Ano 9 • nº1676 Janeiro/2015
Brejinho Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Dona Rosa e o empreendedorismo em Brejinho Dona Rosa é o que podemos chamar de mulher de fibra, resistente como o Semiárido, terra que a abriga e a sua família desde seus mais remotos ancestrais, em Brejinho, município com forte vocação agrícola, localizado na microrregião do Agreste Potiguar. Casada há mais de 30 anos com o agente de saúde aposentado Vicente Oliveira Alves, 52 anos, com quem tem três filhos – Ronnie (31 anos), Marta (28 anos) e Maria Luana (21 anos), Rosalba Maria da Silva Alves, a dona Rosa, professora e agricultura, 49 anos, nasceu na Fazenda Olho D´Água, filha de pais também agricultores. Desde cedo, dona Rosa dividia as tarefas da casa com a escola – foi professora por 23 anos – e ainda trabalhava com seu Vicente no plantio de hortaliças, que vendia na comunidade. “Mas em 2010 a vida me surpreendeu e tudo mudou após o Acidente Vascular Cerebral-AVC sofrido por Vicente”. Nesse momento, Rosa teve que abandonar a escola e a plantação de hortaliças para se dedicar exclusivamente ao tratamento e à recuperação do esposo. “Foi um período de muito sofrimento, o AVC dele foi muito grave, durante muito tempo ele não reconhecia sequer a nossa filha mais nova”. A casa alpendrada é cercada por um pomar que abriga inúmeras espécies nativas e por outras que se adaptaram muito bem ao solo fértil de Brejinho: goiaba, banana, abacate, coco, umbu, graviola, acerola, manga, caju, jaca, laranja-cravo, carambola, cajá-manga e seriguela, além de capim-limão e outras ervas medicinais. Com o acidente mudando sua vida, Rosa colocou em prática o que aprendeu com a mãe, que sempre fez beijus deliciosos, com o produto vindo da casa de farinha de propriedade do pai. “Sendo a irmã mais velha, sempre recebo a família aqui em casa e gosto de cozinhar. Quando fazia alguma coisa para uma festinha na escola, todos gostavam e queriam encomendar, foi daí que surgiu a ideia de montar a fábrica”.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte
A pequena fábrica fica ao lado da casa. O projeto com a construção foi um presente do tio Erinaldo, e Rosa fez um financiamento – pago em dois anos – no Banco do Nordeste para a compra de todo o equipamento: “Desde o início procurei logo me aprimorar mais e comecei a fazer cursos culinários no Sebrae, assim recebi não só a orientação, como também o treinamento em todas as etapas de implantação da fábrica, incluindo aí até a logomarca. Tivemos muita sorte em todo o tempo em que recebemos a assessoria do Sebrae e do Banco do Nordeste”. Pelo Programa Nacional da Alimentação Escolar/PNAE, Rosa fornece a três escolas do Estado e a Secretaria de Educação do município 170 quilos de bolo por semana para a merenda escolar: são deliciosos bolos de macaxeira, batata e milho, todos feitos com produtos da terra: “Eu compro tudo que posso aqui na comunidade, como a batata, o milho, a macaxeira, a mandioca e o coco, que são a matéria prima do que produzimos”. Trabalhando ao lado da casa, dona Rosa se sente mais segura em relação aos cuidados com o marido, que ainda precisa de ajuda, embora já tenha melhorado bastante com o tratamento. “Outra coisa boa, é que estou estimulando meus filhos a trabalhar comigo”, diz ela. Há uma grande diversidade de produtos na Fábrica Doçura da Rosa: tem beiju, cocorote de macaxeira e de coco, bolos de batata, de ovos, de milho, de fécula de mandioca e preto (pé-de-moleque); tem também um brownie de chocolate muito delicioso, como tudo que dona Rosa faz.
Realização
Apoio
Como se não bastasse todas essas delícias que saem de suas mãos, ela ainda fornece colorau, condimento preparado principalmente à base de sementes de urucu dessecadas e trituradas, para a merenda da escola – já entregou seis quilos durante esse ano e já está com mais cinco quilos quase prontos para entrega. Sem sair de sua comunidade, dona Rosa mostra que é possível ser empreendedora mesmo na zona rural, desfazendo o conceito de que só é possível crescer profissionalmente nos grandes centros urbanos.