 2010.
1.7. A imagem da mulher na publicidade A “imagem” é ponto de partida e de chegada da complexa relação entre imagens sociais e imagens visuais. Já que as imagens que vemos na mídia não deixam de ser um reflexo de como a sociedade vê e representa a mulher nos dias de hoje. Por um lado, a sociedade produz imagens, representações visuais do feminino (no cinema, na televisão, nas artes visuais, na fotografia, na publicidade, ...), que são elas próprias reflexo e resultado de uma ideia socialmente enraizada relativa à feminilidade. Por outro, aquelas imagens, mais ou menos massivamente difundidas, produzem e sedimentam modos de pensar o feminino nas sociedades ocidentais (RIBEIRO, 2005, p. 657).
Para entender a relação entre construções sociais e representações visuais, podemos analisar as mensagens visuais publicitárias, observando de que modo elas refletem e influenciam as formas de pensar o gênero feminino. O visual é central para a construção da vida social nas sociedades contemporâneas. As imagens são como visões do mundo. A forma como as imagens são construídas dá conta de fatores sociais, sendo necessário
21
interrogar o modo como estas tornam visível (ou invisível) a diferença social. Uma vez que as categorias sociais não são naturais mas construídas, tais construções podem adquirir uma forma visual, que dará conta das mesmas. As imagens apresentam visões de categorias sociais como classe, gênero, etnia, sexualidade, etc. (ROSE, 2001 apud RIBEIRO, 2005, p. 657).
Nas
sociedades
ocidentais,
estamos
rodeados
de
imagens
de
feminilidade e estas constroem um modelo acerca do que significa ser feminino na nossa cultura que afeta a todos, mulheres e homens, de variadas formas. De acordo com Betterton “para as mulheres, especificamente, estas imagens são impossíveis de ignorar. Elas dizem-nos como devemos tratar da aparência, como devemos nos comportar como devemos esperar ser vistas e tratadas pelos outros” (BETTERTON, 1987 apud RIBEIRO, 2005, p. 657). A publicidade mostra imagens do feminino e das mulheres que por elas são interiorizadas e as influenciam em termos de valores e de comportamentos, não é menos verdade que tais imagens emergem num determinado clima social e que captam, portanto, tendências sociais. A publicidade veicula e sedimenta os valores da sociedade na qual opera. São então determinantes, deste ponto de vista, as relações de poder entre homens e mulheres, os valores de gênero vigentes e o papel social da mulher, uma vez que estes vão também refletir-se na publicidade e nos anúncios produzidos.
1.8. Padrões e critérios de beleza Nas imagens publicitárias, uma tendência é dominante: é a mulher bela que aparece. A noção de beleza não é simples e presta-se a considerações de caráter cultural. De qualquer forma, a beleza física, em termos de aparência, está sem dúvida, entre os traços do feminino mais marcantes destas imagens publicitárias, tais características são a idade, corpo, cabelo, aspecto e vestuário. Neste caso a beleza é moldada por padrões e critérios bem definidos, o que implica a construção de um ideal; constituindo um afastamento face à aparência da mulher comum, que não é idealmente bela e que, portanto, não se adéqua a todos os critérios prescritos. Ao vermos imagens de mulheres na publicidade
22
podemos concluir que o padrão de beleza presente é limitado por rígidos parâmetros no que diz respeito à idade, ao peso, à etnia e à classe. Mulheres extremamente jovens povoam este mundo, estando a juventude entre os mais marcantes traços daquele ideal. As idades são na grande maioria, entre os 20 e os 30 anos. Ha espaço para algumas exceções, é o caso dos produtos cosméticos antienvelhecimento e dos bens relacionados com a prevenção ou resolução de problemas de saúde. Só nestes casos parece ser aceitável que a mulher não seja extremamente jovem, mesmo assim para estes produtos, a idade aparente das mulheres não ultrapassa os 40 anos. Uma norma quase totalitária das representações visuais do feminino é a magreza, ou a extrema magreza. O corpo volumoso não é valorizado, ou sequer visualizado, continua, ainda que de forma implícita, a ser concebido como o “desagradável”, por oposição ao “perfeito”. Um ideal de beleza tal como aparece nos padrões e critérios de beleza citados acima comporta, pela sua natureza, uma forte carga de irrealismo. Apenas as mulheres que se adéquam a esse ideal e aos parâmetros que o regem são incluídas neste tipo de representação. Já as mulheres “reais”, diferente necessariamente do tipo ideal de beleza, quase não encontram aqui o seu lugar.
1.9. O papel do Observador Não constituirá surpresa que estas mulheres fisicamente ideais se prestem à contemplação e à exploração enquanto objetos visuais. Esta oferta da aparência feminina ao olhar do outro é particularmente afirmada através do parâmetro “contato visual”, e, mais especificamente, do olhar direto da figura feminina em direção ao observador / fotógrafo. A objetivação visual (a mulher visão) é propiciada igualmente por aspectos como a pose frontal, o movimento corporal, e ainda o enquadramento, os planos e a distância de visão imposta pelo olho fotográfico (BERGER, 1972 apud RIBEIRO, 2005, p. 660).
A figura feminina está na imagem para ser vista. A sua presença tem por fim dar-se ao olhar, mas ao olhar de um outro fora da imagem. É esta existência
23
imaginada (implícita) de um observador que dá sentido a uma grande parte das imagens publicitárias, aquelas em que o motivo humano feminino se dirige (direta ou indiretamente) a alguém não representado, a mulher está na imagem como objeto para se mostrar e estabelecer uma relação com quem a olha, que na maioria das vezes é o homem. Assim, ainda que os observadores-alvos sejam as leitoras das revistas femininas, percebemos que elas incorporaram o olhar masculino e estão “habilitadas pelas categorias masculinas”. Na verdade quando elas olham para os anúncios, estão na realidade se vendo como um homem as veria.
1.10. A mulher erótica e disponível “A imagem de mulher bela e visualmente disponível é composta de erotismo e disponibilidade sexual” (RIBEIRO, 2005, p. 660). Erotismo que pode ser evidenciado nos cabelos, corpos, poses, roupas, toque e movimentação corporal. A disponibilidade sexual, ou seja o corpo como objeto de desejo, está ligado ao fato deste corpo estabelecer uma relação erótica com o observador através da expressão facial, posicionamento dos lábios ou pelo convite (implícito e/ou explícito), ao toque de quem olha. Fica clara a ideia de que a intenção é instigar a imaginação do homem, já que as imagens femininas não são acompanhadas da figura masculina, evidenciando o seu direcionamento ao elemento masculino fora da imagem. Esta mulher bela, objeto visual e erótico, feita de aparência, cujo corpo é aparência, o que faz de concreto com o seu corpo? Predominam esmagadoramente mulheres que não fazem, que apenas aparecem, e que não empreendem ações visíveis. Dominam as poses de exibição corporal, marcadas pela ausência de atividade. “Atividade é aqui entendida como uma ação visível, um ato de fazer algo com um fim” (RIBEIRO, 2005, p. 661). Não tem necessariamente que se tratar de trabalho produtivo, mas o “fazer algo” pressupõe que a imagem mostre a mulher a desenvolver uma ação com um fim em vista. Inclui-se ao lazer ativo (atividades de lazer), mas excluem-se o movimento corporal passivo, como a exibição visual e as poses estáticas. A ausência de atividade caracteriza a quase totalidade das imagens
24
mostradas na publicidade, sendo apenas possível encontrar raríssimas exceções referentes a atividades de formação profissional, de lazer ativo, domésticas e de embelezamento físico. A mulher tem aqui uma função, mas esta é a de aparecer, de ser vista, de se dar a ver, sem nada fazer. Salienta-se, portanto, uma vertente decorativa, e a ausência de um corpo funcional ou útil. Quem nada faz, para que serve? O componente erótico e de disponibilidade sexual está muito presente, sendo, no entanto, por vezes, a relação masculino/feminino de caráter afetiva e amoroso, sem referências explícitas à sexualidade. Porém, a mulher é, face ao homem, sobretudo corpo enquanto objeto de desejo, articulando-se esta tendência com o traço relativo à erotização do corpo. Sexo e romance surgem, na relação com o masculino, também marcados pela beleza física e pela disponibilização visual do corpo. Nos anúncios publicitários de cerveja, por exemplo ao esporem atraentes modelos, provocam não só o desejo masculino para a aquisição do produto, como o público feminino, pois, quando entram em jogo a magia da sedução, a mercadoria (con) funde-se com a imagem feminina, objeto de desejo masculino e figura a ser copiada pela mulher. É como se o homem, ao adquirir o produto, estivesse mais próximo de celebridades televisivas como Juliana Paes, por exemplo, e no caso feminino, é como se junto ao produto viessem as qualidades da modelo. Os publicitários ao criarem seus anúncios não se mostram preocupados em informar a qualidade do produto (no caso a cerveja), utilizando-se da sensualidade feminina para vendê-los. Outro exemplo é o espartilho usado pela personagem Tiazinha, nos anos 90. Adquirindo a roupa possui-se o objeto desejado, mesmo sabendo que não possui de fato o desejado, ou seja, a Tiazinha e no caso da mulher o corpo igual ao dela. A cueca, que é uma peça de roupa usada pelo homem, já teve como modelo uma mulher. Isto ocorreu com a marca de cuecas Mash na década de 90, Vera Fischer, considerada um símbolo sexual pelos homens, aparece vestindo um dos modelos da marca. Isto evidencia a intenção de despertar no homem a intenção de compra, com o intuito de conquistar uma ‘linda’ mulher. Assim, independente de gênero, na maioria das vezes compramos roupas (intimas ou não) para mostrar a
25
alguém. Segundo a sexóloga Rafaela Couto, “o objeto de consumo acaba substituindo, muitas vezes, um desejo não concretizado” (COUTO, 2000/1, p. 33). Na realidade nem o homem ou a mulher, fica indiferente a um anúncio provocante. Estas propagandas mexem com as emoções do consumidor, seja consciente ou inconscientemente. Há anos atrás, a marca de refrigerante Coca-Cola também usou durante muito tempo a figura feminina para anunciar seu produto. O formato da garrafa de Coca-Cola que conhecemos, foi inspirado no formato do corpo feminino, fazendo com que o consumidor associasse o produto ao prazer de possuí-lo. Talvez por esse motivo é que as marcas de cerveja mantiveram esse formato em suas garrafas.
(Disponível em: http://garotasdepropaganda.wordpress.com/2009/08/29/publicidade-feminina-decoca-cola/) Acesso em: 23 mar. 2010.
26
1.11. A mulher no ambiente familiar Quando são as crianças que interagem com as mulheres nos anúncios é a maternidade que está em causa, sendo as figuras femininas contextualizadas numa vertente familiar de cuidados com os filhos. Aqui, a mulher é mãe. Quando a mulher aparece em anúncios em que ela está só, como nos produtos ou embalagens dos produtos anunciados, esta atitude é desprovida de um caráter funcional ou utilitário. Não há um “fazer” por parte da mulher, mas antes uma tentativa de passar para o produto a beleza que a distingue ou de evidenciar os efeitos do produto na sua aparência. Sozinha na imagem resta à figura feminina relacionar-se consigo própria, quer a um nível mais físico (toque no corpo, na pele, no vestuário, no cabelo), quer a um nível que se pode considerar mental ou psicológico (representação de atitudes de alheamento mental, introspecção, devaneio - exploradas visualmente de modo a enfatizar a beleza exterior, a componente estética e/ou erótica da mulher, nunca o seu interior). Destaca-se, mais a relação da mulher com aquele que a olha, fora da imagem, o que pode explicar e determinar o fato de não surgirem outros motivos humanos na imagem, ou seja, o isolamento predominante da figura feminina no espaço de representação. “Esta relação com o olhar de alguém fora da imagem permite estabelecer algumas pontes e conclusões face aos traços abordados anteriormente” (RIBEIRO, 2005, p. 662). Primeiramente, convém não abandonar o fato de esta ligação ser, como se viu, conseguida através da disponibilização visual de uma mulher bela e passível de exploração enquanto objeto erótico e sensual. Por outro lado, se esta relação é tão predominante e tão visível, é compreensível que este modelo de mulher integre ainda dois traços: o não “fazer”, o corpo não atuante, e o não estar em parte alguma, o corpo desenquadrado dos espaços quotidianos ou reais. Se é para quem olha que ela existe na imagem, nada tem que fazer, a sua função é dar-se ao olhar, e não tem que estar em parte alguma o local que importa é aquele onde está quem a olha e não o local onde ela está. Para que integrá-la num modo de vida, com ações, tarefas, atividades, realizadas em locais não artificiais ou irreais, se o objetivo é retirá-la, desintegrá-la, suspendê-la das suas condições de vida para a tornar objeto do olhar?
27
Diante de tudo o que foi dito até agora, podemos verificar que as imagens publicitárias mostram as mulheres não necessariamente como elas se comportam ou são de fato, mas como a sociedade aprendeu a pensar que elas se comportam. Tentando convencer-nos de que é assim, realmente, que as mulheres são, ou devem ser. “Pensar a mulher como uma tela visual é interrogar a ideologia que essa sociedade projeta numa tela, inerte, inatuante e reflexiva” (RIBEIRO, 2005, p. 664). Nestas superfícies visuais algo é projetado, nessas figuras femininas inscreve-se um modo de pensar as mulheres, mas não a realidade dessas mulheres; nunca as múltiplas formas de ser, de pensar, de agir, de estar com os outros e consigo, os diferentes corpos que caracterizam os seres humanos (logo, que também caracterizam as mulheres). A coerência dos modelos veiculados nas imagens, baseada na artificialidade, irrealismo, ausência de enquadramento no modo de vida, apagamento da singularidade, ênfase na aparência e na sexualidade do corpo, garante a existência de uma fórmula de mulher que é dada a ver. “O feminino e o masculino não são categorias dadas à partida, mas vividas socialmente, “não são apenas impostas de fora de nós, mas também experienciadas subjetivamente como parte do entendimento daquilo que somos” (BETTERTON, 1987 apud RIBEIRO, 2005, p. 664). O que se argumenta aqui é o poder que estas representações possuem de fazer crer que é assim que as mulheres são ou deveriam ser; a sua capacidade de fazerem da fantasia uma espécie de norma a seguir e um sonho possível de alcançar. As representações visuais do feminino na publicidade não devem ser encaradas como meras ficções fantasiosas, mas como imagens que têm a capacidade de fazer acreditar que o feminino é assim ou deveria ser assim. As imagens das mulheres possuem ainda o poder de alterar a realidade concreta das mulheres: entendidas como espelhos de realidades suscetíveis de serem vividas pelas mulheres, em geral, prescrevem comportamentos, ainda que frequentemente de forma indireta, acarretando consequências para a vida das mulheres. Deste modo, a representação faz-se realidade (por mais irreal que seja), as imagens das mulheres fazem as mulheres que olham imagens, o visual toma a seu cargo o social. Contudo, se as imagens das mulheres são tão diferentes das mulheres que olham as imagens, se aquilo que é dado a ver é tão artificial e tão distante da realidade
28
vivida pelas mulheres, tal coloca-as numa difícil situação. Com isso a mulher pode escolher dois caminhos: a constante insatisfação com o real vivido (com o seu corpo e com a sua aparência), na tentativa, condenada ao fracasso, de atingir o ideal; ou a opção de viver num mundo irreal, fantasioso, artificial, que não corresponde ao seu e que, pior, é diminuidor para a noção de ser humano, já que faz do feminino uma tela visual, destinada apenas a ser visualizado e a anular-se como pessoa. A marca Dove vem tentando mostrar as mulheres como elas realmente são em suas campanhas publicitárias. Tentando, porque na verdade quando vemos um de seus produtos destinados a mulheres com curvas reais o que vemos são mulheres no máximo “cheinhas”. Porque eles não colocam ao menos uma pessoa obesa, já que a população com problemas de peso está crescendo a cada dia? Acredito que nós mesmos somos responsáveis pelas as imagens que vemos, pois as aceitamos, e pior ainda somos os primeiros a criticar quando, rarissimamente em alguma propaganda aparece alguém com uma imagem próxima a pessoas que fazem parte da nossa realidade.
(Disponível em: www.brainstorm9.com.br/0000/11/08/) Acesso em: 29 mar. 2010.
