Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 4 | nº96 | Setembro | 2011 Quixeramobim - Ceará
Homem, mulher e natureza: uma relação de cumplicidade João dos Reis Lima e dona Antônia da Silva Costa e Lima são casados há trinta anos e têm três filhos, Joilson Silva Lima, Joel Silva Lima e Joilda Silva Lima, residem no Assentamento Nova Canaã, no município de Quixeramobim, distante vinte quilômetros da sede, no Sertão Central Cearense. O nome da comunidade Nova Canaã é sugestivo, origina-se da Bíblia, que significa a terra de fartura, "terra prometida", "onde corre leite e mel". Esta definição também é feita pelo seu João, ao descrever a terra como boa e fértil, que para produzir baste estar molhada e ser cuidada, motivos pelos quais denominaram a comunidade. “A nossa história foi de muita luta, assim como Moisés, na Bíblia, que lutou pela terra prometida”, diz João.
Seu João, dona Antônia e Joilda
A história dessa família é semelhante à de muitas outras no semiárido brasileiro, feita de desafios, conquistas singulares e perspectivas almejadas, que vem mudando a forma de viver das famílias sertanejas. Foram moradores de fazendeiros durante muito tempo e não tinham a oportunidade de plantar seu próprio alimento. Mesmo assim não cruzaram os braços. Batalham junto a outras famílias da região, por um pedaço de chão, onde mais tarde tomaram posse. Os desafios não se resumiam apenas à terra, muito embora com a terra para plantar e água para beber de uma cisterna de 16 mil litros, construída pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), ainda lhes faltava outra coisa, água para produzir. Pois, numa região onde chove num determinado período do ano, nem sempre se pode ter um cultivo agrícola.
Mamão, capim, cana e banana
Esta preocupação permeou a cabeça de seu João e dona Antônia até o dia em que, participaram de uma reunião comunitária no assentamento e receberam a notícia da cisterna-calçadão, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) para a comunidade. Na ocasião quem mobilizou as
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famílias foram o Instituto Antônio Conselheiro (IAC), Unidade Gestora Microrregional (UGM), do Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC), também da ASA e a Organização Barreira Amigos Solidários (Obas), Unidade Gestora Territorial (UGT), do Programa P1+2. Com a reunião, seleção e cadastramento das famílias, eles começaram a sonhar com uma forma alternativa de produção. Primeiro a escavação do buraco como contra partida da família. Consequentimente o seu João se encontrava doente, empecilho que lhe fez pensar em desistir várias vezes, mas, com a organização da comunidade ajuda dos filhos, seu João logo descartou a desistência. “Aqui somos organizados com o trabalho coletivo tudo fica mais fácil”, reconhece seu João.
Hortaliças e frutíferas
Após a construção da cisterna começou a plantação de banana, mamão, cana da índia, caju, goiaba, pinha, graviola, manga, sapoti, laranja, noni, romã, entre outras frutíferas e nativas, como gliricídia, ipê, moringa, entre outras. “Temos muita coisa, não é ainda do jeito que queremos, mas vai ficar”, garante dona Antônia.
Harmonia e cumplicidade do homem e da mulher com a natureza Toda essa luta e conquista pela terra e pela água da família de seu João e de dona Antônia se deve aos valores que eles/as atribuem aos recursos naturais preciosos e necessários para viver. Isso é notado nos olhos e expressão facial que dispensam ao falar da terra e da água. Mas, esta nova forma de trabalhar na terra, respeitando seus princípios e limites, foi possível com cursos e capacitações. A família de seu João já vinha participando de momentos de conscientização quanto ao manejo dos recursos naturais. Com a cisterna-calçadão participaram dos cursos de Gerenciamento de Água para Produção de Alimentos, curso de Sistema Simplificado de Irrigação para Produção e intercâmbios. Esta forma de trabalhar da ASA - promoção do desenvolvimento e tentativa de empregar um manejo sustentável e consciente dos recursos naturais, considerando a cultura e tradição de cada povo, foi um fator importante para os conhecimentos da família, bem como a ampliação de um sistema renovável de plantação . Com isso, a vida tende a melhorar. Com a água da cisterna querem produzir frutas suficientes para comer e vender. “Uma produção saudável que vai contribuir com nossa saúde para vivermos mais uns dias. O intuito é trabalhar menos e viver mais” - João.
Apoio:
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