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CANTO DO RIO PODE VIRAR SOCIEDADE ANÔNIMA, DIZ A NOVA PRESIDENTE DO CLUBE

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Primeira mulher a ocupar o cargo, Maria Cícera Araújo da Silva fala sobre seus projetos para o tradicional clube

Desafio. Essa é a palavra que move a alagoana Maria Cícera Araújo da Silva, ou só Maria Cícera, 55 anos, a nova presidente do clube Canto do Rio. Ela, que é a primeira mulher que ocupa essa função, recebeu a reportagem de A TRIBUNA para falar de seus planos e projetos como gestora do Cantusca, como é carinhosamente chamado.

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"Nossa primeira missão é colocar o Canto do Rio em ordem", assegurou.

Ao chegar a sede do Canto do Rio, na Rua Visconde de Rio Branco, em São Domingos, somos recebidos por Alenílson, que é o funcionário mais antigo do clube. Com mais de 40 anos de serviços prestados, ainda lembra dos bons tempos.

"O Canto do Rio é a minha casa, é a minha história"

Da recepção, ele nos leva a Maria Cícera. Eleita por aclamação no último dia 5 de outubro para um mandato de três anos, ela começou a frequentar o Canto do Rio ainda muito jovem por causa de seu namorado, hoje marido, Valdemir, que já era frequentador do clube. Morando no bairro de Santa Cruz, na cidade do Rio, ela se associou ao clube, mudou para Niterói, para hoje, mais de 30 anos depois, ser a nova presidente.

Apesar da empolgação da vitória, a nova presidente já viu que não terá vida fácil e conta que ao assumir a administração percebeu que terá que resolver questões estruturais e dívidas antigas, das quais, segundo ela, terá um diagnóstico completo do valor total nos próximos meses. Ela, que atuou como vice social em gestões anteriores, não imaginava que a situação poderia ser tão grave.

"Hoje o Canto do Rio não passa por uma boa fase, mas acabou essa política de gastar mais do que arrecada. Meu primeiro e talvez o principal projeto é apagar os incêndios a medida que forem surgindo. E são muitos. A cada dia surge algo. A piscina infantil foi a minha primeira preocupação. Ela está interditada e passando por manutenção, até por conta da colônia de férias que acontece aqui. A piscina adulta está passando por reformas, o salão nobre vai ser reformado também, estou cuidando do cartão de visita para que a gente possa receber melhor o associado para aí depois continuarmos reformando o clube", explicou.

Resolvendo problemas, busca encontrar soluções. Uma delas pode ser um investimento financeiro de grande porte no time de futebol. Hoje tocado pela empresa Plural Sports, o futebol do Canto do Rio pode receber uma injeção de recursos para que seja criada um desmembramento entre o clube e o futebol, criando uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Essa conversa passaria ainda por conversas internas do clube e a própria mudança de estatuto, mas a presidente garante que já há a iniciativa.

"Esse é o nosso objetivo. Conversas já começaram, não dá para dar maiores detalhes nesse momento mas a nossa ideia é a vinda de uma parceria para que o Canto do Rio volte a ter um time profissional de futebol para disputar quem sabe, o Campeonato Carioca novamente, jogar contra os grandes e também, como equipe de futebol ganhar o certificado de clube formador, já que formamos, por exemplo o Vinicius Jr. A gente acredita que esse ano ainda essas conversas avancem", assegurou a presidente.

No futebol, o Canto do Rio tem história, já que formou o tricampeão do mundo, Gérson Nunes de Oliveira, o Canhotinha de Ouro. O craque do Real Madrid, Vinícius Jr. jogou futsal no clube entre 2007 e 2010, antes de seguir rumo ao Flamengo.

MARIA CÍCERA, primeira mulher a presidir o clube, está buscando investimentos da iniciativa privada

Campeonato Carioca

A história do Cantusca começa no dia 14 de novembro de 1913, quatro garotos entre 10 e 11 anos de idade se reuniram em Niterói e fundaram o Canto do Rio FootBall Club, entidade focada no futebol infantil. Seu primeiro presidente foi Hugo Mariz de Figueiredo. Surgiu ali o Canto do Rio, no recanto da Praia de Icaraí, ou no final da praia, como se costuma dizer, na área conhecida como Canto do Rio. O seu campo de jogo era o próprio areal.

O Canto do Rio marcou época no Campeonato Carioca - então só da cidade do Rio de Janeiro - entre as décadas de 1940 e 1960. Embora coadjuvante na maior parte daquele período, o Cantusca também teve seus momentos de brilho, seus talentos revelados e até seus nomes de seleção brasileira. Chegou a levantar taça no Maracanã superando os rivais do outro lado da baía de Guanabara. Até ver ser fechada a brecha na legislação que o permitia competir no torneio vizinho - e abandonar por muito tempo o futebol profissional.

A capital do antigo estado do Rio - que compreendia todo o atual menos, obviamente, a cidade do Rio de Janeiro - era Niterói, cidade que completava a lista das dez mais populosas do país de acordo com o Censo de 1940.