29
1.12. O belo e o feio em Arte É quase impossível não falar de beleza quando se estuda Arte, pois a história da beleza é mostrada quase sempre através de obras de Arte. “Foram os artistas, poetas, romancistas, que nos contaram através dos séculos o que eles consideravam belo e nos deixaram seus exemplos” (ECO, 2004, p. 12). Por este motivo, já que o projeto trabalhará com as diferentes formas de representar o corpo feminino na história da Arte e os desdobramentos dessas imagens na Publicidade, faz-se necessário mostrar para os alunos o belo e o feio em Arte e também para dar retorno ao questionário feito com eles anteriormente, pois ficou evidente a dificuldade em definir este conceito. Quando alguém diz que uma coisa é bela ou feia, está fazendo um julgamento de valor estético. No caso da Arte, o valor é uma relação entre o público (inclusive o crítico de Arte) e uma obra de Arte, seja um quadro, uma peça musical ou um filme. O valor estético é a capacidade que tem uma obra de nos comover, de nos proporcionar a experiência única de perceber um sentido possível do mundo, da vida, da natureza, por meio de nossos sentidos. A Estética é um ramo da filosofia que se ocupa das questões tradicionais ligadas à Arte, como o belo e o feio, o gosto, os estilos e as teorias da criação e da percepção artística. Do ponto de vista estritamente filosófico, a estética estuda racionalmente o belo e o sentimento que ele desperta nas pessoas, por isso usa-se muito a estética como sinônimo de beleza. Segundo Aranha e Martins (2005) a palavra estética vem do grego aisthesis e significa “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante”. O conhecimento pela Arte, a obra de Arte, é individual, concreta e sensível, e oferece-se aos nossos sentidos. Ela é também uma interpretação simbólica do mundo. A obra de Arte ao se dirigir como conhecimento intuitivo, à nossa imaginação e ao sentimento (não a razão lógica), torna-se um objeto estético por excelência. Segundo as mesmas autoras, de um lado uma tradição iniciada com Platão, no séc. IV a. C., na Grécia, há os filósofos que defendem a existência do “belo em si”, de uma essência ideal, objetiva, independente das obras individuais,
30
para as quais servem de modelo e critério de julgamento. Existia um ideal universal de beleza a ser seguido. As qualidades que tornam um objeto belo estão no próprio objeto e independem do sujeito que as percebe, sendo assim poderiam ser estabelecidas regras para o fazer artístico, baseando-se neste ideal. E é desse modo que procedem as academias de Arte, principalmente na França, onde foram fundadas a partir do séc. XVII. Os filósofos empiristas foram contrários a esta visão, David Hume (séc. XVIII), relativava a beleza, reduzindo-a ao gosto individual. Exemplo disto é o ditado “Gosto não se discute”. O belo neste sentido não está mais no objeto, mas nas condições de representação do sujeito. Kant, também no séc. XVIII tentou resolver o impasse entre objetividade e subjetividade, afirmando que o belo é “aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-lo intelectualmente”. O objeto belo para ele é uma ocasião de prazer, a causa está no sujeito. O belo é uma qualidade que damos aos objetos para expressar certo estado da nossa subjetividade, o que faz com que não haja uma idéia de belo em si, e nem regras para produzi-lo. Hegel, no séc. XIX apresenta o conceito histórico do belo, ele diz que a beleza muda de face e de aspecto através dos tempos. Esta mudança reflete na Arte, dependendo mais da cultura e da visão de mundo existentes em determinadas épocas do que da exigência interna do belo. Hoje em dia, o belo pode ser considerado uma qualidade de certos objetos singulares que nos são dados à percepção. Não existe mais a ideia de um único valor estético a partir do qual julgamos todas as obras. Cada objeto é singular e tem sua própria beleza, bem como as regras para o seu julgamento. Pode-se dizer que beleza é um valor que se modificou ao longo do tempo, mas continua sendo o valor estético por excelência. Não é possível dissociar o belo do feio. O problema do feio está nas colocações que são feitas sobre o belo, “por princípio, o feio não pode ser objeto da Arte” (ARANHA, 2005, p. 210). Segundo a mesma autora “o feio pode ser representado de duas formas: a representação do assunto “feio” e a forma de representação feia. No primeiro caso, embora o assunto “feio” tenha sido abolido do meio artístico por séculos, no séc. XIX
31
ele é reabilitado”. Quando a Arte rompe com a ideia de ser “cópia real”, para ser considerada criação autônoma que tem por função revelar as possibilidades do real, passa a ser avaliada de acordo com a autenticidade da sua proposta e com a capacidade que tem de falar ao sentimento. O problema do belo e feio é deslocado do assunto para o modo de representação. Então só serão consideradas obras feias as que forem malfeitas (não forem obras de Arte), ou seja, se não corresponderem plenamente á sua proposta.
1.13. Sobre conceitos de publicidade e propaganda De acordo com o projeto, mostrarei para os alunos representações femininas na história da Arte e os desdobramentos dessas imagens na publicidade. Por este motivo achei necessário, antes de entrar no assunto “a imagem da mulher na publicidade” conversar com os alunos sobre a diferença entre publicidade e propaganda, pois muitas pessoas confundem seus conceitos e funções.
1.13.1. Publicidade “A princípio a palavra publicidade designava o ato de divulgar, de tornar público. Teve origem no latim publicus (que significa público), dando origem ao termo publicité, em língua francesa” (FERRARI e LINDEMAYER, 2003, p. 54). Seu uso foi identificado por Rabaça e Barbosa pela primeira vez em língua moderna no dicionário da Academia Francesa, em sentido jurídico. O termo publicité referia-se à publicação, ou leitura de leis, éditos, ordenações e julgamentos. Posteriormente, o termo publicidade perdeu o seu sentido ligado assuntos jurídicos e passou no século XIX a ter significado comercial. [a publicidade é] “qualquer forma de divulgação de produtos ou serviços, através de anúncios geralmente pagos e veiculados sob a responsabilidade de um anunciante identificado, com objetivos de interesse comercial” (RABAÇA e BARBOSA, 1987 apud FERRARI e LINDEMAYER, 2003 p. 54).
32
Ao longo do tempo a publicidade teve diversas conceituações. [publicidade é um] “conjunto de técnicas de ação coletiva no sentido de promover o lucro de uma atividade comercial conquistando, aumentando e mantendo clientes” (MALANGA, 1979 apud FERRARI e LINDEMAYER, 2003, p. 54). Com a chegada da era industrial, a concentração econômica e a produção em massa, consequentemente surgiu a necessidade de aumentar o consumo dos bens produzidos. Para dar conta desta necessidade as técnicas publicitárias foram se aperfeiçoando, tornando-se mais persuasiva, perdendo seu sentido inicial, de caráter exclusivamente informativo. A publicidade, dependendo da sua função e objetivos estratégicos, pode ser classificada de várias maneiras como: publicidade de produto, de serviço, comparativa, cooperativa, industrial, e de promoção, cada uma com sua intenção. O objetivo principal da propaganda publicitária é desenvolver nas pessoas o desejo de consumir os produtos, tentando convencê-las da necessidade de tal ato. Há que se ter cuidado, pois a publicidade contemporânea exagera as atribuições transformando em ídolo o produto a ser consumido, indo além de suas qualidades e realidade.
1.13.2. Propaganda “A palavra propaganda é gerúndio latino do verbo propagare, que quer dizer: propagar, multiplicar (por reprodução ou por geração), estender, difundir. Fazer propaganda é propagar ideias, crenças, princípios e doutrinas, mas sem a finalidade comercial’’ (FERRARI e LINDEMAYER, 2003, p. 58). É projetar a imagem da empresa no mercado, através dos meios de comunicação disponíveis na comunidade: televisão, rádio, cinema, imprensa, revistas outdoors, internet e outras mídias, divulgando os produtos ou serviços às diversas fatias do mercado. A propaganda não é vista somente como uma simples propagação de ideias e doutrinas, mas também a sua propagação por certos métodos. Usar formas de representações para gerar reações coletivas pode-se dizer que é uma ação de propaganda.
33
A propaganda pode ser classificada de várias formas como: propaganda ideológica, política, eleitoral, governamental, institucional, corporativa, legal, religiosa e social. Apesar da publicidade e da propaganda ter objetivos diferentes, apresentam pontos em comum quanto à técnica e aos veículos de divulgação que utilizam o que faz com que muitas pessoas confundam seus conceitos.
34
2. O USO O TEMA ESCOLHIDO EM SALA DE AULA Tanto nas criações artísticas como em nosso dia-a-dia, nos deparamos com vários estereótipos corporais, e ás vezes até mesmo involuntariamente nos pegamos seguindo um padrão de corpo imposto por alguém. “Essa sucessão de estereótipos da representação do corpo, tanto na criação artística quanto na vida cotidiana, prossegue de maneira contagiosa, impondo ao mesmo tempo uma ordem estética e sua confusão” (JEUDY, 2002, p. 175). As imagens corporais estão sempre se renovando, promovendo novos estereótipos. Estas mudanças, de maneira constante nos invocam, convidam a seguir tais estereótipos e assim, fazem com que estes “modelos ou estereótipos” tornem-se, muitas vezes, quase inatingíveis. A estética do corpo depende muito da época e da cultura em que ele está inserido. A cada dia que passa torna-se imprescindível mostrar para os alunos a importância de conhecer o seu corpo e aceitar as suas singularidades, trabalhando assim autoconhecimento e identidade, para que eles possam também aprender a ver o corpo do outro. É importante mostrar para os alunos que seu corpo não é, e nem deveria ser, igual ao da imagem que vemos na TV, por exemplo, pois nem sempre o que a mídia mostra é real ou, em termos estéticos, representa o padrão dominante. O sentido da singularidade neste caso é relativo, pois ela pode ser tratada de duas maneiras. A primeira, parte do princípio de aceitação de uma pessoa para com o seu corpo e trata das características ímpares deste indivíduo diante das outras pessoas, já que podemos ser semelhante e não igual a alguém. A segunda parte, da ideia de banalização da singularidade diante de estereotipização, já que hoje em dia existe uma facilidade dos recursos como: cirurgia estética, cremes, etc. Pode-se, por exemplo, adquirir o nariz de sua atriz preferida. Enfim, é possível ter partes dos corpos semelhantes de quem quisermos, basta pagar. Isto demonstra que a imagem do corpo está, a cada dia, mais banalizada. Exemplo disto é a artista plástica francesa Orlan, criadora do “Manifesto da Arte Carnal”, no qual ela entrega sua face e seu corpo como material para que os
35
cirurgiões façam “Arte”. Orlan submeteu seu rosto a várias operações em busca da boca da Gioconda e os olhos de Nefertiti. Segundo Veríssimo, talvez isso aconteça, [...] porque a noção actual de beleza perdeu sua relação com o imaginário somente alcançado na paleta dos pintores ou na prosa dos escritores. Perderam-se, também, os preconceitos dos mais velhos face à sua própria aparência. “Querer ser belo” é uma prática legítima de todos, já que deixaram de existir limites naturais para a beleza: os produtos de cuidados faciais e corporais, bem como a cirurgia estética, triunfam sobre as imperfeições, os defeitos físicos e os defeitos do tempo (VERÍSSIMO, 2010, p. 1706).
Devemos trabalhar com o senso crítico dos alunos diante de tudo que lhes é imposto, não permitindo que algo ou alguém dite como eles devem ser ou agir. Enquanto os membros de uma sociedade vivam e sobrevivam em uma ordem “moral” das representações “idealizadas” do corpo, essa estética quotidiana fará parte do próprio ritmo de consumo de todos os produtos necessários para satisfazer a idealização de beleza (JEUDY, 2002, p. 18).
Por isso é imprescindível que os alunos conheçam, por exemplo, a história das representações da mulher na história da Arte, para que consigam entender a representação do corpo feminino também na Publicidade. Tentarei também suprir as necessidades apresentadas pelos alunos que observei diante do fato de só lembrarem obras como “Monalisa” ao relatar suas experiências com imagens. Isso demonstra a limitação no leque de conhecimento e potencial crítico desses alunos diante da pobreza de alternativas impostas por alguns professores de Arte que em alguns casos deixam-se dominar pelo comodismo. Antes de partir para o conteúdo a ser trabalhado faz-se necessário explicar aos alunos o conceito de belo e feio em Arte, pois diante das respostas dos questionários ficou evidente que a maioria não sabe realmente sua significação. Para isso terei que iniciar falando sobre estética, explicarei que quando alguém diz que uma coisa é bela ou feia, está fazendo um julgamento de valor estético. No caso da Arte, o valor é uma relação entre o público (inclusive o crítico de Arte) e uma obra de Arte, seja um quadro, uma peça musical ou um filme.
36
A beleza é um conceito relativo que dependerá da época, do país das pessoas, portanto poderá mudar de indivíduo para indivíduo. O conceito de belo entra na crítica de Arte com as noções de gosto, de equilíbrio, de harmonia, de perfeição, efeitos (sentimentos) que se produzem no sujeito apreciador. Não é possível dissociar o belo do feio. Se um objeto é considerado feio é porque não possuiu aquilo que se julga ser belo, mas como tal consideração é sempre subjetiva, o que é feio para uns pode ser até sublime para outros e vice versa. Também explicarei a eles que quando um artista faz sua obra ele não pensa somente na opinião do espectador. Ele faz para ser belo para ele, ou às vezes ele tem outra intenção, como por exemplo, expressar um sentimento de revolta, reivindicação diante de algo. Para entrar no tema de minhas aulas selecionei algumas imagens para que os alunos vejam que a forma de representar o corpo feminino mudou ao longo dos tempos, devido à maneira que elas eram vistas em diferentes épocas e civilizações. Sobre as representações da mulher na história da Arte, explicarei que o homem primitivo, por exemplo, a desenhava sempre destacando com volume exagerado seus seios, nádegas, barriga e a vagina e que também as representavam com crianças ou grávidas. Falarei que eles acentuavam-lhes os volumes em busca da fertilidade feminina, pois acreditavam que as desenhando assim elas desenvolveriam melhor sua função na época, a de procriadora. Após estas explicações, falarei também que por muito tempo aqui no Ocidente, talvez por vestígios dos povos primitivos tivemos como “beleza ideal” uma mulher com características parecidas com as Vênus primitivas, pois o bonito e saudável era ter curvas e para isso era necessário não ser muito magra. Hoje em dia (por experiência própria) as pessoas mais antigas, avós, por exemplo, quando te vêem a primeira coisa que falam é “como você está bonita, deu uma engordadinha né!”. Mostrarei que as mulheres egípcias eram bastante independentes para sua época, e tinham uma identidade própria, já que não usavam o nome do marido. Outras indiretamente exerciam grande influência sobre seus maridos, como Nefertite em relação ao Amenórfis IV (O Aquenaton) e Nefertari em relação a Ramsés II. É possível afirmar que o lugar da mulher na sociedade egípcia foi uma das mais belas
37
demonstrações de modernidade dessa civilização que soube fazer da mãe, da esposa e da filha, objeto de igualdade, já que elas também podiam escolher seus maridos, o que para elas já era uma grande conquista. As mulheres egípcias usavam roupas chamativas devido às fortes tonalidades dos tecidos, mas suas figuras nunca pecavam pelo excesso, pois conseguiam fazer um equilíbrio entre as cores. A mulher é representada de forma leve e magra. Pretendo mostrar que apesar das mulheres gregas não terem a mesma sorte das egípcias, pois não tiveram a mesma liberdade, na Arte era no corpo feminino que buscavam inspiração. Os gregos tinham verdadeiro culto ao corpo feminino, a mulher era bem vista pelas suas qualidades físicas, por isso praticavam muitos exercícios físicos para manter o corpo em forma. Isso explica porque a mulher grega era vista como modelo de beleza “Ideal”. A mulher era vista desde esta época não pelos seus valores, suas qualidades, mas sim por suas características físicas, o que demonstra a desvalorização da mulher como pessoa, tornando-a apenas um objeto de desejo. Ao ver a mulher romana é possível detectar que além de cuidar da casa ela também se preocupava em se arrumar para esperar o marido. Elas passavam por um pequeno tratamento de beleza diário que incluía maquiagem, belas roupas e principalmente o estilo (penteado) do cabelo que deveria ser bem elaborado, com muitos enfeites, elas também usavam brincos, e colares de pedras preciosas. Mas isso tudo não era só para os maridos, pois as mais nobres desfrutavam de certo prestígio e tinham que se mostrar “belas” perante a sociedade. Neste caso, mostrarei aos alunos a evidência que já existia uma busca pela beleza, por chamar a atenção das outras pessoas, pois as mulheres já tinham todo um ritual de embelezamento. Falar sobre a mulher renascentista será muito importante para abranger a limitação da imagem feminina neste período enraizada nos alunos desta escola, pois eles foram submetidos apenas a fazer releituras da Monalisa. Mostrarei para eles que há outros artistas nesta época, assim como Rafael Sanzio e Michelangelo. Explicarei que neste período os artistas preferiam representar mais as partes elevadas como os olhos, a testa, o colo, os lábios e os seios, limitando-se ao busto e ao rosto e que a ideia de tridimensionalidade e profundidade tornavam as representações mais próximas da realidade.
38
A mulher renascentista usava jóias feitas em ouro e a cosmética para se embelezar. Leonardo da Vinci tentou impor medidas ideais para cada parte do corpo para suas obras, mas logo constatou a dificuldade de atingir um padrão único de medida. É interessante mostrar isso para os alunos, fazer com que eles entendam que cada pessoa é uma, todos têm formas, características e peculiaridades diferentes, e temos que nos aceitar como somos e não como muitas vezes nos é imposto. Estipular uma medida padrão para representar o corpo como Leonardo da Vinci tentou, não é mais possível nos dias de hoje, pois o corpo é móvel e varia de proporção de acordo com a pessoa. Falarei sobre a mulher neoclássica era representada com equilíbrio e simplicidade em sua composição, já que eles buscavam uma beleza estatuária. Explicarei que na pintura neoclássica os princípios eram os mesmos usados no Renascimento, as cores, os contornos, a iluminação. Porém as técnicas eram mais elaboradas o que as fazia muito mais próximas da realidade. Para entrar no assunto: a imagem da mulher na publicidade, explicarei antes para os alunos as diferenças entre publicidade e propaganda e as ferramentas utilizadas neste meio para atingir o telespectador. Isso os ajudará a identificar as reais (implícitas) intenções de uma campanha publicitária favorecendo um pensamento crítico frente a diferentes campanhas. Primeiro explicarei e exemplificarei que o objetivo da propaganda é apenas de divulgar ideias, mas sem finalidade comercial. É lançar a imagem da empresa no mercado, através dos meios de comunicação disponíveis: televisão, rádio, cinema, imprensa, revistas, outdoors, internet, etc., divulgando seus produtos ou serviços no mercado. Já a intenção da publicidade é de despertar no público o desejo de compra, levando-os a ação. A publicidade é composta de diferentes técnicas de ação coletiva utilizadas para promover o lucro de uma atividade comercial, conquistando, aumentando ou mantendo clientes. A publicidade é uma decorrência do conceito de propaganda, e assim como ela é persuasiva, mas com o objetivo comercial bem definido. Pretendo deixar bem claro, a partir de discussões sobre os conceitos e diferenças entre publicidade e propaganda, vídeos e imagens publicitárias que o principal objetivo da publicidade é o de fazer com que as pessoas
39
consumam os produtos, tentando lhes convencer que há necessidade de comprálos.
