Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

Cláudia Martins da Costa

TRAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART E O ENSINO DA ARTE

Canoas, 20 de dezembro de 2010


Cláudia Martins da Costa

TRAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART E O ENSINO DA ARTE

Trabalho de Curso apresentado como pré-requisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciada em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação da professora Ms. Ana Lúcia Beck.

Orientadora: Prof.ª Ms. Ana Lucia Beck

Canoas, 20 de dezembro de 2010


AGRADECIMENTOS

Aos meus professores orientadores de estágio, Dr.Celso Vitelli e Ms. Ana Lúcia Beck que foram extraordinários ao me orientarem e auxiliarem com suas palavras de sabedoria para que eu pudesse seguir nos meus propósitos e tirar proveito dos seus ensinamentos. À professora Cláudia Melo pelo seu apoio e receptividade em me receber como estagiária. Ao Diretor e à coordenadora da escola que prontamente me receberam assim que cheguei. Ao Ricardo, por sua paciência, compreensão e amor, que por muitas vezes, não permitiu que eu me afastasse da realidade, me ajudando a enfrentá-la e a entendê-la por uma perspectiva diferente. À Valentina, pelos momentos de relaxamento que tanto precisei, pois me ajudaram a manter a calma, a lucidez e a restaurar as minhas forças e entusiasmo. Aos meus alunos que, afinal de contas, foram os principais colaboradores deste estágio. Aos meus familiares, professores, colegas, amigos e conhecidos pelo apoio moral.


O importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas mas que elas vão sempre mudando. (ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 1994, p. 24-25)


RESUMO

O Projeto de ensino “Trampo, Arte e Outros Babados – A Pop Art e o Ensino da Arte”, com o tema homônimo foi realizado em uma turma de segundo ano do Ensino Médio, na Escola Estadual de Educação Básica Dolores Alcaraz Caldas, localizada na cidade de Porto Alegre, Bairro Jardim Ipiranga, na Rua Affonso Celso Puppe Silveira, nº 25. A justificativa pela escolha desse tema deve-se ao fato de acreditar que estudar o período da Pop Art ajudará os alunos a se expressarem de forma mais coerente, tratando das suas experiências, esclarecendo fatos históricos riquíssimos. Além disso, poderá abordar a publicidade, a propaganda, as questões sobre o consumo e os fatos políticos e sociais da época sendo um excelente material para ser trabalhado em sala de aula. Os alunos poderão realizar relações entre a arte e a propaganda, praticando as leituras de imagens. Por conseguinte, desenvolverão um olhar mais observador e crítico, com a possibilidade de exercitar a interpretação e criar as suas próprias imagens. O objetivo geral foi promover o conhecimento da Pop Art e suas influências nos dias de hoje, desenvolvendo o processo artístico através das leituras e interpretações de imagens artísticas e publicitárias. Com isso, os alunos poderão produzir individual e coletivamente, diversas linguagens da Arte enfatizando temas da sociedade atual. O presente Projeto de Ensino foi desenvolvido a partir de pesquisas realizadas em diversos autores, entre eles, Mirian Celeste Martins, Luciana Borre Nunes, Maria Heloísa C. de Ferraz e Maria F. de Rezende e Fusari, os quais me auxiliaram a entender questões como: trabalhar com os alunos a realização de produções artísticas em sala de aula, montando ambientes favoráveis para que aconteçam os processos e as criações. Esse trabalho encontra-se dividido em quatro capítulos: no capítulo 1 (Trampo, Arte e Outros Babados, a Pop Art) será apresentada a importância do movimento da Pop Art americana e da Pop Art brasileira contendo as principais passagens históricas. No capítulo 2 (Trampo, Arte e Outros Babados, a Pop Art e o Ensino da Arte) abordará o valor de se trabalhar a Pop Art em sala de aula, qual a colaboração da Pop Art para o cotidiano dos estudantes na educação escolar. Já no capítulo 3 trará informações sobre a escola e a análise das observações silenciosas. No capítulo 4 apresentará o projeto de ensino com a aplicação do projeto (planejado e realizado) na escola. Concluindo o trabalho, foi verificado o quanto é vital o professor auxiliar o aluno a construir uma linguagem expressiva a partir das interpretações das imagens trabalhadas em aula, bem como, relacioná-las aos processos artísticos que venham acontecer. Palavras-chave: Pop Art. Ensino. Imagem.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................8 1 TRAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART .............................................12 1.1 O MOVIMENTO DA POP ART AMERICANA ..........................................................13 1.2 O MOVIMENTO DA POP ART BRASILEIRA...........................................................20 1.3 PASSAGENS DE UMA ENTREVISTA .......................................................................21 1.4 ARTISTAS IMPORTANTES PARA A POP ART BRASILEIRA...............................23 2 O TAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART E O ENSINO DA ARTE.26 2.1 AS LINHAS, CORES E FORMAS SE EQUACIONANDO.........................................27 2.2 NO QUE AS AULAS DE ARTES E A POP ART PODEM COLABORAR COM A VIDA DOS ESTUDANTES ................................................................................................29 2.3 UM LUGAR, IDEIAS E POSSIBILIDADES?..............................................................33 2.4 UMA EXPLOSÃO DE PONTOS, FORMAS E CORES ..............................................36 3 DIÁLOGO COM A ESCOLA............................................................................................38 3.1 HISTÓRICO DA ESCOLA ...........................................................................................38 3.2 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES REALIZADAS NA ESCOLA...............................38 3.3 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO COM A PROFESSORA .........................................40 3.4 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS ................................................43 4 PROJETO DE ENSINO EM ARTES VISUAIS ..............................................................45 4.1 TEMA DO PROJETO ....................................................................................................45 4.2 JUSTIFICATIVA ...........................................................................................................45 4.3 OBJETIVO GERAL.......................................................................................................45 4.4 METODOLGIA .............................................................................................................46 4.5 CONTEÚDOS ................................................................................................................46 4.6 PRÁTICA DE ENSINO .................................................................................................46 4.6.1 Aula 1 – 12/03.........................................................................................................46 4.6.2 Aula 2 – 19/03.........................................................................................................52 4.6.3 Aula 3 – 30/03.........................................................................................................55 4.6.4 Aula 4 – 06/04.........................................................................................................59 4.6.5 Aula 5 – 13/04.........................................................................................................62 4.6.6 Aula 6 – 20/04.........................................................................................................67 4.6.7 Aula 7 – 27/04.........................................................................................................71


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CONCLUSÃO.........................................................................................................................74 REFERÊNCIAS DE PESQUISA ..........................................................................................80 APÊNDICES ...........................................................................................................................83 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO COM A DIREÇÃO ....................................................84 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO COM A COORDENAÇÃO .......................................86 APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO COM A PROFESSORA.............................................89 APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS ...................................................93 ANEXOS ...............................................................................................................................104


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INTRODUÇÃO

O tema central deste trabalho é o processo criador e o foco são os alunos, sem deixar de espiar as minhas ações. A problemática que veremos a seguir consiste em relatar como a arte pode ajudar as crianças e os jovens a se expressarem de forma mais coerente possível, tratando das suas experiências enquanto alunos desde a Educação Infantil ao Ensino Médio. Quando cursei o estágio I na Escola Estadual de Educação Básica Dolores Alcaraz Caldas, em Porto Alegre com o 2º ano do Ensino Médio resgatei algumas lembranças da minha trajetória como professora da Educação Infantil, no Jardim de Infância há cerca de dezesseis anos e, nesse período, alguns aspectos vem se transformando. Além disso, atuo no Ensino Fundamental, numa 5ª e 6ª séries. O projeto inicial foi mantido dentro de ideais que oferecessem às crianças o desenvolvimento das suas capacidades criadoras. Porém, outras propostas amadureceram por meio de trocas de informações com os colegas da Escola na qual eu atuo, assim como, com outros profissionais ligados às Artes Visuais. Creio que ao longo dos anos houve mudanças significativas tanto nas concepções sobre arte quanto nas possibilidades de se viabilizar propostas prazerosas, críticas e contextualizadas no ensino da arte. E, dessa forma me remeto ao presente e a escola do estágio que fica no bairro onde moro, facilitando o deslocamento. Ela oferece boas condições quanto ao seu acesso por se tratar de um bairro próximo à Avenida Assis Brasil, por onde circulam muitos ônibus e outros meios de transportes para facilidade dos alunos. Além disso, as salas de aula são equipadas com um relativo cuidado. Algumas delas possuem computadores, televisores, pias e armários. Durante as minhas observações percebi alguns fatores determinantes para a escolha do tema e das atividades para desenvolver durante os estágios seguintes. Quando fui à Escola sabia que teria alguns desafios pela frente. O primeiro deles seria trabalhar com adolescentes e adultos numa escola noturna, não tendo experiência. Considerei que o fato de ser professora da Educação Infantil talvez ajudasse com os planejamentos, mas não com o jeito de ser e a postura que poderia ter frente aos alunos maiores. Ponderei também que fosse diferente, pois, a minha fala certamente deveria ser outra, de acordo com as necessidades daquele grupo.


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A turma iniciou pequena, mas algumas mudanças ocorreriam a seguir, e logo encontrei outro grupo de alunos. Assim, realizei as observações silenciosas com uma turma e mais tarde observei outra, na qual faria o estágio prático. Esta bem maior, com alunos repetentes e o ingresso constante de novos alunos durante todo estágio. O fato de estarem repetindo o ano os fazia acreditar que não eram capazes. Entre os alunos, problemas de baixo estima, de conduta e de doenças diagnosticadas, segundo a professora titular, conhecidas como, distúrbios sócio afetivo e de oscilações no humor. Também havia alunos que não traziam os materiais ou se recusavam a trabalhar. Esses fatores foram apresentados ao longo dos dias e precisei exercitar toda a flexibilidade. A turma iniciou com 13 alunos e ao final tinha 30 alunos presentes, aproximadamente. O fato de mudar constantemente esse número fez com que houvesse mudanças nos planejamentos preparando as aulas para 30 pessoas, a turma completa. Verifiquei que necessitavam abordar assuntos da nossa história da Arte que contemplasse as discussões, os debates, e pudessem produzir trabalhos além do artesanato que vinham desenvolvendo. Conversei com a professora titular e esta foi bem receptiva, querendo dividir comigo alguns de seus próprios anseios. Combinamos as explicações do Projeto de Ensino e o tema. Aliás, um fator decisivo para a escolha do tema foi um assunto que eu tivesse empatia e pudesse desenvolver junto aos alunos, algo próximo da suas vivências, no que diz respeito à cronologia. Na aula tinha alunos com as idades variadas, nenhuma abaixo dos dezoito anos. Na maioria, pessoas com a média dos trinta anos e outra acima dos cinquenta anos de idade. O que me deixava pensativa, sobre qual movimento artístico eles se sentiriam atraídos e o suficientemente envolvidos para se exporem. Quando analisei o que vinham estudando, percebi que não havia um projeto estruturado anterior ao meu. Além disso, estavam habituados a estudar o Egito e outros povos, passando por grandes artistas da nossa história como Frida Khalo, partindo para a confecção de trabalhos manuais. Dessa forma, pude lançar a ideia de que se estudassem um movimento artístico que não tinham visto antes, seria enriquecedor, embora alguns alunos na época da Pop fossem jovens, e poderiam se lembrar de alguns fatos. Esse aspecto talvez desencadeasse uma motivação para participarem das aulas. Surgiu então, o movimento da Pop Art americana e a Pop Art brasileira, cada qual com suas características, como serão vistos no primeiro capítulo deste trabalho. Inicialmente, o capítulo abarca justamente o movimento da Pop Art americana com suas principais características, bem como, a Pop Art brasileira. De maneira geral descrevo alguns aspectos do tema da pesquisa. O período escolhido são os famosos anos 60 e 70, precisamente final de um e começo de outro,


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respectivamente. Nestes anos, o mundo estava em franca efervescência política, sofrendo mudanças sociais bastante significativas. Portanto, para podermos trabalhar com a Pop Art, deveria saber de todo o período histórico anterior e posterior. Tive que ler muito e encontrei bons autores que falavam da época em questão, não obstante, nos levaria para um profundo conhecimento do movimento e de quais eram suas principais características, mantendo-se fiéis aos fatos que realmente aconteceram. Os autores eram basicamente, David McCarthy, abordando a Pop Art americana e Aracy Amaral e André Toral com a Pop Art brasileira. Nos dois casos, precisei ser bastante seletiva e tive dificuldades, pois encontrei um verdadeiro universo de artistas que poderia utilizar para mostrar a riqueza do período. A escolha foi por um conjunto de artistas para ilustrar a Pop americana e até a britânica. Primeiramente, selecionei Richard Hamilton, Andy Warhol, Peter Blacke e Jean Michel Basquiat, entre outros. Para o conjunto de artistas brasileiros, busquei Antonio Henrique Amaral, Claudio Tozzi, Cildo Meireles, entre outros. Tive uma preocupação em levantar os dados a respeito do período histórico, se ele oferecia aos alunos a percepção das características do movimento, suas semelhanças e distinções em várias linguagens artísticas, como a fotografia, desenho, pintura, gravura, colagem, entre outras. Do mesmo modo, como o ensino de artes pode ser dinâmico e capaz de unir grupos para o mesmo fim, ou seja, a criação. Além do mais, pensei que ao estudar a Pop Art surgiria a possibilidade de fazê-los questionar, dos temas afetivos, políticos aos sociais, e, ao mesmo tempo, perceberem o seu processo criador, inseridos no seu tempo. A partir do tema pesquisado o trabalho poderia ser desenvolvido, mostrando os conteúdos e trocaria idéias com os alunos, havendo assim, um dinamismo nas aulas. Abordaria questões mais específicas quanto aos conteúdos sobre as formas, as linhas e as cores caracterizando as obras e o período artístico. Depois segue o segundo capítulo, em que discorro a falar sobre o Projeto para o ensino da arte, divididos em subtítulos que privilegiam justamente os conteúdos sobre as cores, as linhas e as formas. Além disso, falo sobre como as aulas de artes e o movimento estudado podem colaborar com as vivências dos alunos. Outro detalhe relevante são as possibilidades dos alunos experimentarem materiais diferentes, dando um enfoque artístico para as suas produções. Poderiam confeccionar trabalhos manuais, uma vez que desejavam aprender os artesanatos para comercializar. Mas, em algum momento produziriam algo que tivesse um significado ampliando as suas formas de expressão. Ainda nos subtítulos há uma explicação sobre as


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possibilidades pessoais que tive na minha trajetória como aluna, e mais tarde como professora. Realizei um levantamento de algumas concepções quanto a minha atuação durante o estágio prático. Algumas delas dizem respeito ao fato de que poderia ter tido maior compreensão sobre como os alunos exploram as imagens e as lêem. As atividades que utilizei as imagens foram positivas, porém ao associá-las com a prática poderia ter dado uma orientação diferente. Especialmente, quando sugeri a confecção de estampas para camisetas e sacolas. Os alunos podiam ter feito as suas próprias imagens, exercitando exatamente aquilo na qual me preocupei em falar tanto, ou seja, relacionar o conteúdo aprendido e manifestá-lo numa produção única, singular e criada por eles. Tendo assim, maior significância para a turma ao invés de intervirem nas imagens prontas. Saliento ainda, que a minha intenção com esse trabalho não é “construir” um modelo de ensino de artes. Mas, dar visibilidade ao modo como venho estruturando algumas idéias e propostas que poderei lançar no futuro, e que são possíveis outras leituras sobre a arte e seu ensino. Sinto que completei uma etapa de vida, pessoal e profissional. Sem dúvida que os rumos que tomarei daqui para frente, especialmente as minhas novas concepções sobre arte e seu ensino ajudarão a qualificar a minha prática. As principais concepções a serem destacadas, sem dúvida servem mais como uma “lição”, do que propriamente uma concepção. Levo para a minha vida profissional, as reflexões sobre as relações, professor-aluno e o quanto elas podem ser ricas quando há troca de informações num ambiente de afeto e respeito. O quanto cada professor deve se preocupar ao planejar suas aulas, especialmente para que ele encontre um bom senso entre a aplicação da teoria e a prática, as quais não podem ficar distantes uma da outra. Seguindo então, veremos os planejamentos e as aulas realizadas, o histórico e os diálogos com a escola escolhida para o estágio, além da conclusão e dos anexos.


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1 TRAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART

O tema deste trabalho é sem dúvida o processo criador em uma época de efervescência política, e, não obstante, de mudanças sociais bastante significativas. Portanto, os períodos escolhidos são os famosos anos 60 e 70, precisamente final de um e começo de outro, respectivamente. A Pop Art do ponto de vista dos americanos e como ela ocorreu aqui no Brasil com suas peculiaridades políticas, sociais e econômicas bem distintas. Ao mesmo tempo, no ocidente inteiro acontecia um outro movimento, de certo modo, um braço da Pop, a Contracultura. A Contracultura ou a Cultura Hippie distinguindo o modo de ser dos jovens daquela época. Uma maneira de mobilização e contestação social e com ele o surgimento de novos meios de comunicação em massa. Os jovens inovando os seus estilos, voltando-se mais para o novo, aos olhos dos mais conservadores, com um espírito mais libertário. Resumindo, como uma cultura underground, cultura “alternativa” ou cultura “marginal”, focada principalmente nas transformações da consciência, dos valores e do comportamento, na busca de outros espaços, e novos canais de expressão para o indivíduo e pequenas realidades do cotidiano. Um modo de se expressar na arte indicando novos rumos e, pela primeira vez na história da humanidade, os jovens se organizaram informalmente em todo o mundo ocidental, para lutar a favor da paz e do amor. Os jovens se organizando contra temas que em geral vêm oprimindo os homens desde os primórdios das sociedades humanas, independentemente da classe social a que pertençam. As temáticas, a primeira vista, ingênuas não dizem respeito apenas a um país ou a um possível segmento de “fanáticos”. Mas, a toda uma aldeia global. De certo modo, vou registrando o que entendo por Contracultura no decorrer desta minha reflexão. Definir a Contracultura daria um trabalho à parte, e me afastaria um pouco do assunto. Mas, não posso deixar de falar de Woodstock, do Maio de 68 francês, da primeira transmissão da TV em cores no Brasil, do Califórnia Jam – 1º concerto de rock para a TV, da missão espacial da NASA com a ida a Marte no Viking I, do término da guerra do Vietnã, do tri campeonato do Brasil na Copa do Mundo no México, e tantos outros acontecimentos sociais, culturais e políticos, e suas importâncias, indiscutíveis para a nossa história. A partir daí a Contracultura adquiriu universalidade. Quanto a isto, creio que já haja um consenso. Tenho certeza que principalmente depois destes acontecimentos, nunca mais fomos os mesmos. E isto, em parte, também para a Arte foi um marco, através da Art Pop ou Pop Art. É o que pretendo apontar.


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Por ter surgido contra todo um enorme círculo de padrões sociais por onde se exprime o poder no mundo ocidental, diria que a Contracultura, juntamente com a Pop Art é sociologicamente um fenômeno de proporções continentais. A Pop Art em seus desdobramentos, sutilmente ou não, mostrou as formas menos repressivas das normas e dos padrões da existência do homem em nosso planeta.

