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PRR com 2, 2 milhões para Muralhas e Porta da Almedina de Silves
Areprogramação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para o Património Cultural prevê mais 40 milhões de euros de investimento e intervenções em 29 monumentos, sítios arqueológicos e museus, revelou o Ministério da Cultura.
Segundo o Ministério, os 40 milhões de euros que resultam da reprogramação juntam-se aos 150 milhões inicialmente previstos para a reabilitação do património cultural e as novas 29 intervenções acrescem às 49 já programadas.
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Entre as 29 intervenções acrescidas à lista inicial encontram-se as obras de recuperação das Muralhas e Porta da Almedina de Silves, com um investimento previsto de 2,2 milhões de euros.
O Projeto de Conservação do Sistema Defensivo da Almedina de Silves – Conservação, Restauro e Requalificação foi concluído em julho de 2017 mas, dada a sua envergadura e elevado custo, aguardava financiamento, que a Câmara Municipal de Silves finalmente conseguiu obter.
O referido projeto, que o Terra Ruiva consultou, compreende vários trabalhos que passam fundamentalmente pela consolidação estrutural das muralhas mas também inclui elementos de valorização arquitetónica e uma beneficiação do sistema de iluminação que valorize este património.
Este processo terá acompanhamento arqueológico ao longo da intervenção, para garantia da preservação de peças de valor cultural que possam vir a ser encontradas.
Quanto aos trabalhos de conservação, eles serão orientados com o objetivo principal de manter o material original, em particular quando se tratar de taipa, bem como respeitar e conservar a estratificação das intervenções anteriores de consolidação.
Os trabalhos foram distribuídos por três sectores, localizados a norte, oeste e sul da antiga Almedina de Silves e compreendem vários tramos de muralha e torres, nomeadamente;
Sector Norte: Inclui os tramos de muralha entre a rua
D. Afonso III e a muralha norte do castelo de Silves. É constituído por seis torres (7, 8, 9, 10, 11 e 12) e por doze tramos de muralha (N1 a N12), com uma extensão total de, aproximadamente, 267 m.
Sector Oeste: Compreende os tramos de muralha entre a rua Bernardo Marques, junto à Câmara Municipal, e a rua
D. Afonso III. É constituído por três torres (4, 5 e 6) e 8 tramos de muralha (O1 a O8), com uma extensão total de, aproximadamente, 145 m.
Sector Sul: Este sector foi dividido por duas zonas. A primeira zona compreende os tramos de muralha entre o Museu Municipal de Arqueologia e as Escadas do Mirante, incluindo as torres 16 e 17. A segunda zona compreende a Torre 3 e 2 e o tramo de muralha adjacente, localizado na Rua Bernardo Marques, junto à Câmara Municipal e Praça do Município.
A história
Segundo a descrição que terá sido deixada por um cruzado que participou na conquista da cidade em 1189, o sistema defensivo de Silves seria composto de, pelo menos, quatro fortificações: a Alcáçova, onde se localizava o castelo e ainda algumas residências; a Muralha da Almedina, a que se acedia por quatro portas; a Couraça e, por fim, a Muralha dos Arrabaldes, com traçado desconhecido, que se estenderia até ao rio.
O Sistema Defensivo da Almedina de Silves é essencialmente constituído por muralhas e torres, construído com taipa e alvenaria em grés de Silves. Também grande parte das muralhas e torres que cercavam a medina de Silves foram edificadas com taipa, que vem resistindo até os dias de hoje.
No período cristão, as muralhas islâmicas da Alcáçova e da Almedina foram reutilizadas, apresentando uma forma poligonal, com contornos muito irregulares nas partes mais acidentadas do terreno, de modo a ajustar-se à topografia.
A Couraça e a terceira cerca islâmica não foram preservadas no período cristão, em consequência da redução da população, e acabaram por desaparecer.
A muralha da Alcáçova, com planta poligonal, é composta por 11 torres quadrangulares, duas das quais albarrãs, salientes do pano da muralha, mas com comunicação garantida através de passagem superior. No interior da Alcáçova destaca-se a cisterna da Moura, datada do século XI, com de 10 metros de altura e área de 820 m². As alterações realizadas no Castelo nos períodos de D. Fernando e D. João I não desvirtuaram a sua conceção geral muçulmana. No entanto, as intervenções realizadas no século XX (décadas de 30 e 40) destruíram, entre outros elementos, os restos do Palácio das Varandas.
O sistema defensivo da Almedina de Silves servia para proteger o seu interior, centro urbano composto por um labirinto de ruas estreitas.