2.1. A imagem da mulher na publicidade Discutiremos se a maneira como a mulher é vista hoje na publicidade teria sofrido influência das representações femininas da história da Arte. Hoje em dia a publicidade é uma das maiores formas de expressão de nossa época, a imagem da mulher aparece na maioria das campanhas, sejam elas destinadas ao público masculino ou feminino, levando inclusive muitas pessoas a quererem ser como as imagens que nela aparecem. Por isso, este instrumento que influencia tanto as formas de pensar o gênero feminino, formador de opinião, pode ser usado como material de estudo nas aulas de Arte. Abordaremos temas sobre a imagem (corpo) feminina, que tem lugar garantido nas campanhas publicitárias há bastante tempo, influenciando as mulheres em termos de valores e de comportamentos. Explicarei que a publicidade veicula e deposita os valores na sociedade a qual opera, por isso é importante que nós espectadores estejamos preparados para receber e saber peneirar o que de fato é verdadeiro, desta forma podemos escolher se acreditamos, ou não, no que ela (publicidade) nos impõe. Mostrarei a eles que nas imagens publicitárias a tendência dominante é a mulher “bela”, com características físicas impecáveis. Os traços mais marcantes são a idade, o corpo, o cabelo, aspecto e o vestuário. A beleza neste caso é moldada por padrões e critérios rígidos bem definidos, construindo um ideal de beleza que se afasta da mulher comum (“real”) que não tem todos esses requisitos impostos pela mídia. As mulheres extremamente jovens fazem parte deste mundo, há exceções nos casos de cosméticos antienvelhecimentos, mas mesmo assim o que geralmente vemos são mulheres aparentando no máximo 40 anos. O corpo volumoso também não é muito visto na publicidade, e quando aparece uma propaganda de roupa destinada ao público “gordinho” o que vemos são modelos mais magras do que os tamanhos oferecidos pela loja.
40
Mostrarei para os alunos que assim como nas representações artísticas vistas anteriormente, as figuras femininas mostradas na publicidade também tem por finalidade chamar a atenção da pessoa que está fora da imagem, esta pessoa é na maioria das vezes o homem. Outro ponto interessante de discutir com os alunos, é que assim como na história da Arte, na publicidade também na maioria das vezes, a imagem da mulher aparece com muito erotismo e disponibilidade sexual. Explicarei que se pode detectar o erotismo observando algumas características como: cabelos, corpo, pose, movimentação corporal e roupa. Já o corpo como objeto de desejo, está ligado à relação erótica que ele faz com o espectador através da expressão facial, posicionamento dos lábios etc. Por isso a imagem masculina dificilmente aparece junto à feminina, nestes casos. Pretendo discutir também que diante desta erotização e disposição sexual da mulher nos anúncios publicitários, tanto o público feminino quanto o masculino é provocado a adquirir o produto. A mercadoria confunde-se com a imagem da mulher, tornando-se objeto de desejo para o homem, que acha que adquirindo o produto estará mais próximo desta mulher. Já para a mulher torna-se figura a ser copiada, pois com o produto viriam as qualidades da modelo. É importante também que os alunos consigam perceber que nas campanhas publicitárias de bebida, roupas íntimas etc., a preocupação de mostrar a qualidade do produto é menor do que deveria ser, pois utilizam a sexualidade feminina para vendê-lo. “A publicidade reveste os bens e serviços com uma aura de desejo; se assim não fosse, o que levaria o público a se transformar em consumidor, se o valor de uso muitas vezes não se faz presente” (PIRATININGA, 1994, p. 52). Por isso, também segundo o mesmo autor (p. 53), “o apelo da publicidade estetizada envolve a personalização e a erotização do mundo das mercadorias: o homem é seduzido pelo objeto, para se inserir no circuito do capitalismo como obra de Arte”. Não posso deixar de falar também que frequentemente a mulher, quando aparece com crianças, seja na Arte ou na publicidade, seu papel é o de mãe. Ou de uma “perua” consumista. A exemplo da Barbie e outras futilidades. Quando a mulher é mostrada em uma campanha para vender produtos para casa, a imagem que vimos é mais próxima (real) da figura feminina que faz parte do nosso dia-a-dia,
41
como nossas mães, irmãs, avós, tias, etc., ou seja, não tem o corpo e nem a aparência “ideal” imposta pela mídia. Neste caso ela tem um papel utilitário, diferente do papel que ela exerce na maioria das vezes, não lhe é destinado um caráter funcional, mas sim a intenção de passar para o produto sua beleza, fazendo com que ele venda. É imprescindível que os alunos percebam que a maioria das imagens publicitárias não mostra as mulheres como elas são ou se comportam realmente, mas sim como a sociedade aprendeu a pensar que elas se comportam. Isso faz com que possamos optar por qual caminho seguir: o da insatisfação com nossos corpos e aparência, na tentativa condenada ao fracasso de atingir o “ideal” imposto, vivendo num mundo irreal e artificial; ou aceitarmos nossas diferenças e aprender a conviver com elas. Vivemos um universo de imagens: a fotografia, o jornal, o cartaz, o cinema e a televisão são os elementos motores desta nova forma de mundo exterior, totalmente artificial, que se construiu à nossa volta e que constitui a cultura: o ambiente artificial construído pelo homem (MOLES, 1967 apud PIRATININGA, 1994, p. 52).
Pretendo problematizar também o papel de algumas marcas que estão tentando mostrar imagens femininas de mulheres reais para vender seus produtos. Há também um crescente aparecimento de modelos gordinhas, as chamadas modelos Plus Size que pretendem abrir espaço para decretar o fim da magreza excessiva na mídia feminina e nas passarelas. Com as discussões sobre as imagens publicitárias pretendo que os alunos consigam estabelecer ligações entre as representações das mulheres na história da Arte, pois em alguns períodos já havia certas preocupações como ser magra e fazer uso de cosméticos e maquiagens para parecer mais bonitas. E também ser magra era ser “bela”, e o uso de cosméticos, assim como hoje, tinha a função de tornar as mulheres mais jovens. Na verdade espero que os alunos percebam que a busca pelo corpo e a aparência “perfeita” está presente há muito tempo e sempre foram rígidos e difíceis de alcançar, pois passam por constantes alterações fazendo com que o “ideal” de beleza torne-se inatingível.
42
Apesar de existirem estereótipos e cânones físicos comumente aceites ao nível da perfeição das formas anatómicas da mulher, por exemplo, a delgadeza das curvas do corpo, o volume dos seios, o desenho do rosto, a ternura do olhar e a cor dos olhos, o significado do conceito de beleza e dos arquétipos que a caracterizam têm variado ao longo do tempo, razão que nos permite afirmar que não é possível encontrar, mesmo na época actual, um modelo que seja aceite universalmente: a beleza não é uma qualidade fixa ou imutável, mas relativa, por muito que a nossa cultura proponha que todos os ideais de beleza feminina partem de um modelo único (ETXEBARRIA e PUENTE, 2002 apud VERÍSSIMO, 2010, p. 1703).
Diante destes fatores pretendo ainda abordar brevemente com os alunos o significado de estereótipos, já que eles estão presentes em nosso dia-a-dia. Estereótipos, segundo Vianna (1994), é a repetição de imagens preconcebidas de alguém ou algo, baseado num modelo ou uma generalização (padrão). Explicarei que os estereótipos podem ser encontrados na escola, nos desenhos, trabalhos dos alunos e também na Arte e nas imagens publicitárias. Acredito que o importante neste trabalho, além de propiciar novos conhecimentos para os alunos, será conseguir mostrar que somos nós os responsáveis pelas imagens que vemos, pois as aceitamos sem problematizá-las. Sendo assim, espero que depois de tudo o que eles puderam ver e ouvir tornem-se mais conscientes, críticos e menos rígidos com sua aparência e menos influenciáveis pelos fatores externos, passando a aceitarem-se mais como são.
43
3. RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO 3.1. Dados gerais da escola observada Neste capítulo apresento a escola na qual realizei minhas observações e prática de ensino, a mesma foi fundada em dezesseis de março de 1969, como Grupo Escolar Vila Quitandinha (anexo da Escola Estadual Rodrigues Alves), com 497 alunos. A escola fica situada na Av. Lídio Batista Soares, 700, Bairro Quitandinha, em Cachoeirinha. Após a fundação da Escola seu nome sofreu várias alterações devido ao seu crescimento até chegar ao nome atual que é Escola Técnica Estadual Marechal Mascarenhas de Moraes. Atualmente a escola oferece os cursos de Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Técnico em Contabilidade, Técnico em Informática, Técnico em Secretariado e Ensino técnico em Logística. Possui 2.500 alunos, 120 professores e 14 funcionários. A escola localiza-se em um bairro com um padrão sócio-econômico bom. Os alunos, na sua maioria, são de classe média, poucos não têm condições de comprar os materiais solicitados. A maioria dos alunos mora no bairro. A escola, de modo geral, é organizada, limpa e tem uma estrutura acolhedora. A nível de recursos materiais, disponibiliza: biblioteca; sala de Arte, laboratórios de ciências, quadra poliesportiva, salas de informática, auditório e áudiovisual. A receptividade da escola com os estagiários é muito boa, o que facilita o desenvolvimento de qualquer projeto. A linha filosófica da escola está inserida nos princípios da liberdade e nos ideais de solidariedade humana, oriundas da Declaração Universal dos Direitos do Homem, do Estatuto da Criança e do Adolescente, baseada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, no parecer n° 16/99, de 05/10/99 – CNE e na Resolução CNE/CEB N° 04/99. Nesta perspectiva, o homem é sujeito no processo de aprendizagem, capaz de modificar e construir sua história na união com todos os homens. Esta
44
concepção pretende oferecer ao educando meio pelos quais este possa tornar-se voltado para a realidade, ativo, crítico, criativo e transformador. A avaliação é uma das etapas do processo educativo e tem como objetivo a identificação das dificuldades dos alunos e a dinamização de novas oportunidades e alternativas para a construção do seu conhecimento. Para o aluno a avaliação serve como um diagnóstico quanto ao seu aproveitamento e desempenho, comparado com os objetivos que se espera que ele alcance. Os instrumentos de avaliação, em número mínimo de três, são definidos pelo professor, a partir da discussão conjunta com a classe, quanto ao peso e diversificação dos mesmos, para cada componente curricular.
3.2. Observações silenciosas Apresento as observações silenciosas que foram feitas nas aulas de Arte do professor Paulo César da Silva, na 1ª série do Ensino Médio, turma 14, faixa etária de idade dos alunos entre 15 e 18 anos. As mesmas ocorreram dos dias 11 a 25 de março do ano corrente, na Escola Técnica Estadual Marechal Mascarenhas de Moraes, situada em Cachoeirinha na rua, Lídio Batista Soares, 700 – Quitandinha.
3.2.1. Observações 1 e 2 Dia: 11/03/2010 Horário: 7h50min às 9h10min Número de alunos presentes: 24 Período anterior: Período Posterior: Literatura Os alunos entram na sala de Arte aos poucos, sem fazer bagunça. Quando o professor chega já tem alguns alunos esperando por ele. Ele espera uns
45
10 minutos a maioria chegar para iniciar a sua aula. Os alunos saem da sala assim que bate. No início da aula o professor cumprimenta seus alunos, apresenta a estagiária e espera que eles se organizem para fazer a chamada. Após pergunta se eles trouxeram as folhas para desenho solicitadas na aula anterior. A partir daí o professor retoma os conteúdos que ele havia explicado na aula anterior e informa aos alunos que os mesmos haviam sofrido algumas alterações em função das mudanças do PCN, mas que isso seria melhor para eles, pois a partir de agora os professores teriam que trabalhar de maneira a não repeti-los nos dois níveis. Neste dia a maioria dos alunos estavam sentados individualmente e alguns em duplas. O professor fala para os alunos não se preocuparem com a teoria, explica que fará comentários, mas as aulas serão bastante práticas. Após começa uma sondagem com os alunos. Pergunta quais são as cores primárias, secundárias e terciárias? Fala um pouco sobre monocromia e policromia. Explica o sistema métrico e demonstra a forma correta de medir. A partir daí explica que o primeiro conteúdo a ser trabalhado será a perspectiva. Para fazer a demonstração no quadro, o professor teve que ir em busca de giz colorido, isso dispersou um pouco os alunos, mas quando voltou conseguiu retomar a aula sem problema. Após explica a atividade a ser feita, que era escolher um nome com 5 ou 6 letras e fazer um quadrante para cada uma delas de 3 colunas na horizontal x 5 colunas na vertical, aproveitando as linhas do caderno. Chegando no final da aula o professor explica que na próxima semana farão quadrantes em perspectiva. E que ele avaliará o desenvolvimento da técnica e a criatividade. Os materiais utilizados nesta aula foram: lápis, borracha, régua, caneta e folha de caderno. Muitos alunos não tinham régua para trabalhar, um aluno me pediu um lápis emprestado. As folhas de desenho solicitadas na aula anterior foram trazidas por poucos.
46
Os alunos se envolvem com a matéria, interagem com o professor, mas no momento que ele sai da sala para pegar o giz os alunos reclamam que a aula está chata e que preferem que ele dê logo a tarefa. Os alunos se comprometeram com a tarefa solicitada, alguns demonstraram bastante facilidade e outros nem tanto. A minoria acabou o trabalho em aula. Os que não conseguiram terminar o professor pediu para trazer na aula seguinte para ele verificar as dificuldades encontradas antes de passar para a próxima atividade. O tempo de concentração dos alunos é em média de 40min para as explicações e de 20 min para a prática das atividades. Para esta aula o professor utilizou somente o quadro e o giz. A dinâmica do grupo é boa, pelo que pude perceber. Os alunos estavam bem engajados, uns ajudavam os outros. Os alunos movimentavam-se pouco, apenas para pedir material emprestado e levantam quando o professor sai da sala. O professor observa, repete explicações, circula pela sala e auxilia os alunos com maior dificuldade. No final da aula apesar, de não ter muitos papéis no chão, o professor não pediu para os alunos recolherem e eles também não se manifestaram. Devido à atividade do dia não houve necessidade de organizar a sala. Percebi que uma das regras do professor é que os alunos devem permanecer em silêncio durante suas explicações, já que ele chamou a atenção de um aluno, verbalizando que se a conversa continuasse ele teria que sair da sua aula. Percebi no início da aula que uma aluna estava falando no celular com tranqüilidade, como se aquilo fosse normal, outros alunos estavam com fones escutando rádio, outro riscava a classe com lápis e um dormia durante as explicações do professor.
47
3.2.2. Observações 3 e 4 Dia: 18/03/2010 Horário: 7h50min às 9h10min Número de alunos presentes: 27 Período anterior: Período Posterior: Literatura Os alunos entram na sala de Arte aos poucos, sem fazer bagunça. Assim como na aula anterior o professor espera a maioria chegar para iniciar a sua aula. No início da aula o professor sempre sai da sala para entregar a chave na sala dos professores. Espera que eles se organizem para fazer a chamada. Após pergunta se eles trouxeram as folhas para desenho solicitadas nas aulas anteriores. Neste dia a maioria dos alunos estavam sentados individualmente e alguns em duplas. Quando começaram a fazer a atividade sentaram-se em trios e quartetos. O professor explica no quadro passo a passo como colocar cada letra no quadrante com medidas estipuladas e demonstradas por ele e diz que a técnica que eles estão trabalhando é de perspectiva de um ponto/nome-policromia. Faltando uns 5 minutos para acabar a aula o professor recolhe os trabalhos para os alunos continuarem na próxima semana e pede para eles irem para a sua sala de aula. Os materiais utilizados nesta aula foram: lápis, borracha e régua. Muitos alunos não tinham régua para trabalhar. Os alunos se envolvem com a matéria, interagem com o professor. Assim como na aula anterior eles reclamam que o professor explica demais, mas na hora de trabalhar os mesmos que reclamam chamam o professor para tirar dúvidas. Os alunos demonstraram-se menos comprometidos do que na aula da semana anterior, assim como na aula passada alguns mostraram ter mais facilidade do que os outros. Apenas uma aluna começou a fazer as letras, os outros estavam acabando os quadrantes.