1.1 O MOVIMENTO DA POP ART AMERICANA

O movimento artístico conhecido como a Pop Art coincide com o pós-guerra, na qual a Inglaterra e, porque não dizer o mundo, estava se reconstruindo. Já nos Estados Unidos, este movimento se identifica com os signos, com uma forma de agir das famílias americanas influenciadas pelo consumismo e pelas comunicações de massa, em especial rádios e televisões. Foi assim que surgiu a crítica irônica ao “bombardeamento” da sociedade capitalista pelo consumo de objetos. Este consumo, segundo David McCarthy, (2002, p. 6): [...] era operado através de signos estéticos, de cores inusitadas massificadas pela publicidade e, naturalmente pelo consumo, usando como materiais principais o gesso, a tinta acrílica, o poliéster, o látex e, produtos com cores intensas, fluorescentes, brilhantes e vibrantes, reproduzindo os tais objetos do cotidiano de um lar americano.

Richard Hamilton, por exemplo, soube expressar brilhantemente na sua colagem de 1956, o consumo dessas famílias com suas tecnologias recentes, através dos anúncios e propagandas dos aspiradores de pó, dos seus televisores, máquinas de café e gravadores. Em resumo, um mundo de fantasia consumista, compras acessíveis a todos, prometendo uma fuga, ainda que momentânea do árduo trabalho do pós guerra. Nada poderia ser mais atraente, mas tudo só foi deflagrado na década de 60. O mundo conheceria o poder da “máquina americana” através da sua indústria. Hamilton, segundo McCarthy sugeria, (2002, p. 7- 8): [...] não só que o reino dos meios de comunicação de massa era digno de inclusão nas categorias mais elevada da cultura ocidental, mas também que as distinções culturais tradicionais – entre elevado e inferior, elitista e democrático, único e múltiplo – poderiam ser um resquício de uma sansibilidade estética antiga e agora obsoleta. Seu uso quase descarado desses anúncios era a um só tempo irônico e sincero, uma dualidade que existe na maior parte da Arte Pop.Hamilton estava claramente consciente de que as rápidas mudanças no estilo e nas propensões do mercado no pós-guerra eram cuidadosamente projetadas através da propaganda.


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Hamilton, Richard. O que exatamente torna os lares tão diferentes, tão atraentes?, 1956, colagem. Fonte: MacCarthy, David. Pop Art – Cosac Naify, 2002.

A imagem vista acima intulada, O que exatamente torna os lares tão diferentes, tão atraentes?, foi um ícone das colagens de Hamilton. Ele demonstra muito bem os anúncios dos eletrodomésticos e tudo o que as famílias poderiam consumir para tornar o seu cotidiano mais prático. Contudo, também chamava a atenção para as correntes da moda e para os muitos públicos que essencialmente acessariam a cultura visual, não pelas visitas aos museus e galerias, mas, através de algo muito popular, ou seja, as revistas. Hamilton retirou as imagens dos seus contextos originais, as propagandas, e as colou numa nova composição. Assim, montou essas “colagens anúncios” como se fossem propagandas especialmente produzidas para um fim, isto é, para o fantástico mundo da dona de casa norte americana. Esse movimento entre a Arte e a propaganda é uma característica da Pop Art e, não somente Richard Hamilton, como outros artistas que veremos a seguir nos fizeram entender isso. Os artistas elegeram esse modo de se expressar utilizando a propaganda como veículo principal. Eles não expurgavam a arte moderna como se supunha. Apenas abordavam


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claramente os acontecimentos sociais de uma época através de colagens, pinturas e técnicas como a serigrafia e silkscreen. Isto se originou na Inglaterra com os membros do Independent Group, na pessoa de Alison e Peter Smithson, arquitetos de formação. O grupo era basicamente composto por jovens artistas que pensavam em romper e desafiar as idéias aceitas sobre Arte Moderna. O grupo rejeitava a idéia de que grande parte da Arte Moderna estivesse envolvida pelas formas misteriosas, e não possíveis de serem interpretadas por qualquer pessoa. Assim, existia uma crença de que a arte e a vida eram esferas separadas da experiência com pouco ou nenhum ponto de contato. Um exemplo, é que a colagem de Richard Hamilton mantém um estilo figurativo, ao alcance de qualquer pessoa que esteja familiarizada com as revistas populares, ao contrário de alguma obra que reverencie justamente uma pintura avessa ao consumo ou com uma linguagem diferente. Por exemplo, as obras de artistas que reverenciavam os abstracionismos, sem explicitar quaisquer sentimento consumista. A Pop Art também buscou inspiração na cultura de massa, em movimentos artísticos anteriores, dos quais faziam parte Picasso e Braque. Ao pesquisar nos livros de história da arte, surpreendo-me com o interesse desses artistas, cinquenta anos antes com temáticas semelhantes, especialmente com o interesse pela cultura popular através dos posteres, letreiros e coisas do gênero. Desse modo, podemos comprovar através dos materiais impressos do meio comercial como os jornais e os ambientes dos cafés americanos. E, antes disso os futuristas italianos já haviam celebrado a velocidade da tecnologia moderna. O Independente Group se beneficiou diretamente do exemplo do Futurismo, muito por causa do interesse de Peter Reyner Banham pelo movimento. Como crítico de arte possibilitou aos próprios artistas do Pop conhecerem o que se fez antes deles. No final dos anos 50, precisamente em 1957, Richard Hamilton faria do markething de automóveis um tema importante de sua arte, como é evidente na figura abaixo, intitulada Ela está numa situação de opulência (óleo, celulose, folha de metal e colagem sobre madeira 81 x 122) – Tate Gallery.


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Hamilton, Richard. Ela está numa situação de opulência, 1957, óleo, celulose, folha de metal e cola sobre madeira: 81 x 122 cm. Fonte: MacCarthy, David. Pop Art – Cosac Naify, 2002.

Assim sendo, é importante deixar claro o quanto o Dadaísmo e o Surrealismo foram vitais para o desenvolvimento da Pop Art. A arte Dadá iniciou com a Primeira Guerra Mundial e com frequencia adotava o niilismo (conceito filosófico que abordava a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”) e a estética antiarte em protesto à civilização que dera origem justamente à guerra. Já o Surrealismo se baseou no Niilismo, mas desejava revolucionar a consciência humana reconhecendo a realidade fundamental dos impulsos inconscientes, ou seja, da representação do irracional e do subconsciente. A importância histórica desses dois movimentos possibilitou às gerações mais jovens de artistas do pós guerra, especialmente da Segunda Guerra Mundial, expandirem seus conhecimentos. Entretanto, para melhor entender a importância dos dois movimentos é conveniente serem tratados com distinção. Revisando os escritos de David McCarthy e, tentando traduzir as suas palavras sobre o que foi a Pop Art, entendo o quanto foi impactante o Dadaísmo para esse movimento artístico, principalmente para o Independent Group, pois a atitude irreverente do movimento com sua disposição para aceitar quase tudo na esfera da arte, certamente ajudou no seu crescimento. Além disso, a arte dadá popularizou várias técnicas que mais tarde foram adotadas pelos artistas Pop. Um exemplo disso, eram os objetos achados ou selecionados pelos artistas e depois exibidos sem alteração como peças de arte. Como foi o caso do “Urinol” de porcelana de Marcel Duchamp em que ele apresentou à exposição de 1917- na


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Society of Independent Artists - em Nova York. Outra técnica favorita da Pop eram as colagens, que nos anos 20 foram estendidas a sua parceira fotográfica, as montagens. No caso do Surrealismo, ele foi tão importante quanto o Dadaísmo, especialmente para o modernismo anterior à guerra. O Surrreal era o encontro do acaso em produzir ou encontrar novos significados aos objetos achados como um elemento significante na produção artística. Combinando tudo isso, ainda associadava-se as fantasias e a atração da Pop pelo consumismo. Logo, é compreensível a fascinação de Richard Hamilton com a tecnologia e o erotismo na sua obra de 1957. Ela mostra a técnica combinada do óleo, a colagem sobre madeira e folhas de metal. Ali, fica declarada a dívida que Hamilton tinha com a influência de Duchamp dos anos 20. Anos depois, Hamilton homenageou Duchamp através de um facsímile do assemblage, que atualmente está na coleção da Tate Gallery em Londres. Mas, os movimentos Dadaísta e Surrealista chegaram à Pop Art norte americana através dos trabalhos de Jasper Johns e de Robert Rauschenberg nos anos 50. Johns dizia: “ as coisas que são vistas e não percebidas” – entrevista concedida ao curador Walter Hopps – National Gallery of Art – Washington D.C. em 1965. Essas coisas a que ele se referia eram formas simples de círculos como alvos coloridos, retângulos que lembravam bandeiras. O que se percebe é que ele pintou essas obras em um estilo gestual e não figurativo. Essas pinturas abriram caminho para a Pop Art. Resumindo, podemos pensar na Pop Art como um braço dos anos 50 e desenvolvendo vida própria à partir dessa época, exigindo novas sensibilidades artísticas. Essas novas sensibilidades podiam ser vistas através das formas, temas e dos processos artísticos pelos quais passavam cada artista. A forma era vista frequentemente através das cores saturadas, sem uma técnica elaborada de pinceladas, os contornos e delineamentos nítidos. O tema sempre combinado com o consumo das massas. Por exemplo, nas mãos de Andy Warhol as caixas de sucrilhos Kellogg’s, pêssegos Del Monte, sucos e sopas Campbell’s significavam fartura numa escla inconcebível antes da guerra, assim como, as serigrafias da Coca-Cola. Esse era um mundo de objetos duplicados e colocados à venda. As coisas representadas nas pinturas estavam ao alcance de quase todos os níveis sociais, enquanto as próprias pinturas, que se mostravam altamente vendáveis como mercadorias de arte, estavam igualmente disponíveis quando reproduzidas em gravuras, posteres e cartões postais. Ao mesmo tempo, os artistas Pop podiam usar o sucesso do mercado de certos produtos para ajudar na venda do seu próprio trabalho. Porém, é um equívoco acharmos que a Pop Art pode ser compreensível por qualquer pessoa, já que ela se originou para esse fim. Mas, com o passar do tempo, ela sofreu revezes e os seus artistas teriam que entender mais de


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história da arte do que pretendiam. Isso talvez tenha sido uma ironia do destino já que um movimento notadamente popular, considerado acessível com o passar do tempo exigiu um alto grau de conhecimento dos seus ícones. A Pop Art foi vista como cínica, indicando que o mundo pós guerra era diferente de outros tempos. Algumas declarações surpreenderam o mundo. Andy Warhol confessou, (2002, p. 26): [...] ser bom nos negócios é o mais fascinante tipo de arte. [...] Ganhar dinheiro é arte e trabalhar é arte e bons negócios é a melhor arte. Essas declarações sugeriam que os artistas estavam familiarizados com o mundo da produção de consumo do pós guerra e que ao contrário não poderiam ser considerados pessoas à parte do mundo ou considerados como uma estirpe de pessoas alienadas à cultura contemporânea e que inclusive podiam ser tratados como qualquer homem de negócios bem sucedidos. Muitos dos artistas Pop encontraram um modo de fazer sucesso nos negócios vendendo aos clientes a imagem de seus próprios gostos reempacotados através da aura das artes. E muitas das mercadorias populares descritas e representadass pelos artistas incluia os automóveis, as vitrines de lojas importantes como a Tiffany e, até as estrelas de Hollywood – lê-se Marilyn Monroe, Elvis Presley, Brigitte Bardot, entre outros . Tudo, é claro, disponível e ao alcance dos consumidores. Os artistas da Pop tinham ampla experiência em design e propaganda, facilitando a sedução que se fazia aos clientes. O que sabemos é que a Pop Art possibilitou a muitos artistas uma linguagem que podia ser guiada para vários fins, seja aclamando a cultura comercial ou protestando contra a agressão norte americana na Guerra Fria. A situação da Pop Art nos estados Unidos se diferenciou da que ocorreu na Grâ-Bretanha. Os artistas se formaram em escolas diferentes e trabalharam isolados uns dos outros até o final de 1962. Portanto, foi quando algumas exposições importantes aconteceram. Foram elas: Art 1963: A new Vocabulary, organizada pelo Arts Council na Filadélfia, e The New Realits, realizada simultaneamente na Sidney Janis Gallery em New York . Assim, revelaram vários artistas que trabalharam com materiais encontrados no meio comercial. Quase simultaneamente destacaram-se na Pop Art norte americana, Andy Warhol, Richard Hamilton, Peter Blake, Roy Lichtenstein, James Rosenquist, entre outros. Esses artistas compartilhavam de pensamentos e estilos semelhantes, utilizando cores vibrantes, desenhos simplificados e, às vezes, um tema em comum. Eles trabalhavam muito, porém separadamente e não se davam conta do que cada um fazia, isto é, não tinham o hábito de se comunicar, seja para trocar idéias ou para lançar qualquer tipo de manifesto em grupo. É importante registrar que ao mesmo tempo eles foram identifcados como os principais


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artistas daquela época e praticantes de uma nova sensibilidade. E, mesmo sabendo disso, sequer tiveram uma preocupação de promover um encontro entre si para os manifestos. Um outro fator importante entre as duas vertentes Pop, a americana e a inglesa, é que em ambas haviam uma disposição de olhar para a cultura visual dos meios de comunicação de massa e do ambiente comercial e aprender como ela se constituía em uma tendência significativa na arte ocidental. No geral, a Pop Art americana e a britânica foram tratadas como fatos isolados. No entanto, um ponto em comum entre a Pop Art na Inglaterra e nos Estados Unidos é a questão social, isto é, vários de seus artistas eram oriundos de uma classe trabalhadora imigrante e tinham pouco apreço pelas questões de hierarquias rígidas. Foi o caso de Andy Warhol e Eduardo Luigi Paolozzi, filhos de imigrantes austro-húngaros e italianos, respectivamente. Outro ponto em comum é o interesse pelas revistas em quadrinhos, pelas revistas de grande circulação, pelo cinema de Hollywood, constituindo elementos importantes na formulação da cultura visual desses artistas. Nas suas obras também ficaram evidentes a sua estima pelas fontes fotográficas. Os desenhos possuiam características formais, fortes e cores vibrantes. Além disso, é importante registrar que a Pop Art estava vinculada a momentos de mudança política e otimismo na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, tanto que o Partido Trabalhista inglês e o governo Kennedy adotaram a mesma regra para o uso da nova tecnologia no começo dos anos 60. Ambas as potências, européia e norte americana pareciam sensíveis à Pop Art para definir também o breve momento de mudança e, à medida que os anos 60 avançavam na história política, a proeminência da Pop Art enfraquecia. Contudo, no decorrer de uma década inteira, a Pop Art foi um dos movimentos centrais na arte inglesa e norte americana, confirmando vários talentos, influenciando o curso da arte nos anos que viriam a seguir e, reconfigurando o nosso entendimento da cultura do século XX. A Pop Art evitou um enrijecimento e censuras sobre as manifestações do modernismo. E, conforme as palavras de David McCarthy, (2002, p.14) [...] em favor de uma arte que era visual e verbal, figurativa e abstrata, criada e apropriada, artesanal e dinâmica e produzida em massa, irônica e sincera. Era tão complexa e dinâmica quanto o momento e os artistas que lhe deram vida. A Pop Art, sem separarmos a norte americana da inglesa, me faz refletir sobre o que devemos pensar sobre arte. Concordo com McCarthy quando ele refere que atualmente é melhor olharmos para a Pop Art e pensar nela como a precurssora para muitos dos artistas que vieram depois. E, de certo modo, melhor do que suas fontes de inspiração e que a sensibilidade da Pop Art é mais interessante.


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A sua popularidade foi imediata quanto duradoura e autorizou muitos indivíduos a levar a arte a sério. A Pop Art é compreensível na sua superfície por muitos, porém é bem profunda para aqueles observadores dipsotos a contemplar cuidadosamente as imagens e os contextos selecionados pelos artistas da época. Essas imagens eram escolhidas em seu tempo sem que se precisasse de uma formação clássica, rígida ou tradicional para se reconhecer o seu valor. Ao mesmo tempo, pode-se levar o indivíduo a pensar sobre os temas que afligem nós seres humanos há muito tempo, como o desejo de mudança rápidas. E, ainda permitiu que as universidades, galerias e museus se abrissem e se rendessem ao público em geral, para que todos tivessem acesso às artes. Sem querer a Pop Art tornou-se a melhor propaganda que o mundo da arte poderia imaginar e a sua popularidade continua até hoje. Ela defende uma nova arte, aberta a todos, sugerindo e destinando ao nosso presente que a arte necessita de algo mais.

1.2 O MOVIMENTO DA POP ART BRASILEIRA

A década de 60 foi de grande efervescência para as Artes Plásticas no País. Também pudera, foram anos de legítima fervura política, pois como reação à ditadura militar, os artistas começaram a fazer uma arte com mensagens de protesto de indignação e de insatisfação, de forma mais ou menos velada. Os artistas, como grande parte da população, discordavam da situação de repressão política no país, depois do golpe militar de 1964. Igualmente, não concordavam com o posicionamento do governo brasileiro ao lado dos Estados Unidos e com a repressão aos movimentos de trabalhadores, partidos políticos de esquerda, socialistas ou comunistas. A simpatia que os artistas sentiam pelos governos socialistas, exatamente não favorecendo os Estados Unidos aparecia na arte de maneira clara ou menos aparente. Então, justamente por influência da Pop Art norte americana, considerada popular, os trabalhos dos artistas brasileiros começaram a ser feitos com materiais e objetos de plásticos, panos, fotografias, às vezes, só ou combinados entre si, descartáveis ou, como, por exemplo, pintura em telas, as mais tradicionais. Com esses objetos invadindo o cotidiano artístico, os artistas brasileiros também assimilaram os expedientes da Pop Art com o uso das impressões em silkscreen, serigrafias, colagens, pinturas, referências aos gibis, etc. Dentre os principais artistas estão José Roberto Aguilar, Luiz Áquila, Duke Lee, José Zaragoza, Claudio Tozzi, Ivald Ganato, Antonio Henrique Amaral, entre outros.


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No Brasil, o espírito da Pop americana foi subvertido, pois, a nossa Pop usou da mesma linguagem, mas transformou-a em instrumento de denúncia política e social, ainda que tenha sido um movimento com duração mais passageira. Um dos artistas de grande importância nessa época foi Cláudio Tozzi. Ele ingressou muito jovem na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e as suas primeiras serigrafias, tiveram imediata repercussão, pois estavam comprometidas em mostrar o feminismo, a crítica social e a luta contra a ditadura militar. Tudo isso causou um forte impacto pela qualidade estética e pela abordagem de seus temas. Assim, Cláudio Tozzi destacou-se na agitada década de 1960, especialmente com “Guevara, vivo ou morto” de 1967- tinta em massa acrílica sobre aglomerado. É uma grande pintura dividida em três partes, mostrando a revolta dos trabalhadores e a miséria por meio da imagem de crianças pobres rodeando a figura simpática do herói, sorridente fumando charuto, como se ele fosse a resposta para os problemas do mundo. Como mostra a figura ao centro e abaixo.

Tozzi, Cláudio. Guevara vivo ou morto, 1957, óleo sobre tela. Fonte: Tozzi, Cláudio. Arte e Sociedade no Brasil.

