Ano 8 • nº1737 Dezembro/2014
Paquetá Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Resistência, a vida e a voz do Quilombo A oito km no município de Paquetá, no Piauí, resiste um povo que luta para manter a sua cultura preservada. São as famílias da comunidade quilombola Custaneira, que há mais de cem anos buscam manter a cultura do reisado, do lundu de lezeira, do samba de cumbuca, da roda de São Gonçalo, das sementes crioulas e seus cultos religiosos vivos no imaginário popular. O líder comunitário Arnaldo Lima, conhecido como Naldo, afirma que o povo foi negado de contar a sua história. E muitas vezes eles negaram para não lembrar o que passaram. A comunidade surgiu em meio às casas de engenho e senzalas onde os coronéis açoitavam o povo negro da região e os escravizava. “Foi a nossa cultura que nos manteve aqui, que nos mantém unidos. As danças, as ervas medicinais e as rezas”, diz. O passado dessa comunidade não impediu, no entanto, que eles avançassem na organização comunitária e cultural. Isso é evidenciado pelos trabalhos em mutirão realizados na comunidade: plantar, colher, a organização dos festejos, o cuidado com as sementes e animais.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Piauí
Dona Margarida é uma das guardiãs de sementes na Custaneira, esse cuidado é um costume herdado de sua mãe. Ela conta que aprendeu a separar sementes ainda criança, primeiro guardava em um paiol alternando com camadas de areia e por último em garrafas pets. “Estamos aprendendo a guardar juntos. A gente tem aquele amor. Meus pais plantavam o milho branco da pipoca, mas eu perdi por conta da seca. Me deu uma dó. Toda vez que perdo uma semente sinto que perdo um pouco dos meus pais ”, conta emocionada. Os constantes períodos de estiagem provocaram algumas perdas na região, como os olhos d'aguas abundante antigamente, e que hoje se pode contar nos dedos de uma mão os que ainda existem; árvores como o coração de negro, piquiá, gameleira, pau d'arco, sabiá entre outras, e algumas sementes crioulas. Outras sementes, a comunidade conseguiu guardar como o milho de corda, sorgo, feijão Santo Inácio, sempre verde, calanguinho, gergelim, abóbora, melancia, algodão crioulo e sementes de hortaliças. A comunidade Custaneira é um exemplo da resistência da nossa história e da luta em garantir que seja preservado as memórias, seus costumes e a cultura do povo negro que ajudaram a construir a história do Piauí e do Brasil:
“Tenho orgulho dessa nossa história, nossos bisavós foram escravos mas souberam repassar com valor e por isso estamos aqui hoje. Mas ser quilombola hoje não e fácil, para os herdeiros dos coronéis isso é invenção do povo negro pra querer tomar a terra, mas nós defendemos o espaço para que nosso povo tenha vida” (Naldo).
Apoio
Realização
FETAG-PI