48
O professor havia pedido para os alunos trazerem a atividade da outra aula para ele verificar as dificuldades encontradas antes de passar para a próxima atividade, mas ele não fez isso. O tempo de concentração dos alunos continuou na média de 40min para as explicações e de 20 min para a prática das atividades. Para esta aula o professor utilizou somente o quadro e o giz. A dinâmica do grupo foi boa. Os alunos sempre se ajudam. Os alunos movimentaram-se pouco, apenas para pedir material emprestado e quando o professor sai da sala. O professor observa, repete explicações, circula pela sala e auxilia os alunos com maior dificuldade. O professor não pediu para os alunos organizarem as classes e eles também não se manifestaram. Nesta observação pude perceber outra regra do professor que é somente durante a atividade que eles podem escutar rádio. Percebi que nesta aula os alunos conversaram mais do que na anterior e a mesma aluna que atendeu o telefone na aula anterior conversava muito a ponto dos colegas reclamarem. Alguns alunos saíram sem a permissão (escondidos) do professor para pedir material nas outras salas. Chamou a atenção o comentário que um aluno fez de ter que fazer margem em todos os trabalhos do professor. Percebi também que eles tem uma regra estipulada pelo professor de no verso dos trabalhos fazer um quadrado de 10 cm x 10 cm para por os dados de identificação.
49
3.2.3. Observações 5 e 6 Dia: 25/03/2010 Horário: 7h50min às 9h10min Número de alunos presentes: 23 Período anterior: Período Posterior: Literatura Os alunos entram na sala de Arte aos poucos, sem fazer bagunça. Assim como nas aulas anteriores o professor espera a maioria chegar para iniciar a sua aula. O professor espera que os alunos se organizem para fazer a chamada. Após pedi licença para o professor para aplicar o questionário aos alunos. Expliquei para os alunos que eu iria aplicar um questionário a eles, e que o mesmo seria importante para eu saber o que eles entendiam sobre Arte e para a partir deste questionário eu desenvolver um projeto de acordo com seus conhecimentos e interesses. A maioria dos alunos mostraram-se interessados a dar a sua contribuição, apenas alguns que são desinteressados nas aulas do professor titular, e os que chegaram no 2° período, não colaboraram muito. Neste dia a maioria dos alunos estavam sentados em duplas, trios e quartetos. Conforme fossem acabando o questionário, eles pegavam seus trabalhos da aula anterior para continuar fazendo. Os materiais utilizados nesta aula foram: lápis, borracha e régua. Muitos alunos novamente não tinham régua para trabalhar. Nesta aula os alunos demonstraram-se menos comprometidos do que na semana anterior em função do questionário, apesar de no início se mostrarem cooperativos a respondê-lo, mas no decorrer da aula dispersaram-se um pouco, o que acabou dificultando também a retomada da atividade anterior. O tempo de concentração dos alunos foi aproximadamente 40min. Para esta aula o professor utilizou somente o quadro e o giz. A dinâmica do grupo foi boa. Como nas aulas anteriores alunos continuam se ajudando.
50
Os alunos movimentaram-se menos que nas aulas anteriores, apenas para pedir material emprestado. O professor observa, repete explicações, circula pela sala para auxiliar os alunos com maior dificuldade. Ele teve que chamar a atenção de alguns alunos que estavam conversando ao invés de trabalhar (são sempre os mesmos). Faltando uns 5 minutos para acabar a aula o professor recolhe os trabalhos para os alunos continuarem na próxima semana e pede a eles irem para a sua sala de aula. O professor não pediu para os alunos organizarem as classes e eles também não o fizeram espontaneamente. Chamou a minha atenção o fato de uma aluna perguntar para outra colega para que servia a matéria de Arte? Outra coisa que me chamou a atenção foi uma aluna que reclamou para a colega sobre o cheiro de cigarro do professor, já que ele fuma antes de ir para a sala. Neste dia em que eu apliquei o questionário ele saiu um pouco da aula e provavelmente fumou. Outra coisa observava foi que as alunas que chegaram no 2° período responderam mais rápido do que os outros. Uma dessas alunas reclamou bastante de ter que responder ao questionário e ficava resmungando enquanto respondia. Percebi, ao aplicar o questionário, que os alunos, apesar de eu ter dito que era para responder com as palavras deles sem ter medo, pois não era uma avaliação e sim um procedimento que iria ajudar no meu trabalho, ficaram um pouco nervosos e comentaram que parecia uma prova.
51
3.3. Análise das observações silenciosas Pude perceber em minhas observações, que as aulas do professor Paulo segue uma sequência (início, meio e fim), assim como um Projeto de Ensino em Arte, mas suas aulas não são baseadas em um “Projeto”. O professor recolhe os trabalhos dos alunos no final de cada aula, não deixa eles levarem nada para casa, pois trimestralmente os avalia a partir deles, o que contribui para que possa perceber o real processo de aprendizagem do aluno, isto faz também com que o aluno possa verificar a sua evolução diante de cada atividade proposta pelo professor. [...] um ensino por projeto organiza e ordena o saber, dando segurança e subsídios para os alunos ampliarem cada vez mais, seu conhecimento. Um projeto seqüencial, encadeado e organizado, em que a participação do aluno é determinante no processo, faz com que ele se torne agente de seu próprio conhecimento (MEIRELLES, 2001, p. 40).
Para
um
projeto
dar
certo,
é
necessário
primeiramente
o
comprometimento do professor e depois do aluno. O que pude constatar é que o professor é comprometido com seus alunos, deu uma ótima explicação e demonstração sobre perspectiva a eles. Retomou explicações todas as vezes em que foi solicitado, se mostrando atencioso às necessidades de seus alunos. O que me chamou mais atenção em relação ao professor foi, apesar de ser formado em Arte, ter como regra em suas aulas a colocação de margem em todos os trabalhos realizados. Os alunos já estão acostumados e a primeira coisa que fazem é a margem, mas eles contestam e deixam claro sua insatisfação ao fazer isso. Fico triste ao saber que ainda existem professores que limitam a capacidade criadora dos alunos, já que o papel do professor deve ser sempre o de facilitador, evidenciando assim a sua perspectiva tradicional de ensino em Arte. A aprendizagem [na tendência tradicional] era receptiva e mecânica, com práticas de repetição, exercício da vista, da mão, da memória e do senso moral. O currículo, estruturado sem vínculo com a realidade social dos alunos, não levam em considerações as diferenças individuais (IAVELBERG, 2003, p. 111).
52
Pude perceber claramente que os alunos preferem a parte prática à teórica, pois reclamavam de tanta explicação, solicitando ao professor que partissem logo para a atividade. Isso fez com que eu pensasse em um projeto com o máximo de atividades práticas possíveis, mas sem comprometer o entendimento dos alunos perante o tema escolhido para o seu desenvolvimento. A maior dificuldade nesta turma é o comprometimento com os materiais solicitados, poucos alunos trouxeram as folhas pedidas pelo professor e vários não levavam régua, material indispensável em todas as aulas. A organização da sala de aula será outro ponto que terei que trabalhar com eles, pois apesar das aulas que observei não ter sujeira e nem muita bagunça, não vi o professor cobrar isso deles e nem eles tomam iniciativa com relação a isso.
3.4. Análise do questionário respondido pelo professor Percebi que mesmo o professor tendo formação específica em Arte, suas respostas foram bem objetivas e sem maiores explicações. Como por exemplo, quando pergunto quais são as metodologias de ensino em Arte que ele conhece e aplica em sala de aula, ele não deixa claro respondendo: expositiva, trabalhos plásticos, DVD, aula teórica e etc. Ele não soube exemplificar qual tendência pedagógica de ensino em Arte ele se adequaria. O professor avalia seus alunos diariamente, o que possibilita avaliar o seu real aprendizado, pois o processo deve ser mais importante que o resultado. Outra característica que me chamou a atenção foi quando o professor responde que utiliza os materiais mais variados possíveis e que dependendo do conteúdo ele procura utilizar uma técnica diferente. Ficou muito vaga a sua resposta, pois não esclarece quais os materiais ele usa. Ele pode achar que lápis, borracha, régua e canetinha são materiais diversificados. Acredito que com o passar do tempo alguns professores acabam acomodando-se, principalmente os de escolas públicas (concursados e contratados), pois estão com seus empregos garantidos, diferente um pouco das escolas particulares, que normalmente os professores têm que mostrar continuamente que é
53
capaz de se superar, pois a competitividade é maior e se o seu trabalho não estiver bom ele é substituído. Não podemos também fechar os olhos para o fato da disciplina de Arte não ter o mesmo tratamento que as outras recebem, exigindo-se menos desses professores do que os das outras disciplinas. Com o surgimento na década de 90 da proposta norte-americana adaptada no Brasil pela Profª. Dra. Ana Mae T. Bastos Barbosa denominada como Metodologia Triangular, nasce uma esperança, pois nela consta que a disciplina de Arte deveria ter uma distribuição de carga horária adequada, a mesma forma de avaliação e de desempenho do aluno, assim como ocorre nas outras áreas. Ainda temos muito que caminhar em direção ao reconhecimento da importância desta disciplina no currículo escolar, já que nem escola, alunos e sociedade em geral consegue reconhecer isto e mudar este pensamento. É mais fácil render-se ao comodismo a arregaçar as mangas para transformar esta realidade.
54
3.5. Análise dos questionários respondidos pelos alunos Percebi nas respostas dos alunos que a maioria tem noções do que é Arte e onde podemos encontrá-la, apesar de muitos responderem que ela está em tudo. Com esta resposta percebo a banalisação que ocorre com a Arte hoje em dia. Esta turma teve contatos em diferentes séries nas várias áreas da Arte, como por exemplo, a dança, a música, o teatro, o desenho. Para a maioria deles a Arte como disciplina passou a ser trabalhada a partir da 5ª série. Muitos alunos responderam que queriam trabalhar com teatro, dança, pinturas em tela, pintura de paisagens, aprender a desenhar e etc. Percebi que eles queriam trabalhar com coisas diferentes do que eles faziam em suas aulas. Me chamou a atenção que alguns alunos responderam que queriam trabalhar com ponto de fuga e perspectiva, e era exatamente isso que o professor estava trabalhando com eles. Acredito que responderam isto só para não deixar a questão por fazer. Poucos alunos já visitaram um Museu de Arte, a maioria foi no museu da PUC que é na verdade um museu de ciências e tecnologias. Ao serem questionados sobre alguma obra de Arte que tivessem visto e o que sentiram a respeito dela, alguns responderam que não lembravam de nenhuma, e vários lembraram de obras como O grito, e a Monalisa, mas a resposta de uma aluna em especial me chamou a atenção, ela disse que de tanto falarem na Monalisa ela passou a gostar da obra. Isto mostra a necessidade dos professores trabalharem com um vasto repertório de obras e artistas para que os alunos não passem todo seu período escolar vendo as mesmas coisas. Boa parte dos alunos julga-se criativos, mas dizem ter dificuldades em colocar suas ideias em prática, a maioria a sua maneira consegue compreender os conceitos de belo e feio em Arte, mas alguns julgam tanto a criatividade como o conceito de belo como trabalhos bem feitos e o feio trabalhos mal feitos. De modo geral os alunos solicitaram que as aulas fossem dinâmicas, interessantes com pouca teoria e que eles aprendessem coisas novas, diferentes do que eles estavam acostumados a ter.
55
3.6. Motivos da escolha/definição do tema de pesquisa em Artes Visuais Na verdade já fui para as observações silenciosas com o tema definido, pois já tinha iniciado uma pesquisa sobre ele na disciplina de história da Arte/ PréHistória até o Séc. XV. Como o assunto me interessou muito, e eu continuei ao longo do curso pesquisando sobre ele e pensando nas possíveis atividades para realizar com os alunos, o professor orientador de estágio I, Celso Vitelli, sugeriu que eu apenas aperfeiçoasse os estudos que eu já tinha feito. Resolvi complementá-la acrescentando a este estudo os períodos artísticos Renascentista e Neoclássico, e também adicionando o assunto da imagem da mulher na publicidade.
56
4. PROJETO E PRÁTICA DE ENSINO EM ARTES VISUAIS 4.1. Dados gerais da escola e turma em que foi realizada a prática de ensino O projeto e prática de ensino foram realizados na Escola Técnica Estadual Marechal Mascarenhas de Moraes, situado na Av. Lídio Batista Soares, 700, Bairro Quitandinha, em Cachoeirinha. Nome do (a) Professor (a) titular e série / ciclo / turma cedida: Prof. Paulo Cesar da Silva, 1ª Série do Ensino Médio, turma 14.
4.2. Dados gerais do Projeto de Ensino Título do Projeto: As diferentes formas de representar o corpo feminino na história da Arte e os desdobramentos dessas imagens na publicidade. Nome da autora do Projeto: Andréia Porto de Fraga Justificativa: As criações artísticas referentes ao corpo feminino desde a pré-história estão sempre se renovando, fazendo com que sejam criados muitos estereótipos. Tanto na Arte como em nosso cotidiano tais estereótipos nos invocam mesmo que de forma involuntária a segui-los. Estas constantes mudanças fazem com que estes “modelos” tornem-se muitas vezes inatingíveis. A estética do corpo depende muito da época e da cultura em que está inserido. É importante que se conheça o passado para compreender melhor o presente. Neste caso o passado é a história das representações do corpo feminino na Arte, e o presente é como isso reflete nas imagens femininas vistas hoje em dia na publicidade. Vivemos em um Universo feito de imagens, onde a publicidade cada
57
vez mais faz parte do nosso dia-a-dia e junto com ela suas imagens que nos bombardeiam com diferentes intenções, e muitas vezes fazem com que queiramos ser iguais ou parecidas com elas. Diante destes fatores, decidi por este tema por ele ser atual e interessante, além de propiciar atividades práticas e prazerosas de se trabalhar com os alunos. Também faz com que eles conheçam um pouco mais sobre a história das representações artísticas do corpo feminino, suas civilizações e culturas. Será importante trabalhar este tema com os alunos, pois lhes dará a oportunidade de compreender como as diferentes formas de representar o corpo feminino na história da Arte influenciaram nos modos de pensar o corpo da mulher na publicidade e consequentemente na nossa sociedade. Objetivo Geral: Fazer com que os alunos percebam as diferentes representações corporais femininas presentes na história da Arte. E também, como tais imagens influenciaram as maneiras de ver os gêneros masculino e feminino. Relacionar as imagens da história da Arte com as da publicidade. Conteúdos Envolvidos: A imagem do corpo feminino na história da Arte; o belo e feio em Arte; conceito de publicidade e propaganda; a imagem da mulher na publicidade e livro de imagens. Metodologias: Apreciação de imagens e apresentações de vídeos. As aulas serão expositivas, dialogadas e práticas.
58
4.3. Prática de Ensino
4.3.1. Primeiro Encontro Aulas 1 e 2 Dia 16/09/10 Duração: 1h25min. Objetivos: Introduzir o assunto sobre as diferentes formas de representar o corpo feminino na história da Arte; Conteúdos: A imagem corporal feminina na história da Arte; Metodologia: Aula expositiva e dialogada. Dinâmica da aula: Primeiramente conversarei com os alunos sobre o projeto que será aplicado na turma durante o período de estágio; Após será solicitado que os alunos juntamente com a professora se dirijam até o auditório; Será passado para os alunos uma apresentação de slides em Power Point contendo imagens e informações sobre as diferentes formas de representar o corpo feminino na história da Arte; Durante a apresentação dialogaremos sobre as representações que estão sendo mostradas; Pedirei que eles pensem em casa e tragam para a próxima aula, esboços de ideias para o formato de uma página de livro, onde nela eles transmitam alguma característica, curiosidade ou forma do corpo da mulher;
59
Finalmente pedirei o material necessário para a próxima aula, que será caneta esferográfica, tesoura e folha A4 de desenho. Recursos/Materiais: Data show; Imagens. Avaliação: Verificar se houve interesse e aprendizagem em relação à proposta de trabalho, bem como a teoria apresentada; Interação com o grupo no momento das explicações. Algumas das imagens usadas nesta aula:
Vênus de Willendorf, Pré-história. (Fonte: JANSON, 2001, p. 44)
60
Sanzio, 1500/1505. (Disponível em: http://br.geocities.com/discursus/archistx/caritace.html) Acesso em: 19 mar. 2010.
Jacques, 1798/1799. (Disponível em: www.1st-art-gallery.com/Jacques-Louis-David/Madame-Raymond- De-Verninac1798-99.html) Acesso em: 19 mar. 2010.
61
Renoir, 1904-1906. (Disponível em: www.historiadaarte.com.br/linha_do_tempo.htm) Acesso em: 05 set. 2010.
Picasso, 1906-1907. (Disponível em:www.historiadaarte.com.br/linha_do_tempo.htm) Acesso em: 05 set. 2010.