1.3 PASSAGENS DE UMA ENTREVISTA

A seguir passagens de uma entrevista esclarecedora de Cláudio Tozzi concedida a Fábio Magalhães, 2007, p. 20 a 23. Fábio Magalhães: Como foi sua relação com a Pop Art, ou melhor, com a nova figuração, que também era chamada de nova objetividade? Aliás, Pop Art e nova objetividade eram tendências com preocupações


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diferentes. Você criou uma arte de conteúdo mais ideológico, revolucionário, transformador e essas características raramente estão presentes na Pop Art norte americana. Cláudio Tozzi: A década de 1960 é caracterizada por uma grande necessidade de mudanças e rupturas. AS artes plásticas se apropriaram de novos conceitos e transformaram sua linguagem. A Pop Art, realizada principalmente nos Estados Unidos, preocupava-se mais com a glamurização de imagens de consumo pré-existentes, algo mais próximo à repetição de imagens das prateleiras de um supermercado, à redundância de imagens e ícones imediatamente reconhecíveis. No Brasil, prefiro usar a palavra nova figuração, pois tem uma conotação específica, com um conteúdo referido ao que ocorria no País, ligadoà conjuntura da época. Vivíamos uma situação de opressão e repressão sob o regime militar. A pintura era parte da nossa resistência. Como você falou, nossa arte continha um engajamento ideológico e de luta. Meu trabalho tinha uma preocupação de se aproximar da linguagem dos meios de comunicação de massa e se apropriava de imagens do mundo urbano – sinais de trânsito, histórias em quadrinhos-, mas sempre com a intenção de modificar seu significado, de subverter, depropor uma sintaxe diferente do texto para criar uma nova mensagem. Criar novos objetos. Fábio Magalhães: [...] A nova figuração pretendia sair da clausura, dos salões, das galerias, dos museus e ganhar as ruas e as praças, impregnar-se do humano, na esfera da vida cotidiana. Não era suficiente transgredir na arte, era preciso transgredir na vida, abrir novos horizontes sociais. Nos Estados Unidos, a Pop Art estava impregnada de vida, mergulhava na banalidade e assim aprofundava sua interpretaçãoda sociedade voltada para o consumo. Faltava na Pop Art uma vontade de revolucionar, de mudar a realidade. Aí é que vejo a diferença de sua obra com a de Lichtenstein, que, sem dúvida, você apreciava. É verdade que muitas vezes as temáticas são semelhantes, mas a abordagem é diferente. Como você vê essa relação? Cláudio Tozzi: É, existia a tentativa de aproximação com uma linguagem que o público pudesse participar de uma forma mais intensa. A participação do espectador não era só a contemplação do olhar. Ele penetrava, identificava-se com a obra. No meu trabalho os temas saíam das páginas de jornais e das vivências cotidianas: passeatas, estudantes sendo presos, repressão, guerra do Vietnã, bandido da luz vermelha, astronautas, liberação sexual, imagens do Guevara. Os primeirps trabalhos que fiz, por volta de 1963, caracterizavam-se pela apropriação de imagens da guerra do Vietnã publicadas em revistas internacionais, que eram rasgadas, manipuladas e coladas em um suporte de madeira com resina de poliuretano. Em um dos quadros criei a imagem de uma família em meio a engrenagens, um martelo batendo numa cabeça. Uma coisa bastante juvenil, mas já com a preocupação de que não fosse uma arte meramente contemplativa, mas que qualquer pessoa, ao vê-la, pudesse ler alguma mensagem transgressora...Embora nos apropriássemos de uma linguagem utilizada pelos artistas Pop, nossa criação tinha uma forte conotação brasileira, mais ligada à situação política que enfrentávamos aqui.

Depois de ler na íntegra a entrevista que está no livro de Fábio Magalhães e que resumi acima em duas perguntas, não posso deixar de comentar o quanto este período brasileiro foi significante para a atualidade. Porém, naquela época houve a transgressão aos


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padrões políticos, sociais e econômicos de uma geração e, hoje fico na dúvida se somos capazes de transgredir, expondo nossos pensamentos e, especialmente, expressando através da arte aquilo que queremos para a nossa sociedade hoje e no futuro. Vislumbro, neste momento, talvez um certo caos. Talvez, o que Cláudio Tozzi nos mostra com maestria seja as mudanças de atitude que tomou quando levou suas obras para espaços, antes tradicionais para os espaços públicos, urbanos. Esse, certamente é um legado que ficará, as pessoas interagindo com as obras e buscando momentos de reflexão de uma época.

1.4 ARTISTAS IMPORTANTES PARA A POP ART BRASILEIRA

Outros artistas foram de grande importância para os anos 60 e 70, porém foi um período em que muitos tiveram que se expressar nas entrelinhas, não expondo claramente aquilo que desejavam para não sofrer as perseguições políticas. Assim foi com Antonio Henrique Amaral, se valendo de técnicas tradicionais, como a pintura, para expressar sua oposição à diatadura militar. Ele se utilizou da imagem de uma banana, pendendo, presas à cordas, de forma metafórica como se fosse um corpo humano, fazendo uma clara relação com os presos políticos torturados no “pau-de-arara”, método de suspender o prisioneiro pelos pés a fim de forçá-lo a fazer confissões. Trata-se de uma pintura realista, mas de uma maneira pouco explícita para não chocar a censura. Antônio Henrique Amaral deu o nome de “Alone in green”, em 1973.


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Amaral, Henrique. Alone in Green, 1973, pintura sobre tela. Fonte: Antonio. Arte e Sociedade no Brasil.

Outro artista que se destacou nessa época foi Cildo Meireles, na qual mostrou em 1971, “inserções em circuitos ideológicos”, trabalhando sobre um produto já feito, com garrafas de Coca-cola, introduzindo frases, deixando recados ao público.

Meireles, Cildo. Inserções em circuitos ideológicos, 1971. Fonte: Meireles, Cildo. Sociedade no Brasil

E, por fim não poderia deixar de citar os fabulosos Pedro Escosteguy, Marcello Nitsche, Rubens Gerchman, Antônio Manuel, Waltercio Caldas, Carlos Zílio, Antônio Dias, João Câmara Filho e Anna Bella Geiger. Estes marcaram a sua época traduzindo os seus sentimentos em obras de arte, hoje consideradas ícones de uma geração.


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A época marcada pelo conflito entre o capitalismo e o consumismo e, especialmente pelo regime militar e por outros países vizinhos do Brasil na mesma situação , os artistas eram desejosos por se manifestar, driblando a censura e expressando-se com muita criatividade. E, justamente essa sensibilidade criativa marcou um momento na arte brasileira. A partir dos anos 60, a arte contemporânea adquiriu outro caráter e importância, ainda que de pouca duração. E, com a entrada da Pop Art, puderam fazer uma pintura ou utilizar objetos descartáveis. Sobre essa influência Pop, as injustiças sociais e políticas puderam ser criticadas, às vezes, claramente ou de forma disfarçada. Diferentemente da Pop Art americana, a Pop brasileira teve um outro peso e medida. O que talvez as torne semelhantes, realmente sejam as técnicas empregadas através das suas cores vibrantes, escrajadas, mostrando a irreverência. O inconformismo dos seus artistas, já posso considerar que tenha acontecido mais no Brasil, pelas razões óbvias de uma época que reprimia a livre expressão. Cláudio Tozzi confirma isso, (2007, p. 43): Existe uma intenção, um processo, uma vontade construtiva de imprimir à obra uma estrutura formal, uma organização que reflita o ensejo de se ter uma sociedade organizada e mais justa. Assim, o sistema estrutural do quadro é todo construído, estudado. Cada linha, cada cor, cada forma da pintura é planejada. O equilíbrio formal do quadro seria o espelho do que gostaríamos que ocorresse na sociedade: uma minimização das desigualdades sociais. É um diálogo invisível de estrutura com estrutura. Toda intenção que existia no ato de comunicar dos trabalhos da década de 1960, acontece de forma velada através da forma. Cabe ao espectador desvelá-la.


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2 O TAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART E O ENSINO DA ARTE

Os registros a seguir consistem em relatar como a Arte durante o período da Pop Art pode ajudar atualmente, crianças, adolescentes e adultos a se expressarem de forma mais coerente possível, tratando das suas experiências enquanto alunos do Ensino Fundamental ao Ensino Médio, esclarecendo, igualmente, alguns fatos históricos riquíssimos. Saliento, ainda que a minha intenção com esse trabalho não é construir um modelo de ensino de Artes, mas dar visibilidade ao modo como venho estruturando algumas idéias e propostas que poderei lançar no futuro, em que são possíveis outras leituras sobre a Arte e seu Ensino. Além disso, não posso deixar de registrar o quanto este período artístico me comove e atrai. Procurei tratar de um período artístico, ou melhor, de um momento da nossa história da Arte, a Pop Art, e mais especificamente as questões formais do movimento (o ponto, a linha, a forma e a cor). Com isso, farei um paralelo entre este movimento artístico acontecido nos Estados Unidos da América e aqui no Brasil, pois eles podem ter ocorrido concomitantemente, porém, são distintos, talvez, nas suas essências. O primeiro, como se pode ver anteriormente, aconteceu em função de uma sociedade consumidora, oriunda de um pós-guerra. O segundo, trata das questões sócio-políticas e, de um período repressor, a ditadura militar brasileira. Além disso, gostaria de abordar algumas linguagens artísticas vistas naquela época, especialmente as colagens e outras técnicas ricamente trabalhadas nas obras. Algumas dessas linguagens são utilizadas até hoje, mas geralmente os alunos sequer se dão conta disso, não valorizando os momentos da nossa história. Além disso, irei propor um trabalho mais adiante com o artista Jean Michel Basquiat. Este teve uma influência artística do final dos 60, e nos anos 70/80 se consolidou ao ser amparado por Andy Warhol. Nessa época faz colagens e quadros com mensagens escritas, que lembram o graffiti do início da sua carreira e que remetem às suas raízes africanas. É também o período em que começa a participar de grandes exposições. A escolha desse assunto tomou forma após as minhas observações silenciosas e, comprovar que a turma não utiliza muitas linguagens artísticas para se expressarem, além do que, na maioria das vezes em que é dado um conteúdo da História da Arte, estes estão vinculados com a realização de artefatos, ou melhor, a confecção de artesanato. Dessa forma, a temática escolhida para o Projeto Educativo de Ensino proporcionará que os alunos, além de


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estudar um período da nossa história, possam perceber as características presentes nas linguagens da fotografia, desenho, gravura, pintura, colagem/modelagem, entre outras. A seleção desse tema também poderá abordar a publicidade e propaganda da época. E, sem dúvida será um excelente material para ser trabalhado na sala de aula. Os alunos poderão fazer relações entre a Arte e a propaganda e suas imagens. Por conseguinte, desenvolverão um olhar mais observador e crítico, com a possibilidade de exercitarem a interpretação e a criação das suas próprias imagens. Para Mirian Celeste Martins, trabalhar com Projetos em ação para o ensino da arte, significa, (Martins, 1998, p. 165): [...] o trabalho com projetos possibilita sintonizar os conteúdos que queremos ensinar com aqueles trazidos pelos aprendizes. É na sua inter-relação que poderemos problematizar e provocar o que já se sabe e aquilo que se deseja saber, ampliando e aprofundando o conhecimento arte, alimentando o questionamento, a dúvida, as possíveis soluções e o prazer de estar vivo no processo de aprender e ensinar.

2.1 AS LINHAS, CORES E FORMAS SE EQUACIONANDO

Na busca incessante de realizar aulas dinâmicas para os meus alunos me deparei com o meu próprio momento e o processo criador. Então, busquei algumas referências internamente, daquilo que eu mesma já havia experimentado enquanto aluna. Durante a minha adolescência e, depois na vida adulta como universitária, tive a oportunidade de conviver com vários professores e colegas que me inspiraram a procurar um sentido para o significado das palavras, “processo criador”. Isso me levou recentemente a exercitar a minha porção desenhista e “investigadora” de formas. Foi então, que comecei a minha trajetória como possível escultora e ceramista. Foi surgindo alguns insights de como eu poderia criar, utilizando o meu potencial artístico e me tornando, também uma educadora. Da mesma forma, fazendo, os alunos buscarem a sua essência e trabalharem o seu processo criativo, se tornando indivíduos com idéias próprias, questionadores do seu tempo. Nessa caminhada também procurei por artistas que realmente me fizessem pensar sobre o processo criador. Esse período foi consideravelmente curto, pois, felizmente nos últimos tempos tive contato com algumas obras dos artistas norte americanos, da Pop Art, em especial, Andy Warhol, Richard Hamilton, Peter Blake, Roy Lichtenstein, James Rosenquist,


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Jean Michel Basquiat entre outros. E os artistas brasileiros, Cláudio Tozzi, José Roberto Aguilar, Luiz Áquila, Duke Lee, José Zaragoza, Ivald Ganato, Antonio Henrique Amaral e outros. Os artistas com suas peculiaridades e histórias de vida bem diferentes, poderão ilustrar um período do nosso País e das artes no mundo. No caso de Cláudio Tozzi, poderei expor sua vida e obra para os alunos. Além de outros que já mencionei. Ao mesmo tempo, me preocupei também em mostrar para os alunos um artista contemporâneo brasileiro que tivesse no seu trabalho algumas características da Pop Art, ou seja, as cores vibrantes, os traços marcantes e utilizando materiais inusitados. Ainda aluna, no ano de 2009 tive o prazer de conhecer alguns trabalhos do artista plástico Delson Uchôa por conta da sua participação na Bienal de Veneza, e graças à professora Ana Lúcia que trouxe as imagens da sua passagem pela Bienal. Num primeiro instante fiquei impressionada com as semelhanças da sua arte e aquilo que eu estava estudando na Pop Art. Então, decidi pesquisá-lo e buscar referências para apresentá-lo à turma do estágio. Fiquei sabendo da sua trajetória e a sua formação como médico. Percebi o quanto a sua arte me inspirava a querer realizar um trabalho com os alunos usando materiais como o plástico ou uma daquelas tintas plásticas sobre uma superfície diferente. Mas, afinal, o que significa equacionar linhas, cores e formas? Que movimento se faz para juntar as linhas e criar uma estrutura? E, ainda que não haja regras rígidas e préestabelecidas a respeito de qual cor combina com a outra, há certas propriedades que podem ajudar. A primeira delas seria as cores primárias, seguidas pelas secundárias e, assim por diante. Depois, seria interessante a observação dos alunos com a harmonia entre elas, os seus contrastes e as escalas tonais. Tudo isso aguçando as percepções de cada um. E aí, concordo com Modesto Farina, (Farina, 1986, p. 21): [...] uma sensação visual que nos oferece a natureza através dos raios de luz irradiados em nosso planeta. (...) É uma onda luminosa, um raio de luz branca que atravessa nossos olhos. A cor será depois uma produção de nosso cérebro, uma sensação visual colorida, como se nós estivéssemos assistindo a uma gama de cores que se apresentasse aos nossos olhos, a todo instante, esculpida na natureza à nossa frente.

São questionamentos, à primeira vista, considerados ingênuos demais para quem está à procura de significados para o que seja o processo criativo. No entanto, não podemos dar as costas para estes princípios básicos que norteiam as artes, ou seja, o ato de olhar o


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mundo e as coisas faz de nós, seres humanos, habilitados a interagir com os objetos. Dessa forma, há uma relação entre as coisas e a natureza de quem observa essas coisas. Essa experiência de observar justifica as tentativas para distinguirmos aquilo que é forma, linha, cor e o que se funde estabelecendo assim, o que seria uma obra de arte. Talvez a resposta para esses questionamentos esteja justamente na configuração dos objetos e seres. Um exemplo disso é quando Rudolf Arnheim escreve no seu livro, Arte e Percepção Visual – Uma Psicologia da Visão Criadora, (Arnheim, 1974, p. 90 e 91), sobre: [...] a feitura da imagem, artística ou não, não provém simplesmente da projeção ótica do objeto representado, mas é um equivalente, interpretado com as propriedades de um meio particular, do que se observa no objeto[...]Considera-se a obra de um pintor ou escultor simplesmente uma réplica do objeto percebido.

Além disso, lembrei-me de livros que em outras ocasiões tiveram a minha atenção. Estes poderiam me auxiliar na minha investigação. Mas recordei, acima de tudo, um trecho do livro, Criatividade e Processos de Criação, da Fayga Ostrower, (Ostrower, 1977, p. 9) que diz: Criar é basicamente, formar. É poder dar forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse novo, de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e, esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar.

Dessa forma comecei a esclarecer minhas dúvidas e questionamentos a respeito do processo criador. Logicamente precisarei estudar, ainda mais, sobre o assunto, mas, tratase dos primeiros passos para encontrar aquilo que considero como o caminho certo para me tornar uma educadora segura e satisfeita.

2.2 NO QUE AS AULAS DE ARTES E A POP ART PODEM COLABORAR COM A VIDA DOS ESTUDANTES

Muito se fala em desenvolvimento criativo das nossas crianças e adolescentes e como podemos colaborar para a formação desses jovens, tanto nas áreas sócio-afetivas como nas culturais. Sendo assim, a arte desempenha um papel fundamental na vida delas, pois proporciona a todos a ampliação da sensibilidade, da percepção, da reflexão e da imaginação.


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As aulas de artes com um tema que abrace a história da Pop Art poderão favorecer os alunos, uma vez que a época escolhida para ser trabalhada é considerada envolvente, pois aconteceu não faz muito e, alguns dos seus artistas continuam atuantes até hoje. A outra questão são as linguagens artísticas como, a fotografia, os anúncios de propaganda, as colagens de materiais variados e reciclados. Essas linguagens estão mais próximas do público jovem e adulto, teoricamente mais facilmente entendidas por eles. A Pop Art significou para a sua época, um estilo de representar, isto é, de querer mostrar o que as pessoas estavam pensando sobre o consumo, as guerras, a sociedade, o trabalho, a repressão e, assim por diante. Assuntos que hoje são considerados atuais e não fogem das manchetes das revistas e jornais. E como a arte é dinâmica, capaz de unir grupos para um mesmo fim, ampliando as descobertas sobre o sujeito e, ao mesmo tempo, capaz de promover conquistas individuais fantásticas, quando este mesmo sujeito cria ou participa de vivências artísticas inusitadas. Pensei então, em unir um assunto, um período da arte com o ensino. O processo é que se torna a parte mais intrigante e reveladora para os alunos. Do mesmo modo envolve conhecer, apreciar e refletir sobre o que oferecem as produções artísticas individuais e coletivas, de distintas culturas e épocas, e, tudo o que se refere à arte como manifestação humana do fazer. E, assim, Maria Heloísa C. De Ferraz e Maria F. de Rezende e Fusari, confirmam em seu livro Metodologia do Ensino de Arte, (Ferraz e Fusari, 2009, p. 19): A escola, como espaço tempo de ensino e aprendizagem sistemático e intencional, é um dos locais onde os alunos têm a oportunidade de estabelecer vínculos entre os conhecimentos construídos e os sociais e culturais. Por isso, é também o lugar e o momento em que se pode verificar e estudar os modos de produção e difusão da arte na própria comunidade, região, país, ou na sociedade em geral. Deste modo, o aprendizado da arte vai incidir sobre a elaboração de formas de expressão e comunicação artística (pelos alunos e por artistas) e o domínio de noções sobre a arte derivativa da cultura universal.

Portanto, as aulas de artes tanto no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio devem envolver um conjunto de conhecimentos, que visem à criação de significações, exercitando a constante possibilidade de transformação do ser humano. Além do mais, que os alunos possam encarar a arte como produção de significações que se transformam de acordo com o seu tempo e espaço, permitindo justamente contextualizar o tempo em que se vive e as relações com os demais. No caso, irão relacionar o tempo em que vivem aos conhecimentos sobre a Pop Art.


