Entre fios e cores, mulheres tecem no Filé as estratégias de vida

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 6 | nº 991 | Outubro | 2012 Pereiro - Ceará

Entre fios e cores, mulheres tecem no Filé as estratégias de Vida Alice Oliveira, Cleide Crisostomo, Daniela de Oliveira, Ivanilda da Silva, Luciana Crisostomo de Oliveira, Kátia Maria, Santana Maria de Aquino e Risoneide Marques residem na comunidade Trindade, zona rural do município de Pereiro, região Vale do Jaguaribe, no Ceará. Elas formam o grupo de mulheres do núcleo “Unidas para Vencer”, e fazem da técnica do filé (artesanato) seu hobby de entretenimento e uma renda a mais para o sustento familiar. Entre fios e cores, dedos, olhares e sentimentos entrelaçam-se, dando formas a pequenas peças ornamentais e artigos para cama, mesa e banho. O trabalho artesanal desenvolvido pelas mulheres da comunidade Trindade faz parte de uma rotina histórica na região do Vale, quando, no século passado, mulheres descobriram que As peças são tecidas na grade com a arte poderiam aproveitar melhor o tempo ocioso e garantir mais renda familiar. Após o período chuvoso as famílias sentavam tecendo a malha, ou a tela, para vender em Jaguaribe, principal sede da atividade na região, onde a arte era finalizada. No ano de 2008, as mulheres de Trindade foram convidadas para participar de um Curso de Capacitação promovido pela Associação dos/as Produtores/as de Artesanato de Pereiro (ASPAPE). Com o curso, elas aprenderam a formar os desenhos na tela, que até então eram vistos como um desafio para a finalização da arte. “Nesse primeiro curso a gente aprendeu muita coisa sobre artes”, conta Daniela, acrescentando que os cursos seguintes proporcionaram conhecimento diversificado e maior aperfeiçoamento. “Em cada curso a gente aprendia uma coisa diferente”, conta Santana, artesã e também coordenadora do núcleo. A partir de então se associaram à ASPAPE, e consolidaram o grupo de mulheres artesãs em Trindade, ao qual deram o nome de “Unidas para Vencer”, e tem como coordenadora Santana Maria de Aquino. O trabalho coletivo fortalece o grupo

O grupo trabalha coletivamente. Quando tem

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Ceará

encomenda se reúne na casa de Kátia, onde discute sobre as peças e as confeccionam. Outras vezes fazem em casa e se reúnem apenas para discutir o preço. “O trabalho é uma terapia e quando a gente se reúne é melhor ainda, uma diversão. É todo mundo junto bordando. A gente faz uma festa”, comemora Risoneide. . Além de atender a encomendas, as mulheres costumam fabricar também para vender fora. Geralmente mandam para Fortaleza e São Paulo, onde, segundo as mesmas, conseguem vender por um preço melhor, pois em Jaguaribe, onde corriqueiramente é vendido, é bem mais barato. Kátia conta que a falta de mercado e recursos Tela pronta para ser bordada financeiros para comprar os fios ainda é a maior barreira enfrentada. Às vezes têm peças e não conseguem vender, outras vezes, têm encomenda e não têm fios para fabricar as peças. “Não temos capital de giro e nem um local fixo de venda. Muitas vezes ficamos paradas. Por conta da falta de dinheiro compramos o fio do atravessador e isso encarece o material”, lamenta Daniela. Mesmo diante desses desafios, elas reconhecem os benefícios que o trabalho vem trazendo. “Melhorou muito a nossa renda. Tem mês que apuramos mais de 150 reais. Não é o ideal, mas já contribuem bastante com as despesas de casa, que antes eram pagas apenas com o Bolsa Família - benefícios do Governo Federal”, comenta Kátia. “Esse trabalho melhorou muito a vida da gente. Com o dinheiro podemos comprar mais alguma coisa. Quando não tinha meu trabalho na tela tudo era mais difícil”, diz Ivanilda, a Nana, como é conhecida pela comunidade. Outro benefício apontado pelas mulheres é a solidariedade e a coletividade com que desenvolvem o trabalho. “Quando uma não tem fio, quem tem, compartilha do seu”, evidencia Cleide. A expectativa é que o trabalho seja mais bem reconhecido e consigam outros cursos para aprimorar a arte. “Temos muita vontade de crescer enquanto artesãs, e que através dessa associação a gente seja beneficiada com cursos, e que apareça mais encomendas para ter mais trabalho”, almeja Santana. Elas acreditam que com a Associação poderão conseguir banco de fios e fazer exposições para divulgar melhor o trabalho, além de incentivar outras pessoas a trabalharem em equipe, desenvolvendo o espírito de solidariedade para melhor conviver na região. “O trabalho coletivo favorece a troca de conhecimento. Uma pessoa sozinha não vai muito longe, com outras é possível, porque a união faz a força”, Daniela. História - De acordo com a história, o filé é um tipo de artesanato que surgiu há 200 anos, em Alagoas. Começou pelas mulheres como imitação das redes de pescadores. Quando os homens saiam para pescar elas ficavam em casa e depois das atividades domésticas começavam a trabalhar. Em Pereiro, não é diferente, o trabalho é realizado também pelas mulheres ao terminarem os afazeres de casa.

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