Realizado Primeiramente esperei que o professor titular Paulo fizesse a chamada e separasse os alunos que tinham que responder um questionário de recuperação,
62
após me apresentei e falei sobre o projeto que será desenvolvido durante sete semanas. Em seguida solicitei que os alunos me acompanhassem até o auditório para vermos uma apresentação de slides em Power Point, contendo imagens e informações sobre as diferentes formas de representar o corpo feminino na história da Arte. Pedi para os alunos em atividade de recuperação que assim que acabassem fossem para o auditório. Ao iniciar a apresentação de slides percebi a turma receptiva, mas pouco participativa. Eram sempre os mesmos que falavam, as meninas demonstraram mais interesse que os meninos. Questionei-os se achavam que a mulher na Pré-história era realmente daquela forma e responderam não, então expliquei que a representação na maioria das vezes é a reprodução do que o artista tem na ideia ou no caso da mulher Préhistória, falei que assim como o homem primitivo representava nas pinturas chamadas mágicas das cavernas o bisão ferido antes de sair para caçar na verdade eles tinham o intuito de terem realmente uma boa caça. “Desenhar objetos, pessoas, situações, animais, emoções, ideias são tentativas de aproximação com o mundo. Desenhar é conhecer, é apropriar-se” (DERDYK, 2003, p. 24). E com a representação da mulher primitiva ocorria o mesmo, eles as representavam daquela forma, pois desejavam que fossem férteis e isso tinha haver com a função de procriadora que tinham naquela época. As obras artísticas, os elementos da cultura visual, são, portanto, objetos que levam a refletir sobre as formas de pensamento da cultura na qual se produzem. Por essa razão, olhar uma manifestação artística de outro tempo ou de outra cultura implica uma penetração mais profunda do que a que aparece no meramente visual: é um olhar na vida da sociedade, e, na vida da sociedade, representada nesses objetivos. Essa perspectiva de olhar a produção artística é um olhar cultural (HERNÁNDEZ, 2000, p. 53).
Conversamos também sobre a existente preocupação da mulher desde a antiguidade em se arrumar para serem apreciadas pelas outras pessoas. Ficamos bastante tempo observando as imagens e destacando as características de cada representação, mas houve pouca discussão sobre elas já que eu tive que falar bastante devido a pouca participação da turma.
63
Ao chegar à representação da mulher Neoclássica, Impressionista e Cubista o professor titular, formado em arte, me ajudou com informações referentes ao papel da mulher na sociedade dessas épocas, eu destaquei alguns fatos e ele complementou com seu conhecimento. Como surgiu o comentário sobre beleza, expliquei brevemente que o belo varia muito de acordo com o tempo e a cultura do país no qual estamos inseridos e que por este fato é um conceito que está em constante transformação. Ao comentar com o professor que separaria na próxima aula a turma em dois grandes grupos, ele me aconselhou fazer esta separação hoje, deixando-os ficar com os colegas que tem mais afinidades, e também pedir para que ao invés de esboçar somente o modelo de página do livro trouxessem também ideias sobre o que irão colocar nas páginas, pois segundo o professor, a turma é muito “malandra”, fazem ótimos trabalhos, mas só quando querem. Diante dos fatos separei a turma em dois grupos deixando-os escolher em qual queriam ficar. Um era os das representações das mulheres Pré-históricas e Egípcias e o outro das mulheres Gregas e Romanas. Como alguns alunos faltaram os encaixaremos nos grupos depois conforme o número de componentes, já que um grupo ficou com onze e o outro ficou com doze integrantes. No final da aula falei que nos próximos encontros construiremos um livro de imagens e expliquei brevemente o que é. Após as explicações, seguindo as orientações do professor titular, solicitei que trouxessem para próxima aula o esboço da página do livro e do conteúdo que colocariam nelas, pedi também que trouxessem tesoura e caneta esferográfica de várias cores. Alguns alunos questionaram que não haviam entendido muito bem o que era um livro de imagens, falei para ficarem tranqüilos, pois explicarei melhor na semana que vem. Acredito que atingi o principal objetivo que era mostrar para os alunos as diferentes formas de representar o corpo feminino na história da Arte, despertando o interesse dos alunos diante do assunto.
64
4.3.2. Segundo Encontro Aulas 3 e 4 Dia 23/09/10 Duração: 1h25min. Objetivos: Praticar e compreender o processo de criação de um livro de imagens. Conteúdos: Livro de imagens (caneta esferográfica). Metodologia: Aula expositiva dialogada e prática. Dinâmica da aula: Primeiramente verificarei se eles trouxeram o esboço da página e do conteúdo solicitado na aula anterior; Explicarei melhor o que é um livro de imagens e falarei que a partir desta aula cada aluno começará a construir o seu; Levarei alguns exemplos de livros de imagens para eles verem, mas não muitos para que possam construir os seus com suas próprias ideias e criatividade; Em seguida, explicarei que no livro deve conter as características que mais chamaram a atenção deles sobre as informações referentes à imagem do corpo feminino na história da Arte e na publicidade dadas em aula e que serão retomadas a cada encontro; Explicarei que a página do livro deverá apresentar em seu formato alguma característica feminina e que em cada encontro a página deve ser feita com uma técnica diferente; Solicitarei que os alunos organizem-se nos grupos definidos na aula anterior:
65
Mostrarei algumas imagens em folha A4 vistas nas aulas anteriores de mulheres Pré-históricas, Egípcias, Gregas e Romanas; A partir das imagens retomarei e discutiremos brevemente as características e os motivos pelos quais a figura feminina Pré-histórica, Egípcia, Grega e Romana foram representadas de tal maneira para que isso se reflita nesta primeira página; Pedirei que comecem sua primeira página em folha A4 fazendo-a de caneta esferográfica da cor ou cores que preferirem; Informarei aos alunos que a última aula será para acabar o livro de imagens e apresentar para os colegas e professora; Explicarei aos alunos que irei avaliá-los pela participação, criatividade e comprometimento nas aulas; Pedirei aos alunos que tragam para a próxima aula lápis de cor e os lembrarei de sempre trazer tesoura para nossas aulas; Faltando 10 minutos para o término da aula, solicitarei aos alunos que finalizem seus trabalhos e entreguem para a professora e comecem a limpeza e organização da sala de aula. Recursos/Materiais: Canetas; Tesoura; Folha A4. Obs.: A professora trará também em todas as aulas os materiais solicitados, já que nem sempre os alunos os trazem. Avaliação: Verificar se a partir da retomada das imagens e teoria vistas na anterior, os alunos demonstrarão em seus livros de imagens as informação adquiridas até agora; Interesse e concentração dos alunos na realização da atividade; Observar se conseguiram verificar os resultados obtidos por eles; Interação do grupo no momento de trabalho; Realização das atividades propostas; Utilização dos materiais.
66
Exemplo de Livro de Imagens:
(Fonte: FRAGA, 2010)
67
Algumas das imagens usadas nesta aula:
Vênus de Willendorf, Pré-história. (Fonte: JANSON, 2001, p. 44)
Autor desconhecido: Nefertiti - Esposa de Aquenaton, 14 a.C. (Fonte: JANSON, 2001, p. 98)
68
Praxíteles, 130 a.C. (Fonte: ECO, Humberto, 2004, p. 16)
Realizado Primeiramente esperei os alunos fazerem silêncio e perguntei quem havia trazido o esboço do formato da página do Livro de Imagens e ideias que transfeririam para ela. Apenas quatro alunas trouxeram. Após entreguei algumas imagens vistas na aula anterior e conversamos um pouco sobre as características das mulheres Pré-históricas, Egípcias, Gregas e Romanas. Recolhi logo as imagens para que não ocorresse cópia das mesmas. Depois da discussão lembrei-os em qual grupo estavam e começaram a trabalhar. Os alunos tiveram bastante dificuldade em compreender que tinham que passar para o espaço criado por eles as características das mulheres do seu grupo. Acredito que esta dificuldade se deu talvez por eu não ter conseguido passar
69
claramente o que eu queria que eles fizessem. Quando expliquei que eles não precisavam necessariamente desenhar as mulheres nas páginas e sim transcrever alguma ou algumas características que mais chamavam a atenção deles, o trabalho começou a fluir e começaram a criar. Alguns alunos não deram importância para aula e não fizeram quase nada alegando que não tinham decidido o formato das páginas. “[...] O jovem pode sentir relutância em envolver-se em experiências artísticas. Em parte, isso talvez seja porque suas realizações anteriores, no terreno da Arte, foram ignoradas ou mesmo ridicularizadas” (LOWENFELD; BRITTAIN, 1970, p. 338). Acredito que a falta de interesse desses alunos ocorra também por eles acharem que a disciplina de Arte é menos importante e necessária em seus estudos e em sua vida do que as demais. “A maioria dos adolescentes deixou de considerar [a Arte] parte de sua vida. Pelo menos, no nível consciente, quase todos os jovens de dezesseis e dezessete anos não sentem que o trabalho artístico seja algo essencial para as suas necessidades” (LOWENFELD; BRITTAIN, 1970, p. 338). Nenhum aluno conseguiu acabar as duas páginas de hoje e teremos que terminar na aula que vem. Para esses alunos expliquei que eles deveriam ter feito o esboço em casa, pois isso facilitaria a aula de hoje. Solicitei então que para a próxima aula eles trouxessem sem falta a página e o esboço do que irão fazer. Expliquei que a partir da semana que vem começarei a anotar quem não estiver participando, pois tenho que passar estes dados para o professor Paulo dar-lhes as notas. Aproveitei para lembrá-los que serão avaliados pela participação, criatividade e comprometimento em aula. Percebi que mesmo falando que apesar de estarem separados em dois grandes grupos o trabalho deles deveria ser feito individualmente, a maioria seguiu um padrão de página criado por alguém. Mesmo tendo percebido o ocorrido, deixei e falei para eles que eu quero ver as características escolhidas individualmente retratadas no conteúdo das páginas, não vou admitir cópia, pois quero conhecer o desenho de cada um. O ensino fundamentado na cópia inibe toda e qualquer manifestação expressiva e original. A criança autorizada a agir dessa forma, certamente irá repetir fórmulas conhecidas diante de qualquer problema ou situação que exige respostas. Ela com todo o seu potencial aventureiro, deixa de
70
arriscar, de se projetar. Seu desenho enfraquece, tal como seu próprio ser (DERDYK, 2003, p. 107).
Faltando dez minutos para o término da aula, solicitei que os alunos colocassem a lápis seus nomes no verso das páginas e me entregassem, pedi também para que trouxessem para o próximo encontro lápis de cor e tesoura. A aula de hoje, por tudo que ocorreu, me deixou bem chateada. Me fez pensar que talvez deva mudar o direcionamento das próximas aulas, não sei ainda como fazer isto, mas pensarei na melhor forma de fazer. O professor Paulo me consolou, falando que a turma é assim mesmo e que se eu quiser ele faz um parecer para a Universidade com as características da turma, falei que não é necessário. Não quero fingir que estou dando aula enquanto finjo também que os alunos estão participando dela. Prefiro acreditar que com o meu esforço consiga fazer pelo menos com que a maioria da turma se interesse e produza em aula. Acredito ter conseguido atingir apenas parte do objetivo, que era a turma começar a produção de seus Livros de Imagens e neles ter refletido o conhecimento adquirido até então. Por tudo que foi relatado ficou claro que houve pouco interesse da turma em realizar as tarefas, espero que a próxima aula seja melhor.
71
Alguns trabalhos dos alunos:
Trabalho da aluna Andreza (Fonte: FRAGA, 2010)
72
Trabalho da aluna Paola (Fonte: FRAGA, 2010)
Trabalho da aluna Karine (Fonte: FRAGA, 2010)
.
73
4.3.3. Terceiro Encontro Aulas 5 e 6 Dia: 30/09/10 Duração: 1h25min. Objetivos: Praticar o processo de criação do livro de imagens. Conteúdos: Livro de imagens (lápis de cor). Metodologia: Aula expositiva dialogada e prática. Dinâmica da aula: Primeiramente explicarei que hoje finalizaremos o trabalho iniciado na aula anterior com caneta esferográfica e daremos inicio as outras duas páginas do Livro de Imagens que serão feitas apenas com o Lápis de cor; Ao iniciarmos o novo trabalho mostrarei algumas imagens em folha A4 vistas
nas
aulas
anteriores
de
mulheres
Renascentistas,
Neoclássicas,
Impressionistas e Cubistas; Explicarei que a turma será dividida em dois grandes grupos, um ficará encarregado de representar uma das duas obras vistas no Renascimento e Neoclássico e o outro fará a mesma coisa com o Impressionismo e Cubismo; Após escolherem as obras, eles deverão pensar qual produto elas poderiam vender e representá-las em seus livros de imagens inserindo o produto juntamente à obra como se fosse promovê-lo; Os grupos escolherão juntos as obras e os produtos a serem representados, mas trabalharão de forma individual; Faltando 10 minutos para o término da aula, solicitarei aos alunos que finalizem seus trabalhos e entreguem para a professora e comecem a limpeza e organização da sala de aula. Recursos/Materiais:
74
Lápis de cor Tesoura; Folha A4. Avaliação: Verificar a compreensão dos alunos diante da tarefa proposta e a capacidade de realizarem-na em um primeiro momento em conjunto; Interesse e concentração dos alunos na realização da atividade; Interação do grupo no momento de trabalho; Realização das atividades propostas; Utilização dos materiais. Algumas das imagens usadas nesta aula:
Sanzio, 1500-1505. (Disponível em: http://br.geocities.com/discursus/archistx/caritace.html) Acesso em: 19 mar. 2010
75
Jacques, 1798/1799. (Disponív em: www.1st-art-gallery.com/Jacques-Louis-David/Madame-Raymond-De-Verninac-179899.htm) Acesso em: 19 mar. 2010.
Renoir, 1904/1906. (Disponível em:www.historiadaarte.com.br/linha_do_tempo.htm) Acesso em: 05 set. 2010.
76
Picasso, 1906/1907. (Disponível em: www.historiadaarte.com.br/linha_do_tempo.htm) Acesso em: 05 set. 2010.
Realizado Diante da orientação dada pela professora Ana Lúcia Beck, ocorrida na noite anterior à aplicação do meu terceiro encontro com esta turma, fui para casa pensando em uma alternativa para despertar maior interesse dos alunos nas aulas, com o intuito de torná-las mais interessantes, participativas e próximas da realidade dos alunos. “A tarefa de maior relevância do professor de Arte é, indubitavelmente, a de tornar o trabalho criador importante e significativo para os estudantes” (LOWENFELD; BRITTAIN, 1970, p. 361). Por este motivo resolvi fugir um pouco do meu planejado, introduzindo uma atividade que não estava prevista em nenhuma das aulas. Inicialmente esperei o professor titular fazer a chamada e depois expus aos alunos que saí da turma deles na aula anterior chateada por eles não terem demonstrado muito interesse pela aula, mas que isso havia sido bom para eu pensar em uma alternativa para reverter esta situação. A partir daí expliquei para os alunos que hoje a aula seria dividia em dois momentos (o 1º período e o 2º período), o primeiro seria para tentar finalizar o trabalho da aula anterior e o segundo para iniciarmos a próxima atividade explicando brevemente como ela seria. Senti os alunos mais entusiasmados diante da nova
77
tarefa. Percebi que nesta aula havia alguns alunos que não haviam vindo desde o primeiro encontro e alguns do segundo. Para eles dei as explicações necessárias para realizar as tarefas e orientei-os a criarem modelos de páginas diferentes das dos seus colegas. Percebi nesta aula que o aluno Felipe se destaca do restante da turma, pois tem bastante facilidade para desenhar e desenha muito bem, em suas criações há proporção, efeito de luz e sombra, mas por ter esta habilidade não trabalha muito em sala de aula. Ele não faz todas as atividades solicitadas achando que o que faz, por ser bom, compensará o que deixou de fazer. Gostei da forma como a aluna Luany representou a mulher pré-histórica, retratando-a de maneira simples, mas com suas características da época. Observei também que alguns alunos como a Thaiana, por exemplo, fazem seus trabalhos de forma bem simplificada com a intenção somente de realizar a tarefa. Após o término do primeiro período, seguindo a sugestão do professor titular, pedi para os alunos que não haviam acabado os trabalhos que terminassem em casa e trouxessem sem falta no próximo encontro. O professor reforçou ainda para eles que quem não trouxesse já estaria com zero. Expliquei que a turma seria dividida em dois grandes grupos, um grupo ficou com as representações femininas Renascentistas e Neoclássicas e o outro com as Impressionistas e Cubistas. Como próxima atividade, pedi para reunirem-se em seus grupos e escolherem uma das duas obras vistas em cada período, para a partir delas pensar qual produto ela poderia vender. Solicitei que as representassem a sua maneira em seus livros de imagens juntamente com o produto imaginado por eles. Solicitei também que colocassem o nome da obra e seu autor. Ressaltei que este trabalho será feito apenas com o lápis de cor. Deixei claro para eles que deveriam decidir juntos a obra e o produto a ser representado para somente depois começarem a trabalhar. Espero que esta nova proposta desperte maior criatividade e interesse dos alunos refletindo em suas criações, já que “a criatividade, como entendemos, implica uma força crescente; ela se reabastece nos próprios processos através dos quais se realiza” (OSTROWER, 2007, p. 27).