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Para os alunos aprenderem arte é a possibilidade de desenvolver um caminho de criação pessoal cultivado e nutrido pelas interações que fazem com aqueles que trazem as informações para o seu processo de aprendizagem como, os seus próprios colegas, os professores, os especialistas em geral e os artistas, tanto de vanguarda quanto aqueles artistas que foram eternizados pela nossa história. Tudo isso, junto com o seu próprio processo de criação. Segundo Maria Heloísa C. De Ferraz e Maria F. de Rezende e Fusari, (Ferraz e Fusari, 2009, p. 19): Ao conhecer a arte produzida em diversos locais, por diferentes pessoas, classes sociais e períodos históricos e as outras produções do campo artístico (artesanato, objetos, design, audiovisual, etc.), o educando amplia a sua concepção da própria arte e aprende dar sentido a ela. Desse convívio decorrem, portanto, conhecimentos que desenvolvem o seu repertório cultural, mas, acima de tudo, possibilitam-lhes a apropriação crítica da arte, aprender e identificar, respeitar e valorizar as produções artísticas, e compreender que existe uma poética individual dos autores e diferentes modalidades de arte, tanto eruditas como populares.

Em contrapartida, ao professor do ensino de Artes cabe entrar em sintonia com esse aluno, não o isolando dentro da escola, sem o favorecer com os conhecimentos sobre a produção histórica e social da arte, mas, ao mesmo tempo garantir a ele a liberdade de imaginar e construir suas propostas artísticas, pessoais e coletivas com uma intenção próprias. Do mesmo modo, que essa época marca uma fase de transição em suas vidas. É quando o aluno tenta se aproximar do mundo adulto, tentando compreender dentro de suas possibilidades, questões sobre as dinâmicas das relações sócio-culturais, afetivas e, como, por que e por quem as coisas são produzidas. Isso tudo, ligado aos aspectos lúdicos e prazerosos que deve se desencadear em uma atividade artística. Outro aspecto importantíssimo, diz respeito à busca dos diálogos e das relações aluno-aluno, aluno-professor e professor-aluno. É durante essas relações que na presença do outro ocorre com uma dinâmica que possibilita aproximações, descobertas das identidades, dos valores, assim como, distanciamentos e confrontos com as diferenças. Nesse movimento de abertura e aceitações das singularidades, há também o jogo das oposições, ampliando o olhar de quem participa dessas vibrações, que são recíprocas e que dialogam com as diferenças presentes e também durante a intervenção do professor. Muitas vezes, permitindo que ocorra dentro da educação, aquilo que se fala tanto atualmente, uma educação inclusiva. Também cabe à escola orientar e apoiar o professor nesse momento, com o objetivo de impulsionar a dinâmica do desenvolvimento da aprendizagem, desenvolvendo a autonomia do aluno, favorecendo um contato sistemático com os conteúdos, temas e


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atividades que melhor garantirão o seu processo e integração como aprendentes/alunos. Essas considerações sobre os modos de aprender e ensinar arte possibilita ao professor uma revisão das teorias sobre a arte das crianças e dos adolescentes. Vejo que na ação artística das crianças/adolescentes/adultos posso envolver a criação individual ou coletiva e, nesse momento a arte contribui para o fortalecimento do conceito de grupo como socializadora e criadora de um universo imaginário, atualizando referenciais e desenvolvendo sua própria história. A arte torna presente para o indivíduo e para o grupo um meio de representações imaginárias. E, novamente entra aqui o aspecto lúdico dessa atividade que é fundamental. Assim, confirmam Ferraz e Fusari, (Ferraz e Fusari, 2009, p. 129): Em algumas atividades com crianças e até mesmo com jovens, é possível envolverse de forma lúdica a construção, a manifestação expressiva e apreciativa de imagens, sons, falas, gestos e movimentos. Nesse sentido, os jogos passam a ter um caráter também educativo e cultural. O entendimento de que as atividades lúdicas podem ser complementares aos métodos de ensino de arte integra hoje também os projetos educativos de museus e exposições de nosso país. Desde a década de 1990, são vários os exemplos que ocorreram durante exposições temáticas e ainda hoje são preparados pelas equipes de ação educativa dos museus, com o objetivo de melhor apreensão das obras e participação nas visitas. As atividades são organizadas como ações ou trabalhadas pelos visitantes com o uso de materiais, sob orientação dos educadores.

Quando os alunos do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio criam, eles desenvolvem um ritmo, produzem desenhos, modelam, pintam, dançam, inventam histórias. Mas, esses espaços estão cada vez mais substituídos fora e dentro da escola, por situações que provavelmente me renderia outra fonte de estudos. Certamente, esses jovens são levados por valores que são impostos pela cultura vigente, às vezes, com efeitos danosos as experiências artísticas. O que me deixa satisfeita é a própria condição dele ser um indivíduo em formação, que exige e questiona do adulto, condutas que os fazem repensarem suas ações. Assim, podemos aproveitar desse indivíduo o desenvolvimento do seu percurso de criação, não perdendo nunca de vista as suas experiências anteriores, de algo que já viveu ou aprendeu e os seus interesses e desejos atuais. Creio que o aluno pode e deve criar suas produções partindo das suas experiências pessoais, de um tema, de uma técnica, do contato com a natureza ou, até mesmo, de uma influência, de um “estereótipo”, entre outras tantas coisas. Nessas horas, o professor pode orientar os alunos com informações e procedimentos técnicos de artes que ele tenha intenção de conhecer e talvez dominar quanto a orientar e preservar o desenvolvimento desse trabalho. O professor também pode proporcionar ao aluno condições para que ele realize suas próprias


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escolhas para concretizar os projetos individuais e coletivos. Nisso entra a qualidade da ação pedagógica que considero vital para o fortalecimento da consciência criadora do aluno.

2.3 UM LUGAR, IDEIAS E POSSIBILIDADES?

As aulas de Artes podem ocorrer no Ensino Fundamental e no Ensino Fundamental, desde que possamos incrementar e adaptar as realidades para cada nível de idade/etário. Estou atuando na Educação Infantil, no Jardim de Infância há cerca de dezesseis anos e, nesse período, alguns aspectos vem se transformando. Além disso, atuo no Ensino Fundamental, numa 5ª série. O projeto inicial foi mantido dentro de ideais que oferecessem às crianças o desenvolvimento das suas capacidades criadoras. Porém, algumas idéias amadureceram por meio de trocas de informações com os colegas da Escola na qual eu atuo, assim como, com outros profissionais ligados às Artes Visuais. Creio que ao longo dos anos houve mudanças significativas tanto nas concepções sobre arte quanto nas possibilidades de se viabilizar propostas prazerosas, críticas e contextualizadas no ensino da arte. Foram anos de muitas alegrias e trabalhos contínuos para oferecer aos alunos momentos em busca do crescimento e do desenvolvimento de suas habilidades. Dessa forma, recuperamos para a educação aquilo que a criança ainda não perdeu, ou seja, o encantamento diante de tanta coisa que as rodeiam, desde, as pedrinhas encontradas no caminho às misturas de tintas, a lama feita com argila, os desenhos rabiscados na areia do pátio da Escola e as aulas nos ateliês de pintura. Tem-se aproveitado a curiosidade inata que as crianças possuem acerca dos materiais que compõem seu universo imediato, quer seja sobre um papel, uma tinta, um pedaço de espuma, e mesmo o sobre determinado assunto em pauta no transcorrer do projeto. Tudo é muito estimulante. Da mesma forma, que ao aluno do Ensino Fundamental e do Médio encontram possibilidades de discussões em torno das imagens que povoam nosso universo artístico. Que eles possam realizar leituras conscientes e sensíveis de outras tantas imagens que estão aí sendo consumidas passivamente. Que os momentos de criação possam ter um sentido para eles próprios. No futuro, estarei comprometida além dos pré-adolescentes, com os adolescentes e jovens adultos, no Ensino Fundamental e Médio, buscando qualidade no tempo e nos


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assuntos a serem abordados. Será um novo desafio para mim, com a certeza de que o aprendizado também será meu. Quanto ao uso dos materiais, estes devem ser diferenciados e variados e, alguns podendo ser bastante inusitados. Vou aproveitar que estaremos envolvidos com o movimento da Pop Art. Os seus artistas durante este movimento empregaram uma gama de materiais. Logo, também aproveitarei para trabalhar com os jornais, as revistas, as colas, as farinhas, o papel machê, as tintas compradas e mesmo aquelas que extraímos de cascas de árvores, de flores e de sementes compõem o arsenal específico dos momentos de construção criativa na oficina. Decididamente, não há limite para explorar a criatividade, para o “experimentar”, principalmente estando ao ar livre e nos outros espaços da Escola. Depois dessa experimentação, ainda há o encontro com as formas, linhas e cores estruturadas e que podemos auxiliar o aluno a desvendar. Nessas oficinas de arte ainda poderão ter espaço a fotografia, a colagem, a pintura entre tantas outras linguagens. É necessário estar junto com os alunos durante o seu processo de criação, encorajando-os a descobrirem suas possibilidades, trabalhando a sua coordenação motora, o equilíbrio, a motricidade fina e ampla, o olhar, os sentimentos, as sensações e a autoconfiança. Nessas horas, a professora é uma co-participante das atividades de aprendizagem do aluno, dando o apoio necessário, fortalecendo não só suas capacidades cognitivas como também as comunicativas. É por meio do desenho infantil que podemos perceber a evolução dos seres humanos, pois, esteja onde estiver - aqui no Brasil ou numa escola da China - as crianças de determinada faixa etária produzirão desenhos próprios desse nível. Por exemplo, uma criança de cinco anos produzirá uma figura humana com mais detalhamento do que uma de três aninhos, certamente, ou seja, a figura será composta de cabeça, membros superiores e inferiores, utilizando-se também da cor para enriquecer alguns detalhes. A diferença, talvez, esteja justamente na maneira com a qual se aborda as crianças, deixando-as bem à vontade para ampliarem e flexibilizarem o seu olhar diante do que estão vendo e fazendo. É esse o movimento que incentivamos junto a elas, pedindo que prestem mais atenção naquilo que normalmente já vinham realizando. A importância de valorizarmos a espontaneidade das crianças em relação à sua criatividade é fundamental. Nesse sentido, Pablo Picasso, em suas experiências artísticas, afirmou que (Kohl apud Maryann, 2003, p. 14), “Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma existência para aprender a desenhar como as crianças.” Já com os adolescentes e adultos tudo isso que relatei acima deve ter acontecido, porém sabemos que ao longo do nosso desenvolvimento, vamos perdendo a capacidade de


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nos expressarmos através do desenho. Talvez durante o meu estágio seja um bom momento para estimular o desenho no grupo. Cabe destacar que se deve respeitar a evolução gráfica da faixa etária de cada um. Tudo isso poderá favorecer uma percepção de mundo mais privilegiada e, seguramente, diferenciada por parte dos educandos. As outras áreas artísticas como, a pintura, a modelagem – entrando aqui a colagem - a confecção de instalações e estruturas tridimensionais, poderão se beneficiar com essa atitude. Em especial, as colagens que me referi na Pop Art, poderão ser estudadas com mais propriedade, uma vez que elas faziam parte do movimento artístico em questão. Daí a importância de acompanhar as crianças até a chegada da adolescência, quando algumas habilidades já se manifestaram com mais força e outras, certamente, precisarão de estímulos para aflorar nestes jovens. Sobre o seu processo como artista, Henri Matisse declarou que (Holm, apud, Anna Mari, 2007, p. 7): “É preciso ver a vida inteira como no tempo em que se era criança, pois a perda desta condição nos priva da possibilidade de uma maneira de expressão original, isto é pessoal.” Assim também nós, educadores, temos de estar atentos às questões relativas a cada etapa do crescimento infantil e do adolescente. Em razão disso, as aulas de Artes deverá constantemente estar pronta para as possíveis transformações conforme as necessidades que surgirem em cada nível de aprendizagem. Nesse sentido, a essência “do ser infantil” permanecerá inviolável, ou seja, a experimentação de materiais e a valorização do processo artístico das crianças devem ser respeitadas e valorizadas. No caso dos adolescentes, o respeito mútuo e as trocas de informações realizadas diretamente com eles, deverão nortear o caminho do professor. Ouvi-los é a chave para o início de um bom trabalho ligado aos momentos de criação. A seguir, podemos pensar no ensino de artes como um processo e conhecê-la através de uma pedagogia de projetos. Atualmente, existem estratégias de projetos, sujeitos a combinações de regras específicas. Porém, os projetos são prioritariamente fundamentados, ou pelo menos, deveriam ser baseados em uma educação que valoriza a construção do conhecimento. Deste modo, destaco as palavras de Mirian Celeste Martins, (Martins, 1998, p. 158) [...] podem firmar-se como as propostas interdisciplinares que resultam em boas transformações na dinâmica escolar, como temas transversais que são ampliados pelas perspectivas dos vários campos do conhecimento. Neles, a contribuição específica da arte pode ser valiosa. Pode-se falar também de projetos de uma disciplina, de um grupo de alunos ou, mesmo de projetos individuais.


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Portanto, falar em projetos no ensino das artes tornou-se fundamental para os educadores engajados e comprometidos. Pelo menos, é o que pretendo, formando pessoas conscientes, a partir de referenciais que não padronizem os comportamentos, mas que respeitem e valorizem as diferenças e a sua forma de expressão.

2.4 UMA EXPLOSÃO DE PONTOS, FORMAS E CORES

Em todos esses anos de Escola, posso me alegrar diante dos painéis e dos murais que observo serem montados. Tal é a criatividade dos meus alunos, ainda mais em se tratando das pinturas que são expostas no decorrer do ano. É um privilégio poder participar desses momentos, pois cada tela, cada folha de papel, grande ou pequena, seja no formato que for, recebe um tratamento exclusivo. Talvez eu tenha que realizar outro trabalho, apenas para falar sobre o que seja criatividade. Defini-la daria pano para muita manga, e nos desviaria novamente do assunto. Mas, em parte, é o que pretendo mostrar. Como a tão falada criatividade pode ser trabalhada na sala de aula? Essa pergunta que acredito nos levará para novas discussões até ela ser respondida. As crianças e adolescentes louvam os momentos de pintura, pois há uma fascinação pelas misturas de cores e pelas combinações de tonalidades. Geralmente, elas se apropriam de conhecimentos técnicos, como segurar um pincel, trocar de tinta e misturar tom sobre tom. Entretanto, a importância desse processo é a fluidez com que surgem as cenas e as figuras da pintura. Há uma simplicidade encantadora que as crianças tão bem expressam. Ao adulto, cabe apreciar esse dom inato dos alunos em criar manchas e cenas precisas e belas. Algumas vezes, na pintura, usa-se a tinta guache; outras vezes, a tinta acrílica, podendo ser aguadas na forma de aquarelas. Nada disso importa mais do que o brotar de mesclas singulares e abundantes que surpreendem a todos. Com isso, concordo com Israel Pedrosa quando fala (Pedrosa, 1982, p. 166): Colocar qualquer quantidade de cor sobre uma tela é movimentar todas as faixas do espectro, criando tensões entre a cor aplicada e o fundo branco, ou com as demais cores porventura existentes no quadro.

Do mesmo modo, que acredito nos desenhos, com as combinações de pontos e linhas trabalhados ao longo da vida escolar, uma vez que as crianças e adolescentes desejem


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isso. É possível verificar que a criança possui uma trajetória no seu desenvolvimento gráfico, e com o seguimento da adolescência. Então, igualmente, utilizaremos de uma maneira lúdica e prazerosa o que cada faixa etária poderá conceber. Pensando nisso, associarei os conhecimentos de cada criança e adolescente para abordar a Pop Art através das suas formas coloridas e as técnicas que foram desenvolvidas neste período fértil da arte. Lembrando, que o veículo maior era a comunicação, com as suas propagandas em revistas, catálogos, jornais e o início das propagandas televisivas. Nesse caso, posso usar esses dados para explorar mais o assunto e realizar comparativos com a atualidade. A exploração das formas e cores que se apresentavam na época da Pop não será problema, apostando na atração que os jovens sentirão pelas idéias libertárias. Mas, principalmente, pelo apelo consumista que não foge muito do que acontece hoje em dia. Nessa trajetória terei o cuidado de conversar à respeito dos estereótipos e os vícios que carregamos ao longo da nossa vida estudantil, passando pela academia. Logo, quando nos tornamos professores, alguns literalmente “enquadram” os seus alunos em modelos e padrões estéticos. Talvez eu possa tirar proveito disso, embora haja o estereótipo, ele será usado justamente para que os alunos tracem o seu próprio caminho, façam as suas descobertas dentro de um processo criador.


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3 DIÁLOGO COM A ESCOLA

3.1 HISTÓRICO DA ESCOLA

Em 1955 um grupo de mães preocupadas com a instrução de seus filhos procurou o então governador, Ildo Meneghetti, que atendeu aos seus pedidos. No dia 21 de junho de 1955 surgiu o Grupo Escolar, como fora chamado na época; porém não satisfeita com a denominação dada a Escola a diretora Dinah, de acordo com o corpo docente da instituição, teve a lembrança da eminente Prof.ª Dolores Alcaraz Caldas que passou ser a patrona deste estabelecimento de ensino. No transcorrer do tempo a Escola foi crescendo, aumentou o número de alunos, ampliou as ofertas de ensino, deixou de ser de ensino fundamental incompleto e trocou de nome várias vezes. Desde 2003 denomina-se Escola Estadual de Educação Básica Dolores Alcaraz Caldas. Localizada na cidade de Porto Alegre, Bairro Jardim Ipiranga, na Rua Affonso Celso Puppe Silveira, 25, a escola oferece, atualmente, os níveis e as modalidades de ensino:  Ensino Fundamental (incluindo o 1º ano do Ensino Fundamental)  Ensino Médio (Regular e EJA) No total, a Escola conta com mais de 1.100 alunos, 12 funcionários administrativos e 80 professores. Apesar de todos os professores possuírem nível superior completo e, alguns, curso de especialização, as reclamações por melhores salários e condições de trabalho são uma constante.

3.2 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES REALIZADAS NA ESCOLA

No período em que observei as aulas, acompanhei bem de perto os alunos, o que sabem e o que desejam de uma aula de Artes. Tive algumas certezas, de que eles não sabem como uma aula de Artes pode ser realizada, o quanto a dinâmica da aula pode interferir no seu entusiasmo. De acordo com Susana Rangel Vieira da Cunha (Cunha, 2001, p. 7):


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As experiências vivenciadas no ensino de Arte do Ensino Fundamental e Médio ainda centram-se na estética das belas-artes que dá um sentido universal e imutável à produção artística e geram por sua vez metodologias baseadas em abordagens empiristas e/ou inatistas. Com isso, os conceitos de Arte e seus modos de ensino formam uma coerência de princípios impermeáveis a outras propostas educacionais.

