O nada convencional natal dos Harolds

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Queridos Leitores, Esse é um mimo de natal para vocês que são o motivo de tudo isso existir. Obrigada demais a cada um de vocês, sem vocês, eu nada seria e, nem os meus personagens. Então, esse é o jeito deles também falarem para vocês, obrigado e obrigada. Um feliz Natal e que 2019 venha repleto de todas as bençoes que amamos ler nas histórias de amor. Um beijo, Babi A. Sette.

****** No vestíbulo imponente e luxuoso do palácio de Belmont Hall, o relógio batucava incansavelmente o passar dos minutos. Ali, naquele palácio, tudo funcionava com a mesma perfeição exata dos ponteiros do relógio centenário: os funcionários – mais de quarenta – somente na área interna do casarão, acordavam todos os dias pouco antes desse mesmo relógio bater as seis horas e, organizados como uma orquestra, começavam a desempenhar suas funções diárias. As dezenas de lustres de cristal brilhando, as centenas de peças de pratas polidas, as louças reluzentes e sempre cuidadosamente organizadas sobre as mesas de todas as cinco refeições, bem como, as tapeçarias conservadas e as cortinas bem arranjadas e perfeitamente dispostas, eram a prova disso. Naquela noite, assim como em qualquer outra noite no palácio ducal, todos os criados se dedicavam com excepcional competência e exemplar organização, afim de que a noite fosse perfeita. Era um dia de festa e o mordomo experiente, não admitiria


nenhum deslize. Afinal, por mais que o senhor Rainford, fosse estoicamente impassível – como um bom mordomo inglês - no fundo, ele era um homem sentimental e adorava as noites de natal. Especialmente as festas naquele palácio, administrado por ele com tanto orgulho, há mais de vinte anos. O natal dos Harolds, certamente eram os melhores e mais inesquecíveis da Inglaterra. Era a única data em que toda a família se reunia. Era a única data que a falta de comparecimento de qualquer um deles, jamais seria perdoada. Por isso, a rica mesa onde se daria a ceia, exibia quinze lugares alinhados e milimetricamente dispostos. O duque e a duquesa de Belmont, seriam acompanhados na ceia pela duquesa viúva, os cinco filhos, e o único genro – Lizzie estava casada há pouco mais de um ano com Lord Garteh. Além deles, se hospedavam também em Belmont Hall para as festas de final de ano, Lilian, a irmã mais nova da duquesa, Simon, o marido dela e seus três filhos: Paul, Victoria e Anthony. Uma risada ecoou através da porta da sala intima onde a família se reunia, antes do jantes. Era a risada de lady Lizzie - Rainford reconheceu - a nova condessa, tinha todos os motivos do mundo para estar feliz, afinal, acabara de dar luz a uma menina linda e saudável, chamada Meredith. O mordomo ascendeu com movimentos ensaiados as velas nos dois candelabros em cima do aparador, próximo a porta da entrada e o sino tocou anunciando a chegada de visitantes, provavelmente, os dois convidados que faltavam. *** Dentro da sala intima, o clima era de intensa descontração. Edward, Leonard e Anthony – o caçula de Lilian e Simon– jogavam cartas em uma das mesas próxima a janela. Lizzie e Eleanor, como duas boas irmãs e confidentes davam risadas de um assunto particular, enquanto Gareth – marido de Lizzie, não tirava os olhos orgulhosos da filha. A pequena vinha adormecida em um moisés colocado junto ao pinheiro de natal, especialmente para ocasião. Killian, o enorme cachorro-lobo, dormia junto a lareira aos pés da duquesa Kathelyn que conversava animada com Lilian, Simon, Arthur e Caroline – a duquesa viúva.


