UNIVERSIDADE LUTERENA DO BRASIL_ULBRA Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Geisiane de Souza Dornelles
Os Olhares da Arte para a Figura Humana
Canoas, 30 de junho de 2014.
Geisiane de Souza Dornelles
Os Olhares da Arte para a Figura Humana
Trabalho de Curso apresentado como prérequisito para parcial para a obtenção de título acadêmico de licenciada em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação da professora Dr. Rejane Reckieziegel Ledur.
Canoas, 30 junho de 2014
Dedico este trabalho aos meus pais, Amauri Ribeiro Dornelles e Márcia Beatriz de Souza,
que
sempre
me
apoiaram
e
incentivaram em todos os momentos em que eu precisei. Sem eles eu não chegaria até aqui.
Agradeço a professora Rejane Reckieziegel Ledur pela dedicação no acompanhamento dos estágios e aos professores Renato Garcia dos Santos, José “Nico” Guiliano, Jurema Rohes Trindade e Ana Lúcia Beck pelos momentos vividos durante cada disciplina, pelos ensinamentos, pelas palavras de incentivo, as críticas necessárias e os bons conselhos. Agradeço a equipe diretiva do Colégio Estadual Jacob Arnt pela acolhida, especialmente as professoras Rosângela Cardoso e Gisele Hoffsteater pelo apoio que prestaram durante toda a prática de ensino. Também agradeço os alunos do 1º ano, turma 112, por me receberem
com
carinho, pelos
momentos que
compartilhamos e a todas as pessoas que de certa forma
contribuíram
para
a
minha
conquista,
principalmente a minha família, meus colegas e amigos que sempre estiveram dispostos a me ajudar. Enfim, agradeço a Deus pela realização desta conquista.
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi desenvolvido durante a realização dos Estágios Curriculares do curso de Artes Visuais da Ulbra, que ocorreu no Colégio Estadual Jacob Arnt, localizado no município de Bom Retiro do Sul/RS. Após a realização das observações silenciosas, houve a elaboração do projeto de ensino, baseado em uma pesquisa sobre a figura humana, destacando os períodos e concepções de arte que influenciaram na sua representação. Autores como Edith Derdyck, Janson e Gombrich, entre outros sustentam o tema de pesquisa. O projeto de ensino teve como objetivo despertar o interesse dos alunos sobre a arte, seguindo um percurso de representação da Figura Humana a partir da abordagem de artistas que criaram um olhar diferenciado para o tema. O projeto se justificou ao dar aos alunos a oportunidade de usar a percepção e aprender sobre arte, desenvolvendo uma postura crítica, a criatividade, a concentração, a participação e interesse nas aulas através de uma metodologia desafiadora, com atividades práticas e teóricas. Entre os conteúdos trabalhados estão performances, modificações corporais e quadro vivo. O projeto de ensino foi aplicado ao longo de 12 semanas, entre 3 de setembro e 10 de dezembro de 2013, com o primeiro ano do Ensino Médio, através de aulas expositivas dialogadas, leituras de imagem e praticas artísticas. Entre os resultados alcançados está o envolvimento dos alunos com o desenvolvimento do projeto de ensino, em que perceberam seu potencial criativo durante os trabalhos práticos e desenvolveram uma postura crítica ao questionar e refletir sobre o tema. Também influenciou resultados na formação docente, pois houve uma grande aprendizagem com a prática de ensino, sendo possível conhecer a realidade da comunidade escolar, o comportamento dos alunos e o ambiente escolar.
Palavras-chaves: Figura Humana- corpo- performances.
Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8 1. Conhecendo o espaço de ensino ............................................................................. 13 1.1. Dados gerais da Escola observada ....................................................................... 13 1.2. Observações silenciosas ...................................................................................... 16 1.2.1. 1ª Observação Silenciosa .................................................................................. 16 1.2.2. 2ª Observação Silenciosa .................................................................................. 19 1.2.3. 3ª Observação Silenciosa .................................................................................. 22 1.2.4. 4ª Observação Silenciosa .................................................................................. 23 1.2.5. 5ª Observação Silenciosa .................................................................................. 25 1.2.6. 6ª Observação Silenciosa .................................................................................. 27 1.2.3. Análise das observações silenciosas ................................................................. 28 1.1.4. Análise do questionário respondido pela professora ........................................ 30 1.2.5. Análise dos questionários respondidos pelos alunos ........................................ 30 1.6. Motivos da definição do tema de pesquisa em Artes Visuais .............................. 31 2. O Olhar da Arte para a Figura Humana. ................................................................. 34 2.1. A transição da representação da figura humana para o Renascimento. ............... 34 2.2. A figura humana na arte moderna. ....................................................................... 39 2.3. A figura humana como representação do movimento. ........................................ 40 2.4. A Figura Humana expressando as emoções ........................................................ 42 2.5. A figura humana representada em diferentes contextos. ..................................... 43 2.5. A fragmentação e desconstrução da Figura Humana na Contemporaneidade. .... 47 2.6. A Figura Humana como Suporte para a Arte ...................................................... 50 3. Projeto e Prática de ensino em Artes Visuais ......................................................... 57 3.1.1.
Dados gerais do Projeto de Ensino ............................................................... 57
3.1.1.
Título do Projeto........................................................................................... 57
3.1.2.
Tema do Projeto: .......................................................................................... 57
3.1.3.
Justificativa: ................................................................................................. 57
3.1.4.
Objetivo Geral: ............................................................................................. 57
3.2. Prática de Ensino. ................................................................................................ 58
3.2.1. Primeiro Encontro. ............................................................................................ 58 3.2.2. Segundo Encontro ............................................................................................. 65 3.2.3. Terceiro Encontro ............................................................................................. 73 3.2.4. Quarto Encontro ................................................................................................ 77 3.2.5. Quinto Encontro ................................................................................................ 82 3.2.6. Sexto Encontro .................................................................................................. 88 3.2.7. Sétimo Encontro ............................................................................................... 93 3.2.8. Oitavo Encontro ................................................................................................ 99 3.2.9. Nono Encontro ................................................................................................ 105 3.2.10. Décimo Encontro .......................................................................................... 112 3.2.11. Décimo Primeiro Encontro ........................................................................... 118 3.2.12. Décimo Segundo Encontro ........................................................................... 121 3.3.
Considerações sobre a prática de Ensino ....................................................... 127
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 128 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 136 APÊNDICES ............................................................................................................ 137 APÊNDICE 1: Avaliação de Aluno Estagiário realizada pela professora da escola de Estágio. ..................................................................................................................... 137 APÊNDICE 2: Cópia do questionário respondido pela professora da escola de Estágio ...................................................................................................................... 138 APÊNDICE 3: Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio ...................................................................................................................... 139 Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio ................ 140 Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio ................ 141 Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio ................ 142 Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio ................ 143
INTRODUÇÃO
Este trabalho de curso é um relato das atividades e reflexões realizadas durante os estágios I, II, III e IV, do curso de Artes Visuais, que se construíram a partir da elaboração do Projeto de Ensino denominado “Os Olhares da Arte para a Figura Humana”. Durante o desenvolvimento do Projeto de Ensino, foram vivenciadas observações silenciosas em turmas de Ensino Fundamental e Médio que determinaram a escolha do tema da Figura Humana. Entre estas observações está o fato de que a professora titular apenas passava cópias para os alunos nas aulas de Artes, o que fez com que eles deixassem de desenvolver a expressão plástica e usar a criatividade, fazendo os trabalhos automaticamente, sem nenhum entusiasmo. Também não havia leituras de imagens e a história da arte não era trabalhada. O conceito da temática figura humana é seguir um percurso de representação a partir da abordagem de artistas que criaram a um olhar diferenciado para o tema. Entre estes artistas estão Leonardo Da Vinci, Edvard Munch, Vincent Van Gogh, Frida Kahlo, Hélio Oiticica e, por fim, Fakir Musafar com as modificações corporais. Para dar embasamento teórico à pesquisa, autores como Edith Derdyck, Janson, Gombrich e Beatriz Ferreira Pires sustentam o tema. O projeto de ensino se justifica pela relevância do tema da figura humana, pois ao observar as suas representações ao longo do tempo oportuniza aos alunos usarem a percepção, como também aprender arte, conhecendo as concepções e o universo simbólico e representativo das obras de arte trabalhadas. O objetivo geral do projeto foi construir um percurso de representação da figura humana a partir da abordagem de artistas que desenvolveram um olhar diferenciado para o tema, seguindo uma linha em que a figura humana começa sendo representada com realismo, passando por um processo de desconstrução, depois de fragmentação, até deixar a superfície bidimensional para tomar como suporte da arte o próprio corpo, se tornando tridimensional. Além de abordar estas questões teóricas sobre o tema figura 8
humana, também foi oportunizado aos alunos uma vivência nova e motivadora durante as aulas, desafiando-os no desenvolvimento da expressão plástica. A prática de ensino do Ensino Fundamental e Médio foram realizados no Colégio Estadual Jacob Arnt (CEJA), que é o único no município de Bom Retiro do Sul que possui Ensino Médio e, também, é o maior colégio da cidade, localizado no centro, onde atende cerca de 1.100 alunos, oriundos da classe mais rica do município até o bairro mais pobre, que são maioria. Na realização da prática do Ensino Fundamental, que foi feita na turma do 6º ano, me deparei com alunos agitados e desmotivados. Aos poucos, conforme iam se envolvendo com a proposta de ensino, foram se tornando mais participativos e interessados na aula. Não houve grandes desafios na prática do Ensino Fundamental, apenas alguns momentos em que os alunos testaram os limites necessários para o bom andamento das aulas, como quando alguns meninos tentaram sair da sala de aula sem pedir permissão. Em geral, as aulas ocorriam tranquilamente, os alunos produziram trabalhos interessantes e criativos, participaram ativamente das leituras de imagens e não me sentia intimidada, pois eu tinha o controle da turma, que logo passaram a me respeitar e participar das aulas, que foram satisfatórias. A prática de ensino do Ensino Médio, foi realizada com o 1º ano do Colégio Estadual Jacob Arnt, na cidade de Bom Retiro do Sul. Esta experiência de ensino sempre se mostrou a mais desafiadora em todos os sentidos, como pelo fato de ser uma turma numerosa, de adolescentes que não me viam como professora e que participavam das aulas de Artes apenas por obrigação. Nesta prática ocorreram muitos acontecimentos que hoje percebo que contribuíram para o meu futuro docente e que apontam o meu crescimento como professora. É possível perceber este desenvolvimento ao observar a minha postura nas primeiras aulas, nas quais eu estava muito nervosa, insegura, não sabia lidar com os alunos, falava muito baixo e acreditava que iria fracassar, pois eu mesma não me via como professora. Mas, aos poucos eu fui criando uma relação de amizade com os alunos, com os quais até hoje mantenho contanto, pois os vejo com frequência no caminho da escola em que atualmente trabalho. 9
Também, consegui envolver os alunos com a proposta, pois eles traziam muitos materiais de casa para os trabalhos, postavam fotos dos trabalhos no Facebook, participavam das aulas e expressavam seus comentários e opiniões sobre as aulas práticas e teóricas. Em relação às duas experiências de práticas de ensino, escolhi aprofundar a do Ensino Médio. Entre os fatores determinantes para esta escolha está o fato de ter sido, sem dúvidas, a mais desafiadora e, até mesmo, a mais complexa e trabalhosa. Assim, a prática de ensino do Ensino Médio se mostrou mais produtiva do que a prática do Ensino Fundamental, sendo escolhida para ser analisada como prática de ensino. O trabalho de conclusão de curso está estruturado em capítulos. No primeiro encontram-se as informações sobre o reconhecimento do espaço de ensino, no qual constam os dados sobre a Escola onde os Estágios foram realizados, os relatos e a análise das observações silenciosas, em que pude conhecer a turma onde o Projeto de Ensino foi aplicado, a análise do questionário respondido pela professora titular e dos questionários respondidos pelos alunos. Também se encontram, justificados, os motivos da definição do tema de pesquisa Figura Humana nas Artes Visuais. No segundo capítulo, consta a pesquisa sobre o tema nas Artes Visuais, com o título Os Olhares da Arte para a Figura Humana, sendo dividida nos subtítulos A Transição da Representação da Figura Humana para o Renascimento, A Figura Humana como meio de Registrar o Movimento, A Figura Humana expressando as emoções, A Figura Humana em diferentes conceitos, A Fragmentação e desconstrução da Figura Humana na Contemporaneidade e A Figura Humana como Suporte para a Arte. Assim, é possível perceber que há uma abordagem de artistas que desenvolveram um olhar diferenciado para o tema. O terceiro capítulo trata do Projeto e Prática de Ensino em Artes Visuais, em que estão registrados os dados gerais da escola e turma em que a prática de ensino foi realizada, os dados gerais do projeto de ensino, os relatos sobre as aulas práticas e as considerações sobre a prática de ensino. Na conclusão são analisados os resultados obtidos na prática de ensino, e a minha postura profissional, ou seja, é feito uma nova reflexão, obervando a relação entre objetivos, metodologias e resultados, o que de fato ocorreu durante os estágios. 10
Como afirmo na conclusão, acredito que em todos os momentos em que houve um desafio as aulas foram mais produtivas. Acredito que tive uma grande aprendizagem com a prática de ensino, pois pude conhecer a realidade da comunidade escolar, o comportamento dos alunos, o ambiente escolar e, principalmente, refletir sobre a minha postura como futura professora, pois houve muitas situações em que eu travei batalhas internas, e venci minhas inibições. Obtive muitas lições para a minha vida com os Estágios, pois não cresci apenas profissionalmente, mas senti como se eu tivesse realmente deixado a adolescência de vez, ou seja, também evolui emocionalmente durante os estágios. Reconheço que eu ainda tenho muito a aprender, não me vejo com uma professora completa e sei que tenho um longo caminho pela frente até o dia em que me sentirei mais preparada, mas sinto que já passei por uma grande etapa deste processo, pois do mesmo modo que os alunos desenvolveram uma performance para libertar a figura humana do casulo que a envolvia, eu também me libertei do meu casulo de inseguranças, medo, timidez e assumi o meu papel de educadora. Mudei minha postura, superei minhas próprias expectativas e amadureci. Portanto, ao passo que os alunos foram conhecendo e construindo as suas “Figuras Humanas”, eu me construí como professora.
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1. Conhecendo o espaço de ensino
1.1.
Dados gerais da Escola observada
O Colégio Jacob Arnt (CEJA) está localizado na cidade de Bom Retiro do Sul/ RS, no Bairro Centro, Rua Jorge Fett. Atende alunos do Ensino Fundamental de nove anos, Ensino Fundamental de oito anos (3ª série a 8ª série), Ensino Médio e Educação Especial. O município tem cerca de 12.000 habitantes, está localizado na Depressão Central e faz parte da microrregião Lajeado-Estrela. Sua economia baseia-se na agricultura, pecuária, indústrias calçadistas, frigoríficos e serviços informais. A escola surgiu da necessidade dos moradores da picada, ou seja, atuais bairros Laranjeiras, Getúlio Vargas, São Francisco e Imigrantes. Estabeleceu-se para garantir o acesso à educação para a comunidade mais carente de Bom Retiro do Sul. Em 1960, funcionava anexo ao Grupo Escolar Otávio Augusto de Farias. O decreto de criação do Grupo Escolar de Subúrbios foi divulgado no Diário Oficial de 06 de janeiro de 1961. Através do Decreto nº 18421, de 30 de janeiro de 1967, o Grupo Escolar de Subúrbios passou a ser denominado Grupo Escolar Jacob Arnt, e atualmente é a única escola de Ensino Médio Estadual no município. O CEJA está localizado no centro da cidade, atendendo cerca de 1.100 alunos, oriundos da classe mais abastada do município até o bairro mais pobre, que são maioria. O resultado é uma diversidade social, cultural, econômica e religiosa muito grande. A maioria dos alunos provém de famílias com realidade sócio-econômica bastante deficitária. O pai e a mãe trabalham fora, a maioria em fábrica de calçados, que no momento enfrenta série crise, gerando um grande número de desempregos. Os filhos, no período em que não estão na escola, ficam muitas vezes sem o acompanhamento de um responsável e, com isso, podem formar grupos de convivência prejudiciais ao desenvolvimento cognitivo e afetivo. Quando adolescentes, tendem a participar de grupos que influenciam no consumo de álcool e outras drogas. Esta prática é favorecida 13
pela falta de diferentes formas de lazer, bem como outras atividades que os envolvam em seu tempo livre e que contribuam para a formação de aspectos como ética, cidadania e valores. Constata-se que no início do ano letivo as salas de aula estão abarrotadas e à medida que os dias passam, especialmente ao final do 1° trimestre, elas vão esvaziando, levando à evasão, principalmente no Ensino Médio noturno, em que a situação é grave e precisa, urgentemente, ser trabalhada. Em cima desta realidade o CEJA, nos últimos anos, vem procurando desenvolver um trabalho de equipe envolvendo toda a comunidade escolar, tendo conseguido bons resultados, pois abriu caminho para que todos os segmentos tenham hora e vez de participar, de se posicionar, enfim de contribuir e avaliar as ações da escola. Esta participação é efetiva, pois a comunidade esta participando na construção do Projeto Político Pedagógico, do Regimento Escolar, do Plano de Ação da Direção da Escola e das Normas de Convivência. A filosofia da escola é formar um cidadão crítico, responsável, sujeito de seu desenvolvimento integral, construtor de uma sociedade justa e fraterna, visando ao exercício consciente da cidadania. Possuem um projeto denominado “INCLUSÃO: somos todos diferentes”, o qual tem como objetivo geral apontar as dificuldades vivenciadas no cotidiano da escola relacionadas à inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais, buscando alternativas de superação e aprofundar teoricamente os conhecimentos dos professores e pais sobre as diferenças apresentadas pelos alunos da escola tendo em vista maior compreensão dos limites e possibilidades de cada um. A proposta pedagógica da escola é uma oportunidade para que algumas coisas aconteçam e, dentre elas: tomada de consciência dos principais problemas da escola, das possibilidades de solução e definição das responsabilidades coletivas e pessoais para eliminar ou atenuar as falhas detectadas. Para a construção de uma escola pública de qualidade, o CEJA oportuniza atividades que resgatem a presença da família na Escola, buscando soluções coletivas com a Comunidade Escolar, mantendo parcerias de responsabilidades e comprometimento, promovendo a autonomia moral dos sujeitos envolvidos. A escola procura considerar o tipo de pessoa que quer se formar, respeitando suas fases de desenvolvimento, potencialidades, bagagem cultural, valores éticos e interesse do aluno, conduzindo-o ao conhecimento sistematizado e universal.
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Os profissionais da educação do Colégio Jacob Arnt são incentivados a buscar formação e atualização constante, através da participação na formação continuada, cursos, seminários, trocas de experiências, entre outros, a fim de rever conteúdos e o aperfeiçoamento de metodologias. A equipe é formada pela diretora Márcia E. Schimidth, a vice-diretora do turno da tarde Neuza Meyer, a vice-diretora do turno da noite Martinha Maria Dulius, a vice-diretora do turno da manhã Liane Maria e a orientadora educacional Maria Delci Kluck. A escola possui 25 salas, duas bibliotecas, sendo uma direcionada apenas para as séries iniciais, um refeitório, um auditório e um ginásio de esportes. Tem, aproximadamente, 12 funcionários que trabalham na recepção, cozinha e limpeza. Enfim, para poder dar respostas ao conjunto das suas missões, o Colégio Estadual Jacob Arnt organiza a “educação” em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que ao longo da vida serão de algum modo para cada indivíduo os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.
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1.2. Observações silenciosas
As observações silenciosas ocorreram no primeiro semestre do ano de 2013 e a turma tinha um período semanal de 45 minutos de duração.