Reforcei também a idéia de que a Universidade me prepara para ser uma professora dinâmica, prática e com idéias contemporâneas. Porém, o dia a dia em sala de aula, em especial desta turma tem colaborado para me mostrar o quanto os caminhos são de vias contrárias. Há de se refletir sobre a formação da professora que é em Artes Plásticas, no entanto, faz muitos anos que ela não se reestrutura ou faz algum curso de capacitação para professores da sua área. Ela vem ensinando aos alunos do EJA, História da Arte, artistas de todas as épocas, mas dificilmente faz leitura de imagem. É como diz Howard Gardner (Gardner, 1997, p. 53), [...] todas as formas de Arte envolvem comunicação por parte de uma pessoa (ou sujeito) para outra, através de um objeto simbólico que o primeiro sujeito criou e que o segundo, de alguma maneira, é capaz de compreender, apreciar ou a ele reagir. A professora conseguiu se encorajar quando eu estava presente, pois passei para ela algumas informações que aprendi na Universidade a respeito de leitura de imagem. Logo ela se baseou nos estágios da leitura de imagens segundo Edmundo Feldman. Além disso, ela se preocupa muito em fazer ligações com os períodos históricos que os alunos estão estudando e produz com eles artesanatos baseados nessas épocas. Por exemplo, arte egípcia, ela pinta caixas com motivos egípcios. Segundo a professora, eles precisam ter uma fonte de renda. Logo, produzem artesanato para comercializar. Quanto à leitura de imagens, ela tenha que cuidar ao expor as imagens, escolhendo as maiores e mais nítidas facilitando a visão dos alunos. Assim como, estabelecer os passos da leitura cuidando a descrição do que os alunos estão vendo. Talvez num próximo encontro mediar mais esta questão formal, das cores, formas, linhas, volumes, luz e sombra. Quanto a interpretação das imagens eles conseguiram se expor mais. O professor que trabalha com leitura de imagens precisa saber mais sobre as metodologias de leitura e, segundo Mirian Celeste Martins (1998, p. 79): Propor a leitura de uma obra de arte pode ser, então, mediar, dar acesso, instigar o contato mais sensível e aberto acolhendo o pensar/sentir do fruidor e ampliando sua possibilidade de produzir sentido. É um processo de recriação interna que não pode se restringir a um jogo de perguntas e respostas.

Durante as observações pude perceber o interesse dos alunos pelos materiais como, lápis de cor, grafites, tintas e diversas técnicas. Porém, a turma ficou durante 3 semanas com aulas teóricas em que não presenciei o seu envolvimento com os materiais. Então,


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saliento a importância do professor cuidar para que possa combinar aulas teóricas com as práticas. Assim, haverá um caráter mais ativo das aulas, facilitando o envolvimento de toda a turma. Mesmo assim, fiquei satisfeita em ver os alunos sempre perguntando e tentando se manter atualizados através dos diálogos de todos, mesmo com o adiantado das horas. Afinal é uma turma de adultos que na sua maioria trabalham o dia todo e, depois tem uma jornada escolar noturna. Do mesmo modo, a professora me pareceu muito cansada e esgotada. Mas, não se deixou abater, procurando incentivar os alunos a falarem. Talvez ela tenha que diversificar mais os encontros sem restringir-se a um tipo de aula por mais de duas semanas. A outra maneira de elaborar as aulas, talvez fosse com a participação dos alunos, elegendo os assuntos que gostariam de trabalhar. Por que não iniciar a trabalhar com Projetos no ensino das Artes? Desse modo cito novamente Mirian Celeste Martins (1998, p.165) que fala: [...] o trabalho com projetos possibilita sintonizar os conteúdos que queremos ensinar com aqueles trazidos pelos aprendizes. É na sua inter-relação que poderemos problematizar e provocar o que já se sabe e aquilo que se deseja saber, ampliando e aprofundando o conhecimento arte, alimentando o questionamento, a dúvida, as possíveis soluções e o prazer de estar vivo no processo de aprender e ensinar.

As aulas de Artes não preparam os alunos para se tornarem artistas, mas incentivaos para um desenvolvimento das suas capacidades criadoras, estéticas e expressivas. Assim, as aulas de Artes devem ter um propósito de promover a livre expressão e do conhecimento de si próprio.

3.3 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO COM A PROFESSORA

A professora de Artes, Cláudia Maria Lopes Melo atua a nove anos nas escolas da rede pública de Porto Alegre. Desde então, ela diz procurar dinamizar as suas aulas e planejar cada encontro, mas, lamenta não ter tempo para preparar estas aulas como gostaria. Ela tem uma carga horária de 40 horas e diz não ter períodos destinados para o preparo das aulas, bem como, para estudar mais, se aprimorando. Percebi nesse tempo juntas que ela tem boa vontade, mas não se organiza com seus materiais. Ela também fala sobre a importância de ter claro os seus objetivos, mas na


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prática, demorou-se para organizar a turma frente às suas propostas, perdendo tempo, montando uma das aula praticamente no seu início. Nessa hora, vejo o quanto é importante um tempo destinado aos estudos para o professor se preparar e sentir-se seguro frente às propostas que ele próprio cria e conduz. Segundo, Maria Heloísa C. de T. Ferrari e Maria F. de Rezende e Fusari (2009, p.150): [...] professora de Arte precisa ter bem claro quais são os encaminhamentos de seu processo didático e o papel da arte junto às crianças, jovens e adultos. Ensinar a fazer e apreciar a arte, portanto, requer a preparação e sistematização do trabalho pedagógico, que se faz por intermédio de atuações didáticas bem planejadas, desenvolvidas, registradas e avaliadas tanto em seu processo como também nos resultados.

Em contrapartida, ela tem se esforçado para utilizar uma metodologia que privilegie as aulas práticas e expositivas dialogadas. Ela respondeu que é difícil ter material para todos. Por isso, ela compartilha imagens, vídeos e textos com os seus alunos. Os conteúdos abordados na História da Arte, segundo ela compreendem do período Barroco até a Arte Contemporânea. No entanto, no período que observei a turma percebi que a professora mesmo sendo capaz e detentora dos conhecimentos sobre História da Arte, não intercalou as aulas teóricas com a prática. Assisti apenas às aulas teóricas. Creio que leitura de imagens foi uma tentativa da professora em realizá-la, pois ela me perguntou como poderia fazer e quais os passos a seguir. Para Analice Dutra Pillar (1999, p. 16): O que se pode observar nas leituras, feitas por professores do Ensino Fundamental e Médio, é que, numa primeira instância de apropriação dessas leituras, há um certo encantamento por autores ou artistas que abordam uma determinada concepção de leitura. Isto, em muitos momentos, faz com que a leitura aprisione a obra, crie significados fechados, torne-se uma atividade técnica e não prazerosa. É importante lembrar que a marca maior das obras de artes plásticas é querer dizer o indizível, ou seja, não é um discurso verbal, é um diálogo entre formas, cores, espaços. Desse modo, quando fazemos uma leitura, estamos explicitando verbalmente relações de outra natureza, da natureza do sensível. Todo educador que mexe com arte precisa, então, encontrar uma maneira de trabalhar com os princípios básicos dessa linguagem, sem perder a complexidade da arte.

Ao responder sobre a mudança no ensino das Artes ela citou que hoje o ensino é mais dinâmico e flexível. Contudo, talvez ela devesse ter um cuidado, e perceber a importância de motivar os alunos a frequentar às aulas. Uma vez que eles saiam da sala constantemente, e poucos colaboravam com os momentos de debate sobre o assunto em pauta, fazendo tarefas de outras disciplinas.


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Quando questionada sobre os projetos e o uso de autores para auxiliar na sua montagem, disse não saber ao certo se faz corretamente os procedimentos corretos para montar um. Sente necessidade de utilizar os livros específicos sobre o assunto, mas não tem acesso. A escola também não disponibiliza livros didáticos ou de artes. Igualmente, não oferece um amparo para o professor nessa hora. Durante os encontros em que ela usou as imagens, ou, diz ter feito “leitura de imagens”, a falta de preparo se comprovou, pois, ainda que ela tivesse boa vontade em mostrá-las, ela não às reproduziu num tamanho adequado para que o grupo pudesse observar os detalhes das obras. E, considerando que as aulas ocorrem à noite, dificilmente os alunos conseguiram focar sua atenção para essas reproduções. E, isso reforça a idéia da não existência dos planos de aula, de uma rotina pré-estabelecida, enfim do preparo adequado das aulas. Ela respondeu repetidas vezes, que há pouco tempo para realizar isso. Para Mirian Celeste Martins (1998, p. 145): Mais que um espaço físico, a sala de aula é o lugar onde o professor e o seu grupo de aprendizes habitam, pois imprimem nela marcas do convívio da vida pedagógica. Em verdade, toda a sala de aula é retrato de uma história pedagógica construída numa concepção de educação. A cada dia de aula, no encontro do professor e alunos, o retrato da sala vai se esboçando. A cenografia da sala de aula precisa se tornar acolhedora. Assim como o artista prepara seu espaço, é preciso preparar o cenário da sala de aula de arte. Para isso, uma rotina de trabalho pode ajudar. Rotina construída com os aprendizes, como meio de agilizar também o tempo. Mesas sem os cadernos de outras disciplinas, encostadas ou agrupadas, materiais preparados anteriormente, podem estabelecer a marca da mudança para outra atividade.

Analisando todas as respostas da professora, notei que ela possui plenas condições para desenvolver o seu trabalho, pelo menos no quesito operacional, pois existe um espaço físico para as aulas de artes acontecerem, sala de vídeo e, ainda a sua disposição, possui alguns materiais plásticos. Assim, concordo com Mirian Celeste Martins (1998, p. 145): Mais do que quantidade de materiais, é preciso oferecer ricas oportunidades de aprendizagem. Para isso, é preciso selecionar meios acessíveis à realidade, inventar possibilidades para os materiais existentes, inovar, ousar. Havendo possibilidades de usar uma sala específica para o ensino de arte – sala ambiente – torna-se importante adequá-la para o trabalho com as diferentes linguagens artísticas.

Ela realiza algumas exposições dos alunos e programa saídas às Bienais. Tenta segundo as suas palavras, “tirar a idéia que artes é sinônimo de decoração para as festividades da escola”. Da mesma maneira, tem insistido em trabalhar com os produtores de artes, e irá


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fazer um curso para aprender a manusear os computadores da escola, assim poderá dinamizar as aulas. Apenas senti que a falta de tempo atribuída por ela é um fator determinante para a qualidade das aulas. Há um bom relacionamento entre a professora e os alunos, coordenação e direção. Então, creio que seja uma questão de organizar as aulas, preparar o ambiente e, logicamente criar uma rotina, planos e preparação dos materiais previamente para que as aulas tenham sucesso. Além disso, ela deve ter claro os seus objetivos, o cuidado na seleção dos conteúdos, variar os recursos e metodologia. Para Maria Heloísa C. de T. Ferrari e Maria F. de Rezende e Fusari (2009, p. 145): É importante que o professor registre e dê visibilidade ao seu trabalho. Desde o início, os atos e as escolhas precisam ser registradas ou anotadas em roteiros (planos, apontamentos explicando as decisões) que ajudem no desenvolvimento dos cursos e aulas de Arte. É importante que o professor se habitue à prática profissional de elaborar roteiros pessoais ou grupais (ema cadernos, fichas, computador) que contenham anotações, resumos, croquis sobre arte, bem como sobre os modos de trabalhar o conhecimento da arte junto aos alunos. Acreditamos que o hábito de narrar e registrar as atividades ajuda o professor a acompanhar, analisar e avaliar as etapas de seu trabalho.

3.4 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS

A turma do 2º ano, do Ensino Médio me respondeu de forma objetiva um questionário que veio esclarecer o que os alunos pensam sobre as aulas de artes. Na sua maioria, os alunos concordaram que apreciam as aulas de artes, podendo participar na escolha dos assuntos a serem trabalhados. Além disso, concordam que é importante trabalhar com as reproduções das obras de artes dos grandes artistas. Gostariam de ter mais contato com outros materiais além do lápis e da borracha, pois necessitam conhecer outras linguagens artísticas. Decididamente, desconhecem o que seja trabalhar com Projetos de Ensino da Arte. Então, concordo com todos os estudiosos no assunto quando falam da importância de se eleger objetivos, conteúdos e métodos de ensino. Mas, principalmente que o professor seja capaz de tornar as aulas dinâmicas, capaz de ensinar e aprender com seus alunos. Assim, concordo com Mirian Celeste Martins (1998, p. 165): [...] o trabalho com projetos possibilita sintonizar os conteúdos que queremos ensinar com aqueles trazidos pelos aprendizes. É na sua inter-relação que poderemos problematizar e provocar o que já se sabe e aquilo que se deseja saber, ampliando,


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aprofundando o conhecimento arte, alimentando o questionamento, a dúvida, as possíveis soluções e o prazer de estar vivo no processo de aprender e ensinar.

Percebi que os alunos não têm o hábito de frequentar as galerias de artes ou visitar exposições. Alegam isso, devido a sua condição de trabalhadores. Igualmente, dizem ter problemas com os horários. Porém, é um desejo do grupo de conhecer mais artistas, sendo o ensino de artes válido para a sua formação. Responderam sobre o bom relacionamento com a professora e o quanto ela se empenha para levá-los às Bienais. Frisaram muito sobre a importância de se manterem informados sobre os assuntos gerais, ligados às artes e o quanto necessitam conhecer outras linguagens, como o desenho, especialmente, a pintura, cerâmica, gravura e a fotografia. Do mesmo modo, declararam que se sentem motivados a participar das aulas quando há algo diferente, por exemplo, quando manuseiam materiais e fazem atividades que possam se expressar. Por isso, venho concordando com Miriam Tolpolar (2001, p. 38): [...] não haverá apenas conteúdos a serem vencidos ou técnicas a serem ensinadas, mas conceitos a serem discutidos, pensados e questionados, valorizando a multiplicidade de respostas e leituras a partir de uma única imagem ou de uma única proposta, tornando possível o acesso à cultura, já que a arte visual foi o primeiro bem cultural, a forma inicial de comunicação e de transmissão de conhecimento, antes mesmo da escrita. O professor deverá pensar o ensino de arte como uma permeação entre informações teóricas e propostas práticas, possibilitando aos alunos campos de investigação e produção simultâneos, construindo assim novos conhecimentos gerando novas indagações.

Outro detalhe, os alunos concordam, na sua maioria com a avaliação adotada pela escola.


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4 PROJETO DE ENSINO EM ARTES VISUAIS

4.1 TEMA DO PROJETO

Trampo, Arte e Outros Babados – A Pop Art e o Ensino da Arte

4.2 JUSTIFICATIVA

Os alunos poderão estudar um período artístico, ou melhor, um momento da nossa história da Arte, a Pop Art, e mais especificamente as questões formais do movimento (o ponto, a linha, a forma e a cor). Com isso, farei um paralelo entre o movimento da Pop Art americana e a Pop Art brasileira. Embora eles possam ter ocorrido concomitantemente, ão distintos, talvez, nas suas essências. Considero que estes estudos ajudarão as crianças, os adolescentes e adultos a e expressarem de forma mais coerente possível, tratando de suas experiências enquanto alunos do Ensino Fundamental e Médio, esclarecendo, igualmente, alguns fatos históricos riquísssimos. Este período artístico abordava as questões político-sociais, e hoje há muita semelhança com aqueles tempos. A escolha por esse tema também abordará a publicidade e propaganda da época. E, sem dúvida será um excelente material para ser trabalhado na sala de aula. Os alunos poderão fazer relações entre a Arte e a propaganda e suas imagens. Por conseguinte, desenvolverão um olhar mais observador e crítico, com a possibilidade de exercitarem a interpretação e a criação das suas próprias imagens.

4.3 OBJETIVO GERAL

Promover o conhecimento da Pop Art e suas influências nos dias de hoje e desenvolver o seu processo artístico através das leituras e interpretações de imagens artísticas


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e publicitárias. Com isso, os alunos poderão produzir individual e coletivamente, as diversas linguagens da Arte enfatizando temas da sociedade atual.

4.4 METODOLGIA

Acontecerão aulas expositivas dialogadas, leitura de imagens, práticas coletivas e individuais, pesquisas, estudos de textos e exposições de trabalhos.

4.5 CONTEÚDOS

Ponto, Linha, Forma, Cor e a Pop Art

4.6 PRÁTICA DE ENSINO

As aulas ocorreram na Turma 213 – 2º ano do Ensino Médio- EJA. A duração do estágio: de 12.03.2010 à 27.04.2010 – 7 encontros uma vez por semana, com 2 períodos de 45 minutos cada, no horário das 21horas e 10minutos às 22 horas e 40 minutos.

4.6.1 Aula 1 – 12/03

PLANEJADO Objetivos: Conhecer o Projeto de Ensino: “Trampo, Arte e outros Babados – A Pop Art e o Ensino da Arte”. Perceber os princípios básicos que fundamentaram o movimento da Pop Art (americana e brasileira).


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Conteúdos: Projeto Educativo de Ensino, Trabalhos da Pop Art

americana/brasileira. Metodologia: Expositiva dialogada, apreciação e leitura de imagens. Desenvolvimento das aulas: Através de uma conversa informal será colocado para à turma indagações sobre o movimento artístico em questão e sobre algumas obras que serão apresentadas em aula, conforme o painel a seguir (colocarei as imagens e a fonte que irei mostrar). Logo após a mostra das imagens, os alunos farão a leitura de imagens, baseada nas etapas propostas por Edmund Feldman (descrição e análise formal). Recursos: Notebook e reproduções de obras do período Pop Art e quadro branco.

Basquiat, Jean Michel, 1980. Fonte: Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/basquiat.jhtm.


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Lichtenstein, Roy: Whaam! 1963, óleo e magma sobre tela, 172,7 x 406,4 cm. Tate Gallery. Fonte: Livro de David MacCarthy

REALIZADO Nº alunos presentes: 13 O que havia planejado correu tranquilo, mesmo modificando alguns detalhes da aula que havia planejado anteriormente. Então, pensei nos alunos e nessa turma nova que teria. Propus motivá-los, ainda mais se tratando do horário das aulas, os últimos períodos de sexta-feira. Logo, iniciei a minha apresentação e expliquei como faríamos nossos encontros. Apresentei o Projeto: “Trampo, Arte e Outros Babados – A Pop Art”. Falei sobre o que poderíamos estudar e o quanto foi importante esse Movimento artístico para a época e o que significa para os dias de hoje. Fui mostrando algumas imagens e utilizando o que havia estudado no texto que preparei. A intenção é entregar algo escrito para a turma, porém, mais tarde. O importante agora é focar e prender a atenção do grupo. Acredito que atingi esse objetivo, pois fui falando sobre algumas passagens da Pop Art, os principais acontecimentos e artistas, traçando um paralelo com a Pop brasileira, suas semelhanças e diferenças e, especialmente, as questões da popularidade, o quanto se tornou uma arte “popular” e as questões político-sociais aqui no Brasil. Expliquei que essa forma de Arte possui diferentes linhas, formas e muitas cores. Além disso, falei um pouco sobre nossa situação artística, política e social estabelecendo um paralelo com o ontem e o hoje, pois alguns alunos até trouxeram algumas semelhanças com o que ocorre na atualidade.