78
No final da aula os alunos já haviam escolhido a obra que representariam e estavam decidindo qual produto ela venderia para na aula seguinte colocarem suas ideias em prática. Faltando dez minutos para o término da aula pedi que colocassem seus nomes a lápis no verso dos trabalhos iniciados e me entregassem, lembrei os alunos que terminariam os trabalhos em casa para não esquecer de trazê-los na próxima semana. Pedi também que trouxessem lápis de cor e arrumassem a sala. Acredito que o objetivo do dia foi atingido, pois os alunos se interessaram e produziram mais em sala de aula, percebi a turma receptiva à nova proposta de trabalho e consequentemente mais participativa. Encaminhamentos: Por a turma demonstrar ser lenta ao realizar as tarefas, resolvi subdividir os grupos, já que eles ainda não deram início ao trabalho prático da atividade proposta. Assim cada grupo representará apenas uma obra e o seu produto. Alguns trabalhos dos alunos:
Trabalho da aluna Luany (Fonte: FRAGA, 2010)
79
Trabalho da aluna Thaiana (Fonte: FRAGA, 2010)
Trabalho do aluno Felipe (Fonte: FRAGA, 2010)
80
4.3.4. Quarto Encontro Aulas Aula 7 e 8 Dia 07/10/10 Duração: 1h25min. Objetivos: Praticar o processo de criação do livro de imagens. Conteúdos: Livro de imagens (lápis de cor). Metodologia: Aula expositiva dialogada e prática. Dinâmica da aula: No início da aula pedirei para os alunos que tinham tarefas para acabar em casa que as entreguem; Posteriormente falarei que hoje continuaremos o trabalho iniciado na aula anterior; Explicarei que por questão de tempo achei melhor subdividir os grupos, assim cada um representará uma obra e o produto criado ao invés de duas como estava previsto; Lembrarei os alunos que eles devem retratar a sua maneira em seus livros a obra escolhida pelo grupo, juntamente com o produto que eles acham que ela venderia como se fosse divulgá-lo; Lembrarei que o trabalho deve ser feito diretamente e somente com o lápis de cor, mencionando que se errarem devem tentar consertar com o próprio lápis de cor; Falarei que abaixo da obra deverá conter o seu nome e seu autor; Faltando 10 minutos para o término da aula, solicitarei aos alunos que finalizem seus trabalhos e entreguem para a professora, após pedirei o material necessário para próxima aula. Pedirei também que organizem a sala de aula.
81
Recursos/Materiais: Lápis de cor Tesoura; Folha A4. Avaliação: Verificar a criatividade dos alunos diante do desafio de pensar um produto que a obra escolhida por eles poderia vender; Interesse e concentração dos alunos na realização da atividade; Observar se conseguiram verificar os resultados obtidos por eles. Interação do grupo no momento de trabalho; Realização das atividades propostas; Utilização dos materiais.
Realizado Inicialmente esperei a turma fazer silêncio e expliquei que devido ao pouco tempo, resolvi subdividir os grupos, para que cada um represente apenas uma obra ao invés de duas como foi solicitado na aula anterior. Após solicitei aos alunos que haviam ficado de terminar as atividades em casa que me entregassem as mesmas. Poucos alunos entregaram. Percebi nesta aula que alguns ainda não haviam produzido nada. Expliquei que na aula seguinte eles terão o primeiro período para terminar as atividades, pois no segundo iremos para o auditório assistirmos vídeos e imagens sobre publicidade e propaganda e sobre a imagem da mulher na publicidade. Lembrei-os de tentar desenhar diretamente e somente com o lápis de cor. Expliquei e demonstrei no quadro que se usassem o lápis de cor de forma suave, se errassem ficaria mais fácil de consertar com o próprio material. Aproveitei a oportunidade para mostrar o trabalho de uma aluna, Carol, da 7ª série que também teve no começo resistência em trabalhar assim, eles ficaram surpresos, mas não mudou muito, pois continuaram fazendo com o lápis de escrever primeiro. Gostaria que eles percebessem que mesmo utilizando um material simples (tradicional) há várias possibilidades de explorá-lo. “É importante que os
82
alunos percebam que todos os materiais são nobres e seus recursos inesgotáveis” (TATIT; MACHADO, 2006, p. 3). Acredito que tenha faltado eu demonstrar mais como eles poderiam explorar melhor este material. Observei que o aluno Samuel que havia faltado algumas aulas demonstra facilidade em desenhar, isso refletiu no seu trabalho de hoje. Sua representação não demonstra estereótipos como os da maioria da turma. O aluno Felipe citado no realizado do 3º encontro como habilidoso para o desenho, mas preguiçoso, manteve seu comportamento, nesta aula não produziu nada, ficou disperso com atividades de outra disciplina a aula inteira. Quando questionado, falou que tinha que apresentar trabalho no próximo período. Mesmo sendo nosso 4º encontro um aluno ainda não havia entendido a proposta de ter apenas um formato para a página do livro de imagens. O trabalho do aluno Samuel mostrou a facilidade que ele tem em desenhar e seu potencial observador, já que o seu desenho faz com que percebamos só de olhar de qual obra se trata, assim como o trabalho do aluno Thomas, que de maneira mais simplificada, usando apenas contornos, conseguiu retratar a obra escolhida pelo seu grupo. A aluna Emeline demonstrou uma evolução significativa com relação ao seu trabalho anterior, pois até agora ela só entregou esses dois. Acredito que os alunos atingiram o objetivo se interessando e produzindo mais em sala de aula, pois percebi neste encontro que a maioria dos alunos estavam trabalhando, é claro com as exceções de sempre.
83
Alguns trabalhos dos alunos:
Trabalho do aluno Samuel (Fonte: FRAGA, 2010)
Trabalho da aluna Emeline (Fonte: FRAGA, 2010)
84
Trabalho do aluno Thomas (Fonte: FRAGA, 2010)
Trabalho da aluna Emeline (Fonte: FRAGA, 2010)
85
4.3.5. Quinto Encontro Aulas 9 e 10 Dia 14/10/10 Duração: 1h25min. Objetivos: Continuação do Livro de Imagens; Discutir com os alunos os conceitos de publicidade e propaganda; Introduzir o assunto sobre a imagem da mulher na publicidade; Discutir se a maneira como a mulher é vista hoje na publicidade teria sofrido influência das representações femininas da história da Arte. Conteúdos: Livro de imagens (continuação) Conceitos de publicidade e propaganda; A imagem da mulher na publicidade; Metodologia: Aula expositiva e dialogada. Dinâmica da aula: No primeiro período terminaremos a atividade anterior; No segundo período solicitarei que os alunos me acompanhem até o auditório; Em seguida, questionarei os alunos se eles sabem o que é publicidade e propaganda, perguntando ainda, se há diferença entre elas; Após será passado aos alunos uma apresentação contendo os conceitos de Publicidade e Propaganda e vídeos que falam sobre os assuntos; Em seguida abriremos as discuções; Posteriormente passarei uma apresentação sobre a representação da mulher na publicidade e um vídeo da marca Dove;
86
A partir destas apresentações discutiremos sobre a veracidade das imagens femininas mostradas nas propagandas publicitárias e suas verdadeiras intenções; Questionarei os alunos se as formas de representar o corpo feminino na história da Arte teriam influenciado na maneira de representá-las nas propagandas publicitárias; Entregarei um texto contendo os conceitos de Publicidade e Propaganda; Finalmente pedirei os materiais necessários para a próxima aula que serão: revistas, jornais, cola e tesoura, pedirei também, que tragam em todas as aulas tesoura, pois este será um material essencial. Recursos/Materiais: Data show; Imagens. Avaliação: Verificar se houve interesse e aprendizagem em relação à proposta de trabalho, bem como a teoria apresentada; Interação com o grupo no momento das explicações; Participação dos alunos nas discussões em alua. Vídeos usados em aula: Dove Evolution. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=iYhCn0jf46U Acesso em 23 mar. 2010. A Representação da mulher na publicidade. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=r4DLAPyECkQ. Acesso em 23 mar. 2010. Filme Reunião – Abap- ABA Disponível em: www.youtube.com/watch?v=O7HshMuMgFM&feature=related Acesso em 23 mar. 2010. Campanha da Abap e ABA - Crítico Disponível em: www.youtube.com/watch?v=bOvYM9xflzM&feature=related. Acesso em 23 mar. 2010.
87
Algumas imagens presentes nos vídeos usados nesta aula:
(Disponível em: www.faac.unesp.br/eventos/jornada2005/trabalhos/32_eleusis_camocard.htm) Acesso em: 23 mar.10.
(Disponível em: www.faac.unesp.br/eventos/jornada2005/trabalhos/32_eleusis_camocard.htm) Acesso em: 23 mar.10.
88
(Disponível em: http://garotasdepropaganda.wordpress.com/2009/08/29/publicidade-feminina-decoca-cola/) Acesso em: 23 mar.10.
Realizado Primeiramente expliquei que passaria os vídeos no primeiro período ao invés do segundo, como estava programado anteriormente. Assim poderíamos discutir melhor sobre eles sem nos preocuparmos com o término da aula. Se desse tempo terminaríamos os trabalhos do encontro anterior. Caso não desse tempo de terminá-los, eles poderiam fazer isso em casa e trazer pronto sem falta na aula seguinte. Depois das explicações, fomos para o auditório. Antes de entrar no assunto sobre a imagem da mulher na publicidade, conversamos sobre os conceitos de publicidade e propaganda e as diferenças que há entre eles. Depois passei uma breve apresentação em Power Point para complementar as explicações anteriores. Após, passei o vídeo sobre a imagem da mulher na publicidade e discutimos os padrões rígidos impostos nas campanhas publicitárias. Falamos sobre a preferência em usar modelos jovens, altas, magras e brancas. Conversamos também sobre a veracidade dessas imagens. Discutimos o fato de muitas vezes nos
89
anúncios de creme anti-idade, por exemplo, vermos modelos jovens divulgando produtos destinados a mulheres mais velhas. Outro exemplo citado foi o de lojas de roupas para mulheres acima do peso, que na maioria das vezes mostram mulheres mais magras do que os tamanhos oferecidos pela loja. “[É importante] compreender de maneira crítica os meios de comunicação, não se deixando manipular como consumidor e como cidadão” (ANTUNES, 1937, p. 25). Posteriormente passei o vídeo da marca Dove mostrando desde a chegada de uma modelo na agência, maquiagem, fotos e depois a manipulação da sua imagem a partir do programa de photoshop e finalmente a imagem finalizada no outdoor. A partir do vídeo discutimos a importância de sabermos que nem todas as imagens vistas na mídia são verdadeiras. As mulheres vistas nem sempre possuem aquele corpo “perfeito” que muitas vezes faz com que queiramos ser como elas. Mostrei uma reportagem do caderno Donna do jornal Zero Hora, 27 de junho de 2010, mostrando a atriz Demi Moore na capa da revista W que de tão retocada havia ficado praticamente sem quadril. Então conversamos sobre a questão das imagens das mulheres fazerem as mulheres que olham estas imagens. Essas imagens femininas ditam como deve ser nosso corpo, cabelos, roupas, comportamento e etc. “As moças são bombardeadas pela publicidade que as incita a serem mais femininamente atraentes com o uso de xampus, desodorantes, cosméticos etc; apertando ou achatando o corpo ou, pelo contrário, almofadando-o, ou ainda, usando vários estilos de roupa” (LOWENFELD; BRITTAIN, 1970, p. 341). Conversamos também sobre os padrões rígidos de beleza que por estarem em constante transformação tornam-se inatingíveis. Mostrei reportagens com imagens falando da tentativa de algumas marcas, revistas internacionais e castings de agências de acabar com a ditadura da magreza presente nos dias de hoje, contratando modelos fora dos “padrões”, as chamadas modelos Plus Size, com formas corporais mais parecidas com as das mulheres “reais”. A finalidade seria torná-las mais próximas das consumidoras. A marca Dove também aderiu a este tipo de publicidade lançando, anos atrás, uma campanha mostrando modelos de várias etnias, tipos de corpo e até mesmo com cicatrizes, com a intenção de mostrar que todas as pessoas ao longo dos anos adquirem algumas marcas.
90
Conversamos bastante sobre a necessidade de valorizar o que o nosso corpo tem de melhor, pois ter estilo próprio é isso. Não precisamos seguir tendências que não favorecem nosso biotipo. Levei como exemplo alguns catálogos de lojas do Rio grande do Sul que destinam um espaço para divulgar roupas de tamanhos grandes, expostas em modelos que condizem com os tamanhos oferecidos por elas. Falei e exemplifiquei com imagens, que há muito tempo, a figura feminina aparece promovendo diversos produtos, a cerveja é um deles. Falei que a Coca-cola também usava mulheres em suas campanhas publicitárias e que inclusive o formato da garrafa foi inspirado no corpo feminino. Mas, com o problema da celulite proveniente do consumo de refrigerante, resolveram mudar. Conversamos também sobre o apelo sexual existente na maioria das campanhas em que aparecem mulheres. Perguntei se há algum tipo de publicidade em que a figura feminina aparece mais parecida com as mulheres do nosso convívio. Eles responderam que em comerciais de produtos para casa, como os de limpeza, móveis e comida. Questionei o motivo de isso acontecer, e eles falaram que é porque eles destinam esses produtos a donas de casa, que na visão deles não precisam aparecer com um corpo “perfeito”. Questionei os alunos se eles achavam que de alguma forma as imagens femininas presentes na história da Arte teriam influenciado a imagem da mulher na publicidade. Eles responderam que sim, pois desde antigamente as mulheres eram retratadas nuas e em poses insinuantes. Lembraram que na pré-história elas eram representadas com volumes exagerados nos seios, nádegas e vagina e que as mulheres gregas eram valorizadas somente pelas suas qualidades físicas. Eles lembraram também que havíamos falado sobre as mulheres mais nobres de Roma que se arrumavam para serem prestigiadas pelas outras pessoas, mostrando que desde aquela época a mulher já se preocupava em se mostrar “bela” para as outras pessoas. Após nossas discussões, voltamos para sala de aula e entreguei um texto com os conceitos de belo e feio em Arte, pois já havíamos falado sobre isso em encontros anteriores, e outro com os conceitos de Publicidade e Propaganda.
91
Posteriormente entreguei seus trabalhos. Como restou um período para acabar a atividade dada na aula anterior, a maioria conseguiu terminar. Alguns ficaram de acabar em casa e trazer na aula seguinte. Para os alunos que acabaram a atividade cedo, pedi para fazerem uma capa para seus livros do jeito que eles quisessem e com o material que eles tivessem disponível. Mais uma vez o aluno Felipe mostrou em sua criação o grande potencial que tem. O professor explicou que quem estivesse devendo algum trabalho não poderia mais entregar e ficaria com zero. Neste dia ele me pressionou a trazer para a próxima aula as notas dos alunos, mas até agora eu só estava anotando mais (+) para quem realizava as tarefas, mais ou menos (±) para quem levou para terminar em casa e menos (–) para quem não fez. Alguns alunos não me entregaram nada até agora, o professor disse para eu não me preocupar, pois a maioria destes alunos já estavam rodados em outras matérias e por isso não faziam nada nas aulas de Arte. Eu expliquei para o professor que preferiria que ele fizesse isso a partir dos trabalhos dos alunos, pois saberia melhor do que eu, por conhecê-los há mais tempo, julgar se o aluno poderia render mais do que mostrou nos trabalhos ou não. Eu preferiria avaliar os alunos pela sua participação, criatividade e evolução nas aulas, do que simplesmente dar-lhes nota, reduzindo-os a um número. Quando atribuímos uma nota numérica ou um conceito expresso por uma letra, estamos pensando em se avaliar o “máximo” quantificado pela diferença entre resultado obtido pelo aluno e o que dele se desejava. Dessa maneira, o aluno que tira sete, obteve setenta por cento de um determinado valor empírico. Esse sistema de avaliação pressupõe uma utópica uniformidade e é perversa em buscar o nivelamento de todos, o “máximo” somente é possível de ser conquistado por alguns, não necessariamente os melhores, pois entra em jogo o arsenal de inteligências, competências e capacidades com que esse aluno chega à escola.[...] “É importante que todos façam o melhor possível e que o melhor possível de uma pessoa possa valer apenas em relação às suas potencialidades e não às dos demais” (ANTUNES, 1937,p. 29 e 30).
Expliquei que no próximo encontro iniciaremos um trabalho de recorte e colagem, por isso deveriam trazer revistas, cola e tesoura. No trabalho do aluno Samuel, podemos ver a intenção do seu grupo de divulgar tecidos usando a obra Madame Raymond de Verninac de Louis Jacques David.
92
Trabalho do aluno Samuel (Fonte: FRAGA, 2010)
No trabalho do aluno Lucas, que é um dos que não trabalham muito em sala de aula, percebo que ele fez de qualquer jeito só para se livrar da tarefa.
Trabalho do aluno Lucas (Fonte: FRAGA, 2010)
93
No trabalho da aluna Luciane, vejo um trabalho simplificado no qual, assim como o do aluno Lucas est谩 presente o uso de estere贸tipos.
Luciane Fonte: Fraga, 2010.
Trabalho da aluna Luciane (Fonte: FRAGA, 2010)
Trabalho do aluno Felipe (Fonte: FRAGA, 2010)
94
Acredito que o objetivo de hoje do projeto de fazer com que os alunos entendessem as intenções presentes em uma campanha publicitária, na propaganda e suas diferenças foi atingido. Ao introduzir o assunto sobre a imagem da mulher na publicidade a turma se mostrou interessada, pois dialogamos bastante sobre várias questões como foi citado no realizado acima. Acredito que os alunos entenderam que as imagens vistas na publicidade nem sempre são verdadeiras e que é importante que saibamos detectar isso para não sermos enganados por elas.