1.2.1. 1ª Observação Silenciosa Ensino Médio Data: 15 de março Horário: 13h às 13h50min
Chegando à escola, fui recebida pela diretora do turno da tarde Tânia Schmidt, que me entregou a carta de apresentação e a autorização para a realização de estágio, preenchidos e devidamente carimbados. Depois ela me encaminhou até a sala de professores para encontrar com a professora Rosângela Cardoso. Tivemos uma rápida conversa, pois como eu fui aluna do CEJA durante o Ensino Médio, elas já me conheciam e me elogiaram pela escolha de curso. Durante o caminho até a sala da turma 111, a professora Rosângela lembrou que eu já havia feito uma observação silenciosa em 2011 com outra turma de 1º ano. Expliquei a ela que eu estava cursando uma disciplina do 2º semestre, Projetos de Ensino em Arte, em que nós tínhamos que observar apenas uma aula no Ensino Médio, fazer os questionários do aluno e professor e montar um projeto direcionado para aquela turma sem ter que executá-lo, ou seja, era uma preparação para os Estágios I e II. Também expliquei que agora eu estava no Estágio I, no qual eu devo assistir seis aulas no Ensino Médio, seis no Fundamental e também irei aplicar os questionários. Então ela me explicou que os alunos do Ensino Médio estudam no turno da manhã, mas estão vindo estudar Artes no turno da tarde porque os horários dela não fecham. Também me indicou as turmas que ela acredita serem menos agitadas para os meus estágios. 16
Chegando à sala de aula (o colégio não possui um espaço especial pra as aulas de arte), demorou um pouco até que os alunos se sentassem nas classes que estavam distribuídas em fileiras individuais. Enquanto isso, a professora organizou o seu material, sempre se mostrando calma e esperou que todos os alunos se organizassem nas classes. A professora demorou um pouco para dar início à aula e um dos alunos pediu a ela que começasse logo porque não agüentava mais ouvir o colega falar. A turma estava completa, com 15 alunos. No início os alunos pensaram que eu fosse uma nova aluna, então a professora Rosângela explicou que eu sou estudante do curso de Artes Visuais e que eu vou observar algumas aulas deles. Também pediu para que eles fossem comportados para que eu não me assustasse. A professora começou a aula com a pergunta: “qual foi a primeira manifestação de arte no Brasil e como foi chamada?”. A turma ficou em silêncio e, depois de um tempo, a professora respondeu que era a arte rupestre. Falou que na época os homens que desenhavam nas paredes não sabiam que o que estavam fazendo era arte, pois usavam para representar o dia-a-dia nas rochas. A professora mostrou imagens impressas em folhas A4, de boa qualidade, sobre arte rupestre e explicou que usavam sangue de animais, flores entre outros, de onde tiravam o pigmento para fabricarem as tintas. Enquanto isso, do meu lado, duas alunas estavam trançando os cabelos uma da outra. A Rosângela passou as folhas com as imagens impressas para que os alunos olhassem. Perguntou a relação da Arte Rupestre com certo tipo de arte contemporânea que também é feita em paredes ou muros. Depois de uns minutos, quando um aluno respondeu que era Grafite, ela continuou a explicação dizendo que é comum os artistas usarem os viadutos para grafitar, é ligado ao Hip Hop e diferenciou o Grafite da pichação dizendo que, este último, é considerado crime e mostrou um exemplo de pichação no muro em frente à escola e todos levantaram e foram até a janela observar. Também disse que o grafiteiro, deve pedir permissão do dono do local para grafitar e é isso o que o diferencia do pichador. Depois a professora pendurou mais folhas A4 no quadro negro que eram modelos para eles seguirem. Ela não se referiu a nenhum artista famoso, nem citou nomes de obras mais conhecidas. Explicou que as figuras representadas pelo grafiteiro eram mais exageradas, coloridas e às vezes chamavam a atenção para algum problema da sociedade ou um sentimento do artista. Disse que também é comum usarem 17
diferentes tipos de letras, bem feitas, para escreverem as frases e falou que eles sempre usam tinta spray. Durante a explicação todos ficaram em silêncio, prestando atenção. A proposta da professora foi que cada um fizesse um desenho no estilo do Grafite, e mostrou mais um exemplo que era um trabalho pronto feito por um aluno do ano passado. Também desenhou no quadro para mostrar como deveriam ocupar a folha, pois primeiro eles deveriam dividir a folha para fazer um muro e nele desenhar o Grafite. Afirmou que o trabalho poderia ser figurativo ou usar como exemplo as letras. Pediu que cada um escolhesse uma das imagens, sendo que nenhuma era grafite, que ele colocou no quadro para que copiassem e os alunos começaram a desenhar. Alguns alunos desenharam no caderno escolar de desenho, que a professora solicita no início do ano letivo, e outros no caderno escolar, porque ainda não haviam comprado ou esquecido em casa. A professora saiu por um momento para buscar uma pasta com trabalho de outros alunos para que eles copiassem e alguns alunos levantaram da classe e começaram algumas provocações com as alunas do fundo da sala. Quando a professora voltou todos se calaram e continuaram a tarefa e ela escreveu no quadro alguns exemplos de vocabulários do Grafite, como toy (iniciante no Grafite), tag (assinatura de quem fez o grafite) e spot (lugar onde é feito o Grafite). Muitos alunos pegaram as folhas que a professora deu com os exemplos de letras de Grafite e colocaram por baixo da folha do caderno para copiar e a professora Rosângela pediu que fizessem o desenho à mão livre e criassem algo diferente. Três alunos ainda não haviam começado a tarefa e quando a professora chamou a atenção eles começaram a procurar o material para matar o tempo. Dois destes alunos iniciaram o trabalho e o outro continuou enrolando e pediu ajuda para a professora. Depois continuou parado olhando para as paredes. A professora passou de classe em classe para ver quem havia terminado o desenho da semana passada, que tinha como tema as profissões. Uma aluna mostrou como o seu trabalho estava ficando para a turma toda e uma aluna comentou: “isso não foi tu quem fez, tu não tem capacidade para isso”. Outra aluna pediu ajuda para fazer o efeito de sombra, pois havia esquecido. As duas alunas sentadas do meu lado que estavam trançando os cabelos fizeram desenhos idênticos, que era um coração amarelo 18
escorrendo num muro branco com contornos pretos, iguais à um dos exemplos que a professora colocou no quadro. Todos usaram muito a régua para desenhar. Alguns alunos reclamaram que não sabiam desenhar. Meninas de outra turma bateram na porta e pediram pra falar com um aluno da turma 111. Este aluno falou um pouco, fechou a porta e voltou para sua classe e as meninas começaram a gritar e bater nas janelas e a professora chamou a atenção do aluno e as meninas ouviram e foram embora. Bateu o sinal, a professora pediu que terminassem o trabalho em casa e trouxessem na próxima aula para apresentar. Neste momento, os alunos do 1º ano ficaram muito ansiosos para sair. Esperei que todos os alunos saíssem, me despedi da professora e sai.
1.2.2. 2ª Observação Silenciosa Ensino Médio Data: 19 de março Horário: 13h às 13h50min
No caminho, encontrei com a professora Rosângela e fomos juntas para a sala da turma 111. Ela me explicou que os horários mudaram e que agora a aula de Artes serão sempre no segundo período. Quatro alunos estavam em suas classes, alguns escrevendo e outros terminando o desenho da semana passada. O restante voltou pra sala uns minutos depois, pois estavam no banheiro ou tomando água. A professora começou a aula às 14h, perguntando se todos haviam acabado o trabalho da semana passada, que era desenhar um muro na folha e nele fazer um grafite. Depois passou nas classes para ver os trabalhos prontos. Alguns alunos aproveitaram este tempo para ver os desenhos dos colegas. Quando a professora acabou de ver todos os trabalhos pediu que os alunos que não conseguiram terminar o desenho em casa acabassem hoje e quem já estava pronto iria ganhar um pedaço retangular de papel cartona grande para fazer um novo grafite, ou refazer o do caderno.
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Ela avisou que na próxima semana vai trazer tintas guache e pincéis e pediu que eles se lembrassem de trazer alguns pincéis de casa, pois não teria o suficiente para todos. Também pediu que eles contribuíssem com R$ 0,50 para comprar as tintas, pois ela já havia comprado as cartonas sozinha. Um dos alunos falou em voz alta que não vai ajudar, pois é muito caro e ele já tinha gastando bastante comprando material escolar. Exatamente como na semana passada, a professora mostrou exemplos de como eles deveriam fazer o trabalho, que eram os grafites feitos pelos alunos da turma 111 do ano passado. Mostrou cada um e os pendurou no quadro negro. Depois de verem os trabalhos, os alunos comentaram que todos são muito parecidos, então a professora mostrou a folha com uma imagem impressa que os alunos do ano passado tinham usado de modelo. Então, a turma se organizou em duplas e trios para desenhar o grafite na folha e alguns alunos reclamaram que não sabiam desenhar. Enquanto isso, as duas meninas que desenharam corações amarelos na semana passada formaram uma dupla e já tinham começado a desenhar. A professora trouxe formas de letras para que eles contornassem e um aluno sentou do lado da mesa da professora para que ela o ajudasse. Percebi que os dois alunos que estavam desenhando individualmente estavam bem mais concentrados, assim como as duplas de meninas. Apenas os dois alunos, que sentam no fundo da sala, são menos concentrados, conversam mais e procuram desculpas para saírem da sala e, quando fazem o trabalho, sempre um faz mais do que o outro que fica conversando. Em um determinado momento, um aluno levantou a voz para falar com o colega que estava no outro lado da sala, enquanto o colega da sua dupla fazia o desenho sozinho. A professora pediu para ele sentar, mas eles não ouviram e começaram a jogar uma borracha de um lado para o outro da sala e acertaram a classe em que eu estava sentada, bem em cima do meu caderno. Os dois alunos se mostraram envergonhados, pediram desculpas e depois foram contar o que aconteceu para a professora, que estava auxiliando um aluno e não havia visto. Ela repreendeu os dois e disse que eles não estavam se comportando como alunos de ensino médio. Depois de ver como os desenhos estavam ficando, a professora explicou que eles podem criar um tema para os seus grafites e o aluno Vinicius aproveitou para reclamar
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do colega que escreveu seu nome errado e deu um chute no colega, que achou graça e a professora os ignorou. Percebi que as três duplas de meninas estavam dividindo o trabalho, enquanto uma desenhava o muro a outra desenhava o grafite. Nas duplas geralmente é apenas um que desenha. Um trio de alunos levou o trabalho até a professora e ela esta desenhando alguma coisa, corrigindo algum erro. Quando eu me levantei e passei nas classes para ver os desenhos, vi que todas as duplas estavam usando uma daquelas imagens impressas que a professora trouxe na primeira aula em que explicou o que é grafite. Todos estavam fazendo desenhos de observação, alguns muito fiéis ao modelo, que acabaram se tornando cópias. Uma dupla fez um skatista em que a proporção do corpo que ficou muito boa, porém observei que ele usou régua pra desenhar os murros, assim como o restante da turma. Mas apesar dessa insegurança que eles tem por usarem demais a régua e a borracha, todos são muito bons em observar e desenhar as formas. Faltando dez minutos para o encerramento da aula, a professora repetiu que semana que vem eles vão começar a pintar. Os alunos continuaram desenhando e, quando a professora perguntou o que eles tinham depois da aula de artes, um aluno respondeu que teriam Ensino Religioso e começaram uma conversa sobre a professora. Quando o sinal tocou, a professora recolheu os trabalhos dos alunos e disse que ela traria na aula que vem para garantir que eles não esqueçam em casa nem amassassem no caminho. Enquanto isso, eu fui me despedir da professora e ela me lembrou que a turma 63, que eu irei observar na quarta-feira, terá aula no primeiro período. Eu agradeci, pois a diretora havia se esquecido de me informar que o horário desta turma também tinha mudado. Nos despedimos, ela continuou se organizando, eu sai da sala e me despedi de alguns alunos no caminho.
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1.2.3. 3ª Observação Silenciosa Ensino Médio Data: 26 de março Horário: 13h às 13h50min
Ao chegar à escola, encontrei com a professora Rosângela quando ela saia da sala dos professores com os materiais de pintura que trouxe para os alunos, e fomos conversando até a sala da turma 111, que estava vazia. Ela depositou os materiais na sua mesa e depois distribui nas classes da frente. Enquanto fazia isso, ela me perguntou quando eu começaria a dar aula pra eles e eu respondi que seria no segundo semestre, mas que não sei ao certo qual dia que começo, mas que avisarei. Quando ela me perguntou quantas aulas seriam e eu respondi que são 12, ela fez a conta de quantos meses aproximadamente levará e quis saber quando eu me formo. Quando os alunos chegaram, pois eles têm aula de informática antes do período de artes, ela avisou que na aula de hoje eles deveriam pintar com as tintas guache os desenhos com o tema grafite da aula passada. A professora trouxe as tintas, pincéis, jornais e potes de margarina. Dois alunos vieram conversar comigo, pois queriam saber o que eu fico escrevendo o tempo todo e eu respondi que eu preciso escrever tudo o que acontece na sala, e eles me disseram que eu sou uma X9, que eu acredito que seja uma gíria para dizer que alguém é fofoqueiro, e eu expliquei que não é a professora deles quem vai ler. A professora explicou que eles devem pegar uma colher de chá de cada cor pra evitar o desperdício de tinta, pediu para alguns deles encherem os potes de margarina com água e que forrassem as mesas com os jornais velhos que ela trouxe. Eles se levantaram e foram pegar seus trabalhos, tintas e pincéis. Um grupo pediu se eles poderiam acabar alguns detalhes do desenho que não conseguiram na semana passada e ela deixou. Voltaram com todos os potinhos cheios de água e começaram a pintar. Todos estavam quietos, mas observei que na maioria dos grupos é apenas um aluno que pinta, enquanto os outros ficam conversando e provocando os colegas. Quando a professora 22
chamou a atenção para esse fato, um aluno que não estava fazendo nada disse que como ele fez a parte mais difícil que é desenhar, o colega deveria pintar sozinho sem reclamar e ela não discutiu. Um aluno pendurou o jornal no pescoço como se fosse um babador e alguns o imitaram. Quando eles pediram cores de tinta que a professora não tinha, ela explicou que eles deveriam misturar as tintas para formar novas cores. Percebi que a turma gosta de trabalhar com tinta. O grupo de meninos se sujou com tinta e tiraram fotos. Disseram que depois do período de Artes eles têm aula de Ensino Religioso e a professora disse que cinco minutos antes de terminar a aula eles devem ajudar a guardar os materiais. Na maioria dos grupos todos os alunos estão desenhando, exceto o grupo dos meninos do fundo da sala. A professora passou em alguns grupos para dizer que eles devem pintar sempre no mesmo sentido. Alguém comentou algum acontecimento da aula anterior a Artes, que é informática. Observei que os alunos usam a tinta pura para pintar, não sabem misturá-las para conseguir as diferentes tonalidades da cor. Suas pinturas são chapadas, não sabem como dar ilusão de volume e profundidade. Depois, alguns alunos começaram a reclamar que estavam cansados e pararam de pintar e ficaram conversando com a professora, dizendo que tinham visto ela no centro e perguntaram qual era o modelo do carro dela e se era o seu marido quem a estava acompanhando. Depois pediram para ela se poderiam ir ao banheiro e de tanto insistir ela cedeu, dizendo: “vai passear”. Antes de a aula acabar, eu passei para ver como estavam ficando os trabalhos e percebi que alguns são mais elaborados do que os outros
1.2.4. 4ª Observação Silenciosa Ensino Médio Data: 02 de Abril Horário: 13h às 13h50min 23
Cheguei à escola e fui ao encontro da Rosângela, que estava na sala dos professores. Cumprimentei-a e fui sentar no banco do corredor para esperá-la. Entramos na sala juntas e os alunos ainda não tinham chegado. Eu me sentei uma classe no fundo da sala enquanto ela distribuiu os materiais nas mesas da frente. Quando os alunos chegaram, ela explicou que não conseguiu encontrar tinta vermelha e entregou os trabalhos, que eles começaram a pintar imediatamente. Seis alunos ainda não haviam começado a pintura e a professora explicou a eles que quando fossem buscar tinta deveriam ter cuidado para que não derramasse, pois alguns colegas haviam sujado a mesa. Então, um aluno comentou que isso era “caozada” e que era “bocabertisse” deles. A professora saiu para buscar água para encher os potinhos e um aluno começou a jogar papeizinhos na colega do outro lado da sala. A dupla de meninas sentadas do meu lado pintou uma guitarra e a palavra Rock. Elas estavam bem adiantadas, pois estavam concentradas enquanto o trio de meninos bagunceiros ainda estava pintando o fundo de branco sendo que apenas um deles estava pintando e os outros estavam passeando pela sala. Outra dupla de meninas pintou um bonequinho verde e roxo e algumas palavras que eu não consegui ler de onde eu estava. Quando a professora voltou, aquele trio de alunos conversava em voz alta e repetiam um pro outro “eu defendo meus parça”, “bota pressão”. Ela pediu silêncio para fazer a chamada e pediu para que eles informassem quais são os colegas que não comparecem às aulas de Artes porque trabalham, pois esses alunos estudam no turno da manhã e, devido ao ensino politécnico eles têm aula um dia inteiro uma vez por semana. Uma aluna que não estava nas aulas anteriores está começando a desenhar. As outras alunas que estavam pintando uma guitarra já estavam prontas e foram conversar com as meninas que estão desenhando no outro lado da sala. A professora está ajudando uma dupla a pintar os contornos do muro. Alguns alunos que terminaram foram lavar as mãos. El avisou que na semana que vem eles irão finalizar a pintura. Uma aluna que fez o trabalho individual produziu uma pintura bem feita.
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Um aluno perguntou para mim se eu iria observar outra turma ainda hoje e eu respondi que não. Depois, este mesmo aluno questionou se eu iria anotar o que ele disse, e eu respondi que não. A professora saiu da sala para buscar os alunos que fugiram e disse para os quatro que eles eram o grupo com mais gente e menos serviço. Enquanto isso um aluno desenhou no quadro uma garrafa e escreveu pinga em cima dela. Isso fez com que toda turma explodisse em gargalhada. Alguns minutos antes de terminar a aula, eles começaram a guardar os materiais e quando o sinal tocou, eles ainda continuavam ajudando a professora e eu me despedi e saí.
1.2.5. 5ª Observação Silenciosa Ensino Médio Data: 09 de Abril Horário: 13h às 13h50min
Logo quando cheguei à escola, encontrei com a professora Rosângela e fomos para a sala da turma 112. Lá eu expliquei que eu precisava que ela e os alunos respondessem um questionário nesta aula e pedi que ela decidisse qual o momento mais apropriado para aplicá-lo. Então, ela respondeu que preferia que eles respondessem no início da aula. Os alunos ainda não haviam chegado, pois eles tinham aula na sala deles, no outro prédio. Quando entraram na sala estavam conversando alto e começaram a arrastar classes para formar as mesmas duplas das semanas anteriores. A professora esperou que eles se organizassem nas classes e pediu silêncio para a chamada. Quando acabou, explicou que eu iria entregar para eles uma folha com perguntas para eles responderem e pediu que eu as entregasse. Conforme eu fui entregando, eles a questionaram a professora sobre as questões e se poderiam responder a caneta ou lápis e eu respondi. Quando voltei para minha classe para esperar que eles respondessem, eles começaram e chamar a professora para esclarecer as dúvidas sobre o questionário. Senti 25
que quem deveria explicar era eu, mas como eles perguntaram para ela, que estava respondendo, eu não quis interromper. Ao chegarem à última pergunta a professora não soube responder e, depois de um tempo ela veio perguntar para mim, e eu expliquei. Então ela repetiu minha explicação para a turma. Conforme foram acabando eles entregavam as folhas para mim e quando todos terminaram, a professora disse que eles deveriam pegar as tintas e pincéis para acabar o trabalho sobre grafite, alguns estavam bem adiantados. Nesta aula eu mudei de classe, pois até agora eu havia sempre sentado mesmo no lugar. Durante a aula, como nas anteriores, o grupo de meninos passou mais tempo passeando pela sala do que pintando. Estão sempre entre cinco e apenas um que faz a tarefa ou, às vezes, reveza com outro. Já as meninas, sendo duplas ou trios, sempre se mostraram mais concentradas, mesmo conversando estavam pintando. Uma dessas duplas havia pintado uma guitarra e um microfone já estavam prontas e continuaram sentadas em suas classes, conversando em voz baixa. Outra dupla, que havia acabado, mostrou o trabalho para a professora, que mandou que eles contornassem as figuras com canetinha preta. Em alguns momentos, a professora foi auxiliar o grupo de meninos sem que eles chamassem e, enquanto ela ficou lá eles se empenharam no trabalho e mantiveram uma conversa com ela. Quando ela saiu, eles começaram a conversar com a dupla de meninas, que estavam pintando os três monstrinhos. Eles perguntaram por que elas escolheram pintar esses bichinhos e elas responderam que eles não precisavam saber e que eram só bichinhas. Quando os outros meninos ouviram esta última palavra começaram a rir alto. Enquanto a professora ajudava os alunos que não haviam acabado, os que estavam prontos começaram a bagunçar, pois não tinham atividade para fazer. Ela pediu silêncio e avisou que na semana que vem eles ainda irão continuar a pintura e quem acabou vai ter que respeitar quem ainda vai pintar. Alguns alunos, aproximadamente oito, estão sem atividade e circulando pela sala e conversando algo sobre o Big Brother. Depois de um tempo, alguns deles já estavam na porta com as mochilas esperando o sinal para o terceiro período tocar, mas a professora viu e os chamou de volta para ajudá-la com os materiais que eles também haviam usado. Estes alunos foram levar os materiais para a sala dos professores e os
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alunos que ficaram na sala estavam sentados, alguns conversando baixo e outros cochichando. Quando uma aluna voltou com os pincéis limpos, a professora começou a organizar o restante do seu material para sair. Depois de reunir os materiais, a professora saiu e eu, assim como os alunos, eu a acompanhei.
1.2.6. 6ª Observação Silenciosa Ensino Médio Data: 16 de Abril Horário: 13h às 13h50min
Encontrei a professora no corredor, ela me informou que os horários não haviam mudado. Perguntou se esta era a última observação e eu respondi que sim. Entramos na sala para esperar os alunos chegarem. Enquanto eles se organizavam nas classes, a professora me entregou seu questionário respondido. Ela pediu silêncio para fazer a chamada e mandou que eles se apressassem mais para não chegarem à sala atrasados, pois eles vêm do outro prédio. Enquanto fazia a chamada mais quatro alunos chegaram. Falou sobre como é feita a avaliação e lembrou que na primeira aula ela havia explicado que tudo o que é feito por eles será avaliado. Perguntou se todos consideraram o trabalho sobre grafite pronto, pois eles levaram cinco aulas fazendo. Três duplas avisaram que precisavam finalizar o trabalho, então eles pegaram tintas e canetas pretas, pois a professora pediu que contornassem. Percebi que duas meninas fugiram dos exemplos e imagens dados pela professora e não fizeram muros para desenhar o grafite. Estavam todos atentos à professora quando a senhora da limpeza começou a limpar os vidros das janelas com um esfregão, o que eles, por algum motivo que eu não entendi, acharam engraçado. A professora pediu para todos trazerem réguas na semana que vem e escreveu no quadro a palavra bidimensional e tridimensional. Disse que vão mudar completamente o que eles
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estavam fazendo até agora. Ela percebeu que eles gostaram bastante de usar tintas e eles confirmaram. Então ela disse que irá fazer mais atividades parecidas com essa. Ressaltou que já havia explicado para eles no ano passado que é o bidimensional e tridimensional. Mostrou um cubo branco para usar como exemplo tridimensional e avisou que, a partir da semana que vem, vão fazer desenhos de perspectiva com lápis no caderno de desenho, mas que hoje apenas iam treinar um pouco. Mandou-os desenharem pelo menos duas figuras bidimensionais nesta aula. Alguns estavam fazendo os últimos detalhes no trabalho sobre grafite, enquanto o restante desenhava as figuras bidimensionais como foi pedido. Alguns estavam circulando pela sala para conversar e pedir materiais emprestados. Depois todos ficaram concentrados, apenas os meninos do fundo, que conversavam um pouco, comentaram que desejavam que as férias chegassem rápido. Depois, estes alunos pediram para ir ao banheiro, mas ela só permitiu que saísse um de cada vez. Uma menina desenhou dois roupeiros e levou na mesa da professora para que ela corrigisse. Quando faltavam cinco minutos para acabar a aula, os alunos que haviam acabado a atividade estavam impacientes e se levantaram para ficar ao lado da porta. A professora chamou de volta e mandou que eles sentassem em silêncio, enquanto isso uma aluna estava desenhando no quadro negro. Quando o sinal tocou, a maioria dos alunos saiu apressados da sala e outros foram receber a outra professora. Me despedi e sai.
