Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 5 | nº 165 | setembro | 2011 Várzea Nova- Bahia
“Se a gente não guardar como é que a gente vai viver neste sertão?” Guardar as sementes para utilizar no plantio quando a chuva chegar. Esta tem sido a alternativa de muitas famílias camponesas do semiárido brasileiro para se adaptarem ao clima e continuarem vivendo e produzindo nesta região. Os bancos de sementes comunitários são cada vez mais acolhidos e coordenados coletivamente pelas comunidades do semiárido fornecendo estocagem e troca constante de solidariedade. Não só por isso os bancos existem. Outro objetivo é garantir a tradição das sementes crioulas e também a autonomia do pequeno agricultor. Há mais de duas décadas, na comunidade de Piedade, no município de Várzea Nova, a 400 km de Salvador, BA, a família de João Pedro Alves de Souza (57), sua esposa, Marizélia Joaquino de Souza (43 anos) e seus cinco filhos, Marcelo, Juliana, Daniela, Joice e Mateus, vem mantendo a tradição familiar de armazenar sementes e ao mesmo tempo multiplicando esta prática na sua região.
O retorno ao campo Pedro serviu ao exército durante cinco anos, mas queria mesmo era voltar para o campo, não no intuito de trabalhar para latifúndio e sim na mesma atividade do pai, agricultor e com isto conquistar sua autonomia. Movido pela fé em Deus e na esperança de alcançar o seu desejo, voltou para a casa dos pais e logo quando A família: Seu Pedro, Juliana, Mateus, Joice, chegou, em 1980, já plantou roça e teve uma boa Marcelo e D. Marizélia colheita. Desde então, disse que nunca perdeu uma roça, pois aprendeu com a natureza e na participação em eventos, como planejar o tempo certo de plantar para não perder tempo e nem roça. Seu Pedro desde que voltou aprendeu a participar de associações e sindicatos e com isto teve muito trabalho e conquistas. Casou-se e com sua família intensificou o seu ofício. O agricultor e outras pessoas lutaram e conquistaram a titulação de terras do município de Várzea Nova e constituíram bancos de sementes comunitários em seu município; Também presidiu o sindicato de trabalhadores rurais de Várzea Nova, esteve entre os fundadores da Cooperativa de Crédito do Piemonte da Diamantina, hoje ASCOOB, que deu origem a COFASPI, e neste período conquistou e participou de muitos espaços.
Multiplicador de sementes O banco de sementes é o tesouro da família. Foi no seu retorno à vida no campo que sentiu a necessidade de manter uma tradição familiar, guardar as sementes. Com esta organização nunca ficaram sem sementes e sem alimentação, mesmo em períodos mais escassos de chuva. Isto só foi possível porque aprenderam com a natureza e o saber popular a conservar as sementes que estocavam, a planejarem e a organizarem a plantação de acordo com o período de chuva. O armazenamento era feito em ocos de umburanas chamados de “barricas”, depois em “paios” feitos de tijolos. “A maior perda da região é quando a gente não planejava, não guardava semente e ficava doido correndo atrás das sementes depois de chuva”, conta Seu Pedro. Com a estocagem também promovem um resgate de variedades locais e aumentam a diversidade com as de outras regiões. São sementes repassadas de geração a geração, que adquiriu com o avô e que
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