Em árabe moderno, a palavra medina significa simplesmente “cidade”. O acesso à Almedina era realizado por quatro portas: porta da Azóia, a poente, destruída no século 19; porta do Sol a nascente; porta da cidade, a sudeste e porta do “arco em ferradura”, a sudoeste.
A antiga medina ocupava uma área com forma trapezoidal, que se estendia nas encostas nascente, sul e poente da elevação atualmente coroada pelo Castelo e desde a sua parte alta até meia encosta.
A medina teria 300 m de comprimento máximo, no sentido norte-sul, e 320 metros de largura, no sentido nascente-poente, ocupando uma área que equivaleria, aproximadamente, a 6,5 hectares, sendo cercada por altas muralhas de pedra e taipa.
A iconografia disponível de Silves, embora antiga e pouco diversificada, permite a identificação de alguns dos elementos do sistema defensivo da cidade.
Ao longo da história, o Sistema Defensivo da Almedina de Silves tem sido danificado pela ação dos agentes meteóricos, pelos sismos e pela negligência humana, tendo sido demolidos importantes sectores, dando lugar ao alargamento ou a construção de acessos, bem como para edificação de espaços públicos ou privados.
Entre as principais obras que contribuíram para a destruição do sistema defensivo contam-se as realizadas no século XIX, como a abertura e alargamento da rua do Castelo, com a destruição dos restos da Porta do Sol, ou a destruição da muralha da medina voltada a sul, em decorrência da construção do edifício que atualmente sedia a Câmara Municipal de Silves. Na mesma altura, foi também derrubado outro tramo da muralha, para construção da atual Rua Bernardo Marques.
Ainda no final do século
XIX, terá sido parcialmente demolida a torre albarrã situada a nascente da porta da medina, hoje junto ao Museu Municipal de Arqueologia, tendo sido reabilitada após intervenção arqueológica. No século XX, foram arrasados os restos da torre poligonal que defendia a denominada Porta da Azóia, situada no topo norte do setor poente das muralhas da medina e fazendo parte da couraça. As intervenções ocorridas no passado, levadas a cabo principalmente nas taipas, em trabalhos de recalçamento ou reconstrução, realizados com alvenaria de pedra, uma vez que a intenção principal era recuperar a estabilidade es- trutural e, consequentemente, o caráter funcional defensivo. Excetuando alguns casos isolados, só na segunda metade do século XX é que as intervenções em construções históricas foram submetidas a critérios próprios da disciplina de restauro.
No início do século passado, a Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais promoveu o restauro das muralhas do Castelo, intervindo no sector norte da muralha da medina, numa extensão de 60 m. Nos anos oitenta, consolidaram-se algumas torres, de pedra e taipa, também sobre responsabilidade da DGEMN.
A torre albarrã, localizada junto ao Museu Municipal de Arqueologia, foi restaurada, numa primeira fase, nos anos oitenta, tendo-se seguido outra intervenção na década de 90. Foi ainda recuperado, na mesma altura, o tramo de muralha anexa à torre, sob responsabilidade do Arq. Mário Varela Gomes. Mais recentemente, em 2021, a Câmara de Silves realizou obras de restauro e conservação da muralha adjacente à torre 4 da Almedina, junto ao edifício da autarquia. De referir que as muralhas da Almedina de Silves, com as suas 17 torres, são um dos cinco monumentos nacionais que a cidade possui.
Município de Silves adjudicou a empreitada
OMunicípio de Silves informa que o segundo concurso público que foi lançado para a execução da empreitada de “Conservação e Restauro da Ponte Velha de Silves” tem proposta de adjudicação no montante de 654 mil euros.
A autarquia recorda que já foram desativadas as infraestruturas hidráulicas que atravessavam a ponte, nomeadamente a adutora de abastecimento de água e o coletor de drenagem de águas residuais domésticas, no âmbito da empreitada das “Travessias Rodoviárias, das condutas de água e saneamento, sob a Ponte Nova” que foi concluída em 2020 (440 mil euros). A autarquia esclarece que as obras na Ponte Velha envolvem trabalhos de reabilitação, conservação e reforço estrutural, impermeabilização e repavimentação do tabuleiro, pintura, iluminação, limpeza e corte de vegetação e regularização do leito, não beneficiando neste momento de qualquer financiamento pela tutela do Património Cultural, pese os esforços que prosseguirão no sentido de obter comparticipação comunitária através do Programa Portugal 2030.
O Município de Silves refere que este importante investimento integra a estratégia mais geral do Município de Silves no âmbito da conservação, restauro, salvaguarda e valorização do património histórico-cultural, sendo que neste caso, estamos perante um ex-libris da cidade de Silves, que foi classificado como “monumento de interesse público” em 1 de abril de 2020.