1.2.3. Análise das observações silenciosas
A professora sempre começou as aulas perguntando algo relacionado com o tema que irá trabalhar na aula em questão, explica um pouco o conteúdo sem se aprofundar e pede que produzam algum desenho, mas antes faz um rascunho no quadro de como deve ser feito ou traz um trabalho de um aluno do ano passado para que 28
copiem, mas pede que mudem alguns detalhes. Acredito que o fato dela trazer um trabalho pronto de um aluno do ano passado signifique que ela segue sempre o mesmo roteiro em suas aulas. “Em muitos casos, os professores copiam ou fazem cópia do plano anterior e o entrega a secretaria da escola, com a sensação de mais uma atividade burocrática.” (FUSARI, 2008, p. 45). A professora deixa a desejar por não aprofundar o assunto, pois ela poderia ter utilizado artistas do grafite que estão em evidência atualmente. Por isso, conclui que o objetivo dela é que os alunos produzam muito, mas repetindo um padrão, o que faz com que eles apenas copiem, deixando de criar e ousar em seus trabalhos. “A produção de arte faz a criança pensar inteligentemente acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca.” (BARBOSA, 2005, p. 34). Quanto às imagens utilizadas pela professora, acho que ela as retira de sites pouco confiáveis, pois algumas nem sequer eram imagens de grafite, pareciam ter sido feitas no Paint. A duas imagens que realmente se tratavam de grafites eram obras dos grafiteiros brasileiros, Os Gêmeos, mas ela nem sequer mencionou o nome deles, nem o das obras. As imagens eram impressas em folhas de ofício tamanho A4, a qualidade era boa. Quanto aos alunos, apesar que estarem atentos à aulas, fazendo os trabalhos com empenho, se mostravam desanimados com as aulas de Artes, pois faziam os trabalhos automaticamente. Como a própria professora disse, eles só se dedicam mais quando sabem que o trabalho vale nota ou que será exposto. Geralmente, eles terminam os trabalhos de qualquer jeito para terem tempo de conversar ou estudar para outra disciplina. O que falta nas aulas da turma 112 é trabalhar mais a história da arte, a leitura de imagens e desafiar os alunos na hora de produzir os trabalhos, pois quando ela mostra um modelo pronto faz com que eles, automaticamente, tentem fazer uma cópia daquilo que viram. Este fato me fez ligar as aulas da professora Rosângela com a tendência da escola tradicional, em que os alunos reproduziam modelos propostos pelo professor. Segundo Iavelberg, (2003, pág. 111) “a aprendizagem era repetitiva e mecânica, com praticas de repetição, exercício da vista, da mão, da memória e do senso moral, o
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currículo era estruturado sem vínculo com a realidade social dos alunos, não leva em consideração as diferenças individuais.”
1.1.4. Análise do questionário respondido pela professora
Segundo o questionário respondido pela professora titular Rosângela, ela é formada em Educação Artística na FEEVALE e afirma ter um plano de trabalho para as aulas de Artes e que os conteúdos que vem sendo trabalhados são profissões relacionadas à arte, relação da arte rupestre com a contemporânea, que ela trabalhou no primeiro ano. Quanto às técnicas artísticas que os alunos já trabalharam, ela respondeu que eles apenas conhecem pintura com tinta guache e lápis de cor e lápis 6b. Afirmou que os conteúdos trabalhados incluem o conhecimento de artistas de diferentes períodos da história da arte, mas não foi o que eu percebi nas aulas, pois na maioria dos encontros observados ela não citou nomes de artistas.
1.2.5. Análise dos questionários respondidos pelos alunos
Na primeira questão, que era sobre a idade dos alunos, a maioria respondeu que tem 15 anos e predomina o sexo masculino. Quando perguntados sobre os materiais mais usados nas aulas de Artes, afirmaram que usam lápis, canetinhas, borracha, régua, tinta e pincéis. Todos responderam que sabem desenhar, mas nas aulas que observei muitos deles disseram para a professora que não sabem. Quanto ao que eles gostariam de aprender nas aulas de artes, a maioria quer aprender pintura e desenho. Talvez eles não tenham escolhido as outras opções, como a escultura, porque elas não são trabalhadas em aula. A maioria respondeu estar familiarizados com os períodos da história da arte. 30
Quando perguntados se acham importante a disciplina de Artes, a maior parte dos alunos disse que sim e que conhecem uma obra de arte ou artista. Os que disseram conhecer citaram artistas como Romero Brito, Tarsila do Amaral e Portinari. Na questão sobre imagens, a maior parte dos alunos disse que são trabalhadas imagens nas aulas. A maioria dos alunos respondeu que preferem aulas práticas. Quando perguntados se eles acham que as aulas de Artes são técnicas ou estudo de obras de artes, a maioria respondeu ser apenas técnicas, fato que condiz com as observações silenciosas, pois a parte teórica é muito superficial e eles não dão importância. Na última questão, perguntei se eles gostavam das aulas de Artes e a maioria disse gostar.
1.6. Motivos da definição do tema de pesquisa em Artes Visuais
Depois de tudo que percebi durante as observações silenciosas, como a falta de interesse pelas aulas de Artes, defini como tema de pesquisa em Artes Visuais a ser trabalhado é Figura Humana. Dentre os motivos da minha escolha, saliento o fato de ser um tema pouco trabalhado nas Aulas de artes. Também, por ser algo do meu interesse, como acadêmica desde o primeiro semestre e pelo fato de que, ao observar as representações que o homem fez da figura humana ao longo do tempo, os alunos tem a oportunidade de usar a percepção, como também conhecer as concepções sobre o tema no universo simbólico e representativo dos movimentos artísticos trabalhados. Portanto, ao estudar a influência das diversas concepções de arte na representação da figura humana ao longo da história da arte, busquei construir um percurso de representação da figura humana a partir da abordagem de artistas que desenvolveram um olhar diferenciado para o tema, seguindo uma linha em que a figura humana começa sendo representada com realismo no Renascimento, passando por um processo de desconstrução, depois de fragmentação, até que deixa a superfície
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bidimensional e para tomar como suporte o pr贸prio corpo, que se torna o objeto art铆stico.
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2. O Olhar da Arte para a Figura Humana.
O corpo é a nossa presença no mundo, ocupa um lugar no espaço e com o passar dos anos se modifica, o que o torna a prova de nossa existência. Já a figura humana é a representação do corpo. Segundo Edith Derdyk, (1990, p. 29) “o corpo é. A figura representa. O corpo é o ente físico e palpável, o órgão da nossa atenção e intenção. A figura humana pertence ao universo simbólico e representativo.” Entende-se por universo representativo o ato de figurar, de reproduzir uma imagem. O universo simbólico é o sinal ou objeto material que representa qualquer coisa imaterial. Ao longo da história o homem sempre fez representações de si mesmo, em que podemos entender como ele se percebeu em diferentes momentos, revelando que sempre possuiu a necessidade de se expressar, deixar sua marca no mundo. Segundo Edith Derdyk, (1990, p. 12) “observar as diversas notações gráficas que o homem fez de si mesmo ao longo dos tempos, como se fossem páginas de um diário, nos projeta para um breve contato com todos os „eus‟ introjetados pelo palco do mundo.” Em cada época há uma forma de representar a figura humana, que está ligada a circunstâncias, condições e a relação do homem com o corpo. Portanto, o objetivo da pesquisa é estudar o tema da figura humana, analisar as obras produzidas por artistas do Renascimento, da arte moderna e contemporânea, períodos nos quais houve grandes modificações no modo de representar este tema, sendo que o corpo humano sempre foi o mesmo, o que mudou foi a percepção deste corpo a partir das diferentes concepções de arte. Interessa-me nesse trabalho construir um olhar para a representação da figura humana na arte, destacando os olhares da arte renascentista, moderna e contemporânea.
2.1. A transição da representação da figura humana para o Renascimento.
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Durante a Idade Média, a arte foi marcada por uma forte influência da Igreja Católica, que tinha poder sobre os aspectos culturais e religiosos. Foi o cristianismo que confiou ao corpo a responsabilidade pelo espírito e a renúncia ao prazer, a dor física e o sacrifício da carne que se tornaram necessários para engrandecer o indivíduo, tornandoo digno de Deus. Assim, o tema da religião cristã foi frequente na arte medieval. Enquanto outras crenças giravam em torno de figuras imaginárias, o cristianismo possuía um fundador, que era um sujeito de personalidade bem definida, que atraiu os povos fracos e oprimidos, mais receptivos a esta nova doutrina que difundiu uma nova moral e virtudes como a humildade, ternura e amor aos próprios inimigos. O modo com que a figura humana é tratada nesta época está de acordo com o fundamento do cristianismo, que enaltece o espírito e prega o desapego a matéria. Portanto, a arte é da Igreja e não do artista. "Nesse período, a beleza física não era cultuada e qualquer coisa que evocasse a libido deveria ser censurada." (PIRES, 2005, p. 35).
A arte medieval ganhou função de passar as pessoas analfabetas os
ensinamentos sobre a história da religião cristã.
Cruxificação,Giotto (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Crucifica%C3%A7%C3%A3o_de_Jesus )
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Somente no Renascimento é que a figura humana pode voltar a sua essência, pois a arte se soltou de suas amarras com a Igreja e passou a ser vista como algo do espírito e inteligência, não como uma atividade mecânica. Esse fato se deve ao crescimento comercial e urbano, na Itália, que formou uma burguesia possuidora de uma nova visão de mundo, que se apoiava no individualismo, otimismo, naturalismo, interesse pela antiguidade greco-romana e, principalmente, pelo ser humano. Por isso, o homem passou dar valor a si mesmo como indivíduo, buscando uma nova divisão entre religião e ciência. A figura humana passou a ser representada por artistas que tinham a concepção clássica de belo, harmonia e simetria. Estudavam a anatomia e redescobriam a beleza masculina e feminina, que havia sido esquecida durante a Idade Média. A arte do período do Renascimento enaltecia as glórias do passado distante e desprezava o passado recente da Idade Média. Na pintura, os artistas começaram a usar tinta óleo e telas, criar volumes através do uso do claro e escuro, da perspectiva e do realismo. Tudo isso fez com que os artistas começassem ter um estilo pessoal em suas obras diferenciando-os dos demais, o que resultou em um ideal intelectual e no individualismo, ambos característicos do Renascimento. Esses artistas buscavam desenvolver a figura humana reproduzindo a realidade, submetida a uma beleza idealizada. Isto pode ser visto nas obras de dois artistas deste período, que são Leonardo Da Vinci (1452-1519) e Michelangelo (1475-1564). Os dois buscaram estudar todos os componentes do corpo que originam os movimentos para representar melhor a figura humana. Para isso, estudaram o interior do corpo, a anatomia, através da técnica da dissecação de cadáveres. Na obra Mona Lisa, Da Vinci retratou uma mulher comum, sustentando a idéia de ternura maternal, feminilidade, alcançando um grau de perfeição que pareceu um milagre aos contemporâneos do artista. Segundo Janson, “os traços são demasiado individuais para que Leonardo tenha apenas representado um tipo ideal, no entanto o elemento de idealização é tão forte que esconde o caráter do modelo” (JANSON, 2007, pág. 641).
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Leonardo empenhava-se muito em estudar a anatomia, e criou a técnica do “sfumato”, que consiste em não pintar linhas de demarcação nas formas, mas criar um efeito de claro e escuro que permita uma passagem sutil de uma cor para a outra e, na obra Mona Lisa, o artista utiliza todas as descobertas renascentistas de anatomia, composição e perspectiva. Ele transita no claro e no escuro para dar volume ao rosto e usa o sfumato nos limites e nas curvas da face, que esfumaça com tonalidades mais escuras. “Se voltarmos agora a “Mona Lisa”, podemos entender algo de seu misterioso efeito. Vemos que Leonardo empregou o seu sfumato com suprema deliberação. Quem tiver alguma vez tentado desenhar ou rabiscar um rosto sabe que aquilo a que chamamos expressão repousa principalmente em duas características: os cantos da boca e os cantos dos olhos. Ora, foram justamente essas partes as que Leonardo deixou deliberadamente indistintas fazendo com que se esfumassem num sombreado suave. Por isso é que nunca estamos muito certos quanto ao estado de espírito realmente refletido na expressão com que a Mona Lisa nos olha. Sua expressão parece ser sempre esquiva.” (GOMBRICH, 1979, p. 228)
Mona Lisa, Leonardo Da Vinci, 1500 (Fonte: www.muraldoantena.com.br)
Em tratando da escultura, os artistas mantinham a proporção da figura com relação à realidade, usavam a profundidade e perspectiva, estudavam o corpo humano 37
estando sempre atentos a pesquisas técnicas e exploração dos processos artísticos, tornando as esculturas muito realistas. Podemos perceber tudo isso nas esculturas de Michelangelo (1475-1564), que foi além escultor, pintor, poeta e arquiteto. Michelangelo possuía uma forte influência da antiguidade greco-romana, principalmente em sua obra denominada Davi, que ele esculpiu em pedra de mármore branco. Segundo Janson (2007, pág. 648), “Michelangelo acabara de passar alguns anos em Roma, onde os corpos musculosos, frementes de emoção da escultura helenística o tinham impressionado profundamente.” É possível perceber nesta obra a idealização grega da figura humana, pois a cabeça de Davi é desproporcional, como também, é sem vida e frio. Portanto, com esses dois artistas Renascentistas compreendemos que houve um aperfeiçoamento da pintura e escultura, a criação de novos métodos de projetar e desenvolver as suas próprias imagens, sempre conseguindo em cada uma delas grandes resultados. Isso fez com que a figura humana fosse trabalhada com mais aprimoramento, pois os artistas voltaram-se ao corpo humano, o ideal humanista, tentando encontrar harmonia de formas e beleza, voltando aos moldes clássicos da Antiguidade, o rigor científico e racionalidade. Assim, ao estudar a anatomia humana redescobriram a beleza
masculina e feminina e, em suas obras, executaram a figura humana reproduzindo a realidade, submetida a uma beleza idealizada.
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Davi, Michelangelo, 1504 (Fonte: www. arteemerson.blogspot.com)
O estudo do Renascimento nos conduz a ideia de uma figura humana representada com proporcionalidade, uma beleza idealizada e reprodução da realidade, que pode ser encontrada em muitos outros períodos posteriores, porém não com tanta intensidade como na arte renascentista. A partir deste estudo do Renascimento pode-se observar que a representação da figura humana seguiu um caminho no qual os artistas foram acrescentando ou modificando características.
2.2. A figura humana na arte moderna.
A arte moderna, cujo maior parte dos historiadores situa o seu início na França do século XIX, foi consequência da ascensão da burguesia, que teve como resultados a indústria moderna, o mercado mundial e o livre comércio, todos impulsionados pela Revolução Industrial. Com a industrialização em curso, as novas tecnologias, como a
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fotografia, fizeram com que as artes entrassem em crise e a arte moderna é o próprio relato dessa crise. Ao contrário do Renascimento, a arte moderna rompeu com os temas clássicos, sem ter a finalidade de dar às obras a ilusão de tridimensionalidade, beleza idealizada e reprodução da realidade. Segundo consta no site Itaú Cultural, “Ao romper com os temas clássicos, a arte moderna supera as tentativas de representar ilusionisticamente um espaço tridimensional sobre um suporte plano.” Portanto, na arte moderna não era significativo representar o objeto exatamente como ele era, pois a intenção era inovar. O artista não se preocupava em fazer uma figura realista, mas sim usá-la para se expressar, colocar na obra sua subjetividade e inovação. Com isso, surgiram os movimentos ou períodos da arte moderna.
2.3. A figura humana como representação do movimento.
O impressionismo foi um termo usado para designar uma corrente pictórica que teve origem na França, entre as décadas de 1860 e 1880 e constitui um momento inaugural da arte moderna. O que caracteriza esse período é a observação da natureza através de suas impressões pessoais e visuais, em que se destaca o não contorno das formas e dos claros e escuros com pinceladas sobrepostas e fragmentadas, usando muito as cores complementares e a pintura ao ar livre. O artista Edgar Degas (1834-1917), apesar de ter feito parte deste grupo, se diferia, pois ele costumava pintar dentro de um estúdio e em suas obras, predominavam dois temas, que são as bailarinas do Ópera e mulheres banhando-se ou penteando-se.
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Aula de Balé, Degas, 1873-6 (Fonte: www.auladearte.com.br)
Degas se empenhava em registrar os movimentos rítmicos e ensaiados que as bailarinas faziam e os movimentos que já se tornavam habituais das mulheres se banhando, muitas vezes representava apenas uma parte da figura humana, fazendo um recorte para enfatizar onde esta visível o movimento do corpo. Segundo Gombrich,
Assistindo aos ensaios, Degas tinha a oportunidade de observar corpos de todos os lados, nas mais variadas atitudes. Olhando para o palco desde cima, via as bailarinas dançando ou repousando, e estudava o intrincado esforço e o efeito da iluminação de cena sobre a modelação do corpo humano. GOMBRICH,(1981, p. 343)
Sendo assim, Degas procurava representar a figura humana dentro de uma situação real e cotidiana, registrando as posições do corpo humano durante os movimentos, o que mais tarde o levou a usar a escultura para realizar composição do movimento e espaço.
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2.4. A Figura Humana expressando as emoções
Se Degas registrava em suas obras a figura humana em movimento, Edvard Munch (1863-1944), um dos representantes máximos do expressionismo buscava registrar as emoções acima de tudo e para isso transmitia em seus quadros uma angústia intensa, quase um ataque de pânico visual perante um céu sangrento que poderia simbolizar o coração desfeito, a esperança perdida e o desespero que Munch sentia, ou seja, uma situação psicológica que é uma das características do expressionismo. A pintura era subjetiva, na qual o corpo era deformado para simbolizar os sentimentos humanos, emoção vencendo a razão e isso era expresso pelos traços dramáticos e cores intensas. Já não importava representar a figura com realismo e sim, o trágico e a desgraça, tanto que os expressionistas evitavam qualquer coisa que lembrasse beleza ou aprimoramento. Segundo Gombrich, sobre a reação da sociedade para esta arte, O que perturbava o público a respeito da arte expressionista talvez seja menos o fato de a natureza ter sido distorcida do que o resultado implicar o distanciamento da beleza. Que o caricaturista mostre a fealdade do homem é um ponto pacífico, no fim das contas, esse é o objetivo de seu trabalho. Mas que pessoas que pretendem ser artistas sérios esqueçam que, se tiverem de alterar a aparência das coisas, devem idealizá-las e não desfeá-las, foi profundamente ressentido. GOMBRICH, (1981, p. 448)
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O Grito, Edvard Munch, 1893 (Fonte: www.naparededoquarto.com)
No quadro “O grito”, de Edvard Munch, há no centro uma pessoa de aspecto fantasmagórico que é o foco que arrasta o cenário. As linhas deformadas da figura parecem que são as ondas sonoras que se expandem em volta. O grito afasta qualquer ideal de beleza, pois a figura gritando com as mãos no rosto parece ter a morte pairando sobre ela. Considera-se que, Entretanto, Munch poderia ter explicado que um grito de angústia não é belo, que seria uma falta de sinceridade olhar apenas o lado agradável da vida. Pois os expressionistas sentiam tão fortemente o respeito do sofrimento humano, pobreza, violência e paixão, que estavam inclinados a pensar que a insistência na harmonia e beleza em arte somente nascera de uma recusa em ser sincero. (GOMBRICH, 1981, p. 449)
2.5. A figura humana representada em diferentes contextos.
Ao observar as obras de diferentes artistas, pode-se perceber os diferentes contextos em que a figura humana é representada, como nas obras pós-impressionistas de Vincent Van Gogh, marcadas por uma crítica social, nas obras surrealistas da artista 43
mexicana Frida Kahlo, em que o conceito de identidade é muito forte e nas obras de Edward Hopper, onde ele representa o sentimento humano de solidão. O artista Vincent Van Gogh (1853-1890) se dedicou a arte a partir de 1880, tendo uma carreira muito breve, pois morreu dez anos depois. “Com Van Gogh inicia-se o drama do artista que se sente excluído de uma sociedade que não utiliza seu trabalho, fazendo dele um desajustado, candidato à loucura e ao suicídio.” (ARGAN, 2004, p. 123). No início, ele se interessou por religião e literatura e, em razão de sua insatisfação com os valores de uma sociedade industrial, trabalhou durante alguns anos como pregador leigo em meio à miséria em que viviam os mineiros de carvão. “Naturalmente, colocava-se ao lado dos deserdados e das vítimas: os trabalhadores explorados, os camponeses dos quais a indústria tira, com a terra e o pão, o sentimento de eticidade e religiosidade do trabalho.” (ARGAN, 2004, p. 124) Este sentimento predomina nos trabalhos de Van Gogh durante o período préimpressionista (1880-1885), sendo a obra “Os Comedores de Batatas” a mais ousada e a última delas, pois em 1976 ele deixou os temas sociais. Na obra, o artista descreveu em cores sombrias a pobreza e a angústia da família de camponeses, usando cores escuras, deformando as figuras humanas, formando um quadro praticamente monocromático. Ao representar os camponeses desta forma, ele mostrou que a industrialização não trouxe apenas pobreza, mas também privou o povo da alegria, do colorido e da luminosidade da vida. Deu ênfase às batatas para mostrar que esses pudesses ser o único alimento daquelas pessoas. Segundo Guilio Carlo Argan (2004, p. 916), “para esta família de camponeses, a ceia tem um significado solene de um ritual.”