95
4.3.6. Sexto Encontro Aulas 11 e 12 Dia: 21/10/10 Duração: 1h25min. Objetivos: Praticar o processo de criação do livro de imagens. Conteúdos: Livro de imagens (recorte e colagem) Metodologia: Aula expositiva dialogada e prática. Dinâmica da aula: Primeiramente pedirei que entreguem os trabalhos que haviam ficado para acabar em casa e depois explicarei que hoje trabalharemos com recorte e colagem em seus Fanzines; Retomarei e discutiremos brevemente as características do corpo feminino presentes nas campanhas publicitárias, rever que na maioria das vezes, é a mulher “bela” que aparece com características físicas impecáveis, pouca idade, magra e bem vestida; Lembrar que na maioria das vezes a imagem feminina publicitária, assim como na Arte, tem por finalidade chamar a atenção de quem está fora da imagem; Mostrarei alguns exemplos de recorte e colagem da artista Hanna Höch; Depois de nossas discussões pedirei que eles desconstruam as imagens femininas impostas pela publicidade utilizando recortes de revista; Faltando 10 minutos para o término da aula, solicitarei aos alunos que finalizem seus trabalhos e entreguem à professora e comecem a limpeza e organização da sala de aula.
96
Recursos/Materiais: Revistas; Cola; Tesoura; Folha A4. Avaliação: Verificar se os alunos atingiram os objetivos propostos, ou seja, se conseguiram desconstruir a figura feminina imposta pela publicidade; Interesse e concentração dos alunos na realização da atividade; Interação do grupo no momento de trabalho; Realização das atividades propostas; Utilização dos materiais. Algumas das imagens usadas nesta aula:
Höch, sem data. (Disponível em: www.kansaiscene.com/2003_05/html/arts_and_events.shtml) Acesso em: 05 set. 2010.
97
Höch, sem data. (Disponível em: www.tfaoi.com/aa/4aa/4aa412.htm) Acesso em: 05 set. 2010.
Höch, sem data. (Disponível em: www.facebook.com/hannah.hoch) Acesso em: 05 set. 2010.
98
Höch, sem data. (Disponível em: http://rrose.espacioblog.com/post/2007/11/11/el-seaaor-garcaaa) Acesso em: 05 set. 2010.
Realizado Primeiramente pedi que os alunos entregassem os trabalhos que ficaram de ser terminados em casa. Alguns não entregaram. Perguntei se eles haviam trazido as revistas solicitadas na aula anterior, apenas uma aluna trouxe. Falei para a turma que iniciaríamos um trabalho de recorte e colagem. Expliquei que a partir de tudo que foi falado na aula anterior sobre a imagem da mulher na publicidade eles deveriam desconstruir a figura feminina imposta por ela. Para que entendessem melhor, mostrei alguns exemplos de recorte e colagem da artista Hannah Höch. Eles demonstraram entusiasmo ao realizar a atividade, acho que pelo fato de poderem criar algo sem se preocuparem em ter que ficar “perfeitinho”, já que a intenção era a de desconstruir. Ao realizar a atividade eles também riam muito do que estavam criando.
99
Alguns alunos tiveram dificuldade em realizar a atividade pelo fato do formato de suas páginas serem pequenas demais, então expliquei para eles que tentassem criar algo mesmo com esta limitação e que depois eu daria meia folha, tamanho A4 para eles criarem outra desconstrução. Eu já havia percebido que falhei ao não interferir (direcionar) o tamanho das páginas do livro de imagens dos alunos, mas neste encontro ficou evidente a necessidade de ter feito isso. Algumas alunas sempre terminam as atividades rapidamente, e nesta aula não foi diferente. Para quem ia acabando solicitei que fizessem outra desconstrução e expliquei que se tivessem feito a primeira somente com o rosto a segunda deveria ser de corpo inteiro e vice-versa. Como sobrou tempo, para os alunos que já haviam feito estas duas atividades pedi então para representarem (criassem) também com recorte e colagem a figura feminina que eles achassem que tinha um padrão de beleza “ideal” para eles. Alguns tiveram mais dificuldades do que outros ao desconstruir a figura feminina e utilizaram poucas estratégias para desconstruí-la, talvez pelo fato de estarem acostumados a vê-las de forma tão “perfeita”. O aluno Lucas mostrou em sua desconstrução exatamente o que a publicidade esconde. Na sua criação ele criou uma mulher fora dos padrões corporais impostos pela mídia, com bigode e óculos. Já a criação do aluno Gabriel, chamou minha atenção pela sua criatividade. Ele mostra a imagem de uma mulher negra e com os cabelos crespos, coisas que aparecem com pouca freqüência na publicidade, mas com um olho azul e o outro verde mostrando as preferências da mídia em mostrar pessoas brancas, o contrário de sua representação, e de olhos claros.
100
Trabalho do aluno Lucas (Fonte: FRAGA, 2010)
101
Trabalho do aluno Gabriel (Fonte: FRAGA, 2010)
A atividade de recorte e colagem ajuda os alunos a desenvolverem a imaginação dando-lhes a oportunidade de se expressarem. “As experiências artísticas proporcionam uma excelente oportunidade para reforçar o pensamento criador e propiciar os meios pelos quais os jovens podem desenvolver suas representações imaginativas e originais sem censura” (LOWENFELD; BRITTAIN, 1970, p. 66). Expliquei que na próxima aula será nosso último encontro e faremos a finalização dos Livros de Imagens e a apresentação dos mesmos, por isso pedi que eles não faltassem. O professor titular também irá falar para os alunos sobre os pontos dados por mim pelas atividades realizadas, deixando os alunos que não realizaram algumas atividades cientes de suas situações. Acredito que os alunos atingiram o objetivo de hoje de desconstruir a imagem feminina imposta pela publicidade e a aula despertou maior interesse dos alunos sobre o assunto, já que é importante que eles conheçam as imagens que
102
fazem parte do nosso cotidiano para também problematizá-las. “Conhecer as imagens que nos rodeiam significa também alargar as possibilidades de contacto com a realidade; significa ver mais e perceber mais” (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 80).
103
4.3.7. Sétimo Encontro Aulas 13 e 14 Dia: 28/10/10 Duração: 1h25min. Objetivos: Término do livro de imagens e apresentação para a professora e colegas de turma. Conteúdos: Livro de imagens (finalização e apresentação). Metodologia: Aula expositiva dialogada e prática. Dinâmica da aula: Esta aula será para fazer a finalização do livro de imagens: montagem e apresentação; Os alunos deverão montar seus livros com todas as páginas que conseguiram fazer até agora; Após a montagem começaremos as apresentações dos livros de imagens; Para finalizar o projeto, os alunos serão questionados sobre o que acharam das aulas, com a finalidade de buscar uma avaliação geral das atividades na opinião deles; No final da aula agradecerei pelos momentos de aprendizagem que construímos juntos ao longo deste Projeto de Ensino. Recursos/Materiais: Revistas; Cola; Tesoura; Produções dos alunos: livro de imagens.
104
Avaliação: Verificar se os alunos atingiram os objetivos propostos, ou seja, se houve aprendizagem em relação ao projeto desenvolvido durante o estágio; Interesse e concentração dos alunos na realização das atividades; Observar se conseguiram verificar os resultados obtidos por eles; Interação do grupo nos momentos de trabalho; Realização das atividades propostas;
Realizado Primeiramente perguntei quem havia faltado na aula anterior, para esses expliquei como era para ser feita a atividade de recorte e colagem. Alguns alunos não haviam conseguido terminar suas desconstruções na aula anterior e terminaram nesta. Após entreguei todos os trabalhos para os alunos e orientei-os que terminassem seus livros, organizando suas páginas em ordem de atividades realizadas e depois a turma trabalhou tranquilamente, conforme iam acabando eles iam até mim para grampear os trabalhos. A pedido de uma aluna levei fita mimosa, pois ela queria fechar o seu livro de imagens de outra maneira, assim como ela outros alunos utilizaram a fita. Notei que muitos alunos não prestam atenção nas orientações, fazendo com que eles realizem as atividades de maneira errada, como o aluno Bruno, por exemplo, que colou sua desconstrução de recorte e colagem em cima da sua atividade anterior. Somente quando fui recolher o seu trabalho vi o que ele havia feito, pois estava tentando descolar o recorte, mas como não dava tempo pedi para ele deixar assim mesmo, quando questionado ele falou que não havia entendido o que era para fazer. O que me impressionou mais foi o fato dele não ter observado o que seus colegas estavam fazendo e nem ter me perguntado novamente como fazer, já que não havia entendido. Acredito ter falhado também, pois percebi o acontecido somente no final deste encontro.
105
Trabalho do aluno Bruno (Fonte: Fraga, 2010)
E alguns alunos mesmo orientados a fazerem um molde de suas páginas, não fizeram. Ao invés de me pedirem os trabalhos anteriores para copiarem as fizeram de forma aleatória, resultando em páginas de tamanhos diferentes umas das outras, outros inverteram o sentido de suas páginas, o que fez parecer que estavam de tamanhos diferentes.
Trabalho da aluna Sandrielle (Fonte: FRAGA, 2010)
106
Mesmo sobrando tempo para aqueles alunos que não produziram quase nada durante o projeto fazerem as capas de seus livros, quando falei que não valeria nota eles disseram que então não iam fazer. Notei que o aluno Patrick, que havia feito apenas um trabalho de forma incompleta até este encontro, pois ainda não o havia recortado, estava preocupado com sua nota. Expliquei que ele tinha meio ponto do trabalho anterior e deveria concluí-lo neste encontro. Falei que se parasse de conversar e começasse a fazer a atividade de recorte e colagem conforme eu já havia explicado aos que faltaram na aula anterior, e ele era um deles, poderia obter mais um ponto. Ele respondeu que tinha dificuldades, pois tinha déficit de atenção. Não falei nada, mas pensei que se ele tem consciência da sua dificuldade poderia se esforçar mais. Mesmo ele tendo produzido apenas dois trabalhos durante a realização do projeto, demonstrou ser criativo ao criar um modelo de página bastante diferente dos de seus colegas.
Trabalho do aluno Patrick (Fonte: FRAGA, 2010)
107
Trabalho do aluno Patrick (Fonte: FRAGA, 2010)
Por falta de tempo não conseguimos fazer as apresentações dos Livros de Imagens como estava planejado. Questionei os alunos sobre o que eles haviam achado das aulas e o que eles achavam que poderia ter sido diferente. Poucos alunos se manifestaram, mas em geral sem maiores explicações falaram que gostaram das aulas. Falei que achei que eu havia errado em não ter cobrado mais dos alunos que não faziam quase nada em aula. Neste momento o professor titular Paulo se manifestou dizendo que era obrigação deles realizar as atividades e que eu não havia errado. Mesmo assim, reforcei meu arrependimento em não ter tomado outra atitude em relação a isto. Mas depois o professor voltou atrás em sua opinião, dizendo que eu fui muito boazinha com a turma, no sentido de deixar às vezes os alunos terminarem os trabalhos em casa. Fiz isso para ter mais registros dos meus
108
alunos. Os alunos responderam dizendo que ele que era muito ruim, ele rebateu dizendo que era justo. O professor solicitou que eu fizesse uma prova de recuperação para ele aplicar na próxima quinta-feira, falou inclusive para os alunos que esta prova deveria ser bem difícil, para ralar mesmo com eles. Disse a eles que eu deveria ter lançado desde o início, comparações entre as imagens das mulheres na história da Arte com as imagens femininas presentes na publicidade e na mídia enraizadas na nossa sociedade. Como por exemplo, as semelhanças existentes entre a Vênus de Willendorf e a Mulher Melancia e assim por diante. Acredito que se tivesse feito isso as aulas tornar-se-iam mais interessantes para os alunos e consequentemente mais produtivas também. Eu poderia também ter pedido para os alunos procurarem em revistas, jornais e etc. figuras femininas semelhantes com as vistas em aula e solicitar que eles justificassem porque eles achavam que elas tinham algo em comum.
É preciso que o professor organize um trabalho consciente, através de atividades artísticas, estéticas e de um programa de Teoria e História da Arte, inter-relacionados com a sociedade em que eles vivem. Entendemos que é possível atingir-se um conhecimento mais amplo e aprofundado de Arte, incorporando ações como: ver, ouvir, mover-se, sentir, pensar, descobrir, exprimir, fazer a partir dos elementos da natureza e da cultura, analisando-os, refletindo, formando, transformando-os. É com essa abrangência que a Arte deve ser apropriada por todos os estudantes, indiscriminadamente (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 24).
Depois de nossa conversa li o poema “A Idade de Ser Feliz” autor desconhecido e agradeci pelos momentos de aprendizagem que construímos juntos, enfatizei ainda que com certeza eu tinha aprendido muito mais com eles do que eles comigo e que saí desta experiência transformada.
109
4.4. Considerações sobre a prática de ensino Esforcei-me bastante para que desse tudo certo, mas não foi suficiente. Acredito que minha ansiedade atrapalhou bastante o meu desempenho. “Quando você investir seus esforços em alguém ou em alguma coisa e as mudanças não acontecerem, não desanime, porque certamente as maiores mudanças estarão acontecendo dentro de você” (SILVA; RUGGERI; LIMA, 2003, p. 118). Tenho certeza que realmente as maiores mudanças aconteceram em mim, na forma como eu passei a enxergar a sala de aula. Aprendi que é um lugar onde trocamos conhecimentos e experiências, podendo ser comparado a um termômetro que mede o quanto somos capazes de nos recriar a cada dia em busca de alternativas para que professor e aluno não percam o entusiasmo tanto de aprender quanto o de ensinar. Isso contribuirá futuramente se eu vier a entrar em sala de aula novamente. Achei pouco tempo para desenvolver o projeto, e isso fez com que eu corresse contra o tempo, muitas vezes atropelando o ritmo de trabalho dos alunos pelo medo de não conseguir dar conta de finalizá-lo. Mesmo observando os alunos antes de colocar em prática o projeto, não senti ter conseguido captar realmente como cada aluno trabalha e me senti insegura na hora de dar uma nota para cada atividade realizada por eles. De modo geral, o desenvolvimento do projeto foi bom, acredito que ele tenha atingido grande parte do grupo, pois a maioria realizou as tarefas de forma coerente com as informações dadas em sala de aula. Algumas modificações deveriam ter sido feitas, tanto na sua metodologia de aplicação, quanto ao que se refere à minha postura em sala de aula. Na verdade tive muita dificuldade em me fazer entender, em fazer os alunos compreenderem o que eu realmente queria, e isso é claro, refletiu diretamente nos trabalhos dos alunos. Então, na realidade, muitos não os fizeram da forma como imaginei por que realmente não tinham entendido o que era para ser feito. Confesso que muitas vezes não exigi mais da turma, expondo a minha opinião diante dos alunos que não estavam realizando as atividades da maneira como eu gostaria porque até eu questionava a forma como havia proposto o trabalho. Então, ao perceber a minha dificuldade em ser compreendida, fiquei
110
paralisada na hora de chamar a atenção dos alunos que não estavam realizando as atividades corretamente. Alguns trabalhos finalizados dos alunos:
Trabalho da aluna Tatiana (Fonte: FRAGA, 2010)
111
Trabalho da aluna Fernanda (Fonte: FRAGA, 2010)
Trabalho da aluna Paola (Fonte: FRAGA, 2010)
112
CONCLUSÃO Muitas considerações me fizeram reavaliar esta engrandecedora, mas difícil, prática de ensino. Sobre estas considerações discorrerei a seguir. Com base no tema do projeto de ensino no qual se apoiou a prática, trabalhamos as diferentes formas que os artistas utilizaram para representar o corpo feminino desde a Pré-história até o Cubismo. Também foi visto se a maneira dos artistas os representarem influenciou na sua imagem publicitária. Vou me deter nos seguintes itens: se o tema de pesquisa foi alcançado plenamente, quais são os objetivos de um projeto de ensino, a ligação que existe entre o tema e os objetivos do projeto de ensino, a adequação ou não das metodologias usadas na prática de ensino, o alcance dos trabalhos plásticos dos alunos e por fim tratarei dos aspectos mais pessoais da prática de ensino. A primeira consideração importante que irei fazer diz respeito ao tema e ao fato da prática de ensino não ter contemplado como desejado as características da figura feminina na publicidade, pois não conseguimos aprofundar o assunto. O tema do projeto de ensino, diante das modificações que deveriam ter sido feitas, renderia certamente um semestre inteiro, porque é um assunto que faz parte do nosso dia a dia. Ele permite que todas as pessoas (não só os alunos, já que eles passam a ser multiplicadores de seus conhecimentos) percebam a importância de sabermos diferenciar o que é real do que é manipulado e o quanto o “ideal” pode estar distante do “comum”. Propiciar que todos tenham a oportunidade de saber problematizar as imagens impostas pela mídia e aprender a valorizar o que cada um tem de melhor. Para que os alunos percebessem isso, uma das questões que foram trabalhadas na prática de ensino foi que o “ideal” de beleza esteve desde a Préhistória até os dias de hoje em constante transformação. Por isso a importância de concientizá-los que estar dentro dos “padrões” impostos pela publicidade é impossível, até porque muitas vezes eles não são verdadeiros, pois vimos que na maioria das situações, estas imagens são manipuladas antes de serem lançadas na mídia. Acredito que o tema de pesquisa escolhido para desenvolver o projeto de ensino foi pertinente às necessidades desta turma, porque inclusive, já estava previsto para o semestre em que foi realizada a prática de ensino as turmas de
113
primeiro ano trabalharem com o tema publicidade, mas não com esse enfoque. Por isso tenho certeza de que as aulas realizadas neste projeto acrescentaram muito para estes alunos, que puderam conhecer um pouco mais de história da Arte.