Com apenas a baía de Guanabara a separando da cidade do Rio de Janeiro, Niterói vivia, porém, muito mais próxima desta do que do restante do estado da qual era capital. Havia entre os clubes de Niterói um bloco de elite, o "Grupo dos Seis", formado por Barreto, Byron, Canto do Rio, Fluminense, Niteroiense e o rubro-negro Ypiranga. O Cantusca e o tricolor Fluminense Atlético Clube (não confundir com o carioca) faziam o clássico da Zona Sul.

Mas embora considerado um dos grandes da cidade, o Canto do Rio não chegava a ser um dos mais vitoriosos. Em 1940 havia conquistado apenas dois campeonatos da cidade, em 1933 e 1934 (este, num ano de dissidência de ligas e, por conseguinte, divisão de forças). Em 1953, ganhou o Torneio Início, disputado em 5 de julho no Maracanã. O torneio servia de apresentação dos times para o campeonato principal e reunia todas as equipes num mesmo dia e local disputando partidas eliminatórias de duração reduzida (na

V Lei

Por outro lado a parceria com a equipe de vôlei Niterói Vôlei Clube gera frutos positivos ao clube, que utiliza para os jogos da Superliga B, o Ginásio Antônio Bastos Filho.

"É uma parceria onde a equipe Niterói Vôlei arca com o aluguel do ginásio, além de que estão fazendo reforma na quadra. Com o que é arrecadado pelo clube, ganhamos 30%. Os outros 70% são usados por eles para a manutenção do time, custos e tudo mais" ocasião, dois tempos de 10 minutos). Em caso de empate, a vaga era decidida em séries de três pênaltis. O Cantusca superou São Cristóvão, Flamengo e Bangu nas penalidades, antes de decidir o título contra o Vasco.

Ainda que tenha pego uma situação muito difícil, Maria Cícera conta que está buscando cada vez mais retomar o crescimento do Cantusca mas que as atividades seguem a pleno vapor.

"Hoje o clube funciona de terça a domingo, de 9 às 17 horas. Temos os nossos parceiros, além do vôlei e da Plural Sports, que toca o futebol, temos Futsal, temos aulas de ballet, ginástica, dança de salão, natação, artes marciais e Pilates".

No Basquete, que não tem previsão de volta, o Cantusca ganhou o estadual feminino 3 vezes, em 1979, 1982 e 1983.

Após a fusão dos estados do Rio e da Guanabara, originando o atual estado do Rio de Janeiro em 1975, o Canto do Rio ensaiou vários retornos ao futebol profissional. Disputou a terceira divisão estadual em 1985, oscilou entre a segunda e a terceira de 1989 a 1995 e jogou esporadicamente a Série C entre 2007 e 2018. Houve um ensaio de volta em 2021, mas dois dias antes do início do Campeonato Carioca, o clube desistiu da competição.

CARNAVAL - Uma das marcas do Canto do Rio é o Carnaval. Seu bloco, o Bloco do Cantusca, e o tradicional Baile da Tropicália são marcas registradas fazendo parte da memória e da história da cidade.

Mas só o bloco vai para a rua. O Baile não acontecerá.

"Esse ano o Bloco do Cantusca sai dia 18 de fevereiro, no sábado de Carnaval. Também terá uma festa matinê aqui no clube, no domingo, dia 19. Só a tradicional Festa da Tropicália, que seria uma semana antes, que não vai acontecer esse ano".

Para recuperar financeiramente o clube, a presidente vai buscar meios de aumentar as receitas além de ir pagando as dívidas. Hoje o Canto do Rio sobrevive através dos seus 255 associados em dia, além de 199 sócios remidos, que apesar de não pagarem mensali- dade, pagam o título e taxas extras. Outra fonte de receita vem através da locação de espaços. Hoje parte do prédio está cedido a um colégio particular. Esse valor que entra no clube sustenta os salários dos funcionários, paga as contas urgentes de luz, de água e ajuda a reorganizar as finanças.

Para Maria Cícera é fundamental deixar os salários em dia e não gastar mais do que arrecada. Assim, segundo ela, com muito trabalho e muita fé, o Canto do Rio poderá voltar aos seus melhores dias.

"Tenho muita fé e muita esperança que chegaremos a dias melhores aqui. Talvez já no ano que vem você vai voltar aqui e ver uma nova realidade. Mas com muita fé em Deus, que é maior, a gente trabalhando, tudo vai dar certo", concluiu.

PETRÓPOLIS, na Região Serrana, completamente alagada em 1925

EM FEVEREIRO de 2021, mais de 200 pessoas morreram com as fortes chuvas que atingiram a cidade

Estado Do Rio Lidera Desastres

NATURAIS NO BRASIL, APONTA ESTUDO DA UFF

Levantamento mostra fatores que ao longo do tempo contribuíram para inúmeras tragédias

Locomotiva do populismo, caçadores de votos, ninhos de corrupção. Os desastres naturais no Brasil elegem e enriquecem muita gente que faz vista grossa (e até cultua) para o crescimento deformado das cidades (ocupação de encostas, morros, margens de rio). Depois vem a tragédia e, na sequência, os remendos super faturados vendidos como margarina nos programas eleitorais da TV em véspera de eleição.