Crónica
José Alberto Quaresma
Escritor
Grávido de esperança
OPessoa, o Joaquim, também poeta, que me perdoe. Roubar-lhe parte de um verso, e adulterá-lo, não é apropriado. Decorreu apenas um mês desde que partiu para fazer companhia, ao outro Pessoa, o Fernando.
Não é dos dois que hoje que- ro falar. É de um outro, muito mais antigo. Estou grávido de esperança dele. Já sinto deslaçar o rolhão mucoso dos dias. Apesar da seca extrema
Partilhas
Helena Pinto
Psicóloga Clínica
A história da borboleta
Junho começa com uma comemoração muito importante, o “Dia da Criança”. Deve ser um dia que nos remeta para as memórias da nossa própria infância, rever o caminho percorrido até aqui, o que foi importante, o que nos marcou, de forma positiva ou negativa, o que nos ajudou a crescer.
e poucos borrifos de chuva, estão prestes a rebentar-me as águas.
A gravidez tem sido longa e atribulada. Só entre covidados e descovidados foram dois anos tolhido de movimentos. Quando chegar a hora, uma prenhez tão longueira poderá despejar para a lama dos dias um paquiderme. Espero que não. Que saia um moço jeitoso. É apenas um desejo.
Este rebento dos meus amores esconsos começou a ser concebido em 2019. Mas há décadas que fervilhava no sangue. Sim. Um ser, que poderia ser um filho ou um bisavô postiços, pode ser amado. Antes até de nascer para nós, ou que tenha existido há muito. Confuso? Parece.
Décadas atrás, privei com ele a escarafunchar em letras para aprender a ler. Mais tarde, descobri-lhe a musicalidade da sua poesia. Com os versos debaixo de olho, esganicei melodias na companhia trôpega da guitarra. Ainda fiz muitas, umas líricas, outras melancólicas, algumas burlescas, não poucas satíricas.
Se aquelas quase faziam chorar, outras despregavam cascalhadas de riso escarninho. Todas espevitavam securas, rapidamente afogadas por mines, rodadas entre amigas e amigos.
Quando se é empurrado para a festa, a gente deixa-se ir. É melhor seguir o balanço do que enfrentar ventania contrária. A festa é o que melhor nos consome. Pelo menos, distrai-nos, por curtos momentos, da miséria dos tempos.
Quando, resolvi engravidar de esperança o assunto passou a ser mais sério. Impelido para a aventura, não podia deixar de levá-la até ao fim. Os compromissos, comprometem-nos. Não há como fugir.
Foram longos meses e anos em intimidades com um nascituro. Aparentemente fácil, mas muito difícil na desordem que me governa a cachimónia.
O nascituro escondia-se nos pormenores. Desaparecia em vestígios equívocos. Os rumores sacolejavam-me a tola de incertezas. Os pontapés no ventre da esperança aumentavam de cadência. Tiravam-me o sono. Ânsias atrás de ânsias.
Que Diabo! Ainda tens idade para ter ânsias? Claro. Com um nascituro na barri- ga? Quem não as tem? Ainda se existisse no mercado um barrigómetro para aferir se, na empreitada genesíaca, estava a ter mais olhos que barriga!?
Às vezes, o nascituro parecia querer sair-me pelos bofes fora, sem estar completo. Não é que lhe faltasse uma perninha, uma orelhinha, um dedinho ou dois.
O medo do grávido de esperança não era esse. É que não viesse com a alma toda ou a maior parte dela. A alma límpida, tolerante, inteligente, talentosa, culta. E dedicada a todos, sobretudo aos mais humildes.
Eu sei que um nascituro não tem personalidade jurídica porque ainda não nasceu. Nem o progenitor, por ora, não pode ser acusado de malformações do feito.
Mas o feito, bem ou mal formado, está aí prestes a assomar. Não sei como se vai apresentar à sociedade. Bem vestido, nas suas roupagens bem cartonadas, sei que não deslustrará. O resto logo se verá.
Foi concebido para ser melhor conhecido. E revelado o muito ainda desconhecido. Raros defeitos. Infinitas virtudes. Não é Fernando, nem Joaquim.
Tem outro nome. Sempre o teve. João. Não sei se será de Deus ou do Diabo.
Esta reflexão, deve-nos fazer pensar também sobre a forma como estamos a ser pais. Que memórias estamos a construir com as nossas crianças? Que mais marcou a vida dos nossos filhos? Como se vão lembrar de nós?
De que forma os estamos a ajudar a crescer? O quanto contribuímos para a pessoa em que se estão a tornar?