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Percebi que os alunos foram se interessando e chegando mais perto da tela do notebook, pois no início, alguns queriam ficar sentados no fundo da sala. A participação iniciou sutilmente, mas ocorreu e, quando toquei na arte hippie e os costumes da época se sentiram ainda mais atraídos. Fui combinando algumas técnicas e as possibilidades, mas não contei detalhes. Conversamos sobre a importância do Movimento, dele trazer coisas precursoras, como a propaganda de massa, da mídia, do consumo, do início da televisão, da fotografia publicitária, das técnicas como a serigrafia, dos ícones da Pop, a música e os costumes e vestimentas da época. Além disso, propus uma atividade plástica para o outro momento que consistia em realizar uma colagem com o desenho do nome de cada aluno, com letras grandes e interferências de imagens ou desenhos de coisas pesquisadas/recortadas das revistas. Assim, eles poderiam coletar aquilo que tinham mais afinidades, que gostassem muito de fazer ou ter no seu dia a dia, mas algo que os representasse, que eu pudesse identificá-los no futuro. Fui orientando o tempo todo e repetindo para aqueles que me pediam mais subsídios para a realização dos seus trabalhos. Não falei qual a intenção disso, pois irei utilizar no próximo encontro. Aliás, pedi que de acordo com a nossa conversa anterior e as imagens que eles viram da Pop Art, sentissem o que tudo aquilo os provocava para criarem as suas próprias imagens. O meu objetivo é ver se aquilo que conversamos sobre a Pop Art havia sido entendido e de que forma poderiam usar numa atividade plástica. Aos poucos foram se sentindo mais seguros, relaxados no ambiente, pois levei uma gama de materiais como, revistas, gizes, canetas, lápis e colas coloridas. Eles teriam que colar e desenhar em folhas brancas A3. A timidez com os materiais foi percebida, pois queriam fazer tudo rápido para se “livrarem” logo da atividade. Porém, fui orientando e falando sobre a importância de se expressarem plasticamente. Algumas alunas falaram sobre o fato dos trabalhos valerem nota. Avisei que não farei prova, mas todas as produções serão levadas em conta. Isto é, contarão como pontos para a avaliação e que avisassem os colegas que faltaram para não perderem as aulas, pois nem sempre será possível retomar alguns trabalhos. Hoje estavam presentes 13 alunos. A turma está composta de 25 alunos até agora. A turma parece estar completa, mas como é início de ano, muitos ainda não estão na lista de chamada. Fui realizando a chamada para fixar alguns nomes. Acredito que falei muito no início, mas é importante se apresentar para o grupo. A turma deve saber quem sou, e porque estarei com eles durante as sete semanas. A professora ficou junto mas, não interferiu, muito pelo contrário, me deixou bem à vontade. Após a chamada, estabeleci algumas combinações sobre os materiais, sobre como podemos conversar


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e estabelecer uma parceria. Pedi que levassem a sério as produções e para as alunas que sentam no fundo da sala, solicitei que viessem até a frente para a escolha dos materiais. Há alunas que gostam de enfrentar a professora e questioná-la, mais para chamar a atenção, reclamando da atividade. A faixa etária é de pessoas com 25 anos em diante, exceção de dois ou três com 21 anos. Logo, temos pessoas bem comprometidas em realizar as tarefas. Também reconheceram a importância de ter uma disciplina para falarem e se expressarem mais. Pensei nesse trabalho para entenderem a Pop Art e, ao mesmo tempo, elevarem a sua auto estima. Acho que o papel do professor também responde às questões afetivas dos alunos, somente assim, poderão participar efetivamente das aulas. Combinamos também como funcionará a organização das aulas, início e final tendo a participação deles. Então, poderão sair com calma para pegar o ônibus, desde que se comprometam em deixar o ambiente organizado. O horário final é o ponto nefrálgico, pois na saída há uma preocupação em não perderam a hora. Os trabalhos não ficaram prontos, deixamos secando em função das colagens e houve uma preocupação da minha parte em passar nas mesas estabelecendo relações com as propagandas da Pop, já que a proposta da próxima aula será uma breve apresentação do seu trabalho e do seu nome. É uma maneira de sentir o grupo, conhecê-los mais, uma vez que não pedi para se apresentarem propositalmente. Farão isso através dos seus trabalhos. É importante registrar que temos uma aluna bem mais tímida, pouco se expressa oralmente e outra que acha que está muito “velha”, que incomoda todos e fica periférica não interagindo com o restante da turma. Duas alunas possuem diagnósticos de bipolaridade. A turma é um tanto “imatura” cognitivamente. Logo, aquilo que proponho tem que ser bem claro para o fácil entendimento do grupo. Penso que terei que ser bem objetiva e cuidar para não simplificar muito o conteúdo, mas relatando os fatos principais da Pop Art. Levar em conta as suas vivências e suas histórias de vida, pois não me pareceu que soubessem sobre esse período da nossa história. No final, me agradeceram e falaram que gostaram da disciplina de Artes após o período de Matemática. Revelaram que necessitam falar de outros assuntos e, no final, Arte não é “um bicho de sete cabeças”. Acredito que terei muitas cosias para dividir com os alunos, mas o aprendizado será para eles e, certamente uma escola para mim. E, por isso mesmo concordo com o que diz Mirian Celeste Martins (1998, p. 3): Tratar a arte como conhecimento é o ponto fundamental e condição indispensável para esse enfoque do ensino de arte, que vem sendo trabalhado há anos por muitos arte educadores. Ensinar arte significa articular três campos conceituais: a


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criação/produção, a percepção/análise e o conhecimento da produção artísticoestética da humanidade, compreendendo-a histórica e culturalmente. Esses três campos conceituais estão presentes nos PCN-Arte e, respectivamente, denominados produção, fruição e reflexão.

Alguns trabalhos dos alunos:

Fonte: Costa, 12/03/2010

Fonte: Costa, 12/03/2010


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Fonte: Costa, 12/03/2010

4.6.2 Aula 2 – 19/03

PLANEJADO Objetivos: Explorar os princípios básicos que fundamentaram o movimento da Pop Art (americana e brasileira), traçando um paralelo entre as duas vertentes da Pop Art, a americana e a brasileira. Apresentação de um Power point sobre a vida de Andy W. e Jean Michel Basquiat. Conteúdos: Pop Art – americana/brasileira. Metodologia: Expositiva dialogada, apreciação e leitura de imagens e aula prática – desenho e colagem. Desenvolvimento das aulas: Após as minhas explicações sobre as imagens e a história da Pop Art, os alunos farão uma colagem e pintura com o uso do seu nome (utilizarão isto em outro momento); Recursos: Notebook com reproduções de obras do período da Pop Art, folhas, revistas, cola, tesoura, canetas, lápis de cor, glitter, colas coloridas, lantejoulas, quadro branco. Segue abaixo algumas imagens trabalhadas em sala de aula.


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Filho, João Câmara: 1954, I (série Cenas da vida brasileira), óleo sobre tela, 1975. Fonte: Livro – Arte e Sociedade no Brasil

Tozzi, Cláudio: Foguete, Liquitex sobre tela, 120 x 120 cm, 1970. Fonte: Tozzi, Cláudio. Portfolio Brasil.

REALIZADO Nº alunos presentes: 12


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Hoje comecei a falar sobre a vida e obra de Andy Warhol e Jean Michel Basquiat, a importância desses artistas para a Pop Art Americana. Também trouxe a importância da Arte Hippie, a contracultura e seus principais símbolos. Foi uma breve colocação para que, na próxima aula, possamos desenvolver mais esse conteúdo. Quanto ao conteúdo de hoje, senti que a cada colocação sobre o movimento artístico foi despertando mais interesse na turma, especialmente sobre a vida de Basquiat. No geral, percebo que há situações da vida desses artistas em questão que não deixam de ser atuais, pois tratam do consumo das drogas e suas obras possuem hoje um grande valor comercial. Pedi que observassem bem as cores, as linhas, as formas e os motivos que apareciam nas obras. Mostrei várias obras, mas escolhi uma para que me dissessem o que viam. Fiz uma prévia do que será a leitura de imagem. No início, ficaram um tanto tímidos, mas aos poucos foram colocando o que percebiam sem uma preocupação com o sentimento. Perguntei sobre o que estavam percebendo e que eu havia falado antes sobre a Pop Art, o que caracterizava esse movimento. Senti que estavam bem dispostos para colocarem suas opiniões. Isso me leva a crer que estou no caminho para despertar mais interesse e manter a motivação da turma. Neste dia, também compareceu uma aluna nova e teve um pouco de dificuldade para perceber do que tratávamos. A professora titular deu um recado para que o grupo fale para os outros colegas sobre a reunião que ela terá na segunda-feira, dia 22/03. Será um levantamento junto à Direção, pois há muitos alunos com faltas excessivas que já repetiram o ano por conta disso. Estão tirando a vaga de outros que estão esperando ser chamados. Além do mais, ela colocou que eu não poderei retomar o conteúdo uma vez que sou estagiária e terei um tempo curto com eles. Logo, pediu para que eles compareçam às aulas. Depois, solicitei que continuassem o trabalho com o seu nome, porém faltaram muitos alunos. Perguntei ao grupo se isso acontece somente nas aulas de artes. Mas, me responderam que é com todas as disciplinas. Conversei sobre a dinâmica que faremos a partir desse trabalho e que não podemos nos prolongar com essa produção. Fiquei sabendo da troca de horário das nossas aulas de sexta-feira para terça-feira. Logo, terei que adaptar as atividades e talvez eu não consiga estar presente neste dia, pelo menos no dia 23/03, pois tenho reunião na outra escola que atuo. A professora titular e a coordenadora sugeriram que ela dê a aula no meu lugar e eu retome depois. Vamos ter que reorganizar o calendário. O que é fundamental, manter os alunos motivados, pelo menos aqueles que estão habituados a frequentar as aulas. Quanto aos demais, é importante cativá-los mostrando o


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valor da sua participação e assiduidade. Acredito que mesmo eles sabendo que sou uma estagiária, têm procurado se esforçar para criar um vínculo ainda que passageiro. Da minha parte estou propondo atividades que despertem o seu interesse, preparando as aulas com carinho e dedicação. Procuro preparar o espaço físico e os materiais com antecedência, deixando a aula mais convidativa e acolhedora possíveis. Com isso, venho comprovar mais uma vez com Miriam Celeste Martins (1988, p. 145): Mais que um espaço físico, a sala de aula é o lugar onde o professor e seu grupo de aprendizes habitam, pois imprimem nela as marcas do convívio da vida pedagógica. Em verdade, toda sala de aula é retrato de uma história pedagógica construída numa concepção de educação. A cada dia de aula, no encontro com o professor e alunos, o retrato da sala vai se esboçando. A cenografia da sala de aula precisa se tornar acolhedora. Assim, o artista prepara seu espaço, é preciso preparar o cenário da sala para a aula de arte.

Pedi para próxima aula que trouxessem a sacola ecológica ou a camiseta branca ou de cor clara, um pedaço de papelão e uma tesoura, pois iremos criar uma “decoupage” de figuras com aplicação de colas relevo para tecido.

4.6.3 Aula 3 – 30/03

PLANEJADO Objetivos: Explorar o material plástico, como o papel de guardanapo, colas e fixadores. Desenvolver nesta produção, características das linhas e cores utilizadas durante o movimento da Pop Art. Conteúdos: Modelagem, desenho das linhas e estudo das cores utilizadas durante esse período artístico. Metodologia: Aula prática e expositiva dialogada. Desenvolvimento das aulas: Após as minhas explicações sobre a decoupage, faremos o passo a passo da colagem, observando as imagens escolhidas para empregar as colas coloridas no próximo encontro. Recursos: Quadro branco, papelão, colas e fixadores, pincéis, potes, panos, camiseta branca ou sacola de pano, guardanapos para a colagem.


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REALIZADO Nº alunos presentes: 17 Neste dia iniciei perguntando como foi a aula anterior, pois estive fora em função da reunião pedagógica da outra escola em que atuo. Os alunos me informaram que finalizaram os trabalhos referentes às colagens e que discutiram mais sobre a Pop Art, especialmente os símbolos da contracultura e de algumas atitudes da época. Hoje para minha surpresa alunos que não estavam presentes nas aulas anteriores apareceram, mas sem o material solicitado. Logo me pediram para sair, mas não foram atendidos, pois já estão com excesso de faltas. Então pedi que eles dessem apoio para os colegas na confecção da camiseta. Orientei a todos como poderiam dar início aos trabalhos, solicitando calma e organização, fundamental para o sucesso da atividade. Dessa forma mostrei os materiais e o passo a passo de todo o processo. Percebi que estavam com pressa e um tanto impacientes. Quando perguntados sobre o motivo desse comportamento, declararam que a final do reality show, “o Big Brother 10” da televisão estava mobilizando parte do grupo. Nessa hora, pedi que respeitassem os colegas que se prepararam para a aula. Em respeito a mim e a eles, ficaríamos trabalhando, e tão logo terminássemos poderiam pedir para o Diretor uma dispensa, mas da minha parte não poderia liberá-los. Quanto à decoupage, iniciamos com o preparo da base de papelão. Como vemos nas imagens abaixo.

Trabalho de colagem sobre tecido. Fonte: Costa, 30/03/2010


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Trabalho de colagem sobre tecido. Fonte: Costa, 30/03/2010

Trabalho de colagem sobre tecido. Fonte: Costa, 30/03/2010

Luciane estava bem agitada e parecia querer um atendimento exclusivo. Além disso, havia na sala quatro alunas muito inquietas querendo atendimento, mesmo algumas não tendo trazido o material queriam mexer nos guardanapos antes de todos. Solicitei uma compreensão da parte delas. Percebi que não sabiam nem do que se tratava a aula. Durante o trabalho basearam-se nas figuras estereotipadas do material que levei. Isto, aliás, é proposital, pois terão que mexer naquilo que escolheram. Percebo que a técnica é importante para eles, pois querem aprender para ter um ganho extra com as vendas de artesanato. Equivocadamente pensam que darei receitas prontas, mas aos poucos irei


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conversando com o grupo esclarecendo o que farei nas aulas de Artes. Enquanto escrevo estas linhas, penso que esta turma teve um único encontro comigo, antes do estágio, uma vez que seria outra turma que assumiria. Logo, fiquei a imaginar novamente quem são os meus alunos? O que desejam? Serão eles, receptivos ou resistentes? Em tão pouco tempo conseguirei construir um bom vínculo? Percebi alguns alunos bem dispostos e bem envolvidos com a tarefa, cuidando como faziam a colagem do pano e preocupados em seguir as minhas explicações. No entanto, outros queriam terminar logo, e conseguiram rasgar o guardanapo ao passarem a cola pano para aderência na camiseta. Fui falando com eles a respeito da mudança que fariam na próxima aula, colando lantejoulas e colas coloridas, fazendo uma intervenção na imagem pronta. Será um desafio para eles, pois acham que está tudo praticamente pronto. Fomos conversando durante o trabalho, e alguns já assistiram o filme sobre o artista Basquiat. Falamos sobre a vida do artista, do talento e o quanto as idéias frutificaram em tão pouco tempo. Não há aula que não toquem nas questões sociais da época e se reportem às atuais. Isso demonstra que a maioria, está apreciando os assuntos das aulas. Assim, concordo com Mirian Celeste Martins (1998, p. 166) quando escreve, Sei que o vínculo permite o acesso mais significativo à arte, mas só será construído se eu puder estar em sintonia com meus alunos, com seus interesses, suas necessidades e suas faltas. Preciso investigar! Como poderíamos saber mais sobre nossos alunos? A observação de suas produções realizadas sem nossas intervenções pode revelar alguns interesses, mas é vital criar situações para sondar seu repertório, seu arquivo dinâmico de experiências reais ou simbólicas, para que possamos olhar melhor e mais cuidadosamente nossos aprendizes. Com essa avaliação iniciante pretendemos investigar o que já sabem e o que ainda não sabem, do que mais gostam e o que não os atrai, como agem no grupo, suas dificuldades no uso dos materiais, etc.

Isso me leva a crer que poderei continuar com os meus planejamentos, conseguindo bons resultados, enfrentando o que ainda não conheço, ou pelo menos, não conhecia no que se trata de alunos adultos de uma escola pública e noturna. Leva-me a pensar em trechos do livro de Mirian Celeste Martins. E ela define bem que não importa onde o professor atua e sim quais os passos planejados e realizados, para só então dar continuidade às suas ações. Trabalhar com projetos exige uma reflexão constante, e é por meio dela que podemos avaliar todos os passos planejados e já realizados, para dar sequência às ações. Essas ações, depois de operadas e recriadas na própria ação, serão refletidas para nova avaliação e replanejamento. /Em síntese, o trabalho do ensinante está pautado na ação–reflexão–ação. (MARTINS, 1998, p. 166)


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Novamente, as alunas que queriam sair mais cedo se sentiram contrariadas diante da não autorização para saírem. Nessa hora, precisei confrontar o grupo sobre a avaliação deles quanto aos alunos que são assíduos nas aulas, contrapondo aqueles que aparecem de vez em quando ou, melhor, apareceram somente hoje. Coloquei para o grupo o que é desenvolvido vale nota e que o comprometimento é um fator decisório no final. A professora titular teve problemas com essas mesmas alunas em função das faltas no ano anterior e já me informou que não irá permitir que elas tumultuem as minhas aulas. Para isso, ela deu um recado bem direto quanto à participação de todos e que após o meu estágio continuará com a mesma postura. Disse ainda que eu não poderei ficar esperando pelos alunos ausentes para dar continuidade aos trabalhos e conteúdos, uma vez que é injusto com quem comparece a todas as aulas. Hoje, em especial, foi uma aula muito prática, sendo uma etapa sem grandes criações. Na próxima aula eles precisarão criar em cima de uma imagem. Vamos ver como ficará. Pedi para quem não trouxe os materiais, trazê-los no próximo encontro, assim terão a chance de concluir o trabalho. Mas deixei claro que terão apenas mais uma chance. A segunda etapa do trabalho será tarefa desenvolvida sem interferir no andamento do cronograma, em respeito aos outros alunos. Observação: uma das alunas, Aline, ao meu pedido colocou a receita da camiseta no quadro branco. Outro detalhe: até agora não pude fazer a apresentação dos nomes. Um motivo, a resistência do grupo em se expressar oralmente, o outro, é que faltaram muitos alunos para completar a chamada. Percebi que a atividade seria rica, mas deixei passar muito tempo e ela perdeu o valor da função de apresentação. Cuidar para não acontecer novamente com outras atividades e dinâmicas.

4.6.4 Aula 4 – 06/04

PLANEJADO Objetivos: Conhecer os princípios básicos que fundamentaram o movimento da Pop Art.