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“Os Comedores de Batatas”, Vincent Van Gogh, 1885 (Fonte: http://vanblogh12.blogspot.com.br/2012/11/os-comedores-de-batata-1885-devincent.html)
Depois da Segunda Guerra Mundial, houve um crescimento do mercado de arte americana, passando a ser os Estados Unidos o centro da cultura artística mundial. “Nasce na Europa o mito, a ideologia dos Estados Unidos, o grande país industrial onde o industrialismo não é um novo feudalismo, e sim um empreendimento coletivo de um povo jovem.” (ARGAN, 2004, p. 520). Os artistas, aos poucos, deixam os modelos europeus de lado. Neste contexto encontra-se o artista Edward Hopper (1882-1967), que é um realista que faz uma narrativa sensível das metrópoles americanas com extrema eficácia, conseguindo colocar um sentimento forte de solidão em qualquer elementos de uma rua. Na obra “Automat” encontramos este sentimento de isolamento expresso pela moça sentada sozinha e uma extrema habilidade em representar o cenário atrás dela.
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“Automat”, Hopper, 1927 (Fontehttp:www.wikipedia.org/wiki/Automat_(painting))
A artista mexicana Frida Kahlo (1907-1954), mais conhecida por seus autorretratos, deve ser lembrada pela sua dor e paixão representadas em seus quadros, através do uso de cores vibrantes e intensas. Também foi descrita como surrealista, porém não gostava deste termo, pois ela pintava sua realidade, não o seu subconsciente. Frida sofreu problemas de saúde durante toda a sua vida, muitos deles devidos ao acidente de transito que sofreu quando era adolescente que a fez passar por mais de trinta operações. Estes problemas foram retratados em suas obras, sendo que muitas delas foram feitas durante a sua convalescência. Ela pintava deitada em seu quarto, observando seu rosto em um espelho que ficava pendurado em cima de sua cama. Na obra “As Duas Fridas”, Kahlo representou o fim de seu casamento turbulento com o pintor muralista mexicano Diego Rivera, vinte anos mais velho do que ela. A Frida da esquerda, segura uma tesoura, trajada em um vestido de casamento em estilo colonial. Seu coração está partido, machucado e gotejando sangue sobre a saia branca. Já a Frida da direita veste roupas tradicionais mexicanas, representando a mulher que Diego amava, que segurava um retrato dele ainda criança e expondo o seu coração por inteiro. Assim, conforme afirma Franscina (1998, p. 85)
“Em uma série de autorretratos, Frida pintava seu próprio rosto como uma mascara e ocultava seu corpo em elaborados vestidos de Tehuana. Algumas vezes o véu cai, e seu corpo ferido vem à tona, intensificando suas feridas
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físicas reais com feridas imaginárias da castração e com o espaço concreto interior do corpo feminino.”
“As Duas Fridas”, Kahlo, 1939 (Fonte: www.estoriasdahistoria12.blogspot.com)
2.5. A fragmentação e desconstrução da Figura Humana na Contemporaneidade.
Muito artistas da atualidade se inspiram na obra de artistas clássicos ou modernos, porém eles possuem uma liberdade criativa maior. Não precisam seguir regras ou pertencer a algum movimento. Em vista disso, surgiu um questionamento constante, sobre o que é arte. Segundo afirma Jorge Coli (1995, p. 9), É possível dizer, então, que arte são certas manifestações da atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo, isto é: nossa cultura possui uma noção que denomina solidamente algumas de suas atividades e as
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privilegia. Portanto, podemos ficar tranquilos: se não conseguimos saber o que é arte, pelo menos sabemos quais coisas correspondem a essa ideia e como devemos nos comportar diante delas.
Neste contexto, a figura humana se encontra num período em que a humanidade procura corrigir as “imperfeições” vinculadas ao corpo, que ele continua sendo um tema constante, além dos avanços tecnológicos. Porém, as normas desta nova estética corporal fazem com que a ideia atual de corpo seja a de um objeto inacabado. Neste conceito de corpo como objeto inacabado, analisam-se artistas contemporâneos que desconstroem e fragmentam a figura humana, passando para o estudo da body art, na qual o próprio corpo pode ser tomado como matéria para a realização dos trabalhos. O artista contemporâneo brasileiro Walmor Corrêa representa uma figura humana inspirada em seres mitológicos e personagens fictícios muito populares, criando painéis nos quais fragmenta o corpo humano tornando-o híbrido e o estudando sua anatomia, como na obra Spiper Man. Ao representar a figura humana desta maneira, Walmor dá ao público condições para que acreditem que aquelas criaturas realmente existem. Portanto, o artista levanta algumas questões sobre mitologias e crenças, jogando com o imaginário popular.
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Spider Man, Corrêa, 2005 (Fonte: www.walmorcorrea.com.br)
Siron Franco, outro artista brasileiro, possui grande reconhecimento nacional e internacional. Suas pinturas mostram figuras que se mesclam de maneira muitas vezes impressionante, nas quais as figuras humanas e animais surgem justapostos em sua obra e que muitas vezes denuncia, chamando nossa atenção para a crueldade do ser humano, em suas relações de poder na sociedade e natureza. Suas figuras humanas chegam, até mesmo, a nos assustar, pois estão muito perto de ser um pesadelo, com suas deformações e mutilações assustadoras que nos fazem pensar em monstros ou na própria fragilidade humana. “Siron Franco criou um mundo pictórico próprio, onde suas telas e propostas estéticas são imediatamente identificadas como „Sironeanas‟, na palavra do poeta e crítico de arte Ferreira Gullar.” (MARGS, 1999, p. 13) A pintura de Siron se mostra muito humanizada, criando uma ligação com a realidade que deixamos de perceber no cotidiano ou para denunciar outras questões comuns a todos, como violência, ética e natureza.
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Na sua obra denominada O Exercício da Censura Siron fragmentou e desconstruiu a figura humana, representando-a com vários olhos no que aparenta ser um rosto. A figura humana sempre esteve presente em suas obras, mesmo que menos evidente. Se ele decidir que necessita representar uma figura mais realista ou explicita, ele o fará, como também desconstruí-la, tornando-a fragmentada se for preciso.
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O Exercício da Censura, Franco, 1984 (Fonte: www.faap.br)
2.6. A Figura Humana como Suporte para a Arte
Após a criação da action painting, por Jackson Pollock (1912-1956), o processo de criação ganhou destaque, pois o fato dele executar muitas de suas telas ao vivo diante de platéias fez as artes visuais encontrarem um caminho para as artes cênicas. Deste encontro surge a Body Art, onde o artista se torna uma obra viva, tendo o seu corpo como suporte. Isso fica mais claro depois de 1960, quando fica marcada uma 50
queda das formas tradicionais de pintura e o corpo começa a ser visto como um território. A partir deste ano também surge o Happening, uma forma de expressão artística, caracterizada pelo improviso e por não ter começo e fim. Muitas vezes o happening é usado como sinônimo da performance, porém o que os difere é que apenas no primeiro há participação do público. Neste contexto surge o brasileiro Hélio Oiticica, artista que transita entre happening e performance que começou suas manifestações mais significativas em 1965, quando ele e seu grupo de amigos, integrantes da escola de samba Mangueira, são expulsos de um museu. Então, ele fez uma manifestação coletiva com os sambistas vestidos com parangolés na frente do museu. Os parangolés, que são fruto de suas experiências com a escola de samba é realmente criado no final da década de 1960. Os parangolés ampliaram a participação do público e fez o artista deixar de criar para se tornar o incentivador.
Capa 25, Oiticica, 1973) (Fonte: www.itaucultural.org.br)
Incorporo a Revolta, Oiticica, 1967 (Fonte: www.itaucultural.org.br)
Algumas pessoas partilham a ideia de só se sentirem completas quanto adquirem marcas pessoais, em que gravam acontecimentos importantes ou emoções sentidas e que 51
devem estar registradas no corpo através da tatuagem, que foi a primeira técnica de modificação corporal aceita pela sociedade, que atinge mais superficialmente a pele e deixou de ser feita às escondidas. Sabemos que a arte possui um conjunto de termos que evocam e trazem à tona imagens e sensações do nosso inconsciente, o qual se utiliza do sonho para nos apresentar imagens e sensações mantidas no inconsciente, mesmo que de forma não tão clara. Já as técnicas utilizadas nas modificações corporais se utilizam do consciente para determinar o tipo e a forma que tais intervenções terão, como também quais as partes do corpo que serão tatuadas. Durante a Segunda Guerra mundial (1939-1944), a realidade era muito diferente, pois a tatuagem serviu como marca de exclusão social, que era feita nos indivíduos que pertenciam à raças que eram consideradas inferiores. “Ao chegar aos campos de concentração, após ser despojado de tudo o que ainda lhe permitisse manter sua identidade, o sujeito era marcado por um numero tatuado em seu antebraço. A real função desta tatuagem não era identificar o sujeito dentro do campo, mas sim identifica-lo a si próprio como pertencente à escória social.” (PIRES, 2003, p. 63)
Pensando nas formas de modificação corporal, que são as tatuagens, piercengs, e implantes, podemos afirmar que a pessoa que altera seu corpo com implantes traz para a realidade material o que antes era ilosório para ele, como figuras de histórias em quadrinho ou ficção cientifica. Quando utiliza o piercing traz um caráter sexual, pois os a área onde ele é aplicado se torna mais sensível e a tatuagem traz o caráter onírico para ser registrado na pele.
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The Enigma, Paul Laurence (Fonte: www.exileonmoanstreet.blogspot.com)
Fakir Musafar criou em 1967 o termo modern primitives para indicar os indivíduos que se utilizam de conhecimentos das sociedades antigas que praticavam modificações corporais. Nestas modificações não podemos deixar de encontrar três fatores, que são a dor, o tempo e a magia. Quanto à magia, a modificação corporal faz com que o indivíduo se sinta conectado com o universo, tornando-o diferente dos demais por algo que desfigura sua forma original. A dor é algo que estes indivíduos afirmam não sentir, pois eles atingem um estado alterado de consciência e o tempo se refere ao foto de registrar seus rituais de passagem na pele para lembrar que possuem um corpo transitório e mortal. Fakir também cita sete maneiras de modificar o corpo, chamando-as de jogos com o corpo. Entre elas estão os jogos de contorção em que modificam a forma e crescimento dos ossos, jogos de constrição, onde se comprimem com amarras, espartilhos e cordas. Também existem os jogos de privações, em que costumam passar fome e até mesmo limitam os movimentos. Os jogos de impedimento são aqueles em que usam adereços de ferro, nos jogos com fogo queimam a pele, nos de perfurações
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deitam-se em camas de pregos e nos jogos de suspensões ficam pendurados pela pele por meio de ganchos de açougueiro.
Jogos Corporais, Musafar (Fonte: http://www.bodyplay.com/fakir/)
Os jogos de suspensão, atualmente, vêm sendo utilizados em espetáculos ou rituais abertos. Na foto abaixo, Fakir é suspenso por dois ganchos que perfuram seu peito em dois lugares. A pessoa não pode ficar suspensa por mais de vinte ou trinta minutos, senão a própria pele pode se mover ao redor do pescoço, sufocando-o. Considera-se que: Os rituais/performances modernos permitem que a suspensão aconteça de várias formas. O indivíduo pode ser suspenso na horizontal, na vertical, sentado, e com quantidades variáveis de ganchos, dependendo do seu peso e do modo como deseja ser elevado. Essa flexibilidade permite que haja um aumento no tempo de duração do ritual. (PIRES, 2003 p.123)
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Jogos Corporais, Musafar (Fonte: http://www.bodyplay.com/fakir/)
Segundo Beatriz Ferreira Pires, (2003, p. 173) quanto ao motivo ou intenção de quem se submete às modificações corporais, considera-se que:
“ A body modification possibilita ao indivíduo tornar-se algo diferente de todos e de si mesmo. Tornar-se imagem. Corpo/imagem inconstante, capaz de agregar gêneros, etnias, espécies, tempos e culturas. Corpo – carne/objeto – mutante, no qual a condição de ser dá lugar à condição de estar.
Assim, percebemos como a arte deixou o suporte bidimensional para tomar o corpo como base e matéria para a arte.
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Projeto e Prática de ensino em Artes Visuais 3.1.1. Dados gerais do Projeto de Ensino
3.1.1. Título do Projeto: Os Olhares da Arte para a Figura Humana 3.1.2. Tema do Projeto: Figura Humana 3.1.3. Justificativa: a importância de trabalhar a Figura Humana esta no fato de ser um tema muito abrangente, pouco trabalhado nas aulas de artes. Portanto, observar as representações que o homem fez da figura humana ao longo do tempo dá aos alunos a oportunidade de usar a percepção, como também aprender arte, conhecendo as concepções, o universo simbólico e representativo dos movimentos artísticos trabalhados. 3.1.4. Objetivo Geral: estudar a influência das diversas concepções de arte na representação da Figura Humana, ao longo da história da arte, buscando construir um percurso de representação da Figura Humana, a partir da abordagem de artistas que desenvolveram um olhar diferenciado para o tema, começando com figura humana sendo representada com realismo no Renascimento,
passando
por
um
processo
de
desconstrução,
depois
fragmentação até que deixa o superfície bidimensional para tomar como suporte o próprio corpo, que se torna o objeto artístico.
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3.2. Prática de Ensino.
3.2.1. Primeiro Encontro. Ensino Médio Data da aula: 03/09/2013 Horário: 13h às 13h50min Tema da Aula: Introdução à Figura Humana. Objetivos:
Compreender que a Figura Humana foi um tema recorrente na história da arte, nos diferentes estilos e épocas;
Demarcar como as diferentes concepções de arte influenciaram na representação da Figura Humana;
Conteúdos: Figura Humana na história da arte. Atividade: Dinâmica em que irão desenhar a Figura Humana em conjunto. Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens. Recursos: Imagens de obras de arte impressas em folhas A3, folhas A4 em branco e lápis grafite. Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
Iniciarei a aula explicando que teremos 12 encontros juntos e que nestas aulas estudaremos os diferentes olhares da arte para a figura humana. Explicarei que o ser humano sempre possuiu a necessidade de fazer representações de si mesmo ao longo do tempo. Observando essas representações, podemos perceber como ele se via e que sempre teve a necessidade de se expressar, deixar sua marca no mundo, seja através da pintura desenho, escultura, entre outros.
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Então irei propor um desafio, no qual eles irão fazer o desenho de uma pessoa, mas que será diferente, pois farão em conjunto. Lembrarei que nos questionários que eu apliquei todos responderam que sabiam desenhar, então eles não terão problemas em desenvolver a atividade. Entregarei folhas A4 para cada aluno, pedindo que coloquem o nome atrás para depois sabermos como ficou o desenho que cada um começou. Escreverei no quadro as etapas do desenho, começando pela cabeça e depois passarão para o colega e terminarão quando a figura estiver completa. Então, cada um pegará o desenho com seu nome para vermos o resultado. Usarei um dos trabalhos como exemplo e perguntarei o que eles acharam do resultado das suas representações da figura humana. De acordo com a resposta, explicarei que em alguns períodos da história da arte estes trabalhos não seriam considerados obras de arte porque existia um padrão, mas atualmente qualquer forma de representação da figura humana pode ser considerada como arte. Irei propor que juntos observemos alguns períodos da história da arte em que houve mudanças na representação da figura humana devido às mudanças na concepção de arte. Começarei falando do Renascimento, em que as obras deveriam ser extremamente realistas e proporcionais e mostrarei as imagens das obras: “O Homem Vitruviano”, de Leonardo Da Vinci como exemplo.
Da Vince, 1503–1517 (Fonte: www.cartasdapalavra.blogspot.com)
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Explicarei que a arte foi se modificando, os artistas inovando até que chegamos à arte moderna, em que a figura humana já não é mais executada com essa preocupação com a ilusão de realidade e sim com a impressão pessoal ou a expressão dos sentimentos e intenções dos artistas ao fazer a obra. Mostrarei algumas imagens de obras de artistas deste período, como Edvard Munch, O Grito; Aula de Balé, de Edgar Degas e compararei com os trabalhos coletivos, perguntando em qual conceito de arte estes se enquadram.
Degas, 1874 (Fonte: www.antesdeparis.com.br)
Munch, 1893 (Fonte:www.cristinamello.com.br)
Por último, lançarei a questão: “atualmente, como vocês acham que é a representação da figura humana na arte contemporânea?”. Depois, explicarei que atualmente o artista tem muita liberdade de criação, pois pode ter um estilo tanto renascentista, como moderno ou mesclar os dois, pois já não há uma preocupação com a inovação como nos períodos anteriores. Mostrarei as imagens das obras de Walmor Corrêa como exemplo disto. Para concluir a aula, direi que o que faremos durante as doze aulas será estudar estes diversos olhares da arte para a figura humana, criando as suas próprias representações 60
Corrêa, 2005 (Fonte: http://www.walmorcorrea.com.br)
REALIZADO:
No início, a professora titular chamou a atenção da turma 112, que estava dispersa, e informou a todos que a partir deste dia eles teriam uma substituta. Disse que, além de professora, eu sou estudante universitária, que estou nos estágios e pediu que todos colaborassem, pois eu farei muitas atividades diferentes e que se ela pudesse até participaria. Então ela me passou a palavra e foi fazer a chamada, como nós combinamos antes da aula. Então eu reforcei a apresentação, repetindo que teremos doze aulas juntos, e que essas aulas serão importantes para todos nós, pois irei avaliá-los durante o 3º trimestre e eles irão me ajudar, colaborando com as minhas aulas do estágio. Expliquei que durante o terceiro semestre iremos estudar a figura humana e perguntei se já a haviam estudado. Como eu falei muito baixo, devido ao meu nervosismo, percebi que eles perguntavam, uns aos outros, o que eu havia dito e, por isso, acabaram falando mais alto do que eu. Como ninguém respondeu, eu me senti nervosa e decidi continuar a explicação, dizendo que o ser humano sempre possuiu a necessidade de fazer representações de si mesmo ao longo da história da arte e mostrei a primeira imagem da obra “O Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vinci. 61
Perguntei se eles já a conheciam e eles disseram que não. Então eu perguntei se eles haviam assistido ao filme O Código Da Vinci. A maioria respondeu que sim e eu lembrei que havia uma cena em que o curador do museu, que foi assassinado e antes de morrer se posicionou da mesma forma que da Vinci desenhou a Figura Humana em sua obra, dando inicio á trama do filme. Percebi que neste momento todos demonstraram interesse, pois se aproximaram para me ouvir melhor, pois eu continuei falando baixo. Voltei a discutir a obra, informando que ela tem as características do período Renascentista, ao qual pertence, que são o realismo, simetria e proporcionalidade. Lembrei de outra obra muito conhecida deste mesmo artista que reforça essas características, que é a “Mona Lisa”. Então todos afirmaram que conheciam, até a professora titular, que ficou presente na sala de aula, disse que esta foi trabalhada com eles. Passei para a segunda imagem, pedindo que observassem as diferenças e disse que era uma obra do período moderno, do artista impressionista Edgar Degas. Uma aluna comentou que esta não era tão bem desenhada e eu disse que e arte foi evoluindo, os artistas foram inovando até chegarem ao ponto no qual a ilusão de realidade não era tão importante em suas obras, e sim registrar o momento, o modo como a luz ilumina tal objeto e, no caso de Degas, registrar o corpo em movimento. Eles continuaram pedindo para que eu repetisse, pois não conseguiam me escutar. Mostrei a imagem da obra “O Grito”, de Edvard Munch, e perguntei o que eles perceberam que mudou. Desta vez ninguém respondeu e eu disse que no movimento expressionista a maior intenção era representar as emoções, nem que para isso os artistas tivessem que deformar a figura humana. Disse que eles possivelmente já haviam visto uma brincadeira que fizeram com esta obra, na qual colocaram o rosto da Lisa Simpson, personagem na animação Os Simpsons na obra O Grito e eles responderam que sim, alguns cochicharam e riram. Na última imagem, disse que a figura humana atualmente pode ser representada de qualquer forma, pois na contemporaneidade tudo pode ser considerado arte. Relacionei com a imagem impressa da obra do artista Walmor Corrêa, dizendo que ele fragmenta a figura humana, tornando-a híbrida, ou seja, metade animal, metade humana.
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Falei que agora faríamos uma atividade diferente, pois seria coletiva. Entreguei as folhas, pedindo que pegassem seus lápis grafite. Expliquei que desenhariam uma figura humana, só que eu escreveria no quadro qual parte do corpo desenhariam e que quando acabassem esta parte, passariam para outro colega que desenharia a seguinte. A atividade aconteceu tranquilamente, a maioria dos alunos a fez sem problemas, apenas o aluno William não trocou a folha nenhuma vez, porque, como me disse, estava muito feia e ninguém iria querer trocar com ele.
