Os simples saberão o que é felicidade

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 9 • nº1837 Março/2015

Depois de terem enfrentado juntos, tantos momentos difíceis, seu João e dona Ana aprenderam a viver com o mínimo necessário. Não é na posse de nada que eles depositam a segurança ou a felicidade. As palavras de seu João dizem isso: “Toda vida eu tive felicidade! Toda vida!” Tem satisfação em contar que seu pai abrigava em sua casa, aqueles que chegavam com fome, precisando de um lugar pra morar. Daí passavam a fazer parte da família. “Nunca sofri, nada, nada! Tenho 94 anos, graças a Deus, não tem problema nenhum na minha vida, de jeito nenhum! Eu plantava, tudo eu tinha, mas eu não trabalhava pros outros nera? Era só dentro de casa. Aquele poquim que eu arrumava ajuntava dentro de casa. Eu nunca no mundo tive maldade com ninguém não! Nunca, nunca, por isso que eu tenho felicidade!” O desapego de seu João aos bens materiais é tão grande que chega a dar todo o valor da sua aposentadoria. “E você sabe por que eu dou? Dou! A senhora sabe, eu sou aposentado com essa muié, ela tira o dinheiro dela, eu tiro o meu. Eu não sei o que é que ela faz do dinheiro dela, num sei quanto ela tira, num sei quando ela tira, agora eu tiro o meu. É uma menina que tira, me deu aqui mil conto, eu tirei duzentos pra um, cem pra outro, duzentos pra outro, e pra pessoa de fora também. Pra pessoa de fora, dou tudo, dou tudo, fico sem nada! Maria, sua filha rir e diz: “Ele tem essa vontade de ajudar os outros!” Mas é se a pessoa pedir? “Não, não precisa a pessoa pedir não, eu pego o que eu tenho e dou tudo, dou tudo!. Desde d'eu criança que eu tenho distino de dar, graças a Deus nunca me faltou nada, nunca, nunca!” Viver com o mínimo necessário, de fato não é uma lição fácil de ser compreendida e aplicada, mas é possível de ser bem vivida. As vezes a simplicidade é uma escolha, outras vezes estamos obrigados a adotá-la para convivermos em situações desfavoráveis. O importante é percorrer o caminho da solidariedade, da partilha, do desapego, da paz e da delicadeza que uma vida simples nos oferece, sem contudo abrirmos mão dos nossos direitos e de uma participação ativa na sociedade, que construímos com o nosso trabalho. Finalizando nossa conversa seu João revela sua magnífica sabedoria com essas belas palavras: “Me perguntaram: João tu sabe o que é a humanidade? Sei, nós somos todos irmãos! Da humanidade nós tem um pedaço. O segredo é o pensamento. Tudo quem faz é o pensamento!" O que é felicidade? Ele responde: “Felicidade é ter saúde e paz!” Emocionado, despede-se com os olhos cheios de lágrimas.

Realização

Apoio

São Benedito

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

OS SIMPLES SABERÃO O QUE É FELICIDADE N e s s e s tempos em que o consumismo, e a busca do ter atormentam tanta g e n t e , a simplicidade tornase uma das mais raras e valio sas q u a l i d a d e s humanas! Ela nos une à natureza, mostra-nos a verdadeira importância da vida, das coisas e das pessoas. Afasta-nos do luxo, da sofisticação, da falsa aparência, daquilo de que não necessitamos. Mas também, viver de forma simples pode ser um aprendizado que se adquire ao longo de uma vida, onde as dificuldades, a escassez e a insuficiência de direitos tenha traçado linhas estreitas na caminhada da existência. Seu João Pedro dos Pau D'arcos, como é conhecido e D. Ana Alves de Antunes, vivem numa simplicidade surpreendente! Conhecendo o lugar onde moram, analisando o jeito que levam a vida e conversando com eles, somos convidados a uma extraordinária viagem pelas suas histórias, relembrando nossos antepassados indígenas. Antigas memórias e verdadeiros valores podem ser descobertos em nós mesmos, quando pensamos na leveza que uma vida simples pode nos trazer! Ele é uma pessoa muito agradável. Acolhe com alegria quem chega na sua singela e bela casa, ou mais precisamente na sua “sala de visita”, que é uma aconchegante palhoça, onde passa boa parte do dia em um tucum. Ela, sua esposa, sábia e paciente, recebe os visitantes amorosamente, oferecendo de vez em quando, um delicioso cafezinho e participando da conversa, com franqueza e naturalidade. Maria, uma de suas filhas, sempre nos acompanha nesses encontros. Sorridente e serena, demonstra admiração e respeito ao que seus pais dizem e como decidem levar a vida.


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