— Papai — chamou Eleanor do canto da sala. O duque que segurava a mão de sua esposa, ergueu os olhos até encontrar a filha caçula, ao lado de Lizzie. — Sim, Eleanor? — Posso entregar antes da ceia, um presente que eu fiz para o senhor David Green? O duque franziu um pouco o cenho. — O jardineiro? Eleanor assentiu enquanto as bochechas assumiam um tom mais corado. David Green, era um dos jardineiros de Belmont Hall. Eleanor, ficara amiga do rapaz, dois anos mais velho que ela, no verão passado. Descobrira recentemente que, além de ele não saber o próprio sobrenome – por isso lhe batizaram de Green, talvez para combinar com sua paixão pelas plantas – era órfão e também, ficava muito triste nas noites de natal. Pelo o que o jovem lhe contara, foi em uma noite de natal que a sua mãe morreu, quando ele tinha apenas cinco anos. Kathelyn fitou Lizzie, a jovem assentiu pedindo em silencio para mãe, se fosse preciso, interceder a favor da irmã. Eleanor continuou explicando: — A senhora Taylor pode ir comigo, é somente que... — Oras pelo amor de Deus —interrompeu a duquesa viúva, a sua avó.— A senhorita deveria estar pensando em sua primeira temporada e não em levar presentes para os criados na noite de natal. Para isso, existem os dias certos de confraternização com os funcionários. — Ele fica muito triste no natal — começou Eleanor apertando os dedos entre as saias do vestido. — Ele não se junta aos outros criados para comemorar, agora mesmo, deve estar sozinho em seu quarto... E eu-eu, simplesmente acho isso horrível. — Por favor, papai — intercedeu Lizzie. Lilian murmurou algo junto a orelha de Simon. O barão aquiesceu dando um beijo carinhoso na mão da esposa antes de falar: — Se Eleanor quiser eu mesmo posso levar para o rapaz, ou Lilian pode acompanha-la. Eleanor sorriu com entusiasmo em direção a tia, agradecendo com os olhos.


— Se Lilian lhe acompanhar, não tem problema— replicou o duque. — Mas não demorem, logo Steve estará aqui com Victoria. Steve estava há dois meses em Paris, fazendo um curso em Sorbbone . Já Victoria, primeira filha de Lilian e Simon, estava na cidade luz, há um ano. Ela se hospedava na casa dos tios Arthur e Kathelyn, enquanto fazia um curso para jovens damas de musica, francês e artes. — Não vejo a hora de ver minha garotinha — afirmou Simon com expressão cheia de expectativa. Lilian e Simon estavam morrendo de saudades de Victoria, já que não a viam há meses. Naquele ano, a filha completara 19 primaveras e faria a sua estreia na sociedade de Londres, junto com Eleanor. — Vamos, Eleanor — disse Lilian se levantando do sofá, mas a baronesa parou quando a porta dupla da sala foi aberta. Steve e Victoria entraram parando logo após o batente. — Boa noite, mamãe — disse Victoria com um sorriso fraco. — Boa noite, papai. — Boa noite, família — desejou Steve, os lábios curvados para cima revelando um sorriso tenso. Simon e Lilian se adiantaram saudosos em direção a filha e se detiveram com as expressões dividas entre a surpresa e a incredulidade enquanto analisavam a cena. **** Victoria estava com as pernas bambas, como não estaria? Ela acabara de entrar na sala intima de Belmont Hall e faria o que sem duvida, era o anuncio mais inusitado e surpreendente de sua vida. E, apesar de conhecer muito bem a mãe, Lilian, que com certeza a apoiaria e entenderia, ela temia enormemente a reação do pai, Simon. O barão de Owen, apesar de muitas vezes parecer um homem liberal e tranquilo, sempre fora com Victoria extremamente zeloso e exageradamente super protetor. Sem mencionar que também, era bastante ciumento, convence-lo a deixa-la ir para Paris, fora um verdadeiro suplicio.


“Você é uma jovem dama muito chamativa e eu sei como os homens se comportam. Não! Você não pode ir” Fora a resposta do pai ao seu primeiro pedido para estudar na França, um ano e meio atrás. Foi necessário a intervenção de sua mãe e meses de trabalho de convencimento de ambas, sobre ele. Mesmo assim, Simon só a deixou ir quando o duque de Belmont cedeu a sua casa em Paris e disse que se responsabilizaria pela jovem na cidade. Victoria viajou acompanhada da governanta que a criara desde que ela era uma menina. Por fim, Steve se juntou a ela nos últimos meses. Apertou um pouco os dedos do primo ao notar os olhos dos pais que vinham cheios de alegria e saudades, congelarem diante de sua mão entrelaçada com a de Steve. Victoria e Steve passaram boa parte da infância brincando juntos e, apesar dos três anos e meio de diferença entre eles, tornaram-se amigos e confidentes, como irmãos. Lilian e Simon, sempre confiaram nesse sentimento fraternal que existia entre os dois, isso explicava a expressão de extrema surpresa ao notarem a intimidade do gesto entre os primos. Ela suspirou tentando achar confiança e perguntou observando a todos na sala: — Onde esta Paul e Catherine? — Eles ainda não desceram — respondeu sua mãe com a voz fraca, sem tirar os olhos das mãos deles juntas. Sentiu o polegar de Steve desenhar círculos calmantes em seu pulso, o estomago gelou e o pulso acelerou ainda mais — é pelo nervoso da situação — disse a si mesma. — Bem — começou Steve com a voz firme — nós temos mais motivos para celebrarmos essa noite... além do natal. A tia Kathelyn se levantou do sofá, fitando-os de cima abaixo, assim como o tio Arthur. Lilian e Simon ainda estavam meio boquiabertos e sem nenhuma reação. — Que motivos? — indagou Lizzie, entre olhando os dois com expressão de quem não precisava mais de explicações. — Nós acabamos de vir de Gretna Green — contou Steve forçando um tom natural na voz — e ... como já devem ter deduzido, nos casamos.


