Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 5 | nº 128 | setembro | 2011 Ouricuri - Pernambuco
Uma colheita farta e feliz Sistema agroecológico familiar melhora a qualidade de vida no Sertão pernambucano A família de Maria Aparecida Monteiro de Souza, mais conhecida como “Cida”, de 38 anos, e Francisco Delmondes da Silva, mais conhecido como “Chicão”, de 43 anos, mora no Sítio Laginha, no município de Ouricuri, Araripe pernambucano. Há 20 anos, o casal vive na propriedade com os seis filhos: Luzia, de 18 anos; Patrícia, de 16 anos; Reginaldo, de 15 anos; Ronaldo, de 13 anos; Maria, de 12 anos, e o caçula Romildo, de 6 anos. A família conta que no início a vida era muito diferente, principalmente, no que se refere ao acesso à água. “Não existiam cisternas naquela época, somente uma barragem na comunidade, que ainda assim secava durante o período de estiagem. Para conseguir água, era preciso percorrer seis quilômetros até chegar ao açude do governo, e a gente trazia água nos animais dos vizinhos ou então de bicicleta”, relembra Dona Cida. A principal atividade da família sempre foi a agricultura, sendo assim, à medida que os filhos cresciam, ajudavam nas tarefas da roça. As dificuldades eram muitas, entretanto, ao longo dos anos, começaram a surgir alternativas para conviver com a região semiárida. No início da década de 90, o Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas (Caatinga) iniciou um trabalho na comunidade. A família agricultora começou a participar de uma associação e desenvolver atividades coletivas. Em 1998, Chicão e Dona Cida foram beneficiados com uma cisterna de placas, que tem capacidade para armazenar 15 mil litros de água para o consumo humano. O reservatório foi construído pelo Caatinga, através do Projeto Fundo Rotativo Solidário. Em 2004, a entidade ampliou o trabalho na comunidade, por meio de um Agente Promotor de Agroecologia (APA). O objetivo era realizar atividades de formação com as famílias, a partir dos princípios da agricultura O casal e os filhos envolvidos nas atividades produtivas. agroecológica. Dessa forma, a família de Chicão e Dona Cida pôde entender a importância da preservação ambiental, das práticas de conservação do solo, como também sobre os plantios sem o uso de defensivos químicos. “Nessa época
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eu já não conseguia trabalhar mais com os venenos, pois eu utilizava em grande quantidade nos legumes e acabava passando mal, então quando o APA chegou, a gente já estava procurando uma alternativa que não fosse os produtos químicos. O conhecimento era o que faltava pra gente largar de vez”, pontua Chicão. Há quatro anos, com o objetivo de fortalecer a produção de alimentos agroecológicos, foi construída uma cisterna calçadão na propriedade, uma das tecnologias do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA). A implementação armazena até 52 mil litros de água e foi responsável pelo A família fazendo a colheita do algodão agroecológico. incremento e ampliação da produção familiar. Com o tempo, a família aprendeu a estocar alimentos para consumir durante o período de estiagem. As conquistas não param por aí. No final de 2009, através do Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada), a família foi beneficiada com a construção de uma barragem subterrânea, um sonho antigo de Chicão. Segundo o agricultor, a tecnologia do P1+2 conseguiu potencializar a produção, já que ela tem algumas especificidades. “A vantagem da barragem é porque ela mantém o solo úmido mesmo durante a seca, com isso os cultivos não morrem”, detalha. Atualmente com as duas tecnologias hídricas na propriedade, a família de Chicão e Dona Cida consegue plantar uma diversidade de frutas e hortaliças em seu quintal. Para cuidar bem dos canteiros, a família produz um fermentado feito com esterco bovino, água e pó de pedra. O casal conta que utiliza o preparo nas hortas, no milho, no feijão, além disso, ainda serve como adubo, no combate à mosca branca, e também contribui com o crescimento das plantas. Há seis anos, o casal de agricultores é assessorado pelo Chapada, através do Projeto Dom Helder Câmara (PDHC). Nesse sentido, no início deste ano, eles também começaram a plantar algodão agroecológico. O projeto envolve outras famílias da comunidade, e Chicão e Dona Cida estão animados com a oportunidade. O agricultor conta que a ideia é plantar o algodão consorciado com outras culturas como gergelim e amendoim de forma agroecológica. A colheita das famílias será exportada para o mercado justo europeu com o preço diferenciado, além disso, as propriedades receberão a certificação orgânica. De acordo com Chicão, o algodão agroecológico vai gerar renda e melhorar a qualidade de vida das famílias. “O algodão é o eixo principal, mas ele incentiva outras coisas e ainda traz muitos conhecimentos que podem ser aplicados no nosso cotidiano”, reforça. Atualmente a família sobrevive com a renda da comercialização do excedente da produção na própria comunidade. O casal ainda conta com oito colméias e produzem uma média de 120 litros de mel por ano, no entanto a maior parte dessa quantidade é destinada à comercialização. “Não temos do que reclamar, pois temos uma diversidade de produtos. Meu marido nunca mais precisou tirar uma diária de serviço, antes eu tinha que comprar e hoje eu tenho para vender”, resume Dona Cida. No futuro, a família espera construir uma casa melhor e conquistar outros projetos que possam desenvolver cada vez mais a propriedade para fortalecer a experiência que hoje já é referência. Apoio:
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