Os objetivos de um projeto de ensino Com relação aos objetivos do projeto de ensino, percebo que não consegui trabalhá-los muito bem em minha prática. Em alguns momentos conseguimos alcançá-los e em outros não. Acho pertinente frisar que o verdadeiro objetivo de um projeto é passar informações suficientes para que os alunos as transformem em conhecimento, realizando isso através de seus trabalhos. Percebi que desde o 2º encontro não deveria ter me preocupado tanto com o resultado e com a quantidade dos trabalhos dos alunos e sim com o seu processo. O objetivo deveria ser explorar a capacidade de cada aluno para que eles percebam que são capazes de fazer qualquer coisa, desde que se proponham a isso. No 4º encontro, ficou evidente que eu não sabia qual o objetivo final desta aula, pois acreditava que o interesse e a produção dos alunos era o principal objetivo a ser alcançado ao invés de observar se os alunos estavam aprendendo efetivamente algo a respeito do tema. Já no 5º encontro, a questão da veracidade das imagens vistas na publicidade não estava prevista nos objetivos do projeto de ensino, mas foi discutida após apresentações em Power Point, e caberia certamente em seus objetivos porque desta forma conseguimos contemplar também o tema do projeto. No 6º encontro, que eu considero um dos melhores, os alunos demonstraram interesse em realizar a atividade e conseguiram alcançar o objetivo do dia que era desconstruir a imagem feminina imposta pela publicidade. Considero que no geral, me perdi com relação aos objetivos do Projeto. Chegou um momento em que nem eu sabia mais quais eram esses objetivos. Eles se perderam devido a minha insegurança, o que fez com que eu tivesse mais dificuldade em encaminhar as atividades. Na verdade, eu só queria que os alunos
114
realizassem as tarefas, mesmo que fosse de forma mecânica. Éra só isso que me importava. Os verdadeiros objetivos do projeto de ensino, de propiciar aos alunos a percepção das diferentes representações corporais femininas presentes na história da Arte, e também o questionamento de como elas influenciaram as maneiras de ver o gênero masculino e feminino, relacionando-as com as imagens da publicidade, ficaram em segundo plano.
A ligação entre o tema e os objetivos do projeto de ensino Outra consideração feita após a prática de ensino diz respeito ao alcance do tema e do objetivo do projeto. Devido a minha insegurança e preocupação, ao realizar a prática de ensino, tivemos dificuldades para alcançar os verdadeiros objetivos do projeto, até porque estes objetivos não estavam claros, o que dificultou também trabalhar o tema em todo seu alcance. A partir da prática de ensino, percebi o quanto o alcance do tema e os objetivos do projeto estão interligados e um interfere no outro. Digo isso porque, com relação aos conteúdos não tive dificuldade em passá-los para os alunos, pois eles foram a bengala em que me agarrei. Propor as atividades para eles era o que me apavorava, porque eu ficava em dúvida se interferia ou não nos seus trabalhos. Ficava me perguntando se interferir no trabalho deles era correto. Uma aula na qual ficou claro para mim que havíamos alcançado o tema foi no dia em que os objetivos foram alcançados. Isso ocorreu no 6ª encontro quando eles conseguiram desconstruir a imagem feminina imposta pela publicidade, através do trabalho de recorte e colagem. Eles trouxeram estas imagens para as suas realidades, representando-as de maneira mais próximas das figuras femininas que os cercam.
115
As metodologias da Prática de Ensino Com relação às metodologias previstas no projeto de ensino, passei a questioná-las desde o início da prática de ensino. Queria despertar o interesse dos alunos e consequentemente, que eles produzissem mais e com qualidade. Mas na verdade, a minha maior preocupação na época, foi justamente a quantidade de trabalhos realizados pelos alunos. As questões qualidade e aprendizado efetivo dos alunos foram deixados um pouco de lado, pois eu queria passar o conteúdo e me livrar do estágio o mais rápido possível. Hoje percebo que ao invés de ter tido muita pressa, deveria ter realizado pelo menos as primeiras aulas no tempo dos alunos, e ao constatar que muitos eram desinteressados, “malandros” como o professor titular havia comentado comigo, pensaria em alternativas de metodologias para propiciar a eles encontros mais interessantes e produtivos. Hoje fico pensando também se, no 1º encontro, ao invés de ter mostrado as imagens para os alunos, eu apenas falasse sobre suas características e pedisse para eles as representarem, baseando-se nestas informações e depois mostrasse as imagens. Acredito que seria mais interessante, pois os alunos se expressariam livremente sem sofrerem influências das imagens vistas anteriormente. E assim poderiam fazer comparações entre elas. Percebendo o desinteresse dos alunos, eu poderia, no encontro seguinte, ter pedido a opinião deles, sugestões, ideias de atividades que eles achassem pertinentes com o que estávamos trabalhando, mas não fiz achando que estaria demonstrando a minha insegurança. Lembro que, quando fiz as observações silenciosas, foi possível perceber que o professor ensinava e exemplificava a maneira como os alunos poderiam fazer o nome deles usando perspectiva e ponto de fuga. Começo a compreender melhor este desinteresse, pois eu estava pedindo que eles desenhassem sem dar maiores explicações e ensinamentos como, por exemplo, mostrar como dar volume, ou luz e sombra nas imagens. Para eles era mais fácil seguir uma “receita” do que aprender a desenhar, já que é mais confortável fazer algo se alguém nos dá um roteiro, e acho que os alunos estavam acostumados a isso. Deveria ter lhes incentivado mais
116
para
que
fizessem
as
representações
a sua
maneira,
explorando suas
potencialidades sem medo de “errar”, ou de ficar “feio”. No 4º encontro, detectando ainda pouco interesse de alguns alunos, eu deveria ter procurado descobrir através do diálogo, que tipo de atividades eles gostavam de fazer, se eles tinham alguma sugestão de trabalho. Somente agora percebo que apesar de ter circulado em sala de aula, dei mais atenção para os alunos que questionavam e que realizavam as tarefas. O que foi um erro, porque na verdade eu deveria justamente ter feito o contrário. Deveria ter incentivado mais os alunos desinteressados lhes dando mais atenção e acompanhando-os de perto. Naquela época eu deveria ter feito relações das imagens da história da Arte com as presentes na publicidade, criar um vínculo entre elas. É uma metodologia de trabalho que deveria ter sido trabalhada. Eu penso que se tivesse feito isso, a interação dos alunos com o assunto seria maior desde o início das aulas e consequentemente comigo também, isso serviria para conhecer mais a opinião da turma.
Os trabalhos plásticos dos alunos Na plasticidade alcançada nos trabalhos da turma, pode-se perceber que eles foram pouco ricos, com exceção de alguns alunos que chamaram mais a minha atenção. Um deles foi o Felipe que demonstrou uma facilidade muito grande ao desenhar. Apesar de não ter feito todos os trabalhos solicitados, nos que ele fez, demonstrou um ótimo potencial. Seus desenhos são harmônicos, têm efeitos de luz e sombra e ele soube explorar muito bem os materiais usados em aula. Muitos trabalhos apresentaram estereótipos, alguns alunos faziam seus trabalhos de forma bem simplificada só para não deixar de entregá-los. Os trabalhos de recorte e colagem foram uma das melhores atividades, pois eles conseguiram explorar bem o material. Acredito que isso aconteceu também devido ao interesse despertado pela atividade, por ela ser bem diferente das atividades que eles estavam acostumados a realizar em suas aulas com o professor Paulo, pois ele trabalhava mais atividades direcionadas ao desenho.
117
O que o projeto de ensino acrescentou aos alunos Referente ao que o projeto de ensino acrescentou para os alunos, acredito que ele fez a diferença pelo fato de trabalhar a partir de várias obras e artistas diferentes dos que eles estavam acostumados a ver, ter usado recursos que o professor deles não usava e também de ter proposto atividades diferentes das que eles estavam acostumados a realizar. Como por exemplo, recorte e colagem que eles nunca tinham feito e também apresentar a artista Hannah Höch que eles não conheciam. O livro de imagens, que eles não haviam trabalhado ainda, foi uma atividade que fugiu do formato de folha A4 com que eles estavam acostumados a realizar seus trabalhos. O fato de eles poderem utilizar todo o espaço da folha sem ter que fazer margens, evitando um pouco esse desenho mecanizado que eles faziam utilizando régua, permitiu que eles exercitassem mais o desenho à mão livre. Até mesmo o fato de estimulá-los a usar menos a borracha foi uma contribuição, embora seja pequena. Acho que só por ter mostrado outros tipos de atividades já valeu a pena e contribuiu para desenvolver a percepção dos alunos e ampliar suas habilidades criativas.
A experiencia pessoal da prática de ensino Por último e mais importante, falarei sobre esta experiência de prática de ensino que com certeza fez a diferença em minha vida, pois consegui detectar características que me prejudicam em várias áreas. Principalmente o fato de não admitir que sou um ser humano normal e suscetível ao erro. O julgamento que faço da minha pessoa é muito rígido, pois me importo com as coisas e sofro por não entender que certas pessoas simplesmente não se importam com as mesmas coisas que eu. Compreendi finalmente que qualquer projeto de ensino que criemos, ao ser colocado em prática, não nos pertence mais. Ele pertence ao grupo com quem trabalhamos. Saber disso implica aceitar o rumo inesperado que o projeto pode tomar. No caso deste projeto o rumo não mudou, mas algumas aulas foram revistas, conforme citei anteriormente. Aprendi também que um projeto pode ter
118
características muito boas na teoria, mas na prática não necessariamente, e isso não porque o professor falhou ou não estava totalmente apto a lecionar, mas porque talvez os alunos não estejam preparados para ele. E por isso a importância do professor saber detectar quais são as necessidades da turma para que possa adequar o projeto de ensino a este grupo. O mais importante foi descobrir que, neste momento, não quero e nem me sinto preparada para lecionar. Já tinha esta dúvida, além de verdadeiro medo antes do estágio, e depois dele isso ficou mais claro para mim. Na verdade tenho muita dificuldade em lidar com fatos que saiam do meu controle. Não sou uma pessoa muito flexível e há uma grande caminhada pela frente. Tenho dificuldade em lidar com mudanças, apesar de ter conseguido fazer várias alterações durante a prática de ensino. Sentimentalmente isso me angustiou um pouco. Eu achava que tinha falhado ao estruturar o projeto de ensino, mas só hoje percebo que “mudar é preciso, ainda que permanecer seja sempre mais fácil, avaliar plenamente é imprescindível, ainda que medir seja extremamente confortável” (ANTUNES, 1937, p.52). Não houve um dia em que eu tenha chegado à sala de aula sem ficar nervosa. Eu me sentia desconfortável e estava sempre apreensiva. O primeiro dia de aula foi o mais fácil para mim, pois os alunos pouco falaram e eu tinha certeza, apesar do medo e da insegurança, de que estava dando informações corretas para a turma. Eu que estava conduzindo a aula, neste dia ela dependia mais de mim do que dos alunos. O que a partir das aulas seguintes mudou. Eu dependia deles, do retorno que eles me dariam e foi a partir do 2º encontro que comecei a questionar as minhas metodologias, pois os alunos não demonstravam estarem interessados pelas nossas aulas e isso me deixou bem chateada. No 6º encontro, com a atividade de recorte e colagem, mais uma vez percebi que minha insegurança naquela época atrapalhou, pois deveria ter falado com os alunos para não fazerem uma página muito pequena, pois mais tarde iríamos necessitar de espaço para realizar melhor as atividades. Hoje, reconheço que algumas intervenções fazem a diferença mais adiante, pois elas podem facilitar o andamento em trabalhos futuros.
119
Lecionar é uma coisa que me traz muita angústia, sensação de incompetência, sofrimento mesmo. Cheguei à conclusão de que, se é uma coisa que me traz tantas sensações ruins, é por que não é bom para mim. Acredito que se estamos nos sentindo mal em fazer algo é por que estamos indo contra as nossas verdades. Chego a esta conclusão sem nenhum sentimento de fracasso, porque em um futuro próximo vai ser diferente. Pois consegui perceber o que pode ser melhorado. O que ficou desta prática de ensino foi perceber que a sala de aula é um lugar onde trocamos conhecimentos e experiências, podendo ser comparado a um termômetro que mede o quanto somos capazes de nos recriar a cada dia buscando subsídios para que professor e aluno não percam o entusiasmo tanto de aprender quanto de ensinar.
120
REFERÊNCIAS ANTUNEZ, Celso. A avaliação da Aprendizagem Escolar. Fascículo 11. Petrópolis: Vozes, 2002. ARANHA, Maria Pires Martins; ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia – Estudo e ensino I. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2005. BASTTIONE, Filho Dúlio. Pequena História da Arte. 5.ed. São Paulo: Papirus, 1993. DERDYK, Edith. Pensamento e Ação no Magistério. Formas de pensar o desenho. Desenvolvimento do Grafismo Infantil. ECO, Umberto. História da Beleza. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2004. FERNANDE, Natan. Encyclopedia de La Femme. Porto Alegre: Globo, 1958. FERRARI, Roberto; LINDEMAYER, Roberto. Introdução a Publicidade e Propaganda. Canoas: Ed. ULBRA, 2003. (Cadernos Universitários; 148). FUSARI, Maria Felisminda de Rezende; FERRAZ, Maria Heloísa Corrêa de Toledo. Arte na Educação. 2. ed. Revista. São Paulo: Cortez, 2001. HERNANDEZ, Fernando. Cultura Visual, mudanças educativas e projeto de trabalho. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. IAVELBERG, Rosa. Para Gostar de Aprender Arte: Sala de aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed, 2003. JANSON.H.W. História Geral da Arte. Tradução de Maurício Balthazar Leal. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. LANDOWSKI, Eric. Presenças do Outro. Tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: Perspectiva, 2002. LOWENFELD, Viktor; BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento da Capacidade Criadora. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1970. MARTINS, Miriam Celeste. Projetos em ação no ensino de Arte. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1997. MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária – Neurose, 1997. 1v. OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação. 21.ed. Petrópolis: Vozes, 2007. PIRATININGA, Luiz Celso de. Publicidade: arte ou artifício? São Paulo: T. A. Queiroz, 1994. PRIMEIRA IMPRESSÃO: revista laboratorial semestral, curso de jornalismo – Unisinos. São Leopoldo: Ed. Unissinos, n.12, 2000/1. PROJETO: revista de educação. Porto Alegre: Projeto, v.3, n.5, jul\Dez. 2001. VIANNA, Maria Letícia. Estereótipo, esta erva daninha In: Jornal da Alfabetizadora. n. 32, ano VI. Porto Alegre: Editora Kuarup, 1994. VIGARELLO, Georges. História da Beleza. Tradução de Léo Schlafman. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
121
Sites consultados: A DOVE Film. Direção, Produtora, data. Vídeo Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=iYhCn0jf46U. Acesso em: 23 mar. 2010. Vídeo (75 seg). CAMOCARD, Elêuses M.: JORDÃO, Flávia Patrícia. A coisificação da mulher em anúncios publicitários de cerveja. Disponível em: www.faac.unesp.br/eventos/jornada2005/trabalhos/32_eleusis_camocard. html. Acesso em: 23 mar. 2010. CRÍTICO. Campanha da Abap e ABA. Direção, Produtora, data. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=bOvYM9xflzM&feature=related. Acesso em: 23 mar. 2010. Vídeo (31 seg). NOGUEIRA, Lígia. La Vanguardia. Disponível em: http://anodafrancanobrasil.cultura.gov.br/br/2009/04/05/orlan. Acessso em: 28 abr. 2010. QUANTO Vale Uma Mulher na Mídia. Direção: Andrea Rabello; Gladistony Wilker; Helena Cordeiro; Lídia Alencar e Fátima Carvalho. Direção: Produtora, data. Vídeo (153 min). Disponível em: www.youtube.com/watch?v=r4DLAPyECkQ. Acesso em: 23 mar. 2010. RIBEIRO, Silvana. Retratos de Mulher. Disponível em: www.bocc.uff.br/pag/mota-ribeiro-silvana-retratos-mulher-estudoimagens-visuais-sociais-feminino.pdf . Acesso em: 17 mar. 2010. REUNIÃO. Campanha da Abap e ABA. Direção, Produtora, data. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=O7HshMuMgFM&feature=related. Acesso em: 23 mar. 2010. Vídeo (31 seg). SOBRENOME, Renata. Publicidade Feminina de Coca-Cola. Disponível em: http://garotasdepropaganda.wordpress.com. Acesso em: 23 mar.2010. VERÍSSIMO, Jorge. A Mulher “objecto” na Publicidade. Disponível em: www.bocc.uff.br/pag/verissimo-jorge-mulher-objecto-publicidade.pdf. Acesso em: 17 mar. 2010.
122
APÊNDICE 1: Cópia da Avaliação de Aluno Estagiário realizada pelo professor da escola de Estágio
123
APร NDICE 2: Cรณpia do questionรกrio respondido pela diretora da escola de Estรกgio
124
APร NDICE 3: Cรณpia do questionรกrio respondido pelo professor da escola de Estรกgio
125
APร NDICE 4: Cรณpia de cinco questionรกrios respondidos pelos alunos da escola de Estรกgio