Caminhos da experimentação no sertão de Ourolândia

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 5 | nº 161 | maio | 2011 Ourolândia- Bahia

CAMINHOS DA EXPERIMENTAÇÃO NO SERTÃO DE OUROLÂNDIA No meio, a mata cinza que separa o azul do céu do vermelho da terra. Os berros das cabras e dos bodes misturados com os sons das galinhas compõem a melodia desta orquestra sertaneja. Mais ao fundo, o canto dos pássaros afinam esta sinfonia. O cenário que se apresenta é o da caatinga. Este bioma, que hiberna neste período e aguarda pacientemente a chuva para brotar e mostrar sua beleza, abriga o pedreiro, agricultor e militante social, José Anchieta, sua esposa e seus três filhos. Desde 1990 optaram em (con)viver com as condições climáticas da comunidade de Cais, no município baiano de Ourolândia, no Território Piemonte da Diamantina, a 458km de Salvador. Morar no sertão é o que ele preserva desde moço quando aprendeu com o pai, além de fincar suas raízes nesta terra, as duas atividades que mais exerce hoje: cuidar da roça e construir cisternas. Em ambas as profissões sempre atua com postura de militante religioso e social da comunidade onde mora.

Erguendo e disseminando esperanças Começou cedo na profissão de pedreiro, mas foi com a construção de cisternas que ele escreveu a sua história. Pioneiro nesta profissão, na região de Senhor do Bonfim, e, posteriormente, na de instrutor dos cursos de pedreiros, ergueu as primeiras placas desta tecnologia social na propriedade da família quando ela ainda era novidade, em 1986. Depois disto, não parou mais de levantar cisternas. As primeiras foram dos projetos da igreja Católica na Diocese de Senhor do Bonfim financiado com dinheiro estrangeiro. A partir de 2003 vieram as destinada a armazenar água para o consumo humano, da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e, posteriormente, as de produção. Neste rumo, ele partiu para ser um multiplicador de conhecimentos, como instrutor das capacitações de pedreiros. Nesta atividade começou, praticamente, com os projetos pilotos do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). Exercendo esta função, de ensinar aos outros pedreiros a serem cisterneiros não só desenvolveu a habilidade de multiplicar conhecimentos técnicos, mas também de ser um mobilizador social. Modesto, hoje não consegue contar quantas pessoas ajudou a ter uma nova profissão, entre outras ações. Ele também foi incentivador de ações solidárias por onde andou. Ele explica que a solidariedade com o próximo junto com valor de multiplicar experiências é fundamental, “eu faço porque gosto e acho que precisa e todo mundo devia fazer isto. Quando a gente sabe de uma coisa e o Seu Anchieta na capacitação de pedreiros ensina como outro não sabe a gente pode ensinar”, afirma. preparar os materiais necessários para erguer a cisterna. Como exemplo, ele conta que, quando erguia esta tecnologia também se preocupava em cobrar que elas beneficiassem, prioritariamente, as comunidades que mais necessitavam, “a gente dizia, primeiro dá pão e água a quem ta com fome e a quem ta com sede. Sei que com isto nós conseguimos fazer um movimento aqui na parte do sertão e conseguimos que Ourolândia fosse bem atendida com cisternas da ASA”. As boas ações iniciadas por ele não terminam por aí. Entre elas, os mutirões de construção e cobertura de cisternas para as famílias que não eram contempladas pelos projetos. “A gente chamava o pessoal da entidade, ás vezes eles conseguiam arrumar algum cimento, a gente entrava com o restante do material e a própria família comprava o cimento e algum material que faltasse. No final a gente juntava os pedreiros que estavam atendendo naquela comunidade e cobria as cisternas e/ou fazia algumas”. A atividade de pedreiro de cisterna significou muito na sua vida e o ajudou a edificar os alicerces do que ele conquistou até hoje, principalmente, com todo o apoio que recebeu da família e de instituições sociais que o direcionaram neste caminho da solidariedade humanitária. Neste rumo, ao presenciar as mudanças das famílias

Bahia


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