Estas questões fazem-me lembrar a história da borboleta, que volto a partilhar convosco (posso já o ter feito em outro contexto): Reza assim a história:
“Um homem observou, horas a fio, uma borboleta esforçando-se para sair do casulo.Ela conseguiu fazer um pequeno buraco, mas seu corpo era grande demais para passar por ali. Depois de muito tempo, ela pareceu ter perdido as forças e ficou imóvel.
O homem, então, decidiu ajudar a borboleta:com uma tesoura, abriu o restante do casulo,libertando-a imediatamente. Mas seu corpo estava murcho, era pequeno e tinha as asas amassadas.
O homem continuou a observá-la, esperando que, a qualquer momento, suas asas se abrissem e ela levantasse voo.Mas nada disso aconteceu.
Na verdade, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas, incapaz de voar.
O que o homem – em sua gentileza e vontade de ajudar – não compreendia, era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura é o modo escolhido pela natureza para exercitá-la e fortalecer suas asas, dando origem ao primeiro ato de autonomia e capacidade de vencer obstáculos.”
As crianças são de alguma forma como as borboletas. Necessitam do casulo, que é a barriga da mãe, para se desenvolverem até estarem prontas sair e, num primeiro esforço de sobrevivência, saírem e iniciarem o seu voo pela vida. Cuidar com amor, criando um ambiente tranquilo enquanto a criança está no “casulo” é fundamental para que as suas primeiras
Construções c/ Própria/Empreitadas

Escritório: Rua José Falcão, 9 - r/c8300-166 Silves - E-mail: finobral.lda@sapo.pt memórias (físicas/”o sentir”) construídas sejam positivas. Depois necessitamos de estar ao lado e deixar crescer, para que as asas se fortaleçam e lhe permitam fazer os voos que escolher. Estar ao lado, não é fazer por ela, é dar suporte, é demonstrar em cada gesto e cada palavra esse suporte e esse amor, dar-lhe a certeza que é amada, importante e suficiente por aquilo que ela é, acreditar e ajudá-la a desenvolver as suas capacidades. É ajudar a levantar quando cai, mas deixar caminhar. É dizer “Tu consegues! Eu estou aqui se precisares, mas tu consegues.” Algumas vezes, um esforço extra é justamente o que nos prepara para o próximo obstáculo a ser enfrentado. Quem se recusa a fazer este esforço, ou quem tem uma ajuda errada, termina sem condições de vencer a batalha seguinte, e jamais consegue voar até o seu destino.
O ingrediente fundamentar, a melhor prenda que podemos dar aos nossos filhos é, mais do que qualquer bem material, o nosso tempo, e durante esse tempo,verdadeiramente ESTAR PRESENTE!
O bom exemplo, constitui o melhor e mais eficaz sistema de educar os filhos!
Partilhe as suas opiniões, sugestões, …helenamapinto@gmail. com
Arquivo
Histórico
José Manuel Vargas
O
Na publicação anterior, foram analisadas algumas disposições do testamento de Geraldo Pais que, pela sua raridade, constituem um importante contributo para o conhecimento de Silves Medieval.

Neste artigo, alargamos a análise a outros aspectos que, sendo de âmbito regional e mais geral, importam ao contexto históricoda sede da diocese e capital do reino do Algarve.
Igreja de Santa Maria de Porches
A carta de doação do castelo de Porches por D. Afonso III, em Fevereiro de 1250, ao seu chanceler D. Estêvão Eanes, incluía a doação do direito de padroado da igreja ou igrejas a edificar.O foral de Porches, outorgado por D. Dinis, em 20 de Agosto de 1286, foi em boa parte decalcado do foral de Silves de 1266 e não informa sobre a igreja, mas é de supor que já estivesse edificada e fosse do padroado régio, pois é nessa condição que surge num documento datado de 28 de Abril de 1289, em que D. Dinis apresenta Miguel Pires, escrivão de Loulé, como prior de Santa Maria de Porches à confirmação do bispo de Silves (TT, Gav. 19-4-3, fl. 9v.).
O testamento de Geraldo Pais vem confirmar a existência da antiga igreja de Santa Maria de Porches:
“Item mando que dêem a Santa Maria de Porches uma savã (sabana, lençol) e vinte soldos para lavrarem (bordarem) em ela alguma cousa para frontal (de altar)”.
