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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não divulga os dados de passagem mensal por setor regional, portanto, não temos o resultado de supermercado para o Rio de Janeiro em dezembro frente a novembro. Mas, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, as vendas dos supermercados do Rio de Janeiro, em dezembro, apresentaram

o melhor resultado do ano (+4,0%), já descontada a inflação. Tal desfecho foi puxado pelas vendas de alimentos e bebidas para acompanhar a Copa do Mundo, no primeiro terço do mês. Em nível nacional, o crescimento foi semelhante (+3,2%).

Setor de Supermercados - Brasil x Rio de Janeiro

RECEITA REAL DO SETOR (Dezembro, 2022)

No acumulado no ano de 2022, por sua vez, houve resultados distintos entre as vendas do setor de supermercados no Brasil (+1,5%) e no Rio de Janeiro (-1,9%). O mesmo cenário é observado no varejo como um todo: alta no Brasil (+1,0%) e queda no Rio (-3,5%), sinal de que a economia fluminense performou em patamar inferior ao nacional. Em nenhuma das oito atividades comerciais pesquisadas, as vendas fluminenses cresceram mais do que a média nacional em 2022. Os indicadores nacionais de serviços e turismo reproduzem resultado semelhante.

Nesse cenário, o desafio para o setor supermercadista fluminense tem sido repassar a inflação para o preço final dos produtos, ou seja, preservar as suas margens. Isso porque, quando se observa o resultado nominal, a alta das vendas do segmento (+11,0%), no acumulado do ano, foi inferior à inflação setorial: alimentos e bebidas (+11,5%), higiene pessoal (+11,8%) e artigos de limpeza (+19,8%).

Emprego

Em dezembro, foram abertas 1.549 vagas de trabalho com carteira assinada nos supermercados do Rio de Janeiro. Foi o 4º mês consecutivo de saldos positivos no setor no estado , tendo em vista as contratações de setembro (+808), outubro (+483) e novembro (+3116).

A performance fluminense contribuiu para a nacional em dezembro (+11.351). Tanto no Rio, como no Brasil, os resultados do último mês de 2022 foram melhores do que os vistos no último mês de 2021 (-712 no RJ e +3.039 no BR), sinalizando o otimismo do setor de supermercados para o início de 2023.

No acumulado do ano de 2022, o setor de supermercados gerou grande saldo de contratações em nível nacional (+46.144), a despeito do resultado no estado do Rio (+47). Depois de um 1º trimestre de demissões em massa em nível nacional (-53.129), o setor apresentou crescimento sustentado, com contratações em todos os meses, desde abril. Esse movimento não foi acompanhado pelo estado do Rio, que vivenciou nesse período uma sequência de apenas quatro meses de saldos positivos, os últimos do ano.

Apesar de fechar com saldo positivo em 2022, o setor de supermercados fluminense respondeu por apenas 0,1% do resultado nacional, ou seja, para cada trabalhador contratado no Rio de Janeiro, outros mil foram admitidos no restante do país. Diante de uma receita que cresceu menos do que a inflação em 2022, o que implicou em perda de margens para os supermercadistas fluminenses, não surpreende esse baixo saldo de contratações no estado.

Nessa conjuntura, o Rio de Janeiro representou o terceiro pior resultado nacional em termos de geração de empregos em 2022, a frente apenas do Pará (-779) e do Piauí (-20), que registraram saldo de demissões. Para efeito de comparação, veja os acumulados de contratações no ano passado nos demais estados do Sudeste: Espírito Santo (+1.140), Minas Gerais (+2.938) e São Paulo (+13.313).

No Rio de Janeiro, entretanto, esse cenário não foi exclusivo do setor de supermercados. Quando se observa o setor de varejo como um todo, o estado do Rio também apresentou pequeno saldo de contratações no acumulado no ano (+5.092). Esse volume representou apenas 2,6% do resultado nacional (+197.361), muito aquém da representatividade econômica fluminense no varejo em nível nacional (8,9%).

Ou seja, notadamente, a economia fluminense demonstrou dinamismo inferior ao ritmo de crescimento da economia nacional em 2022. Uma maior taxa de desemprego no estado e um menor dinamismo econômico também em outros setores justificam esse panorama.

Para 2023, o resultado do mercado de trabalho estará diretamente ligado ao crescimento econômico, ao nível de inflação, às possíveis revisões da legislação trabalhista e à aprovação da reforma tributária no Congresso.

Inflação

O IPCA, índice de inflação oficial no Brasil, medido pelo IBGE, desacelerou em janeiro (+0,53%), ante dezembro (+0,62%). O resultado foi motivado pelos setores de alimentos (+0,6%), saúde e higiene pessoal (+0,2%) e vestuário (-0,3%). Outros seis dos nove grupos pesquisados observaram aceleração da inflação no último mês, o que representa uma inflação persistente na economia brasileira.