Trabalho do aluno William (Fonte: DORNELLES, 2013)
Observei que esta turma é bem criativa, muitos deles desenharam tatuagens na figura. A aluna Michele foi mais além e, a cada trabalho que interferiu, desenhou uma faca na figura. Cheguei a perguntar o motivo e ela me disse, sorrindo, que achou muito engraçado, mas, quando a atividade acabou e todos pegaram o trabalho que iniciaram de 63
volta, ela ficou chateada quando viu que os colegas desenharam uma saia na figura humana que ela começou. Os colegas responderam que era vingança, pois ela havia “esfaqueado” as figuras deles.
Trabalho da aluna Michele (Fonte: DORNELLES, 2013)
Eu lembrei a todos, dessa vez em voz alta, que era um desenho coletivo, então cada um poderia desenhar o que quisesse e que o desenho nunca ficariam como imaginaram no início. Eles me olharam com desconfiança, mas pararam de discutir. Como a turma realizou a atividade em pouco tempo, ficou sobrando dez minutos para o segundo período. Como eu não disse nada, a turma começou a guardar seus materiais para ir para a palestra que teriam depois da nossa aula. A professora titular, que me acompanhou durante toda a aula, me aconselhou que nas próximas eu deveria 64
planejar atividades mais demoradas, pois a turma 112 faz as atividades com muita rapidez e pouco interesse. Também me aconselhou a falar mais alto. Fiquei um pouco perdida, pois eu já havia cumprido todo o planejado. Percebi que nas próximas aulas eu deveria vir mais preparada para qualquer dificuldade que surgisse, pois segundo afirma Regina Stela Machado (2010, pág.73), comparando o ensino de artes com uma viagem, “uma bússola é extremamente útil nas mãos de alguém que sabe que está a caminho, que se sabe um viajante e que se dispõe a enfrentar obstáculos e descobertas a cada instante, porque uma determinada intenção anima cada passo e cada parada. Nas mãos de alguém que não está preparado para viajar, uma bússola é inútil.” Minha maior preocupação durante este primeiro encontro e ao idealizá-lo era cumprir o planejado, portanto, não consegui desenvolver um diálogo com os alunos, pois, como eu estava muito nervosa, apenas expliquei o planejado, que eu havia decorado com medo que cometer algum erro e não abri espaço para que os alunos pudessem expor suas opiniões. Também acabei me esquecendo de contemplar outros quesitos importantes para desenvolver uma aula completa, como analisar os alunos. Assim, considera-se que, O professor na sala de aula é primeiramente um observador de questões como: o que os alunos querem aprender, quais as suas solicitações, que materiais escolhem preferencialmente, que conhecimento têm de arte, que diferenças de níveis expressivos existem, quais os mais e os menos interessados, os que gostam de trabalhar sozinhos e em grupo, e assim por diante. A partir dessa observação constante e sistemática desse conjunto de variáveis e tendências de uma classe, o professor pode tornar-se um criador de situações de aprendizagem. (PCNs, pág. 110)
3.2.2. Segundo Encontro Ensino Médio Data da aula: 10/09/2013 Horário: 13h às 13h50min Tema da Aula: Figura Humana em tamanho natural. Objetivos:
Perceber a Figura Humana e suas proporções;
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Representar graficamente o corpo humano;
Desenvolver a imaginação ao criar personagens;
Conteúdos: Figura Humana e proporções. Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens. Atividade: Análise das obras “O Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vince e “Spider Man”, de Walmor Corrêa e desenho da Figura Humana. Recursos: papel Kraft, lápis 6b, giz de cera, tintas guache e imagens da obras O Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci e Spider Man, de Walmor Corrêa. Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
Darei início à segunda aula retomando a questão da representação da figura humana no Renascimento, discutida na aula passada, e mostrarei a imagem da obra “O Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vinci. Então explicarei o que nos ajuda a representar a figura humana com mais realismo, sem deixá-la com os braços compridos demais, ou as pernas muito curtas é o estudo das proporções do corpo humano. Segundo o dicionário Aurélio, proporção é a “relação das diferentes partes de um todo, comparadas entre si ou cada uma com o todo” e que Leonardo da Vinci foi um grande pesquisador desta questão. Ao mostrar a imagem da obra “O Homem Vitruviano”, direi que nela da Vinci descreveu algumas proporções do corpo humano. Por exemplo, que um palmo é o comprimento de quatro dedos e que, em um adulto, o corpo poderá medir entre 7,5 a 8 cabeças. Depois, mostrarei a imagem da obra “Spider Man”, de Walmor Corrêa e explicarei que apesar de ser uma obra contemporânea ela ainda possui aspectos do Renascimento por ser proporcional. Lembrarei os trabalhos feitos na aula anterior e direi que algumas delas estão proporcionais, enquanto outras não estão e discutiremos o porquê.
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Da Vince, 1503–1517 (Fonte: www.cartasdapalavra.blogspot.com)
Corrêa, 2005 (Fonte: www. walmorcorrea.com.br)
Informarei que faremos uma atividade em grupos de quatro integrantes e pedirei que eles se organizem. Explicarei a atividade, informando que irão contornar do corpo do colega na folha e depois irão criar um personagem, que pode ser real ou imaginário ou desconstruir a figura humana, tornando-a metade animal, metade humana.
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Conforme solicitado, passarei nos grupos para auxiliá-los e encerrarei a aula quando estiverem com a pintura mais adiantada, pois em um período eles não conseguirão terminá-la.
REALIZADO:
Nesta aula, percebi que alguns alunos, por iniciativa própria, se sentaram mais perto de para me ouvir melhor. Isto foi algo que eu poderia ter pedido a eles, mas não me ocorreu. Comecei a aula questionando se eles lembravam que na aula passada, na qual estudamos o Renascimento, observamos a obra O Homem Vitruviano e eu disse que ela tinha uma característica e perguntei qual era. Fiquei surpresa quando uma aluna respondeu que era a proporcionalidade, pois pensei que eles não se lembrariam da aula anterior. Então, informei que Leonardo da Vinci foi um grande pesquisador deste tema e fez várias descobertas. Depois, exibi a imagem da obra Spider Man, de Walmor Corrêa e eles disseram que gostaram mais desta do que da anterior. Expliquei que, apesar de ser uma obra contemporânea, ela lembra as obras do Renascimento por ser proporcional. Enquanto eu falava, percebi que fui perdendo a atenção deles, que começaram a conversar. Em seguida, pedi que se organizassem em grupos de quatro integrantes, passei em cada grupo para distribuir o papel Kraft e expliquei que faríamos uma figura humana em tamanho real. Para isso, um deles deitaria na folha para que os outros contornassem. Pensei que eles se recusariam a participar, mas vários quiseram deitar na folha para serem contornados, pois todos acharam divertido, tanto que perguntaram porque a professora nunca havia feito “uma coisa” tão legal como essa com eles antes. Fui passando nos grupos para observar e vi que o grupo das meninas já havia contornado metade do corpo da colega. Já o grupo misto, no qual haviam meninos e meninas, estava com dificuldades porque o colega que serviu de modelo era maior do 68
que o comprimento do papel Kraft e eu aconselhei que eles deixassem os pés um pouco de fora. No grupo dos meninos percebi que eles estavam fazendo a atividade muito depressa, com pouca dedicação e chamei a atenção deles, pois o colega que serviu de molde sentia cocegas e eles o provocavam. Quando acabaram de contornar, informei que eles deveriam medir as partes do com uma linha para que descobrissem as proporções, mas apenas um grupo o fez. Pedi a atenção deles e mostrei a imagem da obra “Spider Man”, do Walmor Corrêa e lembrei que ele é um artista contemporâneo que desconstrói a figura humana, tornando-a híbrida. Então eu disse que faríamos isto hoje e que os grupos deveriam discutir qual personagem eles criariam, poderia ser hibrido ou não. Neste momento, eles falaram mais alto, querendo expor suas ideias. Em alguns grupo foi mais fácil escolher a personalidade da Figura Humana, em outro houve pequenas discussões ate que decidiram. Como eles estavam falando muito alto, percebi que deveria chamar a atenção da turma, mas me senti intimidada pelos alunos. Então resolvi passar em um grupo de cada vez para pedir silêncio. Porém, eu sei que esta não será sempre a solução, pois haverão turmas em que precisarei ter mais autoridade, elevar o tom de voz. Assim, eles teriam a oportunidade de utilizar a criatividade, imaginar um personagem que poderia ser alguém que eles gostariam de ser, colocando um pouco da sua personalidade nele ou uma criatura que eles inventaram, sendo o oposto do modo se vêem. Pois, conforme afirma Barbosa (2012, p. 30):
É preciso ter espaço e condições que me permitam, se eu tenho quinze anos, confrontar-me com que eu sou enquanto individualidade, no momento em que eu a descubro como minha. Além da voz, que me diz o tempo todo como eu deve ser, como eu devo vestir-me, comportar-me, o que devo dizer, escolher, é preciso que me seja permitido escutar uma voz dentro de mim o que eu poderia ou gostaria de ser. É preciso, enfim, que eu possa imaginar.
O grupo dos meninos decidiu que sua figura humana se tornaria parte extraterrestre, porque o colega que serviu de modelo havia se mexido muito, por causa das cócegas e deixou o desenho tremido. 69
As meninas escolheram fazer uma figura humana sem cabeça, com sangue jorrando do pescoço, com uma faca na mão e a denominaram de suicida, pois disseram que gostam de filmes de terror e de ver o sangue jorrando. Então eu questionei o que elas sentiriam se vissem uma pessoa sendo esfaqueada, no meio da rua. Depois de refletir por um tempo, as meninas responderam que não gostariam de ver nenhum ser humano sofrendo, mas continuam gostando dos filmes de terror, pois sabem que se tratam de ficção e gostam da sensação de adrenalina. O grupo misto resolveu tornar sua figura um modelo e denominaram de plaboy, com uma pose em que fica com um braço dobrado atrás da cabeça. Segundo eles, estariam se inspirando no colega Geison, que se preocupa muito com o visual.
Trabalho do grupo dos meninos (Fonte: DORNELLES, 2013)
Distribui o material de pintura nas classes não utilizadas e os grupos foram escolher as cores. Avisei que não teriam muito tempo para pintar, pois faltavam quinze minutos para acabar a aula. Como todos os grupos demoraram a escolher, tiveram apenas dez minutos para pintar o trabalho e os últimos cinco para organizar a sala. Enquanto uns desenhavam, outros pintavam o trabalho. Houve também aqueles que não 70
fizeram nada e disfarçavam para que eu não visse. Quando terminou a aula, dois alunos me ajudaram a levar os trabalhos para a sala dos professores. Porém, no caminho o aluno Vinícius perguntou se eu tinha namorado e começou a insinuar que estava solteiro também, mas eu ignorei. Então ele pediu o meu número de telefone e eu disse que não daria. Quando eu o mandei voltar para a sala, ele foi rindo e falando que quem estava perdendo era eu, pois ele era muito divertido e que eu deveria dar o meu número de telefone. Como ele já estava longe, não pude o repreender. Por isso, senti que não consegui resolver a situação como deveria. Também não entendi o motivo deste aluno pensar que houvesse a possibilidade haver outra relação entre nós que não fosse de professora e aluno, pois eu nunca dei motivo nem incentivei essa atitude dele. Porém, percebi que, apesar deste fato, a aula toda foi muito descontraída, principalmente no momento de contornar o corpo, pois os alunos que serviam de modelo sentiram cócegas, o que divertiu os demais. Como na aula anterior, a professora titular ficou presente durante toda a aula. Ela permaneceu em silêncio, concentrada em fazer a chamada, mas mesmo assim eu me senti avaliada o tempo todo.
Trabalho do grupo das meninas (Fonte: DORNELLES, 2013)
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Trabalho do grupo misto (Fonte: DORNELLES, 2013)
A turma foi muito participativa e demonstraram muito interesse no que eu falava e na atividade. Houve momentos em que eu esqueci que a professora titular estava presente. Pude tomar todas as iniciativas com a turma, que se dirigiu a mim como professora, nós trocamos idéias e nos divertimos desenvolvendo a proposta.
O professor é um incentivador da produção individual ou grupal; o professor propõe questões relativas à arte, interferindo tanto no processo criador dos alunos (com perguntas, sugestões, respostas de acordo com o conhecimento que tem de cada aluno, etc.) quanto nas atividades de apreciação de obra e informações sobre artistas (buscando formas de manter vivo o interesse dos alunos, construindo junto com eles a surpresa, o mistério, o humor, o divertimento, a incerteza, a questão difícil, como ingredientes dessas atividades); (PCNs, 2000, p. 111)
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3.2.3. Terceiro Encontro Ensino Médio Data da aula: 17/09/2013 Horário: 13h às 13h50min Tema da Aula: Figura Humana em tamanho natural. Objetivos:
Refletir sobre as características da figura representada;
Pintar a Figura Humana;
Conteúdos: Figura Humana. Metodologia: Prática artística. Atividade: Desenho e pintura da Figura Humana. Recursos: Papel Kraft, pincéis e tintas guache. Avaliação: Participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
Continuaremos o trabalho da aula anterior. Os grupos deverão continuar a desenvolver uma personalidade para suas figuras, tornando-a híbrida ou não. Durante o processo de criação, eles terão chance de repensar as idéias no seu grupo, se irão desconstruir a figura humana, tornando-a híbrida ou se criarão uma personalidade, seja um ídolo do cinema, música, futebol, entre outros. Depois, irão pintar o trabalho, pensando em que cores usarão para dar ênfase na personalidade da sua figura. Poderão usar tintas guaches, e outros materiais que tenham trazido de casa. Enfim, o principal aspecto desta aula é que eles possam usar a imaginação, sem barreiras.
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REALIZADO:
Distribui os trabalhos nos grupos e informei a turma de que eles iriam terminar de pintar o trabalho da semana passada. Em seguida, distribui os materiais e percebi que muitos alunos não trouxeram os pincéis, dificultando o andamento da aula, pois alguns alunos ficariam sem pintar e a minha intenção era que todos participassem. Disse para eles que deveriam ter trazido de casa, pois essa era a responsabilidade deles. Os alunos discutiram comigo, dizendo que trazer os materiais sempre foi tarefa da professora de Artes. Então eu disse que enquanto eu fosse a professora, que traria os materiais para as aulas seriam eles, mas senti como se estivesse falando para as paredes, pois ninguém pareceu ouvir, pois já estavas distraídos conversando. Estes alunos que ficaram sem pincéis me perguntaram como poderiam ajudar o grupo e eu disse que eles poderiam usar os dedos para pintar, pois segundo Martins (1997, p.71) acerca da flexibilidade no desenvolvimento de um projeto de ensino em que afirma que “um projeto gerado, pode ser transformado durante sua concretização, na medida em que novas ações precisem ser inseridas a fim de que os objetivos possam ser alcançados”. Percebi que dois grupos estavam criando um clima de competição entre eles, pois comentavam que achavam sua figura mais bonita que a do outro grupo. Estes grupos eram o das meninas, que fizeram uma figura humana feminina sem cabeça e o grupo misto, que criou uma figura humana masculina, sendo que resolveram mudar o nome de playboy para Dorival Jr. Isso fez com que as meninas quisessem desenhar melhor a sua figura, enquanto os outros grupos pintavam.
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Trabalho do grupo misto (Fonte: DORNELLES, 2013)
O grupo dos meninos, que fez de sua figura humana um extraterrestre, considerou-a pronta, apesar do que eu disse sobre trabalhar mais a pintura. Convenci-os de melhorar alguns detalhes, o que eles acabaram fazendo atĂŠ o fim da aula. O Ăşnico grupo que acabou o trabalho nesta aula foi o dos meninos. O grupo misto pintou parte da figura e o grupo das meninas passou toda a aula redesenhando a figura, pintando a blusa da figura.
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Trabalho do grupo das meninas (Fonte: DORNELLES, 2013)
Trabalho do grupo dos meninos (Fonte: DORNELLES, 2013)
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O único aluno que não participou em nenhum momento foi o Vinícius, que se recusou a ajudar os grupos. Eu não insisti, deixei que ele desenhasse no seu caderno enquanto eu assessorava os demais alunos. Então este aluno disse que eu não precisava me afastar dele, pois ele não morde. Neste momento eu tive que deixar claro que se ele não parasse com as piadas e começasse a me tratar com respeito, eu teria que informar a diretora da situação, que iria chamar os seus pais para uma séria conversa. Neste momento eu senti que consegui resolver o problema.
3.2.4. Quarto Encontro Ensino Médio Data da aula: 01/10/2013 Horário: 13h às 13h50min
Tema da Aula: Figura Humana em tamanho natural. Objetivos:
Pintar a Figura Humana;
Observar os resultados e discutir as intenções de cada um dos grupos ao criar a Figura Humana;
Conteúdos: Figura humana. Metodologia: Prática artística. Atividade: Desenho, pintura da Figura Humana e discussão sobre as características dos personagens. Recursos: Papel Kraft, pincéis e tintas guache. Avaliação: A participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
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Os grupos deverão finalizar os trabalhos. Após terem desenvolvido uma personalidade para suas figuras, e terem repensado as idéias no seu grupo, continuaram a pintar o trabalho, representando estas características da figura humana. Poderão usar tintas guaches, e outros materiais que tenham trazido de casa. Enfim, quando todos acabarem, a turma irá observar os trabalhos prontos, discutindo as intenções de cada grupo ao criar a figura humana daquele jeito.
REALIZADO:
Chegando à sala da turma 112 percebi todos estavam presentes. Distribui os materiais e cada grupo pegou o seu trabalho. Percebi que os alunos não haviam começado a pintar. Estavam esperando pelas minhas orientações, enquanto eu pensava que eles sabiam que deveriam continuar o trabalho. Depois que eu disse que eles deveriam acabar a pintura nesta aula, eles ficaram ansiosos para começar. Observando a turma percebi que dos três grupos, o mais dedicado era o das meninas, que representaram uma mulher sem cabeça com uma faca na mão e a denominaram de suicida de Bom Retiro do Sul, que cortou a cabeça por causa das espinhas. Todas as integrantes participaram da pintura, se ocupando com uma parte do corpo ou um detalhe, ao contrário do grupo misto, em que apenas dois dos integrantes do grupo participaram. Este grupo fez uma figura humana masculina e o chamou de Dorival jr. O outro grupo, dos meninos, foi o mais desinteressado, durante todas as aulas. Eles transformaram a figura humana em um extraterrestre, porque eles acharam mais fácil, pois segundo eles não precisariam caprichar tanto. Eles foram os primeiros a acabar e foram sentar perto do grupo das meninas para observá-las.
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Trabalho do grupo dos meninos (Fonte: DORNELLES, 2013)
Analisando o trabalho deles, apesar da pouca dedicação na pintura, eles criaram algo bem interessante e diferente, pois o extraterrestre lembra bastante uma figura humana e quando eu perguntei o porquê deles terem a pintado toda de preto, eles me responderam de forma criativa, dizendo que por ele ter vindo de um planeta muito perto do sol havia ficado muito bronzeado. O grupo misto foi o segundo a acabar. Eles gostaram do resultado e chamaram os colegas para ver. Tiraram fotos e eu percebi que eles fizeram um bom trabalho em desenhar a figura. Foram criativos em colocar um nome conhecido na figura, Dorival Jr., que é uma figura pública e chama a atenção por terem contornado o colega mais alto da turma.
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Trabalho do grupo misto (Fonte: DORNELLES, 2013)
O grupo das meninas acabou por último e começaram a discutir por causa dos pés da figura que não cabiam na folha. Percebi que elas estavam começando a brigar e as interrompi, sugerindo que elas fizessem com os pés o mesmo que com a cabeça. Depois de pensar um tempo, decidiram fazer o que eu disse, pois já não havia mais tempo para outra opção. Como no pescoço, pintaram um sangue escorrendo dos tornozelos e os demais colegas, que já estavam prontos foram observar os trabalhos
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Trabalho do grupo das meninas (Fonte: DORNELLES, 2013)
delas. Um deles comentou que nunca viu o sangue ficar grudado na faca, sem escorrer. Observando o trabalho deste grupo, percebo que elas atingiram muito bem o objetivo da aula com este trabalho, pois elas desde o início se preocuparam em contornar a figura com cuidado, continuaram desenhando para corrigir alguns erros de proporção e sempre me chamaram para esclarecer as dúvidas. Porém o que mais chamou a atenção é a criatividade deste grupo, tanto em fazer o desenho e a pintura. Repensando todo o processo deste trabalho, em que os grupos representaram uma figura humana em tamanho natural, dando uma personalidade a ela, acredito que apesar da minha insegurança como professora, foi uma atividade gratificante. Apesar de eu ter me cobrado muito, pensado que eu deveria ter sido mais firme nas decisões que eu tomei, como quando eu sugeri, fora do planejamento, que eles pintassem o fundo do trabalho e eles me convenceram que não era necessário. Mas repensando esses fatos, penso que assim a turma teve mais liberdade de criar, usando suas próprias idéias. Segundo Camargo (1994, p. 19), “o educador é um parteiro. O parteiro não gera a 81
criança, mas ajuda a criança a nascer. O educador não gera a expressão da criança, mas a ajuda a florescer.” Também percebi que a atividade teve uma resposta muito positiva da parte dos alunos, pois eu esperava falta de vontade ou desinteresse e fui surpreendida em várias ocasiões em que eles elogiaram minhas aulas, dizendo que queriam ter mais de uma aula de artes por semana e chegaram a perguntar se o professor de informática cederia o período dele para a nossa aula, o que não aconteceu. Nossas aulas também repercutiram no Facebook, onde a aluna Michele Borba postou a foto do trabalho do seu grupo, que era a suicida, e marcou os colegas.
