Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 9 • nº2057 Março/2015
Uma esperança no horizonte Todas as integrantes do grupo Artesania Agreste são beneficiárias dos programas sociais do Governo Federal. É isso o que possibilita que elas possam viver com o mínimo de dignidade, uma vez que a região em que habitam não oferece muita oportunidade, e elas precisam se ocupar da casa, da família, da horta, da roça, dos pequenos animais. Os jovens e as jovens que saem da escola, muitas vezes migram para outras regiões do estado e até do país em busca de emprego e estudo. Vanessa, por exemplo, hoje trabalha como babá para ajudar em casa. Mas sua vontade é ter uma profissão e alçar outros voos. E para ela, o trabalho com artesanato representa a possibilidade de reescrever uma história diferente daquela das gerações passadas. “Estou sentindo muita falta das aulas. Além de surgirem ideias novas sobre o artesanato, também tínhamos novas ideias para a comunidade. Muitas mulheres que viram o nosso trabalho, ficaram interessadas em participar do grupo”, diz.
Doze mulheres da Comunidade de Agreste, no distrito de Levinópolis, município de Januária, no Norte de Minas, têm um sonho em comum: tornarem-se artesãs. Até junho de 2014, elas não imaginavam fazer nada além do que já realizavam normalmente: cuidar da casa, dos filhos e das filhas, da horta, da roça e, nas horas vagas, assistir TV e ir à igreja.
Por meio deste ofício, essas guerreiras do Semiárido buscam dar visibilidade à sua importante função dentro da comunidade. Por meio da arte, cada mulher consegue expressar seus sentimentos e sua experiência de vida, consegue exercitar a criatividade e sonhar. Artesania Agreste - Integrantes: Ana Angélica Gonçalves Andrade Catarina Lopes Correa Borges Cláudia Bispo dos Santos Carmo Edileuza de Souza Cruz Alquimim Isabel Gonçalves Carvalho Maria Aparecida de Souza Maria dos Reis da Silva Maria José do Carmo Regina Alves da Cruz Roseane Agostinha de Souza Costa Sandra Francisca Machado do Carmo Vanessa Aparecida Alves da Cruz
Apoio
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Artesania Agreste: arte em barro representa a luta de mulheres trabalhadoras do Semiárido
A esperança das mulheres da Comunidade de Agreste é que o projeto de artesanato tenha continuidade. Há também a possibilidade da criação de uma fábrica para o processamento de polpas de frutos do Cerrado, que deve gerar muitos empregos. “Estamos na expectativa de que alguma atividade se desenvolva e fixe aqui na região”, conclui Angélica.
Realização
Januária
Enquanto passam o dia todo ocupadas com as tarefas do lar - que são pesadas e tomam bastante tempo - os maridos estão trabalhando na roça de algum fazendeiro e os filhos nos cafezais do Sul de Minas, pois a oferta de trabalho na região ficou escassa. Hoje, elas desejam algo a mais: viver do artesanato. Foi no segundo semestre do ano passado que profissionais do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Januária fizeram uma visita à comunidade para oferecer a oportunidade de aprenderem um novo ofício, por meio de um projeto de artesanato em cerâmica. O grupo, que no início era composto por cerca de 20 mulheres, ficou bastante animado. Logo colocaram a mão na massa, e de um monte de barro surgiram lindos vasos de flores, potes, fruteiras, luminárias, pratos, recipientes em forma de patinhos, e a possibilidade de complementação da renda. Mais que a necessidade de aumentar os ganhos, a atividade trouxe um novo ânimo para as mulheres da comunidade. “A gente que é mais de idade acha que não é capaz de aprender mais nada, né? Olha só essa patinha que eu fiz! E essa panela! Eu uso essa panela na minha casa! Enfeita a mesa e conserva o calor da comida. A aula é um remédio pra minha solidão. Meus filhos tudo casaram e saíram de casa. Meu marido sai pra trabalhar e a gente fica o dia todo sozinha. O tempo passava tão devagar, eu preocupada com ele e com os meninos que estão longe”, conta Maria José do Carmo. “Nas aulas de artesanato o tempo passa e a gente nem vê! Chega cansada, toma um banho e logo dorme! E ainda volta com peças bonitas pra casa!”, completa.