Dona Lenita: história e testemunha das mulheres do Semiárido brasileiro

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Pernambuco Paraíba Do inverno de 2010 pra cá, a família vem administrando a água para a produção de alimentos para a casa e para a venda. Também aprenderam a economizar a água da cisterna fazendo canteiros econômicos. Tentaram fazer novos canteiros econômicos para a produção de mais verduras, porém, como o dinheiro do tijolo estava curto, não usaram no momento da construção.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

69 |abril | 2011 Ano 3Ano | nº 5 24|| nº Setembro | 2009 Buíque - PE SolâneaParaíba

Dona Lenita: história e testemunha das mulheres do Semiárido brasileiro

Na primeira chuva a enxurrada desmanchou os canteiros. Foi quando a irmã de Dona Lenita ajudou a construir outros. Pediu para José juntar pedras e cortar algumas varas que havia sobrado da construção da faxina. E não é que deu certo! É junto da cisterna-calçadão que Dona Lenita mantém também suas plantas de remédio: hortelã da folha grossa, hortelã miúda, capim santo, mostarda, girassol e recentemente plantou a colônia que trouxe de sua última visita de intercâmbio. Logo quando encheu de água, José plantou tomate e deu certo. Usou a urina de vaca para controlar as pragas. José passou então a vender os tomates e as demais verduras na própria comunidade. Saía com um carrinho de mão todas as sextas, véspera da feira de Buíque. Às vezes o povo da comunidade ia até a sua casa para comprar os produtos. O dinheiro apurado ajuda a comprar coisas para casa, roupa para as crianças, mas mãe e filho gostam de reinvestir o dinheiro na própria agricultura. Com o dinheiro da venda das hortaliças, compraram uma marrã de porca e uma marrã de ovelha. A porca já pariu uma ninhada que foi toda vendida e está novamente com 12 bacuris. Dona Lenita ensina que um agricultor não pode viver sem os animais. Eles são como uma poupança para a família, além de aproveitar as sobras do roçado e das hortaliças. Assim engorda os porcos e também as galinhas. Recentemente, dona Lenita aumentou seu rebanho participando de fundos rotativos de animais: foi contemplada com uma vaca, uma cabra e 25 pintos. O compromisso de cada família beneficiada é de repassar crias fêmeas de cabras ou no caso da vaca e dos pintos, o correspondente do benefício em dinheiro para que os vizinhos também possam ser contemplados. Os fundos rotativos de animais são oportunidades únicas das famílias poderem dar início aos seus rebanhos. Para alimentar as vacas, cabras e ovelhas, a família planta palma, grama e capim, além de guardar os restos do roçado e de criar os animais soltos numa área recém comprada, onde possui uma capoeira mais alta. Os animais passam o dia nessa área e dormem no curral perto de casa onde eles acumulam o estrume que colocam nos canteiros de hortaliças e na palma. Foi em um dia de muito sol, esperando a chuva chegar que Dona Lenita e José avaliam que de todas as conquistas de suas vidas a maior delas foi a possibilidade de participar da associação do Sítio Angélica. Foi participando de reuniões e dos cursos que aprenderam muitas coisas novas: aprenderam a aprender, aprenderam a experimentar, sobretudo, aprenderam que são capazes de construir uma vida mais digna no Semiárido.

No alto da comunidade Evangelista, no município de Buíque, em Pernambuco, moram Dona Otacília Brasileira Avelino de Sampaio e 3 de seus 5 filhos. A história de dona Otacília, ou Dona Lenita como é mais conhecida, se confunde com a história de muitas mulheres guerreiras que moram no Semiárido brasileiro. Foi por meio de sua garra e disposição para o trabalho que conta como ajeitou a vida dos 5 filhos que Deus lhe deu. Dona Lenita é nascida e criada na comunidade vizinha, chamada de João Gomes. Mudou-se para o sítio Evangelista quando se casou com seu Félix Sampaio. O início de vida a dois não foi nada fácil. Se lembra que logo quando casou, foi morar na casa do sogro enquanto construía a casa de sua família no mesmo terreno. Conta que carregou muita água na cabeça para subir as paredes da casa enquanto estava esperando José, seu segundo filho. Era ainda uma casa pequena, de 4 cômodos. Com 10 anos de casamento, seu Félix viajou para São Paulo e 8 anos mais tarde veio a falecer junto com seu irmão num trágico acidente de trabalho. Dona Lenita não teve medo da vida, passou a trabalhar de alugado de segundas às quartas-feiras. E nas quintas e sextas-feiras dedicava ao trabalho nas terras onde moravam.

ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO

Paraíba1 Pernambuco


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