Em três segundos, Simon estava em cima de Steve o esmurrando bem no queixo. Em mais dois segundos, Arthur segurava Simon enquanto Killian latia, Lizzie protestava pela violência e Gareth assumia uma postura protetora, segurando a pequena Meredith recém acordada, nos braços. Já Kathelyn e Lilian, seguravam os seus respectivos maridos pelos paletós. Sobrou para duquesa viúva bater de leve o indicador sobre os lábios finos, com expressão analítica e horrorizada. Já Leonard, Edward e Anthony, jogaram os olhos para cima diante da enorme confusão e permaneceram sentados. — Esse desgraçado de seu filho — começou Simon alterado ainda sendo segurado por Arthur e Lilian — Se acalme – protestou Lilian. — Tio Simon — começou Steve passando a mão no maxilar recém atingido, — não havia outra forma, era o certo a se fa... — Não me chame de tio seu moloque, irresponsável, canalha, libertino. —Pai — chamou Victoria com a voz alterada — não o ofenda assim. — Cale a boca, Simon — disparou o duque, — é do meu filho que você esta falando. — Me solte Arthur — Simon removeu as mãos do cunhado da gola de sua camisa. Lilian, ainda puxava o paletó do marido exigindo calma. Os lacaios que passavam bebidas e canapês, a pedido da senhora Taylor se retiraram discretamente da sala. Kathelyn segurou nas mãos de Lilian e as duas se colocaram entre os maridos e o casal de filhos. — Eu sei que estamos bastante surpresos — principiou Kathelyn — porem, esse descontrole não ajudara a ninguém. — Sim — concordou Lilian — vamos sentar e nos acalmarmos e então, teremos uma conversa tranquila e... — esfregou os olhos antes de dizer — não é assim tão ruim... se eles estão casados, é porque devem ter se apaixonado e... — Eles são primos, pelo amor de Deus — vociferou Simon. — Além disso — prosseguiu entredentes— é a nossa garotinha... Ela é boa demais para esse traste e... — Quieto Simon — Lilian ergueu a mão em riste na frente do peito — Steve é um rapaz sensível e bondoso e nós o amamos.


— Diga por si — murmurou o barão carrancudo. — Você não tinha nada contra ele, até dez minutos atrás. — Arthur disse com a mandíbula tensa. — Fique calmo, Arthur — exigiu a duquesa. — Até então, ele não tinha se casado com a minha menina. — Simon continuou rugindo. Steve passou um dos braços sobre ombro de Victoria e assumiu uma postura protetora encarando Simon, sem estar nem um pouco intimidado. Havia um excesso de desafio e masculinidade tão grandes chispando no ar que que as chamas da lareira ardiam mais altas, enquanto Killian percebia a tensão, pois latia sem parar, nem um segundo sequer. — Quieto, seu pulguento — reclamou a duquesa viúva se abanando freneticamente com o leque, apesar do frio. — Oh pelo amor de Deus — prosseguiu se queixando — não dá para sermos um pouco mais convencionais? Simon passou as mãos nos cabelos e cuspiu em direção ao duque: — Eu lembro bem de sua reação quando ficou sabendo que Lizzie havia se casado. — É — afirmou Arthur — e você foi o primeiro a defende-la e dizer que eu era um homem rude e antiquado. A duquesa viúva, Caroline, fechou o leque com força sobre o colo, antes de enfim protestar: — Será que não teremos um único casamento tradicional e respeitável nessa casa? Primeiro Lizzie se casa com um escocês e agora... isso... esse escândalo?! — Ele é um conde, vovó — respondeu Lizzie, apertando o braço do marido com carinho. — Isso —Simon apontou para Victoria e Steve — não pode acontecer. — Desculpe pela minha avó — pediu Lizzie para Gareth que estava ao seu lado com Meredith ainda nos braços. Ele apenas sorriu compreensível antes de afirmar: — Para mim?! Falar que eu sou ume escocês, foi um enorme elogio. — Para mim também — Lizzie murmurou bem humorada.


