Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 5 | nº 98 | Setembro | 2011 Russas - Ceará
Cultivo alternativo de jerimum: uma ideia que deu certo No Semiárido cearense agricultores e agricultoras costumam produzir sua alimentação no período chuvoso, quando tudo ocorre dentro das regularidades consideradas normais numa região como esta, a plantação, cultivo e colheita ocorre entre os meses de janeiro a junho. Mas, esse costume não é seguido pelo agricultor Vicente Alves Maia Lima e a agricultora Maria de Fátima Lima, da comunidade Lagoinha, distante 10 quilômetros de Russas, região Jaguaribana no Ceará. Casados há mais de trinta anos e com cinco filhos, eles sempre batalharam pelo sustento da família. “Como garantir uma produção permanente, que Pote utilizado para molhar as plantas possa melhorar a nossa alimentação numa região que chove em um determinado período”, pensou seu Vicente. Ele sabia que bastava uma boa produção agrícola para assegurar a sustentabilidade alimentar da família, mas a escassez de chuva na região não favorecia a plantação. Mas, seu Vicente e dona Fátima não deixaram escapar o sonho de plantar e cultivar o próprio alimento. Eles encontraram uma forma alternativa de produzi-lo, desenvolveram uma prática agroecológica e sustentável para a utilização consciente dos recursos hídricos. Inicialmente começaram com a plantação de melão e jerimum. Eles contam que na década de 70 não houve um bom inverno na região. Os alimentos produzidos eram escassos e precisavam garantir alimentação da família. Além da produção de feijão, seu Vicente e dona Fátima apostaram no cultivo do jerimum. A paixão e viabilidade do manejo foi o fator determinante da plantação.
Cobertura utilizada na planta para conservar a umidade
No primeiro ano começaram com a plantação de melão. Eles plantaram seis “covas” de melão, compraram seis potes, fizeram pequenos furos, envernizaram e colocaram cada um em volta da
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planta. “Ninguém acreditava que a gente ia colher daquele jeito. Era seco”, diz seu Vicente, ao explicar que o pote furado faz uma espécie de gotejamento. “O pote vai minando e molhando a planta aos poucos”, diz. Mas, até para encher os potes era difícil. Eles tinham uma pequena cisterna, construída pela família e era dela que dividiam a água para beber e encher os potes. “Era muita vontade de trabalhar e ter o que comer”, reconhece o agricultor. No primeiro ano de experiência, seu Vicente e dona Fátima colheram entre 60 a 70 melões em cada rameira, o suficiente para comer e ainda sobrou para vender. Já no ano seguinte passou a plantar jerimum e a produção rendeu duas vezes mais. “Colhemos muito jerimum”, diz dona Fátima, que faz questão de dizer que todos os anos têm uma boa colheita. E o bom é que pode ser cultivado com pouca água, menos trabalho e ter uma boa venda. Depois de dois anos de experiência, o cultive de jerimum de seu Vicente e dona Fátima passou a ser uma prática produtiva da família, que aproveita o período chuvoso para plantação de feijão, milho e mandioca e o período de estiagem, entre agosto a dezembro, para o cultivo do jerimum. Só esse ano, por exemplo, colheram mais de mil quilos de jerimum, a venda foi feita em Russas. Seu Vicente percorre 10 quilômetros de bicicleta todos os dias até a cidade. Sai de casa em casa vendendo os frutos do seu trabalho.
Prática agroecológica, cultivo de jerimum e cisterna-calçadão A prática agroecológica da família de seu Vicente começou com a produção de jerimum, com as discussões sobre convivência com o semiárido e o beneficiamento de uma cisterna-calçadão, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), eles intensificaram o cultivo de frutíferas. Atualmente tem de tudo um pouco, graviola, manga, goiaba, sapoti, acerola, laranja, abacate, entre outras. Vale ressaltar que de mamão são mais de cinquenta mudas, todas produzindo. Há um diferencial na produção de seu Vicente e dona Fátima, cuidam da terra como a própria mãe, reconhece seu valor e sabe que é dela que sai sua alimentação. A água é outro bem valioso para a família. E para economizar eles protegem o caule das plantas com cobertura morta. Sabem que dessa forma estão garantindo maior umidade, além de cuidado e preservação das espécies.
Dona Maria de Fátima, seu Vicente e a neta
A consciência dessa família foi sendo construída com participação, com o engajamento no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Russas (STTR) e capacitações promovidas pela Organização Barreira Amigos Solidários (Obas), aprenderam que não basta só plantar, é preciso cuidar bem da terra para continuar produzindo de forma sustentável. Apoio:
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