3.2.5. Quinto Encontro Ensino Médio Data da aula: 08/10/2013 Horário: 13h às 13h50min
Tema da Aula: Representação da Figura Humana no expressionismo; Objetivos:
Compreender as mudanças da representação Figura Humana no expressionismo, através da obra de Edvard Munch;
Produzir desenhos em que a Figura Humana registre a emoção mais forte que já sentiram;
Conteúdos: Figura Humana, Edvard Munch e expressionismo. Atividade: Desenho da figura humana com gis pastel seco. Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens. Recursos: imagens de obras de arte impressas em folhas A3, folhas A4 em branco e gis pastel seco. Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
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PLANEJADO:
Farei a leitura da imagem da obra O Grito de Edvard Munch, explicando que o artista passava por uma ponte e ao observar as cores do pôr-do-sol sentiu um imenso desespero e o representou nesta obra. Este desespero que ele sentia, ou seja, uma situação psicológica é uma das características do expressionismo, pois a pintura era subjetiva, na qual o corpo era deformado para simbolizar os sentimentos humanos, emoção vencendo a razão e isso era expresso pelos traços dramáticos e cores intensas. Já não importava representar a figura com realismo e sim, o trágico e a desgraça. Em seguida, explicarei que eles farão um desenho utilizando gis pastel seco, no qual irão fazer uma figura humana no centro da folha, que representará o sentimento mais forte que eles já sentiram e que atrás da figura deveriam desenhar o motivo de terem se sentido daquele jeito. Quando acabarem, iremos discutir e observar os trabalhos da turma.
Munch, 1893 (Fonte: www.antesdeparis.com.br)
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REALIZADO:
Comecei a aula pedindo que fizessem dois grandes grupos. Depois que eles se organizaram comecei a leitura da obra O Grito, perguntando o que eles viam. O aluno Maiso respondeu que via uma pessoa muito feia com as mãos rosto, em uma ponte e a aluna Gabriele interrompeu, dizendo que a pessoa da imagem estava gritando. Questionei o motivo de esta pessoa estar gritando, com as mãos no rosto e o que ele poderia estar sentindo para estar assim. Novamente, a aluna Gabriele respondeu que era medo ou agonia. A aluna Maila disse ser desespero. Então, expliquei que esta obra foi feita pelo artista Edvard Munch, que observou, ao passar por uma ponte, as cores do pôr-do-sol e sentiu uma imensa sensação de desespero, que representou nesta obra. Este sentimento que ele sentiu é característico do expressionismo, pois de acordo com Argan (1992, p. 227), “literalmente, expressão é o contrário de impressão. A impressão é um movimento do exterior para o interior: é a realidade (objeto) que se imprime na consciência (sujeito). A expressão é um movimento inverso, do interior para o exterior: é o sujeito que por si imprime o objeto.” Na pintura, a figura humana era deformada para simbolizar os sentimentos, a emoção triunfando a razão, sendo isso expresso pelas cores intensas e os traços dramáticos. A intenção era representar o trágico e a desgraça, sem se preocupar em representar a figura humana com realismo. Depois da explicação, eu percebi que não estava deixando que eles tirassem suas próprias conclusões sobre a obra, como deve ser uma leitura de imagens, então resolvi passar para a atividade. Informei que eles fariam um desenho individual, e que estavam em grupos apenas para utilizarem o giz pastel seco. Disse que neste desenho, deveriam fazer uma figura humana no centro da folha, que representará o sentimento mais forte que eles já sentiram e que atrás da figura deveriam desenhar o motivo de terem se sentido daquele jeito. A turma demorou até entender que eles não precisavam copiar a imagem da obra O Grito. Expliquei várias vezes que eles a usariam como inspiração para criar o desenho deles e, mesmo assim, alguns deles copiaram ou fizeram muito parecido com a 84
obra. Felizmente, esses alunos foram a minoria da turma, pois o restante produziu desenhos interessantes. Os alunos estranharam o giz pastel seco, inicialmente, mas depois das minhas orientações começaram a usá-lo com mais confiança. Algumas alunas usaram o giz como maquiagem, deixando de se concentrar na atividade e foi preciso chamar a atenção delas de volta para o desenho. Conforme os alunos terminavam, eu pedia que eles falassem sobre o sentimento que eles haviam representado. Levou em tempo até que eles concordassem em participar da conversa, mas quando o primeiro aluno começou a falar sobre seu trabalho, os outros se sentiram mais a vontade.
Trabalho do aluno Eduardo (Fonte: DORNELLES, 2013)
O trabalho do aluno Eduardo, a quem todos chamam de pingo, ficou muito interessante. Conforme ele explicou, o coração vermelho simboliza uma grande paixão por uma menina que não corresponde e o sorriso é amarelo porque ele precisa fingir indiferença quando a vê passar com outro “cara” por ele. Quando ele terminou de falar, as alunas demonstraram compaixão por ele, o chamaram de fofo e os meninos o chamaram de trouxa. Então, eu perguntei se mais alguém já tinha
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sentido o mesmo e todos disseram que sim, inclusive os alunos que tinham zombado dele. Falei que todos iriam explicar seus trabalhos e os demais deveriam respeitar.
Trabalho do aluno Maurício (Fonte: DORNELLES, 2013)
O aluno Maurício explicou que desenhou o que sente quando está trabalhando no ateliê de calçados, pois se trata de um local pequeno que o faz se sentir preso. Foi um dos alunos que mais se aproximou da proposta, como o aluno Eduardo. Por isso ele desenhou a figura humana saindo de uma caixa escura, que representa ele daqui a alguns anos, quando ele estiver estudando e conseguir um emprego melhor. O azul em volta da caixa representa um oceano de novas oportunidades, as quais ele irá correndo ao encontro. A aluna Franciele desenhou seu irmão para representar um momento em que se divertiu muito, pois eles estavam com a família na praia quando seu irmão mais novo tirou a sunga e entrou correndo no mar. A aluna Maila disse que pensou que ele havia rasgado as calças porque estava com cara que espanto. O desenho desta aluna é um exemplos dos alunos que não se entenderam a proposta, pois ficou muito superficial.
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Trabalho da aluna Franciele (Fonte: DORNELLES, 2013)
Nesta aula, meu maior desafio foi fazer com que a turma entendesse a proposta, pois mesmo que eu tenha falado mais alto, não deixei claro que deveriam desenhar a si mesmos e também que não deveriam copiar a imagem, mas sim criar algo novo se inspirando nela. Refletindo sobre isso, penso que como eles estavam há tanto tempo apenas copiando, se tornou difícil que eles comecem a usar a criatividade tão rápido. Portanto, percebi que nas aulas anteriores, ao fazer a leitura de imagens, não coloquei os alunos na conversa tanto quanto eu deveria e acabei apenas falando sobre as obras, esquecendo como é importante que eles mesmos façam este processo de leitura sozinhos. “Cabe aos educadores situar o aluno na sua leitura. A leitura por meio de reprodução de obras pode construir exercício para o desenvolvimento estético e potencializar a experiência com as obras originais.” (ARSLAN; IAVELBERG, 2006, P.16). 87
3.2.6. Sexto Encontro Ensino Médio Data da aula: 15/10/2013 Horário: 13h às 13h50min
Tema da Aula: Quadro vivo. Objetivos:
Fazer a leitura das imagens das obras;
Produzir releituras de obras que representam a Figura Humana através da fotografia e vídeo;
Conteúdos: Figura Humana, fotografia e vídeo. Atividade: Produzir uma releitura de uma obra de arte através da fotografia. Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens. Recursos: Imagens de obras de arte impressas em folhas A3, câmera fotográfica e figurino. Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
Explicarei a atividade, pedindo que formem grupos. Depois, faremos a leitura de imagens de obras de arte, que são “As Duas Fridas”, de Frida Kahlo; “Automat”, de Edward Hopper e “Os Comedores de Batata”, de Vincent Van Gogh. Os grupos escolheram qual obra irão trabalhar, decidindo se farão uma releitura ou se irão reproduzi-la, podendo escolher entre a fotografia ou vídeo. Eles terão tempo de planejar todos os aspectos do quadro vivo, como cenário, roupas e maquiagem. Enquanto eles estiverem discutindo sobre esses detalhes, deverão escrever uma lista com tudo que precisam para executar a o trabalho na próxima aula.
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REALIZADO:
Nesta aula ocorreu um fato diferente, pois ao chegar à sala percebi que havia mais alunos presentes do que nas aulas anteriores, todos falando muito alto e caminhando pela sala. Chamei a atenção deles duas vezes e ninguém pareceu ouvir. O aluno Mateus me disse que eles queriam um tempo para conversar com os colegas que não viam há algum tempo. Afirmou que como eu sou jovem, deveria entendê-los e liberá-los da aula. Então me aproximei dos alunos e precisei elevar meu tom de voz, dizendo que eles deveriam me respeitar, pois eu não sou uma colega e sim a professora e deveriam me tratar como tal. Também disse que, se não levassem as aulas a sério, poderiam reprovar na disciplina de artes, pois seria eu quem os avaliaria. A aluna Michele disse que nunca tinha me visto brava e uns alunos começaram a ironizar, dizendo que a professora estava “bravinha”. Novamente, eu pedi silêncio e explique o que faríamos nesta aula. Disse que iríamos produzir um quadro vivo e todos demonstraram curiosidade. Informei que fariam quatro grupos e que cada um receberia a imagem de uma obra para estudar e depois iriam decidir se fariam a reprodução ou a releitura da obra através da fotografia ou vídeo. A primeira imagem que eu mostrei foi a obra da artista mexicana Frida Kahlo, denominada “As Duas Fridas”. Perguntei o que eles estavam vendo nela e me disseram que viam duas mulheres feias e ao questionar o porquê, responderam que o motivo eram as sobrancelhas. Depois perguntei o que mais eles haviam observado e me responderam que elas estavam unidas por um cordão que uma delas cortou com uma tesoura. Então eu questionei o que poderia ser o motivo dela cortar a ligação. Depois que um tempo, alguém respondeu que talvez a amizade tivesse acabado entre as duas e outras coisas do tipo. Eu disse que se tratavam da mesma pessoa e ninguém soube mais o que responder.
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Kahlo, 1939 (Fonte: www.obvius.com.br)
Em seguida, expliquei um pouco sobre a obra, falando sobre a dualidade da pintora, representada no autorretrato. Disse que a Frida da esquerda, que segura uma tesoura, trajava um vestido de casamento em estilo colonial, seu coração está partido, machucado e gotejando sangue sobre a saia branca. Expliquei que a Frida da direita, veste roupas tradicionais mexicanas, representando a mulher que Diego amava, segurando um retrato dele ainda criança e expondo o coração por inteiro. Falei, também, que a artista fez muitos autorretratos. Segundo Levinzon (2009, p.58), “seus autorretratos tinham uma função primordial em sua vida, a de funcionar como um espelho vivo de sua alma. [...] Frida criava por meio de seus autorretratos um espelho próprio, um olhar que tinha a função de autossustentação e reconhecimento de si mesma.”
Entreguei a imagem para o grupo que a escolheu e pedi que fossem pensando em como fazer a atividade.
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Hopper, 1927 (Fonte: www.edwardhopper.net/automat.jsp)
Fizemos a leitura da obra “Automat”, de Edward Hopper e depois eu expliquei um pouco sobre a obra, dizendo que o artista americano retrava a figura humana em situações de solidão e vazio, assim como nesta obra e empregava a luz e sombra em áreas bem definidas. Representava a perda de sentido da vida do homem urbano, o isolamento de cada indivíduo, preso em si mesmo. Ele, um artista que não seguia as tendências européias de sua época, preservou o realismo sem perder de vista sua visão de um novo mundo que não lhe parecia próspero nem amigável. Enquanto eu explicava, o grupo que já tinha a obra escolhida começou a discutir as ideias em voz alta, atrapalhando os alunos que queriam participar da leitura de imagem. Então, novamente eu chamei a atenção deles, dessa vez sem hesitar, pois como a professora titular não estava mais acompanhando minhas aulas eu me senti mais segura e confiante. Também percebi que ganhei o respeito da turma, pois não precisei mais chamar a atenção da turma até o término da aula.
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Van Gogh, 1885 (Fonte: www.obvius.com.br)
Depois da leitura da obra “Os Comedores de Batata”, de Vincent Van Gogh, feita com os alunos, expliquei que o artista ao fazer a obra se preocupou com as condições de vida dos trabalhadores de em minas de carvão. Pedi que eles reparassem nas mãos calejadas dos trabalhadores, as cores escuras da cena, o lampião iluminando os rostos sem alegria, e a reduzida refeição, que são apenas batatas. Depois perguntei o que cada grupo decidiu e o grupo das Duas Fridas decidiu reproduzir a obra fotografando, como o grupo da Criança Morta e o grupo da obra Os Comedores de Batata. Apenas o grupo da obra Automat decidiu fazer um vídeo. Antes de terminar a aula perguntei se os grupos já decidiram os materiais que vão precisar para a aula seguinte e eles disseram que sim. Enfim, refletindo sobre esta aula, penso que os alunos entenderam a proposta muito bem, e foram muito participativos nas leituras de imagens, argumentando. “A escola nos empurra para uma noção de história como coleção de fatos: tal coisa aconteceu em tal lugar, em tal época... Por trás da inocente coleção sempre se esconde uma argumentação.” (Camargo, 1994, p. 18) Porém, percebi que eles se mostraram um pouco constrangidos ao pensar em serem fotografados vestidos como os personagens e também não senti confiança quando eles prometeram trazer os materiais para a próxima aula. 92
3.2.7. Sétimo Encontro Ensino Médio Data da aula: 22/10/2013 Horário: 13h às 13h50min
Tema da Aula: Quadro vivo. Objetivos:
Reproduzir obras que representam a Figura Humana através da fotografia e vídeo ou fazer releituras;
Conteúdos: Figura Humana, fotografia e vídeo. Atividade: Produzir uma releitura ou reprodução de uma obra de arte através da fotografia. Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens. Recursos: Imagens de obras de arte impressas em folhas A3, câmera fotográfica e figurino. Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
Irei organizar a turma, pedindo que eles organizem seus materiais, para em seguida começarem a arrumar os cenários e os personagens. Deixarei que eles saiam da sala para se caracterizarem ou para buscar objetos que faltam na cozinha ou na direção. Eles deverão tirar várias fotos, em diferentes ângulos, para que possam escolher qual foto ficou melhor e, quando o grupo que vai filmar a releitura da obra estiver gravando, deverão ficar em silêncio. Quando todos tiverem acabado, depois de se trocarem e organizarem a sala, passarei meu email para que eles enviem as fotografias e o vídeo.
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REALIZADO:
Iniciei a aula organizando os grupos e os materiais que eles deveriam ter trazido de casa para o trabalho. No grupo, que ficou responsável pela releitura da obra “As Duas Fridas”, faltou um objeto que representasse os corações, então elas utilizaram um pedaço de cartolina vermelha que pediram na sala dos professores. Os outros grupos também precisaram de objetos para o cenário, como facas, bandejas e os conseguiram pedindo emprestado na cozinha da escola. Terminando de organizar os materiais, informei que eles já poderiam começar a se caracterizar e montar os cenários. Para isso, alguns foram se arrumar no banheiro e outros ficaram na sala de aula. Enquanto os alunos voltavam caracterizados do banheiro, chamaram a atenção dos que estavam de passagem pelo saguão, até mesmo em algumas salas em que estavam com as portas abertas. Penso que o principal motivo desta atenção era o aluno Eduardo, que se fantasiou de mulher, com vestido longo e chapéu, para representar a obra Automat, de Edward Hopper e, também, as alunas Joice e Maila, que se fantasiaram de Frida, pintando com lápis as sobrancelhas para ficarem parecidas com a artista mexicana. Quando todos voltaram para a sala, pedi que um grupo, de cada vez, fotografasse ou filmassem para que eu pudesse acompanhá-los melhor e também para evitar confusão, como alguém falando alto enquanto um dos grupos gravava. O primeiro foi o grupo que fotografou a reprodução da obra “As Duas Fridas”, da artista mexicana Frida Kahlo. Eles colocaram as duas alunas fantasiadas sentadas em cadeira perto da parede e cortinas azul, para ficar parecido com o céu representado na obra. Depois enrolaram as duas colegas com um pedaço de cordão vermelho, ligando os corações de papel que recortaram no início da aula. Também usaram tinta guache para representar o sangue e a tesoura cortando o cordão. A maior dificuldade deste grupo foi fazer com que as colegas sentassem na mesma posição das Fridas da obra. Mesmo eu dizendo que não era necessário que a fotografia ficasse idêntica ao original, eles passaram algum tempo mexendo nas colegas até acharem que estava correto. Depois
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disso, eu pedi que eles tirassem várias fotos, para que depois tivessem como escolher qual foto ficou melhor e de todas. Eles escolheram esta e me enviaram no dia seguinte.
Trabalho do grupo As Duas Fridas (Fonte: DORNELLES, 2013)
Observando a foto, podemos perceber como o grupo se empenhou em fazer uma representação fiel da obra e, e este esforço é recompensado ao vermos como criaram uma fotografia original, mesmo que tenham representado algo já existente. Também se percebe como o grupo observou atentamente detalhe da obra na leitura de imagem da aula passada. O segundo grupo gravou uma releitura da obra Automat, de Edward Hopper. Eles gravaram um vídeo de 10min, em que contava a interpretação que eles fizeram da obra, que foi bem sarcástica. O vídeo começa com a moça, representada pelo aluno Eduardo, sentada na mesa enquanto o garçom, que era o aluno Jeferson, lhe servia uma xícara de café. Neste momento, entra o namorado dela, que era a aluna Gabriele, pela porta e senta a sua frente. O namorado termina seu romance com ela e parte, deixando a moça aos prantos, sozinha na mesa. Então surge um novo pretendente para ela, representado 95
pelo aluno William, que a consola e diz que ela é linda. Depois de um tempo, o pretendente começa a perceber coisas estranhas na sua amada, como alguns pêlos no buço e nas axilas. A moça explicou que estava usando um novo anticoncepcional e fica envergonhada por ele ter notado. Então ele a acalma com um beijo, por detrás do chapéu.
Trabalho do grupo Automat (Fonte: DORNELLES, 2013)
Como o grupo não conseguiu me enviar o vídeo por email, eu usei algumas fotografias que tirei enquanto eles filmavam. Acredito que o áudio do vídeo tenha ficado um pouco prejudicado, pois a turma riu muito enquanto eles atuavam. A ideia de fazer um vídeo com a interpretação deles sobre a obra foi interessante, pois tornou mais completa a releitura.
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Trabalho do grupo Os Comedores de Batatas (Fonte: DORNELLES, 2013)
O terceiro grupo fotografou a obra “Os Comedores de Batatas”. Eles sentaram nas classes e fizeram umas poses que lembrassem a obra de Van Gogh. É possível perceber que o aluno Eduardo gostou muito da atividade, pois participou dos dois grupos. Enquanto os alunos foram se trocar, ficamos no saguão os esperando. Enquanto eles iam para o banheiro acabaram tirando mais fotos, como o aluno Eduardo desfilando de vestido. Enquanto eles estavam no saguão, novamente chamaram a atenção dos que passavam por lá. A diretora do turno da tarde me pediu que escrevesse uma matéria para ser publicado no jornal da escola, o CEJA Informado. Voltando para sala, contei o que eu conversei com a diretora e os alunos responderem que o jornal já havia sido publicado.
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Foto do grupo Automat (Fonte: DORNELLES, 2013)
Repensando este encontro, acredito que os únicos pontos negativos foram os alunos do grupo que representaria a obra de Portinari, Os Retirantes, não terem comparecido e pelo fato do grupo que gravou a releitura da obra de Hopper não ter me enviado o vídeo. O restante da aula ocorreu perfeitamente, a turma demonstrou ter gostado da atividade, se divertiram e pediram para repeti-la mais vezes. Penso que esta aula foi a mais produtiva até o momento, principalmente pelo fato de ter feito com que os alunos se interessassem em participar, sem ter que insistir para isso. Acredito que se deva ao fato de que eu tentei criar atividades que eu mesma gostaria de participar. Como destaca Camargo: Nosso desenvolvimento não termina com a maturidade biológica. O adulto não é um ponto de chegada. E o desenvolvimento não é apenas uma sequência linear: a criança, jovem, adulto. O adulto não é só adulto: ele é adulto e também o jovem e a criança que ele já foi. É isso que permite ao arte-educador trabalhar com a criança ou o jovem: a capacidade de se colocar na lugar do jovem, poder compartilhar seu ponto de vista, sem por isso se tornar pueril. (CAMARGO, 1994, p. 12)
Esta aula também teve ótima resposta da parte dos alunos, pois eu novamente subestimei a dedicação deles com a disciplina de Artes e fui surpreendida com a 98
colaboração e interesse dos alunos, que não hesitaram em participar. Nossas aulas também repercutiram no Facebook, onde a aluna Michele Borba novamente postou a foto abaixo, tirada pela aluna Alice, do trabalho do seu grupo que reproduziu a obra As Duas Fridas, e marcou os colegas Lucas, Fraciele, Maila, Joice, a própria Michele e a Tainara e teve 11 curtidas e 15 comentários.