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Experimentar na pintura um material plástico, como as colas coloridas e a cola glíter. Elevar a autoestima. Conteúdos: Trabalhos da Pop Art – americana/brasileira. Decoupage e pintura. Metodologia: Expositiva dialogada e a apreciação do trabalho de colagem com o nome. Desenvolvimento das aulas: Os alunos concluirão a decoupage e farão uma apresentação do primeiro trabalho com o seu nome. Apresentarei um texto de Marina Colasanti. Recursos: Quadro branco, papelão, colas e fixadores, pincéis, potes, panos, camiseta branca ou sacola de pano, guardanapos para a colagem. Texto de Marina Colasanti sobre o cotidiano da vida moderna. REALIZADO Nº alunos presentes: 21 No dia de hoje tive a felicidade de ver a minha sala finalmente cheia e creio que os recados anteriores foram essenciais para que os alunos se preocupassem com suas faltas. Houve alguns casos de evasão, porém, diante das faltas iniciais melhorou em muito essas presenças. Neste dia iniciei a divisão dos alunos em dois grupos, os que estão com seus trabalhos em dia e aqueles que estão atrasados. Atendi o grupo que deveria dar o acabamento nas suas camisetas e sacolas. Depois atendi o grupo que daria início às suas colagens. Uma das alunas, chamada Pâmela, estava muito agitada, querendo um atendimento quase que exclusivo. Nessa hora eu retomei com ela que deveria ter paciência, uma vez que os seus colegas também precisariam de auxílio. Pude perceber que o grupo estava bem envolvido e participando de todo o processo de criação. Mesmo assim, alguns alunos não trouxeram o material solicitado. Então, pedi para eles auxiliarem os colegas no que necessitassem, além de copiar a receita caso queiram desenvolver em outro momento, pois não teremos outro encontro para isso. Aqui, acredito que fui firme e relembrei as regras e combinações das aulas, para que levem a sério aquilo que é pedido. Uma das coisas que senti foi que o grupo precisa constantemente de incentivo para continuar vindo às aulas. Atualmente, há uma preocupação dos alunos em não faltar, mas normalmente há pouco envolvimento durante os processos criativos. Precisei ir orientando


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todo o trabalho, assim como, deixando claro que a intervenção nas camisetas precisavam ter as características de cada um. Ainda falei que as características da Pop Art precisavam ser revisitadas/relembradas durante essa intervenção. O que me fez lembrar uma passagem da entrevista de Sandra Richter (2001, p. 25) em que ela fala: A primeira condição a considerar em se tratando de arte, portanto, é a liberdade. É o fundamento de qualquer ato expressivo e, tanto a liberdade como a criação, exigem um complexo e gradual aprendizado que atravessa a construção da singularidade humana e repercute em suas relações e manifestações sociais.

Depois, retomei com o grupo a importância de se organizarem antes e durante os trabalhos. Pedi que lavassem bem os pincéis, pois estavam usando uma cola poderosa e que só a água não iria ajudar na limpeza, precisariam lavar com sabão. Além disso, reforcei ao grupo que estava iniciando os trabalhos para cuidarem a quantidade de cola permanente e cola pano. Notei hoje que o grupo estava mais rápido, conversando e produzindo. Como falei anteriormente, às vezes, a turma necessita de motivação. Os alunos trouxeram suas dificuldades para estudar à noite e a permanência na escola. Trouxeram ainda, que a professora do ano anterior, não a titular deste ano, costuma pedir muitos desenhos, sem uma atividade diferenciada. Diante de todas essas informações, conversei com eles sobre o nosso vínculo, deixando claro que o hoje é que importa. Mesmo eles sabendo que sou uma estagiária, lembrei que deveriam se sentir à vontade para conversarem, porém sem deixar de produzir. Toquei num ponto muito sensível para o grupo, o fato de não conhecê-los suficientemente. Porém, gostaria que tivessem abertura para discutirmos os conteúdos selecionados, e tudo o que desejassem saber sobre a Arte. Também li um texto que seria lido após a dinâmica/apresentação dos primeiros trabalhos, aqueles que fizeram com os seus nomes. Mas, diante de algumas mudanças no cronograma só pude ler agora. Trata-se de um texto da autora Marina Colasanti, “Eu sei, mas não devia”. O assunto é sobre a rotina de todos nós, o quanto ela pode nos transformar em pessoas acostumadas com as agruras do mundo moderno, sem reagirmos a ele. Percebi que os alunos no início não deram muita importância, mas na medida em que avancei com o assunto, conseguiram se localizar dentro do texto. Conversei sobre as dificuldades de cada um, referentes aos seus estudos, aos seus trabalhos, e em mantê-los, persistindo no que acreditam. O texto veio a calhar justamente nesse momento de sensibilidade para o grupo. Escolhi este texto com o propósito de tentar elevar a autoestima


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dos alunos. Propondo a eles um comprometimento ainda maior com as nossas aulas e com o fato de estarem frequentando uma disciplina em que possam se perguntar sobre muitos assuntos, além dos estéticos e artísticos. Mas, também nos aspectos políticos sociais de uma época como o Pop e hoje através da Arte contemporânea. Senti nesse momento que o grupo estava mais tranquilo de quando iniciou, podendo contar comigo. Vamos seguir trabalhando os conteúdos, mas continuarei assumindo uma postura em que mostro qual é o papel do professor de artes. Papel este que mostra e oferece suporte para o seu grupo de alunos. Da mesma forma que concordo com Victor Lowenfeld e W.L. Brittain (1970, p. 320): É importante o professor de arte estabelecer, rapidamente para si próprio, na sala de aula, um papel diferente do que é assumido, de modo geral, pelos professores das outras disciplinas. Se a atmosfera for tal que se tornarem possíveis a confiança mútua e o intercâmbio de idéias com os alunos, então o procedimento comum, nas aulas talvez não seja o mais adequado. Os jovens desta idade gostam e precisam de oportunidade para compartilhar e trocar idéias com alguns companheiros.

4.6.5 Aula 5 – 13/04

PLANEJADO Objetivos: Reconhecer os princípios básicos que fundamentaram o movimento da Pop Art (americana e brasileira), traçando um paralelo entre as duas vertentes da Pop Art, a americana e a brasileira. Analisar e traçar um paralelo entre a pintura contemporânea do artista plástico Delson Uchôa com as obras da Pop Art e a utilização de variados materiais (semelhanças com a Pop Art). Desenvolver uma pintura. Conteúdos: Trabalhos da Pop Art – americana/brasileira Leitura de imagem Metodologia: Expositiva dialogada, apreciação e leitura de imagens. Aula prática, construindo uma pintura com colas numa base de papel e plástico. Desenvolvimento das aulas: Os alunos farão a leitura de imagens, baseada nas etapas propostas por Edmund Feldman. Os alunos desenvolverão uma pintura destacando aspectos da Pop Art.


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Recursos: Notebook e reproduções de obras do período da Pop Art. Papel, plástico, cola colorida. Imagens das obras de Delson Uchôa.

Uchôa, Delson. Sólido e Ar, 2006. Acrílico sobre lona, 225 x 260 cm. Fonte: http:/www.delsonuchoa.com.br.

Uchôa, Delson, Gambiarra Oricuri, 2006, acrílico sobre palha e lona, 210 x 305 cm. Fonte: http:/www.delsonuchoa.com.br.

REALIZADO Nº alunos presentes: 17


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No dia de hoje propus a conclusão das camisetas para os alunos que precisavam dar um acabamento para os seus trabalhos de decoupage. Porém, antes de todos se envolverem com suas produções realizamos uma leitura de imagem de reproduções das obras dos artistas Cláudio Tozzi, João Câmara Filho e Antonio Henrique Amaral. Qual a minha surpresa, pois o grupo possui um belo repertório para conversar, no entanto quando solicitado para falar o que percebem sobre as imagens, notei que falta para os alunos, justamente o exercício da observação. Segui os passos segundo Edmundo Feldman para facilitar a leitura, uma vez que acredito que estes passos sejam bastante esclarecedores para o professor que não possui o hábito de fazer leituras de imagens. O primeiro estágio da leitura seria descrever e realizar uma análise formal do que estavam vendo. Foi difícil, pois partiam logo para uma interpretação ou julgamento. Cheguei a comentar com eles a importância de realizarmos isso no dia a dia, pois assim, podemos perceber o que está ao nosso redor. E, quando se trata de uma obra de arte, podemos iniciar falando daquilo que vemos, as cores, as linhas, as formas, o fundo da figura, os destaques e outras características. Depois disso, passamos então a deduzir o que o artista estava imaginando realizando interpretações das imagens detalhadamente. Neste tempo em que realizávamos a leitura, alguns alunos conversavam muito, sendo necessário retomar com eles a importância da sua participação. Hoje também recebi mais uma aluna nova e um aluno já inscrito que só compareceu neste dia. Este, aliás, com fones de ouvido e conversando muito. Nesta hora, pedi que retirasse os fones e prestasse atenção. Ele não trouxe nenhum material e pensou que ficaria só observando. Contudo, costumo levar materiais para todos. Ele chegou a brincar que este seria o seu primeiro trabalho no semestre. Então, comecei a deduzir que em todas as aulas precisarei contar com situações inesperadas e com pretensos alunos novos ou alunos que aparecem de vez em quando. Isso torna uma rotina difícil para o professor, para ele manter um ritmo de trabalho e os alunos exigindo retomadas. Alguns já sabendo que terão um único trabalho para recuperar as aulas. Nesta hora, vejo que o sistema educacional poderia mudar em respeito aos alunos que frequentam as aulas com responsabilidade e produzem, em detrimento daqueles que não levam a sério os seus estudos. Percebi ainda que a leitura de imagem deva ser feita com reproduções adequadas e com fidelidade das produções dos artistas, em benefício da própria leitura. Essa leitura deve ser realizada rotineiramente, exercitando os alunos para um olhar mais atento diante das produções artísticas. Além disso, só trará benefícios para o aluno através de sua percepção, dos fatos e do que o rodeia. Comprovei isso, pois além de tratar das questões formais das obras, entramos na história de vida do artista, o período que ele viveu para realizar


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determinada obra, as reações das pessoas diante dessas obras, e assim por diante. Assim, concordo com as palavras de Luciana Borre Nunes (2010, p. 54): A área das artes visuais carrega consigo o grande desafio da percepção sobre a expressão do mundo no qual vivemos. Permite refletir sobre questões pessoais e sociais e instigar novas maneiras de pensar e de agir. Mas como perceber tudo isso se o nosso olhar não foi desenvolvido para tal? Como a produção de imagens em nosso cotidiano interfere na constituição de nossas subjetividades? Como incorporarmos as imagens no nosso dia a dia?

Depois da leitura pedi que concluíssem as camisetas. Para minha frustração, apenas duas alunas se sentiram envolvidas com os trabalhos. Conseguiram colocar suas impressões e colorir dentro das imagens dos guardanapos na colagem em decoupage. Os outros alunos pouco intervieram nas imagens, pois senti que faltaram muito, não estavam sabendo o motivo e nem porque estavam fazendo esta produção. Pareceu-me que o Pop Art era algo desconhecido para eles. E era. Além do mais, houve alunos que vieram e não trouxeram nenhum material. Para quem já havia terminado, propus uma brincadeira com as colas coloridas sobre o plástico. A referência foi o artista plástico Delson Uchôa. Conversamos um pouco sobre o trabalho dele, pois já haviam visto as imagens das suas produções. Ofereci uma base de papel forrada com filmes plásticos e colas coloridas. Sugeri que experimentassem linhas e formas sem a figuração, conforme as imagens abaixo.

Trabalho de desenho com cola plástica sobre papel e filtro plástico. Fonte: Costa, 13/04/2010


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Trabalho de desenho com cola plástica sobre papel e filtro plástico. Fonte: Costa, 13/04/2010

Expliquei o que era uma imagem figurativa e outra não figurativa. Acredito que fui coerente com as explicações, pois conseguiram entender e produzir. No início, algumas alunas reclamaram que era muito fácil, mas no manejo e preensão das colas perceberam que este trabalho era bem mais delicado. Cobrei da turma o capricho e o cuidado, sem a costumeira pressa para finalizarem. Utilizei um critério que costumo mostrar e conversar com as crianças da Educação Infantil, que é a paciência para realizarem suas produções. Muitos acharam divertido trabalhar com as colas e o efeito que descobriram através do seu uso. Uma das alunas chegou a falar: “a criatividade é infinita e ela pode fazer a gente voar”. É bom escutar isso de um aluno, sentindo que a proposta além de bem aceita é viável para executar. Espero que a próxima proposta seja bem aceita, pois será um desafio para esta turma. Segundo Fernando Hernández (2000, p. 133): Nas escolas, a arte, muitas vezes, é percebida e trabalhada de maneira pouco reflexiva, sem a consideração de aspectos do cotidiano dos estudantes. Na era das imagens, há mais informações em nosso meio do que aquela que vemos. Talvez por isso, falar de cultura visual a essas alturas seja algo que, como acontece com outros temas e problemas debatidos pelos saberes contemporâneos, esteja chegando muito tarde à escola.


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4.6.6 Aula 6 – 20/04

PLANEJADO Objetivos: Explorar os princípios básicos que fundamentaram o movimento da Pop Art (americana e brasileira), traçando um paralelo entre as duas vertentes da Pop Art, a americana e a brasileira. Desenvolver uma produção coletiva utilizando-se da colagem. Conteúdos: Colagem Metodologia: Expositiva dialogada e aula prática. Desenvolvimento das aulas: Os alunos desenvolverão uma colagem em grupo destacando aspectos da Pop Art. Recursos: Papel, lápis, tesoura, canetas, tintas, painel de celulose, papéis coloridos, tecidos, revistas e outros materiais variados para colagem. REALIZADO Nº alunos presentes: 18 Hoje estávamos reunidos bem cedo na sala de aula. Porém, foi um início mais tumultuado, pois uma aluna perdeu o celular e gerou uma mobilização por parte de alguns alunos para ajudá-la a encontrá-lo. Além disso, percebi que a televisão estava ligada, mas sem o som. Pedi que a desligassem. Alguns alunos faltaram e outros mudaram de turma. Há alunos que nunca apareceram e estou indo para o último encontro. Verifiquei que a frequência não é uma preocupação do grupo, muito menos a pontualidade. Novamente faltaram muitos alunos, no que eu havia previsto, pois é véspera de feriado. Mesmo assim, aqueles que costumam participar das aulas estavam na sua maioria. Creio que será assim até o final do meu estágio, do mesmo modo, que o ano todo acontecerá essa oscilação na freqüência. A professora titular prevê esse movimento dos alunos. Para hoje propus a conclusão da camiseta e alguns a trouxeram apenas para colocar mais uma camada de termolina leitosa. Um aluno que não concluiu a sua camiseta apenas passou esse produto. Resolvi retomar com o grupo a questão da recuperação dos trabalhos uma vez que aqueles que faltam muito queriam saber como fariam essa recuperação.


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Do mesmo modo, há uma aluna que veio transferida de outra escola, a Taiane. Esta certamente terá um olhar diferenciado, pois não se trata de faltas e sim de uma mudança de escola. No entanto, quem faltou ou não trouxe os materiais solicitados certamente terá que recuperar com a professora titular, pois não estarei mais com o grupo. Para o grupo maior trouxe as folhas de celulose. Na verdade é um composto de várias fibras de árvore, parecendo uma tela de pintura. Nesta base propus uma colagem coletiva. No início percebi uma reação nada favorável por parte da turma. Porém, não voltei atrás e fiquei firme nessa idéia. Fui pedindo que se dividissem em três grupos, ofereci revistas, cola, tesoura, canetas, lápis de cor e colas coloridas, além de tecidos e papéis diversos. Fui orientando o que cada grupo trabalhava. Lancei a proposta de que deveriam revelar nessa tela um tema comum, procurando figuras, desenhando e escrevendo o que desejavam expor para os outros grupos. Poderiam ser ideias referentes à preservação da natureza, ecologia, biodiversidade, moda, comportamento ou mesmo deixar uma ideia para debate, falando sobre os temas sociais, discriminação, inclusão, etc. Mais de uma vez expliquei a proposta, pois algumas alunas tiveram dificuldade de realizar e resistência para dar o início. Na próxima semana farão uma apresentação do seu trabalho, defendendo as idéias da sua produção coletiva. Logo que pedi agilidade na reunião dos grupos houve alunos que se recusaram e se manifestaram contrariados com esse tipo de trabalho. Mas fui bem direta, disse que este era um dos únicos trabalhos em grupo, realizado somente na escola e que todos precisam ter uma experiência coletiva, independente de terem tido uma experiência negativa. Percebi que aos poucos eles foram assimilando e quando viram que eu não voltaria atrás e que dependeria uma nota, os grupos iniciaram lentamente as suas produções. Houve aluno que dizia não entender a proposta, mas percebi que era para retardar o início do trabalho. Além do mais, houve um aluno que se negou a trabalhar, mesmo com a minha intervenção. Disse não concordar com as ideias do grupo, mas não o vi conversar sobre as suas opiniões e defendelas. Fabiano é um aluno introspectivo, usa óculos de um grau elevado e pouco se relaciona com os colegas. Ele se mantém periférico e acabou saindo da sala, mas primeiro parou de pé por alguns minutos e quando dei por mim, havia saído sem pedir licença. Certamente, será muito difícil sua inclusão no grupo no próximo encontro, uma vez que não ajudou seus colegas a confeccionarem os detalhes. Alguns deles relataram que ele costuma fazer isso, mas que não gostaram dele não fazer nada. Entretanto, não iriam delatar o colega. Avisei que não se preocupassem, pois percebi a sua atitude diante do grupo.


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Senti que a turma iniciou de maneira receosa, mas depois foi se divertindo com as propostas de criarem as figuras “esquisitas”. Retomei as propagandas e os temas da Pop Art, e como eles poderiam utilizar a linguagem da colagem, da pintura e do desenho com os temas atuais. Sugeri os temas ecológicos e sociais uma vez que não conseguiam chegar a um denominador comum. Um dos grupos resolveu expressar suas opiniões sobre moda sem que eu precisasse interferir ou sugerir algo. Apenas pedi que deixassem um espaço para a moldura. As imagens dos trabalhos, logo abaixo, revelam que aos poucos os alunos foram se sentindo motivados a colocar uma palavra ou imagem, colaborando com o grupo, se sentindo parte dele.

Trabalho de colagem sobre lâmina de celulose. Fonte: Costa, 20/04/2010


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Trabalho de colagem sobre lâmina de celulose. Fonte: Costa, 20/04/2010

Trabalho de colagem sobre lâmina de celulose. Fonte: Costa, 20/04/2010

O acabamento talvez ficasse para depois. Notei que essa produção poderia ser realizada em dois períodos, mas precisou de mais tempo até que se sentissem mais seguros. Percebo que não é um hábito da turma realizar propostas muito diferenciadas nas aulas. Aquilo que sai fora dos padrões do que acham ser as aulas de artes eles ficam curiosos, mas, primeiramente ficam resistentes. Depois de experimentarem o novo e uma proposta bem fundamentada eles ficam mais seguros e se permitem uma exploração maior. Noto que são pessoas maduras, porém, para as propostas plásticas, se tornam pessoas que não gostam de se expor, ou melhor, possuem dificuldades para entender as propostas e uma falta de vivência


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nessa área da educação, das Artes Visuais. E, com isso só venho a concordar com Luciana Borre Nunes (2010, p. 46): A Cultura Visual rompe com as barreiras de uma educação tradicional, pois propões diferentes olhares e interpretações sobre as mais diversificadas situações. Usa e problematiza as temáticas e os objetos do cotidiano, porque acredita que os sentidos atribuídos a esses não são únicos e sim mutáveis. Torna-se um campo propício para o desenvolvimento de outros olhares e terreno fértil para que as intensas mudanças sociais estejam presentes nas discussões e nas reflexões de educadores, educadoras e estudantes no âmbito escolar.

4.6.7 Aula 7 – 27/04

PLANEJADO Objetivos: Explorar as linhas, formas e cores utilizadas nas obras da Pop Art, assim como, os temas das obras. Conteúdos: Pintura/colagem Metodologia: Expositiva dialogada e apreciação de algumas imagens. Aula prática. Desenvolvimento das aulas: Os alunos farão uma pintura em grupo, formando camadas e texturas, fazendo uma comparação com as formas e cores da Pop Art, bem como, os assuntos/temas abordados nas obras. Encerramento do estágio com uma mensagem: O Filtro Solar. Entregar texto sobre o tema da Pop Art. Recursos: Tintas, papel A1, pincéis, potes e panos para limpeza.