Após esta notícia de 1318, há um longo hiato documental e a primeira igreja de Porches só reaparece, com o nome de Nossa Senhora de Porches, em documentos de meados do séc. XVI (Tombo do Almoxarifado de Silves, 1553; carta do capitão Pedro Silvaà rainha D. Catarina, 14 deJunho de1559). O documento de 1559 precisa a localização da igreja no sítio onde foi levantada a fortaleza de Nossa Senhora da Rocha. Esta designação irá substituir a de Nossa Senhora de Porches, ainda coexistindo as duas cerca de 1600 “a fortaleza que tem dentro a igreja de Nossa Senhora de Porches ou da Rocha”(Henrique Sarrão, História do Reino do Algarve). Entretanto, nas primeiras décadas do século XVI, é edificada uma nova igreja num lugar mais afastado do litoral a que se chamou Porches Novo, por oposição a Porches Velho, núcleo populacional primitivo progressivamente abandonado, a ponto de não subsistirem vestígios medievais evidentes, caso do citado “castelo de Porches”. Hospital dos Meninos de Loulé A menção mais antiga conhecida de um hospital medieval em Loulé data de 1410 e consta de um livro existente no Arquivo Municipal (Livro dos Órfãos, 1408-1412, Liv. 1, fl. 12v), referência essa que só nos permite saber da sua localização na praça da vila, perto de uma fonte. Depois, em 1471, temos notícia da fundação do hospital de Nossa Senhora dos Pobres, sem que os documentos nos possibilitem estabelecer relação com a notícia anterior. O testamento do deão de Silves, em 1318, vem informar-nos da existência de um “hospital dos meninos”: “Item, ao hospital dos meninos de Loulé 40 soldos”. Os hospitais de meninos inocentes, nhecidos documentos sobre o convento de S. Francisco anteriores a 1408, o investigador João Miguel Simões tinha deduzido que a fundação do cenóbio franciscano teria ocorrido em meados do séc. XIII (cf. O Convento da Graça…, 2008, p. 19-23) e, recentemente, Jorge Palma apontou para a edificação do convento por volta de 1330. O testamento de Geraldo Pais corrobora a certeza da presença da comunidade franciscana no início do sé- testamentária foi idêntica:
“Item aos frades de Tavira três libras que digam uma missa oficiada por minha alma”
Igrejas, Conventos e instituições de assistência, de Lisboa
Da extensa relação de doações no testamento do deão de Silves, destacamos as que foram feitas a instituições religiosas de Lisboa:
“Item mando aos Frades Pregadores de Lisboa cinco libras e se lhes prouguer (= aprazer) digam uma missa oficiada por
Bárbara de Lisboa um morabitino. Item à confraria dos mercadores de São Francisco de Lisboa quatro libras. Item ao hospital de São Vicente de Lisboa vinte soldos. Item para a obra da Sé de Lisboa quarenta soldos. Item a Roncesvales vinte soldos. Item para tirar (= resgatar) cativos de Portugal dez libras”.
Romarias, Peregrinações
Têm muito interesse as referências às romarias e peregrinações mais comuns nesse início do séc. XIV e também o hábito de pagar a peregrinos de substituição.
“Item mando que filhem uma arroba de cera e façam uma imagem e ponham-na em São Geraldo de Braga e aquele que a levar vá em romaria e faça por mim uma missa e meta meia libra de cera em candeias e comprem-lhe seu afã (= trabalho) aquele que lá for. Item mando que vá um homem por mim a Santa Maria de Rocamador e vá por Santa Maria de Vila Sirga e por Santiago e por São Vicente[…] e faça cantar em cada uma destas igrejas senhas (= várias) missas por minha alma e meta em candeias senhas meias libras de cera em cada igreja”.
A terminar pobres, órfãos e enjeitados, foram criados nos séculos XIII e XIV em algumas cidades e vilas (por ex. Lisboa, Santarém) para assistência á infância desvalida, pelo que a notícia de um desses hospitais em Loulé assume particular interesse e significado. Convento de S. Francisco de Loulé Apesar de não serem co- culo XIV: “Item aos frades menores desse lugar três libras para pescado que digam uma missa oficiada por minha alma”.
Convento de S. Francisco de Tavira
Tal como para Loulé, não se pode precisar a data de fundação do convento, sendo de supor que tenha acontecido na mesma altura. A dotação minha alma. Item aos Frades Menores de Lisboa cinco libras e digam uma missa oficiada por minha alma. Item às donas de Chelas três libras para pescado. Item a frei Lourenço Soares de São Lourenço três libras. Item a frei Afonso de Santa Marinha três libras. Item a frei João da Veiga quarenta soldos. Item à obra da Trindade de Lisboa trinta soldos. Item a Santa
Não cabendo no âmbito deste breve artigo a análise detalhada de todo o testamento de Geraldo Pais, deixamos o convite para a sua leitura integral (disponível online), em “TestamentaEcclesiaePortugaliae (1071-1325), pp. 384-391.