Ano 8 nº1832 Março/2015 São José do Egito
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Acessando mercados, alimentando a população e gerando renda
A conquista do acesso ao PNAE é uma das vitórias da APOMEL
O dia começa com mais uma reunião no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município de São José do Egito, com os cerca de 50 integrantes da Associação dos Apicultores e Meliponicultores Orgânicos do Alto Pajeú, a APOMEL. Mesmo se recuperando de um longo período de estiagem, estes têm sido dias diferentes para as famílias, desde que o grupo se fortaleceu no acesso à comercialização de produtos da agroecologia junto ao governo municipal, com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
A associação existe desde 2001, mas foi se organizando aos poucos, sendo a primeira organização pernambucana a adquirir a Declaração de Aptidão Jurídica (DAP) e ampliando as atividades de atuação para a produção agroecológica em geral (hortaliças, verduras e carnes), devido à queda na produção de mel. “A associação busca o mercado, vende a produção e depois o retorno volta para a associação e em consequência, para o apicultor. Antes os associados só traziam pra comercializar o excedente; agora procuram aumentar e diversificar a produção para comercializar, cavando poços e acessando recursos do Pronaf para fazerem irrigação nas propriedades”, detalha a apicultora Elzilene Rodrigues, presidente da APOMEL. A qualidade nos produtos também é percebida pela população, e por isso a produção é valorizada e procurada. Como primeira mulher a presidir a associação em 2011, Elzilene venceu a desconfiança por ser mulher e também pela juventude, já que tinha 27 anos na época. Na própria APOMEL, onde as mulheres são quase 60% de associados, apenas 15% são apicultoras, ou pela falta de informação sobre os perigos da atividade, ou porque não têm apoio dos maridos na produção. Elzilene (à frente) preside a associação e integra o Sindicato
“Quando eu vim para a associação, muita gente falou: 'essa menina não cria abelha, não produz mel'. Mas aí fizeram visitas e viram que na minha família tinha produção, e assim foi quebrando um pouco esse tabu. Hoje a gente mostra que não é só o homem que trata das abelhas, inclusive a mulher tem um maior cuidado em tratar a abelha, e a higiene com o mel”, afirma.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco
Um dos associados é o agricultor Pedro Ivo Souto, da comunidade Retiro. Duvidando, a princípio, do progresso do empreendimento, seu Pedro se entusiasmou com o resultado: “Começamos a capturar, levamos algumas ferroadas, mas recebemos capacitação e fomos aprendendo e melhorando ainda mais. Vale a pena trabalhar com mel, porque o cara trabalha menos, só vendo se entrou alguma praga, se a caixa tombou, se entrou alguém. Elas é que trabalham e nós somos parceiros delas”, afirma sorrindo.
Pedro Ivo Souto: ‘‘Vale a pena trabalhar com o mel. As abelhas trabalham e a gente é parceiro delas’’
A produção é entregue na associação e também comercializada na feira agroecológica: “A gente vende bastante. As pessoas estão consumindo mais, e quem compra já conhece e procura de novo, porque o da gente é bem limpinho, sem sujeira”, lembra o agricultor. A produção teve uma queda por causa da seca, já que muitas abelhas abandonaram as árvores, por isso a família concilia a atividade com a produção de verduras e carnes caprina e ovina, apoiadas por tecnologias como a cisterna de placas.
O acesso ao programa de Alimentação Escolar em 2010 foi mais uma conquista do grupo. Além de estimular a produção local, já que há uma desigualdade entre grandes e pequenos agricultores, os recursos adquiridos com a comercialização ficam no município e movimentam a economia. Dessa forma, a agricultura familiar atingiu uma proporção de 67% do total de produtos adquiridos destinados à alimentação escolar do município, contribuindo para a segurança alimentar e nutricional de 5.500 estudantes de todas as escolas e séries da rede municipal, o que faz de São José do Egito um diferencial entre as demais cidades da região do Pajeú. Para Elisângela Macedo, presidente da organização parceira AASP (Associação Agroecológica do Sertão do Pajeú), a união entre as famílias foi fundamental para a reivindicação pela continuidade dos recursos após a mudança de gestão na prefeitura: “O pensamento de associação é importante para as conquistas que tivemos; foi a partir de muitas reuniões que conseguimos junto ao governo um acréscimo no percentual de comercialização. Somente eu não seria capaz de conseguir, e sozinhos talvez nem conseguíssemos 10% de participação”, lembra. O mel também é incluído na alimentação de estudantes da rede pública O grupo pensa o futuro com expectativa de crescimento: “A gente quer a alternância das pessoas na coordenação, dando continuidade ao projeto. O PNAE já é lei; nosso desafio é valorizar e retomar o mel, que é o nosso carro-chefe, buscando mercado para comercializar, equipamentos e materiais apropriados para lidar da forma correta com a produção”, completa Elzilene.
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