Ano 1 | nº 13 | Dezembro | 2007 Texeira- Paraíba
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Projeto Demonstrativo
Promovendo a Convivência no Médio Sertão da Paraíba Vamos falar da experiência de nossa família para que outras, conhecendo, também possam lutar e construir alternativas, a partir das coisas boas que a natureza nos oferece, para uma melhor convivência com a realidade semi-árida. Nós já tínhamos uma experiência de um tanque num lajedo de pedra. Mas, a água não era boa para beber. Por isso, construímos a cisterna para termos uma água de boa qualidade em casa, pois, é mais segura e mais limpa para o nosso consumo. Antes nós utilizávamos água de tanque e também de cacimbas que, às vezes, chegava a ter mau cheiro. Na verdade era uma água muito suja. O sistema, composto por vários tanques e duas cisternas, tem uma capacidade de captação e armazenamento de 216 mil litros de água. A água do tanque grande é utilizada para os gastos domésticos (lavar roupa, louça, banheiro), para os animais, para tomar banho e também para abastecer os tanques menores para que possamos aguar as plantações. A água que abastece a casa vem por gravidade. Outro tanque grande foi feito com o objetivo de armazenar água para produção na horta com economia de água e também para criar peixe. Para nós a horta tem uma grande importância, principalmente, na alimentação. Não utilizamos agrotóxicos nem adubos químicos, o que nos possibilita ter uma produção sem veneno, diferente das que encontramos nas feiras livres. Com certeza isso tem uma grande influência na saúde de nossa família e também do ponto de vista financeiro, pois, não precisamos comprar a verdura. Além de melhorar a alimentação da nossa família, a horta também tem servido para que alguns vizinhos possam consumir uma verdura de melhor qualidade. Por sua vez, isso tem possibilitado o aumento da nossa renda, pois, comercializamos o excedente da produção. O que conseguimos com a venda é pouco mais ajuda. A horta também serve para exercitarmos a participação da família na construção de saídas para a convivência com a realidade semi-árida, aprofundando as relações sociais de gênero. Se cada família no semi-árido tivesse uma horta, próxima da casa, certamente, melhoraria a qualidade de vida, pois, não consumiria alimentos com tanto veneno. Também temos aproveitado o quintal com plantas frutíferas. Com isso temos a oportunidade de nos alimentar com frutas sadias, o que ajuda na segurança alimentar e pode também nos ajudar financeiramente, pois, quando sobra
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Projeto Demonstrativo
vendemos o excedente. Na parte de agricultura, plantamos milho, feijão, fava, batata doce e mandioca. A terra é apropriada para mandioca. Inclusive, a comunidade Fava de Cheiro, já por dois anos, vem realizando a Festa de Saberes e Sabores da Mandioca. É importante dizer que a mandioca dar muitos produtos para ajudar na alimentação e, quando tem preço também podemos vender o excedente. Também pode ajudar como ração para os animais. Na parte de criação criamos pequenos animais, por exemplo, galinha, porco, mas, também criamos uma vaquinha que ajuda na alimentação com o leite e vez por outra vendemos as crias para resolver necessidades da família. Também para ajudar na renda, nossa família trabalha a produção de vassouras artesanais da palha do coco catolé. É uma planta nativa da região. Para não acabar com essa importante planta, nós temos a preocupação de sempre que vamos colher deixarmos uma reserva de duas palhas em cada planta para que possam rebrotar com facilidade. Outra experiência que trabalhamos, na nossa propriedade, é o cultivo das plantas medicinais. Cultivamos a partir do entorno das cisternas, para que as mesmas possam receber a umidade das paredes das cisternas. Essa experiência tem possibilitado a nossa família, um tratamento natural em alguns casos de doenças. Na nossa comunidade sempre houve a cultura das famílias cultivarem as plantas medicinais, mas, muitas famílias hoje estão muito dependentes da farmácia. Por isso é muito importante resgatar o cultivo de plantas medicinais.Também estamos tentando criar abelhas nativas, conhecidas na região por cupira, devido a mesma se situar-se num cupim. No passado tinha bastante, mas, com a destruição do seu habitar natural, foi desaparecendo, hoje é muito difícil encontrar. É uma abelha que produz pouco mel, mas, de uma qualidade e importância muito grande, principalmente, na parte medicinal. Na nossa comunidade tem Fundo Rotativo Solidário e banco de sementes comunitário. Nossa avaliação é que são duas experiências muito importantes para o desenvolvimento da comunidade. São formas de organização que promovem a comunidade e geram autoestima e autonomia política e organizativa das famílias. Hoje temos a compreensão que precisamos aproveitar o que a natureza nos oferece. Aqui na nossa propriedade, por exemplo, usamos os lajedos de pedra para captar e armazenar água no período das chuvas, algo que não fazíamos tão bem no passado. Isso nós descobrimos através das visitas de intercâmbio, que nos favoreceu um aprendizado para que, pouco a pouco, pudéssemos ir aproveitando o que a natureza nos oferece na nossa pequena propriedade de 4 hectares. Com todas essas iniciativas que desenvolvemos, a nossa família se sente muito feliz, pois, estamos conseguindo, dentro do nosso pequeno espaço de terra e a partir do que a natureza nos oferece, assim como com a nossa criatividade, conviver de forma harmoniosa e digna, o que talvez, não conseguíssemos na cidade. É com muito prazer que socializamos o que fazemos para que outras famílias também possam encontrar a partir de sua localidade a convivência com a realidade semi-árida. Marcos Antonio Silva – Esposo, Maria Alves Silva – Esposa, Luana Alves da Silva – Filha, Marcelo Alves da Silva – Filho e Maciel Alves da Silva – Filho.
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