— Estou feliz por vocês — prosseguiu Lizzie e caminhou até o irmão mais velho o abraçando — você sempre terá o meu apoio e quanto a você — disse para Victoria — fico feliz em ter ganho uma nova irmã que eu já amava. —Obrigada — replicou Victoria visivelmente emocionada. — Isso é um absurdo — continuou Simon — vocês podem se divorciar, tem de haver um jeito de consertar essa situação, ele provavelmente a seduziu, mas ainda existem alterativas, Torie — terminou o pai exaltado, usando o apelido de infância de Victoria. Ela não aguentava mais aquele clima horrível e a negação do pai sobre tudo. Torceu a boca contrariada antes de confessar: — Eu estou gravida... E-e Steve não me seduziu aliás, ele é o homem mais honrado, amável e amigo que qualquer mulher sonharia em encontrar. Os olhos de Kathelyn encheram de surpresa e lagrimas. — Eu vou ser avó outra vez. E Lilian, se aproximou de Steve e deu um beijo em seu rosto antes de dizer emocionada: — Eu vou ser avó — comemorou em seguida passando a mão carinhosa, na barriga da filha. Edward, Anthony e Leonard que ainda jogavam cartas, como se as apostas – sorrateiramente feitas— fossem a coisa mais importante da noite, finalmente se manifestaram: — Parabéns ao casal — disse Leonard e resmungou baixinho — Nunca se viu no reino, família de duques mais escandalosa do que essa. — Eu deveria ficar bravo com Steve? Afinal, ele acaba de desvirtuar a minha única irmã — indagou Anthony para Edward e Leonard. — Eu acho que não vale a pena o esforço — disse Edward — olhe para eles, já esta tudo se resolvendo, nossas mães estão chorando com uma alegria incontida pela noticia de mais um bebe na família, até mesmo a vovó já se levantou para felicita-los, logo o seu pai, amolece também. Leonard deu de ombros impassível. — Não será o primeiro casal de primos entre a aristocracia alias, isso acontece bastante... o escândalo é esse casamento as pressas, isso é o que de fato incomoda.


Já Simon que ficara completamente atônito diante de mais uma surpresa, fitava a filha em um misto de reprovação e contida emoção. Afinal, ele seria avô. — Está tudo bem, papai — disse Victoria, segurando as mãos de um pai ainda resistente. — Confie em sua filha, meu amor — disse Lilian, beijando o marido de leve. Ele enfim encheu os pulmões de ar e abriu as duas mãos em um gesto de rendição. — Eu serei avô, então? — Sim, papai — replicou Victoria emocionada e o abraçou, derretendo tudo o que pudesse restar de animosidade no ar. Em seguida, ela foi abraçada pelo duque e a duquesa de Belmont. —Bem vinda ao núcleo menor da família — murmurou Kathe. Simon deu um tapa firme do ombro de Steve e disse somente para ele ouvir: — Faça ela a mulher mais feliz do reino, ou ande armado pelas ruas — terminou sorrindo amplamente, disfarçando a ameaça das palavras recém ditas. — Eu a amo, tio Simon — Steve replicou também forçando um sorriso— sobre a felicidade de Victoria, essa é a minha prioridade desde que a conheço. Lilian puxou Victoria para um canto da sala, enquanto a algazarra das tardias felicitações preenchiam a reunião, enfim pacifica. — Steve esta na França há apenas dois meses, certo? — perguntou Lilian com ar desconfiado. O pulso de Victoria acelerou — Certo. — A sua barriga que o vestido de cintura alta disfarça, é de uma gestação de uns quatro meses, estou errada? Victoria negou com a expressão aflita. — Não fale nada para o papai, por favor. Lilian segurou em suas mãos. — Steve se casou para ampara-la? Ela concordou outra vez. — Quem é o pai? Victoria sentiu os lábios tremerem de nervoso.


— Eu vou lhe contar tudo mamãe, me perdoe... Prometo que tudo ficará bem, apenas, fique tranquila. Lilian suspirou antes de falar. — Você terá um marido de aparência, como posso ficar tranquila? — Isso não importa, pensamos muito antes de tomarmos essa decisão... Era a única saída. — Era mesmo? — Meu filho terá um pai maravilhoso e nós seremos felizes em um casamento muito melhor do que o da maioria dos nobres. — Mas sem paixão — afirmou Lilian baixinho. Victoria passou a mão no ventre levemente abaloado — Eu o amo como um irmão, e ele retribui, e isso é mais do que a maioria das pessoas tem na vida. Lilian a abraçou pelo ombro. — Vocês viverão juntos, como marido e mulher? Victoria negou com a cabeça. — Na mesma casa, mas não juntos. Lilian franziu cenho e Victoria se adiantou — Serei feliz mamãe — afirmou em um sussurro— eu e Steve temos dezenas de interesses em comum, e ele tão pouco queria se casar um dia, então-então, fizemos um bom acordo. — O jantar será servido em vinte minutos — anunciou o senhor Rainford — e Lord Paul e sua senhora, pediram desculpas pelo atraso, disseram que logo eles se juntarão a todos. Lilian por fim sorriu para Victoria, parecendo um pouco mais conformada. — Nós temos muito o que conversar, mas... isso não impede de eu sentir que recebi o melhor presente de todos natais de minha vida — concluiu fitando a barriga da filha. Steve que por fim se livrava dos cumprimentos entusiasmados do resto da família, passou o braço pela cintura de Victoria, trazendo-a para junto de si. Deu um beijo demorado na testa delicada antes de dizer: — Esse é o melhor natal de todos os tempos Victoria, muito obrigado.