Setor de Supermercados – Brasil x Rio de Janeiro

IPCA (Janeiro, 2023)

No Rio de Janeiro, o cenário foi bastante distinto. O IPCA geral fluminense (+0,43%) foi inferior à média nacional, porém, maior que o observado em dezembro (+0,33%). Cabe lembrar que o resultado da inflação fluminense, em dezembro, foi diretamente influenciado pela queda no preço da energia elétrica (-3,54%). Essa deflação derivou de uma revisão extraordinária da Aneel, definida em julho, mas que, por conta de uma liminar, uma das concessionárias fluminense só aplicou a redução de preços a partir de dezembro.

A aceleração da inflação fluminense em janeiro foi puxada pela alimentação no domicílio (+0,5%), ou seja, produtos vendidos em supermercados. Os vilões da inflação nesse mês foram, sobretudo, as hortaliças (+12,0%), frutas (+5,0%) e legumes (+3,8%). Os produtos de higiene pessoal vendidos nos supermercados também registraram alta de preços, como sabonete (+3,0%), pasta de dente (+0,9%) e papel higiênico (+0,9%), apesar do indicador do grupo apontar deflação (-0,4%) no mês, puxada por perfumes (-4,2%) e maquiagem (-1,7%), em liquidação após as festas do fim do ano.

Setor de Supermercados – Rio de Janeiro

Economia Em Pauta

Por outro lado, cabe destacar a queda de preços de artigos de limpeza (-0,5%), depois de 11 meses com inflação superior a 1% e quase 20% de inflação acumulada em 12 meses. Diminuíram de valor todos os produtos pesquisados dessa categoria, à exceção de sabão em pó e água sanitária.

Esses resultados sinalizam que a maioria dos artigos vendidos em supermercados ficou mais cara do que os demais produtos e serviços consumidos pela sociedade fluminense neste início de ano. Ou seja, um desafio a mais no primeiro trimestre para o setor.

Apesar do resultado de janeiro ter sido menor do que o de dezembro, em nível nacional, esse veio acima das projeções do mercado, o que deve provocar revisão das expectativas de inflação de 2023 para cima. A atual perspectiva do mercado financeiro é que o IPCA Brasil encerre 2023 (+5,78%), novamente acima da meta do Banco Central (+3,25%) e do teto de tolerância (+4,75%).

Previsão de inflação acima da meta do Banco Central se reflete em perspectiva de taxa de juros elevadas por mais tempo, onerando a produção, os investimentos e, por conseguinte, a geração de emprego e renda no país. A perspectiva é que a taxa de juros básica, a SELIC, encerre 2023 (+12,50%), novamente na casa de dois dígitos, assim como 2022 (+13,75%). A trajetória de queda da SELIC, em 2023, está prevista para se iniciar apenas no quarto trimestre.

Cesta básica

No primeiro mês do ano, o preço da cesta básica, medido pelo Dieese, cresceu mais na capital do Rio de Janeiro (+2,3%) do que na média nacional (+2,0%), na comparação com dezembro. Essas variações ficaram muito acima da inflação oficial do país (+0,53%) e do Rio (+0,43%), medida pelo IPCA, e da inflação do grupo alimentação no domicílio (+0,60% no BR e +0,47% no RJ), em janeiro.

Economia Em Pauta

Com isso, a cesta básica fluminense voltou a ser a segunda mais cara do Brasil (R$ 770,19), mais barata apenas do que a de São Paulo (R$ 790,57). Desde abril do ano passado, o Rio ocupava a quarta posição nacional, atrás, também, de Florianópolis e de Porto Alegre, que observaram queda de preços em janeiro (-1,1%). No Brasil, foram verificados aumento de preços em 11 das 17 capitais pesquisadas, o que elevou o custo médio da cesta básica nacional (R$ 688,62).

Nesse cenário, a inflação de alimentos continua impactando bastante a parcela mais carente da população brasileira, reduzindo substancialmente seu poder de compra. Os sucessivos aumentos de preços têm levado as famílias a reduzirem suas compras ou, ao menos, a substituírem os alimentos habitualmente consumidos por outros mais baratos ou similares.

No conjunto de produtos básicos da alimentação dos fluminenses, os vilões da inflação em janeiro foram:

O arroz agulhinha, diante das maiores demandas externa e interna;

O feijão, puxado pelo aumento do preço dos fertilizantes e da menor oferta, consequência da redução da área plantada e do clima desfavorável;

A batata, pela menor oferta por causa das chuvas; e

O tomate, diante da baixa qualidade do produto por conta das chuvas de granizo.

Por outro lado, reduziram de preços:

O leite integral, devido à importação do produto e à menor demanda interna, frente aos altos preços; e

A carne bovina, também pela fraca demanda interna.

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