Foto do grupo As Duas Fridas (Fonte: DORNELLES, 2013)
3.2.8. Oitavo Encontro Ensino Médio Data da aula: 12/11/2013 Horário: 13h às 13h50min
Tema da Aula: Figura Humana fragmentada na obra de Siron Franco Objetivos:
Estudar a obra O Exercício da Censura, do artista brasileiro Siron Franco;
Produzir colagens que representam a Figura Humana fragmentada; 99
Conteúdos: Figura Humana, arte contemporânea e colagem. Atividade: Produzir colagens em que representaram repetidamente uma parte da figura humana, fragmentando-a. Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens. Recursos: Imagem da obra impressa em folha A4, revistas, cola, tesoura e folhas A4. Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
Iremos fazer a leitura da imagem da obra O Exercício da Censura, do artista contemporâneo Siron Franco. Depois eu irei explicar que este artista brasileiro faz surgir em suas telas o lado negro das pessoas, os fantasmas e medos. Ele não pretende ilustrar nem transmitir histórias. Como na obra que iremos estudar a figura humana representada por Siron chega a ser assustadora por suas deformações e por ser fragmentada, como pode acontecer nas obras de outros artistas da arte contemporânea. Em seguida, irei propor que eles produzam uma colagem inspirada na obra de Siron, em que ele deu ênfase aos olhos, representando-os várias vezes um uma figura humana. Eles irão escolher qual parte do corpo irão escolher para dar ênfase e fragmentar a figura.
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Franco, 1984 (Fonte: www.faap.br)
REALIZADO:
Mostrei a obra Exercício da Censura, de Siron Franco e perguntei o que eles percebiam ao observá-la. Eles responderam que parecia um monstro com muitos olhos. Eu perguntei por que eles pensavam que se tratava de um monstro e eles disseram que o motivo era o corpo estar todo dividido, não parecendo humano. Também falaram que era porque a figura humana tinha muitos olhos. Questionei o que eles pensavam sobre o artista ter feito a figura assim e responderam que talvez ele quisesse desfigurá-la para torná-la assustadora. Quando eu disse o nome do artista e o da obra, que é o Exercício da Censura, o aluno Geison disse que a figura humana tinha todos aqueles olhos porque o artista queria representar a censura. Eu expliquei que o artista contemporâneo brasileiro Siron Franco sempre esteve atuante na sociedade, buscando interferir positivamente nas questões da nossa sociedade atual. Para isso, ele deforma e fragmenta a figura humana, até mesmo tornando-a assustadora, como eles disseram, comparando-a com um mostro. Pedi que a aluna Gabriele distribuísse as folhas e revistas enquanto eu explicava que eles iriam produzir uma colagem. Perguntei se eles já tinham feito antes e eles
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responderam não. Então, disse que eles iriam se inspirar na obra O Exercício da Censura para fazer o trabalho, pois deveriam escolher qual parte do corpo humano iriam escolher para dar ênfase, mas que deveria ter uma intenção e depois repeti-la para torná-la fragmentada. Para isso, eles usariam as revistas para escolher imagens para recortar e colar na folha A4. Os alunos disseram que já haviam feito essa atividade antes, mas que não sabiam que era uma colagem. Expliquei que poderiam sobrepor os recortes e também desenhar e colorir.
Trabalho da aluna Tainara (Fonte: DORNELLES, 2013)
A colagem da aluna Tainara ficou muito interessante, pois ela entendeu muito bem a proposta e explicou que sua intenção era representar a sua insatisfação com a situação política atual do Brasil, que as várias bocas representam as promessas feitas durante as campanhas e que são esquecidas logo após as eleições. Também disse que 102
todas as bocas estão sorrindo, pois estão zombando do povo brasileiro que inocentemente acreditou nas falsas promessas.
Trabalho da aluna Michele (Fonte: DORNELLES, 2013)
A aluna Michele, que sempre foi a mais dedicada, representou uma figura humana com muitas pernas, pois é a parte com seu corpo que ela mais valoriza, é com elas que ela faz todas as suas atividades preferidas, como correr, andar de skate, dançar, e fazer exercícios. A intenção desta aluna difere bastante do trabalho da aluna Tainara, que foi mais crítico. Essas diferenças mostram que os alunos perceberam que possuem a liberdade de criar seus trabalhos. O aluno Maiso usou a imagem da presidente Dilma, em forma de árvore, colando vários olhos para representá-la, segundo ele, como a censura. Este aluno havia me entregado este trabalho na aula seguinte. Eu não esperava que ele o fizesse, pois estava muito distraído durante a aula, mas ele disse que no dia da confecção das 103
colagens ele não estava se sentindo bem e que preferiu fazer o trabalho em casa, para fazê-lo melhor, com mais calma.
Trabalho do aluno Maiso (Fonte: DORNELLES, 2013)
Alguns alunos não entenderam a proposta ou não tiveram vontade de fazer a atividade e apenas recortaram uma figura humana das revistas, como no caso da aluna Joice, que colou a cabeça e os pés diferente no corpo da modelo e me disse que estava muito cansada de pensar, daí fez de qualquer jeito para acabar.
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Trabalho da aluna Joice (Fonte:DORNELES, 2013)
3.2.9. Nono Encontro Ensino Médio Data da aula: 12/11/2013 Horário: 13h às 13h50min
Tema da Aula: Desconstrução da figura humana. Objetivos:
Compreender o conceito de performance;
Analisar a imagem da performance com os parangolés de Hélio Oiticica;
Produzir performances em que desconstroem o parangolé, sendo ressaltada a figura humana;
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Conteúdos: Figura humana, arte contemporânea e performance, parangolés e Hélio Oiticica. Atividade: Enrolar o corpo com jornais e fita adesiva. A desconstrução consiste em romper com a vestimenta/figura humana construída de jornal. Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística. Recursos: Imagem da obra impressa em folha A4, jornais e fita adesiva. Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
Irei explicar que arte performática é uma forma de manifestação artística que pode unir e combinar o teatro, poesia e música. A performance segue já definido e os espectadores não participam dela, sendo registrada através da fotografia, relatórios e vídeo para ser divulgada depois. No Brasil, o artista Hélio Oiticica, teve uma forte ligação com a performance, por dar ênfase ao comportamento do corpo e a execução. Em suas performance utilizava parangolés, que lhe cobriam o corpo enquanto se movimentava.
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Incorporo a Revolta, Oiticica, 1967 (Fonte: www.itaucultural.org.br)
Irei propor que criem uma performance em que a figura humana seja ressaltada ou esteja em destaque e que no decorrer do processo ela seja desconstruída. A performance deverá ser realizada no pátio da escola.
REALIZADO:
Comecei a aula explicando o conceito de arte performática. Perguntei se eles já conheciam e, como responderam que não, disse que se trata de uma manifestação artística em que é criado um roteiro a ser seguido e pode combinar teatro, música e poesia. Na performance a platéia não participa e a ação pode ser registrada através da fotografia e vídeo para ser divulgada. Então eu disse que faríamos uma performance na qual iríamos desconstruir a figura humana. Eles perguntaram se iriam desenhar e eu respondi que iriam enrolar o corpo de alguns colegas com jornal e fita adesiva, como se fosse um processo de mumificação. Neste momento, muitos se ofereceram para serem enrolados e decidimos que cinco alunos seriam modelos.
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Após a construção das parangolés de jornal, quando todos estavam prontos, resolvemos sair da sala para fazer a performance e fomos para as escadarias do pátio da escola. Antes de começar, tiramos umas fotos para registrar este momento.
Turma 112 (Fonte: DORNELLES, 2013)
O aluno Geison, que já estava com o corpo coberto de jornal disse que precisava muito ir ao banheiro e nós ficamos esperando enquanto o aluno Eduardo o ajudou. Os outros alunos se divertiram comentando como eles fariam para que o Geison pudesse usar o banheiro sem estragar a vestimenta de jornal. Ficamos discutindo como faríamos a performance. Primeiro eu sugeri que rasgássemos os jornais para que a figura humana saísse correndo do que a prendia. Então o aluno Eduardo, que foi o mais participativo novamente, disse que poderíamos rasgar o parangolé para libertar a figura humana da casca ou casulo, como uma borboleta que passa por uma metamorfose. Todos aplaudiram o colega e ficou decidido que esse seria a performance.
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Os alunos que serviram de performers, que foram os alunos Michele, Maila, Gabriele, Geison e Filipe começaram rasgar os jornais, iniciando a performance e aos poucos os demais alunos foram entrando para ajudar a desconstruir os parangolés. Mesmo sem ter a intenção de ter uma platéia, de onde estávamos podíamos ser vistos pelas outras turmas, que observaram das janelas.
Performance turma 112 (Fonte: DORNELLES, 2013)
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Performance turma 112 (Fonte: DORNELLES, 2013)
Performance turma 112 (Fonte: DORNELLES, 2013)
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Quando o sinal bateu, ainda estávamos fora da sala, recolhendo os pedaços de jornal que caíram no chão e neste momento a professora titular apareceu pedindo que não sujássemos o pátio. Quando acabamos, no caminho para a sala olhamos as fotos que ainda estavam na câmera. Os alunos perguntaram se poderiam usar a aula seguinte para continuar a atividade com os outros colegas, eu disse que não seria possível, mas quando eu disse que enviaria as fotos e eles ficaram contentes. A aluna Michele e o aluno Geison disseram que adoraram a aula, mas que deveriam ter mais tempo para poder participar das atividades sem pressa. A turma pediu que eu postasse as fotos no Facebook e os marcasse. Refletindo sobre a aula, acredito que foi realmente produtiva e, sem dúvidas, foi uma das mais completas, pois eu senti que nesta aula eu tive um grande amadurecimento como professora e no relacionamento com os alunos, que novamente se mostraram participativos e motivados durante toda a aula. Assim, considera-se que, “A autonomia e a participação dos alunos são reais quando eles têm consciência da necessidade das propostas que executam ou do interesse por elas. Trabalhar em tarefas escolares por solicitação do outro, sem perceber o sentido ou sem gosto por fazê-lo, é desenvolver uma postura de submissão, o que, cedo ou tarde, levará o aluno a não querer continuar aprendendo, seja por rebeldia, seja falta de motivação própria. (IAVELBERG, 2003, p. 11 e 12)
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Performance turma 112 (Fonte: DORNELLES, 2013)
3.2.10. Décimo Encontro Ensino Médio Data da aula: 19/11/2013 Horário: 13h às 13h50min
Tema da Aula: Figura humana fragmentada através do desenho. Objetivos:
Estudar a obra Sombras, do artista brasileiro Siron Franco;
Produzir desenhos de observação em que fragmentam a figura humana;
Conteúdos: Figura humana, arte contemporânea e desenho de observação. Atividade: Produzir desenhos de observação em que representaram o rosto dos colegas fragmentado. Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens. Recursos: imagem da obra impressa em folha A3, lápis 6b e folhas A4. 112
Avaliação: será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
Iremos fazer a leitura da imagem da obra Sombras, de Siron Franco, para reforçar a ideia de figura humana desconstruída. Perguntarei o que eles acham sobre o artista ter representado um rosto daquela forma, qual seria sua intenção. Depois, pedirei que a turma faça um semicírculo com as classes e explicarei que farão um desenho de observação olhando os colegas e pensando de que forma eles podem desconstruir seus rostos e o motivo que ter desconstruído de tal forma. Neste momento, irei ocultar a imagem da obra de Siron Franco para que eles não sintam necessidade de copiá-la.
Sombras, Franco, 1967 (Fonte: www.itaucultural.org.br)
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REALIZADO:
Comecei perguntando o que eles acharam do nosso encontro anterior. Eles disseram que gostaram muito e não estavam esperando que eu fizesse uma aula tão “irada”. Questionei o motivo de eles pensarem que eu não planejaria uma aula divertida e as alunas Franciele e Joice responderam que no início eu estava muito séria, parecia estar com medo deles, mas que depois fui me soltando e quando eu propus que fizessem a performance eles ficaram muito surpresos. A turma concordou e o aluno Geison ironizou, dizendo que a melhor parte da aula foi eu ter deixado que eles gastassem três rolos de fita adesiva e, também, o fato de termos saído da sala. Chamei a atenção deles e mostrei a imagem da obra Sombras, de Siron Franco e perguntei o que eles estavam percebendo ao observá-la. Disseram que viam narizes, bocas e olhos misturados. A aluna Gabriele disse que via três rostos em um e a aluna Michele disse que o artista quis representar o lado sombrio das pessoas. Então eu disse que nos sentaríamos em um semicírculo para fazer desenhos de observação do rosto dos colegas, mas que iriam fragmentar, como o artista Siron Franco. Eles me pediram para sentar em grupos e eu deixei. Os alunos Vinícius, Gabriela e Bruno, durante toda a aula, ficaram em silêncio e quando eu fui olhar os trabalhos deles, percebi que apenas a Gabriele estava desenhando, os outros estavam estudando para a aula de Química. Chamei a atenção dos dois, que no final da aula me entregaram trabalhos inacabados.
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Turma 112 (Fonte: DORNELLES, 2013)
Enquanto a turma estava trabalhando, o aluno Lucas me pediu ajuda para desenhar algumas partes do rosto, como o nariz e a boca, pois queria que ficassem realistas. Então as alunas Franciele e Michele, que o escutaram, disseram para o Lucas que eu havia explicado que eles deveriam seguir o exemplo do artista que fragmentou o rosto da figura humana. Então eu senti que neste momento eu não deveria me manifestar e sim instigá-los a falar mais sobre o que havíamos aprendidos juntos no meu período de estágio. Questionei o que mais eles se lembravam do que foi trabalhado durante as nossas aulas sobre figura humana e eles ficaram refletindo por um tempo. Quando eu pensei que ninguém iria falar nada a aluna Maila disse que se lembrava da aula em que estudamos a obra “O Grito” em que o artista desconstruiu a figura humana para se expressar, mas que gostou mais de fazer a figura humana em tamanho natural. O aluno Geison disse que gostou da aula em que estudamos o Renascimento, pois a figura humana era representada com realismo e quando fizemos o quadro vivo. Então eu perguntei o que eles perceberam sobre a representação da figura humana que estudamos no início das aulas para a que estamos estudando agora. Depois
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de um tempo, a aluna Tainara disse que ela achava ser o fato de que a figura no inicio ser toda “certinha” e depois foi ficando mais deformada. Conforme eles iam acabando de desenhar, fomos falando sobre os trabalhos. Observamos todos os trabalhos, antes que terminasse a aula, conseguimos ouvir as alunas Gabriele e Michele.
Trabalho da aluna Gabriele (Fonte: DORNELLES, 2013)
O trabalho da aluna Gabriele ficou interssante. Ela disse que mesclou os rostos dos colegas Vinícius e Bruno enquanto eles estudavam para as outras disciplinas, o que ela achou muito engraçado, pois eles estavam com medo de serem descobertos.
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Trabalho da aluna Michele (Fonte: DORNELLES, 2013)
A aluna Michele disse que observou o rosto das colegas Franciele e Maila, pois quando elas estão concentradas ficam com expressões estranhas. Refletindo penso que eu não deveria ter voltado para a representação bidimendisional da figura humana, pois não era necessário depois da aula passada, em que fizemos a performance em que libertamos a figura humana do casulo. Também acredito que decepcionei os alunos, pois eles estavam esperando mais de mim, mas eu tive medo de mudar o planejamento, pois segundo afirma Martins (1997, p.71), “um projeto gerado, pode ser transformado durante sua concretização, na medida em que novas ações precisem ser inseridas a fim de que os objetivos possam ser alcançados”.
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3.2.11. Décimo Primeiro Encontro Ensino Médio Data da aula: 03/12/2013 Horário: 13h às 13h50min
Tema da Aula: Corpo como suporte da arte. Objetivos:
Estudar a Body Art;
Analisar imagens que registram as diferentes modificações corporais;
Conteúdos: Body Art, arte contemporânea, modificações corporais. Atividade: aula teórica. Metodologia: Aula expositiva dialogada, e leitura de imagens. Recursos: apresentação de slides. Avaliação: será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
Iremos estudar o momento em que a figura humana deixa de ser representada bidimensionalmente para se tornar o suporte da arte.
REALIZADO:
Fomos para a sala de vídeo e comecei a explicar que na Body Art, onde o artista se torna uma obra viva, seu corpo é usado como suporte e o corpo começa a ser visto como um território. Falei sobre o Happening, que é uma forma uma forma de expressão artística, caracterizada pelo improviso e por não ter começo e fim. Muitas vezes o happening é usado como sinônimo da performance. Questionei se ele se lembravam o que é performance e eles disseram que o que fizemos com as folhas de jornal. Também relembrei um pouco a obra do artista brasileiro Hélio Oiticica, dando ênfase aos seus Parangolés, que ampliaram a 118
participação do público. Então, expliquei que o que diferencia performance de happening é que apenas no primeiro há participação do público. Falei que algumas pessoas partilham a ideia de só se sentirem completas quanto adquirem marcas pessoais, e por isso as tatuam na pele. Perguntei se eles possuíam alguma tatuagem e o motivo de terem feito. Apenas dois alunos afirmaram terem tatuagens. O aluno Eduardo e o aluno William possuem frases tatuadas no antebraço, o primeiro tem a frase “vida loca” e o segundo “Deus e meus amigos guiam minha vida”. Pedi que o Eduardo falasse mais sobre sua tatuagem e ele disse que a fez porque gosta de se andar de skate para sentir a velocidade e quis tatuar algo que lembrasse isso. O aluno William fez a sua tatuagem para lembrar que no final, tudo o que importa é a família e os amigos. Depois, eu disse que a arte tem um conjunto de termos que trazem à tona imagens e sensações do nosso inconsciente através do sonho para nos apresentar imagens e sensações mantidas no inconsciente. Já as modificações corporais são guiadas pelo consciente, para determinar o tipo e a forma que tais intervenções terão, como também quais as partes do corpo que serão tatuadas. Disse que nem sempre a tatuagem foi vista deste jeito, pois durante a Segunda Guerra mundial a tatuagem serviu como marca de exclusão social, feita nos indivíduos que pertenciam às raças consideradas inferiores.
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The Enigma, Paul Laurence (Fonte: www.exileonmoanstreet.blogspot.com)
Depois eu mostrei a imagem do The Enigma e perguntei o que eles acreditavam ser o motivo de alguém quer modificar seu corpo desta maneira. Eles responderam que o motivo poderia ser a vontade de ser outra pessoa, por loucura ou por querer chamar a atenção. Expliquei que pessoa que faz modificações corporais traz para a vida o que antes era irreal para ele, como se tornar figuras de histórias em quadrinho ou ficção cientificam. Falei sobre Fakir Musafar, que criou o termo modern primitives para indicar os indivíduos que se utilizam de conhecimentos das sociedades antigas que praticavam modificações corporais. A modificação corporal faz com que o indivíduo se sinta diferente dos demais por algo que difere da sua forma original. Estes indivíduos afirmam não sentir dor, pois eles atingem um estado alterado de consciência e o tempo se refere ao fato de registrar seus rituais de passagem na pele para lembrar que possuem um corpo transitório e mortal.
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Jogos Corporais, Musafar (Fonte: http://www.bodyplay.com/fakir/)
Mostrei estas imagens e eles soltaram exclamações como “que horror”, “cara louco” e “nojento”. Alguns me perguntaram como eles fazem isso e eu expliquei que o criador do grupo fala sobre sete maneiras de modificar o corpo, denominadas de jogos com o corpo, em que modificam a forma e crescimento dos ossos, se comprimem com amarras, espartilhos, cordas, passam fome, limitam os movimentos, usam adereços de ferro, queimam a pele, deitam em camas de pregos, fazem tatuagens e se penduram pela pele, por meio de ganchos de açougueiros. Quando a aula terminou, voltamos para a sala da turma 112 e enquanto isso os alunos falavam sobre os slides, mostrando que ficaram chocados com as imagens dos jogos. O aluno William disse que preferia tatuar o corpo inteiro do que ficar suspenso pela pele através de ganchos e provocou risos dos demais alunos.
3.2.12. Décimo Segundo Encontro Ensino Médio 121
Data da aula: 10/12/2013 Horário: 13h às 13h50min
Tema da Aula: Corpo como suporte da arte. Objetivos:
Estudar a Body Art e modificações corporais;
Criar suas próprias marcas corporais;
Conteúdos: Body Art e modificações corporais. Atividade: desenhar na pele as tatuagens que criaram. Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens. Recursos: canetas pretas e canetas naquin. Avaliação: será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.
PLANEJADO:
Iremos continuar a discussão da aula passada sobre modificações corporais. Retomaremos tópicos do encontro anterior, permitindo que eles tenham mais tempo de discuti-los. Depois, irão pensar em uma imagem, símbolo ou frase que os identifiquem como indivíduos ou grupos para tatuarem com caneta na pele. Quando acabarem, entregarei os trabalhos das aulas anteriores, que ficaram comigo, para relembrarmos o que trabalhamos e concluir nosso projeto atravaves da avaliação.
REALIZADO:
Quando entrei na sala, os alunos perguntaram se esta era a nossa última aula e eu disse que sim e eles lamentaram. Perguntei o que eles acharam das nossas aulas e 122
disseram que gostaram muito, porque foram diferentes. O aluno Eduardo disse que não gostou muito das duas aulas em que ficamos desenhando e fazendo colagens, mas que das outras ele gostou muito. Então os outros riram dele, dizendo que deu para perceber que ele gostou, pois ele apareceu em todas as fotos dos trabalhos dele e dos colegas que não eram dos seus grupos, sempre fazendo pose. Em seguida, entreguei os trabalhos deles e o que eles tinham mais interesse em ver foi o da figura humana em tamanho natural. Antes que eu pudesse falar, a aluna Michele perguntou se eles poderiam pendurar os trabalhos no saguão. Eu disse que sim e que se fosse possível, penduraríamos todos eles e pedi que um deles fosse na diretoria perguntar se isso era possível. Enquanto isso, o ficamos discutindo os trabalhos e o aluno William disse que gostou quando começamos a desconstrução da figura humana, tanto no desenho quando na performance, pois antes ele ficava muito preso, tentando fazer uma figura humana realista e assim se divertiu mais e ainda consegui colocar seus pensamentos no papel. O aluno Eduardo disse, novamente, que gostou da aula anterior que falamos sobre tatuagem, pois nunca nenhum professor tinha discutido o assunto com eles. Perguntei se mais alguém queria falar e ninguém se manifestou, então eu disse que nas nossas aulas a figura humana seguiu uma linha em que ela começou sendo representada com realismo, simetria e depois isso foi mudando até que chegamos ao ponto em que o próprio corpo se torna suporte da arte, através das modificações corporais que estudamos. A aluna Michele voltou e disse que a diretora permitiu que pendurássemos os trabalhos no saguão, mais que só uma parte, pois ela queria guardar espaço para a decoração de natal. Decidimos que o trabalho que seria pendurado era o da figura humana em tamanho natural. Fomos todos para o saguão e cada grupo escolheu um lugar para colocar seu trabalho. Quando todos terminaram, um dos grupos lembrou que esqueceram de colocar seus nomes no trabalho.