Lilian o encarou balbuciando em silencio: — Obrigada, meu sobrinho. Ele sorriu aquiescendo ao entender que a tia já sabia de tudo. — Onde esta Eleanor? — indagou Kathelyn indo em direção a sala de jantar. Todos analisaram ao redor por alguns segundos, ate mesmo Killian que já havia se deitado nos pés de Lizzie, ergueu o pescoço. A duquesa viúva se empertigou, abrindo os ombros antes de dizer com indignada reprovação: — Eleanor deve estar entregando o presente para o jardineiro — arrumou o óculos pincene sobre o nariz, antes de concluir: — onde mais ela estaria? — Logo ela estará de volta — replicou Arthur sob a expressão indignada da mãe, envolveu a cintura de sua duquesa, conduzindo-a a sala de jantar e somente depois disse — Senhora Taylor, por favor vá atrás de Eleanor. A governanta concordou e saiu da sala com discreta eficiência. Paul e a esposa enfim, se juntaram ao grupo. Simon segurou na mão de Lilian, também a levando ao salão da ceia. Gareth, deixou a pequena Meredith no berço e deu o braço para Lizzie. Edward, Leonard e Anthony baixaram as cartas a contragosto enquanto a duquesa viúva observava Eleanor voltar a sala de jantar, esbaforida e com as bochechas coradas. Desconfiada, a avó estreitou o olhar em clara desaprovação para a neta. Victoria e Steve beijaram a mão um do outro antes de se sentarem a enorme mesa, em um evidente gesto de amor e cumplicidade. Pouco depois, taças foram erguidas em um brinde festivo e entusiasmado de Feliz natal. No vestíbulo, o relógio centenário prosseguia contando os minutos de mais uma noite mágica. O senhor Rainford, mirou os ponteiros e sorriu cumplice para o ar da noite de natal, como se cada novo batucar, dobrasse o amor que reunia aquela família grande, feliz e nada convencional e certamente... dobrava.

****


Mitchell Petrucci, fecha a capa do novo livro de sua esposa, baseado em uma historia real que Francie lera tempos atrás, sobre uma família de nobres ingleses no século 19. Emocionado, ele deixa a impressão em cima do aparador próximo a lareira e beija a testa da esposa adormecida, junto ao fogo. Abaixa-se e, com cuidadosa devoção, dá um beijo longo na barriga dela. Francie esta gravida do segundo filho deles. É um menino, ele lê a frase de papel azul entre o pisca pisca que decora o pinheiro na sala. A esposa o surpreendeu mais cedo, quando pediu ajuda para montar a arvore. Ela abre os olhos sonolenta e Mitchell se adianta: — Terminei de ler o livro — diz e passa o braço pelas costas da esposa. — E gostou? — Muito — ele responde e a ergue no colo. —Eu pensei em um titulo, posso sugerir? Ela concorda bocejando. — O natal nada convencional dos Harolds. Francie abre um sorriso espontâneo. — Gostei — diz e captura os lábios do marido. Ele aprofunda o beijo. — Agora — diz Mitchell indo para o quarto — eu quero fazer amor com a minha esposa. Ela eleva as sobrancelhas em duvida. — Estou enorme senhor Petrucci, mal consigo andar. — E eu, senhora Petrucci, não consigo parar de desejar você. Ela da uma risadinha cheia de excitação. — O senhor é que é um homem nada convencional. É a vez dele arquear as sobrancelhas — Isso é bom? Francie passa as mãos na nuca de Mitchell e diz antes de voltar a beija-lo: — Isso é maravilhoso... E o amor faz milagres.


O livro recém escrito em cima do aparador junto a lareira, pareceu por algum motivo mágico que só acontece nas noites de natal, dizer amem para toda a felicidade trazida pelo amor, através dos séculos e séculos.


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