Muita gente já foi pega no bote e presa embolsando verbas de emergência, mas como no Brasil em geral meliante só cai para cima, eles voltam com carinha de santo, são reeleitos e metem a mão de novo. Adoram decretar calamidade pública que permite, entre outras benesses, contratar sem licitação e sem limite de verba. É o Caribe dos batedores de carteira risonhos e bem vestidos.

De acordo com levantamento realizado pelo Anuário Brasileiro de Desastres Naturais, em 2010, dentre os estados com mais de 30 ocorrências de desastres naturais, o Rio de Janeiro aparece em primeiro lugar, concentrando 18% dos episódios.

O primeiro dilúvio ocorreu em 1756. Em 1860, D. Pedro II - o melhor governante brasileiro - reclamou das inundações com o administrador de Petrópolis (uma espécie de prefeito) que, se aproveitando do temperamento doce do imperador, foi empurrando com a barriga e nada foi feito.

Em seu diário de viagens, datado de 5 de janeiro de 1862, dom Pedro II, imperador do Brasil, escreveu: "Ontem de noite houve grande enchente. Subiu três palmos acima da parte da Rua do Imperador do lado da Renânia; acordou o Câmara (sic), e um ho- mem caiu no canal, devendo a vida a saber nadar e aos socorros que lhe prestaram. Conversei hoje com o engenheiro do distrito; pouco se fez do ano passado para cá. Os estragos que fez a enchente levaram 2 meses a reparar, segundo me disse o engenheiro. Falei-lhe sobre a vantagem de introduzir na colônia a cultura da amoreira e criação do bicho-da-seda".

Dois cientistas da UFF estão estudando esses desastres naturais. A pós-graduanda em Geografia, Marina Aires, e o pesquisador e professor do Departamento, Jorge Luiz Fernandes Oliveira, fizeram um estudo que mostra como a configuração do relevo, a concentração demográfica aliada à ocupação desordenada em áreas de risco, a falta de planejamento urbano e o clima característico do local, fazendo desta uma das regiões que mais sofrem com desastres de origem natural no país.

Apesar do maior volume de chuvas estar mais concentrado no período do verão, ele também pode acontecer em outros períodos do ano. De acordo com os pesquisadores, o estado do Rio de Janeiro é influenciado por fenômenos atmosféricos que, dependendo das suas características e intensidades, também podem deflagrar desastres, a exemplo dos chamados "Sistemas Frontais", da Zona de Convergência do Atlântico Sul e da atuação de ciclones extratropicais e subtropicais.

O que chama a atenção, segundo os pesquisadores, não é exatamente a concentração do fenômeno nesse período do ano, mas o aumento dos registros de desastres naturais com o passar do tempo.

Segundo Marina e Jorge, o primeiro registro oficial da ocorrência de um episódio de chuva intensa com fortes rajadas de vento seguida de inundações e desabamentos em toda a cidade do Rio de Janeiro data de 1756. O registro seguinte de um incidente similar ocorreu apenas no ano de 1811.

Um longo intervalo de décadas também separou esse evento do que o sucedeu no tempo, no ano de 1864. Os pesquisadores destacam que a diminuição desse intervalo ocorre no século XX, sobretudo a partir da década de 1950 e com uma nova intensificação nas décadas de 1990 e 2000, período a partir do qual a frequência de incidentes com essa proporção passou a ser anual, passando a acontecer, inclusive, mais de duas vezes ao ano.

As razões por trás do aumento do fenômeno estariam relacionadas, de acordo com os pesquisadores, com o crescimento populacional, a ocupação desordenada dos solos urbanos, o intenso processo de industrialização, assim como a impermeabilização dos solos, o desmatamento, o assoreamento dos corpos de água, a concentração de calor e a poluição ambiental.

Segundo o The Emergency International Disaster Database, que está relacionado ao Centre for Research on the Epidemiology of Disasters (CRED), organização que concentra estudos sobre a ocorrência de desastres em nível internacional, nos últimos 20 anos de dados (1998 - 2018) a categoria do desastre natural mais registrado foi o hidrológico, seguido do meteorológico, geofísico e biológico. Com relação à classificação dos tipos de desastres, os deslizamentos foram os mais registrados, seguidos das tempestades, e de outros tipos, como epidemias, secas e terremotos.

Mesmo com o passar dos séculos, portanto, e com o advento de novas tecnologias, principalmente no sentido de previsão de tempo, mapeamentos de áreas de risco, papel da Defesa Civil e engajamento da população, os pesquisadores sinalizam que eventos como esses seguem causando inúmeros prejuízos econômicos, sociais, ambientais.

E, apesar de as inundações serem os processos que produzem as maiores perdas econômicas e os impactos mais significativos na saúde pública, são os deslizamentos que geram o maior número de vítimas fatais. Segundo eles, "este fato justifica a concepção e implantação de políticas públicas municipais específicas para a gestão de risco de deslizamentos em encostas", finalizam.

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