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Trabalhos da turma 112 (Fonte: DORNELLES, 2013)
Voltamos para a sala e eu tive que pedir silêncio, pois eles estavam muito agitados. Depois eu expliquei que eles deveriam pensar em uma imagem, frase ou símbolo que os identificassem como indivíduos ou grupo para desenhar na pele, como uma tatuagem. A maioria da turma fez o este símbolo nas mãos, que eles criaram na aula e afirmaram que os identificaria como grupo.
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Trabalho da turma 112 (Fonte: DORNELLES, 2013)
Os alunos Eduardo, Michele, Franciele, Tainara e Maila fizeram o mesmo símbolo, sendo que o primeiro apenas tatuou os colegas. O símbolo que eles fizeram foi a Suástica. Perguntei se eles sabiam o significado da Suástica e eles disseram que sim e mesmo eu explicando melhor do que se tratava, eles me disseram que o escolheram para ironizar, os caracterizando como pessoas más. Acredito que eu não estava preparada para lidar com isso, pois eu deveria ter pedido que eles a apagassem ou mudassem um pouco. Esse é um dos pontos negativos do meu estagio, a minha falta de preparo para lidar com situações como essas. “Quando o aluno fala, escreve sobre arte ou faz os seus trabalhos artísticos, realiza atos de autoria pessoal. Geralmente, é o professor quem valida as produções, atribuindo-lhes qualidades na orientação das discussões coletivas ou na recepção das produções individuais, valorizando e incentivando os esforços dos aprendizes nos processos de construção dos saberes cognitivos, procedimentais ou atitudinais e nas combinações desses tipos de saberes.” (IAVELBERG, 2003, p. 10)
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Trabalho da turma 112 (Fonte: DORNELLES, 2013)
Quando a aula estava perto de acabar, informei os alunos de que já havia feito a avalição da turma, que foi através dos trabalhos artísticos e pela participação durante as aulas teóricas e praticas. Os alunos se despediram de mim com abraços e eu agradeci a todos pela colaboração e participação de todos eles durante o meu estágio.
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3.3. Considerações sobre a prática de Ensino
A prática de estágio foi muito importante para mim, pois contribuiu para o meu crescimento como estudante e profissional. Acredito que propus discussões construtivas e atividades instigantes em que os alunos construíram conhecimento em arte, se expressaram, criaram e se divertiram. A temática da Figura Humana foi bem recebida pelos alunos, que sempre demonstraram curiosidade, interesse e participaram ativamente dos debates e leituras de imagens. Também acredito que todas as atividades feitas pelos alunos foram satisfatórias. Repensando sobre o projeto de ensino como um todo, acho que deixei a desejar na avaliação dos alunos, pois deveria ter dado mais ênfase aos critérios de avaliação, pois como eu os avaliava durante todas as aulas, não ficou claro para os alunos quais os aspectos estavam sendo considerados na avalição. Acredito que o fato de eu ter escolhido o tema Figura Humana, que sempre foi do meu interesse como acadêmica e artista, contribuiu para que os alunos gostassem das aulas, resultando em novos conhecimentos na campo da arte.
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CONCLUSÃO
O projeto de ensino, intitulado “Os Olhares da Arte para a Figura Humana”, teve como tema a Figura Humana e foi realizado no Colégio Estadual Jacob Arnt. A prática do Ensino Fundamental foi realizada com a turma 63, do dia 3 de setembro de 2013 ao dia 10 de dezembro de 2013, e as aulas práticas do Ensino Médio foram desenvolvidas com a turma 112, no período de 3 de setembro de 2013 a 10 de dezembro de 2013. Enfatizei neste trabalho de conclusão de curso a prática realizada no Ensino Médio, que se mostrou a mais desafiadora e produtiva para mim, como acadêmica e professora. Quando escolhi o tema Figura Humana, além das questões teóricas e de poder contextualizar esse conteúdo da história na arte, meu objetivo geral foi oportunizar novas vivências, práticas e teóricas, nas quais os alunos despertariam seu interesse pela arte através da representação da figura humana. Outro fator que contribuiu para a minha escolha foi o meu interesse pela Figura Humana, pois como artista este tema é frequente em meus desenhos e, como acadêmica do curso de Artes Visuais, as representações da Figura Humana constantemente instigaram a minha curiosidade, fazendo com que eu aprofundasse meus estudos sobre a temática. Durante todo o processo da prática de ensino eu pude perceber as mudanças que ocorreram comigo, com os alunos e os pontos positivos e negativos do projeto de ensino, sendo que ambos colaboraram para o meu crescimento profissional, pois pude aprender com cada erro e acerto. A realidade escolar foi determinante para a minha aprendizagem enquanto futuro profissional de ensino. Em alguns momentos o projeto teve que ser adaptado para que atendesse as necessidades dos alunos e da escola. Como por exemplo, tive que adequar o projeto aos recursos que a escola dispunha. O colégio não possuía uma sala para as aulas de Artes, nem um Datashow ou retroprojetor que eu pudesse usar nas minhas aulas, pois estavam reservados para outros professores neste período ou estragados. Então eu tive que usar imagens impressas em folhas A3 para as leituras das obras. Também precisei me ajustar aos alunos, pois estavam acostumados com a outra professora, que trazia todos os materiais de casa para eles usarem nas aulas de Artes. Por isso, houve momentos em que eu pedi materiais a eles, que simplesmente não 128
trouxeram, como ocorreu na terceira aula, em que eles deveriam ter trazido pincéis e eu tive que pedir que eles pintassem com os dedos. Então, a partir deste momento, eu fui prevenida, levando os materiais necessários, caso eles não o fizessem. Mas, fui surpreendida posteriormente com o comprometimento dos alunos, principalmente na oitava aula em que fotografamos os quadros vivos e eles trouxeram sacolas de roupas, adereços e maquiagem. Esta atitude dos alunos comprova o envolvimento deles com a proposta de ensino. Sobre a escola, fui muito bem recebida pelos professores e direção do Jacob Arnt, principalmente pelas professoras titulares de artes Rosângela e Gisele. Elas me apoiaram muito, sempre perguntando se eu precisava de ajuda, como a turma se comportava comigo e se eu precisava que elas interferissem na minha aula. Felizmente, eu não precisei da interferência delas, o que me deixou satisfeita. Fiquei muito agradecida pela preocupação das professoras comigo, como nos primeiros dois encontros, em que as elas me acompanharam, em silêncio, durante toda a aula e esse suporte que elas me deram foi muito importante, pois me sentia muito insegura em assumir uma turma sozinha. Quanto aos alunos, tive respostas muito positivas da parte deles e em vários momentos em que eu esperava desinteresse, fui surpreendida com a participação e elogios sobre as aulas, tanto que chegou a repercutir no Facebook, onde os alunos colocaram fotos dos trabalhos e postaram comentários positivos. Em especial, dois alunos se sobressaíram, a Michele, que postou fotos dos seus trabalhos no seu perfil do Facebook, e o Eduardo que participou de todos os grupos no trabalho de performance e no trabalho de fotografar o quadro vivo. Esse fato demonstra que os alunos se envolveram com a proposta. Percebo que a turma, durante o projeto de ensino, teve a oportunidade de vivenciar novas experiências nas aulas de Artes. Talvez eu não tenha conseguido que todos os alunos tenham expressado sua subjetividade, pois alguns estavam mais envolvidos com as aulas do que os outros. Apesar disto, posso certamente afirmar que todos desenvolveram uma nova percepção para a arte, sabendo que é possível ler uma obra de arte e que, para isso é preciso assumir uma postura questionadora. Também compreenderam que as aulas de Artes não consistem apenas em fazer cópias e mais cópias. Observei que, aos poucos, os alunos foram se envolvendo mais 129
com a proposta de ensino. Muitos deles perceberam seu potencial criativo durante os trabalhos práticos e desenvolveram uma postura crítica ao questionar e refletir sobre o tema durante as aulas teóricas, nas quais conseguimos criar um bom diálogo. Depois do estranhamento inicial com a nova proposta, eles participaram ativamente das aulas, mesmo os alunos mais resistentes, aos poucos, passaram a participar sem que eu precisasse pressioná-los. Antes de realizar essa experiência de ensino, eu pensava que a responsabilidade pela aprendizagem dos alunos era somente do professor, e que como professora estaria falhando caso não conseguisse fazer com que eles aprendessem o conteúdo. Mas hoje eu entendo que se o aluno não estiver interessado e envolvido com o seu processo de aprendizagem, percebendo que ele é a parte mais beneficiada neste percurso, o professor sozinho não conseguirá despertar o interesse dos alunos. Mas também houve pontos negativos no decorrer do projeto, principalmente no início. Eu estava muito nervosa e acabei falando muito baixo, o que fez com que os alunos pedissem que eu repetisse o que eu havia dito, pois não conseguiam ouvir. Eu também decorava o conteúdo planejado, com medo de errar, o que fez com que eu demorasse a desenvolver um diálogo com os alunos nas primeiras aulas. Eu também me senti muito insegura, não conseguia me ver como professora, tinha dificuldade de chamar a atenção da turma quando necessário, pois eram muitos alunos adolescentes que me viam mais como colega do que professora e isso me intimidava. Isto ocorreu principalmente nas primeiras aulas, depois que um dos alunos perguntou se eu era solteira e pediu meu número de telefone. A minha reação foi responder que não e ignorar o aluno, mas eu deveria tê-lo repreendido para que este acontecimento não se prolongasse. Esse foi o momento mais difícil para mim no decorrer do estágio, pois eu acreditei que não conseguiria fazer com que os alunos me respeitassem, que parassem com os comentários sarcásticos e maliciosos, pois o aluno Vinícius tomou o meu não como incentivo. Então eu precisei fazer com que toda a turma percebesse que eu era a professora, pois como eu disse, eu não era uma colega, as nossas aulas eram sérias e os trabalhos valeriam nota. Falei diretamente ao aluno Vinícius que, se eles não terminassem com a “brincadeira” naquele momento, teríamos que ter uma séria conversa com a diretora. Felizmente, este problema não se prolongou e consegui me 130
impor como professora, fazendo com que eles percebessem o meu papel no processo, a diferença de papéis que existia entre nós. No sexto encontro eu também tive que chamar a atenção deles, pois quando cheguei na sala estavam apenas interessados em conversar com os colegas e, quando eu pedi que parassem, ninguém demostrou ter me ouvido. Então, novamente eu precisei chamar a atenção deles, para que compreendessem que as aulas de Artes são importantes, pois haviam me pedido que os deixassem livres para conversar. Foi necessário me impor, alterar a voz para que parassem de duvidar da relevância das aulas de Artes. A partir do quinto encontro, eu consegui vencer a insegurança e pude desenvolver um diálogo com os alunos, tornando a parte teórica mais interessante para eles através de perguntas que despertavam o interesse deles para as obras e o conteúdo trabalhado. A partir deste momento ficou mais fácil eu conversar com os alunos e eles comigo. Porém, o nono encontro foi o mais significativo para mim, pois eu me senti segura para levar a turma para o pátio e desenvolver as performances fora da sala de aula, realizando uma atividade diferenciada que chamou a atenção de toda a escola, que assistiu pelas janelas das salas. “O professor é propiciador de um clima de trabalho em que a curiosidade, o constante desafio perceptivo, a qualidade lúdica e a alegria estejam presentes junto com a paciência, a atenção e o esforço necessários para a continuidade do processo de criação artística.” (PCN’s, p. 111) O décimo primeiro e o décimo segundo encontro também foram gratificantes, pois foram trabalhadas as modificações corporais e os alunos comentaram que a aula foi interessante, pois era um assunto que nenhum professor havia abordado com eles, mas que eles tinham muita curiosidade de aprender. Pude conhecer a opinião de cada aluno sobre o tema, escutar os depoimentos deles a respeito das tatuagens ou piercings, que são questões próximas a realidade deles, pois alguns alunos possuem tatuagem e tiveream a liberdade de poder falar sobre isso. Os alunos conseguiram, nas aulas de artes, aprender mais detalhes sobre o mundo das modificações corporais. Em relação à metodologia, é preciso enfatizar a importância do planejamento durante toda a prática de ensino. No início foi de extrema importância para que eu me 131
sentisse mais confiante, pois ao seguir aquele roteiro me sentia mais segura de que alcançarias os objetivos e de que usaria bem o período de aula e isso foi muito positivo. Também compreendi que o professor deve planejar as aulas pensando na realidade dos alunos e seus interesses. Assim, tornando a disciplina de Artes mais significativa para eles, que irão se envolver mais nas aulas. Ao inovar, o professor surpreende o aluno, que ao ficar curioso se torna mais participativo, mais criativo e questionador. Mas, mesmo com o planejamento em dia, houve um momento em que eu não consegui conduzir a atividade adequadamente, o que fez com que eu não alcançasse o resultado que eu esperava. Isso aconteceu durante o quinto encontro em que enfatizei que deveriam representar a si mesmos num momento da vida em que tiveram um sentimento ou emoção muito forte. Os alunos não conseguiram entender a proposta, o que acabou resultando em um trabalho superficial. Ainda falando sobre a metodologia, no décimo encontro, eu observei que não deveria ter voltado para a representação da figura humana no plano bidimensional. No momento, eu pensei que deveria trabalhar mais o desenho de figura humana com eles, mas depois percebi que não era necessário o que fez com que os alunos não se motivassem tanto. Acredito que este fato não prejudicou o processo de ensino, mas teria sido muito mais produtivo se eu tivesse continuado a explorar a figura humana de outras maneiras, usando o corpo como suporte da arte. Também houve outra situação, que ocorreu no último encontro, em que alguns alunos desenharam uma suástica no braço. Mesmo depois que eu expliquei do que se tratava, eles não quiseram apagar e eu deixei que eles saíssem da minha aula com o desenho, pois fiquei com dúvidas em como conduzir uma situação dessas. Mas se isso ocorresse comigo novamente, ou uma situação parecida, penso que eu estaria mais preparada para intervir, conversaria mais com eles, questionaria o que aquele símbolo significa pra eles, problematizaria essa questão, fazendo-os refletir sobre o significado de portarem um símbolo como aquele no corpo, que carrega toda uma história negativa da humanidade. Definitivamente, eu agiria de outro modo, pois usaria este fato como objeto de estudo e reflexão. Não deixaria passar em branco, nem que os alunos saíssem da escola sem a informação, sem que soubessem exatamente do que a suástica se trata quando
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alguém os questionasse sobre o seu significado, sobre o que representa e o que significa culturalmente ostentar este símbolo no corpo. Quanto aos resultados, fiquei satisfeita com o desenvolvimento do projeto de ensino, pois alcancei boa parte dos objetivos propostos e os que eu não consegui atingir, acredito que serviram para me fazer repensar o planejamento e as minhas atitudes. Deixando de lado os problemas das primeiras aulas, eu só tenho elogios para com a turma 112. Os alunos foram criativos, fizeram trabalhos interessantes, nos quais é visível o comprometimento deles com as aulas, pois percebia que mesmo quando as nossas aulas terminavam, eles continuavam falando delas com os colegas, amigos, famílias e demais professores e até mesmo no Facebook. Como a cidade é pequena e as pessoas se conhecem, eu ficava sabendo destes detalhes. Apesar de todo o medo e inseguranças, eu nunca pensei em desistir. Eu sabia que deveria passar por essa experiência, tirando tudo de melhor que eu conseguisse de cada situação, pois este seria o momento no qual eu poderia me testar como professora e, até mesmo, me conhecer melhor como indivíduo, descobrindo um lado novo e percebendo o meu potencial. Porém, confesso que assumi uma postura pessimista desde o início dos estágios, não esperava muito de mim. Pensava que nada daria certo, talvez para não criar grandes expectativas e evitar futuras decepções. Isto é algo que eu faço, desde sempre, em relação às pessoas, aos estudos e à vida. Costumo não esperar muito das pessoas, nem de mim. Assim, eu criei uma bolha na minha vida, na qual eu consegui me manter segura de tudo que poderia me desapontar. No entanto, durante as aulas eu compreendi que se eu esperasse poucos dos alunos, pouco de mim e do projeto de ensino eu não conseguiria os resultados positivos que eu esperava, nem as minhas aulas seriam produtivas. Então, para isso foi preciso que eu estourasse essa bolha na qual eu me escondia e me desafiar. Aos poucos eu fui me ariscando mais, conseguindo criar mais diálogos com a turma, o que era algo completamente difícil para mim, pois eu tinha muito medo da rejeição deles. A cada aula eu fui vendo que meus esforços estavam valendo à pena e sentia mais vontade de me desafiar e desafiar os alunos também. Por isso, qualquer
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resultado proveitoso realmente me surpreendia, pois, no fundo, eu não estava esperando por isso. Enfatizo que o fator mais importante de todo o projeto de ensino, desde o planejamento até as práticas, foi o desafio.
Desafiar os alunos com atividades e
conteúdos que não conheciam, fazendo-os se verem em novas situações em sala de aula. Isso ocorreu durante as aulas em que estudamos as proporções do corpo humano, e os alunos tiveram que contornar o corpo do colega em uma folha de papel kraft para medir as proporções. Eu pensei que eles se negariam em participar, mas eles se mostraram interessados, até mesmo se divertiram, pois eles estavam acostumados em apenas fazer cópias e mais cópias no caderno de desenho. Ou seja, foi um desafio que continuou quando eles tiveram que pensar em uma personalidade para a figura humana, pensando em quem ela poderia se tornar, tiveram que usar a criatividade e pensar juntos. Por isso, eu acredito que em todos os momentos em que houve um desafio foram as aulas mais produtivas. No que se refere a mim, do mesmo modo que os alunos desenvolveram uma performance para libertar a figura humana do casulo que a envolvia, eu também me libertei do meu casulo de inseguranças, medo, timidez e assumi o meu papel de educadora. Penso que obtive muitas lições para a minha vida com os Estágios, pois não cresci apenas profissionalmente, mas evolui emocionalmente. Senti como se eu tivesse realmente deixado a da adolescência de vez. Mudei minha postura, superei minhas próprias expectativas e amadureci. Reconheço que eu ainda tenho muito a aprender, não me vejo com uma professora completa e sei que tenho um longo caminho pela frente até o dia em que me sentirei mais preparada, mas sinto que já passei por uma grande etapa deste processo. Posso, seguramente, afirmar que eu aprendi muito durante cada aula, com cada erro, com cada acerto. E enquanto os alunos foram conhecendo e construindo as suas “Figuras Humanas”, eu me construí como professora. Acredito que tive uma grande aprendizagem com a prática de ensino, pois pude conhecer a realidade da comunidade escolar, o comportamento dos alunos, o ambiente escolar e, principalmente, refletir sobre a minha postura como futura professora, pois houve muitas situações em que eu travei batalhas internas, e venci minhas inibições.
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Mas a maior lição que eu tirei dos Estágios foi que eu não devo me acomodar com as situações, que devo deixar os pensamentos pessimistas e negativos de lado, pois as coisas podem dar certo comigo. Enfim, compreendi que posso apostar mais em mim nas pessoas, na vida.
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REFERÊNCIAS DERDYK, Edith. O desenho da figura humana. São Paulo: Ed. Scipione, 1990. Catálogo Siron Franco. Porto Alegre: MARGS, 1999. BARBOSA, Ana Mae. (org). PORTELLA, Adriana. (et al.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002. CANTON, Kátia. Espelho de artista. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2ª edição, 2001. FARTHING, Stefhen. 501 GRANDES ARTISTAS. Rio de Janeiro: Sextante, 2009. FUNDAMENTAL, Secretaria da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte (Ensino Fundamental). Rio de Janeiro: DP&A, 2000. MARTINS, Mirian Celeste. PICOSQUE, Gisa. GUERRA, Maria Terezinha Telles. Didática do ensino da arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.
SITES CONSULTADOS:
BARBOSA, Ana Mae. Arte, Educação e Cultura. Disponível em: http://www.dc.mre.gov.br\imagens-e-textos\revista7-mat5.pdf\view. Acesso em: 29 de setembro de 2010.
LEVINZON, Gina Khafif. Frida Kahlo: a pintura como processo de busca de si mesmo. In: Revista Brasileira de Psicanálise, Volume 43, n.2, 49-60, 162 2009. Disponível em: http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/rbp/v43n2/v43n2a06.pdf. . Acesso em: 16 de novembro de 2010.
ITAU CULTURAL
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Apêndices Avaliação de Aluno Estagiário realizada pela professora da escola de Estágio.
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Cรณpia do questionรกrio respondido pela professora da escola de Estรกgio
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Cรณpias dos questionรกrios respondidos pelos alunos da escola de Estรกgio
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Cรณpias dos questionรกrios respondidos pelos alunos da escola de Estรกgio
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Cรณpias dos questionรกrios respondidos pelos alunos da escola de Estรกgio
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Cรณpias dos questionรกrios respondidos pelos alunos da escola de Estรกgio
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Cรณpias dos questionรกrios respondidos pelos alunos da escola de Estรกgio
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