REALIZADO Nº alunos presentes: 20 Como de costume cheguei à Escola carregada de materiais. Porém hoje, sabia que seria meu último encontro com esta turma. Eu estava motivada e, ao mesmo tempo, um pouco emocionada com o término de mais uma etapa de minha vida acadêmica. Programei alguns


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momentos diferentes para a aula, especialmente porque reservei o final da aula para um fechamento e confraternização junto com os alunos e a professora titular. Propus aos alunos continuar com a colagem sobre a celulose e dar um acabamento nos trabalhos de grupo, uma vez que estão acostumados a entregar suas produções sem detalhar muito. Pedi que eles observassem aquilo que fizeram na aula anterior, depois colocassem aquilo que desejassem para complementar. Do mesmo modo, sugeri que retirassem aquilo que não haviam gostado, fazendo suas escolhas coerentes com o tema. Tive que reorganizar os grupos, pois chegaram alunos novos que não haviam feito nenhum trabalho comigo. Aliás, esse foi um dado importante no meu estágio, receber alunos novos a cada encontro. Expliquei a proposta e pedi que ajudassem no detalhamento, bem como na apresentação a seguir. Percebi que os alunos estavam mais agitados e falantes. Sabiam que era a minha despedida, mas que eu poderia voltar em outra ocasião. Combinei fazer uma aula de papel maché para que produzam uma “arte utilitária”. Todos estavam entusiasmados com o fato de expressarem suas opiniões à respeito dos trabalhos. Mesmo iniciando timidamente, notei que as opiniões eram sinceras e baseadas naquilo que haviam trabalhado. Foram falando sobre como chegaram a um acordo sobre o tema a ser desenvolvido e como combinaram as colagens, desenhos e pinturas. O resultado ficou muito bom. As temáticas variaram entre moda, preservação da natureza e o cotidiano da vida contemporânea. Como era de se esperar alguns alunos falaram mais do que os outros componentes. Dois grupos se apresentaram com seis integrantes cada um e outro grupo com oito alunos. Escolheram as palavras, pois evitaram as gírias, mesmo assim, a apresentação fluiu tranquila e os grupos debateram o que foi apresentado. Sugeri que estes painéis fossem expostos pelo corredor. A Escola não possui uma preocupação de expor os trabalhos dos alunos. Isso talvez poderia ser aproveitado como um foco motivador para que trabalhassem mais em grupos. Dessa forma, desencadeando também mais motivação e assiduidade nos alunos. Acredito que os ambientes acolhedores possam servir como lugar para se expressarem, dos desejos de um grupo à realizações pessoais. Certamente não afastaria os alunos como vem acontecendo, mas, o acolhimento seria um recurso para atraí-los para mais perto da escola, evitando tantas faltas e desistências para concluírem o ano. Constatei que seria interessante esta turma ser estimulada a se expressar plasticamente, assim como, se expressar oralmente. Penso que há uma necessidade desses alunos em realizar trabalhos que eles possam resgatar a sua autoestima, construindo os seus valores. Por isso concordo com Ema Brandt, (2001, p. 36), quando ela escreve:


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Produzir a partir de linguagens artísticas implica oferecer aos alunos oportunidades variadas de ação e de expressão. Todo processo de produção permite que eles experimentem, improvisem, expressem idéias, explorem, revisem e repitam, adaptando-se a diferentes situações e a novos desafios. O docente, em seu papel de mediador, poderá trazer pontos de partidas sugestivos para desencadear as produções dos alunos: procurará problematizar e informar alternativamente de acordo com a circunstância ou o momento de trabalho, ajudará a tornar observáveis as diferentes conquistas e a sua comunicação para o grupo para que seus alunos progridam na construção de novos conhecimentos, de modo que a ação e reflexão se complementem. Incentivar os alunos em suas buscas e na variedade de resoluções, valorizar as conquistas e propiciar o prazer por se expressar serão fundamentais para consolidar suas possibilidades criativas.

Mais tarde, avisei sobre os materiais que eu deixaria para a turma e do texto sobre a Pop Art que deixei para realizar as cópias necessárias. Além disso, preparei a turma para assistirem a mensagem, O Filtro Solar, que coloquei em DVD. Depois ofereci um lanchinho especial como forma de carinho. Nem preciso dizer que adoraram! Eu fiquei com a sensação do dever cumprido, mas algumas tarefas me pareceram inacabadas, ou melhor, a sensação de que poderiam ser melhor explicadas e aproveitadas pelo grupo. Senti que poderia ter feito mais, contudo sei que um distanciamento me fará bem. Assim, saberei no que preciso mudar e transformar na minha prática. Para finalizar gostaria de deixar registradas algumas palavras significativas de Ema Brandt, (2001, p. 34): A produção e a apreciação nas linguagens artísticas são momentos diferentes, que possibilitam tanto uma contínua interação como os caminhos entre conhecimento e sensibilização. Apreciar implica uma aproximação perceptiva e sensível com as produções artísticas, caminho paralelo que traçamos quando começamos a construir conhecimentos sobre as diferentes linguagens que intervêm na elaboração de uma obra. Portanto, no caso do ensino da linguagem plástico-visual, a questão é ver algo mais do que as sutilezas das combinações das cores e das formas, captar suas relações de composição. É ter sensações diante de uma paisagem ou de uma obra que vão além daquelas que sentimos no dia-a-dia. Encontrar novos significados em todos os meios e em todas as maneiras de expressão plástica. Encontrar nas imagens diversos sentidos e novas ressonâncias. Ver e olhar com uma intenção leva ao aprofundamento da capacidade perceptiva. Essa capacidade possibilita desfrutar e compreender diferentes aspectos dessa linguagem, conhecer de outras maneiras o mundo que nos rodeia, abrir portas para imaginar outros mundos possíveis.


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CONCLUSÃO

A presente análise cuidadosa da minha prática de ensino indicou-me alguns rumos a tomar daqui para frente, especialmente no que trata as minhas concepções sobre arte e o seu ensino durante o período escolar, compreendidos desde a Educação Infantil ao Ensino Médio. A situação em que se encontra o ensino de artes não está contribuindo muito para que as crianças, adolescentes e adultos elaborem sua linguagem expressiva, aqui entendida como uma forma de ler e representar suas relações com o mundo. Dessa forma é necessário que nos cursos de formação de professores sejam repensadas as formas de ensinar arte, para que os antigos modelos não sejam transpostos para as salas de aula nos dias de hoje. Logicamente, não pretendo desprezar tudo o que já foi feito pelo ensino de arte. Graças aos processos educativos anteriores, que hoje estamos oferecendo uma formação mais adequada para os nossos alunos. Creio que nem tudo está perdido, pois muita coisa está sendo feita, principalmente nas Universidades. Tenho acompanhado muitos professores universitários, nos cursos de formação de professores, e os vejo comprometidos com o processo de uma recuperação expressiva dos seus alunos, facilitando essa mudança nas escolas de educação básica. Então, acabam desencadeando uma transformação em seus alunos, no que diz respeito ao pensamento conceitual, isto é, as formas de pensar a Arte e o seu ensino. Percebo que estão mudando e possibilitando uma abertura para a compreensão de saberes mais amplos, seja no campo pedagógico, cognitivo e sócio-afetivo. Voltando a falar sobre as minhas concepções sobre arte, um ponto que considero fundamental transformar é a idéia de que a Arte e seu ensino devem ser centrados apenas em objetos e modalidades convencionais como, a pintura, desenho, recorte e colagem. Não que eles não sejam importantes, mas, entender o ensino de arte como um modo de interpretar a cultura visual também por meio das imagens do nosso cotidiano, como as utilizadas nas propagandas das revistas, dos periódicos, dos painéis de rua, entre outros. Talvez, seja interessante oferecer as imagens aos alunos para as apreciações de um modo geral, pois elas ensinam a debater os modos de ser e de estar no mundo. De maneira que podemos propor atividades que mostrem as intervenções em imagens encontradas prontas. Outra forma produtiva seria pedir para os alunos apresentarem as suas criações de acordo com suas opiniões e ideias. Mostrando-os sem inibições, ampliando a sua confiança através dos seus próprios meios de expressão.


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Na minha experiência de estágio na escola noturna, do Ensino Médio, pude verificar alguns aspectos significativos para refletir sobre o trabalho com imagens. Escolhido o Projeto, ponderei sobre os processos de criação dos alunos, na oportunidade de desencadear maior motivação na turma e nas possibilidades de aprendizagem de cada um através dos estudos com imagens. Estabeleci que o Projeto, “Trampo, Arte e outros Babados – A Pop Art” seria atraente e convincente para abrir diferentes possibilidades de discussões com os alunos do 2º ano, bem como, uma fonte de inspirações para as suas produções. Mas, percebo hoje que cometi alguns enganos. Gostaria de discorrer em seguida sobre eles. Pude comprovar que sempre ao solicitar dos alunos aquilo que desejo, devo ser clara e objetiva. Sem fazer muitos rodeios, explicar o passo a passo da prática, mostrando o que pretendo durante a execução das tarefas, e pedindo para eles significarem as suas produções. A importância de colocarem a sua marca nessas produções de imagens. As aulas que foram planejadas nem sempre tinham como objetivo o que foi alcançado pelos alunos, simplesmente pelo fato de que as manifestações dos alunos com relação às atividades, às vezes, tomavam outro rumo. Isto é, a atividade se estendia por mais de um período de aula, além do horário que inicialmente havia sido proposto. Contudo, o resultado das produções não era menos producente ou interessante. Eles próprios se posicionavam diante das suas produções enquanto faziam as apreciações e apresentavam seus trabalhos para a turma. Como foi na sexta aula quando propus ao grupo fazer um trabalho coletivo intervindo nas figuras, fazendo desenhos ou deixando mensagens escritas sobre aquilo que desejavam expor. Poderiam realizar os trabalhos contendo ideias referentes à preservação da natureza, ecologia, biodiversidade, moda, comportamento ou mesmo uma mensagem para debate falando sobre os temas sociais, como discriminação e inclusão. Precisei retomar esses temas, pois não chegavam a um acordo. Mais tarde, ao entrarem num consenso, conseguiram selecionar as imagens e chegaram até a montagem dos seus quadros. No cotidiano de sala de aula, inserindo as imagens senti que apresentei a parte histórica do movimento artístico com um bom andamento cronológico, mostrando os fatos significativos. Proporcionei um espaço para a observação e leitura das imagens artísticas, sem problemas. No entanto, devo confessar que foi difícil fazer os alunos compreenderem a importância das ligações do que estudaram com o que deveriam produzir. Talvez pela minha própria dificuldade de sintetizar as idéias e pedir a eles para darem um sentido para aquilo que estavam construindo. Para exemplificar o que acabei de citar, a partir da terceira aula foram confeccionadas sacolas e camisetas, e anteriormente expliquei as características da Pop Art e


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os seus acontecimentos mais importantes. Os alunos utilizaram imagens prontas, com o propósito da intervenção. Mas, depois entendi que eu poderia ter explorado mais, e deixado eles próprios construírem as suas imagens, tornado as produções muito mais expressivas. Percebi que a atividade em si ajudou-os a desenvolver uma técnica, mas pouco representou o que estavam pensando. Mesmo assim, os assuntos que surgiram através das imagens que os alunos escolheram, motivou-os a se exporem, mesmo os alunos que pouco frequentavam as aulas. Entendi que nem tudo tinha se perdido. Houve um saldo positivo, ainda que as imagens dos trabalhos em geral pudessem ser melhores exploradas e trabalhadas. Verifiquei que os alunos ficaram deslumbrados com o material e não se organizaram como previsto, precisando de ajuda para focarem a atenção. Depois do meu auxílio, conseguiram focalizar o trabalho. Para os alunos que eram tidos pela escola como uma turma de fracassados, por serem repetentes, valeu o envolvimento com a atividade. Mostraram-se empenhados, havendo sentido ao manusearem objetos diferentes. Eles sentiram naquele momento uma oportunidade de pensarem em algumas coisas próximas das suas experiências pessoais. Nessa hora, notei que haviam compreendido também a importância do movimento artístico, da Pop Art. Alguns alunos expuseram que haviam entendido como a época dos anos 60/70 foram “loucas”, e, ao mesmo tempo, capazes de fazer o homem pensar e ser criativo. Igualmente, compararam os acontecimentos da época da Pop com alguns momentos atuais, principalmente as semelhanças com as questões sociais e políticas da atualidade. Além disso, se deram conta de que a quantidade de materiais plásticos favorecia as produções, e como o processo artístico poderia fazer uma pessoa refletir e discutir assuntos variados sobre meio ambiente, moda, economia e vida em sociedade. Tudo isso bem explicado através da fala de uma das alunas que disse: “a criatividade é infinita e ela pode fazer a gente voar”. Um detalhe também importante para ser registrado é o fato de perceber que poderia ter explorado mais os conteúdos das linhas, cores e formas, que cito no meu Projeto. Nesse sentido, teria feito outras atividades relacionadas com esses conteúdos. Como na primeira aula, em que exploraria melhor esses aspectos, pois utilizei as imagens do artista Jean Michel Basquiat. As reproduções das obras desse artista ajudariam os alunos a estudar melhor os conteúdos em questão, já que se trata de imagens fortes, significantes para o movimento artístico que utilizava variadas formas, traços e coloridos. Outro ponto observado é que anteriormente à minha chegada as propostas de atividades ou a realização de produções que os faziam discutirem e exporem as suas ideias eram pouco realizadas. Contudo, ao experimentarem diferentes propostas, primeiramente


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resistiam, mas depois se permitiam um envolvimento maior, se sentindo mais seguros. Isso confirma que o grupo necessitava de estímulos para se expressar plasticamente, resgatando com isso sua autoestima, construindo seus valores. Quando falo na construção, ou mesmo, na manutenção de valores dos alunos, compreendo que durante os encontros conseguia motivá-los a discutir sobre isso, incentivando-os a falarem para o grande grupo, especialmente com os alunos mais assíduos. Falavam sobre as questões sociais em que viviam na atualidade, como as dificuldades para se manterem empregados ou mesmo estudando. Na força de vontade que deveriam ter para continuar os seus estudos, mesmo estando cansados depois de uma rotina árdua de trabalho. Outra questão era a dificuldade da frequência de alguns alunos. Assim, comprometendo a continuidade dos conteúdos que era interrompido ou constantemente revisado, sem falar nas atividades práticas quando esses alunos não levavam o material solicitado. E isso, era um fato que sem dúvida ajudou-me no pouco investimento da nossa relação, professor-aluno. Sabedora que tínhamos um tempo limitado, sendo apenas uma passagem minha pela turma. Confirmei também que a Escola recebia alunos novos a todo instante. Isso não ajudou os alunos a se fortalecerem para os estudos, dificultando até a descoberta de uma identidade para o grupo. Normalmente, aqueles alunos que estavam sempre presentes e eram comprometidos não se sentiam valorizados, uma vez que havia novos alunos entrando em sala sem o mesmo envolvimento. Ao mesmo tempo, descobri que não havia uma cobrança significativa da direção com a assiduidade, nem com a participação efetiva dos alunos em sala de aula, dificultando a própria motivação do professor e a sua maneira de atuação. Desse modo, não me sentia confortável em tomar atitudes mais firmes quanto à disciplina, ou mesmo, com o fato de alguns alunos não se prontificarem em trazer o material solicitado para o dia de aula. Quando, nessa hora, a própria coordenação poderia nos ter amparado e dado um suporte. A professora titular nesses momentos foi de vital importância, me dando apoio e revelando-se parceira para discutirmos algumas práticas e necessidades do grupo. Na quarta aula, essas limitações também me impediram de administrar melhor outra situação, quando um aluno não quis participar do trabalho coletivo. De certa forma, pensei em não expor o aluno e poupá-lo, uma vez que senti que realmente havia um comprometimento maior dele com essa questão. Vejo que esta é uma das dificuldades do estagiário. Não ter conhecimento total dos alunos que frequentam a escola. Muitas vezes, ficamos sem saber a sua história, impedindo de auxiliarmos mais a todos. Depois, notei que poderia ter investido nas contra propostas ou em projetos mais individualizados, privilegiando


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esses alunos com dificuldade para se exporem. Toda a turma lucraria com os projetos diferenciados. Nas Artes Visuais o processo criador, o pensamento, os sentimentos, as percepções, deverão sempre ser levadas em conta, sem deixar de haver o encantamento com o produto, afinal ele faz parte disso tudo. A ligação entre o sentimento e o que é sentido pelo aluno, que está em um processo de criação, será mais importante. Cabe ao professor uma orientação consciente que faça o aluno entender e dar um significado para aquilo que está sendo produzido. Então, reforço a importância do professor guiar o aluno para uma reflexão do seu processo artístico, dando sentido para as produções, associando-as aos conteúdos estudados. Assim, a leitura de imagem fará parte do modo de interpretar a nossa cultura visual, sendo vital que os alunos a realizem cotidianamente nas escolas. A minha trajetória nos últimos anos acadêmicos mostrou-me que muito aprendi, mas, ainda tenho bastante a aprender. É certo que após os estágios ainda terei o que refletir, justamente sobre a minha prática. Desde o Estágio I venho revisitando o que registrei nas observações, nos questionários, nos textos, e tudo o mais que serviu de referência para transformar e renovar a minha prática no dia a dia. O importante é buscar aulas bem planejadas, dinâmicas e acertadas. Digo que revisitar o que já fiz nem sempre é fácil, pois, além dos aspectos positivos me dou conta também de que cometi enganos. Embora, sejam detalhes de uma pessoa em formação, são informações preciosas para me capacitar cada vez mais. Acredito que é uma sensação natural de que através das reflexões muitos detalhes da minha atuação passaram despercebidos, e que agora consigo visualizá-los. Aquilo que poderia ter feito de maneira diferente. Como, por exemplo, ter solicitado aos alunos a criação de desenhos e estampas próprias para as suas camisetas e sacolas, deixando-as mais personalizadas ainda. Além disso, poderia ter explorado a fotografia, solicitando intervenções em fotos dos rostos de cada aluno, numa espécie de foto shop artístico, quando estudei Andy Warhol. Portanto, são atividades que talvez os ajudasse a compor projetos mais individualizados. Mas, afinal de contas, o estágio nos coloca, enquanto alunos um pouco nervosos, e esse sentimento acaba por dificultar um olhar e atitudes mais objetivos da nossa parte. Da escolha dos materiais às atividades executadas. Mais tarde, durante o andamento do estágio, algumas situações ainda me provocaram incertezas. Atualmente, dou mais valor para essa experiência de aprendizagem que passamos juntos, transformando a minha percepção e o modo como atuarei no futuro. Portanto, sinto que jamais serei a mesma pessoa de quando


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iniciei este curso. De tal modo que fico com a sensação do dever cumprido, e de uma experiência profissional significativa.


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REFERÊNCIAS DE PESQUISA

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APÊNDICES


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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO COM A DIREÇÃO


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APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO COM A COORDENAÇÃO


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APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO COM A PROFESSORA


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APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS


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ANEXOS

UM CD CONTENDO:

1 – APRESENTAÇÃO EM PPT FEITA PARA A BANCA 2 – TCC EM VERSÃO PDF 3 – MATERIAIS RELATIVOS À PRÁTICA DE ENSINO NÃO CONTEMPLADA NO TCC


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