Quem tiver triste, chegando aqui, fica alegr

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Ano 8 • nº 1.645 Novembro/2014 Várzea Nova

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

“Quem tiver triste, chegando aqui, fica alegre” Chegar na Fazenda Sítio Monte Alegre não é difícil. Situado próximo ao Povoado de Salinas na cidade de Várzea Nova, em pleno sertão baiano, é lá que mora a família de seu Genival, casado há 21 anos com dona Maria Lúcia ou simplesmente Lucinha como é conhecida, com quem teve 5 filhos: Rafael, Daniela, David, Daniel e Marionita. O sítio de 8 tarefas foi batizado com este nome por brincadeira. “Foi durante um curso sobre palma. O povo começou cada um a dar um nome diferente, aí pra fazer graça botei o nome de Sítio Monte Alegre, que quem tiver triste, chegando aqui, fica alegre”. Diz seu Genival. ‘

A família encontrou na fertilidade das terras do Sitio Monte Alegre a alternativa para viver bem, produzindo tudo o que precisa para o consumo e ainda gerar renda com a venda do excedente. Por muito tempo a família morou no assentamento Nova Conceição, “com a perca de meu pai e minha mãe a família foi saindo, até que eu decidi sair também. Sinto saudades de lá. Foi lá que conheci minha esposa e onde meus filhos nasceram”. Conta Seu Genival.

Daniela, Daniel, Seu Genival e Marionita

Seu Genival, desde cedo, participa da associação até se tornar membro da Coordenação do Movimento CETA (Movimento dos Trabalhadores/as Assentados/as e Acampados/as) e diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Várzea Nova. Atualmente, é diretor da Cooperativa de Crédito ASCOOB Credimonte e sempre que pode participa dos encontros, cursos, intercâmbios e reuniões realizados pelas entidades, a exemplo da COFASPI e Sindicato dos Trabalhadores Rurais. A vida da família nunca foi fácil. Seu Genival teve um problema de saúde e morou por 4 anos na cidade. “Foram 4 anos de perturbação. A gente acostumado na roça nunca acostuma na cidade”, Lembra. Ao retornar pra comunidade de Salinas, a família trouxe na mudança, a necessidade de produzir. “Como é que a gente mora na roça e não tem nem um ovo pra comer? Não tem um frango, um pé de alface...”. Segundo ele, com a ajuda dos técnicos da COFASPI (Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte) encontrou as melhores alternativas para produção. A participação da família é a base para a diversidade da produção, a exemplo dos canteiros econômicos e do galinheiro que construiu com ajuda dos filhos. Hoje o Sítio Monte Alegre tem de tudo um pouco. A família cria cabras, galinhas, abelhas sem ferrão (Mandaçaia), além Formação de Feno de vagem de Algaroba


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Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

dos canteiros econômicos para cultivo de hortaliças. “Aqui a gente já vendia direto por encomenda. O pessoal ligava e a gente levava; isso quando o povo não vinha comprar aqui”, diz seu Genival ao ressaltar a facilidade que tem de comercializar na própria comunidade a produção da família. Apesar de estar iniciando na atividade, seu Genival pensa em se tornar o maior criador de abelha mandaçaia da região. “A abelha só faz bem pra roça, além de dar mel pro consumo da família, ainda ajuda a polinizar as plantas. Quando as cabras vão pra roça do vizinho é uma confusão danada, mas as abelhas vão e voltam e ninguém diz nada”, Diz seu Genival que completa: “Eu pretendo me tornar um grande criador de mandaçaia”. Armazenar sementes crioulas ou sementes da paixão, como são conhecidas, é uma estratégia utilizada por agricultores do semiárido para preservar as sementes cultivadas de geração em geração. Foi com este intuito que a família criou o próprio banco de sementes. “A gente tem o nosso banco de semente familiar, pequenininho, mas tem”. É neste banco de semente que são armazenadas em garrafas PET, sementes de feijão, andu, gergelim, fava, milho, abóbora, melancia, milho de angola e girassol. Já o feno é uma prática feita para armazenar alimentos para os animais, principalmente para uso nos períodos das estiagens. Em Salinas, a família faz feno de algaroba, jurema preta, capim e mandioca brava. Banco de Sementes

Além da criação de cabras, a criação de galinhas garante ovos e carne para consumo familiar e ainda gera uma renda extra. Seu Genival também costuma experimentar coisas novas e na propriedade utiliza alimentação alternativa como folha de jurema preta e mandioca brava para consumo das galinhas. “boto a folha da jurema preta pra secar, depois bato e misturo com o milho. As galinhas vão comer o milho e as folhas descem junto”, diz sorrindo enquanto mostra a diversidade de plantas da propriedade, a exemplo do maracujá, maracujá do mato, acerola, goiaba e manga que servem para consumo humano, e as forrageiras como a palma, mandacaru sem espinho, gliricídia e leucena que utiliza como reserva estratégica para nos tempos de pouca chuva serem consumidas pelos animais.

Seu Genival regando os canteiros econômicos

Segundo seu Genival, a cisterna-calçadão que está sendo construída no sítio, vai ajudar a aumentar a produção agrícola da família. “A cisterna calçadão só vem pra somar. A gente vai aproveitar muito, tenho certeza! Toda a família ajuda nas atividades. Os filhos, a esposa, todos participam como podem. É a união da família que torna a vida na comunidade de Salinas ainda mais agradável. “Estes meninos sempre ajudaram, Daniel mesmo ajuda em tudo. As curvas de nível mesmo foi ele quem fez. Aqui todo mundo ajuda”, Ressalta Seu Genival que lembra que o filho David é aluno da EFA (Escola Família Agrícola) de Quixabeira e que pretende ajudar cada vez mais na propriedade, além de se interessar pela construção de cisternas e contribuir para que outras famílias tenham acesso às tecnologias de captação de água para produção de alimentos, tornando o semiárido um lugar cada vez mais rico em experiências e possibilidades.

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